LUZ ESPÍRITA
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:26 am

Ave Luz
João Nunes Maia

Shaolin

Contracapa
Imprime-se em nós a ideia luminosa de, antes de falarmos alguma coisa sobre a obra Ave Luz, endereçarmos uma prece ao Senhor como gratidão a tão grande dádiva dos Céus à Terra.
E foi o que fizemos, porque somente o coração sabe falar a linguagem do amor.
Por outro lado, é mister reconhecer os valores da inteligência para a difusão da verdade.
Unamos as duas forças para a glória de Deus.
E importante considerar que a justiça nos dá meios de dizer que o Cristianismo começou a reviver a sua pureza primitiva no século dezanove, chegando aos dias atuais com a luz fulgurante que consola e instrui.
Ave Luz é uma luz em forma de livro, que banha a mente e o coração de todos aqueles que o lerem.
E algo vivo do Cristo que as letras nos transmitem e que a memória relembra sobre uma fracção da história do grande Mestre de Nazaré.
Os cinquenta capítulos deste livro equivalem a um celeiro de conceitos dos mais elevados na área da pureza espiritual.
Eles consolidam, no estudante, as leis que garantem e sustentam a própria vida.
Um culto do Evangelho sob a inspiração destes textos restaura a harmonia do lar, se porventura faltar nele a paz, sem contarmos o esforço de cada um na alta educação que a leitura propicia.
Invadem-me a alma sentimentos de alegria ao participar da difusão desta obra.
Que ela, em nome de Deus e do Cristo, possa chegara muitos lares, induzindo-os à caridade e ao amor, e ainda mais, à esperança que as mensagens têm a primazia de despertar nos que as ouvem.
E senso comum que a luz vem de Deus.
Pois essas letras são sóis da grande constelação de Cristo, da imensa e infinita casa do Pai.
E felicidade maior para mim é se eu puder participar das comunidades familiares que se reunirem para ler esta obra na faixa do amor, trazendo Betsaida para dentro de casa, com Jesus e os doze apóstolos rasgando o véu de Isis das consciências e colocando em cima da mesa a luz que nunca vai se apagar.
Ave Luz é um livro bom para principiantes da Doutrina Espírita.
No entanto, para os velhos seguidores do Mestre, ele é um tesouro que não se confunde com os valores da Terra, porque é o alimento e o ouro das almas.

Salve a luz, salve Cristo, Salve Deus.
Psicografado por João Nunes Maia em 15 de junho de 1977, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais

Súmula
Ave Luz
Prefácio
Algumas Noites Com Jesus
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:26 am

1. - Tolerância
2. - Justiça
3. - Amizade
4. - Serenidade
5. - Dignidade
6. - Compreensão
7. - Entendimento
8. - Solidariedade
9. - Companheiro
10. - Igualdade
11. - Respeito
12. - Gratidão
13. - Ouvir
14. - Falar
15. - Pureza
16. - Aceitar
17. - Contribuição
18. - Tesouros
19. - Felicidade
20. - Libertação
21. - Fecundação
22. - Ouro
23. - Ide e pregai
24. - Cura
25. - A dor
26. - Inteligência
27. - Bondade
28. - Oração
29. - Dois ou mais
30. - Dar o que tem
31. - Esperar
32. - Optimismo
33. - Viver
34. - Solicitude
35. - Energia
36. - Brandura
37. - Hospitalidade
38. - Bem-aventurança
39. - Verdade
40. - Universalidade
41. - Benfeitor
42. - Trabalho
43. - Confiar
44. - Ajudar
45. - Desprendimento
46. - Alegria
47. - Perdoar
48. - Fraternidade
49. - Caridade
50. - Amor
51. - O Cristo Orador
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:26 am

Ave Luz
Diante deste livro, recordamos o versículo 25, do Capítulo 21, do Evangelho, Segundo o Apóstolo João Evangelista:
‘‘Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez.
Se todas elas fossem relatadas, uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos”. João, 21:25.
E, meditando na sabedoria dos diálogos inesquecíveis que se registram nestas páginas, permitimo-nos lembrar os cristãos dos tempos apostólicos, reformulando lhes a saudação, perante o Santo Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Ave Luz!
Nós outros, os teus pequeninos servidores que, por tua Infinita Misericórdia, estamos saindo das trevas da ignorância para a luz do conhecimento, aqui nos encontramos a fim de expressar-te a nossa gratidão e o nosso amor para sempre.

Emmanuel
(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 29 de Agosto de 1983, na cidade de Uberaba, MG).

Prefácio
O livro Ave Luz é um pequeno esforço nosso, pálida literatura no imenso acervo de conhecimentos com que os espiritualistas do Brasil e do mundo foram agraciados.
Alguém, na pátria espiritual, nos pediu para sintetizar, em forma de mensagens, os encontros de Jesus com os discípulos na famosa aldeia de Betsaida.
Ainda ficam desconhecidos muitos segredos da fala de Cristo, que certamente outros espíritos poderão revelar, todos da maior preciosidade.
Cabe a nós agradecer aos céus a oportunidade de escrever mais alguma coisa sobre esse assunto transcendental, do qual nunca nos cansamos.
Quando recorríamos aos nossos arquivos espirituais para a realização deste trabalho, tínhamos emoções inexplicáveis de amor que nos impulsionavam para o trabalho do bem, em todas as direcções da vida.
Nós tivemos a felicidade de conhecer Jesus e de sermos chamados por Ele, mas os bens materiais que possuíamos falavam mais alto em nosso coração e nos fizemos de surdos.
A experiência nos diz que ainda não estávamos preparados para esse banquete de luz a que os céus nos convidavam.
Doze homens no reino da Galileia...
Eles foram, na época, portadores de certa cultura.
As letras não tinham muitos segredos para mim e é por isso que posso afirmar com grande alegria que, ao contrário de alguns escritores espiritualistas que colocam quase todos os discípulos como analfabetos, eu, que os conheci pessoalmente e conversei com todos eles, posso afirmar que, na verdade, eram homens dotados de grande sabedoria e de raciocínio que faziam inveja aos doutos.
Eram, na maior parte, homens simples.
Todavia, a simplicidade embeleza mais a sabedoria.
Depois então que conheceram o Messias prometido, iluminados pela presença de Jesus, tinham incrível facilidade de conversar, de entender e de viver os mais altos preceitos que ouviam do Mestre.
Eram espíritos preparados pelo mesmo Cristo no mundo da verdade, antes de virem à Terra.
Nenhum deles era ignorante.
Todos tinham almas moldadas na forja do tempo e do espaço, com o fogo purificador de milhões de anos.
O livro Ave Luz marca para os espíritos que estagiam na Terra o que podem alcançar, mesmo no meio de auras provações.
E é bom que todos se conscientizem disto.
Na escala em que estais no mundo de carne, nada podeis fazer de bom sem o incentivo da dor, que é a mensageira que desperta as qualidades maiores do coração.
A dor, porém, tem vida curta em comparação com a eternidade.
Fomos feitos para a felicidade e, depois de conquistá-la sob as bênçãos de Deus, nunca mais a perderemos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:26 am

Não temos a pretensão de converter ninguém, como fazia o Mestre, pela palavra, pelos prodígios e pela presença divina.
Somente apelamos para a sensibilidade e o raciocínio, na exposição dos conceitos.
Analisai, meditai, porque os caminhos que ora palmilhamos para chegar ao amor ainda são a razão que, no futuro, cederá lugar, pela maturidade, à intuição.
A intuição guiará o homem de amanhã, pela força do verdadeiro amor.
O trabalho de disseminação evangélica no Brasil e no mundo não foi entregue a um só espírito ou a uma só religião, por mais elevada que seja.
Não! Cristo preparou milhares de almas e dezenas de comunidades, para que a palavra dos Céus, em espírito e verdade, fosse levada às nações do mundo e a todas as criaturas da Terra.
Nós não temos pretensão de apresentar o Evangelho com maior clareza, mas temos o dever de fazer o melhor que pudermos.
Quanto às críticas, elas não constroem para quem fala, mas ajudam a quem ouve.
O bom trabalhador não pode repetir o que fez a mulher de Ló, porque o tempo se encurta para ele.
Não devemos dar ouvidos aos barulhos, pois eles não são mais que poluição para a mente, distraindo os que laboram, pelo prazer e pela vaidade que têm de destruir.
Temos grande interesse de que saibais que Jesus Cristo é o fundamento de nossas vidas na Terra.
É Ele, e não outro, o Caminho, a Verdade e a Vida.
O livro Ave Luz é uma réstia de claridade do grande sol que brilhou na Palestina há quase dois mil anos, não pela ordenação das mensagens, mas pelo que elas têm de Cristo para nós.

Salve a Luz.
Shaolin
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:27 am

Algumas Noites Com Jesus
Betsaida pertencia à Galileia, terra generosa na expressão divina do ambiente, onde o nosso Mestre percorreu todas as ruas, aformoseando, com a Sua presença, as casas, os animais, as pedras, as flores e o próprio povo.
Foi dali que Ele tirou as maiores expressões do Seu apostolado e soube recompensá-la com a Sua gratidão, permanecendo nessa aldeia semanas a fio, com todos os Seus discípulos, ensinando- lhes as maneiras mais corretas de viver.
Foi nesse casarão mencionado nas mensagens de Shaolin que a Caridade atingiu a crista do Amor.
Foi ali que o Cristo transformou a água da fraca filosofia dos Seus companheiros em vinho puro de conceitos nunca antes sorvidos pelos homens da Terra.
Externou a Sua magnânima bondade para com o povo que o cercava nessa pacata cidade, curando centenas de enfermos de variadas doenças, pelo simples toque das mãos benfeitoras.
Foi nessas reuniões incomparáveis que o Evangelho criou raízes nos corações dos discípulos, despertando, em cada um deles, o maior anseio de viver na luz da benevolência, sentindo em seus semelhantes de quaisquer raças ou seitas a sua própria continuação, abrindo os olhos na ampliação cósmica do termo, para ser reconhecido e reconhecer, em tudo a mesma paternidade:
o Deus único, operando em todas as frentes da vida.
Essa igreja improvisada de Betsaida foi o palco de aperfeiçoamento espiritual dos discípulos.
Eis que, nesse ambiente de luz formado pelo Mestre dos mestres, os seus seguidores conseguiram despir-se do egoísmo, esquecendo- se do orgulho, deixando de julgar os outros, abandonando o ódio, não pensando na vingança e fechando os ouvidos à maledicência, disciplinando a língua e conduzindo os pés pela força da consciência em Cristo.
Começava a se escrever uma mensagem nos arredores do Mar da Galileia, cujo conteúdo iria abalar o mundo inteiro e os anjos ficaram encarregados de transmitir, para todas as gerações, dentro das possibilidades que a evolução permitisse, em nome de Deus.
O conteúdo deste livro simples e grandioso vai se tornar um facho de luz nas mãos e na inteligência dos leitores.
O seu próprio nome já indica isso: Ave Luz.
Salve a luz que te procura por meio de um livro.
Examina seu conteúdo, pensa bastante nos conceitos nele levantados e compara com tudo aquilo que buscas.
Ele não conta tudo o que se passou com o Cristo e seus companheiros naquelas noites, mas é, por assim dizer, uma síntese muito bem feita de todos os acontecimentos, naturalmente adaptada ao século em que vives.
Se porventura queres viver além das coisas mencionadas pelo livro, vamos sentir muita alegria pela transformação que haverás de operar.
Se queres outros ensinamentos que escaparam de ser abordados integra-te na caridade bem dirigida.
Faz da alegria a tua ferramenta diária e sente o prazer do amor que, certamente, a tua visão lerá no livro da natureza tudo aquilo que as letras esqueceram de te anunciar.
É com muito respeito c ternura que daqui saudamos este livro, Ave Luz, pela luz absorvida por ele em Algumas Noites com Jesus.
Que a paz de Cristo seja com todas as criaturas!

Bezerra de Menezes

(Página psicografada pelo médium João Nunes Maia, em 15 de junho de 1977, em Belo Horizonte, MG).
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:27 am

1. - Tolerância
Betsaida! Betsaida!
Famosa cidade que resplandece na história por ser berço, não somente de Filipe, o apóstolo — inquieto por saber os segredos do Criador e da vida — como de André e Pedro.
Burgo pertencente ao reino da Galileia, eixo do discipulado do Divino Mestre!
O sol começava a distribuir seus primeiros raios de um ouro encantador, como se fossem as mãos de Deus abençoando a vinha fecundante da Terra, com sementes de luz.
Filipe já se encontrava de pé, contemplando a natureza, que fazia palpitar cada vez mais seu coração ansioso pela verdade, manifestando, em cada batida, interesse profundo por um diálogo que lhe acalmasse o raciocínio.
Deixou que a luz do astro o beijasse em todas as direcções.
Lembrou-se da juventude junto aos pais, seus amigos, os rebanhos, a pesca, as flores.
Parou os pensamentos, encantado, sem nenhuma mescla de dúvida sobre a grande inteligência que nos comanda a todos, sentindo o Senhor palpitar em toda a criação.
Seu raciocínio se empalidecia diante do que o coração lhe oferecia como esperança, que transmutava as claridades do tempo em fé, aquela fé, que mais tarde, o Evangelho anunciaria como capaz de transportar montanhas.
Por que tudo isso, Filipe?
Porque aquela noite haveria o encontro de Jesus com todos os Seus discípulos.
Era como um festival doutrinário.
Era Deus, por intermédio do Mestre, renovando a confiança para com os homens do mundo.
Era o cumprimento de todas as profecias sobre Aquele que haveria de vir!
Naquele dia, o carro solar fez todo o seu majestoso percurso como se fosse em segundos, para o apóstolo Filipe.
As primeiras horas da noite, ele se colocava no meio dos doze, à beira do Lago de Genesaré, em um velho casarão, onde o Cristo se salientava silenciosamente em uma tosca cepa de cedro, perpassando seus olhos mansos e lúcidos por todo o colégio apostolar.
Filipe, envolvido por emoções indescritíveis, cruza seu olhar solícito com o do Nazareno, que já esperava ouvir algo do apóstolo.
O filho de Betsaida levanta-se, num misto de alegria e emotividade, e fala, com fervor:
— Mestre, era nosso intento saber com mais propriedade, pela extensão da linguagem espiritual.
O que significa Tolerância, pois, às vezes me confundo, por desconhecer seus limites.
O silêncio era a tónica do ambiente.
Filipe acomoda-se em um banco improvisado e espera a resposta, ansioso como todos os companheiros do aprendizado evangélico.
Jesus renova seu olhar em todos os presentes, deixa entreabrir os lábios num leve sorriso e expõe, com segurança:
— Filipe, a Tolerância é um estado de alma que todos nós deveremos conquistar.
Ela, por si, tem múltiplos valores, mas denuncia algum perigo.
É como uma massa forte no alimento da vida que, sem outros ingredientes auxiliares, exagera a fermentação; contudo, não podemos viver sem a força da tolerância que nos faz acalmar alguns impulsos inferiores. proveitoso que, junto a ela, coloquemos a razão em evidência, para que ela não passe dos limites que lhe compete atingir.
A enfermidade moral está sujeita às mesmas leis que as doenças do corpo.
Um terapeuta, para ministrar remédios aos enfermos, necessita conhecer as dosagens correspondentes aos desequilíbrios orgânicos; assim é o orientador.
A impaciência, nesses casos, pode ser fatal como o veneno disciplinado é fonte de vida.
A Tolerância.
Filipe, do modo como pensas, forma uma interrupção na mente que desconhece a disciplina, esquecendo ajustiça.
Ela não pode passar das fronteiras delimitadas pelo bom senso.
Jesus dá um tempo para que todos ordenem os pensamentos.
Filipe parece em êxtase, procurando confrontar assuntos e extrair a essência dos conceitos do Divino Amigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:27 am

Quando o apóstolo quis continuar o assunto da complacência, sentindo dificuldade na aplicação desta virtude singular,
Jesus adiantou-se, consciente de seus pensamentos e continuou sua fala, com serenidade:
— Filipe! Quando toleras um desequilíbrio, aprovas a desarmonia.
E assim passarás a alimentar uma força contrária, que persegue a tua própria paz, estabelecendo um vínculo teu com o facto e vice-versa.
Tolerar, sem conhecimento de causa é estimular efeitos por vezes perniciosos, motivando o ambiente de conivência.
Entretanto, é preciso notar que desaprovar um ato alheio, ou mesmo nosso, não implica em usar a violência, nem tampouco o escândalo.
Pelas tuas próprias feições, ao conversar com alguém, é fácil de notar, no silêncio do coração, que não apoias tais ou quais atitudes; e pela alegria e interesse que manifestas pelos ideais superiores do companheiro tu escreverás, sem uso do verbo e da letra, tua aprovação pelo bem da colectividade, principalmente quando esse ideal se apoia nos alicerces da dignidade que as leis de Deus nos oferecem.
Tolerância... é palavra mais ou menos solta, que carece de solicitude do coração e da inteligência enriquecidos na experiência do tempo e nas bênçãos do Pai Celestial.
O Mestre deixou passar alguns segundos e complementou:
—Moderação não é tão difícil como todos podem pensar; o mais engenhoso é saber tolerar.
Faz-se silêncio novamente e os olhos dos discípulos se entrecruzaram como se estivessem numa conversação mental, procurando, cada um, o apoio do outro na assimilação dos conceitos da noite.
Filipe, como que magnetizado pela luz, deixa escapar um suspiro, monologando:
—Meu Deus!
Como é trabalhoso ser bom!
Como é problemático ajudar aos outros nas linhas paralelas da justiça e do amor!
Suspirou profundamente e acrescentou:
—Talvez a Tolerância, dentro dessas normas, não agrade a ninguém!
A atmosfera do ambiente pedia meditação.
Nenhum dos discípulos ousava quebrar o silêncio diante do Cristo, esperando por um desfecho de maior entendimento, como acontecera em outras ocasiões.
Filipe encontra novamente o olhar firme e magnânimo de Jesus, de onde esplendia carinho e doçura.
E começa a ouvir o Rabi da Galileia, sentindo que estava a sós com Ele, nos páramos infinitos.
Jesus continuou:
— Não esqueçais nunca dá condescendência.
Desde quando abris os olhos ao acordar até fechá-los para dormir, que ela seja o resguardo das vossas vidas e da vida dos que anseiam pela felicidade.
Todavia, é justo que não vos esqueçais da educação, tornando-a consciente dos caminhos que percorrem o amor mais puro, aquele que cede na hora que a caridade deseja, e que nega no momento em que o abuso pretende dominar a humildade.
No instante em que duvidais até que ponto possa atingir a paciência, procurai os recursos da oração com respeito e fé, que a inspiração divina vos dará a resposta pelos processos da certeza, como o instinto seleccionador do comer e do beber dos animais.
O prémio para todos nós virá com a assistência dos anjos para todos os que se esforçam em direcção à luz.
Se quereis viver em paz com os outros e com a vossa própria consciência, procurai, se já não o fizestes, disciplinar vossa Tolerância para convosco e para com os vossos semelhantes, desde que façais tudo isso com e por amor.
Todos os discípulos respiraram aliviados com os últimos remates de Jesus, por associar a oração como força propulsora na aquisição da fé, guardando a lição do Mestre sobre a Tolerância, para aplicá-la em todas as oportunidades que surgissem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:28 am

2.— Justiça
Betsaida era o centro de muitas atenções, devido à permanência, por algum tempo, ali, do Divino Amigo, dos seus admiradores e, principalmente, dos irmãos da comunidade em Cristo.
Nas ruelas e praças, reuniam-se criaturas discutindo sobre a fama de Jesus, se ele era realmente o Messias.
Pairava no ar um composto de fé e de dúvida da massa humana.
Ao passar por esses grupos, alguns dos discípulos viam-se questionados de todas as formas, e apenas abençoavam a todos, sem que a resposta fosse a solução.
Ainda não havia a ordem “ide e pregai”.
A edificação doutrinária, dentro de cada um, estava por se fazer.
O Mestre começara o plantio, sem se descuidar da assistência aos seus companheiros do coração.
Apareciam, por vezes, certos agitadores para desmoralizar a doutrina nascente.
Porém, enquanto isso, surgiam novas curas, até mesmo no meio das agitações, e o enfermo, cego ou paralítico, sentia, no íntimo, a presença de Jesus, e gritava, correndo, o nome de Deus e do novo profeta.
O ambiente contrário, na sua premeditação, tornava-se força de fé, que se espalhava como um raio.
Nas cidades circunvizinhas crescia a esperança de muitos, avolumava-se a alegria dos sofredores, e agigantava-se a convicção no colégio apostolar do grande Nazareno.
Tadeu, o nosso personagem desta mensagem, encontrava-se em um sítio próximo a Betsaida, pertencente a um velho carpinteiro que conhecera seu pai e com ele convivera por muitos anos, pois a sintonia do trabalho e das ideias os fazia unidos.
Tadeu, que ali passara a noite, não conseguiu conciliar o sono.
Pensamentos múltiplos o torturavam e a sua razão, por força de circunstâncias tais, desmerecia a própria personalidade, em se tratando de um participante da comunidade de Cristo.
O que João e Tiago tinham em abundância, nele era escassez.
A sua mente não conseguia armazenar conhecimentos, nem extrair o saber que vinha envolvido nas parábolas.
Era preciso a cooperação dos outros e, mesmo assim, o seu esforço se tornava desumano para sentir um pouco daquilo que era abundante para muitos dos discípulos.
Todavia, a vida premiou Tadeu com um corpo másculo.
Mais parecia um gigante dos contos orientais, porte esbelto, mas de tendências grosseiras.
Também os céus não se esqueceram de dar-lhe um coração simples e bom.
Vamos encontrar o gigante hebreu na despedida da madrugada, contemplando as últimas estrelas do firmamento azul, querendo orar sem condições, porque as grossas lágrimas o interrompiam, em virtude das emoções que se estendiam em todos os sentidos, entorpecendo sua fala.
Não obstante, seus pensamentos se irradiavam na mais profunda humildade, pedindo a Deus que o dotasse de mais um pouco de inteligência, para que pudesse ouvir e entender Jesus.
Sentia-se humilhado diante das exposições filosóficas e doutrinárias dos outros companheiros.
Não vê mais estrelas.
Desce as vistas e nota o despontar do Astro Rei, como se fosse a resposta do Pai Celestial para iluminar a sua consciência. Sorri por alguns instantes e pensa firmemente na reunião da noite com o Cristo.
Não sente fome nem sede, pelo contentamento e pela esperança nova que nascera em seu coração, e tira o dia para um passeio pelos campos próximos, respirando o ar puro e conversando com a natureza na dimensão que as suas faculdades permitiam.
Quando os últimos raios de sol se apagavam no horizonte de Betsaida, o homenzarrão já se encontrava procurando assento dentro do templo onde se encontrava o Cristo e os outros discípulos.
Ali, o tempo era perfeitamente aproveitado.
Bastou um simples olhar de Jesus para que João erguesse uma sentida prece a Deus e aos anjos, buscando ambiente mais favorável no sentido do aprendizado deles.
Terminada a oração, notava-se de leve um aroma agradável, que parecia penetrar as mais secretas regiões da alma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:28 am

Dois olhos, como estrelas, fitavam Tadeu, que logo se dispôs a perguntar:
— Mestre, como sabes, por vezes me constranjo, mas gostaria, com todo o respeito que te dedico, de indagar algo.
Mesmo não tendo o direito de acusar ninguém e nem intenção de julgar os actos de Deus, queria o teu pronunciamento acerca da justiça, pois em vários momentos parece-me ver o contrário nos factos diários.
Jesus, bem acomodado no madeiro improvisado, abre as comportas do seu magnânimo olhar e anuncia, sorrindo brandamente com íntima alegria pela pergunta de Tadeu:
— Tadeu, a lei da Justiça é uma realidade nos ajudando a todos.
Se nos sentimos injustiçados nas ocorrências da vida, é por nos faltar capacidade de entendimento da vontade do Pai Celestial.
Em verdade te digo que nem um astro desses que embeleza o infinito desaparece fora de hora, como a queda de uma folha não se dá em momento errado.
Tudo, mas tudo se ajusta à harmonia universal, sem perda de um til na escrita de Deus.
O que percebeste, como fenómeno da vida e das coisas, interpretando como injustiça, podemos afirmar sem arrogância, meu filho, que é a manifestação da Justiça perfeita porquanto ninguém recebe o que não merece nem aquilo que não pode suportar no seu avanço espiritual.
Consideramos maravilhoso a criatura amar e, além disso, achamos mais importante ainda a alma que esta amando.
Creio que nenhum dos presentes tem coragem de acusar o Criador pelos distúrbios íntimos de cada um e pelas hecatombes que se processam no panorama do mundo.
Esses factos, dentro e fora de nós, consomem vidas e mais vidas, fazem jorrar rios de lágrimas e sangue, deixam multidão de viúvas e incontáveis crianças órfãs, que não têm coragem de se acusarem.
Apesar disso, vivem em dúvidas atrozes, dispersando forças do coração e da inteligência, em círculo vicioso, sem o devido proveito.
Deixa que o silêncio os ajude a gravar o que ouviram, e prossegue com dignidade:
— Eis que, se compreendermos os desígnios do Senhor, se pelo menos atentarmos no porquê das coisas, tudo se aclara.
As leis que imperam como Justiça somente são vistas com bons olhos, quando as analisamos com sabedoria.
Do contrário, ficamos nos debatendo no ambiente agressivo da ignorância?
Tadeu, depois de alguns momentos, sem nada ouvir do Mestre, se manifesta, apressado:
— Então?
Jesus, envolvido em meiguice espontânea, adianta-se, entendendo sua vontade:
— Quando somos dotados de força física, Tadeu, é justo saber como usar essa força.
Juiz, só um o é, e a ele pertencem todos os direitos de aplicar a lei de reacção das acções executadas.
Se queres saber, é bom que logo te conscientizes disso: os meios de ser útil à colectividade e a si mesmo são incontáveis, sem anunciar o dever de ser caridoso, pois Deus está em toda parte.
Ele vê antecipadamente o ato benevolente, o gesto que em primeiro lugar harmoniza a consciência de quem o pratica, em todos os casos.
A Justiça aplicada pelas mãos humanas, além do escândalo, tem interesse em anunciar uma valentia que está impulsionada pela vaidade e, para tanto, existem as leis criadas pelo Senhor que nunca se esquece daquilo que deve ser dado a cada criatura, actuando, também, como vigilante na defesa daqueles que são realmente inocentes, justa, para os que se reúnem em nome de Deus nesta assembleia, confiar na Justiça universal e procurar entender a mensagem dos céus, que desponta em todos os factos do mundo, e os factos do mundo íntimo que afloram para cada alma.
Se existe cativeiro forçado, prisões infectas e carrascos sem coração, a revolta marca uns e outros, já que são águas da mesma fervura.
A observação nos diz que se usa a bigorna de ferro para amoldar o ferro, com o malho do próprio ferro.
— Pelo que conhecemos — continua Jesus — temos outros caminhos melhores, para pregar e executar a justiça pelo bem no domínio do amor mais puro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 9:28 am

E bom que eu diga e que compreendais bem depressa: não falo para os mortos na came e sim para os despertos em espírito e verdade.
A ninguém julgo, pois não estou aqui para isso, vim para que conheçais o amor, porque somente ele tem o poder, no coração das criaturas, de estender a felicidade, para que nenhuma das ovelhas se perca nos labirintos do ódio.
Quem se preocupa em demasia com Justiça não tem condições para fazer a benevolência, e quando intenta misturar a caridade com ela, a exigência empalidece o amor.
Jesus compreende bem o maior problema que aflige Tadeu.
Deixa que ele analise pacientemente o assunto em conversação e acrescenta, com humildade:
— Meu filho, não queiras ser o que ainda não podes suportar.
A inveja, mesmo sendo tocada pelo clarão da boa vontade, carrega consigo o azinhavre da maledicência.
Todo invejoso se esquece das suas próprias qualidades que, por vezes, dormem, desperdiçando as forças que gasta, invejando, cobiça não deixa que repares na carência de muitas qualidades do invejado e queres, com isso, tirar dele o que ele tem para suprir as tuas deficiências.
Não é, porventura, isso, a maior injustiça?
Finalizando em tom paternal, ajusta os pensamentos de todos os presentes, com esta expressão:
— Eu estou aqui para servir e me empenho com todos os companheiros para que me ajudem.
Estendamos as mãos para quem quer que seja e falemos aos ouvidos de quem quer que queira ouvir, para que o amor a Deus sobre todas as coisas seja o primeiro entendimento entre os homens, a fim de que não falte o amor ao próximo.
Ainda restava muita gente fora do casarão, esperando a saída dos companheiros do Nazareno, que às vezes vinham também em contínuas conversações.
De longe, via-se Tadeu pela sua estatura helénica, protegendo a saída do Mestre que, de mansinho, tocava os homens e as mulheres, que avançavam em direcção a ele, pedindo misericórdia, pedindo curas, pedindo paz, pedindo tudo, como até hoje acontece, mas sem disposição para dar nada.
Jesus abençoa a todos e, sem que ninguém perceba, a caravana desaparece por entre a multidão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:41 pm

3.— Amizade
Judas Iscariotes é visto como um personagem traidor, na história do Cristianismo, por religiões que esquecem o cumprimento das profecias.
Ele foi mais um instrumento para que o Evangelho se mostrasse vinculado aos dizeres dos profetas do passado, mostrando, com os fatos, a realidade de sua existência divina.
Iscariotes nasceu em uma pequena cidade, situada no ambiente de Judá, que em épocas recuadas fora berço e domínio do famoso rei Davi, conhecido pelas conquistas sem precedentes.
A aldeia de Judas era localizada no sul da região e mostrava grande escassez na produção de alimentos de primeira necessidade.
Contudo, as encostas das montanhas rochosas aliviavam as necessidades mais imediatas, principalmente com a produção de uvas e batatas.
Parece que Judas herdou o sobrenome de Iscariotes do seu berço natal, denominado Quiriotes.
Vamos apresentar o nosso apreço por esse personagem que aceitou, no mundo espiritual, o desempenho de tarefa tão espinhosa.
Judas Iscariotes fita o sol que começa a se esconder, reflectindo seus raios dourados e mortiços no grande lençol das águas do Lago de Genesaré.
Com passos agitados, caminha às margens do histórico lago.
Seus pensamentos fervilham com problemas que o fazem esquecer até a esperança.
A subconsciência agita seus mais sensíveis nervos, fazendo registar na consciência, mais ou menos de leve, desagradáveis acções de um passado distante.
Estava em luta consigo mesmo, em sérios conflitos íntimos, para os quais não encontrava solução.
Sabia da reunião com o Mestre, naquela noite, mas o impulso de fugir parecia dominar o dever de comparecer, e a luta se mostrava ainda maior.
Judas parecia mais uma fogueira humana sob forma de apóstolo.
De um lado, pressentia um abismo sem fim, e do outro, vislumbrava o Cristo lhe ofertando as mãos em forma do amor mais puro que conhecera em seus passos no turbilhão da Terra.
Judas, devido ao estado deprimente em que se encontrava, por várias vezes sentia que todos os companheiros eram seus inimigos.
Tinha medo de ser traído pelos seus parceiros mais íntimos e nunca confiara em seus próprios pais.
A sua depressão era acentuada quando voltava à sua terra natal.
A noite chega de mansinho e uma mão invisível toca suavemente sua cabeça agitada, acalmando-a.
Judas dobra seus joelhos em uma pequena réstia de areia e busca a Deus pela prece.
Lembra-se fortemente de Jesus e dos seus compromissos para com a comunidade apostolar, e parte, mesmo atrasado, para a reunião marcada pelos discípulos com a presença iluminada do Divino Mestre.
Entra sorrateiramente no salão, sem ser visto.
Porém, vê duas tochas de luz visando-o com esplendente carinho e, sem querer, é envolvido por aquela incrível suavidade.
Já com o coração tranquilo, toma assento.
Ver algumas letras na pequena tora em que Jesus se sentara, que chamam sua atenção: Ave Luz!
Pedro, entendendo a intenção de Jesus, levanta-se e ora com inefável humildade; dentro do salão corria uma brisa portadora de energia espiritual, interligando o amor de Jesus com todos os seus companheiros.
Um perfume brando é sentido por todos.
Quando Cristo abre os olhos para abençoar seus discípulos, nota a expressão do olhar de Judas, que se levanta com certo embaraço e fala com interesse:
— Senhor! O que é Amizade, sobre que tanto escuto dos companheiros de aprendizado e cuja eficácia desconheço quase por completo?
Não sinto, Mestre, por mais que eu me esforce, Amizade por alguém, será que nasci desprovido dessa virtude, por herança dos meus ancestrais?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:41 pm

Cristo mira Judas, compadecido, e responde, com firmeza:
— Amizade, meu filho, nasce de ideais idênticos.
Não queiras desprezar a ti mesmo, nem aos outros, por não sentires ainda a segurança de que precisas com relação aos companheiros.
E não podes, por tais motivos, julgar inferiores os teus sentimentos por não serem idênticos aos dos teus semelhantes.
Hoje, ao cair da tarde, margeando o Lago de Genesaré, encontravas-te confuso.
Ao apelares para a súplica, tudo se clareou para o teu coração torturado.
Foi a mão divina que veio ao teu encontro, pela misericórdia de Deus.
E depois da súplica, o que fizeste?
Tomaste a decisão de nos satisfazer com a tua presença.
Continua a usar o poder da prece nas horas de insegurança, sem que tua razão interfira na simplicidade e na espontaneidade desse ato divino.
Judas tornou-se aceso de expectativa.
Brilhou no seu íntimo certa esperança.
Algo dentro dele dizia do respeito àquele Senhor que falava com tanta sabedoria e que estava presente em lugares nunca suspeitados.
Seu pensamento fervilhava de emoção e de encanto.
Seus lábios sussurraram baixinho, na cadência da disciplina:
— Será que este homem é o próprio Deus, entre nós?
Estando a sós, somente eu sei o que penso e faço.
Como ele me viu andando aflito à beira do Genesaré?
O Mestre deu tempo ao tempo, e prosseguiu sua alocução:
— Judas, meu filho, não podemos exigir Amizade de pessoa alguma.
Ela é como os primeiros laços de amor entre as criaturas e se mãos inábeis não conseguem atar esses laços, é de bom grado que não te esmoreças no grandioso labor da conquista pelo trabalho de auto-aprimoramento, no silêncio da caridade.
Nenhum de nós nasce com deficiência, já que isto implicaria na deficiência de Deus, o que seria o absurdo dos absurdos.
É justo que creias na paternidade do Senhor, que nos comanda a todos, sem distinção.
Vê se há alguma restrição para o ar que respiras, para a água que bebes, para os alimentos que comes.
São elementos de vida de carácter universal, semeando a paz e multiplicando a vida em toda a parte, em nome d’Aquele que nos criou por amor.
A assembleia parecia esquecida de que pertencia ao mundo físico, vivendo somente no reino da mente, onde Jesus era a central das emoções espirituais.
Judas tentou estender suas indagações, mas o Nazareno prosseguiu, com afabilidade:
— Se queres confiar nos outros, Judas, prepara-te primeiro para que possas confiar em ti mesmo.
A Amizade surge da confiança, da certeza de que estás sendo útil, sem que a usura exija algo em troca.
Quando vires entre teus irmãos que te rodeiam, inimigos, isso é reflexo do inimigo que alimentas dentro do coração, da dúvida, da maledicência, da ambição e da preguiça.
Deves estar atento a isso.
Não faças aos outros o que não queres para ti mesmo.
Se porventura fores atingido por alguma falsidade, é bom que não esqueças do perdão.
Se, por acaso, o teu companheiro não te deu a atenção merecida, espera com humildade, que o tempo, diante da tua educação, irá fazer com que o teu irmão compreenda a necessidade da tua companhia, reparando o gesto impensado, com redobrado carinho em leu favor.
Não devemos escolher a quem dedicamos gentileza, e, o sorriso, ao invés de nos enfraquecer, harmoniza nosso campo de vida.
Não negues alegria a ninguém, pois a felicidade caminha também por essas vias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:41 pm

O Mestre dava a entender que via as estrelas sem se sujeitar aos obstáculos do telhado.
Corria os olhos para cima, estampando em seu nobre rosto uma expressão encantadora.
Deixando que o silêncio dominasse o ambiente, espera alguns minutos.
Ninguém se manifesta.
Judas, nesse momento, regredia no tempo e no espaço.
Fazia viagens em pensamento, descortinando lugares que nunca pensara existir.
Lembra-se firmemente de Deus e vê em Cristo a figura mais autorizada para falar sobre as leis do Criador.
Deduz então que sua magnânima presença apaga todas as figuras de todos os reis da Terra, de todos os sacerdotes do mundo, e confunde todos os sábios de todas as filosofias.
Jesus, quase transfigurado, acentua com delicadeza:
— Judas, se queres mesmo ter Amizade, não deixes que falte fidelidade em teus pensamentos, palavras e actos, porque aqueles que queres como amigos, talvez esperem isso de ti.
Nós todos temos volumosos compromissos para com os céus e é de justiça que cumpramos os nossos deveres diante de Deus, nosso Pai Celestial, e da nossa consciência, que é Ele, igualmente, dentro de nós.
Se o amor nasce da Amizade, a Amizade aparece do esforço que dedicamos à aquisição do amor.
Começa hoje mesmo a sentir amor por toda a criação, para que possas chegar aos homens com acentuada segurança e tenhas a certeza de que não ficará em vão esse exercício espiritual.
O sol nasce para todos, assim a chuva, assim a Amizade de Deus para connosco e de nós para com os nossos semelhantes.
Trabalha e serve indistintamente, que a vida marcará, sem a figuração dos erros, todos os teus tentos de labor no bem imortal.
Judas estava emocionado, por ouvir tantas palavras sábias.
Mantinha-se de pé por respeito ao Senhor.
De seus olhos cerrados rolavam lágrimas sem conta.
Os onze companheiros pareciam tranquilos, mas também choravam por dentro, de tanta alegria espiritual.
Eles escreviam nos corações, com o dedo da inteligência, letras de luz ligadas aos ensinos ministrados pelo divino doador, naquela noite inesquecível em que Judas Iscariotes, pela vidência, descobriu, brilhando na cepa de madeira onde Jesus se sentava, a expressão: Ave Luz...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:42 pm

4.— Serenidade
Um barco deslizava, ao cair da tarde, nas águas do Lago de Genesaré.
Dentro dele, via-se, além do mestiço musculoso que se servia de duas pás à feição de remos, um homem de pequena estatura, envolto em profunda meditação, sem perceber a participação da natureza que tanto admirava, devido ao seu estado de emotividade espiritual naquele momento.
Tal estado o levava a difíceis reajustes nos conceitos que esposara com a vivência de muitos anos como imediato dos rabinos da Galileia e muita convivência com os de Jerusalém.
Várias vezes ministrara ensinamentos nas sinagogas, inspirado nos escritos de Moisés, o chefe espiritual dos judeus.
Tiago queria e deveria ser, mais tarde, um dos sacerdotes.
No entanto, o destino lhe reservara outro apostolado mais propício, pois a vida nem sempre nos atende nas linhas das nossas aspirações, por não sabermos com exacta medida o que mais nos convém.
Tiago se debatia nas suas conversações mais amplas com os profitentes da fé que esposara desde o berço.
Pela sinceridade, pela confiança nos postulados que abraçara em nome do Pai Celestial, a fidelidade era o seu maior empenho dentro da comunidade espiritual.
E enquanto os remos agitavam o barco em direcção à praia, o filho de José estava, de um certo modo, agitado.
No seu coração, o raciocínio o levava ao tribunal da consciência, acusando-o de traição à religião que o vira nascer.
Não obstante, os sentimentos avançavam no meio do tumulto, dizendo que Jesus era o Cristo que havia de vir e as deduções se debatiam no topo do seu volumoso crânio.
Não fora Moisés, o maior profeta de todos os tempos, que anunciara também a vinda do Messias?
O homem de Deus tornava-se dois dentro daquela humilde embarcação, dividido pela angustiosa dúvida.
De qualquer forma, ia em direcção à reunião memorável daquela noite.
Sua atracção por Jesus era de confundir todos os raciocínios.
Perdeu, naquele instante, toda a serenidade que acreditava ter.
Pelo menos, escapou-lhe todo o domínio emocional que a sua posição exigia, tornando-o um homem comum como não pretendia ser.
Desce do barco quase sem perceber.
Seus pés se afundam no tapete arenoso, deixando as marcas das sandálias simples que lhe serviam para as grandes caminhadas, sem esquecer o cajado que marcava a sua posição espiritual no reino do entendimento dos antigos pergaminhos.
Tiago apressa o passo pela disciplina que a auto-educação lhe conferiu, querendo ser o primeiro a chegar como participante da assembleia.
Destarte, não percebeu, no lusco-fusco, um personagem esguio e sorridente, a contemplar o lago majestoso que reflectia os primeiros clarões da lua.
A mão de João toca seu ombro de leve, saudando-o com benevolência:
— A paz seja contigo, Tiago!
Assusta-se, porém, sem desequilíbrio e, reconhecendo o companheiro, responde:
— Que Deus te ilumine, meu irmão! Quais os ventos que te trouxeram aqui, João?
Este, ainda sorrindo, adianta:
— É a ânsia pela natureza, pois nela vejo e sinto o Criador com mais eficiência.
Queria, antes de encontrarmos o Divino Mestre, preparar as minhas emoções para melhor interpretar a sua grandiosa fala, e escolhi esse ambiente que tanto me fascina.
E, ainda mais, o Senhor me premiou com a tua figura.
Sorriram juntos e, abraçados, sem palavras, agradecem a Deus.
Em poucos instantes, João e Tiago avistaram, adentrando o casarão, alguns discípulos e a figura majestosa do rabino incomparável da Galileia.
Em seguida, os dois companheiros de Jesus também se assentaram, pelo prazer de participar daquele convívio que ficaria inesquecível em seus corações.
Ambiente sereno, onde o respeito se transmutava em alegria e esperança.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:42 pm

Tiago, no silêncio, pedia aos céus que lhe favorecessem a oportunidade de perguntar e que o diálogo lhe fosse favorável, sem que o acanhamento ou mesmo a ignorância abafasse o que lhe ia na alma.
Sabia um pouco das leis, mas queria saber mais, tinha fome de um entendimento mais vasto acerca da vida e das forças que nos dirigem na existência.
O velho discípulo ostentava uma bagagem cultural apreciável.
Conhecedor de várias línguas, dominava completamente o grego, pois a filosofia e o espiritualismo em geral alcançaram, na Grécia, alta posição em relação ao resto do cenário do mundo.
Jesus, no toco de cedro, perpassa seus brilhantes olhos por toda a assembleia parando, de mansinho, nos inquietos olhos de Tiago, como dizendo:
“Fala, meu filho, fala!
O que queres que eu ouça?”
E o antigo pregador das sinagogas descontrai seu coração, entendendo que chegara a vez de expor ao Mestre suas dúvidas acerca da brandura.
Levanta-se com deferência, a locução um pouco trémula:
— Senhor, podes nos dizer alguma coisa sobre a Serenidade?
As vezes ela se torna o clima do meu íntimo nas horas de afazeres espirituais e materiais.
Todavia, em dado momento, é qual o peixe que seguramos nas mãos um tanto frouxas, escapulindo.
Esse clima d’alma deve ser trabalhado somente por dentro ou o nosso orgulho não nos deixa receber as experiências dos outros?
O que devo fazer para que a Serenidade faça parte de mim como meus olhos, meus pés, minhas mãos, minha cabeça, enfim, como todo o meu corpo?
A expectativa era geral!
Jesus ouviu pacientemente a pergunta, deu um tempo para que todos se acalmassem e expôs, com interesse:
— Tiago, a Serenidade de que queres ser portador é tesouro dos anjos que receberam das mãos do tempo, pelos impulsos de milénios incontáveis, sob as bênçãos de Deus.
Entretanto, esse tempo somente age quando abrimos nossos corações pela boa-vontade onde o esforço próprio nunca falta.
E os milénios são como o calor divino que somente amadurece e harmoniza o universo interior quando nos dispomos a respeitar e viver os princípios das leis que nos governam a todos.
E as bênçãos de Deus são a execução da melodia celestial que se irradia pela vivência da Serenidade imperturbável.
Parou por momentos, para que todos respirassem, serenamente aliviados.
Para Tiago, que já convivia com altos conceitos filosóficos, não foi difícil degustar o manjar dos céus, que se fundamentavam na evolução das almas, tema que, de leve, sentia nas suas mais profundas deduções.
No entanto, precisava de algo mais que lhe acalmasse o mundo mental.
O Mestre torna a fitar Tiago e prossegue, com desembaraço:
— Tiago, a mansuetude imperturbável, no seio dos homens, parece-nos muito difícil, pela largueza de ignorância que ainda alimentam sob todos os aspectos da vida; mas não é impossível de ser adquirida.
No perpassar dos anos e séculos, sem que a interrupção do bem se faça, ela passa a fazer parte do teu corpo físico e espiritual.
A lei te impõe uma condição: que cada dia coloques no teu alforje um grãozinho de areia de auto-aprimoramento, de auto-educação, de amor sem descanso, de fé revestida de obras, para que, no amanhã da eternidade, possas sentir o nascimento, dentro e fora de ti, da serenidade imperturbável.
É importante, pois, que não te esqueças que, desde quando deres os primeiros passos com sinceridade e confiança, começarás a viver e a sentir a felicidade oriunda dos primeiros raios da equidade espiritual.
A bondade de Deus é tão grande que mandou a mensagem da salvação quase ao vivo, para que possas sentir a sua paternidade e acreditar no amor que se estenderá de uns para com os outros.
O Divino Mestre cerra os lábios e parece meditar.
Envolvendo seu imponente corpo, via-se como um manto de luz, do qual partiam fragmentos em todas as direcções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:42 pm

Ao tocar nos corpos dos discípulos, fosforesciam, alojando-se em seus corações.
O Cristo, tranquilo e confiante, prossegue sem cansaço:
— Tiago, uma árvore, para se manter de pé no solo que lhe dá a vida, estica suas raízes em todas as direcções da terra, e os seus galhos obedecem ao mesmo esquema, no ar, para que, no centro, se avolume seu corpo ciclópico, com segurança.
Pois assim é a serenidade de que falas e sobre a qual estamos dialogando.
Não pode ser fruto somente de dentro de cada alma, como não deve ser esforço somente de fora.
O que te garante a brandura inalterável nos escaninhos do teu ser é o amor de Deus, que parte de dentro de nós em busca da sua manifestação para fora e que vem de fora para que se manifeste dentro das criaturas.
Enquanto somos tomados pela insegurança, é qual a árvore mirrada que não pode demonstrar seus frutos como valores por gratidão ao agricultor que a adubou durante o seu crescimento.
Se intentas que cresça a árvore da serenidade em ti, começa cultivando-a sem cansaço, aduba os ideais elevados e trabalha pela paz, tua e dos outros.
Sê benevolente com o próximo e não esqueças a caridade, onde passares. Serve sem interrogação e ama indistintamente.
A voz de Jesus serenou, em um ritmo de sinfonia.
João e Tiago, que entraram juntos no casarão, saíram em conversação interminável acerca da lição da noite, desenvolvida pelo Mestre.
Os outros discípulos, empolgados de esperança, desenvolviam igualmente seus ideais para a pregação do Evangelho.
E, como por encanto, não viram mais, naquela noite, o Cristo.
Ninguém comentou o facto, por já ser costume o Senhor se tornar invisível.
Uma multidão incalculável tornava difícil a saída com naturalidade.
As estrelas festejavam a madrugada como olhos de luz presenciando os factos terrenos.
Tiago, renovado nos conceitos da serenidade como fruto da evolução, ergue as vistas para os astros e agradece a Deus pela oportunidade de aprender com Jesus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:43 pm

5 — Dignidade
A festividade em Betsaida tornara-se natural.
Na pacata cidade da Galileia, para muitas famílias era uma fonte de renda que trouxe abundância para milhares de pessoas que antes viviam em dificuldades.
O comércio se estendeu por todas as ruas estreitas, pátios e esquinas.
A pesca teve um impulso assustador.
Em poucas semanas, os turistas sustentavam a alegria do povo da região, pelos cenários fáceis que lhe caíam às mãos.
No entanto, o Cristo era a atracção principal, era o fenómeno do espírito, como luz divina a atrair sofredores, mesmo na inconsciência, como falenas hipnotizadas pela claridade.
Mesmo no seio dessa ignorância, onde poucos lembravam-se da realidade espiritual, os ventos carregavam o bem-estar de que a esperança se faz portadora.
Na verdade, podemos dizer que era uma festividade que se assegurava na fé que, se não alcançara o transportar de montanhas, firmara, por algum tempo, muita alegria.
Quem pudesse olhar de longe notaria um homem de porte elegante mas simples, passando, apressado, no meio da multidão, sem que o intenso movimento o atraísse.
Um belo manto caía em seu corpo bem formado e uma extensão do mesmo tecido descansava na curvatura do seu braço esquerdo.
Seus olhos brilhavam com intensidade e a sua mente, como uma usina humana e espiritual, formava imagens as mais engenhosas possíveis.
Esse homem era Mateus, também chamado de Levi, o cobrador de impostos nas alfândegas que pertenciam ao reino de Roma.
O ideal de grandeza não arrefecera no seu coração.
Mudara, depois que conhecera Jesus, o modo pelo qual pensava ser grande, para satisfazer sua mente faminta de realizações, sem que mais tarde o enfado o visitasse.
Mateus cultivava mais agora as coisas do espírito, que quanto mais adquiridas, maiores perspectivas abrem de se adquirir mais.
Na realidade, é uma fonte inesgotável que não cabe, nem por sonhos, em uma cabeça humana, mesmo a mais dotada de capacidade espiritual.
Levi ouvira, ao longe, uma voz que o chamara.
Quis se fazer de surdo, mas a consciência não o permitiu.
Abranda sua marcha e nota, em disparada, o velho Zaquim, antigo vendedor de joias da Judeia.
Sabedor de que Mateus apreciava ouro e pedrarias trabalhadas por artistas famosos, Zaquim queria mostrar-lhe as que recebera directamente do Tisnão.
Mateus espera, e o anão cumprimenta-o com toda a reverência, chama-o a um canto da rua, abrindo algo que parece um alforje.
Tira um volume envolto em várias flanelas e os poucos raios de sol da tarde fazem brilhar aos olhos do discípulo caríssimas preciosidades.
O patrício judeu esperava a admiração de Levi, que passou os olhos de leve, com uma frieza que dispensava palavras.
Mesmo assim, o comerciante insistiu com o apóstolo:
— Veja, Senhor, como são lindas... essa aqui — e aponta com o indicador — é digna de um cobrador de impostos do grande império.
Dificilmente tocarás em tesouro semelhante a este!
E se esforça para que Levi apanhe as joias
Mateus sente no coração a imagem do diagnóstico que os outros deveriam fazer da sua pessoa e, com muita tristeza, responde ao vendedor ambulante acerca das belezas que a natureza ofertara aos homens, mas que ele agora dispensava, por serem cabides de mais peso para a consciência.
Sorriu complacente e falou com carinho:
— Zaquim, meu amigo, o maior prazer que tive neste instante foi vê-lo com saúde.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:43 pm

Nos últimos dias, tenho lembrado muito de você, pelo seu grande interesse em alegrar os outros.
Acho isso uma virtude encantadora, pois existem muitos tristes no mundo.
Ah, se houvesse milhares e milhares de Zaquins, no afã de trabalhar para essas almas que ainda não tiveram a ventura de sentir a felicidade da alegria, pelo menos por alguns momentos!
Conheço uma escola onde pode educar as suas faculdades, que invejamos no bom sentido, pois é lá que o cobrador de impostos está transformando as suas grandezas transitórias em riquezas imperecíveis.
Quando quis falar do Cristo com mais profundidade, não mais viu o velho Zaquim, que muito bem conhecia o Mestre, sua fama e o seu desprendimento acerca das coisas materiais.
Notou também, pela conversa mudada de Levi, que o cobrador de impostos abandonara totalmente as ideias anteriores.
O discípulo de Jesus apressa o passo novamente e, sorrindo em silêncio, pensa com respeito:
“Ajuda, meu Deus, ao velho Zaquim, para que ele possa nos ajudar na alegria dos outros, sem nos escravizar pelo interesse que desmerece a caridade”.
Mateus adentra a igreja improvisada, que já se encontrava aromatizada pelos ideais elevados do Mestre.
O Senhor percebeu a entrada de Levi, o último que faltava para que as trancas se fechassem por grossas mãos, apressadas em ouvir as dissertações do Rabi da Galileia.
Tiago sentiu que uma voz lhe pedia uma oração, olhou para Jesus e Este acenou a cabeça, confirmando.
Ambiente sereno.
Muitos discípulos fitavam Mateus.
Este se incomoda com o facto e pensa em abrir a reunião perguntando a Jesus sobre algo que lhe torturava a alma, já que ele não conseguia alcançar a solução desejada.
Fala, com humildade:
— Mestre! Mesmo tendo eu vivido muito tempo em posição menos digna aos olhos dos judeus, confesso que sempre minha consciência pedia Dignidade, em tudo que fazia e pretendia fazer.
Acho que a altivez de um homem o coloca em posição grandiosa tanto física quanto espiritualmente falando, e essa autoridade moral me traz dificuldade para que eu possa entendê-la e aplicá-la na vida que levava e na que, hoje, tenho a felicidade de viver contigo.
Eis que te peço, com modéstia, que respondas se é certo que a tenho, ficarei contente e, mais do que isso, ficarei devedor da tua graça.
— Mateus — falou Jesus com moderação — a Dignidade de um homem depende dos princípios e ideais que abraça.
O organismo se acostuma com os alimentos, quando não existem outros que mais lhe apeteçam.
As leis de um país são de acordo com o povo que ele acolhe, por determinação de Deus.
O modo pelo qual se sente e se entende a Dignidade varia de pessoa para pessoa, mas em verdade te digo, as bases fundamentais são as mesmas em todas as criaturas, ou para todas as criaturas e nações.
As variações são, por assim dizer, mudanças de cores, sem deixar de serem coisas coloridas.
A tua Dignidade, onde estavas quando foste chamado para o apostolado, era de fidelidade aos que te faziam servo.
Contudo, podia ela ser valorizada, no respeito para com aqueles que te entregavam os tributos, como sendo o suor do rosto.
Levi, meu filho, não pode existir carácter puro sem que a caridade esteja presente, assim como a caridade sem amor espiritual perde quase todo o seu valor.
Sabemos dos teus ideais, que ultrapassam as fronteiras do homem comum.
As tuas ideias são faraónicas, deixam estampar nas tuas estruturas a feição de grandeza, por isso é preciso teres maiores cuidados.
Tu pareces alterado nas tuas criações mentais e elas te perseguem, tomando a maior parte do teu tempo de trabalho e de repouso.
Esses grandes navios, que descarregavam às tuas vistas, começaram por simples desenhos, por poucas palavras, pelo toque de duas mãos, de minuto a minuto, e de dia a dia e, talvez, anos.
Todos os esforços tiveram uma sequência, que o tempo dominava, e nada foge dessa lei.
Vê, Mateus, o espaço de profeta a profeta, para que se consolidem as leis de Deus na Terra e nos corações dos homens!
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia Empty Re: Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:43 pm

Não queiras coisas grandes demais, sem começar pelas pequenas, que formam o alicerce de tudo o que existe.
A Terra está sendo bafejada pela luz de Deus, agora com mais intensidade, mas, para tanto, é bom que saibas do gasto de milénios sem conta.
Somente as gerações do futuro se certificarão, pela fé e pela ciência, da verdade que acabo de te dizer.
Mateus estava perplexo.
E os outros discípulos?
Cada um olhava para o outro com admiração e interesse.
Jesus prossegue com suavidade às vezes mesclada de algumas expressões enérgicas:
— Levi! A decência, no meio em que ora vives, é obrigada a desvestir-se das roupas da imposição interesseira.
Ela não pode aceitar as escórias da mentira autoritária para satisfazer a arrogância e a brutalidade.
Todos os que aqui se reúnem foram chamados e escolhidos por uma força maior, para que, por esse meio, possas sentir e entender a boa nova do reino, aprimorando tuas virtudes e procurando outras, pela luz que acendemos para todos.
Compreendemos a intenção que tens da sinceridade, a vontade de seres grande para ajudar os menores.
Não obstante, é muito justo que olhes os meios que procuras.
E muito nobre que todas as vias sejam lícitas, para que não venhas a cair, antes de andar.
A honra faz parte, meu filho, das belezas espirituais da alma, mas é quando ela não exige a destruição, nem procura humilhar os que nos ofendem.
Honra é Dignidade, é honestidade diante dos nossos compromissos, à luz do amor.
E Jesus continua com ternura:
— Mateus, meu amigo, haverás de encontrar muitas e muitas oportunidades para testar o coração na Dignidade pura, porque aquele que se aproxima da verdade, sofre primeiro as consequências da mentira e do engano.
Fez-se silêncio absoluto.
O apóstolo, que pretendia coisas grandes, sentiu, naquela noite, com Jesus, que, com o Mestre, a verdadeira grandeza era sem limites e, para conquistá-la, Ele, Jesus, era o caminho imprescindível por que todos deveriam passar, enriquecendo a vida, em busca de Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 05, 2022 6:43 pm

6.— Compreensão
Filipe estava assustado, em virtude de vários incidentes acontecidos em Betsaida.
Junta-se ao povo, procurando algo que pudesse saciar-lhe a fome e a sede materiais e mesmo as necessidades do espírito.
É certo que saía dos encontros com Jesus e seus distintos companheiros fortalecido na fé e no modo pelo qual entendia a vida, nos dois planos que a sua concepção aceitava.
Mas ao se envolver na atmosfera dos homens que negavam as verdades transcendentais do espírito, sentia-se comprometido com determinadas dúvidas, como amarrado a um poste para sacrifício, sem esperança de salvação.
O entendimento, nessas horas, fugia-lhe, escapando, igualmente, do seu hábil raciocínio.
Era preciso encontrar solução e, para tanto, não existia melhor oportunidade do que as reuniões que se processavam no casarão.
O filho de Betsaida era muito cauteloso nas suas buscas, nunca aceitava ideias sem que, primeiro, examinasse suas propriedades.
Tinha verdadeira vigilância contra a influência dos outros para consigo e, quando encontrava uma filosofia, ou mesmo conceitos que o fascinassem, submetia-os à apreciação de outros da sua inteira confiança.
A bateia de sua análise não se enganava na escolha do ouro, muito menos da pedra valiosa da verdade, que deveria ser a verdade filosofal dos mestres e dos sábios.
Andando pelos arredores de Betsaida, pensa Filipe, meio incomodado:
“Será que a mente, principalmente a minha, pode se comparar ao estômago cheio que, depois de certas horas, torna a pedir comida?
Quando saio do repasto divino do espírito, nos encontros com Jesus, tenho a segura impressão de que nunca mais terei fome de entendimento.
Depois, com certos acontecimentos, volto quase ao mesmo estado de alma faminta da compreensão dos factos ocorridos.
Vejo que a sabedoria escapa à engrenagem das minhas deduções!”
Pensou mais um pouco e surgiu-lhe uma inspiração:
“Porém, nós temos a quem recorrer, o sábio dos sábios, o Cristo de Deus”.
Andando mais um pouco, ouviu o balido das ovelhas que brincavam nos campos, algumas delas correndo em sua direcção.
Uma passa tão rente aos seus braços que o seu ímpeto infantil o convida a agarrá-la.
Desliza as grossas mãos no pelo liso e brilhante, falando baixinho com o animal que, sentindo o afecto do apóstolo, corresponde, alisando as pernas de Filipe com a pequena cabeça.
Filipe senta-se em uma pedra próxima e redobra o carinho, entendendo ali, no palco da natureza, que a compreensão podia ser também função de ideias idênticas, pois o animal — raciocinou Filipe com inteligência — estava compreendendo a doação de carinho e retribuindo com o que ele podia dar que, no caso era muito, respondendo, pelo gesto instintivo e a graça de Deus, a algumas das intrincadas dúvidas de Filipe, naquele diálogo simples.
E quem aparece agora, sem que Filipe suspeite, dizendo:
“A paz seja contigo”?
Era Natanael, seu grande amigo, que fala em tom de brincadeira:
— O pastor aproveita todo o tempo disponível para vigiar o seu rebanho e dar de comer a quem tem fome, não é o caso?
Filipe retruca, sorrindo.
— Não, não é o caso.
Nas circunstâncias, aqui, o faminto sou eu, o seu servidor mais humilde nos arredores de Betsaida.
E fechando o semblante, diz, emocionado:
— Natanael! Quando procuramos o Mestre com amor e humildade, mesmo que esse não seja o clima permanente em nossos corações, ele nos atende por intermédio das primeiras possibilidades que surgirem, mesmo que esse meio seja um animal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:04 am

A natureza, meu irmão, é Deus palpitando no seio da vida!
Natanael, curioso para saber o que se passava com Filipe, aponta para o disco solar que, dando adeus com os últimos raios, anuncia compromissos assumidos.
Os dois partem em direcção à grande assembleia dos homens que o destino chamara para servir, pela graça de Jesus Cristo.
Abraçados e andando em passos cadenciados, notam alguma coisa que os acompanha.
Filipe narra a história que se passara entre ele e a ovelha.
Aproximando-se da comunidade, escutam os gonzos rangerem, falando, na linguagem dos sons.
“É hora de entrar...”
A alegria dos presentes parecia irradiar-se como melodia que somente a audição espiritual poderia registrar.
André, que estava distraído, estremece-se de leve com o forte olhar de Jesus, vendo surgir em sua mente uma vontade irresistível de orar, o que faz, com humildade.
Finda a rogativa, Filipe, sem querer, por impulso instintivo, levanta-se e fala, com reverência:
— Mestre Jesus!
Podes nos explicar a todos, e principalmente a mim, a instabilidade da Compreensão?
A segurança que esperava e espero, nesta arte de viver com os outros, toma sentidos variados e, se não tomo providências quanto às minhas primeiras atitudes, passo a agredir as pessoas, pelo simples facto de não compreenderem as coisas como eu as entendo!
Há momentos em que não sei o que busco!
E aí, luto com a dúvida e, quando estou contigo, como agora, por exemplo, torno-me um gigante, em quase todas as virtudes.
Espero a tua benevolência para que eu possa entender a mim mesmo, quando falseio no entendimento dos outros.
Nota-se, em toda a assembleia, que a pergunta de Filipe era a de todos, tal é a insegurança em tudo o que abraçamos.
Cristo dispensa um olhar magnânimo a todos, e fala, com amabilidade:
— Felipe! Quando pretendes levantar uma casa, primeiro cavas as valas, para que acolham o alicerce.
Depois que este já está familiarizado com a argila, é que vêm as paredes, pedindo base para suportar o seu peso.
Depois, vem o telhado para em seguida, entrarem os moradores, em segurança, na moradia.
O ser humano precisa construir cada qual a sua própria casa no reino da mente, pois, em primeiro plano, as necessidades exigem a limpeza das valas entulhadas de ideias imprestáveis.
Em seguida à colocação das pedras nos alicerces que os ideais superiores nos oferecem, com a liga da boa vontade, mais adiante deveremos levantar as paredes, com cada tijolo representando um conceito que as leis de Deus interligam.
Finalmente, aparece o telhado, que a vivência e o tempo chancelando a segurança daquilo que aprendemos.
Jesus parou um pouco, para que a massa pudesse fermentar e a digestão mental se processasse e continua, com bondade:
— Se não fossem os contrastes, Filipe, que encontramos dia a dia, como provar a nós mesmos se aprendemos as lições da vida?
Todas as invenções requerem provas incontáveis.
Para nos tornarmos cooperadores de Deus, na vinha infinita da criação, o laboratório do mundo nos testa permanentemente, até chegarmos à condição de sermos servos fiéis do Senhor, respondendo a todos os ataques à verdade, com a própria vida imperturbável no serviço da caridade e do amor dentro e fora de nós, compreendendo e sentindo Deus, pelo bem que não deixamos de praticar, sem interrupção.
Nessa disposição, Filipe, não há lugar para as dúvidas que a ignorância faz vicejar.
Lá fora, pelo silêncio do auditório, escuta-se ao longe o vozerio do tumulto e, no meio da multidão, de vez em quando, distinguem-se berros da ovelha, que parece chamar Filipe para mais carinhos.
O filho do lugarejo sorri baixinho, procurando a atenção de Natanael para compartilhar com ele da lição da ovelha.
No pequeno intervalo, todos suspiraram e voltaram sua atenção para a alocução do amigo incomparável, que logo retornou com sua fala cativante:
— Filipe, a Compreensão é, mais ou menos, aquilo que pensas, quando podes dedicar alguns instantes à ovelha que ficou órfã ao nascer, conquanto tal atitude seja fácil, por haver carência de afecto e necessidade de troca de calor em todas as partes, na sensibilidade do amor universal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:04 am

Onde a Compreensão é mais difícil, Filipe, é diante da maledicência, e quando somos ofendidos e caluniados e, sem revolta, o coração nos obriga a transformar nossos sentimentos em perdão, um perdão que não exige condições.
Nesses momentos, por vezes perdemos o ambiente de segurança, assimilando a violência e a intolerância dos ignorantes e, se fizermos a justiça que a razão nos pede, passamos a pensar do mesmo modo de quem nos injuria.
E aí, a semente de Deus, que procurava terra fértil na área do coração, é retirada pelos ventos da invigilância, deixando o agricultor à espera de outras oportunidades, para tornar a semear.
Filipe, meu filho: ocupa mais a tua mente com a Compreensão que deves ter com os outros, sem exigir o mesmo dos outros para contigo, a não ser quando isso vem pelas linhas da espontaneidade.
Porque se você passar a compreender a quem desconhece a lei do amor e da caridade, mesmo sem palavras, ele passa a te admirar, e esse é o primeiro passo para o alcance da verdade.
O assunto despertou a atenção de muitos, pois parecia que o Mestre lera em vários corações os factos recentemente acontecidos.
O tempo passa, passando também os sentimentos de culpa dos que não tiveram Compreensão nos ataques recebidos. Jesus continua com a Palavra fácil e serena:
— O entendimento dos que aqui estão tem de alcançar uma feição mais pura, porque a quem muito foi dado, muito será pedido.
Vós todos participais de uma claridade que, em outros olhos, produziria a cegueira.
Viemos todos, sem excepção, para servir, sem que a exigência perturbe nossa confiança em Deus e em nós mesmos.
O mal maior, mesmo no seio dos que estão despertando para a luz, é dar querendo receber, é perdoar esperando perdão, é sorrir porque precisa receber um sorriso, é dar pousada a um viandante, pensando que o destino poderá colocá-lo viajando também, é amar pensando, primeiro, no amor que poderá receber em troca.
Espero que isso não aconteça entre vós outros, que conheceis ao Pai, conhecendo a mim.
Filipe sai mastigando o naco de pão espiritual que Jesus lhe dera, concentrado em sorver toda a essência, sem perda de um só til.
As portas se abrem, dispersando toda a unidade discipular, que pensava em como seria a noite seguinte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:04 am

7.— Entendimento
Natanael ou Bartolomeu figura como um dos doze discípulos de Jesus, homem atento ao trabalho, mesmo aquele que exigia suas mãos, sem pena de que as mesmas se tornassem grossas como os lajedos de Betsaida.
Era o companheiro de Simão Pedro nas porfiadas horas de pescaria, no famoso Mar da Galileia.
Era natural de Caná da Galileia, aldeia famosa, das mais famosas do mundo na história do cristianismo, por servir de palco para o primeiro milagre de Jesus.
Milagre ou fenómeno espiritual, como queiram.
Caná da Galileia! Caná da Galileia!
Com expressão tão simples na urdidura habitacional da Terra, fez com que o Divino Mestre se visse atraído para uma das bodas mais importantes de todos os tempos, e lá, transformasse a água em vinho, abrindo o Evangelho dos factos pela primeira vez, mostrando, com isso, que Ele era, verdadeiramente, Aquele que havia de vir.
Caná também foi cenário de uma cura à distância, operada por Jesus a pedido de um oficial do Rei, cujo filho já era considerado morto por uma febre desconhecida, tendo voltado à vida no mesmo momento em que Cristo disse:
“Vai, que teu filho vive”.
É bom que notemos que se não fossem as curas operadas por Jesus e, em seguida, pelos Seus discípulos e os cristãos de todas as épocas, nos séculos atuais não se falaria em Evangelho.
Para atrair peixes, são necessárias as iscas.
Para que o homem tenha interesse no trabalho, idealizou-se o ganho.
Para que se forme uma família, estabeleceram-se os primeiros sonhos de felicidade.
Caná da Galileia foi onde Filipe arranjou um grande companheiro, que foi logo levado para conhecer Jesus.
E Filipe não se enganou, porque o Senhor convidou seu amigo para fazer parte da primeira comunidade cristã.
Natanael não sentia a experiência de Levi, que abraçara os princípios do Mestre como que de supetão, parecendo que já estivesse esperando há muito tempo por aquele acontecimento.
Natanael era por demais resguardado, inclusive na sua insapiência, em comparação com os outros, de maior cultura.
Entrementes, sua maturidade espiritual falou mais alto que o raciocínio e fê-lo abraçar os preceitos que o doador maior distribuía para os que tinham olhos para ver e ouvidos para escutar.
Bartolomeu, há muito tempo, andava a meditar em novos processos que poderiam dar conhecimento, aos homens, de meios mais fáceis de entendimento de uns para com os outros.
As antigas religiões só dispunham de métodos que não condiziam com a amplitude evolutiva das criaturas.
As gerações que se sucediam buscavam algo mais convincente que lhes falasse mais ao coração.
A justiça estava por demais exigente e o Deus apregoado e temido parecia sem certa piedade para a massa sofredora.
Apesar disso tudo, o novo discípulo alimentava uma esperança.
Conhecendo profundamente Moisés, deparava, aqui e ali, nos seus escritos, o anúncio de um Messias, que seria o Rei e salvaria o mundo.
Encontrava também em Isaías profecias idênticas.
O que tinha a fazer?
Era esperar esse anunciado Mestre.
Porém, sua mente divagava nas sombras da dúvida, em noites insones, aumentando suas dificuldades de reconhecer o Cristo, quando Este surgisse no seio dos judeus.
Poderiam aparecer muitos Cristos, como fazer?
Filipe, conhecendo sua sinceridade, não teve dúvidas de que Natanael era um companheiro de valor e pôs à prova sua intuição.
Bartolomeu aparece em Betsaida em uma tarde encantadora, aceso de curiosidade.
Tinha estado com muitos sacerdotes e estes o cravaram de perguntas acerca do Mestre e outros assuntos referentes a comparações doutrinárias.
Seu íntimo fervilhava à busca de soluções que julgava impossíveis no meio do povo e no seio das famílias, junto aos colegas e no esquema de trabalho:
era a compreensão entre as criaturas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:05 am

Encontra-se com Pedro em uma rua de Betsaida, quando repartia um achatado pão com uma velha cega.
Cruzaram os olhares, sem palavras, e partiram para o antigo albergue dos pescadores que estava servindo de igreja na formação dos primeiros discípulos.
No grande salão já se encontrava o Mestre com alguns dos seus adeptos, conversando amavelmente a respeito da firmeza de ideal.
Todos os minutos eram aproveitados para uma sequência do aprendizado, já que o tempo que o Senhor ia ficar com eles era bastante curto, na contagem de uma existência humana.
Enquanto Pedro e Natanael se acomodavam, os outros adentram e completam o rebanho, cujo pastor era a luz anunciada há milhares de anos, da Assíria ao Egipto, e deste à Babilónia, da Indochina a Israel, e dele à Grécia, que inspirou também a Roma no anúncio da vinda de uma das estrelas do infinito, com a missão de fazer brilhar a Terra e os homens.
Bartolomeu, meio inquieto, é indicado por Pedro para iniciar as perguntas.
Com certo acanhamento natural, procura os olhos do Mestre e interroga, com prudência:
— Senhor, porventura poderia nos dizer qual deve ser o nosso comportamento diante dos outros, em se falando de Entendimento?
Espera com ansiedade.
Jesus, animado com a generosidade de Natanael, fala, com finura:
— Bartolomeu!
A idoneidade de uma pessoa depende muito, mas muito, meu filho, da vivência que ela leva diante dos conflitos interiores e dos problemas que a própria natureza externa apresenta como teste da sua natureza.
Pelo tom da tua voz, notarás a apreciação que fazes em ti e nos outros, e pela análise, notarás a falta de compreensão de grupo para grupo e de almas para almas, começando dos lares até as nações, pois em verdade te digo que esse é um processo inevitável, dos homens e povos se entenderem mais tarde, pois as dificuldades são criadas para que a dor possa aparecer ensinando, na antecipação do amor.
E bom que se saiba que, quanto mais bruto é o animal, maior é a corrigenda.
A roseira mostra suas pétalas suaves, mas traz os espinhos na retaguarda, para que a vigilância seja desenvolvida.
Conheces bem as escrituras, pelo próprio esforço e nas interpretações dos sacerdotes, e não deve te faltar a razão.
Moisés foi portador da justiça pela dureza dos corações.
No entanto, o teu raciocínio te fará crer que a nova mensagem que estás conhecendo transforma a justiça, pelas linhas da misericórdia, em amor e, se queres saber, meu amigo, é justo que saibas que somente o amor no coração das criaturas fará estabelecer a verdadeira compreensão entre elas, nos lares e nas nações.
Suaviza-se o verbo inflamado do Cordeiro Divino.
Alguns dos participantes se assustam com a firmeza do Senhor, quando fala das necessidades, dos problemas, das dificuldades para o aprimoramento dos homens.
Mas, no silêncio, meditam em tais conceitos.
Bartolomeu, muito precavido, deixa as suas deduções para as prolongadas noites de insónia.
Ali, com Jesus, apenas procurava gravar as lições e aproveitar todo o tempo para apreciar a voz de Deus na pessoa do Mestre.
E o Cristo, benevolente, continua, com critério:
— Natanael! És inteligente; não te iludas com falsas filosofias.
O esquema de Deus não foi feito para transformações imediatas, principalmente no tocante às almas.
O despertar de um espírito para as coisas reais da vida depende de sequências de esforços indescritíveis.
O sol tem uma marcha moderada, com respeito ao tempo, para formar o dia, e este a mesma sequência, na estrutura do ano.
Assim os séculos, assim os milénios, assim a eternidade.
E continua, com serenidade:
— A compreensão é incompatível com a ignorância.
Se esta última comanda e domina a maioria na Terra, como poderás esperar ajuste de Entendimento entre as criaturas?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 06, 2022 11:05 am

Se é certo que toda a humanidade tem fome de amor, é mais justo que esse amor seja dado aos que desconhecem os seus grandes benefícios.
Estão sendo instalados na seara da Terra os meios de propagação da mensagem que te leva ao maior Entendimento das coisas e da vida, da vida e dos homens, dos homens e do mundo dos anjos.
Porque é por vontade de Deus que aqui estamos, para transmutar a justiça em perdão e o perdão em caridade que, nesse empuxo da vida, passe a esplender na pureza do amor.
Sua voz ressoa em todo o salão como música que os anjos não esqueceram de ampliar.
O Mestre, envolvido na dinâmica da verdade, retoma a palavra sem que ninguém ouse interrompê-Lo:
— Bartolomeu! Prepara-te para escutar a verdade que não esperavas.
Se te preocupas muito com a compreensão de uns para com os outros e dos outros para contigo, se intentas lutar para estabelecer um Entendimento universal, se te dispões a trabalhar para uma unidade de sentimentos, coloca o capacete do trabalho edificante sem perguntar o que vais receber.
Envolve-te na tolerância educada na força do bom senso.
Respira e distribui a caridade sem fanatismo, arregimenta as armas do perdão incondicional e não penses no tempo em que a tua cooperação com os outros que esposam as mesmas ideias venha a formar a fraternidade entre os povos.
Porque na verdade te digo que essa incompreensão que tanto temes, tu a sentirás no nosso próprio meio, onde temos as melhores armas para combatê-la.
Mas, se continuares no bem até o fim, fazendo a tua parte, os outros farão o mesmo e Deus fará o resto.
O silêncio cai sobre o salão e, grupo a grupo, os discípulos se dispersam, pensando e repensando nas dificuldades de compreender e nos meios de atingir a compreensão.
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