LUZ ESPÍRITA
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:31 am

As diferenças parecem não existir, pelo que apresentam de semelhante.
Não obstante, para nós que ideamos a perfeição e trabalhamos com este objectivo, nos interessa muito onde o optimismo deve ser separado da coragem e até que ponto deveremos ceder a essas forças que a alma desperta e arregimenta em seu interior, em busca da felicidade.
Em primeiro lugar, deves saber que toda a perfeição exige esforços compatíveis com suas qualidades.
Não podes pensar, jamais, que essas conquistas das almas são doadas por alguém a não ser por Aquele que nos criou, que já nos fez com todas as perfeições em estado latente, deixando a nós o trabalho de conquistar o aperfeiçoamento, esforçando-nos pacientemente em todas as direcções, para que esse bem eterno acorde em nós o tesouro depositado pelo Senhor no cofre divino das nossas consciências.
Toda facilidade é filha da ilusão, parece brilhar aos olhos dos que adoptam a preguiça, porém é breve qual fumaça que se desfaz ao sabor dos ventos.
Comparemos com a natureza e sintamos essa verdade nos animar para o trabalho, devagar, mas sempre.
Se queres ser um mestre, em primeiro lugar tens de te fazer aluno, não contrariar o tempo e despender todos os esforços que estiverem ao teu alcance.
E mesmo assim não parar de estudar no mundo e no livro da natureza, para que cada vez mais possas oferecer o melhor aos que te seguem.
Parou, por instantes.
Aproveitando o descanso da fala do Senhor alguns dos discípulos conversam baixinho uns com os outros, sobre os intrincados assuntos que o Cristo abordava, onde o Mestre criava imagens usando a própria natureza para ser melhor entendido.
Notando ansiedade nos discípulos, Jesus apresenta novas riquezas sobre o assunto em pauta:
— Judas! O Optimismo se apresenta como um perigo aos desprevenidos de certo senso.
É digno que o atinjas até onde ele possa ser útil na escala das qualidades.
O exagero faz dele uma entrada para a inconsciência e pode entorpecer a razão, despenhando em vales que o arrependimento marcará muito tempo para ser feito o reparo de um impulso que a disciplina não atingiu.
Aí é que o Optimismo passa a ser coragem.
Ele é meio cego e, por vezes, mesmo em caminhos tortuosos, se alimenta e está disposto a seguir mesmo nos corredores da sombra.
O Optimismo é a coragem educada, e a coragem é o Optimismo em preparo.
É necessário, Tadeu, que usemos a inteligência, aquela que a Boa Nova igualmente disciplinou para que possamos vigiar o nosso Optimismo no seu grandioso trabalho no decorrer das nossas labutas.
O dia a dia pede de nós essa disposição, para que sintamos a vitória.
Contudo, um juiz dentro de nós julga sem piedade os nossos erros, aplicando as sentenças correspondentes com as faltas cometidas.
Mas o tribunal da consciência só sentencia depois dos factos.
A vigilância é montada pela razão, que se enriquece pela inteligência, aliada aos sentimentos.
Eis que é aí que entra a nossa tarefa, o nosso trabalho, o trabalho da Boa Nova:
despertar o homem, fazer nascer o homem novo dentro do homem velho.
E dizer para ele que viva, que ande, que fale, que se abrace com Deus nos seus próprios caminhos internos, para que a felicidade possa atingir outras áreas da vida, ainda desconhecidas.
Todos tinham os olhos fixos no Nazareno.
Após alguns segundos de pausa, continuou o discurso:
— Judas, meu filho, o que aconteceu contigo naquela noite de trevas não representa uma fracção do que ocorre todos os dias em muitos pontos do mundo.
O mal, meu filho, já está organizado.
Falta-nos organizar o bem e confiar nele, como sendo o ambiente da verdadeira paz.
Foste um pouco enganado para sentires o que podes passar apartado de mim.
Eles não são verdadeiramente maus, são ignorantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:31 am

De tanto mexer com fogo, acabam queimando as suas próprias possibilidades de amor desde servir e de amar.
O mal que pretendem fazer servirá para despertá-los, mais tarde, para o bem, que nunca morre e que os espera, a todos.
A escola do Optimismo é essa a que já pertences, pelo coração, e que, gradativamente, haverás de conquistar, dependendo da tua disposição de servir, de trabalhar e mesmo de sofrer por ela.
De novo te falo como sendo um Pai para todos os que me cercam com amor.
Não queiras nada com facilidades, pois estas pertencem aos tardos de inteligência e esquecidos de sentimentos superiores.
Sua fala abrandou-se e a mansidão tomou conta de Sua feição divina, quando finalizou com estas palavras:
— Meus filhos! Que Deus nos abençoe nesta obra universal do amor.
Olha com humildade para Judas e remata:
— Judas! Eu sou optimista por excelência, creio na eficácia da missão que empreendemos, mas nunca deixes o Optimismo tomar as vestes da violência, nem a rota da imprudência e, muito menos, feches os olhos nos momentos difíceis, deixando surgir a coragem cega que não mede consequências.
Terminou a reunião e a multidão era compacta do lado de fora.
Muitos doentes esperando a saída de Cristo para ao menos tocar suas vestes.
Naquela madrugada, o Senhor curou a muitos e Pedro, no seu jeito instintivo, abre alas para que o Mestre possa passar.
Tadeu sentiu-se melhor, muito melhor; contudo, não quis conversar com ninguém naquela noite e foi pensar no assunto, para dormir melhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:32 am

33 — Viver
Simão, o Zelote, era, para dizer a verdade, um homem político, que pertencia a um partido nacionalista fundado por Judas, o galileu, na Galileia.
Destarte, os seus sentimentos se aproximavam mais de um interesse colectivo, sem que o seu fosse notado.
Via o sofrimento dos galileus, mormente no peso exorbitante dos impostos, cujo exagero gerava revolta nos corações sensíveis, predispostos à defesa.
O partido da situação, vendo nesse movimento um perigo para sua estabilidade, forjou, às escondidas, um contra-ataque, exterminando o general das ideias, que era Judas, o galileu.
Morrendo este, as linhas de conduta ou as intenções já delimitadas, tomaram caminhos diferentes, chegando a ponto da subversão ser o foco no seio dessa gente.
Eis porque Simão Cananeu começou a se desinteressar por esse movimento, que antes lhe tocava o coração.
Simão era conhecedor de muitas leis, cujos alicerces asseguravam as vidas em muitas nações.
Frequentava as sinagogas sem compromissos e, quando podia, estava presente no Sinédrio, para ficar a par de todo o movimento dos sacerdotes político-religiosos.
Nesse transe de indecisão por que passavam seus ideais, ouvira falar no Cristo.
No primeiro momento, sentiu um impulso negativo, dizendo:
“Esse aí, que nem força política tem, certamente vai ser eliminado pelos poderes de César como foi Judas”.
E considera:
“Morreu o chefe, desfazem-se as ideias”, considerando Jesus como um simples judeu da mesma linha de muitos revoltados pela situação do país.
Mais algumas semanas e ouviu falar novamente do Mestre.
A curiosidade fê-lo inteirar-se da Sua doutrina, que sentiu suplantar todas as outras já conhecidas por ele.
Era homem inteligente e sabia medir conceitos e analisar fatos.
Simão era consciente de que sua missão era de defesa dos fracos, dos oprimidos, era defender a vida dos que sofriam.
Mas, antes, precisaria compreender o que significava Viver — e para que Viver, pois pretendia entregar sua própria vida em favor dessa ideia, se não fosse realmente uma loucura.
Chegaram novamente notícias de grandes feitos do Nazareno, que muitos já chamavam de Mestre.
E um simples curtidor de couros o encaminha para o maior encontro da história de sua vida, e se integra no maior partido que ele jamais conhecera, por se apoiar em conceitos universais e se basear em ideias que favoreciam a liberdade de todas as criaturas, mostrando direitos e, na mesma sequência, deveres de uns para com os outros.
O cananita fazia falta no colégio apostolar.
Tinha qualidades que eram úteis ao Mestre em alguém da sua confiança, no sentido de fazer chegar o Evangelho a lugares em que somente a coragem e a astúcia educada o poderiam levar, sem o desrespeito das próprias leis.
Antes de conhecer Jesus, a meditação lhe fazia mal, por enxergar em tudo destruição, ataque dos fortes vencendo os fracos, tudo lhe causando imensa revolta, impacientando-o ainda mais com relação aos seus objectivos.
Mas enfim encontrou o que queria e o seu coração pulsou pelo ideal.
Era acostumado com muitas filosofias, mesmo espiritualistas, mas não vira, em nenhuma delas, o que sentia na do Mestre, pela sua clareza e sinceridade, pelo desprendimento e pelo amor às criaturas sem excepção.
Tinha um pequeno receio que o assustava.
Era de que Roma pudesse investir contra aquele homem de Deus, e diante da Águia, que dominara quase o mundo inteiro, o que seria daquele simples profeta?
Depois, vinha a sua mente:
“Ele fala muito de que Deus está com Ele e confia demais nesse poder do céu e a história nos dá muito testemunho disso; é bom que creiamos também...”
E assim, Simão se integra definitivamente ao apostolado, de corpo e alma.
O seu objectivo não era dar a vida, se preciso, para a liberdade de um povo?
Poderia dá-la agora, com maior alegria, para ajudar a felicidade atingir a humanidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:32 am

Seria a maior glória para o seu coração.
Essas são algumas linhas da história deste discípulo grandioso e pouco conhecido.
Vamos encontrar Simão, o cananita, sentado junto a André, no casarão dos pescadores, em Betsaida, onde o Cristo era a atracção principal.
André fez a oração da noite, em um impulso fervoroso de fé.
Simão, procurando na mente o que fazer diante de seus problemas, depara com dois olhos que o espreitavam, como a lhe dizer:
“Fala, meu filho, pede o que aprouver a teu coração”.
O cananita levanta-se do tosco banco que lhe servia de assento e toma a palavra:
— Mestre! Senhor, a quem pensa como eu, compete saber de certas coisas que, por vezes, param o nosso raciocínio, ou fazem com que este se demore mais, analisando.
Às vezes tomamos uma defesa, sem saber ao certo o que estamos defendendo.
Eu, todavia, me sinto no dever de defender a vida, seja qual for, mas ainda não entendo o que é Viver, e para que estamos vivendo.
Por Deus, dá-nos essa definição, eu sou o mais necessitado de ouvir a tua fala a esse respeito...
Jesus pensa alguns instantes na pergunta do discípulo e responde:
— Simão! A vida, na sua profundidade, é muito engenhosa para que mereça uma definição repentina.
Toda definição de vida nós transferimos para Deus, como sendo Ele a vida.
Deus é vida.
E tudo o que presenciamos na criação, mesmo o que consideramos coisas mortas, na verdade estão em plena vida, porque o Senhor de todo o Universo está em tudo e tudo vive com Ele.
Nós nos enganamos muito pensando e falando que a vida somente existe onde se manifesta instinto ou inteligência, pois ela vibra em tudo, e está permanentemente onde foi criada.
Querer saber sobre a vida na sua maior expressão é querer conhecer a Deus na sua essência genealógica, é uma impossibilidade que se envereda nos mistérios mais obscuros da vida.
Contudo, meu filho, não devemos parar de procurar aprender.
O aprendizado é infinito e o nosso, ou um dos nossos deveres, é trabalhar activamente para aprender mais do que sabemos.
Nunca o Pai Todo Poderoso nos fecha as portas do saber, desde que esse saber se compare com a nossa estatura espiritual.
Nas linhas do nosso entendimento, o que podes saber é que a vida é movimento; tudo que se move, vive, nada se encontra na inércia.
E se queres Viver mais intensamente, movimenta-te mais, desde que esse movimento obedeça aos regimes que as leis nos propõem.
Sentir a vida, Simão, é um princípio de reconhecer Deus como o único doador universal da existência.
Já pensaste em uma das menores formigas que existe, quase não alcançada por nossa vista?
Pois ela sabe o que fazer e cumpre sempre o seu dever, nunca parando de trabalhar em benefício dela e das outras, que também fazem o mesmo.
Isto é vida, isto é Viver.
Por enquanto é bom que não cogitemos disso, mas existem outras vidas trabalhando por toda parte, muito mais, muito menores que a menor formiga, quase invisíveis e mesmo invisíveis por cima da terra, com grandes objectivos.
Se o teu maior interesse e lutar pela vida e pelas vidas, é bom e justo que não esqueças que somente quem dá a vida é Deus.
E se Ele é a verdade, não precisa, de certo modo, das nossas preocupações, para que vivas.
Temos, sim, um campo enorme de trabalho, mas não em criar e nem tampouco em ter medo de que essas vidas possam vir a perecer.
Foi para isso e para outras coisas similares que desci à Terra, trazendo meios mais fáceis de reflectir a verdade para todos vós, de modo que compreendais os vossos deveres mais de perto, para que possais ajudar sem sofrer, consolar sem perturbar, amar sem paixão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:32 am

Para mostrar o que poderemos fazer, notemos uma simples sementinha de mostarda, quase invisível aos nossos olhos e de difícil apalpação.
Verdadeiramente vos digo que, nem juntando todos os sábios do mundo, poderiam fazê-la com a vida que tem.
Onde buscariam o material para fabricá-la?
E mesmo desse tamanho, ela cresce na terra e se multiplica à vista dos céus e das estrelas.
Esse segredo está nas mãos do Criador e nós vamos avançando para Ele gradativamente.
Já pensastes que quando éreis crianças sabíeis muito menos que agora?
Pois, de agora em diante, podereis aprender mais, num aprendizado que tem os caminhos do infinito, esticando até Deus.
Este é um assunto que nos agrada, principalmente quando agrada a todos os que nos ouvem.
O silêncio se fez. Todos meditam profundamente no que ouviram do Divino Mestre.
O Cristo continua pensativo, mas depois fala, com sabedoria:
— Simão, se a vida, na verdade, precisasse da nossa defesa para prosseguir, ela já não existiria desde a sua criação, e nem Deus seria Deus.
Já meditaste, meu filho, no que podes fazer por ti mesmo?
Já procuraste estudar o que tens feito até hoje pela tua própria defesa?
Se ainda estás em dúvida sobre quase tudo, por que se apresentar como defensor de uma coisa que ainda não entendes?
Defender o quê?
Se não tens consciência de um simples buraco em que resvalas o pé?
Queres proteger a vida dos outros, quando a tua, por vezes, se encontra ameaçada por inúmeras irreverências que a tua mente engendra, por não saberes o certo para ti mesmo?
Se fores à guerra, tens o general que comanda, porque não sabes o que fazer.
Pois bem, o nosso general maior é Deus, Criador de todas as coisas.
Ele é que nos dirige em todos os pormenores e é Ele mesmo que sabe preservar a vida que criou.
Nós outros somos Seus filhos, carecendo do Seu amparo para continuar a Viver.
Ainda somos inconscientes na arte de criar.
Aqueles mais velhos, que os milénios despertaram para o amor, esses servem de instrumentos nas mãos da sabedoria espiritual, para ajudar aos da retaguarda a aprenderem a andar, a andar para servir, a servir para melhorar, e para melhorar acordando em si todos os dons da vida, para que Deus, essa força universal, se faça explodir por dentro das criaturas, e elas possam entender os princípios da vida, mesmo que não possam ou não saibam dar explicações sobre o que é Viver.
Eis que estamos todos juntos, por vontade de Deus, e é de nosso dever saber Viver bem, compreendendo os ensinamentos da Boa Nova do Reino, da qual nos fizemos portadores para a Terra.
Ela constitui semente de valor maior, competindo a nós semear e dar assistência, nos moldes da natureza, porque seu nascimento, crescimento e frutos pertencem Aquele que criou a própria vida universal:
Deus. Viver, Simão, é amar, pois o Senhor nos fez por amor.
Finalizando, abençoou a todos, desejando muita paz.
Simão, meditativo, sai da sala trocando as pernas, como se houvesse tomado um vinho muito forte.
Mas, por dentro, estava aprumado, procurando guardar tudo o que ouviu no baú da consciência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:32 am

34 — Solicitude
O apóstolo André, quando rapazote, empenhava-se com os seus professores, para que lhe contassem coisas acerca da famosa Babilónia.
Achava um encanto quando alguém lhe falava nas histórias da velha capital do Império Babilónico.
Um dia, nos festejos que se processavam em Tiberíades, onde se encontrava há uma semana, depara com um velho narrador de histórias, que atrai André como ouvinte.
E dentre as histórias, narra a seguinte, que o futuro apóstolo queria saber.
O historiador chamava-se Tatiê-Mon-Rá, que rapidamente granjeou a admiração de André. Conta Tatiê:
— A Babilónia de que vou vos falar foi poderosa como o centro de atracções de todo o mundo.
Dizem os antigos que ela era tão grande que os deuses vieram de regiões celestiais e abriram os braços para protegê-la, mas os braços que abriram tinham o formato de dois rios.
Tatiê para um pouco e leva a ponta da bengala ao chão, riscando os roteiros dos rios, para que os rapazes pudessem entender melhor.
E continua:
— De um lado, é o Rio Tigre, que nasce nas encostas daquelas montanhas pelos confins da Mesopotâmia, e de outro é o Rio Eufrates, que também procede das mesmas regiões.
Esses dois rios são dois braços gigantes, que formam, de certo modo, um corpo, onde a Babilónia se movia.
E os pés que seguram esse corpo é o Golfo Pérsico, que também podemos chamar de Garganta do Diabo, que bebe todo o líquido desses dois rios que protegem a Babilónia.
O ancião Tatiê-Mon-Rá parava de vez em quando para dar mais ênfase à história.
E os meninos, de respiração parada, esperavam o desfecho.
André nem sequer piscava.
E Tatiê prossegue, meio cansado pelo entusiasmo:
— Babilónia tornou-se, com a protecção dos deuses, um gigante pela própria natureza, e cresceu... cresceu... cresceu...
Vinha gente de todo o mundo para visitar esse monstro, mas o monstro era tão grande e feroz que quem vinha ver não voltava mais.
E aí vinha gente buscar seus parentes e também ficava e Babilónia foi se enchendo, se enchendo...
Como os costumes de cada povo que chegava eram diferentes do outro, começaram a brigar e a se separarem por tribos.
Para uns conhecerem os outros da mesma tribo, deu-se o começo às línguas diferentes.
Então, cada povo que falava uma só língua passou a falar línguas diferentes, para mostrar a que tribo pertencia.
E gostaram disso.
No entanto, ao encontrar-se uma tribo com outra, eles não entendiam o que os outros falavam e começavam a brigar.
Uma das tribos chamava-se Ódio, outra Vingança, outra Ciúme, outra Tristeza, outra chamava-se Hipocrisia; Luxúria era a maior delas, a que governava mais ou menos as outras, e ainda havia a Mentira, como também uma tribozinha de homens bem pequeninos que se chamava Maledicência e uma bem grande por nome Brutalidade, outra denominada Orgulho, e assim por diante.
Um certo dia, que marcava os festejos da cidade na grande praça, onde todas as tribos tinham de se encontrar, vós não imaginais o que aconteceu!
Ah, bem, eu estou me esquecendo que uma delas se chamava Blasfémia.
E prossegue o velho, sob a atenção geral, após traçar coisas pelo chão com a bengala:
— Aconteceu que no dia da festa começou uma guerra na grande praça.
As tribos todas juntas.
E quando os deuses viram aquilo, o sangue corria tanto que tingiram de vermelho as águas dos rios Tigre e Eufrates, e a Garganta do Diabo bebia somente sangue de gente.
Aí os deuses se enfureceram, meus filhos, e veio do céu, para todo o mundo ver, uma bola de fogo, que caiu no meio da praça.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:33 am

Houve uma explosão tão grande que o monstro se espatifou, quebrando-se em muitos pedaços, e o urro foi tamanho que os restos das tribos que se salvaram, se espalharam para os vários lugares do mundo.
É por isso que nós temos na Terra muitas nações e cada uma delas falando uma língua diferente e, como lembrança da antiga Babilónia, vivem até hoje brigando umas com as outras.
Parou um pouco, sorriu bem humorado, e agora fala mais sério com os meninos, que gostaram da história:
— Depois disso, os deuses se acalmaram, vieram visitar as ruínas da cidade e prometeram enviar um filho da luz, um profeta ainda maior que Moisés, para que esse povo saído de Babilónia voltasse a falar somente uma língua e aprendesse com ele, que vai ser manso e humilde, a amar uns aos outros.
Esse vai ser o cordeiro de Deus, o Messias, e já se fala muito n’Ele.
Vai haver com ele um só rebanho e um só pastor.
Não mais haverá brigas na Terra.
Se alguns dentre vós pensais nas grandezas de Babilónia, esquecei-vos disso; aquilo foi um inferno que a bondade de Deus fez acabar para sempre.
Nós temos que ajudar nisso, começar, desde hoje, a procurar esse profeta e acompanhá-lo para a Eternidade.
Tatiê-Mon-Rá rodopiou a bengala no chão e os meninos todos se espalharam, com medo de serem acertados, pois Tatiê era chamado e conhecido em toda a margem do Mar da Galileia como o “doido das águas”.
André nunca mais quisera ouvir falar em Babilónia, nem escutar suas histórias.
Contara a Pedro o que ouvira de Tatiê.
Este deu uma longa gargalhada e todas as vezes que se lembrava do assunto ria-se muito de André.
E falava:
— Meu irmão, você não conhece Tatiê. Ele é...
E fazia com o dedo curvas à volta da cabeça, continuando:
— Você acredita que um dia encontrei Tatiê à noite, nadando no lago onde pescamos, dizendo-se o rei dos peixes e querendo atravessar o Mar da Galileia de ponta a ponta?
Foi com muito custo que tirei tal ideia de sua cabeça.
Todos os pescadores o conhecem.
Ninguém vai na conversa de Tatiê.
E sorriu gostosamente.
André, porém, não se convenceu com o que Pedro falara a respeito do velho Tatiê, pensando:
“As coisas de que ele falou foram muito sérias.
Mesmo sendo ele doido, o que o impede de falar a verdade?”.
André e Pedro entram na igreja dos pescadores ao raiar a noite.
Filipe já mostrava interesse de orar e foi o que fez, com o verbo bem inspirado em busca de Deus.
Pedro leva o dedo nas costas de André, dizendo:
— Pergunta hoje alguma coisa.
Há muito tempo que não falas nada.
O Mestre não acha bom que nós nos silenciemos, pois temos de aprender com Ele tudo que precisarmos, e o prazer Dele é grande quando nos interessamos pelo aprendizado. Vamos, fala!
André, como já tinha em mente o que devia indagar, propõe, com delicadeza:
— Senhor! Poderias nos dizer o que vem a ser a diligência nossa para com os outros e como entender a dos outros para connosco?
O Cristo, usando de brandura, atributo irreversível do seu ser, inicia sua exposição:
— André! A Solicitude nos é exigida em todos os momentos da nossa vida, pois estamos permanentemente em comunicação com os outros.
Quando nos falam, agrada a nossos corações que possamos ouvi-los com paciência.
E, já que estamos ouvindo, a sabedoria divina nas nossas consciências nos adverte para não perdermos tempo, procurando aprender o que estiver ao nosso alcance, com o que ouvimos.
Nada se perde na vida, tudo tem uma função em nós e por nós.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:33 am

Toda pessoa atenciosa ganha muito em virtude dessa educação que já conquistou no labor diário e nunca lhe faltarão as bênçãos de Deus para que essa atenção se multiplique e se converta em amor, em solidariedade e em alegria.
No entanto, meu filho, é justo que compreendamos o modo de nos empenharmos com as conversas alheias.
Quando elas saem da linha da harmonia, da caridade e do bem-estar, é mais do que justo também que nos esfriemos no interesse de ouvir, para que o filante desconfie que não o estamos apoiando no esquecimento do bem, que é toda a nossa meta de vida.
Nós temos de nos preocupar com a disseminação das virtudes em todas as direcções da vida que levamos e, se for possível, em todos os reinos das consciências dos outros que solicitam a nossa ajuda.
Não uma preocupação que nos leve à impaciência, mas aquele dever de servir que todos temos pelo impulso do amor, quando uma criatura nos mostra programas de sua vida, cujas ideias estão fundamentadas na nobreza de carácter, na dignidade, na educação, na disciplina, procurando fazer e entender o bem por todos os meios possíveis.
Não existe outro dever maior para nós que a Solicitude para com essas almas, pois encontrando em nós esse apoio, elas se fortalecerão mais e mais na vida de luz que pretendem levar.
Esse tipo de gente merece e deve ter toda a nossa atenção.
Dentro do salão, o silêncio parecia falar mais alto que as palavras.
O estímulo do bem, despertado pelo Cristo em seus discípulos, era uma força invisível, mas que se fazia sentir pela alegria permanente nas feições dos seus companheiros.
O Mestre dos mestres voltou à conversa:
— Interessa-nos imensamente, André, que possas procurar a Solicitude viva.
É o afinco que podes ter de apoiar todos os gestos humanos que não perdem os roteiros do Evangelho, aqueles que trago da parte do meu e do teu Pai que está nos céus.
Esse cuidado vivo de que falamos é, por assim dizer, a vivência do bem que podes ouvir dos outros, é a vivência da caridade que já observaste nos teus irmãos, é a vivência da fé de que tens notícia nos caminhos dos profetas.
Não obstante, o desvelo maior e de maior esplendor que podes ter, é a Solicitude contigo mesmo, de viver cada dia, cada passo da tua existência, dentro das normas divinas que pregas aos teus irmãos.
A exemplificação, meu filho, é a maior força que nos deixa falar com dignidade e gratidão a Deus, pelo que ele nos tem dado até agora.
Ouvir com paciência é arte do aluno que está sendo bem sucedido na escola, e saber ouvir é transição do aprendizado para o mestrado.
As últimas palavras de Jesus pareceram ressoar dentro de toda a igreja como um cântico.
Os espectadores se esforçavam para não perder uma só nota da melodia toda.
André levantou-se e tornou a perguntar um detalhe de que se esquecera:
— Mestre! Perdoa-me se estou sendo imprudente, mas ficaria contente se pudesses responder-me o que ora recordo.
A verdade pode nos ser dita por pessoas ignorantes?
Pode servir-se dos lábios de alguém considerado louco?
Ou somente os profetas têm a primazia de revelá-la?
O Nazareno retoma o assunto, inflamado, mas compassivo:
— André! Foi providencial a tua intervenção, para que possamos entender os atributos de Deus.
A verdade, meu filho, não é património dos homens nem tampouco dos anjos.
A verdade absoluta é Deus, em todo o seu esplendor divino.
Portanto, não pode ser de domínio dos sábios, nem dos santos, nem dos profetas.
Ela é força do Criador, que pode e deve se mostrar, pelas vias que achar melhores e mais propícias.
Ninguém compra a verdade, nem a própria evolução.
A verdade é o conjunto das leis de Deus, que vem a nós pela magnânima vontade do Criador, e pode aparecer à nossa frente por factos simples ou por engenhosos acontecimentos.
Quanto aos caminhos que ela poderá percorrer, se puros ou defeituosos, não nos compete o julgamento, porque um homem, pelo simples facto de estar com as faculdades mentais em desordem, não é impedido de acumular sabedoria, a ponto de enfrentar testemunhos que os próprios homens sadios desconhecem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:33 am

E os animais?
É bom que nos lembremos da gata que nunca tivera gatinhos por deficiência orgânica, história muito conhecida de todos.
Um certo dia, sua dona, boa senhora da sociedade, que também não tivera filhos talvez pelos mesmos motivos, recusou-se a adoptar duas meninas que chegaram à sua porta, órfãs de pai e mãe, quase nuas e famintas. No dia seguinte, a gata sumira.
A mulher se afligiu e, preocupada, começa a ficar sem condições de viver sem o animalzinho que tanto amava.
Empregados foram postos a procurar a bichana fugitiva.
Enfim, um dos escravos da casa achou a gata Men em um capinzal da região, acarinhando três gatinhos que adoptara na noite em que saíra para caçar.
Os restos da mãe verdadeira denunciaram que fora estraçalhada por algum animal selvagem.
A senhora, tendo a notícia do animal de estimação, foi ao local, e vendo o carinho da gata para com os gatinhos, foi levada a meditar, com os olhos fitos em Men, que renunciara à casa rica, cheia de conforto e sem trabalho, recebendo o maior carinho da dona para...
Os olhos da rica senhora molham a seda de suas vestes.
Olha firmemente para Men, e a gata retribuiu o olhar.
A mulher fala com bondade:
“Men volta para casa, volta para casa, Men!”
A gata, em miados suaves, lambendo os gatinhos, ouve o chamado, mas pretende ficar.
A senhora insiste:
“Men, volta para casa e pode levar seus filhos que também são meus”.
O escravo avança devagarinho, recolhendo os órfãos que Men adoptara e a gata deixa, entrando junto no mesmo cesto.
Dali, a mulher rica, sem sequer ir em casa, foi à procura das duas meninas que haviam batido à sua porta pedindo abrigo e, encontrando-as, passou a servir-lhes de mãe.
Silenciou um pouco, olhou com carinho para André e perguntou:
— Não foi uma verdade do amor, André, que veio de Deus por intermédio de um animal?
André, emocionado, beijou as próprias mãos como se fossem as de Cristo, e disse:
— Graças a Deus, o que pensei, há muitos anos atrás, e o que penso agora, sobre o que ouvi do velho Tatiê-Mon-Rá, era uma verdade...
E Pedro estava curioso e impaciente, querendo saber por que seu irmão falava sozinho e por que estava sorrindo sem motivo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:33 am

35 — Energia
O apóstolo Filipe tinha muitas qualidades.
Dentre elas, a energia se destacava sobre as outras.
Tinha ímpetos de tudo fazer com entusiasmo e com clareza.
Filipe, antes de se encontrar com o Cristo, viu nascer em seu coração um desejo ardente de conhecer a Cordilheira Horebe, que guardava em seu, com destaque, o monte denominado Sinai, lugar sagrado que Deus escolhera para revelar a Moisés os Dez Mandamentos.
E Filipe, na sua impetuosidade de jovem, parte para uma excursão com alguns companheiros de infância, afim de sentir de perto o ambiente sagrado onde o antigo legislador firmou os pés e recebeu do mundo espiritual as leis que governariam a tribo nascente, que o esperava no deserto, escrava da casa de servidão do Egipto.
Nunca pensara Moisés que as leis promulgadas no elevado de Horebe, iriam servir de leis universais, cuja força daria para mostrar ao mundo a justiça de Deus, como alicerce de todas as demais leis do mundo.
Filipe chega ao Sinai e logo demanda a subir com todo o fervor.
Vai daqui, vai dali, os outros dois companheiros desistem e combinam de esperá-lo embaixo.
Filipe foi retomado de nova energia e rompe o penhasco com fé, esperando satisfazer um antigo ideal, de pisar onde pisara o grande profeta, mais de quinze séculos antes.
E foi o que fez.
Quando chega ao cimo do monte, sente uma emoção diferente: o ar parecia ter sido feito de pureza tal que somente os anjos poderiam respirá-lo.
Dobra os joelhos nas pedras cujas saliências faziam mostrar as dificuldades e sacrifícios.
As lágrimas borbulham sem muito esforço e o anseio de orar a Deus surgiu-lhe n’alma como por encanto.
E foi o que fez, como gratidão a tão nobre personagem que ali estivera, buscando dos céus o que poderia ser útil aos homens.
Terminada a prece, Filipe, sentindo-se em outro plano de vida, escuta baixinho um hino de glória a Moisés, ainda pedindo aos homens que entendessem e praticassem as leis ali recebidas, para a paz na Terra e glória a Deus em toda a criação.
Antes de terminar a oração, ouviu um sussurrar de asas e um aroma agradável penetrar em suas narinas, perfumando todo o seu corpo.
Ao mesmo tempo, como que uma nuvem que brilhava como as estrelas passa de mansinho em sua frente, desembarcando dela uma moça de porte esbelto, olhos como dois astros a fitar Filipe, vestes luminosas que pareciam tingidas por raios do sol, lindos pés que se propunham a pisar igualmente nas farpas das pedras.
A nuvem se condensa por força misteriosa que Filipe desconhecia e transforma-se em lindo pano de fundo, aformoseando o Sinai, e do arpejo dos lábios da moça sai uma melodia em forma de palavra na orquestração da natureza:
“A paz seja contigo, meu rapaz”.
Filipe, estático, somente movia a cabeça, pensando:
“Será que é Moisés?
Será que é Ezequiel?
Gabriel, quem será, meu Deus?”
O anjo, todo complacente, sorri para o jovem de Betsaida, e fala com doçura:
— Não sou o que pensas.
Sou sim um filho de Deus vivo e um enviado do grande profeta que teve a felicidade de lançar na Terra as sementes da justiça e mesmo do amor.
Acho que deves te gloriar por estares aqui, buscando inspiração para a tua vida, que haverá de ser na disseminação da verdade.
Na verdade te digo que o maior de todos os profetas já se encontra na Terra, que podes te orientar pelo profeta Isaías, que é o mais claro no seu roteiro.
Cumpre-nos perguntar se estás preparado, porque haverás de segui-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:33 am

Nós estamos trabalhando há muito, com legiões por toda a Terra, para que Ele, o Messias prometido, seja conhecido de todos.
Podes, meu filho, conhecer muita coisa.
No entanto, necessário se faz que conheças a filosofia mais bonita do mundo, que é a sabedoria espiritual.
Eu vou trabalhar mais um pouco, por amor, e sentir a alegria de cooperar com o maior mestre de todos os tempos, que já se encontra no reino da Terra, e voltarei a este plano, em forma de mulher, para dar testemunho de algo que o meu coração diz ser necessário.
Essa vontade tua de vir até aqui é motivada por força do passado, que no futuro saberás.
Desce, meu filho, vai ao teu dever e não fala nada a ninguém do ocorrido contigo, vai com Deus.
E não te esqueças de que nunca estarás só na disseminação do Bem.
Estaremos juntos, não em poucos, mas muitos.
Somos legiões de estrelas que, com Aquele que se encontra entre os homens, completamos os céus.
Filipe não se lembrava que estava de joelhos, de tanta emoção mesclada com felicidade.
Suores embebiam todo o seu corpo.
A fala não saía, de modo a agradecer o evento espiritual, como se fosse um festival da verdade.
Agradeceu pelo olhar humilde e terno aquela ave que estava prestes a voar para o infinito.
E o anjo encerra o encontro com o futuro apóstolo de Jesus, dizendo:
— Vai com Deus, Filipe, que também estaremos lá, porque o nosso trabalho é fazer a vontade d’Aquele que também enviou Moisés à Terra: o Cristo de Deus.
O painel-quadro se desfez, envolvendo aquela personalidade divina em uma fumaça brilhante, e desaparece rumo às estrelas.
Filipe beijou o chão várias vezes, e esqueceu-se do tempo que permaneceu ali.
Quando resolveu descer, os companheiros já estavam preocupados, por fazer dois dias que o filho de Betsaida subira.
Filipe guarda o segredo no coração, meditando que só poderia conversar consigo mesmo sobre o assunto.
“Meu Deus, ela vai voltar em forma de mulher!
Se ao menos eu pudesse conversar com os outros sobre esse assunto!”
E pensa... pensa...
Avançando no tempo, vamos encontrar, no princípio do quarto século depois de Cristo, uma mulher valorosa, com o nome de Catarina, em Alexandria, que foi trucidada em rodas de navalhas, por não obedecer à imposição do paganismo imposto pelo Imperador Maximiano.
Na hora da sua morte, houve muitas curas instantâneas.
Abraçara os ensinamentos do Evangelho como vida, tornando a viver com ele e por ele.
Depois disso, começaram a aparecer muitos monges que iam depositar a sua gratidão no Monte Sinai, e foi por isso que os monges gregos construíram no século VI depois de Cristo, o mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, com a ajuda do Imperador Justiniano.
Eis aí a volta à Terra daquele anjo que prometera isso a Filipe, para impulsionar o mundo na direcção das verdades cristãs.
Encontramos Filipe em Betsaida, abraçado a André e ao lado de Pedro, rumando para a igreja dos pescadores.
Chegando lá, os três se dão as mãos ao trabalho de limpeza.
Daí a algum tempo, Tadeu se dispõe a orar, entendendo que alguém lhe pedira isso.
Terminada a prece, Filipe, impaciente, levanta-se e pede licença, falando cordialmente:
— Mestre! Porventura podes me fazer um grande favor, senão uma caridade que nunca mais esquecerei, por Deus e pelos anjos: como devo usar minhas energias para que elas possam ser úteis às criaturas e, por certo, a mim mesmo?
Enfim, o que é Energia?
Jesus, o formoso corpo coberto com um manto de linho que descia pelos seus ombros até os pés, ressalta, com firmeza:
— Filipe! Energia, acima de tudo é, por assim dizer, o alento da vida, é como o hálito do Criador que torna as condições que a bondade divina impõe e expande ao infinito, com a mesma obediência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:34 am

No entanto, em se falando da energia como interessas saber, como disposição de viver, de ajudar os outros e de tornar-se impaciente em todas as ocupações que te chegam às mãos, é justo que tenhamos métodos especiais para cada caso em pauta.
Hás de aplicar, meu filho, a algumas pessoas, um tipo de Energia que, para outros, passa a ser violência.
E o momento exacto de trabalhar com essas forças, somente o bom senso que nasce da formação da consciência recta, elaborada na forja indispensável de todas as forças que dignificam e que elevam, é que pode escolher.
Mas nunca estaremos aparelhados com essas condições sem a participação da boa vontade, que somente funciona com a mesma Energia accionada por dentro.
A ajuda de Deus é certamente visível, mas notaremos sua presença quando nos dispusermos a iniciar por nós mesmos.
Se queres realizar alguma coisa, começa, que outras mãos prosseguirão contigo.
Medita bem no que vamos falar!
Deus fez a semente, a inteligência humana recolhe onde quer que seja.
Deus fez a floresta, o homem prepara o terreno para o plantio.
Deus dá a chuva, a inteligência do homem coloca a semente no seio da terra.
Não obstante, somente Deus dá o crescimento e a frutificação, e os homens colhem, comem e vendem.
Quem foi que trabalhou mais?
É justo e lógico que haveremos de lazer a nossa parte, para que Deus possa se expressar com mais visibilidade nos nossos caminhos.
O Mestre silenciou.
Os apóstolos dados à impaciência e à violência começaram a estremecer em suas bases e a meditar.
E o Cristo voltou a destacar:
— Filipe! As diversidades das aplicações da Energia vão ao infinito.
Será que quando precisas aplicar Energia a uma criança, fá-lo-ás com a mesma disposição que a um velho que carece dela?
Será que ao usares de Energia para que o mal não cresça, reprimindo os que gostam do alheio, fá-lo com o mesmo ardor que quando o dever te impõe orientar um amigo que te pede socorro, mas que teima em prosseguir no erro?
Será que aplicas a Energia com um assaltante que te rouba os bens e que às vezes pretende a tua vida, na mesma temperatura que falas aos enfermos da fé e da esperança?
A Energia toma caminhos diferentes, quando diferentes são tuas intenções.
Quando faz parte da educação, a Energia é força vital que desentulha o pântano do cérebro avivando sensibilidades para guardar emoções elevadas na arte de aprender.
No ódio, ganha outra feição, agitando e atingindo outros campos de Deus no coração humano e criando clima de tempestades, onde antes existia paz.
A Energia diante das crianças, mesclada de bondade, é força para disciplina que não amedronta, é o pai protegendo os filhos em sequência de vida.
Mas a Energia, Filipe, que pretende impor autoridade desconhecendo as consequências, é malfeitora que afasta e queima as reservas de vida da alma.
Todavia, a Energia divina que se apodera de nós na presença do amor que consola e dá esperança, que cura e levanta os caídos, essa é a Energia do bem, que tranquiliza o coração e nos mostra o quanto é bom praticar o bem, o quanto é grandioso ser alegre, alegrando os outros na dimensão da caridade.
Eis que podemos e devemos ser sábios, bem antes de ser santos, porquanto a inteligência é um dom grandioso, mas sem a assistência do coração, ela se desorienta e costuma perder a direcção.
Já meditaste sobre a Energia que tem um guerreiro e um profeta?
Um dado à subversão e um místico?
Um jovem que vê em tudo beleza e dinâmica, que sente a vida palpitar à sua frente propondo-lhe felicidade, e um homem todo cortado pelo destino, todo abatido pelas imprudências e revoltado contra tudo e contra todos?
Poderemos desfilar outros exemplos, mas basta, para que possas entender até onde pode chegar a força que a Energia impulsiona, e quanto vale sua educação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:34 am

E arremata:
— Filipe, admiro a tua Energia quando um ideal se forma em tua mente.
Mas a vigilância em ti haverá de ser maior.
Quanto ao que ocorreu com o teu coração há tempos, que a tua Energia não conseguiu disseminar por compromissos assumidos, podes guardar como segredo da alma e tesouro da imortalidade.
No entanto, deves tirar desses factos exemplos que possam animar a outros nas lides da Terra.
Usa a inteligência, que ela te dará condições de, paralelamente com os teus segredos, carrear luzes sem par aos que ainda se encontram nas trevas.
E em todos os campos em que a tua Energia for aplicada, não esqueças de colocá-la, em primeira mão, na balança da justiça e, havendo dúvida, deixa passá-la pela alfândega do bom senso, para que se retire algo mais que vai indo, como imposto, aliviando a carga do viajante.
E no bom entendimento, e na boa vontade, regulando aqui e ali as tuas Energias, deixa que o amor medre em todos os corações.
Jesus levanta-se acompanhado dos companheiros mais íntimos, ficando o ambiente de serenidade na igreja dos pescadores, onde Judas Iscariotes retarda os passos, desejando respirar mais aquele ar, que se dizia santificado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:34 am

36 — Brandura
João, que denominamos o Evangelista, deixava vibrar em seu coração algo mais em relação aos seus companheiros de fraternidade.
Sentia em seus semelhantes parte que lhe pertencia por direito divino.
Desde menino ouvia sua mãe, Salomé, contar histórias dos profetas, que os livros sagrados mencionavam.
A todas as narrativas, João ouvia com atenção e respeito.
No entanto, quando Salomé mencionava o nome de Isaías, os olhos do filho brilhavam, querendo saber de todas as particularidades.
Sua mãe sorria bondosamente, descrevendo o quanto podia, salientando muitos outros factos que os livros esqueceram de destacar, mas que ela buscava no infinito, por intuição, dote de toda mulher, principalmente quando se trata de instruir seres altamente evoluídos que começam a se ajustar nos domínios do corpo físico.
João era uma alma de alta sensibilidade, que o Mestre dos mestres já chamara desde o mundo espiritual para o empenho do amor.
O filho de Salomé crescera igualmente em virtude, bondade e amor, principalmente em amor.
Quando adulto, tinha muita atenção pela terra de Judá, onde nascera Isaías.
Perguntava sempre à mãe que meio era usado pelo antigo profeta para profetizar, como conhecer as coisas antes que elas acontecessem.
E Salomé sempre respondia:
— Meu filho, isso é um dom que as criaturas trazem quando nascem.
É um dom divino...
Às vezes, Salomé encontrava João pensativo nos campos e mesmo em casa.
Quando queria saber o motivo, este era sempre Isaías, que não saía da cabeça do rapaz.
Certo dia, sua mãe, inspirada, chamou-o e disse:
— João, meu filho, não te tortures tanto com as coisas do espírito.
Espera em Deus que poderás, no avançar da tua idade, tornar-te um profeta.
Basta que Deus te chame para esse ministério da verdade e poderás conhecer, com a vivência, o que as palavras não alcançam.
Não queiras dispor-te a ir, sem seres convidado.
João, ouvindo sua mãe, reconheceu que ela falava a verdade.
Procurou esquecer um pouco os seus sonhos de profecias e outros dons que, certamente, acompanhavam os que profetizavam.
Passa-se o tempo e as bênçãos de Deus aproximam os eleitos da evolução, para cumprir as próprias profecias.
João, certa feita, vai a Jerusalém com a família.
Era semana de festejos naquela cidade e, por vezes, frequentavam as sinagogas, onde se ouviam pregações, nas quais os sacerdotes se referiam aos profetas do passado.
Quando se falava no nome de Isaías, a mente do rapaz criava asas, em busca do reino do homem santo e pedia-lhe bênçãos, de onde estivesse.
O sacerdote Za-en-bin, conhecendo o rapaz, sentiu, de certo modo, atracção espiritual por ele e o convidou para ir à sua casa.
A mãe, que já era conhecida do sacerdote, aquiesceu, sem contudo querer participar da conversa.
Parece que Salomé já contara a Za-en-bin o ocorrido com João, para que esse pudesse dar-lhe uns conselhos.
Quando em plena história sobre os profetas e os dons de profetizar, o sacerdote, sem ter conhecimento do facto, entra em transe e por ele fala a João o profeta Jeremias, com carinho, nestes termos:
— Meu filho, aqui quem fala não é mais o sacerdote Za-em-bin; sou eu, Jeremias.
Fui também profeta.
Trago-te a paz e o desejo ardente de que a paz de Deus te cubra de felicidade.
Sei que o teu maior interesse é falar com o profeta Isaías, porém ele não pode te atender.
Estou aqui para falar-te e que Deus possa nos ajudar, para que possamos ajudar mais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 9:34 am

Firmo-me na certeza de que a Terra, neste momento, está sentindo a luz espiritual banhar suas nações e a humanidade.
Queira o Senhor que os homens entendam a mensagem da Luz.
Venho te falar para que esperes um pouco.
Os teus anseios serão ouvidos.
A tua ânsia de santidade e de amor será saciada pela luz maior que vai te chamar, como expressão máxima de Deus na Terra.
Tu serás um dos enviados do Senhor a vários centros do mundo.
Passarás inúmeras provações de todos os tipos.
Sentirás a fome e a nudez.
Serás encarcerado, banido, apedrejado, abatido, mas nunca vencido.
Serás um rastro de luz que ninguém poderá apagar...
E o teu nome na história abalará o mundo dos próprios sábios.
Porém, apega-te, como intentas fazer, ao amor, pois somente ele é que, verdadeiramente, salva as criaturas.
João não quis perguntar nada ao velho profeta do mundo espiritual.
Já estava ouvindo tudo o de que precisava.
Sua mente estava fervilhando.
É certo que já tinha alguns conhecimentos da comunicação dos anjos, mas nunca passara por experiência assim tão directa, e ainda mais por um sacerdote, que a sinagoga tinha como filho da sua filosofia.
O profeta retoma a palavra suavemente, sorrindo para João:
— João, meu filho, não pretendo mais falar-te por intermédio dos outros.
Falarei directamente a ti, abrindo as tuas faculdades espirituais e, no momento que Deus facultar, conversaremos em nome d’Ele. Adeus!
João avança e pega as mãos do sacerdote Za-en-bin.
Beija-as várias vezes, como também a seus pés.
O profeta, sentindo sua humildade e o seu amor, volta dizendo:
— Meu filho, estou comovido contigo, mas peço-te uma coisa.
Não contes nada a ninguém do que estivemos conversando e muito menos a Za-en-bin, para que não entorne a água toda.
Precisamos dela a fim de saciar a sede no deserto da terra.
E desaparece.
Za-en-bin acorda e chama João:
— João, o que foi?
Este, meio desconfiado, desculpou-se:
— Nada... nada, senhor.
Começamos a fazer uma oração e nós dois dormimos.
— Graças a Deus!
Isso é bom! — comentou o sacerdote.
João Evangelista encontra-se andando sem rumo pelas praias de Betsaida.
De repente, encontra-se com Filipe, e este, saudando-o, convida-o, dado o adiantado da hora, a irem andando para a igreja dos pescadores.
Os dois foram conversando sobre a última reunião de Jesus com eles.
Pedro levanta-se com ar tranquilo, pedindo a Deus por aquela noite de aprendizado, estendendo suas preces para a Humanidade sofredora.
Quando termina, João aproxima-se mais do Mestre, senta-se no chão, pelo impulso de humildade, e pergunta:
— Jesus Cristo!
Eis que espero que confortes o meu entendimento, de maneira que agrade Tua vontade, pois Tu sabes o quer é o melhor para nós.
Queria saber, Senhor, o que significa Brandura, e quais os seus benefícios para nós e para os outros, a quem, porventura, dedicamos as nossas intenções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 6:59 pm

Sei que temos pedido muito, mas a quem mais pedir?
O Nazareno olha para o discípulo, compassivo, e comenta:
— João! A Brandura é uma qualidade enobrecida pela sua própria presença.
Todas as outras virtudes carecem dela, para que sejam altivas.
A afabilidade nos parece a veste de todos os dons da vida, que de forma divina, salientam a presença de Deus nos actos humanos.
O agrado no falar e no ouvir é condição de poucos, porque isso é ouro dos céus tecido nas almas conhecedoras da verdade.
As vezes ensaias bondade em muitos encontros que a vida te oferece, como é muito comum no comércio.
O comerciante tem de ser, por natureza, gentil para com aqueles que o ajudam a viver, mas sempre usa isso como ferramenta de trabalho, que logo esquece no lazer com amigos ou no seio familiar.
Não obstante, é um exercício que o tempo poderá esticar para mais além.
O nosso trabalho é mais grandioso nesse terreno.
Haveremos de praticar constantemente, até sentirmos a educação por amor às criaturas.
Vendendo ou comprando, recebendo ou dando, na saúde ou na doença, felizes ou movidos pelas provações, é de justiça para nós e de lei, que possamos nos eternizar na delicadeza em todos os momentos do existir.
A moderação, meu filho, em todos os sentidos, dar-nos-á, em primeiro lugar, os seus benefícios, pois ela parte de nós e, além disso, ainda ajuda os outros.
Já sentiste, quando te dispões a visitar um enfermo desorientado, duvidoso e ignorante a ponto de blasfemar contra a própria natureza divina?
E quando a sua imprudência salienta, por fora, o que ele é, na verdade, por dentro?
Voltarás para casa abatido e desanimado e a vida parece escapulir dos teus sentidos.
Pois bem, quando, porventura, encontras um enfermo todo doçura, enternecido pelo esforço que fizeste pela visita, com o rosto anunciando gratidão pelo que tem recebido dos céus, falando e vivendo no amor, sentirás que, ao invés de doar ânimo e paz, saúde e fé para a criatura doente, foste tu que recebeste mais.
Essa é a força da Brandura, que as bênçãos da fraternidade e da benevolência fizeram nascer no coração.
Mesmo caído, está erguendo os outros; mesmo aparentemente vencido, é força para restabelecer os ignorantes; mesmo que morra, vive na eternidade dos corações, palpitando dia e noite, para o bem que ainda precisa acordar a serviço da caridade.
João bebia os ensinamentos do Mestre.
Pedro, Tiago e André estavam como que estáticos, meditando.
E o Nazareno prossegue com naturalidade:
— A Brandura é muito nobre, porque ela não passa dos limites.
Logo se apaga, quando movida por corações inferiores.
É como chama que os lábios sopram, quando não precisam mais dela.
João, a delicadeza permanente é filha do amor, aquele que anuncia a presença de Deus.
Para lá estamos indo.
Todo o nosso trabalho é para que possas amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.
A escala é infinita.
Na verdade, digo-te que se podes chegar à certo grau de amor, podes fazer muito mais que eu faço, pelo simples olhar aos que sofrem, consolar pela simples presença e dar vida pela palavra.
Esta ainda é uma ciência que os milénios poderão revelar no futuro.
Não existe melhor remédio no mundo do que o elixir do amor.
Ele é capaz de remover todas as dificuldades que os impedem de ser felizes.
Enquanto não chegares lá, usa, pelo menos, teus raios, que são a Brandura, a paciência, a alegria, a fé, a esperança, a caridade.
Procura andar nesses caminhos sem esmorecer, que o amor esperará com os braços abertos, como se fosse o pai esperando o filho de uma longa viagem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 6:59 pm

Se já começaste, João, a ser brando um os outros, continua, e se ainda te falta alguma coisa nessa arte dá continuidade para que, no amanhã, os homens te agradeçam pela luz que deixaste para eles como herança do próprio coração.
Quanto aos segredos da vida, não penses que já estás de posse de todos eles.
Guarda os teus da forma que mais te convier e compreende que os outros, certamente, carregam no íntimo tesouros valiosos das revelações espirituais.
Ainda chegará o dia em que tudo isso será colocado em cima do velador, para que todos conheçam, pela verdade, os que visitam em nome de Deus.
É bom notares que o Senhor dos Céus fala de mim por todos os meios possíveis, para que a humanidade escute, para que eu seja conhecido de todas as nações e seguido por muitos povos.
O que eu quero é amar a todos e que todos sintam meu amor, procurando fazer o mesmo aos que acompanham na retaguarda.
E que deste momento em diante, a Brandura seja a lua arma, para defender o teu amor.
João fica sorrindo de contentamento.
Judas Iscariotes procura ajustar os pensamentos, que não se acomodam, e Pedro deixa para conversar depois com João e André, sobre o caso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 6:59 pm

37 — Hospitalidade
Pedro! Pedro!
Grande companheiro de Jesus!
Homem destemido, abastecido pela coragem em todos os momentos, sem faltar-lhe o próprio ânimo, negou a Jesus, na hora em que deveria dar o testemunho.
É o que pensais, mas não foi por medo, vós bem sabeis por quê.
“Eis que três vezes me negarás”.
Só isto basta para que compreendais.
Simão Pedro Bar Jonas.
Pescador de profissão no Mar da Galileia, encontrou o Senhor e não resistiu ao seu chamado para o trabalho do amor.
“Eu te farei pescador de homens ou pescador de almas”, e verdadeiramente o fez.
Pedro foi a pedra angular da comunidade; sobre ele se assentaram as responsabilidades do cristianismo nascente, força poderosa que desceu do céu por misericórdia de Deus.
O apóstolo do Mestre, certa manhã, levantou-se indisposto para o trabalho.
Rumou para um caminho, cujo destino levaria às campinas de Betsaida, às encostas das montanhas mais próximas.
O homem pescador sentia por dentro necessidade de pensar, de monologar.
Por certo que todas as pessoas têm tais necessidades e, de vez em quando, buscam a natureza e procuram entendê-la.
Sua linguagem é consoladora e amável.
Pedro chega ao destino e assenta-se em uma grande pedra, onde sua vista abarcava, meio mundo.
Seguro no seu bordão, meditativo, risca na fina areia muitas formas, para que a distracção pudesse assomar à sua mente.
Algo o preocupava.
Não sabia bem ao certo o que era e queria descobrir.
Naquela elevação d’alma surge, de repente, ao seu redor, algumas ovelhas que começam a acariciá-lo, umas lambendo as suas próprias mãos, outras encostando o corpo no seu, como que pedindo que as coçasse.
Pedro, sorrindo, distrai o pensamento conversando com as ovelhas, que se entretinham com o apóstolo.
De mansinho, aproxima-se um pastor que Pedro não percebera, dada a delicadeza do seu andar.
Põe a mão em seu ombro e deseja-lhe a paz.
O pescador vira-se de relance e, quase assustado, cumprimenta-o com amabilidade.
Era um menino louro, dentes lindos que salientavam sua personalidade.
Em sua mão direita empunhava um cajado, que identificava sua profissão.
O discípulo de Cristo, curioso, perguntou se aquelas ovelhas eram dele.
O menino, diante de Pedro, afirma:
— Sim, senhor, essas ovelhas são nossas.
— Nossas, de quem? — adiantou o pescador.
— Eu tenho pai e mãe, sou filho único.
Meus pais se encontram doentes e em casa faço tudo para que eles vivam.
A minha mãe é cega e agora piorou com outras doenças que não entendemos.
Meu pai caiu em um despenhadeiro, quando ia salvar uma ovelha presa nas pedras e quase não pôde chegar em casa.
Nós somos pobres, o senhor sabe...
Pedro, meditando sobre o assunto, pergunta, com interesse:
— Onde moras, meu garoto?
Este aponta o bastão em uma direcção e faz com que Pedro enxergue um casebre bem distante.
Conversa vai, conversa vem, o discípulo do Nazareno sentiu-se confortado com a prosa do rapazinho e ali mesmo se despede, cada um tomando seu rumo.
O ar estava soprando em todas as direcções, e por vezes, rastejava no solo arenoso, brincando com algumas folhas que se desprenderam das árvores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:00 pm

Pedro, alegre, acompanhava a natureza em festa, e de novo pensava:
“Mas como é bom, como o campo faz bem à gente.
A natureza é algo que nos conforta; devemos buscá-la de vez em quando e com ela conversarmos sobre os nossos problemas.
Talvez seja uma ciência a ser descoberta pelos homens, essa fonte inesgotável de vida”.
Simão Pedro Bar Jonas volta às suas lides e ainda aproveita a tarde para visitar alguns colegas que desapareceram da pescaria, sem que ele soubesse o motivo.
À noite, já se encontrava na igreja dos pescadores, com sua obrigação feita.
Tinha prazer nos serviços de limpeza, sendo ajudado, por vezes, por alguns companheiros.
O Mestre entra mansamente e toma assento no topo de cedro, lugar costumeiro do Divino Amigo.
Tomé, impulsionado por um gesto simples, já se encontrava de pé, pronunciando a súplica da noite.
Pedro não deixa para depois.
Levanta-se resoluto, dirigindo-se a Jesus:
— Mestre! Há muito que o meu coração palpita por um interesse que somente agora tenho a oportunidade de externar perante ti.
Sinto à vontade de praticá-la, sem que conheça ao menos os pormenores da sua verdadeira ajuda. Podes me dizer o que é Hospitalidade?
O Cristo, cordial e prestativo, inicia, com delicadeza:
— Pedro! A verdadeira Hospitalidade é aquela ajuda que, se nos aparece hoje e que nós não deixamos para amanhã.
A vida, ou Deus, como queiras entender, conhece as nossas possibilidades de servir e nos manda que procuremos pessoas ou coisas à altura de serem ajudadas por nós.
Quando entendemos essa linguagem dos factos, somos hospitaleiros.
Quando a recusamos, aproveitamo-nos da oportunidade dada pela vida somente para nos satisfazer e saímos cantando em agradecimento, às vezes, ao Senhor, no egoísmo inflamado que nos leva somente a tirarmos proveito próprio, sem sentir o sofrimento alheio.
A Hospitalidade é a caridade que atiça na mente e no coração o modo de aproveitar o máximo de tempo, sem perda de outros deveres, para dar as mãos aos que sofrem e, principalmente, àqueles que aparecem em nossos caminhos e ainda têm os infortúnios ocultos.
Que aparecem para nós, mas não exigem de nós assistência alguma, não por vaidade e orgulho, mas com medo de transferir aos outros suas responsabilidades aparentes.
De qualquer modo, a nossa obrigação, como hospitaleiros, pela força de Deus, é servir, sem pensar em tirar algum proveito.
E auxiliar, sem que o nosso coração possa exigir que o auxiliado tenha de assumir compromissos connosco.
É fazermos o que está ao nosso alcance sem o drama do exagero.
E, acima de tudo, não falar aos outros o que estamos tentando fazer por amor.
Ao anunciarmos que estamos fazendo isso ou aquilo de bom para alguém — é o tal de louvor em boca própria — escurece-se a acção benfeitora e todo esse gesto antipatiza-nos com os que nos ouvem.
Deus nos recompensa pelo bem que praticamos em todos os ângulos da vida.
Contudo, nem de Deus deveremos exigir ou pensar, por segurança, que haveremos de receber troca pelo que fizermos.
Eis aí o comércio destemperando os sentimentos da fraternidade.
Faz o bem, a caridade, ama o próximo, sê hospitaleiro, como se estivesses respirando o ar ou sorvendo a água, vestindo ou fazendo o asseio corporal.
Faz tudo com alegria e por amor.
Pedro estava entendendo o que poderia lhe tocar como sendo um aviso.
Desde as primeiras palavras de Jesus, ele já sentira Sua fala ir directamente ao tribunal da consciência.
Baixou a cabeça, colocando-a entre as pernas, mantendo o ouvido atento à dissertação do Mestre sobre a Hospitalidade.
Tiago, sensibilizado, sente vontade de amparar a todos os enfermos do mundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:00 pm

Judas, pensativo, analisava o assunto, no campo secreto da mente:
“Como ser hospitaleiro para com todos os povos, se estes estão cheios de ladrões, assassinos e, necessariamente, os bons estão misturados com a escória?
Os párias existem em todas as nações do mundo”...
Jesus Cristo, ante todas as expectativas, continua, sereno:
— Pedro! O homem, quando começa a ser recto, não se demora a reparar as faltas cometidas.
A sua acção acompanha imediatamente o arrependimento, para que a consciência desate para o coração o ar puro do amor e restabeleça, no mundo íntimo, a paz e o trabalho, com dignidade.
Pedro, ao ouvir essas palavras, não pensa muito no que estava pretendendo fazer.
Levanta-se, mesmo sabendo que poderia ser uma afronta aos seus companheiros, sai devagarinho e escapole pela porta, rumando para um velho mercado que ainda se mantinha aberto.
Compra o necessário para uma família em desespero.
O comerciante faz algumas perguntas ao pescador, admirado:
“Porque não comprara aquilo em Cafarnaum?
Morava lá...”
Mas Pedro responde com evasivas.
Improvisaram sacos e Pedro ruma em direcção à casa do menino pastor.
O Mestre não precisaria perguntar para onde Pedro tinha ido.
Sabia do segredo de consciência do pescador.
O Nazareno, dando a entender que não notara nada, para que os discípulos se tranquilizassem, toma novamente a palavra:
— Meus filhos!
É certo que o mundo está cheio de sofredores, esperando mãos amigas que lhes levem consolo, senão cura.
E é para isso que estamos formando uma comunidade de homens hospitaleiros, que não medem sacrifícios para ajudar.
Esperamos em Deus que as nossas ideias possam se estender ao mundo inteiro.
Se pensarmos em atender a todos sem condições, seremos somente pessoas que pensam e falam, sem dar ao menos um passo para enxugar uma lágrima.
Vamos pedir a Deus por todos e fazer o que se encontra ao nosso alcance que, amanhã, o Senhor nos ajudará, enviando-nos mais companheiros para restabelecer todas as coisas.
Cada bem que fizerdes aos outros, por amor às criaturas, é uma semente de caridade plantada no coração.
Dali sairão muitos a se empenhar em outros trabalhos em favor dos que sofrem.
Devemos ser sensíveis aos infortúnios alheios e, é certo, aos sofrimentos visíveis, que se mostram a público.
Porém, não devemos nos impressionar muito com tanta miséria que campeia entre os homens.
O dever maior é começar o trabalho do bem nos moldes que o amor nos propõe, porque o tempo vai ser o ampliador de luz, a multiplicar os tesouros da saúde e da alegria, da paz e da esperança, no mundo inteiro.
Judas estava inquieto com a saída de Pedro.
Olhava de vez em quando para a porta, desejando que ela se abrisse logo e que o apóstolo voltasse, para que ele soubesse o que estava se passando.
Outros companheiros também se preocupavam com o fato.
Todavia, o Mestre se mantinha tranquilo, e continuou com entusiasmo:
— Meus filhos! Na verdade, existem muitos homens que ainda não puderam conhecer e sentir a honestidade, o dever para com a sociedade; o perdão diante das ofensas; o egoísmo, quando as necessidades são de todos; a maldade, quando todos somos procedentes da mesma fonte: Deus.
Desconhecem a caridade, que tem o poder de restabelecer toda a esperança da Terra, e, por certo, desconhecem o amor que, além de ser vida, dá vida a todas as criaturas de Deus.
Pois não é por isso que vamos fechar ou deixar de abrir a nossa escola de trabalho, nas hostes do bem, e colocar nele o grandioso nome de Hospitalidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:00 pm

E remata, com ênfase:
— Seguremo-nos as mãos, tornando-nos mais fortes; vamos ao encontro dos sofredores, sem distinção, que o amor de Deus nos cobrirá de bênçãos. Vamos!
O Mestre se levanta e torna a dizer:
— Vamos, que Pedro já foi...
Ao sair da porta de entrada, o apóstolo da fé, que ia chegando da casa do pastorzinho, avança em direcção a Jesus e fala, com visível alegria, os olhos molhados de lágrimas:
— Obrigado, Jesus, pela Hospitalidade para comigo!
Muitos discípulos logo se reuniram em torno dos dois para saber o que ocorria, mas nada perceberam, porque Jesus foi saindo e Pedro também.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:00 pm

38 — Bem-aventurança
Tiago, filho de Salomé e irmão de João, foi um dos grandes discípulos de Jesus.
Queria fazer corresponder às regiões espirituais elevadas o seu modo de ser e desejava que a maior parte do seu tempo fosse dedicada ao aperfeiçoamento íntimo.
Meditava, sem perda de tempo, em como fazer o melhor sempre, à procura da perfeição.
Quando ouviu Jesus falar das bem-aventuranças, uma esperança cintilou em seu coração e, junto dela, o prazer de viver.
Contudo, ouvia um sopro na intimidade da alma, a dizer:
“Isso tem um preço”.
E realmente tem um preço, não na área comercial dos homens, mas o ouro do sacrifício, da educação, da disciplina e do trabalho constante no aperfeiçoamento espiritual, enfim, na plena domesticação das forças da alma e do corpo.
Tiago acreditava na luz, mas sabia que para chegar até ela teria de vencer as trevas que aparecem com inúmeras características.
O filho de Salomé tanto procurava a perfeição que, quando pensava em uma companheira que o ajudasse no barco da vida, visualizava-a cheia de encantos, expressando beleza e virtude em todos os gestos.
Chegava quase a senti-la pelo poder engenhoso da mente.
Eis que Tiago sente em seu coração vontade de visitar Betânia e, certo dia, ruma para lá, demandando estradas, sem a presença de um amigo sequer.
Não tinha receio da noite, pelo contrário, extasiava-se de felicidade olhando as estrelas da madrugada e, às vezes, improvisava versos à lua, quando esta derramava sua claridade fria nos homens da Terra.
Avança na estrada.
Ao descer uma inclinação perigosa, olha cuidadosamente onde poderia pisar com mais segurança.
Súbito, sente no coração uma alegria diferente e começa a solfejar uma canção que lhe recordava os tempos idos de criança nos campos, junto ao rebanho, na famosa Betsaida.
Sua cabeça, de repente, rodopia no tronco do corpo, seus olhos perdem muito do brilho e as pernas deixam de oferecer apoio para a massa física.
Não teme. Procura um velho tronco caído que o tempo esquecera de transformar em adubo, senta-se e lembra-se de Deus, dando início, mesmo em dificuldade, a uma oração.
Não vê coisa alguma.
Tiago sai do corpo físico com facilidade que nunca antes pensara.
Não percebera que estava sendo ajudado por alguém que, no mundo espiritual, trabalhava em silêncio.
Tiago plana daqui, esforça-se dali, e vê as estrelas com mais brilho.
Busca a lua e percebe com mais nitidez sua visão ampliada ao infinito.
Isso faz com que ele vibre com as belezas da criação.
Do seu lado, descobre um coxim encantador, faiscando de luxo, como um convite para assentar-se.
E foi o que fez, com a rapidez que a necessidade de aproveitar o melhor exigia.
Olha com precisão e, à sua frente, aparece, como que por encanto, uma mulher de rara beleza e harmonia, que pede para sentar-se ao seu lado.
Tiago, meio confuso, não sabe ao certo se estava sonhando ou acordado.
Apela para muitas coisas que conhecia, no sentido de chegar à consciência do seu verdadeiro estado, mas não consegue.
É dominado pelo ambiente e pela figura irresistível daquela personagem.
A faceira mulher pergunta ao irmão de João:
— O que vieste buscar nestas paragens?
E olha para Tiago como se estivesse acendendo um vulcão nos lábios sensuais, de paixão, de ardente desejo; aproxima-se mais do discípulo, quase o tocando.
Este, sem compreender bem a situação, vê uma saída:
conversar com aquela moça e descobrir onde e como poderia lhe ser útil.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:00 pm

Antes que ele falasse, ela se adiantou, com meiguice:
— Como não?
Podes me ser útil com mais propriedade, dando-me teu amor.
Não procuras uma mulher perfeita?
Será que, porventura, falta alguma coisa em mim, que a tua idealização esqueceu?
Tiago olha mais para seus olhos, para que o coração não fosse tentado pelas formas da mulher.
Na sua pele sensível, corre como que um fogo que ele não entende bem.
Nada responde.
A mulher segura suas mãos com gentileza premeditada e luz lhe esta declaração:
— Tiago, meu amor, não queiras fugir do teu verdadeiro amor, que espera por ti desde priscas eras.
Por que envergonharia do meu corpo, se eu fui feita sem que pelo menos conhecesse as roupas?
Será que os teus olhos estão tão endividados que, se me olhares do modo como a natureza me fez, vais pensar coisas que a moral dos homens não permite?
Fica sabendo que esses homens que tanto pregam a rectidão de conduta são hipócritas que aconselham e não vivem, que mandam e não fazem, que escrevem e têm vergonha de ler, que vestem os melhores e mais ricos tecidos mas que, verdadeiramente, gostam é de mulheres que esquecem o pudor e se desenvencilham de algo que as cobre, com facilidade.
Atenta para isso.
Chama-o, na intimidade, de lado
—. Eu sou tua, aqui estamos nós dois, e nós dois somos um, pela força do amor.
Não gostas tanto de pregar o amor?
Eis aqui o teu...
Todo teu... Usa-o, sem que a vergonha esfrie a tua vida.
O discípulo, com os olhos sempre cerrados, demorava a raciocinar.
Por fim, sentiu-se melhor e pôde pensar no Mestre por instantes, sem, contudo, coordenar bem as ideias, surgindo-lhe uma forma de pensamento.
Somente vendo o brilho dos seus olhos, consegue dizer à moça:
— Não sei com quem falo. Sei, certamente, que és filha de Deus.
Peço-te, por caridade, que não me induzas a isso, quero pensar...
Amor não se faz de uma hora para outra, e eu não estou preparado para tal.
Peço-te que me dês tempo e que Deus aprove minhas atitudes.
És realmente bela e, por vezes, pensava em uma mulher que não fugisse a esse talhe.
No entanto, apelo para o teu pudor e que desculpes a minha exigência.
Quando ia se calando, a mulher, na meiguice peculiar à sua paixão, reforça o que antes falara:
— Quando pensaste, logo, em uma dama para o teu convívio, esqueceste de vesti-la, ou assim fizeste por achares melhor?
E olha dentro dos olhos de Tiago, com um sorriso irresistível.
Nisso, vai passando um viajante a cavalo e depara com aquele homem já esticado no chão, com os cantos da boca denunciando grave enfermidade, derramando uma espuma leitosa.
O homem desce do animal e dá uma sacudidela em Tiago.
Este acorda assustado e custa a voltar a si.
Meio confuso, pergunta o que é, onde está, mas com o tempo vai descobrindo o que sentiu e a espécie de sonho, na estrada de Betânia.
Conversa com o senhor que o ampara, agradece e segue viagem, já ao raiar do sol.
Os dias em que Tiago ficou em Betânia pareceram anos.
Voltou para Betsaida ansioso por encontrar João, Pedro, André e os outros e contar tudo o que acontecera com ele, pedindo socorro espiritual.
E ainda mais, queria falar com Jesus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:01 pm

Tinha necessidade de conversar com o Mestre.
A igreja de Betsaida guardava em seu seio todos os discípulos.
Natanael, pelo leve gesto do Senhor, faz a oração da noite e Tiago, irmão de João, filho de Salomé, pergunta a Jesus, nestes termos:
— Mestre, o que vêm a ser as Bem-aventuranças?
O Cristo, dentro do seu modelar comportamento, manifesta-se com satisfação:
— Tiago! As Bem-aventuranças, meu filho, alcançam na Terra sempre os sofredores que reconhecem, na dor, lições indispensáveis de aprimoramento espiritual.
As Bem-aventuranças no mundo aproximam-se daqueles que, mesmo diante de duras provas, dão todos os testemunhos de fidelidade, de esperança e de amor, como prémio dos céus.
As Bem-aventuranças descem aos homens para confortar os que vêm marcados ao mundo por doenças que vencem o tempo e que os acompanham até o túmulo e que sabem, com coragem, suportá-las pacientemente, tirando, desse estado, normas de vida singular, de maneira a nunca esquecer a bondade do Criador.
Não podes ser bem-aventurado, ou alcançar as regiões resplandecentes, como parte integrante dos anjos, se não passares por testes que te comprovem as qualidades.
Há muitas pessoas que se revoltam com facilidade diante da dor, mas esquecem-se ou ignoram que somente ela desabrocha na alma o esplendor da luz celestial.
A tendência de quase todo ser humano é fugir à disciplina, por desconhecer seus benefícios.
É muito agradável a quem ouve, falar com uma pessoa cheia de delicadeza, de cujos lábios desprende sempre um sorriso acompanhado de amor.
Mas por certo não atina com os modos pelos quais essas posturas foram aquinhoadas e quanto trabalho custaram essas conquistas.
Uma jóia, depois de pronta, é muito valiosa e costuma juntar em torno de si muita gente a admirá-la.
Porém, à procura desse tesouro, poucos são os que persistem, entregando-se a duros trabalhos consecutivos, às vezes até durante toda a existência para pôr as mãos em tais preciosidades.
Tiago ardia por dentro.
Vinham à sua mente muitas recordações mas falar ali daquele assunto seria uma falta de pudor ou mesmo de educação.
Esse “fala ou deixa para depois” toma seu tempo e a sua mente se perturba, por simples convívio com as sombras.
O Mestre interrompe seu silêncio com as seguintes considerações:
— Tiago! Não nos compete julgamento algum. Julgar é privilégio de Deus, por ser Ele a omnisciência universal.
Entretanto, avisar àqueles que correm certos perigos de perder valiosas oportunidades é ajudar, é desejar-lhes Bem-aventuranças.
Assim como a luz do sol passa por uma pequena fresta mostrando sua claridade, qualquer pequeno obstáculo à sua frente forma sombra.
Nós poderemos desenvolver um simples pensamento, de maneira a tomar forma grandiosa do bem no reino da Terra.
Mas, se facilitarmos, as ideias inferiores poderão encontrar acesso em nossos corações e invadir os domínios dos nossos sentimentos.
Certamente que, no mundo, existem muitos escândalos.
É certo também que, por enquanto, a Terra ainda precisa deles, mas quem se fizer de seu instrumento sofrerá as consequências, ceitil por ceitil.
Compactuar com o mal é ser maléfico; ceder à inspiração das trevas é ser trevoso; alimentar ideias contrárias à moral é aliar-se ao malfeitor.
Todo tempo é tempo de sair das garras da ignorância mas sem o esforço do prisioneiro, os grilhões não se partem.
O que pensas em perguntar, já achaste resposta na fala dos teus companheiros e as respostas dadas, tu já as conhecia.
Já tive a oportunidade de dizer sobre a força do “pedi e obtereis”, e isso, no campo do mal, tem resposta ainda mais imediata.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 09, 2022 7:01 pm

Da mesma maneira que formaste as tuas ideias, ao se referir aos teus antigos pensamentos, a vida te ouviu e algo idêntico apareceu com os mesmos detalhes que o instinto animal se esquecera de cobrir.
A humanidade ainda não está preparada a viver uma vida de maior simplicidade, com relações mais íntimas de uns com os outros, mas a evolução irá oferecer mais tarde os meios de ver sem desejar, de tocar sem possuir, de agradar sem escandalizar.
O verbo do Mestre se acomoda, permanecendo no ambiente uma irradiação suave e penetrante, estimulando os que ali se embebiam das belezas imortais da vida espiritual.
Jesus assume nova posição e oferta aos discípulos outros valiosos conceitos, enunciando assim:
— Meus filhos, que Deus vos abençoe.
Eu espero que vós todos sejais bem-aventurados por tudo que fizerdes, em tudo o que viverdes e que, ao lado da execução da vida, esteja firme a vigilância, de sorte a todos viverem bem e, acima de tudo, desfrutarem a vida com sabedoria e amor.
Adiante, ficareis sabendo que toda a armadilha que fizeram para vós, prenderam os próprios causadores e Deus, sendo Pai de todos, não se esquecerá de colocá-los também no Seu reino e na Sua graça.
Igual mente ser-lhes-ão dadas todas as bem-aventuranças, desde quando resolverem conquistá-las pelo amor.
Toda manifestação contrária às leis de Deus são ilusões passageiras que o tempo nos faz esquecer.
Mas é indispensável que, no momento em que estais vivendo, saibais como deveis viver.
O canto do pássaro de luz silenciou.
Judas Tadeu e Judas Iscariotes estavam curiosos com a lição da noite, mas Tiago não deu tempo aos dois discípulos de o procurarem e desapareceu naquela noite e ninguém deu notícia dele.
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