LUZ ESPÍRITA
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:04 am

Ouvi vários estalos de uma só vez e, em seguida, apareceu um risco de luz nos ares, afundando nas águas, e delas subiu, como se fosse uma nuvem brilhante, trazendo dentro um ancião sorrindo para mim.
Sabem quem era?
O meu avô Josefim.
Daí a pouco eu não sabia compreender a mim mesmo, tanto eu chorava quanto sorria.
Senti umas coisas difíceis de explicar, e ele veio me seguindo até as margens, ora atrás ora à frente do barco...
Eu não sei se vocês vão acreditar, mas se crêem na existência de Deus é bom que aceitem a minha história.
O lago, a lua e as estrelas são as testemunhas!
Alguns sorriram sem parar, outros não.
Pedro abraçou o rapaz, falando:
— Meu amigo, essas coisas não devem ser contadas para todo um grupo, mas sim a pessoas que possuem fé...
E ficou pensativo com a história, com um resguardo que lhe era peculiar.
Cai a noite.
Pedro já se encontrava em Betsaida, junto a Filipe e André.
Rumaram para o casarão e ali trocaram ideias com alguns companheiros, enquanto esperavam o início da reunião, onde iriam gozar as delícias da luz espiritual.
Todos assentados em silêncio.
Simão, o cananita, ergueu aos céus sentida oração, como que falando a Deus e pedindo para que todos os discípulos pudessem entender a nova doutrina do Cristo.
Pedro, impaciente, olha para Jesus e Este acena a cabeça, com bondade, como quem dissesse:
“Pedro, fala!”
E o discípulo falou:
— Mestre! Rogo que desculpes a minha impaciência.
Tu bem sabes que sou assim mesmo.
As necessidades têm me ensinado que não devo parar para sobreviver melhor.
E, às vezes, não consigo disciplinar-me quando estou em um ambiente como este, de respeito e de harmonia.
Queria saber, de tua parte, o que vem a ser Aceitar.
Há momentos em que perco a direcção diante dos factos e eles se complicam para o meu entendimento.
Pedro descansa o corpo pesado no tosco banco dos pescadores.
Jesus, magnânimo e sereno, expõe com gentileza.
Simão Pedro Bar Jonas! Deus abençoe as tuas pesquisas.
A aceitação real depende do modo pelo qual aceitas.
Quando entrares na lavoura da natureza, em busca de algum fruto que possa saciar a tua fome, aceitas de pronto que todas as árvores fazem parte dela, como os animais, a terra e as águas, o ar etc.
No entanto, somente algumas delas podem te oferecer o que buscas.
Mas não deves desprezar as outras que, de imediato, não atendem às tuas necessidades.
É bem provável que as árvores frutíferas não tivessem vida sem a cooperação alheia de tudo o que as cerca, inclusive do próprio homem.
Aceitar um fato depende do teu íntimo, da verdade que vives.
Mas mesmo aquilo que aceitaste, por certeza do coração e da inteligência, dependeu aquelas coisas que desprezas por incompatibilidade.
Jamais desdenhes daquilo que achas que é mentira, porque, para outro, pode ter utilidade.
É bom que saibas que toda invenção tem um fundo verdadeiro.
As coisas reais vestem roupas diferentes para chegarem até os homens.
Aceita o que te convier pela consciência e abençoa as outras.
No ambiente em que trabalhas, espalha-se a ideia de que são inventores de histórias, para que o descanso seja alegre.
E quem não tem uma verdadeira, procura inspiração aqui e ali, para alegrar os companheiros.
É nesse ambiente de contar a mais engenhosa história, que surge ou desperta o caso verdadeiro que, quase sempre, vem no fim das conversas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:04 am

Pela expressão do rosto de quem conta, notarás a realidade ou o invento.
Pedro começava a se lembrar da história do rapaz e via nela uma realidade, mas duvidava de uma aparição à pessoa que não era dada às coisas de Deus.
Ainda não tinha firmado sua convicção no facto.
O Mestre continuou sua fala:
— Na Terra, Pedro, as coisas são muito difíceis.
Já ouviste falar na labuta de um garimpeiro em busca de pedras preciosas?
Ele remove montanhas de entulho para encontrar uma delas faiscando no meio das outras, que para ele são imprestáveis.
As pedras preciosas são as verdades, as outras são as mentiras.
Estão sempre juntas.
Se algum dia entrares no trabalho de garimpar, aprenderás com o tempo a escolher, dentre o cascalho, as gemas da natureza.
Mesmo depois que encontrares o tesouro no seio da terra, ele, para maior valor, tem que se submeter ao lapidário.
Assim é o que queres aceitar.
Factos e coisas, Pedro, tudo passa pela forja da razão.
Testa-os nas sensibilidades que Deus te deu, valorizando a tua busca.
Após breve pausa, o Mestre continuou:
— Acho bom pensares em ser garimpeiro de almas.
Mas nunca penses que vais encontrar preciosidades de corações em todas elas, pois isso é uma raridade, qual os diamantes na nossa região e o ouro que se esconde nas profundezas da terra.
Podes aceitar, meu filho, aquilo que diga respeito à verdade que sentes, e o que ouvires não se fundamentar no que queres; tu és sabedor, pela experiência, de como ouvir, porque às vezes, é atrás das coisas falsas que despontam as verdadeiras.
Os falsos profetas vieram e vêm misturados com os verdadeiros, para quem ama a verdade saber discernir é aceitar, por sintonia, o que o amor faz irradiar.
Simão Pedro descansa sua mente no intervalo da dissertação do Mestre.
Todos os discípulos estavam sentindo o empuxo da inteligência.
Cristo esticava o raciocínio de todos, em uma compreensão maior.
Era uma verdadeira escola de filosofia espiritual.
O Senhor deixa riscar em seus lábios um manso sorriso e volta a falar:
— Pedro! Pedro!
Ouviste falar esta tarde de um dos fatos mais lindos que as leis presidem para a esperança dos homens.
Quando se passa desta para a outra vida, pelo que é chamado de morte, que motivo impede a volta da alma sem o corpo que é entregue à terra?
Nas escrituras, que tanto amas, tens provas insofismáveis dessa realidade.
Na verdade eu te digo, que no nosso meio, por misericórdia de Deus, os anjos descem e sobem em nosso favor.
Parecendo meditar agora, Jesus silenciou.
Judas Iscariotes, ao ouvir as últimas palavras do Cristo, esforça-se para ver os anjos referidos e vislumbra algumas personagens translúcidas, como uma corte de astros cantando louvores ao Cristo, que se encontrava na Terra em resposta e como confirmação às profecias.
Simão Pedro Bar Jonas, pensativo, sai da igreja dos pescadores.
Fora, o primeiro rosto que vê é do jovem que lhe tinha contado a história da aparição nas águas do Lago da Galileia.
O discípulo sorriu, dizendo:
— Vem cá, meu filho, vamos conversar.
E saíram os dois juntos pelas margens do lago famoso, tratando de assunto que escapa à nossa escrita.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:05 am

17. — Contribuição
André mudara-se também para Cafarnaum, onde já morava Pedro, seu irmão.
Além da profissão da pesca, gostava imensamente da agricultura.
Admirava a natureza, na sua grandeza de multiplicar as coisas.
De vez em quando, ia para o norte da Galileia, principalmente no fim do ano, para assistir às colheitas de azeitonas.
Como era hábil no trato desse labor e como tinha por lá muitos amigos, nunca se esquecera de levar peixes secos como presentes aos lares que o recebiam como irmão, e de lá trazia arrobas de azeitonas, que eram curtidas em Cafarnaum e serviam para o ano inteiro.
Depois que conhecera Jesus, fez-se portador, quando lá esteve, do anúncio do Messias como o salvador dos homens.
As noites passavam sem que o assunto enfadasse a ninguém.
André era um pouco resguardado, mas entre pessoas já conhecidas falava desembaraçadamente e o modo como dominava o verbo segurava os ouvintes, pela sua simplicidade e convicção.
Sempre vivia ou parecia viver o que falava, principalmente quando se tratava do Divino Mestre.
A última vez que o irmão de Pedro foi ao norte da Galileia recebeu muitos convites dos camponeses para falar sobre o Messias que ele anunciava ou de João, o Baptista.
Atendeu alguns deles, porém o tempo urgia e ele precisava voltar, não por causa da pesca no Mar da Galileia, com Pedro, seu irmão, mas por causa de Jesus.
Tinha a impressão de que o seu Mestre não ia se demorar muito na Terra e era preciso aproveitar o tempo no aprendizado.
Depois haveria a vida toda para pregar e viver o Cristo.
Em uma noite na casa de um camponês, parecia uma festa.
André, desembaraçado, começa a narrar os prodígios de Jesus, a que já assistira, como o episódio de Caná, onde eram festejadas as bodas, ocasião em que faltara vinho.
Passou a narrar outros factos da vida de Jesus e as noites maravilhosas que tivera junto ao Senhor, na embocadura do Jordão, discorrendo sobre os conceitos que o Mestre expunha com tanta segurança, sobre as leis divinas.
E a beleza maior — afirmava André — é que o Cristo a quem me refiro busca, nas escrituras, a confirmação de tudo o que diz.
Todas as raízes das suas conversas connosco se alicerçam nas anotações de Moisés e dos profetas.
No meio da pregação, os convidados e a família pareciam estáticos com os enunciados nunca ouvidos.
E conheciam bem a André, sabiam que ele era honesto e verdadeiro.
Começa a se espalhar, como que por encanto, um aroma que atingia a todos.
Uns olhavam para os outros, por não conhecerem aquele perfume encantador.
André, no entanto, já estava familiarizado com o perfume, pois aquela fragrância sempre era sentida quando Jesus começava a falar na casa dos pescadores.
“Será que Jesus está connosco, aqui nesta humilde casa de camponeses?” — pensou André.
E, nesse sentir e sem saber de onde vinha o cheiro da essência, move-se uma criança, que parecia criança mas, na verdade, ia lá para os seus quinze anos:
meio atrofiada pelas enfermidades, no colo de sua mãe e enrolada em um grande chale artesanal, grita sufocada:
— Mãe! Mãe!
Não sinto mais dores!
Veja! Veja!
Chegou aqui um homem muito bonito, pôs as mãos em minha cabeça e passou uma lua nas minhas costas!
Veja, mamãe, estou curado!
A mãe, aflita, queria interromper o menino para que o povo não descobrisse que ele era doente.
O garoto tinha delírios de vez em quando, não suportando as dores.
As costas do menino estavam em carne viva, pois o fogo selvagem arrancara a pele.
Naquela região era comum esse tipo de doença, cuja coceira parecia tostar o enfermo em brasas acesas.
Como sofria!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:05 am

E o Cristo ouvira seus gemidos, pois Ele mesmo dissera:
“Bem-aventurados os que sofrem porque serão consolados”.
A mãe estava inquieta, sem querer mostrar seu filho, mas não teve jeito.
Todos queriam ver o que era.
André dá uns passos à frente, pede licença com humildade e arranca o chale da criança com respeito.
Emocionado, pega o menino nos braços.
O rapazinho, gritando de alegria, mostra os lugares onde antes tinha chagas.
A mãe ajoelha-se, tentando beijar os pés do discípulo, no que é impedida pelo mesmo:
— Foi o senhor que curou meu filho, foi o senhor...
Deus te pague pelo que eu nunca poderei pagar...
E se desfazia em lágrimas.
Os presentes não tinham o que dizer. André, cheio de contentamento, fala com voz trémula:
— Minha gente, regozijemo-nos com a visita de Jesus nesta casa.
Foi Ele quem curou este garoto.
Conheço Seu perfume e esse prodígio e outros que o precederam são frutos de quem segue o Mestre dos mestres.
E naquela mesma hora, com o fardozinho atrofiado nos braços, canta um hino de louvor a Deus pela glória de Jesus.
Na noite da reunião, em Betsaida, André entra de mansinho no casarão dos pescadores, tomando seu lugar.
Daí a pouco nota-se alguém orando sentidamente.
Era João, que sempre estava com os sentimentos aguçados para a região do amor.
Finalizada a prece, André sente o desejo de Jesus e pergunta, com humildade:
— Mestre, se não for imprudência da minha parte, desejaria que o Senhor respondesse o que ora me vai na mente.
Na maneira mais rica de entender as coisas, o que seria para nós a Contribuição?
O que é contribuir, uns para com os outros?
O Cristo, com o domínio do verbo e na soberania do amor, responde com facilidade:
— André! A Contribuição é, verdadeiramente, uma das riquezas da caridade.
O que fazes aos outros, sem que a vaidade ouça, está sob o domínio da real benevolência.
O dar com uma mão para que a outra não veja é dignidade da alma daquele que se propõe a servir para a harmonia universal do bem.
A Contribuição é um génio de mãos sem conta, pois o modo pelo qual podes ajudar escapa a todas as nossas deduções.
Uma lágrima que enxugas de uma criatura desesperada, que com sua atitude retorna à fé e à tranquilidade, compara-se, aos olhos do nosso Pai Celestial, a um grande benefício colectivo, pois Ele leva muito em conta a maneira como fazes, o amor que porventura sentes no acto de ajudar.
Deus cuida com a mesma atenção, tanto dos mundos que povoam o infinito, quanto das minúsculas vidas que proliferam na Terra e nas águas, no ar e em nós.
O tamanho, para Ele, não faz com que redobre cuidados na atenção ou no amor.
Ama a tudo e a todos sem distinção, porque é o Pai de tudo.
A Contribuição de Deus é imensamente grandiosa em favor dos homens.
E como somos à Sua imagem e semelhança, é de lei que passemos a contribuir pela paz de todos.
Fazendo parte deste todo, receberemos dentro desta unidade as mesmas bênçãos que desejamos aos outros, sem que a exigência possa despertar o interesse egoísta de trocas.
A felicidade no mundo em que habitas não existe, sabes por quê?
Por faltar o cumprimento dos deveres por parte de todas as criaturas.
Se cada um contribuísse na área a que foi chamado a servir, não existiria carência de nada na Terra, e a felicidade iria se estabelecer em tudo e em todos.
Se esperas que o teu companheiro comece a contribuir para que possas igualmente ajudar, estás perdendo tempo, numa caridade revestida de imposição.
Perdes o endereço da verdadeira fraternidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 9:05 am

Se podes, faz, sem cogitar se os outros estão fazendo ou podem fazer.
Chegando a tua hora, aproveita a tua oportunidade, pois ela vem e passa, com certos espaços e tempos determinados pela lei.
Tinha-se a impressão de que o salão era o mundo todo e que Jesus estava falando para toda a humanidade.
André passava as mãos sobre a vasta cabeleira, pensativo, enquanto vinha à sua mente o caso da criança na casa do camponês.
“Será que aquele facto teve alguma Contribuição minha?
Ou é vaidade pensar-se no bem que se fez”?
Esforça-se para esquecer.
O Cristo retoma a palavra fácil, com a mesma cordialidade de sempre, de maneira cativante e educadora:
— Se desejas contribuir, André, fá-lo sem alarde, e não te esqueças de vestir o manto da humildade, para que o faças com bom senso.
Os gazofilácios das antigas instituições mostram-nos, com acentuado barulho, o quanto de vaidade existe nos corações que contribuem para um benefício que, por vezes, de caridade somente tem o nome.
Os atributos de Deus dispensam toda indicação para que Ele possa saber quem foi o doador, pois Ele é Deus, sabe muito bem distinguir as coisas e não perde nada do que é feito nem do que se diz, por maneiras de sentir e ver que nós desconhecemos.
Começa a contribuir contigo mesmo, na arte de compreender melhor a tua missão na Terra, começa a construir com os pensamentos que se formam em tua cabeça, dos quais nem sempre tens controlo total.
Começa a contribuir, André, com as tuas mãos, no modo de ajudar com elas.
O mesmo, meu filho, faze com os pés, com os olhos, com a boca, com os ouvidos etc.
Depois de assegurada essa Contribuição contigo mesmo, passa a contribuir para o convívio da tua casa e, depois disso, com os teus companheiros.
Depois destes, com a humanidade e com as leis estatuídas para a disciplina da comunidade a que pertences.
E, acima de tudo, é justo e bom que contribuas para que cresça o amor por Deus, de ti e de todos, e ao próximo como a ti mesmo.
Parou por alguns instantes e rematou a conversa:
— Contribuir bem, André, é amar e, onde existe amor, Deus está sempre mais visível.
O colégio apostolar faz fila para sair do casarão, uns trocando ideias com os outros sobre os meios de contribuir com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que o mesmo fosse espalhado pelo mundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:02 pm

18. — Tesouros
Judas Iscariotes também conhecia as antigas escrituras e nelas bebia forças que pudessem sustentá-lo nas lutas consigo mesmo.
Era dotado de sensibilidades tais que o próprio Jesus, Mestre por excelência na arte de conhecer as pessoas, escolheu-o para discípulo.
O Cristo, dentro da Sua omnisciência, será que já sabia que o Iscariotes iria traí-lo?
Claro que sabia!
E por que o escolheu?
Fatalismo? E se for fatalismo, o que ele, Judas poderia fazer por si mesmo?
Já não era profecia que alguém haveria de trair Jesus?
O destino é um segredo, por trazer lições que só ele é capaz de ministrar.
Judas era mais inteligente do que pensamos.
Tinha certeza, pelas pesquisas feitas nos velhos pergaminhos, de que aquele a quem seguia era verdadeiramente o Cristo, o Messias anunciado pelos antigos profetas, principalmente Isaías.
O ladrão sabe que está sujeito a grandes vexames com a polícia, que corre perigo de vida na hora em que recolhe para si o que não lhe pertence.
No entanto, existe nele uma força maior que a sua conscientização de sofrimento e de perigo de vida.
Qual será? O assassino passa pelo mesmo drama.
A criança nem sempre obedece aos conselhos paternos e recebe castigos dos pais quando faz o que não deve.
Os homens em geral estão envolvidos em erros inexplicáveis.
E os países?
Nações contra nações em guerras fratricidas, sabendo seus líderes que o preço delas é de milhares e milhões de vidas consumidas, viúvas e órfãos.
Como explicar essa teimosia?
Não é hora dos espíritos falarem certas verdades que poderão perturbar as pessoas.
Deixemos que a psicologia, a psiquiatria e a parapsicologia, ou outras trias e gias que devem vir por aí, estudem esses fenómenos da evolução humana.
Judas margeava o Lago de Genesaré.
Caminhava sem rumo certo, pensativo e triste.
Aprumava a sua visão pela região montanhosa de Naftali e via em sua mente inquieta, os feitos de Salomão, o grande Rei, que se fez o maior de todos pela sabedoria.
E foi naquele município da Galileia que Salomão entregou a Hirão{1} o governo de vinte cidades{2} das mais expressivas, como um chefe menor, mas que poderia crescer.
Desce de novo seus olhos húmidos e vivos para o Mar da Galileia e se sente pequeno diante daquela grande expansão de água doce, filha do Jordão, águas que beneficiavam gerações e mais gerações, sem reclamar, por não serem dotadas de tais atributos.
O Lago dos Galileus era muito grande e rico.
Tinha quase quatro léguas de extensão e mais de duas de largura, onde fervilhavam pescadores e turistas.
Os estrangeiros ali estavam como numa feira internacional.
A diversidade de peixes do lago atendia aos mais exigentes sabores.
O pensamento de Judas escapulia para o infinito, para a lua, para as estrelas e para Deus.
“Por quê”? — monologava no silêncio.
“Por quê, meu Deus, tanto tesouro no mundo?
Por que tudo na natureza sobra, de maneira incalculável, e a escassez confina o ser humano em prisões que a sociedade organiza?
Por que tanta fartura estendida em todas as latitudes, limitando, no entanto, pequenas áreas para os homens?
Por que as grandes nações escravizam as pequenas, tomam seus povos como cativos, sem os direitos que lhes pertencem como seres humanos?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:03 pm

A vida é uma riqueza, comentam todos os sábios.
Como conciliar a felicidade com a dor, com a fome, com a tristeza, enfim, com a miséria?
Não posso pensar nisso por fugir de mim a solução”.
Judas para, volta a si e nota que a hora era avançada.
Aperta os passos e vai em direcção ao seu dever com os outros discípulos do Mestre.
Daí a pouco adentra o casarão, cabisbaixo e estranha a alegria reinante entre os discípulos.
Natanael aceita o convite para orar e começa a súplica com contentamento.
Judas, ainda com laivos de inquietude, sente vontade de perguntar a Jesus acerca dos tesouros, o que vem a ser a riqueza, tão mal distribuída, e como seria a verdadeira riqueza.
E questiona dessa forma:
— Mestre, acho que o meu dever para com a minha consciência é saber a fundo o que me atormenta e talvez a muitos.
Se não for incómodo, pediria que o Senhor nos favorecesse esta noite com uma orientação que tanto desejo: o que vem a ser o Tesouro para nós e por que o ouro é desordenado no seio dos homens?
Jesus estendeu seu olhar compreensivo ao discípulo e comentou, com sinceridade:
— Judas! Seria falta de respeito a Deus, de nossa parte, ver na natureza somente miséria, nas coisas e em nós.
Não existe carência de nada, pois na criação, Deus, quando fez o mundo, jamais esqueceu de supri-lo com tudo que as necessidades buscam.
Quando achas falta de alguma coisa em determinado estágio de vida, é porque ainda não tens olhos para ver.
A abundância é o padrão do amor.
Na verdade, parece-nos haver certas faltas para o homem, mas é uma falta aparente porque o homem, na posição em que se encontra, é dado ao abuso, é como criança mal inclinada que precisa de mãos amigas para a tutela e, às vezes, para uma corrigenda. Porém, esqueces da abundância de ar que tens para respirar, uma das coisas mais necessárias da vida.
A água é encontrada em toda a parte, desde que se saiba buscá-la.
Os alimentos, quando o trabalho é activo, são produzidos com grandes sobras.
A igualdade em que às vezes pensas, ainda não pode existir, porque no momento a desigualdade é o amor que faz vários tipos de raças conviverem e espíritos de quilates diversos ficarem juntos, uns aprendendo com os outros.
Não gostas de servir na companhia dos Mestres do saber?
Pois se ombreasses somente nos caminhos da igualdade completa, terias o encontro, por justiça, só com coisas e pessoas que nada poderiam te ensinar.
Seria uma tortura viver somente com pessoas do nosso mesmo padrão espiritual, com as mesmas inclinações.
E continuou, com sabedoria:
— Judas, meu filho.
Todos os homens têm em suas mãos toda a riqueza de que precisam e quando a criatura vai crescendo em entendimento, vai crescendo também em abundância.
A riqueza da vida pertence a todos, mas ela é administrada pela força maior.
As vezes reclamamos demais a sua ausência e ela nos vem por misericórdia.
Abusamos e respondemos pelo abuso e aí, a ignorância nos faz revoltar contra quem somente quer a nossa felicidade.
Jesus deixou cair no ambiente algumas gotas de silêncio.
Judas não descansa de meditar.
A imagem de Jesus reflecte-se na sua própria consciência, repetindo as mesmas palavras ditas antes com carinho.
O Mestre, complacente, argumenta novamente:
— Judas! Já tiveste a oportunidade de notar a riqueza que tens dentro de ti?
Se um homem soubesse o que pode fazer com o poder que dorme na sua alma — valores doados por Deus, Nosso Pai — ficaria feliz só com isso, que chamamos a riqueza das riquezas.
Os pensamentos podem atingir estruturas inconcebíveis, Judas, a ponto de tudo se formar pela sua simples vontade.
O que compõe as coisas está disperso com abundância por toda parte, bastando uma ordem da qual o amor é a chave, para que digas:
“faça-se aquilo”, e aquilo se faça.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:03 pm

É bom que lembres como foi feita a criação, que Moisés inteligentemente nos revela.
Somos filhos d’Este que nos criou à sua mais perfeita semelhança.
A riqueza da criação ou co-criação nos pertence como a maior herança da vida e a maior riqueza que o amor de Deus nos deu, como seres humanos e espirituais.
Não podemos ver as coisas pela sua simples aparência.
É necessário que entendamos em espírito e em verdade, para que essa verdade nos liberte de todas as inquietações.
Após outro breve silêncio, continuou:
— Não podemos medir a felicidade alheia pelas coisas que os outros possuem, ou pela falta delas.
A carência da fortuna pode ser uma lição valiosa que vem despertar a verdadeira preciosidade no coração.
É muito justo e de bom tom que nós não invejemos as situações dos outros para que os outros não façam o mesmo connosco, fazendo com que o ambiente de constrangimento nos atinja.
Deixou passar mais um pouco de tempo e encerrou:
— Talvez, meu filho, não saibas o que buscas.
Será que tens plena certeza de que, com o dinheiro em abundância, acabará toda a tua incompreensão?
Com a mão cheia de ouro, a felicidade fará morada em tua consciência?
Com muitos poderes, a paz reinará em teu coração?
Toda ilusão é passageira, principalmente quando se tratam de almas que se abeiram do bem e que já começam a conhecer a verdade.
Na verdade te digo, que se ganhares todo o mundo e se tiveres posse de toda a fortuna que queres, se fores o soberano de todas as criaturas da Terra e fizeres o que queres sem que ninguém te impeça, mas não tiveres paz na consciência, és o mais pobre de todos.
É necessário, Judas, que aprendas a ser rico por dentro, para que o teu coração aprenda a orientar os Tesouros por fora.
As feições de todos irradiavam alegria, achando a lição da noite muito propícia para a convivência diária.
Mas Judas sai sozinho da igreja dos pescadores, pensando em como conciliar uma coisa com a outra.
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19. — Felicidade
Tomé, o apóstolo de Jesus Cristo, não pode faltar neste nosso apanhado espiritual, pois também figurou como um dos doze amigos de Jesus.
Senhor de certa cultura na confluência da época em que viveu, tinha um raciocínio fácil e compreendia as coisas com impressionante rapidez.
Tomé usava, primeiramente, nos seus contactos com a vida, a razão.
Dificilmente recorria aos sentimentos.
Até depois do seu apostolado, já consciente da sua missão, a sua caridade haveria de ser bem compreendida.
Fazia um exame prévio daqueles que iam ser beneficiados, para bem sentir a necessidade alheia.
Aí, nada exigia, dedicava-se com todas as suas forças em favor do necessitado.
Mas não tolerava muito as pessoas mentirosas, tinha uma certa exigência no penhor da verdade.
Lutava, mais tarde, consigo mesmo para ser diferente, mas não conseguia.
Via a candura e doçura de João, a simplicidade de Pedro e Tadeu.
Até invejava seus companheiros nesse estado sublime de amor, aquele amor que não exige, que não especula, aquele verdadeiro amor inspirado no Divino Doador, que jamais erra na escolha.
Tomé se fascinava à procura desse estado de alma.
Contudo, tinha outras qualidades que embelezavam seu coração.
Tomé era chamado também de Dídimo.
Um dos seus grandes prazeres era viajar, conhecer lugares nunca antes vistos, fazer amizades novas, trocar ideias com os outros e observar as experiências alheias acerca da vida e das coisas.
Com isso, enriquecia seus conhecimentos.
Era conhecedor do misticismo da índia e da China, aprofundava-se nos antigos escritos do Egipto e da Caldeia, da Grécia e mesmo de Roma.
Nas suas andanças, nunca se esquecia de esmiuçar as coisas invisíveis.
Porém, um senso mais profundo da sua consciência lhe pedia ponderação ao aceitar qualquer facto.
As ocorrências tinham de ser testadas à luz da razão, pois não era endurecido ao ponto de tudo negar.
Sabia da existência das verdades espirituais, assistiu Cristo dar ordens à filha de Jairo para que retomasse a vida, e ao filho da viúva de Naim, e a Lázaro, em Betânia.
Fazia parte da metade dos discípulos às margens do lago, quando apareceu o Cristo na Sua pujança espiritual, dizendo a eles:
“O que tendes para comer?”
Eles responderam:
“Nada, Senhor”.
E o Mestre ordenou que lançassem a rede à direita do barco, onde talvez eles já estivessem cansados de experimentar, e Tomé presenciou o fenómeno: a rede transbordou de peixes de várias qualidades.
Tomé, para os discípulos, não significava ponto de negação ou dúvida, mas vigilância.
Naquela época, como agora, e ainda por milénios, existiam mais coisas falsas que verdadeiras, e Dídimo representa o vigiar de Jesus.
O Mestre chamou-o para discípulo por encontrar no seu coração a disposição, sem fronteiras, de espalhar a verdade.
E foi o que fez, na plenitude do amor universal.
Certa feita, quando o Mestre se dispôs a voltar ao lugar onde os Seus inimigos o aguardavam para matá-lo, desconhecendo o perigo, foi Tomé quem animou os companheiros, dizendo:
“Vamos, morreremos com Ele”.
Homem decidido, de carácter nobre, a ponto de entregar a vida para que o ideal do bem vivesse.
Tomé gostava imensamente de Nazaré, sempre estava por lá, e era dado à pesca, gostava do ambiente das águas e adorava o caldo de um pescado.
Como já falamos alhures, a Galileia sempre estava repleta de estrangeiros e Tomé tinha o dom de fazer amigos de todas as naturezas.
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Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia - Página 3 Empty Re: Ave Luz - Shaolin/João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:03 pm

Depois que conheceu o Nazareno, filho de Maria e José, o seu assunto predilecto era fazer os amigos conhecerem a história de Jesus, Seus prodígios e Sua doutrina.
Muitos recorriam aos préstimos de Tomé para conhecer o Cristo.
E o Dídimo tinha prazer de que todos pudessem conhecer a doutrina do Divino Amigo e levar para sua terra a notícia de que o Messias já se encontrava na face do mundo.
Tomé percorre, naquela tarde, as ruas mais movimentadas de Betsaida e encontra Judas Iscariotes debatendo assuntos financeiros com um alto comerciante, que se dava às grandes compras e vendas.
Saúda o companheiro em Cristo e saem os dois em direcção à igreja dos pescadores.
Conversaram animadamente até a hora do início da reunião.
Entraram em silêncio, como de costume, com a senha mental que todos usavam:
“A paz seja nesta casa”.
Filipe ergueu a voz pela indicação do Mestre, abrindo a reunião com aprece inicial.
Tomé é instigado pelo olhar do Senhor e indaga, cortesmente:
— Senhor! Procuro um tesouro bem diferente e talvez mais difícil que as pedras preciosas e mesmo o ouro do mundo, procuro um poder que vale mais que todos os poderes temporais da Terra, mas sou um garimpeiro inexperiente, não sei onde e como encontrar.
Esse tesouro é a Felicidade.
Que me dizes, Mestre?
Jesus disserta, com gentileza:
— Tomé! O que buscas não se encontra muito longe porque reside dentro de ti.
As preciosidades mais relevantes estão depositadas no cofre dos corações e a chave que vais procurar para abri-lo é aquela virtude que pregamos como sendo o maior atributo de Deus: o amor.
A Felicidade verdadeira somente se expressa no reino dos anjos, mas na verdade te digo que todos estão caminhando para lá.
O Pai Celestial não deixa que faltem oportunidades para todas as criaturas e espera, pacientemente que todas se decidam a buscar esse reino da mais alta fraternidade, onde o amor é o sol que aquece a todos.
Destarte, não penses em viver egoisticamente só dentro de ti, gozando a Felicidade que te pertence.
Faz uma pausa para meditar e prossegue:
Falaste bem quando chamaste a Felicidade de tesouro.
Verdadeiramente o é.
E o modo pelo qual deves encontrar essa preciosidade é frequentando a escola-oficina que instalamos, pois ora fazes parte da misericórdia de Deus, o comandante em chefe de toda a vida.
A soberania que buscas, de ti para as coisas, é muito importante para todos os que aqui estão, senão para a humanidade inteira.
Todavia, o mais importante, meu filho, é saberes como usar esse poder.
O homem que domina a natureza, que conhece a si mesmo, é o homem obediente às leis de Deus, porque essas leis são seus agentes com a mais intensa obediência.
Qualquer um que desobedecê-las responde imediatamente pelas consequências.
Não penses que os profetas, os místicos e os santos, operando prodígios, dando movimento aos estropiados, vista aos cegos, devolvendo a fala aos mudos, estão agindo fora da lei.
São eles que vivem em um plano diferente da humanidade e a sua obediência às leis maiores dá a eles o que realmente merecem pela vida que levam.
Além disso, são dotados de poderes que a massa humana nem desconfia.
A Felicidade é o conjunto de muitas qualidades que podes alcançar.
Contudo, não são compradas nas feiras públicas, nem apanhadas de quem já as possui.
Essas qualidades pertencem ao tempo e são filhas de esforços ingentes.
Elas são devedoras da disciplina e da educação.
Eis o que aconselhamos: pedi e dar-se-vos-á.
Buscai e achareis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:03 pm

Pede a Deus que Ele te dará a Felicidade, pois ela não pode existir sem que Deus a movimente.
Mas talvez não saibas a arte de pedir.
No estado em que te encontras, levarás mais de século para saberes pedir, sem que os teus lábios anunciem as tuas necessidades.
E o “buscai e achareis” está no mesmo regime.
Falamos o mesmo dialecto e nem sempre nos compreendemos uns aos outros, porque falamos veladamente.
Os homens do futuro perceberão toda a nossa intenção, porque a inteligência não para de crescer.
Aquilo que achas difícil de entender agora, tornar-se-á menos complicado para as crianças do amanhã.
Tomé bebia os ensinamentos do Senhor, como se estivesse sedento da água celestial.
E uns cochichavam aos outros:
“Como é difícil ser feliz”.
E em resposta ouviam:
“As coisas boas não podem ser fáceis”.
Tomé tinha vontade de gritar dentro do salão:
“Meus irmãos, o Cristo é a nossa Felicidade”.
Mas o bom senso o reprimia e o próprio Mestre poderia não gostar.
E pensava então que a discrição é uma das portas para a Felicidade.
Jesus, ponderado, conclui:
— Tomé! Quando a criança dá os primeiros passos, mesmo que sejam em falso, os pais sentem uma alegria tamanha que algo da Felicidade os visita por um instante.
Também o garotinho se embeleza ainda mais por não saber expressar o seu contentamento.
O nosso impulso, quando a imaginação vai além dos nossos ideais é gritar, é falar, é fazer conhecer aquilo que estamos percebendo a todas as criaturas.
Mas será que essa mesma disposição tem durabilidade, de maneira a nos acompanhar em todos os factos, em todos os esforços que a vida requer de nós para nos ofertar tais poderes?
Ponderemos sobre isso e vamos adiante, com Deus.
A palavra divina silenciou.
Tomé saiu dali todo cheio de esperança, pensando mesmo em polir o que existia de bom dentro de si.
Queria sentir mais de perto a Felicidade.
E quando, na índia, estava cercado por fanáticos e não havia jeito de continuar a pregação do Evangelho da vida, sentiu que era chegado o fim da sua vida física e se deixou ser apanhado para o sacrifício, sem palavras de revolta.
Mas sentiu no coração uma harmonia indizível e uma serenidade imperturbável.
Quando quis gritar que era feliz, apareceram dois dedos selando seus lábios.
Esforça-se para abrir os olhos, já agonizante, e vislumbra, com dificuldade, alguém sorrindo para ele, com os braços abertos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:04 pm

20. — Libertação
João, o Evangelista, formou com seu irmão Tiago, uma dupla que se eternizou na história do Cristianismo, pela disposição que ambos tiveram na disseminação da Boa Nova do reino de Deus.
Nunca se esqueceram, por onde andavam, de deixar as marcas do Cristo nos corações sofredores, nos estropiados, nos encarcerados, como também de plantar as sementes da esperança nos corações infantis.
João Evangelista amava a natureza de maneira extraordinária.
Nas suas horas de contemplação, jamais se esquecera de perambular pelas margens do Rio Jordão, sentindo naquelas águas que se estendiam de norte a sul da Palestina, uma estranha presença que o fazia recordar-se de coisas que não conhecera.
O Jordão! O maior rio da Palestina e um dos maiores do mundo, sendo o maior em certos aspectos e, por assim dizer, o único que não obedece ao nível do mar.
É mais baixo que o Mediterrâneo.
Foi palco da presença de João Batista, abrindo as veredas para o grande Messias.
Foi nessas águas abençoadas que Jesus se tornou pequeno para que a voz do deserto conhecesse sua soberania.
O Batista foi um dos maiores, nascidos de mulher, que a Terra recebeu e o Cristo o maior nascido do Céu para a Terra.
O Rio Jordão percorre mais de duzentos quilómetros, fertilizando as terras das suas margens e abençoando a vida, com a sua própria vida.
Ele é qual o Rio Nilo no Egipto, o Ganges na índia, o Eufrates na Ásia ocidental, o Mississípi nos Estados Unidos e o São Francisco no Brasil.
Eis que João, ao passear nas suas margens, sente que as águas pedem libertação.
Nascem no seio da terra, onde se encontravam presas, circulando nas veias do planeta, como sangue branco, e se libertam na face da Terra, buscando o seu Deus: o mar...
O Rio Jordão, pensava o Evangelista, é um risco de luz na Palestina.
Suas águas até curam os enfermos.
Jesus não disse, certa feita, que o homem vale mais que as plantas, que os peixes, que os pássaros?
Com certeza mais que as águas.
Por que ele, João, ainda mais como discípulo do Grande Mestre, não poderia libertar-se das prisões do mundo e dominar o cativeiro da carne, para viver em espírito e verdade?
Claro que poderia sentir Deus e a vida sem os engasgos da ignorância.
O discípulo moço deu entrada à inspiração divina, procurando saber as vias principais do amor universal.
Não era muito dado à pesca, por enxergar nos peixes seres vivos com o mesmo direito de viver, se o homem não lhes tirasse a vida.
Amava as plantas e tinha muito carinho com os animais.
Nessa busca da natureza, começa a entender as línguas de todos os reinos, onde sentia o pulsar da criação.
João conhecia muito bem Jericó, aldeia que ficava ao sul da Galileia, quase na embocadura do Jordão, no Mar Morto.
Tinha amigos nessa aldeia que o admiravam pela vida mística que levava.
E foi nessa região que ele se aproximou mais do povo, passando a ensinar o Evangelho, na forma nascente.
Da maneira que o ouvia do Mestre, fazia com que outros pudessem ouvi-lo.
Como intermediário da Boa Nova acendeu a chama de fé e esperança naqueles corações simples.
Em uma manhã ensolarada, quando parecia que os ventos alegravam mais o povo de Jericó, João surge em um pequeno mercado.
Muitos solicitavam sua presença meiga, para falar do Profeta que ele anunciara.
Por instantes, ouvem-se gritarias no grande pátio.
Era um louco conhecido na região, cabelos em desalinho, roupas rotas e boca espumante, com muitas escoriações.
“Esse é o doido Janjão”, diziam uns.
Outros, temendo a presença do homem, avisavam:
“Cuidado com ele, isso aí é uma fera, tem dia que ele está furioso”.
A correria começou.
João, paciente, olha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:04 pm

Estava frente a frente com Janjão, que mais parecia um monstro.
Observou a inquietação daquela alma pelo desespero dos olhos.
Lembrou-se de Deus e não esqueceu Jesus.
O povo, assustado, admirava a coragem daquele moço, cujos cabelos loiros caíam aos ombros como se fossem raios de sol em cachos de ouro.
O homem doente começou a apagar a sua fúria quando o Evangelista ensinou-lhe o nome de Cristo.
Janjão sentou-se no chão, pediu para que João fizesse o mesmo e falasse mais daquilo que estava dizendo.
João discorre com veemência sobre o Messias, os curiosos se ajuntando; uns diziam que João era filho do Deus do amor, outros que ele era um profeta que nada temia.
Depois de conversar muito tempo com Janjão, este acompanhou o discípulo até a estalagem, onde comeu e bebeu com desembaraço.
Entendendo muito bem o que o apóstolo falava, quis várias vezes beijar as mãos do Evangelista.
Este não permitiu, dizendo, como Pedro na Porta Formosa, quando um aleijado se curara somente atingindo a sombra do apóstolo:
“Eu também sou homem, deixa para quando tu encontrares o Mestre, que Ele merece a tua reverência”.
O doido de Jerico às vezes chorava, às vezes sorria, dizendo a João:
“Meu senhor, há momentos em que vejo um homem vestido de luz junto ao senhor, ajudando o amigo a conversar comigo, será que isso é efeito da loucura”?
João estende a mão sobre sua cabeça, dizendo carinhosamente:
“Não, meu filho, não, meu filho, se por acaso for uma loucura, é uma loucura divina, que todos procuramos ter.
Esse que você está vendo é o nosso Mestre”.
Voltemos a Betsaida!
João aproxima-se do casarão e entra nele com Jesus.
Todos os discípulos ali já se encontravam.
André sente-se no dever de orar e o faz com respeito.
Tiago, ao lado de João, acentua com entusiasmo:
Há muito que você não fala, por que não pergunta a Jesus hoje sobre qualquer coisa?
João olha para o Cristo e Este responde com um brando sorriso, autorizando o apóstolo a perguntar. João especula, com humildade:
- Mestre, ficaria muito contente se nos dissesses acerca da Libertação de uma alma, de um povo, ou da humanidade.
Jesus, com a meiguice característica, responde:
- A Libertação da humanidade e de um povo, na profundidade do termo, depende muito, mas muito, da Libertação individual.
Por enquanto, vivemos nos ensaios, e nestes ficaremos milénios, para aprendermos a verdadeira Libertação.
Livres são aqueles que começam a amar a verdade.
Às vezes, João, trabalhamos para libertar um povo que nos pertence pelo sangue, por fazer parte da comunidade que nos pertence por nascimento.
Essa liberdade custa, como a história atesta, vidas e mais vidas.
O saldo, depois da luta de mortes e estragos, não nos deixa a consciência tranquila, enquanto não repararmos a covardia, a vingança e o ódio a que demos vazão.
Quando saímos vitoriosos, ficamos mais escravos pelo constrangimento de fazer muito mal a criaturas que, muitas vezes, nunca desejaram brigar.
Libertar uma nação é muito mais difícil, porque quanto mais se mata pela liberdade, mais o cativeiro se estampa na consciência.
A Libertação que queres, comparando com a natureza, podes tê-la.
Na verdade te digo, que ser-te-á dado muito mais, pela vigilância do tempo.
Ouve bem, para que não te esqueças nunca: conhecerás a verdade e ela te tornará livre.
Todavia, não procures essa verdade somente em um ponto da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:04 pm

Ela se estende em toda a sabedoria de Deus.
A verdade é como o ar que não cansa de soprar em todas as direcções.
Faz uma pausa para melhor orientação do discípulo, e continua, com critério:
- Os homens da lei na Terra propõem a Libertação de um povo ou de uma nação por caminhos errados, pelas vias largas e métodos selvagens.
A verdadeira Libertação haverá de surgir de dentro de cada criatura.
Este pode e deve ser um esforço colectivo.
Não é um trabalho de dias, nem de anos, nem de séculos, pois é um tempo longo.
Essa Libertação é feita de pequenas coisas, como a tolerância com discernimento; o trabalho com disciplina; o perdão sem exigências; o sorriso temperado na dignidade; o amor sem paixão; a persistência sem fanatismo e o dever com respeito.
Jesus olha firmemente para o discípulo e comenta com consciência do facto:
- Meu filho, o que fizeste em Jericó e que tomaste por Libertação de um homem, na verdade é somente aparência de liberdade.
Não deixa de ter seu real valor na pauta do bem; no entanto, só ele mesmo poderá e terá esse direito da sua própria Libertação.
O que fizeste por amor serviu de toque espiritual, mas o resto, o mais duro de fazer, pertence a ele, somente a ele, para que possa desfrutar dos seus próprios esforços no alvorecer da sua maturidade.
Se queres desatar dentro de ti a força da Libertação, tal trabalho está em tuas mãos.
Ama e começarás bem; ama e começarás a sentir a felicidade; ama que o amor te beneficia por dentro, igualmente te ajudando por fora.
Se procuras uma liberdade fácil, tu mesmo és o primeiro a desconfiar dela, sentindo a sua falsidade.
A razão não inaugura no homem a Libertação.
Somente quem tem o poder de fazer isso é o amor.
E para que a criatura ame a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, tem de passar por todas as fervuras do espaço e do tempo.
A coroa dessa conquista é a Libertação.
Pensaste bem agora.
Não foste somente tu que ajudaste o irmão enfermo a se livrar de perseguições espirituais.
Primeiramente, foram as bênçãos de Deus, que te ouviu, foi o amor d’Ele que te ajudou a ajudar.
João chorava baixinho, dada a sua emotividade, ainda mais que o Mestre não conhecera o fato que se passara.
Encerrou-se a reunião daquela noite, mas não se encerraram a alegria e a esperança, que continuavam eternamente a vibrar nos corações dos discípulos do Mestre dos mestres.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:05 pm

21. — Fecundação
Tiago de Alfeu era um personagem de grande interesse para o Cristianismo, principalmente quando se começava a implantar a filosofia de Jesus na face da Terra.
Ele serviu de ponte entre os cristãos primitivos e os judeus conservadores que não aceitavam o Nazareno como o Messias prometido.
Também era um dos endurecidos nas leis mosaicas, daqueles que não tiravam o pé um centímetro dos conceitos dos velhos textos.
Mas como o mundo dá muitas voltas, no dizer popular, deu uma dessas voltas de transformação com Tiago de Alfeu, homem de grande valor nas sinagogas, pelo cumprimento do dever e pelos conhecimentos que armazenara sobre a cultura de outros povos e de várias filosofias.
Tiago dominava algumas línguas, pelo prazer de impressionar àqueles que o ouviam.
Não podemos dizer que era um doutor da lei, qual Saulo de Tarso.
Contudo, podemos afirmar que era pessoa de muita influência nos meios sacerdotais.
É para o raciocínio indagar como um homem desse jaez veio parar no meio dos cristãos, com tanto interesse de divulgar os ensinos do Mestre.
A sua conversão ficou obscura no seio do colégio apostolar.
Guardou como segredo no coração, como parte do seu estupendo desejo de fidelidade a Moisés, a Deus e à sua consciência.
Tiago era meio iniciado, como reflexo da sua verdadeira iniciação de reencarnações passadas na Assíria e Caldeia.
Era resguardado, pois nunca falava aos que o ouviam tudo o que sabia.
Guardava sempre algo a mais como segurança para a sua firmeza doutrinária.
Para poucos, ele se abria como se fosse um mestre no assunto.
Por várias vezes, quiseram lhe conferir a responsabilidade de doutor, porém, Tiago ameaçava abandonar os serviços nas sinagogas, se isso acontecesse.
Uma voz lhe falava, no imo da alma, que não era chegada a hora e ele obedecia.
Ouvia muito falar de Cristo, de Seus prodígios, de Sua doutrina e do Seu amor às criaturas.
Pensou muito no assunto.
Nas suas orações, pediu intensamente que lhe fosse dado conhecer esse Cristo, se ele fosse realmente o verdadeiro.
Tiago de Alfeu tinha um dom extraordinário.
De vez em quando, ouvia vozes na nave da sinagoga, quando meditava sobre as coisas divinas e sentia que era a fala de Moisés ou de um seu enviado.
Não obstante, a ninguém contava sobre isso.
Em uma tarde de grande movimentação religiosa em Jerusalém, sentiu vontade de orar e o fez com humildade, a Deus e Moisés, aos céus e aos anjos.
Daí a pouco, corre um leve vento desalinhando os seus bem postos cabelos e ele sente, na espinha, um frio cuja procedência não pôde constatar.
Sua mente abriu-se como que por encanto e a sua visão, da igreja e do exterior da mesma, não requeria seus olhos físicos.
Mesmo assim, abre os olhos de mansinho, e o que vê?
Em meio a uma fumaça aparentando gelo, abriu-se uma espécie de cortina cor de mármore.
Dentro, Tiago viu um personagem que reconheceu por intuição: Moisés!
Sorriu a aparição e falou para o discípulo sincero:
— Tiago! Não negues Àquele que te chamar para a renovação doutrinária.
Serás um elo no mundo, ligando-me a Ele, do velho para o novo, de quem está morrendo para quem começa a viver, da visão difícil para um esplendor de luzes nunca antes percebido na Terra.
Esse a quem me refiro é o Cristo que os profetas anunciaram e a quem eu mesmo percebi, nos meus velhos pergaminhos.
Ele já está na Terra, por misericórdia de Deus, e para que não duvides do que falo, eis! Sê feliz!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:05 pm

Com a destra, abre novamente outra cortina de luz e Tiago vê Jesus sorrindo para ele e dizendo:
- Vem a mim, que te farei meu discípulo, para que tenhas redobrada fé em Deus e na vida, em ti e no próximo.
Esse foi o modo pelo qual Tiago entrou nas hostes do Cristianismo, sem que pudesse deixar de uma vez as leis mosaicas, conciliando uma com a outra, na certeza de que o Cristo era complemento de Moisés e este era o alicerce de Jesus.
Foi um dos que apoiou a ideia de transformar o rancho dos pescadores em igreja, em Betsaida.
Conhecendo a história dos profetas, lembra fortemente de Samuel, que em Ramá, fez erguer a casa dos profetas, lugar que reunia todos os iluminados da região sob sua sábia direcção.
Tiago, chamado Menor pela sua estatura, foi grande pela sua eficiência, onde foi chamado a servir.
Vemo-lo com seus passos rápidos, indo em direcção à igreja dos pescadores.
Entra e, logo antes de começar a dissertação do Divino Amigo, retira de um alforje de couro alguns escritos e começa a ler no silêncio do coração.
Passados alguns minutos, Tadeu dá início aos trabalhos espirituais com uma oração inspirada nos sentimentos.
Tiago Menor, que já havia buscado inspiração na leitura, procura olhar para Jesus, que já o fitava com benevolência.
O apóstolo entendeu que poderia falar e perguntou:
- Senhor! Posso te pedir que esclareças para nós o que vem a ser, no nosso meio, o trabalho de Fecundação?
O Mestre, compassivo e generoso, explica:
- Tiago! A Fecundação é um trabalho da natureza que se nos apresenta como o meio mais importante de nos conduzirmos diante dos nossos compromissos, pela oportunidade que recebemos do Nosso Pai Celestial.
Todos nós nascemos de uma operação endógena fecundada pela inteligência maior, pelas linhas do amor.
Como a nossa conversa se estende aos campos do espírito, é bom que entendas em espírito e em verdade, pois as leis são iguais para a fertilidade da matéria e para a Fecundação do espírito.
A humanidade, para nós, é uma lavoura imensa, é uma terra exuberante que saiu, como nós outros, das mãos abençoadas de Deus, esperando quem cuide dela, como agricultor que ama seu trabalho.
Para isso estamos aqui.
Se a inteligência nos faz providenciar meios de irrigação para que não percamos as sementes lançadas ao solo, é razoável que providenciemos métodos mais adequados para que a água visite todas as aberturas da terra onde existam semeaduras, para que nada deixe de crescer nela e para que tenhamos aquilo que esperamos pelos nossos esforços.
Se a humanidade é uma grande lavoura, certamente cada criatura passa a ser um pequeno mundo de trabalho com todas as suas características de imensidade.
É dessas terras que vamos falar, Tiago!
E o Cristo continuou com interesse:
- O poder das ideias suplanta todas as sementes que por vezes encontras na lavoura da terra.
Os pensamentos são sementes divinas na sua essência.
Quando eles tomam direcção contrária à sua procedência, são alimentados pela ignorância e o tempo haverá de transformá-los, devido aos serviços prestados pelas consequências.
No nosso caso, parece que já passamos por elas e procuramos, na intensidade do coração, educar as nossas ideias, escolher as sementes de maior concentração energética e semear com critério, no terreno dos corações, de maneira que o respeito seja o controlador de todas as nossas disposições.
A propagação não depende de nós.
Todo crescimento se faz pelo poder de Deus.
No entanto, a irrigação e os primeiros cuidados são entregues ao agricultor que, nesse caso, somos nós.
A Boa Nova que te será entregue se assemelha a sementes escolhidas nos reinos dos anjos, que receberão chuvas onde quer que sejam lançadas, pela vontade de Nosso Pai que está nos céus, para que não fiquem em vão os esforços do semeador.
Jamais penses que estás só na Terra imensa dos povos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:05 pm

Quando algumas portas se te fecharem, visando te intimidar na Fecundação da nobreza espiritual, não te perturbes com os barulhos, com os insultos, com as prisões, com os castigos, com a falta de cooperação, com a ingratidão dos que foram servidos, com as leis do mundo e com os poderes políticos, porque para todos que me escutam foi reservado outro tipo de glória: o de servir por amor.
Estabeleceu-se silêncio para que houvesse fertilidade no que foi ouvido pelos discípulos.
Tiago Menor se engrandecera com a pergunta feita a Jesus, mas procurava, dentro do salão, ser o menor de todos, não somente na estatura como também na humildade.
Estava tirando daqueles conceitos a maior riqueza que poderia ter para o seu coração.
Era uma semente poderosa que começara a crescer, como prodígio, naquele instante da semeadura.
Jesus deixa o dedo de Deus tocar nas cordas do Seu verbo e prossegue, cordialmente:
— Tiago! Em reino nenhum poderá existir Fecundação sem amor.
Tudo o que plantas, fa-lo com amor, porque Deus completa o que porventura faltar nas nossas deficiências.
O Senhor é o dono da grande vinha, que nos pede que estendamos as sementes do bem por toda a parte.
E não somente isso, mas que ajudemos os trabalhadores que chegaram primeiro e que se encontram em imenso labor.
Mesmo que eles nos estranhem, sejamos compassivos com esses desbravadores das terras inóspitas.
Eles merecem a nossa admiração.
Não julgues a nenhum deles, por usarem antigos métodos de plantio.
As vezes trabalham em terras diferentes das que usas.
Não esqueças o arado do exemplo, antes de vires com as sementes do verbo.
Aplica a paciência como o tempo, a esperança como a chuva, pois se não tiveres bastante vigilância, podem surgir as pragas das exigências e perderes toda a lavoura.
Depois de cumprir todos os teus deveres, entrega a plantação para o Senhor, que Ele saberá o que fazer.
A propagação da verdade não depende somente dos homens, mas muito mais de Deus.
Porém, Ele sabe usar os homens para transmitir as Suas leis aos mesmos homens, na Fecundação do bem maior.
Todos se levantaram ao término da conversa e foram saindo, dois a dois, conversando animadamente acerca da propagação do Evangelho em toda a Terra, como semente divina.
Tiago nada falava, mas sua mente, em silêncio, falava tudo, porque escrevia o que ouviu na noite dentro da consciência, usando os recursos dos pensamentos.
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22. — Ouro
Judas Iscariotes tinha por hábito tomar banho no Rio Jordão, que a velha tradição colocava como rio sagrado.
O Jordão corria do norte para o sul, banhando as terras da Palestina, onde haveria de nascer o Rei dos Judeus, cumprindo os enunciados dos profetas.
Esse rio tinha suas nascentes no Monte Hérmon, perto de Damasco.
O sol aquecia suas águas e quando um dos profetas mandava algum doente banhar-se em suas águas, curava-se de seus males, na proporção da fé que sustentava.
Judas sentia-se bem, repetindo o gesto de muitas criaturas.
Aliviava-se de suas amarguras, quando estas o assaltavam, de vez em quando.
Iscariotes era conhecedor das escrituras e, dentro do seu coração, mesmo inquieto pela impaciência de viver, brilhava um minúsculo sol de fé, que nunca se apagou.
Tinha a certeza da existência de Deus e era conhecedor da assistência dos anjos aos homens que respeitavam as palavras do Senhor.
Mantinha uma profunda admiração por um personagem do Velho Testamento: o rei Salomão.
Se houvesse vivido à mesma época, não hesitaria em escolhê-lo como seu Mestre pela sabedoria e poder, pela beleza dos escritos, pela fortuna.
No entanto, muitos de seus companheiros viam no Cristo um espírito muito maior que Salomão.
Ele não discutia isso, mas punha-se a pensar e a comparar as coisas.
Notava que, em matéria de conhecimentos espirituais e poder de curar, Jesus, realmente, estava além do filho de Davi.
Todavia, na aquisição de ouro e de poder, parece que o Mestre perderia para o homem que era admirado por todos os reis do oriente, inclusive pela rainha de Sabá.
Judas assistiu Pedro dizer a Tiago que Jesus, filho de Maria, era muito maior que Moisés, e ele, Tiago, que assistira Moisés, em espírito, indicar Cristo como o melhor caminho, ficou a cismar.
Será que Moisés também falou a Pedro a respeito do Messias?
E confirmou o que dissera Pedro, para espanto de Judas porque Tiago, tendo vivido dentro das sinagogas, nunca poderia confirmar tais palavras.
Simão Pedro Bar Jonas não vira o libertador dos judeus, mas era inspirado por ele ou outros agentes de luz que circulam em toda a criação, sustentando a palavra de vida e de graça do mundo da verdade.
Judas chegou logo à conclusão de que, verdadeiramente, o Nazareno era o maior de todos os outros nascidos de mulher.
Judas tinha bons sentimentos, embora variáveis, devido à depressão que o assustava a cada dia.
Muitas vezes, seus colegas o encontravam olhando as estrelas.
Por vezes, fixava a lua, em interrogações intermináveis.
Já tinha lido muito sobre astronomia em livros que alguém lhe trazia da Babilónia.
Ouvia falar da alta sabedoria dos assírios sobre os astros, assim como dos estudos dos egípcios e caldeus.
Tinha admiração por essa ciência e consultava os astros demoradamente sobre a inquietação de viver.
Embora pensasse muito, não chegava a uma equação para seus impulsos.
Tirava a mente do infinito e começava a pensar na Terra, nele, na pessoas e no porquê de viver.
Quando deitado, perdia o sono, visualizando a si próprio como dono do mundo, com todas as suas riquezas, não por ganância intempestiva pelo ouro, mas para sanar a fome e a miséria dos homens, amparar as viúvas, os órfãos, os doentes, e arranjar meios de alegrar os tristes.
No outro dia era o mesmo Judas, com os mesmos problemas de sempre. Queria fugir de si mesmo, sem encontrar solução.
Ouviu uma vez o Cristo dizer que os lírios dos campos se vestiam com muito mais beleza que o rei Salomão em todo o seu esplendor; e que o homem valeria muito mais que os lírios, que todo o ouro do mundo.
Onde ele, Judas, encontrava esse valor dentro dele?
Como encontrar?
Em certas horas, o sol vencia as nuvens da sua mente e brilhava um pouco, como esperança para o coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:05 pm

Na verdade, nunca tinha visto e ouvido alguém falar tão bonito e tão agradável como Jesus.
A sua oportunidade de salvação estava em abraçar o Mestre com toda a sua força e entendimento e começar a chamá-lo de Mestre dos mestres.
Judas estava sentado do lado de fora da casa dos pescadores quando chega, mais cedo, o apóstolo Pedro, para proceder ao asseio do casarão.
Judas, antes do convite de Pedro, toma das mãos do pescador os apetrechos e começa a limpeza.
Pedro, enternecido pelo gesto do amigo, fala com brandura:
— Judas, a paz do Senhor esteja em teu coração!
E os dois trabalham juntos.
Depois de todos reunidos em assembleia com o Divino Amigo, Tomé é tomado pela inspiração e começa a súplica da noite.
Findando-se o pedido do apóstolo a Deus, Pedro, notando certa tristeza em Judas, sentado ao lado, diz ao seu ouvido:
— Judas, meu velho, pergunta esta noite ao Senhor alguma coisa que te passa pela mente.
Vamos, Ele sempre nos ajuda nas maiores aflições.
Judas Iscariotes, sem responder a Pedro, levanta e indaga:
— Mestre, quero te pedir que me esclareças o que o Ouro significa para nós. Qual é a sua verdadeira função nas nossas vidas e a sua posição perante as coisas de Deus.
Além dele, os poderes de César, que se estendem por quase toda a Palestina, senão ao mundo.
O Cristo, abarcando Judas com o olhar compreensivo, expõe, com veemência e sinceridade:
— Meu filho, tudo no mundo tem o seu valor, no lugar em que foi designado a servir.
Se porventura recolhesses toda a fortuna do mundo em tuas mãos para sanar a dor e todos os tipos de infortúnios das criaturas, será que elas iam corresponder à bondade de Deus manifestada por teu intermédio e se comprometer a fazer o que somente a dor e os problemas têm a capacidade de realizar dentro e fora da alma?
A compaixão nasce sempre da caridade, mas quando ela passa dos limites que a vigilância determina, ela se põe em conivência com aqueles que se esquecem dos deveres do espírito, de progredir para viver bem, e de viver para progredir.
A dor, que expressa a feição de todos os infortúnios, é uma mecânica universal, que sempre harmoniza as coisas na vida, incluindo a harmonia das almas.
É bom que penses nisso, Judas, em tirar as dores do mundo, para que possas entender quais os meios reais de tirá-las.
Em cada pessoa existe uma chave que, levemente tocada, destranca as portas mais íntimas do coração, atingindo a consciência.
Mas fiques sabendo que somente a própria criatura pode e deve destrancá-la com as suas próprias mãos, pois para isso elas foram feitas.
Se queres saber, é justo que entendas; não existe, na acepção verdadeira do termo, mal em ninguém e nem no mundo.
Vives em certa ilusão acerca disso, porém é uma ilusão que, mesmo sendo passageira, coopera para o despertar do homem divino que está dentro do homem humano.
O silêncio foi uma ajuda para a meditação.
Judas Iscariotes estava com a cabeça entre as pernas, mas os ouvidos aguçados registavam as dissertações de Jesus.
Pedro, condoído, toca de leve o companheiro, falando:
— Judas, tu estás ouvindo?
— Sim, Pedro, ouvi tudo.
Parecia que nos ares tocavam uma sinfonia que os ouvidos não percebiam, mas que o entendimento alcançava com nitidez.
O Messias, sem abandonar o barco da sabedoria, prossegue, com clareza:
— Judas, o Ouro, nos bastidores da economia das nações, é um portador de paz, como podes notar pelo fenómeno de uma nação bem organizada.
Com ele, a colectividade sentir-se-á mais segura e a sociedade mais humanizada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 07, 2022 7:06 pm

Na verdade, a posição desse metal instiga nos homens o interesse descomedido que chega até à usura.
As criaturas, geralmente, têm os olhos maiores que as necessidades.
Essa preciosidade é que estimula nos seres humanos a vontade de trabalhar, de adquirir mais conforto, de reunir mais terras, gado, animais, casas.
E para bem dizer, eles esquecem de educar esses desejos e se deixam envolver pelas maléficas ideias de tudo possuir, mesmo que seja em detrimento dos outros.
Deus abençoou o ouro como uma força poderosa para a paz dos homens e da Terra, porém, a ignorância fez dele todos os meios de principiar guerras.
Se raciocinares bem, verás que o indivíduo vale mais do que todo o Ouro do mundo.
Só os dons que tem, não falando de outras coisas que desconheces, correspondem ao maior tesouro do mundo e da vida, porque têm o poder de tranquilizar corações, de ajudar na aquisição da felicidade, de tornar os olhos com maiores poderes de ver as coisas, de aguçar os ouvidos, de sorte a ouvir em muitas dimensões do existir, de valorizar a fala, de maneira a que ela possa estabelecer a paz onde quer que seja, de expandir a inteligência a alturas inacreditáveis, de viver alegre com a alegria de Deus.
Após curta pausa, o Mestre prosseguiu:
— Meu filho, não turbes o coração com os poderes de César.
Esse poder transitório é, por natureza, inquietante.
E fogo nas mãos, é chama nos pés, que tira o sossego de quem o possui.
E quanto ao dinheiro bem comedido, é uma forma de Deus nos mostrar, por nós mesmos, que vale a pena a educação que se fez nutrir pela disciplina, pois o que não devemos é nos fanatizarmos pelo Ouro, para que o Ouro não domine os nossos sentimentos.
Os grandes reis da Terra, que a ganância levou a juntar milhões de toneladas de Ouro e pedras preciosas, quando foram chamados ao posto verdadeiro, não puderam levar as fortunas.
Somente o Ouro que nos acompanha além do túmulo, Judas, o Ouro da sabedoria e as pedras preciosas do amor, têm valor transcendental.
Se queres ser rico para a eternidade, amontoa a fortuna do espírito, que os céus te abençoarão.
Pedro sentia-se sorrindo por dentro, mas Judas, ainda desorientado, sai meditativo, mastigando lentamente os assuntos da noite.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:34 am

23. — Ide e pregai
Pedro aparece novamente nestas páginas, como não poderia deixar de ser.
Ele escutara do Mestre, certa vez, duas palavras que muito o impressionaram.
Jesus, finalizando uma de suas prédicas, anunciou:
“Quando eu for para o meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus, e que estiverdes preparados, vos dividirei e vos mandarei pregar o Evangelho a toda parte e a todas as criaturas”.
Era o “Ide e Pregai” conhecido em todo o mundo.
Pedro guardou aquele pré-anúncio de Jesus e, de vez em quando remoía, nas suas deduções, essa ordem, pois ainda não sabia ao certo, o que significava, na prática, o que seria pregar a Boa Nova do Reino de Deus.
Esperava a oportunidade para perguntar ao Senhor e d’Ele receber as devidas instruções no campo de disseminação evangélica.
Simão Pedro Bar Jonas, ao raiar da madrugada, se encontrava conversando com André e se preparando para a pesca.
Os pescadores partiam cedo.
Quando raiava o sol, o suor já denunciava um bom tempo de labor.
Quando Pedro e seu irmão já estavam subindo ao barco, alguém vem correndo e gritando:
“André!
Um homem chegou de Caná para vê-lo com urgência!”
O discípulo confabulou um pouco com Simão e este sai sozinho, quebrando o silêncio do Mar da Galileia.
Pedro era decidido em tudo, não perdia tempo com coisas sem importância.
Começou a estender a rede por sobre o manto límpido das águas, cantando baixinho canções de seu gosto, lembrando-se, por vezes, das noites inesquecíveis que passara em Betsaida, dos companheiros, recordando-se também do drama de Judas Iscariotes.
Queria ajudá-lo, mas como?
Estava decidido a apelar para Jesus em benefício do Iscariotes e era o que iria fazer no tempo oportuno.
O caso de André era um comerciante de Caná que queria mais peixes secos e pagar o que devia a André e Pedro, pois este último não gostava de transacções comerciais.
Pedro impulsiona o barco em muitas direcções, sem nenhum resultado.
Parecia que os peixes se escondiam do apóstolo, mas este jamais desanimava.
A experiência fazia crer que todo trabalho tem suas deficiências, que nunca existe sequência do que chamamos de sorte, em nada que fazemos.
Pedro, já riscado de suores pelo corpo seminu, senta-se no topo do barco olhando as pequenas ondas que se sucediam umas às outras em uma correria infinita e pensava, com tranquilidade:
“Deve ser por força dos ventos, pois estes brincam por toda a natureza, semeando a paz e até a própria vida.
Quem vive na Terra não pode passar sem eles.
Talvez seja o sopro de Deus, que ainda se move no mundo, desde a época de Adão”.
O sol atingia com seus primeiros raios as montanhas de Naftali e o apóstolo, já se sentindo descansado, começa o trabalho, abrindo com as mãos grossas a velha rede de pesca, para arremessá-la de novo.
Nisto sente que alguém se aproxima dele, olha com rapidez, não vê nenhum barco.
Torna a olhar com atenção e observa, com espanto, dois pés descalços andando por sobre as águas, subindo e descendo as fracas ondas do Mar da Galileia.
Senta-se novamente no banco do barco e uma voz, tão sua conhecida, chega-lhe aos ouvidos:
“Sou eu, Pedro.
Não temas, porque bem sabes que não faço mal a ninguém”.
Pedro observa de novo. Era Jesus.
As primeiras claridades do sol banhavam-Lhe o corpo esbelto e vestiam-No de ouro, se fosse o termo, dando a entender o poder de Cristo.
O Mestre aproxima-se mais e senta-se com ele no barco.
O apóstolo se tranquiliza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:34 am

Logo lembra-se de Judas e aproveita o tempo que lhe foi dado a conversar com o Senhor:
— Senhor, queria te pedir por Judas Iscariotes.
Noto no seu semblante o que deve se passar pelo seu coração.
Peço-Te, pelo amor de Deus, que tenhas compaixão dele e que o ensines a viver com os outros, na alegria, e como desfrutar a vida do modo que o Senhor dos Céus nos permite.
Dos lados do barco, sem Pedro conseguir compreender o fenómeno, fervilhavam peixes à flor do lago, parecendo querer ouvir e ver a conversa do discípulo com o Mestre.
Pedro olhava e tornava a olhar, com vontade de espraiar a rede, pois nunca vira tanto peixe junto.
Não obstante, respeitou o momento e entendeu a causa dos filhos das águas.
O filho de Maria, com meiguice e prontidão, digna-se a responder a Pedro, nestes termos:
— Simão Pedro Bar Jonas:
Deus te abençoe, meu filho!
O teu coração magnânimo te fez esquecer de ti mesmo para atender àquele que sofre, mas, na verdade, te digo que já fizemos por ele o que as nossas mãos puderam alcançar em seu favor.
O companheiro por quem pedes está se enveredando por caminhos proféticos a que ele mesmo, por dentro, se compara.
A tempestade, Pedro, não deixa de fazer estragos nos campos e na lavoura.
No entanto, os benefícios são maiores; as trovoadas e os raios espantam e trazem algum prejuízo, mas limpam a atmosfera, frutificando a vida em todas as direcções.
É bom que lembres desse irmão, mas não esqueças de orar sempre por ele, porque a prece aliviará o seu coração e a sua inteligência, tisnados em duras provas.
Pedro, no impulso da gratidão e do amor, ajoelha-se no barco, com os olhos molhados de lágrimas, curva o corpo másculo para beijar os pés do Mestre, mas não o encontra mais.
Não perde, com isso, o calor da fé.
Beija várias vezes o lugar em que Ele se apoiara, sentindo ainda o aroma costumeiro, que sempre se desprendia do corpo do Nazareno.
E dava graças a Deus por aquela ventura.
A noite, em Betsaida, chega com seu manto escuro.
Quando Pedro chega ao casarão para a limpeza costumeira, Judas já havia arrumado tudo.
O apóstolo Pedro saúda-o com benevolência e fala aos seus ouvidos, com alegria:
— Judas, meu irmão, eu pedi ao Mestre hoje por ti!
O companheiro estampou no rosto um certo contentamento, dizendo:
— Obrigado, Pedro.
Naquela noite, o próprio Judas fez a oração inicial.
E Simão Pedro achou que era chegada a hora oportuna para a sua pergunta. Levantando-se, formulou sua dúvida:
— Mestre! Queria, se não fosse demais para mim, que respondesses o que quer dizer o “Ide e Pregai”, a divisão que farás com os teus discípulos para que eles possam anunciar o teu Evangelho às criaturas de todo o mundo.
O Cristo, rosto iluminado de contentamento, pondera com precisão:
— Simão Pedro Bar Jonas!
A galinha tem todo o cuidado quando os seus pintinhos requerem os maiores zelos para com eles mas, quando eles crescem, ela mesma se encarrega de fazer com que sejam eles mesmos, para que assumam, na feição de aves, o posto que devem na urdidura do “crescei e multiplicai-vos”.
Vós, quando preparados, havereis de ser divididos, não pelo ódio, mas pelo amor, para que possais ser o que deveis e fazerdes o que prometestes a Deus na consciência.
Para isso, estou aqui a vos preparar como ovelhas que serão perseguidas por lobos, mas sabendo que só os lobos caem em armadilhas de lobos.
O “Ide e Pregai” que se aproxima tem variados meios na iluminação das criaturas.
Compreende a disseminação da Boa Nova por toda a parte e a todas as criaturas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:34 am

Porém, nunca deveis esquecer o respeito aos homens no modo pelo qual entendeis a vida.
Tenho certeza de que multiplicareis milhares e milhares de companheiros na propagação dos preceitos ouvidos de mim.
Todavia, muitos deles, invigilantes, usarão a violência, a agressão, impondo ideias e forçando consciências, o que não é o nosso penhor.
O fanatismo, Pedro, é, por sua estrutura, companheiro da incompreensão.
O fanático o é por não ter entendido a mensagem na sua profundidade.
Não espero que aqueles que me cercam e que me ouvem tencionem pregar a Boa Nova por métodos que o amor desaprova.
Cada pessoa é um mundo de Deus, para quem devemos ter atenção e respeito.
Não precisamos perder tempo com quem não se interessa, pois existem quantidades imensas de almas sedentas de consolo e de paz.
Houve uma pausa, com Jesus olhando para todos os discípulos, demonstrando gratidão.
— Meus filhos! Se o “Ide e Pregai” tem variadas modalidades para que possais escolher, a que mais me agrada é a pregação pelo exemplo.
A palavra bem orientada é um sopro de luz na consciência de quem ouve.
Mas o exemplo é a caridade de Deus, que nunca se desfaz.
O interesse de mostrar aos outros os prodígios nas pregações pode despertar muitas pessoas para o reino da esperança.
Não obstante, a vivência dia a dia dos preceitos divinos, garante a tranquilidade nos corações.
O entusiasmo que pode se apossar de vós na comprovação das escrituras, sobre a verdadeira identidade do Messias que haveria de vir, pode trazer para o nosso rebanho muitas ovelhas.
Porém, a auto-educação em nome de Deus e deste Cristo, para que ele viva eternamente nas criaturas vale mais, por ser força de libertação daqueles amarrados pela ignorância.
Desenvolver os dons de curar os enfermos, de dar vista aos cegos, de fazer andar paralíticos e de expulsar os demónios das criaturas, é muito nobre, por cicatrizar feridas das almas sofredoras.
Mas desenvolver o dom da bondade, do perdão, da caridade e do amor, leva muitos a fazer o mesmo, o que não só cicatriza as chagas do corpo, como também cura a alma.
Eis que, em linhas rápidas, está aí, meus filhos, o “Ide e Pregai”, que havereis de ouvir em breve.
Pedro paralisou os pensamentos, por não precisar de raciocínios diante de tão clara exposição.
Depois, reflecte:
“Diante de tantos ensinamentos e perante tanta luz, não há que duvidar, não há como ficar nas trevas”.
Sorri da sua própria análise.
Judas viu naquela exortação barreiras enormes, mas pela inteligência, certificou-se de que era o melhor caminho para espalhar o Evangelho do Senhor.
João encheu o coração de alegria, porque já encontrava no amor a maior certeza da vida. Viver os preceitos do Mestre, para ele, era o maior prazer, mesmo que lutasse com algumas dificuldades.
As portas se abriram.
Pelo lado de fora, ainda existiam muitas pessoas à espera do Mestre, que nem sempre podia atender, mas nessa noite conversou com muitos, dificultado pela intromissão de Pedro, que procurava ampará-Lo dos curiosos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:34 am

24. — Cura
É bem compreensível que, mesmo sendo publicano, Mateus não poderia deixar de alimentar em seu coração a grandeza da honestidade, que o tempo iria provar.
Se tinha manias de grandeza, isto se explica, em parte, por ser produto do meio em que viveu, como herança de seus ancestrais.
O homem, por vezes, é governado pelas contingências do ambiente de que faz parte.
Mesmo sem querer, respira os mesmos sentimentos da maioria, sem prejuízo de uma certa sintonia natural.
Levi era um fruto a que o sol da vida já emprestara cores que denunciariam sua maturidade, e o agricultor está sempre atento para colher frutos que anunciam a libertação da árvore.
O cobrador de impostos ouviu a voz do Mestre, que dissera:
“Vinde a mim!”, como agricultor da vida.
Levi, fruto que a colheita aproximara, com um leve toque cai nas mãos do Mestre, li a gratidão fê-lo oferecer um banquete de sabor inesquecível, Aquele que dá exemplo do desprendimento às coisas da Terra.
Àquele que corta de uma só vez a usura, a ganância procurando buscar as grandezas da vida, em espírito e em verdade.
Mateus assistira a muitas curas de Jesus por simples palavra, ou delicado toque das mãos e aquilo o levava à meditação prolongada, desta forma:
“Que poder é esse que não é dado a todos os homens?”
Já havia lido em vários livros as façanhas dos santos, a notícia sobre os místicos e conhecia, por informações seguras, a vida de Buda.
Mas assistir, frente a frente, esse tipo de coisas, nunca tivera esse privilégio, como acontecera diante de Cristo e isso remoía no seu íntimo.
Como isso poderia se processar?
E rematava:
“A vida tem dessas coisas; às vezes os próprios sábios não compreendem a sabedoria maior, que é Deus”.
Sabia Mateus que a medicina, em Roma e na Grécia, estava muito adiantada, mas havia ainda muitas enfermidades que não eram curadas e os próprios terapeutas morriam com simples dores de cabeça.
E então, como um homem, tido como profeta, era temido por todas as doenças, inclusive as incuráveis?
Bastava uma ordem sua para que elas saíssem dos corpos torturados pelas suas presenças.
Esse homem tinha algo de divino, que merecia todo o respeito e reverência dos demais.
O “vinde a mim” bastou-lhe para abandonar tudo e acompanhar o Mestre.
Queria ser um médico, como o Senhor, um médico de almas.
Levi, percorrendo as encostas de Betsaida, para em um casebre, cujo aspecto deixava ver a situação dos moradores.
Chega à porta e nota que no interior alguém chorava.
Percebe correrias, que deixavam bem nítida a presença de doente grave, tal era o movimento da casa.
Pelo impulso da bondade, vai entrando, vê alguém, pede licença, causando admiração a todos.
“O cobrador de impostos!”, resmunga o velho na cabeceira da cama de uma criança semi-morta, e os outros param, olhando cismados.
Mateus, desconcertado, pede licença mais uma vez e o velho curva a cabeça, acedendo.
Levi pergunta:
— Porventura posso fazer alguma coisa por vós?
O que querem de mim?
Não fui chamado, mas estou aqui para servi-los.
A desconfiança pairou no ar.
Como acreditar em um homem que, sendo judeu, não tinha pena dos seus irmãos e servia de ponte do dinheiro dos judeus para Roma?
Mesmo assim ele insiste em saber o que tinha o menino e pensa em recursos para curá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 08, 2022 9:35 am

Lembra-se de Jesus:
“Se Ele estivesse aqui!”
Mas, como não era possível, lembra-se do que Ele havia dito no acto de uma Cura:
“Podeis fazer ainda maiores coisas do que eu faço”.
E avança para o catre, põe as mãos sobre o enfermo e ordena que ele ande, em nome de Deus.
Repete umas três vezes e espera, confiando no Senhor.
Nesse instante nota, com um leve abrir de olhos, que o menino estremece.
Aumenta-se-lhe a fé!
Eleva a Deus uma oração fervorosa.
Quando termina, vê que a criança se tranquiliza, dá um suspiro e silencia.
Os familiares provocam tumulto, as mulheres destampam em choradeiras que pareciam pertencer aos muros de lamentações.
A tristeza paira no ar.
Mateus, assustado e pálido, quis sair.
Deu-lhe vontade de correr, decepcionado com seus poderes.
Sentiu-se fraco, abatido, pensando:
“Eu é que deveria ter morrido em troca desse vexame”.
Quando se aproxima da porta, pernas trémulas, uma mão segura seu braço!
O medo aumenta!
“O que será?
Testemunho não é; se eu for agredido, pode ser um reparo ao que fiz, já que nada fiz de bom”.
A consciência o tranquiliza.
E ele pensa:
“Devo ceder com humildade”.
O ancião, com alguns riscos de lágrimas nas faces, fala a Mateus, voz entrecortada:
— Meu Senhor!
Agradeço-te imensamente pelo que fizeste.
Considero a tua presença nesta casa o resultado das nossas orações que acabamos de fazer a Deus Todo Poderoso.
O senhor curou meu filho desse fardo pesado que ele vinha carregando há mais de doze anos.
Ele nasceu surdo e mudo, e depois descobrimos que quase não enxergava, as pernas eram mirradas e nasceu sem os dedos das mãos.
Os intestinos desta criança!
Quando ela faz muita força para chorar, saem para fora em grande parte, sendo preciso grande habilidade para devolvê-los ao seu lugar habitual.
Não nasceram dentes nesta criatura de Deus, e sua cabeça, o Senhor pode constatar, na base do crânio é uma chaga em que nenhum bálsamo faz efeito.
Diante da narração do velho, Mateus não suportou e deixou seu corpo descer, assentando-se no chão e pedindo água.
O velho atendeu o discípulo e beijou suas mãos, com reverência, dizendo:
— A morte do meu filho, senhor, foi um milagre que não esperávamos.
Ele sempre foi resistente a todos os sofrimentos, graças a Deus. Graças a Deus, nós descansamos.
Mateus ficou algum tempo com aquela família, despedindo-se atordoado, após o que, desceu para o centro de Betsaida, pois a hora já o chamava para a reunião na igreja dos pescadores.
O ex-cobrador de impostos se mostrava diferente.
Jesus sorri para João, que formula uma oração, abrindo os trabalhos da noite.
Mateus, sem se fazer esperar pelos demais, levanta-se meio triste e pergunta ao Mestre:
— Senhor Jesus, por Deus, responde-me, explicando o valor da Cura, e o que é curar enfermos?
Agradeço-te se, por acaso, for ouvido o meu pedido.
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