LUZ ESPÍRITA
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O Lado Oculto da Transição Planetária - Maria Modesto Cravo/Wanderley Oliveira

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O Lado Oculto da Transição Planetária - Maria Modesto Cravo/Wanderley Oliveira - Página 2 Empty Re: O Lado Oculto da Transição Planetária - Maria Modesto Cravo/Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 15, 2022 9:29 am

Já havia visitado residências em nosso plano com modelos muito melhores e mais belos, mas não podia deixar de reverenciar e valorizar o bom gosto de algumas pessoas no mundo físico.
Os convidados vinham chegando e eram logo servidos com petiscos e drinks, enquanto uma música muito agradável e suave tocava no ambiente.
A reunião estava com um bom clima.
Suzana tinha acabado de chegar.
A campainha tocou e foi anunciada a chegada de Maurício e Elvira que, depois de apresentados aos pais e amigos de Paolo, foram se assentar em um lugar discreto.
Cheguei mais perto e sondei-lhes o mundo interior.
Estavam tensos e deslocados, pois não tinham o hábito de frequentar ambientes sociais.
Elvira tinha filhos pequenos e um jovem de dezasseis anos.
Maurício ainda trabalhava muito profissionalmente e se ocupava com as actividades espíritas todos os dias.
Ambos tinham uma vida muito parecida e repleta de obrigações.
Vieram à casa de Paolo como se fosse um compromisso doutrinário.
Olhavam para tudo como se estivessem em um universo novo, pesquisando detalhes.
E, de facto, estavam em universo novo, que fugia à rotina de ambos.
Mantinham um sorriso forçado no rosto e intimamente se sentiam inadequados.
Para quebrar esse estado íntimo, Elvira falou a Maurício de forma muito discreta:
— Você sabia que ele tinha uma vida assim?
— Assim como, Elvira?
— Com tanto esbanjamento e luxo.
— Não, não sabia.
Tinha informação de que era muito bem-sucedido financeiramente. Só isso.
— Eu estou achando tudo muito exagerado!
— Exagerado?
— Sim. Como pode servir bebida?
Não é espírita?
E essa música?
Agressiva aos ouvidos.
Eu não me sinto bem nesses ambientes!
Acho as energias muito baixas.
— É, você tem razão.
Por essas e outras, acho bom que estejamos aqui.
— Por qual razão?
— Conhecer um pouco mais sobre a vida desse rapaz pode ser útil de alguma forma.
— Em que você está pensando?
— Depois eu lhe falo, Elvira.
Minha cabeça está a mil, como diz o ditado.
Os dois conversavam em surdina e, de repente, um garçom colocou diante deles uma linda bandeja de prata luxuosa e lhes ofereceu uísque e cerveja.
Eles ficaram pasmos e pediram um suco.
O ambiente da festa estava agradável e leve, porém, para os dois, não.
Inácio se enturmou com alguns desencarnados presentes, ligados à família de Paolo, e trocavam ideias em uma óptima prosa.
Passara-se aproximadamente uma hora desde que todos haviam chegado e Paolo reuniu os presentes no centro daquela sala de enormes proporções, dizendo que tinha um discurso a fazer.
Ele estava exultante.
— Boa-noite, boa-noite, boa-noite!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 15, 2022 9:29 am

Muito boa-noite a todos! - falou o jovem, com alegria contagiante.
Não achem que bebi, não é isso.
É alegria mesmo por este momento.
Aliás, não faço uso de alcoólicos.
Meu sorriso e euforia são pura alegria pela presença de vocês e por terem atendido ao meu convite.
Espero que estejam apreciando nosso encontro!
Muito obrigado por compartilharem comigo este momento.
Obrigado meus pais, meus amigos, meus parentes e meus irmãos do centro espírita, aqui presentes.
Eu preferi guardar segredo até esse momento e escolhi a dedo com quem compartilhar.
Vocês, que estão aqui, fazem parte de tudo aquilo que é importante na minha vida, portanto, achei muito justo e também oportuno convidá-los para
esta ocasião.
Sei que alguns de vocês não conhecem uma parte da minha vida.
Há anos meus pais e amigos mais íntimos já sabem.
Hoje resolvi compartilhar esse meu mundo pessoal, assumir de forma mais transparente essa parte das minhas experiências, que poucos conhecem e que não quero mais omitir.
Este é um momento muito importante para mim, um instante daqueles que celebram etapas e conquistas.
Conquistas no amor e no crescimento de nossos sonhos!
E eu quis compartilhar este momento com quem eu acredito que mereça.
Enfim, chamei vocês aqui para oficializar o meu casamento com Carlos, meu namorado - e, estendendo a mão, chamou o jovem para perto de si, dando-lhe um afectivo e carinhoso abraço e, em seguida, um “selinho” muito carinhoso.
Todos bateram palmas efusivamente e ficaram muito sensibilizados, com excepção de Elvira e Maurício, que aplaudiram por pura conveniência e pareciam estarrecidos com o que acabavam de presenciar.
Elvira olhou discretamente para Maurício com um olhar letal de recriminação e repúdio.
Cheguei mais perto de ambos e notei que ela parecia ter tomado um susto de graves proporções.
Estava com taquicardia e suas mãos foram tomadas de um suor frio.
E Paolo continuou:
— A ocasião não poderia ser melhor, já que Carlos acabou de se formar na faculdade e temos agora todos os nossos objectivos em comum, na vida pessoal e na profissional.
No mais tardar, em sessenta dias, saem nossos papéis do cartório, quando vamos realizar um novo encontro, dessa vez para o casamento oficial.
Bom, era isso, pessoal
Apenas mais uma coisinha: quero que vocês se divirtam à vontade!
Hoje, eu tenho a grata alegria de contar aqui com meus irmãos do centro espírita, que são uma nova família que comecei a formar na minha vida, de alguns anos para cá.
Com eles, tenho me alimentado de ideais nobres e gratificantes - e apontou na direcção dos três companheiros.
Eu quero aproveitar a ocasião solene para marcar esta data com uma oração, para abençoar a minha união com Carlos e, se não se importarem, gostaria que dona Elvira fizesse essa oração.
— Paolo, meu irmão, eu agradeço sua generosidade.
Eu sou muito tímida para essas coisas e vou pedir para que algum de nossos amigos atenda ao seu pedido - respondeu a senhora, com a voz entrecortada.
E Suzana, em um ímpeto que nem ela própria soube explicar, disse que gostaria de fazer a oração.
Na verdade, eu soprei nos ouvidos dela que faria a prece.
Após uma súplica sentida, todos estavam emocionados.
A música voltou a tocar e a festa continuou.
Elvira e Maurício estavam apavorados com tudo que viram e ouviram.
Eles não cabiam no ambiente e estavam quase se descontrolando.
Alegando ter outros compromissos, foram se despedir de Paolo, que se encontrava no sofá, de mãos dadas com Carlos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 15, 2022 9:29 am

Paolo, com sua sensibilidade, estranhou a repentina decisão deles de irem embora, mas não deu importância, supondo que seria mesmo por necessidades pessoais de ambos.
Eles desceram até a portaria em absoluto silêncio, mas, assim que entraram no carro, iniciou-se a conversa.
Elvira pôs as mãos no rosto e disse em desabafo:
— Que vontade de chorar, Maurício!
Sinto-me até sem ar.
Que cena foi essa?!
Sinto-me envergonhada por eles
— Eu também não estou nada bem.
Foi muito difícil presenciar c que vimos agora.
Estou chocado
— Meu Deus É nessa pessoa que estamos acreditando para conduzir nossas actividades mediúnicas
— Pensei a mesma coisa
Eu nunca imaginei que ele fosse... Você sabe...
— Que ele fosse gayl
— Isso mesmo. Detesto essa palavra
— Que situação!
Acho mesmo que foram os amigos espirituais que nos mandaram aqui para tomarmos conhecimento sobre como estamos confiando na pessoa errada.
— Concordo plenamente.
Era, aliás, sobre isso que minha cabeça não parava de pensar.
Sempre tive uma desconfiança sobre esse moço e dúvidas a respeito de sua mediunidade.
— Foi muito duro para mim.
Meus sentimentos ficaram muito mexidos.
Você não sabe e nem contei a ninguém ainda no GEF, mas estou com esse problema em casa, Maurício!
— Mesmo? - respondeu, surpreso, o dirigente.
— Sim. Meu filho de dezasseis anos apresentou claras manifestações de homossexualidade, interessando-se por um rapazinho da mesma dade, nosso vizinho.
Estou pelejando para levá-lo ao tratamento com a dona Modesta, para ver se ela pode fazer alguma coisa para curar meu filho, entretanto, sabendo agora disso...
Nem sei o que dizer.
Sinto-me muito triste, com repúdio e muito confusa.
Um misto de sentimentos na alma.
Ainda bem que não cheguei a levá-lo para o tratamento.
Sei lá, fico agora pensando que o médium também precisa de tratamento.
Principalmente por achar tudo tão natural.
Dando beijo em público!
Que horrível! Nojento!
— Meu bom Pai! - disse Maurício, enquanto dirigia para a residência de Elvira.
Como esse desequilíbrio está tomando conta da sociedade!
Com dezasseis anos e já está assim?
— Sinto-me envergonhada!
Para ser franca, sinto-me frustrada!
É como se tivesse perdido minha reencarnação.
Acho que não estou sendo uma boa mãe.
Nunca cheguei a lhe dizer, mas, sinceramente, já pensei em largar a doutrina por causa disso.
Fico aflita ao pensar que sou uma dirigente de centro espírita com um filho gay.
É muito doloroso!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 15, 2022 9:29 am

— Lamento por você, Elvira, mas não precisa deixar tarefa nenhuma, pelo contrário.
Não se preocupe! - falou o dirigente, procurando consolá-la.
Voltaremos com nossas reuniões no estilo antigo e tudo vai se ajeitar.
Levaremos seu filho para a desobsessão e tudo vai dar certo!
— Você pensa mesmo em realizar essa mudança no GEF?
Por conta dessa revelação de Paolo?
— Elvira, depois do que acabei de presenciar, quero tomar medidas imediatas na casa.
Com as reuniões no estilo antigo, dentro de severos padrões doutrinários, tenho certeza de que poderemos ajudar seu garoto a se recuperar desse mal.
— Assim espero!
Sofro muito com isso, Maurício!
Jamais imaginei que teria uma provação dessas, dentro de casa!
Acredito, porém, que se Deus colocou esse peso em minha vida, é porque tenho a missão de reconduzir esse espírito ao caminho do bem.
Todavia, não sei o que fazer, e tudo se agrava a cada dia!
Ouvir Paolo, nosso médium de confiança, fazer uma declaração de amor em público e ainda nos envolver nisso, foi mesmo o fim da picada!
Como doeu ouvir aquilo e, o pior, ainda pediu para que eu fizesse a prece!
Eu estou sem chão até agora.
Eu nem sei dizer por que, é como se, ao ouvi-lo falar em casamento, eu perdesse um pouco mais o meu filhinho... - Elvira não conteve as lágrimas ao falar do filho.
— Fique tranquila, Elvira!
Acredito que não foi por acaso que isso tudo aconteceu.
Agradeço aos benfeitores por terem me evado lá, apesar de ter sido tão difícil, porque agora tenho razões justas para tomar providências e embasar as ideias e dúvidas que sempre tive a respeito dessa reunião de tratamento com os espíritos no GEF.
— Achei Suzana muito entusiasmada também, como se aprovasse a união dos dois.
Orando e pedindo a Jesus por eles!
Que pecado
— Isso também me deixou muito pensativo!
E eu me lembrei da proposta feita pela dona Modesta, através dela.
Se é que é mesmo a dona Modesta!
Acho que nossos médiuns estão todos precisando de ajuda e a gente está confiando a eles uma responsabilidade muito grande!
Eu já tomei uma decisão, Elvira.
Quero saber se posso contar com você.
— O que pensa em fazer?
— Amanhã mesmo, no domingo, vou ligar para João Cristóvão, presidente do órgão unificador, e marcar uma reunião para discutir o assunto na segunda-feira.
Quero ouvi-lo.
— Conte comigo, eu vou com você.
Estava aqui pensando... como vamos agir com Paolo, agora?
Como vamos comunicar isso ao grupo?
— Vamos ter de pensar e pedir uma orientação.
Será um teste para Paolo.
Ele está muito fascinado com o assunto.
Para expressar-se com tanta naturalidade ao anunciar um casamento proibido, já deve estar tomado por forças das trevas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 15, 2022 9:29 am

Isso pode acabar muito mal!
Confesso a vocês que acompanhar aquele trajecto de quinze a vinte minutos, entre a residência de Paolo até o momento da chegada na residência de Elvira, foi uma eternidade.
Já havia passado por várias situações similares, que me convocaram ao desenvolvimento do amor cristão para entender e acolher.
Em outras ocasiões, quando a maturidade e a experiência não eram suficientes para me proteger dos efeitos dessas situações, eu me sentia literalmente ofendida.
Ali, porém, tinha um olhar de compaixão para o desabafo de nossos irmãos.
Embora, de minha parte, coubesse o dever de respeitar as concepções diferentes dos dois dirigentes, com aquela atitude, Elvira e Maurício não só davam início a um provável período de conflitos e testes no GEF, como também fechavam a porta para a oportunidade de parceria e trabalho connosco.
Três dias antes dessa ocorrência, foram anunciadas pela mediunidade de Suzana as chances de uma nova proposta de serviço.
E, agora, todos nós estávamos ali diante de um episódio que dificilmente teria um desfecho saudável e útil.
Sabia que esse contacto da festa seria muito temeroso, e por essa razão alertei Paolo fora do corpo, naquela noite de trabalhos junto aos ovóides.
Por outro lado, o teste estava deflagrado e se fazia necessário.
Seria impossível caminhar para propostas mais ousadas de trabalho sem o exame do amor na convivência.
Nossa fé repousava em fazer o melhor e respeitar a atitude de nossos irmãos, tomasse o rumo que tomasse.
Já em casa, tanto Maurício quanto Elvira não conseguiram pregar os olhos naquela noite.
Estavam mesmo chocados.
Não eram pessoas más.
Apenas, como todos nós, tinham seus limites.
E tudo aquilo foi muito para o entendimento deles.
Desde a chegada ao apartamento de Paolo até a saída de lá, eles foram profundamente testados em sua capacidade de conviver com as diferenças.
Mesmo com larga bagagem doutrinária e extrema devoção ao Espiritismo, não se saíram bem na conduta ante as mais singelas e essenciais lições do Evangelho.
Nossa tarefa, independentemente de discordar, era acolher e envolver nossos irmãos.
Solicitei a alguns colaboradores para que permanecessem no ar dos dois dirigentes, fazendo o possível para acalmá-los.
Retornei à festa e contei a Inácio e aos demais amigos sobre a conversa da dupla.
Eles não se surpreenderam.
Não é uma tarefa fácil para nós, desencarnados, sustentar amplo sentimento cristão em situações como essa.
Ficava claro que Elvira e Maurício estavam prisioneiros de seus próprios preconceitos.
O desnorteamento de Elvira com o episódio a fez revelar a situação de seu filho, confidenciando ao companheiro de doutrina as lutas no lar, diante de sua forma de enxergar a homossexualidade.
Entretanto, o que ninguém sabia mesmo, além do segredo de Elvira no mundo físico, era sobre as lutas também enfrentadas pelo próprio Maurício com as suas tendências homo-afectivas, que foram cruelmente reprimidas por ele.
Homem casado e pai, desde a juventude reprimiu suas tendências por orientações recebidas no ambiente espírita.
Para ele, a abstinência nessa área era uma tormenta, porque tinha sonhos e poluções nocturnas, acompanhadas de fantasias torturantes enquanto acordado.
Tinha as tendências reprimidas, mas não resolvidas.
Não foi sem razões muito justas e explicáveis que ambos se sentiram tão ameaçados diante do anúncio do casamento de Paolo.
Suas próprias sombras e dores pessoais, por detrás dos muros do preconceito, foram completamente remexidas.
Nossa função é amparar e acolher os dirigentes em suas imitações.
Eram aprendizes e não faziam nada disso desejando o mal a alguém.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:19 am

Supunham apenas que essa era a melhor maneira de agir.
A advertência do Mestre vinha clara em minha mente, toda vez que minha disposição de acolher dava lugar ao espírito da recriminação:
“Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo”.
No dia seguinte, domingo de manhã, durante minhas tarefas de rotina no Hospital Esperança, tive notícias de que Maurício já havia ligado para João Cristóvão, presidente do órgão unificador, e marcado uma reunião para segunda-feira, às nove horas.
Mesmo com tantos afazeres, embora não fosse costumeiro de minha parte, reorganizei minha agenda para estar presente ao encontro.
Na segunda-feira, faltando quinze minutos para a hora da reunião, chegamos à porta da instituição, que ficava na zona central da cidade.
Inácio e irmão Ferreira me acompanharam na visita.
Logo à entrada, fomos saudados por companheiros simpáticos e afectuosos que já nos aguardavam em nosso plano.
Fomos directo para a sala da presidência.
Lá estava João Cristóvão, um homem de seus setenta anos, em uma mesa empilhada de papéis e livros espíritas.
A chegada de Elvira e Maurício foi anunciada e, após os cumprimentos de praxe, João Cristóvão disse:
— Ora, ora, que bons ventos os trazem aqui?
— Queremos ouvi-lo a respeito de alguns acontecimentos, João.
— Sou todo ouvidos.
Sentem-se e vamos conversar.
— Nesse fina de semana, em uma festividade na casa de Paolo, aquele médium que lhe falei certa feita, descobrimos algo que mudou completamente o nosso jeito de pensar.
Em meio à festa, Paolo anunciou seu casamento com outro homem, e, na maior naturalidade, beijou-lhe diante de todos, com a presença dos pais, amigos de trabalho e outros.
Elvira e eu ficamos desnorteados e de queixo caído!
Jamais pensamos que ele fosse...
Você sabe, não é, João?
E abrindo os dois braços e balançando a cabeça, João Cristóvão disse:
— Para mim isso não é novidade!
— Então você já sabia?
— Não sobre isso que vocês me contaram, mas sabia que havia algo muito errado com esse médium.
— E qual a sua opinião sobre esse assunto, a homossexualidade? - era notória a dificuldade de Maurício para entrar no assunto.
— São espíritos devassos no sexo em suas vidas pretéritas e que, mesmo colocados em experiências reeducativas em corpos diferentes de suas tendências, ainda não conseguem obedecer à programação reencarnatória, buscando as pessoas do mesmo sexo para o prazer.
É uma doença da alma, um desequilíbrio que precisa de sublimação.
— Acredito piamente nisso, também!
Estou me sentindo péssimo desde sábado, quando presenciei aquela cena chocante.
Sinto como se tivesse sido agredido por entidades.
— É desse jeito mesmo que acontece.
Essas pessoas têm uma energia muito negativa.
— E o que você acha que uma pessoa assim deve fazer quando tem esse problema?
Como agir no GEF, já que é a primeira vez que passamos por isso? - Maurício, ao fazer essa indagação, deixou nítido para nós que queria uma resposta para ele mesmo, que lutava também com suas próprias tendências.
— Com relação ao centro espírita, quando esses assuntos surgem, a palavra de ordem é sigilo, para evitar contaminar as vibrações.
Muito sigilo e medidas urgentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:20 am

Não permitam que ele esteja em acção novamente pela mediunidade, por enquanto.
Mas, repito, sejam muito sigilosos.
Esses assuntos costumam provocar muita discórdia desnecessária.
— E com relação ao médium, qual a orientação?
— A pessoa tem que sublimar essa tendência no trabalho do bem em favor do semelhante.
Manter-se casta é a única saída para sua própria felicidade e paz interior.
— Ai, que alívio! - reagiu sem querer à resposta, porque se sentiu encaixado naquela proposta, reforçando o que ele já pensava.
Era como se a resposta de João fosse uma aprovação para a conduta que ele vinha adoptando.
— Alívio por que, Maurício? - o próprio João estranhou a reacção do dirigente.
— Alívio... ah... alívio por saber que nossa forma de pensar está correta a respeito de Paolo.
— Um médium que adopta uma postura dessas e ainda torna pública a sua decisão certamente se encontra debaixo de uma cilada trevosa.
Eu já disse a você que esse rapaz não era boa gente.
Aliás, obtive informações recentes de que ele é muito amigo daquele outro médium perturbado, o Antonino, que vem nos dando muito trabalho com seus livros ditos mediúnicos.
— É mesmo
— Eu já sabia disso há mais tempo! - manifestou-se Elvira pela primeira vez.
Ele próprio, o Paolo, me recomendou um livro desse médium e fiz de conta que me interessei.
— E tem mais.
Soube que essa suposta dona Modesta e esse suposto doutor Inácio também conduzem os trabalhos no Grupo X, onde Antonino actua.
As extravagâncias doutrinárias que eles praticam e divulgam não têm fim.
É um caos doutrinário sem precedentes na história do Espiritismo.
Um deles é usar nomes de dois grandes vultos do Espiritismo mineiro, Maria Modesto Cravo e Inácio Ferreira, para suas loucuras mediúnicas.
— Quer dizer que dentro da nossa casa estamos alimentando um obsediado?
Caminhando para uma possível obsessão grupai?
— Não tenha dúvida, meu caro!
É coisa das trevas E vou mais longe...
— Diga, João.
— Esse tipo de desequilíbrio sexual está atingindo os jovens no movimento espírita.
Quanto antes afastarmos esses maus exemplos da seara, melhor será para a segurança e pureza de nossas casas.
— E o que você sugere em um caso como esse, João?
Não temos ideia de como lidar com a situação.
— É muito simples. Seja objectivo.
Essas pessoas são muito ardilosas e inteligentes. O mal é sagaz.
Já tivemos outros casos semelhantes e o negócio é o seguinte:
mande-o fazer uma reciclagem aqui na organização, acompanhado de um tratamento espiritual.
Estudando Kardec, ele vai conseguir compreender seu erro e encontrar forças para se modificar.
— Mas, e se ele não quiser?
— Então não tem alternativa a não ser o afastamento forma' da tarefa.
Se vocês quiserem, temos aqui um modelo de advertência para essas situações.
E bastam duas testemunhas do grupo assinarem, que está valendo.
Maurício, com uma expressão de dúvida, olhou para Elvira como se pedisse a opinião dela, que logo falou:
— Acho que ele não aceitará isso.
Ele tem muito conhecimento e estudo doutrinário e vai recusar.
Além disso, está muito cego para seu problema.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:20 am

Quem anuncia um casamento com uma pessoa do mesmo sexo, tão naturalmente, não vai mudar de opinião.
Ele se mostra muito convicto.
Acho que o seu nível de obsessão é muito mais profundo.
— Mas nada impede vocês, que são os dirigentes da casa, de afastá-lo.
O mal precisa ser cortado pela raiz.
— Concordo com você, João.
Não sei se expedientes dessa ordem vão resolver.
Entretanto, não custa nada tentar.
Pode nos dar uma cópia desse modelo de advertência?
— E se ele não aceitar sair? - indagou Elvira.
— Se ele não sair, saio eu da direcção.
— De jeito nenhum - falou João Cristóvão de forma contundente.
Você tem uma missão com aquela casa.
É sua tarefa defender o bem.
— Está certo. Concordo com você.
— Vocês vão mesmo afastá-lo da casa?
— Acreditamos que sim.
Vai ser a melhor opção.
— Nesse caso, eu tenho uma notícia boa, que vai motivar a decisão de vocês
— Qual?
— Se isso vier realmente a ocorrer, eu posso retirar o pedido de desfiliação do GEF de nossa organização unificadora.
Não é novidade para vocês que nossos directores aqui são muito favoráveis a isso.
— Sério?
— Claro que sim!
Com a saída desse jovem, aquele tipo de trabalho aberto não vai acabar?
— Ah, sim! Com certeza!
Vai ser a primeira mudança que nós dois vamos efectivar no GEF.
— Pois então
O compromisso da nossa casa é com a doutrina.
A manutenção da fidelidade doutrinária é nosso ideal de luz.
Se retornarem ao sistema anterior, que é o padrão de segurança, terei prazer em propor essa retirada da desfiliação.
Não vou me delongar nos detalhes dessa reunião.
É um desafio sair de uma ocasião como essa com os melhores sentimentos cristãos
Para ser sincera, mexeu com todo o meu sombrio.
Respirei fundo, resgatei minha postura interior de amor e regressamos ao Hospital Esperança.
Antes de nos retirarmos, Inácio, como de costume, fez uma observação sobre sua compulsiva aversão às organizações de unificação. Entretanto, contestei sua crítica.
Não podemos generalizar os comportamentos.
Muitas entidades de unificação vinham cumprindo com fidelidade crista a sua tarefa de unir em nome do Cristo e fortalecer o ideal da Doutrina Espírita.
João Cristóvão certamente não tinha condições de se manter no trabalho, como vários companheiros sinceros e de bom coração que vinham realizando muito nas esferas do movimento federativo de unificação no Brasil.
Considerando que momentos tumultuados aguardavam o GEF, accionei José Mário, o nosso coordenador de auxílio às actividades de amparo a grupos mediúnicos, para que fizesse o possível para amenizar os dramas que viriam nos próximos dias.
Mais uma vez presenciávamos o que é ter o amor nos neurónios cerebrais e não no coração.
João Cristóvão é um retrato do nosso passado religioso que ainda teima em dominar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:21 am

Dirige uma instituição que tem compromisso com a doutrina, mas despreza o amor e o respeito ao semelhante que não se encaixa nos padrões aprovados por essas organizações.
É o amor na cabeça tomando forma de poder.
Até quando amaremos o Espiritismo sem amar o nosso próximo e suas diferenças?
Até quando, em nome de um ideal de Jesus, vamos excluir pessoas diferentes?
O desrespeito à condição de Paolo não passava de um preconceito que apenas separa os diferentes na seara de Jesus.
Tanta certeza, tanta soberba e tanta insensibilidade em nome do bem, em nome da luz, separando aqueles que o Pai juntou para florescer e dar bons frutos.

1 É a parte da personalidade que é por nós negada ou desconhecida, cujos conteúdos são incompatíveis com a conduta consciente.”.
(Trecho extraído da obra Psicologia e espiritualidade, do escritor espírita e psicólogo Adenáuer Novaes).
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:21 am

5 - Mediunidade e homossexualidade
*Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda" - Romanos 14:14

Na segunda-feira mesmo, após a reunião com João Cristóvão, Maurício passou a mão no celular e ligou para Paolo, marcando uma reunião no GEF para a terça-feira às dez horas da manhã.
Paolo ficou muito tenso e teve um aperto no peito ao receber o telefonema.
Eu estava ao seu lado e procurei tomar medidas para aliviar-lhe a tensão.
Naquela noite o médium, em prece, chamou por mim.
Pelo pensamento, e extravasou:
— Querida dona Modesta, estou me sentindo muito estranho com esse convite dos dirigentes do GEF.
Não faço a mínima ideia do que possa ser, mas não me sinto confortável.
Tenho a sensação de que uma bomba vai explodir.
Por favor, me inspire na abertura de algum texto ou me traga uma ideia que me auxilie a manter um clima de paz.
Abrindo O Evangelho segundo o Espiritismo, ele leu o trecho sobre a “Coragem da fé”, inserido no capítulo 24.
Reflectiu e orou novamente, vindo a dormir no próprio sofá onde se recostou.
Fora do corpo, ele me viu em pé ao seu lado e correu para perto de mim como uma criança que desejasse o abraço da mãe.
Não lhe disse nada e, com algumas intervenções em seus chacras, eu o coloquei para dormir também fora do corpo, devolvendo seus corpos subtis para mais perto do corpo físico.
Eu não queria antecipar notícias ou preocupações a Paolo.
Ele teve momentos refazentes, acordando somente para deslocar-se do sofá até sua cama.
No dia seguinte, na hora marcada, Elvira, Maurício e Paolo estavam reunidos na sala da directoria do GEF.
Nossa equipe também compareceu expressivamente, em especial os companheiros da defesa, junto com irmão Ferreira.
Os dois dirigentes estavam muito tensos.
Elvira esparramava os braços sobre a mesa, como se sentisse necessidade de esticar os nervos.
Maurício estava com o cenho carregado e Paolo, mais sereno, guardava um clima melhor do que o da noite anterior.
E assim começou o diálogo entre eles:
— Bom, Paolo, o que nos traz aqui é um daqueles assuntos que temos que abordar directo e recto, como diz o ditado.
— Nossa Aconteceu algo grave?
— Aconteceu, não é Elvira? - e olhou para a companheira pedindo aprovação, tentando dividir com ela o peso do momento.
— Sim, aconteceu, e por isso estamos aqui - falou Elvira toda desconcertada, querendo passar uma pose de firmeza.
— Bom É o seguinte, Paolo - tomou a palavra Maurício.
Após sua declaração pública sobre sua homossexualidade, Elvira e eu ficamos muito chocados e decidimos tomar algumas atitudes em favor do trabalho do GEF.
Fomos procurar os órgãos competentes para nos orientar sobre como proceder diante dessa situação e concluímos que algumas providências terão de ser aplicadas para o seu próprio bem e o de nossas actividades.
— Sim - falou o rapaz, ouvindo com atenção e surpresa.
— Como você deve saber, no Espiritismo, a homossexualidade é considerada desequilíbrio e perturbação, e queremos ajudar você a vencer essa dificuldade.
E para isso temos algumas orientações para lhe passar.
— Sim, quero ouvir o que vocês propõem - falou Paolo, com serenidade e firmeza, mantendo sua linha e educação.
— Em função disso, aumentou a insegurança que tínhamos em relação ao seu trabalho mediúnico.
Achamos um risco um médium com suas características sexuais desenvolver uma actividade dessa responsabilidade.
— Por quê?
— Por causa das energias envolvidas no ambiente.
— Que energias?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:21 am

— Energias inferiores do sexo, Paolo.
— Explique melhor.
O que têm essas energias?
— Elas podem contaminar outras pessoas no ambiente e trazer más companhias espirituais.
— Meu Deus Eu não acredito que estou ouvindo essas coisas logo de vocês, meus dirigentes
É esse o motivo pelo qual vocês me chamaram aqui? - disse o jovem, com um tom de respeito e um misto de inconformação.
— Isso é muito grave, Paolo! Você não percebe?
— Meu Pai do céu - e Paolo colocou as duas mãos na boca, surpreso com o que acabara de ouvir.
Quer dizer que para vocês o fato de eu achar uma pessoa para amar com dignidade e valor moral é um indício de desequilíbrio? É isso?!
— Amor entre pessoas do mesmo sexo, com essa conotação sexual, é uma ilusão, Paolo.
Isso não existe, é uma armadilha das trevas
— Que coisa!
Eu jamais podia imaginar que, ao convida-los para o evento, iria chocá-los tanto!
Eu tenho o maior respeito para com as pessoas e considero que todo cuidado é pouco para não ferir as concepções alheias.
Perdoe-me se os choquei, não foi minha intenção, mas não posso deixar de expressar minha imensa surpresa por vir de vocês uma atitude como essa!
Tantos anos juntos, mantendo fidelidade e bons propósitos na tarefa e, de repente, é como se eu fosse um criminoso, devido à minha orientação sexual.
Eu não podia imaginar que vocês, tão amigos e cientes de minha firmeza moral, pudessem se inspirar nessas ideias conservadoras que muitos espíritas cultivam sobre homossexualidade.
Pelo visto me enganei!
— Homossexualidade é uma luta de outras vidas, Paolo.
E quem passa por essa prova necessita de apoio.
— Pois para mim nunca foi uma prova.
Tenho isso muito bem resolvido dentro de mim e não vejo como pode interferir no trabalho mediúnico - expressou-se o jovem, com uma tranquilidade contagiante e com uma educação no tom das palavras que reflectia seu sentimento de certeza e convicção.
— Aí você vai me dar o direito de discordar, Paolo.
Como pode ter isso bem resolvido dentro de você, se está prestes a se casar com uma pessoa do mesmo sexo?
Se chegaram ao ponto de se beijar em público?
— Meu irmão, você acha mesmo que eu me descuidaria de absorver toda orientação sobre o assunto antes de assumir o que fazer com minha sexualidade?
Estou surpreso por vir de vocês, que tanto me conhecem na tarefa, essas advertências que não tenho como dar outro nome a não ser preconceito.
Sei que boa parte da comunidade espírita carrega um estigma contra os homossexuais.
Consultei tudo o que existe de melhor sobre o tema e a orientação da doutrina, em absoluto, conflitua com o que vocês acreditam sobre o assunto.
— E que orientação você tem sobre o assunto, Paolo?
— Os livros mais confiáveis, mediúnicos ou de escritores espíritas, deixam claro que em assuntos da vida sexual o amor, o respeito, a responsabilidade e a dignidade são as orientações precisas e cristãs para uma convivência saudável e espiritualizada.
É esse o clima das energias que envolvem minha vida sexual e afectiva.
Como isso pode perturbar o ambiente de trabalho mediúnico?
Eu quero que vocês me expliquem como!
Vocês falam de contaminação de energias, mas sentem isso?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:21 am

Alguém mais mencionou algo no trabalho, uma única vez?
— Isso é um equívoco, Paolo!
Você está mal informado!
A orientação veio de cima.
Nossa entidade unificadora foi também muito clara sobre o assunto.
— E qual a posição deles?
— Nós temos a solução e tudo vai se resolver, não é mesmo? - falou mais uma vez, procurando a aprovação de Elvira, que tinha vontade de baixar a cabeça e colocar as mãos nos ouvidos para não ouvir mais nada.
— Sim, então qual é essa solução?
— Eu sei que é difícil.
Mas nós temos responsabilidade com o GEF e isso afecta a nossa instituição também.
Já há muito tempo tenho sido claro e expressado minha insegurança a respeito das actividades mediúnicas das quais você participa, incorporando o doutor Inácio.
Depois de conhecermos esse seu lado, tudo ficou mais claro para nós.
Achamos que aquele excesso de ousadia e gracejos dos espíritos, entre outras ideias questionáveis, ocorrem exactamente em função dessa sua perturbação.
Recebemos orientação de que esse é um tipo de obsessão que está tomando conta de muitos grupos espíritas.
Também recebemos uma proposta que achamos muito pertinente para a ocasião.
— Então diga logo, qual é a orientação? - Paolo indagou com a maior elegância, desejoso mesmo de escutar qual seria a recomendação.
— É inconcebível que um médium de Jesus tenha esse tipo de conduta.
Sua mediunidade está sendo muito afectada por isso.
— Qual a proposta?
— Para você, a recomendação é sublimar essa tendência negativa.
Para isso, você terá que se submeter a um tratamento espiritual na casa unificadora e fazer um acompanhamento por meio de um estudo mais profundo das obras de Kardec, com alguns dos melhores estudiosos da doutrina.
— Eu não posso estar ouvindo isso.
Não de você, Maurício!
E você acredita mesmo que isso vai me impedir de ser homossexual? Simples assim?
— A proposta vem acompanhada de autoridade, por que discutir?
— Depois de anos trabalhando juntos, por várias vezes presenciei seu temperamento rígido e sempre nutri respeito pela sua forma de conduzir a casa; no entanto, agora você saiu da rigidez para o preconceito.
Isso é insano, meu irmào!
— Não é preconceito, Paolo!
É a orientação da doutrina, meu filho.
— Da doutrina ou dos espíritas mal resolvidos com esse assunto, que não sabem o que dizem?
— Não, Paolo! É da doutrina mesmo!
O médium tem que ser alguém desprendido dos prazeres da matéria para servir a Cristo.
A sexualidade é um bem para a formação da família e não para esse tipo de comportamento.
— Sinceramente, se eu não fosse alguém muito em paz com a minha consciência, me sentiria um lixo diante de vocês!
— Vai ser difícil no início, mas tudo vai se ajeitar.
Nosso órgão unificador teve umas ideias interessantes para resolver isso.
— Interessantes para quem?
— Para você e para nós, é claro!
Elvira, não suportando o clima de tensão que aumentava, pediu licença para buscar água para todos.
Estava tão nervosa que sua pressão baixou e mal conseguia controlar suas necessidades fisiológicas.
Foi directo ao banheiro e, voltando depois de alguns minutos, a conversa continuou.
— E quais são essas ideias para o GEF?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:21 am

— Nós vamos suspender o trabalho mediúnico por um tempo e retornar ao estilo antigo, enquanto você faz seu tratamento e recebe as orientações pelo estudo.
— Então me explique aqui uma coisa, para ver se eu entendi correctamente.
Se eu for ao tratamento na instituição unificadora e participar dos estudos, eu volto para as actividades mediúnicas no futuro. É isso?
— Exactamente, Paolo.
Para segurança de todos nós.
— E o que vocês acreditam que vai mudar em mim com uma iniciativa dessas?
— Você vai recobrar sua lucidez, meu filho, e vai adoptar a postura correta diante dessa sua prova, que deve ser muito dolorosa.
— Como assim, recobrar a lucidez?
— A castidade, meu filho.
A sublimação desses impulsos perversos. Entendeu?
— Entendi e eu estou aqui tentando me refazer do susto!
Jamais imaginei passar por isso!
Não aqui, na casa espírita. Mesmo sabendo dos severos preconceitos existentes na comunidade a respeito do assunto, eu acreditei que aqui seria diferente!
— Pelo menos nós, como seus irmãos, estamos sendo francos e honestos com você.
Poderíamos tomar algumas decisões na casa diante do que descobrimos a seu respeito, sem nada comunicar a ninguém.
Para nós também não é fácil tomar a atitude que estamos tomando.
— Maurício, deixe eu lhe fazer uma pergunta - manifestou-se Paolo, que se mantinha completamente sereno e fiel aos sentimentos do bem.
— Pois, não! Faça!
— Você consegue ter noção que uma atitude como essa caracteriza um bullying.
Por muito menos, outras pessoas no meu lugar dariam queixa na polícia a respeito da sua atitude discriminatória.
Já tive notícias de que muitos espíritas são intolerantes com esse assunto, mas nunca imaginei que aqui, nesta casa, onde já provei minha dignidade, meu compromisso e minha seriedade na tarefa, fosse visto como um perturbado.
Eu, sinceramente, de coração, não me sinto ofendido, mas surpreso e triste por ter de administrar isso.
— Nós reconhecemos a sua dificuldade em lidar com essa prova, e também reconhecemos o seu esforço, meu rapaz.
Todavia, as obsessões começam assim mesmo, de forma subtil, sem que a gente perceba.
— Obsessão?
— Sim.
— Perdoem-me, não quero ser agressivo.
Isso tem outro nome, Maurício, isso se chama homofobia disfarçada - falou com os olhos marejados.
— Chore, Paolo.
Isso vai lhe fazer bem.
Eu imagino o quanto esse assunto lhe faz sofrer!
— Sofrer? - indagou o jovem, enxugando as lágrimas com um lenço que tirou de sua bolsa a tiracolo.
— Que bom que você está começando a compreender!
Chore, isso vai ser bom ao seu espírito.
A dor no seu coração deve ser muito grande!
— Não é de sofrimento que estou chorando, meus irmãos.
Estou chorando de tristeza e decepção.
Se minha orientação sexual é uma ameaça e uma perturbação para vocês, da mesma forma, essa postura preconceituosa e institucional de vocês é algo extremamente agressivo à nossa relação de confiança, que estava em construção.
Vejo que vocês estão muito convictos do que falam e eu respeito isso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:22 am

Entretanto, aquele Maurício e aquela Elvira que eu achei que existiam e em quem eu tanto acreditava estão se desfazendo aqui, diante de mim.
Eu sou uma pessoa que me entrego muito na confiança e fiz várias conquistas na vida, em função dessa postura.
Nem mesmo nos negócios materiais tive tanta decepção por me entregar.
E logo aqui, em um ambiente de doação, onde os interesses pessoais devem ser postos de ado, eu sou colocado em exame!
É quase inacreditável para mim que relações humanas possam ser esmagadas sob o peso dos conceitos e opiniões.
Porém, se estamos em teste e aprendizado, de minha parte, não posso moldar minha vida pessoa e aquilo em que acredito de acordo com a apreciação e o respeito de vocês.
— Não se sinta ofendido connosco, Paolo, nós lhe queremos bem.
— Eu acredito em você, Maurício.
E eu não estou ofendido com vocês e sim comigo mesmo, por ter escolhido pessoas que não mereciam minha confiança!
Acho que a tristeza é comigo mesmo, que poderia tê-los poupado deste momento.
— Cra, não fale assim!
— Eu convidei vocês para o meu casamento por querer compartilhar minha legítima felicidade, por acreditar em seus valores, pela alegria de compartilharmos as actividades benditas da doutrina.
E, de repente, me sinto mesquinho e tão inadequado quanto vocês devem ter se sentido em minha casa.
Que horrível essa sensação! Há alguns minutos vocês eram parte integrante da minha vida e, num suspiro, tudo muda.
— De nossa parte não muda nada, Paolo.
Queremos você perto de nós.
— Ah! Sim, eu vejo isso claramente!
Bem perto de vocês, desde que eu me cure.
Para vocês é muito fácil falar isso.
Você por acaso, já experimentou algum conflito sexual, Maurício?
— Quem não os tem, não é? - respondeu o dirigente, quase engasgando.
— Pois é! E eu é quem tenho que fazer mudanças aqui, em algo que, absolutamente, não me conflitua e nem me peturba?
Queria ver se fosse você no meu lugar!
Se tivesse a mesma orientação que tenho.
Você conseguiria aplicar essa proposta da sublimação?
— Tenho certeza de que faria isso, Paolo - disse o dirigente, cheio de si, como se fosse uma autoridade no assunto, já que era exactamente isso que ele fazia na sua concepção pessoa .
— Isso não é Espiritismo, Maurício!
Não tem lógica com tudo o que aprendi, acredito e pesquisei.
Sobretudo, não tem nada a ver com o que os próprios amigos queridos do mundo espiritual me disseram e orientaram sobre o assunto.
— E o que eles lhe orientaram, Paolo?
— Que a homo-afectividade pode fazer parte da evolução.
Que não é um pecado, não é uma perturbação, mas um estádio como qualquer outro na direcção do amor e da elevação espiritual.
— E quem foi que lhe ensinou isso?
— Dona Modesta e todo o grupo que trabalha aqui connosco.
— Por essas e outras, meu amigo, vou me certificando do quanto você está mal acompanhado e sendo enganado espiritualmente.
— Então, você acredita que minha orientação sexuaj influencia na qualidade do meu trabalho mediúnico?
— Todos temos de fazer sacrifícios no trabalho do Cristo, meu filho.
Viemos a esse mundo para isso mesmo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 16, 2022 10:22 am

— Eu não acredito que isso tenha algo a ver com o Cristo.
Isso tem a ver com personalismo, ponto de vista, ignorância, preconceito e discriminação.
Isso é doutrina dos espíritas e não Doutrina dos Espíritos!
— Não vamos partir para esse ado, Paolo.
Aqui, nós somos os dirigentes.
— Sabem de tudo e podem tudo, não é?
— Não se trata disso.
Temos responsabilidades com a segurança dos trabalhos na casa.
E temos que tomar decisões pelo bem de todos.
— E com os trabalhadores da casa, que compromissos vocês têm?
— Temos também responsabilidade com isso, e por essa razão queremos lhe ajudar a sair dessa situação.
— Eu não quero a responsabilidade de vocês sobre minha vida pessoal.
Eu sou maior de idade, sei o que faço e respondo pelos meus actos.
Eu queria confiança, mas, neste momento, estou tomando-a de voltai Minha vida particular levada ao órgão unificador?
Com que objectivo?
Isso foi demais!
Eu convido vocês para compartilharem da minha vida pessoal, por carinho e confiança, e é isso que acontece?
Agora entendo melhor porque saíram tão às pressas da minha casa no sábado.
Eu não podia imaginar que tinham concepções tão estreitas sobre amor e sexo.
Mas, enfim, vamos terminar essa conversai
— Bom, Paolo, não quero desgastes.
Quero saber qual a sua posição.
Você vai aceitara nossa proposta?
— Maurício, meu irmão, eu fico com minha consciência que de nada me acusa.
Com relação à sua proposta, pode esquecer!
Não vou vender minha confiança a preço de forma idades institucionais.
Eu lamento muito tudo isso.
Vocês já pensaram, por exemplo, na repercussão que isso pode ter no grupo de trabalho?
E que isso, sim, pode ser uma trama espiritual para envenenar o trabalho que está tão bom e rico de perspectivas?
— Ninguém vai saber do que se trata, Paolo.
Quanto mais pudermos amenizar o assunto, melhor para a tarefa.
E pedimos a você a mesma discrição.
Preferimos que ninguém saiba de nada e alegaremos o motivo de sua saída do grupo como algo pessoal.
— Ah! Por caridade!
Não contem comigo para amenizar nada.
Eu tenho amigos no grupo.
Não vou ceifar laços afectivos por formalidades de jeito algum!
Não é do meu feitio fazer isso.
Por lealdade a vocês, quero que saibam que, quanto antes, pretendo comunicar a todos o que está acontecendo aqui, caso vocês mesmos não venham a fazer isso.
— Para que isso, Paolo?
O que você ganha com isso?
— Que pergunta é essa, Maurício?
Não somos máquinas, somos pessoas, temos coração!
Eu :enho amigos dentro do grupo.
Você acha que simplesmente vou desaparecer como uma bolha no ar e pronto?
Você já pensou no quanto será indagado pelo grupo a respeito de uma decisão dessas?
— Serei franco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:00 am

Direi que foi um momento de desacordo entre nós e que você preferiu outros caminhos.
As coisas podem até se complicar para você, se tornar público o que você mesmo escondeu por tanto tempo.
— Eu não escondi nada, Maurício.
É minha vida particular.
É assunto meu e não tenho, em uma circunstância como essa, o menor constrangimento de ser transparente.
De minha parte, tique tranquilo.
Sempre terei palavras de respeito por vocês, mas não esperem que eu venha a esconder o que estamos conversando neste momento.
— Estamos zelando pela doutrina e pela casa, Paolo.
— Desculpe a clareza, Maurício, vocês estão zelando por uma crença limitante que ainda não conseguem superar.
Eu tenho alguns amigos espíritas, de outros grupos, que sabem da minha vida pessoa: e nunca me recriminaram.
Se eu não sirvo para a tarefa por ser quem sou e como sou, eu aceito, afinal vocês são os dirigentes da casa, mas não me peçam omissão.
Sou uma pessoa de opinião firme e não tenho motivos para ocultar nada - falou, recordando o trecho “Coragem da fé”, lido na noite anterior.
— Nesse caso, - determinou o dirigente, já um tanto cansado - considere-se afastado temporariamente das actividades da casa e, amanhã mesmo, vou comunicar ao grupo nossa decisão.
Peço que compareça à reunião na quarta-feira à noite, que eu mesmo tarei um esclarecimento a todos, logo no início.
Mas vou logo lhe prevenir:
sua situação vai piorar.
— E se, de facto, não for acolhido com amor fraterno, não terei a menor dúvida de que estou no lugar errado e de que me tornei um problema.
Estarei presente na reunião, sem mágoas e de coração aberto.
Aproveito, com toda a lealdade da minha alma, para me desculpar com vocês dois, por tê-los chocado com a minha vida pessoal.
Eu me arrependo disso por estar ciente de que nem todos estão prontos para lidar com a diversidade sexual.
Só não imaginava que, da parte de meus irmãos de ideal, isso pudesse ocorrer. Errei.
Peço desculpas por essa parte e, quanto ao resto, rogo a Jesus que nos ilumine nas decisões.
Não havia mais nada a ser dito.
Paolo se levantou, despedindo-se serenamente.
Assim que saiu pela porta, Elvira se descontrolou em choro convulsivo, alegando que era como se visse seu filho em Paolo, saindo pela porta da vida sem aceitar mudanças.
Maurício tomou um copo d:água, pois tremia de nervoso.
Sentia um mal-estar generalizado, mas mantinha-se firme, sustentado pela ideia do dever cumprido.
E ali assistíamos mais uma vez a eminente possibilidade de interrupção, não somente de amizades e relacionamentos, mas de planos de serviço na obra do Cristo.
Apesar da serenidade, Paolo carregava uma profunda dor na alma.
Muito natural que, depois de tudo que ouviu, se sentisse daquela forma.
Pensou em ligar para o noivo a fim de desabafar, mas decidiu não tomar essa iniciativa para não perturbá-lo.
Cancelou seus compromissos profissionais daquele dia e foi para casa se recompor.
Precisava meditar, relaxar a mente para absorver o acontecimento.
Mais ao anoitecer daquela terça-feira, antes do repouso para o sono físico, já um pouco menos sofrido com o ocorrido, Paolo fez uma sentida prece pedindo por todos no GEF.
Em desdobramento foi trazido ao meu encontro no Hospital Esperança, pelos guardiões atentos que destacamos para ampará-lo.
Ao me ver em serviço activo nas enfermarias, correu para perto de mim.
— Dona Modesta, dê-me sua bênção - falou, beijando-me as mãos.
— Jesus lhe proteja, meu filho!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:00 am

Eu lhe acolho com minha bênção, pela postura sábia e íntegra na conversa com nossos dirigentes do GEF.
Sei como foi difícil
— Fiquei muito angustiado depois da conversa, ao longo do dia.
— Vai passar.
— Por que Maurício age dessa forma?
É puro preconceito, dona Modesta?
— Sim, Paolo, é um preconceito que toma a forma de um tumor no pensamento, que nasceu devido à desconexão com o sentimento.
A recusa em trabalhar nosso coração pode produzir monstros mentais.
Maurício teve seu sombrio iluminado pela sua postura serena, confiante e coerente.
Para quem imagina que a homo-afectividade é uma doença, fica difícil ter de lidar com alguém tão bem resolvido como você nessa área, sem atiçar os parâmetros que ele cultiva, porque, se ele admitisse ser possível o equilíbrio sendo homossexual, teria de rever toda a sua vida.
— Rever o quê?
— O sombrio dele é de impulsos homo-afectivos reprimidos e mal elaborados na juventude.
— Verdade?
— A visão idealista de castidade o protege do contacto com seus desejos.
Para ele, por enquanto, é a orientação exacta e apropriada.
Entretanto, parece que a vida queria testá-lo.
Além de nunca ter vivido uma experiência de amizade com alguém homossexual, ele nunca podia imaginar tamanha elegância de postura
e serenidade em alguém que tivesse tal orientação, ainda mais sendo espírita.
— Estou impressionado!
— Sua postura tranquila foi um espelho que o obrigou a julgar sem muita convicção no que defende.
Porque a castidade é boa para ele, que acredita ser ela o único caminho para todos os que experimentam tais impulsos.
— O que a senhora me diz sobre as observações feitas por ele a respeito do meu
trabalho mediúnico?
— Todo médium que se preza deve sempre retirar dos alertas alheios o que possa aprimorar seu trabalho mediúnico, em quaisquer circunstâncias.
Não importa se as observações venham ou não no clima da fraternidade e do respeito.
O médium, por segurança, deve aprender a seleccionar até mesmo entre os detritos da calúnia e da inveja os componentes que possam ser reciclados para actuarem como adubo ao seu ministério de servir e aprender.
Fechar-se às observações ásperas e contundentes pode subtrair-lhe o ensejo de seleccionar algo de útil.
Mesmo no lixo da soberba e da arrogância encontram-se valorosos tesouros que se mantêm preservados no recipiente moral que nos são entregues.
Avance trabalhando e considere sempre a parte que lhe serve como exame consciencial.
Recorde que os alertas mais enfáticos que você recebeu até hoje foram os que melhor lhe serviram de balizas para que não cometesse os mesmos erros mais de uma vez.
Eles ficaram retumbando em sua vida mental como se fossem ecos a relembrar suas necessidades de aprimoramento e os cuidados subtis de sua movimentação no bem.
Você guarda possibilidades para discernir a respeito do que reciclar, com base no que ele lhe disse.
Aproveite o ensejo e se lance ao serviço de corrigir o que lhe incomoda, devolvendo ao monturo aquilo que não lhe seja aproveitável.
Observe que Jesus começou seu sagrado ministério em uma festa de núpcias, como a nos ensinar que não guardamos condição de crescer sem arrimo, sem apoio e sem grupo familiar de afinidades e motivações.
Entretanto, em seus sublimes ensinamentos, deixou claro que no caminhar do amadurecimento, quando formos convocados a entrar na Jerusalém das provas mais desafiantes, nosso destino é o calvário solitário e individual, no qual sobraram apenas duas pessoas, uma para enxugar o suor com a toalha e outra para dar alguns passos com a nossa cruz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:00 am

Ele enalteceu a família dos afins para o começo do trabalho e orientou sobre a solidão diante dos testes mais acirrados da caminhada, nos instantes de testemunhos supremos.
Todo médium com Jesus, chamado aos mais amplos campos de acção comunitária, experimentará a dor de ser julgado e caluniado, porque todas essas expressões do comportamento humano fazem parte do movimento de progresso e burilamento.
Não existe crescimento sem projecções.
Não existe luz sem deslocamento de sombras.
Onde existe reacção, existe ensinamento.
Trabalhe um tanto mais e prossiga em sua caminhada.
Todo médium em condição de responder por um acentuado nível de exposição deverá aprender a dura lição da sabedoria evangélica que recomenda oração e vigilância no caminho, a fim de não se desvincular da fonte cristalina de amparo e protecção do mundo espiritual, na qual se encontra a legítima segurança e o apoio afectivo indispensável para alimentar-se de coragem, discernimento, sabedoria e luz para prosseguir.
No mais, observe os frutos que nascem do seu plantio e deixe ao tempo a divina tarefa de qualificar a natureza de seus esforços no bem.
Os frutos falam do semeador.
— Eu lhe agradeço o carinho e a sabedoria, dona Modesta.
O que a senhora me diz sobre essa alegação de que os homossexuais estão envoltos em energia
ruim ou sob o domínio de companhia enferma?
— Sexualidade, Paolo, tem sua medida moral e espiritual sadia na dignidade, no respeito, na responsabilidade e no amor.
Você vive uma relação nutrida pela riqueza moral, é amado e ama o Carlos, ambos estão com propósitos divinos de formar uma família.
Que energia pode vir de uma pessoa como você?
Maurício, bem como muitos companheiros de ideia espírita, por não desenvolverem a educação dos sentimentos para aferir a vida pela perspectiva do coração, não encontrou outra medida senão adoptar rótulos para avaliar o que lhe cerca, servindo-se de ensinamentos estáticos e conceitos rígidos aplicados colectivamente.
Quando Jesus proclamou o sublime ensinamento “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”, deixou-nos um roteiro perfeito de educação e melhoria espiritual centrado nos valores divinos.
Somente pelas lentes do sentimento temos condição de examinar as pessoas como individualidades, as condutas como contextos variáveis e os acontecimentos como fatos distintos, conquanto a presença de similaridades.
Quando adoptamos rótulos engessados, a mente se paralisa e distancia o pensamento do sentimento.
Essa dicotomia chama-se julgamento.
Paulo, por sua vez, nos orientou que nenhuma coisa é em si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda.
Existem, é claro, homossexuais envoltos em energias ruins e com companhias enfermas.
A generalização é que se torna perniciosa e traduz um preconceito.
Assim como existem heterossexuais com boas ou más energias, com boas ou más companhias.
Não é a orientação sexual que determina a energia e as companhias espirituais.
É a forma de viver, o expressar do sentir e do pensar é que moldam a aura do ser humano, seja ele negro, homossexual!, muçulmano, católico, baixo, alto, velho ou novo.
Enfim, não são os rótulos humanos que servem de distintivo para vermos e tomarmos contacto com Deus Pai e com nosso deus interno, em forma de sabedoria e grandeza espiritual.
Temos aqui no Hospital Esperança núcleos de educação da sexualidade com classes específicas de homo-afectivos.
Nesse templo de amor encontramos tratamentos, estudos, exercícios, agência de projectos reencarnatórios e serviços de protecção aos grupos sociais alternativos que lutam pela mudança dos conceitos e das eis que envolvem o tema.
Nesses núcleos de educação e serviço, encontramos como finalidade maior a elevação moral da conduta e do entendimento em torno da orientação homo-afectiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:00 am

Espíritos nobres, ainda portadores dessa identidade sexual, fazem um trabalho engrandecedor e libertador de consciências a milhares de matriculados.
— Que lindo, dona Modesta!
Como gostaria de conhecê-los!
— Você os conhece, Paolo.
— Conheço?
— Sim, mas não se lembra.
Suas raízes com o Hospital Esperança são muito antigas, meu filho!
Seu projecto de casamento com Carlos foi todo elaborado neste núcleo educacional.
— Sério? Então existem projectos de reencarnações e casamentos gays?
Até eu me assustei agora! - expressou-se de maneira inerente a seus modos sensíveis.
— Não se assuste.
Você tem, inclusive, padrinhos do seu projecto reencarnatório na equipe espiritual que assessora os serviços mediúnicos que você executa no GEF.
Os projectos de reencarnação do mundo espiritual atendem a propósitos evolutivos de conformidade com o avanço dos costumes da sociedade terrena.
Desde os anos 1080 nossa casa espiritual se afeiçoou a projectos de reencarnação diversos, como, por exemplo, a produção independente, mães que queriam ter filhos sozinhas.
Os progressos da genética e das técnicas de reprodução, além das mudanças sociais na lei de adopção, foram facilitando tal propósito a mulheres e homens em seus projectos de reencarnação.
— Suas observações aliviam meu coração, dona Modesta!
— Você merece esse bem, meu filho!
— Mas e o que será daqui pra frente?
Pelo visto estou “desempregado” da mediunidade, já que fui literalmente expulso pelos meus dirigentes.
— Se eu fosse você, não confiaria muito nessa possibilidade.
— Por quê?
A senhora acha que vai mudar alguma coisa!
— Nossa equipe trabalha intensamente neste momento com cada elemento do GEF, considerando a reunião de amanhã.
Tudo pode acontecer, Paolo!
— Nosso GEF estava indo tão bem!
Corre agora riscos de conflitos.
O que a senhora apontaria como sendo o ponto mais frágil nos grupos espíritas?
Ou mais especialmente no GEF?
— A convivência.
O brilho do Espiritismo seria ainda mais resplandecente não fosse a preguiça e a inveja humana que ainda nos aprisionam.
A preguiça desvaloriza a disposição alheia de servir.
A inveja perturba o sombrio de quem se autodeprecia.
A preguiça motiva as desculpas e estimula as razoes para a fuga.
A inveja é a revolta de quem vê domínio onde existe comprometimento.
A preguiça é uma rede encantada onde adormece quem não decidiu avançar.
A inveja é uma lente encantada que distorce a realidade, em conformidade com seus interesses.
A preguiça e a inveja desgastam a convivência e dilatam os conflitos na direcção da separação e do desafecto.
Os pontes mais frágeis nos grupos do Espiritismo cristão ainda são a preguiça e a inveja, que subtraem qualquer possibilidade de legítima convivência fraterna.
E a convivência é a escola de aplicação dos exames de amor.
— Tentarei fazer o meu melhor na reunião, dona Modesta.
— Guarde silêncio, Paolo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:01 am

Você não terá que fazer muito.
Tire o melhor proveito, ciente de que ninguém e nada poderão subtrair de você as conquistas íntimas que lhe pertencem.
E, quanto ao trabalho mediúnico, fique ciente de que nunca lhe faltarão trabalho e aprendizado.
Mantenha-se reservado e prudente como já lhe alerte .
Após a conversa proveitosa, encaminhamos Paolo de volta ao corpo para o sono refazente.
O exemplo de dignidade daquele jovem não poderia sucumbir diante dos vendavais do preconceito.
Passamos a noite tomando medidas para prevenir os acontecimentos no GEF, na reunião que iria ocorrer, mantendo todos no melhor clima e protegidos dos ataques espirituais das sombras, que sempre costumam se valer dessas ocasiões.
Além de envolver Paolo nas nossas vibrações de apaziguamento, Inácio, José Mário e irmão Ferreira também tomaram providências para que todo o grupo mediúnico fosse acolhido em vibrações de carinho e amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:01 am

6 - A alma dos grupos espíritas
O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei." . João 15:12.

Chegou a noite de quarta-feira.
Todos os componentes do GEF, naquele dia, receberam atenção especial para a implantação da luz em seus pensamentos e para que a energia de seus corações pudesse se manter no clima do Evangelho e do amor cristão.
Exactamente às 19:30 começaram a chegar os componentes do grupo e as pessoas que buscavam auxilio e orientação na reunião de tratamento espiritual.
Havia se passado uma semana desde o nosso último encontro e, apesar das limitações de nossos irmãos, acreditávamos, com muita esperança, que algo novo pudesse surgir para abrir os caminhos na realização da proposta que depositamos no grupo.
Alguns minutos antes do horário marcado, Inácio me procurou para dizer que Cibele, a jovem atendida na semana anterior, tinha acabado de entrar, juntamente com Paolo e outros membros do GEF
Eu a avistei e quase não a reconheci, tamanha a sua mudança.
Ela tinha a fisionomia leve, estava maquiada e com os cabelos caprichosamente penteados.
Em companhia dos pais, guardava a fé nas palavras sábias e bem orientadas que ouvira de Inácio na reunião anterior, pela mediunidade de Paolo.
O grupo já se encontrava todo na sala de reuniões.
Maurício e Elvira sentaram-se lado a lado.
Notei um clima de indisposição da parte dele ao avistar Paolo, que se acomodava discretamente em um canto da saia.
Seu clima espiritual transpirava um estado de auto-confiança plena, ao contrário do nervosismo do dia anterior, na reunião com Maurício e Elvira.
Após a prece inicial, Maurício tomou a palavra e, com uma atitude prepotente, falou:
— Meus irmãos, que Jesus nos proteja!
Antes de iniciarmos qua quer actividade nesta noite, eu tenho um comunicado lamentável a fazer e prometo não tomar muito o tempo da reunião.
Neste último fina de semana, Elvira e eu estivemos em uma reunião social na casa de Paolo e, infelizmente, fomos pegos de surpresa.
Suzana também estava presente e é testemunha do que vou lhes contar.
Diante das poucas palavras de Maurício, um clima tenso se formou imediatamente no grupo.
Somente Paolo mantinha-se leve, atento, ouvindo tudo aquilo com completa isenção de ânimo.
— O que aconteceu foi que o nosso irmão Paolo, diante dos nossos olhos e com a maior naturalidade, declarou em público que estava se relacionando com outro homem, que estavam ficando noivos naquele momento e se casariam em breve, assumindo a sua condição homossexual.
Não preciso nem dizer o quanto isso nos decepcionou, sendo e:e espírita e ainda médium nesta casa.
Já tivemos, Elvira e eu, uma reunião com ele ainda ontem para propor um tratamento espiritual na casa unificadora da nossa cidade, acompanhado de um estudo aprofundado da obra de Kardec, para que ele reequilibre sua conduta nessa área.
Entretanto, ele preferiu não aceitar, mostrando-se convicto de que não é portador de nenhum problema.
Elvira - disse, - a directoria resolveu desligá-lo das actividades de quarta-feira.
Vamos, ainda, suspender esse género de tarefa como vem sendo realizado, para retomar nosso formato original anterior, que nos traz mais segurança e pureza, dentro dos padrões da doutrina.
Reforço que solicitei ao Paolo que mantivesse discrição em relação ao assunto, para poupar vocês e a ele mesmo de um momento tão desagradável como este, mas ele, por motivos pessoais, disse que não aceitava a nossa recomendação.
Por esse motivo, estou comunicando a decisão da directoria e encerrando o assunto.
Tenho a certeza de que, diante de nossa explanação clara e sincera, o assunto esteja devidamente esclarecido e finalizado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:01 am

O grupo parecia hipnotizado com o que acabara de ouvir.
Um silêncio tumular tomou conta da sala por alguns segundos, até que Suzana, uma mulher de posições claras e que, literalmente, era conhecida por não aceitar injustiças, tomou a palavra:
— Espere aí, Maurício!
Nada está finalizado aqui!
Será que eu ouvi direito ou estou delirando?!
Deixa ver se eu entendi!
Vocês estão afastando o nosso amigo Paolo porque ele é homossexual?
Como dizem os nossos jovens de hoje, “estou bege” com o que acabei de ouvir.
— Também não é assim, Suzana!
Nós fizemos uma proposta e ele não aceitou.
— Verdade, Paolo? - indagou Suzana, quase atordoada e ao mesmo tempo indignada, virando-se na direcção do jovem médium.
— Sim, Suzana, é verdade - respondeu Paolo com humildade.
Eu não tenho motivo nenhum para me envergonhar da minha orientação sexual.
Estou em paz com minha vida pessoal e fui tomado de surpresa com essa situação.
Arrependo-me, honestamente, de ter convidado meus irmãos de directoria para irem à minha casa e tê-los chocado com meu estilo de vida, mas não tenho porque me submeter a um tratamento ou a um estudo orientador, como se estivesse em perturbação e desequilíbrio, que é como a minha conduta é vista pelos directores.
Também é verdade que eu não aceitei manter sigilo sobre o assunto.
Não aceitei porque meu afastamento seria simplesmente comunicado, sem esclarecimento da razão.
Eu tenho vocês como amigos e não admito uma interrupção dos nossos laços afectivos dessa forma secreta.
Preferi estar aqui e dizer publicamente que amo muito este trabalho e a todos vocês, e lamento que, por ser como sou, não possa ser aceito no grupo.
— Eu não estou acreditando no que está acontecendo nesta casa espírita, meu Deus! - disse Suzana, no tom da mais pura indignação, repetindo por duas vezes a mesma frase.
— Suzana, mantenha sua vigilância! - advertiu Maurício em tom ríspido.
O assunto já está encerrado e vamos voltar ao trabalho, que é isso o que nos interessa.
— Mantenha vigilância você, meu irmão!
Eu não aceito uma decisão dessas nem que Jesus Cristo apareça aqui na minha frente para me pedir isso.
E tem mais: o que interessa aqui, agora, são os nossos elos afectivos construídos no grupo, mais que o trabalho espiritual!
Que adianta a tarefa mediúnica com os espíritos, se não somos capazes de ter respeito com o nosso irmão encarnado, que está aqui no nosso p ano e ao nosso lado?
— Suzana... - tentou calá-la novamente o director.
— Não me interrompa! - falou e a já de pé e espalmando a mão na direcção de Maurício.
Agora você vai me ouvir!
Primeiro eu quero saber o seguinte: como é que vocês tomam uma decisão de directoria, sendo que, só aqui nessa sala, além de mim, temos mais dois componentes da direcção da casa?
Segundo, se o problema é a homossexualidade, então meu filho, você vai ter de mandar mais uns três embora.
Três que eu sei e nunca ocultaram de mim que
são gays. Duas, inclusive, são mulheres.
E terceiro, acho um absurdo você, além de não dividir essa decisão com toda a directoria, não dividi-la também com o grupo.
Em que planeta você vive, Maurício? - falou Suzana, alterada.
Você acha, por acaso, que dirigente é embaixador de Jesus?
Sem chance, meu irmão! Aqui nesta casa, não!
Eu não vou permitir abusos de autoridade, como já ouvi falar de outros dirigentes, em outras casas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:01 am

Nós não somos marionetes para que você nos manipule, tá sabendo?!
E mais, se Paolo sair desse grupo eu sou a primeira a sair também, principalmente se você não me der motivo justo além do absurdo que alegou.
O facto de você ser rígido é uma coisa, mas, preconceituoso, eu não engulo!
Eu discordo frontalmente dessa decisão e, sinceramente, estou “passada” com seu preconceito.
Nunca esperei presenciar uma cena dessas no Espiritismo, pelo menos, não aqui no GEF!
Suzana, literalmente, incendiou as opiniões no grupo, ainda mais porque foi extremamente feliz em suas colocações.
E ela não parou por aí:
— Eu estava na festa de Paolo e achei tudo lindo e maravilhoso.
Um homem honesto, digno, que não tem o que ocultar de ninguém.
Que confiou em nós, companheiros do seu grupo espírita, dando-nos a oportunidade de dividir com ele algo muito íntimo e pessoal, e é assim que você responde?
— Suzana, por caridade, eu peço a você... - tentou novamente Maurício calar a companheira, mas sem sucesso.
— Não tente me calar novamente, porque senão eu vou perder meu equilíbrio com você!
Maurício, você abriu essa reunião usando a seguinte expressão “Meus irmãos, que Jesus nos proteja” e trata o seu irmão Paolo desse jeito?
Isso é absurdo!
Olha, eu, no lugar dele, prestaria uma queixa na policia!
Isso é discriminação, é crime!
Eu não aceito essa decisão da directoria!
— Mas nós recebemos orientação do órgão máximo do Espiritismo.
Foi o próprio presidente, João Cristóvão, que nos orientou.
Não temos o que discutir, Suzana!
— Sabe o que você parece com essa atitude, Maurício?
Um padre dando satisfação para sua paróquia.
João Cristóvão está ultrapassado, e eu o conheço de outros carnavais!
Acusa todo mundo de tudo e está cheio de dificuldades em sua vida pessoa.
Abandone essa coisa de órgão unificador, pelo amor de Deus!
— Suzana, contenha-se, por caridade, você está abrindo brechas para acções trevosas!
— Se o que estou sentindo é coisa das trevas, eu não abro mão da companhia deles, porque pelo menos eles são justos!
Fico com eles, e não abro mão, a ter de aceitar isso!
Eu vou me conter!
Mas só queria fazer mais uma pergunta a você, Maurício!
Como você acha que Jesus agiria se estivesse aqui?
Acha que colocaria Paolo para fora?
Foi isso que ele fez com uma mulher considerada pecadora?
A palavra espontânea de Suzana caiu como um raio entre todos.
Uma pressão emocional muito intensa foi detectada dentro do grupo e, repentinamente, ouvimos um choro convulsivo.
Era Elvira que se mostrava completamente atordoada com tudo aquilo.
Maurício tentou apaziguar, dizendo:
— Acalme-se, Elvira.
Deve ser alguma companhia espiritual em função desse ambiente perturbado.
Elvira enxugou os olhos, levantou-se, copiando a atitude de Suzana e, em um desabafo incontido, falou a todos:
— Meus irmãos, me desculpem, me desculpem mil vezes, mas eu não suporto mais essa pressão!
Tem pelo menos quatro noites que não durmo direito em virtude desse episódio.
Tomei a decisão junto com Maurício e vou dizer a vocês: Suzana está certa!
Eu quero voltar atrás na minha decisão!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:01 am

Não quero saber de mais nada, viu, Maurício!
Estou entregando o meu cargo da directoria e não quero passar mais por esse tipo de situação tão desagradável.
Não quero mais carregar uma responsabilidade desse tamanho, sendo que não dou conta nem de resolver os meus problemas pessoais.
Vocês podem achar que eu fiquei louca ou estou debaixo de actuação espiritual.
Pensem o que quiserem, só não dou mais conta disso!
Sinto-me uma farsante nessa posição, recriminando Paolo.
Que direito e com que autoridade eu posso fazer isso, se dentro da minha própria casa tenho um filho homossexual, de dezasseis anos, e nem sei o que fazer por ele?
Paolo, quero lhe confessar que ontem, quando o vi sair tão sereno e confiante diante das colocações do Maurício, eu pensei “Meu Deus, será que estamos correctos no modo de agir?”.
Em seguida, veio-me na mente o meu filhinho...
E foi como se o visse saindo pela porta junto com você!
Deu-me um desespero, um pavor, uma dor sem palavras!
Quero que saibam que me sinto envergonhada, frustrada e muito infeliz com a situação do meu filho, e que este caso do Paolo tirou o pouco de forças que eu tinha.
Sinto-me uma fracassada, não tenho nenhuma qualidade para opinar em um caso desses!
Revogo minha decisão!
Cada palavra dirigida a Paolo, desde a reunião que fizemos ontem, é como se fosse uma facada no meu coração de mãe.
Quando olho para Paolo, tão leve, tão sereno e tão confiante no que está fazendo e naquilo que ele é, eu, sinceramente, não sei se por fraqueza minha ou por amor dele, tenho vontade de abraçá-lo e pedir que me ajude com meu filho.
Perdoem-me, perdoem-me pelo desabafo!
Eu não suporto mais isso aqui!
E, sinceramente, Paolo, olhe aqui nos meus olhos e sinta o que vou lhe dizer:
eu lhe peço desculpas pela minha falsidade com você.
Se eu não estou em condições de cuidar de meu filho, que amo tanto, como eu posso recriminá-lo? Perdoe-me!
Eu entrego meu cargo, revogo minha decisão em relação a Paolo o e vou optar pelo amor.
Chega para mim!
Isso aqui não tem nada a ver com o amor de Cristo!
A cada minuto que passava, a reunião se tornava mais inusitada.
Todos ficaram com olhos marejados diante da fala de Elvira, que mais uma vez mergulhou em convulsivo choro, sendo abraçada por companheiros da reunião.
Todos ficaram engasgados, como se tivessem sido atingidos por um furacão.
Até mesmo Maurício ficou sem palavras diante de tudo aquilo, mas, para não perder a postura de director, manifestou-se:
— Bom, disse a Paolo que comunicar os factos a vocês poderia causar perturbação, mas ele não aceitou manter o sigilo, e vejam o que está acontecendo.
— Eu vejo com os melhores olhos cristãos o que está acontecendo aqui!
Como componentes do grupo, também temos o direito de nos manifestar!
Eu acharia, no mínimo, um abuso afastar Paolo e não dar a ele e a nós o direito de dizermos alguma coisa - falou Silvério, um dos médiuns do grupo.
— Silvério, respeito sua opinião, mas esse é um assunto da directoria.
Já que foi questionada a minha decisão, para encerrar esse assunto, farei então uma nova convocação com a directoria completa, como sugeriu Suzana, para podermos tomar uma decisão definitiva.
— Não, Maurício, agora sou eu que não aceito isso! - retomou Silvério.
Dessa forma você nos trata como crianças, como se não pudéssemos opinar nos assuntos que envolvem a todos nós.
Paolo é nosso amigo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 17, 2022 10:02 am

Todos gostamos dele.
Temos um elo de amizade que, a meu ver, é o que mais importa nas tarefas cristãs.
A sensação que você me passa com sua postura, Maurício, é a de um chefe de uma empresa demitindo friamente um funcionário.
Nunca presenciei nada assim em um centro espírita e nem mesmo algo que se aproxime da sua postura.
Está sendo uma surpresa muito desagradável para mim!
Eu não quero ser injusto, mas, se existe algum desequilíbrio aqui, ele está na sua postura retrógrada em reacção a essa questão, que é de foro íntimo.
Sexo é questão de consciência.
E reforço o que disse Suzana: não são só três pessoas.
Nosso GEF está repleto de homossexuais que nunca nos deram um pingo de trabalho.
Ao contrário, são disciplinados, sérios, discretos no seu estilo, assim como Paolo, e óptimos trabalhadores.
Pode constar que eu serei mais um a me desligar do GEF se Paolo for afastado, porque parece que é isso que você está fazendo mesmo, despedindo um funcionário.
Quando eu o apoiei na composição da sua chapa para a directoria, não imaginava que seria um zero à esquerda.
Eu quero o direito de ter minha amizade e meu afecto por Paolo.
Acho que, se esse assunto veio ao grupo e se diluiu dessa forma, o mínimo a ser feito agora é ouvir cada pessoa do grupo.
Reitero que não aceito uma decisão pronta da directoria nesse assunto.
Temos o direito de nos manifestar e não estamos aqui apenas para seguir ordens.
Escreva isso: eu não sou seu funcionário, sou seu companheiro de grupo!
— E vou mais longe! - disse Suzana.
Estamos aqui nessa discussão toda, e eu queria saber, Maurício:
você já ouviu os nossos queridos benfeitores sobre o assunto?
O que diria doutor Inácio sobre isso?
E dona Modesta?
Você, com essa decisão, não só exclui os trabalhadores que têm afecto pelo Paolo, mas toda uma equipe espiritual que tem nos dado tanto em amor, a começar pela sua própria esposa, que foi curada nesta tarefa!
Ao ouvir nosso nome citado, olhei para Inácio, que me deu uma piscada divertida.
— Não, Suzana.
Não os ouvi e nem preciso!
— Então só explica mais uma coisinha aqui para essa minha mentezinha perturbada...
— Diga - falou Maurício muito constrangido, percebendo que tinha perdido o domínio da situação.
— Que ma o Paolo provoca na tarefa, sendo homossexual?
— Vocês nunca perceberam nenhuma energia diferente?
Eu nunca fiquei seguro com essa tarefa.
Havia sempre algo a me incomodar.
Para ser sincero com vocês, sempre senti uma energia diferente em Paolo.
Bastou saber sobre a conduta dele e tudo foi explicado.
— Explicado?
— Sim, agora fica claro de onde vem essa minha insegurança com a tarefa e o que
sinto na presença dele.
— E, por conta da sua insegurança, nós todos pagamos o preço de acabar com uma tarefa?
Silvério está certíssimo! Ouça o grupo sobre o que sentem com relação à tarefa, à mediunidade e à conduta amiga de Paolo.
Apure se eles querem trabalhar no sistema antigo, em que a nossa fé na mediunidade é algo embotado e morno.
Todos aqui têm percepção clara do trabalho mediúnico de Paolo e da sua conduta límpida, afectuosa e equilibrada.
Na minha avaliação, ser homossexual e tão transparente quanto Paolo foi em sua casa, ao demonstrar seus votos de amor e dignidade, só o torna alguém ainda mais iluminado.
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