O Lado Oculto da Transição Planetária - Maria Modesto Cravo/Wanderley Oliveira

O Lado Oculto da Transição Planetária
Wanderley Oliveira

Espírito Maria Modesto Cravo

Prefácio
A luz raiou nos abismos - Bezerra de Menezes
Introdução

1 - Tratando um caso de magia
2 - Tratamentos espirituais e antigoécia
3 - Desdobramento pelo sono - alertas
4 - O muro que separa as pessoas
5 - Mediunidade e homossexualidade
6 - A alma dos grupos espíritas
7 - Dirigentes também precisam de ajuda
8 - Parceria nos serviços mediúnicos
9 - Irmão Ferreira e a semi-civilização
10 - Defesas nos serviços com o submundo astral

Entrevista com dona Modesta
Ponderações sobre experiências mediúnicas com o submundo astral

Prefácio
A luz raiou nos abismos
"O Povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou." Mateus 4:16

Jesus, o benfeitor amorável, convoca cooperadores para o saneamento das esferas sombrias do mundo espiritual.
O Espiritismo inaugurou a era em que se abrem as portas para que o homem encarnado enxergue a extensão de sua família espiritual pelos sagrados laços da alma.
Bem-aventurado o servidor do bem que acende uma tocha de luz nas furnas da escuridão.
Bem-aventuradas as caravanas da bondade que se desprendem do corpo material durante a noite para secar as lágrimas dos atormentados pela solidão.
Padecimentos mentais e dores da alma são aliviados nos espíritos sofridos quando os raios da oração alcançam os tenebrosos vales do desespero.
Velhos grilhões da obsessão são rompidos ao propiciar aos vingadores enlouquecidos um momento de sossego.
Que o manto luminoso de Maria de Nazaré recaia sobre os umbrais e transforme a dor em renascimento no berço carnal.
Nossos aços afectivos têm raízes concretas com os abismos astrais, arquivados em nossa vida mental.
Ampliemos nossos conceitos arraigados para entendermos as realidades que se desenrolam nas furnas da maldade organizada.
Lá, onde reside nossa família espiritual, também é a casa de Deus.
A regeneração planetária tão desejada é uma estrada luminosa que passa pelos desfiladeiros expiatórios.
Um mundo melhor depende da canalização da misericórdia celestial para esses lugares de tanta carência e desorientação.
Nesse momento, em que os tutores celestes lançam seus olhares e suas acções para que as trevas sejam iluminadas pela força do amor, os aprendizes do Evangelho são chamados para se alistarem nas frentes destemidas de trabalho e socorro.
A inclusão espiritual dos umbrais é insubstituível medida de amor para os tempos novos da Terra.
A luz raiou nas mais insensíveis organizações da maldade, anunciando os tempos novos até para aqueles que têm o coração voltado para a tirania e o ódio.
“O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz;”.
A mediunidade cristã, orientada pela caridade e pela abnegação, constitui-se numa ponte entre o céu e o inferno, unindo planos distintos da vida numa dinâmica de apoio e redenção.
Que a coragem dos trabalhadores espíritas transponha o muro dos conceitos endurecidos e permita que muitas frentes de serviço e socorro estendam generosas oferendas de consolo, alívio, esperança e luz aos queridos irmãos paralisados nesses lugares sombrios.
Se Jesus Se encontra nessa tarefa de purificar os pântanos astrais, na base da actual transição planetária, nós, que dizemos amá-Lo, devemos seguir Seus passos.
Apressemo-nos em oferecer nossa humilde colaboração.
Que o Mestre nos permita depositar sobre a mesa espiritual de muitos grupos mediúnicos, em sintonia com essa proposta de amor, o pergaminho que celebre a parceria na ampliação das frentes de serviço pela regeneração de nossa casa terrena.
Muita paz aos meus filhos amados e que o Senhor da vinha lhes cubra de alegrias no esforço de cada dia.
Bezerra de Menezes.
Belo Horizonte, agosto de 2014.

Introdução
O lado oculto da transição planetária

“A Humanidade tem realizado, até ao presente, incontestáveis progressos.
Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material.
Resta-lhes ainda um Imenso progresso a realizar:
o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral.
Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas Instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam seriam hoje um entrave.
Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e para isso faz-se preciso destruir tudo o que super-excite neles o egoísmo e o orgulho."
Allan Kardec. génese. capitulo 18: item 5.

Biliões de almas no planeta, seja no corpo físico ou fora dele, clamam por esperança e paz.
Esperança para que suas vidas tenham sentido e rumo.
Paz para que consigam avançar na direcção do progresso necessário e possam se libertar dos sítios de dor nos quais se encontram há milénios.
No plano astral das grandes megalópoles ou mesmo em lugarejos desconhecidos e menos povoados ao redor do planeta Terra, encontram-se colónias de um submundo formado por esses espíritos desencarnados.
Nelas existe penúria e injustiça, dor e doença, fome e loucura, submetendo-os a sofrimentos inenarráveis.
E eles aguardam a nossa colaboração.
Por conta dessa carga vibratória ignorada pelo homem mentalmente dominado pelo materialismo, pesa sobre a economia das nações em desenvolvimento um ónus que não é apresentado nos tribunais do mundo nem nos projectos de assistência social dos órgãos públicos que. hoje em dia, é capaz de gerar reflexos substanciais na sociedade dos encarnados.
A vida astral padece de nutrição, orientação, socorro, acolhimento e alívio.
Comunidades inteiras se deslocaram, no século 20, por causa das inúmeras mutações sociais e das alterações ecológicas, em ambos os planos da vida.
Muitas mudanças aconteceram na vida espiritual da Terra mesclando a sombra e a luz, o plano físico e o espiritual, criando cenários jamais vistos em todos os tempos da história.
Vemos hoje o desejo incontrolável dos jovens encarnados de permanecerem horas nos shoppings centers das grandes cidades, sendo sustentados por espíritos ociosos do plano espiritual, padecendo todos da terrível doença da sensação de inutilidade.
Nos lugares de diversão, onde os encarnados se embebedam de prazer e fuga, vamos encontrar formas de vida astralina, estranhas e perigosas, infestando os ambientes de vírus e bactérias, incentivando, no plano físico, a mutação de doenças desconhecidas e de difícil diagnóstico.
Nos templos de qualquer religião, a luz da oração costuma enlaçar, abruptamente, almas em completa demência ou desespero, para que se envolvam no calor das vibrações e das palavras que lhes acalmam e lhes agasalham do frio das intempéries mentais.
Um simples restaurante de portas abertas para a rua pode tornar-se pasto de usufruto colectivo de desencarnados atordoados pela fome e pela ganância, suplicando um pedaço de carne.
A mendicância física que é vista na porta de uma padaria, de uma loja de guloseimas ou de um ambiente comercia não é nada comparado com ci espiritual.
Quem vê as cracolândias nas grandes capitais do país nem imagina os grupos de viciados que se formam no astral dos grandes centros urbanos, onde a vida acontece com os mais variados interesses escusos e onde se movimentam as acções de ganho das empresas e organizações do plano físico.

O submundo já não se comporta nas regiões subcrostais da Terra e se transpôs para as avenidas e escolas, prisões e templos, barracos e mansões, instituições e centros de lazer.
O inferno literalmente se deslocou para o solo terreno.
Quem vê a situação dos países subdesenvolvidos, com as pessoas comendo barro, pode ter uma noção dos quadros cruéis de dor espiritual em decorrência do facto de que na vida física avançam os casos de desperdício dos que têm em abundância.
O superpovoamento é também astral, causando uma sensação de sufoco e de perda generalizada que a maioria dos homens reencarnados não identifica claramente, mas que os faz padecer todos os dias em seus pensamentos e sentimentos.
Todos já são capazes de sentir o peso psíquico do planeta.
O lado oculto da transição planetária é um movimento que marcha acelerado e intensamente repleto de efeitos no mundo físico.
Os dois p anos da vida estão tão intimamente entrelaçados que, em certos episódios, como o “11 de Setembro”, fica difícil conceber se os aviões foram atirados nas Torres Gémeas por homens ou por espíritos, tamanha identidade de propósitos e de condutas.
O fundamentalismo e a política, a educação e a religião, a cultura e arte, a guerra e a corrupção, a ganância e o desejo de domínio estão estreitamente conectados com as mais surpreendentes manifestações de falanges trevosas no mundo dos espíritos.
Quaisquer frentes de serviço no bem que se abram para os serviços no submundo são como uma caravana corajosa que corta os desertos e as sombras da noite para levar água e comida, alívio e acolhimento aos padecimentos e necessidades de quantos se encontrem nessa esfera astral da Terra.
Aqui, no plano espiritual, a matéria que os médiuns no corpo físico podem oferecer a tais iniciativas é comparável a ouro.
A energia do corpo físico é única, substancial e sem imitações.
Jesus está nos umbrais da Terra conclamando operários activos e destemidos do mundo físico para esse momento.
Impossível a regeneração do planeta sem a limpeza do submundo astral, onde ainda se encontram as raízes de toda a maldade e de todos os problemas do planeta, em todos os tempos de sua história.
Candidatar-se a esse género de serviços em favor do bem é promover-se à condição de servidores da luz em plena era de transição, é receber protecção e assistência dos mais amoráveis e dedicados cooperadores das esferas mais altas de nosso orbe.
O chamado* de Eurípedes Barsanulfo e de Isabel de Aragão soa como ecos vibratórios que tocam as fibras profundas de todos os corações e mentes abertos ao serviço de espiritualização do planeta.
Quando o amor sucumbe, as trevas vencem.
Quando grupos erguidos em nome do Espiritismo e do Evangelho se abatem perante conflitos e discórdias, as trevas assinalam uma vitória por apagar um ponto de luz.
Quando o amor supera as sombras do egoísmo e do preconceito, a obra do Cristo vence e assinala mais um passo rumo à regeneração na Terra.
É essa a história do Grupo Espírita Fraternidade descrita nesta obra.
Um grupo de pessoas simples, porém, com a alma aberta às influências do amor.
Diz o codificador que ainda temos uma grande conquista a realizar:
a de estabelecermos entre nós a caridade, a fraternidade e a solidariedade que nos garantam o bem-estar moral.
Para isso, faz-se necessário o desenvolvimento de relações honestas, autênticas e sólidas, que estimule a humildade e a fraternidade.
Esse chamado para os tempos novos da regeneração solicita organizações alinhadas com a despretensão, a simplicidade e o desejo sincero de ser útil.
Que as instituições sejam dirigidas peio bom-senso e não pelo autoritarismo, pelo afecto e não pelas regras.
O destaque de Kardec é muito apropriado:
não necessitamos somente desenvolver a inteligência, mas sim elevar nossos sentimentos a fim de que possamos acabar com nosso egoísmo e orgulho.

Dificilmente os planos e projectos nascidos do intercâmbio sadio da mediunidade se corporificarão nas actividades humanas sem um nobre e abundante sentimento de fé.
Essa fé significa, sobretudo, confiança suficiente no grupo espiritual para reconhecê-lo, em quaisquer ocasiões, como a fonte maior de força, amparo e roteiro para um caminho mais ajustado com o aprendizado no bem e a libertação das nossas consciências.
Fé que signifique entrega e parceria para servir e aprender.
Esse sentimento e essa conduta não florescem se não houver inteligência e conhecimento.
Nos bastidores da transição, trafegam os mais dolorosos quadros de enfermidade moral pedindo nosso auxílio.
Todos podem oferecer algo pelas vias do coração.
O chamado de Jesus pede nossa presença.
Estendamos nossa rede de luz e socorro neste momento tão decisivo da nossa casa planetária.
Afinal de contas, ao estendermos nossas mãos a essas frentes de serviço, estamos, em verdade, abrindo nossos corações para agasalhar nossa família espiritual, formada por laços longínquos na noite dos tempos, e mergulhando na aura límpida da bondade, que é o melhor e mais eficiente escudo de protecção humana na escola terrena.
Que o Senhor da Vinha nos ampare os propósitos e nos segure firme nas tarefas dessa hora!
Paz e esperança em nossos corações
Maria Modesto Cravo.
Belo Horizonte, agosto de 2014.

1 Cracolândia (por derivação de crack) é uma denominação popular para uma região, normalmente situada nos centros das capitais, onde se desenvolve intenso tráfico de drogas.
2 No Haiti, mulheres preparam biscoito de barro para alimentar seus filhos famintos e desnutridos.
A receita desse biscoito é simples: argila, água e sal.
Forma-se uma pasta amarela, moldada em pequenos círculos.
O cozimento fica por conta do sol infernal: em pouco mais de uma hora, o biscoito estará pronto para ser consumido.
3 As Torres Gémeas do complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova York, USA, foram destruídas por ataques terroristas em 11 de setembro de 2001.
4 Conferência de Isabel de Aragão sobre a maldade organizada, capítulo 4 de Os dragões, obra mediúnica de autoria espiritual de Maria Modesto Cravo e psicografia de Wanderley Oliveira, Editora Dufaux.
5 Eurípedes Barsanulfo: Nasceu em Sacramento, em 10 de maio de 1880. e desencarnou na mesma cidade, em 10 de novembro de 1918.
Foi, durante sua vida terrena, professor, jornalista e médium espírita brasileiro.
6 Isabel de Aragão nasceu em Saragoça, no ano de 1271, onde então se encontrava a corte aragonesa.
Era filha de Pedro III de Aragão com Constança da Sicília.
Entretanto, a princesa Isabel não foi criada pelos pais, mas pelo avô, Jaime I, o então rei de Aragão.
Isabel viveu em seu país natal até os doze anos, quando, em 1282, contraiu núpcias com o rei português Dinis de Borgonha, passando a ser a rainha consorte de Portugal até a sua morte, ocorrida na cidade lusitana de Estremoz, em 1325.

1 - Tratando um caso de magia
"Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e ai te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta "
Mateus 5 23:24

A nossa equipa do Hospital Esperança chegou ao Grupo Espírita Fraternidade (GEF) pontualmente às dezanove horas e trinta minutos.
O local estava lotado.
Estavam presentes, naquela noite, José Mário, nosso coordenador de serviços mediúnicos, Inácio Ferreira e a equipe de defesa do irmão Ferreira, com mais de quarenta colaboradores.
Irmão Ferreira, também conhecido entre nós como o cangaceiro do Cristo, distribuiu sua equipe de defesa às portas da casa, agregando seu contingente a quase duzentos outros colaboradores que se destacavam pelos cuidados de segurança espiritual naquela agremiação.
Informações actualizadas dos censos espirituais nos dão notícias de que o planeta Terra tem aproximadamente 35 biliões de espíritos.
Sete biliões deles estão na vida física e 28 biliões nas diversas faixas espirituais próximas ao planeta, divididos em vários estágios de evolução e aprimoramento.
Fazendo as contas, são quatro espíritos para cada pessoa reencarnada.
Em uma casa como o GEF, com aproximadamente 180 pessoas envolvidas nas actividades, vamos ter como resultado mais de setecentos espíritos compondo a família astral daquele lugar.
As contas nem sempre são assim tão exactas, porém, com essa pequena projecção, é possível se ter uma noção do movimento intenso que existe no chamado mundo invisível em torno de uma aglomeração de forças espirituais.
A busca por tratamentos espirituais é uma das actividades que mais movimentam os trabalhos daquela casa de amor.
A dor e a aflição da sociedade têm levado muitas pessoas ao encontro de Deus.
A busca pela cura, pelo alívio e pela orientação é uma necessidade inquietante na humanidade.
Nessas noites, com frequência, podemos contar mais de mil desencarnados envolvidos com o trabalho, entre colaboradores e necessitados de auxílio imediato.
Um centro espírita erguido em nome do Cristo é um poio de serviços e, por mais que nossas casas de amor necessitem avançar no aprimoramento de suas iniciativas, precisamos destacar sua função de condensador de forças superiores para o bem.
Nossos irmãos no GEF apresentam disposições afectivas muito ricas.
O desejo de servir e de amenizar as dores humanas é um ideal de todo o grupo.
São companheiros muito preparados nos estudos da doutrina e da prática mediúnica.
A equipe mediúnica do GEF, composta por dezoito membros (ou médiuns), encontrava-se em oração e concentração na sala apropriada, buscando a sintonia com nosso plano, suplicando aos benfeitores as condições necessárias para se entregarem ao trabalho com amor e devoção.
Os médiuns Paolo e Suzana eram portadores de faculdades mediúnicas extraordinárias: psicofonia, psicografia, desdobramento, magnetismo curador e outras mais.
Eles representavam de alguma forma o alvo das maiores esperanças em favor do próximo.
Como médiuns de incorporação, facilitavam muito nossa relação de parceria com o grupo.
Eles eram procedentes dos quadros de trabalho da Federação Espírita de seu estado, muito bem formados e com o ideal de servir no coração.
Com o tempo, não se adequando à trava das imposições rígidas dos ambientes mais formais, desligaram-se das actividades e fundaram a agremiação na qual se encontram agora em peno e seguro exercício de suas faculdades mediúnicas com Jesus.
Iniciamos as tarefas com o estudo do Evangelho, com aproximadamente 150 pessoas no salão.
Simultaneamente, em outra sala menor, os trabalhadores do grupo mediúnico deram-se as mãos e fizeram sentida prece à Maria de Nazaré, pedindo pelo trabalho da noite.

Em seguida, colocaram-se ao ado das seis macas dispostas uma ao lado da outra.
Cheguei mais perto de Paolo e disse:
— Meu filho, temos um trabalho de libertação fundamental de uma moça de 28 anos, chamada Cibele.
Fique atento às minhas orientações.
— Dona Modesta, estou à sua disposição.
Que Jesus nos guarde em trabalho - respondeu ele mentalmente.
A primeira a entrar foi Cibele.
Muito magra, foi trazida pelo carinho dos pais.
Mantendo discrição sobre minha orientação e as demais que recebeu de Inácio, Paolo deitou a moça na maca e, pela vidência mediúnica, percebeu dois minúsculos alfinetes introduzidos em meio às suas sobrancelhas que imitiam uma energia estranha. Dirigindo a palavra aos pais, sob a completa assessoria de Inácio Ferreira, Paolo disse:
— Ela está tomando muitas medicações que estão lhe fazendo mal.
— O senhor recomenda que tiremos as medicações? - indagou o pai, aflito e surpreso.
— De forma alguma, recomendo que a levem a outro médico.
Os remédios estão inadequados.
Alguns tipos de ansiolíticos contribuem com a abertura da sensibilidade mediúnica de determinados chacras, e isso, no caso de a, é uma porta que se abre para a entrada livre dos adversários espirituais.
É preciso que seja medicada por alguém mais competente e, de preferência, que tenha conhecimentos espirituais.
Ela vai receber uma assistência agora, mas deverá voltar aqui mais vezes para a continuidade do tratamento.
E terá um sono muito profundo esta noite.
— Nossa Que Deus ouça o senhor, porque ela está sem dormir há mais de 72 horas
— O que faremos aqui hoje não é uma cura.
Compreendeu? - falou o médium, já completamente “tomado” por Inácio na sua mediunidade de psicofonia.
— Compreendi, sim.
Posso lhe fazer uma pergunta?
Como é mesmo o seu nome?
— Meu nome é Inácio Ferreira e o médium chama-se Paolo.
Pode perguntar o que quiser.
— O doutor Inácio acredita que isso seja macumba?
— Sim, e da boa!
Mas tem mais que macumba aqui.
— Meu Deus, mais que macumba?
O que pode existir de pior? - falou o pai angustiado, enquanto a mãe permanecia em lágrimas pela dor da filha.
— Sua filha está doente mentalmente.
É devedora perante a própria consciência.
Eu vou lhe explicar isso após o tratamento.
Peço agora a gentileza de se assentarem ali naquelas cadeiras, enquanto executamos o tratamento.
Fiquem mais distantes, por caridade, e mantenham-se no clima da fé.
Paolo, assumido mediunicamente por Inácio, entregou-se completamente, em regime de fé incondicional.
Inácio gostava de dizer que se sentia em casa.
Por várias vezes o ouvimos mencionar que incorporado em Paolo ele se sentia reencarnado por algumas horas, tamanha a fidelidade, espontaneidade e entrega do médium.
A moça ouvia tudo com uma fisionomia de medo.
Depois de deitada na maca, Inácio pediu para que ela fechasse os olhos, que se mantinham arregalados e com as pupilas muito dilatadas.
Doutor Inácio apertou a região lateral esquerda da cabeça de Cibele e lhe disse:
— Minha filha, vamos, feche os olhos e me responda: até quando vai se sentir culpada?
— Eu matei mesmo - respondeu ela.

E faria isso de novo, se necessário fosse, por causa do que ele me fez!
— Ele lhe traiu, é verdade, mas você acha mesmo que corrigiu a atitude dele com o ódio?
— Eu não me importo com isso!
Queria vingança e tive!
— Hoje ele está aqui novamente ao seu lado.
Olhe como vocês se encontraram!
A vingança só traz mais mal.
Você consegue perceber?
— Eu não me importo com mais nada!
A vida acabou naquele dia da traição!
— Entendo. Mas veja o que acontece quando conseguimos nos desligar do passado. minha filha!
Inácio retirou os dois alfinetes da testa de Cibele com uma pinça e a moça sentiu imediata mudança.
— Minha cabeça está rodando...
Eu vou desmaiar...
— Vai passar logo.
Fique quietinha, enquanto faço essa cirurgia em você.
E, de repente, ela começou a se contorcer na maca com um sotaque espanhol.
— Eu não sou Cibele, sou Hanna!
E não quero ser Cibele!
Eu não sou daqui!
Eu não quero essa vida!
Eu quero voltar! Eu quero voltar!
Os pais de Cibele, embora já tivessem presenciado uma crise similar da filha, ficaram assustados.
Inácio repetiu o pedido de fé a eles.
Enquanto Inácio usava as faculdades mediúnicas de Paolo, totalmente incorporado, eu desdobrei o médium, que, com rara facilidade, foi levado por mim para fora do GEF.
Lá na rua, na entrada da casa, uma discussão se travava entre o irmão Ferreira e dois vampiros espirituais.
Maltrapilhos e com aparência repugnante, eles ameaçavam entrar na casa para recuperar Cibele.
Paolo adiantou-se ao nosso grupo, olhou fixamente nos olhos deles e disse:
— Tome de volta o que lhes pertence!
Ela está livre em nome de nosso senhor Jesus Cristo - disse firmemente, devolvendo-lhes os alfinetes, que eram implantes tecnológicos com os quais teleguiavam a mente da jovem.
Eles se rebelaram ainda mais.
Saíram escoltados pelos guardiões do grupo sob o comando de irmão Ferreira, dizendo, como de costume, que voltariam com um grupo maior e que não sabíamos a encrenca na qual estávamos entrando.
Imediatamente após a saída dos vampiros, regressamos ao interior do GEF, no plano astral, e reconduzi Paolo de volta ao seu corpo.
Cibele já apresentava uma nítida melhora, porém ainda estava um pouco zonza.
Voltando a si, ela falou:
— Meu Deus, onde estou?
O que está acontecendo comigo?
Quem são vocês?
Onde estou? Pai! Mãe - ao vê-los, ela se levantou da maca e tentou correr para abraçá-los, mas quase tombou ao chão.
Inácio então solicitou que os pais se aproximassem de Cibele e dessem as mãos a ela.
E, dirigindo-se à moça, falou:
— Meu nome é Inácio.
Fique tranquila.
Você está sendo tratada espiritualmente, minha filha.

Paolo então regressou para mais perto de seu corpo físico, ainda assumido mediunicamente, e observava a certa distância a continuidade do tratamento.
Inácio olhou nos olhos de Cibele e, solicitando à família que se aproximasse, indagou:
— Você teve objectos furtados recentemente, minha jovem?
— Como o senhor sabe disso, doutor Inácio?
— Eu não sei, só estou lhe perguntando.
— Sim, sumiram com minha bolsa há um mês, com meus documentos, cheques e objectos pessoais.
— Você está sendo alvo de magia, Cibele.
— Por isso estou louca?
— Não, a doença lhe pertence.
Você traz de outras vidas compromissos conscienciais severos, sustentados por sua conduta.
— Que conduta?
— No afecto.
— Como assim, no afecto?
— Você foi muito ofendida e se atolou nos pântanos da vingança.
As pendências cármicas sempre são uma sombra infeliz a atormentar a mente, minha filha.
Sua doença mental nasceu aí, nas feridas dolorosas provocadas pela culpa em sua alma.
— Por isso estou sofrendo tanto assim?
— Não é o que você fez no passado que lhe perturba, mas, sim, as suas atitudes de hoje, em função desse passado infeliz.
O passado se foi, passou.
Entretanto, você poderia repará-lo trazendo de volta, nos braços ternos da maternidade, quem você tanto ama.
Você gostaria de ser mãe?
Cibele começou a chorar convulsivamente diante da pergunta, e, com voz embargada, respondeu:
— É meu sonho!
Eu tenho fixação pela ideia de ter um filho!
— Por isso está com ele?
— Ele quem?
— O homem com quem você tem saído.
— Como o senhor sabe disso? - e olhou com expressão de vergonha para os pais, que de nada sabiam.
— Eis a origem de toda a sua dor, minha filha.
Você escolheu alguém comprometido e atiçou o ódio de pessoas que se sentem traídas.
Você está sendo alvo de magia por total irresponsabilidade de sua parte.
— Que horrível!
Eu morro de medo disso!
— Melhor que tenha mesmo, porque a vida está lhe solicitando mudança.
Você está pisando em solo minado e vai precisar de apoio.
— Quem está fazendo isso contra mim?
— Não importa, Cibele.
O que eu quero saber é se você tem feito algo que não gostaria que fizessem a você.
— Sim, eu sou amante de um homem casado.
Tenho traído.
— E sente-se culpada.
— Muito culpada.
E estou também com muito medo de tudo isso, doutor Inácio. Ajude-me
— Você acha que eu posso ajudá-la?
— Eu não sei o que o senhor fez, eu nada entendo de Espiritismo, mas tenho a sensação clara de que nesses últimos cinco minutos voltei a ser quem eu era.

Estou me sentindo leve e também muito arrependida.
O senhor pode me ajudar?
— Posso sim, Cibele.
Mas tudo vai depender mais de você do que de mim.
— Eu, sinceramente, quero mudar isso.
Nunca senti tanta vontade de dar um basta em alguma coisa, como agora.
O senhor tem toda razão, não importa quem está fazendo essas coisas contra mim, se eu estou recebendo, deve ser porque mereço.
— Não, Cibele.
Você merece coisa muito melhor que isso, mas está dando condições para que o mal lhe atinja.
É hora de começar uma vida nova.
Sua reencarnação é muito promissora, considerando as atitudes de outras vidas.
— Eu não entendo o que posso fazer.
Será importante saber o que fiz em outras vidas?
— De forma alguma.
Essa vida actual é a que interessa.
Ao vir aqui, hoje, você ofereceu algo a Deus para que Ele lhe ajudasse.
Deixe aqui sua oferenda simbolizada pela promessa de que vai se reconciliar com sua consciência.
A recomendação de Jesus é de que nos reconciliemos primeiro com as pendências registadas em nosso íntimo e, depois, apresentemos a Ele nossa oferta.
— Estou me sentindo tão decidida que, se continuar assim, sou capaz de mandar tudo às favas para fazer uma mudança.
O senhor acha que devo mudar de emprego e abandonar tudo?
— Você teria coragem para fazer isso e reconciliar-se com sua consciência?
— Acho que tenho coragem para tudo, para complicar e também descomplicar.
Sou muito decidida, doutor Inácio, e quando quero algo...
— Use sua capacidade, então, para decidir-se por algo melhor.
— Nem sei como me enrasquei nessa situação!
Estou me sentindo muito envergonhada - e olhou para os pais que não tinham, até aquele momento, noção do
que vinha acontecendo na vida particular da rilha.
— Tenha perdão e paciência consigo mesma, Cibele.
Aguardo você na próxima semana para a continuidade do tratamento.
Enquanto isso, você será encaminhada aos passes, durante a semana, que vão lhe garantir uma dose extra de energia para suportar os dias vindouros.
Cibele estava tendo um caso com seu chefe de trabalho.
Homem casado, pai de três filhos, com uma família feliz e próspera.
Ele tinha o dobro da idade dela, mas a envolveu com tamanha insistência c com tantas promessas, que ela não resistiu.
A esposa, porém, desconfiada do caso, contratou um detective e descobriu a farsa.
Tomada pelo ódio, conseguiu furtar a bolsa da jovem com a ajuda de um parente e pagou alta soma de dinheiro para encomendar trabalhos de goécia? pesada contra ela, feitos com seus objectos roubados.
Essa parte da história não foi esclarecida para ela, que também não demonstrou muito interesse em saber, o que era um sinal da sua vontade de mudar.
A jovem ainda seria assistida várias vezes até poder se livrar dos efeitos de sua própria semeadura.
Os vampiros espirituais colocaram, em nível perispiritual, aquela aparelhagem que actuava em seu psiquismo, activando velhas culpas na área afectiva de outras reencarnações, causando-lhe, consequentemente, o desequilíbrio mental.
Casos como esse e outros mais graves eram atendidos no GEF.
Eram casos que exigiam medidas nada ortodoxas para surtir efeito e recuperação em um curto espaço de tempo.
Era impossível retirar rapidamente aquela aparelhagem somente com o poder mental.

Era preciso o contacto com a jovem, uma fusão de forças do espírito comunicante, do médium, do ambiente, da fé dos pais e da própria necessidade da jovem.
Um conjunto de factores que, em reuniões sem esse recurso no exercício da mediunidade, não trariam êxito.
Logo após o atendimento à jovem, doutor Inácio prosseguiu incorporado, atendendo muitos outros casos.
Os diversos tratamentos seguiram por mais duas horas ininterruptas.
As mais esperançosas bênçãos eram espalhadas pela mediunidade com jesus.
Quando terminamos os atendimentos no mundo físico, após uma noite de muitas bênçãos espalhadas cm favor do bem, o grupo de trabalhadores que organizava os atendimentos e prestavam outros serviços se juntou ao nosso grupo mediúnico para nos ouvir em um diálogo amistoso e instrutivo.

1 O Hospital Esperança é uma obra de amor erguida por Eurípedes Barsanulfo no mundo espiritual.
Seu objectivo é amparar os seguidores de Jesus que se deparam com aflições e culpas conscienciais após o desencarne.
Informações mais detalhadas sobre o hospital podem ser encontradas no livro Lírios de esperança, obra de autoria espiritual de Ermance Dufaux e psicografia de Wanderley Oliveira, Editora Dufaux.
2 José Mário é o autor espiritual da trilogia composta pelos livros Quem sabe pode muito.
Quem ama pode mais, Quem perdoa liberta e Servidores da luz na transição planetária, psicografada por Wanderley Oliveira, Editora Dufaux.
3 Inácio Ferreira de Oliveira (Uberaba, 15 de abril de 1904 - idem, 27 de setembro de 19SS).
Foi um médico psiquiatra espírita brasileiro.
Observou, sem ideias preconcebidas, os diferem.es factos neuro psíquicos relacionados com os enfermos internados no Sanatório Espírita de Uberaba, do qual seria director clínico por mais de cinco décadas, tendo verificado a eficácia da terapia espírita para a cura de distúrbios mentais e/ou obsessivos.
Nesse trabalho, a médium dona Maria Modesto Cravo (mais conhecida como dona Modesta), o enfermeiro-chefe, Manoel Roberto da Silva, além de outros cooperadores, lhe foram de inestimável valia.
4 Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo apelido de “Rei do Cangaço”.
Irmão Ferreira é excelente trabalhador das regiões abismais.
Graças à sua índole corajosa e ao seu incomparável poder mental, tornou-se o que se pode chamar, segundo dona Modesta, um cangaceiro do Cristo.
Tendo vivido as lides do cangaço brasileiro, pernoitou longos anos de sofrimento em psicosferas pestilenciais, adquirindo vasta experiência sobre a maneira de actuação das trevas.
Após essa etapa, resgatado a pedido de Jesus e destinado a Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo, passou a compor o esquadrão de servidores da defesa no Hospital Esperança.
Reforma íntima sem martírio, capítulo 27, Editora Dufaux.
5 No final do século 19, surgiram no Nordeste brasileiro grupos de homens armados conhecidos como cangaceiros.
Esses grupos apareceram em função, principalmente, das péssimas condições sociais da região nordestina.
O latifúndio, que concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava às margens da sociedade a maioria da população.
Os cangaceiros, que andavam em bandos armados, espalhavam o medo pelo sertão nordestino.
Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção de resgates.
Aqueles que respeitavam e acatavam as ordens dos cangaceiros não sofriam; pelo contrário, eram muitas vezes ajudados.
O grupo mais conhecido e temido da época foi o comandado por Lampião.
Seu bando actuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
Depois do fim do bando de Lampião, os outros grupos de cangaceiros, já enfraquecidos, foram se desarticulando até o cangaço se extinguir, no fina da década de 1930.
6 Os ansiolíticos, se forem utilizados de maneira inadequada, podem relaxar a tenacidade da vontade, facilitando o processo obsessivo (N.E.).
7 Actualmente a goécia é muito vinculada à magia negra.
Porém, não se trata apenas de magia negra praticada por magos negros.
Nos tempos idos, a goécia era um seguimento de iniciações dos povos egípcios, caldeus, assírios e dos povos da Atlântida, utilizada como forma de libertação dos desequilíbrios da psique (N.E.).

2 - Tratamentos espirituais e antigoécia
[...] Por que não pudemos nós expulsá-lo?
E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pouca fé.[...]
Mas esta casta de demónios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum." Mateus 17-19: 21.

No plano físico, o grupo preparou o ambiente para as novas iniciativas.
Com pouco mais de 45 trabalhadores, formaram uma roda, em pé e de mãos dadas.
Uma nova oração foi proferida por Paolo, agora já em estado de lucidez depois de regressar ao corpo.
Aproximei-me de Suzana, médium com um coração de ouro.
Tinha 32 anos, era filha de espíritas e amava o serviço mediúnico e a prática da relação com o mundo espiritual.
Com facilidade, vinculei-me à sua faculdade psicofónica e saudei o grupo:
— Eu, Maria Modesto Cravo, abraço a todos espiritualmente, desejando paz e esperançai
O grupo, sob a condução de Elvira e Maurício, os dirigentes da casa, já estava acostumado com nossas palavras, respondendo-me com expressões de carinho.
Todos se assentaram e passamos à parte dos diálogos e instruções.
— Seja muito bem-vinda ao nosso ambiente, dona Modesta! - disse Elvira, com acolhimento.
Tivemos hoje muito serviço, pois cresce assustadoramente a busca por ajuda.
Estamos impressionados com a procura por nossa casa.
— Imagine que, para cada pessoa aliviada e orientada no mundo físico, pelo menos mais duas ou três têm suas vidas alteradas também no mundo dos espíritos.
Seus planos maléficos são interrompidos ou sua situação de dor é amenizada do lado de cá.
Considerando que o GEF assistiu hoje a uma centena e meia de pessoas no plano físico, entre tratamentos, passes e palestra, do lado de cá, quase quinhentos espíritos, de alguma forma, receberam bênçãos similares.
E tivemos nesta noite alguns casos que gostaríamos de destacar, considerando as necessidades futuras de amparo que estamos organizando.
O caso de Cibele, por exemplo, chamou a atenção de vocês?
— Muito, dona Modesta - respondeu Elvira.
Maurício e eu estávamos trocando ideias sobre o caso e temos muitas perguntas.
Doutor Inácio sempre faz esse favor de nos deixar com muitas dúvidas.
— É típico dele mesmo.
Fiquem à vontade para perguntar.
— Que espécie de culpa aqueles vampiros espirituais conseguiram colocar na jovem?
— Eles não colocaram a culpa, colocaram os implantes para teleguiá-la mentalmente.
A culpa é um registo da memória espiritual dela.
Pertence a ela de outras vidas.
Ela já foi traída e adoptou a vingança como solução, infelizmente, vindo a tirar a vida de um homem que hoje a persegue no mundo espiritual.
— Ele estava em nosso ambiente?
— Hoje não, mas vamos trazê-lo à medida que e a se empenhar em seu próprio tratamento.
Primeiro, queríamos retirar a interferência perniciosa dos vampiros, que são aproveitadores ocasionais.
Se ela corresponder às orientações de Inácio e adoptar novo procedimento, vamos cuidar dos compromissos planeados na reencarnação de Cibele, para trazer esse homem de volta pelos braços da sua maternidade.
— Esses vampiros estavam atendendo aos processos de goécia?
— Exactamente.
Os objectos pessoais, que estavam na bolsa que lhe foi roubada, foram usados em rituais de magia.
Fotos da carteira de identidade e de outros documentos foram arrancadas; seus óculos e outros pertences foram usados como condensadores energéticos potentes e de efeito imediato no seu campo mental.
— Perdoe-me a ingenuidade, dona Modesta, mas como a senhora fica sabendo de tantas coisas, se abraça outras tantas responsabilidades no mundo espiritual?

Até hoje tudo que lhe perguntamos foi confirmado com exactidão, o que nos impressiona.
Parece que vocês, fora do corpo, se tornam omniscientes, com uma capacidade de saber tudo. É verdade?
— Somos mais livres para exercer esse dom fora da matéria, com certeza.
Entretanto, algumas informações são obtidas na hora por parte das entidades que acompanham os assistidos.
Cibele, por exemplo, veio acompanhada de seu avô Raul.
Ele noticiou tudo que vinha acontecendo com ela e tem acompanhado o caso minuciosamente.
Foi por intercessão dele que ela chegou aqui.
— A atitude de Cibele, adoptando a traição conjugal com seu chefe, é o canal para a doença psíquica que a abate?
— Eu diria que a traição que eia tanto condenou no passado, em relação a outra pessoa, chegando ao ponto de tirar-lhe a vida, é ainda hoje uma explosão de revolta e ódio que permanece em sua alma.
Essa revolta, misturada com a culpa, é a abertura para a perturbação psíquica que ela sofre.
É um quadro depressivo em progressão rápida.
Sua imunidade energética está baixíssima, permitindo os ataques espirituais e o descontrole de suas próprias emoções.
Hoje ela cobra do chefe as promessas feitas pelo parceiro do passado, em torno das aspirações de união, família e felicidade, só que começa a perceber a ilusão a que se submeteu.
Sua revolta é um misto dos contextos do presente e do passado, fazendo com que ela se sinta novamente traída.
— Se ela não tivesse a culpa do passado, essa magia feita contra e a seria tão ofensiva?
— Certamente não.
Existem factores que interferem na dinâmica da magia.
Ela depende de três aspectos principais:
a habilidade do feiticeiro ou mago encarnado, a presença de condensadores energéticos e a condição íntima do alvo.
Essa habilidade do feiticeiro ou manipulador de forças no plano físico faz enorme diferença.
Existem pessoas muito bem preparadas para esse direccionamento de energias.
São profundas conhecedoras da magia e contam com uma assessoria espiritual de magos negros.
Isso as torna mais aptas a intercederem nos processos de goécia.
Esse agente emissor é capaz de orientar com maior precisão o contratante sobre os serviços adequados para se obter os resultados esperados.
Ele também escolhe, dentro da sua óptica de eficácia, os rituais mais propícios aos pedidos.
Há quem defenda uma divisão de nomenclatura, chamando de magos essas pessoas mais hábeis e de feiticeiros, os aprendizes, mas não adoptamos aqui essa diferença.
No caso de Cibele, ela foi alvo certeiro de tais forças.
A esposa de seu chefe a odeia e contratou o que havia de mais caro em serviços de despacho e encruzilhada, sob orientação de um mago encarnado das fileiras da quimbanda.
Os condensadores, no caso de Cibele, são os objectos roubados que potencializaram bastante a manipulação astral e também a fixação dos implantes colocados pelos vampiros.
Além disso, poucas pessoas reconhecem outro género de condensadores que, a rigor, são os que mais interferem nos processos de goécia:
os registos cármicos contidos na memória do corpo mental inferior.
Somente magos negros do plano espiritual com muito conhecimento conseguem detectar, com seu poder mental ou com aparelhos especiais, a existência desses registos.
No caso de Cibele, essa “leitura cármica” foi realizada.
No caso em pauta, os condensadores são os factores mais graves e os que melhor atendem aos objectivos inferiores da goécia.
Mais uma vez temos que referendar a habilidade do feiticeiro ou mago encarnado, que conta com os parceiros do plano espiritual para usar tamanhos recursos da magia.
A conduta actual do alvo a ser atingido é outro factor fundamental.
Cibele está perturbada por várias situações fora do seu controle, teme os acontecimentos terríveis que começam a tomar conta de sua tela mental diante da recusa do amante em atender-lhe os interesses de promoção no trabalho e sonhos afectivos.

Sente medo, revolta, culpa e decepção.
Possui caminhos mentais, já pavimentados no passado, que favorecem sua fragilidade energética e emocional.
Seus chacras cardíaco e solar estão quase em completo desequilíbrio, e o chacra frontal acolheu com facilidade os implantes dos vampiros espirituais, instalando o desarranjo mental.
— Quer dizer que, sem o sentimento de culpa, ela estaria sujeita somente à habilidade do feiticeiro e ao seu estado íntimo?
— Os vampiros assalariados que trabalham sob as ordens dos magos negros que assessoram o feiticeiro encarnado não encontrariam campo para os implantes, nesse caso, em função da ausência da culpa, mas poderiam usar outros sentimentos inferiores como alvo.
Os condensadores, então, seriam somente os objectos roubados, que sozinhos não garantem eficácia da intervenção.
Quase sempre não são mencionados esses registros nos corpos subtis em assuntos de goécia; no entanto, eles costumam ser os que mais determinam os acontecimentos.
Assim que respondi às perguntas de Elvira, o dirigente Maurício interveio com sua fala:
— Dona Modesta, agradeço seu carinho em nos responder.
— Passo com alegria, meu filho, aquilo que aprendi.
— Eu queria saber da senhora o seguinte:
por vezes preocupa-me a condição de segurança do nosso grupo diante de casos como esses.
Se Cibele foi alvo de tão hábil contrato de serviços inferiores, fico pensando que teremos como inimigos o feiticeiro, seus assessores e os vínculos que estão contra a iniciativa de nossa casa nos trabalhos cristãos e espirituais.
Como nos proteger disso, dona Modesta?
Em outros atendimentos parecidos, nosso grupo passou maus pedaços.
— Os grupos chamados a esse género de trabalhos, Maurício, recebem protecção especial.
Mesmo assumindo a condição de inimigos do trabalho do bem, essas entidades não são as que guardam maior interesse em se vingar de quem interfere em seus planos.
Hoje estamos aqui actuando em um dos seus trabalhos de goécia, desfazendo os caminhos do mal, mas é apenas um dos trabalhos deles.
Eles têm centenas de outros; a reputação e a divulgação de suas actividades não serão prejudicadas por uma iniciativa sob intercessão do Alto.
Os casos que mais trazem revanchismo e reacção espiritual não são estes, embora em uma ou outra iniciativa possa ocorrer uma reacção de revide.
— E quais seriam então os casos de maior revanchismo?
— As situações que apresentam maior possibilidade de pressões espirituais contrárias são as que dizem respeito às falanges organizadas.
Trabalho que ainda queremos ampliar nessa casa brevemente, dependendo, é claro, da intensificação de nossa parceria.
— Nossa, dona Modesta!
Será que estamos prontos para isso?
Mexer com falanges da maldade?
— Qual de nós se encontra pronto?
Servimos com o desejo de ser útil e aprender; entretanto, como ressaltei, nossa parceria necessita de algumas conquistas para adentrarmos nessa faixa de serviços.
— E que conquistas são essas, dona Modesta?
Diga para vermos se estão ao nosso alcance.
— A primeira é a condição interior dos médiuns e trabalhadores.
Todo médium que trabalha com Jesus deve ter como referência de êxito a sua quietude interior.
Quanto mais quietude interior, mais chances temos de chegar até o campo mental de vocês, e isso nos permite melhores condições para a protecção e o acesso aos seus corações.
Quietude interior é o resultado de um vínculo mais sólido e verdadeiro com a luz divina que está depositada em cada um de nós.

Algumas recomendações importantes para que o médium e os servidores da mediunidade possam escalar essa montanha de desafios são:
persistência no trabalho para aprimorar sua experiência, muita disciplina na vida, fazer da oração um hábito para asseio dos pensamentos, alfabetizar-se para entender as mensagens da sua vida emocional, aplicar com dignidade as energias da sexualidade e construir relações afectivas saudáveis.
Nesse receituário bendito, se você estudar com atenção, verá que se encontram todos os elementos necessários para educar a maior inimiga da paz interior:
a vaidade, que, sem dúvida, pode ser comparada a um furacão capaz de exterminar com todas as possibilidades de serenidade interior e organização da vida mental.
Todas essas recomendações, enfim, encerram um golpe de morte no apego ao ego.
Serenidade é a conexão com nossa melhor parte, é uma ligação livre e de bons efeitos com a nossa luz interior.
Quietude interior é o solo fértil sobre o qual são plantadas as sementes enriquecedoras que multiplicarão os frutos dos planos superiores.
Sem quietude, não existe disponibilidade mental.
Sem disponibilidade mental, não existe sintonia.
E sem sintonia, não há plantação mediúnica, protecção e laços consistentes.
— E a segunda conquista, qual é, dona Modesta?
— Uma convivência harmoniosa na equipe de trabalhadores, construída com aços afectivos inspirados na autenticidade, na humildade e no perdão.
Em nosso plano, aliás, essa imunização espiritual por meio de relacionamentos saudáveis e ricos de afectividade é considerada a principal fonte de protecção de qualquer casa que se erga em nome do Cristo.
Com essas relações, encontramos a energia da concórdia e da alegria como forças abundantes que nos permitem multiplicar os recursos do amparo e da orientação espiritual, precisa e eficaz.
Kardec, em O livro dos médiuns, capítulo 21, item 233, já ressaltou essa conquista como primordial:
“Em resumo: as condições do meio serão tanto melhores quanto mais homogeneidade houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instrução, sem ideias preconcebidas.”.
— E a senhora acha mesmo que um dia o GEF dará conta de tarefa de ta envergadura?
— Nossa equipe espiritual passou vários anos ao lado de vocês, sempre com o intuito de ampliar esse raio de trabalho para realizações desse porte, colaborando para que conquistem esse dois recursos fundamentais de imunização.
Nossa parceria vem alcançando níveis muito produtivos de lealdade e confiança em vocês.
Desejamos uma relação de amor e maturidade entre nós na busca da Verdade.
Creio que este seja também o anseio de vocês nas vivências do corpo físico.
Nosso maior objectivo, em tempos de regeneração para a maioridade espiritual do planeta Terra, é auxiliá-los no alcance da maturidade no trato com as questões do intercâmbio entre os mundos físico e espiritual.
E, para que isso ocorra, as frentes de serviço necessitam ampliar seu leque de experiência.
Os grupos mediúnicos sérios, assim como os médiuns que se candidatam a essa promoção no trabalho, são avaliados de dez em dez anos.
Simbolicamente, o “vestibular” dos aprendizes da mediunidade é realizado de década em década.
Se o grupo ou o médium supera as lições de cada etapa, alcança melhores condições de sensibilidade para o trabalho e. igualmente, concessões especiais de protecção.
Muitos médiuns não querem disciplina, compromisso e humildade no exercício da sua faculdade espiritual.
Por essa razão, compreendemos os dirigentes que, muitas vezes, são rigorosos e exigem muito dos médiuns, pois, do contrário, é só vaidade, delírio em suas produções mediúnicas e melindres.
Também não deixa de ser verdade que há muitos médiuns que estão prontos para expressar uma opinião pessoal e se impor mais em sua actividade, e acabam sendo marionetes nas mãos de todos, acreditando que ser médium é nunca ter uma opinião pessoa sobre sua própria tarefa.
Resultado: acabam desanimando e abandonando tudo em um louco estado mental de confusão.
As condições de afinidade entre os membros da equipe encarnada são de fundamental importância, e por essa razão consideramos esse ponto como prioritário aos serviços em nome do Cristo.

Nosso projecto de amor para ampliar os benefícios desse trabalho mediúnico a outros campos mais amplos não visa somente atender ao sofrimento dos que padecem à obsessão complexa decorrente das acções das organizações do mal.
Sobre tudo, ao matriculá-los nesse serviço delicado, estamos igualmente concedendo-lhes a oportunidade de crescimento e solidez na conquista de seus valores eternos no campo do espírito.
É um aprendizado muito vasto e libertador de consciências.
— Ai, dona Modesta!
Vou deixar que outros do grupo falem, porque eu me sinto muito incapaz diante de sua fala.
— Como você se sente diante da proposta, Maurício?
Fale por você.
Seja sincero e depois ouvimos o grupo.
— Embora deseje ardentemente a oportunidade, há alguns pontos que não consigo esconder de ninguém.
Já os apresentei várias vezes ao grupo.
Eu sinto saudades da nossa actividade como era há quatro anos, antes da adesão dos novos médiuns que deram outros rumos ao trabalho com a assistência de vocês.
Confesso minha alegria em ser útil a tantas pessoas, mas me pergunto se é mesmo esse o objectivo da mediunidade e o caminho a seguir.
Aprendi que mediunidade é para ser utilizada em benefício dos espíritos desencarnados e, mesmo vendo tantos resultados positivos com nossa actividade, algo me incomoda profundamente.
— Do que se trata, Maurício?
Seja franco. Isso será bom para todos nós.
— O GEF, desde a adesão a essas novas frentes de serviço de tratamento espiritual, passou a ser muito criticado pelos órgãos oficiais do Espiritismo.
Em várias reuniões da entidade unificadora de nossa cidade, chamaram minha atenção.
Tento contemporizar, mas a cada dia surgem mais notícias que me deixam inseguro sobre os rumos que seguimos.
Para ser franco, estou dividido e fazendo um esforço enorme para aderir a essa nova ordem de práticas c ideias.
— Sou grata pela sua honestidade. Isso é muito valoroso nos serviços do Cristo.
Eu gostaria que você me respondesse, com a mesma sinceridade:
você quer servir aos órgãos oficiais ou ao Cristo?
— Ai, que pergunta é esta, dona Modesta?
Acho incompreensível essa divisão.
— Você está querendo servir a dois senhores, meu filho.
Usando da mesma sinceridade, o que tenho a lhe dizer é que isto é impossível.
São caminhos e aprendizados distintos.
— A senhora acha, então, que as entidades unificadoras não são serviços do Cristo?
— Claro que são!
Entretanto, são ambientes que atendem a necessidades distintas, tanto com relação ao trabalho quanto no que diz respeito às diversas necessidades de seus colaboradores.
A comunidade espírita, em sua maior abrangência, reúne espíritos com lutas conscienciais muito graves nas questões exteriores da religião.
Somos aquele filho pródigo da passagem evangélica fazendo o caminho de volta para o Pai, em busca de nossa própria redenção.
Essa divisão de formas de trabalhar já aconteceu na Casa do Caminho em Jerusalém, que, tomada pelo artificia ismo do judaísmo reinante daquele tempo, impôs a Tiago uma actuação diplomática para proteger os trabalhos, enquanto Paulo de Tarso foi a melhor representação do servidor corajoso e ousado, disposto a enfrentar os padrões para servir a Jesus e sua causa.
O movimento espírita mais ortodoxo é uma escola preparatória que renova principalmente a forma de pensar dos aprendizes nele inseridos.

Esse é o primeiro passo.
Entretanto, com oportunidades como as que experimentamos aqui, estamos tendo a lição do aprimoramento pelo coração.
Vejo tais escolas como complementares e, se pensarmos bem, nem há tanta divisão.
Existem escolhas diferentes por aprendizados que cada um necessita.
Em ambas, havendo a presença da atitude de amor, a luz do Cristo brilhará.
— Mas os órgãos oficiais já chegaram a pedir o desligamento forma de nossa casa, que é adesa aos movimentos de unificação.
Eles entendem que estamos seguindo uma direcção errada doutrinariamente.
— Que movimento de unificação é esse, meu filho, que não une os diferentes?
Quando nós, os mais ousados, ou quando eles, os mais ortodoxos, adoptamos a postura da exclusão, da indiferença, do zelo excessivo e do autoritarismo, passamos uma declaração incontestável de que não estamos honrando a essência.
Não importa se estamos aqui nas frentes mais abertas de serviço ou se á nos ambientes mais formais.
O que importa é que estejamos com as lições sublimes do Evangelho em prática.
Um órgão que exclui uma casa porque ela não se enquadra nos padrões que ele acredita ser os padrões do Cristo apenas repete as velhas atitudes de desamor e separatismo religioso de outros tempos, impondo-se uma tarefa que não compete a nenhum de nós.
— Eu me sentiria mais seguro com o aval deles.
— Nosso único aval na obra do Cristo, meu irmão, é a nossa consciência.
— Eu me sinto muito cobrado, dona Modesta.
Talvez, para vocês que estão no mundo espiritual, as coisas sejam mais fáceis nesse sentido.
Aqui no plano físico existe muita divisão.
— Eu lhe entendo.
Apenas peço que recorra à sua memória.
Foi pelo coração que você entrou nessa tarefa.
Sua esposa foi a primeira beneficiada com os recursos da misericórdia divina. Lembra-se disso?
— Sim, e sou muito grato por isso.
Quando penso nas pessoas e em suas dores e o quanto elas recebem desta casa, acredito que seja esse o motivo que ainda me mantém disposto a continuar.
Mesmo assim, sinto que fui “atropelado” há quatro anos e ainda não me recuperei.
Por essa razão eu exponho minha dúvida.
Vou deixar de falar pelo grupo, mas, falando por mim, eu não sei se estou pronto para ir além.
Essa nova proposta vai ter de ser muito discutida entre nós.
— Acho muito saudável essa discussão, Maurício.
Ao tratarmos do assunto com vocês, não queremos uma resposta imediata.
Apenas lançamos a semente.
Guardando sinceridade fraterna, Maurício caiou-se pensativo e um tanto tenso diante da minha fala, enquanto Elvira, a outra dirigente do GEF, manifestou-se:
— De alguma forma, dona Modesta, sinto o mesmo que Maurício.
Sei lá, parece que nós, dirigentes, somos muito racionais.
Normalmente, os médiuns se entregam mais.
E eu faço o mesmo questionamento:
será que estamos prontos?
— Ter prontidão é muito diferente de estar pronto.
Nossa proposta não é apenas um convite para uma nova frente de labor, mas uma promoção sujeita a desafios e lutas.
Ninguém deve assumir uma responsabilidade com excesso de certeza, como também ninguém deve abandoná-la sem um exame em grupo, com muita honestidade e reconhecimento de seus limites.
Os aprendizes deste complexo trabalho devem construir a sagrada noção da oportunidade na qual se inserem.

Matricular-se nessa escola de socorro significa oferecer-se ao sublime ministério de sacrificar-se pelos que padecem nas dores acerbas em ambos os planos da vida.
Envolver-se em prol dos interesses espirituais que unem almas em desalinho nos tristes quadros da dor significa cumprir gloriosa missão imunizadora em regiões assoladas por epidemias mortificantes ou ingressar em atoleiros infecciosos à procura de diamantes atirados aos leitos da imundície e da crueldade.
Consideremo-la também como um tratamento psicoterápico de profundidade à luz do Evangelho.
Compreendo seu temor, minha filha, e prefiro que mantenham essa cautela a respeito de si mesmos, embora a nossa equipe espiritual guarde a esperança de que aceitem as novas lições.
— A senhora pode nos dizer se outros grupos espíritas já assumiram esse compromisso?
Como eles se encontram hoje?
— Centenas de grupos estão cadastrados no Hospital Esperança e já realizam esse género de tarefa peio Brasil afora.
— Que nome daremos a essa tarefa?
— Ela não precisa de um nome.
Entre nós, porém, por costume e também porque representa um ideal a ser consolidado no mundo físico, a chamamos de “Espiritismo com espíritos”.
— E como se encontram esses companheiros que assumiram essa tarefa?
— A maioria está dando conta do serviço e superando as lutas decorrentes da tarefa.
— E existe algum ponto em que não estejam se saindo bem?
— Sim, existe. Exactamente na questão da convivência fraterna que, como citei a vocês, é um dos dois maiores desafios nessa actividade.
— Esse é meu temor... - disse Elvira em tom melancólico, como se transferisse uma queixa a alguém do grupo.
— Qua! de nós, minha filha, não teme nesse sector a dificuldade de viver as lições do Evangelho?
— Para ser franca com a senhora, eu acho o povo muito viciado em maca e espíritos.
Acho que, se estudassem mais, dariam conta de suas lutas com mais tranquilidade e êxito.
— Nos dias atuais, Elvira, as multidões estão mais carentes e famintas de conforto do que de esclarecimentos.
Uma dose de carinho e acolhimento pode ser muito mais impactante do que anos de filosofia espírita.
São muitos os aprendizados novos, não é mesmo?
Desejosas de aprender e de valorizar a ocasião, várias pessoas, a um só tempo, falaram entre si do quanto seria bom trabalhar dessa forma.
Até que Irineu, um dos colaboradores, insistiu na pergunta:
— Eu só gostaria de voltar ao assunto da nossa protecção, dona Modesta. Posso?
— Irineu, vou fazer uma proposta mais interessante a vocês do que a de continuar nesse enfoque.
Já que andam tão preocupados com isso, que tal marcarmos uma conversa entre vocês e o irmão Ferreira, que cuida das linhas de defesa do Hospital Esperança?
O grupo reagiu muito favoravelmente a minha sugestão.
Ficou estabelecido que iriam discutir entre eles as considerações sobre a nova tarefa e que, posteriormente, teriam uma conversa com Ferreira.
E, para encerrar os diálogos instrutivos daquela noite, recordei-lhes a passagem na qua os discípulos perguntam a Jesus por que eles não conseguiram expulsar um demónio.
Ele lhes respondeu que essa casta de espíritos só pode ser atingida com muita oração e jejum.
A oração da conduta recta que nos leva à consciência tranquila e o jejum da arrogância que nos fascina imperceptivelmente são caminhos para a serenidade e o segredo para a convivência resguardada das nossas projecções sombrias.
A recomendação do mestre é a melhor indicativa de protecção para quantos se afeiçoam às trincheiras de serviço nesse momento decisivo no planeta.
Oração para nos conectar com as forças maiores e jejum de tudo aquilo que pode ainda nos colocar em sintonia com as trevas de dentro e de fora.

3 - Desdobramento pelo sono - alertas
"Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobo; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.” Mateus 10:16.

As actividades nocturnas do GEF haviam terminado pontualmente às 23 horas.
Os amigos encarnados despediam-se apressadamente à porta para retornarem aos seus lares.
Somente permaneceram nas instalações Maurício, Suzana e Elvira, a pedido de Paolo, que queria lhes fazer um convite particular.
— Desculpem, amigos, eu deveria ter lhes procurado antes, mas as muitas tarefas me impediram.
Realizarei um encontro no próximo sábado em minha residência, e gostaria imensamente de contar com a presença de vocês três, representando o nosso grupo espírita.
Aqui neste cartão - e distribuiu um envelope a cada um - consta meu endereço e a hora em que vamos nos reunir.
— É seu aniversário? - perguntou espontaneamente Suzana, sorridente.
— Não, Suzana, não é.
Chegou o momento de contar-lhes sobre uma parte da minha vida que vocês ainda não conhecem.
Não vejo mais como deixá-los de fora desse meu mundo particular, considerando que nossa amizade e confiança crescem a cada dia.
Em verdade, é uma cerimónia íntima, para poucas pessoas, na qual pretendo formalizar a data de meu casamento com meu namorado Carlos.
É um casamento gay.
Eu conto muito com a presença de vocês.
Será uma honra para mim ver a minha família, os amigos da empresa e os companheiros do centro espírita reunidos.
— Que legal! Muito bom
Eu já confirmo com você agora - respondeu Suzana.
— Elvira e Maurício, posso contar com vocês?
— De minha parte, não acho que tenha nenhum problema - respondeu Elvira.
— Da minha também acredito que não haja empecilhos - falou Maurício, um tanto sem jeito e surpreendido com a notícia.
Muito rapidamente fecharam a casa e se despediram, seguindo cada um para sua residência.
Como era costume Elvira pegar carona com Maurício, foram comentando:
— Eu sempre achei que tinha algo de diferente nesse rapaz, Elvira
— Estou engasgada com a noticiai Jamais poderia imaginar!
Um rapaz tão bonito, tão masculino e belo, e gay.
Você pretende mesmo ir a um tipo de evento desses?
— Elvira, minha cabeça está dando mil voltas, mas uma coisa lhe garanto:
não perco essa oportunidade de jeito nenhum!
Quero ver isso de perto.
— Então vou com você.
Pode me dar uma carona no sábado?
Com certeza, faço questão de estar ao seu lado.
Precisamos tirar isso a limpo.
Deus Estou chocada
A equipe espiritual do Hospital Esperança, composta por José Mário, Inácio, irmão Ferreira e os demais colaboradores, dividiram-se para acompanhar os integrantes do grupo no regresso seguro aos seus lares.
Regressei ao hospital para preparar outras iniciativas de socorro e amparo.
Paolo e Suzana, médiuns do GEF, participariam, pelo desdobramento durante o sono, da tarefa de amparo na câmara de ovóides, oportunidade na qual queria lhes endereçar alguns alertas pessoais.

Na ocasião, as câmaras que abrigavam os ovóides, espíritos que perderam sua forma perispiritual, contavam com centenas de casos promissores de recuperação.
O Hospital Esperança é referência em tratamentos dessa natureza.
Uma ala destinada a cirurgias delicadas foi criada com todas as condições para que os encarnados, em condições apropriadas, pudessem participar activamente do tratamento.
A energia doada por médiuns encarnados, em desdobramento, age como uma medicação essencial.
O simples contacto com o perispírito do médium, potencializado pejas energias físicas do corpo, propicia maior capacidade de activar energeticamente, no vibrião, as células regeneradoras da forma humana perdida no seu corpo mental.
Já passava de meia-noite quando Suzana, Paolo e dezenas de médiuns desdobrados, vindos de diversas tarefas no mundo físico, chegavam em companhia de seus tutores espirituais.
Macas comuns eram dispostas ao lado das pequenas câmaras de regeneração que abrigam os ovóides.
Elas não passavam de sessenta centímetros de comprimento por quarenta de largura.
Os médiuns se deitam nas macas e, em torno dela, aproximadamente, quatro pequenas câmaras são posicionadas.
Cada médium pode fornecer fluidos mais densos para até quatro tratamentos.
Os médiuns recebiam nas mãos e nos pés delicadas agulhas conectadas a finas mangueiras que transportam o fluido, em um processo muito similar ao da transfusão de sangue do mundo físico.
Cheguei ao ado de Paolo, que guardava plena consciência durante o desdobramento, e puxei a conversa.
— Jesus o proteja pela sua dedicação
— Sou eu que agradeço a senhora por poder ser útil à dor humana.
Ter sua companhia ao meu ado é para mim motivo de segurança e alegria.
— Meu filho, enquanto você participa da doação de ectoplasma, gostaria de lhe trazer uma reflexão sobre as tarefas no GEF.
— Sim, dona Modesta, estou de coração aberto.
— O GEF vem cumprindo com desenvoltura os projectos de assistência em favor do próximo apesar do jugo ca obsessão e das sombras no astral.
Poucos são os grupos mediúnicos que atenderam aos chamados das esferas espirituais do Mais Alto para a realização dessa tarefa, que exige muito desprendimento e doação.
Evidentemente, como sempre acontece aos grupos que mergulham nos ambientes da dor e da tormenta para levar a luz, sempre existe a reacção daqueles que se sentem agredidos com os serviços do Alto.
Temos nos esforçado com as equipes para contornar obstáculos e oferecer a protecção justa a todos que se prontificaram a ser/ir nessa tarefa.
Ainda assim, como é natural, muitas portas de invigilância não são fechadas devido ao aprendizado inerente a quem se encontra matriculado nesse aprendizado de amor.
Na actualidade, raríssimos grupos mediúnicos conseguiram construir uma relação de confiança sólida e capaz de suportar as mais duras adversidades dos testemunhos morais e espirituais nos roteiros da compreensão e do apoio mútuo.
Quase sempre o melindre e a mágoa geram na mente dos trabalhadores lastimáveis e estéreis conflitos de opinião e pontos de vista.
A advertência de Jesus é mais que oportuna às nossas reflexões deste momento, quando diz que nos envia como ovelhas ao meio de lobos e nos recomenda sagacidade e mansidão.
Quanto menos confiança houver nas relações, mais prudência será exigida da conduta pessoa .
Nossos companheiros de ideal no mundo físico, junto às fileiras do Espiritismo com Jesus, atravessam um momento de inevitáveis transformações.
As referências conceituais a respeito de fundamentos espíritas ou de modelos de trabalho estão em plena evolução.
Existem aqueles mais conservadores no modo de pensar, enquanto um grupo enorme e crescente de formadores de opinião avançam destemidamente para a criação de novas e necessárias rotas de trabalho e a condução dos ideais da doutrina.

Em meio a essa crise necessária à quebra de paradigmas, tornam-se inevitáveis os choques de opinião.
Nossos ideais mais nobres e sinceros são como ovelhas em meio ao ambiente cercado por lobos vorazes, que se escondem em nossa própria intimidade.
Lobos aqui representados pelo preconceito, pela incapacidade de amar os diferentes e pela nossa distância da lei do amor vivido e praticado.
Por essa razão, depois de vários exames realizados em nossas equipes de assistência no Hospital Esperança, viemos pedir muita prudência a você e a todos os médiuns nas mais diversas instituições doutrinárias.
A mansidão das pombas não pode ser confundida com a ingenuidade nos relacionamentos.
A pretexto de confiar nos irmãos de ideal, acautele-se com seus costumes, para que você não seja surpreendido pelas dificuldades que mencionei.
Existe muito preconceito e arrogância, expressões sombrias dos lobos vorazes camuflados na pele de ovelhas, que nada mais são que verniz social que não resiste ao toque dos testes morais mais nobres no terreno do amor incondicional.
Paolo mantinha-se atento e preocupado com minha fala, enquanto fazia sua doação de ectoplasmas aos ovóides deitado na maca.
E, inquieto, indagou:
— A senhora acha que meu procedimento está extrapolando de alguma forma?
— Você confia demais, Paolo.
Tem um coração bom.
Terá que aprender a ser mais discreto em relação à sua vida pessoal.
— A senhora poderia ser mais clara?
Tem algo a ver com os questionamentos de Maurício hoje em nossa tarefa?
— Ainda não posso falar.
Apenas retenha na sua tela mental o meu pedido.
E guarde-se nos cuidados necessários.
Não sinta minha fala como algo dirigido exclusiva in ente a você.
Em verdade, todo grupo que se organiza nas lides cristãs, desde os primeiros momentos do colégio apostólico com Jesus, é testado em seus anseios de luz por meio da conivência.
Pedro negou, Judas traiu e nós, que somos candidatos ao serviço do amor, não possuímos aptidões que nos assegurem melhor conduta.
Ao regressar ao corpo, guarde apenas o sentimento de cautela e reserva relacionado a assuntos pessoais.
Os julgamentos entre religiosos costumam ser os mais cruéis. Compreendeu?
— Sim, dona Modesta, vigiarei meus impulsos.
Deixei Paolo no cumprimento de sua tarefa e passei por várias macas, fortalecendo os ideais daqueles médiuns, até chegar à Suzana, que disciplinadamente oferecia seu fluido animal àquela actividade.
— Querida Suzana, Jesus lhe proteja, minha filhai
— Dona Modesta, mãe bendita, permita-me beijar sua mão.
Que alegria ter hoje a sua presença em nossa tarefai
— Sempre que posso, aqui estou.
Hoje vim trazer algumas recomendações a diversos médiuns.
— Se tiver algo para mim. por favor, fale sem rodeios, dona Modesta.
— Tenho sim. Suzana.
Nosso querido amigo, José Mário, que coordena inúmeras responsabilidades na esfera da mediunidade aqui no hospital, tem acompanhado de perto as abençoadas frentes de serviço do GEF.
E o próprio já lhe trouxe apontamentos preciosos sobre esse assunto, mas julgou que eu, tida como mãe afectiva, seria mais indicada a lhe trazer algumas reflexões.
Seus esforços legítimos como médium são como instrumentos valorosos no serviço do bem.
Mais que justo que o próprio médium também se beneficie daquilo que oferece.
Seus desafios como mãe de adolescentes são provas de aperfeiçoamento para os seus dias.

Com essa sua mediunidade saneadora, o típico “médium-esponja” como se denomina no meio espírita, seus cuidados na conduta emocional exigem muita disciplina sobre suas características de mulher controladora que ultrapassa muito os limites da mãe zelosa e cuidadora.
A pessoa controladora tem um tipo emocional que absorve tudo o que é dos outros para si.
Ao fazer o movimento íntimo de podar, vigiar e manter sob vigília com excessiva intensidade a vida de quem ama, o controlador puxa para si o peso das lutas alheias como se mantivesse uma “coleira” afectiva sobre as pessoas.
Por meio dessa conexão enfermiça, carrega em sua aura espessa camada de potência energético pertencente ao outro.
Não será exagero definir essa relação simbiótica, de troca e intercâmbio, como um “vampirismo materno”.
E ao seu potencial energético emocional ainda se soma seu poder mediúnico, que funciona como uma força adiciona’, potencializando sua sensibilidade relacionada a todas as sensações decorrentes desse processo.
Daí surge sua condição de esgotamento e inquietude para o descanso necessário e o cumprimento do dever que, genuinamente, lhe compete.
Você está vivendo um processo emocional de simbiose afectiva controladora, com sua conduta emocional, agravado pela sua qualidade mediúnica saneadora.
— Dona Modesta, confesso, estou assustada!
Que fazer com essa índole de mãe coruja?
— Educar-se, minha filha!
As mães não estão prontas.
Ao se tornarem mães, apenas iniciam um curso de aprendizagem intensa e de longa duração.
— Que estranho, dona Modesta!
— Diga, Suzana.
— Ouvindo a senhora falar, fico com uma sensação de vazio em relação aos cursos que fiz para o exercício da mediunidade no GEF.
Aprendi a orar, a me concentrar; conheci todos os tipos de trabalho mediúnico, como os cuidados de conduta física do médium; estudei profundamente a obsessão, entre outros temas profundos de preparação, e, de repente, quando a senhora, com todo seu carinho, me adverte sobre esse meu lado controlador, tenho a sensação de que nada do que aprendi valeu a pena ou me ajudou.
— Você não deixa de ter razão, Suzana; conquanto, não devemos ser tão exigentes.
Os cursos auxiliam e são fundamentais.
A questão é que poucos são os médiuns que já perceberam ou estão sensíveis aos novos quesitos para o exercício mediúnico em tempos de regeneração.
Mais que preparo intelectual, as organizações do Espiritismo cristão que almejam melhores resultados na preparação de seus colaboradores haverão de se lançar a esforços que visem a um aprimoramento da maturidade emocional dos médiuns e cooperadores do serviço.
Os tempos são outros.
Os modelos de trabalho da seara passarão por profundas revisões conceituais, considerando o progresso já obtido na relação do mundo físico com o mundo espiritual.
A regeneração na Terra atingirá igualmente a comunidade espírita, que será convocada a reexaminar seus caminhos, não só na mediunidade.
— Eu jamais pensei nesse aspecto e, mesmo estudando as orientações morais de O Evangelho segundo o Espiritismo, tenho a nítida sensação de que pulei esse capita o sobre a mania de querer controlar tudo.
Eu confundo muito obrigação com controle.
Minhas filhas já não estão me suportando mais, e meu marido, sei lá, acho que já desistiu.
A senhora poderia clarear o assunto em minha mente, para que eu possa fazer algo por mim mesma, querida mãe?
— Peça demissão do cargo de Deus.
Pare de tentar controlar a tudo e a todos.
A vida é para ser vivida e não vigiada, fiscalizada.

Siga seu caminho.
Liberte-se da ânsia improdutiva e arrogante de atingir suas metas pessoais em relação a pessoas e situações.
Faça seu melhor. Só isso.
O que tiver de ser, será.
Deixa esse SERÁ para Deus, que não é você.
Para Deus, que verdadeiramente tem competência e vontade sábia para fazer aquilo que não cabe a você fazê-lo.
As pessoas controladoras tentam controlar a realidade e o passado, para abafar a dor da mágoa e das contrariedades que lhe feriram o coração.
Jogam para baixo do tapete o que sentem.
E tentam controlar o futuro, querendo prever e remediar todas as possibilidades de acontecimentos indesejáveis.
Fazem-se de malabaristas, tentando equilibrar o universo.
Na verdade, os controladores são perfeccionistas, idealizam a vida e as pessoas o tempo todo, querem tudo a seu modo.
Não há outra palavra para defini-los:
são egoístas refinados e inteligentes, tentando tomar conta de tudo.
Fogem o tempo todo da realidade porque sentem muito medo.
Medo de que aconteçam coisas que eles não gostariam que acontecessem.
Não são pessoas más, são escravas de um vício milenar, que é o egoísmo de querer tudo do seu jeito.
A realidade não é para ser controlada, é para ser vivida.
O medo, quando toma forma de controle, é um desastre, podendo levar à depressão e a péssimos relacionamentos.
— A senhora é tão generosa!
Com tantos afazeres, ainda tem tempo para mim!
Estou me achando uma louca com sua fala, mas eu mereço.
— Essa disponibilidade de nossa parte para o amor, minha filha, é mais que justa em instantes de tanta carência e ausência de afecto na humanidade.
Que será de nós, na escola terrena, se não nos unirmos e nos apoiarmos uns aos outros?
Chega de tanto conflito e oposição improdutiva!
Nos serviços do bem. principalmente, escasseia-se o contacto amoroso e motivador.
Os médiuns travam batalhas muito árduas consigo mesmos e raros estão encontrando ambiente acolhedor e fraterno que lhes refaçam as forças e estimulem a caminhada.
Ao chamar sua atenção visando à sua melhora, Suzana, eu o faço como retribuição aos seus esforços consideráveis na perseverança do trabalho mediúnico e na tentativa de atenuar suas imperfeições.
O homem espírita reencarnado tem supervalorizado a actuação das sombras sobre seus passos vacilantes na tarefa do bem.
Todavia, estamos todos precisando valorizar um tanto mais os servidores da luz que se empenham em promover condições preciosas que retratam a bondade cedeste e a misericórdia paternal.
Temos ouvido muito falar nos dragões e estamos nos esquecendo de falar dos “anjos", aqueles que, em esferas mais nobres ou mesmo em nossos planos de acção, enriquecem a vida de optimismo, fortalecimento da fé e enobrecimento do melhor que existe em cada um de nós.
Ao iluminar sua caminhada, eu mesma me beneficio da luz que espalho.
Todas as noites, grupos diferentes, provenientes das mais diversas loca idades, cumprem com essa tarefa de amor no Hospital Esperança.
Muitos deles passam quase a noite inteira em processo de doação e cooperação nas tarefas, junto àquela câmara de dor dos ovóides internos.
Eram muitas minúcias a serem cumpridas.
Limpeza de secreções, transfusão de fluidos e ectoplasma, além da separação de corpos nos ovóides, uma tarefa muito complexa, considerando que seu corpo mental se encontra como um diamante aprisionado em uma pedra de mármore disforme.

Enquanto trabalhamos, aproveitamos para orientar os médiuns, socorrer suas angústias e chamar-lhes a atenção.
Aproveitei naquela noite o clima emocional de Suzana e Paolo para considerações urgentes que poderiam afectar a própria actividade no GEF.
Condutas que poderiam gerar conflitos e apresentar riscos ao trabalho.
Não foi sem razão que o Mestre advertiu:
“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas”
O que muitos não ponderam é que os lobos, muitas vezes, estão mais próximos de nós do que imaginamos.

4 - O muro que separa as pessoas
"Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.” João 8:15.

No fim de semana seguinte a esse diálogo com os companheiros do GEF, aconteceria o primeiro momento de exames morais.
Uma década de actividades mediúnicas e quatro anos de preparação para esse momento novo, no qual os companheiros seriam testados em suas habilidades de amar.
Era sábado e à noite haveria o encontro na casa de Paolo.
Era um encontro mais íntimo entre aproximadamente quarenta pessoas.
Elvira, Maurício, Suzana e mais alguns companheiros do GEF foram convidados para a festa da noite e estariam presentes.
Essa intimidade não era comum no grupo, especialmente com Paolo, que era muito reservado.
Pouco sabiam sobre sua vida pessoal, a não ser as questões sobre seu sucesso profissional como economista.
Aliás, esse comportamento costuma ser inerente a muitos grupos espíritas.
As pessoas se conhecem como tarefeiros há muito tempo e somente se percebem como médiuns, dirigentes, oradores e outras posições de actuação.
A comunidade espírita perdeu muito no seu crescimento com essa postura.
No meu tempo, lá pelos idos de 1930 a 1950, as coisas eram muito diferentes, lanchávamos praticamente todos os dias um na casa do outro.
Éramos vizinhos e isso permitia um maior grau de aproximação.
Talvez essa seja uma das razões de super valorizarmos os papéis e as funções, hoje tão priorizados no centro espírita.
Ser médium, dirigente, passista, orador passou a ser visto como ter insígnias, diferenciais de evolução, e isso afasta as pessoas afectivamente.
Reconheço que o mundo mudou, é verdade.
O tempo é mais escasso e a distância, maior.
Isso de alguma forma favorece esse distanciamento, tão prejudicial nas relações.
Ainda bem que as coisas estão caminhando para novas propostas de aproximação afectiva.
Os grupos já se ocupam em preencher esses vazios e estabelecer encontros fraternos e amigáveis, como o fez Paolo.
Na noite tão esperada para o encontro, fui uma das primeiras a chegar à casa de Paolo, junto com Inácio e alguns amigos espirituais ligados ao GEF.
Adoro festas! Eu me divirto muito nessas ocasiões!
Adoro andar arrumada e elegante.
Esse sempre foi um traço meu.
Cultuo o cuidado pessoal como um mecanismo de saúde e equilíbrio psíquico na minha vida.
Paolo estava muito alegre e seu apartamento era um luxo.
Era um rapaz de apenas 32 anos, com muita bagagem e desprendimento.
Embora eu já tenha estado ali várias vezes, nunca o fiz para me divertir.
Aproveitei a ocasião para fazer o que já tinha tido vontade em outros momentos em que lá estive, para diálogos e contactos mediúnicos com o jovem.
Agora, uma pequena pausa para um relato pessoal.
Quando entrei na cozinha de Paolo, sinceramente, me deu vontade de reencarnar!
Sem exagero, tinha uns sete ou oito metros quadrados!
Parecia um restaurante.
As luzes expostas acima da bancada davam a impressão de uma obra de arte.
A vontade que me deu foi de ficar rodando em volta, apreciando os detalhes.
A modernidade me encanta!
Lembrei-me de meu primeiro fogão a gás nos idos de 1935.
Que luxo esse aqui.