LUZ ESPÍRITA
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O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:03 am

Continua...

V.Não será admissível, segundo querem alguns, que o médium se ache em estado de crise e goze certa lucidez, que lhe dá a percepção sonambúlica — espécie de dupla vista —, que aliás nos pode explicar a ampliação momentânea de suas faculdades intelectuais?

Porque, dizem, as comunicações obtidas pelos médiuns não vão além do alcance das que nos dão os sonâmbulos?


A. K. — É ainda esse um desses sistemas que não resistem a um exame aprofundado.

O médium nem se acha em crise nem dorme, mas está perfeitamente acordado, agindo e pensando como os outros, sem nada apresentar de extraordinário. Certos efeitos particulares deram lugar a essa suposição;

porém, quem se não limitar a julgar as coisas, por uma só face, reconhecerá sem dificuldade que o médium é dotado de uma faculdade particular, que não permite confundi-lo com o sonâmbulo, sendo a independência do seu pensamento demonstrada por factos da maior evidência.

Abstraindo das comunicações escritas, qual o sonâmbulo que fez alguma vez sair um pensamento de um corpo inerte?

Qual deles pôde produzir aparições visíveis e, mesmo, tangíveis?
Qual fez que um corpo pesado se mantivesse suspenso no ar, sem ponto de apoio?

Será por efeito sonambúlico que certo médium desenhou, um dia, em minha casa e na presença de vinte testemunhas, o retrato de uma jovem, morta havia dezoito meses e a quem ele não conhecera, retrato reconhecido pelo próprio pai da jovem, presente então à sessão?

Será por efeito do mesmo género que uma mesa responde com precisão às questões propostas, mesmo feitas mentalmente?

Certamente, se admitirmos que o médium se ache em estado magnético, parece-me difícil crer que a mesa seja sonâmbula.

Dizem, ainda, que os médiuns só falam com clareza daquilo que é conhecido. Como explicar o fato seguinte e cem outros da mesma espécie?

— Um dos meus amigos, muito bom médium escrevente, perguntou a um Espírito se uma pessoa que ele tinha perdido de vista, havia quinze anos, era ainda deste mundo.

“Sim, ainda vive, foi-lhe respondido; mora em Paris, rua tal, número tanto.”
Ele foi e encontrou a pessoa no lugar indicado.
Seria isso uma ilusão?

Seu pensamento poderia sugerir-lhe tal resposta, quando, por causa da idade da pessoa por quem ele perguntava, havia toda a probabilidade de ela não existir mais?

Se, em certos casos, vemos respostas combinarem com o pensamento de quem pergunta, será racional concluirmos que isso seja uma lei geral?

Nisso, como em todas as coisas, são sempre perigosos os juízos precipitados, porque eles podem ser desmentidos pelos factos que ainda se não observaram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:04 am

NÃO BASTA QUE OS INCRÉDULOS VEJAM PARA QUE SE CONVENÇAM

V.
O que os incrédulos desejam ver, pedem, e na maioria das vezes não se lhes fornece, são os factos positivos.

Se todos testemunhassem esses factos, a dúvida não mais seria permitida.
Como é que tanta gente, apesar de sua vontade, nada tem conseguido ver?

Apresentam-lhes como motivo, dizem eles, a sua falta de fé; ao que respondem, e com razão:
que não podem ter fé antecipada e que se lhes deve dar os meios para poderem crer.


A. K. — É simples a razão.
Eles querem que os factos obedeçam à sua ordem e a Espíritos não se pode dar ordens;
é preciso esperar pela boa vontade deles.

Não basta dizer:

Mostrai-me tal facto e eu crerei;
é necessário ter-se a vontade de perseverar, deixar que os factos se produzam espontaneamente, sem pretender forçá-los ou dirigi-los;

aquele que mais desejais será, talvez, precisamente o que não obtereis;
virão, porém, outros, e o que quereis se apresentará, quando menos o esperardes.

Aos olhos do observador atento e assíduo surgem eles inumeráveis, corroborando-se uns aos outros;
mas quem acreditar que basta tocar a manivela, para fazer que a máquina ande, engana-se redondamente.

Que faz o naturalista quando quer estudar os hábitos de um animal?
Mandá-lo-á fazer tal ou qual coisa, para com vagar observá-lo à sua vontade?

Não; porque bem sabe que o animal não lhe obedecerá;
mas espreita as manifestações espontâneas do instinto do animal;
espera-as e colhe-as na passagem.

O simples bom-senso mostra que, com mais forte razão, deve proceder-se do mesmo modo com os Espíritos, que são inteligências muito mais independentes que as dos animais.

É erro crer que se exija fé antecipada de quem quer estudar;
o que se exige é boa-fé, aliás coisa diversa;
ora, há cépticos que negam até a evidência e aos quais os próprios prodígios não convenceriam.

Quantos deles, depois de haverem visto, não persistem ainda em explicar os factos a seu modo, dizendo que o que viram nada prova?

Essas pessoas só servem para trazer perturbação ao seio das reuniões, sem que elas mesmas lucrem coisa alguma;
por isso, deixamo-las à margem, por não querermos com elas perder nosso tempo.

Muitos até ficariam incomodados, se se vissem forçados a crer, por terem de ferir seu amor-próprio com a confissão de se haverem enganado.

Que se pode responder a quem não vê por toda parte senão ilusão e charlatanismo?

Nada; é melhor deixá-los tranquilos e dizerem tanto quanto quiserem, que nada viram, e, mesmo, que nada se pôde ou se quis mostrar-lhes.

Ao lado desses cépticos endurecidos estão os que querem ver a seu modo, que, tendo formado uma opinião, pretendem por ela explicar tudo;

estes não compreendem que os fenómenos se possam dar contrariamente ao seu desejo;
não sabem ou não querem colocar-se nas condições precisas para obtê-los.

Quem de boa-fé deseja observar, deve, não digo crer sob palavra, mas abandonar toda ideia preconcebida e não querer comparar coisas incompatíveis;

cumpre-lhe aguardar, seguir, observar com paciência infatigável;
esta condição é também favorável aos que se tornam adeptos, pois que ela prova não haverem formado levianamente a sua convicção.

Disponde vós de tal paciência?
Não, e direis: por falta de tempo.

Então não vos ocupeis, não faleis mais nisso, pois ninguém a tal vos obriga.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:04 am

BOA OU MÁ VONTADE DOS ESPÍRITOS PARA CONVENCER

V.
Os Espíritos devem almejar fazer prosélitos; por que não se prestam, melhormente, aos meios de convencer certas pessoas, cuja opinião teria grande influência?

A. K. — É por julgarem que, naquele momento, não devem fornecer provas às pessoas a quem não ligam a importância que elas pretendem ter.

É isso pouco lisonjeiro, convenho, porém não temos o direito de impor-lhes a nossa opinião;
os Espíritos têm sua maneira de julgar as coisas, a qual nem sempre se coaduna com a nossa;

eles vêem, pensam e agem segundo outros elementos;
ao passo que a nossa vista é circunscrita pela matéria, limitada pela estreiteza do círculo em que vivemos, eles abrangem o conjunto;

o tempo, que nos parece tão longo, é para eles um instante;
a distância, um simples passo, e certos pormenores, para nós de importância extrema, são futilidades a seus olhos;
em compensação, ligam às vezes importância a coisas cujo verdadeiro alcance nos escapa.

Para compreendê-los é preciso nos elevarmos pelo pensamento acima do horizonte material e moral, colocarmo-nos no seu ponto de vista, pois que não são eles que devem descer ao nosso nível, mas subirmos nós até eles, é o que nos ensinam o estudo e a observação.

Os Espíritos gostam dos observadores assíduos e conscienciosos;
para estes multiplicam eles as fontes de luz;

o que os afugenta não é a dúvida que nasce da ignorância, é a fatuidade desses pretensos observadores que nada observam, que desejam colocá-los no banco dos réus e fazê-los moverem-se como títeres;

é o sentimento de hostilidade e descrédito que exista em seus pensamentos, quando o não traduzam por palavras.

Por sua causa os Espíritos nada fazem, pouco se importando com o que possam dizer ou pensar, porque o seu dia também chegará.

Por isso vos dizia eu que não é a fé antecipada o que pedimos, mas, sim, a boa-fé.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:04 am

ORIGEM DAS IDEIAS ESPÍRITAS MODERNAS

V.
Uma coisa que eu desejava saber, meu amigo, é o ponto de partida das ideias espíritas modernas;
serão elas filhas de uma revelação espontânea dos Espíritos, ou o resultado de uma crença prévia na existência deles?

Compreendeis a importância de minha pergunta; porque, neste último caso, é admissível que a imaginação possa nisso ter desempenhado seu papel.


A. K. — Como dissestes, essa questão tem importância, no ponto de vista em que vos achais, ainda que seja difícil acreditar-se, supondo essas ideias nascidas de uma crença antecipada, que a imaginação pudesse produzir todos os resultados materiais observados.

De facto, se o Espiritismo fosse fundado no pensamento preconcebido da existência dos Espíritos, poder-se-ia, com alguma aparência de razão, duvidar da sua veracidade;

porque, se o princípio fosse uma quimera, as consequências dele emanadas também o seriam;
mas as coisas não se passaram assim.

Notai, em primeiro lugar, que essa marcha seria totalmente ilógica;
os Espíritos são a causa e não o efeito;
quando se vê um efeito, pode-se procurar-lhe a causa, mas não é natural imaginar-se uma causa antes de lhe ter visto os efeitos.

Não era, pois, possível conceber o pensamento da existência dos Espíritos, se efeitos não se tivessem mostrado, que achassem explicação provável na existência de seres invisíveis.

Pois bem! Não foi mesmo deste modo que nasceu tal pensamento;
isto é, não foi ele uma hipótese imaginada com o fim de explicar certos fenómenos;
a primeira suposição feita, foi a de uma causa material.

Assim, longe de que os Espíritos fossem uma ideia preconcebida, partiu-se, para chegar a eles, do ponto de vista materialista.

Não se podendo, porém, por este meio explicar tudo, somente a observação conduziu à causa espiritual.

Falo das ideias espíritas modernas;
pois sabemos que essa crença é tão velha quanto o mundo.

Eis a marcha das coisas:
fenómenos espontâneos se produziram, tais como ruídos estranhos, pancadas, movimentos de objectos, etc., sem causa ostensiva conhecida, realizando-se sob a influência de certas pessoas.

Nada, até aí, autorizava a buscar-se-lhes a causa fora da acção de um fluido magnético ou outro qualquer, de propriedade ainda desconhecida.

Não se tardou, porém, a reconhecer nesses ruídos e movimentos um carácter intencional e inteligente, do que se concluiu, como já o disse, que:
Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente.

Esta inteligência não podia estar no objecto, porque a matéria não é inteligente.
Seria o reflexo da pessoa ou das pessoas presentes?

Assim se julgou no começo, como já igualmente vo-lo disse;
só a experiência podia pronunciar-se, e ela demonstrou por provas irrecusáveis, em muitas circunstâncias, a completa independência da inteligência que se manifesta.

Ela não pertencia, pois, nem ao objecto nem à pessoa. Quem era então?
Ela própria respondeu, declarando pertencer aos seres incorpóreos chamados Espíritos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:05 am

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A ideia dos Espíritos não preexistia, nem mesmo lhe foi consecutiva; em uma palavra, não nasceu do cérebro de ninguém, mas nos foi dada pelos Espíritos mesmos, e tudo o que soubemos depois, a seu respeito, foi-nos por eles ensinado.

Uma vez revelada a existência dos Espíritos e estabelecidos os meios de nos comunicarmos com eles, pôde-se entreter conversações seguidas e obter informações sobre a natureza desses seres, condições de sua existência e seu papel no mundo visível.

Se assim pudéssemos interrogar os seres do mundo dos infinitamente pequenos, quantas coisas curiosas não ficaríamos sabendo sobre eles!

Suponhamos que, antes da descoberta da América, um fio eléctrico estivesse estabelecido através do Atlântico, e que na sua extremidade europeia se houvessem produzido alguns sinais inteligentes, e ter-se-ia logo concluído que na outra extremidade se achavam seres inteligentes, que desejavam comunicar-se;

teríamos interrogado e eles teriam respondido.

Ficaríamos assim com a certeza da sua existência, e podia-se adquirir o conhecimento dos seus costumes, usos e modos de ser, apesar de nunca os havermos visto.

Foi o que se deu nas relações com o mundo invisível: as manifestações materiais foram sinais e meios de aviso que nos conduziram a comunicações mais regulares e mais seguidas.

E — coisa notável — à medida que meios de mais fácil comunicação se acham ao nosso dispor, os Espíritos abandonam os primitivos, insuficientes e incómodos, qual o mudo que, recuperando a palavra, renuncia à linguagem dos sinais.

Quem eram os habitantes desse mundo?
Eram seres à parte, estranhos à Humanidade?
Eram bons ou maus?

Foi ainda a experiência quem se encarregou da solução de tais problemas;
mas, até que observações numerosas tivessem derramado luz sobre o assunto, o campo das conjecturas e dos sistemas esteve aberto, e Deus sabe quantos surgiram!

Uns creram ser os Espíritos superiores em tudo, outros, neles só viram demónios;
era só por suas palavras e actos que podiam julgá-los.

Suponhamos que dentre os desconhecidos habitantes transatlânticos, de que acabamos de falar, uns tenham dito muito boas coisas, ao passo que outros se faziam notar pelo cinismo da linguagem;
ter-se-ia logo concluído que entre eles havia bons e maus.

Foi o que aconteceu com os Espíritos; foi assim que se reconheceu entre eles todos os graus de bondade e malvadez, de saber e ignorância.

Uma vez bem informados acerca dos defeitos e das boas qualidades que entre eles se encontram, cabe à nossa prudência distinguir o que é bom do que é mau, o verdadeiro do falso em suas relações connosco, absolutamente como procedemos a respeito dos homens.

A observação não nos esclareceu somente sobre as qualidades morais dos Espíritos, mas, também, sobre a sua natureza e sobre o que podemos chamar estado fisiológico.

Ficou-se sabendo, por eles mesmos, que uns são muito felizes e outros muito desgraçados;

que não são seres à parte, de natureza excepcional e, sim, as almas daqueles que já viveram na Terra, onde deixaram seu invólucro corpóreo, e que hoje povoam os espaços, nos cercam, nos acotovelam sem cessar, e, dentre eles, cada qual pode, por sinais incontestáveis, reconhecer seus parentes e amigos e os que conhecera na Terra;

pode-se acompanhá-los em todas as fases de sua existência de além-túmulo, desde o instante em que abandonam o corpo, e observar sua situação segundo o género de morte e modo pelo qual viveram na Terra.


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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:05 am

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Enfim, soube-se que eles não são entes abstractos, imateriais, no sentido absoluto da palavra;
possuem um invólucro, a que chamamos perispírito, espécie de corpo fluídico, vaporoso, diáfano, invisível no estado normal, que, em certos casos e por uma espécie de condensação ou de disposição molecular, pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível, e, desde então, ficou explicado o fenómeno das aparições e do contacto.

Enquanto dura o corpo, esse invólucro é um laço que o prende ao Espírito;
quando, porém, o corpo morre, a alma ou o Espírito, que é a mesma coisa, abandona-o, sem, contudo, deixar o primeiro envoltório, do mesmo modo como despimos as peças exteriores da nossa roupa, para só conservarmos as interiores;

assim como o fruto despojado do invólucro cortical conserva ainda o perisperma.

É esse invólucro semi-material do Espírito que lhe serve de meio para a produção de diferentes fenómenos, pelos quais ele se nos manifesta.

Tal é, em poucas palavras, cavalheiro, a história do Espiritismo;
bem vedes, e reconhecereis ainda melhor quando o tiverdes estudado a fundo, que tudo nele é o resultado da observação e não de um sistema preconcebido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:05 am

MEIOS DE COMUNICAÇÃO

V.
Falastes de meios de comunicação;
podereis dar-me disso uma ideia, porquanto é difícil compreender como podem esses seres invisíveis conversar connosco?


A. K. — De boa vontade; vou fazê-lo, contudo, abreviadamente, porque isto exigiria prolongado desenvolvimento, que encontrareis minuciosamente em O Livro dos Médiuns.

Mas o pouco que eu vos disser, agora, bastará para facilitar-vos a compreensão do mecanismo e servirá, sobretudo, para vos dar uma ideia de algumas das experiências, a que podereis assistir, antes de começar a vossa iniciação.

A existência desse envoltório semimaterial é já uma chave para a explicação de muitas coisas e mostra-vos a possibilidade de certos fenómenos.

Quanto aos meios, são muito variados e dependem tanto da natureza, mais ou menos apurada dos Espíritos, quanto das disposições peculiares às pessoas que lhes servem de intermediárias.

O mais vulgar — o que se pode chamar universal — consiste na intuição, isto é, nas ideias e pensamentos que eles nos sugerem; é este, porém, um meio pouco apreciável, na generalidade dos casos;
outros existem mais materiais.

Certos Espíritos se comunicam por pancadas, respondendo por sim ou por não, ou designando as letras que devem formar as palavras.

As pancadas podem ser obtidas pelo movimento de oscilação de um objecto, de uma mesa, por exemplo, que bate com o pé.
Muitas vezes se fazem ouvir nas próprias substâncias dos corpos, sem que estes se movimentem.

Esse modo primitivo é demorado e dificilmente se presta a comunicações de certo desenvolvimento;
a escrita substituiu-o, e é obtida de diferentes maneiras.

Serviu-se no começo, e serve-se ainda algumas vezes, de um objecto móvel, como uma prancheta, uma cestinha, uma caixa, ao qual se adapta um lápis, cuja ponta pousa sobre o papel.

A natureza e a substância do objecto são indiferentes.
O médium coloca as mãos sobre esse objecto, ao qual transmite a influência que recebe do Espírito, e o lápis traça os caracteres.

O objecto assim empregado não é, propriamente falando, mais que um apêndice da mão, uma espécie de porta lápis.

Depois, reconheceu-se a inutilidade desse intermediário, que não é senão uma complicação de meios, cujo único mérito está em demonstrar, de modo mais palpável, a independência do médium;
este último pode escrever, segurando, ele mesmo, o lápis.

Os Espíritos manifestam-se ainda e podem transmitir seus pensamentos por sons articulados, que se fazem ouvir, seja no ar, seja no interior do órgão auditivo, pela voz do médium, pela vista, por desenhos, pela música e por muitos outros meios que um estudo completo torna conhecidos.

Os médiuns possuem, para esses diferentes modos de comunicação, aptidões especiais que dependem de sua organização.

Assim, temos médiuns de efeitos físicos, isto é, aptos para produzir fenómenos materiais, como pancadas, movimentos de corpos, etc.;
há médiuns auditivos, falantes, videntes, desenhadores, músicos, escreventes.

Esta última faculdade é a mais comum, a que melhor se desenvolve pelo exercício e também a mais preciosa, por ser a que permite comunicações mais frequentes e rápidas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:06 am

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O médium escrevente apresenta numerosas variedades, das quais duas são muito distintas.
Para compreendê-las, é necessário saber-se o modo pelo qual se opera o fenómeno.

O Espírito actua, algumas vezes, directamente sobre a mão do médium, à qual dá um impulso totalmente independente da vontade deste, e sem que ele tenha consciência do que escreve: é o médium escrevente mecânico.

Outras vezes, actuando sobre o cérebro do médium, seu pensamento se comunica com o deste que, então, se bem que escrevendo de modo involuntário, tem consciência mais ou menos nítida do que obtém:

é o médium intuitivo;
seu papel é exactamente o de um intérprete, que transmite um pensamento que não é o seu e que, portanto, ele deve compreender.

Ainda que, neste caso, o pensamento do Espírito e o do médium se confundam algumas vezes, a experiência ensina a distingui-los com facilidade.

Obtêm-se comunicações igualmente boas por esses dois géneros de médiuns;
a vantagem dos que são mecânicos é proveitosa sobretudo para as pessoas que ainda não estão convencidas.

Demais, a qualidade essencial de um médium está na natureza dos Espíritos que o assistem, nas comunicações que recebe, antes que nos meios de execução.

V.O processo parece-me dos mais simples.
Poderia eu mesmo experimentá-lo?


A. K. — Perfeitamente; digo mais:
se possuirdes a faculdade mediúnica, tereis o melhor meio de vos convencer, porque não podeis duvidar da vossa boa-fé.

Somente, aconselho-vos vivamente a não tentardes ensaio algum antes de acurado estudo.

As comunicações do além-túmulo são cercadas de mais dificuldades do que se pensa;
elas não estão isentas de inconvenientes e, mesmo, de perigos, para os que não têm a necessária experiência.

É o mesmo que aconteceria àquele que, sem saber Química, tentasse fazer manipulações químicas;
correria o risco de queimar os dedos.

V.Há algum sinal pelo qual se possa reconhecer a posse dessa aptidão?

A. K. — Até ao presente não se conhece um diagnóstico para a mediunidade;
todos os que julgamos descobrir, são sem valor;
experimentar é o único meio de saber se a faculdade existe.

Além disso, os médiuns são muito numerosos e é raríssimo, quando não o sejamos, não se encontrar algum em qualquer dos membros de nossa família, ou nas pessoas que nos cercam.

O sexo, a idade e o temperamento são indiferentes; eles aparecem entre os homens e mulheres, entre crianças, velhos, doentes e pessoas sadias.

Se a mediunidade se traduzisse por um sinal exterior qualquer, isto implicaria a permanência da faculdade, ao passo que ela é essencialmente móbil e fugidia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:06 am

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Sua causa física está na assimilação, mais ou menos fácil, dos fluidos perispirituais do encarnado e do Espírito desencarnado;

sua causa moral está na vontade do Espírito que se comunica, quando isto lhe apraz, e não segundo a nossa vontade, donde resulta:

1º, que nem todos os Espíritos podem comunicar-se indiferentemente por todos os médiuns;
2º, que todo médium pode perder ou ver suspender-se a sua faculdade, quando ele menos o esperar.

Estas poucas palavras bastam para mostrar que há nisto um sério estudo a fazer-se, a fim de se poder explicar as variações que esse fenómeno apresenta.

Seria, pois, um erro crer que todo Espírito possa vir responder ao apelo que lhe é feito, e se comunicar pelo primeiro médium de que se lance mão.

Para que um Espírito se comunique, é preciso:
1º, que lhe convenha fazê-lo;
2º, que sua posição ou suas ocupações lho permitam;
3º, que encontre no médium um instrumento apropriado à sua natureza.

Em princípio, podemos comunicar-nos com os Espíritos de todas as categorias, com os nossos parentes e amigos, com os mais elevados como com os mais vulgares;

porém, independente das condições individuais de possibilidade, eles vêm mais ou menos de boa vontade segundo as circunstâncias e, sobretudo, segundo a sua simpatia pelas pessoas que os chamam, e não pelo pedido do primeiro que tenha a fantasia de evocá-los por um sentimento de curiosidade;

nestas circunstâncias, se eles, quando na Terra, não se incomodariam com elas, depois da morte não o fazem também.

Os Espíritos sérios só comparecem nas reuniões sérias, para onde os chamam com recolhimento e para coisas sérias;
não se prestam a responder a perguntas de curiosidade, de prova, ou com um fim fútil, nem também a experiência alguma.

Os Espíritos frívolos andam por toda parte;
porém, nas reuniões sérias, calam-se e conservam-se afastados para escutar, como fariam estudantes em uma assembleia de doutos.

Nas reuniões frívolas eles tomam a desforra, fazendo de tudo divertimento, zombando, muitas vezes, dos assistentes, e respondendo a tudo sem se importarem com a verdade.

Os Espíritos denominados batedores e, geralmente, todos os que produzem manifestações físicas, são de ordem inferior, sem por isso serem essencialmente maus;

possuem uma aptidão, de alguma sorte especial, para os efeitos materiais;
os Espíritos superiores não se ocupam com essas coisas, assim como os sábios da Terra não se entregam a exercícios de força muscular;

quando aqueles precisam que tais efeitos se dêem, lançam mão dos atrasados, como nós nos servimos dos trabalhadores para os serviços pesados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:07 am

MÉDIUNS INTERESSEIROS

V.
Antes de empreender um estudo de longo fôlego, há muita gente que deseja ter certeza de que não vai perder o tempo, certeza que lhe poderia provir do facto concludente, mesmo obtido a peso de ouro.

A. K. —Aquele que não se quer dar ao trabalho de estudar, é antes guiado pela curiosidade, que pelo desejo real de se instruir;
ora, os Espíritos, assim como eu, não gostam dos curiosos.

Além disso, a cobiça é-lhes, sobretudo, antipática, e eles recusam-se a prestar-lhe qualquer serviço;
crer que Espíritos superiores como Fénelon, Bossuet, Pascal, Santo Agostinho, se ponham às ordens do primeiro que os chame, a tanto por hora, é fazer ideia bem falsa das nossas relações com o mundo espiritual.

Não, senhor. As comunicações de além-túmulo são assunto muito grave e respeitabilíssimo para serem assim exibidas.

Sabemos que os fenómenos espíritas não se produzem como o movimento das rodas de um mecanismo, porquanto dependem da vontade dos Espíritos;
mesmo admitindo-se que um indivíduo possua aptidão mediúnica, nada lhe garante obter uma manifestação em dado momento.

Se os incrédulos são inclinados a suspeitar da boa-fé dos médiuns em geral, muito pior seria se neles encontrassem o estímulo do interesse;
com razão se poderia suspeitar que o médium retribuído simulasse quando o Espírito não o auxiliasse, pois que ele desejaria de qualquer forma ganhar dinheiro.

Além de que o desinteresse absoluto é a melhor garantia de sinceridade, repugnaria à razão evocar por dinheiro os Espíritos das pessoas que nos são caras, supondo que eles consintam nisso, o que é mais que duvidoso;

em todos os casos só se prestariam a isso Espíritos de classe inferior, pouco escrupulosos a respeito de meios, e que não merecem confiança alguma;

e estes mesmos, muitas vezes, encontram um divertimento maldoso em frustrar as combinações e os cálculos do seu evocador.

A natureza da faculdade mediúnica opõe-se, pois, a que ela sirva de profissão, à vista de sua dependência de vontade estranha à do médium, e de lhe poder ela, no momento preciso, deixá-lo em falta, salvo se ele a suprir pela astúcia.

Porém, admitindo mesmo inteira boa-fé, desde que os fenómenos não se produzem à vontade, seria puro acaso se, em sessão paga, se produzisse exactamente aquele que desejávamos ver para nos convencermos.

Dai cem mil francos a um médium e não conseguireis que ele obtenha que os Espíritos façam o que não querem;
essa dádiva, que viria desnaturar a intenção e transformá-la em violento desejo de lucro, seria antes um motivo para que ele fosse mal sucedido.

Quando se está bem compenetrado desta verdade — que a afeição e a simpatia são os mais poderosos móveis de atracção para os Espíritos —, não se pode deixar de compreender que não lhes agradam as solicitações de alguém que tenha a ideia de servir-se deles para ganhar dinheiro.

Aquele, pois, que precisa de fatos que o convençam, deve provar aos Espíritos sua boa vontade por uma observação séria e paciente, se deseja ser auxiliado;
pois se é uma verdade que a fé não se impõe, não o é menos, que se não pode comprá-la.

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O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec - Página 3 Empty Re: O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:07 am

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V.Compreendo esse raciocínio do ponto de vista moral;
entretanto, não é justo que aquele que emprega seu tempo, a bem da causa, não seja indemnizado quando esse tempo é roubado ao trabalho de que precisa para viver?


A. K.Primeiro: será mesmo no interesse da causa que ele o faz, ou no seu próprio?

Se ele deixou seu modo de vida, é porque não lhe satisfazia, e por esperar ganhar mais, em um novo, ou ter menos fadigas.
Não há sacrifício algum no empregar o tempo em uma coisa de que se espera tirar lucro.

É absolutamente o mesmo que se se dissesse ser no interesse da Humanidade que o padeiro fabrica o pão.
A mediunidade não é o único recurso;
se ele não a tivesse, procuraria ganhar a vida de outro modo.

Os médiuns verdadeiramente sérios e devotados, quando não possuem uma existência independente, procuram recursos no trabalho ordinário e não abandonam suas profissões;
eles não consagram à mediunidade senão o tempo que lhe podem dar, sem prejuízo de outras ocupações;

empregando parte do tempo destinado aos divertimentos e repouso, nesse trabalho mais útil, eles se mostram devotados, tornam-se apreciados e respeitados.

A multiplicidade dos médiuns nas famílias torna, ao demais, inúteis os médiuns de profissão, ainda que estes ofereçam todas as garantias desejáveis, o que é muito raro.

Se não fosse o descrédito que acompanha esse género de exploração, para o que me felicito de muito haver concorrido, os médiuns mercenários pululariam e os jornais viriam sempre cheios de seus reclamos;
ora, para um que fosse leal, apresentar-se-iam cem charlatães que, abusando de uma faculdade real ou simulada, fariam o maior dano ao Espiritismo.

É, pois, um princípio:
todos quantos vêem no Espiritismo coisa diferente de uma exibição de fenómenos curiosos, que compreendem e tomam a peito a dignidade, consideração e os verdadeiros interesses da doutrina, reprovam toda espécie de especulação, qualquer que seja a forma ou disfarce com que se apresente.

Os médiuns sérios e sinceros — e eu dou este nome aos que compreendem a santidade do mandato que Deus lhes confiou — evitam até as aparências do que poderia fazer pairar sobre eles a menor suspeita de cobiça;
eles consideram uma injúria a acusação de tirarem qualquer lucro da sua faculdade.

Convinde, senhor, apesar de serdes incrédulo, que um médium nessas condições faria sobre vós uma impressão totalmente diversa da que sentiríeis, se lhe tivésseis pago para vê-lo trabalhar, ou, quando mesmo fosseis admitido por favor, se soubésseis que atrás de tudo aquilo havia uma questão de dinheiro;

concordai que vendo-o antes animado de um verdadeiro sentimento religioso, estimulado pela fé somente e não pelo desejo do ganho, involuntariamente o respeito por ele se vos impunha;

seja embora ele o mais humilde proletário, inspirar-vos-á mais confiança, porque não há motivo algum para suspeitardes da sua lealdade.

Pois bem! Caro senhor, encontrareis mil como este, contra um que não esteja nas mesmas condições, e é esta uma das causas que mais têm concorrido para o crédito e propagação da doutrina;
ao passo que, se ela só tivesse intérpretes interessados, não contaria a quarta parte dos adeptos que possui hoje.

É perfeitamente compreensível que os médiuns de profissão sejam excessivamente raros, pelo menos em França;
eles são desconhecidos na maioria dos centros espíritas da província, onde a reputação de mercenários bastaria para que os excluíssem de todos os grupos sérios, e onde para eles o ofício não seria lucrativo, por causa do descrédito de que se tornariam objecto e da concorrência de médiuns desinteressados, que se encontram por toda parte.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:52 am

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Para suprir, seja a faculdade que lhes falta, seja a insuficiência da clientela, há falsos médiuns que tudo aproveitam, servindo-se das cartas, da clara de ovo, da borra de café, etc., a fim de contentar a todos os gostos, esperando por esse meio, na falta de Espíritos, atrair os que ainda crêem nessas tolices.

Se eles unicamente a si prejudicassem, o mal não seria grande;
porém, há pessoas que, sem nada aprofundarem, confundem o abuso com a realidade, e disso se aproveitam os mal-intencionados, para dizer que é nisso que consiste o Espiritismo.

Já vedes, pois, senhor, que se a exploração da mediunidade conduz a cometer abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de não aceitá-la, de repelir o seu auxílio.

V.Tudo isso é muito lógico, concordo, mas os médiuns desinteressados não se acham ao dispor de qualquer e sentimo-nos constrangidos de incomodá-los;
escrúpulos que não nos embaraçam, quando buscamos aquele que recebe uma paga, convencido de que não lhe vamos roubar o tempo.

Muita gente que se deseja convencer, acharia muito mais facilidade se existissem médiuns públicos.


A. K. — Se os médiuns públicos, como lhes chamais, não oferecem as garantias precisas, como poderiam ser úteis para levar alguém à convicção?

O inconveniente que assinalais, não destrói os de muito mais gravidade, que vos citei.

Buscá-los-iam antes como divertimento, para ouvir a buena-dicha, do que como meio de instrução.

Aquele que, seriamente, deseja convencer-se encontra os meios, mais tarde ou mais cedo, se tiver perseverança e boa vontade;
porém, quando não se está preparado para tal, não é por assistir a uma sessão que se ficará convencido.

Prova a experiência que, por se trazer dessas sessões uma impressão desfavorável, sai-se menos disposto à convicção, e talvez sem vontade alguma de prosseguir num estudo em que nada se viu de sério.

Ao lado, porém, das considerações morais, os progressos da ciência espírita, fazendo-nos melhor conhecer as condições em que se produzem as manifestações, mostram-nos, hoje, a dificuldade material que se apresenta à sua produção, coisa de que ninguém a princípio suspeitava:
a necessidade de afinidades fluídicas entre o Espírito evocado e o médium.

Ponho de lado todo pensamento de fraude e embuste, e suponho que exista a mais completa lealdade.

Para que um médium de profissão possa oferecer toda segurança às pessoas que o venham consultar, é necessário que ele possua uma faculdade permanente universal, isto é, que ele se possa comunicar facilmente com qualquer Espírito e a todo momento, para estar constantemente à disposição do público, como um médico, e satisfazer a todas as evocações que lhe sejam pedidas;

ora, isto é o que não se encontra em médium algum, seja entre os desinteressados, seja entre os outros, e isto por causas independentes da vontade do Espírito, o que não posso desenvolver aqui, porque não estou fazendo um curso de Espiritismo.

Limito-me a dizer-vos que as afinidades fluídicas, princípio do qual dimanam as faculdades mediúnicas, são individuais e não gerais, podendo existir do médium para tal Espírito, e não para tal outro;

que, sem essas afinidades, cujas variantes são múltiplas, as comunicações são incompletas, falsas ou impossíveis;

que, as mais das vezes, a assimilação fluídica entre o Espírito e o médium só se estabelece depois de algum tempo, ou somente uma vez em dez acontece que ela seja completa desde a primeira vez.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:52 am

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A mediunidade, como vedes, cavalheiro, é subordinada a leis, de alguma sorte orgânicas, às quais todo médium está sujeito;

ora, não se pode negar que isto é um obstáculo para a mediunidade de profissão, pois que a possibilidade e a exactidão das comunicações são um produto de causas que não dependem do médium nem do Espírito.

Se, pois, repelimos a exploração da mediunidade, não é nem por capricho, nem por sistema, mas porque os próprios princípios que regem as nossas relações, com o mundo invisível, se opõem à regularidade e precisão necessárias naquele que se põe à disposição do público, e a quem o desejo de satisfazer à clientela, que lhe paga, arrasta ao abuso.

Não concluo, do que tenho dito, que todos os médiuns interesseiros sejam charlatães;
digo somente que a ambição do ganho impele ao charlatanismo e autoriza a suspeita de velhacaria.

Quem deseja convencer-se deve, primeiro que tudo, procurar elementos de sinceridade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:52 am

MÉDIUNS E FEITICEIROS

V.
Desde que a mediunidade não é mais que um meio de entrar em relação com as potências ocultas, médiuns e feiticeiros são mais ou menos a mesma coisa.

A. K. — Em todos os tempos houve médiuns naturais e inconscientes que, pelo simples facto de produzirem fenómenos insólitos e incompreendidos, foram qualificados de feiticeiros e acusados de pactuarem com o diabo;
foi o mesmo que se deu com a maioria dos sábios que dispunham de conhecimentos acima do vulgar.

A ignorância exagerou seu poder e, muitas vezes, eles mesmos abusaram da credulidade pública, explorando-a;
daí a justa reprovação que os feriu.

Basta-nos comparar o poder atribuído aos feiticeiros com a faculdade dos verdadeiros médiuns, para conhecermos a diferença, mas a maioria dos críticos não se quer dar a esse trabalho.

Longe de fazer reviver a feitiçaria, o Espiritismo a aniquila, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de suas fórmulas, engrimanços, amuletos e talismãs, e reduzindo a seu justo valor os fenómenos possíveis, sem sair das leis naturais.

A semelhança que certas pessoas pretendem estabelecer, provém do erro em que estão, julgando que os Espíritos estão às ordens dos médiuns;

repugna à sua razão crer que um indivíduo qualquer possa, à vontade, fazer comparecer o Espírito de tal ou tal personagem, mais ou menos ilustre;

nisto eles estão perfeitamente com a verdade, e, se antes de apedrejarem o Espiritismo, se tivessem dado ao trabalho de estudá-lo, veriam que ele diz positivamente que os Espíritos não estão sujeitos aos caprichos de ninguém, que ninguém pode, à vontade, constrangê-los a responder ao seu chamado;
do que se conclui que os médiuns não são feiticeiros.

V. — Neste caso, todos os efeitos que certos médiuns acreditados obtém, à vontade e em público, não são, ao vosso ver, senão charlatanice?

A. K. — Não o digo em absoluto.

Tais fenómenos não são impossíveis, porque há Espíritos de baixa categoria que se podem prestar à sua produção e que se divertem, talvez por já terem sido prestidigitadores na vida terrena;

também há médiuns especialmente próprios para esse género de manifestações;
porém, o vulgar bom-senso repele a ideia de virem os Espíritos, por menos elevados que sejam, representar palhaçadas e fazer escamoteações para divertimento dos curiosos.

A obtenção desses fenómenos à vontade, e sobretudo em público, é sempre suspeita;
neste caso a mediunidade e a prestidigitação se tocam tão de perto que é difícil muitas vezes distingui-las;

antes de vermos nisso a acção dos Espíritos, devemos observar minuciosamente e ter em conta, quer o carácter e os antecedentes do médium, quer um grande número de circunstâncias que só o estudo da teoria dos fenómenos espíritas nos pode fazer apreciar.

Deve-se notar que esse género de mediunidade, quando mediunidade nisso exista, limita-se a produzir sempre o mesmo fenómeno, salvo pequenas variantes, o que não é muito próprio para dissipar dúvidas.

O desinteresse absoluto é a melhor garantia de sinceridade.
Qualquer que seja o grau de veracidade desses fenómenos, como efeitos mediúnicos, eles produzirão bom resultado, por darem voga à ideia espírita.

A controvérsia que se estabelece a respeito provoca em muitas pessoas um estudo mais aprofundado.

Não é certamente aí que se deve ir beber instruções sérias sobre o Espiritismo, nem sobre a filosofia da doutrina;
porém, é um meio de chamar a atenção dos indiferentes e obrigar os recalcitrantes a falarem dele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:53 am

DIVERSIDADE DOS ESPÍRITOS

V.
Falais de Espíritos bons ou maus, sérios ou frívolos;

confesso-vos que não compreendo essa diferença;
parece-me que, deixando o envoltório corporal, os Espíritos se despojam das imperfeições inerentes à matéria;

que a luz se deve fazer para eles, sobre todas as verdades que nos são ocultas, e que eles ficam libertos dos prejuízos terrenos.


A. K. — Sem dúvida eles ficam livres das imperfeições físicas, isto é, das dores e enfermidades corporais;
porém, as imperfeições morais são do Espírito e não do corpo. Entre eles há alguns que são mais ou menos adiantados, moral e intelectualmente.

Seria erro acreditar que os Espíritos, deixando o corpo material, recebem logo a luz da verdade.
É possível admitirdes que, quando morrerdes, não haja distinção alguma entre o vosso Espírito e o de um selvagem?

Assim sendo, de que vos serviria ter trabalhado para a vossa instrução e melhoramento, quando um vadio, depois da morte, será tanto quanto vós?

O progresso dos Espíritos faz-se gradualmente e, algumas vezes, com muita lentidão.

Entre eles alguns há que, por seu grau de aperfeiçoamento, vêem as coisas sob um ponto de vista mais justo do que quando estavam encarnados;
outros, pelo contrário, conservam ainda as mesmas paixões, os mesmos preconceitos e erros, até que o tempo e novas provas os venham esclarecer.

Notai bem que o que digo é fruto da experiência, colhido no que eles nos dizem em suas comunicações.

É, pois, um princípio elementar do Espiritismo que existem Espíritos de todos os graus de inteligência e moralidade.

V.Por que não são perfeitos todos os Espíritos?
Tê-los-á Deus assim criado em tão diversas categorias?


A. K. — É o mesmo que perguntar por que todos os alunos de um colégio não estão cursando a aula de Filosofia.

Todos os Espíritos têm a mesma origem e o mesmo destino;
as diferenças que os separam não constituem espécies distintas, mas exprimem diversos graus de adiantamento.

Os Espíritos não são perfeitos, porque não são mais do que as almas dos homens, que não atingiram também a perfeição;
e, pela mesma razão, os homens não são perfeitos por serem encarnações de Espíritos mais ou menos adiantados.

O mundo corporal e o mundo espiritual estão em contínuo revezamento;
pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao espiritual; pelos nascimentos, este alimenta a humanidade.

Em cada nova existência, o Espírito dá maior ou menor passo no caminho do progresso, e, quando adquiriu na Terra a soma de conhecimentos e a elevação moral que o nosso globo comporta, ele o deixa, para ir viver em mundo mais elevado onde vai aprender novas coisas.

Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de alguma sorte, o reflexo do mundo corporal;
neles se encontram os mesmos vícios e as mesmas virtudes;

há entre eles sábios, ignorantes e charlatães, prudentes e levianos, filósofos, raciocinadores, sistemáticos;
como se não se despissem de seus prejuízos, todas as opiniões políticas e religiosas têm entre eles representantes;

cada um fala segundo suas ideias, e o que eles dizem é, muitas vezes, apenas a sua opinião pessoal;
eis o motivo por que se não deve crer cegamente em tudo o que dizem os Espíritos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:53 am

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V.Sendo assim, apresenta-se imensa dificuldade:
nesses conflitos de opiniões diversas, como distinguir-se o erro da verdade?

Não descubro a utilidade dos Espíritos, nem o que ganhamos em conversar com eles.


A. K. — Quando eles apenas servissem para dar-nos a prova de sua existência e de serem as almas dos homens, só isto seria de grande importância para quantos ainda duvidam que tenham uma alma e ignoram o que será deles depois da morte.

Como todas as ciências filosóficas, esta exige longos estudos e minuciosas observações; é só assim que se aprende a distinguir a verdade da impostura, e que se adquire os meios de afastar os Espíritos enganadores.

Acima dessa turba de baixa esfera, existem os Espíritos superiores, que só têm em vista o bem, e cuja missão é guiar os homens pelo bom caminho; cumpre-nos sabê-los apreciar e compreender.

Estes nos vêm ensinar grandes coisas;
mas não julgueis que o estudo dos outros seja inútil;
para bem conhecer um povo é necessário estudá-lo sob todas as faces.

Vós mesmos tendes a prova disso;
pensáveis que bastava aos Espíritos deixarem seu envoltório corpóreo para que ficassem isentos de todas as suas imperfeições;

ora, são as comunicações com eles que nos ensinaram que isto não se dá, e fizeram-nos conhecer o verdadeiro estado do mundo espiritual, que a todos nós interessa no mais alto ponto, pois que todos temos que ir para lá.

Quanto aos erros que se podem originar da divergência de opiniões entre os Espíritos, eles desaparecem por si mesmos, à medida que se aprende a distinguir os bons dos maus, os sábios dos ignorantes, os sinceros dos hipócritas, absolutamente como se dá entre nós; então, o bom-senso repelirá as falsas doutrinas.

V.A minha observação subsiste sempre no ponto de vista das questões científicas e outras que podemos submeter aos Espíritos.

A divergência de suas opiniões, sobre as teorias que dividem os sábios, deixa-nos na incerteza.

Compreendo que, não possuindo todos o mesmo grau de instrução, não podem saber tudo;
mas, então, que peso pode ter para nós a opinião daqueles que sabem, quando não podemos distinguir quem erra ou quem tem razão?

Vale tanto dirigirmo-nos aos homens como aos Espíritos.


A. K. — Essa reflexão é ainda uma consequência da ignorância do verdadeiro carácter do Espiritismo.
Aquele que supõe nele achar meio fácil de saber tudo, de tudo descobrir, labora em grande erro.

Os Espíritos não estão encarregados de trazer-nos a ciência já feita;
seria, realmente, muito cómodo se nos bastasse pedir para sermos logo servidos, ficando assim dispensados do trabalho de estudar.

Deus quer que trabalhemos, que o nosso pensamento se exercite; e só por esse preço adquiriremos a ciência;
os Espíritos não vêm libertar-nos dessa necessidade: eles são o que são;

o Espiritismo tem por objecto estudá-los, a fim de que, por analogia, fiquemos sabendo o que seremos um dia;
e não para nos fazer conhecer o que nos deve ser oculto, ou revelar-nos as coisas antes do tempo próprio.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:54 am

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Tampouco os Espíritos são leitores da buena-dicha, e aquele que se vangloria de obter deles certos segredos, prepara para si estranhas decepções da parte dos Espíritos galhofeiros;
em uma palavra, o Espiritismo é uma ciência de observação, e não uma arte de adivinhar e especular.

Nós o estudamos com o fim de conhecer o estado das individualidades do mundo invisível, as relações que nos prendem a elas, sua acção oculta sobre o mundo visível, e não para dele tirar qualquer vantagem material.

Deste ponto de vista, não há Espírito algum cujo estudo não nos traga alguma utilidade;
alguma coisa aprendemos sempre com todos eles;
as suas imperfeições, os defeitos, a incapacidade, a ignorância mesmo, são outros tantos objectos de observação, que nos iniciam na natureza íntima desse mundo;

e quando eles não nos instruam, nós, estudando-os, nos instruímos, como fazemos quando observamos os costumes de um povo desconhecido para nós.

Quanto aos Espíritos esclarecidos, esses nos ensinam muito, porém sempre nos limites do possível;
nunca lhes perguntemos o que eles não podem ou não devem revelar;
contentemo-nos com o que nos dizem;
querer ir além é sujeitarmo-nos às manifestações dos Espíritos frívolos, sempre dispostos a falar de tudo.

A experiência nos ensina a julgar do grau de confiança que lhes devemos conceder.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:54 am

UTILIDADE PRÁTICA DAS MANIFESTAÇÕES

V.
Admitamos que a coisa esteja comprovada, o Espiritismo reconhecido como realidade;
qual a sua utilidade prática?

Não se tendo sentido a sua falta até ao presente, parece-me que se podia continuar a dispensá-lo, e viver sem ele, muito tranquilamente.


A. K. — Podíamos dizer o mesmo das vias-férreas e do vapor, sem os quais também se vivia muito bem.

Se utilidade prática, para vós, é dar meios de passar boa vida, fazer fortuna, conhecer o futuro, descobrir minas de carvão ou tesouros ocultos, arrecadar heranças, libertar-se do trabalho de estudar, o Espiritismo não na tem;
ele não pode produzir altas e baixas na Bolsa, nem transformar-se em acções de Bancos, nem mesmo fornecer inventos já prontos e no estado de serem explorados.

Sob tal ponto de vista, quantas ciências deixariam de ser úteis!
Quantas delas não oferecem vantagem alguma, comercialmente falando!

Os homens passavam igualmente bem, antes da descoberta dos novos planetas, antes que se soubesse ser a Terra e não o Sol que se move, antes que se conhecesse o mundo microscópico e outras tantas coisas.

O camponês, para viver e fazer brotar seu trigo, não precisa saber o que seja um planeta.
Para que, pois, se entregam os sábios a esses estudos?
Há alguém que ouse dizer que eles perdem o tempo?

Tudo que serve para erguer uma ponta do véu que nos envolve, ajuda o desenvolvimento da inteligência, alarga o círculo das ideias, fazendo-nos melhor compreender as leis da Natureza.

Ora, o mundo dos Espíritos existe em virtude de uma dessas leis naturais, e o Espiritismo nos faz conhecê-lo;

ele nos mostra a influência que o mundo invisível exerce sobre o visível e as relações existentes entre eles, como a Astronomia nos ensina as que ligam os astros à Terra;

ele no-lo faz ver como sendo uma das forças que regem o Universo e contribuem para a manutenção da harmonia geral.

Supondo que a isso se limitasse a sua utilidade, já não seria de grande importância a revelação de uma tal potência, abstraindo-se mesmo de toda a sua doutrina moral?

De nada valerá um mundo inteiro novo que se nos revela, quando o conhecimento dele nos conduz à solução de tão grande número de problemas, até então insolúveis;

quando ele nos inicia nos mistérios do além-túmulo, que nos devem interessar de algum modo, visto que todos nós, tarde ou cedo, temos de transpor esse marco fatal?

O Espiritismo possui, porém, uma outra utilidade, mais positiva:
é a natural influência moral que exerce.

Ele é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade, da sua sorte futura;
é, pois, a destruição do materialismo, não pelo raciocínio, mas por factos.

Não convém pedir-lhe senão o que ele pode dar, e nunca o que está fora dos limites do seu fim providencial.
Antes dos progressos sérios da Astronomia, acreditava-se na Astrologia.

Será razoável dizer-se que a Astronomia para nada serve, porque já não se pode encontrar na influência dos astros o prognóstico do destino?

Assim como a Astronomia destronou os astrólogos, o Espiritismo veio destronar os adivinhos, os feiticeiros e os que liam a buena-dicha.

Ele é, para a magia, o que é a Astronomia para a Astrologia, a Química para a Alquimia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:55 am

LOUCURA, SUICÍDIO E OBSESSÃO

V.
Certas pessoas consideram as ideias espíritas como capazes de perturbar as faculdades mentais, pelo que acham prudente deter-lhes a propagação.

A. K. — Deveis conhecer o provérbio:
“Quem quer matar o cão — diz que o cão está danado.”

Não é, portanto, estranhável que os inimigos do Espiritismo procurem agarrar-se a todos os pretextos;
como este lhes pareceu próprio para despertar temores e susceptibilidades, empregam-no logo, conquanto não resista ao mais ligeiro exame.

Ouvi, pois, a respeito dessa loucura, o raciocínio de um louco.
Todas as grandes preocupações do espírito podem ocasionar a loucura;
as ciências, as artes, a religião mesmo, fornecem o seu contingente.

A loucura provém de um certo estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento;
estando o instrumento desorganizado, o pensamento fica alterado.

A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primária é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões;
e isto é tão real que encontrareis pessoas que pensam excessivamente e não ficam loucas, ao passo que outras enlouquecem sob o influxo da menor excitação.

Existindo uma predisposição para a loucura, toma esta o carácter de preocupação principal, que então se torna ideia fixa;
esta poderá ser a dos Espíritos, num indivíduo que deles se tenha ocupado, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social.

É provável que o louco religioso se tivesse tornado um louco espírita, se o Espiritismo fosse a sua preocupação dominante.

É certo que um jornal disse que se contavam, só em uma localidade da América, de cujo nome não me recordo, 4.000 casos de loucura espírita;
mas é também sabido que os nossos adversários têm a ideia fixa de se crerem os únicos dotados de razão;
é uma esquisitice como outra qualquer.

Para eles, nós somos todos dignos de um hospital de doidos, e, por consequência, os 4.000 espíritas da localidade em questão eram considerados como loucos.

Dessa espécie, os Estados Unidos contam centenas de milhares, e todos os países do mundo um número ainda muito maior.

Esse gracejo de mau gosto começa a não ter valor, desde que tal moléstia vai invadindo as classes mais elevadas da sociedade.

Falam muito do caso de Vitor Hennequin, mas se esquecem que, antes de se ocupar com os Espíritos, já ele havia dado provas de excentricidade nas suas ideias; se as mesas girantes não tivessem então aparecido (as quais, segundo um trocadilho bem espirituoso dos nossos adversários, lhe fizeram girar a cabeça), sua loucura teria seguido outro rumo.

Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem privilégio algum, nesse sentido;
mas vou ainda além: afirmo que, bem compreendido, ele é um preservativo contra a loucura e o suicídio.

Entre as causas mais numerosas de excitação cerebral, devemos contar as decepções, os desastres, as afeições contrariadas, as quais são também as mais frequentes causas do suicídio.

Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado, que as tribulações não são para eles senão os incidentes desagradáveis de uma viagem.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:55 am

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Aquilo que em outro qualquer produziria violenta comoção, afectão mediocremente.

Ele sabe que os dissabores da vida são provas que servirão para o seu adiantamento, se as sofrer sem murmurar, porque sua recompensa será proporcional à coragem com que as houver suportado.

Suas convicções dão-lhe, pois, uma resignação que o preserva do desespero e, por consequência, de uma causa incessante de loucura e de suicídio.

Ele sabe, além disso, pelo espectáculo que lhe dão as comunicações com os Espíritos, a sorte deplorável dos que abreviam voluntariamente os seus dias, e este quadro é bem de molde a fazê-lo reflectir;
também é considerável o número dos que por esse meio têm sido detidos nesse funesto declive.

É um dos grandes resultados do Espiritismo.

Em o número das causas de loucura, devemos também colocar o medo, principalmente do diabo, que já tem desarranjado mais de um cérebro.

Sabe-se o número de vítimas que se tem feito, ferindo as imaginações fracas com esse painel que, por detalhes horrorosos, capricham em tornar mais assustador.

O diabo, dizem, só causa medo às crianças, é um freio para corrigi-las;
sim, como o papão e o lobisomem, que as contêm por algum tempo, tornando-se elas piores que antes, quando lhes perdem o medo;
mas, em troca desse pequeno resultado, não contam as epilepsias que têm sua origem nesse abalo de cérebros tão delicados.

Não confundamos a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências da loucura propriamente dita.

Esta afecção, muito frequente, é independente de qualquer crença no Espiritismo e existiu em todos os tempos.
Neste caso, a medicação comum é impotente e mesmo prejudicial.

Fazendo conhecer esta nova causa de perturbação orgânica, o Espiritismo nos oferece, ao mesmo tempo, o único meio de vencê-la, agindo não sobre o enfermo, mas sobre o Espírito obsessor.

O Espiritismo é o remédio e não a causa do mal.
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O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec - Página 3 Empty Re: O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:56 am

ESQUECIMENTO DO PASSADO

V.
Não consigo explicar a mim mesmo como pode o homem aproveitar da experiência adquirida em suas anteriores existências, quando não se lembra delas, pois que, desde que lhe falta essa reminiscência, cada existência é para ele qual se fora a primeira;
deste modo, está sempre a recomeçar.

Suponhamos que cada dia, ao despertar, perdemos a memória de tudo quanto fizemos no dia anterior;
quando chegássemos aos setenta anos, não estaríamos mais adiantados do que aos dez;
ao passo que recordando as nossas faltas, inaptidões e punições que disso nos provieram, esforçar-nos-e-mos por evitá-las.

Para me servir da comparação que fizestes do homem, na Terra, com o aluno de um colégio, eu não compreendo como este poderia aproveitar as lições da quarta classe, não se lembrando do que aprendeu na anterior.

Essas soluções de continuidade na vida do Espírito interrompem todas as relações e fazem dele, de alguma sorte, uma entidade nova;
do que podemos concluir que os nossos pensamentos morrem com cada uma das nossas existências, para renascer em outra, sem consciência do que fomos;
é uma espécie de aniquilamento.


A. K. — De pergunta em pergunta, levar-me-eis a fazer um curso completo de Espiritismo;
todas as objecções que apresentais são naturais em quem ainda nada conhece, mas que, mediante estudo sério, pode encontrar-lhes respostas muito mais explícitas do que as que posso dar em sumária explicação que, por certo, deve sempre ir provocando novas questões.

Tudo se encadeia no Espiritismo, e, quando se toma o conjunto, vê-se que seus princípios emanam uns dos outros, servindo-se mutuamente de apoio;
e, então, o que parecia uma anomalia, contrária à justiça e à sabedoria de Deus, se torna natural e vem confirmar essa justiça e essa sabedoria.

Tal é o problema do esquecimento do passado, que se prende a outras questões de não menor importância e, por isso, não farei aqui senão tocar levemente o assunto.

Se em cada uma de suas existências um véu esconde o passado do Espírito, com isso nada perde ele das suas aquisições, apenas esquece o modo por que as conquistou.

Servindo-me ainda da comparação supra com o aluno, direi que pouco importa saber onde, como, com que professores ele estudou as matérias de uma classe, uma vez que as saiba, quando passa para a classe seguinte.

Se os castigos o tornaram laborioso e dócil, que lhe importa saber quando foi castigado por preguiçoso e insubordinado?

É assim que, reencarnando, o homem traz por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade.

Digo em moralidade porque, se no curso de uma existência ele se melhorou, se soube tirar proveito das lições da experiência, se tornará melhor quando voltar;

seu Espírito, amadurecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais firmeza;
longe de ter de recomeçar tudo, ele possui um fundo que vai sempre crescendo e sobre o qual se apoia para fazer maiores conquistas.

A segunda parte da vossa objecção, relativa ao aniquilamento do pensamento, não tem base mais segura, porque esse olvido só se dá durante a vida corporal;

uma vez terminada ela, o Espírito recobra a lembrança do seu passado;
então poderá julgar do caminho que seguiu e do que lhe resta ainda fazer;

de modo que não há essa solução de continuidade em sua vida espiritual, que é a vida normal do Espírito.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:56 am

Continua...

Esse esquecimento temporário é um benefício da Providência;
a experiência só se adquire, muitas vezes, por provas rudes e terríveis expiações, cuja recordação seria muito penosa e viria aumentar as angústias e tribulações da vida presente.

Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seria se a ele se juntasse a lembrança do passado?

Vós, por exemplo, meu amigo, sois hoje um homem de bem, mas talvez devais isso aos rudes castigos que recebestes pelos malefícios que hoje vos repugnariam à consciência;
ser-vos-ia agradável a lembrança de ter sido outrora enforcado por vossa maldade?

Não vos perseguiria a vergonha de saber que o mundo não ignorava o mal que tínheis feito?
Que vos importa o que fizestes e o que sofrestes para expiar, quando hoje sois um homem estimável?
Aos olhos do mundo, sois um homem novo, e aos olhos de Deus um Espírito reabilitado.

Livre da reminiscência de um passado importuno, viveis com mais liberdade;
é para vós um novo ponto de partida;
vossas dívidas anteriores estão pagas, cumprindo-vos ter cuidado de não contrair outras.

Quantos homens desejariam assim poder, durante a vida, lançar um véu sobre os seus primeiros anos!
Quantos, ao chegar ao termo de sua carreira, não têm dito:
“Se eu tivesse de recomeçar, não faria mais o que fiz!”

Pois bem, o que eles não podem fazer nesta mesma vida, fá-lo-ão em outra;
em uma nova existência, seu Espírito trará, em estado de intuição, as boas resoluções que tiver tomado.

É assim que se efectua gradualmente o progresso da humanidade.

Suponhamos ainda — o que é um caso muito comum — que, em vossas relações, em vossa família mesmo se encontre um indivíduo que vos deu outrora muitos motivos de queixa, que talvez vos arruinou, ou desonrou em outra existência, e que, Espírito arrependido, veio encarnar-se em vosso meio, ligar-se a vós pelos laços de família, a fim de reparar suas faltas para convosco, por seu devotamento e afeição;

não vos acharíeis mutuamente na mais embaraçosa posição, se ambos vos lembrásseis de vossas passadas inimizades?

Em vez de se extinguirem, os ódios se eternizariam.
Disso resulta que a reminiscência do passado perturbaria as relações sociais e seria um tropeço ao progresso.

Quereis uma prova?
Supondo que um indivíduo condenado às galés tome a firme resolução de tornar-se um homem de bem, que acontece quando ele termina o cumprimento da pena?

A sociedade o repele, e essa repulsa o lança de novo nos braços do vício.

Se, porém, todos desconhecessem os seus antecedentes, ele seria bem acolhido;
e, se ele mesmo os esquecesse, poderia ser honesto e andar de cabeça erguida, em vez de ser obrigado a curvá-la sob o peso da vergonha do que não pode olvidar.

Isto está em perfeita concordância com a doutrina dos Espíritos, a respeito dos mundos superiores ao nosso planeta, nos quais, só reinando o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa;
eis por que seus habitantes se recordam da sua existência precedente, como nós nos recordamos hoje do que ontem fizemos.

Quanto à lembrança do que fizeram em mundos inferiores, ela produz neles a impressão de um mau sonho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:56 am

ELEMENTOS DE CONVICÇÃO

V.
Convenho, ilustre amigo, que do ponto de vista filosófico, a Doutrina Espírita é perfeitamente racional;
mas fica sempre de pé a questão das manifestações, que não pode ser resolvida senão por factos;
ora, é a realidade destes que muita gente contesta, e não deveis achar extraordinário o desejo que vos manifestam de testemunhá-los.


A. K. — Acho-o muito natural;
todavia, como eu procuro que eles sejam aproveitados, explico em que condições convém que cada um se coloque, para melhor observá-los e, sobretudo, compreendê-los;
ora, quem não aceita essas condições, mostra não ter sério desejo de esclarecer-se, e com tal pessoa é inútil perdermos tempo.

Convireis, também, que seria singular que tão racional filosofia tivesse saído de factos ilusórios e controvertidos.

Em boa lógica, a realidade do efeito implica a da causa que o produz;
se um é verdadeiro, a outra não pode ser falsa, porque, onde não há árvores, não se pode colher frutos.

Nem todos, é certo, testemunharam os factos, porque não se colocaram nas condições precisas para observá-los;
não tiveram a paciência e a perseverança exigidas.

Mas isso também se dá com todas as ciências:
o que uns não fazem, é feito por outros;
todos os dias aceitamos o resultado dos cálculos astronómicos, sem que nós mesmos os façamos.

Seja como for, se achais a filosofia boa, podeis aceitá-la como aceitaríeis outra qualquer, conservando vossa opinião sobre as vias e meios que a ela conduziram, ou, ao menos, não a admitindo senão a título de hipótese, até mais ampla averiguação.

Os elementos de convicção não são os mesmos para todos;
o que convence a uns, não produz impressão alguma em outros; assim sendo, é preciso um pouco de tudo.

É, porém, um engano crer-se que as experiências físicas sejam o único meio de convencer.

Notei que em algumas pessoas os mais importantes fenómenos não produziram a menor impressão, ao passo que uma simples resposta escrita venceu todas as dúvidas.

Quando se vê um facto que não se compreende, quanto mais extraordinário ele é, mais suspeitas desperta e mais o pensamento se esforça para lhe dar uma causa vulgar;
se ele, porém, for compreendido, é logo admitido por ter uma razão de ser, desaparecendo o maravilhoso e o sobrenatural.

Certamente as explicações que vos acabo de dar, nesta conversa, longe estão de ser completas;
mas, sumárias como são, estou persuadido de que vos levarão a reflectir;
e, se as circunstâncias vos fizerem testemunhar alguns factos de manifestação, vê-los-eis com menor prevenção, porque possuireis uma base onde firmar o vosso raciocínio.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:57 am

Continua...

Há duas coisas no Espiritismo:
a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica.

Ora, eu sou todos os dias visitado por pessoas que ainda nada viram e crêem tão firmemente como eu, pelo só estudo que fizeram da parte filosófica;
para elas o fenómeno das manifestações é acessório;

o fundo é a doutrina, a ciência;
eles a vêem tão grande, tão racional, que nela encontram tudo quanto pode satisfazer às suas aspirações interiores, à parte o facto das manifestações;

do que concluem que, supondo não existissem as manifestações, a doutrina não deixaria de ser sempre a que melhor resolve uma multidão de problemas reputados insolúveis.

Quantos me disseram que essas ideias estavam em germe no seu cérebro, conquanto em estado de confusão.
O Espiritismo veio coordená-las, dar-lhes corpo, e foi para eles como um raio de luz.

É o que explica o número de adeptos que a simples leitura de O Livro dos Espíritos produziu.
Acreditais que esse número seria o que é hoje, se nunca tivéssemos passado das mesas giratórias e falantes?

V.O senhor tinha razão de dizer que das mesas giratórias e falantes saiu uma doutrina filosófica, e longe estava eu de suspeitar as consequências que surgiram de um facto encarado como simples objecto de curiosidade.

Agora vejo quanto é vasto o campo aberto pelo vosso sistema.


A. K. — Nisso vos contesto, caro senhor;
dais-me subida honra atribuindo-me esse sistema quando ele não me pertence.

Ele foi totalmente deduzido do ensino dos Espíritos.
Eu vi, observei, coordenei e procuro fazer compreender aos outros aquilo que compreendo; esta é a parte que me cabe.

Há entre o Espiritismo e outros sistemas filosóficos esta diferença capital;
que estes são todos obra de homens, mais ou menos esclarecidos, ao passo que, naquele que me atribuís, eu não tenho o mérito da invenção de um só princípio.

Diz-se:
a filosofia de Platão, de Descartes, de Leibnitz;
nunca se poderá dizer: a doutrina de Allan Kardec;
e isto, felizmente, pois que valor pode ter um nome em assunto de tamanha gravidade?

O Espiritismo tem auxiliares de maior preponderância, ao lado dos quais somos simples átomos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 13, 2011 10:58 am

SOCIEDADES ESPÍRITAS

V.
Tendes uma sociedade que se preocupa com esses estudos:
ser-me-ia possível fazer parte dela?


A. K. — Por ora, ainda não;
porque se não há, para ser nela recebido, necessidade de ser doutor em Espiritismo, há, contudo, a de ter-se sobre ele ao menos ideias mais firmes do que as vossas.

Como a Sociedade não deseja ser perturbada nos seus estudos, ela não admite os que lhe viriam fazer perder tempo com questões elementares, nem os que, não simpatizando com seus princípios e convicções, lançariam a desordem no seu seio, com discussões intempestivas ou com o espírito de contradição.

É uma sociedade científica, como tantas outras, que se ocupa de aprofundar os diferentes pontos da ciência espírita e procura esclarecer-se;
é o centro ao qual convergem ensinos colhidos em todas as partes do mundo e onde se elaboram e coordenam questões que se relacionam com o progresso da Ciência, mas não é uma escola nem um curso de ensino elementar.

Mais tarde, quando as vossas convicções estiverem fortalecidas pelo estudo, ela decidirá se vos deve admitir.

Enquanto esperais, podereis assistir, como visitante, a uma ou duas sessões, com a condição de não fazer reflexão alguma de natureza a melindrar quem quer que seja; do contrário, eu, que vos vou apresentar, incorreria na censura dos meus colegas, e a porta vos seria interdita.

Aí encontrareis uma reunião de homens graves e de boa sociedade, cuja maioria se recomenda pela superioridade do seu saber e posição social, e que não consentiria, àqueles que recebe em seu seio, se afastarem das conveniências, no que quer que seja;
não creiais, pois, que ela convide o público e chame o primeiro recém-vindo para assistir às suas sessões.

Como não faz demonstrações com o fim de satisfazer curiosidades, ela afasta com cuidado os curiosos.

Aqueles, pois, que supõem ir aí achar uma distracção e uma espécie de espectáculo, ficarão desapontados e melhor farão se lá não forem.

Eis por que ela recusa admitir, mesmo como simples visitantes, as pessoas que não conhece, ou aquelas cujas disposições hostis são notórias.
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