LUZ ESPÍRITA
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O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 10, 2011 10:02 am

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“O presidente da Sociedade Espírita de Paris está morto;
mas o número de adeptos cresce todos os dias, e os corajosos, os quais pelo respeito ao Mestre se deixavam ficar no segundo plano, não hesitarão em se evidenciarem, por bem da grande causa.

“Esta morte, que o vulgo deixará passar indiferente, não deixa de ser, por isso, um grande facto para a Humanidade.

Não é mais o sepulcro de um homem, é a pedra tumular enchendo esse imenso vácuo que o materialismo cavara aos nossos pés e sobre o qual o Espiritismo esparge as flores da esperança.”

Um ponto sobre o qual não atraí a vossa atenção, mas que devo assinalar, é a caridade verdadeiramente cristã de Allan Kardec;
dele se pode dizer que a mão esquerda ignorou sempre o bem que fazia a direita, e que esta ainda menos conheceu os botes que à outra atiravam aqueles para quem o reconhecimento é um fardo excessivamente pesado.

Cartas anónimas, insultos, traições, difamações sistemáticas, nada foi poupado a esse intrépido lutador, a essa alma grande e varonil que penetrou integralmente na imortalidade.

O despojo mortal de Allan Kardec repousa no Père Lachaise, em Paris, sob modesta lápide erigida pela piedade dos seus discípulos;
é aí que se reúnem todos os anos, desde 1869 10, os adeptos que têm guardado fidelidade à memória do Mestre e conservam preciosamente no coração o culto da saudade.

E já que um sentimento análogo nos reúne hoje, repitamos bem alto, minhas senhoras, meus senhores:
Honra! Honra e glória a Allan Kardec! 11

Henri Sausse
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 10, 2011 10:02 am

Preâmbulo

As pessoas que só têm conhecimento superficial do Espiritismo são, naturalmente, inclinadas a formular certas questões, cuja solução podiam, sem dúvida, encontrar em um estudo mais aprofundado dele;
porém, o tempo e, muitas vezes, a vontade lhes faltam para se entregarem a observações seguidas.

Antes de empreenderem essa tarefa, muitos desejam saber, pelo menos, do que se trata e se vale a pena ocupar-se com tal coisa.

Por isso, achamos útil apresentar resumidamente as respostas a algumas das principais perguntas que nos são diariamente dirigidas;
isto será, para o leitor, uma primeira iniciação, e, para nós, tempo ganho sobre o que tínhamos de gastar a repetir constantemente a mesma coisa.

Sob a forma de diálogos, o primeiro capítulo deste volume encerra respostas às observações mais comumente feitas por aqueles que desconhecem os princípios fundamentais da Doutrina e, bem assim, a refutação dos principais argumentos de seus contraditores.

Esta forma nos pareceu a mais conveniente, por não ter a aridez da dogmática.

No segundo capítulo, damos uma exposição sumária das partes da ciência prática e experimental, sobre as quais, na falta de uma instrução teórica completa, o observador novato deve fixar a sua atenção para poder julgar com conhecimento de causa; é, aproximadamente, um resumo de O Livro dos Médiuns.

As objecções nascem, quase sempre, das ideias falsas, feitas, a priori 12, sobre aquilo que se não conhece bem.

Rectificar essas ideias é prevenir as objecções, tal é o fim deste pequeno trabalho.

No terceiro capítulo, publicamos um resumo de O Livro dos Espíritos, com a solução, pela Doutrina Espírita, de certo número de problemas do mais alto interesse, de ordem psicológica, moral e filosófica, que diariamente são propostos, e aos quais nenhuma filosofia deu ainda resposta satisfatória.

Procurem resolvê-los por qualquer outra teoria, sem a chave que nos fornece o Espiritismo; comparem suas respostas com as dadas por este, e digam quais são as mais lógicas, quais as que melhor satisfazem à razão.

Estes resumos não somente são úteis aos principiantes, que neles poderão, em pouco tempo e com pouca despesa, beber as noções mais essenciais da Doutrina Espírita, senão, também, aos adeptos, pois lhes fornecem os meios para responderem às primeiras objecções que não deixarão de lhes apresentar, e, além disso, por encontrarem reunidos, em quadro restrito e sob um mesmo ponto de vista, os princípios que devem sempre estar presentes à sua memória.

Para responder, desde já e sumariamente, à pergunta formulada no título deste opúsculo, diremos que:

O ESPIRITISMO É, AO MESMO TEMPO, UMA CIÊNCIA DE OBSERVAÇÃO E UMA DOUTRINA FILOSÓFICA.
COMO CIÊNCIA PRÁTICA ELE CONSISTE NAS RELAÇÕES QUE SE ESTABELECEM ENTRE NÓS E OS ESPÍRITOS;
COMO FILOSOFIA, COMPREENDE TODAS AS CONSEQUÊNCIAS MORAIS QUE DIMANAM DESSAS MESMAS RELAÇÕES.


Podemos defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 10, 2011 10:03 am

CAPÍTULO I

Pequena conferência espírita

PRIMEIRO DIÁLOGO O CRÍTICO

Visitante
Confesso-vos, caro senhor, que a minha razão recusa admitir a realidade dos fenómenos estranhos atribuídos aos Espíritos, persuadido que estou de estes não terem senão uma existência imaginária.

Entretanto, eu me curvaria diante da evidência, se disso tivesse provas incontestáveis;
por isso desejo merecer vos a permissão de assistir somente a uma ou duas experiências, para não ser indiscreto, a fim de convencer-me, caso seja possível.


Allan Kardec — Desde que a vossa razão repele o que nós consideramos irrecusável, vós a credes superior às de todos quantos não compartilham de vossas opiniões.

Longe de mim o pensamento de duvidar do vosso talento e a pretensão de supor minha inteligência superior à vossa;
admiti, pois, que eu esteja iludido, é a vossa razão quem vo-lo diz: e não falemos mais nisso.

V.Entretanto, se conseguísseis convencer-me, conhecido que sou como antagonista das vossas ideias, isto seria um milagre eminentemente favorável à causa que defendeis.

A. K. — Lamento-o, caro senhor, porém não tenho o dom de fazer milagres. Julgais que uma ou duas sessões bastariam para adquirirdes convicção?

Seria, realmente, um verdadeiro prodígio; eu precisei mais de um ano de trabalho para ficar convencido;
o que prova que não cheguei a esse estado inconsideradamente.

Além disso, não realizo sessões públicas e parece-me que vos enganastes sobre o fim das nossas reuniões, visto não fazermos experiências com o fito de satisfazer à curiosidade de ninguém.

V. Não procurais, pois, fazer prosélitos?

A. K. — Para que buscarmos fazer-vos prosélito, quando não o quereis ser?

Não pretendo forçar convicção alguma. Quando encontro pessoas que sinceramente desejam instruir-se e dão-me a honra de pedir-me esclarecimentos, folgo e cumpro um dever respondendo-lhes nos limites dos meus conhecimentos;

quanto aos antagonistas, porém, que, como vós, têm convicções arraigadas, não tento um passo para delas arredá-los, atento a que é grande o número dos que se mostram bem-dispostos, para que possamos perder o nosso tempo com aqueles que o não estão.

Estou certo de que, diante dos fatos, a convicção há de vir, mais tarde ou mais cedo, e que os incrédulos hão de ser arrastados pela torrente;

por ora, alguns partidários, de mais ou de menos, nada alteram na pesagem;
pelo que nunca me vereis incomodado para atrair, às nossas ideias, aqueles que, como vós, sabem as razões que têm para fugir delas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 10, 2011 10:03 am

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V.Há mais interesse em convencer-me do que o supondes.
Permitis que me explique com franqueza e prometeis-me não ver ofensa alguma nas minhas palavras?

São as minhas ideias sobre a coisa em si e não sobre a pessoa a quem me dirijo;
posso respeitar a pessoa, sem participar de suas opiniões.


A. K. — O Espiritismo me tem ensinado a desprezar essas mesquinhas susceptibilidades do amor-próprio, e a me não ofender com palavras.

Se as vossas expressões saírem dos limites da urbanidade e das conveniências, apenas concluirei que sois um homem mal-educado, mas não irei além.

Quanto a mim, antes quero que os outros fiquem com os defeitos, do que compartilhar deles.
Vedes, só por isso, que o Espiritismo já serve para alguma coisa.

Já vos disse, senhor, não tenho a pretensão de vos fazer adoptar a minha opinião; respeito a vossa, se é sincera, como desejo que respeiteis a minha.

Acreditando ser o Espiritismo um sonho sem sentido, dissestes, sem dúvida, vindo a minha casa: Vou ver um louco.

Confessai-o francamente, pois com isso não me escandalizarei.
Todos os espíritas são loucos, é coisa sabida. Pois bem!

Se julgais assim, eu tenho escrúpulo de transmitir-vos a minha enfermidade mental;
e causa-me espanto ver-vos, com tal pensamento, buscar uma convicção que vos vai colocar no número dos loucos.

Se já estais persuadido de que não conseguiremos convencer-vos, o passo que destes é inútil, visto que só terá por fim a curiosidade.

Abreviemos, pois, por favor, porque me falta tempo para perder em conversações sem objecto.

V.O homem pode enganar-se, deixar-se iludir, sem que, por isso, seja louco.

A. K. — Dizei logo:
acreditais, como muitos, que isto é moda que durará certo tempo;

mas deveis convir que um passatempo que, em alguns anos, tem conquistado milhões de partidários, em todos os países, que conta entre seus adeptos sábios de toda ordem, que se propaga de preferência nas classes mais esclarecidas, é mania singular, que merece examinada.

V. Tenho minhas ideias a respeito, é certo, porém elas não se acham tão absolutamente firmadas, que não consinta em sacrificá-las à evidência.
Disse-vos que teríeis certo interesse em me convencer.

Confesso-vos que tenciono publicar um livro em que me proponho demonstrar
ex professo 13 a minha opinião sobre o que considero um erro;

e como esse livro deve produzir efeito, dando um golpe no Espiritismo, eu deixaria de publicá-lo, caso ficasse convencido da realidade da vossa doutrina.


A. K. — Eu sentiria que ficásseis privado do que vos pode proporcionar um livro que deve produzir tanto efeito;
além disso, não tenho interesse algum em impedir a sua publicação:

ao contrário, desejo-lhe grande circulação, porque assim ele nos servirá de prospecto e anúncio.
A nossa atenção é sempre chamada sobre aquilo que vemos atacado;

há muita gente que quer ver os prós e os contras, e a crítica faz aparecer a verdade, mesmo aos olhos daqueles que não a procuravam aí;
é assim que muitas vezes, sem querer, se faz reclamo do que se quer combater.

A questão dos Espíritos é, por outro lado, tão palpitante de interesse, choca a tal ponto a curiosidade, que basta assinalá-la à atenção, para que nasça o desejo de aprofundá-la.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 10, 2011 10:04 am

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V.Então, no vosso entender, a crítica para nada serve, a opinião pública nada vale?

A. K. — Não considero a crítica como expressão da opinião pública, mas como juízo individual, que bem pode enganar-se.

Lede a história e vereis quantos trabalhos importantes foram, ao aparecer, criticados, sem que isso os excluísse do número das grandes obras;
quando, porém, uma coisa é má, não há elogio que a torne boa.

Se o Espiritismo é uma falsidade, ele cairá por si mesmo;
se, porém, é uma verdade, não há diatribe que possa fazer dele uma mentira.

Ao nosso modo de ver, vosso livro não será mais que uma apreciação pessoal;
a verdadeira opinião pública decidirá da justeza dos vossos conceitos.

Procurarão examinar.
Se mais tarde reconhecerem que vos enganastes, vosso livro se tornará ridículo, como os que, não há muito, foram publicados contra as teorias da circulação do sangue, da vacina, etc., etc.

Esquecia-me, porém, que íeis tratar a questão ex professo, o que equivale a dizer que a estudastes sob todas as suas faces;

que vistes tudo o que se pode ver, lestes tudo o que sobre a matéria se tem escrito, analisastes e comparastes as diversas opiniões;

que vos achastes nas melhores condições de observação pessoal;
que durante anos lhe consagrastes vigílias; em suma: que nada desprezastes para chegar à verdade.

Devo crer que tal se deu, se sois um homem sério, porque somente aquele que fez tudo isso pode dizer que fala com conhecimento de causa.

Que juízo formaríeis de um homem que, sem conhecimento de literatura, sem ter estudado a pintura, se erigisse em censor de uma obra literária ou de um quadro?

É de lógica elementar que o crítico conheça, não superficialmente, mas, a fundo, aquilo de que fala, sem o que, sua opinião não tem valor.

Para combater um cálculo é necessário opor-se-lhe outro cálculo, o que exige saber calcular.

O crítico não se deve limitar a dizer que tal coisa é boa ou má;
é preciso que justifique a opinião por uma demonstração clara e categórica, baseada sobre os princípios da arte ou ciência a que pertence o objecto da crítica.

Como poderá fazê-lo, quando não conhecer esses princípios?
Não tendo ideia da mecânica, podereis apreciar as qualidades, ou os defeitos de determinada máquina?

Não. Pois bem:
o vosso juízo acerca do Espiritismo, que aliás não conheceis, não pode ter mais valor que o que, nas condições acima, emitísseis sobre a aludida máquina.

A cada passo sereis apanhado em flagrante delito de ignorância, porque aqueles que têm estudado a matéria verão logo que a desconheceis;
donde concluirão que não sois um homem sério ou que agis de má-fé;
expondo-vos, portanto, a receber, quer num, quer noutro caso, desmentido pouco lisonjeiro ao vosso amor-próprio.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 10, 2011 10:05 am

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V.É precisamente para evitar esse perigo que vim pedir-vos permissão para assistir a algumas experiências.

A. K. — E julgais que isto vos baste para poder, ex professo, falar de Espiritismo?

Como podereis compreender essas experiências e, ainda mais, julgá-las, quando não estudastes os princípios em que elas se baseiam?

Como apreciaríeis o resultado, satisfatório ou não, de ensaios metalúrgicos, por exemplo, não conhecendo a fundo a metalurgia?

Permiti-me dizer-vos, senhor, que vosso projecto é absolutamente a mesma coisa que, não tendo estudado a Matemática, nem a Astronomia, vos apresentásseis a um dos membros do Observatório, dizendo-lhe:

“Senhor, quero escrever um livro sobre Astronomia e provar que o vosso sistema é falso;

mas, como desconheço os menores rudimentos dessa ciência, deixai que, por uma ou duas vezes, me sirva de vossa luneta;

o que será suficiente para ficar sabendo tanto quanto vós.”

É somente por extensão que a palavra criticar se tornou sinónima de censurar;
em sua acepção própria e segundo a etimologia, ela significa julgar, apreciar.

A crítica pode, pois, ser aprovativa ou desaprovativa.

Fazer a crítica de um livro não é necessariamente condená-lo;
quem empreende essa tarefa, deve fazê-lo sem ideias preconcebidas;
porém, se antes de abrir o livro, já o condena em pensamento, o exame não pode ser imparcial.

Tal o caso da maioria dos que têm falado contra o Espiritismo.
Apenas sobre o nome formaram uma opinião, fazendo qual juiz que proferisse uma sentença, sem antes examinar as peças do processo.

A consequência foi que seu julgamento feriu em falso, e que, em vez de persuadir, ocasionaram riso.

A maior parte dos que seriamente têm estudado a questão, mudou de ideia, e mais de um adversário se tem tornado adepto do Espiritismo, quando reconhece que o seu objectivo é muito diverso daquele que supunha.

V.Falais do exame dos livros em geral; acreditais que seja materialmente possível a um jornalista ler e estudar todos os que lhe passam pelas mãos, sobretudo quando se ocupam com teorias novas, que lhe seria preciso aprofundar e verificar?

Seria o mesmo que exigir de um impressor que ele lesse todas as obras saídas de sua prensa.


A. K. — A tão judicioso raciocínio não tenho outra resposta a dar senão que, quando nos falta o tempo para fazer conscienciosamente uma coisa, é melhor não fazê-la;
é preferível produzir um só trabalho bom a fazer dez maus.

V.Não acrediteis que minha opinião se tenha formado levianamente.

Vi mesas girarem e produzirem sons como de pancadas;
vi pessoas escreverem o que segundo diziam, lhes ditavam os Espíritos;
estou, porém, convencido de que nisso há charlatanismo.


A. K. — Quanto vos cobraram para mostrar-vos essas coisas?

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:37 am

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V.Nada, por certo.

A. K. — Ora, aí tendes charlatães de uma espécie singular, que vão reabilitar o nome da sua classe.

Até ao presente não se tinha ainda visto charlatães desinteressados.
Suponhamos que um gaiato de mau gosto tenha querido uma vez divertir-se assim;
será crível que as outras pessoas presentes pactuassem com ele?

Demais, com que fim se fariam elas cúmplices de uma mistificação?
Direis que com o fim de recrear a sociedade...

Concordo em que uma vez se prestassem a tal brinquedo;
porém, quando esse brinquedo dura meses e anos, julgo que o mistificado é o próprio mistificador.

Não é provável que, só pelo gosto de fazer que creiam em uma coisa que ele sabe ser falsa, alguém vá passar horas inteiras, imóvel, agarrado a uma mesa.
O gosto não equivaleria à pena.

Antes de julgar isso uma fraude, é preciso indagar que interesse havia em enganar;
ora, não deixareis de convir que há pessoas que se não coadunam com a mais leve suspeita de embuste;
pessoas cujo carácter já é uma garantia de probidade.

Coisa muito diversa seria se se tratasse de uma especulação, porque a tentação do ganho é má conselheira;
mas, admitindo mesmo que, neste último caso, ficasse bem comprovado um manejo fraudulento, isso em nada ofenderia a realidade do princípio, porque de tudo se pode abusar.

Por vender-se vinho falsificado, não se deve concluir que não existe vinho puro.

O Espiritismo não é mais responsável pelos actos daqueles que abusam desse nome e o exploram, do que o é a ciência médica pelos actos dos charlatães que impingem suas drogas, ou a religião pelos dos sacerdotes que iludem seu ministério.

Por sua novidade e mesmo por sua natureza, o Espiritismo se presta a abusos; ele, porém, fornece os meios para que os reconheçam, definindo claramente
seu verdadeiro carácter e afastando de si toda a solidariedade com aqueles que o viriam a explorar ou desviar do seu fim exclusivamente moral, para transformá-lo em meio de vida, em instrumento de adivinhação ou de investigações fúteis.

Desde que o Espiritismo mesmo traça os limites em que se encerra, define o que pode ou não dizer ou fazer, o que está ou não em suas atribuições, o que aceita e o que repudia, toda a falta recai sobre aqueles que, não se dando ao trabalho de estudá-lo, o julgam pelas aparências e que, por terem encontrado saltimbancos adornando-se sob o nome de espíritas, para chamar concorrência, dizem com gravidade: eis o que é o Espiritismo.

Sobre quem, em definitivo, cairá o ridículo?
Será sobre o saltimbanco que usa do seu ofício?

Será sobre o Espiritismo, cuja doutrina escrita desmente tais asserções?
Ou, antes, sobre os críticos que falam do que não sabem ou de, cientemente, alterarem a verdade?

Aqueles que atribuem ao Espiritismo o que é contrário à sua mesma ciência, fazem-no por ignorância ou má intenção;
no primeiro caso há leviandade, no segundo, má-fé.

E, neste último caso, eles se colocam na posição do historiador que, no interesse de sustentar um partido ou uma opinião, alterasse os factos históricos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:37 am

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Quando usa desses meios, o partido fica desacreditado e não consegue o seu fim.

Notai bem, cavalheiro, que eu não pretendo que a crítica deve necessariamente aprovar nossas ideias, mesmo depois de as haver estudado;
não nos revoltamos de forma alguma contra os que não pensam como nós.

O que é evidente, para nós, pode não ser para vós outros;
cada qual julga as coisas debaixo de certo ponto de vista, e do facto mais positivo nem todos tiram as mesmas consequências.

Se um pintor, por exemplo, pinta em seu quadro um cavalo branco, não faltará quem diga que essa cor faz aí mau efeito, que a cor negra conviria mais, e nisto não se comete erro;
cometer-se-á, porém, se, vendo que o cavalo é branco, afirmar que é negro;
é o que faz a maioria dos nossos adversários.

Em resumo, senhor, todos têm completa liberdade de aprovar ou censurar os princípios do Espiritismo, de deduzir deles as consequências boas ou más que lhes aprouver, porém a consciência impõe ao crítico a obrigação de não dizer o contrário do que ele sabe que é;
ora, para isso, a primeira condição é não falar do que não conhece.

V.Voltemos, por favor, às mesas que se movem e falam;
não será possível que elas sejam preparadas com algum artifício?


A. K. — É sempre a mesma questão de boa-fé, a que já respondi.

Quando a fraude for provada, eu vo-la reconhecerei;
se descobrirdes factos demonstrados de embuste, charlatanismo, especulação ou abuso de confiança, fustigai-os e eu desde já vos declaro que não irei defendê-los, porque o Espiritismo sério é o primeiro a repudiá-los;

e quem assinalar tais abusos o auxilia no trabalho de preveni-los e lhe presta importante serviço.

Porém, generalizar essas acusações, lançar sobre elevado número de pessoas honradas a reprovação que só cabe a alguns indivíduos isolados, é um abuso de outro género, porque é uma calúnia.

Admitindo, como dissestes, que as mesas estivessem preparadas, era preciso que o mecanismo empregado fosse bem engenhoso para fazê-las produzir movimentos e sons tão variados.

Ora, como não é ainda conhecido o nome do hábil artista que os fabrica?
Entretanto, ele deveria gozar de grande celebridade, visto que seus aparelhos estão espalhados pelas cinco partes do mundo.

Devemos também convir que o seu processo é assaz delicado e subtil, para poder adaptar-se à primeira mesa que se apresenta, sem deixar sinal algum exterior que o denuncie.

Como é que, desde Tertuliano, que já tratava das mesas giratórias e falantes, até o presente ninguém conseguiu ver e descrever tal mecanismo?

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:37 am

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V.Eis o que vos ilude.

Um célebre cirurgião reconheceu que certas pessoas podem, pela contracção de um músculo da perna, produzir um ruído semelhante ao que atribuís à mesa; donde concluiu que os médiuns se divertem à custa da credulidade dos assistentes.


A. K. — Se é um estalido do músculo, não é então a mesa que está preparada.
Uma vez que cada qual explica a seu modo essa pretendida fraude, fica reconhecido que a verdadeira causa não é sabida.

Respeito a ciência desse sábio cirurgião, e somente acho que se apresentam algumas dificuldades na aplicação, às mesas falantes, da teoria indicada.

A primeira é que é singular que essa faculdade, até o presente excepcional e olhada como um caso patológico, se tenha tornado comum;

a segunda, que é preciso ter-se robustíssima vontade de mistificar, para fazer estalar o músculo durante duas ou três horas consecutivas, quando disso não resulte a quem assim procede senão fadiga e dor;

a terceira, que eu não compreendo bem como pode esse músculo responder às portas e paredes em que as pancadas se fazem ouvir;

a quarta, finalmente, que é necessário dar-se a esse músculo estalador uma propriedade bem maravilhosa, para que ele possa mover uma pesada mesa, levantá-la, abri-la, fechá-la, conservá-la suspensa sem ponto de apoio, e, finalmente, fazê-la despedaçar-se ao cair.

Ninguém, por certo, desconfiava que esse músculo possuísse tanta virtude

(Revue Spirite, junho de 1859, pág. 141:“Le muscle craqueur”.)

O célebre cirurgião, de que falais, teria estudado o fenómeno da tiptologia sobre os indivíduos que os produzem?

Não; ele observou um efeito fisiológico anormal em alguns indivíduos que nunca se ocuparam de mesas batedoras;

e, notando certa analogia entre esse efeito e o que essas mesas produzem, sem mais amplo exame concluiu, com toda a autoridade de sua ciência, que todos os que concorrem, para que as mesas falem, devem ter a propriedade de fazer estalar o músculo curto perónio, e não são mais que embusteiros, sejam eles príncipes ou artífices, recebam ou não um pagamento.

Estudou ele, ao menos, o fenómeno da tiptologia em todas as suas fases?
Verificou, por meio desse estalido muscular, se podia produzir todos os efeitos tiptológicos?

Não; porque, do contrário, ele ficaria convencido da insuficiência do seu processo;
apesar disso, julgou-se no caso de proclamar a sua descoberta, em pleno Instituto.

Não será esse juízo assaz comprometedor para um sábio?
Quem pensa hoje nessa opinião?

Confesso-vos que, se me tivesse de sujeitar a uma operação cirúrgica, hesitaria muito em confiar-me a esse médico, porque recearia que ele não julgasse o meu mal com mais perspicácia.

Já que esse juízo é uma das autoridades em que pareceis querer apoiar-vos para esmagar o Espiritismo, fico completamente inteirado da força dos outros argumentos que quereis validar, a menos que os não ides beber em fontes mais autênticas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:38 am

V.Entretanto, bem vedes que já passou a moda das mesas girantes que durante certo tempo fizeram furor;
hoje já ninguém se ocupa com elas.
Por que se dá isso, quando é uma coisa séria?


A. K. — Porque das mesas girantes saiu uma coisa ainda mais séria:
uma ciência completa, uma perfeita doutrina filosófica, do máximo interesse para os homens que reflectem.

Quando estes nada mais tiveram a aprender no giro das mesas, não mais com elas se ocuparam.

Para as pessoas fúteis, que nada querem aprofundar, esse fenómeno era um passatempo, um divertimento que abandonaram quando dele se aborreceram;
são pessoas com as quais a ciência não conta.

O período de curiosidade teve seu tempo;
sucedeu-lhe o da observação.

O Espiritismo entrou, então, no domínio da gente séria, que não o toma como objecto de divertimento, mas, sim, como meio de instruir-se.

Porém, essas pessoas que o consideram como coisa grave, não se prestam a qualquer experiência de curiosidade, e ainda menos a satisfazer a daqueles que se apresentam com pensamentos hostis;

como não brincam, não se prestam a servir de brinquedo para os outros;
eu pertenço a esse número.

V.No entanto, somente a experiência pode convencer, mesmo aquele que, em começo, seja movido pela curiosidade.

Se só trabalhais na presença de pessoas convictas, deixai que vos diga, ensinais a quem já sabe.


A. K. — Uma coisa é estar convencido e outra estar disposto a convencer-se;
é aos desta última classe que me dirijo, e não aos que julgam humilhação vir escutar o que eles chamam ilusões.

Com estes eu não me ocupo, absolutamente.

Quanto aos que manifestam sincero desejo de esclarecer-se, o melhor modo que têm, para prová-lo, é mostrar perseverança;

são reconhecidos por outros sinais que não apenas o desejo de ver uma ou duas experiências:
esses querem trabalhar seriamente.

A convicção só se adquire com o tempo, por meio de uma série de observações feitas com cuidado todo particular.

Os fenómenos espíritas diferem essencialmente dos das ciências exactas:
não se produzem à vontade;
é preciso que os colhamos de passagem;

é observando muito e por muito tempo que se descobre uma porção de provas que escapam à primeira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se pode encontrá-las, e ainda mais quando se vem com o espírito prevenido.

As provas abundam para o observador assíduo e reflectido:
uma palavra, um facto aparentemente insignificante, é para ele um raio de luz, uma confirmação;

ao passo que tais factos não têm sentido para quem os observa superficialmente ou por simples curiosidade;
eis por que não me presto a fazer experiências sem resultado provável.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:38 am

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V.Enfim, tudo deve ter começo.
O aprendiz, que nada sabe, que nada viu ainda, mas que deseja esclarecer-se, como poderá fazê-lo, quando não lhe facultais os meios para isso?


A. K. — Eu faço grande distinção entre o incrédulo por ignorância e o incrédulo por sistema;
quando descubro alguém com disposições favoráveis, nada me custa esclarecê-lo;
há, porém, pessoas em quem a vontade de instruir-se não é senão aparente;

com estas perde-se o tempo; porque, se elas não encontram logo o que parecem buscar, e que talvez as incomodasse, se aparecesse, o pouco que vêem não é suficiente para lhes destruir as prevenções;

julgam mal os resultados obtidos e os transformam em objecto de zombaria, pelo que não há utilidade em lhos fornecer.

A quem deseja instruir-se, direi:
“Não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um de Física ou de Química, atento que nunca se é senhor de produzir os fenómenos espíritas à vontade, e que as inteligências desses agentes fazem, muitas vezes, frustrarem-se todas as nossas previsões.

Aqueles que acidentalmente poderíeis ver, não apresentando nexo algum, nem ligação necessária, seriam pouco inteligíveis para vós.

Instruí-vos primeiramente pela teoria, lede e meditai as obras que tratam dessa ciência;

nelas aprendereis os princípios, encontrareis a descrição de todos os fenómenos, compreendereis a possibilidade deles pela explicação que elas vos darão, e, pela narrativa de grande número de factos espontâneos de que pudestes ser testemunha sem os compreender, mas que vos voltarão à memória, vós vos fortificareis contra todas as dificuldades que possam surgir e formareis, desse modo, uma primeira convicção moral.

Então, quando se vos apresentar a ocasião de observar ou operar pessoalmente, compreendereis, qualquer que seja a ordem em que os factos se mostrem, porque nada vereis de estranho.”

Eis, meu caro senhor, o que aconselho a todos que dizem querer instruir-se, e, pela resposta que dão, é fácil conhecer se neles há alguma coisa mais que curiosidade!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:39 am

SEGUNDO DIÁLOGO

O CÉPTICO

V.
Compreendo, cavalheiro, a utilidade do estudo preliminar de que acabais de falar.

Como predisposição pessoal, dir-vos-ei que não sou a favor nem contra o Espiritismo, mas esse assunto me excita o interesse no mais alto grau.

Entre as pessoas de meu conhecimento, há partidários e adversários dele;
a seu respeito tenho ouvido argumentos muito contraditórios, e propunha-me submeter-vos algumas das objecções que foram feitas em minha presença e que me parecem de certo valor, para mim ao menos, que vos confesso a minha ignorância a respeito.


A. K. — Terei grande satisfação, meu amigo, em responder às perguntas que me quiserdes dirigir, sempre que forem feitas com sinceridade e sem pensamento oculto;
não tenho a pretensão, entretanto, de poder responder a todas.

O Espiritismo é uma ciência que acaba de nascer e da qual resta ainda muito a aprender;
seria, pois, grande presunção de minha parte pretender levar de vencida todas as dificuldades;
não poderei dizer mais do que sei.

O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral;
é um campo imenso que não pode ser percorrido em algumas horas.

Compreendeis que me seria materialmente impossível repetir de viva voz e a cada pessoa, em particular, tudo quanto tenho escrito sobre essa matéria, para uso geral.

Em prévia leitura cada qual encontrará, além disso, uma resposta à maior parte das questões que lhe venham à mente;
essa leitura tem a dupla vantagem de evitar repetições inúteis e de provar um desejo sincero de instruir-se.

Se, depois dela, ainda existirem dúvidas ou pontos obscuros, o esclarecimento não oferecerá mais dificuldade, porque já se possui um ponto de apoio e não se tem necessidade de perder tempo em rever os princípios mais elementares da Doutrina.

Se o permitirdes, limitar-nos-emos, por ora, a algumas questões genéricas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:39 am

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO

V.
Seja; tende a bondade de chamar-me à ordem, sempre que eu dela me afaste.

Pergunto-vos, em primeiro lugar, qual a necessidade da criação de novos termos:
espírita e espiritismo, para substituir:
espiritualista e espiritualismo, que são da língua vulgar e por todos compreendidos?

Já ouvi alguém classificar tais termos de barbarismos.


A. K. — De há muito tem já a palavra espiritualista uma acepção bem determinada;
é a Academia que no-la dá:
Espiritualista, aquele ou aquela pessoa cuja doutrina é oposta ao materialismo.

Todas as religiões são necessariamente fundadas sobre o espiritualismo.

Aquele que crê que em nós existe outra coisa, além da matéria, é espiritualista, o que não implica a crença nos Espíritos e nas suas manifestações.

Como o podereis distinguir daquele que tem esta crença?
Ver-vos-eis obrigado a servir-vos de uma perífrase e dizer:
É um espiritualista que crê ou não crê nos Espíritos.

Para as novas coisas são necessários termos novos, quando se quer evitar equívocos.

Se eu tivesse dado à minha Revista a qualificação de espiritualista, não lhe teria especificado o objecto, porque, sem desmentir-lhe o título, bem poderia nada dizer nela sobre os Espíritos, e até combatê-los.

Já há algum tempo, li num jornal, a propósito de uma obra filosófica, um artigo em que se dizia tê-la o autor escrito do ponto de vista espiritualista;

ora, os partidários dos Espíritos ficariam singularmente desapontados se, confiantes nessa indicação, acreditassem encontrar alguma concordância entre o que ela ensina e as ideias por eles admitidas.

Se adoptei os termos espírita, espiritismo, é porque eles exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aos Espíritos.

Todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são espíritas.

Ainda que os Espíritos fossem uma quimera, havia utilidade em adoptar termos especiais para designar o que a eles se refere;
porque as falsas ideias, como as verdadeiras, devem ser expressas por termos próprios.

Além disso, essas palavras não são mais bárbaras que as outras que as ciências, as artes e a indústria diariamente estão criando;

com certeza, elas não o são mais do que aquela que Gall imaginou para a sua nomenclatura das faculdades, como:
Secretividade, alimentividade, afecionividade, etc.

Há pessoas que, por espírito de contradição, criticam tudo que não provém delas, tomando ares de oposicionistas;
aqueles que assim provocam tão pequeninas chicanas, só revelam o acanhamento de suas ideias.

Agarrar-se a tais bagatelas é demonstrar falta de boas razões.

Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:39 am

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As palavras espiritualismo e espiritualista são inglesas, e têm sido empregadas nos Estados Unidos desde que começaram a surgir as manifestações dos Espíritos;

no começo e por algum tempo, também delas se serviram na França;
logo, porém, que apareceram os termos espírita, espiritismo, compreendeu-se a sua utilidade, e foram imediatamente aceitos pelo público.

Hoje, seu uso está tão generalizado que os próprios adversários, aqueles que no princípio os classificavam de barbarismos, não empregam outros.

Os sermões e as pastorais que fulminam o Espiritismo e os espíritas viriam produzir enorme confusão, se fossem dirigidos ao espiritualismo e aos espiritualistas.

Bárbaros ou não, esses termos estão hoje incluídos na língua usual e em todas as línguas da Europa;
são os únicos empregados em todas as publicações, favoráveis ou contrárias, feitas em todos os países.

Eles ocupam o vértice da coluna da nomenclatura da nova ciência; para exprimir os fenómenos especiais dessa ciência, tínhamos necessidade de termos especiais;
o Espiritismo hoje possui a sua nomenclatura, tal como a Química.

As palavras espiritualismo e espiritualista, aplicadas às manifestações dos Espíritos, não são hoje mais empregadas senão pelos adeptos da escola americana.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:40 am

DISSIDÊNCIAS

V.
Essa diversidade, na crença do a que chamais uma ciência, é, parece-me, a sua condenação.

Se ela se baseasse em factos positivos, não deveria ser a mesma na América e na Europa?


A. K. — A isso responderei, primeiramente, que tal divergência só existe na forma, sem afectar o fundo;
realmente, ela apenas se limita ao modo de encarar alguns pontos da doutrina, e não constitui um antagonismo radical nos princípios, como afirmam os nossos adversários, sem ter estudado a questão.

Dizei-me, porém, qual a ciência que, em seu começo, não deu nascimento a dissidências, até que seus princípios ficassem claramente assentados?

Não encontramos as mesmas dissidências nas ciências melhormente constituídas?
Estarão os sábios de perfeito acordo sobre todos os pontos?
Não tem cada qual seus sistemas particulares?

As sessões das Academias apresentam sempre o quadro de perfeito e cordial entendimento?
Em Medicina não há a Escola de Paris e a Escola de Montpellier?

Cada descoberta, em qualquer ciência, não tem produzido cismas entre os que querem adiantar-se e os que desejam estacionar?

Referindo-nos ao Espiritismo, não será natural que, ao surgirem os primeiros fenómenos, quando eram ignoradas as leis que os regem, cada pessoa tivesse um sistema e houvesse encarado os fatos de um modo particular?

Onde estão hoje esses sistemas primitivos?
Caíram todos ante uma observação mais completa.

Bastaram apenas alguns anos para que ficasse estabelecida a unidade grandiosa que hoje prevalece na Doutrina, e que prende a imensa maioria dos adeptos, com excepção de algumas individualidades que, nesta como em todas as coisas, se apegam às ideias primitivas e morrem com elas.

Qual a ciência, qual a doutrina filosófica ou religiosa que oferece um exemplo igual?
Apresentou o Espiritismo a centésima parte das cisões que, durante tantos séculos, dilaceraram a Igreja e que ainda hoje a dividem?

É realmente curioso ver as puerilidades a que recorrem os adversários do Espiritismo;
não indicará isso uma falta de argumentos sérios?

Se eles os tivessem, não deixariam de fazê-los valer.

Qual o recurso de que lançam mão? Zombarias, negações, calúnias, porém, nunca de um só argumento peremptório;
e a prova de ainda lhe não terem achado um ponto vulnerável, é que nada pôde deter-lhe a marcha ascendente e que, apenas com dez anos de vida, ele já conta tal número de adeptos como ainda nenhuma seita contou depois de um século de existência.

É facto verificado e reconhecido por seus próprios adversários.

Para aniquilá-lo, não era bastante dizer:
isto não se dá, isto é um absurdo;
seria necessário demonstrar categoricamente que os fenómenos não se produzem, não podem produzir-se;
e é o que ninguém ainda fez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:40 am

FENÓMENOS ESPÍRITAS SIMULADOS

V.
Não estará provado que, fora do Espiritismo, esses mesmos fenómenos podem produzir-se?

E disso não podemos concluir que eles não têm a origem que os espíritas lhes atribuem?


A. K. — Por ser uma coisa susceptível de imitação, segue-se que ela não exista?

Que direis da lógica daquele que pretendesse, por se fabricar com água de Seltz vinho de Champanha, ser todo vinho desta espécie apenas água de Seltz?

Isto é privilégio de todas as coisas que apresentam a possibilidade de engendrar falsificações.

Acreditaram alguns prestidigitadores que o nome de espiritismo, por causa da sua popularidade e das controvérsias de que era objecto, podia servir a explorações, e para atrair a multidão simularam, mais ou menos grosseiramente, alguns fenómenos de mediunidade, como já tinham simulado a clarividência sonambúlica;

e todos os gaiatos os aplaudiram, bradando:
Eis aí o que é o Espiritismo!

Quando se mostrou em cena a engenhosa aparição dos espectros, não se proclamou que naquilo recebia o Espiritismo um golpe mortal?

Antes de pronunciar tão positiva sentença, deve-se reflectir que as asserções de um escamoteador não são palavras de um evangelho, e certificar se há identidade real entre a imitação e a coisa imitada.

Ninguém compra um brilhante sem primeiro estar convencido de não ser uma pedra d’água.

Um estudo, mesmo pouco acurado, tê-los-ia certificado de serem completamente outras as condições em que se dão os fenómenos espíritas;
eles, além disso, ficariam sabendo que os espíritas não se ocupam de fazer aparecer espectros nem de ler a buena-dicha 14.

Só a malevolência e uma rematada má-fé puderam confundir o Espiritismo com a magia e a feitiçaria, quando aquele repudia o fim, as práticas, as fórmulas e as palavras místicas destas.

Alguns chegaram mesmo a comparar as reuniões espíritas às assembleias do sabbat, nas quais se espera o soar da meia-noite, para que os fantasmas apareçam.

Um espírita, meu amigo, assistia um dia a uma representação de Macbeth, ao lado de um jornalista que ele não conhecia.

Quando chegou a cena das feiticeiras, ele ouviu o vizinho dizer:
— “Belo! Vamos assistir a uma sessão espírita;
é justamente o que precisava para o meu próximo artigo; vou saber agora como as coisas se passam.

Se eu encontrasse por aqui algum desses loucos, perguntar-lhe-ia se ele se reconhece no quadro que tem ante os olhos.”

— “Eu sou um deles, disse-lhe o espírita, e posso asseverar-vos que nada vejo que se lhe pareça;
tenho assistido a centenas de reuniões espíritas, e nelas nada encontrei que se assemelha a isto.

Se é aqui que vindes colher argumentos para o vosso artigo, assevero-vos que ele não primará pela veracidade.”

Muitos críticos não têm bases mais sólidas.
Sobre quem cairá o ridículo, a não ser sobre aqueles que caminham tão estonteadamente?

Quanto ao Espiritismo, seu crédito, longe de sofrer com tais ataques, tem crescido pelos reclamos que lhe fazem, chamando para ele a atenção de muita gente que nem sequer pensava nele;
os reclamos provocaram o exame e contribuíram para lhe aumentar o número de adeptos;
porque se reconheceu, então, que, em vez de brincadeira, ele era coisa séria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:41 am

IMPOTÊNCIA DOS DETRACTORES

V.
Convenho que, entre os detractores do Espiritismo, há muita gente inconsciente, como esses que acabais de citar;
mas, ao lado deles, não se encontrarão também homens de real valor, cujas opiniões têm certo peso?


A. K. — Não o contesto.

A isso respondo que o Espiritismo também conta em suas fileiras muitos homens de não menos real valor;
digo-vos, mais, que a imensa maioria dos espíritas se compõe de homens inteligentes e de estudos;
só a má-fé pode dizer que seus adeptos são recrutados entre as mulheres simples e as massas ignorantes.

Um fato peremptório responde, além disso, a essa objecção;
é que, apesar de todo o saber, de todo o poder oficial, ninguém consegue deter o Espiritismo na sua marcha;

e, entretanto, não há um só dos seus contrários, seja ele o mais obscuro folhetinista, que se não tenha lisonjeado com a ideia de dar-lhe um golpe mortal;

sem querê-lo, todos, sem excepção, concorreram para a sua vulgarização.

Uma ideia que resiste a tantos assaltos, que avança impávida através da chuva de dardos que lhe atiram, não provará a sua força máscula e a segurança das bases em que se firma? Não será esse fenómeno digno da atenção dos pensadores?

Também, já hoje, muitos deles avançam que deve haver nisso alguma coisa de real, que talvez seja um desses grandes movimentos irresistíveis que, de tempos a tempos, abalam as sociedades para transformá-las.

Isto se tem dado sempre com todas as ideias novas, chamadas a revolucionar o mundo;
forçosamente elas encontram obstáculos, porque lutam contra os interesses, os prejuízos, os abusos que elas vêm destruir;

porém, como estão nos desígnios de Deus, para que se cumpra a lei do progresso da humanidade, chegada a hora, nada as poderá deter;
é a prova de serem a expressão da verdade.

Essa impotência dos adversários do Espiritismo prova primeiramente, como já disse, que lhes faltam boas razões;
pois que as que lhe opõem, não são convincentes;
ela dimana ainda de outra causa, que inutiliza todas as suas combinações.

Admiram-se de ver o desenvolvimento dessa doutrina, apesar de tudo o que fazem para contê-la, e não podem achar o motivo por não o buscarem onde ele realmente está.

Uns crêem encontrá-lo no grande poder do diabo, que assim se apresenta mais forte que eles, e, mesmo, mais forte que Deus;
outros, no aumento da alucinação humana.

O erro de todos está em crerem que a fonte do Espiritismo é uma só, e que se baseia na opinião de um só homem;
daí a ideia de que poderão arruiná-lo, refutando essa opinião;

eles procuram na Terra uma coisa que só achariam no Espaço;
essa fonte do Espiritismo não se acha num ponto, mas em toda parte, porque não há lugar em que os Espíritos se não possam manifestar, em todos os países, nos palácios e nas choupanas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:42 am

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A verdadeira causa está, pois, na própria natureza do Espiritismo cuja força não provém de uma só fonte, mas permite a cada qual receber directamente comunicações dos Espíritos e por elas certificar-se da veracidade do facto.

Como persuadir a milhões de indivíduos que tudo isso não é mais que comédia, charlatanismo, escamoteação, prestidigitação, quando, sem o concurso de estranhos, são eles próprios que obtêm tais resultados?

É possível fazê-los crer que eles se mistifiquem a si mesmos, que a si mesmos procurem enganar fazendo o papel de charlatães e escamoteadores?

Essa universalidade das manifestações dos Espíritos, que surgem em todos os pontos do globo para desmentir os detractores e confirmar os princípios da Doutrina, é uma força que não podem explicar aqueles que desconhecem o mundo invisível, assim como os que desconhecem as leis dos fenómenos eléctricos não compreendem a rapidez com que se transmite um despacho telegráfico;

é de encontro a essa força que todas as negações se vêm quebrar, porque elas se equiparam às asserções de quem pretendesse afirmar, aos que sentem a acção dos raios solares, que o Sol não existe.

Fazendo abstracção das qualidades da Doutrina, que agrada muito mais que as que se lhe opõem, vede nisso a causa dos insucessos dos que tentam deter-lhe a marcha; para que triunfassem, era-lhes mister impedir que os Espíritos se manifestassem.

Eis o motivo por que os espíritas ligam tão pouca importância às manobras dos seus adversários;
eles têm por si a experiência e o peso dos factos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:42 am

O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL

V.
O Espiritismo tende, evidentemente, a fazer reviver as crenças fundadas no maravilhoso e no sobrenatural;

ora, no século positivo em que vivemos, isto me parece difícil, porque é exigir que se acredite nas superstições e nos erros populares, já condenados pela razão.


A. K. — Uma ideia só é supersticiosa quando falsa; mas cessa de o ser desde que passe a ser uma verdade reconhecida.

A questão está em saber se os Espíritos se manifestam, ou não; ora, isso não pode ser tachado de superstição, antes de ficar provado que não existem espíritos.

Direis: a minha razão não aceita essas comunicações;
porém, os que crêem e que não são nenhuns mentecaptos invocam também as suas razões e, além disso, os factos;
para que lado se deve pender?

O grande juiz, nesta questão, é o futuro — como tem sido em todas as questões científicas e industriais classificadas como absurdas e impossíveis em sua origem.

Pretendeis julgar a priori segundo a vossa opinião; nós só o fazemos depois de, por muito tempo, ter visto e observado.

Acresce que o Espiritismo esclarecido, como o é hoje, procura, ao contrário, destruir as ideias supersticiosas, mostrando o que há de real ou de falso nas crenças populares, denunciando o que nelas existe de absurdo, fruto da ignorância e dos preconceitos.

Vou mais longe e digo que é precisamente o positivismo do nosso século que faz com que adoptemos o Espiritismo, e que este deve, em parte, àquele a rapidez da sua propagação, antes que, como alguns pretendem, a uma recrudescência do amor ao maravilhoso e ao sobrenatural.

O sobrenatural desaparece à luz do facho da Ciência, da Filosofia e da Razão, como os deuses do paganismo ante o brilho do Cristianismo.

Sobrenatural é tudo o que está fora das leis da Natureza.
O positivismo nada admite que escape à acção dessas leis;
mas, porventura, ele as conhece a todas?

Em todos os tempos foram reputados sobrenaturais os fenómenos cuja causa não era conhecida;

pois bem: o Espiritismo vem revelar uma nova lei, segundo a qual a conversação com o Espírito de um morto é um facto tão natural, como o que se dá por intermédio da electricidade, entre dois indivíduos separados por uma distância de cem léguas;

o mesmo acontece com os outros fenómenos espíritas.

O Espiritismo repudia, nos limites do que lhe pertence, todo efeito maravilhoso, isto é, fora das leis da Natureza;
ele não faz milagres nem prodígios, antes explica, em virtude de uma dessas leis, certos efeitos, demonstrando, assim, a sua possibilidade.

Ele amplia, igualmente, o domínio da Ciência, e é nisto que ele próprio se torna uma ciência;
como, porém, a descoberta dessa nova lei traz consequências morais, o código das consequências faz dele, ao mesmo tempo, uma doutrina filosófica.

Deste último ponto de vista, ele corresponde às aspirações do homem, no que se refere ao seu futuro;
e como a sua teoria do futuro repousa sobre bases positivas e racionais, ela agrada ao espírito positivo do nosso século.

É o que compreendereis, quando vos derdes ao trabalho de estudá-lo.

(O Livro dos Médiuns, cap. II;
Revue Spirite, dezembro de 1861, pág. 393, e janeiro de 1862, pág. 21.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:42 am

OPOSIÇÃO DA CIÊNCIA

V.
Vós vos apoiais em factos, dissestes; mas opõe-se-vos a opinião dos sábios que os contestam, ou os explicam de modo diferente do vosso.

Por que não fixaram eles sua atenção sobre o fenómeno das mesas girantes?

Se nisso tivessem notado alguma coisa de sério, parece-me que não desprezariam factos tão extraordinários e nem os repeliriam com desdém;
no entanto, são todos eles contra vós.

Os sábios não serão o farol das nações, e não têm o dever de esclarecê-las?

A que atribuís que tenham deixado de fazê-lo, quando se lhes apresentava tão bela ocasião de revelar ao mundo a existência de uma nova força?


A. K. — Traçastes o dever dos sábios de modo admirável; é pena, porém, que eles o tenham esquecido em mais de uma circunstância.

Mas, antes de responder à vossa judiciosa observação, cumpre-me corrigir um grave erro que cometestes dizendo que todos os sábios são contra nós.

Como vos disse há pouco, é precisamente na classe ilustrada que o Espiritismo faz maior número de prosélitos, isto em todos os países;

já ele conta entre seus adeptos grande número de médicos de todas as nações, e ninguém nega que os médicos sejam homens de ciência;

os magistrados, os professores, os artistas, os homens de letras, os oficiais, os altos funcionários, os grandes dignitários, os eclesiásticos, etc., que se agrupam ao redor da sua bandeira, não são pessoas em quem se não deva reconhecer uma certa dose de ilustração.

Admite-se erroneamente que os sábios só se encontram na ciência oficial e nos corpos constituídos.

Pelo facto de ainda não ter o Espiritismo adquirido direito de cidade na ciência oficial, merecerá ser condenado?

Se nunca a Ciência se houvesse enganado, sua opinião nesse sentido teria grande peso na balança; infelizmente, a experiência prova o contrário.

Não repeliu ela como quimeras tantas descobertas que, mais tarde, se tornaram título de glória para os seus autores?

Não foi devido a um parecer do nosso primeiro corpo sábio que a França se absteve da iniciativa do vapor?

Quando Fulton veio ao campo de Bolonha apresentar o seu plano a Napoleão I, que confiou o exame imediato ao Instituto, não decidiu este que aquilo era uma utopia, com o que se não devia ocupar?

Devemos daí concluir que os membros do Instituto são ignorantes e que sejam justificados os epítetos triviais que, à força de mau gosto, certas pessoas se comprazem em prodigalizar-lhes?

Certo que não; não há pessoa sensata que não faça justiça ao seu saber eminente, sem, contudo, deixar de reconhecer que eles não são infalíveis e, portanto, que as suas sentenças não estão isentas de apelação, sobretudo no que se refere a ideias novas.

V.Admito perfeitamente que eles não sejam infalíveis;
mas não é menos verdade que, em virtude do seu saber, sua opinião vale alguma coisa, e que, se ela estivesse do vosso lado, daria grande peso ao vosso sistema.


A. K. — Concordai, também, que ninguém pode ser bom juiz naquilo que está fora da sua competência.

Se quiserdes edificar uma casa, confiareis esse trabalho a um músico?
Se estiverdes enfermo, far-vos-eis sangrar por um arquitecto?

Quando estais a braços com um processo, ides consultar um dançarino?
Finalmente, quando se trata de uma questão de teologia, alguém irá pedir a solução a um químico ou a um astrónomo?

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 11, 2011 10:43 am

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Não; cada um tem a sua especialidade.
As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria, que se pode, à vontade, manipular;
os fenómenos que ela produz têm por agentes forças materiais.

Os do Espiritismo têm, como agentes, inteligências que têm independência, livre arbítrio e não estão sujeitas aos nossos caprichos;
por isso eles escapam aos nossos processos de laboratório e aos nossos cálculos, e, desde então, ficam fora dos domínios da ciência propriamente dita.

A Ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos, como experimenta uma pilha voltaica;
foi mal sucedida como devia sê-lo, porque agiu visando uma analogia que não existe;

e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarregou de ir emendando diariamente, como já tem emendado outros;

e, àqueles que o preferiram, restará a vergonha do erro de se haverem levianamente pronunciado contra o poder infinito do Criador.

As corporações sábias não podem nem jamais poderão pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não;
é, pois, um erro fazê-las juiz dela.

O Espiritismo é uma questão de crença pessoal que não pode depender do voto de uma assembleia, porque esse voto, embora lhe fosse favorável, não tem o poder de forçar convicções.

Quando a opinião pública se tiver formado a respeito, os membros dessas corporações a aceitarão sob o poder dos factos.

Deixai passar esta geração, levando os prejuízos do seu obstinado amor-próprio, e vereis que se há de dar com o Espiritismo o mesmo que se deu com tantas outras verdades, tão combatidas e de que hoje seria ridículo duvidar.

Hoje, chamam loucos aos crentes;
amanhã, será a vez dos que não crerem;
foi o mesmo que se deu com os que acreditavam no movimento de rotação da Terra.

Nem todos os sábios, porém, julgaram do mesmo modo;
e notai que agora chamo sábios aos homens de estudo e saber, tenham ou não tenham um título oficial.

Muitos fizeram o seguinte raciocínio:
“Não há efeito sem causa, e os efeitos mais vulgares podem conduzir-nos à solução dos mais difíceis problemas.

“Se Newton não tivesse prestado atenção à queda de uma maçã;
se Galvani tivesse repelido sua serva e lhe chamasse visionária e louca, quando esta lhe falou das rãs que dançavam no prato, talvez ainda estivéssemos sem conhecer a admirável lei da gravitação universal e as fecundas propriedades da pilha eléctrica.

“O fenómeno, burlescamente designado sob o nome de dança das mesas, não é mais ridículo que a dança das rãs, e, talvez, encerre alguns desses segredos da Natureza, que, quando se tem a chave para explicá-los, revolucionam a Humanidade.”

Eles disseram ainda:
“Já que tanta gente se ocupa com eles, e homens notáveis fizeram deles o objecto do seu estudo, é preciso que alguma coisa de verdade se encontre em tais fenómenos;

uma ilusão, uma farsa, se o quiserem, não pode ter esse carácter de generalidade;
seria divertimento para certo círculo, para certa sociedade, mas não daria a volta ao mundo.

“Guardemo-nos, pois, de negar a possibilidade do que não compreendemos, com receio de receber, mais cedo ou mais tarde, o desmentido que desabonaria nossa perspicácia.”

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O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec - Página 2 Empty Re: O QUE É O ESPIRITISMO - Allan Kardec

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:02 am

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V.Perfeitamente;
eis aí um sábio raciocinando com sabedoria e prudência;
e, sem ser sábio, eu penso igualmente;

notai, porém, que ele nada afirma, mas duvida;
ora, qual é a base em que se firma a crença na existência dos Espíritos e, sobretudo, na sua comunicação connosco?


A. K. — Essa crença apóia-se sobre o raciocínio e sobre os factos.

Eu próprio não a adoptei senão depois de meticuloso exame.

Tendo adquirido, no estudo das ciências exactas, o hábito das coisas positivas, sondei, perscrutei esta nova ciência nos seus mais íntimos refolhos;
busquei explicar-me tudo, porque não costumo aceitar ideia alguma sem lhe conhecer o como e o porquê.

Eis o raciocínio que me fazia um sábio médico, outrora incrédulo e hoje fervoroso adepto:
“Dizem que seres invisíveis se comunicam; por que negá-lo?

“Antes de inventar-se o microscópio, suspeitava alguém que existissem esses milhares de animálculos que causam tantos estragos à economia?

“Onde a impossibilidade material de haver no espaço seres que escapem aos nossos sentidos?
“Teremos, acaso, a ridícula pretensão de saber tudo, e de dizer que Deus nada mais nos pode revelar?

“Se esses seres invisíveis que nos rodeiam, são inteligentes, porque não poderão comunicar-se connosco?
Se estão em relação com os homens, devem desempenhar um papel no seu destino, nos acontecimentos da vida destes.

Quem sabe se eles não constituem uma das potências da Natureza, uma dessas forças ocultas de que nem suspeitávamos?
“Que novo horizonte vai abrir-se ao pensamento!

Que campo tão vasto de observação!
“A descoberta do mundo dos invisíveis tem muito mais alcance que a dos infinitamente pequenos;
ela é mais que uma descoberta, é uma revolução nas ideias.

“Quanta luz pode projectar essa descoberta?
Quantas coisas misteriosas explicadas?
“Os crentes são ridiculizados, mas que valor tem isso, quando o mesmo se tem dado a respeito de todas as grandes descobertas?

“Cristóvão Colombo não foi repelido, sobrecarregado de desgostos, tratado como insensato?

“São ideias tão estranhas, dizem, que não se lhes deve dar crédito;
mas a isso se pode responder que data de meio século a possibilidade de, em alguns minutos, estabelecer-se correspondência entre dois pontos opostos do nosso planeta; em algumas horas, atravessar-se a França;

com o vapor produzido por um pouco de água fervente, um navio avançar contra o vento;
e tirarmos da água os meios de iluminar-nos e aquecer-nos.

“Quem, há meio século, se tivesse proposto iluminar toda a cidade de Paris em um instante e com um só reservatório de uma substância invisível, apenas conseguiria fazer rir de si.

“Será isso, porventura, coisa mais prodigiosa que o espaço ser povoado pelos seres pensantes que, depois de haverem vivido na Terra, nela deixaram seu invólucro material?

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:02 am

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“Não se achará neste facto a explicação de tantas crenças que existem desde os mais remotos tempos?
“São coisas que bem merecem estudo aprofundado.”

Eis as reflexões de um sábio, mas de um sábio sem pretensão; elas são igualmente feitas por muitos outros homens esclarecidos;

estes viram, não superficialmente e de ânimo prevenido; estudaram seriamente, sem partido fixo, e tiveram a modéstia de não dizer:
não compreendemos, isto não pode ser a verdade.

Sua convicção formou-se pela observação e pelo raciocínio.
Se essas ideias fossem uma quimera, acreditais que todos esses homens sisudos as tivessem adoptado?

Que, por tanto tempo, pudessem ser vítimas de uma ilusão?
Não há, pois, impossibilidade material de existirem seres invisíveis para nós, povoando o espaço, e esta só consideração devia bastar para exigir mais circunspecção.

Quem, há bem pouco, poderia pensar que uma só gota de água límpida encerrasse milhares de seres, cuja pequenez extrema nos confunde a imaginação?

Ora, eu digo que há mais dificuldade em conceber a nossa razão seres de tal tenuidade, providos de todos os nossos órgãos e funcionando como nós, do que admitir aqueles a quem damos o nome de Espíritos.

V.Sem dúvida, mas por ser uma coisa possível, não devemos concluir que exista.

A. K. — É exacto;
mas não podeis deixar de convir que, desde que uma coisa não é impossível, já ela avançou, porque a razão não a repele.

Resta, pois, averiguá-la pela observação dos factos.

Ora, essa observação não é nova:
tanto a história sagrada quanto a profana provam a antiguidade e a universalidade dessa crença, que se perpetuou através de todas as vicissitudes por que tem passado o mundo, e se mostra, entre os mais selvagens povos, no estado de ideias inatas e intuitivas, e tão gravadas no pensamento como a do Ente Supremo e a da existência futura.

O Espiritismo, pois, não é uma criação moderna; tudo prova que os antigos o conheciam tão bem, ou talvez melhor que nós;
somente ele não era ensinado, senão com precauções misteriosas que o tornavam inacessível ao vulgo, abandonado de propósito no lamaçal da superstição.

Quanto aos factos, eles são de duas naturezas:
uns espontâneos e outros provocados. Entre os primeiros estão as visões e as aparições, tão frequentes;

os ruídos, barulhos e movimentações de objectos, sem causa material, e grande número de efeitos insólitos que olhávamos como sobrenaturais e hoje nos parecem simples, porque não admitimos o sobrenatural, visto como tudo se submete às leis imutáveis da Natureza.

Os factos provocados são os obtidos por intermédio de médiuns.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:02 am

FALSAS EXPLICAÇÕES DOS FENÓMENOS

Alucinação.

Fluido magnético.
— Reflexo do pensamento
— Super excitação cerebral.
— Estado sonambúlico dos médiuns.


V.É contra os fenómenos provocados que principalmente a crítica se levanta.

Ponhamos de lado toda suposição de charlatanismo, e admitamos a mais completa boa-fé;
não será possível que os médiuns sejam vítimas de uma alucinação?


A. K. — Ignoro que já se tenha claramente explicado o mecanismo da alucinação.
Da forma como querem defini-la, ela não deixa de ser um efeito singularíssimo e digno de estudo.

É pena, porém, que aqueles que por meio dela pretendem dar conta dos fenómenos espíritas, não possam antes apresentar a explicação deles.

Há, além disso, fatos que escapam a essa hipótese: quando a mesa ou outro objecto se move, se ergue, ou bate;
quando a dita mesa, à vontade, passeia por uma câmara, sem que pessoa alguma lhe toque;

quando ela se destaca do solo e se suspende no espaço, sem ponto de apoio; enfim, quando, ao cair, se despedaça, tudo isso não pode ser o efeito de uma alucinação.

Suponho que o médium, por um produto da sua imaginação, creia ver o que não existe. Será admissível que todos os presentes sejam, ao mesmo tempo, vítimas da mesma vertigem?

E quando o mesmo fato se reproduz por toda parte, em todos os países?
A ser assim, essa alucinação seria prodígio maior que o próprio facto.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 12, 2011 11:03 am

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V.Admitindo a realidade do fenómeno das mesas que giram e falam, não será mais racional atribuí-lo à acção de um fluido qualquer, do magnético, por exemplo?

A. K. — Tal foi o primeiro pensamento que tive, como tantos outros.

Se tudo se limitasse a esses efeitos materiais, não há dúvida de que poderiam ser assim explicados;
porém, quando esses movimentos e golpes nos deram provas de inteligência;

quando se reconheceu que respondiam ao pensamento com inteira liberdade, foi-se levado a tirar a seguinte conclusão:
“Se todo efeito tem uma causa, o efeito inteligente tem uma causa inteligente.”

Poderão tais fenómenos ser produzidos por um fluido, sem se admitir que esse fluido seja dotado de inteligência?

Quando vedes os aparelhos do telégrafo fazerem sinais transmitindo o pensamento, bem compreendeis que esses aparelhos, de ferro ou de madeira, não são inteligentes, mas que é uma inteligência quem os faz mover.

Dá-se o mesmo com as mesas a que nos referimos.
Dão-se, ou não, efeitos inteligentes? Esta a questão.

Os que contestam, são pessoas que nada viram ainda e se apressam a concluir, segundo suas ideias particulares e baseadas, quando muito, em observação superficial.

V.Pode-se responder que, se há um efeito inteligente, este pode ser um reflexo da inteligência, seja do médium, seja de quem interroga, ou mesmo dos assistentes;
porque, dizem, a resposta recebida estava sempre no pensamento de alguém.


A. K. — É ainda um erro, filho da falta de observação.

Se os que assim pensam se tivessem dado ao trabalho de estudar o fenómeno em todas as suas fases, não deixariam de reconhecer, a cada passo, a independência absoluta da inteligência que se manifesta.

Como conciliar essa tese com as respostas obtidas, tão fora do alcance intelectual e da instrução do médium?

Respostas que vão de encontro às suas ideias, desejos e opiniões, ou que destroem completamente as previsões dos assistentes?

Quando os médiuns escrevem em uma língua que não conhecem, ou escrevem na sua própria quando não sabem ler nem escrever?

À primeira vista, essa opinião nada tem de irracional, convenho, mas é desmentida por um conjunto de fatos tão concludentes que, diante deles, é impossível duvidar.

Além disso, mesmo admitindo-se
essa teoria, o fenómeno, longe de ser simplificado, seria muito mais prodigioso.

Pois quê! O pensamento poderá reflectir-se sobre uma superfície, como a luz, o som, o calórico?!

Em verdade, havia nisto um motivo para a Ciência exercer a sua sagacidade.

E depois ainda o maravilhoso seria maior, porque, achando-se presentes vinte pessoas, será o pensamento desta ou daquela que é reflectido, ou o desta ou daquela outra? Tal sistema é insustentável.

É realmente curioso verse os contraditores empenharem-se na busca de causas, cem vezes mais extraordinárias e incompreensíveis do que aquelas que se lhes apresenta.

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