LUZ ESPÍRITA
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 4 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 20, 2019 8:04 pm

Quando partiam, desculpava-se pelo ambiente requintado, explicando que aquele amontoado de coisas fazia parte da sua renúncia no futuro e que, enfim, tudo é útil aos propósitos do bem comum.
A senhora Bernardone, jovem, linda e inteligente, já sentia a aproximação do futuro filho; sua inspiração chegava ao êxtase, vendo e ouvindo coisas do lado espiritual, que lhe traziam grandes alegrias.
Certa feita, dona Maria Picallini, chamada por Pica no ambiente doméstico, recostada em um triclínio, ao clarão da lareira, lendo o Evangelho - tesouro que guardava por estimação, do seu velho padrinho de casamento - explicava-o às duas aias que lhe faziam companhia.
Num certo momento, parou, suspirou profundamente e comentou com Jarla, que se sentara rente a ela, para adivinhar-lhe todos os desejos e agradá-la:
- Olha, Jarla, vou ter um filho.
Já sonhei com ele... É um Anjo!
Queira Deus que esse sonho seja verdadeiro.
A velha grega sorriu e abençoou a vontade da sua filha de leite.
- Que bom, redarguiu a velha, vamos ter um santo em casa!
E arrematando a conversa:
Também acho, senhora, porque de certo tempo para cá, até o senhor Pedro está mais amável, não só para minha filha, como para todos nós.
Neste fim de ano, todos ganhamos presentes!
Neste ínterim, veio correndo uma serviçal prestimosa, meio alvoroçada, dizendo:
- Madrinha Jarla!
Dona Quina está gritando; vamos lá, ela está chamando a senhora!
A velha levantou-se amável e foi acompanhada pela senhora Bernardone, coisa muito rara entre serviçais e senhores.
Lá chegando, deram com a velha Quina assustada, dizendo que vira um Anjo entrando dentro do seu quarto, a dizer umas coisas que ela não entendia direito.
Era muito bom, mas estava com medo e queria que Jarla ficasse com ela...
Pela notícia da antiga serva, já paralítica há alguns anos, a senhora ligou os factos com o seu sonho, trocou olhares alegres com sua ama de leite, e sorriram baixinho.
Jarla então disse:
- Meu Deus, senhora, será o nosso Anjo sendo visto por mais pessoas, para confirmação do teu sonho?
- Que Deus seja louvado!
Que assim seja!
A Senhora Bernardone, aproveitando o Evangelho entre as delicadas mãos, abre ao acaso e lê com profícuo interesse a cura de um paralítico em Cafarnaum, assim registado por Mateus, no capítulo nove, versículos de um a oito:
Entrando Jesus num barco, passou para a outra banda, e foi para a sua própria cidade.
E eis que lhe trouxeram um paralítico, deitado num leito.
Vendo-lhe a fé, Jesus disse ao paralítico: tem bom ânimo, filho, estão perdoados os teus pecados.
Mas alguns escribas diziam consigo:
Por que cogitais o mal em vossos corações?
Pois o que é mais fácil dizer:
Estão perdoados os teus pecados, ou dizer, levanta-te e anda?
Ora, para que saibais que o filho do homem tem sobre a Terra, a autoridade para perdoar pecados, então disse ao paralítico:
Levanta-te, toma o teu leito, e vai para a tua casa.
E, levantando, ele partiu para a sua casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 20, 2019 8:04 pm

Vendo isso, as multidões, possuídas de temor, glorificaram a Deus, que dera tal autoridade aos homens.
A doente, assustada com a presença da senhora em seus aposentos, e com o que esta lera, e de que nunca ouvira dizer, sentiu um conforto indescritível.
Naquele instante, João Evangelista aproxima-se daquela que elegera como mãe, toma-lhe as mãos, imiscui-se em sua mente e através de sua grande sensibilidade, transfere um turbilhão e fluidos para o seu coração, fazendo com que amasse aquela velha como se fora seu Próprio filho.
E, mentalmente, lhe fala com todo carinho, próprio da sua intimidade:
- Mãe, toca essa filha do coração, se já me amas pelo sonho e pela esperança.
Se te agrada a minha presença em tua casa, conceda o teu amor também a quem tanto te serviu, empenhando a sua própria vida em favor desta casa.
O teu amor poderá curá-la e assegurar-lhe a esperança na vida, em Deus e em Jesus Cristo.
Lágrimas escorriam nas faces da rica mulher de Assis, e ela avançou instintivamente, aconchegando a criada no colo, transfundindo-lhe o mais puro amor, beijando-lhe as faces enrugadas e flácidas, de tantos anos nas intempéries da vida.
A emoção da velha transcendeu o raciocínio e o poder da palavra.
Nunca na sua vida recebera tanto carinho, na abertura generosa de um coração, como se fosse uma mãe a contemplar o próprio filho recém-nascido.
Explode o amor, em trocas incomparáveis!...
E a senhora Bernardone, influenciada pela luz espiritual que a estimulava naquele ato, fala com energia e firmeza, mesclando a voz com brandura e fé:
- Levanta, minha filha, em nome do Cristo, e anda em nome de Deus!
João Evangelista, no plano espiritual, avoluma em tomo de si grande quantidade de fluidos, que se dividiam numa policromia encantadora, e estende as mãos luminosas em direcção ao sistema nervoso da serva, e lança raios cor de ouro e de um azul sem precedentes no coração da antiga serviçal.
Um clarão de difícil entendimento, envolvendo os músculos da irmã enferma e somado à força do levanta-te e anda dito por Pica, faz surgir o fenómeno.
O quarto simples da velha preta, tornou-se um céu.
Vários Espíritos, de mãos dadas, em profunda veneração, entoavam um hino deslumbrante.
João aproximou-se e, com um sorriso nos lábios, osculou a fronte da anciã, dizendo:
Graças a Deus...
Admirados, todos viram dona Quina deixar o leito, andar sozinha no quarto e avançar para o pátio gritando ininterruptamente:
- Graças a Deus!
Louvado seja Jesus Cristo!
As outras mulheres, que serviram de instrumentos, ficaram sem palavras ao assistirem àquele espectáculo de fé, confirmando pelos factos que, na verdade, por misericórdia de Deus, parecia haver um Anjo naquela casa.
Assis estava sendo palco de coisas transcendentais de difícil explicação.
A senhora Bernardone, envolvida em inocente misticismo, fazia borbulhar em seu íntimo uma riqueza imensurável de fé.
Entrava em meditações demoradas, e, de espaço a espaço, lia e relia o livro santo, crendo que a força, da qual partira a cura de Quina, estava no Evangelho, sendo operação do Cristo.
Não sabia como e por que meios se processava o ambiente de paz.
Quanto ao milagre, atribuía-o ao Anjo que vira em sonho, confirmado por Jarla.
Debulhava a espiga das recordações com intenso prazer, sem perder um grão dos factos, nem a sequência daquela história que ora se iniciava.
Certo dia, sentiu irresistível vontade de dar um passeio pelos arredores da cidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 20, 2019 8:04 pm

Queria ver o sol nascer - espectáculo que lhe fazia muito bem - ter contacto com as plantas, com os pássaros, perceber a música da vida.
Era dada à poesia, gostava de fazer certas anotações quando inspirada, e sentia no coração que aquele dom aumentara de certa data para cá.
Falou com Jarla, que logo tomou todas as providências.
Na madrugada seguinte, quando o silêncio a convidava para um colóquio perfeito com as coisas, a senhora Bernardone subiu, ajudada por Jarla, no fiacre de luxo, para dar seu desejado passeio.
O cocheiro estalou o chicote nos ares.
Dois fogosos cavalos, contidos por rédeas coloridas, avançaram devagarinho, parecendo que andavam no ar, pela imposição dos travões bem postos nas suas estornas*.
As rodas deslizavam nas estradas, sem que a linda madona percebesse que viajava.
Daí a pouco tempo, o hábil cocheiro contornava um lago encantador, fazendo com que os cavalos caminhassem, para que a senhora de Assis pudesse contemplar as águas mansas, que reflectiam sobremaneira a luz das estrelas.
Lentamente, o disco solar começava a esplender seus raios, anunciando o novo dia e a distinta senhora não perdia um momento do espectáculo cósmico.
Se não é muito dizer, sorvia de maneira estática a essência luminosa do Astro Rei, como se fosse o melhor dos vinhos.
Sua cabeça começou a girar levemente, envolvida em um prazer indelével, como se estivesse embriagada, sensação nunca antes experimentada por ela.
Algo lhe segredava internamente para manter-se em silêncio ante determinadas reacções.
Nem a filosofia, nem as palavras humanas, mesmo em grande esforço intelectual, poderiam explicar o que se passava com a senhora.
Somente a fé do santo e a natureza do místico entendem o que se passa no coração de quem começa a vivenciar o Amor.
Os ventos sopravam sobre os raios solares, sem que estes cedessem em seu calor, formando um conjunto de bênçãos graciosamente oferecidas aos seres e às coisas.
Era a vida em profusão, pelas bênçãos de Deus, que permanecera em silêncio, para dar tempo à senhora de sentir o Cristo em Deus, e Jarla falou a meio tom:
- Há quanto tempo moramos aqui e não tínhamos conhecido ainda esta felicidade!
Pensava, em certos momentos, que era preciso comprá-la a peso de ouro; hoje, porém, mudei de ideia.
Tanto a senhora quanto eu estamos envolvidas por ela.
O céu é para todos, mas nem todos se encontram preparados para o céu...
Quantas pessoas há em Assis, quantas existem em toda a Itália e no mundo inteiro?
Contudo, somente pequena minoria sente o coração e a consciência liberando a vida!
Pica Bernardone não se admirou da tirada filosófica de Jarla, porquanto já conhecia suas qualidades, por ter sido ela a sua primeira mestra; os gregos eram quase todos ilustrados, mesmo os próprios servos.
A filosofia era dom comum em todos eles e Jarla estava inspirada pelo ambiente que circundava a carruagem.
De em quando, vinha à mente das duas mulheres a cura da velha Quina, e um leve sopro, que poderíamos chamar de vento fluídico, ajudado pelo sistema nervoso, corria na epiderme das duas almas ali em meditação.
Aquele passeio matinal foi um restaurador de energias para Pica, e de extraordinário conforto para a velha serva.
Para o cocheiro prestativo, o ambiente era o mesmo de sempre; enquanto as duas senhoras estavam em êxtase, convivendo com grandes ideias, ele limpava os metais dos arreios com pedaços de lã.
Alisava os cavalos com as mãos, pois aquele era o seu mundo.
Cada um permanece em conexão com a faixa que lhe é peculiar, no empuxo evolutivo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 20, 2019 8:04 pm

Já com o sol alto, a carruagem entrou no pátio da mansão.
As passageiras desceram como se retomassem de uma excursão a Roma ou a Paris.
Pedro Bernardone, com aspecto taciturno, entrava e saía apressado da casa, mal cumprimentando os mais chegados, envolvido que estava com grandes preocupações.
Soubera do ocorrido com a velha Quina e sua mente estava conturbada, por saber que santidade não se concilia com riqueza, temendo pela saúde da esposa.
Estaria ela envolvida nas ondas de Satanás?
Iria consultar o reverendo, o mais breve possível, para que ele pudesse diagnosticar todo o caso de sua mulher.
Não poderia ser mentira, pois viu com seus próprios olhos, andando, a serva que há dois anos estava entrevada em um catre.
"Como poderia ser isso?
Não estamos mais na época do Cristo; não existem mais apóstolos...
Os profetas desapareceram!...
Isso deve ser obra do diabo!"
Em todo o caso, a palavra final seria a do Padre de Assis, da Igreja de São Damião.
Foi ao encontro de sua jovem mulher, que de faces rosadas comentava com Jarla, a beleza do sol e do momento em que as estrelas se escondiam, da música espontânea dos pássaros e da tranquilidade das águas na despedida da madrugada.
Pedro espantou-se por ver sua mulher em completo equilíbrio emocional em conversações das mais nobres.
O seu maior medo era que a esposa se revestisse de santidade e a sua mansão se tomasse ponto de romaria de mendigos.
E o seu comércio? E a sua riqueza?
Ficaria maluco...
Daria o quanto fosse preciso para as comunidades religiosas, para que os padres tirassem da cabeça da sua esposa aquelas coisas relacionadas com o invisível.
Mas sentiu que era melhor silenciar, e agir em segredo.
Procuraria um cura apropriado para cuidar do assunto e pela obediência que ela lhe devia como esposa, tudo retomaria ao que era antes.
Assim pensou e assim fez.
Montou a cavalo e saiu à procura do vigário que viera de Espoleto, famoso pelas suas bênçãos às riquezas, ao comércio, e forte para impedir a acção do satanás.
O rico comerciante de Assis encontrou o vigário já de saída, mas este, conhecendo a posição que Pedro desfrutava na rica região, cumprimentou-o com amabilidade, fazendo-o desmontar e ficar à vontade em requintada sala, que mandara decorar somente para receber pessoas de alta posição social.
Foi logo perguntando:
- Que bons ventos te trazem aqui, Sr. Pedro?
Para nós, isso constitui uma honra, e principalmente para mim, que pouco conheço esta região.
A Umbria foi o meu sonho desde criança e agora a minha vontade se realizou, com certeza em nome de Deus!
- Sim, sim... - respondeu Bernardone.
Venho aqui, reverendíssimo padre, para lhe contar factos ocorridos com...
O vigário o interceptou, parecendo inspirado:
- Já sei; com tua esposa, dentro da tua casa.
E vieste para saber se procede de Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 20, 2019 8:04 pm

O homem, pálido, falou ao vigário:
- Como sabe o senhor disso?
O padre deu um curto sorriso, e anunciou com facilidade:
- Nada se esconde da Igreja de Deus, e o senhor não sabe que sou Seu representante?
Moveu a cabeça, afirmando o que sabia até então.
- Sei que tua mulher está alegre, parecendo mais jovem, mais amável, e que a serva Jarla ainda a ajuda em suas meditações.
Tenho ainda outras coisas mais a dizer-te que agora não são oportunas, por não ter chegado a hora.
Entretanto, fica sabendo:
é trama do demónio, para fazer com que percas a fortuna, que Deus te deu por merecimento!
Perplexo, o comerciante beijou as mãos asquerosas, acostumadas a reflectirem a iniquidade e contou o caso à sua moda, pedindo providências.
E tudo foi combinado a peso de ouro.
Acontece que a velha Quina, na noite que sucedera à sua cura, fora à casa do vigário pedir as suas bênçãos, agradecida por ter sido curada por Jesus, e lhe contara tudo o que se passou para que ficasse livre da prisão, como o paralítico do Evangelho.
E o velho lobo vestido de pele de ovelha, tentando tirar proveito do caso, deu um toque ao seu modo.
Encontrando sintonia no futuro pai de Francisco, passou a ser conselheiro e confessor da família Bernardone, e, nesta condição, nada ficava escondido nas dobras da consciência que não fosse do seu conhecimento.
Assim, passaram as duas mulheres a serem intimamente martirizadas pelo fluente vigário, que embolsava o ouro do comerciante, invadindo a intimidade da sua consciência, mundo que pertence ao seu dono.
Foi proibida a leitura do Evangelho, a não ser por ele, e explicado à sua maneira.
As preces eram decoradas, quando escolhidas pelo sacerdote, e mesmo os passeios eram vigados, para que satanás não encontrasse acesso no coração da rica dama.
O arrocho era maior para a serva, por ser ela grega e versada em filosofia.
O que a religião católica não aprovava.
O reverendo passou a fazer as refeições na mansão, para assegurar a paz do lar; era um vigilante, no dizer de Pedro, cuja Presença impedia a acção do diabo.
Assim, passaram-se meses.
As mulheres foram obedientes; todavia, nos momentos de liberdade, em que não poderiam ser tolhidas, conversavam fartamente sobre suas ideias, e Jarla, com muita experiência, percebeu as manobras do padre, pois Quina contou-lhe que tinha ido à casa do vigário pedir as bênçãos e contar-lhe que sucedera, pois fora atingida por um milagre.
As mulheres estavam convictas de que Deus daria uma saída para seus propósitos, e esperavam confiantes.
Passaram a ser mais amáveis com o padre, para ganharem sua confiança e terem mais liberdade.
Procuravam dar-lhe presentes, pois estes eram o seu fraco, chegando ao ponto de o confessor viajar com mais frequência, sem exigir nem impor condições aos que ficavam, como acontecia antes.
Para ele, satanás tinha sido escorraçado pelo poder da cruz, que a sua mão de vez em quando accionava nos quatro cantos da luxuosa mansão, aspergindo igualmente, água benta.
O comerciante retomara a sua alegria e a sua jovialidade.
Certa feita, financiou uma viagem do vigário à Roma, para que participasse, como representante de Assis, de um conclave na Cidade Eterna.
Porém, o destino não o ajudou.
A carruagem que o transportava deslizou em curto despenhadeiro e, numa reviravolta espectacular, foi de encontro a uma árvore, esfacelando o crânio do sacerdote.
Nada acontecera, porém, com o cocheiro, nem com os dois serviçais que o acompanhavam na viagem.
* * *
Os Espíritos que colaboravam em Assis se movimentavam com entusiasmo, para que o Apóstolo do Amor pudesse tomar novamente outro corpo, reformulando na Igreja Católica Apostólica Romana os conceitos do Amor e da pureza evangélica, sugerindo-lhe maior sensibilidade cristã e mais perdão e ainda, consoante o Evangelho do Cristo, que não ajuntasse ouro nem prata nos seus alforjes.
Sua verdadeira missão seria fazer circular todos os bens da vida, colocando as almas na plenitude da Esperança.
E começa então, a cair no ergástulo da carne, uma grande estrela dos céus de Jesus, para iluminar as consciências em plena Idade Média...
* Do grego , Soma= boca (N. E.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:56 pm

8 - Simbiose Divina
"O amor cobre todas as transgressões".
Provérbios, 10:12.

"O amor cobre a multidão de pecados ".
IPedro, 4:8.

Deus, a Suprema Inteligência do Universo, periodicamente fracciona Seu magnânimo Amor, enviando para a paz dos Seus filhos, qualificados mensageiros.
Desta feita, enviou aquele que fez parte do colégio apostolar de Jesus:
João, aquele que na ilha de Patmos mapeou os últimos acontecimentos do planeta, no mais profundo simbolismo jamais visto no mundo, como sendo os fins dos tempos da decadência.
O espírito João Evangelista, em alta madrugada, adentrou a nave de descanso dos Bernardone.
Sua futura mãe dormia serenamente, qual um Anjo, viajando nos espaços infinitos.
Ele desceu suavemente no clima sagrado do templo do sono, contemplou a rica senhora e beijou a sua fronte com respeito e carinho.
O corpo da senhora Bernardone estremeceu e em um átimo de segundo, a elegante mulher apressou-se em tomar o corpo, no que logo foi impedida pelas circunstâncias.
Jarla, a companheira inseparável da senhora, quis entrar no recinto:
todavia, desnorteou-se, sem que encontrasse a mansão, e ficou perambulando por Assis, sem entender o porquê da sua perturbação.
Maria Picallini, ao avistar aquela esplêndida figura espiritual dentro do seu quarto, não teve dúvidas de que se tratava quele com o qual havia sonhado muitas vezes.
Tomou-lhe as mãos delicadas e fartas de luz, beijando-as com toda a amabilidade.
Quis ajoelhar-se, porém, João não consentiu fazendo com que se levantasse à meia quebra dos joelhos.
Segurou-lhe mãos entre as suas, e assentaram-se os dois na forma oriental, por sobre um tapete persa que enfeitava o quarto.
João falou com doçura:
- Minha irmã, que a paz de Jesus Cristo seja em teu coração, e te faça dentre mulheres uma mãe, e que seja minha, por graça da vida!
A minha gratidão nunca faltará, por esse teu gesto de amor; agradeceria poder nascer por teu intermédio.
Não sou Anjo como pensas, nem santo, como divagas em pensamento.
Sou, sim, teu irmão em Jesus, querendo acertar naquilo com que me comprometi com os maiores da espiritualidade.
Lágrimas brotavam nos grandes olhos da mulher escolhida e o ímpeto de falar era tanto, que quis, em brados, agradecer a Deus; nisso, dois dedos selaram seus rubros lábios, dizendo:
- Espera um pouco e ouve a quem precisa te falar...
Se aceitares a minha chegada pelos canais da ma vida, selarás um compromisso com alguém maior do que nós na Terra, e talvez por isso sofras vexames, desprezo, maledicência, pois virás a ser instrumento de grandes acontecimentos; todavia, se souberes, encontrarás consolo na força do perdão, na tolerância e no amor.
Quando atormentada, procura o Cristo no silêncio da prece.
Estimula a fé, e nunca te esqueças de que Deus não abandona a ninguém, principalmente a quem serve de meio para iluminação da humanidade.
Procura lembrar do Sermão da Montanha, de Jesus Cristo, recorda as bem-aventuranças, e vive dentro destes preceitos, que serás livre de todo o mal e consolada em todos os transes difíceis...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:57 pm

O teu consentimento significa o selo da nossa união, em nome de Deus e do nosso Mestre.
João silenciou-se, esperando que a senhora Bernardone ordenasse seus pensamentos, e decidisse, por ela mesma, o compromisso apresentado.
Ela, chorando de alegria, fitou os olhos do seu futuro filho e disse com dignidade:
- Não sou dona de mim mesma, quando se trata da vontade do Mestre.
E bom que se cumpra a vontade dos céus e não a minha, e, se isso depende do meu sim, já está dado pelo coração.
A felicidade e a honra são toda nossa.
Saberei, emissário dos céus, ficar imune a todos os ataques das ordens inferiores, e creio que a tua ajuda não vai me faltar.
O coração não me enganou, pois por inspiração já sei de quem se trata.
Que Deus me ajude a compreender os meus deveres diante de tão relevante tarefa no mundo!
Sim, serás meu filho!
O ambiente estava perfumado, e a cada suave estalo de flor diferente que surgia, um aroma embriagador recendia no quarto espiritual da mansão...
Pedro Bernardone chegou tarde da noite, e antes de dormir deu-se, com uma ligeira ginástica e com um banho frio, um susto nos nervos, para que o sono não tivesse interrupção.
Deitou-se e, em poucos minutos, conciliava o sono.
Nesse estado, passou ao plano espiritual, onde os dois Espíritos, que dialogavam, invisíveis para ele, estavam a sua espera.
João Evangelista abriu mentalmente o véu espiritual que separa um plano do outro, e eles surgiram sorrindo aos olhos de Pedro Bernardone.
Maria Picallini aproximou-se como o anjo da casa, para que ele pudesse entender.
Ainda confuso, deixava transparecer pela sua aura estriada por coloração cinza e vermelho terra, o ciúme, fazendo despontar o ódio no seu coração.
A muito usto e a contragosto, estendeu a mão, que João segurou com amabilidade, dizendo com alegria.
- Meu senhor, que Deus e Jesus Cristo façam do teu coração um tesouro do bem, que a riqueza espiritual do teu lar acompanhe a da Terra!
Eu tenho muito prazer em vê-lo junto à tua esposa, cujas qualidades nos enriquecem os argumentos, em se falando do nosso Mestre.
Não nos leves a mal por estarmos neste recinto sagrado às tuas aspirações, mas queremos falar-te ao coração, nesta noite que marcará o nosso destino na Terra.
Esperamos que sejas bastante compreensivo ante o que vamos apresentar.
Pedro permaneceu mudo, sem que pudesse articular uma só palavra, pois nada estava entendendo do assunto de que falava aquele senhor mais ou menos vestido de suave luz.
Sua esposa, entendendo a gravidade do momento, aproximou-se mais dele, enlaçou o braço em sua cintura um tanto volumosa, falando com gentileza:
- Querido, este venerando senhor é um deus de prosperidade, aguardando nossa decisão, para que possamos nos enriquecer para Deus, na luz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Bernardone mudou o semblante, caindo aos pés do apóstolo, beijando suas vestes, pedindo desculpas.
E falou embaraçado:
- Não sei se é verdade, porém, penso que deve ser esse o Anjo de quem me falaste... e olhando a jovem senhora, que aprovara com um gesto, levantou-se e disse:
- Que queres de nós, que porventura não estejamos dispostos a fazer?
Diz, venerando deus, que faremos o impossível!
Nada há na Terra que o dinheiro não compre, e a nossa bolsa está constantemente recheada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:57 pm

O teu pedido é uma ordem! Imponho, porém uma ressalva:
se tratar-se de assunto de ordem moral ou doutrinária, teremos de consultar o vigário, que por certo não vai interpor-se, pois como ele, falas também em nome de Deus.
O representante dos céus na Terra Precisa ser consultado, tu bem o sabes mais do que eu.
Pedro lembrou-se logo do sacerdote de Espoleto, que mancomunava com suas ideias, esquecendo-se que ele já falecera num desastre.
Nisto, o ambiente fê-lo silenciar.
O apóstolo olhou serenamente para a senhora Bernardone, e esta, como Por encanto, surgiu com o seu Evangelho entre os dedos, dádiva primorosa do seu Padrinho.
João imprimiu nele o olhar dotado de consciência, quando suas delicada s mãos o abriram, por força da necessidade, em Lucas, capítulo seis, versículos de trinta e nove a quarenta e cinco:
Propôs-lhes também uma parábola:
Pode porventura um cego guiar outro cego?
Não cairão ambos no barranco?
O discípulo não está acima do seu mestre.
Todo aquele, porém, que for bem instruído será como seu mestre.
Por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas a trave que está no teu próprio?
Como poderás dizer a teu irmão, deixa irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente, para tirar o argueiro que está no olho do teu irmão.
Não há árvore boa que dê mau fruto, nem tampouco árvore má que dê bom fruto.
Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto.
Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.
O homem bom, do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau, do mau tesouro tira o mal.
Porque a boca fala do que está cheio o coração.
Terminada a leitura, Pedro, antes afogado pela depressão, começou a sentir-se bem.
Para não lhe ferir a susceptibilidade, não se fizeram comentários do trecho lido; contudo, ele ficou plantado na consciência do comerciante, para depois aparecer gradativamente no seu consciente, no estímulo de cada dia.
Já alegre, perguntou ao discípulo do Cristo:
- Que queres de mim?
Ao que João amavelmente respondeu:
- Que sejas meu pai!
Desejo nascer neste lar; não obstante, sem a tua aquiescência, terei que procurar outro.
Pedro, sensibilizado, olhou para a esposa, que não retinha o pranto, e por incrível que pareça, chorou também, falando emocionado:
- Se depende de mim, meu Deus, faça-se a tua vontade, que seremos os teus escravos.
Pelo que vejo, a minha esposa já aceitou, e eu o aceito igualmente.
Desculpa-me pelo que pensei antes de ti; deves lembrar que sou homem, e como alma do mundo não consigo pureza, que só existe no céu.
Perdoa-me, Senhor!... Perdoa-me!
João, por força da condição espiritual do rico comerciante, não falou ainda das dificuldades que poderiam surgir com o seu ingresso na família.
Bernardone aconchegava sua linda esposa nos seus fortes braços, dizendo-lhe:
- Sinto-me feliz quando encontro segurança na nossa união e que a paz de todos os deuses a mantenha para sempre!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:57 pm

Tu és minha!
Eu sou a árvore, tu és a flor e os frutos virão de nós!
E no afago do amor de Pedro Bernardone, João emitiu seu pensamento em busca de Jarla que, ainda confusa, procurava sua filha de leite e que, envolvida pela luz emitida por aquele pensamento, viu através dela, a mansão dos Bernardone e, rapidamente, chegou ao recinto.
Assustada, colocava em ordem seus pensamentos, e as boas maneiras fizeram com que ela humedecesse.
Nisto, a dona da mansão desprendeu-se dos braços do marido, e buscou-a dizendo:
- Jarla!... Jarla!...
Por que demoraste tanto?
Sabe quem é este?
Antes de responder, a serva pediu licença e beijou as mãos do emissário do Amor dizendo:
- Sei...
É o nosso Anjo, que será o filho amado deste lar, ao qual pertenço por misericórdia divina.
Mesmo na condição em que me encontro, se Deus permitir, quero ter participação na vinda desta Alma de Assis, para a felicidade do nosso povo, para fazer florescer em cada alma a esperança de uma vida melhor!
As duas mulheres derramavam copiosas lágrimas, nascidas da fonte mais profunda do ser, que a alegria pura fazia brotar.
O Vidente de Patmos, dando alguns passos no amplo salão, lembrava um sol de primeira grandeza, fazendo girar um turbilhão de estrelas menores, pela estupenda quantidade de fluidos interligados em sua magnânima personalidade.
Cada fracção fluídica brilhava como que provida de inteligência, e o colorido desnorteava qualquer raciocínio.
João, naquela hora, sentiu amor mais profundo pela humanidade, e um prazer imenso pela abertura da sua tarefa na Terra, por intermédio dos Bernardone.
Se quisesse, poderia nascer por imposição; todavia, queria entrar na argamassa da carne pelo Amor que não impõe, que não oprime, que não desrespeita, que não invade.
O próprio Amor exalta a justiça, e se era um enviado das qualidades evangélicas, se era uma carta de Jesus à humanidade, no envelope do corpo físico, como proceder para entrar naquela casa?
Bater suavemente na porta, pedindo licença para entrar, com humildade, fazendo-se o menor de todos, para exaltação dos valores imortais dos preceitos do Cristo.
Parou um pouco seu lúcido argumento mental, olhou para Jarla, transfigurada de contentamento, e disse-lhe:
- Minha filha, preciso também da uma aquiescência, pois será para todos nós, uma peça valiosa no esquema do Amor que não tem fronteira, do Amor que cobre todas as transgressões, como afirma o provérbio, do Amor que cobre a multidão de Pecados, como exalta Pedro.
A nossa missão, a ser iniciada nesta casa, terá como base este Amor, que Cristo nos ensinou com o exemplo, através do qual vamos dar a nossa cota em favor da paz na Terra.
Jarla bebeu o néctar da palavra do discípulo do Messias, e este aguardou a resposta.
Decidida, ela falou com entusiasmo:
- O meu sim, digno ancião, já foi dado pelos meus senhores.
Sou serva, e o sou mais ainda da vontade de Deus, nosso Criador incriado.
Para mim, será o maior prazer servir-te, ainda que seja apenas de companhia, nos primeiros dias de juventude.
No mais, o que poderás tirar desta que nada tem para dar?
Sim!... que meu peito possa ser o coxim, em que possas repousar a ma cabecinha divina, no que sentirei o maior prazer.
Permita-me beijar teus pés, reconhecida que estou pela honraria concedida a quem ainda não se encontrou!
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 4 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:57 pm

Dobrou a cerviz com humildade, o que João não aceitou:
erguendo-a, tocou com os lábios a sua fronte, com profundo respeito e carinho, chancelando, assim, mais um compromisso de luz para espancar as trevas da Terra.
Pedro Bernardone acordou assustado, meio confuso, sem que pudesse recordar na íntegra o sonho que tivera, e naquele embaraço chamou a sua mulher insistentemente.
Ela, abrindo os olhos como se fossem dois faróis brilhando de contentamento, trouxe à sua retina a quase perfeita reprodução do ocorrido no plano espiritual; acordou feliz, lembrando-se de quase todos os detalhes.
Ainda confuso, Pedro falou:
- Mulher, queira Deus que seja verdade, parece-me que fui ao céu.
Será que foi o vigário que morreu, que veio me buscar?
Ele era um santo, as suas ideias eram iguaizinhas às minhas.
Entendia as coisas como deveriam ser...
Que pena ter morrido naquele desastre!
Mas, foi para o céu, e pareceu-me ter conversado comigo em sonho; e, se não me falha a memória, tu e a Jarla também estavam lá.
Que coisa linda... Que beleza!...
Graças a Deus eu fui bom para ele e com certeza este encontro foi a retribuição, gratidão de um coração
muito mais que bom, pois era compreensivo e justo.
Sorrindo, a jovem senhora disse com ênfase:
- Pedro, meu querido, eu também me lembro deste sonho, do qual felizmente participei.
No entanto, te enganas com referência ao vigário de Espoleto; não era ele.
Pedro assustou-se, e retorquiu:
- Quem era então?
Pica falou com uma clareza indelével sobre o encontro no plano espiritual, e o marido começou a lembrar-se com mais detalhes, inclusive da figura respeitável do Apóstolo.
- Ah!... Ah!...
Admira-se o senhor.
Então foi o deus da prosperidade!
E mesmo, foi o deus da prosperidade que veio nos visitar, o que quer dizer que tudo para nós correrá às mil maravilhas.
Graças!... graças!... que sejam muitas as graças!
E a senhora Bernardone continuou, com vivacidade e encanto, nas suas descrições:
- E ainda tem mais, Pedro; vê se lembras que ele nos pediu o lar, para nele pudesse nascer.
E nós aceitamos, para que a nossa alegria seja completa!
Pedro tomou a palavra, argumentando:
- Minha querida, como pode um deus nascer no mundo, sem que as profecias antes o anunciem?
Ela se apressou em responder:
- As profecias servem, meu querido, para remover as dúvidas de quem as tem.
No caso deste Anjo que já compartilha connosco esta casa, a sua missão também é outra; não é a de revelar o desconhecido, e sim, a de reviver a maravilha de que o povo já certificou a eficácia: ensinar e viver o Amor, a Humildade, o Perdão, a Obediência...
Com suas emoções já modificadas, Pedro deu um sorriso.
Invadido por uma sensação de amor sublimado, envolveu nos braços sua linda senhora, não deixou que ela falasse mais nada, selando seus lábios, e fazendo com que seus olhos fechassem os dela, na mais elevada troca de valores entre os dois planos, divino e humano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:57 pm

O director espiritual de Assis, juntamente com o de Roma, e demais outras caravanas, se postaram ao derredor da mansão, limpando o ambiente e policiando a região em que o figurante principal, João Evangelista, se preparava para ligar os primeiros laços na micro-vida dos gâmetas...
João, sozinho enquanto espírito, accionou com respeito sua poderosa mente, aproveitando as emoções físicas da sua futura mãe.
Fez desprender um tipo de fluido que, pelo género, denotava o poder energético de higienização, que se transfundiu nas auras dos seus futuros progenitores.
Escutaram-se pequenos estalos, como se algo invisível estivesse se queimando, mais acentuadamente no campo áurico de Pedro.
Intuitivamente, João buscou algo nos ares com as mãos que esparziam luzes, acomodando entre os dedos uma massa inquieta, porém dócil ao seu comando mental! Fez com que o sistema nervoso da jovem senhora crescesse a seus olhos, pelo poder do pensamento, e intrometo aquela força vital no trajecto neuro psíquico, e essa energia singular rompeu as estruturas das células, sem obedecer às suas diversidades morfológicas.
O prolongamento dos neurónios também foram visitados com a mesma complacência daquela bênção ordenadora, rodopiando essa profusão de fluidos nos axónios, dando a eles mais essa responsabilidade, a da devida irrigação automática, em conexão com outros prolongamentos, para que os endritos conseguissem plasmar nos núcleos, o agente intromissor.
Esperou um pouco, e viu toda a unidade celular enriquecer-se vivamente, pelo fenómeno do metabolismo.
Com muito cuidado, procurou observar a irrigação sanguínea da senhora Bernardone. Seus olhos eram como poderoso microscópio, que cavam o cérebro, parando demoradamente no córtex, dando alguns toques neste 0 espiritual da alma.
Ampliava as glândulas pineal e pituitária, revestindo-as de um tipo de protoplasma que foge à nossa análise.
Concentrava-se nas células motoras da medula.
Estas se apresentavam como pratos vivos e disformes, conexas umas com milhões de outras, por filetes luminosos, que se espraiavam por todo o cérebro.
Deu os últimos retoques nos centros de força e, aliviado, respirou profundamente, sem que o ato físico do casal passasse pela sua lúcida mente.
Fazia-se necessário que o Apóstolo tomasse cuidado com o sistema neuro-psíquico espiritual de Maria Picallini.
A mulher grávida passa a viver o mundo mental do reencarnante, e vice-versa; todavia, o que for mais evoluído pode se defender dos pensamentos e emoções que não se coadunem com a sua formação já alcançada.
Mesmo assim, quando se trata da mãe colocada em esfera bem inferior à do futuro filho, os grandes enlevos mentais a colocarão em depressão, danificando, com a alta corrente de energia oriunda do filho, a rede nervosa, constituída de filamentos quase invisíveis.
Perturbar-se-iam as grandes células motoras da medula, sendo atingidas até as que chegam a medir quatro micras, no seu volume aparentemente invisível, por lhes faltar a cromatina com mais abundância na capital celular.
Foram preparados com muito cuidado o córtex e as duas glândulas principais da cabeça da futura mãe, ocorrendo assim a adequação espiritual nos centros de força, por merecimento daquela mulher, que ia ser mãe de um grande astro espiritual, com liberdade de acção no campo da Terra.
Neste caso, o carma de dona Maria não interviria, por tratar-se de um benefício em favor de toda a humanidade.
João Evangelista fixou seu olhar na matriz feminina, viu o campo sagrado regurgitado de milhões de micro-gametas, que avançavam como numa batalha em busca do mesmo ideal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:58 pm

O centro de formação da vida física, com suas protuberâncias, movimentava-se na forma do automatismo orgânico, dificultando assim aos agentes da vida, que procuravam sobreviver em lutas individuais, na conquista de seu objectivo, como os próprios homens o fazem, instintivamente!...
Luzes circundavam cada um em particular, de acordo com a sua formação congénita, na unidade dos genes, com traços e pontos da hereditariedade.
Mudava-se o que poderia ser mudado, pela alta posição da alma reencarnante; porém, muita coisa não é lícita mudar.
A herança no campo biológico é um facto que, muitas vezes, atinge até o mundo emocional do espírito.
Tudo isso obedece a uma grande área, na qual a relatividade domina.
Este assunto ainda está por se completar, em se falando da Tena, porquanto, tanto a ciência quanto as cogitações filosóficas e religiosas são deficientes, nas suas abençoadas explicações.
A luz azul celeste predominava como aura de cada espermatozóide, estando a diferença em algumas aberturas, de onde o núcleo atingia as estrias áuricas, permitindo ao mentor espiritual escolher, com a sua alta sensibilidade, parte do centro de sua vida física.
E o óvulo feminino, desprendido pelas correntes emocionais, encontrava seu par na mais completa afinidade morfológica, e se ajustavam dentro dos moldes planejados pela Lei e pela Justiça, pela Paz e pelo Amor. Eis porque todo homem tem algo de feminino e toda mulher carrega consigo muita coisa de masculino; tanto num como noutro afloram essas qualidades intrínsecas ao ser, por natureza congenital e pelo ambiente das circunstâncias.
João ampliou o campo de disputa, de maneira exuberante.
O espermatozóide tinha como campo de vida uma gelatina grossa, que dificultava a corrida dos bastonetes, cada um buscando ser o escolhido da princesa, que se encontrava à disposição do óvulo.
Tocou-o e ele se motivou, ganhando a liderança.
A sua luz ofuscou os outros que ainda não tinham perdido a esperança.
Aproximou-se do óvulo que se encontrava inundado de luz vermelha, já esmaecendo, para ganhar-lhe a gema na formação do ovo, parecendo um Sol a fundir-se com outro astro!
Ao encontro dos dois agentes de vida física, deu-se uma pequena abertura do óvulo, pelas emoções conexas de forças que se completaram, e se esconderam um no outro, por bênção da vida, por bênção de Deus.
E foi nesta hora suprema que se unificaram todos os valores dos genes da vida física, partindo sete tenuíssimos fios da alma iluminada de João Evangelista, atando-se em pontos quase invisíveis - mesmo aos grandes olhos espirituais - atingindo a unidade nuclear que podemos chamar de Pai, Filho e Espírito Santo, três forças que se dividem na formação de uma que se eterniza, para o esplendor da consciência.
O discípulo de Jesus já estava ligado ao seu futuro corpo, em nome d'Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
* * *
A linda jovem Picallini acordou quando o Sol já se mostrava alto.
Olhou para o lado, acostumada a cumprimentar seu esposo, mas este já tinha se levantado, e se encontrava na luta diária de seu comércio, animado e estourando de alegria, porque encontrara o deus da prosperidade, sendo essas as bênçãos que lhe faltavam, para que seu ouro bulisse com a inveja dos nobres.
Cantarolando, ia aqui e ali, mas a sua mente não perdia a sequência dos detalhes do sonho, seu e da sua encantadora mulher.
Jarla bateu à porta.
- Minha filha!... Posso?...
E uma voz grave, que parecia interligada em outras esferas, respondeu:
- Entra, Jarla...
Bem-vinda sejas; temos muito o que falar!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:58 pm

A serviçal, humilde e prestativa, interrogou:
- Que aconteceu?
Até a essas horas no leito!...
Não é esse o costume do meu coração, dormir demais...
Falava assim, devido à intimidade que tinha com a sua ama, que sorria com o gesto da grega, que tanto amava.
-Jarla!.. Puxa a banqueta e senta juntinho de mim, para que eu possa servir-me da tua companhia e escrever no teu coração um assunto de luz, que sobe à minha mente e começa a derramar-se em tomo de mim, como se fossem ideias subtis ou meditações imponderáveis.
O que passou com você eu não sei, mas quero saber...
Sonhaste esta noite?
Jarla, compreendendo, deu um largo sorriso - daqueles intermináveis, que quando os lábios voltam ao estado natural, a natureza interna dá prosseguimento à alegria - e falou com a voz trémula:
- Minha querida Pica, será que os deuses te abençoaram esta noite com a felicidade para nós, de que a humanidade vai desfrutar?
Nisto, as mãos das duas mulheres já se apertavam nervosamente, sentindo uma e outra o desenrolar do assunto, que mesmo invisível, explodia como realidade nos corações de quem tem olhos para ver.
E a aia grega passou a narrar:
- Eu sonhei que estava perdida numa grande floresta, mas o interessante é que no meio dela havia muitas casas, que pareciam com as construções de Assis.
Aproximei-me delas; nas ruas era aquele vai-e-vem de criaturas, que não pressentiam a minha presença.
Eu gritava, gesticulava, pedia informação, mas não adiantava.
E comecei a perambular, procurando a mansão, sem contudo encontrar, em um esforço vão.
Depois de tanto andar, não me recordo o tempo, elevei-me nos espaços, pela vontade que tinha de ver as estrelas mais de perto e fiquei encantada com as belezas do infinito.
Isto ficou muito gravado na minha mente.
As estrelas não piscavam como as vemos cá da Terra, não obstante, pareciam-me grandes olhos com encantos indescritíveis que, intimamente, temia pensar que não fosse realidade.
Naquela contemplação, derramava-se dentro do meu peito algo invisível, que meu coração agradecia com muitas lágrimas, antes que o raciocínio analisasse.
Chorei, Pica, tanto de emoção quanto pela tua falta, para presenciar comigo as riquezas da criação de Deus, pelo que os homens, infelizmente, não se interessam.
Depois, por imposição de alguma força interior, ajoelhei-me, agradecendo a Deus, à Vida e ao Cristo.
Mesmo em sonho, queria acordar para contar-te a aventura espiritual - em que a carne não se fez barreira - que palpitava viva dentro do meu coração.
E, no transe da prece, fui banhada com uma luz encantadora e aconteceu um milagre:
vi de pertinho o Anjo do teu coração e do nosso convívio a me chamar.
Atraiu-me junto dele, acariciando-me como se fosse minha própria mãe, e o mais interessante é que estava dentro do teu quarto, onde conversava contigo e com o senhor Pedro.
Quis beijar-lhe os pés, por sentir nele a paternidade:
e ele, mansamente, acolheu-me com um sorriso de que não me esqueço até o momento, traduzindo todo o seu amor, e ainda mais, toda a sua missão junto a nós.
Que os Céus me desculpem, mas esse é o verdadeiro Deus, que premiou Assis, e que o destino fez pousar na mansão dos Bernardone.
Interessante também é que ele, não sei porque, pediu-me para nascer com a minha ajuda!
Mas... que ajuda?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:58 pm

Velha e serva, que condições tenho para ajudar a um deus?...
Abraçaram-se as duas mulheres, sufocadas de contentamento.
E, com alegria, constataram ter sido aquela a noite que antecedeu ao dia vinte e cinco de dezembro, data festejada em todo o mundo cristão, como a do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Foi esta data que João Evangelista escolheu para atar seus laços na vida física, como Francisco Bernardone, sob as bênçãos do Mundo Maior!
O Natal de Jesus!...
Quando fazia 1.181 anos que o Cristo se fizera visível na Terra, o Seu Discípulo do Amor crucificava-se na carne com sete amarras, que somente a morte física poderia desatar, quando o destino indicasse o tempo marcado pela Divindade, para que o Espírito voltasse à Pátria Espiritual.
Enquanto o mundo cristão cantava hosanas, relembrando o momento histórico da vinda do Messias à Terra, o profeta de Patmos aproveitava o ambiente sublimado de paz, para ingressar na carne por intermédio da lei da reencarnação.
E os duzentos discípulos adestrados nos mais requintados conceitos evangélicos, desciam igualmente das altas esferas em direcção a vários pontos do globo, para também renascerem, com fidelidade total ao seu mestre.
Pedro Bernardone, certa noite, teve um sonho que ficou gravado com absoluta nitidez em sua consciência.
Em estado sonambúlico e com ajuda espiritual, regrediu no tempo e no espaço, e relembrou sua reencarnação em Éfeso, na época em que João Evangelista mudara de nome, por conselho dos soldados romanos, por ter sido salvo da tacha de azeite quente.
Naquela última noite em que falara na Igreja de Éfeso, despedindo-se da vida física, curou uma multidão de doentes, inclusive leprosos.
Pedro Bernardone era um dos leprosos curados por Pai Francisco, e, eternamente agradecido, tomou-o por um deus ingressado na carne para salvação dos homens.
O facto assinalou sobremaneira sua gratidão por esse Espírito e os mentores espirituais que o fizeram regredir, deixaram bem aflorada na sua consciência esta dívida para com João, de sorte que ele sentisse, por direito e justiça, o dever de abrir os braços àquele que viria ao mundo pelos canais
físicos da família Bernardone.
Pedro Bernardone não se esquecia de Pai Francisco depois deste sonho, guardado em segredo por medo, pois se sentiu no corpo chagoso e fétido pela morfeia.
No entanto, o nome de seu benfeitor ficara gravado no coração, com o maior respeito.
E sempre dizia de si para consigo:
- Se porventura alguém vier a me chamar de pai, este alguém se chamará Francisco.
E uma promessa que faço aos deuses que me ouvem!
E, se eu pudesse escolher seu destino, queria que fosse um grande guerreiro, para conquistar terras, atravessar mares, ser famoso e ficar na história dentre os grandes da nossa querida Pátria!
Guardarei silêncio, que somente quebrarei no dia em que for pai!
Maria Picailini, durante a gravidez, como ocorre com quase todas as mulheres nesse período sagrado, teve vários sonhos com aquele que haveria de ser seu filho unigénito.
Durante um deles, percebeu com muita nitidez que seu futuro filho era o mesmo espírito vidente de Patmos, um daqueles figurantes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, que ela amava enternecidamente: era João Evangelista.
Quando acordou, narrou o sonho para sua aia de confiança, e as duas, em colóquio santo, tiveram a mesma ideia, falando Jarla em primeiro lugar:
- Patroa, por que não dar a esse Anjo que vai nascer o nome de João?
Ele merece o nome do discípulo porque vai continuar o apostolado do Cristo, já que não temos mais dúvidas da sua grandiosa missão na Terra!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 21, 2019 7:58 pm

A mulher do rico comerciante sorriu e continuou:
- Tive o mesmo pensamento.
Será João o seu nome.
Todavia, quero que guardes segredo absoluto, pois o Evangelho nos adverte para não darmos coisas sagradas aos cães...
E o que tem de mais sagrado para nós nesta casa, do que esse emissário de Deus, e o seu nome?
Jarla, contente, conclamou com entusiasmo:
- Que ele nasça com o Evangelho do Nazareno no coração!
Que os seus pés andem em nome da paz e da caridade, e que sua cabeça viva, mesmo na Terra, em permanente céu de pureza!
O assunto das duas mulheres era sempre a criança que haveria de nascer.
Dona Picallini, certo dia, buscando lembranças escondidas na consciência, acentuou:
- Jarla, minha filha, parece-nos que fomos contempladas com a graça de Deus, e presumo igualmente, que essa grande alegria seja prenúncio de desgraças eminentes.
E necessário fortalecermos os corações e eu preciso muito de ti, pois tenho pressentimentos de testemunhos que não me cabem no coração e que a razão não suporta sem fé...
A inspiração me fala que essa fé, sem a ajuda de um coração como o teu, formado em duras experiências e vivido em fecundas lutas, pode fraquejar em momentos de desespero!
Tu já conseguiste muito crédito e a esperança, em ti, é fruto mais aflorado na árvore do teu ser.
Talvez a ajuda que ele te pediu na memorável noite da decisão do seu nascimento fosse essa.
Aliás, não tenho mais dúvidas sobre isso.
Somente tu poderás ajudar-me no que preciso: carregar a minha cruz, quando esta pesar demais, ou, como fez o cireneu com Jesus, ajudar-me a carregá-la.
Peço-te, em nome do teu amor para com os Céus, que não me abandones, pois que já pressinto fortes tempestades das trevas contra este - diz colocando as mãos no ventre - que é filho da luz.
A serva grega aproximou-se mais da senhora.
Ajoelhou-se, pegou as suas mãos e as beijou ternamente, molhando-as de lágrimas, dizendo com a voz vibrante de alegria, de fé e de esperança:
- Confia em Deus, que fez o dia e a noite, o sol e a luz, as estrelas e o infinito.
Confia, senhora, na Inteligência Suprema que criou a harmonia das coisas, que deu penas aos pássaros e o mundo das águas aos peixes; que faz crescer as ervas para alimento dos animais e que nos deu por misericórdia o ar, que, sobremodo, é vida para toda a Sua criação.
Confia, senhora, n'Aquele que é o Senhor de todas as coisas, que ampara a criança e o velho, o santo e o sábio, os mendigos, os doentes, e até os assassinos e os ladrões.
A Sua justiça magnânima nunca faltará dentro da grande casa universal!.
Dizia um grande filósofo grego: Conhece-te a ti mesmo.
E Platão, nas ruas de Atenas, junto a um lago onde o mestre Sócrates confirmou que ele era seu verdadeiro discípulo, quando viu um cisne nadando, lembrou-se de um sonho e completou a máxima do seu preceptor, dizendo para sessenta jovens, seus alunos:
"Quem conhece a si mesmo não tem medo, não alimenta raiva, não perde tempo em revides aos ofensores, não costuma mentir, não faz colecções de preocupações passageiras, não acaricia o ódio, não se enerva por simples notícias e não fala mal da vida alheia!...
Para tudo e todos tem o mesmo estar, tem o mesmo amor."
Que queres mais, minha querida, em teu favor?
A lei divina favorece muito mais os justos e os bons.
Além do mais, esse que vai ser teu filho é um sol, e por onde passar não haverá sombras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:10 pm

Em plantio como esse que ele tomou para efectuar no mundo, o sofrimento que dele decorre toma-se bênçãos dos céus.
Queira Deus que eu, em qualquer circunstância, possa dar a vida para que ele cresça cada vez mais, para a paz da humanidade.
Dá graças aos Céus por teres sido escolhida dentre as mulheres de Assis, senão do mundo, para ser a mãe, por excelência, de um discípulo do Cristo, que por certo virá visitá-lo de vez em quando nos teus braços, e abençoar-te-á todo o ser, porque aceitaste a tarefa sem murmurar...
Sou tua serva e o serei também dele, eternidade afora, sentindo o maior prazer em servi-lo.
Aquilo que eu puder, darei com amor.
Pica conhecia os dotes de Jarla no tocante à fé e, por vezes, sabedoria, mas não pensava que eram tantos quanto demonstrou naquela conversação.
Pensou um pouco e pediu à aia com brandura:
- Jarla, de hoje em diante não sou mais tua senhora; sou sim, a tua companheira.
Sou também, e nisso tenho o maior prazer, a tua filha de leite e tu, minha mãe do coração, pois, além do alimento sagrado que verteu dos teus seios fecundos para alimentar o meu corpo, dá-me, depois que cresci, o leite do amor que Verte da tua alma iluminada para a minha, necessitada e faminta do pão da vida.
Aquele pão que foi enviado do céu e estará connosco para a eternidade, alimentando a quem o encontrar como tu, que descobriste o maior suprimento de todos os tempos, que é o Amor, a Fé e a Confiança em alguém que tudo pode, que tudo faz e que tudo governa.
De hoje em diante, da minha parte considera-te livre, pois que te devo o que nunca poderei pagar.
De olhos húmidos, uma e outra compreenderam a necessidade de se fazerem companheiras, e que, no centro de tudo, haveria de nascer o Amor mais puro que os corações podiam sentir.
As duas mulheres estavam conscientes da sublime missão do Anjo que iria tomar forma física na família Bernardone.
João tinha já selado o compromisso com a carne, passando a viver mais perto de sua futura mãe.
Sentia as emoções de Maria Picallini, como se estivesse lendo em uma página escrita por ela, as suas próprias ideias, por intermédio daqueles fios tenuíssimos que os ligavam:
ele, no início formativo do seu futuro corpo, e a mãe, que por leis invisíveis que escapam à natureza humana, também estava vivendo parte da sua vida, envolvida nos pensamentos e ideias do apóstolo, prestes a reingressar na argamassa da carne.
Contudo, o quilate espiritual de João dava-lhe enorme campo de liberdade, dado as suas condições espirituais de isolar determinadas formas mentais da mulher que seria a sua progenitora.
Aproveitando o período de gestação de seu aparelho fisiológico, o vidente de Patmos,
juntamente com o director espiritual da cidade, idealizava trabalhos a serem desenvolvidos em Assis e nas regiões adjacentes.
João orientaria um grupo de trabalhadores, para que pudessem operar com eficiência no território italiano, para esclarecimento de entidades ignorantes, de Espíritos endurecidos que comandavam as sombras e estimulavam o desespero na massa humana.
O Espírito responsável por Assis sabia da existência de uma falange das trevas, situada nas margens do Mar Adriático, e que tinha em suas listas negras várias cidades litorâneas, sendo Veneza um posto avançado das suas perturbações.
No entanto, não tinha meios para combatê-los de imediato.
Sabia que para combater certos tipos de inimigos eram indispensáveis armas à altura, ciência suficiente, e, acima de tudo, Amor em alta dose.
Esperava a oportunidade que poderia surgir algum dia e eis que ela surgiu!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:11 pm

Encontrara o Apóstolo de Éfeso, dotado de Amor no coração, na quantidade capaz de transpor todas as dificuldades, de remover todas as transgressões, de estimular o perdão e fazer reviver o Cristo no mais endurecido coração.
O Amor de João concentrado na alma, transformava o Mal no verdadeiro Bem.
Ele traçou o esquema, reuniu cerca de três centenas de companheiros, preparou-os com carinho, aplicando-lhes um curso intensivo.
Fez com que os irmãos conhecessem o meio em que iriam trabalhar, a responsabilidade de empreender trabalhos de esticada iniciação, nos valores internos de cada um.
Experimentou várias vezes os dotes que eles possuíam, visitou certas regiões com cada grupo em particular, dando-lhes a liberdade de trabalhar sem a sua intervenção.
Quando se certificou
da eficácia da acção da Unidos para o Bem - nome que deu à equipe de companheiros sob seu comando - dividiu-os em grupos que, alternados, difundiam o Amor e a Paz em vasta região da Itália, desfazendo as forças das trevas que perturbavam as criaturas.
E, dentre as sombras que iriam combater, havia o Mutirão do Verdugo Hernesto.
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 4 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:11 pm

9 - Unidos para o Bem
O Mutirão do Verdugo Hernesto era avassalador, com a participação de dezenas de Entidades predispostas ao Mal, escolhidas a dedo e reunidas em grupos, seleccionadas pela intensidade das maldades que praticavam, nas modalidades mais tétricas.
Hemesto, homenzarrão de traços grosseiros, abrutalhado, que tinha sede de sangue como tinha de água, quando na carne, fora colhido pelo destino por pesadas provações, desde a lepra até a loucura, da fome à nudez.
Reunindo consigo um grupo de pessoas em processos cármicos semelhantes, passara a vida inteira destilando escórias magnéticas inferiores, na forma de provações incontáveis.
Dois de seus filhos se tomaram assassinos por prazer, buscando suas vítimas nas estradas, e delas abusando pelos impulsos dos seus mais grosseiros sentimentos; o furto lhes dava contentamento, e entendiam que vida era aquela que viviam, onde os mais espertos gozavam às custas dos mais fracos.
Duas de suas quatro filhas foram estupradas no ambiente da própria casa e Camápsia, sua mulher, era como fera enjaulada na came.
Pela descrição, conclui-se o que era essa família.
Sua filha mais nova, Carmellini, adorava-o, e ele retribuía esse carinho através de um sentimento rudimentar, como despertar de seu amor a alguém, na face da Terra.
Eram dois Espíritos ligados, sem que a acção de um pudesse interferir na quebra de harmonia entre essas duas almas.
A fera humana, presa à came na personalidade de Hemesto, tomava-se uma ovelha, a um simples desejo de Carmellini, bastando a sua presença chorosa para desfazer todas as ideias funestas de Hernesto, diante de qualquer circunstância.
Certa ocasião, Carmellini gozava das delícias da natureza em pequena campina.
Corria como se fosse uma gazela no bolinar dos ventos, estirava os braços horizontalmente, parecendo aconchegar no peito a própria vida.
Se não pensava em algo mais elevado, ou em coisa mais divina, era por lhe faltar o ambiente de aprendizado e por não conhecer naquela encarnação, os elementos culturais suficientes; entretanto, no íntimo conhecia, por assim dizer, a ciência da vida, pelos prismas em que ela se manifesta, por intermédio da natureza.
Como máquinas, a escola da intuição e os sentidos aguçados escrevem para a razão, deixando que o coração as leia, a fim de que, lentamente, a conscientização se faça, sem que a dúvida participe.
A menina-moça vivia naquele ambiente sem gostar do sistema de vida escolhido por seus familiares, e por vezes era encontrada em prantos.
A sua idade não lhe permitia chamá-los à ordem, pelas desumanidades que praticavam todos os dias, e o próprio clima fustigava suas aspirações.
O velho vivia mais brando pela sua presença, que lhe tonificava o coração, e fazia seus instintos se entorpecerem no esquecimento.
Em seu passeio pela vegetação rasteira, Carmellini foi raptada por dois malandros que, qual corvos, viviam à procura de vítimas indefesas, buscando distrair seus instintos.
Acharam que os deuses, naquele dia, os favoreciam nas suas aventuras.
A moça como que enlouquecera, oprimida nos musculosos braços dos dois malfeitores que, imediatamente, abusaram o quanto quiseram do seu inocente corpo, deixando-a em estado lamentável.
Quando voltou a si, desmemoriada, nunca mais acertou o caminho de casa.
Perambulou pelas encostas dos Apeninos e foi encontrada por alguns lenhadores que, por caridade, a conduziram à cidade mais próxima, sem que dela pudessem certificar a procedência, nem o que fazia.
A confusão mental da jovem pelos choques emocionais inesperados foi tanta, que articulava com dificuldade somente os sons:
Li... Li... Li...:
era o solfejo de uma canção, que costumava cantar quando saía pelos campos ao encontro da natureza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:11 pm

Na cidade, a apelidaram de a doida Lili.
Hemesto quase enlouquecera também, pela falta da filha.
Os outros nem tocavam no assunto; acostumados a fazer o mesmo com filhas alheias, os filhos aconselharam o pai a esquecer, pois ele já era doente e não devia aumentar seu sofrimento, com coisas que estavam acontecendo todos os dias.
Todavia, ele não se conformava; seu coração quase parou e suas chagas fétidas pareciam que exalavam mais, como se cada pústula de seu corpo fosse um vulcão em ebulição.
Sua mente estava enegrecida pelos últimos factos e sua natureza íntima corrompeu os demais sentimentos que a filha tinha procurado despertar, por amor àquela alma sofredora.
Tomou-se um tigre.
A fera bravia agitou-se em seu íntimo, sem ceder ao apelo da luz, que por vezes se manifestava em sua consciência, por branda claridade.
Ignorava a vida sem querer pensar em Deus; abjurou o amor, desprezando a amizade.
O egoísmo Petrificou mais seu coração e o mundo, com a perda da filha, tomou-se para ele um verdadeiro inferno, passando ele assim, a ser o maior participante do Mal.
Certa feita, um salteador que, com seus capangas, roubara as vizinhanças, passando perto da sua casa, nela entraram, por parecer esta deserta.
Com espanto, encontraram Hemesto abandonado em um catre, em estado deprimente, sendo consumido pela lepra.
E Filipino, o Diabólico - como era conhecido o salteador - que tinha horror à morfeia, tomado de fastio, ateou fogo no casarão, dizendo assustado:
- Hoje, infelizmente, estou praticando uma boa acção, mas, vá lá!... Essa doença é terrível; se queimássemos todos os seus portadores, ficaríamos livres da impureza desses marginais da natureza!...
Ao ser consumido pelas chamas ateadas por Filipino, sentiu leve vontade de agradecer a Deus.
Porém, abandonando essa ideia, concentrou-se na vingança.
Mentalizou um ser que tivesse qualidades nobres, ao lado da filha e colocando todas as suas forças mentais na busca, conseguiu vê-la nos braços dos dois homens, sendo estuprada inconscientemente.
Quis gritar por entre o fogo, lançando ódio em todas as direcções, mas as línguas ardentes não o permitiram.
Contudo, mesmo em alta temperatura, com os pensamentos livres, escapulindo em dimensão diferente, Hemesto deixara queimar dentro de si, tudo o que fosse bom, preservando a maldade, a prepotência e a autoridade, retemperando o gigante, como um verdadeiro dragão das lendas, para atear fogo onde passasse.
Seria ele um verdugo implacável.
Relatamos alguns detalhes da vida de Hemesto na Terra, para evidenciar os motivos que levaram esse Espírito terrível a criar seu grupo maldito, que devastava a consciência, crendo que o mais forte era o mais feliz.
Não queria ouvir falar em caridade, em religião, em Deus...
Reuniu camaradas da mesma estirpe, portadores de idênticas revoltas, e assim foi crescendo o mutirão das sombras que, quando baixava em uma pobre cidade, dir-se-ia que ofuscava a luz do Sol:
o povo esquecia a honestidade, a corrupção avassalava as consciências, aumentavam-se as mortes nas madrugadas, grassavam a peste e a fome.
Era uma verdadeira calamidade!
O director espiritual de Assis, contente com o esquema doutrinário de João Evangelista, falou-lhe humildemente:
- Conheço, senhor, um terror das trevas, de cujas negras urdiduras conseguimos, às vezes, defender as pessoas; todavia, temo que alguém o enfrente face a face.
Sei, graças a Deus, que isso é transitório, que somente o Bem é eterno; contudo, esses Espíritos são terríveis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:11 pm

Como queres saber os pontos estratégicos dessas sombras, poderei indicá-los e que Jesus Cristo te abençoe nos trabalhos de desfazer esse mutirão de maldade.
Caso sirvamos para alguma coisa, estaremos eu e os companheiros que nos ajudam, ao teu inteiro dispor.
- Meus filhos, vamos colocar os nossos corações a serviço do Cristo.
Foi Ele que nos ensinou que o Amor cobre a multidão dos pecados.
Não existe ser algum, mesmo que seja todo maldade, que o Amor não desvaneça, ou não penetre na mais profunda das suas entranhas, levando a mensagem de renovação.
Deus nos criou diferentes uns dos outros; somos todos iguais, com as mesmas tendências e com o mesmo destino.
Tudo isso que notamos, e que achamos ser um Castre nos caminhos humanos, tem como objectivo o Bem, sendo males aparentes.
Verdadeiramente, a essência de tudo é o Amor, que mesmo não se mostrando exteriormente, vibra interiormente, ainda que com menos intensidade, e é neste camp0 que iremos tocar.
Não poderemos duvidar do poder insuperável da Fé e do Amor, que a missão da luz nos sugere.
Quem pretende e trabalha no Bem, nunca é desamparado, e nós outros, os voluntários dessa guerra, temos de nos preparar, pois o Bem é a ciência na qual quem mais ama, mais glórias tem.
Fez pequena pausa e continuou, com delicadeza:
- Quando a alma encarnada ou o Espírito livre no plano espiritual se afasta temporariamente dos caminhos espirituais, sente-se intimamente perdida e sem remissão, sentindo-se envolvida em clima tão negativo, que lhe entorpecem os centros
mais sagrados da própria vida e a consciência se lhe afigura como um inferno.
Mas, como nada se perde e tudo se renova nas bênçãos da luz, chega o dia da inauguração inevitável da renovação interior, da limpeza espiritual se instalar na consciência e no coração, por ordem mais alta de Deus.
A missão de Jesus Cristo não foi outra nos caminhos do mundo.
E os Seus discípulos, os continuadores, e os companheiros dos Seus discípulos, os agentes do Bem, que se esforçam para viver o Seu mais puro Amor, procuram dar o testemunho, em convivência com o resto da humanidade, por serem todos filhos do mesmo Deus.
A luz não pode temer as trevas, só precisando desta para se identificar.
A Verdade é o programa do Criador que, não precisando da ajuda humana, se impõe por natureza divina e inspira as mais nobres criações.
Vamos nos unir para o Bem.
Esta unidade é, por excelência, gloriosa.
Se porventura aparecerem problemas, se surgirem sacrifícios, se a depressão nos torturar, lembremo-nos do Apóstolo Pedro, no capítulo quatro, versículo catorze, de sua I a carta:
Se pelo nome do Cristo sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus.
E o Apóstolo Paulo, em carta aos romanos, capítulo oito, versículo dezassete, propõe com eficiência:
Ora, se somos filhos, também somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.
Se com Ele sofremos, é para que também com Ele sejamos glorificados.
O nosso irmão Hemesto é um sofredor revoltado com os métodos de disciplina ajustados no seu caminho, ou seja, com o próprio carma.
Ser-nos-á difícil ajudá-lo, se compartilharmos com ele a sua revolta, o seu ódio, a sua vingança, se não usarmos o perdão.
Não obstante, se conseguirmos doar-lhe algum amor, ele reconhecerá a existência de Deus, e como o filho pródigo, retomará à casa paterna, com o pergaminho preso nas dobras do coração.
Vem dos campos de batalha, acumulado de experiências, como nós outros no passado, e se tomará um verdadeiro soldado do Mestre, por indução matemática, na maturidade da alma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:11 pm

A sublime citação nenhuma das suas ovelhas se perderá motiva com grande interesse a renovação interna, e a esperança de que todos se salvarão da ignorância.
Preparemo-nos para a luta, com bastante amor, que ele é sempre o Sol, hoje, amanhã, eternamente...
O grupo Unidos para o Bem estava entusiasmado, e João Evangelista dava os últimos retoques na ciência do Amor, para todos eles, os soldados do Cristo.
Chegada a hora da partida, dispersaram-se em todas as direcções da pátria dos Césares, ramo aos seus objectivos.
Periodicamente, reuniam-se para exposição dos trabalhos desenvolvidos, e a avaliação respectiva.
O fanal do grupo era servir sem reclamar, amar sem exigir, perdoar sem limites e compreender sem embaraços.
Os grupos de trabalho traziam processos volumosos, complicados esquemas de serviços, para as consultas atinentes ao esclarecimento e ao toque do Bem que deveriam dar aos irmãos das sombras.
Tudo aquilo era estudado com amor e solucionado com o maior carinho, por aquelas almas que se postavam na atmosfera da Terra, chamadas pela Luz, para acender a chama da libertação nas profundezas de muitas consciências.
E João Evangelista lia-os a todos, sem reclamação, acertando detalhes e mostrando os caminhos aos agentes da Paz.
Os resultados foram dos mais apreciados, sendo sanificado o pesado ambiente da terra de Rómulo e Remo.
Os deuses, se assim podemos dizer, estavam favoráveis à educação espiritual das Entidades das trevas, convertendo-as, ou fazendo-as aquietarem-se no concernente ao mal; era o Sol da Verdade brilhando no céu da Itália.
O Vidente de Patmos dava constante assistência à sua futura mãe, no casarão dos Bernardone.
Tinha todo o cuidado ao ouvir seus discípulos, nos assuntos ligados ao astral inferior, para que as formas mentais referentes aos temas não passassem pelos fios ligados ao seu futuro corpo e afectasse sua prometida mãe.
Ouvia e pensava, falava e ensinava aos trabalhadores do Bem, adequando a sua poderosa mente, como se fosse em circuito fechado, sem que Pica participasse dos assuntos, o que podia trazer complicações ao seu estado.
Aproximando-se dos sete meses de gestação, tomara-se mais emotiva, derramando profusão de lágrimas por qualquer notícia ou pensamento que lhe falava ao coração.
A assistência de Jarla era sobremodo constante, porém, era necessário faz algo mais, o que João não deixou esperar.
Pedro viajara para a França, e ela e Jarla se encontravam no vasto quintal, onde uma árvore estendia seus frondosos ramos, dando-lhes tecto e assegurando-lhes ar puro.
O sussurro dos ventos orquestrava canções de esperança e saudades e Jarla contava à senhora o que compreendia sobre a filosofia de Sócrates e de Platão.
Decorara os duelos destes sábios com os sofistas da sua época, e Pica se encantava com as tiradas filosóficas dos antigos mestres.
Naquele ambiente, o Apóstolo do Cristo se aproximou das duas mulheres em perfeita sintonia com a Pureza e a Verdade, tocando mais seus sentimentos.
Maria picallini interceptou a conversa, lembrando à sua antiga serviçal do Anjo que deveria nascer daí a poucas luas, e que já fazia tempos que não sonhava com ele.
E a antiga servidora, com palavras amáveis, disse que a esperança e a fé não poderiam esmaecer no coração de uma mãe, principalmente da mãe que ela haveria de ser.
Ela sorriu e obtemperou:
Que Deus a ouça, minha filha, e que faça de nós segundo a Sua vontade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:12 pm

E abrindo a feição em grande contentamento, arrematou:
- Que a paz do Nazareno seja connosco.
João aproveitou o ambiente de emoções divinas, de sentimentos elevados, enfiou as mãos espirituais no peito da sua futura progenitora, puxou a contraparte do seu coração, e deu um ósculo no centro da sua vida, com todo amor que pudesse dispensar à alma que gestava o aparelho que ele iria usar no mundo em favor de toda a humanidade.
O tórax de dona Picallini tomou-se um sol, esplendendo luzes em seu derredor e os seus poros pareciam prismas encantadores, advertindo as trevas na voz da claridade.
No auge destas emoções, João deu-lhe alguns passes em círculos, cercando-a de luminosidade azulada, comprimindo as franjas do azul que esmaecia a uma distância de dois metros, com encantadora luz alaranjada.
Demorou-se um pouco em profunda meditação, dando por fim as bênçãos de garantia à sua próxima moradia de carne.
E voltou ao seu posto de trabalho.
Conforme solicitara aos seus assessores, recebera o endereço de Carmellini, que ainda se achava encarnada e de seu pai, em espírito, comandando o mutirão de almas afins aos seus equivocados sentimentos de maldade.
Todos já tinham partido em socorros volantes e João partira também com seus auxiliares ramo à Florença, ao encontro da filha de Hemesto.
Quase que ao mesmo tempo, o chefe do mutirão das sombras escalara alguns dos seus comparsas para, juntamente com ele, vasculhar Florença à procura de uma mulher que desejava aprisionar.
Essa mulher estava já há dez anos internada no mesmo sítio de assistência a que Carmellini fora recolhida.
Era uma matrona que, em tempos idos, molestara muita gente com poder em demasia e maldade em abundância, e que arrependendo- se depois, internara-se na casa das Irmãs do Bem, procurando esquecer o mal e o passado.
Mas o verdugo Hemesto, sendo um dos ofendidos, não se esquecera e desejava vingança.
Prometera a si mesmo matá-la e apoderar-se da sua alma, escravizando-a impiedosamente, no seu intento de deixá-la sofrer eternamente.
E os corvos da maldade começaram a sobrevoar a casa de assistência, não vendo que as aves de luz lá já estavam pousadas, em convívio com aquelas irmãs de caridade que, convertidas, trabalhavam convertendo irmãos para Cristo.
O velho leproso se preparava para o encontro com a antiga megera.
Como dizia, iria partir-lhe o crânio, desatando de sopetão os laços que a prendiam à Terra, para, no mesmo instante, apoderar-se do que queria.
Seus serviçais estavam a postos, devidamente preparados para levá-la acorrentada, e ela responderia pelos seus crimes no tribunal que formara, com todos os seus algozes. Seria uma noite de glória...
No entanto, o destino era outro...
Acresce notar que João Evangelista, que chegara antes do verdugo, procurava sua filha, achando-a já nas últimas despedidas do mundo.
Adentrou o humilde quarto e presenciou um quadro aterrador:
Carmellini, com idade avançada, coberta por fino lençol e o corpo em chagas, não tinha forças mais para a tosse costumeira.
Seus pulmões, ao exame profundo, pareciam molambos de peças rotas, sem a menor resistência a qualquer tratamento.
Uma serviçal de vez em quando limpava uma espuma amarelada que brotava dos cantos da sua boca.
A respiração, quase apagada, mal movia o já cansado coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:12 pm

O cidadão de Éfeso, que assim se fez pelo coração, revestiu-se de piedade por aquele ser, encheu os sentimentos de amor, acendeu a luz mental de todo entendimento, reconheceu a necessidade de se apresentar com bastante idade, e logo seu corpo perispiritual obedeceu às suas intenções.
Pegou com as mãos encarquilhadas, a cabeça espiritual de Carmellini, colocou-a em seu colo paternal e iniciou os primeiros socorros àquela alma que, na sua partida, ligaria a chave de luz no coração de alguém que tanto a amava.
João não deixara a enferma acordar no plano espiritual e os seus passes eram como calmantes.
O ambiente era todo paz.
O silêncio urdido pelas circunstâncias ajudava os trabalhos idealizados pela luz.
Hemesto já estava enfurecido por não encontrar a pessoa desejada.
Por fim, faltava examinar os fundos da casa de caridade.
Avançou, como na guerra, e penetrou o singelo quarto.
Viu estendida no velho catre uma mulher agonizando.
Quando se foi virando nos calcanhares, como um raio, para que a situação não provocasse desânimo em sua nefasta atitude, Pai João assegurou em sua mente uma profusão de luzes, fazendo-o olhar demoradamente a enferma.
Buscou nele as lembranças da sua filha, e ele reagiu com todas as suas forças mentais; no entanto, não adiantou, pois ficou preso, como por encanto, na feição da doente e deparou com uma transformação mágica:
aquela velha enferma tomava a forma da linda jovem Carmellini dos antigos tempos.
Ele passou a mão esquerda nos olhos vesgos, pensando que sonhava acordado; todavia, a visão aumentava:
era ela mesmo.
Pai João se fez presente com ela no regaço paternal, doando-lhe todo amor e acariciando seus cabelos brancos, amarelecidos por quase um século de existência.
Hemesto balançava a grande cabeça, como que a jogar para fora de si os pensamentos, mas não conseguia.
Na mesma hora em que via a velha em estado de coma, estendida no leito de morte, via igualmente sua filha do coração, e as lembranças eram todas de uma nitidez impressionante.
Com o tempo, Carmellini foi parar em Florença, conduzida por alguns ciganos, com os quais se familiarizara, tomando-se filha do meio.
Os andarilhos, vendo nela alguma lucidez, acharam conveniente carregá-la pelo mundo, porque não tinha parentes nem interessados que pudessem atrapalhar a sua ida.
E esta esquecera sua procedência, e não fazia notar a falta de seus familiares.
Rodara por muitos lugares na Itália, sem nada exigir dos ciganos, trabalhando para eles e dispensando grande atenção às crianças; a cozinha era-lhe um dever de muita alegria.
E assim passaram-se os anos.
O tempo foi-lhe trazendo certa consciência e, por vezes, vinha-lhe à mente, lembranças dos que ficaram em casa, quando saíra para o campo.
No entanto, essas lembranças traziam-lhe muitos aborrecimentos e esforçava-se por esquecê-las, dando-se ao trabalho, pois nele se sentia recuperada.
Certa feita, caiu adoentada; as longas viagens, a mudança de temperatura e o trabalho intenso desnutriram cada vez mais seu frágil organismo, colocando-o em perigo.
Seus pulmões estavam ameaçados pela tuberculose e pela asma, que lhe tiravam a felicidade de antes, de respirar livre e profundamente.
Passava noites sem conciliar o sono, e, por não servir mais para o grupo, foi deixada em Florença, sob os cuidados de mulheres piedosas, em uma comunidade das Noivas de Cristo.
Ali aprendera, mesmo enferma, muitas coisas do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo que, no fundo d'alma, não ignorava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:12 pm

Quando exercitava a oração, sentia um prazer indizível no coração.
Tinha as irmãs como verdadeiras mães, e considerava a comunidade como sua própria casa.
Sofria, sem por isso envolver-se com os frutos do sofrimento, da tristeza, da melancolia e do medo.
Encontrou a paz junto àquelas almas que tinham no Cristo o ponto central de suas atenções.
A esperança nasceu, cresceu e iluminou a sua vida.
Porém, com a gravidade do seu estado e os receios de contágio, as companheiras da caridade, transportaram-na a um singelo quarto isolado, e somente duas velhas serviçais, isentas de contágio pela idade, podiam olhá-la com o devido interesse, pois igualmente procediam de lugares ignorados, compradas que foram em mercados que permutavam escravos, por dinheiro ou objectos.
E o estado de Carmellini foi piorando cada vez mais.
Naquela época, a chamada peste branca, enfermidade temível, era incurável e contagiosa, a ponto de se isolarem as criaturas por ela contaminadas.
A tosse marcava o enfermo e servia de aviso aos que se aproximassem. Carmellini não esmorecera e nem se revoltara com a sua situação; não temia o seu destino e enfeitava o seu património mental com Pensamentos elegantes, criando, na profundeza do ser, uma paz imperturbável que o mundo não podia lhe dar.
Entregava-se ao Cristo, que até então conhecia por ouvir falar.
Tinha muita gratidão às pessoas que a acolheram naquele paraíso.
E necessário lembrar que na consciência de Hemesto, considerado verdugo, iludido cada vez mais acerca da maldade, por incrível que possa parecer, no seio de todo o ódio praticado, no desbravar da selva de sua consciência, bruxuleavam, de tempos em tempos, alguns raios de piedade, diante do sofrimento alheio.
Debalde era o esforço que fazia para cobrir ou apagar esse raquítico sentimento, plantado pelo tempo e irrigado por Deus.
O Cristo interno, existente em cada ser, começara a despertar, como numa gestação do nascituro no campo uterino.
O tempo é o bastante para marcar o período de formação do envoltório de carne.
A semente jogada no seio da terra tem o mesmo destino:
apropria-se das qualidades da natureza e, na hora certa, desabrocha verticalmente na busca da luz, na busca do céu...
O ovo, ao sentir o calor da galinha, em temperatura adequada é movido daqui para ali, à espera do tempo, que é a mão de Deus na formação das coisas, senão da própria vida!...
E o pinto sente no peito, a ânsia de liberdade, e começa a ouvir a voz interior, e parte a carapaça que antes era intransponível e, se porventura não encontrar forças para tal, elas virão em seu auxílio do exterior e o ovo será partido.
E com o homem não foi diferente.
Hernesto, já nascido para a carne, precisava ainda nascer para o Espírito, e a hora soava, sem que nada o pudesse reter.
João Evangelista, como mestre das coisas do espírito, fazia-se como a ave-mãe:
se porventura demorasse a nascer, estaria ali, em nome de Deus e do Cristo, para despertá-lo do sono enganoso das linhas evolutivas, para a plenitude da própria vida em expansão infinita.
E justo nos lembrarmos dos preceitos do Mestre, que falava sempre por intermédio dos Seus discípulos, como lentes de primeira abertura; e eis a opinião de Paulo aos Efésios (capítulo quatro, versículo vinte e dois), que poderemos ajustar ao caso de Hernesto:
No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 22, 2019 8:12 pm

E prosseguindo, nos versículos vinte e três e vinte e quatro, assim determina com segurança:
E vos renoveis no espírito do vosso entendimento.
E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus em justiça e rectidão, procedentes da Verdade.
Voltando ao humilde quarto onde Carmellini vivia seus últimos momentos, vemos o verdugo contumaz ir perdendo suas forças de maldade, começando a esquecer o ódio e a perder o interesse de liquidar a velha rival de tempos idos.
Hernesto foi tomado por sentimentos de amor e a sua reacção acendia ainda mais as saudades da filha inesquecível.
Sua mente, rememorando o passado, ajudava o ambiente para que sua amada revestisse a roupagem daquela época.
Ele começava a fraquejar nas pernas espirituais, e para não deixar cair a espada, por lhe faltarem forças nos braços, enterrou-a no chão batido do cubículo, e ela tomou a forma de cruz diante da velha moribunda, que por força das lembranças de que se fazia escravo, apresentava-se nas feições de sua jovem filha e ele não sabia qual das duas deveria abraçar.
João Evangelista, já inundado de luz, chamou-a com delicadeza:
- Carmellini... Carmellini...
Eis teu pai, minha filha!
Chegou a hora de emprestar-lhe teu auxílio.
Busca lembrar-te, com toda a intensidade, do teu lar, dos tempos passados, e principalmente de Hemesto, esse coração que tanto te ama.
Reveste-te de coragem e mostra-lhe o caminho pelo teu amor.
Ninguém se perde eternamente; ajuda teu pai a nascer como novo ser, em espírito e verdade.
Compadece-te dos que sofrem e abençoa os que ainda ignoram a Verdade.
Ela, transformada, aprumou-se em direcção ao chefe do mutirão, mas antes viu a cruz formada pela espada, e primeiramente ajoelhou-se frente àquele símbolo de renovação da humanidade, e beijou-o como uma porta pela qual os renovados passam para a plenitude do Amor.
Hemesto parecia electrizado ao impacto das emoções, e as lágrimas brotavam nos seus horríveis olhos, sem que ele as pudesse disfarçar.
A sua aura apresentava visíveis sinais de amor, e caíam dos seus olhos escamas horripilantes, deixando que a sua visão encontrasse o que tanto procurara pela violência: Carmellini.
Olhou para Pai João, começou a sentir ciúmes e revolta contra o apóstolo, por pensar ser ele um dos raptores da sua filhinha, mas logo esqueceu essas ideias, vendo novamente no companheiro de Jesus, suave paternidade.
Sentiu seus olhos presos ao dele, e a mente do discípulo do Amor invadiu todo o campo emocional de Hemesto, ajudando-o a sentir o bem em todas as suas nuances.
Carmellini levantou-se diante do símbolo da paz, olhou demoradamente para Hemesto e reconheceu seu pai.
Abriu os braços e caiu soluçando em seu colo, como fazia antes, no sítio que lhes servia de berço.
Beijou as faces enrugadas de seu pai, com o mesmo amor, e este, apertando a sua sagrada promessa de paz no coração, também chorou sem medidas.
As palavras não saíam, as ideias não se formavam bem, pelas emoções que intercambiavam energias inestimáveis.
O tempo passava sem que eles percebessem, e João, em silêncio, esperava a fermentação do amor naqueles dois corações.
Hemesto percebeu um leve sono, a visitar suas entranhas espirituais, e entregou-se aos braços desse estado de inconsciência que tanto merece o estudo dos homens.
Carmellini sentou-se ao lado do pai, com a ajuda de seu Anjo voluntário, e acariciando sua cabeça, perguntou ao apóstolo como tudo acontecera.
Ave sem Ninho
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