LUZ ESPÍRITA
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 13 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:22 pm

Quando o Poverello foi atingido pela luz, seu corpo se elevou no ar, desobedecendo assim à lei da gravidade que rege os corpos físicos na Terra e nos espaços cósmicos.
Francisco estava, naquele momento, sob a regência de outras leis, e suas chagas começaram a sangrar.
Frei Leão foi a testemunha da coroação do seu pai espiritual.
Foi ao seu encontro, ajoelhou-se com reverência, e beijou com emoção os pés do seu guia, lavando-os com lágrimas, que partiam dos mais elevados sentimentos: os sentimentos que são filhos do Amor.
Naquele dia, Francisco, em estado de graça, não conversava.
Quem tivesse olhos para ver, poderia constatar que ele permanecia iluminado por fora e por dentro; seu coração ostentava uma aura de um azul encantador, que dispensa as nossas fracas comparações e, em tomo da s cabeça, poder-se-ia enxergar o nascer do Sol.
Estes são fenómenos que transcendem as fracas deduções humanas, por serem força do Espírito, que carecem das coisas espirituais para as devidas explicações.
As chagas de Francisco de Assis foram o diploma para o seu coração, no exercício do verdadeiro Amor espiritual.
Frei Leão registrou inúmeros fenómenos ocorridos com Francisco, depois que ele recebeu a graça das chagas do Nosso Senhor Jesus Cristo.
E um deles verificou-se perto do Monte Alveme, quando viajavam para Assis e tiveram de atravessar um rio caudaloso.
Seus discípulos adiantaram-se, com a água acima dos joelhos.
O Poverello ficando por último, cuidava em olhar com encanto certos pássaros.
Como era de costume, não era interrompido quando nesse estado de comunicação; eles, que o esperavam do outro lado do rio, assustaram-se quando olharam para a outra margem e viram Francisco caminhando por cima das águas, pisando sobre superfície líquida, onde somente os seus pés se molhavam.
Ante o acontecimento, recordaram o Divino Mestre, quando no Mar da Galileia andou sobre as águas e chamou Pedro para fazer o mesmo.
O homem, de Assis, dentro da sua simplicidade, atravessou o rio espectacular, sem que os companheiros soubessem como explicar aquele facto transcendental, que somente ocorre, na Terra, como nos fala a história, com Espíritos puros, sob a regência do Amor mais elevado.
Chegando junto aos frades, cumprimentou todos em seu costumeiro falar:
"A Paz seja convosco!"
Dava para se entender que ele mesmo não notara o fenómeno.
A Frei Leão, o facto não causava admiração, pois já presenciara inúmeros, de sorte a não precisar constar dos relatos, por terem passado de boca em boca, e serem de conhecimento comum entre os homens.
* * *
Multidões de pessoas iam a Assis, procurando-o onde estivesse, para ver de perto as chagas do Cristo, que Francisco ostentava nas mãos, nos pés e no peito.
Ele sofria dores nos ferimentos, como se também tivessem sido provocados pelos cravos e pela lança.
Todavia, nunca reclamava, não saía do clima da alegria nem blasfemava.
Recebia tudo aquilo como um cântico de Esperança, que transformava a dor em Paz.
Certa feita, teve uma vontade ardente de visitar a cidade de Pádua, porém, pelo seu estado físico, já não tinha condições para grandes caminhadas.
Pediu socorro aos companheiros, naquilo que eles pudessem ajudá-lo.
Caminhava e, quando lhe faltavam as forças, era carregado por eles.
Num abençoado dia em que lhe sangravam as chagas de Jesus, apareceu nos céus que mostrava o amanhecer, um bando de pássaros, como que cantando louvores a Deus, a sobrevoar o grupo de frades.
O Poverello, emocionado, abriu os braços em agradecimento ao Senhor, e os seres voadores pousaram em seus ombros, cantando hino à natureza, e ele se ajoelhou em plena estrada e cantou também.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:23 pm

Os pássaros os acompanharam até a cidade de Pádua, onde o fenómeno assustou toda a população, e a ideia de Deus cresceu nos corações daqueles que tiveram a felicidade de acolher o santo dos santos, o Mestre das Virtudes, que descobriu a si mesmo no imenso campo de batalha da Terra, ferido pela luz celestial, com as chagas que pedira.
Francisco, recostado sobre uma velha porta à guisa de cama, do lado de fora de uma singela casa que um comerciante emprestara em favor da comunidade, contemplava a multidão que o comprimia, todos ansiosos para tocá-lo.
Alguns assentados ao seu lado, ouviam preceitos daqueles lábios que nunca disseram outra coisa a não ser temas de amor, compondo frases e proferindo palavras, somente na harmonia do Bem.
Interrompendo o que dizia, falou com ênfase à multidão, mesmo sem ver quem estava chegando:
- Deixem passar esses Filhos do Calvário, que chegam com esperança no Amor de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Deixem passar esses irmãos que sofrem!
Deixem passar este próximo que está muito ligado a nós!
Que Jesus abençoe a todos!
Nisto, a multidão abriu-se receosa.
Ao vê-los, os seus lábios entumecidos pelo Sol e pela acidez da poeira rasgaram-se num sorriso, como se ele estivesse em plena juventude.
Os homens, ao vê-lo, igualmente sorriram de esperança por saberem das virtudes do grande santo.
A multidão afastou-se mais, com medo da enfermidade.
E os rostos transformados, membros danificados, e a voz sem a harmonia característica, postaram-se diante do santo de Assis.
Sem nada falar apenas choraram.
Ele chorou com eles, e a vigorosa mente buscou Deus e Cristo em grandioso empenho para com aqueles sofredores aflitos, desprezados pela sociedade, que ignoravam os destinos humanos.
O Homem da Urnbria chamou um por um, e como não podia se levantar, fê-los assentar perto de si, conversando com todos, com carinho peculiar aos místicos; familiarizou-se em instantes com os enfermos, e eles se sentiram seguros ao seu lado, bebendo as suas palavras pela sede do coração.
A multidão recuada facilitava o trânsito do ar puro para aqueles filhos de Deus em colóquio divino.
Os sete leprosos, sentados em semicírculo diante de Francisco, depositavam naquele homem a esperança.
Ali estava o instrumento de Cristo para a cura dos enfermos!
Notava-se uma multidão de Espíritos igualmente enfermos, que tentavam afastar-se de Francisco, mas, de certo modo, não o conseguiam.
O Jogral de Deus, vendo-os, falou com segurança sem perder a mansuetude, para que todos pudessem ouvir:
- Meus filhos espirituais, que Deus e Cristo os abençoem!
E de natureza comum que nos associemos uns aos outros, por leis que no momento desconhecemos, buscando a nossa própria paz.
No entanto, nunca recebemos a paz verdadeira quando prejudicamos alguém que viaja connosco.
E de ordem humana que revidemos aos assaltos dos nossos sentimentos, quando agredidos por irmãos que ignoram os direitos dos outros; porém, é da lei divina que devemos perdoar, para que esse perdão alcance o nosso coração, na sequência do nosso amor.
O que ganhamos com a perseguição? Somente inimizade!
A justiça, feita por nossas mãos, destorce os bons sentimentos e anula a fraternidade.
Nós moramos em dois campos de vida: num, quando usamos o corpo de carne e noutro, quando estamos em estado de espírito; mas as leis são as mesmas, e elas cobram de nós, quando as rejeitamos na sua função de restabelecer a harmonia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:23 pm

Qual de nós não gosta de carinho, de amizade, senão do próprio amor.
Fomos feitos neste e para este prazer; portanto, não devemos fugir a essa lei universal.
Devemos esquecer a discórdia entre irmãos, principalmente entre irmãos enfermos, pois ela gera maiores perturbações.
Nunca devemos blasfemar contra alguém, nem culpar outrem pelo que sofremos, e muito menos a Deus, nosso Pai Celestial, que é todo Amor na excelência das excelências.
Eu, se Deus permitir que assim os coloque na pauta da minha vida, posso ser um pai para todos.
Eu os quero com todo Amor que a graça de Deus me deu, por misericórdia; e peço o amor de todos, para que se complete a minha afeição pela vida.
Não se preocupem com o futuro, que pertence ao Criador, procurando ser hoje melhores no âmbito das virtudes assinaladas e vividas por Jesus, o nosso Grande Mestre.
Notavam-se as lágrimas nos rostos dos hansenianos, como em alguns dos Espíritos que ali se agrupavam, acompanhando os doentes.
Formava-se um cerco de luz em tomo de todos os que ali se encontravam, ouvindo Pai Francisco, e benfeitores de alta estirpe comungavam com ele em uma simbiose perfeita, para que compreendessem o sentido da renovação dos sentimentos e entendessem, como o objectivo maior da vida, o perdoar das ofensas, e recebessem o Evangelho como se recebe um filho do coração.
Dentro em pouco, foram retiradas as almas empedernidas para outros campos de educação, e luzes se inter-cruzavam na atmosfera onde todos respiravam, como agentes de limpeza do psiquismo onde a inércia era o estado comum.
Francisco pediu que todos entrelaçassem as mãos num gesto de fraternidade e, ajuntando-se a eles, sentiu-se banhado por uma claridade diferente.
Seu coração era qual um posto de energia acumulada pelo divino Mestre, sentindo que de seus dedos corria uma força em alta tensão para as pontas dos mesmos, como aberturas que transmitiam vida e saúde para aqueles homens sofredores, que estavam recebendo as bem-aventuranças dentro das leis do princípio único do grande foco revelador da vida. Sentiu no peito um clima de felicidade perfeita, e uma voz a se expressar dentro do seu crânio com uma força poderosa, a do Cristo, que somente Ele poderia ter:
- Francisco, eis os Filhos do Calvário!
Ajusta-os no coração, e apascenta as minhas ovelhas sofredoras e cansadas!
Se queres me ver mais de perto, mais junto aos teus sentimentos, não me procures em outro lugar, que não seja junto aos sofredores, aos perseguidos, aos injustiçados, aos famintos, aos nus, aos encarcerados.
Eu sempre estou junto a eles, aliviando-os, porque esta é a minha grande alegria!
E Francisco, aos olhos espirituais, estava inundado de luzes, filtrando-as e derramando-as sobre os enfermos, de modo a visitar todos os seus mundos orgânicos, limpando as mazelas da carne e purificando igualmente os psiquismos doentes.
Todos eles sentiram mãos invisíveis trabalhando em seus corpos enfermos que, como por encanto, se refizeram em um abrir e fechar de olhos.
Foram purificados os doentes!
Uns gritavam de alegria, outros saíram correndo sem saber expressar a gratidão, e a massa humana, que a tudo assistia estupefacta, ajoelhou-se em um arroubo de fé, vendo em Francisco o santo dos santos, que Deus enviara ao mundo, para a paz de todos.
As aberturas das chagas de onde, por vezes, saía sangue, naquele momento esparziam luzes de todos os matizes, pela força do Amor, pelas bênçãos de Jesus e pela vontade de Deus.
* * *
Com o passar dos dias, Francisco sentiu vontade de ir para Riéti, e os seus companheiros de jornada evangélica o satisfizeram, levando-o com todo cuidado que deve ser dispensado a uma alma que somente canta o Amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:23 pm

O povo daquela cidade o esperava com festas; as pessoas queriam vê-lo com as marcas
do Cristo, pois era, por onde andava, o reflexo do Senhor.
Francisco andava devagar e notava-se o seu cansaço.
A vida lhe traçara um regime, a cuja ordem não obedecera, na ânsia de ajudar ao próximo, cada vez mais.
Bastava sentir que alguém sofria para fazer todo esforço em seu favor, não medindo sacrifícios em se falando da dor alheia.
A família de Riéti veio toda para as mas, sentindo a glória de Deus naquele homem franzino na expressão, mas grande internamente, na grandiosidade de seu coração.
Parava aqui e ali, para abençoar a multidão e em seus lábios riscava-se permanentemente um sorriso, denunciando a alegria dos sentimentos junto ao povo daquela cidade que pastoreava.
Somente naquela passagem curou inúmeras pessoas enfermas, inclusive um cego de nascença, que saiu pulando de alegria, qual o cego de Jericó, quando tocado pelas mãos de Jesus.
De Riéti, Francisco seguiu para Cortona, onde sua saúde piorou.
Já não podia andar mais e as pernas não obedeciam à sua vigorosa vontade.
Hospedado em casa de um confrade, curou a sua filha paralítica.
Na mesma residência era visitado por três cães, que vinham todos os dias lamber as suas chagas, e ele sentia com isso grande alívio, agradecendo a visita dos animais.
Os pássaros não o esqueciam e, nas árvores e nos telhados das casas próximas, cantavam anunciando novo dia, e por vezes entravam pela janela, indo pousar em seu peito, alegrando-o com seus estridentes cantos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:23 pm

26 - A Importância da Dor
A dor tem sido um enigma na vida dos grandes santos.
No entanto, o espiritualista bem informado conhece o porquê dessas coisas.
Busca, acima de todos os factos, as causas, na profundidade dos acontecimentos.
A dor é, por assim dizer, um estímulo para a luz.
Ela transforma o bruto em Anjo, dando-lhe novas capacidades para a vida.
O místico, com a companhia da dor, ajuda mais e ama sem impedimentos.
Por enquanto, o mundo e a humanidade não podem progredir sem ela.
Mesmo os grandes mensageiros que descem à Terra necessitam da sua cooperação, cujos efeitos são diferenciados, em dimensões várias.
A dor não é uma só para todos, pois cada criatura se encontra cm um plano de vida, diferente uns dos outros.
Para Espíritos puros, é uma fonte de prazeres inconcebíveis, e para os ignorantes, para os que a procuram, ela se apresenta distribuída por milhares de ramificações incomodas.
Francisco de Assis era portador de várias enfermidades, que seriam identificadas, se submetido a investigações científicas.
Porém, no plano do Espírito, ele era estimulado em todas as suas faculdades espirituais.
Não sofria como o homem comum, que nem sempre suporta as enfermidades.
Sofria, continuadamente, intensa dor de cabeça, por limitação nas condições do físico, para acomodação de Espírito daquele quilate.
Todavia, tudo fora previsto antes do seu nascimento.
Essa inquietação biológica, fá-lo-ia buscar coisas mais grandiosas: amar mais, purificando cada vez mais o perispírito, chegando ao ponto de encontrar a felicidade na dor.
Não considerando sacrifício, ele se submetia a uma disciplina rigorosa.
Os centros de força faziam circular um volume de energia acima da capacidade física, e isso o fazia viver noutro plano de vida.
Descarregava sua poderosa mente falando aos peixes, aos pássaros, aos animais.
Como amigo da Natureza, doava essa seiva de vida a todos os seus reinos e quando precisava da cooperação destes mesmo reinos, eles a devolviam com abundância'
A pedra filosofal de tudo está no Amor que tudo dá, que tudo compreende que a tudo ama como parte integrante do todo.
Todos os seus órgãos físicos eram deficientes, e pouco se alimentava, sustentado que era pelo Suprimento Maior.
E os elementos da natureza estavam à sua disposição, favorecidos por todas as divisões das formas físicas.
Devido à sua resistência espiritual, dormia pouco.
O corpo físico pede descanso, porque a alma nele ligada temporariamente precisa respirar algo que não existe na atmosfera da Terra, e, em espírito, busca seu alimento no mundo espiritual.
O ser altamente evoluído, entretanto, já cria em tomo de si o ambiente do céu, pouco precisando de dormir, pois a sua qualidade espiritual lhe permite respirar elementos espirituais onde quer que esteja, mesmo no trabalho de cada dia.
Ainda assim, um espírito do quilate de Francisco de Assis tem grande necessidade de confabulação directa com os mensageiros do mais alto, o que sempre fazem com mais eficiência através do sono.
Assim, se para o Espírito comprometido, a dor se impõe como instrumento de reajuste e ressarcimento, no impositivo dos processos cármicos e redentores, para o Espírito emancipado, quando reencarnado em missão na Terra, serve de muralha protectora, ante os apelos inferiores da matéria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:23 pm

27 - O Triunfo do Amor
Quando notou que seu estado piorava cada vez mais, e sentindo que se aproximava o momento de sua despedida para o mundo espiritual, Francisco manifestou vontade de ir embora para Assis, sua terra natal.
Lembrou-se intensamente de Clara, de sua mãe, de Foli.
Lembrou-se muito de seu pai.
Lembrou-se de todos os frades.
Pensou com emoção em Frei Luiz, a quem afastara de Assis para atender necessidades nos arredores da França, e não tinha dado mais notícias.
O seu corpo abrira-se todo em chagas e tinha de ser levado com muito cuidado.
Para tanto, fizeram uma maca de madeira, forrada de capim, de modo que ele pudesse viajar com mais conforto.
Os frades sofriam com o sofrimento de Pai Francisco, que nada reclamava.
A sua lucidez era impressionante e ainda lhe sobrava humor para as brincadeiras, nas linhas da fraternidade cristã e para cantar hinos de louvor ao Todo-Poderoso.
A caminhada foi longa.
Pai Francisco estava cego e tinha velhas enfermidades de fígado e estômago.
Os pulmões não eram os mesmos, e sofria dores por todo o corpo.
A dor de cabeça não o deixava um só minuto, não se alimentava mais, os órgãos digestivos se atrofiavam e o esófago estava comprimido; os pés e as pernas incharam e a voz começara a sumir.
No entanto, era de se admirar o seu vigor mental.
De nada se esquecia, e respondia a tudo que se lhe perguntasse com precisão e acerto.
A sua chegada em Assis comoveu a todos, que acorreram para recebê-lo, como o santo da Terra que era.
Formaram-se filas intermináveis para vê-lo e beijá-lo, como relíquia divina.
Pediu com emoção para ir ao Rancho de Luz.
Partiram e, antes de chegar ao destino, ele pediu para abençoar Assis.
Como não avistava a cidade devido à sua cegueira, fez em sua direcção um gesto pleno de gratidão, pela Terra que lhe servira de berço, e algumas lágrimas escorreram em seu rosto cadavérico.
O seu corpo abençoado era somente um esqueleto forrado de pele, onde a gordura e os músculos se disfarçavam em tecidos subtis, mostrando que a vida não se constitui no complexo humano, mas em luz imperecível que se resguarda mais acentuadamente no esconderijo do crânio.
O Espírito Francisco de Assis era um Sol ainda escondido nos frágeis tecidos de carne, que empanavam o seu brilho encantador, como um véu prestes a cair.
Dentro daquele corpo espiritual estavam acumuladas valiosas experiências de sucessivas vidas, das quais três se destacam:
de Profeta, de Apóstolo e de Santo.
Quando o cortejo ia passando perto de um leprosário, e alguém mencionou este nome, ele falou com mansidão e alegria.
- Meus filhos, eu desejava ver os filhos do meu coração, e como não posso vê-los com os olhos da carne, ficaria satisfeito em tocá-los e oferecer o meu ósculo aos Filhos do Calvário, onde Jesus se encontra mais próximo de nós, por amor aos que padecem.
O calendário marcava a data de três de outubro de 1226...
Rumaram para o hospital dos hansenianos e quando Frei Masseu anunciou a chegada de Pai Francisco, foi uma grande alegria.
Ele desejou e pegou nas mãos de todos eles, beijando-as com temo carinho e manifesto Amor.
A maca era levada aos catres dos que não podiam se levantar, e Pai Francisco os abençoava com toda a ternura.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:24 pm

Naquele quadro de Amor, dois dos leprosos foram curados pelo toque do santo.
Os lábios de Francisco ficaram vermelhos de sangue das chagas mais pertinazes, e ele, no arroubo de Amor, não quis que limpassem as marcas do seu convívio com os enfermos do seu coração.
Partiram dali para o Rancho de Luz, coberta improvisada como uma igreja no seio da natureza, dentro da simplicidade e da pobreza que Francisco desejara.
Lembrou-se de Clara, visualizou sua figura, como se estivesse à beira do seu leito, falando-lhe do Amor, daquele Amor que ultrapassa as barreiras do egoísmo e do ciúme, daquele Amor que supera o da família e o da pátria, para somente concentrar-se no Amor universal, personificado pelo Cristo de Deus.
Mandou chamá-la, porem ela não pôde comparecer, por motivos que somente o coração pode explicar, segredos que se guardam no tabernáculo do peito e nos arquivos da consciência.
O Sol começava a apagar-se no poente, quando a alma Francisco de Assis começou a apagar-se no poente da vida física, para esplender fulgurante na eternidade.
Os frades, todos de joelhos, cantavam e choravam baixinho, e Francisco ascendeu às alturas.
Frei Rogério viu com toda a nitidez Pai Francisco subindo aos Céus refulgindo-se em luzes, ao encontro do Cristo.
No mundo espiritual viam-se duas alas de Espíritos.
Eram os mais renomados cristãos primitivos, dando caminho a Jesus todo resplandecente, as mãos reluzindo como duas estrelas.
Francisco avançou para o Mestre, dobrou os joelhos de emoção e chorou como criança.
Jesus levantou-o com carinho, e ele, apoiado em Seu ombro, pediu com humildade:
- Mestre, se porventura mereço a Tua bênção, que ela seja dada aos companheiros que ficaram no mundo.
Eles carecem da Tua ajuda agora e sempre.
Viam-se palmas batendo e delas faiscarem claridades que se inter-cruzavam em todas as direcções, e o Cristo no centro, amparava Francisco, que chorava lágrimas de alegria e de saudades.
Neste momento, palpitou no coração do Poverello um Amor indescritível, e ele perguntou ao Senhor:
-Mestre, e Maria, Tua e nossa Mãe Santíssima?
O silêncio dominou o ambiente, misturado com uma alegria inexplicável, e Francisco, ainda amparado por Jesus e tomado de emoção, buscou-a entre os presentes, mas não viu aquela que tanto amava.
E recordou-se fortemente do momento cruciante do Calvário.
Rememorou todo o drama, e, apurando os ouvidos espirituais para ouvir novamente, regressou no tempo e no espaço, captando as ondas etéricas que têm a função de guardar os segredos da vida.
E ouviu, com alegria, o que foi registado no Evangelho e que ele mesmo escrevera, no capítulo dezanove, versículos vinte e seis e vinte e sete:
Vendo Jesus sua mãe, e junto a ela o discípulo amado, disse:
Mulher, eis aí o teu filho.
Depois disse ao discípulo:
Eis aí a tua mãe.
Dessa hora em diante o discípulo a tomou para casa.
Francisco de Assis chorou novamente, amparado pelo carinho de Jesus, e o Mestre, acariciando os cabelos do discípulo amado, como outrora, disse com profunda ternura:
- Meu filho!...
Eis que aqui estamos te esperando para novos trabalhos que nos compete realizar.
Somos conscientes de que ninguém morre e que o nosso Amor deve ser extensivo a todas as criaturas de Deus.
Se o Céu verdadeiro está dentro das almas em despertar gradativo, como, então, sofrer por alguém que procura, com ingentes esforços, ajudar na consolidação da obra do Bem, os campos do mundo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:24 pm

Amas verdadeiramente a quem buscas, e esse amor jamais deixará que a percas; comunicar-te-ás com ela pelos fios do Amor, na mais alta precisão, e a sua imagem não te faltará, bailando em tua mente, como se estivesse frente a frente com o teu coração.
Quem pode afirmar que também ela não te sente a ausência?
Entretanto procura trabalhar mais na obra de Deus, com a força poderosa da saudade, que muitos desconhecem e desperdiçam, transmutando-a em paixão.
Se queres verdadeiramente ficar mais próximo de quem amas, transfere o teu amor para Deus, e em seguida busca o próximo nos dois reinos da vida.
Cumpriste o teu dever pisando no solo terreno, e, por muitas vezes, em espinhos dilacerantes.
Renunciaste ao conforto do mundo, visualizando a paz das criaturas.
Gastaste a última gota de energia em favor dos que sofrem.
Tudo isso muito me agradou, porque deixaste um rastro de luz como exemplo, porque viveste o Evangelho na sua mais alta função de humildade, de desprendimento e de Amor.
Foste levado ao mundo em momento psicológico, entre duas forças das trevas - Cruzadas e Inquisição - para manter o equilíbrio na educação das criaturas, e o traço que deixaste nunca se apagará nos corações que buscam o entendimento. Ficarás na história, mas na história dos sentimentos, que eleva e que salva.
Confundiste as inteligências dos sábios, e levaste a teologia burocrática a pensar.
Despertaste a igreja que estava sendo dos Césares, para voltar a ser a Igreja de Deus; mesmo que essa volta demore, o importante é que venha a ressurgir como nasceu, para a glória de Deus.
Ergue-te diante da tua própria consciência, onde está o trono de Deus; vê e sente o que tens mais a fazer, que a perda de tempo nos faz crer na perda da própria felicidade.
A tua glória será de rever todos os teus companheiros dos tempos do Evangelho nascente e abraçá-los, em eterna junção de fraternidade de onde ressurgem, em sequência, começos de novos trabalhos, no que tange ao bem comum.
Que Deus te abençoe sempre.
Francisco desprendeu-se dos braços de Jesus e saiu tocando todos os companheiros das duas alas, em estado de emotividade sem registo.
Depois, pediu desculpas e buscou o corpo físico que lhe servira de instrumento na Terra, e o viu, rodeado pelos inúmeros discípulos, que se mantinham em orações constantes; alguns choravam no silêncio que a dor do coração educado podia manifestar.
Pai Francisco, empenhado na força da gratidão, foi levado pelo desejo aos pés do corpo físico que acabara de deixar como roupa imprestável, e beijou-os comovido, agradecendo-lhes pelo tanto que serviram para andar nos caminhos do mundo, na luta de levar o Evangelho aonde quer que fosse.
Beijou em seguida as mãos que lhe serviram de valioso instrumento para alimentar o corpo, para trabalhar, para cumprimentar os outros, para transmitir a força do Cristo nas curas dos enfermos.
para abençoar quando era tomado pela luz de Nosso Senhor.
Beijou a sua própria boca com ternura e respeito e nela deixou duas lágrimas de luz, oriundas do coração, e falou comovido:
- Eu te agradeço, instrumento de luz que me serviu para transmitir a Verdade e que me ajudou a apaziguar; tu és porta grandiosa por onde a misericórdia se manifestou, não por mim, mas pela graça de Jesus, em nome de Deus.
E Francisco-Espírito agradecia ao Francisco-corpo em outra dinâmica do verbo.
Lembrou-se no momento de deixar uma herança visual para todos os seus seguidores de jornada.
Olhou a sua feição melancólica pelo desgaste do corpo físico, ao qual ainda se achava ligado pelo cordão de vida, e imprimiu em sua mente poderosa uma feição de alegria.
Como por encanto, o rosto de Francisco-corpo se iluminou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 11, 2019 8:25 pm

Os presentes, emocionados, admiraram o facto, considerando-o mais um milagre do Pai amado.
Ninguém mais chorou e ele, satisfeito, pensando em Cristo, viu dois dedos de luz desatarem os laços que ainda o prendiam ao fardo que lhe servira por quarenta e quatro anos na Terra.
Francisco, ao levantar-se para despedir-se de Assis, viu uma mulher envolvida em grande véu escuro, chorando e orando, observando que dentro do seu tórax batia um coração de luz, que irradiava ondas a se desfazerem no cadáver.
Era Clara! Não suportando a emoção, abraçou-a e chorou com ela.
Afastou-se um pouco, olhou para Clara, e viu nela a companheira de outras eras.
Pegou em suas mãos e beijou-as, deixando em sua epiderme, pelo ósculo, uma flor de luz, que recendia um perfume, cuja fragrância somente se faz pelo Amor.
Ergueu a cabeça e beijou a testa de Clara, onde fulgia uma estrela brilhante, de claridades indescritíveis.
A santo de Assis sentiu a presença espiritual de seu Pai Francisco, e falou pelo pensamento, com emoção, onde a alma quebrava o véu que os separava:
"Francisco!...
Sei que vives na eternidade!
Pelo que me ensinaste, nada morre, quanto mais a alma, fagulha divina, saída da divina expressão do Amor.
Tenho confiança em Deus e em Cristo, que estás mais perto de nós do que antes, senão aqui, agora, nos ouvindo e nos ajudando.
Como é bom ter fé!
Ela nos sustenta nos caminhos por que percorremos, ela nos ajuda na grande lavoura, onde semeamos as sementes do Evangelho, trabalho gratificante que nos alimenta e nos refarta de esperanças.
Pai Francisco, se porventura nos escutas neste momento, ouve novamente: não nos deixes cair, pois, por vezes, sem a tua presença material, sentimo-nos fracas, e somos muitas que dependemos de muito Amor, que nem sempre temos para dar.
Roga, no reino em que te encontras, a Deus por nós; e a Jesus, nosso guia de sempre, que não Se esqueça das filhas e filhos espirituais que aqui ficaram.
Roga também por aqueles que se reúnem em tomo deste corpo benfeitor que te serviu de casulo e que nos ajudou sobremaneira a granjear as virtudes de Deus.
Queria ver-te antes de teres fechado os olhos na Terra, mas Deus não permitiu; hei de ver-te, brevemente, com eles abertos na espiritualidade, vestido de luz, na luz de Deus.
O Amor que nos une sobreviverá em favor dos que sofrem eternidade afora".
O vento roçava o rosto de Clara como se fossem as mãos de Francisco e ela agradeceu ao Senhor pelo prémio da comunhão espiritual.
Sentou-se ao lado do fardo inerte, cerrou os olhos em oração, e viu nitidamente Francisco de Assis acenando-lhe as mãos, em ascensão para o infinito.
* * *
E Francisco regressa à Pátria Espiritual, palmilhando a estrada iluminada pela sua própria luz, a fim de assumir novos encargos, como verdadeiro Preposto Divino a operar em favor das criaturas.
Juntamente com aqueles que colaboraram directamente para o êxito da sua missão, bem como vários daqueles que, tocados pelo seu amor, galgaram alguns degraus na escada evolutiva, forma poderosa falange que continua, em ambos os planos da vida, laborando pela salvação do rebanho de Deus, principalmente no Brasil, no amanho da terra ubérrima, para a implantação definitiva da Árvore do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E se a ele, o Apóstolo querido, foi dado o vislumbre do futuro de biliões de criaturas na esfera planetária, concedida pela Excelsa Misericórdia, por coerência da Suprema Justiça, não poderia ser outro o seu amoroso executor.
Convém que fiques até que eu volte...

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