LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Página 11 de 13 Anterior  1, 2, 3 ... 10, 11, 12, 13  Seguinte

Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:20 pm

Alguns companheiros do filho de Assis tinham saído à procura de água e trouxeram líquido sagrado, impregnado pelo magnetismo da natureza que, parece, responsável aos filhos da caridade no louvor de Francisco, na exaltação das leis de Deus.
Passava por ali um senhor a que a população de Áquila apelidara doido de Áquila, homem robusto, de físico privilegiado, que andava sem parar e que sofria de uma inquietação incomparável.
Ouvindo e vendo Francisco de Assis naquele arroubo poético, acomodou-se muito aos franciscanos e ouviu pacientemente a harmonia dos sons articulados pelo homem de Deus, louvando a natureza.
Ao terminar, notando que suas ovelhas tinham aumentado, Francisco dirigiu-se a ele com festejos fraternais e ele, segurando a barra do burel do irmão menor, levou-a aos lábios, beijando-a com ternura incomparável.
Um Espírito de forma animalesca e de trejeitos inconfessáveis se unira àquela criatura de Deus, fazendo-a ser o terror de Áquila e de Riéti.
Derrubava casas, matava animais, comia-os, e dormia ao relento, quando dormia.
Liberto da possessão, voltava a ser Simeão, o curtidor de Riéti.
Logo se lembrou da família, falou nos filhos, e chorou de saudades.
Francisco pôs a mão em sua cabeça, antes torturada pelo companheiro invisível que as trevas acolheram, e falou com ternura e piedade:
- Chora, meu filho, que as lágrimas têm o condão de estabelecer a paz.
Vamos pensar em Deus e conhecer Cristo, porque os Anjos não nos abandonam.
Vamos nos lembrar da nossa Mãe Maria Santíssima, que ela nunca se esquece dos sofredores, dentre os quais eu devo ser o mais necessitado.
Peço-te que deixes que sejamos teus amigos, que possamos te amar, mesmo na qualidade de viajantes sem residência certa, sem os devidos recursos materiais para te ajudar.
Façamos de todos um, para que o Cristo se sirva de nós na obra que Lhe convier, em favor da paz.
Simeão foi tirando um resto de manto, que tinha jogado ao ombro, e os discípulos de Francisco se assustaram ao ver nas suas costas, uma ferida purulenta, onde vírus violentos destruíram toda a sua pele, penetrando-lhes os tecidos e desprendendo odor insuportável.
Eram vírus psíquicos, transformados em agentes físicos.
Francisco olhou com compaixão a triste cena, em que a dor se fizera dominante, dizendo com amor ao irmão sofredor:
- Simeão, assenta-te, meu filho, para que eu possa ver mais de perto a tua chaga!
E pediu aos companheiros que orassem.
O homem de Riéti atendeu ao Pedido de Pai Francisco, e este, com toda ternura que tinha no coração, curvou-se sobre o filho de Deus e beijou a enorme pústula em cruz, pediu a água fresca que tinha vindo da fonte da natureza e lavou-a.
Na mesma hora, Francisco notara, no Plano imponderável, aquelas minúsculas vidas invisíveis carreando essências, como que fluidos da natureza, e projectando-as na ferida do enfermo, em um trabalho intenso, atendendo ao apelo do Amor.
Francisco lembrou-se de Deus, rememorou a vida do Cristo, de Maria, cortejo apostolar desfilou em sua mente e ele ouviu dentro da sua cabeça, onde somente existia fraternidade, a fala compassiva:
- "Bem-aventurados os que sofrem, que serão consolados - bem aventurados os tristes, que terão alegrias; bem-aventurados os que choram serão animados; bem-aventurados os desprezados, que serão acolhidos!
Impõe tuas mãos, Francisco, que Deus é Deus de misericórdia e elas poderão ser as minhas, pelo processo do Amor.
Ama este irmão na profundeza desta virtude, e o teu gesto transformar-se-á em cura sublimada."
Todos se reuniram em tomo de Simeão, enquanto Francisco passava as mãos em suas costas.
Lentamente, a epiderme foi se refazendo, por força de divina magia e, em segundos, todos notaram uma boca iluminada, cujos lábios tocaram a ferida purulenta, em forma de um beijo de luz.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:21 pm

O doente, daí a minutos, perfeitamente curado, abraçava e chorava com os discípulos de Francisco, dançando e cantando a glória de Deus.
Após o feliz acontecimento, rumaram todos para Áquila, onde se hospedaram na casa do curtidor Simeão.
Os familiares, quando o viram no seu completo juízo, abraçaram-no em lágrimas.
Sua mulher e os filhos suspenderam sua rota túnica, e, surpresos, verificaram que ele estava curado da antiga chaga.
Simeão não se fez esperar:
narrou todo o ocorrido com tamanha lucidez que Francisco, emocionado, disse a Frei Leão:
- Escreve, por caridade, o que vou dizer na presença de todos:
Deus é Deus de amor que transforma a semente em árvore, em fruto que alimenta a vida, e, por vezes, o luto!...
Deus é Deus de amor que muda o ninho dos pensamentos em ninho de luz; que muda as ideias em acção que nos conduz, ou deixa que nós caiamos, para compreender Jesus.
Deus é Deus de amor que nos deu os pés, para que haja caminhada, nos ofertou as mãos, para dar trabalho à enxada; mas, se ferimos o companheiro, erramos a estrada.
Deus é Deus de amor que nos deu a cabeça para pensar, que nos premiou com o coração para amar; quem aceita o ódio, não pode cantar.
Deus é Deus de Amor que tudo fez, sem usar o alarde, que tudo faz, mesmo que achemos tarde; que nunca diz: Sois covardes.
Deus é Deus de amor que nos deu o verbo e nos ensina a falar, que nos deu a boca e nos ensina a cantar; que nos deu o coração e nos ensina a amar.
Frei Leão transcreveu o canto de Pai Francisco com interesse e alegria, e Frei Luiz logo o recitava, quando solicitado pelos companheiros.
Os franciscanos, depois de um ligeiro repasto na casa de Simeão, após agradecerem a Deus pela acolhida, cantaram como pássaros livres, junto com a família, feliz pela volta e a cura de Simeão.
Francisco, impulsionado pela gratidão a Nosso Senhor Jesus Cristo, enfiou a mão por dentro do burel, com alegria, e tirou um precioso tesouro:
o Evangelho de Jesus, cujo texto foi copiado por Frei Pedro de Catani.
Abriu o pergaminho de luz e no capítulo nove, versículo de um a vinte e sete, da primeira epístola de Paulo aos Coríntios, leu em tom de voz saudável:
Não sou eu, apóstolo?
Não sou livre?
Não vi eu a Jesus Cristo, Senhor Nosso?
Não sois vós a minha obra no Senhor?
Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.
Esta é a minha defesa para com os que me condenam.
Não temos nós o direito de comer e de beber?
Não temos nós direito de levar connosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?
Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?
Quem jamais milita à sua própria custa?
Quem planta a vinha e não come do seu fruto?
Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado?
Digo eu isto, segundo os homens?
Ou não diz a lei também o mesmo?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:21 pm

Porque na lei de Moisés está escrito:
Não atarás a boca ao boi que trilha o grão.
Porventura tem Deus cuidado dos bois?
Ou não o diz certamente por nós?
Certamente que por nós está escrito:
porque o que lavra deve lavrar com esperança, e o que debulha deve debulhar na esperança de ser Participante.
Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?
Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós?
Mas nós não usamos deste direito; antes, suportamos tudo, Para não pormos impedimento algum ao Evangelho de Cristo.
Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que e do templo?
E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar?
Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho.
Mas eu de nenhuma destas coisas usei, e não escrevi isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã esta minha glória.
Porque, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o Evangelho!
E por isso se o faço de boa mente, terei prémio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada.
Logo, que prémio tenho?
Que, evangelizando, proponha de graça o Evangelho de Cristo, para não abusar do meu poder no Evangelho.
Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos, para ganhar ainda mais.
E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
E eu faço isto por causa do Evangelho para ser também participante dele.
Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade,
correm, mas um só leva o prémio?
Correi de tal maneira que o alcanceis.
Todo aquele que luta, de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível.
Pois eu assim corro, não como coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar.
Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.
Todos entenderam a lição de renúncia a que Francisco de Assis se propunha e a necessidade de liberdade de todas as peias humanas para ser somente escravo do Cristo, Nosso Senhor.
Todos entenderam o porquê da obediência de Francisco ao Papa Inocêncio III - obediência sem conivência - a fim de ganhar as ovelhas perdidas, tudo fazendo para que o Evangelho de Jesus ficasse em evidência, com o Amor puro que pudesse sair do seu coração.
Frei Paulo fez longa explanação do texto lido, que encantou a todos os presentes e a família de Simeão ficou arrebatada com aquele convívio espiritual.
Assim, foi aberto o primeiro culto no lar, na cidade de Riéti, pelos franciscanos.
E Francisco, ao terminar a conversação evangélica, ofertou a Simeão o pergaminho de luz, dizendo:
- Esta deve ser a semente plantada em teu lar, para que germine em todos os outros desta cidade de Deus, que nos acolhe.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pintura de Nair silva Costa Freitas do Grupo Espírita O Semeador Santo André/ São Paulo
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:21 pm

22 - Francisco e o Papa
Francisco recebeu carta de Inocêncio III, que se encontrava bastante enfermo e que lhe solicitava a presença, cujos termos tentaremos reproduzir, procurando nos aproximar, dentro das nossas possibilidades.
"Caro filho Francisco!...
Envio a minha bênção papal e rogo de fundo d'alma, que Jesus Cristo te abençoe também, crendo que Deus não te faltará com o Seu imenso Amor.
Que Maria Santíssima seja Tua Mãe, hoje e sempre.
Em tempos passados, cometi uma falta grave para com teu coração.
Sei que te feri, na mais profunda das tuas sensibilidades, desdenhando-te, juntamente com alguns cardeais, por ignorarmos a tua missão.
Fomos contrários à tua ajuda em favor da nossa Igreja, que trilhava, e por vezes trilha por caminhos perigosos.
Naquela época, era eu dominado pelo orgulho, cujo peso ainda sinto no coração, a traçar-me directrizes, que às vezes obedeço.
O caro filho, que muito prezo, deve saber o quanto é difícil alijar do peito que ostenta a autoridade, a prepotência, a vaidade e o egoísmo.
Se nos afastamos das chagas de um leproso, pelo receio do contágio, é porque ignoramos a calamidade que existe dentro de nós.
E eu, sendo o Pior, confesso ser leproso por dentro, e em certos momentos, tenho vergonha de mim mesmo, e confesso isso agora, abatido pela velhice e pela doença.
Francisco, ta és feliz pelo que és e decidiste ser no panorama do mundo; o teu interior se mostra por fora.
A tua vida é um Evangelho, que poderemos ler nos teus Próprios actos.
Não te escrevo pedindo reservas, assumo todas as responsabilidades.
Podes mostrar a quem quer que seja esta missiva, que nada representa na minha educação íntima, se ela revelar o meu arrependimento, porque já estou no fim.
Eu deveria escrever-te no auge das minhas forças, mostrando assim que entendi o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mas, peço perdão ao Divino Senhor e que me ajude a reconsiderar e melhorar o coração, retirando do meu peito as ilusões, a que a posição nos insulta e nos cega.
Estou hoje dando graças a Deus por ter nascido na região da Úmbria homem como tu, que carrega no íntimo todas as características de Nosso Senhor que fez da vida uma renúncia, que fez da vida uma completa humildade, que fez da vida um verdadeiro perdão.
Foi vendo e sentindo a tua vida, Francisco, que comecei compreender o que é o Amor e o que significa amar o próximo, nos termos do Evangelho Graças a Deus, temos ao nosso lado um bom cristão, que muito nos ajudou a discernir as coisas e a mostrar na sua pessoa a presença do Cristo e que nos adverte, fazendo-nos ver os perigos dos caminhos que percorremos.
Estimulamos às vezes, a guerra, por pressão de homens inconscientes, que falam muito de Deus' mas nunca sentiram no coração esse Deus de Amor e de Misericórdia.
Falamos muito do perdão, mas criamos uma casta separada de nós, que denominamos de hereges, e os crucificamos, sem procurar saber se eles também têm famílias, e se são seres humanos, filhos de Deus.
Falamos da caridade, mas vivemos no fausto, nunca passando por nossas mentes a falta de tecto, de agasalho e de comida dos que não pensam como nós.
Criamos um Satanás, para colocar nos seus ombros todas as responsabilidades que temos vergonha e orgulho de assumir.
Nada fiz em favor da colectividade e nunca quis pensar que Deus é Pai de todas as criaturas, do ladrão ao santo, do pária ao rei, do herege ao próprio papa.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:21 pm

Hoje, ainda que tarde, já coloco todos no mesmo nível ante a Bondade Divina, que a todos concede, sem distinção, o sol, a chuva, o ar e as águas, o pão, as vestes e o Seu próprio amor, sem distinção.
Não querendo alongar-me mais, peço-te perdão.
Se comecei esta carta abençoando-te, encerro-a, pedindo-te a bênção.
Tudo que te falo nesta epístola, é para dizer-te do meu sofrimento na tua ausência e porque quero ver-te antes que a morte venha ao meu encontro.
Sofro muito e quero que tuas mãos toquem o meu corpo, que sinto esvair-se em chagas.
A minha dor maior é porque todos se afastam de mim e me sinto só.
Quero ver-te. Adeus.
Inocêncio III
O Poverello de Assis não se esquecera dos acontecimentos que os envolveram, quando tinham ido a Roma à procura de Sua Santidade.
Entre outros tantos acontecimentos, lembrou-se de José Maria, o estalageiro português, e sua família.
- Adália, a moça doente que curara pela bênção de Cristo Jesus e da serva Afrânia, que lhe fazia companhia.
Recordou-se de Túlio, o pirata, e de dona Galba, sua esposa e principalmente, de sua filha que ele apanhara jogada na casa abandonada.
Lembrou ainda do cardeal João de São Paulo, e da entrevista que tivera com Inocêncio III.
* * *
Francisco, em Roma, manda avisar ao Papa, que viera vê-lo em nome do Cristo de Deus.
Este, ao receber a notícia, com grande alegria, mandou buscá-lo imediatamente, dispensando-lhe honrarias especiais, ao que Francisco recusou, preferindo ir acompanhado somente por alguns franciscanos, com seus pés calejados pelas caminhadas, pele tostada pelo sol, cujos joelhos demonstravam o tempo que aqueles homens permaneciam em oração a Deus.
Francisco adentrou o Vaticano com simples sandália que lhe ofertaram em caminho, quando alguém soube que iria se encontrar com o Sumo Pontífice, e assim foi encaminhado aos aposentos de Sua Santidade.
Francisco, ajoelhou-se, beijou-lhe as mãos encarquilhadas e falou com mansidão:
- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Inocêncio III, já quase sem forças para falar, chorou, envolvido pela emoção.
Passados os primeiros momentos, já refeito, falou a Francisco:
- Meu filho, que Deus te abençoe!
Tua presença junto a mim proporciona-me um imenso bem-estar.
Sinto o corpo cansado e desgastado pelas coisas inúteis, mas sinto a alma erguida, sustentada pela força doada pelo arrependimento e alimentada na esperança da fala do Divino Amigo a todos nós, quando afirmou:
"Nenhuma das minhas ovelhas se perderá."
Queria pedir-te perdão e humilhar-me na tua presença.
Embora sabendo não ser digno, queria beijar os teus pés, para que o meu orgulho se abalasse, deixando-me na condição de réprobo sem valor, juntando as migalhas que o teu perdão pudesse me oferecer.
Nada mais posso fazer pelo êxito do teu trabalho, a não ser orar aos Céus, se minhas orações forem ouvidas; creio que Jesus terá compaixão de mim e que Maria é mãe de todos nós.
Como dirigente máximo da Igreja, estou falido e tenho consciência de que não deveria ter feito o que fiz:
incentivar uma Cruzada de crianças inocentes, enviando-as para a morte.
Sou, verdadeiramente, um genocida.
Acordei tarde, mas abri os olhos à Luz.
Gostaria que a saúde me visitasse pelas mas mãos abençoadas, mas, se este não for o desejo de Nosso Senhor, aceitarei a doença e a morte com alegria.
Chamei-te para te fazer um pedido, e morrerei triste, caso não seja atendido.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:22 pm

Quero que tu, Frei Francisco, acompanhe esta Quinta Cruzada, que está Sendo formada.
Se eu tivesse forças, iria lutar para impedi-la; sei que terás forças para desfazer as atitudes perversas de que estão imbuídas as pessoas que a dirigem.
Francisco escutava em silêncio; sua mente buscava outras paragens na esteira infinita do éter cósmico, mas registrava tudo o que ouvia de Sua Santidade.
As paredes do aposento mostravam que ali trabalharam hábeis artistas; os quadros mostravam, em silêncio, de quem eram filhos e os tapetes se alinhavam com o requinte da mobília.
A posição do enfermo destacava-se dentre todo o luxo.
Tirara apenas os anéis, frouxos nos dedos magros, e o engenhoso cordão de ouro com pesado crucifixo que o incomodava.
A humildade do visitante, que nada possuía, a não ser a verdadeira santidade no coração, contrastava com o luxo que se evidenciava no ambiente.
Interrompendo a meditação, falou Francisco compassivo:
- Querido Pai e companheiro em Jesus Cristo!...
É de se notar o vosso grande interesse e amor pelas criaturas e pelo bem-estar da sociedade; isso me comove até às fibras mais íntimas do coração.
A vossa posição diante da humanidade é a de um pai e de representante do Cristo na Terra.
Mas, devo dizer-vos que a posição de mando, de abundância de coisas materiais e condições de intromissão na intimidade dos lares, fizeram acordar as trevas da prepotência, do orgulho, do egoísmo e da usura, que dormiam dentro de vós, a ponto de formar um exército de crianças e enviá-las à guerra à guisa de reconquista de algo que não vos pertence, nem tão pouco à Igreja.
O que vale para nós não é o sepulcro a que chamais de Santo, mas é tudo que tiver saído das mãos divinas do Criador.
Temos de lutar, sim, e mesmo travar uma guerra, mas para vencer as nossas inferioridades morais.
Dentro de nós, bem no centro do coração, existe também um Santo Sepulcro, e deste nos esquecemos, por conveniência, de conquistar, por requerer de nós, trabalho, esforço e muita disciplina.
Meu pai, não ides atrás de conquistas exteriores, porque a maior conquista e o maior tesouro moram no nosso íntimo, que somente encontramos quando passamos pelas portas do Amor.
Nisto, Francisco sentiu leve estalo em sua cabeça, acompanhado da meiga e suave voz, já sua conhecida, nesta expressão que encanta e comove:
- Francisco!...
Tem piedade dele que sofre e chora!...
Lembra-te das bem-aventuranças.
Tem piedade dele, Francisco, pois lhe falta a paz; lembra-te do meu Amor para com todas as criaturas.
Estende as tuas mãos e alivia este homem que padece, em nome do Amor que desconhece barreiras e posições, fé ou ideologias, riqueza ou pobreza, sabedoria ou ignorância, para servir, para ajudar àqueles que caíram, e desejam levantar-se e seguir novos caminhos.
Este homem espera o teu carinho e a ma compreensão...
Francisco ajoelhou-se à beira da luxuosa cama e respondeu com respeito.
- Sim, Senhor, faça-se a Tua vontade e não a nossa.
E sentiu uma luz intensa envolver todo o seu corpo e filtrar-se através das suas mãos e projectar-se no corpo de Inocêncio III.
Uma brisa suave visitou todo o ambiente e, aos olhos espirituais, Francisco ficara todo iluminado pela projecção feérica do mundo espiritual.
O alto mandatário da Igreja deu um suspiro, chamou por Jesus e Maria, e pediu perdão de suas faltas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:22 pm

Francisco, na condição de transmissor de alta potência energética, orou nestes termos:
"Senhor!...
Fazei de mim instrumento da Vossa paz.
Onde haja ódio, consenti que eu semeie Amor!...
Perdão, onde haja injúria;
fé, onde haja dúvida;
verdade, onde haja mentira;
esperança, onde haja desespero;
luz, onde haja trevas;
união, onde haja discórdia;
alegria, onde haja tristeza.
Divino Mestre!
Permiti que eu não procure tanto ser consolado quanto consolar;
ser compreendido quanto compreender;
ser amado quanto amar, porque é dando que recebemos, é perdoando, que somos perdoados e é morrendo que compreendemos a vida eterna."


Francisco, banhado em lágrimas, olhou ao lado e viu nitidamente o papa Telésforo, ajoelhado, acompanhando a sua prece e também chorando de alegria, por sentir o Cristo em grande profusão de luzes, aproximar-se daquela casa.
Francisco olhou para o papa que ressonava, e disse, tomado de energia:
- Levanta-te e anda, em nome d'Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida!
Inocêncio III acordou assustado, falando:
- Eu vi Jesus, agora eu vi Jesus!
E começou a andar pelo quarto, livre das enfermidades e das chagas que já tomavam o seu corpo.
Em pranto, debruçou-se no ombro de Francisco com gratidão e respeito, falando brandamente:
- Pai Francisco, tu é que deverias estar no meu lugar.
Que Deus te abençoe sempre!
Francisco fez o Pastor da Igreja deitar-se novamente e pediu com suavidade:
- Dormi, meu senhor; o sono é sempre um reparador de energia.
Deus abençoe o vosso coração agora e sempre.
O papa, daí a instantes, dormia como criança, perfeitamente curado de suas pertinazes enfermidades.
E Francisco, serenamente, deixou a nave de repouso do Sumo Pontífice, dando glórias a Deus e vivas a Cristo.
* * *
Francisco saiu de Roma e desceu para Óstia, onde estavam alguns dos seus discípulos trabalhando com todo empenho para que o Evangelho fosse vivido, de onde saíam, periodicamente, para a Cidade Eterna, para levar a palavra de Deus, na maneira estabelecida por Pai Francisco.
Óstia fica à margem do mar Tirreno, do lado oposto ao Adriático, e, por força da natureza, está localizada no joelho da bota de que a Itália tem a forma.
Alguns companheiros de Francisco não mais se lembravam do passado, mas outros, por vezes, remoíam, intimamente, a perda de seus bens, por não ser de uma só vez que nos desprendemos das coisas materiais.
A iluminação interior surge com a força do tempo e na sequência dos esforços assumidos pelas almas, no caminho da evolução espiritual.
Ficaram eufóricos com os recentes acontecimentos em Roma, no comando da Igreja, que favoreciam os ideais sustentados por Francisco, cuja sobriedade impressionava a todos, no tocante à moderação; era, pois, o mestre a quem o sacrifício já não se impunha.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:22 pm

A poucos quilómetros do domínio do gigante de águas salgadas, sentia-se a baforada dos ventos, que traziam o aroma benfeitor.
Percorrido um trecho do caminho, avistaram um casebre, onde residia uma família que vivia da pesca.
Francisco bateu à porta, pedindo água; atendeu um senhor robusto e triste, que andava às apalpadelas, deslizando as mãos nas paredes de argila, por lhe faltar a vista.
Saudaram o dono da casa, serviram-se de água fresca de um grande pote de barro queimado, preso a uma forquilha de madeira.
Saciada a sede, acomodaram-se por convite do pescador, que chamou sua mulher e seus filhos.
Estes, em número de seis, assentaram-se, sem cerimónias, no colo dos frades; o menorzinho, de pouco mais de um ano, estendeu os bracinhos para Francisco, que o acolheu sorridente.
O casal, admirado com a fraternidade daqueles homens, sentiu-se à vontade.
O dono da casa, que por sua coragem e habilidade nas águas, atendia pelo apelido de Dragão do Mar, narrou-lhes o acontecimento que provocara a sua cegueira:
- Encontrava-me pescando em alto mar no meu barco, que pelo tamanho e estrutura, oferecia segurança.
Naquela noite, minhas redes pareciam abençoadas, pois todas as vezes que as lançava às águas, recolhia-as cheias de peixes, como nunca acontecera antes.
Lotado o barco em sua capacidade, e nada mais tendo a fazer, comecei a remar de regresso à casa, orientando-me como de costume.
Depois de muito remar, sem que chegasse à praia, desconfiei que o barco tomava caminho diferente do que habitualmente percorria.
Quis mudar a rota, mas este não mais me obedeceu.
Percebendo que o meu esforço era em vão, parei de remar, mas mesmo assim, o barco deslizava sobre as águas, em direcção ignorada.
Pescador experimentado, constatei que não era o vento, nem as correntes marinhas que mudavam o meu rumo.
Pensei estar sonhando, mas logo vi que estava acordado como nunca.
Percebi que uma força estranha conduzia o barco que, a partir dali, passou a ser envolvido por uma luz intensa, que emitia vibrações tão fortes que cheguei a pensar que o barco ia partir.
Em dado momento, o barco parou de supetão e me senti envolvido por esta mesma luz.
Tive a sensação de ser conduzido através de um corredor, chegando a um pequeno salão, onde vi coisas que nunca pensei existirem e me vi rodeado por homens de pequena estatura, que falavam uma língua estranha.
Tomado de pânico e confiando na minha robustez ante a pequenez daqueles seres, tentei forçar a minha fuga.
A última coisa de que me lembro foi que levantei o braço para agir, e daí não sei mais o que aconteceu.
Quando acordei, o sol estava a pino e ouvi o barulho dos meus companheiros que arrastavam o barco para a praia.
Logo constatei que estava cego. Trouxeram-me para casa, e estou, até hoje, com o quadro de tudo que aconteceu, vivo em minha mente.
De certa forma não me sinto triste, como é de se pensar, porque mesmo cego vejo coisas lindas.
Neste momento mesmo, posso dizer o que estou observando nesta sala e, se for ilusão o que vejo, sinto com isso satisfação que me consola e me dá esperança.
Antes de vocês chegarem, vieram uns homens revestidos de luz, que me avisaram que eu iria receber visitantes e que esses seriam amigos.
Assim, quando chegaram, eu já sabia quem eram e o que fazem.
Muitas coisas não posso dizer, porque esse mundo do qual tenho notícias me exige silêncio; noto que em derredor de todos circulam claridades e um, dentre vós, me parece um Sol.
Assustei-me ligeiramente quando o vi, por parecer-me a luz com a qual meus olhos se apagaram.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:23 pm

O homem calou-se e de seus grandes olhos desciam lágrimas sem cessar.
As crianças brincavam nos colos dos frades, puxando-lhes às vezes, as barbas; o menor dormia nos braços de Francisco.
A mulher, chorosa, falou aos frades:
- Meus senhores, depois da cegueira do meu marido, o sofrimento para nós é sem conta; vivíamos da venda de peixes, ao lado da estrada, ao povo que vem de Roma de vez em quando.
Agora, estamos vivendo de esmolas, que nem sempre ganhamos.
Penso em ir eu mesma pescar, mas temo as águas perigosas do mar...
O silêncio dominou o ambiente e alguns dos frades oraram com fervor.
Francisco tomou a palavra como verdadeiro Mestre da Paz.
E disse com tranquilidade:
- Meus filhos, devo dizer a todos que o nosso irmão não ficou cego; ao contrário, agora ele vê mais do que antes poderia observar, porque está enxergando as coisas da alma e do verdadeiro mundo, para onde deveremos ir ao findar das nossas vidas.
O que ele viu - factos que raramente ocorrem - é muito lindo para ser contado e muito mais para ser vivido.
Deve e pode ser visitante das estrelas, que a ciência e as religiões ignoram e, se o assunto for ventilado no meio delas, a forca e a fogueira serão o destino de quem o fizer.
Jesus não falou nas muitas moradas do Pai Celestial?
Por que somente a Terra na qual pisamos poderá ter a graça de servir de casa para os homens?
Deus não é Deus das limitações, e não poderemos negar o que não compreendemos, por nos faltar a intuição necessária, e a inteligência que nos assegure a Verdade.
O nosso irmão fala da coragem que possui, que admiramos, mas a ela se deve aliar a paciência e nunca deve perder a esperança na bondade de Deus.
Quanto à sobrevivência desta família, minha senhora, nunca faltará o pão de cada dia, porque antes de precisarmos.
Deus, o nosso Benfeitor Maior, sabe o que deve nos dar para o alimento de cada dia.
O corajoso pescador sentiu nas palavras de Francisco um consolo e uma força que lhe fortalecia a paciência e a esperança no futuro.
Francisco, após entregar a criança para a mãe, que a transportou para o catre, levantou-se e disse ao bom pescador:
- Querido irmão das águas!...
Vamos pedir a Deus que fez também os mares, que deu vida aos peixes, que salgou as águas, que fez os ventos, que fez a Terra, a luz e as estrelas, que fez tudo e muito mais que não podemos observar, que fez as maravilhas que tens visto, que te permita tomar a ver como antes.
Vamos pedir a Nosso Senhor Jesus Cristo, o canal de Deus para a Terra, que nos ajude em Sua imensa misericórdia e com o Seu amor sem limites, e a Maria Santíssima, mãe de Jesus e nossa, que nos abençoem neste instante, e que a graça do Senhor venha em favor dos que sofrem e choram.
Podemos recordar quantos cegos foram curados pelo nosso Divino Amigo...
E suplicou em voz alta:
- Mais um, Senhor!
Se for da Tua vontade, que este homem veja novamente.
Como por encanto, dos altiplanos da Vida Maior desceu sobre a cabeça de Francisco uma luz em maior concentração de energias divinas, e, penetrando em ser, sem encontrar barreiras, iluminou todos os centros de vida, dando a impressão de acender-se um sol em seu coração.
O homem do Amor sentiu que estava diante do Mestre, que lhe falou com brandura no verbo e meiguice no olhar:
"Francisco, não existem distâncias para quem ama!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 07, 2019 7:23 pm

Não saber bem onde estou, mas as tuas faculdades, e a força que as acciona nos faz ficar frente a frente, peço-te que apascentes as minhas ovelhas e não deixes que elas se percam.
Sabes que a verdadeira prece é o Amor que podes dispensar às criaturas; o próximo tem sede de Amor, como a tens de Deus; o próximo tem sede de Fraternidade, como a tens de mim e tem sede de Mãe, como tens saudades de Maria.
Tens muitos caminhos a percorrer, nos quais deverás pisar em muitos espinhos, mas serão eles que te conduzirão ao Amor mais puro, aquele que dá mais de si sem pedir para as suas necessidades.
Ama, Francisco!...
E continua amando, que estarei contigo pelas vias deste Amor!
Impõe as tuas mãos nos olhos deste bom homem, para que ele retome ao seu dever de cada dia e prossegue, sem esperar gratidão por aquilo que não foste tu que fizeste."
Francisco, tocado de emoção, levou-lhe as mãos aos olhos e observou que um facho de luz esverdeada, de difícil explicação, vinha do alto e penetrava na base do crânio do pescador, e como não sendo ele o dono da boca, falou com autoridade:
- Abre os olhos e vê!
O Dragão do Mar teve a maior emoção de sua vida.
Abriu as pálpebras, e delas desceram duas gotas de luz brilhante, em forma de escamas, que caindo ao solo, desapareceram.
Livre da cegueira gritou e pulou dentro de casa, dando graças a Deus pelo milagre de sua visão.
Abraçou os filhos e a mulher, abraçou os frades e ajoelhou-se diante de Francisco, osculando suas vestes.
Quando quis envergar o corpo musculoso e fazer o mesmo com os pés do Poverello, esse não o permitiu, repelindo-o com as palavras de Pedro ao paralítico na Porta Formosa, quando alguém disputava sua sombra:
- Levanta, meu filho, que também sou homem!
Permaneceram por ali vários dias, após o que, despediram-se com saudades.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:56 pm

23 - Sempre Convosco
É bom relembrar que os discípulos de Francisco, depois de instruídos por ele por vários meses em Rivotorto, Porciúncula, e mesmo no Rancho de Luz, partiam em todas as direcções da Itália, e ainda para países como França, Alemanha, Espanha e Portugal, para daí saírem para o mundo.
Era o programa de Deus e não dos homens, para que o Evangelho fosse levado a todas as criaturas na mesma intensidade da luz em que nascera.
A Idade Média sofria a violência da prepotência dos senhores feudais.
O sofrimento das colectividades se comparava ao dos judeus, na época em que surgiu Moisés para salvá-los dos duros tratos na Casa de Servidão, ou ainda piores, pois foram instaladas duas frentes de perseguições, que alarmavam as famílias; os direitos humanos estavam anulados com as Cruzadas e os tribunais do Santo Ofício.
A Igreja e o Estado aliaram-se para submeter aqueles que não fossem obedientes, às suas conveniências.
Entretanto, enquanto os homens fazem planos junto às sombras, Deus estabelece ordens com a Luz.
Francisco de Assis apareceu no cenário do mundo com a força divina nas mãos e no verbo, em favor dos sofredores, dos perseguidos e dos injustiçados na Terra, trazendo-lhes uma grandiosa esperança.
E esse grupo de homens chamados de Franciscanos não poderiam perder tempo, um segundo que fosse; vieram para trabalhar no restabelecimento da paz, juntamente com o seu dirigente, que foi o primeiro nas linhas de frente, encontrando e removendo os maiores obstáculos nos seus caminhos, para reactivar os princípios evangélicos deixados por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sete dos discípulos de Francisco decidiram-se a sair em um linha trabalho dentro da Itália, experimentando as suas próprias forças na pregação do Evangelho e na vivência de seus preceitos, em uma luta ingente, porque a regia dominante, deturpada na sua essência, impôs um modo de entender o Cristo completamente diferente dos preceitos organizados por Francisco e inspirados no Evangelho vivo de Nosso Senhor.
Estes homens de Deus anunciaram a Pai Francisco, em uma tarde em que se reuniram em Porciúncula para orar, o trajecto que pretendiam percorrer.
E Frei Gil argumentou:
- Pai Francisco, queremos percorrer algumas cidades da Itália, à guisa de exercício, para depois sairmos mundo afora, com destemor, no tocante ao Amor.
Se já conhecemos a Luz, achamos não ser conveniente que a deixemos escondida, por ser o próprio Cristo que nos aconselha a colocá-la em cima da mesa.
No entanto, queremos o teu beneplácito e que nos abençoe nos nossos propósitos.
Além disso, não vamos tê-lo ao nosso lado por toda a vida; já estamos crescendo em Jesus e devemos ajudar-te nas lutas que empreendeste.
E comovido, arrematou:
- Temos certeza de que vamos chorar a tua falta, mas vamos fazê-lo com alegria, por cumprir um dever que significa a tua alegria com Jesus.
Gostaríamos de visitar as seguintes localidades, se for da vontade de Deus:
Toscana, Romanha, Lombardia, Abrazos, Apúlia, Bari, Tarento, Lecce, Cosenza, Réggio, e tantas outras que surgirem em nossos caminhos.
Perdoa-nos esta decisão, se a entenderes pretensiosa.
Francisco, admirado pela disposição de seus companheiros, redarguiu, emocionado, com alegria:
- Não só vos dou a minha bênção, se ela vos for útil, como, se pudesse, iria convosco por onde quer que fosse.
O Evangelho é a meta da minha vida, e devemos levá-lo às criaturas, por ser ele o Pão do Céu enviado às pessoas famintas de Amor e de Paz.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:57 pm

Peço-vos com toda a humildade do meu coração que sejais amigos uns dos outros, investindo todas as vossas energias em conversações sadias, onde estiverem, vos lembrando sempre da advertência de Jesus, quando assevera:
"Vigiai e Orai". Nunca entreis em discussões improfícuas, principalmente entre vós; elas dividem o que deve estar unido para melhor servir.
Não vos preocupeis com o dia de amanhã, carregando prata, ouro, e mesmo roupas em demasia; além de pesarem em vossos ombros, inquietam os corações e distorcem os sentimentos, principalmente na perda do tempo que deveria ser usado na vivência do tesouro de Jesus, que é o Amor.
Confiai em Deus, que Jesus estará sempre na frente, preparando-vos lugar onde devereis ficar, e, principalmente, servir.
Jamais devereis vos preocupar com que o povo possa pensar de vós; ele é sempre influenciado pelas ilusões do mando e das vestes, de cortejos e de apresentações, de autoridades dos homens.
Deveis firmar-vos em um só princípio, que é o de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.
Aí está, como nos faz compreender o Evangelho, toda a lei e os profetas, e acrescentamos: toda a vida.
Ide, meus filhos!...
Estaremos sempre juntos pela força do dever e da oração, e quando souberdes que, alhures, estejam alguns dos nossos companheiros ide até eles, para receber o estímulo e também estimular aqueles corações no mesmo serviço, que se dispuseram fazer.
Também eu, por esses dias vou partir, não sei ainda para onde.
Nascemos e vivemos para servir à causa de Deus, na ordem do Cristo.
Que Ele os acompanhe!
E assim, partiram os sete homens de Deus:
Freis Gil, Gaspar, Domingos Rogério, Ângelo, Custódio, Bernardo e Alpino.
Certa noite, em que a alegria invadia os corações no serviço da Verdade, Frei Gil disse aos seus companheiros, com bom senso:
- Irmãos em Jesus Cristo, não podemos, em momento algum, nos esquecer das palavras de Pai Francisco, com as suas belas advertências, porque, por enquanto, estamos pisando em flores, estamos sendo domados e respirando o clima da fraternidade.
Por enquanto, meus irmãos, estamos vivendo em família, na satisfação peculiar às crianças.
Porém, a realidade não será esta; é bom que pensemos no que aconteceu com o próprio Cristo quando foi levado até ao Calvário.
Passados alguns dias, foram assaltados em viagem por ladrões profissionais, que, nada encontrando, rasgaram-lhes as roupas e atearam fogo em seus poucos pertences; e ainda os espancaram sem piedade, dizendo-lhes em altos brados, que eles fossem trabalhar, porque se os encontrassem novamente sem dinheiro, matá-los-iam.
Frei Gaspar ficou uns dias revoltado, pois nunca tivera antes suportado tão brusca agressão.
Seu coração pedia perdão para aqueles homens ignorantes, mas o seu raciocínio ordenava desforra e pedia vingança.
Todavia, com o passar dos dias, acalmou-se pela força do exemplo dos companheiros.
E o Evangelho ia sendo pregado por onde passavam, deixando o nome de Nosso Senhor
Jesus Cristo em maior evidência.
Em Apúlia, foram denunciados e presos por vários dias, depois foram soltos, por nada haver contra a sua conduta; mas sofreram fome e agressões.
Quando já acostumados aos sofrimentos, alimentados pela fé, certificaram-se de que todas as forças de que dispunham vinham de Deus e de Cristo, pelas vias do próprio coração.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:57 pm

Quando caminhavam de Lecce para Tarento, no Golfo de mesmo nome, no mar Jónico, abeiraram-se de um casarão que o tempo começara a destruir.
Era um velho castelo de repouso de família nobre em eras recuadas.
Atormentados p chuva e estropiados pelas longas caminhadas, pediram pousada.
Morava ali uma família não menos sofredora, que, encontrando o velho palácio em ruínas, ocuparam-no por lhe faltar abrigo.
Entraram e sentiram-se felizes pela acolhida e pela simplicidade da velha residência, notando que lugar não faltava para que todos se abrigassem, homem, muito gentil, pediu-lhes desculpas, dizendo:
- Senhores, estou aqui com minha família, escorraçados pela sociedade, onde não pudemos ficar devido a enfermidades contagiosas que sofremos.
E tirou com tristeza um pano que encobria seu rosto:
- Vejam, como estou!
Seja feita a vontade de Deus; não podemos mesmo morar onde as pessoas são sadias, porque essa doença é contagiosa.
Se quiserem ficar aqui, para nós é um grande prazer, pois não temos com quem conversar, e gostaríamos de ter notícias de outros lugares.
Mas, para o seu bem, acho que devem partir, procurando outro pouso, porque poderão sofrer as consequências de sua imprudência.
Notaram o rosto do homem, e se compadeceram.
Já tinham tido contacto com muitos leprosos, mas como aquele, nunca.
Jamais tinham visto tamanha degeneração física no rosto de uma pessoa.
Dois dos frades tiveram vontade de retirar-se e ir embora, por impulso natural do ser humano; não obstante, a conduta dos demais fez com que se aquietassem na postura de cristãos.
O chefe da família continuou a dizer com humildade:
- Vejo que são homens de Deus, e que passam provações, pelo estado em que se apresentam.
Se aceitarem, a casa é suas; fiquem à vontade, porque também fomos acolhidos aqui por bondade de Deus.
Frei Gil, feliz pela acolhida, discorreu com discernimento:
- Caro irmão, que Deus te abençoe com a tua família.
Fazemos parte de uma comunidade cristã, cujas raízes - o nome já indica - se alicerçam no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
As directrizes foram traçadas em espírito e verdade pelo nosso Pai Francisco de Assis, homem de profundo amor e de comprovada vivência na Caridade e no desprendimento; portanto, estamos bem nesta casa de Deus.
Somos todos de paz.
Necessitamos de pousada, mas nada queremos que não nos possa dar; o sono para nós é grande reparador de forças e, ao amanhecer, iremos em busca de alimento, por reconhecer que Deus é Pai e nunca deixa Seus filhos Passar necessidades do essencial.
Não te aflijas, podes dormir sossegado que nos acomodaremos muito bem aqui.
Quanto à doença a que te referes, fica sossegado.
Pois não temos receio; talvez sejamos mais doentes do que tu, porquanto a doença da alma é bem pior e todos estamos à procura do Cristo para nos sarar.
O leproso, ao ouvir as palavras de Frei Gil, emocionado e sem encontrar palavras, chorou!...
Frei Gaspar, impaciente por conhecer seus familiares, já estava com o coração predisposto a amá-los.
Ele, percebendo os pensamentos do franciscano disse comovido:
- Até agora, meus senhores, não tive coragem de lhes mostrar minha família, pelo estado calamitoso dos meus entes queridos.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:57 pm

Não sofro por mim, tanto quanto por eles.
Por Deus, meus senhores, eles sofrem demais...
No entanto, ao vê-los aqui connosco, parece-me que novo ânimo invadiu meu coração, novas esperanças colidem com as minhas torturas e a confiança em Deus está viva.
O leproso anónimo recebeu mais conforto dos outros frades, e foram todos dormir.
No dia seguinte, foi novo dia para aquela família; os frades ficaram conhecendo todos e, verdadeiramente, era acentuado o estado de decomposição provocado pela doença, dilacerando os corpos, observando-se a falta de membros que nunca mais se recomporiam.
Frei Gil e Frei Ângelo sentiram a necessidade da presença de Pai Francisco naquela casa de sofredores, mas como chamá-lo?
E as distâncias?
Como resposta, Frei Gil lembrou-se do que lhes dissera Pai Francisco, na ocasião em que partiram, e repetiu para Frei Ângelo:
"Ide, meus filhos, que estaremos sempre juntos pela força do dever e da oração!... "
Frei Ângelo deixou escapar lágrimas dos olhos, nascidas da saudade, força poderosa que se interliga a outra maior:
o amor das pessoas que se amam verdadeiramente.
Frei Gil, confortado pela lembrança de Pai Francisco, falou confiante:
- Já que estamos cumprindo o nosso dever diante do nosso próximo, Frei Ângelo, esta noite vamos orar todos juntos na paz de Deus, para que possamos sentir a presença de nosso Pai Francisco em espírito e verdade, na paz de Deus, de Jesus e de Maria.
Alguns dos frades eram dados à pesca, e foi o que fizeram durante o dia.
A tarde, a alegria foi enorme; os pescadores pescaram muito e voltaram carregado Outros trouxeram frutas e variadas sementes da natureza.
E foi uma festa na casa do doente:
todos comeram dentro de um ambiente de pura fraternidade.
Os frades ajudaram na limpeza do casarão, ao qual o asseio deu um aspecto de alegria.
Frei Gil falou com disposição:
- Meus filhos, desejo agora completar o nosso dia de trabalho com uma oração conjunta, agradecendo a Deus pelo tecto que nos acolhe e pelo que nos deu de alimento.
Fazendo assim, nos lembramos igualmente de Pai Francisco, que vela por nós sem cessar.
Frei Gil pediu ao dono da casa que trouxesse para o salão todos o familiares, para que, com eles presentes, fosse maior o prazer de orar.
O chefe casa não se fez de rogado; forrou o piso com velhas esteiras e transportou, um a um, em seus ombros estragados pela doença, sem perder a confiança, e sempre disposto a ajudá-los com alegria.
Frei Bernardo tomou a palavra com simplicidade, dizendo:
- Senhor!... Estamos reunidos nesta casa, como servos que podereis usar para os trabalhos que Vos convier.
Estamos sem nosso guia, a quem tanto amamos e respeitamos, e Vos pedimos, Senhor, permiti que ele fique mais perto de nós, pelo Amor que gravou nos nossos corações.
Estamos diante de uma tempestade familiar.
Como podem num só lar reunir-se tanto infortúnio, tanta dor e tanta tristeza?
Deus, se for do Vosso agrado, repartiremos connosco a cruz desta gente, que nos abriu as portas desta casa, fazendo-nos sentir como parte da família.
Aliviai, Pai, a dor destas criaturas, e colocai no coração deste homem, o ânimo necessário, para que ele possa lutar pelo pão de cada dia.
Estas crianças, esta mulher...
diante de tanto desconsolo, não sabemos como pedir a Vossa misericórdia, nem como estender as mãos diante de Vós.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:57 pm

Compadecei-Vos de todos nós, nesta angústia sem comparação.
Eu Vos peço, quase sem forças para Vos falar, que nos ajudeis, para que haja um intercâmbio entre nós e nosso Pai Francisco, porque ele sabe consolar, suas mãos podem ser as mãos de Jesus, e sua palavra, a de Cristo, que poderá vir pelas vias de seu verbo.
Essa é a nossa esperança, porque para Vós não há o impossível.
Abençoai o nosso querido Pai Francisco onde ele estiver, para que ele possa estar connosco neste momento.
Confiamos na Vossa bondade, e na Vossa misericórdia, esperando que seja feita a Vossa vontade e que a nossa Mãe Maria Santíssima esteja também connosco, para o bem destas criaturas.
Francisco de Assis, no momento em que Frei Bernardo orava, encontrava-se no Rancho de Luz, falando aos seus companheiros. Silenciou-se por um momento!...
E pediu aos irmãos para que orassem em conjunto, enquanto ele estivesse orando.
Em dado momento, Francisco foi tocado por duas mãos luminosas, e se fez dois:
o seu corpo material permaneceu junto aos companheiros e ele, em estado de graça, em corpo espiritual, saiu levado por duas mãos, que o conduziram com toda bondade, ouvindo em tom de harmonia espiritual:
"Meu filho!...
Devemos acudir, mesmo que distante, aos que sofrem.
O Espírito atende onde quer que seja. para que Deus seja presente, aonde for chamado a socorrer em nome da Caridade.
A força do Amor é tão grande, que é da lei que nos dividamos para nos tomar um Sol, na unidade do seu poder, alcançando seus raios anos horizontes, onde a dor se transforma em prece.
Aquele que tudo fez, e que nos criou por Amor.
Continua em oração, porque ela, na educação dos sentimentos, é força nova que se transforma em asas, em impulsos de vencer distâncias, como relâmpagos estendidos nos espaços.
Alguns dos teus filhos espirituais esperam por teu carinho e por teu trabalho em favor de uma família que sofre o peso de muitos infortúnios transformados em chagas.
Sofrem o peso da tristeza, transformada em lamúria e ao peso da dor, transformada em desespero.
Acode, Francisco, aquele pai de família que é a chave da esperança para os demais, cuja dor é a porta de libertação para que ela própria se transmute em liberdade e em alegria no futuro.
Deixo tudo em tuas mãos, para que elas façam o que for conveniente Entrego-te as bênçãos da Luz para que com ela afastes as trevas daquele lar, em nome de Deus..."
Francisco notou, em plena consciência, que chegara a um casarão onde estavam os seus discípulos que tinham viajado para que o Evangelho fosse conhecido.
O Poverello de Deus ficou entre os sofredores, e sentiu o que deveria fazer.
Frei Bernardo ainda em silêncio, olhou para Frei Domingos que, em profundo sono, soltava uma massa esbranquiçada pela boca, pelo nariz e pelos ouvidos; e aquela massa imponderável foi em direcção a Francisco em espírito, dando-lhe forma.
E o mestre apareceu aos discípulos na suavidade dos sentimentos.
Francisco guardou silêncio como todos que ali estavam.
O homem de Assis avançou para junto do chefe da casa, como lhe tinha recomendado a voz que o conduzia.
Ajoelhou-se frente ao enfermo, levantou as mãos para o alto e fez sentida prece ao Criador, empregando todas as suas possibilidades, para que o Cristo operasse naquilo que ele deveria fazer.
Francisco, envolvido em encantadora luz verde-brilhante, com estrias de um dourado sem precedentes, atendeu ao pensamento de alguém invisível.
Dois canais de luz partiram de Francisco para o doente, cujas chagas foram desaparecendo, como por encanto.
Era a magia da fé buscando a vontade Maior.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:57 pm

O homem sentia que aqueles raios de luz visitavam todo o seu corpo, no carinho peculiar às mãos de santo e ouviu uma voz como nunca ouvira em sua vida:
"A tua fé te curou".
Francisco levantou-se, como um Sol que brilhava dentro da casa, abriu os braços em gratidão a Deus, e nada falou.
Desapareceu como apareceu!
Frei Domingos, como que acordando, disse em voz alta para que todos ouvissem:
- Eu vi Pai Francisco... eu vi Pai Francisco!...
E os discípulos e os familiares, juntos, choraram e cantaram hosanas a Deus pelo milagre testemunhado por todos.
O chefe da família, sentindo-se curado, perdeu a voz por instantes e abraçou o frades como se fossem filhos que há muito não via.
Frei Gil, com a voz embargada, falou emocionado:
- Meus irmãos!...
Deus tem recursos para nos atender, quando acha c0nveniente.
Tudo está perto, quando o Amor se manifesta em nossos corações, devo convidar, em nome de Deus, ao nosso Frei Custódio e a Frei Alpino, a ficarem juntos a essa família o tempo que for necessário, para que a fé seja a luz deste lar, e para que o ânimo se aposse destes irmãos, na luta de cada dia, enquanto nós outros avançamos caminhos, porque o Evangelho tem urgência do nosso concurso em outras bandas.
Façamos, meus irmãos, da palavra e da vida, o Evangelho vivo, e acordemos quem estiver morto.
Depois, encontrar-nos-emos na paz do Senhor.
E partiram!...
E ali, naquele velho castelo, foi instalado um Serão Evangélico todos os dias, e a alegria foi dominando o ambiente, fazendo esquecer todo o tipo de infortúnios.
Os próprios doentes não se lembravam mais da enfermidade, porque o Amor apaga a guerra e acende a paz.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:58 pm

24 - Do Oriente ao Infinito
Francisco de Assis era, por natureza, um andarilho.
As condições de transporte da época não ofereciam meios de atravessar distâncias enormes em pouco tempo e o sacrifício do físico exigia o peso de muito esforço.
Mesmo assim, a brandura das suas conversações mostrava a todos quanto de Amor ele possuía pelo próximo.
Desfazia com amabilidade todo o ódio que, porventura, viesse a seu encontro.
Dava mais valor quando uma criatura dominava um instinto inferior, do que às maiores conquistas do mundo em guerras fratricidas, mesmo que a justiça da Terra marcasse o vencedor com todas as honras.
Nunca impunha as suas ideias, que sempre eram iluminadas; passava vivendo-as, esperando que somente Deus o ajudasse, se elas fossem verdadeiramente certas.
O Anjo de Assis tinha gestos amenos, jamais ofendia alguém e nem se ofendia, igualmente procedendo com os contrastes do mundo.
Era recto no pensar e no viver, sem a influência de correntes religiosas e políticas.
Nem a argumentação persuasiva dos príncipes da Igreja, como tão pouco as dos reis do Oriente, o convenciam da necessidade da conquista do Santo Sepulcro.
Pai Francisco não ensarilhou armas contra a esbómia das falsas filosofias espiritualistas; não tentando abater a ignorância pela violência, exemplificou Jesus, sem atitudes de imposição.
Vivia o Amor, para que o Amor pudesse ser a vida dos outros.
Tanto amava a Terra onde nasceu, quanto a pátria dos que pervertiam seu povo, ou os que perseguiam e, por vezes, matavam os seus discípulos.
Se acompanhava o Cristo, dizia ele, tinha de revivê-Lo na sua profunda essência da fraternidade absoluta.
A Terra era o seu lar maior.
Não obedecia as divisões humanas para amar as criaturas; considerava-se cidadão do Planeta, à procura da Cidadania Universal.
Quando começou a viajar para fora de seu país, em contactos com outros povos, sentiu com maior esplendor a grandeza de Deus, na fome de todas as criaturas, de amor e de fraternidade, conheceu os sentimentos das nações e o porquê do sofrimento humano.
Viu que a Comunidade que fundara era uma peça indispensável para a própria vida, como volta ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, era certo que gastaria muito na sua consolidação; no entanto, tinha de ser começado por alguém.
E esse alguém deveria enfrentar todos os tipos, de obstáculos se não a própria morte, como acontecera com os primeiros mártires do cristianismo, pois nem mesmo o Cristo fora poupado!...
Estava declarada a guerra contra os deturpadores dos conceitos do Mestre e a sua atitude era avançar.
O poder do espírito jamais será medido pelos homens.
Ele começou no Oriente, estendendo-se ao infinito, correndo por todas as linhas do saber, e despejando todas as suas experiências no coração.
Os fenómenos transcendentais que ocorreram por seu intermédio e no meio deles, ocorreram também no reino dos animais e na natureza, em todos os seus departamentos de vida.
* * *
Certa feita, estando Francisco de Assis em peregrinação pela cidade de Gubbio, ao norte de Assis, soube que a população daquela região estava em desassossego, pois ali morava, nas encostas de determinados penhascos, um lobo feroz, que já tinha devorado vários animais, e mesmo algumas crianças.
O lobo era remanescente de uma alcateia, da qual ficara afastado por doença, fazendo morada de uma caverna que encontrara, alimentando-se de animais que por ali passavam, atacando igualmente seres humanos descuidados.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:58 pm

Tantos foram os prejuízos verificados e o pânico espalhado pela região, que a população foi ao seu encontro, para que ele abençoasse aquele lobo, e rogasse a Deus que o fizesse desaparecer, para que a paz se restabelecesse.
As mães aflitas imploravam a Pai Francisco que tivesse piedade e as ajudasse, prometendo-lhe fazer qualquer penitência, desde que se livrassem do perigoso animal.
Pai Francisco ouviu, com paciência, o apelo da população e prometeu fazer alguma coisa em benefício de todos.
Iria pedir a Deus para que o lobo procurasse outro lugar, que não fosse aglomeração humana.
E Francisco, como de costume, à noite, entrou em meditação e em oração ao Senhor.
Nestas horas, os seus ouvidos sempre registavam coisas fora do comum dos homens.
E foi o que ocorreu, ao pedir a Deus nestes termos:
- Meu Deus!... Meu Senhor!...
Permite que Te peça algo, talvez inoportuno, mas que está na alma do povo, por onde estamos passando, e a quem queremos levar o Evangelho do Teu Filho e Nosso Mestre, que nos pede alguma coisa que lhe possa trazer a paz e a tranquilidade física.
Que afastes, Senhor, o lobo que os ataca, pois bem sabes o que ele anda fazendo, matando animais e ferindo homens amedrontando a população.
Se for do Teu agrado, e se o merecermos, faz com que esse lobo saia desta região e procure outro lugar onde ele possa sentir-se melhor e os homens viverem em paz.
Jesus, ajuda-nos a compreender as necessidades dos nossos semelhantes e fazer por eles alguma coisa; Maria, mãe de Jesus, cobre-nos a todos com o teu manto de luz, confortando os nossos corações tribulados, mas que seja feita a vontade do Senhor e não a nossa.
E no intervalo em que reinava o silêncio, Francisco, à espera de resposta ouviu no fundo d'alma um cântico a lhe responder o que deveria ser feito, em um tom harmonioso e cheio de ternura:
- Francisco, ouve-me!...
O lobo tem o direito de ficar onde quer que seja, arriscando também a sua vida.
Para onde devemos mandá-lo?
Ele tem necessidade de algo que existe entre os homens.
Esses não procuram melhoria no bem-estar e no convívio com irmãos da mesma e de outras raças?
E, pois, um direito que assiste a quem vive, a qualquer criatura nascida de e por Deus.
Como expulsar e sacrificar um animal, somente para satisfazer pessoas, algumas sem piedade até para com os próprios semelhantes?
O egoísmo dos homens é que os faz sofrer, não simples animais, que pedem socorro, com os recursos que possuem.
Vai, Francisco, conversar com ele, o lobo.
Depois de entendê-lo, volta e conversa com os homens, e vê se os entende, o que acho mais difícil.
Procura fazer uma aliança entre um e outros, para que o que sobre, não falte a quem tem fome, e que, depois de amansada a fera, não a maltratem, pois quase sempre, depois da paz, surge o abuso.
O lobo tem fome, Francisco!...
Francisco despertou do êxtase e sentiu o drama do velho lobo.
E partiu para uma das gargantas do Monte Calvo, situado nos Apeninos.
O grande animal ao ouvir a voz cantante de um homem, saiu do seu esconderijo, talvez pensando em alimento e água, esquelético e meio fraco.
Vidrou os olhos no pequeno homem de Deus, e esse lhe falou mansamente:
- Irmão Lobo!...
Que a paz seja contigo, seja feita a vontade de Deus e não a nossa!
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:58 pm

Eu sou de paz.
Venho pedir-te em nome de Deus e de Jesus, que tenhas um pouco de confiança nos homens, porque nem todos são violentos; muitos são bons e gostam de animais.
Podes conviver em paz com eles e comer o mesmo que eles.
Espero que me ouças.
Peço-te para ir comigo até eles e lhes pedirei para te atender nas tuas necessidades.
Eu também sou um animal; nada tenho aqui para te dar, a não ser o meu carinho, mas prometo que te darei a amizade de todos, naquilo que possam te ofertar.
As mães estão chorosas, temendo por seus filhos.
-Vem comigo, que serás compensado por Deus!.
O lobo, a essa altura, já estava deitado aos pés de Francisco, roçando seu longo pescoço nas pernas do seu protector, submetendo-se com confiança.
Este ajoelhou-se, pôs-lhe as mãos sobre a atormentada cabeça e agradeceu a Deus pela nova amizade.
Ao lado dos dois estava uma pequena falange de Espíritos da natureza, alguns na forma de animais, festejando aquela aliança no sentido de despertar nos homens, o amor para com os animais, e nestes, o amor para com aqueles.
O futuro nos promete que a cobra viverá em paz com o batráquio, o rato com o gato, o cão com o felino, o cordeiro com o lobo, e que os homens viverão em paz com os próprios homens.
Francisco olhou para o lobo e disse com piedade:
- Vamos, meu irmão; desçamos juntos, para junto dos homens, pois somos todos filhos de Deus!
Francisco seguiu na frente e o lobo o acompanhou com passadas lentas, mas sem perder o seu guia.
Ao chegar ao lugarejo, o povo saiu às portas assombrado com o fenómeno.
Muitos já conheciam o feroz animal, que naquele momento tomou-se um companheiro manso e obediente, na sombra do santo.
Esse assentou-se em um cepo, ao lado de uma casa, e o lobo aproximou-se de seu companheiro, que passava levemente a mão sobre o seu corpo descamado, falando-lhe com serenidade:
- Irmão lobo, este lugar é também teu.
Considera-te filho deste abençoado rebanho de ovelhas humanas que irão te tratar como se fosses filho.
Nada vai te faltar, nem água, nem comida, nem o carinho de todos os irmãos em Cristo que aqui residem, e para tanto, vamos de casa em casa confirmar o que desejamos.
Se, porventura, tivesse de morder alguém aqui, faze isso comigo agora; não deves trair o que combinamos, eu te peço.
Jesus Cristo gosta muito de animais, tanto que preferiu nascer em uma estrebaria, a nascer em palácio.
Ele poderia escolher o lugar que quisesse, e buscou os animais; isto é uma prova de Amor por eles.
As mãos do Poverello corriam no lombo do animal, inundadas de luz que só o amor pode fornecer, e os olhos do animal deram um sinal que somente os humanos podem dar, o sinal das lágrimas, porque é mais fácil chorar do que sorrir.
Francisco levantou-se, tornou a chamar seu companheiro e foi de porta em porta, em nome de Deus e de Cristo, pedindo aos moradores para que não faltassem água e alimento para o lobo, e todos, vendo a mansidão do animal junto a Francisco, concordavam.
O filho de Assis ficou alguns dias na região, até o povo acostumar-se com a convivência do animal, e o lobo ficava de porta em porta, comendo e bebendo.
Engordou, tomando outras feições, mas, conservou-se sempre manso.
Uivava nas madrugadas, sentindo saudades do Santo de Assis.
No fim da sua vida, já suportava até pancadas por parte dos transeuntes, ao tentar acompanhar algumas pessoas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:58 pm

Era mordido por cães agitados que percorriam a cidade, e muitos deles tomavam a sua comida, sem que ele se revoltasse com o facto.
Nunca brigava com seus adversários e, por fim, já doente, não tinha forças para andar de casa em casa em busca de alimento.
Acomodou-se em uma velha casa, onde mãos caridosas fizeram-lhe uma cama de palha, que foi o seu leito de morte.
Muitos moradores levavam para ele o que comer e beber, e, em uma madrugada, escutou-se o lobo uivar, por ver na sua refina um frade a convidá-lo para um passeio.
Quando fez força para levantar-se, o fez, não com o corpo físico:
levantou-se no outro mundo em seu duplo etérico, e acompanhou o frade, mostrando pela cauda, a alegria que estava sentindo no coração.
E desapareceram no infinito os dois filhos de Deus.
* * *
Certa feita, Francisco chegou a Pádua, terra onde se radicou um dos grandes franciscanos, António de Pádua, que também ficou consagrado com o nome de António de Lisboa, por ter nascido na capital lusitana.
Francisco de Assis, com alguns dos seus discípulos, andava pela periferia de Pádua em uma tarde ensolarada, quando sentiu sede e saiu à procura de água no grande rio, que corria próximo.
Destacou uma folha de árvore, virando-a em forma de copo e sorveu a água com prazer, agradecendo em voz alta por aquele líquido sagrado da natureza.
Um pescador que pescava em local próximo ao que estavam os frades, fisgou um peixe grande e, como já tinha ouvido a fama dos frades franciscanos, ofereceu-o a Francisco, que o recebeu ainda com vida; beijou-o, pediu desculpas ao pescador, e o devolveu às águas, dizendo:
- Vai, meu filho, que os teus irmãos te esperam; vai na paz de Cristo, que todos temos direito à vida.
Não tenho fome.
Por que abusar da tua vida?
Que Deus te acompanhe!
Pai Francisco, assentado à margem do rio com os discípulos, começou a contar histórias, referentes aos profetas.
Juntou-se a eles o pescador e daí a instantes via-se, a margem do rio, cardumes enormes e quase todos os peixes levantavam as cabeças para fora da água, como que ouvindo as histórias do Santo de Assis.
E este, quando observou o milagre da gratidão, mostrou para seus companheiros o amor daqueles viventes das águas pelos homens.
"E ainda assim", disse ele, "os peixes entregam suas vidas para que vivamos e somente deveremos aceitá-la quando a fome estiver em ponto de não podermos mais tolerar a falta de alimento.
Eles também conhecem Jesus são certificados da Paternidade Universal e nossos irmãos menores na escala da vida.
E ali pregou o Evangelho para os peixes, até sentir a claridade das estrelas.
Francisco estava vendo o que muitos não conseguiam: Espíritos das águas, andando sobre elas e festejando o acontecimento, cantando e dançando sobre o lençol cristalino, onde ondas de magnetismo, provindo das estrelas distantes, pareciam encontrar-se em policromia indescritível, coroando todos os seres pelo poder do Amor.
Francisco levantou-se com os discípulos, abençoando em despedida os peixes, que pulavam como se quisessem acompanhar o protector dos animais.
Um Espírito das águas, com porte de rainha, avançou em direcção ao Santo de Assis, beijou-lhe as vestes, deixando nelas um saldo de amor e gratidão, na qualidade de perfume, cujo aroma inebriante todos sentiram.
Esse aroma impregnou-se às vestes de todos por semanas a fio, como lembrança de uma festa diferente:
uma festa de Amor em plena natureza.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:58 pm

* * *
Francisco de Assis nunca permanecia em descanso prolongado.
Onde quer que estivesse, aproveitava o tempo para algum serviço de Deus.
Quando de uma de suas idas à Cidade Eterna, em uma de suas andanças pela grande metrópole, dirigiu-se a uma grande feira de frutos, comestíveis e trabalhos manuais, muito em voga na época.
Os mercadores, ao vê-lo - pois a sua fama de santo já tinha corrido mundo - gritaram, chamando:
- Pai Francisco, por favor, fala para nós alguma coisa que nos sirva para a vida!
Fala sobre o que for melhor para nós, que vivemos toda a vida no comércio!
Aproximando-se, Francisco abraçou a todos com carinho e amor, passou os olhos nos feirantes que o circundavam satisfeitos e falou com ênfase e bondade:
- Meus filhos!...
No acto de comprar ou vender, não esqueçais o sorriso, pois ele é o prémio da vida, para a vida de todos.
E sorrindo, despediu-se dos feirantes, deixando a sua paz, para a paz de todos.
* * *
Francisco peregrinava com um punhado de discípulos por Espoleto, Temi, Riéti e Áquila.
Trazia no coração a necessidade de integração com a natureza, de ar não somente aos semelhantes, como assevera o Evangelho; também tinha fome de amar tudo que manifestasse a vida e palpitasse a presença de Deus.
Eram de grande valia para ele as oportunidades de expandir o seu amor por alguma coisa ou por algum vivente, fosse qual fosse a sua natureza.
Sabia a combinar a sua condição com aquelas dos que com ele participavam, na linha do progresso espiritual.
Tinha razões para isso, por encontrar na vida do Divino Mestre quadros que o levavam ao Amor mais Puro e Universal.
Tinha na feição de Maria mãe de Jesus, a segurança do seu coração e a disciplina dos seus mais arrojados sentimentos.
Orava sempre à Mãe Divina, pedindo a ela as bênçãos para os seus caminhos, tendo-a como sua própria mãe, reconhecendo sua mãe carnal, como irmã em caminho.
Nunca se esquecia de Jarla e Foli nas suas orações, e sempre que voltava a Assis, procurava o seu antigo lar, para manifestar seu carinho à família.
Mesmo sabendo que seu pai o havia deserdado dos sentimentos de paternidade, amava-o com todo o coração.
Tinha tempo, e era o seu maior prazer visitar os servos do senhor Pedro Bernardone, e consolá-los com o seu verbo inflamado, fazendo-os conhecer Jesus, senão o Seu Evangelho vivo, que destrói a morte.
Francisco, que chegava a Temi, ouvindo um melro a cantar, de modo a parecer um desafio ao seu próprio dom, aproximou-se do pássaro e cantou com ele, um dueto sem precedentes.
Francisco e o pássaro cantaram a duas vozes e, passado longo tempo naquela arte, o poeta humano, não suportando o ritmo da ave cantora, pediu para parar.
O pássaro deu umas voltas em torno de seu companheiro, desdobrou-se em uma sinfonia estridente, e desapareceu como por encanto, em uma grande extensão de árvores próximas.
Com mais alguns quilómetros de caminhada, Francisco deparou com uma multidão de peregrinos que vinha ao seu encontro.
Francisco, emocionado com tanta gente ansiosa pela sua palavra na palavra de Cristo, começou a pregar o Evangelho.
Em dado momento, o melro regressou, dirigindo um bando da mesma espécie, milhares de pássaros, todos cantando e voando em tomo da multidão, ficando a voz de Francisco abafada pela cantoria.
Francisco calou-se.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:59 pm

Os pássaros redobraram-se em cantos, todos de uma só vez.
A certa altura, os sons tomaram-se estridentes demais para serem suportados, e a multidão já se inquietava.
Francisco, em um gesto de amor à natureza divina, na expressão divina daquelas vidas em evolução, levantou os braços para o alto, e em tom de humildade, falou aos melros com delicadeza:
- Meus irmãos!...
Estou sentindo muita alegria em conhecê-los a todos.
E para mim grande satisfação tê-los junto a nós, nesta festa ante a natureza. Como é bom ouvi-los, compreendendo que estão ajudando na harmonia da natureza e fazendo a vontade de Deus, na alegria do Cristo!
Que a nossa Mãe Santíssima os abençoe a todos, agora e eternamente.
Eu lhes peço, com toda a humildade de meu coração, no grau em que possa ofertar-lhes, com toda a paciência naquilo que posso lhes dar, com todo o amor pelos poderes do Mestre Jesus, que se calem um pouco, para que eu possa falar do Evangelho a esse povo que está sedento da palavra de Deus, e, se for do agrado de todos que assim seja, ficarei muito contente com todos vocês, e a minha gratidão será bem maior do que todas as alegrias que tive no mundo até agora.
Vocês, como nós, são filhos de Deus, e o Amor do Pai Celestial lhes deu tudo para a felicidade:
a natureza para viver, os campos, os frutos, as sementes, as asas para voar, e o dom de cantar para Ele, que sempre ouve Seus filhos do coração.
Eu, como o menor de todos, peço-lhes que se calem, para que eu fale aos irmãos que me desejam ouvir.
Os pássaros silenciaram-se, espalhando-se pelo chão e pelas árvores, e Francisco recomeçou o seu sermão, tendo como templo a mãe Natureza.
Discorreu sobre a vida do Cristo, no anúncio dos velhos profetas, sobre a missão de Moisés, e os trabalhos dos discípulos de Nosso Senhor; recordou a renúncia dos companheiros do Divino Amigo e o sacrifício de muitos deles, a morte de inúmeros seguidores do Evangelho no Coliseu de Roma e em praças públicas e do sangue que foi derramado como cântico de louvor à vida, que não tem fronteiras e continua em todos os rumos.
Quando terminou a sua predica, as aves alçaram voo, como que festejando a multidão que sempre crescia ao passar dos minutos, e cantaram como nunca.
Francisco observou em tomo dos pássaros, luzes que se inter-cruzavam naquele ambiente livre da vida simples e formosa.
Entidades espirituais, com mãos entrelaçadas, cantavam hossanas ao Criador, umas apresentando a forma de pássaros dourados, que, ao farfalhar das asas, desprendiam claridades benfeitoras em forma de essências em direcção aos homens que ouviam Francisco que, abençoando a todos, em êxtase de emoção, disse com dignidade:
- Meu Deus!...
Como é belo ver o que se esconde por trás da ignorância; como é lindo sentir o que se encontra depois do ódio, como é esperançoso respirar onde se encontram os Anjos cantando em louvor ao Todo Poderoso!
Deus, ajuda-nos, a nós outros a ajudar mais.
Consente que despertemos para a Luz da Verdade, para que esta nos liberte de tantos preconceitos, que nos prendem como escravos das leis humanas.
Cristo, permite que sejamos educados para educar, que sejamos livres para libertar, que sejamos humildes para compreender, que sejamos alegres para alegrar, que sejamos bons para incentivar a bondade, que sejamos luzes para clarear a todos.
Consente, Senhor, que a paz nos ajude no trabalho, que o trabalho nos ajude no equilíbrio, que o equilíbrio nos ajude na saúde, que a saúde nos ajude a compreender o Amor de Teu coração.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:59 pm

Jesus, abençoa todas essas criaturas que vieram em busca do pão que desceu do céu, o pão espiritual, e que a Tua mãe seja a mãe de todos nós, hoje, agora e na eternidade.
Abençoa os pássaros nas suas trajectórias, abençoa os animais, as árvores que nos ouvem, igualmente, no silêncio que nos faz compreender o segredo da vida mais profunda e que por vezes foge ao nosso raciocínio e escapa à maior das ciências da Terra Abençoa as pedras que se nos fazem testemunhas e a própria terra em que firmamos os pés, o ar que respiramos, a água que nos garante a própria vida do corpo Eu, na qualidade de Teu menor servo no mundo, curvo-me como faço agora sobre a terra quente e benfeitora e, beijando-a, beijo-Te o coração na eternidade.
* * *
Pai Francisco lembrou-se do pedido de Inocêncio III, para que fosse a uma das Cruzadas.
Fosse qual fosse o seu interesse, ele, Francisco, tinha directrizes marcadas na própria consciência sobre o que deveria fazer, em consonância com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pela certeza absoluta de que somente o Evangelho poderia trazer a paz nos corações dos povos, tomou-se o elo de ligação da luz nas trevas e era o ponto de onde a alma em atraso poderia começar a sua jornada de educação individual.
Com sua corte de discípulos, partiu de Porciúncula para o porto marítimo de Ancona, onde deveria tomar o navio para o Oriente.
Entre os companheiros de Assis havia uma forte agitação; todos queriam acompanhar o mestre, no sentido de dar:
testemunho preciso em favor da grande missão de Evangelização das criaturas, onde quer que fosse.
O Oriente era terra muito falada, e eles tanto queriam conhecê-la, como levar de volta a palavra do Divino Mestre, que, pela vontade de Deus, nascera naquela região, na Palestina, onde Seus discípulos e a Mãe Santíssima foram o cortejo de anjos que desceram dos Céus à Terra para que as profecias se cumprissem.
Quando Francisco chegou ao porto com os discípulos, surgiu um grande problema:
o da escolha de quem haveria de seguir com ele.
Não ficaria bem ele mesmo escolher, pois poderia suscitar ciúmes, o que seria o mais certo.
Mesmo dentre os Espíritos esclarecidos, o ciúme é qual gás finíssimo, que penetra nas aberturas mais subtis das almas.
Sem percebermos, sentimos ciúme de gente e de coisas, dependendo do momento e do que está em jogo.
Francisco, conhecedor dessas fraquezas humanas, sempre se apegava às palavras do Cristo, quando nos recomenda Vigiar e Orar para não cairmos em tentações; sentiu uma intuição benfeitora.
Teve a ideia de chamar uma criança que passava, abraçou-a e conversou com o garoto sobre as alegrias que poderiam levá-lo à felicidade.
O menino, educado, falou-lhe o nome de seus pais, onde morava e o que estava fazendo ali no porto.
O homem de Deus pegou a criança nos braços, beijou-a com ternura, colocou os discípulos em fila e falou com o garotinho:
- Meu filho!...
Quero te pedir uma coisa muito interessante para mim e para Deus:
que escolhas dentre esses homens, meus amigos, os que devem ir comigo para o Oriente, para a Terra onde nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo.
Deves escolher o que achares convenientes.
Vai, meu filho, fazer esse trabalho tão difícil para mim!
Colocou no chão o menino, que avançou uns passos em direcção ao grupo e a mesma mão de luz dos momentos decisivos de Francisco levou a mão do garoto a apontar doze dos discípulos, que choraram de emoção.
Os demais ajoelharam-se, agradecendo a Deus pela confiança dos Céus, de ficarem no lugar de Pai Francisco, com a grande responsabilidade na exemplificação do Evangelho de Nosso Senhor.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:59 pm

Francisco, tomado de alegria, tomou a beijar a criança, em gratidão aos Céus por aquele pequeno instrumento de escolha dos seus companheiros.
Despediram-se e partiram, uns para Assis e outros com o guia espiritual, demandando as águas que interligam continentes.
Francisco e seus seguidores viajaram mais de trinta dias no gigante de águas.
Obtiveram do comando do barco ordem para pregarem o Evangelho ao povo e trabalhavam todos os dias, por obrigação da consciência, na limpeza da casa flutuante.
Fizeram amizades, mesmo com os que odiavam a religião que se fixou no seio dos Césares, mostrando a todos que Cristo não era somente Guia dos que se diziam católicos, porém, O era de toda a humanidade.
Não era Pastor interessado em separações humanas; era, sim, a personificação do Amor que se irradia em todas as direcções do Universo.
O grande barco ia em direcção a São João D'Acre, lugar onde ficaram onze dos seus discípulos a pregarem o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele e mais um dos seus amigos do coração seguiram para o Egipto.
Em Damieta, encontraram os soldados da Quinta Cruzada, da qual faziam parte homens, mulheres e crianças, em uma verdadeira desorientação de comando.
Francisco, quando viu aquilo, sentiu o pulsar das ideias, procurou o comando e pediu para que eles voltassem.
A Cruzada não tinha sentido, nem condição de avançar, principalmente naquele momento, em que iria conversar com o Sultão Kamel, e tentar interferir nos seus conceitos sobre o Santo Sepulcro.
Infelizmente, o frade do Cristo não foi ouvido e a Cruzada foi totalmente destruída, derrotada e espezinhada.
Morreram milhares de criaturas, que derramaram o sangue em troca da defesa do Santo Sepulcro, onde não existiam nem as ideias de Jesus.
O sultão já tinha mandado cortar o pescoço de vários discípulos de Francisco, para que o povo sentisse a sua força e o seu poder.
Era uma guerra obsessiva, movida por Espíritos ignorantes, tanto de um lado quanto do outro.
Francisco nunca apoiou guerras, jamais pegou em armas para matar e o seu instrumento de guerra era a palavra, o seu quartel general era Cristo, e a sua defesa era o Evangelho no coração.
Se tivesse de dar algum direito a alguém, daria aos muçulmanos, porque eram suas as terras invadidas e eram ignorantes acerca do Evangelho que ilumina.
A herança deixada para a Igreja Católica Apostólica Romana era a herança moral de Nosso Senhor, e a defesa que ela, a Igreja, deveria fazer, era a dessa moral mas, com o exemplo da própria conduta, e não investindo sobre os direitos dos outros.
Dentro de uma religião de Amor não pode existir imposição de conceitos nem totalitarismo de ideias.
Francisco foi o exemplo máximo do Amor, dentro de um mínimo d compreensão, e ele era consciente, mais que todos, por que estava lutando e qual a finalidade da sua luta.
Os frutos dos Concílios, feitos em nome de Deus e de Cristo eram quase sempre para estabelecer ordens de vingança, manter a prepotência e matar quem não pensava como os representantes da Igreja autoritária.
Quem fazia estas leis eram homens de grande inteligência e de vasta experiência no campo da teologia.
Francisco era só, mas só, com Deus.
A graça de Deus dera-lhe uma multidão, na mesma sintonia do Amor, para acompanhá-lo, entregando a vida se fosse pedida, para que a Verdade tivesse condições de libertar as criaturas tocadas pelas emoções dos seus ideais.
Deus é Deus de todos que são Seus filhos. Por que investir uns contra os outros?
De que lado estaria Ele, se Seu Amor se dividisse como o sol e a chuva?
O Cristo veio como agente directo do Senhor, para fazer os homens compreenderem a intensidade dos direitos de cada um, na grande Fraternidade Cósmica.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 08, 2019 8:59 pm

Francisco via e sentia a presença da morte a rondar os guerreiros por todos os lados.
Estava como uma bandeira de paz em meio de uma guerra que, sabia ele, era um escândalo; no entanto, Jesus já dizia que era necessário o escândalo, mas ai daquele que escandalizasse.
A comunidade franciscana já compreendia e já tinha certo domínio sobre forças inferiores, alcançado no exercício das virtudes evangélicas.
Francisco obteve permissão dos dirigentes católicos para atravessar as fronteiras, onde os inimigos eram implacáveis.
Os sarracenos, na fúria do ódio contra os cristãos, destruíam-nos como animais; não tinham o menor respeito pelo ser humano, mormente aqueles que não fossem de sua religião.
Os sentimentos atravessam o tempo, no mesmo nível de ferocidade, nos seios das religiões e o Espírito atrasado, se fosse levado para planos superiores, é de conceito comum, que ele lá, seria o que é; ele, para onde for, carrega a sua inferioridade.
E a alma iluminada certamente não foge à mesma lei.
Francisco de Assis teve desassombro de ir ao encontro do Sultão Melek-el-Kamel com um dos seus discípulos, pela autoridade que o Amor lhe condena.
Era verdadeiramente um instrumento do Amor.
Os seus sentimentos eram como pistilos e a sua inteligência, estames da vida, que o tempo se encarrega de fecundar na consciência.
E eis que a alma, enriquecida nessa simbiose divina, levanta todas as forças para Deus, como mãos espirituais, e o verbo executa outra dinâmica de sons.
Neste arrojo de elevação, dá para entender que existe a felicidade, e quem respira nesse ambiente, como os santos sabem fazer, desperta para a realidade de Deus porque começa a conhecer a Verdade, e ela a libertar as criaturas.
Francisco era, por excelência, o medianeiro do Cristo; deixava, na sua ternura incomparável, transparecer a própria feição do Mestre.
O sultão foi avisa de que dois frades desejavam falar-lhe sobre a paz, e que um deles era Francisco de Assis, famoso cristão que viera da Itália, senão de Roma, para encontrar-se com Sua Alteza.
Kamel, no momento, teve ímpetos de prendê-los; no entanto, a ideia foi fugindo de sua agitada mente, e fê-los entrar em sua luxuosa tenda, onde musculosos servidores estavam de guarda.
Francisco era o Evangelho do Cristo e o sultão era no todo, as ideias de Maomé, onde reinava o Alcorão.
Quando Francisco entrou juntamente com seu discípulo Iluminato, conduzido por guardas sarracenos e o sultão pôs a vista nos dois homens simples, pés descalços e túnicas rotas, este explodiu em estrondosa gargalhada, que quase o sufoca em acesso de riso.
E falou impetuosamente:
- O que esses dois mendigos querem comigo?
Pensei que fossem dois agentes do Clero Romano, com as pompas que lhes cabe desfrutar!
E sorriu de novo.
Francisco, humildemente, pediu licença ao chefe muçulmano e, cumprimentando-o, beijou-lhe a mão com todo o respeito, desejando-lhe paz, no que foi secundado por seu companheiro.
O sultão ordenou-lhes que se assentassem e mandou servir refresco de frutas, perguntando-lhes em seguida:
- O que quereis de mim, vós que chegais até a minha tenda?
Quais os ventos que vos sopraram as ideias que me trazeis?
Falai logo, que não tenho tempo a perder, já que estamos em guerra.
Sei, por experiência própria, que conversa não vence batalha; os encontros são somente tréguas, senão alívio, para os que estão perdendo e sofrendo o guante dos fortes.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122371
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 11 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 11 de 13 Anterior  1, 2, 3 ... 10, 11, 12, 13  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos