LUZ ESPÍRITA
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 10 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 04, 2019 8:28 pm

E se nos harmonizarmos por dentro, que recebermos de fora vem por acréscimo de misericórdia.
Frei Morico, dispensador da alegria pura como sendo uma virtude e de luz , demandou com satisfação:
- Pai Francisco, o que é a fé?
O filho de Assis ponderou nos grandes feitos dos mais abalizados Santos, buscou a Jesus na Sua mais alta expressão de Santidade e afirmou:
- Frei Morico, a fé é a substância das coisas pensadas, nos ensina o grande convertido de Damasco.
Essa fé avança em todos os sentidos e sustenta a vida em todas as demandas dos homens e dos Anjos.
Onde não existe fé, não pode existir vida; 0 produto da fé é o milagre da vida.
A própria felicidade depende da fé, da sua presença marcante e subtil.
Não poderíamos estar aqui reunidos, com os objectivos que nos animam a todos, se não fossem alguns traços da fé.
A fé é, pois, uma força do coração que atrai aquilo que firmemente queremos, sendo infinito o seu campo de acção.
Assim como cultivamos na lavoura tudo aquilo que deveremos colher, é nobre e justo que devamos cultivar as virtudes no solo dos corações, que, se bem cuidado, os frutos não se farão esperar.
O ser humano é o que a sua fé determina.
Devemos unir os nossos pensamentos, buscando a rectidão dos sentimentos, para que na flor das ideias surja a fé, na glória de Deus e no reino de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Se estás triste, busca de novo o teu íntimo e verás que escapuliu, sorrateiramente, a tua fé.
Se sentes, por momentos que seja, ódio de alguém, certamente que a tua fé faltou.
Se falas mal de alguém, é certo que a fé não se fez presente em teu coração.
Se esqueces o amor ao próximo é, pois, a fé que te faltou nas entranhas do ser.
Se foste enredado pela ignorância, desfazendo-se das qualidades alheias, podes verificar que a tua fé está escondida nas dobras do ciúme.
Se não respeitas os direitos alheios, certo é que esqueceste a fé.
Se tu deixas passar despercebida a caridade, o que dizer da fé?
Se não te lembraste do Amor, nessas feições mais simples da vida, é porque te faltou a presença da fé.
E por isso, meu filho, que a fé é verdadeiramente a substância das coisas Pensadas, e essas coisas pensadas, para representarem a fé, haverão de ser seleccionadas pela presença do Evangelho, porque somente ele sabe dar rumos à fé pura, a fé cristã, à fé de que tanto falava Jesus e que repetiam todos os Seus discípulos.
O Próprio Evangelho é obra da fé.
Qualquer um de nós que a esquecermos, bem como as obras que a complementam, será um irmão que, mesmo andando, está morto, porque ensina a Boa Nova que a fé, sem obras, é morta.
É através dela que chegaremos ao Reino da Esperança.
Frei Sabatino, dotado da palavra fácil, interrogou a Frei Francisco:
- Pai Francisco o que é o Amor?
Francisco de Assis redarguiu com alegria, sob o beneplácito da virtude que ele tanto amou, desfrutando deste ambiente divino da sua própria conquista:
- Meus amados filhos!...
Esta pergunta do nosso irmão Sabatino nos lembrar sobremaneira do nosso Divino Mestre, em todas as Suas directrizes quando estagiou na Terra, porque Ele foi a personificação do Amor.
Ele é o Amor! Devem deixar bem entendido que o Amor tem ramificações variadas nas suas sequências de luz, mas a sua missão é libertar o homem e conduzi-lo para Deus, despertar todos sentidos das criaturas, de maneira que todos os seres humanos possam compreenda melhor a vida, conhecendo a si mesmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 04, 2019 8:28 pm

O Cristo, em três anos, descortinou Amor, mas a distância evolutiva entre Ele e nós é tão grande, que precisaremos de vários séculos para o compreender e começar a vivê-lo.
Se esta comunidade se desprender de todos os bens terrenos e não tiver Amor nada terá feito perante os nossos compromissos, com os Anjos que nos cercam-se somente pensar nas coisas boas, sem fazer o mal a alguém, nada terá realizado, no percurso das nossas exigências; se trabalhar dia e noite, e o que ganhar, doar aos que sofrem, se não tiver Amor, nada terá feito na conquista da verdadeira paz; se fizer jejum, quase todos os dias, em favor do bem-estar da colectividade, se não tiver Amor, na verdade vos dizemos, que nada terá feito para o bem das criaturas.
Se andarmos com uma só túnica, com somente um par de sandálias, desprezarmos os bordões, e não tivermos onde reclinar as cabeças, se não tivermos Amor, ficaremos todos como éramos antes, quando nada fazíamos; se orarmos dia e noite em favor de todas as criaturas de Deus, com toda a piedade que o sentimento possa expressar, se não tivermos Amor, nada teremos feito para aliviar e confortar os nossos irmãos; se desenvolvermos o dom de curar todos os enfermos e curá-los sem a presença do Amor, essa cura tornar-se-á mera vaidade, será uma cura morta, porque somente o Amor é vivo e dá vida, por ser proveniente da Vida Universal.
Peço a todos que aqui me ouvem que me ajudem a compreender o Amor e a consertar as minhas faltas no exercício do Amor, colocando esse meu Amor equivocado nas bênçãos da disciplina, para que o Cristo me visite e me ajude a amar.
Peço a todos vós, companheiros que sabeis amar, que me façais essa caridade, prendei-me, e mesmo me amarrai quando necessário, para que eu compreenda o valor do Amor para com Deus e o próximo.
O Amor é paz, o Amor é entendimento, é Caridade em todos os seu aspectos de educação e de sabedoria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 04, 2019 8:29 pm

19 - O Servo Querido
Certa época, conversando Jesus com os discípulos, anunciando a Sua ida para as regiões de luz junto ao Pai, João manifestou vontade de acompanhá-Lo, porque O amava muito, e o Cristo sentenciou:
Importa que fiques até que eu volte!
E João regressou novamente, no século doze, na personalidade de Francisco de Assis, para assentar as bases da volta do Mestre.
Foi ele quem abalou o mundo com a sua dignidade espiritual, com seu amor sem limites.
Foi ele o responsável pelo regresso de grande parte dos religiosos de todo o mundo aos ensinos primitivos do Evangelho.
A figura pequena e franzina de Francisco de Assis carregava consigo bagagem espiritual que deslumbrava Céus e Terra.
Veio viver o Cristo, para que Ele despertasse os corações dos homens.
Francisco de Assis é o mesmo João Evangelista em época e roupagem diferentes, o mesmo Espírito de luz, com a mesma missão sublimada de Amor, em nome de Deus e do Cristo, com a sagrada missão de reintegrar a Igreja Católica Apostólica Romana nos caminhos da humanidade e da renúncia, de fazer com que o Evangelho se esplendesse em meio à petrificação, na qual o orgulho e o poder temporal eram reconhecidos como verdadeiros senhores.
Ele foi como que uma carta do Mestre no envelope do corpo, endereçada aos homens de boa vontade que fossem capazes de lê-la.
Eis que a lei da reencarnação se faz presente mostrando a eternidade da alma, que volta às lides da Terra quantas vezes forem necessárias.
A grande agremiação já mencionada teve no mundo a importante tarefa de resguardar os preceitos do Príncipe da Paz.
Usou os meios que julgou necessários até que o Espírito de Verdade se revelasse pela revivescência do pergaminho divino.
No entanto, nesse grande intervalo, os Céus, na consciência de que não poderia ser esquecido o "Vigiar e Orar" do Divino Amigo, de tempos em tempos, enviaram à Terra equipes de Anjos.
Assim, a missão dos sacerdotes não ficaria esquecida em sua pureza.
Não foram essas as palavras do Alto, condensadas nos dez mandamentos revelados ao legislador hebreu - "Amar a Deus sobre todas as coisas"?
O Evangelho' deveria ser pregado à altura do entendimento dos povos, sem avanço temporário mas sem omissões.
Francisco veio suscitar nos cristãos e, em primeira linha, nas autoridades eclesiásticas, o Perdão, a Concórdia, a Humildade, a Fé, a Caridade, o Desprendimento e a Obediência, porquanto, a prática, aliada à teoria, é luz que a Esperança alimenta.
Não estamos aqui fazendo críticas à organização cristã, à qual o mundo e as criaturas tanto devem.
Estamos apenas mencionando os fatos e os meios usados pelo mundo espiritual, para preservar o Cristianismo dos ataques das trevas.
Antes, porém, é uma honra para os que tiverem olhos de ver, enxergarem a descida de tais mensageiros do Cristo no seio de comunidade como essa.
Lembramos que o Cristianismo primitivo ficou nas mãos da religião Católica, para que ela desse continuidade ao trabalho do Nazareno.
Na escola de virtudes preceituadas pela Boa Nova do Reino, a humanidade poderia encontrar os caminhos da verdadeira paz, pelos próprios esforços.
Entretanto, do terceiro século em diante, ela começou a desfigurar a mensagem do Cristo, não por acção consciente dos príncipes da Igreja de Roma, ou dos Imperadores da época.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 04, 2019 8:29 pm

Não houve culpa, tampouco, do povo inculto e insatisfeito, sendo antes esquema da própria evolução...
Como entender a ciência da vida, sem pelo menos assimilar a ciência da Terra?
Como amar, sem compreender para que serve o amor?
Se a massa humana era representada, em sua grande maioria, por ignorantes, de quem a culpa?
Se aceitamos a evolução, e se fomos criados simples e ignorantes, sujeitos ao progresso, tudo está correndo segundo a previsão de Deus e Jesus Cristo.
Nenhuma engrenagem saiu fora dos seus limites de acção.
A religião mais acertada é a que mais concita ao amor.
A verdadeira religião é aquela trabalhada pelos sentimentos, no templo do coração.
Ninguém é dono da Verdade; ela se impõe por si mesma, por lei irremovível da evolução.
Uma religião que aponta defeitos de outra não deveria se chamar religião, mas, sim, escória os sentimentos mais grosseiros, drenados pela ignorância humana.
Todas as religiões são raios do mesmo Deus, com esquemas variados, a fim de despertar nos homens, a natureza divina, programada em seu íntimo, pelas mãos do Criador.
Francisco de Assis e António de Pádua compuseram uma das equipes angélicas que desceram dos páramos celestiais para espiritualizarem a humanidade, e nome d'Aquele que sempre foi a luz das consciências.
O primeiro, nascido em Itália, e o segundo, em Portugal que, entretanto, se fez romano pelo coração.
O nome e a fama de Francisco medravam em todas as províncias e nas consciências dos homens.
Era uma presença consoladora e uma fonte de Amor.
Foi tomando vulto no seio dos principais sacerdotes da época e sendo respeitado por políticos famosos.
Era amado em todos os reinos da natureza:
os peixes ouviam suas pregações pela sensibilidade que lhes é própria, as aves cantavam hinos de louvor e assistiam às suas dissertações evangélicas, sem nos esquecermos da conversão do lobo bravio em cordeiro inofensivo.
Eis a estupenda força de um ser humano, que tanto amou e continua assistindo a humanidade!
Embora os contraditores quisessem abafar a voz e a obra do missionário de Assis, os seus feitos sobreviveram a todos os embates das sombras.
Arregimentou forças de modo indescritível e quebrou as amarras, tanto do lar quanto do mundo, dos seus amigos e do próprio clero vigente, para apresentar-se como cidadão livre, diante da consciência e de Deus, porque era obediente ao Cristo.
Francisco de Assis tinha em mira um ideal que, por ordem da consciência profunda e da vontade de Deus, avolumava-se cada vez mais em seu coração:
Servir ao Cristo, custasse o que custasse.
Tinha, como armas para se defender, a Humildade e o Amor, a Obediência e o Desprendimento.
Enriquecera seu campo de lutas, enfraquecendo todos os inimigos que porventura surgiram em seu caminho, tanto os de ordem física, quanto os de natureza interna.
Tinha, ao mesmo tempo, o alcance divino e humano, pois entendia com facilidade as duas naturezas, em seu mais alto grau de sensibilidade.
Apoderava-se de forças em regime de amor para o bem comum de todas as criaturas.
Nunca esmorecia; era a Caridade presente, onde ela fosse necessária.
O coração de Francisco, na opinião de um abalizado teólogo, pouco lhe habitava o peito - era um andarilho nas trevas do mundo, como fonte de luz eterna.
O mundo se contorcia em dor, qual mulher em difícil processo de delivrance.
As trevas ocupavam lugar de destaque, até mesmo em certas direcções do cristianismo.
Era imprescindível a vinda de grandes missionários, como ocorreu com avinda de Francisco de Assis, com uma corte de companheiros, para reactivar o ideal cristão, não abruptamente, mas num trabalho paciente e de renovação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 04, 2019 8:29 pm

O vidente de Patmos regressou, fulgurante e feliz, por ver o cumprimento da Profecia do Divino Amigo, quando lhe determinara:
Importa que fiques, até que eu volte.
João ficara na atmosfera da Terra, como vigilante, medindo e temperando o calor evangélico, para que as ideias do Mestre não desaparecessem, como sói acontecer aos pais em relação aos filhos menores.
Depois de estruturadas as ideias de renovação, que avançaram em todas as direcções dos continentes, ele mesmo, depois de voltar ao Palco espiritual, em nome de Jesus, patrocinou a vinda de Martinho Lutero, Calvino e outros, para que o Livro Sagrado fosse conhecido no mundo, por todas as criaturas, em distinção, ainda que através de sequentes processos dolorosos.
A obra foi irrigada, adubada, colorida, que é a seiva da vida humana e que corre nas veias do complexo lógico.
Não fora isso, a religião que tinha em mãos o tesouro divino e o maior património da história - O Evangelho - desnortearia as consciências torcendo a Verdade de maneira mais propícia à vaidade e ao orgulho.
Entretanto, isso não ocorreria devido à presciência do plano espiritual, que enviou o socorro, desviando o curso das intenções indignas, mostrando o valor da personalidade do Cristo.
As trevas estabeleceram a Inquisição.
A luz, porém, usou-a para enviar os próprios inquisidores em direcção a outras casas do infinito, de acordo com os seus interesses imediatos.
Se João Batista foi o precursor do Messias, Francisco de Assis e Lutero foram os precursores de Allan Kardec.
Sem eles, não seria efectuada a limpeza do ambiente para o plantio de novas ideias, na fecundação da liberdade de sentimentos que influenciou o mundo inteiro, e a Doutrina Espírita não sobreviveria, porquanto a vaidade humana estabelecer-se-ia em todos os países - como ocorreu em alguns - com a oficialização de estreitas ideias doutrinárias.
Mas Cristo - comandante do orbe terreno - fez com que fosse cumprida a vontade do Todo Poderoso, nos seus mais simples detalhes.
As palavras de Francisco de Assis, de pureza e de alegria, de simplicidade e de amor, embelezavam todo o ambiente, tomando a vida plena de Fé e de Esperança, como um céu nos campos da Terra.
Mostrava o porvir da humanidade com os recursos do presente, abrindo para o mundo e para os homens novo capítulo na história, enriquecendo a vida e o nome de Jesus.
A poluição, naquela época, já se fazia visível na mente e no coração, de maneira a impedir que os raios do sol espiritual aquecessem os filhos da Terra.
Francisco tivera a missão sublimada de ensinar vivendo e de viver ensinando.
Seu exemplo era força poderosa a despertar o interesse do Bem em todas as criaturas, mesmo naquelas que portavam altos cargos nas comunidades religiosas.
A evidência dos factos, dos fenómenos e dos exemplos cristãos tomavam-no cada vez mais agigantado no conceito popular, pois era realmente um homem de luz nas trevas da Terra, tendo fundado várias ordens religiosas, tanto para homens quanto para mulheres.
Procurou o meio prático de mostrar aos "doutores da lei" da Idade Média, como deveriam reviver os preceitos do Grande Mestre, quase que totalmente esquecidos na vivência de então, para que seu trabalho pudesse atingir todas as classes...
Sua maior alegria era fazer com que o rebanho de Jesus ouvisse de novo a voz do pastor, pelos recursos já estabelecidos.
Tinha imediata ascendência sobre seus comandados e superiores, pela irradiação de Amor que seu coração fornecia, saindo do símbolo do certo que impunha às consciências orgulhosas e vaidosas, pois, a sua vida recta desconhecia vícios morais.
Diante de sua personalidade superior e de seu grande Amor, os Espíritos menos aquinhoados de luz se sentiam diminuídos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:28 pm

Os propensos à humilda reconheciam a oportunidade da Renúncia, adquirida junto ao mestre.
Os mais ignorantes explodiam em ódio que se transformava em vingança, buscando impe toda a frente de trabalhos evangélicos alicerçados no cristianismo primitivo.
Mas quando lhe ofereciam barreira, o poeta dos pássaros as transpunha pela escada das virtudes.
Confeccionava em cada degrau, como carpinteiro divino, uma qualidade herdada dos ensinos do Cristo, e a prece o fazia esquecer-se imediatamente de todas as injúrias, que transformava em forças para a edificação sem limites.
Francisco sentia inamovível atracção pelo Apocalipse.
Quando lia a grande reagem dos fins dos tempos, sentia-se envolvido por sublime arrebatamento, e, regresso ao passado, se via na Ilha de Patmos, rodeado por luzes inexplicáveis e por vozes ininteligíveis.
Quisera, em várias ocasiões, explicar as visões das profecias; nunca pudera fazê-lo, pois havia sempre um quê fazendo-o esquecer-se de sua ardente vontade.
Os discípulos mais chegados adivinhavam-lhe o pensamento e a intuição lhes fazia crer que a Providência Divina não achava conveniente ainda o total esclarecimento.
Certa feita, trocando ideias com o irmão Leão, seu colaborador mais chegado, homem inteligente e probo, espírito já desembaraçado do cipoal da ignorância humana, assim se expressou:
- Frei Leão, em dados momentos me sinto transportado para o Oriente, ocupando um lugar, que me parece uma blasfémia mencionar, mas sinto constituir um dever relatar para quem me ouve com toda atenção e carinho.
Acho justo que participe dos meus anseios mais íntimos que às vezes, me levam à felicidade, somente em pensar.
Quando os meus dedos tocam as sagradas escrituras, uma força que desconheço os leva às profecias de João Evangelista, e quando as leio, me recordo de algo estranho, e quando recordo, já sinto o que está escrito e, nesse transe, me sinto o Evangelista na Ilha de Patmos.
Depois, me vejo vivendo em Éfeso, na grande Igreja mencionada e escolhida como uma das sete casas de Deus, na Ásia Menor.
Nesse êxtase, tenho em Maria Santíssima minha própria mãe e sinto-a - este é o fenómeno interessante - ao meu lado, com aquela ternura que deve ser peculiar ao coração da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vejo, pelos canais do sentimento, que discípulos do Mestre são meus companheiros, e tenho o Cristo como se fosse meu pai e minha mãe - algo divino que faz parte íntima de mim mesmo.
Silenciou, dando tempo ao tempo para que as recordações pudessem aflorar a sua mente.
Frei Leão começou a escrever tudo o que ouvira de seu mestre e este, percebendo, caiu de joelhos e pediu com humildade ao seu discípulo:
- Irmão Leão, rasga em nome da prudência o que anotaste.
Meu filho, em nome do Amor, rasga... porque não somos dignos de merecer tanto da misericórdia divina.
Imprimiu tanta humildade na voz, que Frei Leão não suportou.
Com pesar, desfez-se dos escritos, mas pediu ao companheiro e mestre que continuasse a narrativa das recordações conscientes dos fenómenos transcendentais.
Francisco levantou-se satisfeito, beijou as mãos do frade amigo, passou os olhos pelos céus, como que buscando os factos mais vivos no inconsciente e continuou:
- Frei Leão, desde o advento do Evangelho, pelas mãos do Baptista deserto, do seu preparo, do cultivo dos caminhos para que o Nazareno encontrasse os meios pelos quais pudesse pregar a Boa Nova do Reino de Deus, do sacrifício a que se submeteu, em garantia da Verdade que anunciava, até o Calvário.
Na verdade, meu irmão, nenhum destes acontecimentos são ocultos para mim.
Eu os vejo na hora em que pretendo, ou em momentos inesperados.
Vejo-me pregando o Evangelho do Reino em épocas recuadas com uma nitidez que não deixa dúvidas de que vivemos naquele tempo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:28 pm

No mesmo instante, sinto dentro do peito uma força, um comando gigantesco na mente, que diz termos trabalhos mais urgentes a fazer dentro da comunidade a qual pertencemos, antes de anunciar essas verdades que operam como transformadoras de consciências e reformas de conceitos, derrubando concepções milenárias.
Frei Leão, perdoa-me se com isso estou querendo ser o que não posso, buscar o que não consigo achar, e bater em portas que a altura não me favorece, que as minhas frágeis mãos não podem tocar.
Perdoa, irmão, se o que falo é imprudência.
Se, porventura, sentes que minto, espanca a minha boca, pelo impulso que as mas dedicadas mãos sofrerem dos sentimentos, que serei escravo obediente ao castigo.
E a ternura que imprimia às palavras era tão sincera, que Frei Leão, que não era muito dado às lágrimas, chorou sem interrupção.
Procurou se controlar, mas não conseguiu, pois a grandeza e a humildade daquele ser tão franzino e pequeno, eram tão grandes, que o frade sentia-se um verme diante dele.
Com muito custo, pronunciou estas palavras:
- Irmão Francisco, sois para nós da comunidade, se nos permitis declarar, o nosso Pai.
A vossa boca nunca fala blasfémia, vossa voz é carregada de Amor e a cadência nos eleva à Verdade, colocando Deus sobre todas as coisas e Cristo como Instrumento Maior, pelo qual devemos passar para encontrar a Paz.
Se desejais que não escreva tudo o que falais, não o farei; mas estou certo de que não podereis impedir que vossa voz fique para sempre no meu coração, de sorte que as possa ouvir quando pretender.
Não me espanto com o que acabais de revelar-me, pois já era bastante familiarizado com essa lei de permutas corporais.
Os corpos são como água e sabão que, cada vez mais, fazem a alma iluminar-se.
No entanto, carregava algumas dúvidas, que foram sanadas pela vossa própria experiência, na qual confiava sem discussões, porque conheço vossa dignidade diante do Cristo e de Deus.
A flor mística de Assis abençoou o seu discípulo, passou de novo suas pequenas mãos nos cabelos de Frei Leão e falou com alegria:
- Leão, uma inteligência anda a passos largos em busca do coração, e quanto a mim, não sou digno de assistir ao encontro destas duas forças em ti.
Que Deus nos abençoe.
Frei Leão, sentindo fome das verdades espirituais, implorou ao seu mestre que continuasse a falar...
E pediu licença para lhe chamar de Pai Francisco.
Quando mencionou pela primeira vez, esse Pai Francisco, correu por toda a espinha de Poeta de Assis uma força inexplicável que, espraiando-se na sua mente, liberou recordações que pareciam misturar-se com a vida presente.
E, num átimo, recordou um turbilhão de coisas, conservando-se, porém, calado diante da proposta de discípulo.
Frei Leão desafogou o coração como pretendera. Tomava Francisco, daquele dia em diante, Pai de toda a comunidade.
Francisco tocou levemente com os dedos, como era seu costume, no colaborador, e começou a caminhar, sentindo a natureza festejá-lo com os fenómenos comuns, e ao mesmo tempo transcendentais para quem tem olhos de ver.
O filho de Assis, quando pousava seus dedos no companheiro, comprimia, se assim podemos dizer, algum botão espiritual, e ligava a sensibilidade do frade, para que ele pudesse ouvir o Céu e as melhores confirmações de suas pesquisas pessoais.
Observando-se espiritualmente, quando tocava Frei Leão, imprimia na mente do discípulo, sem que o percebesse, uma força espiritual sobremodo inexplicável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:29 pm

A aura do frade tomava proporções descomunais, a sua inteligência se desatava como se tivesse duas cabeças, e, diante de sua lógica, nada escapava.
Era um conforto ouvi-lo, pois a sua linguagem clássica ultrapassava o comum dos mortais.
Nessas horas, o verbo de Frei Leão tomava uma tonalidade e alguém articulava por intermédio do companheiro.
E Frei Leão começou a dissertar:
- Francisco, as experiências que estais vivendo de Francisco revivendo João, devem-se ao facto de João Evangelista ser o mesmo Francisco de Assis dos nossos dias - essa é uma lei que grande parte da humanidade desconhece, mas que ainda não é hora de propagar no seio dos fiéis da Igreja, de que temporariamente fazeis parte integrante.
A vossa presença e a de vossos companheiros aliviará a depressão de sentimentos, dando um toque de esperança nas vigas basilares da doutrina que começa a ruir.
E de vosso conhecimento que os livros sagrados, todos eles, sejam do Antigo Egipto, da índia e da China, dos iniciados da Caldeia, e mesmo da Grécia e de Roma, inclusive a própria Bíblia, menciona com nitidez as transmigrações das almas de corpos em corpos.
Basta recordar alguns tópicos, Para maior elucidação.
Lembremo-nos de quando Nicodemos procurou o Cristo, informando do Mestre qual o melhor meio para entrar no Reino dos Céus.
A resposta foi Nascer de Novo.
É certo que o nascer de novo não significa que poderemos nos transformar sem que haja tempo suficiente, e uma só existência, na Terra, comparada com as necessidades do Cristo, não representa um segundo no relógio da eternidade.
Então, para nos modificarmos é imprescindível vivermos muitas vezes no mundo, em corpos diferentes e em épocas variadas.
Frei Leão, tomado por uma inteligência fora da matéria, que Pai Francisco identificara de pronto, pois era acostumado a esses transes, respirou profundamente, fez silêncio, como de costume nos grandes assuntos.
Mestre Francisco, mudo e lúcida mente agindo como um bem aparelhado laboratório, analisava frase por força do que ouvia, tirava suas conclusões e falava baixinho ao ouvido do sensitivo:
- Continuai, meu filho, em nome de Jesus, dizei o que viestes dizer e que Deus nos abençoe.
Prosseguiu Frei Leão:
- Confrontando Malaquias, no fim do velho testamento, com a afirmação do Cristo de que João Batista era o Elias que haveria de vir, a razão nos favorece a mesma ideia - que poderemos nos revestir de quantos corpos forem necessários para a nossa felicidade.
Santo Agostinho, um dos pais da Igreja a que pertenceis, deixa entender a sua ascendência sobre a multiplicidade das formas, por uma só alma.
Jó fala abertamente da mudança de corpos e Moisés conhecia isso a fundo, pois era iniciado nas escolas do velho Egipto.
Buda ensinava esta verdade abertamente para seus discípulos.
Sócrates, o mestre por excelência da filosofia espiritualista, conhecia a lei das vidas múltiplas, e seu discípulo Platão encontrava nas vidas sucessivas a justiça de Deus.
Pitágoras viveu trinta e tantos anos na Caldeia e no Egipto, no meio dos grandes mestres e místicos consumados, e não tinha dúvidas sobre esse assunto, para ele muito comum.
Confúcio, o grande sábio chinês, era familiarizado com a volta do Espírito à carne, quantas vezes fossem indispensáveis, tendo a carne como um filtro ou esponja, de modo a absorver as impurezas da alma.
Alguns Sumos Pontífices acreditavam na volta do Espírito em outros corpos, compreendendo que a dívida que fizeram na Terra tinha de ser saldada na mesma Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:29 pm

Por que a vossa comunidade, Francisco, vai ignorar essa lei?
É justo que tenhais prudência, porque estais comandando um tipo de almas com estruturas diversas das nascidas no Oriente.
Que Deus nos abençoe para sempre. Adeus.
Frei Leão despertou meio confuso, mas notou ao seu lado Pai Francisco, que logo mudou de assunto procurando distraí-lo, mostrando-lhe o encanto da natureza.
O homem de Assis conhecia a lei da reencarnação, mas manteve relativo silêncio, por notar a intransigência da Igreja Católica Apostólica Romana ante esse dogma transcendental, que vigora em todos os mundos e sobre todas as coisas viventes.
Sentiu que a sua real missão era introduzir o Perdão, a Humildade e o Desprendimento seio de toda a comunidade cristã, porquanto ele já era olhado pelos príncipes Igreja como quase um herege e seria ainda mais, se falasse das vidas sucessivas verdade que abalaria todos os dogmas de fé da religião oficial de Roma.
O franzino gigante de Assis era avindo com a Igreja a que pertence quando as bulas e pastorais ensinavam o Amor e a Caridade; porém, se saíssem do clima do Messias, da pureza que o mundo e os homens podiam suportar, ele se perdia no oceano da sua grande humildade, os impulsos do cristianismo primitivo lhe subiam à mente e o coração batia descompassado.
No entanto, o poder grandioso de obediência que vibrava em sua alma fazia com que entrasse no padrão do mais temo equilíbrio.
Todavia, não diante dos seus superiores, e a favor da pureza doutrinária âmbito que lhe competia viver, dava a sua opinião.
Sabia que influía sobremaneira as consciências dos fiéis, e por esse senso de justiça e de equidade, de elevação dos conceitos cristãos, era respeitado pelos representantes do clero mundial, e até, muitas vezes, temido.
Sabia como mestre, interpretar os textos sagrados, e tinha inspiração directa sobre as leis espirituais que deveriam ser difundidas, principalmente na região que lhe servira de berço.
Dosava de tal maneira o seu não, frente aos mais abalizados sacerdotes, que lhes faltavam forças para o combate directo.
E com isso, o poder e o nome do cantor divino granjeava amizade na sua pátria e fora dela, pela força do Amor.
A comunidade de Francisco somou mais de duzentos mil franciscanos empenhados em fazer conhecido o Cristo, não aquele Mestre crucificado e sofrido.
Levavam um Cristo alegre e operante, sábio e livre da ignorância humana, a todas as nações.
E Frei Leão, o mesmo Pátius que acompanhara João Evangelista à ilha solitária, cujas faculdades atingiram o ápice, continuou servindo de instrumento para servir o mestre a quem tanto amava.
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 10 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:29 pm

20 - O Encontro Sublime
Foi na Igreja de São Rufino o primeiro encontro espiritual de Clara com Francisco.
Ele, naquela noite memorável, se dispusera a falar aos irmãos de Assis.
Formosa, nos seus dezassete anos, ela era dona de altos sentimentos, que embelezavam e iluminavam a sua própria alma.
Era dotada de candura inexplicável e sua formosura atraía os olhares, por ser sua beleza uma nesga por onde passavam as claridades espirituais.
Seus olhos mostravam a quem os contemplasse, a existência do céu e, se não for demais comparar, pareciam duas estrelas, senão sóis, que prometiam a mais alta esperança aos sofredores e aos que se apaixonavam pelos mistérios.
Seus cabelos pareciam luminosos, como que servindo de antenas da alma, que buscavam inspirações mais altas para falar aos homens, em todas as direcções do entendimento.
Clara era uma ave do céu a pousar na Terra, onde a ignorância se encadeava em todos os países, onde as próprias religiões manifestavam poderes extraordinários, formando guerras e levantando tribunais, cujos frutos eram o sofrimento e a depravação, em nome d'Aquele que era todo Amor e Perdão.
Clara era uma flor da mais pura árvore da vida - a árvore do Amor.
Francisco, vivendo na mesma cidade em que nasceu essa moça encantadora, a conhecia desde menina, pois também era de família abastada.
Porém, o empuxo espiritual destes dois seres somente se deu, quando ele falava no templo de São Rufino.
Francisco estava acompanhado de vários companheiros de trabalhos espirituais, que o secundavam em orações, e o silêncio era a tónica do ambiente.
Comunidade já se encontrava preparada para todos os avanços, no sentido de pregar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Foram seis meses de convívio.
Francisco, em regime de urgência, como lhe pedira Jesus, e a amostra de capítulo anterior correspondia a uma noite de permuta de experiências, onde a intuição era mais visível do que a própria presença dos frades.
Francisco, sem querer, foi levado, pela destra, para local de destaque na ena capela, por Frei Leão, que lhe sussurrava ao ouvido:
- Frei Francisco, fala, homem de Deus!
Fala ao povo que se comprime c anseia pelo teu verbo!
Frei Luiz, notando que o momento era propício para novas revelações, chegou igualmente junto a Pai Francisco e falou com contentamento:
- Fala, Francisco, das visões que sempre tens, das almas que te pedem para que vás às cidades onde, quando no corpo, moravam.
E Frei Luiz insistiu muito ao ouvido de seu companheiro, pedindo que começasse o discurso com a citação de Atos dos Apóstolos, capítulo dezasseis, versículo nove.
Francisco iluminou os olhos e cresceu em entendimento, pela lembrança de Frei Luiz.
A Igreja estava cheia, e do lado de fora acotovelava-se a multidão para ouvir-lhe a palavra.
Sozinho, em pequena saliência à guisa de tribuna, falou com simplicidade:
- Minhas irmãs, meus irmãos em Jesus!...
Que Deus nos abençoe e ilumine a todos e que nossa Mãe Maria Santíssima nos proteja sempre.
Quero iniciar minha fala, citando passagem evangélica, conforme solicitado pelo nosso amado companheiro Frei Luiz.
E prosseguiu, repetindo a passagem sugerida por Frei Luiz:
- A noite, sobreveio a Paulo uma visão, na qual um varão macedónio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedónia e ajuda-nos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:29 pm

Pelo que nos mostra o Evangelho, há grande preocupação das almas, para que ele seja pregado onde elas nasceram, na terra em que elas tiveram, pela primeira vez, a visão dos céus e das estrelas, e respiraram o ar, beberam a água e se alimentaram.
Quem tem coragem de contradizer Paulo, nesta assertiva divina?
Podemos é Calar, como fizeram tantos outros, mas não vamos fazê-lo.
Vamos, sim, falar!
Digo-os, com todas as forças de minha alma, que eu também ouvi, não por merecimento, mas por misericórdia; não por ser agraciado, mas por compaixão de Deus; não por ter algo de bom à colectividade, mas por ser o mais necessitado dos homens.
Ouvi, meus irmãos, muitas vozes a me dizerem:
- Francisco, venha pregar com os seus companheiros também em minha casa.
Recebi pedido para pregar em:
Arezzo, Siena, Florença, Toscana, Lorena, Salerno, Sorbaia, Lecce, Cassino, Verona, Vicenza, Pádua, Veneza, Ravena Brescia, Génova, Fiesole, Espoleto, Osimo, Ancona. Rieti, Perúsia, Bárb até mesmo em Roma.
Esperamos visitar esses lugares em nome de Deus sob as bênçãos de Jesus Cristo.
Nas vibrações desta fala, Francisco identificou dois grandes olhos o fitavam com ansiedade.
Clara o olhava hipnotizada pela sua palavra eloquente e pela sua presença simples.
As poucas palavras que dissera encadeavam-se em torrentes de esperanças para o coração daquela jovem deveras fascinante.
Ao olhar para Clara, Francisco sentiu emoção diferente da que os jovens comumente, sentem ao avistar o primeiro amor.
A emoção estava mesclada, corria o mais puro sentimento:
aquele amor que desconhece o ciúme, no qual não há vaidade, onde não existe paixão, onde desaparece o egoísmo, não se pensa em orgulho, e não se fala em imposição.
Clara estava ali como uma flor, ao encontro do sol, do vento e da água e quando notou que Francisco a fitava em demorada contemplação, esqueceu-se da vida, sentindo-se banhada por um sopro divino, envolvida pelo olhar que nunca mais esqueceu. Sua emoção espiritual transmutou-se em felicidade para Francisco de Assis, que deu continuidade ao seu sermão, com serenidade:
- Minhas irmãs, meus irmãos em Jesus Cristo!
Além de fazer a vontade destas almas de todos esses lugares que nos pedem para pregar o Evangelho em suas terras, vamos cumprir outro mandato que o próprio Evangelho nos pede e nos ensina em favor dos que sofrem e dos que choram.
Ouvi do nosso querido Frei Luiz, que possui memória privilegiada, o registro de Paulo em sua primeira epístola a Timóteo, no capítulo quatro, versículo quatorze:
Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concebido mediante profecia com a imposição das mãos de presbítero.
Vamos impor as mãos nos enfermos, pedindo a Deus, para eles, a cura.
Vamos impor as mãos nos endemoniados, para libertá-los das angústias.
Vamos impor as mãos sobre os encarcerados, para que eles melhorem os corações e sobre os infortunados, para aliviar os seus fardos.
É do agrado de Jesus Cristo que nos confraternizemos uns com os outros, amando os nossos semelhantes como a no mesmos e amando igualmente a Deus.
A Comunidade de que fazemos parte tem o dever de levar a esperança aos sofredores, pão aos famintos, vestes aos nus, consolo aos encarcerados, o maior dever em Jesus Cristo de dar o exemplo de amor antes da palavra, caridade com obras, porque desta maneira poderemos comover os que estão nos palácios, fartos de tudo, mas, inquietos de consciência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:30 pm

Vamos amar! Temos de amar constantemente, sem nada exigir, para ver se comovemos os políticos, os teóricos religiosos e os ociosos da ciência, no que tange aos direitos humanos, ao nivelamento das criaturas de Deus.
Temos de viver juntos com todos os infortunados, dia-a-dia, para que eles também passem a compreender a grande necessidade da educação, da Veraneia e da confiança em Deus.
O orgulho no rico é esperado, mas no pobre é falta grave, porque a pobreza já instrumento para que o pobre entenda o valor da verdadeira humildade.
O egoísmo no rico é esperado, mas o pobre egoísta comete falta grave, porque a pobreza no sentido a que nos referimos, é para educá-lo nas linhas do desprendimento.
Meus filhos, amamos a pobreza fielmente, mas não a inércia; amamos a pobreza, mas não a miséria nem a sujeira; amamos a pobreza, mas não a ignorância.
Deus nos criou no seio da abundância de tudo o de que precisamos; contudo, na fase que atravessamos, devemos renunciar ao que sobra, repartir o que temos, doar o que vem a nossas mãos para os que sofrem e padecem em todos os rumos, para que Deus, no amanhã, nos coloque no paraíso, onde nada nos faltará, porque aprendemos a lição de Amor.
Vamos começar por nossa casa.
Nós que nascemos aqui nesta linda cidade de Assis, onde nos foi dada a luz, temos o direito a um tecto, o direito de nos alimentar, beber, nos distrair, de viajar e de nos confraternizar entre famílias.
Todavia, esse mesmo direito abre a nossa frente um extenso roteiro de deveres que, por vezes, nos esquecemos de cumprir:
do trabalho honesto, da educação constante, da disciplina diária, do perdão incondicional, da amizade, do respeito às leis de Deus e dos homens, da paciência com os ignorantes...
E ainda os deveres maiores de falar sem ferir, de ouvir o que não desejamos sem revolta, de pensar coisas nobres, de escrever páginas instintivas, de respeitar a natureza, de amar aos animais, de silenciar ante os males alheios...
Se não for para observar essas regras, o que viemos fazer nesta Igreja?
O que viemos fazer nesta comunidade onde se reúnem muitas criaturas em nome de Deus, de Cristo, e de nossa Mãe Maria Santíssima?
O que vale decorarmos orações e mais orações neste templo de Deus, se ao sairmos daqui não toleramos uma pisada, uma agressão inimiga, um insulto dos que nos odeiam, um marido nervoso ou uma mulher desajustada, um filho depravado ou um parente que não nos tolera?
Viemos aqui, meus filhos, para buscar forças, no sentido de restabelecer em nós a tranquilidade diante de todos os infortúnios, e vencer todos os obstáculos.
Bem sabemos que a nossa natureza é animal, que os nossos instintos são inferiores e agressivos, e que essa educação somente deve partir de nós, pois os valores da alma, depois que Deus no-los deu, são conquistas do nosso próprio esforço de cada dia.
Deus e Cristo nunca nos abandonaram, mas Eles não podem e não devem fazer o que a nós cabe realizar.
Quem ler e entender o Evangelho em espírito e verdade, encontrará nele Deus e o céu, os Anjos e o próprio paraíso, tudo a nos esperar, aguardando que mos a nossa parte, para recebermos o prémio da felicidade.
Nada existe desprezado no amor de Deus, que espera de nós a compreensão, e ainda nos dá meios de compreender.
Vede a bondade de Deus na eternidade!
Fez uma pausa, olhou para todos os assistentes, e tomou a encontrar os olhos de Clara fitando os seus.
Sentiu o coração diferente e entendeu que aquela prece não era igual às outras.
Existiam fios invisíveis interligando seus sentimentos, senão os corações que pulsavam no mesmo ritmo.
Era o Amor mais puro que se poderia pensar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:30 pm

Clara, naquele instante, sentiu que o mundo era pequeno para que pudesse trocado por aquele momento de felicidade.
Encontrou ali o que procurava no imo d'alma.
Aquele Francisco, filho de Bemardone, homem opulento, dos mais ricos de Assis, era um nobre que trocara a nobreza para sentir a humanidade, e viver sem família definida, tendo, em todos os lares, o seu próprio lar.
Aureolado por cambiantes de luzes indescritíveis, Francisco tomou a falar, com bondade e carinho:
- Queridos filhos espirituais!...
Como é bom conviver convosco neste ambiente de fraternidade legítima!
Encontro em cada criatura que me assiste por bondade, a segurança de que preciso para as tarefas que me propôs Nosso Senhor Jesus Cristo.
Peço a todos que me ouvis que, ao saírdes daqui, não vos mostrais desinteressados pela luz do coração.
Procurai na sequência das horas, melhorar em todos os sentidos e anular o mal que ainda existe em cada um de nós, como princípio de ajuda ao Bem que deseja entrar em nossos corações.
Se estamos acostumados a chegar em casa, altercando com os nossos familiares, que sejamos brandos ao falar e pacientes ao ouvir, nunca exigindo dos que ficaram sujeitos ao peso da vigilância de um lar.
Procurai ajudar no que for possível, ao chegardes em vossas casas.
Vossas consciências dirão o que deveis fazer para a própria tranquilidade e não queirais impor o que aqui ouvistes aos que aqui não estiveram.
O melhor meio de ensinar é, pois, o exemplo.
Se fordes empregados, procurai amar o patrão e ajudá-lo, porque ele de qualquer forma, está vos ajudando a viver.
Se fordes patrões, não vos esqueçais dos vossos empregados, porque eles estão vos ajudando a manter o vosso padrão de vida.
Vamos confiar mais em Deus e obedecer às Suas magnânimas leis.
Se trabalharmos em favor do Bem, esse Bem virá ao nosso encontro, esta é a lei.
Sou o mais necessitado de aprender, e aceito corrigendas daqueles que queiram me corrigir, pois quero aprender com Jesus.
A nossa comunidade cristã vai partir, através dos seus seguidores, dos seguidores do Cristo, para toda parte do mundo, pregando o Evangelho e procurando vivê-lo, para que a luz do Amor e da Caridade cada vez mais se acenda em favor de todas as criaturas.
Muitos querem nos seguir, e não exigimos que o façam, mas os que vierem deverão obedecer às regras apoiadas por Sua Santidade, o Papa Inocêncio III, com beneplácito da Igreja de Deus, através seus mais abalizados representantes.
Francisco emudeceu o canto Evangélico.
Uma brisa suave correu no recinto da Igreja e um leve perfume aromatizou o ambiente do templo e todos sentiram conforto nos corações.
Neste enlevo de pregador, o homem de Assis apoiou seus joelhos nas lisas pedras do piso acolhedor e orou com emoção num gesto de humildade, no que foi acompanhado por todos os assistentes:
- Grande Artífice da Verdade!...
Aqui estamos, nesta casa do teu coração, como servos penitentes em busca da perfeição, e queremos encontrar os meios, que nos fogem da razão.
Pedimos-Te a paz, Senhor, mas que ela não nos venha na feição da preguiça.
Pedimos-Te a luz, mas não permitas, Senhor, que ela nos leve a cruzar os braços no conforto das claridades.
Pedimos-Te, Senhor, que nos ajudes a perdoar, sem nos afastar aqueles que, por vezes, nos ofenderam.
Pedimos-Te, Grande Força do Universo, Amor, mas muito amor, sem que ele exija algo de alguém.
Pedimos-Te, Senhor, que nos dê o pão de cada dia, sem que esse pão nos leve ao egoísmo, e que possamos reparti-lo com os que têm fome.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:30 pm

Pedimos-Te, Senhor, consolação, porém, que nos ajudes também a consolar os tristes e os desesperados, todos os dias.
Pedimos-Te, meu Deus, Deus nosso, que a saúde se instale em nós, mas que não "nos esqueçamos de ajudar os enfermos.
Pedimos-Te, Senhor, o tecto, mas, ajuda-nos a abrir as nossas portas aos desabrigados.
Pedimos-Te a Tua companhia permanente, todavia, ajuda-nos a acompanhar os deserdados, os órfãos, os atormentados, os viciados, os criminosos, os leprosos, os famintos da Tua Luz, porque sabemos que, sem esse convívio, de da nos valerá pedir-Te o que almejamos.
Jesus, abençoa a nossa razão e clareia os nossos sentimentos, no afã de sentirmos a luz da Verdade e multiplicá-la pela presença dos nossos exemplos.
Maria Santíssima, seja a nossa luz, para que o Amor brilhe dentro de nós como o Sol da vida.
Abençoa-nos todos, os nossos familiares, a humanidade inteira, os pássaros, os peixes, os animais e a Terra em que vivemos.
A igreja de São Rufino, repleta, jamais vira tamanha emoção espiritual como aquela noite. Os que assistiram à fala de Francisco estavam com as almas elevadas esperança.
O Evangelho de Jesus Cristo se mostrava como era, verdadeira porta Para a felicidade.
Padre algum pregava os preceitos do Mestre como aquele frade, por sinal filho de Assis, homem destemido ante a Verdade e pacifista diante da ignorância.
Francisco e seus companheiros saíram pelos fundos, mas o povo os cercava abraçando e beijando aquele moço como que a um Anjo, que liberava em tomo de si algo de alegria e de paz para todos os sofredores.
Daí a poucas horas, toda a cidade de Assis era sabedora da pregação do Evangelho proferida por um de seus filhos.
De dentro da igreja, somente uma pessoa saiu sem procurar o pregador - Clara embargada de emoção, por ver e sentir tanta luz espiritual.
Seus pensamentos buscavam em todas as direcções o porquê daquela atracção por aquele homem simples como as pombas e prudente no falar como as serpentes.
Esquecendo-se de sua condição de nobreza saiu apressada, entrou em sua residência, trancou-se nos seus aposentos, e, jogando se na cama, sobre alvos lençóis, chorou sem parar...
Chorava de medo, chorava de saudades!...
Chorava de amor, chorava de felicidade!...
Chorava por sentir o encontro no seu caminho, e adormeceu, entregando-se aos braços dos anjos.
Francisco e seus companheiros saíram em demanda do acampamento Em sua mente surgia, de vez em quando, a imagem de Clara com aqueles olhos da cor de verniz, cuja luz o fazia cismar em seus sentimentos.
No silêncio que ninguém ousara quebrar, monologava com prazer:
"Senhor, por que essa criatura, me fita por dentro d'alma e me acompanha sem que as distâncias a interrompam?
Que Deus a abençoe onde estiver, e que a coloque em lugar onde a nossa Mãe Santíssima possa vigiá-la, com as suas bênçãos e o seu amor.
Conheço Clara e sua distinta família, mas estou desconhecendo o destino do seu coração.
Permite, Senhor, que seja na Tua paz, e na paz de Cristo."
Aquela foi uma noite de grande alegria para todos os frades, não somente pela presença do Espírito Santo nos lábios de Francisco, mas também pelo Amor por ele demonstrado a todas as criaturas.
Cada vez mais, seus discípulos se conscientizavam de sua grande missão diante da humanidade.
E todos cantaram hosanas ao Senhor.
Naquela noite, Francisco não pôde dormir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 05, 2019 7:30 pm

Alguns frades dormiam em camilhas e outros no próprio chão. Francisco, alta madrugada, punha-se em cuidados, como testemunho de seu Amor para com os companheiros de jornada; fazia-se pai e mãe da comunidade inteira, cobrindo um aqui, outro acolá, entoando hinos de louvor a Deus em sons pouco audíveis para não acorda-los.
E agradecia a Jesus pela paz que desfrutava, ao ver todos os seus filhos espirituais reunidos, em um só ideal:
o de servir à grande causa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Naquela noite, o céu se apresentava mais lindo e profundamente encantador Francisco, místico e poeta por natureza, agradeceu a Deus, pela bonda misericórdia de colocar tantas lâmpadas a iluminar o infinito, de perfumar o ambiente Terra por intermédio das flores, de fazer circular o ar por toda a Terra, como garantia da vida.
A sós, em êxtase, agradecia ao Criador por tudo o que existia no mundo.
Terminada a louvação, seus lúcidos olhos deixavam escapar turbilhões de lágrimas, como resposta da alegria do coração que ama verdadeiramente, sem limites e sem exigências.
Inclinou-se para o chão, iluminado pelo pálido clarão da lua, e beijou efusivamente as pedras que serviam de almofadas aos seus joelhos.
Não se sabe quanto tempo permaneceu nesta postura de gratidão.
Ao sair dali alta madrugada, dir-se-ia que o vento e as árvores manifestavam seu quinhão de louvor por aquele homenzinho desfigurado aos olhos dos poderosos da Terra.
Francisco, pelo prazer desfrutado com a prece aos Céus, renunciando ao catre e à pousada onde ressonavam os discípulos, encostou-se do lado de fora da comunidade, falando consigo mesmo:
"A natureza é a melhor casa.
Não é nela que moram as árvores, minhas irmãs?
Não é nela que vivem as aves, as flores e todos os animais?
Não ê nela que tudo o que vive acha acolhida?
Por que eu, mísero pecador, não posso lhe fazer companhia?"
Recostando-se ao pé de um arvoredo amigo, buscou uma pedra ao lado, como travesseiro, e argumentou, no silêncio da noite:
"Eu ainda estou achando uma pedra para reclinar a cabeça, o que meu Mestre não tinha.
Mesmo que não queiramos, somos impulsionados ao conforto."
Acontece que corvos do plano astral inferior aproximaram-se de Francisco para o tentar.
Era uma pequena falange de Espíritos sensuais que, circulando o corpo do Poverello, pôs mãos à sua obra diabólica, de tentação ao génio da renúncia e da bondade.
Três guardiães da natureza, de proporções impressionantes, acorreram em defesa de Francisco, mas, como por encanto, apareceu-lhes um Anjo que lhes falou com doçura e amabilidade, sem que os irmãos das sombras percebessem:
- Deixem que Francisco seja atacado; é necessário que por ele, os Céus se manifestem com a renúncia:
da mulher ao sexo, da roupa ao palácio, da ignorância ao saber, da família à humanidade, do homem comum aos reis, dos padres ao papa, do tecto da natureza às grandes basílicas.
Não interrompamos, mas fiquemos atentos para que nada passe dos limites, de forma que o abuso das trevas não se transforme em esquecimento dos Céus, em favor dos que trabalham para a Luz do mundo.
Os três curvaram as cabeças diante do mensageiro do alto, afastando-se, a falange do Mal investiu da maneira que lhe aprouve, fazendo desfilar mulheres nuas na retina espiritual de Francisco, sendo canalizadas todas as formas com o devido magnetismo, para alguns centros de força do homem de luz.
Algumas irmãs do mundo invisível deitaram-se rente ao corpo do poeta das estrelas, fazendo reboliços, aos sons de ritmos inconfundíveis e inconfessáveis; passes eram dados de forma estranha no percurso da base craniana até a região sacro-espinhal, controlando respiração e gestos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:54 pm

Depois, de mãos dadas em tomo da árvore que servia de leito para o viandante da paz, as trevas cantaram seu hino de vitória em movimentos sensuais, por terem cercado Francisco de Assis, deixando somente uma saída perdição do mundo.
Francisco acordou em desespero, olhou em torno de si e, dotado de profunda sensibilidade, viu todos os visitantes do Mal, vestidos como demónios da sensualidade; quis levantar-se, mas não conseguiu; pensou em orar, porém a voz não saía.
Só podia pensar, e esse dom ele usou com segurança, pedindo a Deus e a Jesus recursos para se livrar do Satanás e sua corte, que o instigavam para o Mal.
Na rogativa mental, chorava, qual criança com fome.
Depois da oração conseguiu levantar-se e falar; no entanto, observava que algo estava diferente, sentindo estímulos sem precedentes para o sexo.
Avançou um pouco para a frente' pensando em Jesus, retirou da cintura o cordão sagrado, jogou para o lado o manto e vergastou, sem piedade, o órgão genital.
Deu mais alguns passos em pleno colóquio com os Céus, e, notando a sinistra comitiva ao seu lado, ajoelhou-se novamente no solo e com dificuldade, fez uma rogativa em voz alta a Deus.
Nisso, alguns transeuntes da boémia foram atraídos, reconhecendo o velho companheiro; todos sorriram e cantaram, manifestando ao Poverello a sua alegria; este, estático, quase não os ouvia.
Terminada a rogativa, arrancou o resto da roupa que ainda lhe cobria a parte do corpo, olha para um antigo canteiro de rosas no qual somente restavam galhos e espinhos, por não ser época de flores, e, completamente nu, jogou-se no acolchoado de espinhos e galhos, debatendo-se e rolando de um lado para outro.
Ao sentir os espinhos penetrarem em sua carne, a natureza inferior se arrefeceu e, quando se lembrou que o Mestre havia sido igualmente coroado de espinhos, foi tomado de grande alegria e amor por aqueles seres invisíveis que assistiam ao espectáculo da renúncia.
Naquele instante, uma luz desceu dos Céus e, batendo no peito de Francisco, iluminou-lhe todo o corpo.
Diante daquela explosão feérica e policrómica, tanto os inimigos do Evangelho, que tentavam inspirar Francisco para as trevas, quanto os seresteiros, saíram em debandada, sem olharem para trás.
Francisco levantou-se com alegria, agradecendo ao Senhor; abençoou os espinhos da roseira coloridos do vivo sangue de seu corpo, e partiu, já quase ao alvorecer do dia, para junto de seus irmãos, sem reclamações nem tristeza.
Ao chegar, acordou a todos como um general que volta da batalha com a palma da vitória, dizendo:
- A paz seja convosco, meus filhos.
Cantarolando um hino aos Céus, por estar vivendo na Tena, começou fazer a limpeza da casa e o primeiro desjejum para os Comunitários do Amor.
Sol já alto, aqueles homens que assistiram ao espectáculo de Francisco Assis, ensanguentado nos espinhos das roseiras, começavam a contar o sucedido e avolumava-se grande caravana para ir ao lugar, pensando que ele houvesse sucumbido. Encontraram, com espanto, o roseiral florido somente na área em que se deu o facto, com estrias cor de sangue vivo nas pétalas, dando a impressão de Crerem falar de Amor.
Toda a cidade abalou-se com o fenómeno, de maneira que, ao entardecer, até a terra onde brotavam as roseiras, já havia sido carregada, de sorte a servir como medicamento para todas as espécies de enfermidade.
Eis aí um dos fenómenos do espírito que, na sua última reencarnação, tomou o nome de Francisco de Assis, como raio de sol divino, para aquecer as almas no gelo da indiferença, que sentiu o Amor do Cristo no seu mais alto grau em que se pode filosofar.
Francisco e seus discípulos começaram a andar, pregando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E, por vezes, pediam de porta em porta para abastecer a comunidade e doar aos pobres que encontravam ou que iam bater às suas portas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:54 pm

Nada era deles; pediam e davam.
No entanto, na hora de pedir, doavam algo de espiritual para os doadores de coisas materiais; não se esqueciam do sorriso, da gratidão, e ainda oravam por eles, quando estavam em conjunto.
Francisco, depois de preparar os discípulos nos conhecimentos evangélicos e nas suas regras de conduta, enviava-os, como fez Jesus, de dois a dois, a todas as cidades da Itália, no primeiro avanço, para depois, serem enviados para o mundo.
De vez em quando, voltavam ao convívio em Assis, com saudades dos irmãos da Comunidade.
Vinham ansiosos para contar as histórias e os fenómenos que aconteciam nas suas andanças.
Francisco era o eixo da Comunidade, que acabou levando o seu nome, como segurança doutrinária para os seus profitentes.
O filho de Pedro Bemardone enviava seus discípulos para as cidades que as almas pediam; porém, reunia-se com os seus companheiros em partida, e os fazia lembrar muitas vezes os dois mandamentos que transformaram a lei mosaica.
E ainda reforçava:
- Meus filhos!...
Lembrai-vos do dever de servir, e trabalhai sempre onde estiverdes, para não serdes pesados a ninguém.
Antes, reparti o que tiverdes com os que precisam; não vos esqueçais dos enfermos, dos estropiados, dos presos, dos leprosos, das mães aflitas, das viúvas sem protecção e dos animais.
Abençoai os Que roubam e nunca vos levanteis do leito sem primeiro orar.
Jamais vos deiteis sem Primeiro vos entregardes à prece, agradecendo ao Criador de todas as coisas a vida e tudo o que recebemos da natureza.
Observai o que falardes aos outros, para que a língua não sirva de motivo escândalo.
Sempre que o companheiro adoecer, dai-lhe toda assistência, com deslevo e carinho, tudo fazendo a ele como se fosse ao próprio filho.
Estamos em urgência de renúncia e não poderemos nos esquecer da humildade dia em todos os momentos, da fé em todas as horas, da caridade entre todas as respirações do dia.
Todas as vezes que partirmos para algum lugar, peçamos a Jesus para ir à nossa frente, os Anjos do Senhor nos ajudem a pensar e a fazer o que deve ser feito.
Nunca vos esqueçais da Mãe de Jesus, pedindo a ela as bênçãos da confiança e o ambiente do Amor, que devereis despertar em vossos corações.
Todos saíam com essas advertências.
Falava Francisco muitas vezes mesma coisa, para que fossem gravadas as directrizes, e lembrados os preceitos.
Cada grupo levava consigo o pergaminho de luz da vida de Nosso Senhor.
As vezes, recebia notícias dos seus discípulos e regozijava-se de alegria pelos exemplos elevados, marcados pelas suas condutas.
Desde o dia em que falara na igreja de São Rufino, Francisco não esqueceu mais os olhos de Clara, que o fitavam na mais alta emoção que os sentimentos podem manifestar.
Certa tarde, encantado com a natureza, saiu cantarolando uma canção observando os pássaros, sem se esquecer de contemplar os céus.
Sem que esperasse sentiu uma mão pousar de leve em seu ombro, e dizer:
"A paz seja convosco".
Ele, que estava quase em êxtase, tomou noção de si mesmo e olhou:
era Clara acompanhada por uma servidora da sua casa, que logo se desfez da acompanhante Francisco respondeu aos cumprimentos, tocado de alegria.
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 10 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:54 pm

Clara, sem condições de conversar, deu a entender que ele falasse alguma coisa, e o filho de Bemardone usou da oportunidade, sem rodeios, cordial e sincero:
- Clara!... Minha filha, somos nascidos nesta Terra acolhedora e bendita.
Talvez tenhamos nos encontrado muitas vezes, sem que o coração manifestasse os nossos ideais.
Mas, agora, crescemos, e nossas almas falam da realidade que a vida espera de nós.
Vimo-nos na igreja de São Rufino e certamente notaste o meu ideal ante o chamado de Nosso Senhor; não fosse peso demasiado para os teus ombros, chamar-te-ia com todas as forças de minh'alma: Vamos!
Sei que estás tomada de inexplicável emoção aos olhos do mundo, mas sei também que abrigas no coração forças desconhecidas até para ti mesma, que poderão elevar teus ideais às alturas inconcebíveis da Terra, a sentir a grandeza de Deus.
Não quero contradizer as coisas do mundo, pois Deus sabe o que deve ser feito dele, usando de tudo para um todo de paz:
entretanto, ele para nós esta cheio de ilusões, que à primeira vista nos fascina e nos mostra, em todas as direcções, uma felicidade passageira.
Nascemos sob a égide do ouro e em nossas veias corre um sangue, que dizem ser nobre.
Vivemos, como ainda vives, em palácios, com criados a espera de ordens, para que a nossa vontade se cumpra.
Graças a Deus, já me libertei do fardo incómodo das riquezas, da opressão de meu pai e dos compromissos de família.
Minha mãe, deves conhecer, é um Anjo, assim como Jarla e Foli.
Essas três mulheres me ajudaram muito na minha formação e me inspiraram na beleza da vida que estou vivendo.
Suas presenças me elevam e eu recebo algo imerecido daqueles corações que me amam, e que nada pedem de mim.
Que Deus as abençoe, bem como a meu pai, e que Jesus Cristo os ajude viver bem.
Mas, quanto a ti, a diferença é enorme, Clara!
Sinto que ma vida se entrelaça na minha em altos sentidos, que o próprio coração tenta esconder, ara que não saia das necessidades humanas.
O teu olhar, na igreja de São Rufino, escreveu algo em meu coração, que nunca poderei esquecer, fazendo-me lembrar de coisas que não são deste mundo.
Acho que Frei Luiz estava muito certo quando me revelou que vestimos corpos como fazemos com as roupas, mas a alma é sempre mesma.
Isso deve ser uma realidade que o futuro está encarregado de anunciar, pelos quatro cantos do mundo, para que sirva de consolo a todas as criaturas que sofrem, choram e padecem todos os tipos de infortúnios.
Nós nos conhecemos de longa data, que se perde nas dobras imensuráveis do tempo.
A vida é um mistério, que somente nos é revelado pelos processos do Amor; quanto mais a gente ama, no quilate do Amor que nada pede, mais ficamos sabendo das coisas escondidas dos que desconhecem essa virtude por excelência.
Ouço, Clara, a voz do nosso Mestre Jesus, e Ele já traçou o meu caminho, que é o caminho da obediência, do desprendimento, do trabalho, da paz, da esperança, da caridade, e, acima de tudo, o caminho do Amor; não posso deixar a Sua companhia, para que eu não erre o caminho.
Já existem em torno de três centenas de homens, que compõem a nossa Comunidade, já sabendo todos o que devem fazer das próprias vidas.
Outro tanto de mulheres nos procuram, querendo participar deste movimento de Cristo; entretanto, quanto a isso temos silenciado, esperando por alguém que possa dirigi-las, com a presença de Jesus.
E agora, sinto que esse alguém és tu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:54 pm

Serás iluminada pelo dom do Amor, que já reside em ti, de forma a esperar a voz do Cristo, e d'EIe terás as directrizes, de maneira a seguir com coragem, e aquelas que te acompanharem serão tuas ovelhas, e, quem sabe, mamãe e Foli estarão entre elas?
Jarla talvez não alcance essa felicidade aqui na Terra, mas Deus, em Sua Bondade e Amor, dar-lhe-á, onde for conveniente, a paz merecida.
Francisco fez uma pausa premeditada, para dar tempo a Clara de raciocinar e sentir a Verdade.
Quando viu sua emoção, convidou-a para um passeio naqueles arredores, acenando para a acompanhante e pedindo para que ela juntasse a eles, como testemunha do que ele deveria dizer.
Os três andaram naquele ambiente de altas considerações, onde reinava Pleno silêncio.
Francisco esperou que Clara manifestasse as suas ideias, mas esta nada disse; continuava sem pronunciar uma palavra sequer, como uma planta sequiosa de água.
Nessa circunstância, Francisco falou benevolente:
- Clara!... O ideal do homem e da mulher no mundo é formar um lar, e esse lar, é por assim dizer, uma semente de Deus, que garante a continuidade das criaturas humanas.
Isso é maravilhoso, é mesmo divino; entretanto, minha filha, existem aquelas pessoas que vieram ao mundo para servir, como no nosso caso, e sua família se chama humanidade.
A nossa família, Clara, são todos os animais, aves e peixes, tudo o que Deus fez e que vive no Universo.
Não que falte em nós o impulso das coisas da Terra; ele nos manda fazer o que os outros fazem.
O instinto sexual não tem barreiras e não obedece a leis, atendendo somente à sua própria satisfação.
Todavia, no nosso caso, ele deve obedecer aos ditames do Amor mais puro e ouvir a disciplina mais rigorosa do empenho com Jesus Cristo.
Estamos em tarefa de urgência de exemplos dignificantes daquilo que pregamos e que o Evangelho nos ensina. És bela, mas a formosura da tua alma suplanta a do corpo.
Vives em palácio e tens criadas ao teu dispor, mas, digo-te que tudo isso é passageiro; somente eternas são as coisas do Bem, a função caritativa e as leis que o Evangelho nos revela.
És jovem, e certamente não podes assimilar, na profundidade desejada os preceitos do Nosso Senhor Jesus Cristo.
No entanto, a Sua voz te chama para as coisas dos Céus, que vieram reformar e dar cumprimento aos anúncios do Seu verbo de luz.
Que a voz d'Ele seja a tua, que a vontade d'EIe seja a tua e que Seu amor se manifeste em teu coração, na proporção em que a tua vida cresce para Deus.
Volta para tua casa, pensa no que ouviste e obedece somente à tua consciência, pois a tua felicidade depende da tua decisão.
Andaram horas e horas juntos.
Francisco falando, e Clara ouvindo.
Em dado momento, assentaram-se em uma árvore que o tempo jogara ao chão, e serviram-se dela, como um banco confortável, ofertado pela natureza.
Clara levantou a cabeça que mantivera baixa, para ouvir com precisão os mais subtis preceitos recitados por Francisco, e falou como que tomada de Amor:
- Francisco!...
Nunca pensei que existisse tamanha felicidade quanto a que senti dentro da igreja de São Rufino, quando te vi, envolvido na candura que te é própria.
Quando os meus olhos encontraram os teus, em clima de confiança que inspirava o meu coração, senti-me transportada para região que não sei explicar, cuja existência nem posso conceber; onde a vida pode ser chamada de vida, por existir nela somente o Amor, aquele de que sempre falas, de pureza inconcebível.
Com os anos que tenho, parecem-me fugir responsabilidades que assumi com Deus, na presença de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:54 pm

Mas essa luz que me banhou trouxe-me à realidade e tornei-me idosa em experiências e já compreendo de que falas, na profundidade de meu ser.
Senti coisas estranhas referentes à tua pessoa, desde o impulso mais grosseiro a que o corpo se faz unir, até o amor mais puro que coração em Cristo pede que seja sentido.
Fiquei, e estou, dentro de um emaranha de forças, cujo objectivo por ora desconheço; porém, sinto o coração firme e decidi para ouvir e viver o que Deus determinar, ou que já tenha determinado.
Compreendo a tua fala, e parece que identifico a tua presença, de sorte a confundir o tempo em que vivemos, e já observei que a tua missão é grandiosa precisa de quem te ajude na concretização deste ideal, que ultrapassa todos ideais dos homens, mesmos os mais santos.
Espero que as tuas mãos estejam sempre estendidas para nós, e que não faltem em meu coração as tuas bênçãos, em forma de estímulos, para que eu possa vencer as ideias negativas e contrárias, começando dentro de casa e atingindo a humanidade, e espero que me ajudes a amá-la do modo que preconizas.
Renunciarei a tudo, para que tudo possa me servir de escola, a ensinar-me as primeiras letras da vida, em Deus e em Cristo.
Sinto pesar em meus ombros o peso que me deste, quando me revelaste a missão que deverei cumprir; mas, peço-te, ajuda-me, porque me sinto como uma folha a0 vento, dotada de coragem e disposição, mas sem condições de me assentar com segurança nas bases em que devo me apoiar e prosseguir.
Desde o dia em que ouvi a tua palavra, anunciando as coisas a que te propuseste seguir, tenho tido lembranças cujas raízes, confesso-te, não sei onde se assentam.
Vejo Jesus em todas as Suas andanças, pregando o Evangelho, curando enfermos e ressuscitando mortos; vejo Seus discípulos visitando cidades e países, morrendo e vivendo por Ele.
Assisti ao drama do Calvário e à Sua glória, no terceiro dia, anunciando a vida imortal para os discípulos.
Somente por isso, Francisco já sou feliz.
Foste, para mim, a chave com a qual pude destrancar as portas da minha consciência e ver um mundo desconhecido, que pretendo conhecer com mais detalhes, em nome de Deus e de Jesus Cristo.
A primeira reacção que tive para contigo foi física, mas essa emoção se transformou imediatamente em glória espiritual, e eu, mesmo com a pouca idade que tenho, não sei sentir outra coisa diante de ti, a não ser amor de mãe, amor de Deus, o Amor, como dizes, Universal, que pode envolver tudo e todas as criaturas.
Francisco, de agora em diante, podes ser o meu pai espiritual, porque a confiança que tenho em ti parece ser antiga, não obedecendo ao tempo, nem à distância, se assim posso dizer.
Para me lembrar das coisas que não são cabíveis terem acontecido nos poucos anos que vivemos, basta meditar sobre elas, que todas passam em minha mente, como se fossem nuvens agitadas pelos ventos.
Renunciar, para mim, meu pai, não constitui sacrifício; representa felicidade. Perdão, pelo que vejo, Frei Francisco, não me contraria; representa alegria de viver mais, representa o Amor, o Amor de que já falamos, que deve ser o fruto da própria felicidade.
Porém, eu te peço, por misericórdia, para que estendas as tuas mãos para mim, para que eu possa andar com mais segurança. Se Jesus, para muitos religiosos, significa um Sol, para mim Ele é o Céu; se Maria, para muitas mulheres, representa a estrela-guia, para mim, ela é o infinito cheio delas.
Pretendo encontrar-me sempre contigo, desde que me faças essa caridade, Porque é nesse intercâmbio, com tua presença, que me formarei para os grandes empreendimentos que me esperam com outras companheiras.
Francisco de Assis a tudo ouviu demonstrando alegria; notava de vez em rido a feição de Clara mudar e a voz vibrar no decorrer das frases que, inspirada, Punha.
Verdadeiramente, ela estava sendo instrumento para que alguém do mundo espiritual falasse a Francisco; o mesmo ocorria com ele.
Estava sendo selada a aliança de Clara e Francisco para a eternidade.
Depois de longas conversações, os dois se despediram, inflamados de alegria espiritual, e Francisco partiu cantando hosanas ao Senhor por mais vitória de Cristo nos caminhos do mundo. E pensou intimamente:
"As pedras estão no mundo; basta ajuntá-las, para construir a grande casa de Deus."
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:55 pm

21 - Cura Divina
São várias as maneiras pelas quais se processa a cura dos enfermos.
Nos casos operados por Jesus e os apóstolos, foram curas instantâneas, nas quais, como por encanto, as enfermidades desapareciam rapidamente.
Para essa operação, é preciso grande saber espiritual, conhecer os fundamentos da vida do enfermo e, por vezes, modificar algo em sua mente, a fim de que ele mude o modo de pensar e de agir.
A enfermidade é a fermentação de muitas existências vividas desregradamente; é a resposta, a consequência.
Por isso, a dor, em certas circunstâncias, é a própria cura.
Os duros padecimentos são indícios de elevação de alma, porque ela já começou a pagar os débitos passados, pelo guante da enfermidade.
O enfermo, ao ser curado, abre-se como a flor ligada ao caule e os seus centros de força activam toda a sua sensibilidade, de maneira a facilitar a absorção dos fluidos doados pelo operador.
Em muitos casos, Jesus já dizia.
"A tua fé te curou!"
Isso porque determinados enfermos fazem o trabalho quase por si próprios.
Assim, a fé é de muita importância em toda a nossa vida.
Quando não existe fé, na cura à distância, de cuja operação curativa o enfermo não participa, e que por vezes, ignora por se encontrar inconsciente, o operador se desdobra, de modo impressionante, em todas as direcções do saber, para encontrar a equação desejada, ou seja, a cura.
Examina, Pela clarividência, o tipo de doença, suas causas e busca no grande manancial divino elementos para substituir os que já estão cansados e gastos.
Observa e activa os pontos energéticos do corpo e da alma, faz transfusão imediata de força vital, serena a mente adoentada e acomoda nos seus mais sensíveis departamentos, ideias favoráveis à cura.
Pensamentos positivos, alegria de viver e uma grande paz caem na sua consciência Profunda.
Aí o doente favorece o trabalho, como se fosse submeter-se a uma operação e como se relaxasse na mesa de cirurgia, pelas bênçãos da anestesia completa.
Mas, tudo isso ocorre em minutos, dependendo da elevação do Espírito encarregado da cura em muitos casos, do tipo de enfermo.
A variação é infinita.
Entra em acção, como já falamos, a lei do carma.
Há forças desconhecidas que se interpõem às curas imediatas.
Não é m repetir que o Evangelho não pode deixar de nos acompanhar em todo esse trabalho.
Ele é a força de Deus que faz a cura se eternizar, pois traduz os princípios das leis.
Todos os desequilíbrios orgânicos e psíquicos são a não observância dos preceitos divinos.
No entanto, ainda existem muitas coisas no campo da cura que os homem não estão preparados para conhecer.
O tempo, na dinâmica do progresso, vai revela essas coisas gradativamente, a todas as criaturas, na Terra e fora dela.
Existem muitos métodos de curar, desde a mastigação de ervas entre os índios, às mais sofisticadas invenções no reino de Hipócrates, desde os xaropes de longa vida na área iniciática, à medicina homeopática, fundada por Samuel Hahnemann nas concentradas gotas de energismo curativo, desde as benzeções dos camponeses com ramos específicos, à flora medicinal, desde as massagens dos antigos egípcios às famosas agulhas orientais, desde os sopros dos pais Iogues, aos passes nos templos espíritas.
Enfim, há um sem número de modalidade de curas, por todos os ângulos que podemos imaginar.
E hoje, há muitas pessoas se curando pela alimentação; no entanto, todas as curas mencionadas e as de que não precisamos falar, carecem da força do pensamento, cuja energia é transmutada naquilo que nos dispusemos a transformar, pela luz do coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:55 pm

Dentre as curas citadas, existe uma diferente de todas:
a que Francisco de Assis usava com maestria, a cura divina.
A cura divina é aquela que restabelece o enfermo, de qualquer enfermidade, num piscar de olhos; é a cura instantânea.
Pedimos licença a todos os curadores, encarnados ou desencarnados, para dizer que toda cura divina nasce de energia sublimada que vem de Deus, passando pelas mãos santas de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Como está comprovado, as mãos que tocam os enfermos de qualquer natureza e que curam instantaneamente, por trás delas estão as do Mestre dos mestres.
Somente Ele sabe transformar a luz de Deus, para restabelecer a harmonia orgânica dos homens.
Francisco de Assis foi um destes instrumentos de Jesus, que restabeleceu uma infinidade de corpos de todos os tipos de enfermidade na Terra.
Entretanto, a força que afina o instrumento humano, para servir de instrumento divino nas mãos do Mestre é somente uma:
o Amor, o mais puro Amor, buscando assim as ondas luminosas desprendidas do Cristo de Deus, que sempre busca igualmente sintonia para consubstanciar em bênçãos de Deus onde quer que seja.
Ninguém é órfão das coisas dos Céus, quando procura o caminho de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja imensurável aura acolhe o Planeta e, na Sua grandeza espiritual, sente todas as necessidades dos homens e das coisas, e todo o Seu rebanho está dentro da faixa mental.
O Evangelho é, por excelência, um código divino.
Se respeitamos seus preceitos, estaremos em sintonia com a força universal do Amor e seremos atendidos por essas leis que regulam a própria vida que estagia na Terra, ateu"
* * *
Em Rivotorto havia um hospital de leprosos por demais impressionante, se considerarmos o que seria uma Casa de Saúde há oito séculos atrás.
Os hansenianos daquela época eram relegados ao abandono e a medicina não tinha condições, como agora, para tratá-los adequadamente.
Francisco de Assis tinha um carinho profundo por aqueles doentes, e sempre pedia aos seus companheiros para visitá-los e trazer notícias daqueles restos de homens, levando-lhes a sua presença.
No entanto, alguns manifestavam impaciência e mesmo revolta, por estarem separados da sociedade, das mulheres e filhos.
Certo dia, Frei Pedro de Catani e Frei Paulo foram visitar os enfermos e conversar com eles, acerca da bondade de Deus e da misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Acontece que um deles, o mais agitado, começou a blasfemar contra Deus, contra Cristo e contra eles mesmos, por estarem somente conversando e ele, cada vez mais doente e relegado ao abandono.
Chegou mesmo a dizer:
- E porque essa doença não é em vós!
Retrucou Pedro de Catani:
- Foi nosso Pai Francisco que nos mandou vê-los e enviou a bênção para todos que aqui estão.
O leproso, que se chamava Tanalli, ficou mais furioso com o recado de Pai Francisco, dizendo:
- Esse Pai Francisco fica de longe nos mandando bênçãos.
Dispenso as suas bênçãos; elas para mim de nada servem, pois cada vez que vindes aqui, fico mais revoltado e com a mesma doença.
Dispenso consolo de homens como vós que parecem mais miseráveis do que nós; se tivésseis alguma coisa para dar, não viríeis aqui.
Frei Pedro e Frei Paulo ouviram pacientemente o leproso e, sem entrar em demanda, conservavam a atitude de oração, enquanto Tanalli blasfemava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:55 pm

Acontece que a paciência dos dois homens de Deus esgotou-se, e Frei Pedro, homem forte e decidido quando necessário, agindo sem aquiescência do doente, colocou-o nos Ombros e falou pacientemente a Frei Paulo:
- Vamos, irmãos, levar este doente para o verdadeiro médico, que ficou mais ou menos de longe.
Chegando junto a Francisco com o enfermo, ele quase os fez voltar com o leproso alegando que não podia ficar com aquele homem em lugares não apropriados.
- Fizeram muito mal em trazê-lo, dizia Francisco.
Os dois discípulos, de cabeça baixa, a tudo escutavam, orando silenciosamente em favor da situação, e do doente engasgado de agitação.
Quando os companheiros de Francisco iam saindo de volta para o hospital, este, caindo em si, ajoelhou-se aos pés dos discípulos e pediu-lhes perdão pelo que fez, dizendo carinhoso:
- Perdoem, meus filhos!...
O que fiz, meu coração não deseja que seja assim!
E tomou o doente com dificuldade, carregando-o até uma dependência do rancho.
Olhou para o rosto em chagas, cujos lábios tinham se transformado em uma só ferida.
O mau odor era insuportável, o corpo era uma só chaga e o doente não mais suportava a roupa sobre a pele, que quase não existia.
Francisco, tomado de amor pelo leproso e com profunda humildade, beijou-lhe o rosto como se fosse o da sua própria mãe.
Retirou a roupa do enfermo, jogando-a de lado, e em seguida beijou as suas chagas pustulentas, como se o fizesse em Jarla ou Foli, e falou com tanto sentimento de compaixão, como se estivesse pedindo ao seu próprio pai para reconsiderar o que fez.
O doente, naquele clima de fraternidade, começou a chorar, e Francisco não fez outra coisa.
Choraram juntos.
Nesta hora, os discípulos acercaram-se do mestre, sem saber o que fazer diante do drama comovente.
Pai Francisco pediu aos companheiros que trouxessem uma gamela com água morna, pedindo a Frei Paulo que colhesse, com os devidos cuidados, em próximo canteiro, três rosas, e se pusessem em oração.
Trazidas a água e as rosas, que foram despetaladas com um hino de louvor ao Senhor do Céus, pôs Tanalli na gamela, e chamando Frei Luiz, pediu-lhe que recordasse as palavras da cura de Lázaro, que já tinha morrido há quatro dias, quando foi ressuscitado por Cristo.
Sentiu que alguém tomou-lhe as mãos, dizendo:
- Francisco, cuida destas minhas ovelhas, elas são filhas do Caivano, agredidas pelos seus próprios destinos.
E Francisco respondeu mentalmente:
- Sim, Senhor, sim! Eu cuidarei!
E acrescentou Francisco:
- Se for do Teu agrado que essa enfermidade passe para mim, beijarei as tuas mãos pela misericórdia de poder pagar minha falta para com esse homem de Deus, que devo respeitar.
E Francisco foi passando as suas mãos no corpo do leproso e todas as feridas foram se fechando, como por encanto, à medida que as mãos lavavam o enfermo.
Os discípulos, ao contemplarem esse fenómeno, caíram de joelhos no chão batido do Rancho de Luz, e cantaram um hino de louvor ao Todo Poderoso, pela presença do Cristo no seio da Comunidade.
Tanalli, quando observou o ocorrido, e não sentindo mais dor, levantou-se nu da gamela, sozinho, ajoelhou-se perdido em emotividade santa, e beijou os pés de Francisco, molhando-os de lágrimas.
Avançou para os discípulos para fazer o mesmo, mas esses não aceitaram, por se sentirem leprosos da alma.
E Tanalli, que era um criminoso contumaz e incendiário reverente, gritou em altas vozes com os braços estendidos para os Céus:
- Senhor, sei que existes!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:55 pm

Faz de mim o que quiseres que eu seja!
Alguém, apressadamente, lhe trouxe uma veste rota e todos o abraçavam e, deste então, passaram a chamá-lo de Frei Aprígio.
Passado muito tempo, pregando o Evangelho nas andanças com Pai Francisco, a quem tinha o mais elevado respeito. Frei Aprígio, no ano de 1250, ainda sentia no seu coração, algo a corrigir.
Tinha impulsos de violência, e já havia se empenhado com todos os recursos que aprendera, através, das experiências pessoais e das coisas que Pai Francisco lhe tinha ensinado.
Usara o recurso da oração, de maneira a demorar-se horas a fio em preces, mas o animal violento e orgulhoso ainda vivia.
Certa noite, próximo da cidade de Lecce, quando lhe servia de tecto uma árvore, perdeu o sono, fitando as estrelas e, chorando, pediu a Deus:
"Senhor, se me fosse concedido receber algo de Tuas mãos santas e sábias; se me fosse concedido pedir-Te alguma coisa como prémio para meu coração; se eu pudesse escolher um caminho de livre e espontânea vontade, eu Te pediria que beijasse, outra vez, o meu corpo, como o fizeste antes, com as chagas da lepra e seria o homem mais feliz da Terra, porque, agora, somente ela Poderá arrancar do meu coração, o orgulho e a violência que carrego comigo, de eras incontáveis. "
E ainda chorando, adormeceu.
No outro dia, quando acordou com a luz do sol a banhar o seu rosto, Frei Aprígio voltava a ser Tanalli, o leproso de Rivotorto. Ajoelhou-se, diante do beijo solar, agradeceu profundamente a bondade do Criador e desatando o cordão da cintura, trocou a veste de franciscano por uma comum, tomando a direcção da Casa de Saúde de onde antes, revoltado, saíra. Ali, seis anos após, morreu, agradecendo a Deus e a Cristo pela bênção da lepra, que o fizera expurgar do imo de sua alma, o orgulho e a violência.
* * *
Conta-se que certa feita, Francisco seguia de Riéte para Áquila, com alguns dos seus discípulos.
No caminho, foram abordados vários assuntos referentes à doutrina cristã, e, principalmente, sobre a vida de Jesus.
Nesta emoção maravilhosa que as coisas espirituais lhes ofertavam, surgiu à margem da estrada uma grande árvore, que os convidava, no silêncio do campo, a um descanso reparador.
Frei Leão, amante da natureza, convidou a comitiva para um pequeno descanso, durante o qual eles poderiam rememorar histórias que os levassem às mais profundas meditações acerca da vida que, certificada como invisível, não o era para eles.
E aquela árvore acolheu os viandantes de Deus. Francisco, meditativo, viu pequenos seres, pertencentes à imponderabilidade da natureza, saírem e entrarem no corpo ciclópico do grande arbusto, e neste, parecia que se abria algo como janelas invisíveis, por onde transitavam aqueles diminutos seres, de forma humana.
Os outros frades, que se ocupavam com a limpeza da área, não atinaram para o colóquio que Francisco estava mantendo com aquelas minúsculas vidas, no empenho de compreendê-las e amá-las.
Logo elas começaram a manifestar grande interesse por Francisco de Assis:
subiam em seu corpo, como enxame de abelhas, deslizavam por seus cabelos, como artistas mostrando suas habilidades em um circo.
Festejavam a nova amizade com ruídos imperceptíveis, mas em harmonia com a própria natureza divina, na divina ascensão de forças que a vida tem em abundância.
Francisco de Assis, ao contemplar aquele espectáculo invisível, a emoção o fez chorar.
E neste impulso do Divino em seu coração, recitou, no templo natural, uma canção como poesia, neste tom universal:
Vendo a obra, vejo Deus; sentindo Deus, sou Amor.
Oh!... quantas coisas se escondem de mim, de vós, de todos, filhas do Criador.
Ave sem Ninho
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FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia - Página 10 Empty Re: FRANCISCO DE ASSIS - Miramez - João Nunes Maia

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 06, 2019 8:56 pm

Sinto-me nada, ante a grandeza do universo;
sinto-me verme, pelas belezas que desconhece o meu coração.
Deus tem filhos no mar, nas estrelas, no ar;
Deus tem filhos nas árvores e na terra.
Deus tem filhos até nas guerras.
Que beleza a função da natureza!...
Vejo a luz surgir no escuro, vejo a vida perfeita nos monturos;
vejo o céu nas águas do mar,
vejo e sinto o Amor no amar.
Quando descanso, a natureza trabalha;
quando durmo, a natureza trabalha;
quando trabalho, a natureza trabalha;
Quem eu sou?...
Nada, diante desta batalha.
Deus é Deus dos justos, Deus é Deus dos párias,
Deus é Deus dos que viajam.
Deus é Deus dos que ficam em casa!...
Deus é Deus das sombras, Deus é Deus da luz,
Deus é Deus das trevas, Deus é Deus de Jesus!...
Quando estou cansado. Deus está ocupado;
quando estou reclamando, Deus está obrando.
Quando blasfemo, Deus está entendendo;
quando tenho ódio, Deus está amando.
Quando estou triste, Deus está sorrindo.
Deus é Sabedoria e eu estou sonhando!...
Que beleza a natureza!...
Que beleza a profundeza da existência, e do existir.
Eu não compreendo, mas luto para me corrigir; porém, em fracções do tempo, logo quero ajuntar e Deus repartir.
Quero colher, quero usurar; e Deus passa por mim a semear!...
Luto de novo, mas ainda não sei lutar; penso na disciplina, mas não me deixo disciplinar.
Avanço... caio! Tomo a avançar.
E Deus me ouve, passa novamente por mim, olha para meus olhos, sente meu coração.
E fala baixinho em meu ouvido:
Vem, vou te ensinar a amar.
Deus Se retira!...
Sinto Sua ausência!...
Peço clemência!
Mesmo assim.
Deus não Se esquece de mim.
Manda um Anjo em meu encalço, num carro fulgurante de luz.
E de braços abertos, caio por terra; pensei que era o Cristo de Deus, que era Jesus!
E o cortejo dos céus entra em mim, em cântico de louvor.
Abre o meu coração, deixando dentro dele um tesouro de luz!...
O tesouro da dor.
Frei Leão, ao ouvir o cântico do Poverello, apressou-se a copiar, foi tarde; perdeu quase tudo do que ouvira de Francisco, em êxtase.
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