LUZ ESPÍRITA
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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 4 Empty Re: Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2018 8:03 pm

— Amiga, por muito menos, as trevas têm tomado sob domínio muitos grémios espíritas.
Basta manter a actual noção de caridade com desencarnados, mantendo a tarefa apartada da casa.
— Não entendi...
— Existem grupos inúmeros que foram sitiados por inimigos inteligentes cujo propósito jamais foi o de acabar com o centro.
Essa técnica está em desuso há boas décadas.
Os génios da maldade concluíram que, melhor que fechar centros, é mantê-los inoperantes, medíocres, improdutivos, escravos de convenções inúteis...
Assim, aproveitam da tendência humana de estagnar mentalmente na rotina e incentivam o marasmo. Fácil acção!
O psiquismo humano está congestionado pelo dogmatismo e pela preguiça.
O ritmo da mente humana está afinado com a época da mordomia, da lentidão, da vida sedentária e monótona a que se acostumaram em milénios e milénios, sem tecnologia e estímulos para o progresso.
Pensar pouco, fazer mais.
Mais acção, pouca filosofia.
Caridade, sim, estudo, somente o necessário.
— Deus, tome conta!...
— Com esse comportamento, conheço grupos que, em sua invigilância, discutem anos a fio, sem progresso, alguns assuntos que, para eles, tornaram-se essenciais, tais como:
"O mesmo médium que recebe 'espíritos sofredores' pode, igualmente, receber 'espíritos de luz'?", "É necessário que os médiuns assentem-se sempre no mesmo lugar?", "O consumo de carne no dia da reunião.".
Assuntos que até poderiam ter alguma utilidade tornam-se "bandeiras de pontos de vista".
Criam celeumas, ficam melindrados, apoiam-se em textos e discutem como velhos religiosos bem-informados, debatendo questões de pouca utilidade.
— Enquanto discutem, acontece a acomodação!
— Com isso, o homem acomoda-se na ritualidade, na repetição, no padrão. Bane-se a criatividade, o novo e a experimentação, estabelecendo uma noção de segurança em torno de "formas usuais de fazer..."
A educação moderna preconiza em um dos seus quatro pilares: o "aprender a fazer".
Todos os grupos doutrinários na actualidade são convocados a "reaprender a fazer".
—Um nó em meu "cérebro"...
Isso é o que sinto!
—E por acaso você ainda tem "cérebro"? - as duas gargalharam.
—Puro costume, Dona Modesta.
Costume velho!
Então a questão é "aprender a fazer"?
— Não basta!
— Não?
— Urge um projecto essencial, sem o qual...
— Sem o qual nada dará certo! - atalhou Selena, completando a fala.
— Isso mesmo.
— Que projecto é esse?
— Concomitantemente com o "aprender a fazer", o programa dos tempos novos prevê o "aprender a conviver".
Sem conviver no amor, não conseguiremos segurança autêntica na obra do Cristo.
Compete-nos estimular esse projecto essencial.
Sem ele, nenhuma organização doutrinária terá êxito em quaisquer outros projectos, por mais nobres e inteligentes que sejam.
A obra de Nosso Senhor Jesus Cristo nunca exigiu tanta atenção como agora ao inesquecível apontamento "(...) sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.”26
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2018 8:03 pm

— Por qual razão?
— Está havendo muita confusão sobre o que seja ser Cristão.
Uns querem a mansidão e terminam no sentimentalismo.
Outros, a pretexto de serem sagazes, estagiam no cálculo.
Os sentimentalistas tombam na conivência.
Os calculistas, na arrogância.
A arrogância é a atitude daquele que possui dilatada visão intelectual e nega seus sentimentos em favor das inabaláveis convicções pessoais.
Conivência é a postura de quem está na mansidão, e nega os apelos da consciência em favor da verdade.
A arrogância é alimentada pelo egoísmo.
A conivência é fruto do medo de enfrentar desafios e crescer.
— Quer dizer que o maior desafio presente na seara é aprender a conviver?
— Aprender a amar é nosso maior desafio!
Como amar sem boa convivência?
Nesse iniciar do século XXI, estamos em plena campanha, no mundo dos espíritos, para elastecer os parâmetros de utilização das forças mediúnicas na Terra.
A exemplo do ocorrido com os baluartes da doutrina no alvorecer do século XX, estamos trabalhando por modelos novos de intercâmbio entre as esferas.
Para isso, os grupos doutrinários haverão de se lançar à postura da investigação fraterna.
Fica, porém, a pergunta:
como investigar, com desejável utilidade, as questões relativas à mediunidade em grupo, se não existe convivência tecida na confiança e no amor?
Que espécie de questionamentos e avaliações poderão ser levantadas onde existam discórdia e instabilidade nos relacionamentos?
— Compreendo. Os projectos são abortados!
O movimento está cheio deles...
— Doutor Bezerra, em nome do Espírito Verdade, nomeou esse projecto essencial como Humanizarão na Seara Espírita.
Mais importante que o Espiritismo teórico, urge a aplicação de suas lições éticas.
Nada nos impedirá o amor que todos temos à doutrina, essa fonte interminável de consolo e luz, todavia o centro das cogitações da própria doutrina é o amor que devemos uns aos outros.
Esse o foco essencial.
— Que é mais importante: a "obra do Cristo", ou as pessoas nela inseridas? - indagou Selena.
— Boa pergunta!
A legítima obra do Cristo constitui-se de pessoas que aprenderam a se amar.
Que nos valerá erguer paredes, escrever livros, distribuir géneros, instituir pactos, se não aprendemos a perdoar, a aceitar críticas, a gostar dos diferentes, a tecer relações com os antipáticos, a gostar de relacionar?
A obra de Jesus, em verdade, estabelece-se no reino íntimo do coração e projecta-se nos benefícios da convivência pacífica e educativa.
Sem isso, existem apenas movimento e treino emocional para o futuro...
— Então voltemos ao caso que a senhora contou.
E se aqueles dirigentes "topetudos" não tivessem a directriz sábia de Bezerra, como ficaria a obra?
A senhora seria retirada do cargo aqui no Hospital?
— Minha filha, a pretexto de amar, não vamos ser descuidados, e a pretexto de sermos cuidadosos não vamos ser individualistas.
— No meu caso, tive que fechar as portas para a mediunidade devido a médiuns personalistas e abusos sem conta.
Melhor o serviço com qualidade, que exercer uma actividade com desequilíbrio.
Optamos por fazer bem aquilo que tínhamos condição...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2018 8:03 pm

__ Selena - aparteou Dona Modesta - seja fiel à verdade.
Optamos, ou optei?
__ Sim, é verdade...
oi uma opção pessoal.
No fundo, ninguém mais concordava...
— Opção ou imposição?
— Imposição.
— Imposição pessoal. Esse é o registro em sua ficha reencarnatória.
Angélica fez o que pôde para dissuadi-la.
De facto, para evitar o abuso, são necessárias medidas disciplinadoras, mas não exterminadoras ou irredutíveis.
Que se preparasse o médium.
Interrompesse o intercâmbio por algum tempo e depois regressasse com mais tranquilidade e equilíbrio.
Isso, o ideal.
— E agora, o que será do "Paulo e Estêvão"?
— Espera-nos muito trabalho para "limpar a área".

26 Mateus, 10:16.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2018 8:04 pm

16 - O Servo de Todos
“Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal.
E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo"

Mateus, 20:26

— Sinto-me como se a vida física não tivesse existido, ou fosse curta demais.
Seus esclarecimentos causam-me um profundo estado de frustração.
Os méritos que supunha possuir parecem estourar como frágeis bolhas de sabão!
— Não é esse o meu propósito!
— Eu sei! Eu sei... mas tenho consciência de que realmente desperdicei muitas oportunidades...
Percebendo o olhar triste de Selena, Dona Modesta ponderou:
— Qual de nós, no presente estágio de evolução, não peregrina pela negligência, pela desatenção no uso das oportunidades e das nossas habilidades?
— Esse enfoque faz-me experimentar ainda mais a sensação de que uma vida dedicada ao Espiritismo nada acresceu em minha alma.
—É um juízo comum nos primeiros tempos do desencarne.
Raríssimos escapam dessa vivência angustiosa.
—Será que o trabalho doutrinário teve alguma utilidade real?
Que diferença faz ser espírita, afinal?
—Essa é uma pergunta clássica em nossa Casa de Amor.
Somos doentes complexos.
O que nos distingue dos demais enfermos nos hospitais da Terra, é o anseio pela cura.
Consideremos, entretanto, que essa aspiração superior, frequentemente, não ultrapassa o ato de admitirmos racionalmente nossas enfermidades.
Nem sempre identificamos pelo coração a extensão das necessidades de aprimoramento.
Nossa virtude consiste em estarmos sinceramente arrependidos do mal praticado outrora.
Quem genuinamente se arrepende, fortalece as intenções enobrecedoras.
Quando passamos a sentir nossas necessidades de aprimoramento, as aspirações sinceras da alma fluem como se o dique que as represava abrisse suas comportas.
— Fui péssima dirigente!
Antes não tivesse tanta capacidade de enxergar com perspicácia!
— A perspicácia, minha filha, é habilidade extremamente útil.
O problema é nossa formação moral, nossos ímpetos.
— Ímpetos?
— Vou lhe contar algo pessoal.
Fui uma mulher perspicaz.
Trazia comigo essa bagagem da inteligência de várias outras experiências carnais.
Todavia essa conquista, desprovida da compaixão, é facilitadora da vaidade, quiçá do interesse pessoal.
Regrada pela tolerância incondicional e pela ausência de preconceitos, é promotora do progresso, rompendo os densos véus da ilusão.
— A senhora não me passa a impressão de uma mulher perspicaz.
Age com tanta discrição e simplicidade.
Os perspicazes adoram se salientar.
— Estou aprendendo a transformá-la em virtude.
— De que forma?
— Quando a perspicácia é dosada de personalismo, transforma-se em astúcia, prepotência e instrumento de domínio, características básicas da arrogância, e a arrogância é o traço moral mais palpável do egoísmo humano.
Por outro lado, essa habilidade intelectiva incentiva a criatividade, a percepção de futuro e a síntese que, sob as lentes da moral, promove o avanço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2018 8:04 pm

Jesus, Dotado de excelente perspicácia, preveniu a Pedro sobre a negação, alertou a Judas sobre a traição, colocou a multidão diante de sua consciência quando iam apedrejar a pecadora, percebeu os valores do publicano Zaqueu, considerado um larápio pelo povo, e focalizou a virtude em Saulo por sondar-lhe a alma amante dos valores espirituais.
Graças à Sua incomparável compaixão, acolheu Pedro diante da culpa, isentando-lhe de julgamentos, socorreu Judas nos umbrais da erraticidade, orientou a mulher adúltera a não pecar mais, prestigiou as intenções de Zaqueu acima das convenções mundanas e convocou Saulo para o serviço redentor.
Perspicácia sem amor é corrosivo das relações sinceras e dos projectos de espiritualização.
— A senhora me perdoe o desabafo, mas há certas pessoas que...
— Que?...
— Se não tivermos muita atenção, elas tomam conta do trabalho e nos deixam para trás.
Mais a mais, na condição de mulher responsável, procurava zelar pela tarefa que me fora entregue, fazendo o melhor que podia.
— E de quem é o trabalho, minha filha?
— Do Cristo.
— Então, por que essa preocupação?
Se nos deixarem para trás, certamente o Cristo, que sabe de nossas reais necessidades e de nossos escassos valores, não nos deixará.
No fundo, sua atitude traduz o espírito da competição, Selena.
— É o que costumava sentir nas pessoas que me cercavam.
Como se elas competissem comigo o tempo todo!
Isso me obrigava a criar sempre alternativas de defesa para o trabalho.
— E você não competia com elas? - falou a benfeitora com bondade nas palavras.
— De jeito nenhum!
— Equívoco, minha filha! Grave equívoco da ilusão humana ainda pertinente à maioria de nós, os seguidores de Jesus!
— Equívoco?!
Porventura a senhora acha que competi na tarefa? - pretextou Selena com receio do que ouviria.
— Os discípulos sinceros da mensagem cristã hão-de possuir abundante humildade para aceitar em si mesmos que, por mais valorosos sejam os nossos esforços na senda do bem, inevitavelmente, em razão dos reflexos milenares, ainda guardamos severo espírito de competição.
A luz do espírito imortal, quem se declara distante da atitude de arrogância demonstra desconhecimento, ou prefere ignorar quanto ainda somos dominados por seus ímpetos, que assumem máscaras diversas, quais sejam:
prepotência, autoritarismo, ciúme, controle, teimosia, julgamento, apropriação da verdade e inveja.
— Mas Dona Modesta, eu amava as tarefas que fazia.
Como falar em competição?
— O amor que começamos a devotar ao bem não é capaz de excluir totalmente nossas tendências milenares.
A luz e a treva digladiam em nossa intimidade.
Não esqueçamos igualmente, minha filha, que podemos amar as actividades, no entanto a competição ocorre mesmo é nas relações uns com os outros.
— Nunca me imaginei arrogante ou competindo.
Nunca me vi desse modo.
Se alguém na Terra me falasse isso, jamais aceitaria.
Na verdade, não me sinto convencida mesmo com a sua explicação tão lúcida.
— Essa é uma das características psicológicas dessa enfermidade moral.
Estamos tão habituados a ela que não sabemos mensurar seus efeitos em nossa vida.
A arrogância é o mais envelhecido sentimento do período da razão, amplamente vinculado em suas origens ao instinto de posse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:19 pm

Daí surge o impulso da competição, essa fria assassina da fraternidade.
De alguma forma, competir é uma atitude natural e necessária ao progresso.
Porém, sob indução da vaidade e do orgulho, assume feições destrutivas, psicopáticas.
A arrogância é a excessiva valorização de si, cujo reflexo mais proeminente na convivência é a competição e o julgamento.
— E a senhora ainda me diz que morrer tem suas vantagens!...
Não consigo, honestamente, perceber-me nessa condição.
Minha cabeça admite o que a senhora coloca.
Meu coração, porém, nada me diz.
Sinto-me distante dessa realidade.
— Selena, querida companheira, dispa-se das ilusões! - externou com sua sabedoria a servidora uberabense.
— Ilusões?...
— Essa "radiografia moral" é pertinente a todos nós e não é só de uma existência, mas de várias.
A arrogância é o traço mais antigo de nossa personalidade perdulária e rebelde.
O serviço de descobrir seus traços em nós próprios demanda, por vezes, dores acerbas e experiências marcantes nas relações humanas.
— É muita notícia ruim pra um só dia!
Isso é jeito de tratar uma convalescente? - externou a aprendiz em tom conformista e humorado.
— Como é bom descobrimos tais doenças da alma quando estamos internados.
Pobres daqueles que a descobrem nos "infernos" onde há escassez de acolhimento e desconsideração pelas nossas intenções legítimas.
— A senhora acredita que eu deveria ter me abdicado de minha perspicácia para acertar mais?
Ser mais discreta, calada?...
— Ninguém deve se abdicar das habilidades que possui como conquista, apenas educá-las à luz do Evangelho.
Quando lhe disse que fui uma mulher muito perspicaz, em verdade, estagiei longamente nos desatinos da arrogância.
Até hoje, há quem me deteste por aqui e na Terra, em razão de meus ímpetos nem sempre educados.
— A senhora?!
— E por que não? Falhei em um dos pontos mais cruciais da arrogância a pretexto de ser convicta e determinada.
— Qual?
— A mais destrutiva forma de arrogância é a fascinação que nutrimos pelas certezas pessoais, especialmente em relação à intenção e conduta alheias.
Nesse passo, em diversas personalidades, ela agrega à perspicácia, transformando-se em intransigência, teimosia e autoritarismo, através de manifestações de convicções irredutíveis.
Os pontos de vista, os julgamentos e toda ideia definitiva acerca de factos e pessoas, quase sempre, traduzem o espírito enfermiço do orgulho, a necessidade compulsiva que temos de nos sentir superiores a alguém.
Sendo que esse alguém pode ser quem, de alguma maneira, tenha tocado em nossas mazelas interiores e, ainda que sem intenções, fez-nos sentir pequenos, frágeis e desprovidos moralmente.
— Por que agimos assim? - expressou-se Selena completamente absorta pela exposição e admitindo sua imperfeição com sinceridade.
— Porque a essência da arrogância nas relações humanas consiste na disputa subtil para provar quem é o maior.
Por essa razão, temos que recorrer à sublime recomendação do Cristo.
E tomando do Novo Testamento leu:
"E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes:
Que estáveis vós discutindo pelo caminho?
Mas eles calaram-se, porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:20 pm

E Ele, assentando-se, chamou os doze e disse-lhes:
Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos.
E, lançando mão de um menino, pô-lo no meio deles, e, tomando-o nos seus braços, disse-lhes:
Qualquer que receber um destes meninos em meu nome a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, recebe não a mim, mas ao que me enviou." 27
— Parece que continuamos a disputar entre nós, até hoje, quem é o maior, não é mesmo Dona Modesta? - falou Selena com nítida alteração em seu estado de humor.
— Ai de nós, querida amiga, se não verificarmos que apenas iniciamos os primeiros passos de uma longa jornada no bem!
Nossa arrogância, qual uma lente de aumento, faz-nos sentir como "campeões do Evangelho" somente porque começamos a dar direcção nova às parcas qualidades que possuímos, esquecendo-nos a condição de esbanjadores milenares dos bens celestes, conforme a saga do Filho Pródigo do Evangelho.
— Que dor sinto na alma diante de sua colocação!
Creio que, igualmente, tenha falhado com Angélica nesse terreno.
— Melhor assim.
É a dor benfazeja do bisturi da verdade, dissecando as espessas camadas da ilusão.
— Mesmo doendo tanto, ainda anseio saber como dominar esse monstro interior.
— “Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal.
E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo.”.28 — consultou mais uma vez o Evangelho.
— Servo? Como soa mal essa palavra!
Nunca gostei de ouvi-la nos estudos.
Para mim tinha o sentido de ser capacho.
— Somente nós que sofremos da doença da arrogância sentimos mal diante dessa palavra.
Nela encontra-se a solução para nossos problemas de altivez.
Mas esse é um tema que deixarei para sua meditação.
Oportunamente retornaremos a esse aspecto.
— Sua fala alterou-me por dentro.
Não me sinto nada bem!
Como pode uma simples conversa incomodar tanto?!
—Fale do que sente, Selena!
—Sinto-me muito indigna do amparo que tenho recebido.
Um misto de desânimo e desespero apossa-se de minha alma.
Uma angústia.
Com tanta mediocridade em nossos actos, por que vocês ainda se interessam por nós?
Por que Eurípedes ergueu um Lar para cristãos transviados com tanta falácia entre nós, os espíritas?
Por bondade?! - falou transtornada.
— Porque o ritmo do universo é o amor, seja em que instância for.
Da bactéria ao anjo, a alma da vida é o amor.
Compaixão, misericórdia, tolerância e solidariedade são expressões da Bondade Celeste.
Juntas, constituem a força de atracção para o progresso.
Sem esse empuxo, como avançar?
Nós, os cristãos em busca da luz da imortalidade, somos os lírios no pântano, a esperança de novos dias.
"Vos sois o sal da terra e a luz do mundo."29
Somos depositários de excelsas expectativas.
Jamais as cumpriremos sem infinitas doses de tolerância superior e arrimo espiritual.
— Com tanta arrogância, como esperar tanto de nós? - lamentou Selena.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:20 pm

— Filha, precisamos rever muitos conceitos.
Em meio ao lodaçal da prepotência, temos uma conquista sem a qual ninguém chega a melhores patamares de evolução.
— Uma conquista?!
— O desejo básico ou desejo-matriz.
— ? - Selena demonstrou não entender.
— A intenção.
— Intenção?
— O que nos faz alvo da amorável complacência dos Planos Maiores é a intenção.
É o nosso fio de ligação com a energia cósmica do amor.
O mecanismo mental do arrependimento que conduz a mente ao estado de saturação edifica a intenção nobre.
Por ela, auferimos a garantia daquilo que buscamos diante da vida.
— E que relação fazer entre nossa arrogância e a intenção?
— Somos portadores de intenções honestas de melhora.
Porém isso não exclui os efeitos da altivez em nossas atitudes.
Com as melhores e mais legítimas intenções de acertar, ainda ferimos uns aos outros através de tropeços e embaraços, que resultam em dissidências e dores que gostaríamos de não mais experimentar.
— Preciso ser franca com a senhora.
Toma-me um estado íntimo horrível!
Uma tristeza intensa!
Creio que não dou conta de continuar a conversa.
— O que prevalece nesse momento?
— A depressão toma meu coração.
Durante a reencarnação, nunca fui alegre; esperava melhorar meu humor nesse plano.
Tenho a impressão que nem sequer levantarei mais desta cama.
Neste momento, toma-me uma sensação muito estranha...
— Parecida com...
— Parecida com o que senti em nossa visita ao Centro Espírita Paulo e Estêvão.
Suor frio, palpitação cardíaca, ideias desconexas...
Parece que parei de sentir...
— Respire fundo!
Após a orientação, Dona Modesta, em estado alterado de consciência, colocou o indicador no peito de Selena, fazendo leves fricções no sentido horário.
A paciente respirava com certa dificuldade.
A testa lívida, olhares esgazeados.
Parecia que iria explodir.
— Agora, Selena, fale o que vem em sua mente.
— Não posso!
— Fale, minha filha.
Liberte-se desta angústia! - disse a benfeitora com determinação.
— Eu detesto viver.
Eu queria morrer.
Deixar de existir.
Creio que eu nem exista.
Arrependo-me de ter mexido com o Espiritismo.
Sei lá, acho que não acredito em nada do que aprendi na doutrina.
— Ninguém morre.
— Eu morri, sim, senhora!
Não duvide de mim!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:20 pm

Não discuta meus sentimentos.
Ou a senhora não acredita no que falo?
Será que vão começar a me receber mediunicamente?
Só falta essa hipocrisia da vida para completar a minha loucura controlada.
Logo eu que fechei as portas para a mediunidade!
— Vá, Selena, fale mais.
Não meça palavras nem se preocupe com o vai dizer. Fale!
— Eu amo Angélica demais para merecer tanta desídia.
Ela não tem noção da gravidade da situação e fica me recriminando.
Agora, certamente, vai formar um complô contra mim.
Nunca mais serei lembrada naquela casa.
Que ódio... Que ódio...
— Em relação a quê?
— Em relação a tudo.
Quero sair desta cama e não consigo.
Nossa conversa está sendo horrível.
Não gosto da senhora...
— Fale mais!
— A senhora me lembra alguém...
Alguém muito má...
A senhora estava naquele cenário da França, eu sinto isso.
Não sei quem era...
Tenho imagens horríveis na cabeça!
Que ligação tem com o filho de Catarina?
Sei que tem alguma!
Então é minha inimiga - Selena fechou os olhos e começou a espumar pelos cantos da boca.
Que a senhora quer com Elise?
Está interessada em ajudar Angélica, porque sabe que é minha Elise?
Eu a detesto, Dona Modesta, eu a detesto, saia da minha frente agora, eu não quero vê-la mais, saia... saia!
Com a ajuda de alguns enfermeiros, aplicaram um passe sedativo, e a paciente foi silenciando o desabafo, caindo em prostração psíquica acentuada.
Dona Modesta, com extrema ternura, limpava-lhe a salivação abundante.
Ela entrou em estado de "epilepsia de desoneração", um processo de limpeza de "crostas psíquicas", acumuladas no perispírito, decorrentes de desvios do afecto.
Acalmando-se um pouco, foi recostada no leito para se recompor.
— Será medicada, Selena.
Não tenha receio.
Isso não impedirá de trabalhar, esteja certa!
Está se sentindo melhor?
— Estou cansada.
Como se estivesse trabalhando há milénios.
Evitei os remédios na Terra e quanto pude e agora sou obrigada a tomá-los!
Que acontece comigo dona Modesta?
Enlouqueci? O que foi isso?
— Tome-os sem revolta, minha filha, e agradeça por tê-los à disposição.
Por um período de dois meses, você estará em tratamento antidepressivo.
— Ai, Dona Modesta!
Está voltando uma sensação ruim.
Não me sinto nada bem!
Uma ansiedade de realizar misturada com uma preguiça de sair deste leito!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:20 pm

— Fique tranquila, vai atenuar no correr dos minutos.
Tome um pouco desta água - foi servida uma boa dose de água com efusão de magnetismo da natureza.
Passados alguns instantes sem diálogo, Selena, esforçando-se para aproveitar a ocasião, indagou de chofre:
— Por onde começar no futuro?
— Vejo que melhorou! - brincou Dona Modesta que se manteve em oração à cabeceira da maça.
Angélica é nossa esperança de mudança.
Por outro lado, muitos daqueles que a apoiaram a decisão impensada de fechar as portas para a mediunidade serão fortes barreiras.
São explorados pelos adversários que sitiaram a casa.
— Quem são esses espíritos?
— São fortes inimigos da doutrina, filiados ao vale do poder.
— Vale do poder?
— Em outro momento, tamanha a delicadeza do tema, voltaremos nesse assunto...
— Será que nosso centrinho, tão humilde e apagado, tem tanta importância assim para as trevas?
— Não fale assim, minha filha!
— Que temos feito para atrair essa atenção?
Qual a razão desse ataque?
— Os motivos podem variar ao extremo.
A base é sempre a mesma: segurar o progresso.
Alguns casos dessa natureza, como ocorrem no "Paulo e Estêvão", dão-se em razão de contas pessoais de seus dirigentes.
— Como?!
— Existem duas pessoas lá com graves débitos a saldar...
Os adversários sabem disso com minúcias...
— Uma, sou eu, com certeza!
— Não tenha dúvida.
— E a outra é...
— Angélica! - interrompeu Dona Modesta, Além da filha super protegida na pele de Elise Pyrré, ela consorciou-se com um dos Médicis, a gosto de Catarina, a rainha-mãe.
Sua trajectória terminou em deploráveis acções na política interesseira, sob chancela da religião no século XVI.
— Pelo visto, todos nós temos contas com a malfadada "França dos Médicis"...
— Certamente...
Os adversários da causa espírita conhecem sobejamente nossos traços egocêntricos.
Atuam, excitando o temperamento ao sabor de nossas tendências.
A táctica é desacreditar-nos uns perante os outros através do leque de atitudes derivadas da arrogância, esfriando as relações e indispondo-nos a conviver e confiar.
São criadas as ilhas produtivas.
Núcleos de trabalho activo que se fecham em si e não se abrem para formar um sistema de rede, intercâmbio e solidariedade.
E assim se encontra a comunidade espírita ao alcance de sórdidas e planeadas intenções do vale do poder...
— E como fazem para nos atingir na prática?
— Apenas insuflam a competição velada, induzindo julgamentos sobre a vida alheia com os quais, através da "maledicência envernizada", procuramos diminuir uns aos outros.
Assim, nascem demandas subtis que estiolam os laços afectivos e detonam os projectos de trabalho.
E o exemplo típico do mau uso da perspicácia aplicada para denegrir e destacar deficiências e desvios.
— Que lamentável!
A senhora explica, e minha mente voeja em direcção ao "Paulo e Estêvão".
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:20 pm

Fui um instrumento do mal sem intenção para tal.
Como dominar essa nossa arrogância, meu Deus?!
— Você já percebeu a arrogância em alguma pessoa?
— Em muitas pessoas.
— Aquilo que vemos nos outros são reflexos leais do que somos, ou pistas seguras de que temos algo similar dentro de nós.
Nossa tarefa de educação consiste em disciplinar nossos impulsos ególatras.
Seguir a meta em direcção aos mundos melhores nos quais:
"o homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se."30
A conversa corria agradável entre as duas quando bateu à porta do quarto o Professor Cícero que realizava suas visitas rotineiras.
— Olá! Como vai nossa Selena? - falou com carinho.
— Lutando para melhorar e conhecer a Verdade, professor!
— Esse é o problema de ter uma tutora como Dona Modesta - os três riram da provocação.
— Foi bom o senhor ter chegado, professor.
Já estava me retirando para outras tarefas, e a nossa paciente precisa muito de suas palavras confortadoras.
O senhor me conhece bem e sabe que a minha língua, muita vez, saltita da boca para fora como um chicote educativo.
Sua presença vem em bom momento.
Volto quando puder, minha amiga.
Cultive o optimismo, pois a vida a espera com muito labor.
— Obrigada, Dona Modesta.
Que fique claro o quanto adorei suas "chicotadas"...
Ainda que elas não tenham sido suficiente para expelir minha arrogância!
— Ah! Quase me esqueci de algo importante! -regressou Dona Modesta como se captasse nas "ondas do universo" algo de valor para a ocasião.
— Mais chicotadas? - brincou Selena.
— Apenas uma lembrança para que suas meditações tenham maior alcance.
Nunca, em tempo algum, passou pelo coração e pela mente de Angélica tomar o seu espaço de trabalho.
Ela lhe tributa um enorme carinho e reconhecimento.
— Mais uma vez, não sei se estou aliviada, ou se me culpo por saber disso.
— Apenas medite, minha filha!
E no que tange aos semelhantes, guarde esse ensino:
com raríssimas e honrosas excepções, costumamos trazer para cá os juízos que deles fizemos, que, inevitavelmente, são construídos a partir de nossas próprias imperfeições e pela natural incapacidade de avaliarmos com fidelidade as intenções alheias e sua história particular de evolução.
— Sinceramente, creio que errei largamente em relação à Angélica.
— Não se esqueça de que, a pior atitude de arrogância é a de coleccionar certezas sobre a vida, sem reciclá-las conforme o ritmo evolutivo de nossa humanizarão.
A solução vem da capacidade de servir.
Aquele que se fizer o servo de todos será o maior na obra do Cristo

27 Marcos 9:33 a 37
28 Mateus, 20:26
29 Mateus, 5:13 e 14
30 O Evangelho Segundo Espiritismo, capítulo III, item 10
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:20 pm

17 - Horizontes Mentais
"Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderara orgulho; porém, não basta.
Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado, para fazer ideia exacta do presente"

Obras Póstumas, O egoísmo e o Orgulho, estudo feito por Allan Kardec.

Tão logo a servidora do Cristo saiu, foi a paciente, um tanto refeita, quem puxou o diálogo.
— Estou demasiadamente surpresa com os assuntos da mediunidade.
O senhor tem conhecimento do meu caso?
— Trabalhamos em equipe, Selena.
Doutor Inácio, Rosângela, Dona Modesta e mais alguns trabalhadores estudaram com afinco sua ficha antes mesmo de sua chegada aqui.
Sabendo que viria para cá, preparamo-nos todos para o mister de orientá-la.
— Professor, uma perguntinha boba, não tem ninguém que esteja bem neste Hospital?
— O que é estar bem?
Talvez os que trabalham por amor estejam enquadrados nessa definição.
Nós outros, os que carecemos do serviço para crescer e se libertar a caminho da vivência do amor, estamos buscando ficar bem.
Já estará muito bom quando o trabalho for nosso principal património. Concorda?
— Tem razão.
Doutor Inácio já me falou que devo ser grata a Deus por estar nesta casa de amor, considerando a extensão de minhas faltas.
Agora, depois dos esclarecimentos que recebi, entendo melhor essa advertência.
— Não considere sua atitude como falência.
Decerto poderia ter tomado outra direcção.
Isso não corrompeu sua consciência.
Falhou na mediunidade, acertou em muitas outras frentes de amor.
— Por que é dada essa importância à mediunidade, professor?
Não é como qualquer outra tarefa?
— Não, Selena, não é!
A mediunidade, por assim dizer, é o fim maior a que se propõe a doutrina no seu aspecto prático, ou seja, quebrar as linhas demarcatórias entre dimensões, conduzir o homem à verdade e dar-lhe condições para vencer o materialismo, essa estrada milenar trilhada nos cinco sentidos.
— Através dela, criamos um laço com nosso destino, é isso?
— De onde viemos?
Para onde vamos?
O que fazemos na Terra?
Célebres perguntas que necessitam serem reconsideradas em suas nuances.
Que sabem os próprios espíritas reencarnados sobre elas, senão algumas informações periféricas?!
Qual companheiro de lides estará suficientemente instruído sobre as raízes espirituais de seu retorno à carne?
De onde partiram?
Com que programa?
Qual era sua real condição moral e mental antes do retorno?
Que causas anteriores os levaram a passar por esse ou aquele estado na erraticidade?
Que informes possuem os amigos matriculados nas fileiras doutrinárias sobre o futuro que os aguarda na imortalidade?
Que cogitações ou probabilidades podem levantar sobre a sua chegada na vida imortal?
Que vínculos guardam com o mundo dos espíritos?
Quem são seus guias, seus espíritos familiares, suas afinidades e seus adversários?
E, sobretudo, será que guardam consciência lúcida sobre o que fazem na Terra, ou apenas imaginam que sabem?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:21 pm

— Mas a codificação nos informa claramente sobre tudo isso?
— Informa princípios gerais, mas não pode oferecer as particularidades que são pertinentes à história de cada alma, conforme a trajectória individual.
Isso faz com que, em muitos casos, as informações auferidas não ultrapassem os limites da inteligência acostumada a se apropriar de ideias novas, com sentimento de presunção.
Conhecer o passado, buscar compreensão espiritual sobre todos os factos do presente e fazer projecções para o futuro é a tarefa lúcida de superar a rotina da mente, ainda escrava de estreitos horizontes intelectuais, sem o benefício da contextualização.
Estar informado não garante o ato da transformação.
É necessário ir além e entender como utilizar a cultura espiritual para a aquisição da conscientização.
Ter noções mais verdadeiras sobre o passado comprometedor, que leva a grande maioria dos homens a envergarem a túnica de carne na vivência terrena, é factor de crescimento e reeducação desde que tais informações sejam destinadas a ampliarem a avaliação pessoal nos rumos da auto-educação.
— Mas o que me intriga, professor, é que os médiuns não nos ajudam o quanto deveriam!...
— É verdade! Muitos, teoricamente maduros para o contacto com revelações desse porte, não têm encontrado o ensejo bendito de mensurarem algum facto concreto sobre seu passado e a extensão de suas necessidades.
Permitem-se imaginar que são missionários virtuosos com avultados compromissos de santificação da colectividade.
Daí nasce a sensação de superioridade com a qual confundem responsabilidades e compromissos com iluminação e elevação espiritual, gerando ilusões que têm prejudicado em muito as tarefas e a si próprio.
— E ainda com graves consequências para a colectividade...
—Com poucas excepções, a comunidade espírita absorve o mau exemplo de seus líderes, passando a criar ídolos com pés de barro.
As tarefas para eles deixam de ser tão agradáveis e proveitosas em função da instauração de rigidez hierárquica, distanciando as pessoas e banindo o clima de familiaridade.
Não é por outro motivo que encontramos climas inamistosos em muitas agremiações nas quais seus dirigentes assumem postura de proprietários da verdade e das casas, comportando-se como exímios missionários.
Entretanto, a mais lastimável perda ocorre no campo íntimo, ao elaborarem um complexo mecanismo emocional sob a influência do orgulho.
Percebendo claramente que Selena não havia entendido essa questão do orgulho, o professor explicou:
— Muitas almas, na tarefa da condução espírita, quando sinceras e realmente comprometidas com seus anseios de melhora, carregam angústias dilacerantes em seu íntimo, por lealdade consciencial.
Lutam para abafar os impulsos de vaidade e tentam se entregar ao compromisso, fazendo o melhor.
Todavia, o combate interior com suas mazelas causa-lhes tormentas sem conta, porque, perante a colectividade que dirigem, guardam maior soma de deveres e responsabilidades, sendo justo esperar o enobrecimento de sua conduta.
Nesse quadro, ante suas falhas pessoais, instala-se um processo impiedoso de cobranças contínuas, onerando seu campo mental com excessos de exigência para manter aparências.
Nascem então as defesas inconscientes sob acção subtil do orgulho.
Imaginam-se dotados de grandeza espiritual que os obriga manter "posturas de direcção".
Somando-se ao seu drama íntimo, ainda existem os muitos problemas próprios da tarefa, e, nesse torvelinho de pressões internas e externas, a criatura é levada, pouco a pouco, ao desânimo consigo e com a actividade, abrindo então oportunidade para explorações mentais obsessivas que ainda mais o fazem acreditar na sua suposta grandeza, ou abatendo-se no desânimo.
Surge um forte campo afectivo de mágoa e decepção com os quais muitos dirigentes abandonam tudo, escolhendo a infeliz postura de críticos do movimento espírita pelo resto de suas existências.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:21 pm

— E como as revelações advindas das actividades mediúnicas poderiam auxiliá-los?
— Concedendo-lhes respostas satisfatórias para suas angústias.
Esclarecendo-lhes quem são realmente, de onde vieram, com qual missão estão imbuídos e quais são suas necessidades mais emergentes.
Alargando seus horizontes mentais para que seus passos sejam mais acertados.
A fala precisa do professor fez a mente de Selena voar. Lembrou-se da casa que dirigiu, de seus problemas íntimos, de Angélica...
Começava a perceber que nunca procurou entender, sob esse enfoque mais vasto, as ocorrências que lhe marcaram a experiência carnal.
Percebeu então que suas noções de vida eram frágeis e interesseiras.
Visões rasas da mente humana, escrava da rotina, das convenções e do vício do orgulho em pensar que sabemos tudo sobre o que nos cerca.
Percebendo a introspecção da companheira, continuou o instrutor:
— Na medida em que o homem amadurece espiritualmente, apossa-se, proporcionalmente, de sua bagagem milenar.
Em muitos casos e em certos níveis, guardar noções mais avantajadas sobre a trajectória espiritual favorece o progresso do espírito.
Não se trata de advogar a atitude leviana e despropositada; de consultar o passado por pura curiosidade.
Importa dilatar concepções sobre suas necessidades e valores a fim de ajuizar com mais proveito as origens de muitos males e utilizar melhor suas habilidades sob um prisma mais amplo e consciente.
O codificador deixou claro essa questão em uma de suas sábias palavras ao afirmar:
"Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderar o orgulho; porém não basta.
Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado para fazer ideia exacta do presente."31
— No entanto, parece-me que essa não é a realidade de nossa comunidade... - lamentou Selena.
— O movimento humano, em torno das ideias espíritas, tem conseguido grandes realizações e vitórias, contudo encontra-se na sua infância...
Sua etapa de maioridade será atingida após o terceiro período de setenta anos de sua existência.
No iniciar do século XXI, teremos céleres mudanças levadas a efeito pela terceira geração de espíritas, chamada por Bezerra de Menezes como sendo a geração solidária.
Temos muito trabalho nas lides doutrinárias.
Urge deflagrarmos um processo de formação de frentes produtivas de serviço com base na relação inter-mundos.
Somente assim encontraremos eco no coração do servidor espírita a fim de que seus horizontes
sejam ricos de entusiasmo.
É preciso ver além de si mesmo
para evitar o contágio do desânimo, ou o apelo da acomodação.
Em razão dessas medidas que muito exigirão de nosso plano, Selena, é que vim lhe fazer um convite.
— Convite?!
— Amanhã teremos mais uma de nossas habituais reuniões de preparação para os serviços intercessórios.
Seria muito valiosa a sua presença.
Sua bagagem de conhecimento acerca das questões espirituais da existência carnal ampliou-se em demasia.
Informação sem trabalho é caminho para enfermidade.
— O senhor tem extrema capacidade para ler o mundo íntimo!
Não vejo a hora de poder realizar algo de mais concreto por essa casa ou pelo "Paulo e Estêvão".
Terei condições?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 14, 2018 8:21 pm

— Não tenha dúvidas, minha filha.
Não tenha dúvidas!
Estarei te aguardando para nossa reunião.
Você encontrará por lá alguns amigos.
Deus a abençoe e até amanhã.
— Obrigada, professor!
Que abençoe igualmente o senhor.
Apenas uma pergunta:
sobre o que estaremos estudando amanhã?
— Faremos alguns esclarecimentos sobre o Hospital Esperança.
— Que óptimo!
Tenho muita curiosidade sobre o assunto. Estarei lá.

31 Kardec, Allan. O Egoísmo e o Orgulho, Obras Póstumas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:29 pm

18 - Obra de Amor
"Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?
Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral.”

O Livro dos Espíritos, questão 793.

Na manhã do dia posterior, Selena, atendendo ao convite do professor, aprontou-se para a ocasião.
Sua fisionomia ainda abatida dava notas da tristeza com as recentes decepções.
Ao chegar à porta da sala de reuniões, uma agradável surpresa para seu coração sofrido:
Marcondes lhe retribui o ramalhete de lírios em nome de Eurípedes.
— Marcondes!
Quanta bênção imerecida! - ela falou com olhos marejados.
— Fico feliz que eu tenha sido o portador.
Retribuo sua generosidade de outrora.
— Meu Deus! Eu não mereço!
E como está você? -indagou com a voz embargada de emoção.
— Sinto ainda algumas dores abdominais.
Apesar disso, intimamente, melhoro a cada dia.
Logo, todos foram convocados por auxiliares amoráveis ao início da actividade.
Reuniam-se meia centena de internos em condições razoáveis de recuperação. Todos espíritas.
Dispostos em forma circular, iniciou o professor sua explanação com um largo sorriso:
— Amigos, Deus nos guarde em paz.
Nosso encontro visa a oferecer mais detalhes sobre esta casa.
Após semanas de internação, as fichas de vocês notificam auspiciosas melhoras em seus quadros.
Conquanto muitos estejam internos em alas diversas, trazem em comum algumas predisposições para a colaboração.
Alegra-nos semelhante atitude considerando a extensão de nossos afazeres.
Façamos uma oração e comecemos.
Após uma prece, realizada com ternura incomparável por um dos servidores presentes, o professor iniciou sua explanação:
— O Hospital Esperança é uma obra de amor, erguida no plano espiritual por Eurípedes Barsanulfo, cujo objectivo é prestar abrigo e orientação aos seguidores do Cristo, que não conseguiram, ou não quiseram adoptar o compromisso da vivência de Sua mensagem de amor.
São as almas mais facilmente aliciadas pelas furnas da maldade em razão da disputa do génio do mal com o Cristo.
Os mentores de Mais Alto que avalizaram o projecto foram Agostinho de Hipona e João Evangelista entre outros integrantes da Equipe do Espírito Verdade.
Sob convocação directa do Cristo, Eurípedes foi chamado, antecipadamente, em sua reencarnação gloriosa, para erguer este porto de pacificação para almas atormentadas pelo arrependimento tardio ante as clarinadas do Evangelho.
Accionando um controle remoto, surgiu ao alto um projector holográfico que se localizou bem no centro da sala.
Mais um toque e produziu uma imagem global do Hospital, inclinada em ângulo de quarenta cinco graus, que rodava lentamente.
Parecia uma maquete quadridimensional com um nível de realidade surpreendente, pois havia movimento, cor, perspectiva perfeita e colocava à mostra os limites entre atmosfera física e espiritual.
— Vejam esta imagem!
É o formato do Hospital, visto de cima.
Lembra um cata-vento com cinco hélices.
É uma homenagem de Eurípedes à nossa galáxia.
Cada hélice é um pavilhão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:29 pm

Ao centro, temos esse vitral em forma de uma cúpula, similar às mesquitas, que é a parte mais nobre e na qual nos comunicamos com as esferas mais elevadas.
Os pavilhões se dividem conforme a natureza das necessidades de seus internos.
Todos nós aqui presentes estamos vinculados ao pavilhão Judas Iscariotes, coordenado por Dona Maria Modesto Cravo que já conhecem bem.
Sob tutela de Judas Iscariotes, o Doutor Bezerra de Menezes iniciou as actividades desse pavilhão na década de quarenta.
Judas é protector dos cristãos visionários, quais nós próprios, que enxergamos demasiadamente sobre as necessidades do mundo, mas protelamos, quase sempre, a nossa própria libertação.
Os presentes olhavam com profunda atenção.
Conservando o mesmo ângulo e abrindo um pouco mais o diâmetro da imagem, novas dependências foram surgindo.
Jardins suspensos, áreas naturais em torno da construção...
Agora parecia uma pequena cidade que se estendia em colmeias ou bairros vizinhos.
Uma visão aérea e panorâmica.
— Vejam que, especificamente, entre dois desses cinco pavilhões, saem dois corredores que partem do centro do subsolo.
Observem que o formato agora nos lembra um moinho com suas pás girando e a suas hastes de sustentação como sendo esses dois corredores.
Logo lhes mostrarei mais detalhes, em outra imagem, sob nova perspectiva.
Estes corredores são os portais de entrada e saída para outras dimensões.
Atingem cento e vinte metros de comprimento cada um.
O corredor de entrada é o Portal de Acesso - Professor Cícero destacava essa parte da edificação com uma luz amarela. O outro corredor, de saída, é o Portal Dimensional.
As alas restritas, as enfermarias para espíritos em estado grave e pacientes circunstanciais, as prisões, ficam naquele Portal de acesso.
Esses corredores, que são os "pés do moinho", ficam nos dois andares subsolos.
O professor colocava a imagem na posição em que desejassem os aprendizes.
Alguns se levantavam de suas cadeiras e se aproximavam ante a exuberância da projecção.
Podiam perceber claramente pessoas se movimentando na holografia como se, na verdade, a imagem estivesse sendo filmada concomitantemente com a apresentação.
Mudando o ângulo de foco, continuou dizendo:
— Agora vejamos em linha horizontal como se estivéssemos entrando pela portaria.
Observem que são cinco andares em todos os cinco pavilhões - e rodou a holografia como se desse uma volta completa, contornando horizontalmente o Hospital.
Abaixo deste nível, temos o Subsolo 01 e Subsolo 02, totalizando sete andares em cada um dos cinco braços.
Nos subsolos, há maior ligação com as regiões abismais e com a própria Terra.
Uma cortina vibratória, que por hora vamos abdicar de explicar, separa esses níveis dimensionais sem, contudo, deixar de fazer parte da mesma obra.
Observem aqui na portaria de entrada - e aumentou a proporção da imagem focalizada.
Esta é uma réplica em tamanho natural da Casa do Caminho.
Temos Pedro, Paulo e outros apóstolos reproduzidos em suas imagens naturais e reais, colhidas em arquivos de Dimensões Superiores e esculturadas por artistas de nossa casa.
Além da réplica, quem visita o lugar pode ouvir, através de clariaudiência no tempo, os diálogos dos primeiros aprendizes do Cristo.
É um verdadeiro templo de meditação e recolhimento.
Agora, prestem atenção no versículo esculpido na entrada, narrado em João, capítulo treze, versículo trinta e cinco que diz:
"Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros."
Quanto mais era mostrado, mais os participantes se encantavam em completa mudez, embora suas mentes fervilhassem de interrogações.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:29 pm

Durou quase cinquenta minutos a exposição.
Muitas outras dependências fizeram parte da amostragem. Encerrada a fala, o professor se colocou à disposição para o diálogo e o debate por mais quarenta minutos.
Foi Marcondes quem iniciou, indagando:
— Existe possibilidade de localizar o Hospital em relação à geografia da Terra?
— A "Casa de Eurípedes", em suas origens, está intimamente ligada à história do Sanatório Espírita Uberabense, fundado pela família de dona Maria Modesto Cravo.
O Hospital Esperança faz parte do Planeamento do Espírito Verdade no transporte da árvore do Evangelho para o Brasil.
Logo depois de lançada as bases da doutrina em plena França positivista, o Espírito Verdade trouxe as sementes doutrinárias para esse rincão que, há esse tempo, já estava predestinado, há quase quatrocentos anos, em se tornar o celeiro da mensagem cristã à luz da imortalidade.
Eurípedes reencarna em 1880, deixando na vida espiritual um projecto em andamento, no qual faz parte Dona Modesta e um número imenso de almas.
Em 1899, dona Modesta regressa ao corpo.
Na sua juventude, reencontra com o apóstolo de Sacramento.
É curada por ele e recobra o compromisso assumido.
Eurípedes retorna à vida espiritual em 1918 para continuar seu projecto, e Dona Modesta assume o compromisso de erguer o pólo de ligação terrena com a obra já iniciada no mundo espiritual e, temporariamente, sob tutela de Doutor Bezerra de Menezes, desencarnado em onze de abril de 1900.
O Sanatório Espírita Uberabense foi inaugurado em 31 de dezembro de 1933.
Na erraticidade, Eurípedes lança as sementes do Hospital Esperança em plena década de trinta.
O entrelaçamento desses núcleos de amor e redenção foi cada dia se estreitando, a ponto de tornar-se o primeiro núcleo avançado de ligação do Hospital Esperança com a Terra.
— Professor- pediu a palavra um trabalhador do estado do Amazonas - por que o nome Hospital Esperança?
— Devido ao momento expiatório da Terra.
Quem sofre, adoece psiquicamente, os sonhos fenecem, as emoções enregelam.
Somente a esperança é capaz de acender na alma o desejo de galgar os degraus da caminhada humanizadora, ante os golpes cruéis da dor.
A transposição de ciclos expiatórios e provacionais para a regeneração significa, evolutivamente, urna "cisão de reinos".
E a saga do homem, assumindo seu estágio humanizador, deixando para trás as velhas bagagens enfermiças do instinto e do egoísmo.
Impossível fazer semelhante mudança sem sofrimento e desolação.
O raciocínio é apenas uma faceta da conquista humana.
Enquanto o homem não se educar para amar, não poderá ser considerado um "ser humano".
A esse respeito, Allan Kardec recebeu lição incomparável das hostes celestes nestas palavras:
"Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã.
Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização."32
— O senhor estaria dizendo que nós ainda não nos humanizamos?
- rebateu o mesmo participante.
— Na óptica da evolução universal, humanizar significa aprender a viver integrado à obra do Criador.
E, para biliões de almas, neste momento de dor das sociedades terrestres, viver é o mesmo que carregar um pesado fardo; o fardo de ter consciência de si mesmo.
Se viver já é uma tormenta para muitos, imagine o quanto teremos que avançar a fim de nos integrarmos com às Leis Naturais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:30 pm

— Do jeito que o senhor coloca, parece que a Terra está mais atrasada do que somos capazes de imaginar.
Estaríamos, porventura, no reino animal?
— Quase isso, meu irmão!
Somente perdendo o corpo para aquilatar com precisão a natureza dos problemas terrenos.
Essa a razão de nós, os desencarnados, trazermos o coração repleto de gratidão em situações em que o homem encarnado só enxerga desgraça.
— Professor - pediu a palavra um seareiro de Londrina - por qual motivo os seguidores do Cristo são as almas mais aliciadas pelas furnas?
Não deveria ser o contrário, isto é, serem os mais protegidos face o esforço e devoção nas fileiras da caridade?
— São os mais aliciados, porque, com raras excepções, desencarnam com culpas inconfessáveis.
Os espíritas reencarnados carecem rectificar, em muito, os seus conceitos sobre o que seja ser cristão.
Uma cultura perigosa se insufla nas comunidades doutrinárias, cujo cerne é a ideia falsa do que seja ser espírita.
Quase sempre, esse conceito exige espectáculos de grandeza moral inacessíveis à maioria esmagadora dos discípulos da doutrina.
Para atender a essa expectativa estimulada através da cultura espírita, homens e mulheres adoptam condutas pudicas e artificiais, quando o que mais necessitamos no momento é sinceridade no intuito de mostrarmo-nos como somos e humildade para iniciar o serviço autêntico de renovação.
O homem engana a si mesmo, e depois a morte o devolve à sua consciência.
É assim que, ao sair do corpo com o chumbo da culpa, é puxado para baixo e naufraga em tormentas que constituem plugs automáticos com as sociedades inferiores.
— E o amparo, onde fica?
— Essa é a pergunta mais comum que ouvimos por aqui.
Sem nenhum desrespeito à sua formulação, ela traduz a infantilidade da visão de quantos desconhecem a extensão dos serviços da Divina Providência.
A bondade de Mais Alto jamais cessa em estender benesses até mesmo para os escravos da perversidade, quanto mais aos devotos do bem.
Entretanto, muita ilusão permeia a visão de nossos correligionários espíritas a esse respeito.
Imaginam-se isentos de lutas após a morte, tão somente em função das extensas folhas de serviços prestados nas tarefas.
Até mesmo o Amor Celeste, para ser bem recebido, solicita educação interior, pois, do contrário, pode ser interferência infeliz nas necessidades de aprendizado de muitas almas.
Já resgatamos companheiros espíritas em lamentáveis estados de loucura fora do corpo, cuidamos de suas carências
imediatas e, quando foram convocados a servir e melhorar, fugiram
desatinados em direcção aos Portais de Saída, no rumo de suas plantações.
Tinham o Espiritismo no cérebro e traziam o coração na
retaguarda. Para nós, que nos acostumamos ao auto-conhecimento
fora dos cinco sentidos, o conceito de ser espírita passa por esse
parâmetro: o coração que pulsa ininterruptamente em busca da luz.
Basta isso para que o amparo, em qualquer instância, possa ser eficaz
sem ser conivente.
— Como definir isso, professor: "coração que pulsa ininterruptamente em busca da luz"? - insistiu o mesmo confrade com curiosidade.
— São aqueles que jamais desistem de melhorar.
— Só isto?!
— Meu irmão, para almas que fazem "cisão de reino" como nós, isso é tudo desde que seja sincero; vindo do fundo da alma.
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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 4 Empty Re: Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:30 pm

O desejo de melhora talvez seja a qualidade mais evidente em nosso estágio evolutivo, por traduzir que já cansamos do mal, da estagnação.
Tudo ao mais virá daí, ou seja, o progresso, o desligamento dos vícios, enfim a vitória interior.
Enquanto isso, nossos irmãos na seara, quase sempre tomados de escassa tolerância e compaixão, esperam uns dos outros mais do que podem oferecer, criando desânimo e puritanismo totalmente desnecessários.
O desejo de melhora é o efeito de um longo trajecto de amadurecimento do Espírito.
Quem o possui sem artificialismo vai ao Pai.
Ninguém o improvisa de uma para outra hora.
A reunião continuava como inestimável ocasião de esclarecimento e introspecção.
Levantou-se um cavaleiro_ perto da imagem projectada e apontou, indagando:
— Observei que estes corredores abaixo do nível do solo estão mais pardacentos.
Qual a razão?
— Como disse anteriormente, são elos com dimensões inferiores.
Lá ficam dependências para casos mais graves, inclusive celas.
Existem algumas histórias de resgate, nas quais seria imprudente colocar alguns pacientes na intimidade dos pavilhões.
Nos chamados Portais de Acesso - e manejou novamente a imagem projectada que passou a mostrar com detalhes a narrativa - como podem ver, temos estes cómodos, logo na entrada, na divisa entre as regiões inferiores e os limites do Hospital.
Sob guarda intensa e cuidados muitos especiais, são alojamentos apropriados para avaliar a real possibilidade da internação, ou aguardarem a amenização de quadros enfermiços para posterior transferência a outras organizações de nosso plano.
— Ocorrem casos de desistência?
Não quererem ser internados?
— Nem sempre é desistência, mas imantação.
Leis que governam acima das nossas possibilidades de acção.
Leis que determinam a posição de cada um de nós na Obra da Criação.
São histórias entristecedoras, entretanto, mesmo regadas pela Misericórdia não conhecemos nenhuma que escapasse da lei que determina: a cada um segundo suas obras.33
— Quando o senhor mostrou os portais disse que lá são tratados pacientes circunstanciais.
Quem são eles?
— São os desvalidos que pedem socorro.
Desafortunados que se enroscaram em armadilhas ou brigas.
Corações tombados pelo vício.
Mães aflitas. Filhos desnorteados.
Pais preocupados.
Criaturas feridas, acidentadas ou maltratadas.
Enfim, não há como descrever tanta penúria e sofreguidão nas zonas de interacção com as regiões inferiores.
Nos portais, temos verdadeiro centro de caridade pública muito similar ao pronto-socorro na Terra.
Casos graves chegam por ali.
Grande parcela é temporária.
Alguns vêm em busca de um naco de pão, sentem fome, frio e loucura.
Machucados, uns; inconscientes, outros.
Sangue, dor e carência se misturam aos pedidos de ajuda para outros que estão chafurdados em ciladas, presos em magotes no caminho.
Ali recebemos todo tipo de tormenta humana.
Raríssimos, porém, obterão todos os cuidados que suplicam, face às suas intenções voltadas para baixo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:30 pm

Não anseiam permanecer no Hospital, mas gostariam que fôssemos onde estagiam.
Assim, como entre os encarnados, existem, por aqui, muito imediatismo e interesse particular.
— Não existem defesas nessa parte?
— É uma faixa espiritual de inúmeras lutas que, por agora, abdicarei de expô-las.
Há quem imagine os benfeitores do além, dirigindo um Hospital como este atrás de uma escrivaninha, ditando normas e pareceres.
É neste local singular do Hospital que encontramos nosso director, Eurípedes Barsanulfo, na maioria de suas horas de trabalho.
Quando o amor do venerando apóstolo não é absorvido pelos atormentadores e atormentados, entram em campo as defesas da justiça, que determinam acções corajosas na extinção do mal que grassa.
A bondade não exclui a ordem.
Nossa casa conta com excelentes estrategistas nesse sentido para que a maldade calculada não invalide os planos socorristas do amor.
— Posso perguntar? - pediu um cooperador do Triângulo Mineiro.
— Temos ainda alguns minutos para mais duas perguntas.
— Já ouvi falar desse Hospital através de Chico Xavier em 1980, mas não imaginava a grandeza desta obra.
Gostaria de saber quantos internos tem o hospital e se todos são espíritas.
— Cada braço (ou pavilhão) alberga aproximadamente dois mil leitos, totalizando um fluxo de dez mil internações rotativas nos cinco pavilhões.
Além disso, temos os casos do subsolo que chegam, em tempos de lotação, a quase cinco mil histórias diferentes, que nem sempre resultam em internações.
O Hospital Esperança, após setenta anos de actividade tornou-se uma referência mundial dê posto avançado de socorro na erraticidade.
As comunidades de todo o orbe, orientem-se ou não pela mensagem de Jesus, contam com seus ofícios.
Hoje, temos milhares de leitos indirectos distribuídos em enfermarias e núcleos improvisados, junto a inúmeras entidades de amor na Terra, sob orientação e amparo desta casa.
Muitos centros espíritas fazem parte deste conglomerado de auxílio e recuperação, conquanto tenhamos, nesse campo, variadas organizações cristãs de outras designações em actividade exemplar.
Cada pavilhão atende a necessidades específicas e procuramos agrupar os pacientes por afinidade de pensamentos e necessidades.
Isso nos facilita, a princípio, os atendimentos.
Há pavilhões de evangélicos, católicos e assim por diante.
Assim como temos este pavilhão Judas Iscariotes, designado a líderes cristãos, especialmente espíritas, temos sectores próprios para os umbandistas e mais algumas denominações cristãs.
— Por que vim parar aqui? - perguntou por fim Selena à queima-roupa, dando a entender que divagava em profundas reflexões de ordem pessoal.
Pela minha idade, quando no corpo, o Hospital nem tinha sido fundado ou estava em seus primórdios.
Portanto, ficarei sabendo de onde vim realmente?
São programadas reencarnações aqui no Hospital?
— Embora não seja um serviço de prioridade do Hospital, cerca de mil e quinhentas reencarnações já foram projectadas e executadas integralmente em sector apropriado; isso sem contar os milhares de casos nos quais houve a participação no encaminhamento para outros núcleos especializados em renascimento carnal.
Todos vocês, que já tiveram prévia selecção por parte de técnicos para conhecerem as informações pertinentes às suas necessidade atuais, em tempo oportuno, terão acesso livre às suas fichas reencarnatórias.
Em nossa biblioteca, existe uma repartição destinada a essa finalidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:30 pm

Será nesse local, Selena, que obterá muitas respostas para velhas perguntas feitas no silêncio da alma.
O Hospital Esperança, pode-se afirmar, é um grande pronto-socorro e um centro preparatório para casos específicos de seguidores da mensagem Cristã.
— Posso fazer uma última pergunta, professor? - indagou Marcondes.
— Que seja a última para cumprirmos nosso horário.
— Que razões haveria para um pavilhão somente de líderes cristãos como este no qual estamos incursos?
— O pavilhão dos dirigentes é uma das tarefas mais exigentes de toda essa obra de amor.
A necessidade dos líderes cristãos exigiu maior quota de serviços especializados, estabelecendo actividades singulares.
Somos os intérpretes da mensagem cristã, quem mais a entende pelo raciocínio, ao tempo em que somos os que a menos sentimos no pulsar das atitudes.
Essa condição determinou nosologias muito diferenciadas para quantos se inspiram nas palavras do Cristo.
De facto, nossa história reflecte um trajecto particular, de um grupo espiritual com caracteres psíquicos pertencentes a certas classes de exilados de capela.
Assunto complexo que, oportunamente, será motivo de estudos para cada um, conforme suas aspirações.
A rigor, nós, os líderes cristãos de qualquer denominação religiosa, somos espíritos com complexas necessidades no campo do sentimento.
Amamos a mensagem cristã, ela nos toca profundamente, todavia somos ainda dominados por velhas artimanhas da vida mental, cujos registros se perdem na noite dos tempos...
O professor interrompeu a actividade pontualmente no horário previsto.
Orou em agradecimento e saiu ligeiramente para outros afazeres, deixando em todos os presentes o desejo incontido de indagar e conhecer outras nuances.
Na condição de educador, ele sabia que essa curiosidade seria extremamente benfazeja aos dias vindouros daquele grupo de aprendizes.
O resultado pôde ser percebido imediatamente, pois todos permaneceram no recinto trocando impressões entre si sobre o que cada um sabia além daquilo que fora exposto.

32 O Livro dos Espíritos, questão 793.
33 Apocalipse, 20:12.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:30 pm

19 - Ala Restrita
“Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios e coisas de espantar; a ponto de seduzirem os próprios escolhidos"
O evangelho Segundo Espiritismo, capítulo XXI, item 5.

Em tempo comparativo ao da Terra, Marcondes e Selena viveram todas as experiências narradas até agora, em menos de sessenta dias.
Aprenderam sobre a vida espiritual em algumas semanas mais que durante toda a vida física.
Guardando espontânea alegria na convivência com seus orientadores, não apresentavam ainda as mesmas disposições com seus colegas de ala.
Apesar de polidos, seus diálogos ainda eram superficiais e nutriam repugnância pelos internos, fato que tentavam ocultar como se estivessem em local inadequado.
Procuravam quem lhes compartilhasse os pontos de vista como de costume.
O dirigente de Goiás e a líder mineira ainda traziam arrogância e impetuosidade, maledicência e competição em sua conduta - joio mental cultivado em décadas de descuido nos serviços doutrinários, sob as ilusões do orgulho, que reflectiam milénios de perdição.
Conquanto as imperfeições, nossos amigos iniciaram o doloroso processo de desilusão e busca da realidade.
Marcondes começou a avaliar a extensão de sua conduta arrogante em sua existência recém-finda.
Selena passou a interligar a dor da "depressão suportável", com suas atitudes controladoras.
Ampliaram-se os horizontes mentais.
Novos sentimentos brotaram quais fossem flores que desejassem embelezar a criação.
O tesouro mais valioso que uma alma pode ter depois da morte é saber mensurar os reflexos de suas atitudes na intimidade.
Nossos irmãos são exemplos dos trabalhadores da última hora que realizaram a contento.
Entretanto, por descuidos pertinentes à caminhada eivada de lutas a vencer, ambos renderam-se ao teste da negligência.
A bondade que semearam lhes subtraiu as dores da queda consciencial.
As intenções que cultivaram livraram-lhes dos grilhões do inferno.
Para o servidor de Jesus, semelhantes vitórias são as expressões claras do dever a cumprir.
O Senhor da Vinha, entretanto, propôs-nos um contributo para além da obrigação.
"Quem pedir o vestido, dê igualmente a capa, aquele que quiser mil milhas, ande duas mil, o que te bater uma face, oferece-lhe a outra."34
Além da obrigação, espera-nos o sacrifício.
Além da justiça, espera-nos o amor.
Nenhum bem espalhado deixa de abençoar-nos o caminho.
Somente o amor aplicado apazigua a alma nas sendas do aperfeiçoamento, iluminando por dentro a criatura.
Servir, servir e servir.
Trabalhar sem cessar.
Essas são as indicativas seguras de equilíbrio, libertação e paz após a morte.
Marcondes e Selena colheram os louros da merecida oportunidade de amparo e orientação.
Seus corações, no entanto, sangravam de angústia por experimentarem o mais lastimável efeito da negligência, isto é, a sensação de tempo perdido ou mal aproveitado.
As primeiras decepções narradas até agora constituíam uma demonstração tácita de que a vida nos devolve, a nós mesmos, depois da morte física.
Que o trabalhador de Jesus repense seus caminhos, seus hábitos e suas propostas de vida.
Grande desafio de desapego e disciplina apresenta-se a quem deseja seguir o Mestre.
Não basta evitar o mal do qual somente agora começamos a nos desvincular.
Imprescindível ir além e criar todo o bem possível na caminhada.
Como instaurar semelhante conduta sem rever nossa parcela pessoal de participação na obra do Cristo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:31 pm

Após esse período de adaptação, nossos dois personagens começaram uma nova empreitada moral.
Mais amplos voos de espiritualização os aguardavam no serviço redentor.
Os diálogos instrutivos com os servidores do Hospital, acrescidos dos contactos profícuos com diversos internos nas alas em que se encontravam - espíritas e cristãos de diversos matizes - acresceu-lhes enorme soma de perspectivas.
Ficava claro: erraticidade é o tempo da colheita.
Após a semeadura da vida corporal, hora de aferir a realidade das escolhas.
O retorno de Selena ao ambiente de tarefas doutrinárias e a cirurgia de Marcondes atestavam o irretocável resultado de suas atitudes durante a reencarnação.
Ambos estavam carentes da misericórdia celestial.
Chegava o instante de aprofundar em seus dramas, ampliar a visão sobre os efeitos de sua trajectória naqueles que lhes partilharam a senda.
Para prevenir maiores dores, a didáctica do amor prescreve o trabalho edificante como medida insubstituível.
Nossos amigos foram convidados a conhecer de perto os seguidores de Jesus, atolados em desvios lamentáveis.
Ante a tormenta alheia, dimensionariam com mais exactidão suas próprias realizações.
Conhecendo os casos graves de arrependimento tardio, perceberiam mais vastos horizontes acerca da caminhada humana no aprimoramento incessante de si mesmos.
Selena foi convidada a passar algumas semanas fora do Hospital Esperança em magnífico núcleo educativo coordenado por Odílon Fernandes.(2)
Local onde reveria seu tema desprezado, a mediunidade com Jesus.
Marcondes, por sua vez, transferiu estada para outras alas do pavilhão Judas Iscariotes.
Atendendo ao pedido de Eurípedes, ficaria integralmente aos cuidados de Dona Modesta e Doutor Inácio, na condição de auxiliar directo de ambos.
— Satisfeito na nova casa? - indagou, irónico, o Doutor Inácio.
— Satisfeito, nem tanto.
Diria que me sinto em casa.
— Você terá razões de sobra para ficar satisfeito, pode estar certo!
— Quando começarei as visitas?
Terei que fazer algum curso?
— Começará já.
O curso serão as visitações.
Começaremos visitando Jandira, no subsolo.
— Dona Modesta não virá connosco?
— Modesta está muito ocupada no momento. Vamos!
Marcondes estava alojado no andar térreo, onde se situava a administração geral daquele pavilhão.
Dirigiram-se para o elevador, desceram ao andar subsolo 01, local somente permitido com autorização de responsáveis devido à gravidade dos casos.
Passando pelos postos de enfermagem fraterna, Doutor Inácio e o auxiliar eram saudados com alegria.
Os corredores possuíam luz mais fraca.
Chegando à ala de destino, uma placa acima da porta dizia ala restrita.
Vinte quartos, sendo dez de cada lado, e uma enfermaria colectiva ao fim do corredor.
Alguns pacientes transitavam mudos, com olhares esgazeados.
Muitos enfermeiros, em plena tarefa, passavam pelos dois com pacientes em maças.
Ouviam-se gritos estridentes em alguns quartos.
Marcondes revela-se tenso.
— Assustado, Marcondes?
— Nunca gostei muito de hospital psiquiátrico.
— Não é hospital psiquiátrico.
É uma ala de recuperação mental.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 15, 2018 8:31 pm

— E qual a diferença?
— Passei a vida dentro de um hospital psiquiátrico e jamais presenciei um índice de recuperação como ocorre aqui.
— Devido ao método?
— Sem dúvida!
Nisso reside a diferença.
— Que método é empregado?
— Amor terapia.
Os dois andavam, até que foram abordados por uma mulher de baixa estatura.
Bem penteada e com olhar fixo, aproximou-se de Marcondes com os braços cruzados.
Vez por outra, levava o indicador nos lábios como se espalhasse uma substância e novamente cruzava os braços.
Chegando perto, disse:
— Eu sei o seu nome.
— É mesmo?! - falou Marcondes em tom de piedade pela condição da doente.
— Converse com ela! - estimulou Doutor Inácio.
— Qual o seu nome?
— Jandira. Jandira Alves de Assumpção.
Muito prazer, Senhor Marcondes de Faria.
— Como ela sabe meu nome, doutor?
— Pergunte a ela - respondeu o médico.
— Você me conhece de algum lugar, Jandira?
— Conheço o tempo universal e o espaço que o separa.
— Creio não ter entendido! - exclamou o dirigente um tanto constrangido.
— Marcondes - interrompeu Doutor Inácio - fique com ela por alguns minutos.
Estarei logo ali - e apontou o posto próximo.
— Venha ao meu quarto.
Vou lhe contar umas histórias - convidou Jandira.
— Posso, doutor? - solicitou o visitante.
— Vá com ela.
Não tenha receios.
O quarto de Jandira era o de número seis.
A porta aberta era indício de que estava em bom dia.
A ala confinava doentes em condições severas, e nem todos poderiam ter toda a liberdade desejável.
Olhando pela porta para averiguar se ninguém ouviria a conversa, expressou aos sussurros:
— Eu leio pensamentos e preciso adverti-lo sobre o que acontece neste lugar.
— Pode falar!
— Estive presa nas furnas e descobri coisas absurdas.
Bezerra de Menezes e a tal Dona Modesta estão presos lá.
Eles são emissários da ilusão.
Esses que aparecem aqui, neste Hospital, são falsos.
São clones - falou Jandira com ansiedade e um misto de medo em ser ouvida.
Este lugar é uma réplica da mistificação.
Estamos todos sendo enganados pelo demónio.
Na verdade, também fui espírita e descobri coisas fantásticas.
— Sim, fale sobre essas coisas absurdas.
Estou curioso - manifestou Marcondes com evidente interesse.
— O Espiritismo é uma farsa.
Fomos enganados.
— Que é isso?! - debochou o dirigente.
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