LUZ ESPÍRITA
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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:20 pm

— Veja pelo senhor - e agarrou os braços de Marcondes - se não tinha dúvidas sobre a existência dos espíritos e da mediunidade.
Aposto como se arrependeu depois da morte de deixar de fazer muitas coisas que de gostaria!...
— Não! A senhora está enganada.
— Então por que não acreditou nas comunicações de seus médiuns?
— Como a senhora sabe disso?
— Está na sua mente.
Não adianta esconder, eu posso ler.
Se o senhor acreditasse em problemas depois da morte, teria uma amante?
— A senhora está sendo inconveniente.
Vamos parar com isso.
Com licença, tenho que chamar o Doutor Inácio.
— Não! Essa é a sua hora da verdade - Jandira correu para a porta e a trancou.
— Abra essa porta, com licença - pediu Marcondes assustado.
— O senhor não vai sair enquanto não me ouvir. Ouvir a verdade!
— O que a senhora quer de mim.
Que verdade é essa?
— Salvá-lo da farsa.
Estamos sendo enganados.
Eurípedes é o conselheiro de Lúcifer, que transfigurou e criou este lugar para nos escravizar.
Quando nossa cabeça estiver boa, eles vão nos dar serviços escusos junto aos homens na Terra.
— Perdoe-me, mas a senhora está louca.
— É isso que querem que pensemos.
Por que o senhor acha que veio a esta ala? Pode estar certo de que existe um quarto para o senhor aqui.
Eu fui escolhida para ser uma mensageira infiltrada.
Aqui fico sabendo de tudo.
Sei, por exemplo, sobre o caso amoroso de sua esposa e posso lhe dizer o que quiser.
— Como soube disso? - interrogou com visível curiosidade.
— Sei tudo.
Tenho poder. Quer saber?
— Saber?!
— Quem era o homem traidor... - dessa vez foi Marcondes quem olhou para os lados a fim de averiguar se ninguém ouvia.
— Fale-me o que sabe.
— Foi José, seu amigo de doutrina.
— Meu Deus! Eu desconfiava! - expressou-se completamente envolvido e surpreso.
— Ele sabia de seu caso com Eulália e pensou que você não tinha mais interesse pela esposa, então se aproximou e...
— Jandira, abra a porta, tenho que sair.
Se você não abrir, eu vou pegar a chave em sua mão.
— Nem tente! Eu conheci o monstro da mentira de perto.
Domino técnicas. Ele é horrível!
Parece coberto de lodo e fede a enxofre.
E enorme e assustador.
Sou agora sua escrava, porém, quero formar uma equipe para fugirmos deste lugar e...
Preciso destruir o centro espírita que fundei. Ajude-me!
— Jandira! Jandira! - entrou Doutor Inácio no quarto com a chave sobressalente-, contando mentiras novamente?!
— Não, doutor! Nada disso!
Não é Senhor Marcondes?! - falou a paciente, pedindo a anuência com uma fisionomia intimidadora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:20 pm

— Vamos, Marcondes!
Continuemos a visita - intimou o médico.
— Até logo, Jandira - despediu o dirigente.
— Estarei esperando você para...
Você sabe! - ainda arrematou a paciente.
Ao sair do quarto, Marcondes parecia outro.
A psicosfera da paciente afectou-lhe sobremodo.
— Doutor Inácio, eu estou mal!
— Vamos ao posto.
— Não sei se vou aguentar.
— Venha, vou lhe ajudar - e deu-lhe o braço.
Assentando-o perguntou:
— Que houve, Marcondes?
— Parece que não tenho controle sobre meus pensamentos.
Recordo-me de médiuns que passaram pelas minhas tarefas e um forte sentimento de culpa...
Estranho! Muito Estranho!
Estou com raiva de minha esposa e...
— Fale de suas sensações.
— Parece que estou sendo sufocado por algo.
Aquela mulher falou de um monstro, e é como se visse uma enorme serpente com pernas humanas olhando para mim, na minha frente.
O que está acontecendo, doutor?
Está tão forte que a escuto dizendo-me algo.
— O que ela diz?
— Sou a rainha da verdade!
Sou a rainha da verdade!
Estou perdendo os sentidos, eu... - Marcondes perdeu os sentidos por completo.
Somente após uma hora, ele retomou a consciência.
A visitação foi interrompida e ele regressou ao quarto com recomendação de não permitir as cenas mentais.
Na manhã do dia seguinte, Doutor Inácio foi chamado ao quarto de Marcondes.
Ele recusava alimento e não queria levantar-se.
— Que sente, Marcondes?
— Revolta. Muita revolta.
Por que será? Estou irritadíssimo...
Não dormi bem.
— O que lhe aconteceu ao longo da noite?
— Não sei o que aconteceu.
Acordei revoltado.
— Revolta em relação a quê?
— Depois que conversei com aquela mulher...
— O que ocorreu?
— Passei a ter uma revolta de ser espírita.
— Ou de ser quem é?
— Talvez isso!
Só sei que um desgosto terrível apossou-se de minha alma, como por encanto.
Serão as vibrações dela?
Talvez esteja ouvindo o que não gostaria!
— ?...- Doutor Inácio levantou os ombros em gesto de dúvida.
— Sinto-me como um verme, doutor.
— É o ruir das máscaras, Marcondes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:21 pm

— Tenho revolta inclusive de acreditar... - falou com rancor.
— Acreditar?...
— Acreditar que valeu a pena ser espírita.
Por que isso não me deu o sossego, a paz?
— É o lado oculto que surge.
— Onde a misericórdia tão pregada nesta casa?
— O Pai ama a todos indistintamente.
Apesar disso, veja a Terra como se encontra.
Dor, cansaço, doença...
E da Lei que sejamos amparados incondicionalmente, todavia a mesma Lei também estipula que respondamos por aquilo que já temos condições.
Se a misericórdia fosse suprir a responsabilidade, ela seria conivência com nossos erros e um "furo" na evolução.
— Não vou dar conta.
— Diante de sua revolta, qual atitude você tomaria agora se tivesse liberdade de opção.
— Parar com a vida.
Sair daqui correndo para um lugar que não sei onde é...
Desistir. Vontade de não existir.
— Desistir?!
— Desistir de viver.
— Fale mais! Fale das pessoas!
— Gostaria, por exemplo, que o senhor não existisse.
Que esse Hospital nunca fosse criado.
Gostaria de chamar Jesus Cristo e dar-lhe uma bofetada sem piedade.
Se pudesse, eu o pregaria na cruz com muito ódio.
Fiz muito e, de repente, a sensação que me assalta é de perda de tempo. Incompetência.
Parece-me que nada valeu ou vale a pena. Será que...
— Quê?...
— Será que estou deprimido?
Por que estou assim, doutor?
Quanta surpresa e sofrimento ainda me esperam?
— Você está perdendo o piso meu caro.
— Piso?...
— São as convicções que colocamos como ponto de apoio da vida terrena.
As bóias psicológicas de segurança estão afundando.
Emergem os medos, as dúvidas, as questões emocionais não solucionadas e que foram soterradas sob o peso das mentiras que escolhemos para serem as nossas verdades.
— Estarei revoltado comigo, portanto?
— A revolta é o estágio em que estacionam os arrogantes quando percebem serem impotentes.
— Como?
— Por trás da arrogância, na maioria dos casos, esconde-se um revoltado.
Alguém que não aceitou os alvitres da realidade.
Para não tombar na depressão, assume a prepotência e a insanidade da insolência.
— No fundo, minha revolta tem um pouco de medo.
Encontro-me muito inseguro e chego a pensar se morri mesmo, ou se tudo que me acontece aqui é uma hipnose...
— Muitos passam esse drama mental.
Eu mesmo já experimentei semelhante loucura passageira nesta casa.
E, vez por outra, ainda tenho alguns lapsos ocasionais...
— O senhor também é bastante arrogante, não é, doutor?
— Sou um arrogante que não minto mais para mim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:21 pm

Um arrogante autêntico e leal comigo mesmo.
Há uma boa diferença entre nós nesse sentido.
— O senhor quer dizer que ainda sou um arrogante iludido...
— Como ambos somos arrogantes, não custa confirmar sua tese...
— E qual definição teria para meu tipo de arrogância?
— O arrogante é alguém que acredita nas ilusões de supervalorização de si mesmo.
Quanto a você, defina-se por si.
— Minha arrogância deixa-me inseguro, compreende?
— Ao contrário, Marcondes, somos arrogantes por sentirmos inseguros, temerosos e fracos.
Diga-me algo que nesse instante lhe traria segurança.
— Estou tomado por um receio de ferir a pureza doutrinária.
De estar aceitando algo contra o Espiritismo.
Chega a passar pela minha mente que estou sendo vitima de uma "mistificação perfeita" neste lugar...
Acreditei no que a Jandira falou...
— É assim mesmo, Marcondes.
Esse é o reflexo inevitável das sementes que cultivamos no canteiro da vida mental, enquanto no corpo.
Em meu caso, foi bem pior.
Já desencarnado, sonhei durante anos com o cigarro.
Tinha sonhos em que colocava os pés sobre minha mesa no sanatório e baforava prazerosamente.
Era um cigarro enorme e, quando recobrava a lucidez do sono, era tomado por uma crise terrível de irritação e chegava a alucinar.
Nessas crises, perdia a crença em tudo.
— Se essa é a verdade, por qual razão nós espíritas fomos enganados.
Por que André Luiz não deu mais detalhes?
Por que Emanuel não escreveu sobre os fracassos dos espíritas após a morte?
— Pare de cobrar dos outros, meu amigo, e olhe para você mesmo.
Parece que esqueceu tudo que aprendeu nas últimas semanas.
— Gostaria mesmo de esquecer tudo que vi e ouvi por aqui.
Se puder, quero voltar para a pureza doutrinária.
Sinto-me muito ameaçado com o que constato neste plano.
— Então, só há uma solução...
— Qual?
— Volte para a matéria e recomece.
— Nem pensar. Quero distância da carne por agora.
Será que não tem alguém aqui no Hospital como eu?
Alguém que sinta saudades do que é o verdadeiro Espiritismo, das tarefas?
— Marcondes, para sua decepção, o que você está vivendo é a realidade.
Você já sabe disso.
— Não aceito.
— Então se deprima! Essa é a saída para quem se revolta com a Verdade.
— Só desejaria a pureza do Espiritismo.
Por que tem que ser diferente neste plano.
— Engano seu.
Os homens no plano físico é que criaram ideias desconexas com a verdade.
— Mas não há ninguém que cultive a pureza aqui?
— Sim, existe.
E você os conhecerá a seu tempo.
Contudo, fique sabendo, amigo, que poucas foram as vezes que essa expressão foi usada em favor da lídima preservação dos princípios doutrinários.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:23 pm

Em razão de nossas lutas morais, a aplicação verdadeira desse termo é a de endossar o limite da verdade que conseguimos entender e assimilar.
Passou disso, é perturbação.
Os espíritas que a tentam manter nesta casa terminam desesperados e levados a alas restritas com crises lastimáveis de confusão mental.
— Jandira falou que viu Bezerra e Maria Modesta aprisionados nas furnas...
— E viu mesmo!
— Como pode?
— São clones. Embora ela defenda que os clones são os que estão aqui connosco.
Inclusive existem centros espíritas totalmente tomados por eles através de mistificação mediúnica.
Outros são ludibriados por criaturas como Jandira sob hipnose e exploração de adversários.
Em alguns lugares -pasme! - espíritos como ela, são recebidos como mentores.
Os médiuns acreditam facilmente em suas teorias.
Como tem enorme conhecimento da doutrina, ela ludibria com mestria as mentes incautas.
— Com que intuito?
— Os adversários sagazes da causa têm plena consciência da impossibilidade de exterminarem os centros.
O propósito é apenas retardar e incensar a morosidade, a preguiça.
Inúmeras agremiações encontram-se totalmente tomadas por esse género de obsessão colectiva e inteligente.
— Qual a historia dessa mulher, meu Deus?!
— Jandira tem uma história complicada.
Tudo começou com uma mentira.
Auxiliada e orientada em uma casa espírita, começou a frequentá-la.
Em pouco tempo, foi orientada mediunicamente sobre uma missão de fundar um centro espírita.
Assim o fez com muita luta.
Depois de anos em actividade, sucumbiu ao peso de terrível obsessão que a levou ao suicídio.
Ninguém descobriu tratar-se de um suicídio.
Jogou o próprio veículo em um declive acentuado.
Todos supuseram um acidente.
Prisioneira das furnas da mentira, padeceu anos em explorações diversas, formando um quadro psicótico grave.
— Estava sendo usada para prejudicar o centro?
— Os amigos encarnados a tomaram como benfeitora em razão de haver fundado o centro.
Pela mente, chamavam-na e a veneravam.
Ninguém, porém, conhecia-lhe os dramas íntimos e menos ainda a trajectória de responsabilidades imputadas a quem não tinha condições de exercê-las com equilíbrio.
Grandes responsabilidades em ombros frágeis.
Essa é uma velha técnica para desmoralização pública da doutrina.
Após o desencarne, ela era portadora de propósitos sinistros para derrocada total do centro.
Caso conseguisse, seria promovida na hierarquia das sombras.
— Santo Pai! E quem a resgatou?
— Dona Modesta, a pedido de Eurípedes.
Ela foi resgatada dentro do próprio centro espírita que fundou, em uma noite de descuido dos seus manipuladores das sombras.
— Por que Eurípedes se interessaria por uma pessoa assim, falida como espírita?
— Porque a misericórdia tem como mãe a compaixão.
Jandira é um exemplo do lírio no charco.
Um enorme potencial usado pelas furnas do mal.
Essa alma traz sobre os ombros o peso de ser um expoente da história da França revolucionária.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:23 pm

Uma caluniadora dos Girondinos.
Jandira, quando resgatada, já "governava" três casas espíritas com suas mentiras, sob jugo de uma das mais doentias falanges da maldade na erraticidade, o vale da mentir a...
— E agora, como ficou o centro que a venerava? Sem mentor?
— Jandira era usada pelas sombras.
Embora fossem autênticas suas comunicações através dos médiuns da casa, ela articulou, sob hipnose, uma tremenda armadilha com ideias e orientações inteligentes, todavia infundadas.
Agora que se retirou e depois de feita uma limpeza na área, as coisas vão se encaixando.
— Limpeza na área?...
— É o termo que usamos quando nos referimos à remoção das causas da obsessão.
— Conseguiram então retirar os espíritos que a usavam e também ao grupo. É isso?
— Conseguimos remover os mantenedores da situação no plano físico.
— Quer dizer que o problema vinha de lá para cá?
— Quase sempre é assim.
Os adversários dão o empurrão inicial e a ribanceira corre por conta dos encarnados.
— E como vocês resolveram essa história?
— Separando pessoas.
— Como? Separando pessoas!...
— Não sabia que, em alguns casos, torna-se a única solução?
— Jamais imaginei mentores separando pessoas.
A proposta espírita é de união.
— Contudo, diante desse quadro delicado, em muitos casos, somos constrangidos a usar de acordos com as sombras.
Quando essas posturas fascinadoras colocam em risco o progresso da maioria, optamos pelo mal menor através da diplomacia no encaminhamento da ocorrência.
— E nesses acordos...
— Nesses "negócios", entre outras medidas, inclui o afastamento de pessoas nas mais diversas posturas.
Cada caso é um caso.
— Doutor Inácio!
Minha cabeça vai explodir.
Creio que desencarnei fora do tempo.
Não pode ser! Não pode ser, meu Deus!
É assim que as coisas são por aqui?
Ai!... Preciso de fôlego.
Quanto mais sei sobre vida espiritual, mais me sinto falido, incompetente e vazio.
Já que o senhor me mentoreia, responda-me, pelo amor de Deus, será que valeu a pena ser espírita, volto a indagar?
— É a trajectória de todos nós quando não fizemos tanto quanto podíamos.
A propósito, você me chamou de mentor?
— Foi o que disse, doutor.
Não venha me dizer que...
— Digo, sim! Não se lembra de uma conversa que já tivemos?
Aquela do "bom capeta"?...
— Lembro-me.
— Pois então!
Chame-me do que quiser. Menos de mentor.
Mentor neste Hospital é Jesus Cristo.
— Doutor, como ela sabe tanto a meu respeito? - referiu-se à Jandira.
— Jandira é médium dotada de forças excepcionais.
Os génios da perversidade sabiam disso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:23 pm

Como ela tinha fortes laços com a conduta da mentira, foi enganada durante quase toda a sua existência carnal.
Por conta dessa criatura, uma nação inteira sofreu com suas mentiras, vindo ao suicídio pela primeira vez no século XVI, na corte francesa.
— E quanto ao que ela me disse?
— Sobre?!
— O Hospital...
A farsa do espiritismo e...
— E...
— Sobre minha esposa!
— Sabia que perguntaria.
— É verdade, doutor?
— Um paradoxo, Marcondes!
De uma boca tão mentirosa, Deus faz luzir alguma verdade.
— Então é verdade?
— Em parte.
— Esse é outro motivo de minha revolta - falou Marcondes, socando a cama com irritação.
O senhor acredita que estou sentindo ciúmes por atraso?!
Já que não tinha certeza quando na carne, agora sinto saudades, ciúmes e revolta.
Muita revolta.
— Pois saiba que não ocorreu o que pensa.
José, realmente, tentou de toda forma, porém sua amada esposa, Josefa, manteve-se firme no posto do dever.
— Ainda assim, sinto revolta...
— O teatro acabou, amigo!
— Teatro?...
— A vida terrena tem sido um palco para a grande maioria das pessoas.
Representam uns para os outros, escondendo aquilo que sentem e fazem.
— O senhor está me chamando de...
— Tolo! Sim, é isso mesmo!
Somos tolos demais.
Que definição melhor pode receber quem diz acreditar em uma vida após a morte e fica teatralizando a reencarnação?
Mesmo que Josefa o houvesse traído, que autoridade para exigir tributos de honra teria você, mantendo um caso com Eulália?
— ! - Marcondes calou-se envergonhado.
— Sinto muito pela franqueza, mas não dá para brincar com esse assunto.
— Prefiro vê-lo brincando!
— Eu também me prefiro assim.
Digamos que hoje estou tão deprimido quanto você.
— Começou a brincar!
— Estou falando sério.
Tenho também minhas crises.
Para sua desgraça, estamos os dois na tristeza neste dia.
O melhor que fazemos é orar e respirar um ar nos jardins.
Levante dessa cama e vamos sair daqui, antes que nos internem os dois nas alas restritas.
Marcondes levantou-se do leito, trocou as vestes, fez asseio e saíram, ele e Doutor Inácio.
Nos jardins do Hospital, o movimento era grande naquela manhã.
O astro-rei tinha seus raios focados na sublime obra de Barsanulfo.
Após atravessar algumas quadras, os dois amigos pararam na praça dos lírios, local preferido por Eurípedes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:23 pm

Uma bela praça arborizada e limpa.
Assentaram-se em bancos confortáveis e reiniciaram o diálogo:
— Quando venho aqui, sempre tenho saudades da Terra e fico pensando que devia ter perdido mais tempo por lá.
— Pois de mim, só posso dizer o contrário.
O senhor trabalhou muito, Doutor Inácio?
— A vida inteira!
Cuidando de loucos, acho que enlouqueci e não percebi.
Acabei sendo útil, mesmo doente.
— Confesso que às vezes tenho uma tremenda raiva de suas colocações, mas tenho que lhe confessar que nunca ninguém conseguiu entrar tão profundamente em minha alma.
Sou-lhe grato, amigo! - e pegou as mãos de Doutor Inácio em gesto de agradecimento.
— Esteja certo de que ainda pretendo lhe causar muita raiva!
-— Vejo que os jardins nos fizeram bem.
— Sempre fazem, sempre fazem!
O espírito de Eurípedes, e por que não dizer, de Jesus, está nesta praça.
Vê esse flamboyant?
— Sim.
— Abrace-o e pense em Jesus.
Marcondes seguiu instintivamente a ordem.
Abraçou a árvore e fechou os olhos.
Uma doce paz invadiu-lhe o coração.
— Que sente homem?
— A revolta passou!
Sumiu por encantamento.
Estou leve. Calmo.
Pela primeira vez, sinto-me assim depois do desencarne.
— Então está pronto para ouvir!
Jandira disse a verdade.
Ela foi aprisionada no vale da mentira e viu o "monstro".
— Existe esse lugar?
— Existe também o "monstro" a que se referiu.
— Aquela mesma imagem que vi?
— Bem parecida!
A falange da mentira cresce assustadoramente, na humanidade, os seus tentáculos de domínio e manipulação.
Hoje, a grande táctica dessa falange é contar a verdade.
Já que a vida de todos nós, em algum aspecto, tornou-se uma mentira, contar a verdade significa estarrecer e derrotar.
Além disso, o foco dessa falange é a descrença.
— O senhor sabia que ela me diria aquelas coisas, por isso me deixou lá?!
— Sabia que ela lhe diria algo.
— Por que não disse o senhor mesmo?
— Porque Deus tem mecanismos mais sábios que minha impulsividade.
Pela boca de Jandira, muitas verdades necessárias são ditas a seu modo.
Mesmo no torvelinho da insanidade, surgem raios de lucidez que expressam a sabedoria do Pai em sua obra magnânima.
Veja que você já não é mais o mesmo depois desse contacto.
Quem diria que uma paciente psiquiátrica seria médium de suas necessidades?
— É verdade! Magnífico!
— Um médium equilibrado lhe diria o mesmo.
Naturalmente, de outra maneira.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:24 pm

— E não teria um desses para me orientar?
— Temos, mas estão muito ocupados para isso.
Portanto, nada mais justo que buscar os que precisam.
Jandira precisa muito de alguém para passear nos jardins, conversar e que leia o Evangelho para ela.
— Eu...
— Sim, você poderia.
A pergunta é: você quer?
— Tenho medo.
— Óptimo! É um sinal de responsabilidade, pelo menos nesse caso.
Você começa hoje mesmo, à tarde.
— Assim! Já?
— Estamos aguardando alguém para isso há tempos.
Jandira está aqui há quase um ano e tem sido muito bem assistida.
Todavia, se lhe dermos tempo, atenção...
— Está bem. Conte comigo!
A propósito, doutor, apenas uma pergunta:
terei que ir buscá-la naquela ala?
— Está com medo?
— Foi traumático para mim.
Nunca pensei que havia uma casa do Cristo desse jeito.
— Arrumarei alguém para traze-la até aqui.
— Estou muito disposto!
— Excelente.
Senti sua sinceridade.
Só espero que não vire Pinóquio!
— Pinóquio?!
— Espero que não passe a adorar as mentiras de Jandira.
— Que bom vê-lo assim, doutor!
Está se sentindo melhor?
— Quem é o doutor aqui sou eu.
Pare de perguntar e vamos ao labor.
Você vai visitar Jandira e diga que acredita em tudo...
Depois, no iniciar da noite, procure o professor no segundo andar.
Ele o espera com outras lições.
Felicita-me vê-lo com novo humor,
contudo, mantenha vigilância sobre suas emoções.
— Está bem, doutor.
Farei isso.

(1) Mateus, 5:39 e 40.
(2) Odílio Fernandes foi um trabalhador exemplar na cidade de Uberaba, Minas Gerais.
A entidade sob sua supervisão na vida espiritual chama-se "Liceu da Mediunidade".

34 Mateus, 5:39 e 40.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 16, 2018 8:24 pm

20 - Segundo andar
Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal.
E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo".

Mateus, 20:26

Naquele mesmo dia, às dezoito horas, o ex-dirigente goiano chegou ao segundo andar.
Era uma enfermaria colectiva.
Tudo traduzia ordem. O professor já esperava Marcondes e o saudou:
— Há quantos dias não vejo o amigo bondoso!
— Lembrei-me muito do senhor, professor.
Realmente há semanas que não o vejo. Incrível o tamanho deste Hospital!
— Nem tão grande assim é o Hospital e sim o trabalho.
Venha, vamos a minha sala.
Conversaremos um pouco.
Acomodados, iniciaram um debate esclarecedor sobre as enfermarias do segundo andar.
— Aqui, encontramos, em sua maioria, quadros de arrependimento tardio.
— Consciência cobrando os actos?
— Nem sempre, Marcondes.
Dialogando com nossos irmãos, perceberá que a queixa generalizada refere-se ao que deixaram de fazer.
— Arrependidos pelo que não fizeram?
— Exactamente.
Em outras palavras, negligentes.
— Então vejo que mais uma vez encontro-me onde preciso.
— Todos nos encontramos aqui por necessidade, meu filho, e não por méritos.
O caminho para a frustração começa na aceitação gradual da negligência.
É um processo psicológico, estimulado na mente, do trabalhador do bem, que excede nas concessões em beneficio próprio.
Através da alegação de necessidades pessoais, relaxa na conduta em excessiva ocupação consigo, tornando-se um esbanjador dos recursos celestes do tempo e das regalias materiais.
Raros sabem utilizar tais beneplácitos como oportunidades para trabalhar e servir, aprender e amar com mais intensidade.
Faremos uma visita educativa no intuito de que avalie essa senda subtil do aprendizado humano.
— Por que a existência de quartos separados?
— O que delimita a divisão entre as alas é o desejo constante de cooperar.
A grande maioria, neste local, fala em méritos pessoais e quer ser servido.
Alguns chegam ao despautério de fazerem cobranças, então são convidados ao quarto próprio...
Querem mordomias, vão tê-las...
Depois de alguns dias, estão deprimidos e são transferidos para o sector competente.
— Interessante!
— Lamentável, eu diria, pois recebem tudo, e, no entanto, a grande maioria não perdeu a mania de mandar e exigir.
— São todos espíritas?
— A maioria. Temos alguns protestantes e outros líderes cristãos.
Sem dúvida, os espíritas dão mais trabalho.
— Doutor Inácio pediu para procurá-lo.
Alguma razão especial?
— Antes de incursões mais amplas, gostaria de deixar claro uma informação que poderá ser útil.
Visitaremos uma ala cujos pacientes recuperam-se muito lentamente de dramas bem recentes.
São dirigentes com fortes crises de depressão, incursos, alguns deles, em estados psicóticos.
No geral, são doentes mentais graves sob controle de medicações e terapias muito específicas.
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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:17 pm

— E por que não ficam nas alas restritas do subsolo?
— São histórias mais brandas.
Muitos, aliás, já passaram por lá e continuam a tratar-se nesse andar.
— Nesses casos, a psicose ocorre depois da morte ou já havia se expressado quando ainda no corpo físico?
— São psicoses tardias, ou seja, já se encontravam em estado latente, vindo a ser activadas a partir das experiências infelizes, vividas nas regiões inferiores nas quais estagiaram por longo período.
Todos foram resgatados em penosas condições mentais e agora, após pouco mais de um ano de tratamento, apresentam-se mais bem-humorados e dispostos à conversa.
— Terão facilidades em falar de seus dramas?
— É o que mais necessitam neste momento, com o objectivo de desabafarem.
Costumam repetir a mesma história quantas vezes puderem.
Você poderá perguntar à vontade.
— Foram todos dirigentes?
— Não. Foram líderes espíritas todos eles, considerando que líder é todo aquele que influencia um grupo, possuindo, ou não, cargo hierárquico.
Em comum, trazem o fracasso nos seus projectos reencarnatórios.
Não foram maus, foram omissos.
— Pelo que aprendi com o senhor, não existe fracasso...
— No sentido de ser irremediável, não existe falência.
A consciência, entretanto nunca deixa de cumprir com sua função orientadora e relembra-nos, continuamente, o que combinamos connosco antes do renascimento.
Quando não queremos ouvi-la...
— Novamente a negligência!
Nunca pensei sobre esse tema à luz dos princípios espíritas.
Jamais imaginava que adiar o bem que podemos fazer, iria nos criar tanto embaraço!
Mas de que maneira a negligência pode trazer alguém a essa situação?
— Alguns, através das atitudes de falta de cumplicidade com o objectivo essencial da proposta espírita, assumiram uma fé de superfície.
Outros se devotaram aos compromissos doutrinários, todavia ingressaram pelas artimanhas do personalismo, em posições de supremacia da verdade, ostentando suas largas folhas de serviço.
Sob o fascínio do orgulho, estabeleceram condutas preciosistas nas quais pretendiam ser as referências para a colectividade.
As maiores ilusões se verificam entre esses últimos.
Fascinaram-se com crenças e pontos de vistas pessoais, estabelecendo excessivo apego às suas convicções.
— Como identificar mais claramente o ato de negligência em suas experiências?
— Em ambas as situações, detectamos a negligência nos deveres de profundidade para com o próximo e consigo, em prejuízo do excessivo prestígio aos valores institucionais e movimentos de adoração exterior...
Foram escravos da casa e das práticas.
Na casa, adoravam a si mesmos; nas práticas, supunham-se padrões a ser copiados.
Em ambos, demonstravam valor exclusivo em sua forma de entender e interpretar, consolidando uma crença individual, arrogante e inquestionável.
E, quando tal quadro era acompanhado de algum cargo expressivo perante a comunidade, ampliavam ainda mais as chances de personalismo e austeridade em suas formas de conceber o Espiritismo.
São os novos "Doutores da Lei", que encharcam o cérebro de conhecimento com o qual pretendem ser autoridades sobre imortalidade...
— E foram trabalhadores de boa vontade?
— Todos, sem excepção.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:17 pm

— Não consigo entender, professor!
— Boa vontade e conhecimento não bastam como quesitos de equilíbrio.
Sem eles, evidentemente, não teremos as condições necessárias no campo exterior para a manutenção de nossas tarefas, entretanto, somente com eles, não efectivamos os serviços de profundidade da alma nas escaladas da renovação interior.
Além de boa vontade e informação, é imperiosa a aquisição da consciência sobre nossas necessidades espirituais e seus respectivos caminhos de superação a serem adoptados.
Do contrário, seremos operosos no bem alheio, defendo-nos das horas vazias e da obsessão, sem edificar, na intimidade, as defesas morais e as experiências indispensáveis para galgar a vitória sobre as mazelas milenares.
Mazelas, diga-se de passagem, que jamais serão vencidas somente com movimentos de rotina nas abençoadas tarefas das quais participamos.
Mais que voluntariado, urge o compromisso de elevação persistente e diário em todos os instantes da existência, ultrapassando o campo das doações espontâneas em horas marcadas.
— Para entender melhor, gostaria de saber se esse andar inteiro é dedicado aos dirigentes?
— Na verdade, para os dirigentes, é reservada a área maior.
Consideremos como dirigente todo aquele líder em nome da mensagem cristã.
Assim temos dois andares no subsolo para casos mais graves e cinco andares acima do nível térreo para continuidade dos tratamentos.
Os sete andares compõem um dos braços do Hospital.
Ao todo, temos trinta e cinco andares distribuídos em cinco braços à semelhança de um cata vento.
Lembra do exemplo que usei na palestra?
Cada "pá do moinho" é um pavilhão visto de cima, e as bases - duas colunas de sustentação - são os corredores de entrada e saída do Hospital, no andar subsolo 02, o mais perto das vibrações terrenas.
É onde se encontram os portais.
— E por que um pavilhão, especificamente, para dirigentes?
— Para facilitar os serviços e melhor proveito dos próprios pacientes que guardam vivências similares.
— Mesmo tendo fracassado em seus planos, obterão algum mérito do serviço que prestaram?
— Sem dúvida. O bem sempre oferece algum tipo de fruto.
Trabalharam muito e não perderam seus méritos, contudo, pelo facto de não haverem sanado suas contas com a consciência, descuidando do compromisso primordial de transformação interior, não fizeram todo o bem que podiam e deveriam...
Eis a maior negligência.
A referência tocou profundamente a Marcondes, que se manteve calado.
Professor Cícero acrescentou:
— Os casos aqui presentes são dos que se mantiveram sempre distantes, ou chegaram a distanciar-se, dos deveres essenciais a que concita o Evangelho: o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo.
Foram enriquecidos pela caridade e o desejo de melhora junto às tarefas de amor do centro espírita, de onde jamais deveriam ter se afastado completamente.
Após as oportunidades de promoção que foram recebendo para gerir interesses colectivos, só tiveram tempo e atenção para assuntos e problemas atinentes a eventos, relações convenientes, cerimónias e planos de hegemonia, os quais tomaram como sendo missões a eles confiadas pelo Mais Alto...
As explicações claras do benfeitor não deixavam dúvidas.
Marcondes passou a reflectir nas tarefas de amor junto ao centro espírita no qual actuou por anos a fio na cidade goiana.
Suas actividades revelavam-se agora, em sua mente, como sublime avalista do relativo estado de tranquilidade e equilíbrio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:18 pm

Desejando continuar a entrevista sobre os conceitos sábios do professor, indagou:
— Que função primordial têm os dirigentes para o progresso do movimento espírita?
— São os vanguardeiros, determinam linhas de pensamento, portanto tornam-se referências de acção em menor ou maior escala.
Quaisquer movimentos humanos que se prezem devem preparar bem os seus líderes.
A função de sua participação junto às comunidades sob sua condução é de vital importância para o progresso e a ordem.
Em todos os tempos da humanidade, os líderes constroem a história, insculpem rumos e definem o futuro.
O movimento em torno das ideias espíritas precisa fazer algo pelos seus condutores com urgência, embora, com toda franqueza, não tenhamos visto, até então, muitas manifestações.
Tínhamos esperanças de que os líderes, agrupados em torno do Pacto Áureo, fossem sensíveis e corajosos em investimentos sólidos nesse sentido, no entanto, passados alguns anos do compromisso solene de unificação, firmado em cinco de outubro de 1949, constatamos muitas iniciativas de valor, sem prioridade na formação de mentalidades coerentes e fortes junto àqueles que, de facto, moldam o movimento espírita...
— O meu irmão teve vivências desagradáveis junto às direcções de unificação, quando na carne?
— Deixei o corpo físico aproximadamente um ano antes da formalização do Pacto Áureo, presenciando pruridos de hegemonia que muito me preocuparam já naquela época.
Sempre fui contrário ao conceito institucional de unificação, vindo mesmo a ter severos episódios de desentendimento junto aos líderes nacionais e regionais, no intuito de operarmos no campo da coesão de almas e não de instituições.
Hoje, com alguns decénios de meu retorno ao mundo espiritual, já repensei algumas iniciativas tomadas por mim, na vida física, quanto à sua forma de execução.
Contudo a essência das ideias que defendi torna-se cada dia mais necessária e urgente à seara...
— Que iniciativas seriam essas?
— Conforme assevera Jesus, "o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado."35
Os dirigentes espíritas devem priorizar, o quanto antes, no plano físico, uma campanha pela humanizarão na seara.
Sem proximidade humana e respeito, fraternidade e convivência saudável, jamais teremos união e concórdia - a alma de qualquer movimento cristão.
Os apontamentos do professor instigavam a curiosidade, contudo, considerando a hora, convidou Marcondes aos deveres do amor.
Fizeram uma contrita prece e dirigiram-se à ala em pauta para aquela noite de aprendizado.
O aprendiz mostrava-se estarrecido por ver os quadros mentais em que se encontravam aqueles homens, mulheres e jovens.
Tiveram a oportunidade de ter em mãos o "Talento do Espiritismo", no entanto o enterraram pelo medo de assumirem responsabilidades maiores na vitória sobre si mesmos.
Cícero deixava-o à vontade e observava, com muita atenção, seus movimentos.
A certa altura disse:
— O tratamento espiritual de toda alma frustrada em seus projectos reencarnatórios deve ser a esperança.
Na Terra, comenta-se com exactidão que esperança é a última que morre.
Aqui, nosso lema é a esperança deve ser a primeira a renascer.
Depois disso, partimos para as conquistas em outros patamares emocionais.
Sem esperança, a alma é "morta".
Esperança é o filete divisor entre o cumprimento da justiça e a acção da misericórdia divina conforme as escolhas de cada um.
Quando vemos novamente o sorriso nas faces desses corações que sucumbiram sob o peso da ilusão, entendemos que ainda existe o desejo de recomeço, um óptimo sintoma de recuperação!
— Então a doença mais grave nesse sector seria a desesperança?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:18 pm

— Não é bem assim.
Onde floresce a misericórdia, brota a esperança.
As almas aflitas e sem rumo encontram na compaixão a excelsa ventura de recomeçarem.
O sentimento de culpa e fracasso, inferioridade e abandono precisam ser supridos pela expansão da tolerância.
Sem isso o mundo será uma eterna fonte de cobranças e impiedade.
A bondade é a semente da paz.
Qual de nós não carece do "colo paternal"?
Qual de nós, sob a luz da oração, não mendiga um naco de piedade para nossas lutas e quedas?
A mais grave doença das almas nessas alas chama-se vício de prestígio.
— Vício de prestígio?!
— Sim. Uma doença milenar que acomete a maioria esmagadora das almas vinculadas à sublime escola da Terra.
Seu princípio básico é a necessidade de ser amado, algo divino e natural nas leis da vida.
Entretanto surge como viciação e doença a partir do instante no qual a vontade tornou-se impotente para dominar esse sentimento ao longo dos tempos, transformando-se em exigência e paixão escravizante da mente em variados processos de egocentrismo.
Sua origem é o egoísmo.
O imperioso desejo de ser amado manifesta-se, nesse caso, em impulsiva necessidade de admiração, destaque, reputação pessoal, notoriedade e atendimento a caprichos pessoais.
Forma-se então um psiquismo propenso a gerar correntes mentais centrípetas em regime de circuito fechado sobre si mesmo, desarmonizando, paulatinamente, o sistema afectivo do ser.
Nessa óptica, nossos profissionais das ciências psíquicas adoptam, por aqui, uma classificação para além dos padrões científicos da Terra, considerando como principais expressões psicopatológicas o personalismo, a inveja, o ciúme, a insegurança, a indiferença, a apatia, o melindre, a revolta e outras manifestações com as quais o egoísta age nos meios em que estagia na sua caminhada espiritual.
— Esse vício manifesta-se entre os dirigentes espíritas?
O professor apenas abriu os braços, juntou as mãos espalmadas num movimento de respeito e piedade, exclamando:
— Veja o resultado!
A colheita feita conforme a plantação!
Nos enfermos deste pavilhão, encontramos uma espécie de transtorno afectivo não catalogado pela psiquiatria humana.
O ex-dirigente olhava com piedade para aqueles corações acamados.
Eles pareciam não o perceber, tamanho estado de alheamento.
Continuou o orientador informando:
— São casos processados a partir de uma inadequação de sentimentos, devido ao acentuado nível de indiferença dos que optam pelo estranhável amor institucional.
Amam mais aos cargos e à doutrina que ao seu próximo.
Um estado mental que poderia ser chamado de delírio de grandeza assinala nossos assistidos.
Esse vício é alimentado pelo orgulho que afecta a imaginação da criatura, levando-a a formar uma imagem idealizada de si, um auto-conceito falso e exacerbado com o qual passa a fascinar-se.
Tais estados de desalinho favorecem as fixações mentais no monoideísmo, levando a criatura a variados quadros de angústia e perturbação depois da morte.
Coadjuvando esse estado psíquico, encontram-se as reminiscências de outras existências corporais, em que a alma habituou-se a ser reverenciada e aplaudida graças a sua posição de destaque social ou cultural.
Somam-se a isso muitas companhias espirituais sedentas dos eflúvios do elogio e das sensações causadas pelas futilidades do realce, ou ainda pelo prazer do reconhecimento pessoal, intensificando a dependência de prestígio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:18 pm

Muita vez, esses acompanhantes espirituais são adversários ferrenhos da causa doutrinária, que deterioram o quanto podem a auto-estima do encarnado e insuflam-lhe a frustração, para que a vítima procure as compensações em experiências de prazer fugidio, ou na posse de alguma forma de vantagem pessoal, tombando, em definitivo, nos seus ardis...
— E por que os dirigentes espíritas estão carregando para cá esses quadros doentios graves?
— Por suporem-se grandiosos demais, quando deveriam sentir-se apenas como aquele que enverga maior cota de responsabilidade sobre os ombros, com o dever de ser o exemplo para todos.
Esqueceram a recomendação sábia do Mestre que diziam seguir:
"Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal.
E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo."36
O conhecimento espírita não lhes tem sido o bastante para renovar a conduta de vida, além do que, sem humildade, jamais transformaremos a nós mesmos.
Se os irmãos de ideal não começarem a se aceitar como doentes em busca de alta, guardando no imo de si próprios a alegria pelo simples ato de servir, sucumbirão, inevitavelmente, ante essas ciladas subtis do orgulho.
A santidade de superfície é um engano em prejuízo próprio.
Quem não dá conta de renovar-se tanto quanto deveria, precisa assumir humildemente sua condição, pedir ajuda, adequar o esforço e caminhar adiante.
Livrar-se do mau hábito de fazer cena e representar perante a consciência.

35 Marcos, 2:27
36 Mateus, 20:26
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:18 pm

21 - Lição Áurea
"Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transitados que, pendo o céu, caem nos abismos do erro"
O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.) O evangelho Segundo espiritismo, capítulo VI, item 5.

A visitação ao segundo andar continuava rica de lições.
Já passavam das dezanove horas, e o ambiente estava calmo.
Os pacientes aprontavam-se para o recolhimento e o repouso.
O professor, após prestar as informações a Marcondes, convidou-o para conhecer um cooperador valoroso que estava de passagem naquela noite.
— Não posso acreditar!...
Meu Deus! Doutor H.?!37
O senhor por aqui!
— A seu rogo. Sou eu mesmo.
E o senhor é?...
— Sou Marcondes, um admirador de sua obra.
Graças ao senhor, o movimento espírita foi presenteado com os magníficos livros da literatura mediúnica de Francisco Cândido Xavier.
Jamais supus que um dia nos encontraríamos.
— Nada fiz além de editá-los.
Nada de especial - falou com espontânea humildade.
— Modéstia sua Doutor H.!
— Posso lhe pedir um favor? - falou o valoroso trabalhador.
— Claro!
— Não me chame de doutor.
Isso me faz muito mal.
— Como queira. Perdoe-me a ofensa.
— Não se trata de ofensa.
Não há o que perdoar.
Tal referência evoca recordações que tenho esforçado por esquecer.
Causa-me um incómodo.
— Compreendo perfeitamente!
— Prefiro apenas o nome H., e já é demais.
— Imagino quantos dividendos de paz sua alma carrega em função da tarefa.
-— Nem tanto, Senhor Marcondes!
Nem tanto...
— Qual o motivo de sua alegação?
O senhor pode ser chamado o "pai" da literatura mediúnica espírita.
O movimento deve-lhe o tributo de construir o maior parque gráfico espírita do mundo.
— O movimento não me deve nada.
Ao contrário, eu, sim, sou um devedor insolvente.
— Com tanto êxito em sua tarefa?!
— Equívoco, meu amigo. Pura ilusão!
Somente depois que largamos o mundo físico, avaliamos com nitidez as expressões de arrogância e grandeza às quais, em muitas ocasiões, entregamo-nos em nome do serviço cristão.
— Arrogância?!
— Costumamos operar muito por fora de nós, esquecendo, voluntariamente, o labor de sossegar a consciência e construir a paz interior.
A tarefa do livro certamente beneficiou e beneficia milhões de corações, contudo tive meus desvios clamorosos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:19 pm

Por mim mesmo, pouco fiz.
Na condição de intérprete do pensamento cristão, durante séculos sucessivos, venho carregando a culpa da adulteração nas letras evangélicas.
A tarefa do livro espírita seria minha alforria...
— E não foi? - interrompeu Marcondes.
_ Não!
— Por qual razão?
— Não resisti à prova e cometi as mesmas falhas.
Nós, espíritas, precisamos rever algumas concepções sobre o que nos espera após a morte.
Ao imaginarmos que quantidade de realizações é sinónimo de vitória, cometemos grave erro conceituai.
Em nome das crenças que acalentei, semeei o joio em diversas oportunidades.
No intuito de fortalecer a imagem e o alcance da organização unificadora à qual servi durante décadas, tomado de sincera honestidade de ideais, acabei por descuidar novamente em relação às celestes mensagens entregues pelo Pai às minhas decisões...
Conquanto acolhido e amparado por benfeitores amorosos que me estimulam a pensar no êxito, não consigo livrar-me da desagradável sensação de angústia ao recordar o mal que poderia ter evitado caso edificasse o bem sem fronteiras nas duras linhas do sacrifício...
Amei. Amei muito, é verdade.
Todavia dirigi meu amor para casas e valores perecíveis.
Mesmo o livro espírita, esse tesouro inestimável, é apenas um recurso de crescimento.
Apenas o bem eterno permanece na intimidade.
Regozijo-me em saber que, ainda nessas condições, sou reverenciado por Tutores Maiores com créditos imorredouros.
Mas aqui estou eu, Marcondes...
Livre para o recomeço...
E, não tenha dúvida, apesar das lutas da consciência, sou alvo de misericórdia infinita.
— Não consigo acreditar!
Quem diria que também os trabalhadores da unificação teriam seus tropeços!
— por que não? Não somos falíveis como qualquer outro?
— Sim, mas...
— Já sei o que quer dizer: nós que ocupamos as fileiras unificadoras passamos uma imagem de muita capacidade.
— O senhor me desculpe, pois começamos a conversar e, quando vejo, já passei dos limites!
Se preferir, posso evitar o assunto.
— Não se perturbe por mim.
Depois de quase três décadas nesta esfera, já melindrei tudo que tinha para melindrar.
— De facto, era justamente o que desejava expressar!
Essa imagem perfeita foi a que formei das organizações e lidadores da unificação.
— Vá se acostumando, amigo.
Poucos superam o teste da autenticidade.
— O problema da hipocrisia?
—, Não se trata de hipocrisia, e sim de orgulho.
Através dos papéis sociais que representamos perante a colectividade, enredamo-nos em complexo processo psicológico e emocional.
Raríssimos homens públicos conseguem expressar-se com honestidade emocional à sua própria consciência.
Quase sempre, escondemos nossa sensação de inferioridade e impotência atrás dos cargos que impressionam a multidão, com ideias de grandeza e valor espiritual.
De minha parte, essa atitude onerou-me com conflitos medonhos que até hoje me perturbam a marcha.
— Como vencer tal prova, H.?
Também tive minhas derrotas nessa área!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:19 pm

— Aprendendo o auto-amor.
Quando nos amamos como somos não encontramos motivos para nos encantar com exterioridades.
A vida espiritual revela-se como sendo uma caixa de surpresas para o nosso entendimento.
Por mais dilatadas informações doutrinárias, sempre haveremos de rever e ampliar muitos conceitos neste plano.
— O senhor poderia dar-me uma noção clara dessa questão?
— Em meu caso, por exemplo, seria de se esperar, obviamente, a continuidade do trabalho activo junto às fileiras unificadoras, depois do decesso carnal; contudo não foi o que ocorreu...
— Nos primeiros anos, cheguei a cooperar mais de perto com os rumos da organização que dirigi.
Porém as lutas intestinas e os aspectos íntimos de meus companheiros pesaram sobremaneira em meu psiquismo, vindo a infringir-me danoso estado emocional.
Em verdade, o problema, antes de tudo, era meu, e não deles.
Depois da morte, passamos a enxergar "demais" e...
— E passamos a entender o lado subjectivo das atitudes humanas?!
— Exactamente. Passei a presenciar diálogos, ideias, propostas e, até mesmo, manipulações lamentáveis que me causaram terrível desajuste.
Volto a dizer:
os problemas não eram eles, e sim minhas próprias recordações.
Em muitas ocasiões, agi de igual forma ou até pior.
Só que, agora, percebo com mais nitidez e realidade os efeitos indesejáveis de nossas acções.
Consegui aquilatar com mais clareza a extensão do sentimento de posse e a fascinante sensação de poder.
Pobre de nós os servidores do Cristo, se não iniciarmos uma acirrada campanha a favor da diversidade e do desprendimento das ilusórias folhas de serviço!...
Diante de semelhantes factos, não tive opção; fui transferido para outras actividades no intuito de aprender a servir, cultivando a alegria de realizar sem controlar, fazer sem me sentir o maior.
— E o senhor não costuma ter...
— Recaídas?
— Não desejo constrangê-lo, apenas aprender.
— O senhor não me constrange.
Ao contrário, gratifica-me falar de meu aprendizado.
Hoje me sinto bem melhor, embora, algumas vezes, solicito a permanência nos ambientes administrativos para aferir minhas próprias reacções.
Estou mais resistente e consciente do que me espera.
Apesar disso, estou aprendendo outro género de serviço, pelo qual me encontro profundamente atraído, substituindo o meu interesse pelas questões organizativas da seara.
— Posso saber qual tarefa tem preenchido seu coração?
— Estou cooperando com vários benfeitores na tarefa de auxiliar médiuns na psicografia, em diversas partes do Brasil.
O amor ao livro espírita continua sendo a tónica de minhas aspirações, conquanto agora procure analisar sob aspecto diverso o valor das letras doutrinárias.
Minha tarefa consiste em zelar para que uma singela página possa brotar, no mundo físico, revestida de enobrecedores sentimentos.
Médiuns anónimos, amantes do bem ou mesmo em desajuste, têm sido alvos de nosso esforço despretensioso.
— Perdoe-me a colocação, mas um homem com sua experiência, o que pode aprender com essa iniciativa?
— O valor do desinteresse e do desapego.
Algo que não fez parte de minhas vivências nos roteiros do Cristo, até hoje.
— Confesso minha incompreensão!
Com que objectivo esse aprendizado?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:19 pm

— É simples, Marcondes... Muito simples!
Renascerei, brevemente, na condição de médium, para ressarcir minha própria consciência...
Através da própria psicografia, reverei meus dramas interiores adquiridos em instantes de insanidade e egoísmo pessoal e institucional.
Preciso vencer o homem velho que vive em meu campo intelectual.
Haverei assim de aprender a fidelidade e o total desapego das obras personalistas.
Venho semanalmente a esta ala.
Procuro seguir as orientações de não me envolver em demasia.
— Os pacientes aqui alojados neste sector...
— São líderes da unificação.
Com raras excepções, os amigos da unificação que aqui se aportam chegam cansados pelo peso das mágoas.
Suas histórias, a exemplo da minha própria, quase sempre, são agravadas pela angústia, quando descobrem não serem tão essenciais o quanto imaginavam aos ofícios de Jesus.
O professor que se mantinha calado até então, manifestou:
— Por isso Inácio o enviou para cá esta noite, Marcondes.
A palavra de H. é seu ingresso em novas experiências com lideranças cristãs.
— Uma boa forma de começar, não é, professor?!
— Eu diria uma excelente forma de continuar!
Observando o trânsito de ida e vinda dos pacientes no corredor e passando pelas portas dos quartos, interrogou Marcondes:
— E qual o estado de nossos correligionários?
— Pela fisionomia, você já deve perceber... - foi H. quem respondeu.
— Parecem atordoados.
— "Emburrados", eu diria.
— "Emburrados"?
— Não se entendiam na Terra, continuam não se entendendo por aqui.
Brigam durante o dia e, agora à noite, encontram-se deprimidos e fracos.
— Mas ninguém toma nenhuma iniciativa?
— Se tomarem, logo eles estarão se procurando para "tricotarem".
— "Tricotarem"?!
O senhor quer dizer que continuam suas tricas?
— Sejamos claros!...
Tricas, não.
Política de bastidor!
— Até aqui existem essas condutas?
— E por que não?
A mente adoecida traz para cá suas enfermidades.
— Surpreendente!
Como lhe disse, conhecia bem esse comportamento na seara, todavia não imaginava que os unificadores continuassem agindo assim...
— Eu mesmo, quando desencarnei fiz parte de grupo similar na erraticidade.
Saudade do ambiente de unificação!
Do movimento espírita com todas as suas querelas!
— Como pôde ter saudade disso?
— Esqueceu o tempo que passei presidindo uma entidade unificadora?
Mais de duas décadas!
Fora um longo trajecto feito antes desta etapa nos rincões da liderança.
— Por vezes, fico tentando entender histórias como a sua, H.
Nunca imaginei que décadas de louvor a tão honrosa instituição, ainda mais na condição de presidente, pudessem lhe trazer até esse ponto.
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Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Lírios de Esperança- Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 17, 2018 8:19 pm

— Estou melhor do que mereço e relativamente feliz considerando o que deixei de fazer, pois o mal que fiz atingiu principalmente a mim mesmo.
O movimento espírita, os livros e a instituição unificadora não tiveram prejuízos irreparáveis com minhas decisões.
Sendo assim, a vida entregou-me a mim mesmo para aferir meu aproveitamento.
E aqui estou revendo conceitos e livre dos cargos.
Pronto para o recomeço onde falhei.
— Parece que temos uma ilusão colectiva na seara em relação aos vultos do Espiritismo!
Não lhe supunha nessa condição.
— Não tenha dúvidas disso, Marcondes.
Para sua reflexão, vou passar o que aprendi a esse respeito.
Os vultos do Espiritismo cujos serviços mereceram biografias honrosas nem sempre estavam a serviço do Cristo.
— Não compreendi a assertiva.
— É que os verdadeiros vultos do Cristo, além de servirem à doutrina, serviram ao próximo nas linhas do amor e do sacrifício.
Foram almas que aprenderam a sair de trás das mesas para o abraço caloroso de afecto, ou para estender a solidariedade com as mãos fraternais.
Poucas biografias, verdadeiramente, acumulam, em seus dados, esse traço indiscutível que promove o servidor da causa espírita à condição de apóstolo incansável da Boa Nova entre os homens.
Você constatará, inclusive, que por aqui alguns baluartes inesquecíveis da seara, credores das homenagens e biografias lavradas pelo movimento doutrinário na Terra, encontram-se em padecimentos atrozes nas mais conturbadas furnas de dor...
— Quando estamos a serviço do Cristo?
— Quando vamos além da casa e servimos à causa.
— Mas a casa também é do Cristo!
— Quando excluímos o próximo da casa do Cristo, ela se transforma no campo estéril de nossas vaidades.
— Seja mais claro, por gentileza.
— O pioneirismo da acção unificadora representa a coragem e o desejo sincero de manter intactos os princípios-luz da doutrina.
Historicamente, ela cumpriu o papel a que se propunha:
coordenar, reunir esforços dispersos.
O preço pago para isso foi a criação de uma forte referência de autoridade para servir de âncora.
Contudo, o sistema se tornou tão forte que engoliu as aspirações sinceras de fraternidade.
A assinatura do Pacto Áureo, em cinco de outubro de 1949, deveria significar o compromisso da unificação em ser o exemplo de uma mentalidade promotora de união, cuja tarefa precípua seria contagiar a seara de alegria e entendimento.
O orgulho ensandeceu os pensamentos, e enxergaram-se privilégios em um documento que constituía um clamor ao sacrifício de servir com humildade, diminuir para que a obra do Cristo fulgurasse exuberante.
A proposta que deveria balizar a fraternidade legítima, em verdade, criou um colapso no sistema.
Para se defender e manter a casa, fomos infiéis com a causa...
Sempre com a melhor das intenções...
Nesse ponto, falhei amargamente...
Poderia assumir a postura de pólo das aspirações de nossos Tutores Maiores, entretanto, preferi a ilusão do momento...
— Que medidas o senhor poderia ter tomado e não tomou?
— Lutar pelo espírito de concórdia legítima com respeito às diferenças, tratar melhor quem não fosse filiado, ouvir mais a minha consciência, incentivar e apoiar a criação de novas editoras, não distanciar das bases de amor dos centros espíritas, mais gentileza com os médiuns...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2018 8:46 pm

Em síntese, cuidar melhor das relações, ser afectivo e inclusive.
Poderia, se tivesse ousado, colocar a tarefa unificadora na condição de parceira da sementeira.
No entanto, como disse, o sistema ficou maior que nossas forças...
— Creio que, se o senhor fizesse isso, seria literalmente excluído da engrenagem...
— O que seria óptimo para mim!
Contudo tive que enfrentar a morte que tem o poder de colocar-nos, inexoravelmente, no lugar que deveríamos ter ocupado durante a vida terrena, destruindo nossas ilusões.
— Mas... e os livros?
— Se eu não fizesse, outro faria.
A obra não carece de operários no que tange a missões de natureza colectiva.
Sempre haverá alguém ao mister, pois Jesus não coloca sobre a cabeça de um só homem os alvitres que interessam a todos.
Talvez, no meu caso, tenha sido apenas o homem certo na hora propícia.
— Ainda bem que não optou por esse caminho.
Os livros salvaram e orientaram milhões de vidas.
Como dizer que não foi um trabalho de amor?
Hoje, a seara lhe deve muito pela sua parcela de devoção.
— Marcondes, na seara do Cristo, ninguém deve nada a ninguém.
Se assim o fosse, na minha condição de credor, supostamente poderia efectuar cobranças.
A lei é de cooperação abnegada e incondicional.
Jesus nada nos devia e passou pelo testemunho da cruz a fim de orientar-nos os passos.
Quem o segue deve dispor-se sempre a servir e passar, servir e passar sem cessar.
— Mas, se não houvesse uma representação social digna ante a sociedade, como ficaria o Espiritismo?
— Eis uma questão a debater.
De minha parte, fico a pensar:
de que valerá um Espiritismo com representatividade social sem homens para honrar sua mensagem ética?...
A igreja acumulou o maior poderio social com sua influência, mas raríssimos dignificaram suas propostas morais.
— Então estaria contra a organização do movimento?
— Não sou contra nada.
Sou a favor do amor que desprezei.
Não teço críticas aos rumos sociais do Espiritismo, apenas considero a extensão da omissão em relação à sua mensagem.
A questão é de humanizarão de nossa seara.
— Por várias ocasiões, tenho ouvido essa terminologia sem compreender-lhe o sentido.
— Quando recebemos o apelo do Mais Alto pela humanização, é porque precisamos focar o homem antes das práticas, o homem em direcção ao amor.
— Mas e as práticas espíritas nessa óptica, como ficam?
Sofrerão enxertias?
Qualquer um poderá chegar com sua diversidade, e isso continuará sendo Espiritismo?
— Não, Marcondes.
Quando falamos em diversidade relativamente aos princípios doutrinários, pronunciamo-nos, sobretudo, conclamando aos que já formularam conceitos nítidos sobre questões espirituais, para que dilatem seus limites no campo da "atitude de amor", ou seja, a postura de amar os diferentes e suas diferenças.
A palavra de ordem é alteridade, a convivência harmoniosa com a diversidade da vida, particularmente com a diversidade do ser humano.
— Se assim é, por que não escreve a seus companheiros de lide, alertando sobre essas questões?
— Sua ponderação é justa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2018 8:46 pm

Quando estamos encarnados, entretanto, preferimos as opiniões pessoais.
Leriam minhas palavras e logo acusariam o médium de filtragem imprecisa ou mistificação.
Mais a mais, a instituição na qual mourejei está distante do Espiritismo com espíritos, da mediunidade livre e espontânea...
— A que lições o senhor tem se dedicado actualmente?
— Estou aperfeiçoando o que Bezerra de Menezes chama de lição áurea: a compaixão.
Troquei a escrivaninha pelas maças.
Através de visitações semanais a este sector, revejo meus actos e amplio meu raio afectivo para com as lutas humanas, comuns a todos em aprimoramento, especialmente aos irmãos de doutrina.
Em um mundo de sofrimento como a Terra, a medicação mais requisitada é a misericórdia para com nossas fragilidades.
Sem compaixão e tolerância irrestrita, jamais nos entenderemos.
— E qual tem sido seu aprendizado nesse particular?
— Estou percebendo que é imperioso sentirmo-nos responsáveis uns pelos outros.
Sem compaixão, não seremos misericordiosos.
Sem misericórdia, não suportaremos uns aos outros na continuidade da tarefa.
Grande distância medeia entre amor com o próximo e amor pelo próximo.
Fui adepto do segundo. Os próximos setenta anos da comunidade espírita revestem-se de um período decisivo.
O carácter humanitário prevalecerá.
O homem que ama o Espiritismo nem sempre aprendeu como amar seu próximo.
A experiência institucional é uma escola para almas cujas lutas convergem para a vitória sobre o interesse pessoal.
Por não sabermos lidar com as diferenças, acomodamo-nos na indiferença, base de variados transtornos mentais, defesa psíquica para deixar de sentir o que não queremos.
E um mecanismo emocional, seguido da atitude de evitar visibilidade aos sentimentos.
A compaixão é viver o que se sente sem receios. O ponto de equilíbrio das emoções em direcção ao amor aplicado.
Marcondes silenciou.
Percebendo sua expressão de tristeza, indagou o Irmão H.:
— Que houve?
Falei algo que não devia?
— São as lembranças.
Como doutrinador, falhei terrivelmente nesse aspecto.
Os médiuns, para mim, eram "máquinas dos espíritos".
Para mim, indisciplina era motivo de descaso e repudio. Estranho!...
— Que foi, Marcondes?
— Pela primeira vez, desde que cheguei a este plano, abriguei a curiosidade em saber como se encontram os meus companheiros na carne.
— A compaixão conduz-nos à equanimidade, à diversidade.
Lutei muito pelo amor à causa, agora procuro servir à causa do amor.
Cobramos demais uns dos outros e esquecemos a indulgência, um dos pilares da caridade, para com nossos confrades.
Nossas expectativas são inspiradas no versículo que diz:
"Muito será pedido a quem multo foi dado".38
Somente aqui na vida espiritual, interpretei com mais amplitude essa fala evangélica.
O texto diz "Muito será pedido" e não "Muito será cobrado".
Na convivência com os emissários bondosos dessa casa de amor, constatei que a única expectativa que o Mais Alto nutre em relação a cada um de nós, durante a imersão no corpo físico, é que jamais desistamos de aperfeiçoar a nós mesmos.
Jamais desistir de nós mesmos!
Quanto ao mais...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2018 8:46 pm

— Fui um descuidado nesse terreno.
As tarefas que conduzi não passavam de espaço de manifestação de meu individualismo.
Apesar disso, Nosso Senhor abençoou-me com extrema compaixão.
— Não se cobre tanto, Marcondes. Pouquíssimos de nós saem vitoriosos nesse tema.
— Pelo menos não desisti de realizá-las.
Menos mal!
— As tarefas não constituem objectivo em si mesmo.
O que importa são as lições educativas, os exercícios afectivos para consolidar a disposição de fazer o bem.
As tarefas são campos sagrados de educação dos valores de nossa espécie.
— Confesso ainda não acreditar que alguém com seu trajecto destaque semelhante incómodo íntimo!
Se assim foi com o senhor, nem quero saber o que me espera!
— Não pense assim.
Com o tempo, a experiência ampliará seu leque de observações.
— E quanto ao amparo, H.?
Os trabalhadores da unificação são bem protegidos?
Há um amparo especial?
— Claro que sim.
Do contrário, não aguentaríamos as ameaças do aprendizado.
Ocupar a posição que ocupei, ainda mais por tantos anos, requer muita assistência espiritual.
Imprescindível convir, o amparo existe por conta da obra e não por méritos pessoais ou por conta da instituição.
A honrosa missão da proposta unificadora no seu contexto histórico foi a de zelar do mais valioso património espiritual da humanidade, a Doutrina dos Espíritos, e não de homens.
— Sendo assim, por que os benfeitores não o alertaram sobre os perigos da ilusão, chamando-lhe para as falhas das quais hoje o senhor lamenta?
— Eles nunca foram omissos.
Advertiram com compaixão.
Na minha chegada ao mundo espiritual, criei muita queixa a esse respeito, por não entender a natureza compassiva da participação dos amigos espirituais em minha faina educativa junto à unificação.
O tempo mostrou-me a inconveniência da postura.
Basta falar na obra "Paulo e Estêvão", cuja publicação na década de quarenta, quando dava meus primeiros passos em tarefas pela colectividade, encerrava uma mensagem completa sobre os riscos da institucionalização do Espiritismo, como ocorreu com a Casa do Caminho.
Essa pérola estava sempre sobre a minha mesa, mas distante de minha atenção e interesse.
Percebendo a exiguidade do tempo, o professor, com manifesta humildade, sugeriu que Marcondes fizesse a última indagação, a fim de não interromper o programa de trabalho do servidor.
— Tenho vivido um drama enorme em relação à pureza doutrinária neste plano.
Qual a sua orientação?
— Que busque a pureza dos sentimentos, a honestidade emocional.
E, se deseja mesmo saber o que penso, creio, por motivos bem fundamentados, adquiridos depois da morte física, que nossa necessidade de fidelidade aos textos doutrinários é mais um problema de consciência que de amor!
— Em que aspecto?
— Já adulteramos demais a palavra do Cristo e hoje temos "neurose de lealdade filosófica" - respondeu, humorado, o velho tarefeiro.
— Nunca esquecerei nosso encontro.
Sua palavra libertou-me de terríveis conflitos.
— Não é minha palavra.
É o magnetismo da verdade que se assenhoreia de seu coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2018 8:46 pm

A conversa, inesperadamente, teve um instante de suspense.
H. olhou pelas janelas, como divisasse ao longe algo muito valoroso.
Fechou os olhos por uns segundos, fixou o olhar de Marcondes e assinalou:
— O senhor não tenha dúvidas sobre a história.
Tudo tinha que acontecer como aconteceu.
Somente entendendo o que significa o transporte da árvore evangélica, teremos compaixão com os acontecimentos que talharam o Espiritismo em terras brasileiras.
Esteja certo, meu confrade querido, de que, para milhões de almas, se não existisse um ambiente com pujante dose de formalidades e institucionalismo, certamente não se interessariam novamente pela mensagem do Cristo.
Fora desse contexto, jamais produziriam algo útil em favor da espiritualização de si mesmos.
O Mais Alto sabe disso, eis a razão de serem tão compassivos com homens como eu...
O Espiritismo, sem dúvida nenhuma, trouxe luz para os caminhos humanos.
Painéis que nunca foram descerrados para o homem terreno passaram a fazer parte do imaginário e das acções de milhões de almas que aderiram aos seus princípios lógicos e confortadores.
Todavia, quaisquer arroubos de vaidade quanto à nossa condição espiritual é mera invigilância e descuido, que pode ser comparado a um vaga-lume crédulo na sua condição de campeão da luz, tão somente porque lampeja aqui e acolá em locais sem luminosidade.
Nossa condição, ainda que com a incondicional aceitação da doutrina, é a de aprendizes incipientes nos temas da vida imortal e da evolução, conquanto devamos assinalar que isso não deve exonerar-nos da responsabilidade de ser aquele vaga-lume disposto a oferecer seu contributo sem pretensões e, persistentemente, rumo aos apelos a que todos somos convocados para a vanguarda.
Ao fim do dia, depois do encontro com Jandira, a visita ao segundo andar e o diálogo com H., Marcondes encontrava-se exausto, embora de bom humor.
Chegava o instante do repouso.
No outro dia, a rotina o esperava com muito a fazer.
Naquela noite, ainda sobrou-lhe tempo para a reflexão.
Em meio às intensas lições, recordou-se novamente do anseio em conhecer seu mentor.
Quem seria ele?
Por qual motivo, até aquele instante, não se pronunciara?
Bailando nessas indagações, o discípulo adormeceu com o pensamento no bem.

37 Identidade do espírito resguardada em função dos familiares ainda reencarnados.
38 Lucas, 12:48.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 18, 2018 8:46 pm

22 - Subsolo 02
Todo aquele que crerem mim ainda que esteja morto, viverá!.
João, 11:25

As histórias do segundo andar impressionaram o novo aprendiz.
Algumas horas de visitação, seguidas do instrutivo diálogo com H., incendiaram-lhe a curiosidade.
A vida, no entanto, chamava-o a dilatar concepções sobre suas próprias experiências.
Foi então convidado, pelo doutor Inácio a visitar o subsolo 02.
— Ninguém pode vir aqui sem um preparo interior.
— Terei condições, Doutor Inácio?
— Hora de medir suas resistências.
Mais a mais, aqui se encontra boa parcela de sua última viagem carnal...
__ ?...
O ambiente demonstrava a natureza dos casos graves que albergava.
Nos corredores, muitos quartos apresentavam-se como celas carcerárias.
Não havia enfermaria colectiva.
Luzes baixas e gritos pavorosos.
Diversas salas cirúrgicas e alguns salões com enorme número de máquinas parecidas com as incubadoras terrenas.
Muitos pacientes monitorados por vasto contingente de aparelhos.
Doutor Inácio e Marcondes vestiram roupagem anti-séptica apropriada.
Toucas, máscaras, sapatos, camisões e calças de cor-azul claro.
Ao entrarem, externou o médico uberabense:
— Venha! Modesta nos espera.
— É aqui que ela trabalha?
— É aqui que ela "mora", eu diria.
Apesar de dirigir o pavilhão, passa a maioria de suas horas neste turbilhão de dor.
Ao avistarem Dona Modesta em meio a alguns biombos no posto, cumprimentaram-na:
— Como vai, Dona Modesta?
— Com muita esperança - respondeu, expressando manifesto cansaço.
E você, Marcondes?
— Aprendendo muito.
— Modesta, como foi a noite? - indagou o médico.
— Conseguimos alguns passos significativos.
Resgatamos o pivô da história.
Agora será menos penoso libertar Marina das garras aos justiceiros.
Mudando o assunto, falou Dona Modesta.
— Fico feliz que tenha chegado ao subsolo Marcondes.
— Modesta, será que... - Doutor Inácio apontou para o biombo desejando abri-lo.
— Creio que será uma forma muito trágica de começar suas experiências, mas venha, Marcondes, olhe!
O dirigente olhou a criatura deitada na maça e chocou-se com o que viu.
Estarrecido, porém apoiando-se na experiência dos dois servidores, disse:
— Desculpe, Dona Modesta...
Vou vomitar... - e saiu para um canto, completamente indisposto.
— Respire fundo, amigo!
Pense em Jesus Cristo...
— Doutor Inácio, o que é aquilo?
Estou me sentido fraco e...
— Feche os olhos e pense em Jesus, sinta o Cristo.
Lembre-se que é seu momento de desenvolver defesas em nome do amor.
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