LUZ ESPÍRITA
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Laços de Afecto - Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 29, 2018 8:31 pm

Tais terminologias podem aparentemente significar a mesma coisa, no entanto, existe uma ontologia, uma razão de ser em tais perspectivas que define posturas e propostas bem diversas.
Como escola de Espiritismo, em muitos casos, os conteúdos doutrinários são mais valorizados que o homem, enquanto o foco na escola do Espírito converge as finalidades da agremiação para o “ser”, ou seja, sobre a complexidade existencial da criatura, suas necessidades, seus valores, suas habilidades.
Precisamos promover a casa espírita de mera escola de estudos sistematizados e planejados para um centro de convivência e treinamento para desenvolvimento dos traços morais da regeneração.
Ensinar Espiritismo sem auxiliar o Espírito a tornar-se um ser integral pode apenas significar transmissão de conteúdos, informação, conhecimento. Para isso, os ambientes de Amor e estudo espíritas haverão de transformar-se pelo jejum da indiferença e pela oração do afecto vivido.
A pedagogia do afecto na educação do Espírito tem regime de urgência.
Ampliemos o raio de influência do Espiritismo em nós, dilatando suas concepções para além do cérebro, atingindo o sagrado templo do coração.
Espiritismo na inteligência é informação; Espiritismo no sentimento é transformação.
Quando falamos em humanização, referimo-nos à contextualização, que é oferecer aos profitentes espíritas os instrumentos para que possam fazer dessa informação espírita a sua transformação espiritual.
Conhecimento no cérebro quando é contextualizado tem o nome de saber.
E saber, em outras palavras, quer dizer aprender as respostas e os caminhos para desenvolver seus potenciais humanos na edificação da felicidade própria e daqueles que nos rodeiam.
O saber é o conhecimento intelectivo que foi absorvido pelo coração.
Contextualizar, portanto, é humanizar a seara.
Para contextualizar oferecendo condições aos nossos irmãos de obterem sua paz e suas “respostas Divinas”, precisamos rever esse foco da missão do centro espírita, evitando que se torne um lugar de “bancos frios” nos quais assentem “alunos” com largos cabedais intelectuais sobre a novel doutrina, mas com franca inabilidade para se amarem e transportarem esse Amor ao mundo social em que estagiam.
Contextualizar é descobrir horizontes, respostas, caminhos.
É construir o saber espírita através do auto-conhecimento, descerrando para si mesmo os enigmas da existência.
Podemos questionar qual utilidade terá para nós o aprofundamento nas encantadoras temáticas espíritas se, muitas vezes, em nada ou quase nada tais temáticas estão auxiliando-nos a sermos homens e mulheres de bem, escondendo a vida afectiva onde pulsamos com a nossa mais profunda realidade!
Preparados desde o berço para o sucesso material, raras vezes recebemos “aulas” sobre o Amor.
Fomos treinados socialmente para esconder os sentimentos, camuflar as emoções.
A educação afectiva, portanto, é o grande desafio no capítulo da transformação interior do “ser”.
Ocorre, em verdade, que os seres humanos não estão preparados para serem “humanos”.
O século 21 será o tempo das habilidades pessoais, dilatando os valores humanos em contraposição ao século 20, que foi o período das habilidades técnicas e mecanicistas.
Sigamos os rumos apresentados pela UNESCO (1), que estabeleceu os quatro pilares da educação para o século 21 em aprender a ser, aprender a fazer, aprendera conviver, aprendera conhecer, e empreendamos uma nova era para nossas casas de amor definindo-as como lar espiritual para formação da família universal.
Uma nova e promissora vereda desponta-se na vida daqueles que fruem o ambiente do centro espírita.
Na casa de Jesus e Kardec o Amor é lição primeira, e as relações abrem-se para o afecto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 29, 2018 8:31 pm

Não estando regulado por rígidas hierarquias, nem sob a tutela do frio institucionalismo, a casa espírita apresenta-se como escola social das relações sinceras e duradouras, verdadeiro núcleo de treinamento da convivência regenerativa.
Nossa grande meta é o desenvolvimento da afabilidade e doçura nos corações, empreendendo uma campanha promissora por novas vivências nas agremiações espíritas, ricas de humanismo, nas quais acima de quaisquer factores coloque-se sempre o homem em primeiro plano.
O amor, enquanto sentimento sublime, não carece aprendizado, está ínsito e abundante na alma humana, O mesmo não ocorre com a atitude amorosa, que torna imprescindível o estudo e o hábito.
Saber externar esse sentimento dignificante na convivência exige equilíbrio, autoconhecimento, esforço reeducativo das tendências, desejo de melhorar-se e um ambiente que estimule a busca de semelhantes conquistas.
E qual ambiente oferece tanto quanto os centros doutrinários?
Qual grupamento instiga tanto a melhoria pessoal e íntima quanto as agremiações dirigidas sob as directrizes de Jesus e Kardec?
Obviamente, quando proclamamos a necessidade de uma campanha por humanização nas leiras de serviço espírita-cristão é, tão somente, no sentido de um maior denodo em investimentos e iniciativas que ofereçam a seus profitentes melhores condições de entendimento e convivência em favor de uma fixação definitiva do carácter humanitário, já latente nos núcleos de tarefa.
Falta-nos empenhar com maior ostensividade e consciência no trabalho de arregimentação de relacionamentos de maior profundidade afectiva pela saúde de nosso conviver.
As organizações e suas tarefas não têm vida própria.
Elas são aquilo que dela fazem seus integrantes.
Razão pela qual a permuta relacional é a essência das instituições nas quais fazem parte todos os valores e limites do ser humano.
Não é assim razoável desconsiderar ou mesmo tratar com indiferença a vida emocional desse intercâmbio, a fim de não alimentarmos ainda mais a acção mecânica e destituída de afecto e estímulo, consumindo os ideais superiores de muitos corações que ingressam nas fileiras de labor, sem permitir que o “encanto do Amor” e a alegria da amizade faça parte desse concerto de espiritualidade e crescimento pessoal.
Empenhemo-nos em estabelecer estudos, cursos, técnicas, jogos educativos e reciclagens contínuas junto aos grupos que dirigimos, objectivando mais humanização e menos institucionalização.
Igualmente, no campo individual, cada qual reconheça que humanizar é dar de si e não apenas aguardar as atenções alheias, guardando elevadas expectativas para com os outros.
Enquanto dirigentes, invistamos na melhoria das condições da vida interpessoal do grupo, elaborando programas saudáveis de convívio familiar e dilatemos os conhecimentos dos tarefeiros sobre a vida de relações, tratando temáticas específicas e adequadas às necessidades e demandas apresentadas na rotina das actividades.
Enquanto partícipes das sociedades doutrinárias, busquemos construir esse espaço de renovação para cada um de nós, oferecendo nossa cordialidade, ternura, atenção e carinho para os companheiros, enriquecendo os relacionamentos afins e dilatando as possibilidades de crescimento junto aos menos afins.
Um programa permanente, do individual ao colectivo, trará frutos auspiciosos tornando motivante a convivência.
Esse é o piso elementar para que as responsabilidades assumidas no trabalho obtenham um melhor resultado e desempenho das capacidades e talentos individuais, reforçando o centro espírita à condição de ambiente cristão, mas acrescido da garantia insubstituível que faz do Cristianismo algo essencialmente celeste e universal:
seu carácter humanitário, único capaz de promover o progresso dos homens em razão de preparar seu profitente para ser uma “carta viva” da paz e do amor, em plena sociedade de homens atormentados.

(1) Relatório Jacques Delors
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 29, 2018 8:31 pm

Capítulo 2 - Relações Sócio-Afectivas
“Já vimos de quanta importância é a uniformidade de sentimentos, para a obtenção de bons resultados.”
O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 335

As relações humanas estão intensamente marcadas pelos papéis sociais assumidos com finalidade de delimitar direitos e funções.
Semelhante representatividade nos relacionamentos enseja o estabelecimento de “espaços”, disciplinando a acção humana ao melhor alcance de resultados na sociedade.
Por outro lado, em razão dos abusos morais, os papéis institucionalizados têm sido, muitas vezes, usados como chancela para acobertar erros clamorosos sob a conivência da aceitação social.
A família é um exemplo inconteste disso.
Durante séculos delineou-se na sua estrutura antropológica as máscaras do pai-provedor, da mãe-reprodutora, do filho-herdeiro, estimulando em múltiplos núcleos domésticos a ganância e inconsequência no homem, a submissão e subserviência na mulher e a preguiça e a luxúria nos filhos.
O institucionalismo revela a presença de intrincados processos éticos nos grupamentos.
Tomemos para análise a história das religiões na qual encontramos tais ocorrências em larga escala.
O estabelecimento de uma relação entre o eu e o Divino foi construída sobre os alicerces frágeis do dogmatismo recheado de adoração exterior, criando a opressão do desamor na convivência social em nome da “filiação Divina”.
Os rótulos passaram a ser mais significativos que as expressões de afecto, insuflando a discriminação do sectarismo contra os que não absorviam os mesmos conceitos, sacramentados pelo poder de oficialização das forças religiosas dominantes. Nesse passo, a hierarquia e a soberba intelectual cristalizaram as diferenças entre o sagrado e o profano, instituindo padrões de exclusão e punição, deflagrando lamentáveis episódios nas sociedades terrenas dos últimos milénios.
Essa experiência enraizou-se no psiquismo humano que, ainda hoje, a despeito dos avanços culturais e tecnológicos, fazem do homem cibernético um “fantoche do religiosíssimo atávico” com altas doses de fé cega.
Somente com o advento das teorias sociais e psicológicas no início do século 20 o homem começou a desvendar com mais segurança e sensatez os elos entre ele e seu grupo e dele para consigo mesmo, permitindo assumir uma nova postura ante as interacções sociais.
Tal facto vem obrigando a religião a rever seu tradicional paradigma de relações com o Divino, deslocando-o para a tríade “eu, o próximo e Deus”, em contraposição ao modelo “eu e Deus”.
A identidade com Deus, com as Leis Naturais, tem como condição expressa esse processo de identificação do homem com seu próximo, através de um “construtivismo relacional” no qual irá, pouco a pouco, desenvolvendo as potencialidades Celestes no seu mundo íntimo e ensejando que seu meio, igualmente, possa fazer o mesmo.
Nesse cômputo histórico, verificamos que o Espiritismo há mais de um século preconiza, na Lei de Sociedade e na Lei de Amor, justiça e Caridade, as bases para um processo social de pleno reconhecimento do próximo como sendo o “outro” diferente do eu, portador de inexauríveis recursos para promoção pessoal ante os apelos do aprendizado na escola da convivência, convergindo suas relações para uma harmonia com as Leis Divinas, redefinindo a adoração para o campo interior, no crescimento das potências ínsitas no ser e adoptando a religião cósmica do Amor como “o caminho, a verdade e a vida”.
Durante longas eras da evolução asilamos “modelos mentais” embalados por crenças dogmáticas, mitos, convenções, que, hodiernamente, pesam sobre as interpretações doutrinárias na convivência de nosso movimento social espírita.
Nesse ínterim, o institucionalismo como traço determinante no psiquismo tem se ampliado em alguns de nossos ambientes de simplicidade, estabelecendo relações sociais superficiais, distanciando as criaturas das relações plenificadoras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 29, 2018 8:31 pm

Tais relações institucionalizadas priorizam e privilegiam o domínio e o controle, ensejando a disputa em detrimento da amizade e do respeito.
Dessa forma, mais uma vez, apesar da lucidez dos conhecimentos que somos depositários, submetemo-nos a papéis representativos, rótulos e cargos bem ao gosto do nosso milenar personalismo, em profundas crises de “artificialismo afectivo”.
Oportuno, portanto, que alinhavemos alguns dos possíveis reflexos da ausência de relações afectuosas nos grupos, a título de estudarmos, posteriormente, quais seriam as medidas preventivas ou remediadoras a serem encetadas, como segue:
- Maior possibilidade de criação e manutenção das máscaras emocionais que escondem uma pseudo-harmonia.
- Campo para condutas estereotipadas provenientes de interpretações destituídas de bom senso.
- Ausência de ambiente para o debate crítico e avaliação sincera.
- Ambiente favorável para a hipocrisia e o puritanismo.
- Adubo para melindres.
- Ensejo para a adoçam de “gurus” nos dois planos da vida gerando a idolatria.
- Larga porta para a desmotivação com o trabalho em razão de uma convivência, na maioria das vezes, desgastante e sem o enriquecimento das trocas.
- Desvalorização das habilidades cooperativas.
- Ambiente psiquicamente desagradável devido às opressões guardadas em silêncio.
- Ausência do diálogo como instrumento construtor de amizade sólida.
- Clima de desconfiança.
Trabalhemos e invistamos o quanto possível na melhoria das condições das relações sócio afectivas entre nós, que desfrutamos das bênçãos do Espiritismo, superando papéis e utilizando-os somente como factor disciplinador e organizador de nossos grupos de Amor.
Estejamos acima dos direitos com os quais facilmente podemos nos iludir e fixemos a mente e o coração nos deveres infindáveis que os rótulos nos impõem.
A presença de pessoas afectuosas em nossas vidas nunca é esquecida, cria “marcas”, deixa lembranças para o futuro e é forte dose de estímulo ao idealismo superior no presente.
Sobretudo, essas pessoas deixam saudades...
E saudade é o sentimento de quem sente falta de alguém.
Amigos verdadeiros deixam saudades...
A criação de relações afectivas enseja melhores condições para que a crítica, a competição, a dúvida e o diálogo se transformem em instrumentos construtores da paz e do equilíbrio grupal.
A criação de laços mais gratificantes e motivantes como a confiança, a simpatia, a amizade, a alegria, que geram o bem-estar para a convivência, são algumas das vantagens do afecto cristão nos relacionamentos.
Alinhemos assim alguns outros reflexos dessas relações humanitárias:
- Enfoque centrado nos valores uns dos outros.
- Carinhosa indulgência com os limites e imperfeições no conjunto.
- Melhores chances de converter os conflitos em lições.
- Valorização e compartilhamento das ideias e movimentações no bem de uns pelos outros.
Allan Kardec na sua nobreza de carácter e grandeza de coração não era apenas um homem de finura e verniz social.
A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas tinha-lhe como o “bom humor em pessoa”, pródigo de simpatia e afecto.
Ele fazia-se verdadeira tocha de carinho e ternura a iluminar os relacionamentos entre todos, e sua presença era reverenciada como a de um pai zeloso e amigo que preenchia o vazio do coração de quantos fruíam sua companhia.
Jamais impressionou-se com os papéis de sua missão e fazia sempre questão da cortesia acima de modos típicos e consagrados do povo francês àquele tempo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 29, 2018 8:31 pm

Ele mesmo, com muita felicidade, talvez pressentindo os destinos sombrios que poderiam tomar o movimento social em torno do Espiritismo, declarou:
“A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário” (1), deixando entender que não bastaria o vínculo com a lição do Mestre sem a humanização dessas directrizes na plenitude dos relacionamentos, o que seria repetir erros do religiosíssimo enquanto representatividade social, em desarmonia com a Verdade.
Finalizando, relembremos a saga sacrificial do Viajante do Cristo, Paulo de Tarso, que em eloquente estado de integração no amor, deixa-nos vitoriosa recomendação em favor de nossas vidas espíritas-cristãs:
“Eu de muito boa vontade, me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado. “(2)

(1) O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 350
(2) Coríntios, Capítulo 2, versículos 12 a 15
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:30 pm

Capítulo 3 - Amor e Alteridade
“As reuniões Espíritas oferecem grandíssimas vantagens, por permitirem que os que nelas tomam parte se esclareçam, mediante a permuta das ideias, pelas questões e observações que se façam, das quais todos aproveitam.
Mas, para que produzam todos os frutos desejáveis, requerem condições especiais, que vamos examinar, porquanto erraria quem as comparasse às reuniões ordinárias.”

O Livro dos Médiuns — capítulo 29, item 324

O episódio cristão da traição de Judas encerra infindáveis leituras e lições às nossas considerações.
Jesus sabia que o fato ocorreria, mas nem por isso tomou uma atitude excludente.
Mesmo sabendo da diferente postura do apóstolo, manteve-se firme nos ideais de amá-lo incondicionalmente na sua peculiar diferença.
Isso é alteridade:
o estabelecimento de uma relação de paz com os diferentes, a capacidade de conviver bem com a diferença da qual o “outro” é portador.
A ética da alteridade consiste basicamente em saber lidar com o “outro”, entendido aqui não apenas como o próximo ou outra pessoa, mas, além disso, como o diferente, o oposto, o distinto, o incomum ao mundo dos nossos sentidos pessoais, o desigual, que na sua realidade deve ser respeitado como é e como está, sem indiferença ou descaso, repulsa ou exclusão, em razão de suas particularidades.
Alteridade, portanto, torna-se aprendizado urgente para o futuro de nosso Movimento Social Espírita, considerando o lamentável processo de exclusão que vem ocorrendo na surdina das fileiras de serviço cristão e espírita, em função de uma homogeneidade utópica.
Conviver com os contrários e aprender a amá-los na sua diversidade constitui desafio ético aos grupamentos espiritistas no campo da alteridade, mesmo porque o mastro da nova revelação cristã preconiza a fraternidade como postura de base para relações pacíficas e mantenedoras do idealismo superior, em direcção às clareiras de necessidades do homem do terceiro milénio.
A inclusão, em nome do Amor, é acção moral para nossa convivência, sem o que não faremos a dolorosa e imprescindível cirurgia de extirpação da egolatria, tão comum a todos nós — almas com pequenas aquisições nos valores essenciais da espiritualização.
Diferenças não são defeitos ou álibis para que decretemos o sectarismo e a indiferença, somente porque não compreendemos o papel dos diferentes na engrenagem da vida, executando uma “missão específica” que, quase sempre, só conseguiremos entender quando, decididamente, vencermos as etapas do processo de construção da alteridade.
Sem deixar de considerar as inúmeras variações que resultam das peculiaridades individuais, apresentemos algumas dessas etapas na caracterização do processo alteritário, tais como:
CONHECER A DIFERENÇA — é a fase de acolhimento do “outro”, despindo-se de preconceitos e “estereótipos éticos” pré-formulados, guardando abertura de afecto ao diferente e à sua diferença.
COMPREENDER A DIFERENÇA — criação de avaliações parciais, não definitivas, que favoreçam a análise desse “outro”, buscando entender-lhe as razões, estudar-lhe os motivos até penetrarmos na essência de seu “ser”, compreendendo-o pela apreensão do “sentido” que ele tem para Deus, seu papel cooperativo no universo.
APRENDER COM A DIFERENÇA — é uma fase que une e permite acessibilidade mútua, receptividade aos sentidos do “outro”; propicia uma relação de aprendizado e o elastecimento de noções sobre como a diversidade do outro pode nos ensinar algo, buscando, se possível, aprender a amá-lo na sua particularidade.
Fácil concluir, portanto, que alteridade pode estar presente nos actos de solidariedade, empatia e respeito nas relações em sociedade, sem que, necessariamente, o Amor legítimo esteja na base de tais atitudes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:30 pm

Por outro lado o Amor é sempre rico de alteridade e não existe sem ela.
A faina doutrinária conduz-nos a contínuos relacionamentos com companheiros de entendimentos diversos e, inclusive, oponentes como ocorre na vida social, embora não devam as reuniões espíritas tornarem-se assembleias ordinárias, aderindo a relações de insana competição ou de cruel indiferença.
O processo de alteridade será valioso nas interacções entre companheiros de ideal e ocasionará, parafraseando o Codificador, “grandíssimas vantagens”.
Investir no entendimento de semelhante questão auxiliar-nos-á a estabelecer uma auto-sondagem frente aos testemunhos da vida relacional, investigando em nós mesmos, a partir dos atritos e desencontros com o “outro”, as causas reais dos sentimentos que se assomaram no caleidoscópio do mundo emocional, efectuando uma viagem segura a um “outro diferente”, ainda não dominado e também desconhecido que reside em nossa intimidade.
Esse “outro diferente” é o “eu Divino” que resgataremos no aprendizado do auto-Amor, possibilitando-nos, a partir dessa conquista, excursionarmos ao mundo alheio, sem tisnar com as sombras do primarismo moral os elos de Amor que devemos entreter com todos e com tudo, em favor do soerguimento de um mundo melhor e com mais paz, uns perante os outros.
Não olvidemos, portanto, laborar por mais sólida preparação ética em nossos conjuntos doutrinários, tratando das temáticas que versem sobre a edificação de relacionamentos consistentes, com alteridade, estudando o significado de compreender e aceitar, reflexionando com demora no que seja saber criticar e discordar sem inimizade, sem oposição sistemática e dissidência declarada, sabendo discordar sem amar menos, apesar de pensar diversamente.
Mesmo que nos agastemos inicialmente pela ausência do hábito de conviver harmoniosamente com conflitos e tribulações da vida interpessoal, anelemos por novos comportamentos repletos de Amor e alteridade, aprendendo a maleabilidade, o altruísmo, a assertividade o domínio emocional e os imperativos de vigilância sobre os impulsos menos bons, que serão promissoras sendas na conquista da ética da alteridade.
Evidentemente, não fazemos apologia ao convívio no círculo estreito de desafectos, em climas adversos; privilegiemos os afins como quesito fundamental ao bom andamento dos compromissos assumidos, aprendendo que afinidades são “lembretes” de Deus, a fim de não esquecermos o desejo de amar, e estímulos para a alegria da amizade.
Contudo, não desconsideremos que o aprendizado do Amor autêntico, a sedimentação da conduta amorosa é arregimentada na “fusão” relacional com os menos afins, os que não nos atraem, com os quais superaremos, paulatinamente, pesada fortaleza de entraves emocionais, libertando-nos para voos mais amplos pelos céus universais pulsantes de Amor Divino, na vitória sobre o egoísmo que ainda nos aprisiona.
* * * *
Amigo dirigente,
A responsabilidade que te cabe junto aos ofícios doutrinários é de inestimável valor.
Difundir esperança, promoção humana, delegação de responsabilidades e estímulo para viver são alguns dos inúmeros deveres a ti confiados, quando assumes os postos da direcção espírita.
Pensa e medita em teus desafios.
Estás no cargo que te “onerará” com graves ocorrências na medida das tuas necessidades de aprendizado.
Não fujas da ocasião e faze o melhor que puderes.
Nos terrenos do afecto com aqueles que te rodeiam, vigia tuas manifestações de carinho e atenção avaliando os efeitos de tuas acções, continuadamente.
Alteridade para ti será o desafio de aceitares cada pessoa em tua experiência evolutiva, auxiliando-a a crescer e se libertar.
Se guardares contigo os preconceitos e estereótipos, ainda que manifestes afecto e reconhecimento aos que te rodeiam, certamente obliterarás o ciclo espontâneo das relações que devem vigorar em teus ambientes de esforço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:31 pm

As pessoas à tua volta nem sempre saberão traduzir a linguagem universal dos sentimentos que as envolvem, perceberão, porém, o “hiato”, a reserva com que são tratadas...
Afecto para ser Divino precisa ser espontâneo, autêntico, natural.
Se guardas dificuldades em entender esse ou aquele companheiro, se não admites determinadas expressões comportamentais que diferenciam de tua formação doutrinária, se não compreendes determinadas ideias que a ti parecem desconexas da proposta espírita, tenha muito discernimento para que não te aprisiones aos grilhões do personalismo que subtrai-te a alteridade, a capacidade de entendimento com o outro.
Os dirigentes espíritas conscientes na actualidade precisarão de muita alteridade para cumprir sua missão a contento.
Razão pela qual, mais que nunca, aprendas o que seja promover e delegar, a fim de permitires aos que te cruzam as vivências encontrarem o quanto antes, com o preparo elementar, os caminhos adequados de crescimento que nem sempre serão ao teu lado.
Liberta-te da ideia de uniformidade e ajuda cada qual a descobrir o seu caminho para Deus, sem jamais esquecer que cada criatura tem o seu Roteiro Divino.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:31 pm

Capítulo 4 - Recepção, Atendimento e Integração
“Uma Sociedade, onde aqueles sentimentos se achassem partilhados por todos, onde os seus componentes se reunissem com o propósito de se instruírem pelos ensinos dos espíritos e não na expectativa de presenciarem coisas mais ou menos interessantes, ou para fazer cada um que a sua opinião prevaleça, seria não só viável, mas também indissolúvel.
A dificuldade, ainda grande, de reunir crescido número de elementos homogéneos deste ponto de vista, nos leva a dizer que, no interesse dos estudos e por bem da causa mesma, as reuniões espíritas devem tender antes à multiplicação de pequenos grupos, do que à constituição de grandes aglomerações.”

O Livro dos Médiuns – capítulo 29 - item 334

Grupos harmonizados entre si têm o coração aberto aos que chegam, e tornam-se “convites vivos” para que outros participem dos ágapes de sua instituição, já constituindo essa postura afectiva um benefício expressivo no atendimento às dores alheias.
Nesses dias de definição e reajustes, a família, que deveria cumprir seu papel de núcleo educacional das virtudes superiores, perdeu seu norte pela fragilidade moral de seus membros, ficando assim a criança e o jovem, mais tarde o próprio adulto, à mercê dos factores circunstanciais da vida para asilarem-lhe em clima educativo e formar laços de afecto estimuladores.
Nessa hora da existência surge o centro espírita qual “salva-vidas” no tempestuoso mar das provações, apresentando uma proposta preenchedora de paz e estímulo a novos caminhos.
A alma então começa procurar a si mesma. Travando o contacto doloroso com sua intimidade, dilacerada, pobre, doente.
Por isso, as instituições espíritas, na pessoa de seus dirigentes e trabalhadores, devem se dar conta da responsabilidade que é receber e encaminhar os corações que lhe batem à porta, famintos de luz e apoio.
Em verdade, em muitos casos, as agremiações espíritas têm “cumprido” o papel de lar e família de grande parte de seus frequentadores.
A dor que apresentam como “cartão de visita” nas noites de reunião é apenas o resultado de um processo de anos de solidão, desamparo, falta de orientação e carência de afecto familiar e social, adoecendo, por fim, a vida afectiva do ser.
Abracemos cada “pedinte” como nosso filho ou irmão, e ofereçamos-lhe a oportunidade de integrar a nossa família espírita, fazendo parte da nossa família espiritual, refestelando-se connosco dos banquetes de luz e Amor que o Espiritismo nos propícia, fortalecendo-o para regressar mais animado e esperançoso em dias melhores junto aos seus.
Passemo-lo o nosso bem-estar, contando as histórias felizes que inclinaram-nos às directrizes espíritas.
Os líderes espíritas, porque possuem aguçado senso crítico, quase sempre, destacam a precariedade em que se encontram muitos serviços doutrinários, e apontam mudanças necessárias, o que é muito justo.
Não podemos deixar, por nossa vez, de atestar o valor que têm as actividades doutrinárias, mesmo nessas condições, em se considerando que, para a grande maioria dos que as integram, elas são fonte inexaurível de paz, amparo, orientação e disciplina, tendo em vista a escassez de recursos morais-espirituais de seus lares ou de outros ambientes de suas vivências actuais.
Recepciona-os, valorizando.
Atende-os, orientando.
Integra-os, promovendo.
Valorização, orientação e promoção constituem um programa educacional de amplas possibilidades, e quando conseguimos vencer tais etapas sob o amplexo do afecto fraternal, ensejamos aos novos trabalhadores a coragem para o recomeço, para o “baptismo” de um novo homem, para “reencarnar na encarnação” retomando seu planeamento original antes de seu regresso ao corpo carnal, resgatando seus sonhos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:31 pm

O passo inicial para a composição de grupos fraternais ocorre naquele momento da recepção amiga eterna.
Ali deixamos a primeira impressão de nossa família, de nosso grupamento.
Nesse instante, estamos confortando a dor do peito oprimido e a um só tempo cativando o desabrochar do futuro trabalhador.
Os elos da confiança se estabelecem e, daí para a amizade, basta somente um gesto de ternura.
Receber bem no centro espírita é nossa obrigação como espíritas, faz parte da moral cristã de abraçar a todos como irmãos e amigos, e, sobretudo, é o dever de qualquer instituição que se digna a prestar serviços junto a sociedade.
Valorizar o atendido é exprimir afecto e confiança, o que valerá por mil palavras.
Além do que essa postura vai auxiliá-lo na autoconfiança em vencer suas mazelas que o levaram ao centro espírita.
Acolhido como ser pensante e com potencialidades a serem desenvolvidas, terá mais disposição para a sua própria transformação.
Será então muito confortador e motivante saber que, mesmo suas experiências de vida mal sucedidas, seu conhecimento, suas parcas possibilidades, não lhe tornam indigno de contribuir e cooperar.
Essa foi a plataforma educativa do Mestre Jesus, a pedagogia da esperança ante corações esfacelados pela volúpia do egoísmo e da derrocada moral.
Espontaneidade com moderação, preparo interior pela oração para espargir magnetismo salutar, conhecimento das necessidades alheias, disposição íntima de ser útil e servir, finura de trato, o sorriso afectuoso, são algumas das directrizes dos recepcionistas fraternos.
O atendimento em nome do Amor será ministrado de conformidade com a necessidade.
Evitar padronizações e chavões, procurar colocar o coração receptivo em estado de empatia, olhar as expressões verbais e físicas, procurar gravar as palavras que expressem os sentimentos da criatura para lhe conhecer os domínios do afecto, ajudar sem ilusões e imediatismos, ser claro no que a instituição poderá oferecer, estabelecer parcerias com organizações que possam atender outras necessidades do atendido, oferecer-lhe a luz dos conhecimentos espíritas no seu drama, eis alguns dos requisitos do atendimento fraternal.
Dessa forma a integração com os serviços será o natural reflexo do nível de melhora e envolvimento com os componentes da Casa.
Quanto mais vínculos sólidos efectivarem-se nessa caminhada, desde o instante da chegada ao da melhora, mais interesse haverá do recém-atendido em manifestar desejo de cooperar, de realizar algo para auxiliar outros que como ele, agora, necessitam do amparo.
Recebendo com Amor, falamos do Evangelho.
Atendendo com carinho, divulgamos o Espiritismo.
Integrando com respeito, oferecemos à vida a chance de perpetuar o ciclo, multiplicando as fontes de doação.
O Codificador é de uma felicidade ímpar ao alertar para a necessidade de circunspecção na admissão de elementos novos na organização doutrinária, menos pelos receios de problemas e mais pelas necessidades do recém-chegado. Cremos que o trecho de Allan Kardec instrui-nos acerca da cautela em acolher bem, pois sabemos todos que parte das lutas enfrentadas pela instituição espírita, nos terrenos da convivência, advém da incapacidade de absorção consciente e responsável dos que passam a integrar seus quadros de serviço, sem receberem o preparo e a orientação precisa sobre a nova senda de experiências a que se engajaram.
Quanto melhor a acolhida, melhor será a integração, mais plena de consciência individual quanto aos novéis deveres assumidos, trazendo por consequência frutos mais valorosos e alegrias para todos.
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Laços de Afecto - Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 2 Empty Re: Laços de Afecto - Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:31 pm

Capítulo 5 - Comportamentos Hipócritas
“Garantimos que a uma sociedade espírita, cujos trabalhos se mostrassem organizados nesse sentido, munida ela dos materiais necessários a executá-los, não sobraria tempo bastante para consagrar às comunicações directas dos Espíritos.
Daí o chamarmos para esse ponto a atenção dos grupos realmente sérios, dos que mais cuidam de instruir-se do que de achar um passatempo.
(Veja-se o número 207, no capítulo ”Da formação dos médiuns.)”

O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 347

Feliz advertência do Codificador para as frentes de serviços doutrinários hodiernos.
Verifica-se um excessivo interesse em “receber almas” pelas vias da mediunidade, constata-se um interesse exagerado pelo que fazem e dizem os Espíritos, despende-se enorme esforço para socorrer “os necessitados e sofredores” do além. Entretanto, o que temos organizado em favor dos “Espíritos na carne”, aqueles que, alguns deles, receberam o socorro espiritual e agora precisam da ajuda dos centros espíritas em plena reencarnação?
Ou aqueloutros que um dia estarão fora da carne e que, se agora não forem bem socorridos nas suas necessidades, perambularão na erraticidade em dores pungentes?
Enfim, que tempo temos disposto e com que nível de seriedade para atender as demandas do encarnado de nossa convivência?
Na natureza encontramos o mimetismo como sendo um instinto natural de defesa de alguns animais e vegetais.
Os animais e pequenos insectos, usando da propriedade da camuflagem, metamorfoseiam-se confundindo com a natureza na preservação de suas vidas contra os ataques no ecossistema.
O homem, embora detentor da inteligência e com outros objectivos, também mimetiza seu comportamento através da hipocrisia, apresentando-se com várias personalidades, conforme o seu interesse, nos ambientes de sua convivência.
A hipocrisia é um dos mais atrasados comportamentos da jornada evolutiva na Terra.
Comportamento adquirido em milenares vivências, é o resultado inevitável da desarmonia existente entre o pensar, o sentir e o agir.
Herança doentia do egoísmo, ela pode se expressar sob três facetas mais comuns:
- Reacções extemporâneas, instintivas e naturais, nas áreas específicas do aprendizado do ser nas quais ainda não detém maior soma de domínio e controle.
São estados neuróticos superáveis.
- Acções deliberadas para compensação e atendimento de gratificações.
- Atitudes psicopáticas de dissimulação de “identidades psicológicas”, devido a patologias psíquicas ou estados limítrofes a essas.
Dessas facetas assinaladas, destacamos a primeira como sendo a mais apropriada ao nosso objectivo de estudo, reflexão e debate nos grupamentos que assumiram a proposta da restauração espiritual.
O mimetismo do comportamento faz parte da rotina de nossas agremiações, integrando nossas atitudes no cunho das actividades doutrinárias.
Não estamos nos referindo à hipocrisia intencional, mas aquela que ocorre em função de assumirmos o compromisso das mudanças interiores, e que nos leva ao sentimento de falsidade, de mentira, apesar dos esforços por melhorar.
Nesse caso as condutas incoerentes com a ética Espírita-cristã são fruto de conflitos íntimos, sobre os quais não logramos ainda um maior grau de controlo e elaboração mental, somados aos velhos reflexos condicionados da hipocrisia deliberada, vivida em outros tempos nas veredas do aprendizado terreno...
É um facto subtil e que envolve a grande maioria dos novos adeptos, e também aqueles que não se superaram no tempo resolvendo seus conflitos.
O verdadeiro espírita é concitado a mudança dos hábitos pelas seguras indicativas dos textos evangélico-doutrinários.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:32 pm

Entretanto, a assimilação incoerente e dogmática dessas orientações fá-lo projectar-se a uma repentina e falsa reestruturação comportamental, para a qual não foi previamente preparado pelas valorosas orientações que poderiam ser ministradas pelos dirigentes da Casa em que presta seus serviços, através de ocasiões especiais ou do acompanhamento fraterno e dialógico.
Lançando-se a esforços hercúleos e sofridos, direccionados para focos erróneos, acaba por se desgastar na manutenção de um rígido e cerceador programa de vigilância e violentação de si mesmo.
Não atingindo os patamares desejados no campo vivencial, passa então a dissimular seus conflitos e frustrações para não perder a convivência na Casa Espírita, porque se se revelar, “o que os demais vão pensar”?
Para agravar tal episódio, infelizmente ainda encontram insensíveis directores, atendentes ou “amigos” do grupamento a imputar-lhe severos julgamentos face aos rol de suas lutas, asseverando tratar-se de obsessões de largo porte ou de invigilância declarada, colocações essas expedidas em tom de “hilariante ar de superioridade” que leva ainda mais o companheiro, em lutas consigo próprio, a uma maior auto-desvalorização e sentimento de culpa.
É quando surgem os comportamentos hipócritas que minam as forças dos que guardam sinceridade nas intenções de melhorar, causando aflição e ansiedade em função dos circuitos mentais viciosos de auto-cobrança.
As maiores fragilidades morais do Espírito são as mais atingidas, deixando um rastro de frustração e sentimento íntimo de deslealdade.
A ausência da devida atenção a esses quadros morais dos trabalhadores favorece um prolongamento dessa experiência, tornando-a exaustiva, enquanto esses dramas da vida íntima poderiam ser minimizados se obtivessem um espaço apropriado para atendimento no centro espírita.
A acção hipócrita incomoda; no entanto, a maioria expressiva dos recém ingressos na organização doutrinária não sabe o que fazer nesses momentos.
Seu estado mental com o tempo pode perder as resistências e desaguar em desequilíbrios psíquicos ou no estabelecimento de comportamentos exóticos de defesa.
Eis um assunto para nossos debates.
Como ajudar esses trabalhadores?
O centro espírita tem arregimentado um programa para ensinar a transformação íntima?
Tem havido clima nos grupos para que os tarefeiros possam dialogar construtivamente sobre seus conflitos?
Ou temos nos iludido, transferindo responsabilidades pessoais para as acções obsessivas de desencarnados?
Muitos corações, não suportando o peso dos continuados embates íntimos, optam por abandonar tudo em fuga silenciosa, porém, desesperada...
Encontramos aqui em nosso plano quem não soube administrar seus conflitos e tombou na “morte escolhida”, depois de fazer do seu campo mental um vulcão efervescente de dúvidas, frustrações e desamor a si mesmo.
Nesse sentido anotamos o prejuízo causado pelos estereótipos comportamentais adoptados em muitos núcleos, eleitos por seus dirigentes como sendo “marcas” de verdadeiros espíritas, gerando isso um nível mais acentuado de ansiedade em quem vive sinceramente na busca de seu auto-aperfeiçoamento, quando espera-se de todos nós o acolhimento afectuoso e indulgente, especialmente nos momentos de mais fragilidade dos novéis discípulos, estimulando-os, no clima da amizade, a sempre recomeçarem quantas vezes se fizerem necessárias.
Não lograremos êxito sempre.
Vezes sem conta ainda sentiremos de uma forma, pensaremos de outra e agiremos antagonicamente a ambas.
A harmonia entre sentir, pensar e agir é o estado de plenitude para o qual todos nos destinamos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:32 pm

Até lá, vez que outra, ainda teremos comportamentos hipócritas não intencionais, que pelo incómodo causado servirão de fonte preciosa de auto-conhecimento para os que guardam a lealdade consciencial.
Errar em clima de lealdade é lição imperecível.
Lutemos com tenacidade para que o quanto antes alcancemos a autenticidade na conduta, a fim de não termos que pagar o ónus de carregar as pesadas máscaras da superficialidade e da mentira.
Desde que não cultivemos a “hipocrisia calculada”, caminhemos para frente guardando a certeza de que nossa harmonização com a verdade custará instantes de insatisfação e auto-desvalorização que não devem nos abater.
Acima de tudo, o mais importante é trabalhar e confiar ao tempo a solução de nossas experiências, porque, mesmo depois de vencida a etapa mais dolorosa, ainda teremos que lutar com aspectos muitíssimo subtis de sua presença em nossos actos.
Buscando estudar nossas reacções, descobriremos nossas “personas” e as sublimaremos em regime de perseverança e convivência pacífica connosco mesmo.
A maturidade haurida na superação dos conflitos trazer-nos-á paz, resistência e integridade de comportamento.
Para não desanimarmos, reflictamos no versículo citado, no qual até Pedro, a rocha do Cristianismo nascente, sucumbiu em involuntária hipocrisia dizendo: “não sou”. (1)

(1) * (...) Não és tu também dos discípulos deste homem?
Disse ele: Não sou. * João, capítulo 18, versículo 17
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:32 pm

Capítulo 6 - Habilidade Essencial
(...) a caridade e a tolerância são o dever primário que a doutrina impõe a seus adeptos.”
O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 335

O exame meticuloso dos erros alheios, ao longo das vidas sucessivas, conferiu-nos ampla capacidade de analisar as imperfeições do próximo.
Hoje, graças a essa habilidade de avaliar a conduta alheia, somos exímios “juízes e psicanalistas”, dotados de vastas possibilidades de encontrar causas e razões para os desatinos que ocorrem fora da esfera do “eu”.
O que se torna lamentável é não utilizarmos tal recurso para reerguer e auxiliar no aprimoramento do próximo, sendo que, habitualmente, o usamos para destacar o “lado” ruim e amargo de tudo e de todos.
Deter-se nesses ângulos sombrios é atitude comum para a maioria dos homens nas experiências carnais.
Espera-se, entretanto, de nós outros, os aprendizes espíritas, maior lucidez nas acções.
Nosso desafio enquanto discípulos é saber manter-se afectivamente focado no “lado” bom, nas qualidades, nos instantes bem sucedidos de alguém, conquanto tenhamos vastas possibilidades de perceber-lhes as imperfeições e mazelas.
A essa qualidade chamamos indulgência.
É a habilidade que consignamos como essencial frente aos imperativos da convivência social, quando temos como meta primacial a própria paz e o progresso dos grupos sob nossa tutela, ou nos quais ofereçamos a cooperação.
Sempre encontraremos motivos para a ofensa, a recriminação, a transferência de culpas, para depreciar a movimentação alheia, para rebaixar o outro.
Compreender, estimular, perdoar, reconhecer os valores alheios, dividir responsabilidades, apoiar, orientar, ser afectuoso, tudo isso é bem mais trabalhoso.
Indulgência é habilidade que qualifica o homem com abundante inteligência emocional.
O coração focado no aspecto “sublime da vida” torna a alma generosa e atraente, cuja irradiação é de aceitação e acolhimento.
Jesus, como sempre, é o modelo.
Em momento algum do seu ministério de Amor o percebemos em atitude de destaque ao mal; embora astuto e vigilante, sabia sempre onde ele se ocultava e procurava erradicá-lo sem que o evidenciasse.
Com a pecadora, lembra o “quem estiver isento de pecados atire a primeira pedra”.
Com o paralítico de Cafarnaum não pergunta como algemou-se ao leito e perdoa seus pecados.
Com Pedro antecipa sua negação em clima pacífico de alerta, sem menosprezá-lo, em pleno respeito a seus limites no campo da coragem.
Com Judas usa de Amor extremado sabendo o que ocorreria posteriormente, mas permanecendo em silêncio evita revelar o “mal” de que ele próprio seria “vítima”.
Com Maria de Magdala fá-la mensageira da ressurreição, inaugurando o tempo da misericórdia ante o esforço reeducativo, esquecendo o passado ignominioso.
Alertar e repreender são instrumentos correctivos necessários para não ensejar omissão e conivência.
Entretanto, para quantos cultivam a habilidade essencial da indulgência, o ato de conclamar o outro à integridade é realizado sempre pelo diálogo franco, fraterno e elevado, sem as típicas “neuroses de melindre” nutridas por receios entre quem fala e quem ouve, fazendo dessas conversas educativas verdadeiros momentos de reconsideração e auto-exame para a transformação necessária a ser encetada.
Relações permeadas na indulgência são educativas, ressaltam e fixam valores e estimulam o auto-Amor, o auto-perdão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 30, 2018 8:32 pm

Assumamos o compromisso renovador de descobrir em cada passo da existência as justificativas saudáveis do “agir humano”, buscando as razões profundas dos actos alheios, a fim de penetrarmos as furnas de suas lutas espirituais na condição de enfermeiro socorrista, disposto a atender, remediar e prevenir enfermidades com as quais, muita vez, nem mesmo seus portadores conseguem avaliá-las com a lucidez por nós desenvolvida nos séculos de vivência no hábito da formação de juízos éticos sobre o comportamento alheio.
O ser humano está doente na sua auto-estima e reforçar-lhe aspectos infelizes de sua acção é onerá-lo com mais sombras e dor.
Nos grupos de nossa acção estejamos atentos a semelhantes lances da escola dos relacionamentos.
O companheiro ofendido pela nossa actuação enérgica é, muita vez, alguém decepcionado com as próprias expectativas que nutria sobre nós.
Auxiliemo-lo com cortesia e generosidade, no entanto, se ele recusa a oferta, sigamos adiante sem fazer achaques emocionais de pieguismo e arrependimento.
Se aqueloutro amigo de actividades espirituais apresenta-se sempre vacilante e descuidado com os compromissos assumidos, lembra que, em muitas ocasiões, ele não é mais que um aluno portador de ânimo débil, incapaz de superar velhos limites pessoais para denodar-se como deveria.
Aceita-lhe o tributo inconstante e vai-lhe demarcando referências correctivas, para que possa melhor aquilatar sobre as consequências de sua volubilidade no andamento das realizações às quais integra.
Nódoas e empeços de variados matizes comparecerão nos serviços do Senhor.
Por esse motivo procuremos sempre o “caminho estreito” e, se nessa enfermaria das lides espiritistas esquecermos a nossa condição de doentes, subtrairemos de nós mesmos as chances de recuperação e melhora.
Na própria enfermaria humana, quando os doentes percebem a extensão de seus dramas, unem-se solidariamente uns aos outros, cada qual oferecendo o que pode, e solidariedade é o nome da indulgência activa e promotora de paz e apoio às relações.
Cultivemos, dia após dia, essa habilidade essencial e consagremos vida nova com mais abundância de bênçãos, desonerando o próprio psiquismo das enfermiças fixações negativistas que costumamos encontrar ao nosso redor.
Anotemos alguns prováveis resultados das fixações sombrias despejadas sobre o mundo e as pessoas:
- Açulamento de maus sentimentos.
- Climas inamistosos.
- Inviabilização para as mudanças necessárias.
Misericórdia, tolerância máxima, eis as medicações apropriadas de uns para com outros, assim como lembrou José na seguinte colocação:
“Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita” — O Evangelho Segundo o Espiritismo — capítulo 10 — item 16 — José, Espírito protector (Bordéus, 1860.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:17 pm

Capítulo 7 - Condutores Afectuosos
“Nos agregados pouco numerosos, todos se conhecem melhor, há mais segurança quanto à eficácia dos elementos que para eles entram.
O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família. As grandes assembleias excluem a intimidade, pela variedade dos elementos de que se compõem; exigem sedes especiais, recursos pecuniários e um aparelho administrativo desnecessário nos pequenos grupos.”

O Livro dos Médiuns - capítulo 29 - item 335

Sorriso irradiante, cordialidade contínua, conhecimento haurido na vivência, conduta íntegra, afeição indiscriminada, eis algumas das marcas dos “dirigentes emocionais”.
Habituados a conduzirem-se pelo coração, são dotados de uma sabedoria espontânea adquirida na solução de suas problemáticas interiores; e porque convivem bem consigo, são afáveis e agradáveis no conviver com os outros.
Atos de equilíbrio, intuição e bom senso lhes são costumeiros, já que são portadores de harmonia e serenidade.
Condutores afectuosos são os que acolhem com cuidados especiais os seus tutelados e desvelam com carinho pelos deveres da tarefa.
Nos dias que passam, tornam-se como pólos atractivos de almas, graças à sede de atenção e ternura em que se encontram a grande maioria dos corações, sofridos e carcomidos em suas energias pelas provas dolorosas da reencarnação.
Como dispõem sempre de afecto cristão, fazem-se fonte de estímulo, esperança e directriz no encaminhamento das soluções a quem recorrerem os que lhe partilham a convivência.
Apoiam, sem conivência.
Ajudam, sem paternalismo.
São afectuosos, sem pieguismo.
Ordenam com despretensão, dividindo responsabilidade.
Discordam, ampliando horizontes.
Promovem, confiando compromissos.
Coordenam com atitudes, além das palavras.
Pelas reacções é que conhecemos o nível de afecto e inteligência emocional dos condutores em harmonia com Jesus.
Onde muitos enxergam problemas, eles percebem soluções.
Enquanto muitos desanimam, sua leitura é de que os obstáculos são sinais do caminho exacto.
Se são criticados, asilam piedade no coração.
Quando vilipendiados, só se lembram da oração.
Condutores afectuosos são o esteio das sociedades espíritas fraternas.
A eles compete a relevante tarefa de zelar pelo dever de toda instituição doutrinária no melhoramento moral-espiritual.
Conduzindo as actividades para esse fim, certamente facultarão aos seus conduzidos um campo afectivo de largas proporções na execução das mais belas semeaduras nos terrenos da espiritualização do ser, e no desabrochar dos melhores sentimentos entre todos os que se entrelaçam no clima da lídima fraternidade.
Cuidando manter uma homogeneidade de visão quanto a esse precípuo compromisso de todo espírita, estabelecerão condições à uniformidade do afecto nas expressões da amizade, dos relacionamentos sólidos e do estímulo advindo dos exemplos salutares uns dos outros, entre seus membros, porque todos estarão matriculados nas disciplinas da renúncia, do trabalho, do respeito fraternal, da solidariedade, que são virtudes indutoras da auto-educação e do crescimento espiritual.
Vibrando em faixas de saúde afectiva, os componentes de seu grupo obterão melhores resultados no labor, mais motivação para os encontros diuturnos, e se formará uma rede de corações estendendo bênçãos de conforto e esclarecimento a tantos outros quantos possam beneficiar de semelhante banquete emocional.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:17 pm

Tomando seu grupamento como uma grande família, esmerará por lhes oportunizar as melhores condições de convivência pelo entendimento.
Adoptando simplicidade administrativa e proximidade com grande “calor humano”, conseguirá tornar o centro espírita um educandário do afecto em direcção aos rumos da ética de Jesus e Kardec, evitando que discórdias e desavenças venham a se tornar uma propaganda negativa para sua instituição.
Para isso, ocupar-se-á em manter o “tamanho afectivo” de seu grupo, ou seja, ainda que ele cresça em número, deverá fazê-lo preservando, proporcionalmente, a mentalidade inicial de ser uma família e de se amarem sem excepções.
Allan Kardec, o condutor espírita exemplar, reunia em si a sobriedade intelectual e a generosidade, a sensatez e a ternura, o raciocínio vigilante e o acolhimento fraternal.
Ele foi o primeiro dirigente espírita, e quem lhe empresta caracteres de um homem de ciência não imagina como era um coração rico de humor e de palavras espirituosas, com finas expressões de descontracção.
Na Sociedade Parisiense era querido e respeitado, conquanto alvo de inveja e intrigas, face à conduta ilibada e à confiança irrestrita que lhe depositavam ante as cortesias e gestos amoráveis que externava.
Sempre acompanhado por Amelie, compunham um par de almas que plenificavam o ambiente em dúlcida paz.
O tratamento afectuoso era-lhe constante qualidade, e pelo Amor que nutria ao Espiritismo nascente não lhe era enfadonho repetir sua gratidão a Deus por ter-lhe descortinado os horizontes da vida espiritual que, para ele, era a fonte da alegria, do amor e da felicidade relativa que qualquer homem passaria a semear quando se tornasse um verdadeiro espírita.
Assim, o Codificador ajustava sua existência à finalidade primeira do Espiritismo, para a qual conduziu-se com rigor para consigo e amavelmente para com os outros, junto à Sociedade que fundou, buscando sempre priorizar no contacto com o mundo dos Espíritos a essência moral dos intercâmbios, através de estudos metódicos e aplicados nos quais todos absorviam a essência do Espiritismo por um mundo melhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:17 pm

Capítulo 8 - Rebeldia, Matriz de Distúrbios
“Quem importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde paciente na adversidade?
De que serve ao avarento ser espírita, se continua avarento; ao orgulhoso, se se conserva cheio de si; ao invejoso, se permanece dominado pela inveja?”

O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 350

A classificação internacional de doenças agrupa sob a designação de transtornos de humor variadas psicopatologias, cuja origem encontram-se nas estruturas afectivas do ser.
A forma como sentimos o mundo, as pessoas e os fatos que nos rodeiam é sintoma determinante de saúde ou distúrbios, sendo esses últimos diagnosticados desde as neuroses brandas até as psicoses severas, com expressiva incidência de distimias nas depressões crónicas.
Esse “sentir” ou “modo afectivo” de reagir à vida é ponto crucial da actividade mental, pois retracta a automatização de mecanismos e reflexos milenares, construídos nas vivências morais consolidadas nos porões da vida subconsciencial.
Facilmente percebe-se nesses quadros de transtornos do humor a presença da fragmentação da vida mental do doente com o mundo real, em razão da inadequação ou ainda da inaceitação das experiências a que se é colocado na vida carnal.
A insatisfação persistente acrescida da auto-imagem idealizada para o mundo pessoal, retrato de anseios reprimidos, desenham um perfil psíquico e emocional para a rebeldia — reacção de inconformação com o que somos, como estamos e o que temos.
Tal inconformação estabelece um campo mental de ampliada susceptibilidade, muita auto-piedade, expressões comuns de “vítimas revoltadas” que criamos em nós pelo desgosto de viver e “ser”.
Rebeldia é matriz de vários distúrbios crónicos, é doença da alma, matriz do inconsciente profundo, emissora de irradiações tóxicas no adoecimento da mente.
Rebeldia com o corpo, vaidade revoltada.
Rebeldia na ofensa, mágoa fortalecida a caminho do ódio.
Rebeldia nos grupos, extrema dose de personalismo.
Rebeldia nas mudanças, prepotência em controlar a vida.
Rebeldia na vida material, ausência do reflexo da simplicidade no viver.
Rebeldia para estudar, orgulho do saber acumulado.
Rebeldia nas ideias, arrogância do desrespeito às opiniões alheias.
Rebeldia ante normas, sinal de que, quase sempre, nos são necessárias.
Rebeldia nas palavras, focos de calúnia e mentira.
Rebeldia, portanto, é a infecção do orgulho contaminando o cosmo individual.
O homem rebelde que desconhece os desdobramentos espirituais de sua atitude sofrerá com intensidade, sendo libertado pela consciência somente quando cumprir seu dever.
Sendo presunçosos e passíveis de crónico personalismo, os conhecedores das verdades espíritas, quando na rebeldia, solapam suas existências com terríveis conflitos de culpa e desajustes comportamentais que procuram mascarar com atitudes de puritanismo ou indiferença, O homem rebelde, quando bafejado pela luz da imortalidade, é “usurário do universo” assinando sua própria petição para as vielas expiatórias nos rumos da dor, estagnando no charco da revolta e da desobediência.
Com felicidade indaga o lúcido Allan Kardec na referência de apoio:
Que adianta conhecer o Espiritismo e não se tornar melhor?
Façamos continuamente essa auto-avaliação para jamais esquecermos que as linhas libertadoras do comportamento espírita vão bem além do dever, penetrando as esferas do amor incondicional e da humildade obediente aos desígnios do Pai.
Rebelar é lícito a todos nos rumos da vida, mas à luz da reencarnação não podemos jamais olvidar que fomos, no passado, os arquitectos das experiências atuais nas provas que precisamos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:18 pm

Relembrando isso, ainda assim nos resta o “direito de discordar” de Deus.
Verificaremos, no entanto, a bem de nós próprios, que o dever de aceitar-Lhe os alvitres é fonte de paz e alívio nas dores de todo instante.
* * * *
Dirigente espírita,
Nos grupamentos de trabalho cristão a rebeldia manifesta-se como insubmissão e descomprometimento, espelhando o clamor interior de ausência de sinergia com as tarefas e com o comportamento da equipe, adicionada de um sentimento de inutilidade que se apossa do trabalhador em crise de permanente insatisfação.
Quando surja nos conjuntos de labores doutrinários, requisita a oração e a força do exemplo para, pouco a pouco, com a paciência indispensável sensibilizar o enfermo moral.
Muita vez apresenta-se com tanta intensidade que não permite o auxílio, devido à deserção do cooperador.
Estejamos atentos a esses bombardeios de revolta que atingem o aprendiz invigilante.
Em algumas ocasiões emudece-o, levando-o a comportamentos que apelam para análises ponderadas no amparo, precedidas de elevadas doses de compreensão, indulgência e tempo para resgatar a harmonia.
* * * *
Amigo e amiga,
Interrompe os círculos de tuas provas agravadas pela obstinação em que te situas.
Quanto mais tempo levares para reagir, mais alto te será o preço do sacrifício.
Decide agora pela mudança já que tua revolta com as mudanças pouco acrescentaram a teu sossego e felicidade.
Apegos milenares e costumes que se perdem no tempo são renovados a custa de experiências opostas a teus sonhos de ventura.
Hoje, quando te rebelas com tuas provações, alegando cansaço e insatisfação, mais não fazes que repetir o velho hábito de desafiar as leis da vida em crise de rebeldia.
Não aceitas o presente, revoltas com o passado e reclamas antecipadamente do futuro, quando o problema está em ti, e somente de ti partirá a solução.
Aceitação e trabalho de transformação íntima são tuas receitas de profilaxia.
Aplica-as o quanto antes e perceberás um refrigério no torvelinho mental a que te encontras.
A cada ato de inconformação estás enfermando tua alma, e de desgosto em desgosto causarás lesões significativas em tua estrutura afectiva, gerando danos imprevisíveis para o seu psiquismo.
Começa agora tua recuperação e ora a Deus pedindo forças, tenha a humildade para tal e pára de desafiar o Criador e Suas leis.
A tua harmonia afectiva e mental depende do quanto conseguires afinar tua realidade à Sábia e Misericordiosa Vontade do Pai e, para aprenderes a identificar a Vontade Divina, começa aceitando os imperativos das circunstâncias que te cercam, assumindo-os com coragem, responsabilidade e devoção, sem utilizar-se dos instrumentos da reclamação, da leviandade e da fuga.
Por fim lembra sempre que a maior lição a que te deves empenhar ante as lutas da rebeldia é aprender a gostar do que tem, do que és e do que fazes.
Em resumidas palavras, descobre, o quanto antes, como amar a ti mesmo.
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Laços de Afecto - Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira - Página 2 Empty Re: Laços de Afecto - Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:19 pm

Capítulo 9 - Cuidados de Amor
“Tudo o que dissemos das reuniões em geral se aplica naturalmente às Sociedades regularmente constituídas, as quais, entretanto, têm que lutar com algumas dificuldades especiais oriundas dos próprios laços existentes entre os seus membros.
Frequentes sendo os pedidos, que se nos dirigem, de esclarecimentos sobre a maneira de se formarem as Sociedades, resumi-los-emos aqui nalgumas palavras.”

O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 334

Em momento de elevada sensibilidade, um coração querido na vida física dirigiu-nos sincero apelo a fim de que pudéssemos, quando possível, escrever algo sobre como ampliar as possibilidades do sentir.
Deixaremos, portanto, vinte recomendações sem quaisquer pretensões de esgotar o tema, vinte itens que são fruto da observação e da vivência; todos, certamente, ampliam a sensibilidade e desenvolvem habilidades dos sentimentos, mas não podem ser considerados como regras ou um manual de viver.
Chamemo-los de exercícios do coração na busca de educar a afabilidade, um treinamento para a ternura.
Jesus afiançou que onde está o vosso tesouro ali se encontra o coração, pois os cuidados de Amor são fonte de riqueza e sabedoria nos quais depositamos nosso afecto nas acções de nossa vida.
Cuidar é uma palavra que merece atenção especial de todos nós.
Os cuidados com a vida, com o próximo, com a natureza e connosco próprio traduzem a atenção e o empenho para com as questões pertinentes ao coração e às responsabilidades de cooperadores na obra do universo.
Eis alguns cuidados que destacamos para nossa disciplina e aprendizagem do coração:
- SORRIR SEMPRE — Divina expressão de afecto.
- GOSTAR DE CONVIVER — aprender a compartilhar, vencer a auto-solidão.
- VALORIZAÇÃO DO BOM E DO BELO — sintonia com a “natureza Divina” do existir.
- VIGÍLIA EMOCIONAL- disciplina e “atenção plena” aos sentimentos.
- DISPONIBILIDADE — cultivar a prestabilidade que cativa, alivia e gera optimismo.
- HONRAR A CONFIANÇA — exercício de fidelidade e superação dos maus afectos.
- PERDOAR SEMPRE — perdão é higiene e saúde do coração.
- GOSTAR DO QUE FAZ — termómetro do quanto gostamos de nós.
- ORAR PELOS DESAFETOS — sinal evidente de melhora e dilatação da alteridade.
- ATENÇÃO AOS SINAIS DO HUMOR — o humor influencia decisivamente a vida afectiva.
- SOLUÇÃO DE CONFLITOS — viagem interior de autoconhecimento e busca de respostas.
- SABER DISCORDAR — prova significativa da inteligência interpessoal.
- CULTIVO DA SIMPLICIDADE — a simplicidade é sintoma de conexão com a essência da vida.
- TER CORAGEM PARA AMAR — amar tornou-se um ato de coragem ante a indiferença humana.
- CRIAR E RECRIAR LAÇOS — construir elos afectivos, revitalizar as alegrias, reinventar a rotina.
- SER ASSERTIVO — saber conviver bem com os sentimentos.
- TERNURA E CORDIALIDADE — cuidados essenciais de afecto para o dia a dia.
- CULTIVAR PERMANENTEMENTE O GOSTO POR CRIANÇAS — elas são a esperança e a pureza do Pai na Terra.
- SER ESPONTÂNEO — usando dos limites necessários pode-se brindar a auto-expansão.
- OLHAR A NATUREZA — os princípios universais estão contidos na vida natural.
A prática desses exercícios torna-se fonte inexaurível de afecto para quem os dinamiza em sua existência, porque são a exteriorização do amor.
Tais expedientes de amabilidade e ternura formam o piso para os relacionamentos edificantes, ricos na permuta dos cuidados de amor.
Geram júbilo e motivação em cada dia que se renova em nossa existência na formação de laços superiores, reflectindo de forma sadia em nossas vidas e, particularmente, nas lides doutrinárias, com óptimos resultados para o trabalho e o trabalhador.
Vivamo-los intensamente, e inevitavelmente estaremos naquela condição dos bem-aventurados os que têm puro o coração, pois que eles verão a Deus (1).

(1) Mateus, capítulo 5, versículo 8
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:19 pm

Capítulo 10 - Meditação Emocional
“O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família”
O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 335

Os estágios de consciência são degraus do autoconhecimento decorrentes da superação dos conflitos internos do ser.
Há pessoas evitando seus sentimentos por medo deles, desconhecendo-os, e isso não leva à educação.
Outros existem que nem se dão conta de quais sejam suas emoções, e ainda há os que estão caminhando para utilizá-las em seu crescimento.
A meditação emocional é uma forma de lidarmos com a afectividade, estimulando-a sob a influência de visualizações mentais criativas, sadias e moralmente enobrecedoras.
Por isso, inserimos abaixo pequenas frases indutivas que poderão servir de intróito para projectarmos a mente no dia-a-dia da faina doutrinária, e extrairmos os conteúdos de reavaliação e auto-exame, brindando-nos com pequenos lampejos no despertamento do afecto.
A continuidade do exercício será responsável pela optimização dos resultados, que poderão ser percebidos rapidamente, embora precisarão ser seguidos da vivência a fim de que sejam definitivamente consolidados nas profundezas das delicadas e sublimes “engrenagens da afectividade” no corpo mental.
Despertar afecto significa colocar o outro e nós mesmos na tela mental das reflexões, dilatando a empatia e procurando senti-lo, entendê-lo, perscrutar-lhe as acções, procedendo a uma avaliação dos relacionamentos, dos fatos rotineiros, dos cuidados, das ocorrências ditosas e das menos felizes, fazendo um apanhado das atitudes, elaborando mentalizações de conduta honesta e recta, sempre desculpando o outro e estudando a si mesmo, descobrindo as causas profundas das decisões e dos impulsos.
Em verdade, meditar não substitui a acção.
A caridade é o maior exercício de Amor e despertamento da sensibilidade, conquanto tenhamos na meditação um instrumento que será absorvido com facilidade pelas pessoas habituadas à auto-avaliação ou que estejam predispostas a aprendê-la, fortalecendo o desejo e enrijecendo as disposições para conviver bem, sob o pálio do Amor incansável.
Conviver bem é ter sabedoria para abordar o próximo tornando sóbria a relação, agradável, preenchedora, persistentemente, quantas vezes se fizerem necessárias.
Além disso é significativa a utilização da empatia e da vigilância para saber revitalizar essa permuta, cativando-a sempre com os nutrientes actos de afecto altruísta.
Semelhante iniciativa demanda permanente postura de auto-avaliação, descobrindo, em nós, quais as causas reais para o que sentimos, pensamos e fazemos nos relacionamentos.
O estudo de nós próprios, seguido de acções renovadoras, será responsável pelo estabelecimento de elos mais duradouros e enriquecedores, mormente com aqueles os quais temos à conta de desafectos do cotidiano.
Daí a importância da meditação sobre os episódios diários que nos cercam a convivência.
Escolha um momento mais disponível em que estejas mais relaxado e liberado das obrigações rotineiras, mais descansado fisicamente, ou então nos finais de noite, como preparo indispensável ao sono.
Faça uma prece a seu Espírito protector e mantenha-se por um tempo pequeno apenas sentindo o clima da oração, assossegando a mente, relaxando as tensões físicas, formando o “piso mental” para a meditação.
Em seguida inicie a leitura das frases por nós sugeridas e detenha-se naquela que mais lhe desperte interesse, remetendo-se em seguida a uma meditação sobre suas vivências em grupo, seja na instituição doutrinária seja nos campos de acção de sua vida pessoal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:19 pm

Especialmente procure voltar a meditação para os acontecimentos em que a consciência chamou-te à integridade do comportamento, e reflicta nos “porquês” de tua conduta; analisa nas lembranças os móveis de tua acção, e agora repensa o agir, os novos contactos, projectando uma atitude feliz e equilibrada, conduzindo teus raciocínios para a medida correctiva; ora novamente suplicando a Deus as reservas de força que carecerás para encetar o novo comportamento; enleia-te na imagem mental do abraço fraternal com o outro, sempre perdoando-lhe as acções e descuidos.
Vai-te acostumando a essa auto-avaliação sempre e com o tempo a busca de ti mesmo passará a ser espontânea.
Sentirás uma imperiosa necessidade de entenderes tuas decisões, tuas distracções, teus instantes gloriosos, tuas decepções, teus sucessos, tuas amarguras, tuas expectativas frustradas, penetrando na intimidade, na alma dos acontecimentos, extraindo dali o contingente da realidade “não visível”, “não palpável” ao homem fisiológico desatento dos deveres do auto-encontro.
Somente de posse de semelhante compreensão haurirás os recursos para burilar tuas manifestações interpessoais e empreender a afectividade sem se comprometer com a ingenuidade, com a lascividade, com as frustrações amorosas, com os traumas educacionais, com os conflitos do “existir” e do “ser”, permitindo que não te apegues em demasia, que sejas um convite sincero à amizade e que irradies a harmonia e a simpatia a quem te rodeia.
Desse auto-encontro sairás cada vez mais senhor de ti mesmo, pronto a conviver com mais proveito pelo bem alheio e teu próprio, utilizando com dinamismo e riqueza essa preciosa capacidade do afecto sem os desaires emocionais, fazendo dele uma fonte terapêutica e um caminho de plenitude em favor de tua felicidade, bem distante do pieguismo e do sentimentalismo infrutíferos.
Sem conheceres bem a ti mesmo, jamais te tornará apto a compreenderes a acção alheia.
Se não compreenderes o outro, perderás os frutos sazonados que a escola do relacionamento tem a oferecer-te.
Estando bem contigo, conseguirás ser a mão amiga, o coração acolhedor e a directriz para quem partilha tua presença.
Jesus, o educador incomparável, estabeleceu o vós sois a luz do mundo como sendo delicioso convite para que nós, os seus aprendizes, sejamos constante estímulo aos viajantes dos grupamentos de nossa convivência, espargindo alegria, esperança, bondade e paz.

Meditação 1
Intimidade nos relacionamentos é a zona delicada da convivência que apela para a virtude e o carácter, a fim de saber fazer dela o que se deve, e não o que se quer.

Meditação 2
Em círculos de trabalho, onde o afecto se resguarda sob a tutela do medo de relacionar, mantendo distância afectiva, alastra-se um campo fértil para a mentira, a mágoa e a insatisfação.

Meditação 3
O que você fez essa semana para enriquecer o tesouro da amizade no conjunto de teus companheiros de ideal?

Meditação 4
Evita reclamar cotas de atenção e generosidade alheia.
Com o tempo, se te aplicares, perceberás que é muito mais gratificante ser amável e querer bem a todos.
Exercita-te.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:19 pm

Meditação 5
Estabeleça em tua casa espírita o mural da fraternidade.
Expresse ali os bons sentimentos. Um bilhete motivante, um cartão terno, uma mensagem nobre de estímulo, a lembrança do natalício, uma frase edificante de valorização.
Mural do afecto, termómetro emocional do grupo.

Meditação 6
Aversões, afinidades, desafectos, simpatias, todas elas são lições emocionais, aulas do coração.
Quando surjam, pergunte: Senhor, como devo amar nessa ocasião?

Meditação 7
Descontracção e júbilos festivos ensejam saúde à convivência.
Todavia, nenhum rumo de integração para o relacionamento é tão efectivo e prudente qual o de repartires ideias e emoções, sob a égide do trabalho espiritual com finalidades sempre elevadas.

Meditação 8
Mantém-te sereno ante as reacções inesperadas e hostis daquele que ombreia contigo na tarefa de amor.
Muitas vezes não podes avaliar o esforço por ele despendido para guardar a integridade até aquele momento em que tombou na fragilidade.

Meditação 9
Para aqueles que desertam das tarefas doutrinárias por entre mágoas e desentendimentos, mentaliza sempre a condição do doente que resolveu abandonar o tratamento em franca rebeldia, e guarda-te em oração por ele.
Você sabe: a doença o acompanhará na condição de nova medicação aplicada pela dor; sendo assim, ele, em verdade, só precisa de apoio, orientação, estímulo e carinho.
Reprimendas são dispensáveis, quando já se adquiriu a luz dos conhecimentos espirituais.

Meditação 10
A estabilidade emocional de um grupo é medida pelo desejo individual de seus membros em cooperar nas soluções dos problemas que surgem habitualmente, evitando fixar a mente e o coração nos problemas existentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:20 pm

Capítulo 11 - Resgatando os Sonhos
[i]“Cordialidade recíproca entre todos os membros.”[i]
O Livro dos Médiuns — capítulo 29 — item 341

Na vida espiritual, a grande maioria dos que deixaram a carne carreiam consigo lastimável estado emocional de descrença e desvalor, em razão de perambularem pela vida física abatidos pelas provas e expiações dolorosas, que lhes subtraíram a capacidade de sonhar viver em paz e felizes.
As experiências provacionais na opressão, no sofrimento, nas privações, metas não atingidas, perdas “irreparáveis”, anseios reprimidos, doenças “incuráveis”, velhice frustrada, tudo isso nas mágoas e nas vielas da obsessão e da enfermidade reduzem a liberdade do homem, esgrimindo-o a regimes severos de disciplina e aprendizado.
Nessa conjuntura seus sonhos e ideais são soterrados por obrigações e necessidades de cada dia no amargor da realidade.
A função das provas, porém, entre outras, é ensinar a sonhar o que se deve e não matar o sonho.
Sonhar é pensar em crescer, ter metas, desejar progredir, encontrar soluções e vencer suas batalhas.
Sonhar é pensar sobre o futuro; quem não sonha não tem planos e nem anseios de progresso.
Somente sonham aqueles que se sentem úteis e produtivos, porque acalentam ideais.
Sem sonho as pessoas vivem sem aprender, passam sem construir.
O principal sonho a resgatar na Terra é o de ser feliz, pois as pessoas andam desacreditadas dessa possibilidade.
O tempo subjugado pela rotina retira imperceptivelmente da criatura os planos de vida e as ‘fantasias” de progresso, exigindo extrema capacidade de administrar as frustrações para conseguir viver e conviver ajustada aos parâmetros sociais exigidos, que, embora frágeis, tornam-se estacas de segurança e estímulo para que a desistência não tome conta da mente cansada e do coração vazio de esperanças palpáveis.
Nessa peregrinação de miseráveis sentidos, pobreza de valores e vivências é que muitas almas fazem o doloroso aprendizado dos bons costumes e da melhoria espiritual.
Tolhidos muita vez do essencial, caminham vencendo séculos ou milénios de endurecimento no mal ou de recalcitramento ao bem.
Muitos deles aparecem em nossas noites de estudos públicos, tomam o passe e vão um tanto mais aliviados e confiantes, retomando suas lutas.
Quando encontram grupos acolhedores e fraternos que se prestam ao serviço do amor incondicional e operante, deparam-se com um oásis dessedentador ante o deserto provacional de suas existências, resgatando forças “incompreensíveis” junto aos trâmites de sua rotina.
O afecto revitaliza em suas almas a coragem, o ânimo, a esperança, resgatando antigos valores adormecidos e espezinhados pela tormenta e pela sofreguidão.
Retomam também, ao longo de um tempo, a capacidade de sonhar colocando em acção os departamentos da imaginação e da criatividade, no desenvolvimento de metas sábias e harmonizadas com os novos conhecimentos e projectos de vida, sob a tutela da Imortalidade.
O estudo e o trabalho espíritas servem-lhes de investimento motivador da liberdade com responsabilidade, para a qual irão destinar, de agora para o futuro, todos os seus esforços possíveis na tentativa de dar sentido nobre e embelezador às suas vidas, até então, para eles, vazias e pobres.
Esse idealismo, essa paixão por um sonho de melhora espiritual é das mais preciosas dádivas a que pode entregar-se alguém, frente aos muitos sonhos lusórios e vácuos cultivados por maioria esmagadora da humanidade terrena, ante os apelos do materialismo e do prazer dos sentidos.
Razão pela qual, ante os quadros humanos de dor, o centro espírita deve ser aquele oásis de amor, paz e esperança aos viajantes cansados e oprimidos do caminho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 31, 2018 8:20 pm

Repetindo a directriz do Mestre vinde a mim que vos aliviarei, (1) a casa espírita, na pessoa de seus cooperadores e condutores, deve direccionar seus ambientes, quanto possível, para auxiliarem o homem a recuperar sua dignidade e sentir-se novamente um Filho de Deus.
Precisamos dar encanto aos nossos grupos.
Encanto esse, acima de tudo, na vida interpessoal dispondo-nos ao cultivo da ternura, do respeito e carinho para que, antes do sonho, o ser sofrido e em provação, resgate a confiança no outro, reavivando suas sucumbidas esperanças nos valores humanos cristãos e renovando suas crenças falidas no amor e na felicidade.
Contínua e invariavelmente perguntemos a nós mesmos se estamos construindo as condições de encanto em nossos Círculos Espíritas, a fim de aferirmos o quanto estamos integrados com a proposta educativa da Doutrina Espírita.
Espiritismo é desafio educacional; e educação, entre vários significados, contempla o educador como incomparável guia e descobridor, auxiliando o próximo a reencontrar consigo mesmo e a retomar razões para viver, sonhar e “ser”.
Nesse prisma, a função do centro espírita será resgatar a capacidade de sonhar e instrumentalizar o homem de recursos morais-espirituais, que o auxiliem a tornar reais os seus ideais nas linhas do dever e da libertação incorruptível.
Daí o acerto da recomendação Kardequiana:
“cordialidade recíproca entre todos os membros”.
Um gesto de afecto, uma palavra amiga, um minuto de atenção será alívio e força para todos esses homens e mulheres que vivem amargurados pelos pesadelos da realidade provacional, constituindo-se, muita vez, em portal de entrada para novos e mais felizes dias no futuro...

(1) Mateus, capítulo 11, versículo 28
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