LUZ ESPÍRITA
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NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:32 pm

Não consegui nem dormir direito esta noite pensando no que me acontecerá de agora por diante — falava Isabela à sua fiel amiga desde os tempos do bordel.
— Mas não consigo entender...
Ontem você estava chorando tanto a morte de dona Flaviana, e hoje já está tão alegre?
— Percebi que de nada me vale ficar chorando por ela.
Chorei ontem porque cuidei dela, e acabei me apegando à enferma.
Mas a morte dela é um passaporte para a vida que eu tanto sonhei.
Levando um pão à boca, Eudásia questionou:
— Você acredita mesmo nisso, menina?
Será que o senhor Humberto vai realmente cumprir suas promessas?
— Nem diga isso.
Claro que vai!
Ele está apaixonado, e você sabe como é um homem assim.
Dei muita sorte nesta vida; nunca pensei ser possível sair daquela favela horrível onde eu vivia.
Eudásia silenciou.
Isabela estava muito feliz e ela não queria tirar suas esperanças.
Resolveu mudar de assunto:
— Agora que sua tarefa como enfermeira terminou o que pensa em fazer?
— Bom, vou continuar visitando dona Augusta e ficar cada vez mais amiga dela.
Sei que vai ser um choque quando ela descobrir que eu serei a futura mulher de Humberto, mas ao mesmo tempo ela nunca vai desconfiar de que já nos relacionávamos.
— Será? Ela pode ficar com muito ódio de você e deduzir que já eram amantes.
Tenha muito cuidado.
Isabela ia responder quando viu Daniel se aproximar.
Era uma criança muito bonita e esperta, de cabelos encaracolados, branquinho e com olhos castanho-claros.
Parecia um anjo.
Ela se enterneceu.
Realmente, a única coisa que mexia com as fibras mais íntimas do ser de Isabela era seu filho.
Pegou-o e o colocou no colo.
Estava assim, dando comida a ele, quando a campainha tocou.
Eudásia foi abrir e a figura de Humberto apareceu.
Rapidamente Isabela levantou-se para recebê-lo e ambos se beijaram.
Já na sala, ele começou:
— Estou indo hoje para Brasília e não poderia deixar de passar aqui antes para vê-la.
— Meu amor, a cada dia sinto que nascemos um para o outro.
Em que dia vamos nos casar?
Ele cocou o bigode.
— Vocês, mulheres, nem esperam o período de luto e já querem agarrar a todo custo o viúvo... — falou ele sério.
— Nossa, Humberto, não sabia que você era dado a ser puritano.
Nem parece o mesmo homem viril que me possuía no quarto vizinho ao da sua esposa.
Ele sorriu.
— Boba! Falei isso de brincadeira.
Olhe que nem sou homem dessas coisas, veja só no que você me transformou.
Ele deu uma pausa.
— Não podemos pensar em nosso casamento agora.
Devemos ser discretos, se não quisermos ser impedidos por Augusta.
Ainda ontem conversamos e ela me disse que não deixará que eu me case outra vez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:33 pm

— Mas que petulância daquela velha!
Tenho ganas de matá-la com minhas próprias mãos.
Se não fosse nosso plano, não a estaria mais suportando.
— Você precisa ser a melhor actriz possível.
Quando formos nos casar, ela deverá pensar que nunca nos relacionamos antes.
Será um problema a menos.
Isabela começou a fazer beicinho para ele e logo estavam na cama, acompanhados por entidades viciadas que usavam suas energias no campo do sexo.
Isso acontecia porque tanto ela quanto Humberto viviam e acreditavam na maldade.
Alguns dias se passaram e Flaviana começou a despertar.
Via vultos de pessoas ao seu redor, mas o sono era maior e ela voltava a adormecer.
Ficou assim durante um tempo até o dia que acordou de vez.
Ao abrir os olhos, teve uma surpresa: estava deitada com muitas outras pessoas em uma espécie de cama de vidro ao ar livre.
Intimamente perguntou-se onde estava e que lugar era aquele, tão bonito.
As camas estavam sobre um chão coberto de uma grama muito verde, cheia de gotas de orvalho.
As pessoas pareciam dormir ou relaxar, e algumas conversavam com outras, que pareciam lhes passar informações.
Tentou chamar uma dessas pessoas, mas não conseguiu; elas estavam um tanto distantes.
Em sua sala, Diana estava com Gabriel à sua frente.
— Vá, Gabriel, e faça o possível para não chocá-la.
Flaviana, assim como a maioria dos que estavam naquela ala de refazimento, não tinha consciência de que já havia deixado o corpo de carne, e saber disso de forma abrupta podia levá-la ao desespero.
Faça como sempre fez; seja sincero e firme ao mesmo tempo, mas deixe-a ciente da sua nova condição.
Gabriel aquiesceu e se dirigiu para a ala.
De onde estava até o parque destinado a receber os recém-chegados havia certa distância, e ele usou a volitarão.
Logo estava se aproximando de Flaviana.
Ela estava impaciente, via as pessoas atender as outras nas camas, mas ninguém ia procurá-la.
Começou a se angustiar.
Por que sua mãe a levara para um lugar de terapias alternativas?
E seus aparelhos? Ela estava atordoada.
De repente, viu a figura de um jovem de seus vinte anos sorrir para ela e depois aproximar-se.
— Como está dona Flaviana?
Sente-se bem?
Ela se sentou.
— Sim. Muito bem, por sinal.
Até que enfim alguém veio falar comigo.
Estou aqui há horas e ninguém vem conversar, me dizer onde estou.
Afinal, que lugar é este?
— A senhora está numa colónia de recuperação.
Aqui é um local de recuperação e refazimento, onde a senhora poderá ser muito feliz, se souber aproveitar.
Ela pareceu não entender.
— Colónia? Nunca ouvi falar nesse lugar.
Será um lugar para loucos? Se for, então erraram comigo, pois minha doença é nos rins.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:33 pm

Gabriel sorriu:
— Fique tranquila.
Aqui não é um local de loucos como à senhora conhece.
Como já lhe disse, é um local de refazimento.
Esta ala é destinada aos recém-chegados.
A propósito, como está se sentindo fisicamente?
— Estou muito bem.
O mal-estar passou, não sinto o corpo cansado...
Aliás, não sinto mais nada da minha doença. Porquê?
— E que aqui as doenças desaparecem.
— Nossa que lugar fantástico!
Como Humberto o encontrou?
Ou terá sido minha mãe?
— Ninguém o encontrou.
A senhora chegou aqui sozinha, porque era a hora.
— Olha rapazinho, você não responde nada com clareza.
Até agora, só me deixou mais confusa ainda.
Como cheguei aqui sozinha se não tinha forças nem para andar?
— A senhora veio viver nesse lugar pela misericórdia divina.
Agradeça; nem todos podem estar aqui.
— Quer dizer que estou internada?
Cadê os aparelhos que filtram meu sangue?
— Aqui a senhora não vai mais precisar deles.
Se quiser, poderemos dar uma volta e poderá conhecer o lugar.
Aqui é muito bonito.
— Estou percebendo.
Parece o paraíso.
Onde estamos é muito verde e essas serras que nos circundam dão um ar maravilhoso ao local.
Estamos em São Paulo?
— Não, estamos distantes de lá agora.
Mas não se preocupe com isso.
Vamos dar uma volta?
Flaviana começou a ficar preocupada.
Afinal, que lugar era aquele?
Levantou-se e foi andando por entre as outras camas.
Via crianças com copos de água molhando a testa de pessoas que dormiam, outras pessoas empunhavam as mãos sobre a fronte, e ela ficou ainda mais confusa.
Crianças trabalhando em hospitais?
Durante o trajecto, Gabriel ia explicando com evasivas as dúvidas dela sobre o ambiente em que estava.
Flaviana ficou tão empolgada que por instantes se esqueceu de Patrícia, Humberto e de sua enfermeira, Isabela.
Aquele lugar era lindo!
Flaviana viu animais domésticos, coelhos, gatos, cachorros, cavalos; observou pessoas colhendo flores, crianças brincando, mulheres entretidas com o jardim.
Não pôde conter a pergunta:
— Nunca vi ou estive num lugar tão bonito assim.
Aqui é tudo natureza?
Não vejo casas...
Onde fica a sede?
— A senhora vai conhecer, mas não agora.
Aqui é uma cidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:33 pm

À parte em que estamos é uma zona onde predomina apenas a natureza, porém mais à frente temos conjuntos de habitações e prédios onde às pessoas realizam as mais diversas tarefas.
— Agora foi que fiquei confusa.
Primeiro você me disse que aqui era um lugar de recuperação, então pensei que fosse um hospital.
Agora me diz que é uma cidade.
O que me deixa tranquila é que estou bem e sei que foi minha mãe ou Humberto que me trouxeram para cá, logo é um lugar seguro.
Mas quero falar com o director, saber que dia posso sair ou ver minha família.
Que horas posso falar com ele?
— Agora vamos voltar àquele lugar onde a senhora estava e voltará a descansar.
Depois prometo que falará com o responsável.
Flaviana estava muito bem-disposta e não queria descansar, mas resolveu obedecer.
Pensava estar fazendo um tratamento inovador que deveria seguir à risca.
Nem cogitou que, se estivesse na Terra, jamais poderia ficar sem os aparelhos.
Chegando ao lugar novamente, deitou-se.
Um homem maduro começou a empunhar as mãos na fronte dela, que logo adormeceu, sem perceber que saíam energias brilhantes das mãos daquele abnegado seareiro de Deus.
Gabriel volitou e chegou rapidamente à sala de Diana.
— E então, como foi?
— Não pude revelar-lhe a verdade.
Achei muito prematuro.
Ela pensa que ainda está na Terra e que o marido e a mãe a internaram numa clínica de terapias alternativas; nem sequer lembra que foi assassinada.
— Você agiu certo, Gabriel.
Esperávamos que ela fosse se lembrar de algo, mas a memória ainda está apagada.
Deus sabe o que faz!
Mas, ao acordar, a deixaremos ciente.
Eu mesma falarei e lhe explicarei tudo.
Estamos vivendo no mundo da verdade, e não podemos deixar uma pessoa enganada.
Aqui cada um descobre que a vida continua e que a morte é a maior ilusão que o ser humano cultiva, seja qual for sua crença ou religião, ou ainda que seja ateu.
— Você tem razão, Diana.
Eu mesmo sei como certos religiosos dão trabalho quando chegam aqui.
Muitos se recusam a entender que a ideia que mantinham de céu e inferno não era verdadeira e acham que nós somos loucos.
— Verdade.
A maioria dos religiosos são os que mais sofrem quando chegam aqui e descobrem o quanto estavam enganados.
Mesmo assim não acreditam e acabam retornando para a Terra.
Lá vão constatar, entre pasmados e desesperados, que realmente deixaram o corpo de carne.
Então começam a vagar por entre os familiares ou vão viver no umbral.
A maioria deles se recusa a aceitar auxílio de pessoas que eles julgam ser espíritas, na ignorância de que aqui não existe religião.
Gabriel estava pensativo:
— Nossa como o problema é complexo!
Porque as pessoas são tão resistentes em aceitar que estavam erradas?
— Devido ao orgulho.
Infelizmente esse sentimento tem dificultado muito nossa estadia no plano astral.
Nunca gostamos de aceitar que erramos em nossas convicções.
Preferimos sofrer a admitir que nos enganamos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:33 pm

Existem espíritos que durante a vida na Terra acreditaram que morrer era ficar dormindo, sem consciência.
Quando chegam aqui e descobrem que estão mais acordados do que nunca, fogem assustados e vão ser presas fáceis das entidades infernais que os farão dormir por anos, satisfazendo seus egoísticos desejos.
— Quer dizer que os espíritas na Terra devem se arvorar em ser donos da verdade?
— Não foi isso o que quis dizer.
Não quero contribuir para aumentar o fanatismo que anda tomando conta dos nossos irmãos das lides espirituais.
As verdades que o espiritismo veio revelar não são propriedade exclusiva de ninguém, pois pertencem a todos, e são verdades da vida, acima de tudo.
O Espiritismo apenas as estuda, pois a vida após a morte, a mediunidade, a reencarnação são fenómenos que pertencem às leis da natureza, e não a grupos religiosos.
As religiões vão acabar porque estão dividindo as pessoas.
A única religião verdadeira do mundo é o amor, e nela todos estamos incluídos, pois somos herdeiros dele.
Só assim perceberemos que não há por que querermos ser donos de verdades que só pertencem a Deus, supremo criador do universo.
Gabriel estava satisfeito com as respostas de Diana e pacientemente esperou que Flaviana voltasse a despertar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:34 pm

9 - A DESCOBERTA DE FLAVIANA
Naquela mesma tarde, Flaviana acordou e percebeu que ainda estava no mesmo lugar.
As mesmas camas de vidro, as mesmas pessoas à volta atendendo os pacientes, até a paisagem era a mesma.
Quando abriu completamente os olhos, percebeu que ao seu lado estavam Gabriel e mais outra mulher que ela não conhecia.
— Suponho que ela seja a directora daqui. Foi bom a senhora ter vindo.
Não estou conseguindo entender nada.
Até agora só dormi e nem minha filha, nem minha mãe apareceram para me ver.
Acho isso muito estranho...
Sou uma mulher doente e eles jamais me deixariam sozinha por tanto tempo.
— Chamo-me Diana e sou trabalhadora daqui, não sou a directora.
Sou responsável, entre outras coisas, por este departamento que chamamos de Departamento dos Recém-Chegados.
Flaviana abriu bem os olhos castanhos e grandes, e indagou:
— Recém-chegados de onde?
Sem hesitar, Diana respondeu:
— Recém-chegados da Terra.
Aqui todos vieram de lá.
Flaviana sentiu uma sensação ruim, pois sentiu que aquela mulher era sincera e não estava mentindo.
— Da Terra? Quer dizer que não estamos na Terra?
Que brincadeira é essa?
— Não é brincadeira, e vamos lhe mostrar isso agora.
Deite-se novamente.
Flaviana obedeceu, tremendo por dentro.
Sentia que algo de muito ruim lhe seria revelado.
Diana colocou a mão direita sobre sua fronte e pediu:
— Agora feche os olhos e tente se lembrar da última imagem que tem da sua vida antes de chegar aqui.
Flaviana se esforçou e começou a se ver deitada, com uma aparência cadavérica, em sua cama.
Tinha Isabela por perto em uma poltrona, lendo um livro e velando por ela.
— Diga o que você vê — pediu Diana.
— Vejo-me em meu quarto deitada, muito doente, e Isabela, minha enfermeira, ao meu lado.
— O que mais?
Tente se lembrar do último dia que esteve com sua enfermeira.
— Estou lembrando.
Fazia muito frio e ela se levantava toda hora para ir até a janela do quarto.
Logo depois adormeci e...
Flaviana demorou algum tempo com os olhos e o rosto comprimidos, e depois soltou um grito:
— Socorro, ela...
Ela está me matando! Ajudem-me!
Diana retirou a mão e ordenou:
— Acorde Flaviana.
Já passou; você está bem.
Ela abriu os olhos e todo seu corpo tremia.
— Foi Isabela...
Ela tentou me matar, meu Deus!
Por que ela fez isso comigo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:34 pm

Era tão fiel, tão boa!
Gabriel trouxe-lhe um copo com água e fê-la beber.
Quando se acalmou, ela colocou as mãos na de Diana, e perguntou:
— Por favor, me diga: quem me salvou aquela noite?
Já prenderam Isabela?
Meu Deus estávamos com uma criminosa em casa e nem desconfiávamos...
Ela ia me sufocar com o travesseiro!
Diana, já acostumada com aquele tipo de situação, começou a explicar:
— Ninguém a salvou naquela noite.
Seu corpo morreu e nós a recolhemos aqui.
E hora de cuidar de sua vida, rever seus valores e entender como atraiu isso para seu destino.
Flaviana começou a chorar convulsivamente.
Sentia que era verdade, ela estava morta!
Mas, se estava morta, como se sentia mais viva e saudável do que nunca?
Seu corpo estava igual ao da Terra; até o coração batia.
Sentindo seus pensamentos, Diana a orientou:
— Você agora vive com o corpo do espírito, que chamamos de perispírito.
Você pensa que ele é igual ao seu corpo de carne, mas logo perceberá que não é.
Quanto à forma, sim; todavia, esse corpo em sua constituição é muito diferente.
Mas outra hora conversaremos sobre isso.
Tente dormir que, ao acordar, será levada para uma casa que preparamos para você.
Flaviana explodiu:
— Como você fala isso com tanta simplicidade assim?
Fui assassinada, estou morta, tenho de me afastar de minha filha, e você vem me dizer que vai me dar uma casa?
Não quero nada disso, quero minha vida de volta:
minha casa, minha mãe e até mesmo o Humberto.
— Você prefere viver num corpo doente, sem ter mais condições de levar uma vida normal?
Reflicta e procure entrar em contacto com Deus pela prece.
Quando chegar o momento, entenderá que tudo que lhe aconteceu foi para o melhor; busque a fé.
Há quanto tempo você não reza?
Ela, enxugando as lágrimas com as mãos, disse:
— Não tenho fé em Deus.
Ele me tirou tudo, a saúde, o marido, a alegria de viver e até mesmo minha vida.
Não vou rezar.
Diana a olhou com ternura:
— Não seja injusta.
Deus lhe deu a vida e a dá todos os dias.
Mesmo tendo deixado seu corpo de carne na Terra numa cova escura, você está aqui com o corpo astral, mais viva do que antes.
Recuperou a saúde e pode reencontrar a felicidade.
Tudo depende de você.
Quando perceber que o que lhe aconteceu veio da forma negativa como olhava a vida, vai compreender melhor.
Flaviana soluçava.
Como se sentia triste!
Deitou-se e fingiu que dormia.
Em seu íntimo, existia um único pensamento:
o de escapar dali e voltar para sua casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:34 pm

Durante o trajecto de volta, Diana ia falando com Gabriel:
— Acredito que Flaviana não vá ficar muito tempo connosco.
Ela fingiu que dormia, mas percebi claramente que quer sair daqui e, se continuar assim, acabará conseguindo.
— E uma pena, mas não podemos prender ninguém aqui.
O livre-arbítrio é sempre respeitado.
Com isso ela vai atrasar ainda mais seu encontro com Aurélio.
Para ele, são mais de quarenta anos de espera.
— É mesmo. Todavia o amor é paciente.
Ele continuará a esperar, tenho certeza.
Eles se abraçaram e seguiram para o prédio onde trabalhavam.
Flaviana, ao vê-los se distanciar, levantou-se rapidamente e começou a andar pelo lugar.
Precisava encontrar a saída.
Mas, quanto mais andava, mais percebia como o lugar era grande.
Ela via pessoas montadas em cavalos passeando livremente, outras cultivando flores em jardins, mas nada daquilo lhe interessava.
Anoiteceu e as primeiras estrelas no céu começaram a brilhar.
Ela se sentou sobre uma frondosa árvore e recomeçou a chorar.
De repente, uma senhora negra se aproximou dela:
— Por que não volta para onde estava?
Já é noite!
— Quem é você?
— Chamo-me Amélia.
E, pelo tempo que estou aqui, posso garantir que é melhor aceitar; chorar não adianta.
— Não posso, tenho de voltar à Terra e me vingar de quem me matou.
Só assim terei paz.
Amélia fez uma cara de assustada e disse:
— Não saia daqui não!
Atrás desses muros altos tem muitos perigos, você vai se dar mal.
Apesar de essa cidade ser muito bonita e organizada, ainda estamos no umbral, e circular por ele sozinho nunca acaba bem.
Flaviana não entendeu:
— Não estamos no céu?
A outra riu bem-humorada.
— Não, estamos muito longe dele.
Muitos acham que depois que morrem vão chegar aqui e ver Deus e Jesus, e que estão no céu.
Mas nada disso é verdade.
Estamos no umbral mesmo.
— O que é isso?
— O umbral é um local de passagem para as regiões superiores.
Aqui ficamos estagiando até podermos ir ao nosso lugar de origem.
Pelo pouco que sei, o umbral tem várias zonas.
Onde ficam as colónias de recuperação, como esta, é uma zona mais amena, mas nos outros lugares há sofrimentos inenarráveis.
Há também cidades como esta só que voltadas ao mal.
Flaviana começou a ficar com medo.
— Você chegou aqui há muito tempo? — perguntou à sua interlocutora.
— Nem tanto; morri há vinte e cinco anos.
— De quê?
— Tive um câncer de pulmão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:34 pm

Mas fugi deste lugar e vivi horrores nas zonas mais densas do umbral.
Só há três anos é que fui recolhida novamente.
Mas já estou me preparando para voltar a Terra.
Vou reencarnar!
— Reencarnar?
— Sim, reencarnar, ou vestir um novo corpo de carne e renascer na Terra.
Sabe, não fui muito boa na minha última vida.
— O que você fez?
Ela lançou um olhar para o infinito, soltou o gatinho que segurava e começou a narrar:
— Eu queria ter uma vida melhor, ser rica, daí inventei que era médium e que recebia comunicações dos espíritos desencarnados.
Fingia que psicografava mensagens de parentes mortos e cobrava por isso.
Logo estava cheia de clientes e ganhei um bom dinheiro.
Quando morri, fiquei presa ao caixão durante dias e uns espíritos horríveis, todos de preto, vieram me retirar do túmulo.
Sofri muito e hoje quero voltar a Terra e reparar o meu erro.
Serei uma médium ostensiva e vou me comprometer com o auxílio ao próximo.
Mas estou avisada de que se novamente falhar serei submetida a um processo de loucura.
Flaviana estava confusa.
Seria verdade?
— Você pode ficar louca?
Vai aceitar isso?
— Vou sim. Sou muito ambiciosa.
Enquanto vivo aqui estou protegida quanto às minhas ilusões, mas quando reencarno fica bem mais difícil.
O esquecimento do passado, o consumismo, o apelo do status e do dinheiro são muito fortes.
Se em qualquer momento eu priorizar mais a vida material do que a espiritual, começarei a ter problemas mentais.
É difícil, mas será esse o remédio amargo que levará à cura de meu mal.
Flaviana olhava Amélia sem entender muito o que ela falava.
Esta a convidou para ir ao salão de orações, mas Flaviana recusou.
Sentada embaixo da árvore, ela pensava:
"Não posso deixar Isabela impune.
Preciso descobrir por que me matou e depois quero me vingar".
A esse pensamento um acesso de ódio a acometeu e ela começou a chorar.
Flaviana desejou tanto sair dali e se vingar que num átimo se viu arremessada a um lugar muito escuro, cheio de fumaça e pessoas gemendo.
Assustada, tentou se levantar e andar, mas seus pés atolaram numa poça de lama.
Com esforço, ela conseguiu sair dali e começou a andar, e o que via era muito diferente do local onde estava.
As árvores estavam secas, e a vegetação rasteira e o solo lamacento davam uma impressão mórbida ao lugar.
Com muito medo, ela andava sem parar, sem saber para onde estava indo.
Olhou para o céu e ele estava coberto com pesadas nuvens escuras.
Ela não conseguia ver a Lua nem as estrelas.
Seria a outra parte do umbral a que Amélia tinha se referido?
Pensou num instante.
De repente, ouviu uma voz:
— O que esta dama faz aí sozinha?
Está precisando de companhia?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:35 pm

Flaviana se arrepiou inteira.
Um homem magro, de rosto fino e nariz aquilino, vestindo um terno preto estava à sua frente.
Tentou correr, mas não conseguiu.
Sentiu que seus pés estavam chumbados ao chão.
O homem com olhar assustador começou a gargalhar e, de tanto medo, Flaviana desmaiou.
— Acorde acorde!
Ao despertar, ela se viu ainda no mesmo lugar e o pavor continuava.
O homem sentado ao seu lado abriu um sorriso e disse:
— Sei que é uma novata; não quero lhe fazer mal.
E que às vezes acho graça em assustar as pessoas, é muito divertido.
Ela, ainda trémula, respondeu:
— Pois não vejo graça nenhuma.
Estou muito assustada e quero sair daqui e voltar para minha família.
— Bem se vê que chegou agora.
Sair daqui não é tão fácil como pensa, mas eu posso ajudá-la.
Chamo-me Nicodemos e moro numa cidade perto daqui.
Chama-se Cidade das Trevas.
Lá você poderá morar e daí voltar para ver os seus.
— Nossa que nome mais esquisito.
Por que a cidade se chama assim?
— Porque lá nós não vemos a luz do Sol.
Temos de usar tochas e outros tipos de chamas para iluminar os ambientes.
Ele abriu um sorriso malicioso.
— Também possui esse nome porque nos utilizamos do mal para atingir nossos objectivos.
Lá o lema é:
"Os fins justificam os meios".
— Nossa... Depois da morte tem tudo isso, é?
— E muito mais.
As pessoas acham que depois da morte perdem a consciência ou vão viver em locais esfumaçados ou nas nuvens.
Quando acordam aqui, percebem que nada disso é verdade.
Conseguimos capturar essas pessoas que durante a vida foram descrentes, ateias ou acreditavam que dormiriam até o juízo final, e as colocamos para dormir por longo tempo.
Fazemos isso para retardar o progresso delas.
Lá na minha cidade tem câmaras onde essas pessoas ficam praticamente em estado de coma.
Flaviana pensou e respondeu:
— Não quero viver lá.
Parece que é um lugar ruim; prefiro a colónia onde estava.
Ele sorriu mostrando as falhas da dentadura.
— Você é que sabe, mas essas colónias são como prisões.
Você não poderá fazer o que deseja, e aposto que não vão deixá-la ver sua família.
Já na nossa cidade somos livres e fazemos o que queremos.
Se ficar connosco, garanto que Teodoro deixará você vê-los.
— Quem é Teodoro?
— É o novo chefe da nossa cidade.
E uma espécie de prefeito.
— Ah, se for assim então eu vou.
Leve-me para lá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:21 pm

Eles caminharam por uma estrada íngreme e depois de uma hora chegaram a uma rua cheia de casas feias e mal construídas.
— Aqui é à entrada da cidade.
Vamos que os guardas me conhecem e se lhe virem comigo a deixarão passar.
Eles passaram por diversas ruas da tenebrosa cidade e foram até o chefe.
Flaviana foi apresentada a um homem branco, jovem, de rara beleza, mas com um olhar cruel que exalava sensualidade.
Flaviana admirou-se, pois julgava que "o chefe" fosse um senhor, e havia encontrado na realidade um rapaz de, no máximo, vinte anos.
Depois de ouvi-lo, ela foi informada de que poderia ir para a Terra ver os seus.
Como acompanhante ela teria Nicodemos.
Chegaram à mansão que, àquela hora da madrugada, estava às escuras.
Flaviana sentiu o ódio corroê-la.
Fora ali, em sua própria casa, que tinha sido assassinada pela asquerosa Isabela.
Na sala ela começou a chorar.
Depois do pranto, sentiu fome:
— Nicodemos, estou com fome.
Antes de ver minha filha, quero me alimentar.
Preciso estar forte para aguentar vê-la sem poder falar ou tocar nela.
— Lá na cidade não temos alimentos, mas é muito fácil se alimentar aqui na Terra.
Vamos a um bom restaurante que vou ensiná-la.
Flaviana não entendeu nada, mas seguiu com ele.
Chegaram a um restaurante de luxo em um bairro nobre de São Paulo.
Apesar do adiantado da hora, algumas pessoas ainda faziam refeições.
Nicodemos logo sentiu apetite com o cheiro saboroso dos pratos e da carne.
Olhou para Flaviana e disse:
— Você vai chegar perto de quem está se alimentando; aproxime-se bem.
A matéria de nosso corpo é diferente da do corpo de carne, portanto uma penetra na outra.
Fique perto e deixe seu corpo ser parcialmente absorvido pelo corpo do encarnado, logo sentirá o prazer da alimentação como se a estivesse ingerindo.
Flaviana achou estranho, mas, imitando Nicodemos, começou a se aproximar de um senhor gordo que devorava prazerosamente um filé.
Estranho fenómeno aconteceu.
Flaviana sentiu-se intimamente ligada ao senhor e começou a perceber o gosto da carne em sua boca.
Gostou do que estava fazendo.
Ao se sentir farta, parou.
Depois percebeu que o homem continuava a comer sem parar.
— Não sei como ele consegue comer tanto.
Já me fartei, e ele continua lá. Veja!
— Isso acontece porque a energia dos alimentos dele ficou com você.
O que ficou para ele foi somente o "bucho".
Agora, para se sentir farto, ele terá de comer o dobro.
Flaviana não entendeu nada, mas estava se sentindo completamente alimentada.
Depois sentiu vontade de ir ao banheiro.
Há quanto tempo não fazia suas necessidades?
Nicodemos a orientou para que fosse a um dos banheiros do restaurante e agisse normalmente.
Ela só não devia dar a descarga, pois não conseguiria movê-la com seu corpo de agora.
Assim ela fez. Tudo terminado, ela exigiu que retornassem para sua mansão. Desse modo fizeram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:22 pm

Patrícia dormia e foi com emoção que Flaviana a abraçou.
Humberto, como sempre, não se encontrava, e ela ficou muito tempo abraçada à filha. De repente se lembrou:
— Onde está o espírito de minha filha agora?
— E eu sei lá! Só sei que à noite, quando os encarnados dormem, seus espíritos se libertam e vão passear no astral.
Essa sua filha tem cara de boazinha.
Deve estar em alguma colónia conversando.
Flaviana resolveu dormir na casa e permanecer lá até o amanhecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:22 pm

10 - PLANO SÓRDIDO
Amanheceu e Humberto chegou cedo à casa que tinha alugado para Isabela viver.
Ela, Eudásia e Daniel tomavam o desjejum.
Fazia três semanas que Flaviana tinha morrido e a vida tinha quase voltado ao normal.
Isabela ia visitar Augusta várias vezes e a "consolava" pela morte da filha.
Naquela manhã, ela estava irritada.
Por isso, quando Humberto chegou, ela logo o arrastou para o quarto.
Quando estavam sentados na cama, ela começou:
— Não aguento mais essa situação.
São três semanas, e você não toma nenhuma atitude.
Estou perdendo minha paciência.
Coçando o bigode, ele respondeu:
— Você terá de esperar um pouco mais.
Não faz nem um mês que Flaviana baixou ao túmulo e eu não posso me dar ao luxo de já me casar com outra.
Tem Augusta, que pode criar problemas, e principalmente Patrícia.
Você sabe que eu não posso magoar a minha filha.
Isabela se contorceu de ódio por dentro.
Novamente aquelas duas em seu caminho.
Mas, no momento certo, ela saberia se livrar delas.
Tinha de ser paciente.
Ao mesmo tempo, sentia que não podia deixar Humberto fazer o que quisesse.
Se fosse assim, em pouco tempo ela deixaria de ser interessante para ele, que logo estaria com uma outra.
— Não estou conhecendo você. Um homem tão corajoso, que se envolve com operações arriscadas do governo, com medo de duas mulheres.
— Não é isso — respondeu ele, tentando se defender.
É que temos de dar tempo para as coisas se arrumarem.
Se eu chegar agora com a notícia de que me casarei novamente, e com a ex-enfermeira da minha mulher, o mundo desabaria sobre minha cabeça.
Até você teria problemas, o que desejo sinceramente evitar.
Isabela sentiu que ele falava a verdade.
Apesar de sem moral, Humberto era um homem completamente discreto.
Isso fazia parte do temperamento dele, e ela tinha de respeitar.
Por isso encerrou a discussão e mesmo em plena manhã o puxou para a cama, onde se entregaram ao amor.
Horas mais tarde, quando ele saiu, Isabela se maquiou, colocou uma roupa elegante e disse a Eudásia que iria visitar dona Augusta.
Tomou um táxi e, durante o trajecto, ia repensando todo o plano.
Sabia que o que iria fazer poderia deixar Humberto com muita raiva, mas ela tinha de dar esse passo.
O táxi parou na frente da elegante mansão onde Augusta morava, e ela relembrou o dia em que tinha sido espancada por aquele mesmo segurança que hoje a atendia gentilmente.
Um dia ela ainda iria se vingar daquela velha inútil.
Na enorme sala, Augusta lia um jornal sem muita atenção quando Isabela entrou.
— Querida, que bom que está novamente aqui.
Não tenho muito o que fazer, e hoje estava me sentindo tediosa.
Isabela abaixou a cabeça e fez um ar triste.
— Infelizmente o que vim conversar com a senhora hoje em nada vai lhe agradar, mas a tenho como minha mãe e não posso deixar de lhe falar o que há em meu íntimo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:22 pm

— O que tem filha?
Nunca a vi tão triste.
É problema de saúde?
— Antes fosse...
É um problema de consciência.
Enquanto não desabafar com a senhora e obter seu perdão, não posso ficar em paz.
Isabela deixou uma lágrima forçada cair em seu rosto.
Augusta se ajeitou melhor no sofá e, com olhos miúdos, fitou-a profundamente:
— O que pode ser tão sério?
Saiba que pode confiar.
Eu a tenho como uma outra filha e sei que você não ia fazer nada que me desagradasse.
Deixando lágrimas falsas rolarem sobre seu rosto, Isabela começou a narrar sua sórdida mentira.
— Desde que vim trabalhar na casa da sua filha, percebi que o senhor Humberto me olhava de forma diferente.
Como não sou muito experiente, procurei não pensar no assunto, até o dia em que ele me chamou e se declarou apaixonado por mim.
Fiquei muito assustada e disse a ele que procurasse me esquecer, que aquilo era impossível, e até lhe passei um sermão.
Mas ele não desistiu e continuou me assediando.
Eu fugia o máximo que podia, porém durante uma noite ele chegou muito triste e perguntou se podia desabafar comigo.
Fomos então para o bar.
Eu não queria beber, mas a noite estava fria e ele insistiu, até que cedi.
Ele me contou que estava muito triste com a doença da esposa e que a amava sinceramente, mas me disse que depois que ela tinha adoecido nunca mais havia tido relações com ninguém.
Pediu-me perdão por ter se apaixonado por mim e disse que ia deixar de me importunar.
Fiquei muito feliz e não percebi que estava me excedendo na bebida. Logo caí num sono profundo e o pior aconteceu...
Ela fez uma pausa e percebeu que Augusta a ouvia com expressões de ódio.
— Quando acordei, tempos depois, estava nua com Humberto também nu do meu lado.
Vendo o que tinha acontecido, me desesperei e, num acesso de ódio, comecei a esmurrá-lo.
Ele me revelou que havia colocado sonífero em minha bebida, pois queria me possuir a todo custo, e que eu agora lhe pertencia.
A partir daquele dia, pensei em abandonar o emprego, mas, vendo a senhora tão triste e a dona Flaviana tão doente, não tive forças.
Contudo, passei a evitar Humberto completamente.
Quando sua filha morreu, pensei que tudo estivesse terminado, mas ele descobriu onde eu moro e passou a me perseguir.
Chegou a fazer ameaças a uma amiga que mora comigo.
Resisti em lhe contar isso até hoje pela manhã, quando descobri o pior: estou grávida!
Aquela noite me trouxe sérias consequências.
Isabela começou a chorar convulsivamente aos pés de Augusta, que começou a chorar também de ódio e pena da moça.
Após um pranto sentido, Augusta cerrou os punhos e vociferou:
— Aquele calhorda miserável! Teve a coragem de cometer um ato vil e degradante debaixo do tecto onde minha filha agonizava.
Avalio sua dor, Isabela, e a perdoo.
Ela levantou o rosto inchado pelo choro, e disse:
— Mas não sei se a senhora vai me perdoar depois do que vou lhe dizer agora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:22 pm

Aceitei me casar com Humberto; serei a esposa dele!
Augusta assustou-se:
— Casar?
— Sim. Hoje, logo depois que fiz o exame e descobri a gravidez, ele apareceu novamente na minha casa e, pressionada, acabei revelando a minha real situação.
Ele me pediu em casamento e eu aceitei.
— Isso jamais vou permitir. Saia da minha casa agora! — gritou ela.
— Dona Augusta, me ouça!
Nunca tive sorte na vida.
Meus pais são pobres lavradores do interior de Goiás e não podem me ajudar a criar esse filho.
Apenas tenho um curso técnico de enfermagem, por isso não posso me manter, nem a criança, com o que ganho.
Depois, estou desonrada, nenhum rapaz vai querer me assumir e a esta inocente criança.
Não tenho alternativa.
Se quiser dar uma vida digna a esse ser pequenino, tenho de aceitar ser esposa desse homem que desgraçou a minha vida.
Ela chorava muito e Augusta acabou ficando com pena.
Lembrou-se dos momentos de dedicação que ela tivera com Flaviana, lembrou-se da sua amizade preciosa, e nessa hora sua antiga raiva por Humberto falou mais alto — ele era de facto o culpado.
Não era justo acusar a pobre e inocente Isabela, que mais parecia um anjo.
— Levante-se!
Ficando aí no chão estará mais humilhada do que a situação permite.
Não deixarei que esse homem acabe com sua vida como fez com a de minha filha.
Recomponha-se, vamos para a casa dele imediatamente.
Isabela estava muito feliz, mas precisava disfarçar.
— Não, não podemos.
Se ele souber que lhe contei tudo, não me perdoará.
Não posso ir.
Augusta levantou-se:
— Eu saberia de qualquer maneira.
Agora vamos que o tempo urge.
Se Humberto está aqui é porque vai almoçar com Patrícia.
Chegaremos lá e aguardaremos.
Sei que vão se casar, mas antes preciso conversar seriamente com ele, que terá de garantir seu futuro e o desse ser que vai nascer.
Ela parecia estar sonhando.
Seu plano resultará melhor que o esperado.
O chofer as conduziu para a casa de Humberto.
Lá chegando, não encontraram Patrícia, que só voltaria da faculdade a uma da tarde.
Sentadas no sofá luxuoso que em breve seria seu, Isabela sonhava.
Resolveu reforçar a cena teatral; a velha de nada poderia desconfiar.
— Dona Augusta, será que é necessário tudo isso?
Não penso que a senhora deva entrar em um assunto que só vai machucá-la ainda mais.
Apesar da raiva, Augusta se enterneceu:
— Você é que foi enganada e precisa que Humberto repare esse erro.
O que vou fazê-lo cumprir custe o que custar.
Dali a poucos minutos, o elegante carro de Humberto entrava pelos portões da mansão.
Andando pelo jardim, de repente ele se lembrou de Flaviana ainda na juventude, cuidando da casa com carinho e dedicação.
Um remorso o tomou, porém logo ele tratou. de mudar os pensamentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:22 pm

Sabia que fora leviano, interesseiro e infiel, entretanto agora era tarde.
O importante é que em breve seria feliz ao lado de Isabela.
Assim, entrou na sala.
Seu coração disparou.
Sentiu uma vertigem e, se não houvesse tido muito controle, passaria mal ao ver Isabela e Augusta juntas no sofá.
— Foi bom que chegou.
Precisamos ter uma conversa — falou Augusta dirigindo-se para ele.
Ela levantou a mão e lhe deu um tapa tão forte no rosto que Humberto rodou nos calcanhares.
As marcas dos dedos e dos anéis ficaram em sua face.
— Posso entender por que me esbofeteou?
— E ainda pergunta seu canalha?
Seu cafajeste!
— Quero uma explicação, desejo saber o que a ex-enfermeira de minha mulher quer aqui e por que me bateu na frente dela.
Augusta ia bater outra vez, mas agora Humberto a segurou fortemente pelo pulso.
— Não se atreva ou não responderei por mim.
Até um homem como eu tem seus limites.
Não se esqueça disso.
Durante a cena, Isabela se mantinha quieta e encolhida no canto do sofá, fazendo o papel de vítima.
Augusta se recompôs e falou entre dentes:
— Já sei de tudo, seu animal.
Sei que fez mal a Isabela durante o tempo em que ela trabalhou aqui.
Sei que a persegue até hoje e chegou a lhe propor casamento.
Mas eu tomei à dianteira e as coisas serão como quero, ou então o denunciarei como adúltero, e tenho como provar.
Augusta repetiu toda a história que Isabela lhe contou enquanto Humberto ouvia estupefacto.
Como ela tivera coragem para tanto?
Mas no fundo se sentiu confortável.
Ele não teria mais de explicar nada à sogra; aquela história viera mesmo na hora certa.
— Eu... Eu não resisti aos encantos de Isabela.
Fiquei apaixonado e agora não posso deixá-la sozinha com esse filho que ela espera.
Vou me casar com ela.
— Meu Deus! Minha filha deve estar se revirando no túmulo uma hora dessas.
Patrícia entrou na sala e, ouvindo as últimas palavras, mal conseguiu acreditar.
— Então era por isso que eu não gostava de você.
Sempre soube que agia mal, mas nunca pensei que pudesse chegar a tanto.
É uma mulher sem moral.
Papai, se o senhor se casar com ela, leve-a para outro lugar ou sairei desta casa.
Isabela, com voz fraca se manifestou:
— Tente entender, Patrícia, não foi culpa minha.
Fiz de tudo para resistir ao seu pai, mas não consegui.
Augusta a defendeu:
— Fique calma, Patrícia.
Isabela nessa história é mais vítima do que qualquer outra coisa.
Depois lhe contarei o que aconteceu e você verá como tenho razão.
— Nunca gostei de você; algo me dizia que não era confiável.
Tenho certeza de que planeou isso só para ficar com o dinheiro de meu pai.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:23 pm

Isabela chorava copiosamente.
Foi Augusta quem terminou:
— Levarei Isabela até sua casa e depois acertaremos as coisas pendentes.
Vamos, filha, não chore assim.
Patrícia estava surpresa com a atitude de sua avó.
Aquela mulherzinha conseguira enganar a todos, inclusive Augusta, uma mulher experiente e vivida.
A sós com o pai, ela lhe lançou um olhar de indignação:
— Eu esperava tudo do senhor, menos isso.
— Filha, tente entender...
O amor acontece e não temos culpa.
— A desculpa é o amor.
Por isso não vou me entregar a esse sentimento nunca.
Foi por ele que minha mãe foi infeliz e terminou doente e morta.
E é por ele que você e essa mulherzinha andaram cometendo actos indecentes.
Nunca amarei.
— Patrícia, não é isso o que me dizia quando conversávamos.
Você aprendeu muito no centro que frequentava e me dava grandes lições.
Por que mudou tão de repente?
— Concluo hoje que só vivi a teoria; da prática ainda estou distante.
Não sei quando poderei perdoá-lo.
Ela subiu as escadas e foi se trancar em seu quarto.
Humberto não almoçou.
Pediu que retirassem a mesa e ficou pensativo durante horas.
O que estava fazendo seria realmente certo?
O que ele nem ninguém suspeitava era que Flaviana e Nicodemos estavam ali acompanhando os factos minuciosamente.
Ela chorava, esmurrava as paredes e o chão.
Nicodemos não sabia mais o que fazer para acalmá-la.
Ouvindo aquela história criada por Isabela, Flaviana estava descobrindo o real motivo de sua morte.
Só não entendia uma coisa: se Isabela fora violentada por Humberto e não o desejava, por que a tinha matado?
Fora Flaviana quem inspirara Patrícia a dizer todas aquelas palavras de indignação.
Depois deixara Nicodemos com Humberto e subira com a filha para o quarto.
Patrícia não conseguia parar de chorar.
Após muito tempo deitada pensando no sofrimento que a mãe tinha passado com uma enfermeira que lhe roubava o marido, resolveu rezar.
Aprendera no centro que a prece reconforta e alivia, e o que ela mais precisava era de alívio.
Depois de sentida prece a Jesus, sentiu-se melhor.
Flaviana viu que o espírito de uma mulher passava as mãos pelo corpo de sua filha e derramava energias coloridas sobre ele.
Nunca, quando estava viva, pensou que isso pudesse acontecer.
A mesma mulher, quando terminou, olhou para ela e disse:
— Deus fique com você. — Em seguida desapareceu.
Pela manhã, quando a casa despertou, ela acompanhou Patrícia enquanto tomava café.
Percebeu que sua filha tinha protecção e por isso Nicodemos não conseguiu tomar café junto com ela, como pretendia.
Como sua filha era linda!
Quando a viu sair para estudar, abençoou-a e chorou muito.
Como seria bom se estivesse ainda no mundo e com saúde!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:23 pm

A manhã havia transcorrido sem nenhuma novidade, até que apareceram sua mãe e Isabela.
O ódio tomou conta de Flaviana e ela tentou estrangulá-la.
Mas uma força estranha a arremessou para o outro lado da sala e ela caiu com estrondo.
De repente, um espírito de aspecto feio e olhar de ódio se aproximou:
— Essa aí é minha protegida, faz tudo que quero.
Ninguém toca nela; se tentar outra vez se arrependerá amargamente.
— Dizendo isso, o espírito se retirou e foi postar-se ao lado de Isabela.
Nicodemos se aproximou:
— Como ousou fazer isso?
Essa aí tem protecção de pessoas poderosas; não podemos nos meter com eles.
E melhor desistir.
— Mas não é justo, Nicodemos.
Ela me assassinou e continua livre, e o pior:
na companhia de minha mãe.
Temos de fazer alguma coisa para destruí-la.
— Sei que está ansiosa, mas temos de esperar.
Pela roupa que aquele espírito usa, ele vem da Cidade Perversa, um lugar cujos moradores corrompem os encarnados por meio do sexo desenfreado e perverso.
Eles são poderosos e bem organizados.
Nossa cidade não pode com eles.
— Nossa! Mas hei-de conseguir.
Vamos ficar atentos e ver como conseguiremos.
Você tem de me ajudar, Nicodemos.
— Ajudarei.
De repente Flaviana apurou mais a visão e viu uma mulher vestida com um hábito preto de freira.
Flaviana não gostou daquela mulher, que, apesar de não se aproximar, a olhava cinicamente.
— Quem é aquela freira?
— Não sei — respondeu Nicodemos.
Deve ser o espírito acompanhante da sua mãe.
Pelo visto, essa freira não é nada boa.
Quando vejo uma pessoa da luz logo reconheço, e essa aí está longe de ser iluminada.
Nicodemos estava certo.
Irmã Celeste era uma antiga freira cujo fanatismo a fez cometer actos de violência, tortura e morte alguns séculos atrás.
Augusta também fora freira junto com ela e participava dos mesmos actos.
Quando Augusta reencarnou, Celeste ficou vagando no astral até o dia que a reencontrou e não a deixou mais.
Era ela quem guiava quase todos os passos de Augusta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:23 pm

11 - A HORA DA VINGANÇA
No carro com Augusta, Isabela seguia nervosa.
Não poderia deixar aquela velha entrar em sua casa sob hipótese nenhuma.
Por enquanto ela não poderia saber que tinha um filho.
O que fazer se ela cismasse em entrar?
O carro parou na frente da casa e Augusta estranhou o facto de Isabela, apesar de ser tão pobre, morar numa casa que não era tão pequena e situada num bairro de classe média.
Isabela desceu do carro e fez um ar de descontente:
— Não posso convidá-la a entrar.
Minha casa humilde a deixaria constrangida.
Por fora é bonita e bem-acabada, mas quase não possuo móveis e o que tenho está um tanto gasto.
Augusta sorriu:
— Mas a nossa amizade está acima de qualquer coisa.
Vá, deixe-me entrar e me convide para um chá ou um café.
Isabela ficou sem cor.
Ela não poderia entrar de jeito nenhum; tinha de achar uma saída.
— Dona Augusta, não irei me sentir bem em recebê-la em minha casa.
Peço que não insista.
Sinto vergonha em não ter nenhum assento decente para a senhora.
Perdoe-me, mas será convidada de honra na casa que era de sua filha e que por um golpe duro do destino acabará em minhas mãos.
— Bom, se quer assim, aceitarei.
Mostra mais uma vez o quanto é bonita de alma.
Fico pensando no triste destino das mulheres que passam pelas mãos de Humberto.
Se não fosse pela gravidez, juro que encontraria um homem decente que se casasse com você.
— A senhora é muito bondosa mesmo.
— Deixe-me ir.
Quero que saiba que comprarei todo o enxoval do bebé com você, peça por peça.
Deu um beijo na moça e foi embora.
Ao entrar em casa, ela não se conteve e abriu um largo sorriso.
Abraçou Daniel e beijou Eudásia.
Finalmente tudo estava indo como planeado.
Depois do susto da situação, Humberto até iria agradecê-la.
Passou o resto da tarde cantarolando e naquela noite dormiu muito bem.
Como Isabela tinha planejado, após ficar viúvo, o senador Humberto Aguiar já estava casado.
A cerimónia teve grande pompa e a mais fina sociedade paulistana compareceu.
As pessoas comentavam a pressa de Humberto em se casar tão rapidamente, mas logo esqueciam ao ver a beleza da noiva e ao participarem da elegante recepção num clube famoso.
Patrícia havia aceitado o facto e já conseguia conversar normalmente com sua madrasta.
Durante a recepção, Isabela teve sua atenção voltada para um belo rapaz moreno claro, muito bem vestido, olhos amendoados, corpo bem-feito, que exalava sensualidade.
Ele acompanhava Patrícia e, entre um cumprimento e outro, ela se aproximou:
— Não vai me apresentar seu amiguinho, Patrícia?
— Ah, sim.
Este é Fernando, meu namorado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:23 pm

— Namorado?
Como nunca o levou à nossa casa?
— Ele já foi, mas você não se encontrava.
Fernando abriu um belíssimo sorriso e seus olhos penetrantes procuraram os de Isabela, no que foi retribuído.
No resto da noite eles continuaram se olhando sem parar.
Nem Patrícia, nem Humberto perceberam nada.
Até aquele momento, Isabela havia conseguido esconder Daniel de todos.
Eudásia ficava com ele o tempo inteiro e Isabela planejava apresentá-lo depois.
Tanto falou que acabou convencendo Humberto.
Todos achavam que ela era uma mulher solteira e sem filhos; só Augusta e Patrícia sabiam da suposta gravidez.
A lua-de-mel foi um passeio em cidades da Europa.
Isabela não sabia se portar bem, mas Humberto não a deixava cometer nenhum tipo de gafe.
No final, ela até se comportou bem, tendo em vista que saíra de uma favela miserável.
Um mês depois estavam de volta e Augusta providenciou uma pequena festa para recebê-los.
Isabela ficou feliz ao perceber que Fernando estava lá.
Ao vê-lo, ela sentia seus desejos aumentarem e não via a hora de tomá-lo de Patrícia e fazê-lo seu amante.
E claro que ela iria conseguir.
Com o dinheiro que tinha agora poderia fazer o que quisesse.
Apesar disso, ela foi formal com ele e ninguém desconfiou.
No outro dia pela manhã, ela pediu a Humberto que contratasse novos seguranças para a casa, pois os queria de sua confiança, no que logo foi satisfeita.
Uma semana depois, sem que ninguém soubesse, ela pediu a Eudásia que fosse para a mansão.
Havia chegado à hora.
No mesmo dia, ela convidou Augusta para um chá.
Quando a velha senhora chegou, encontrou tudo arrumado na mesa e Isabela à sua espera.
— Que bom que a senhora veio.
Hoje será um dia muito especial para nós duas.
Tenho muitas surpresas e gostaria de compartilhá-las.
Mas antes vamos ao chá.
Augusta pegou sua xícara, adoçou e, antes de se sentar, recebeu um tapa tão forte no rosto dado por Isabela que tonteou e caiu no chão.
Aturdida, ela não sabia o que pensar.
Isabela começou a gargalhar alto, parecendo uma bruxa, como se representasse em um filme de terror.
Gargalhava tanto que o som de sua risada poderia ser ouvido por toda a mansão.
— É aí o lugar onde a senhora sempre deveria ter estado: no chão!
Augusta sentia ódio, mas ao mesmo tempo não entendia o que estava acontecendo.
— Levante-se, o show está apenas começando.
— O que está acontecendo?
— Calada!
Aqui quem manda sou eu.
Sou a dona absoluta desta casa e a senhora vai fazer o que eu quiser.
Augusta continuava sem saber o que ocorria.
— Sei que você não está entendendo, mas vou lhe explicar.
Acabou a farsa, dona Augusta.
Eu a odeio e meu desejo é vê-la morta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:23 pm

Como não posso matá-la, vou humilhá-la o mais que puder.
Em sua cabeça suja você nada está compreendendo, mas será que a senhora não se lembra de uma mendiga com o filho nos braços que lhe pediu um prato de comida, a qual a senhora mandou espancar?
Nessa hora, Eudásia entrou e trouxe Daniel nos braços.
— Lembra-se dessa criança?
Augusta sentia-se tonta.
Não conseguia organizar os pensamentos.
Subitamente, lembrou-se.
Veio-lhe à mente o dia em que mandara espancar uma mendiga insolente que ousara desafiá-la.
Sem coragem para ouvir a resposta, ela perguntou:
— Vo... Você é aquela mendiga?
Novas gargalhadas.
— Eu era a mendiga!
Agora sou Isabela Aguiar.
Nunca fui sua amiga.
Sempre a odiei mais do que tudo.
Agora posso confessar, porque hoje quem manda aqui sou eu.
Roubei, sim, o marido de sua filha.
Ele me encontrou num bordel e me trouxe para esta casa.
Durante as noites nos amávamos no quarto ao lado de onde sua filha esquelética dormia.
Tramei o plano passo a passo, e hoje, com sua ajuda, sou a esposa dele.
Agora saia daqui e nunca mais coloque os pés nesta casa.
— Mas minha neta mora aqui...
— Por pouco tempo.
Nela também darei um jeito.
Nunca Augusta sentira tanto ódio em sua vida.
Com voz rouca, ela balbuciou:
— Fique certa de que isso não ficará assim.
Você não viverá para usufruir de sua ousadia, nem você nem esse filho que carrega no ventre.
Mais gargalhadas.
— Filho? Nunca existiu filho nenhum aqui dentro; fazia parte da farsa na qual você caiu.
Para Patrícia tratei de dizer que perdi a criança durante a viagem.
Ah, e aquela casa onde não a deixei entrar não era tão pobre quanto à senhora imaginava.
Humberto a alugou para mim e tinha tudo, do bom e do melhor.
Agora saia! Está esperando o quê, velha asquerosa?
Augusta chorava de raiva.
Ao sair deparou com um homem forte e musculoso.
Isabela logo apareceu na porta.
— É essa aí, Amaral.
Faça o que pedi.
O homem, ao olhar àquela senhora que poderia ser a sua avó, ou mãe, sentiu pena.
— Senhora, não terei coragem.
Melhor desistir da ideia.
Isabela estava com os olhos esbugalhados pelo ódio.
— Faça o que pedi ou será demitido agora mesmo.
Sei que tem mulher e filhos, e se perder esse emprego ficará na miséria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:24 pm

Eu mesma farei com que você fique sem trabalho; é pegar ou largar.
Amaral, vendo que não havia outra maneira, segurou Augusta, que, pressentindo o que iria acontecer, começava a correr.
Espancou-a e depois a jogou na calçada, fechando o portão de grade.
Augusta, humilhada e sem conseguir andar, esperou que o chofer a recolhesse do chão e a colocasse no carro.
Adonias o fez sem entender o que havia acontecido.
Ia perguntar quando Augusta respondeu:
— Sem perguntas, mantenha-se calado.
Vamos para um hospital, rápido!
Poucos instantes depois, sem saber de nada, Patrícia chegava em casa.
Encontrou Isabela calmamente tomando o chá que havia preparado tendo a seu lado Eudásia e Daniel.
— Olá, Isabela!
Quem são eles?
Quem é esse bebé lindo e formoso?
— Patrícia, temos de levar uma conversa séria.
Eu sou a mãe desta criança.
— Como assim?
Não consigo entender!
Você já é mãe?
— Sabe como é...
Humberto quis esconder esse fato de todos, até que os comentários amainassem.
Mas agora disse que eu já poderia trazê-lo para morar nesta casa.
Esta é Eudásia; é ela quem cuida dele.
— Estou surpresa!
Nunca poderia imaginar que você, sendo tão jovem, pudesse já ter um filho.
Patrícia era um espírito bom.
Logo perdoava as ofensas e havia de pronto se afeiçoado ao bebé, que lhe sorria inocentemente.
— Que bom que vieram morar connosco.
Essa casa é muito grande.
Meus irmãos morreram e essa mansão ficou muito vazia.
Casa cheia é bom.
Pretendo morar aqui quando for me casar.
Mas estou curiosa: o que foi feito do pai de Daniel?
É o papai?
Isabela jamais iria revelar que um dia fora Clotilde e que havia sido estuprada.
Pensando rápido, retrucou:
— Não, absolutamente!
O pai dele morreu quando eu ainda estava grávida. Era um pobre lavrador de Goiás, terra onde meus pais residem.
— É estranha essa ligação com seus pais.
Eles nem sequer compareceram ao seu casamento!
— São pessoas simples do interior.
Insisti para que viessem, mas não querem se misturar com o mundo dos ricos, como eles chamam.
Tenho de respeitar.
Patrícia, apesar de agora gostar de Isabela, sentia que ela era exímia na arte de mentir e sabia que aquelas histórias estavam sendo mal contadas.
De qualquer maneira, se Daniel fosse seu irmão ela acabaria sabendo.
Depois de dar as boas-vindas aos novos moradores, Patrícia foi para seu quarto.
Diana, Gabriel, Marcos e Alfredo estavam ali presentes observando a cena.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:24 pm

Flaviana e Nicodemos também.
Eles haviam passado o tempo todo tentando envolver Isabela, mas não tinham conseguido.
Marcos perguntou a Diana:
— Por que nossa mãe não se lembra de nós?
— E porque ela está tão envolvida pelo ódio e querendo vingança que se esqueceu de todo o resto.
Não consegue perceber que nós estamos aqui.
Foi à vez de Alfredo dizer:
— Isso mesmo.
Para ela, não existimos.
— Também não é assim...
Em breve Flaviana vai se lembrar de vocês e poderá ser o instante em que decida esquecer seus planos.
Deus a auxilie para que isso aconteça.
— Tem horas que acho a vida injusta.
Se eu e meu irmão estivéssemos vivos, as coisas poderiam ter sido diferentes.
Meu pai começou a se desinteressar pelo lar depois que nós desencarnamos.
Diana explicou:
— É que, apesar do tempo de desencarnados e dos estudos que fazemos juntos, vocês ainda não conseguiram entender como as leis divinas funcionam.
Deus rege o universo com sabedoria e amor.
O que acontece na Terra primeiro passa pela permissão Dele.
Sem isso, nada em nossa vida é feito.
Vocês não podem esquecer que desencarnaram cedo porque foram suicidas na vida anterior.
Antes de renascer, pediram uma vida curta, caso tivessem uma educação permissiva e voltada para o mal.
Apesar de suicidas, se fossem guiados para o caminho do bem pelos pais, Deus lhes concederia uma moratória e viveriam uma vida longa sobre a Terra, na qual, pelo bem, poderiam se reajustar com o passado de crimes.
Todavia, Humberto os estava preparando para uma vida exclusivamente material e corrupta.
Naquele momento, seus espíritos escolheram desencarnar a ter de falir mais uma vez.
Eles ficaram calados.
Gabriel perguntou:
— Então é por isso que há pessoas que desencarnam em plena juventude?
— Cada caso é um caso, mas podemos afirmar sem erro que se todos vivessem uma vida voltada para a espiritualidade, para o bem; se não se desviassem dos planos que traçaram no astral para a própria redenção, não haveria mortes prematuras.
A bondade divina quer que todos os encarnados tenham vida longa para que possam aproveitar bem as lições que a Terra oferece.
Quanto mais se vive encarnado, mais se é útil e mais se aprende.
Infelizmente muitos têm de voltar antes do tempo previsto ou escolhem uma encarnação curta com medo de falhar.
Foi assim com Marcos e Alfredo; eles preferiram fugir a ter de enfrentar as tentações, e os desafios.
Gabriel não estava satisfeito:
— E porque Deus permite que esses espíritos assim escolham?
— Porque Ele não interfere no livre-arbítrio de ninguém.
Quando os espíritos retornam da Terra após um período curto, geralmente percebem o quanto estavam iludidos com a escolha e pedem logo para voltar e continuar aprendendo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:24 pm

Deus é extremamente sábio.
Se permite que escolhamos caminhos dolorosos é porque sabe que é por intermédio deles que aprenderemos o valor e a força do bem.
Marcos e Alfredo deixavam lágrimas rolar por seu rosto, mas Gabriel continuava curioso:
— E Isabela, até onde irá com seus enganos?
— Rapidamente ela colherá os resultados de suas atitudes.
Isabela, como você a chamou, é parecida com cada um de nós.
Infelizmente, muitas vezes nos esquecemos de que nada nesta vida é para sempre, e por isso cometemos muitos enganos, que nos custarão anos de sofrimento.
Se as pessoas soubessem como tudo na vida é passageiro, todo o sofrimento da Terra estaria terminado.
— Como assim? — quis saber Marcos.
— Tudo que temos na vida de bom ou de ruim um dia passará.
O movimento é lei do universo e nada pára, portanto em nossa vida nada é tão seguro quanto imaginamos.
Quem pára atrai a dor e o sofrimento.
Quando todos entenderem que nada é para sempre, certamente deixarão de sofrer, principalmente por medo, ansiedade e angústia.
Clotilde achava que sua vida na favela seria eterna.
Não confiava em Deus; ignorava que ele tem o poder de modificar nossa vida quando temos fé, por isso começou a agir no mal.
Agora, como rica, também pensa que sua situação é definitiva, e continua cometendo barbaridades.
Logo perceberá o quanto estava iludida.
Assim é com a maioria das pessoas.
Quando vivem um problema, uma situação dolorosa acreditam que isso nunca passará e em nome disso agem mal e impulsivamente.
O ser humano sofre muito por agir pelos impulsos do momento.
Às vezes, uma acção de um minuto é tão maléfica que vai destruir todo o bem que está programado para nosso caminho.
A falta de fé é ainda o maior problema do ser humano.
— Quer dizer que as coisas boas também passam?
— Sim. Mas elas só passam quando nos vão conduzir a algo melhor, ainda que por meio do sofrimento momentâneo.
Precisamos aprender que o que nos acontece é para o melhor; essa é uma lei da vida.
— Minha mãe acreditou que seu casamento era para sempre, que meu pai iria ser fiel.
Esse foi o erro dela.
— Não diga que foi um erro; foi simplesmente uma forma de pensar.
Todas nós, mulheres, somos ensinadas a acreditar no sonho de amor.
Só que a realidade supera o sonho e na maior parte das vezes não queremos enxergar.
Acreditar no casamento eterno, na perfeição e fidelidade do marido, apesar de ser ilusório, ainda povoa os sonhos de muitas mulheres.
Elas ignoram que não existe pessoa perfeita na Terra e que as relações obedecem ao nosso ciclo de aprendizagem, todas um dia terminam, seja na Terra, seja no astral, para dar início a novas etapas de progresso dos envolvidos; isso é certeza.
Ademais, esperar dos outros aquilo que eles não nos podem oferecer é uma utopia e sempre nos faz sofrer.
As pessoas não estão no mundo para satisfazerem os desejos egoísticos dos outros, estão para aprender a crescer e evoluir, e como evoluir sem o direito de liberdade e escolha?
Finalmente eles entenderam.
Diana os chamou para voltarem à colónia onde viviam.
Deixaram lá Flaviana e Nicodemos, obstinados em prejudicar Isabela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 21, 2017 8:24 pm

12 - DE VOLTA A ANTIGOS HÁBITOS
A partir do dia em que foi tão humilhada e aviltada por Isabela, Augusta entrou em depressão profunda.
Perceber que fora ludibriada e que tinha uma inimiga dentro de sua própria casa abateu-a profundamente.
Já não saía às compras, não visitava amigas nem recebia visitas.
Percebendo seu sumiço, Patrícia foi procurá-la e ainda viu algumas marcas da agressão em seu corpo, embora Augusta tivesse dito que sofrerá uma queda e que não estava podendo andar direito.
Todavia, ela nunca mais apareceu na mansão.
Pensou em revelar a verdade a Patrícia e Humberto, mas quem acreditaria?
Certamente Isabela desmentiria tudo e ainda iria se fazer de vítima.
O remédio foi se calar.
Augusta chorou bastante durante aquele tempo.
Sentia saudades da filha e muita solidão, afinal morava praticamente só numa casa imensa.
A depressão era tão grande que ela não tinha mais forças nem para odiar; sentia-se morta.
O desaparecimento de Augusta em muito agradou a Isabela, que continuava levando vida boa na riqueza.
Humberto quase não deu por falta da velha senhora, atribuindo seu sumiço ao fato de a filha ter morrido e de ela não suportar outra assumir o lugar, mesmo que fosse uma amiga.
O casamento de Isabela com o senador foi noticiado em todas as revistas e jornais nas colunas sociais.
Um dia, praticamente por acaso, Juvêncio parou numa banca de jornal e acabou lendo uma das reportagens.
Nela havia detalhes da cerimónia, onde passaram à lua-de-mel e até mencionava o endereço da bela mansão onde vivia o casal.
Pensando em conseguir dinheiro para sustentar seu vício nas drogas, ele resolveu procurar Isabela.
Para isso esperou passar o período da lua-de-mel e, quando viu que era a hora certa, rumou para lá.
Não foi difícil para ele encontrar a casa.
Ao chegar, viu Isabela no jardim com uma empregada e Daniel, que brincava satisfeito.
Chamou o segurança e disse que queria conversar com a dona da casa.
Isabela sentiu faltar o chão ao deparar com o homem que um dia a violentara sexualmente.
— Não conheço esse senhor, Amaral.
Peça que se retire daqui imediatamente.
Juvêncio não perdeu a chance:
— Se não quiser atender, conto tudo que sei sobre sua vida e ainda recupero o que é meu de direito.
Ao ouvir aquelas palavras, ela resolveu ceder.
Nunca em sua vida imaginava que iria rever aquele homem horrível.
Ela se aproximou do portão e pediu que os seguranças se afastassem.
— O que deseja?
Aquela moça boba de antes morreu completamente.
Aqui está agora uma mulher rica e poderosa.
Não tente nada contra mim ou se arrependerá amargamente.
— Não pense que está assim tão por cima.
Posso destruir sua vida contando seu passado e tomando Daniel para mim.
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