LUZ ESPÍRITA
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NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro

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NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 23, 2017 8:57 pm

Daqui a pouco vai estar melhor.
Isabela encerrou a conversa:
— Se você acha assim, então vamos esperar.
Humberto não descia e Isabela estava ficando inquieta.
Eudásia e Morgana entraram com Daniel e Patrícia e Fernando também estavam na sala.
— Vou ver como ele está.
Estou ficando preocupada — disse Patrícia, levantando-se e indo em direcção ao quarto do pai.
Em poucos segundos, Isabela e Fernando trocaram significativo olhar, que foi percebido por Morgana.
Em seu pensamento uma desconfiança começou a aparecer.
O que havia entre aqueles dois?
Ela resolveu averiguar.
Pretextando ir ao banheiro, Fernando saiu.
Logo depois, Isabela resolveu ir à copa beber água e Morgana achou aquilo muito estranho.
Na copa, Isabela conversava nervosamente com Fernando.
— Essa situação está ficando horrível para mim. Não aguento vê-lo.
O único homem a quem realmente amo nos braços de uma outra mulher!
É terrível para mim.
Não sei se suportarei vê-lo casado.
Ele colocou suas mãos em seu corpo e ela estremeceu.
— Tem de aceitar, pelo bem de nós dois.
Sabe que a amo e que estou com Patrícia porque me é conveniente.
Preciso ficar bem de vida e com você não conseguiria.
Precisa entender; mais tarde, quando for oportuno, traçaremos um plano e eliminaremos Humberto e Patrícia de nossa vida.
Seremos felizes.
— Como eu gostaria de acreditar em você.
Sinto que posso perder tudo que conquistei por causa dessa paixão que me consome.
Beije-me agora.
Prove que me ama e me beije aqui.
— Mas é muito perigoso.
Podem estranhar nossa demora e nos pegar em flagrante.
— Vamos, tenha coragem.
Fernando não resistiu e a beijou longamente.
De repente um grito abafado:
— Isabela?! Fernando?
Não posso acreditar!
Eles se separaram rapidamente e sem fôlego olharam para Morgana.
Isabela apressou-se em se defender:
— Não é isso que está pensando.
Por favor, Morgana, tente entender...
— Calma amiga. Sabe que somos unidas e não direi o que vi.
Mas, assim como fui eu, poderia ter sido outra pessoa, e você estaria perdida.
Tenham mais cuidado.
Fernando saiu e voltou para a sala, onde já estavam o senador e Patrícia.
Morgana conseguiu convencer Isabela de que nada falaria e que lhe seria fiel.
Ela acreditou.
Mal sabia que tinha sob seu tecto uma grande inimiga que, a qualquer momento, a apunhalaria pelas costas.
Todos se reuniram na sala e ouviam Humberto contar seu pesadelo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 23, 2017 8:57 pm

Patrícia sentiu que alguma coisa estava errada com o pai e o aconselhou:
— Por que não vai connosco ao centro?
O senhor precisa de uma consulta.
Os sonhos, em sua maioria, são as lembranças do que vimos e vivemos no mundo astral.
Se o senhor viu a minha mãe e alguns espíritos com semblantes negativos, é sinal de que ela não tem boas companhias.
— Você sabe que não acredito nessas coisas de espiritismo.
O que tive só foi um pesadelo mesmo.
Não nego que me impressionou, mas sonhos são ilusões da mente, e não têm nenhum significado.
Patrícia encerrou a conversa e foram jantar.
Isabela mal conseguia se conter e olhava muito para Fernando, porém só Morgana percebia.
Juvêncio, seu acompanhante espiritual, havia cedido ao grupo poderoso de Romário, e agora fazia parte do plano.
Naquele momento, ele lhe inspirava ideias sensuais:
— Você precisa fazer amor ainda hoje com Fernando, mas, se não conseguir, faça com seu marido mesmo.
Pense no Fernando e use o Humberto.
Isabela sentia seu desejo aumentar; estava quase incontrolável.
Mal conseguiu comer.
Quando todos se despediram e ela foi para o quarto, agiu impetuosamente e levou Humberto para a cama.
Beijaram-se com paixão e, quando tudo estava para acontecer, Humberto parou.
Ela, percebendo o que ocorria, perguntou:
— Por que, Humberto?
Nunca isso nos aconteceu.
Por que logo hoje, que estou tão carente?
Ele estava com muita vergonha.
Sentou-se do outro lado da cama e colocou as mãos no rosto.
Orgulhava-se de ser conquistador e viril.
Nunca, em todas as suas conquistas aquilo havia acontecido.
Estaria ficando velho?
O certo era que ele estava com receio de olhar o rosto de Isabela.
Limitou-se a dizer:
— Não sei, hoje não foi um bom dia pra mim.
À tarde aquele pesadelo, e agora esse facto horrível.
Não sei o que lhe dizer.
Devo estar cansado ou, como diz a Patrícia, devo ter um encosto.
Ela se irritou:
— Não vê que isso não existe?
Você está com problemas e deve procurar um médico.
— Não! Isso jamais!
Vamos tentar outra vez.
Mais uma vez se deitaram e Isabela se esmerou, utilizando todos os truques que aprendera com madame Aurélia, mas nada deu resultado.
Humberto fez um grande esforço para não chorar.
Sentia-se humilhado.
Levantou-se, vestiu o roupão e foi fumar um charuto na sacada.
Isabela também se vestiu e foi para o bar.
Ingeriu dois copos de uísque e seus pensamentos estavam em Fernando.
Como ele era viril!
Se não fosse pobre, deixaria Humberto e iria viver com ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 23, 2017 8:57 pm

Mas ela jamais abdicaria de sua vida actual para novamente viver na pobreza.
E se aquele problema com Humberto continuasse?
Ela não poderia prescindir de sexo e teria de se encontrar mais vezes com Fernando.
Sentindo o desejo aumentar, tomou mais uma dose da bebida e voltou ao quarto.
Já na cama, percebeu que Humberto fingia dormir.
Ela também fez o mesmo e fechou os olhos, mas era em Fernando que pensava.
O domingo amanheceu bonito e Humberto agiu como se nada tivesse acontecido com ele.
Tomou café e foi sentar-se à beira da piscina, lendo o jornal.
Isabela aproximou-se e falou em tom áspero:
— Não pense em fingir que nada aconteceu.
Amanhã não volte a Brasília e vá consultar nosso médico de confiança.
Quero você como antes.
— E eu? Pensa que está sendo fácil para mim?
Estou me sentindo o pior dos homens, tenho vergonha até de procurar um profissional.
— Mas é isso que terá de fazer.
A conversa encerrou com a chegada de Daniel, que vinha nos braços de Eudásia.
— Onde está a Morgana?
— Precisou sair. Falou que precisava repor algumas coisas na despensa e que ia ao supermercado.
— Mas justo num domingo?
— É... Também achei estranho, mas não quis discordar.
Daniel começou a balbuciar algumas palavrinhas e logo Isabela esqueceu aquele acontecimento.
Todos os domingos Patrícia ia visitar sua avó, mas naquele dia a visita era especial.
Ela iria levar uma amiga muito querida que havia conhecido no centro para conversar e tentar reanimar Augusta, que agora praticamente não saía da cama em profunda depressão.
Sílvia era médium e trabalhava dando consultas e orientando as pessoas para que levassem uma vida melhor.
Tinha quarenta anos e estava separada.
Não tinha filhos e seu trabalho como voluntária no centro a deixava muito feliz.
Quando elas chegaram, a mansão estava às escuras.
Patrícia perguntou a uma empregada o porquê daquela escuridão, ao que ela respondeu:
— A dona Augusta não quer que abram as cortinas; diz que o sol tem lhe feito mal.
— Pobre vovó, não sei mais o que faço para ajudá-la.
Tenho medo que morra por causa desse estado.
Sílvia tentou animá-la:
— Vamos confiar em Deus.
Tudo Ele pode resolver, basta que para isso tenhamos fé.
Mas estou preocupada.
Pelo que me consta sua avó é muito católica.
Como permitiu que eu, uma espiritualista, viesse até aqui?
— Apenas mencionei que é terapeuta e que deseja ajudar.
Realmente minha avó é muito preconceituosa e, se soubesse que frequenta um centro espírita, não iria permitir sua visita.
Ela perdeu muita coisa com essa depressão, menos os preconceitos.
Elas entraram no quarto.
Dona Augusta nem de longe parecia àquela senhora bonita, elegante, que gostava de passeios, viagens, que era activa e falante.
Agora se assemelhava a um farrapo humano.
Jogada na cama, parecia ter envelhecido uns dez anos.
Branca feito cera e com profundas olheiras, ela saudou as visitas:
— Sempre você, Patrícia, que nunca me deixa só.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 23, 2017 8:58 pm

Só não morri ainda porque tenho o seu amor.
— Não diga isso, vovó.
A senhora ainda vai viver muito.
Agora vou lhe pedir para abrir essas cortinas.
Está escuro e a Sílvia gostaria de conversar com a senhora.
Ela fez sinal afirmativo com a cabeça e o quarto se iluminou.
Augusta fechou um pouco os olhos mostrando que estava incomodada com a claridade.
Sílvia fez intimamente uma prece e pediu auxílio de Deus e dos amigos espirituais.
Ela viu a freira que estava colada a Augusta e observou que ela percebeu que tinha ido lá para ajudar.
Logo um círculo de luz azulada cobriu o corpo de Sílvia e irmã Celeste não conseguiu envolvê-la.
— Como se sente dona Augusta?
— Bem. Só quero que me deixem em paz e sozinha.
— Ninguém pode estar bem deitada em uma cama o dia inteiro, sem querer sair, ver a luz do sol e participar desta vida que é tão bonita.
A senhora está desistindo de viver e isso é muito ruim.
Tem de reagir.
Ela começou a chorar.
— Não consigo.
Sinto que minha vida acabou.
Não tenho mais o que fazer, minha filha morreu, tudo está sem sentido.
Só me resta ficar na cama até que a morte me chegue como alívio.
— E um direito que a senhora tem, mas essa escolha está deixando-a muito infeliz, e a infelicidade é um estado antinatural.
Fomos criados para a felicidade.
Deus nos colocou em um mundo bonito, rodeado de plantas, flores, com um lindo sol que nos aquece e ilumina.
Deu a cada um o direito de ser feliz, evoluir, e a senhora está desperdiçando isso.
Não acha que está sendo ingrata com a vida?
— Não diga isso, tenho muita fé.
Mas já estou velha e os velhos não servem para nada.
Como é horrível o entardecer de uma existência!
Sílvia não se deu por vencida.
— A senhora está sendo dramática e preconceituosa.
A velhice é a fase de maturidade espiritual de todos nós.
Longe de ser ruim, ela é um bem.
E a fase na qual podemos ser o que somos sem preocupações ou medos; é o tempo de colher os frutos de nosso aprendizado sobre a Terra.
Ademais, quem envelhece é o corpo, porque o espírito fica sempre jovem e todos nós somos jovens, seja em que idade for.
A senhora se engana quando diz que os velhos não servem para nada, o que conta mesmo é a idade mental que cada um tem.
Há jovens que já envelheceram e há idosos com a mente muito jovem, são activos, vivem rodeados de amigos, trabalham e têm o respeito de todos.
Tudo vai da crença de cada um.
Acreditar na velhice atrai falta de oportunidades, desrespeito, rejeição, mas tudo depende de nós.
Sua vida não acabou porque a senhora tem sessenta ou setenta anos; há coisas agradáveis e boas para se fazer em qualquer idade, basta que deixemos o preconceito de lado, não acha?
Dona Augusta parecia pensar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 23, 2017 8:58 pm

— Você diz coisas bonitas, mas a velhice é um facto, e com ela chegam às doenças, os remédios, o desprezo dos mais jovens...
— Isso tudo depende do pensamento de cada um.
Há pessoas idosas que têm excelente saúde, até mais do que certos jovens.
São respeitadas e ouvidas pelos mais novos.
Aonde vão têm amigos das mais diferentes idades.
Já se perguntou por que isso acontece?
Por causa das crenças que elas carregam.
Quem acredita na velhice como um mal, como um fardo doloroso e difícil, realmente vai atrair as doenças, o desprezo e o abandono.
A senhora quer viver assim?
— Na verdade não, é que não tenho forças.
Ando tão desanimada...
— Para sair dessa situação é necessário força de vontade e colocar Deus em seu coração.
Procure se ligar a ele por meio da prece; esse será o primeiro passo.
— Mas eu rezo todos os dias.
— Não falo da oração mecânica e decorada, digo da oração que vem de dentro, aquela feita com o coração; essa funciona de verdade.
O segundo passo é levantar dessa cama e retomar sua vida de antes.
Volte a ser a pessoa que era: elegante, arrumada, activa, bem disposta, e logo vai se livrar dessa depressão que a invade.
— Não tenho forças...
— Tem sim.
Todos temos a força do mundo quando realmente queremos alguma coisa.
Sua força reside em seu coração, e seu coração quer a felicidade.
Ela esboçou um sorriso.
— Muito obrigada.
Sinto-me melhor.
Sílvia se despediu e saiu do quarto, mas dona Augusta fez questão de lhe pedir que voltasse outras vezes.
Já na sala lanchando com Patrícia, ela disse:
— Não se anime muito.
Hoje ela ficará um pouco bem, mas amanhã voltará aos mesmos problemas.
O que ela está passando é difícil e demorado para curar.
— Ela está obsidiada?
— Está com depressão profunda, acima de tudo.
Claro que nesses quadros há sempre a interferência de obsessores, mas sua avó está clinicamente depressiva.
Já lidei com muitos casos assim e sei que só um bom psiquiatra pode resolver.
— E a ajuda espiritual?
— É também essencial, mas não dispensa a ajuda médica, de forma alguma.
A depressão é uma doença séria e tratada no meio espírita com preconceito.
Acha-se que qualquer manifestação dela é obsessão e, às vezes, impede-se que o paciente recorra à medicina terrena, que é indispensável em muitos casos.
— Mas não há casos em que o problema é só espiritual?
— Há sim, e os médiuns experientes sabem diferenciar uma situação da outra.
Nos casos em que há apenas obsessão, o tratamento médico pode até piorar os sintomas, mas não é esse o caso de sua avó.
— No caso dela, que adoeceu apenas no físico, o que causa a depressão?
— Alguns estudiosos teimam em dizer que a depressão é o produto da disfunção das substâncias químicas responsáveis pelo humor e dos neurotransmissores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:02 pm

Mas, pelo conhecimento espiritual que temos adquirido, podemos afirmar que eles estão trocando o efeito pela causa.
A depressão é uma doença da alma e acontece quando as pessoas se sufocam e não atendem aos anseios mais íntimos de seu espírito.
A alma se agita e quer se libertar; a depressão é o grito da alma sufocada.
— Toda depressão começa na alma?
— Sim. Quando estamos distantes de nossa essência, magoados, fazendo coisas por obrigação, vivendo uma vida diferente daquela que nossa alma pede, aparece o vazio, a solidão e depois a depressão.
Mesmo quem diz não ter motivos para estar deprimido, se for olhar para dentro de si com realismo, vai saber a causa.
Patrícia estava surpresa:
— E o que pode ter levado a minha avó a esse estado?
Ela vivia tão bem!
— Não sei, mas, pelo que pude perceber, ela está assim por mágoa.
Alguém a magoou profundamente e ela tem se sentido pequena, inferior.
Com isso sufocou a alegria e entrou em depressão.
— Então vamos tentar extrair isso dela.
— Não é bom.
Para quem está em depressão profunda, revolver as mágoas só vai piorar o estado.
O melhor que temos a fazer é esperar essa fase passar e, quando ela estiver melhor, voltaremos a esse assunto.
Quando o paciente melhora, ele tem condições de perceber como atraiu a doença e modificar a causa.
Mas isso só pode acontecer quando essa fase severa passar.
As duas continuaram conversando até a hora do almoço.
Sílvia voltou para casa e Patrícia almoçou na casa da avó, que não saiu do quarto.
Morgana não foi ao supermercado, como havia dito, e sim à Mansão de Higienópolis.
Nos fins de semana as mulheres se arrumavam mais que o habitual e madame Aurélia tinha trabalho dobrado.
Mesmo assim, quando Morgana chegou, foram para o quarto.
Luana também não perdia a ocasião e estava junto.
Nunca simpatizara com Isabela e vê-la feliz e rica causava-lhe grande inveja.
Auxiliar naquela vingança seria um prazer ao qual ela não se poderia furtar.
— Madame, tenho algo importante a lhe contar — começou Morgana com expressões de mistério para valorizar ainda mais o que iria dizer.
O que tenho a dizer pode mudar completamente o curso dos nossos planos.
Madame Aurélia estava curiosa.
— O que pode ser?
— Descobri ontem que Isabela trai o senador com Fernando, um rapazinho que está noivo da Patrícia, filha dele.
Com essa informação nas mãos, podemos desistir de envolver a criança inocente e acabar com ela de outra forma.
Aurélia pareceu reflectir, depois disse:
— E uma informação e tanto, mas acho que não devemos desistir de nossa estratégia.
Queremos ver Isabela sofrer, e, se contássemos a Humberto dessa traição, o máximo que poderia acontecer seria ela ser expulsa de casa.
Não! Eu quero mais, quero vê-la amargar a dor de perder um filho e, mesmo rica, não poder ser feliz.
Luana concordou.
— Também acho, não podemos desistir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:02 pm

Olhando para Morgana fixamente, Luana completou:
— Estou vendo que está toda medrosa em matar uma criança e está querendo voltar atrás.
Saiba que se isso acontecer nós a consideraremos uma traidora e aqui não colocará mais os pés.
Madame Aurélia vociferou:
— E, se nos trair, não viverá para saborear sua traição.
Sabe muito bem do que sou capaz.
Se tenho coragem suficiente para tramar a morte de um menino inocente, imagine o que não farei com você.
Ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Por que fora se meter naquilo?
— Mesmo assim, sua informação não foi inútil — comentou Aurélia.
Assim que Daniel morrer acharemos uma maneira de fazer Humberto saber que sua mulher o trai.
Daí, sem o filho e sem riqueza, ela acabará com a própria vida.
Morgana estava estupefacta com tamanha crueldade.
— Para que tanto?
Afinal, o que Isabela lhe fez não foi tão grave.
Humberto agiu muito pior.
Foi ele quem tirou ela daqui com toda a arrogância — ponderou.
— Não sei...
Sinto um ódio muito grande por ela.
Sua arrogância e falta de escrúpulos merecem punição.
Já Humberto eu não consigo odiar.
Compreendo os homens, sei como são quando se envolvem com mulheres da espécie de Isabela.
Morgana não protestou; sentia medo de ficar contra uma mulher tão perigosa.
Quando deixou a Mansão, sentia-se mal.
Sua cabeça rodava e seu estômago estava enjoado.
Como fora entrar numa vingança tão sórdida como aquela?
Mas agora tinha de ir até o fim.
Se recuasse, coisas horríveis poderiam acontecer com ela.
Foi ao supermercado, pois não podia chegar em casa sem algumas compras.
No caminho, ia pensando no ódio de Aurélia e não conseguia entender como atitudes aparentemente pequenas de Isabela tinham despertado uma sede de vingança tão grande naquela mulher.
Ela não sabia que o ódio de Aurélia vinha do inconsciente, estava enraizado em acontecimentos de vidas passadas, quando vivera na França e tivera seu filho morto por culpa de Nathalie, que era Isabela reencarnada.
Inconscientemente, queria se vingar por ter perdido o filho matando Daniel, o ser que sua inimiga mais amava no mundo.
Também ela não conseguia odiar Humberto porque naquele passado longínquo ele fora seu filho, Henry.
Chegando em casa, Morgana deu algumas explicações que logo foram aceitas por sua amiga.
Foram almoçar e Morgana insistiu em dar a comida a Daniel, tarefa que era de Eudásia.
O menino, muito alegre e com olhos vivos, começou a comer.
Sem que ninguém percebesse, Morgana destampou um pequeno frasco de vidro que continha um pó e o derramou sobre a comida.
Ninguém viu nada.
Uma hora depois da refeição, Daniel começou a vomitar.
Fizeram chás, mas nada resolveu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:02 pm

Levaram-no ao médico, que diagnosticou perturbações estomacais.
Prescreveu alguns medicamentos e a criança melhorou.
Isabela abalou-se muito e, preocupada, nem procurou o marido durante a noite, o que para ele foi um alívio devido a sua impotência.
A semana transcorreu calma, excepto por Daniel, que se mostrava apático, não brincava como antes e quase não comia.
Na quinta-feira, ele piorou.
Isabela ficou desesperada.
Ver seu filho sofrer era o que mais a deixava abalada.
Outra vez foi ao médico, que a aconselhou a ter calma e falou que esses factos sempre acontecem uma vez ou outra na infância.
Todavia, no pouco que Daniel comia o veneno terrível e que matava lentamente era inserido.
Ele voltava a vomitar e passar mal, mas ninguém podia supor que Morgana estivesse por trás daquilo.
Isabela entrou em depressão e Humberto voltou de Brasília para ficar com ela.
O menino foi internado, mas depois de três dias veio a falecer.
Ninguém suspeitou de envenenamento e os médicos disseram que o menino tinha o aparelho digestivo fraco e por isso sucumbira.
Isabela parecia viver um sonho.
Nada a fazia parar de gritar e chorar; ela entrou em terrível desespero.
Abraçada com ele no pequeno caixão, ela dizia:
— Meu filhinho, por que isso aconteceu?
Você era a minha razão de viver, tudo que fiz na vida foi por você.
Por que me deixou?
O corpinho inerte estava banhado de lágrimas daquela mulher que, pela primeira vez na vida, despertava ante a dor e o sofrimento.
Ela continuava:
— Não me deixe filho. O que vou fazer sem você?
Sem seu sorriso, sua alegria, suas brincadeiras?
Naquele instante, os espíritos de Juvêncio e seus amigos riam muito do sofrimento de Isabela.
Todavia, Flaviana estava profundamente abalada e desistiu de sua vingança.
Ela sabia muito bem o que era perder um filho e Isabela já havia sido punida devidamente.
Vendo-a sofrer daquela forma, ela percebeu que nada mais poderia fazer ali e resolveu ir embora, não sem antes acompanhar o sepultamento de Daniel.
Diana e Gabriel estavam lá e traziam Daniel adormecido no colo.
Eles sabiam que muito teriam de fazer até que ele recuperasse a forma adulta e pudesse ajudar sua mãe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:03 pm

15 - ENCONTRANDO A ESPIRITUALIDADE
Isabela entrou em profunda depressão após a morte do filho.
Materialista, ela acreditava que tudo acabava com a morte e não conseguia entender por que seu filho tão pequeno havia morrido daquela maneira.
Passava os dias na cama e nem a companhia de Morgana lhe dava um pouco de ânimo.
Ao seu lado, assediando-a, estavam Juvêncio, Romário e outros espíritos que faziam aumentar sua sensação de desespero.
Flaviana havia ficado muito condoída com o que Isabela passara e resolvera abandonar a casa.
Naquela tarde, andando com Nicodemos por uma rua movimentada, ela não sabia o que fazer.
— Não sei para onde vou agora que me sinto vingada.
Descobri que não estou mais feliz por isso, muito pelo contrário, sinto uma insatisfação, um vazio no peito, ainda mais quando lembro o que é perder um filho.
Nicodemos retorquiu:
— Vocês mulheres não sabem o que querem, sempre estão insatisfeitas.
Mas agora tenho de lhe dizer que seu tempo terminou.
Terá de nos servir em nossa cidade.
Eu lhe acompanhei durante meses nessa situação e agora terá de retribuir.
Teodoro está mandando buscá-la.
Ela ficou assustada.
Não queria morar naquele lugar horrível e sem higiene.
— Não posso, não vou.
— E o que veremos.
Sou seu amigo, mas, se não fizer o que é certo, quem vai se dar mal sou eu.
Nicodemos parou perto de um banco, sentou e colocou as duas mãos na cabeça, fechando os olhos.
Parecia estar em concentração.
Flaviana não entendeu o que ele fazia.
De repente, um vulto escuro apareceu e ela reconheceu o rapaz a que fora apresentada quando chegara à cidade do umbral. Era o chefe.
Ele a olhou com olhos de ódio e vociferou:
— Você ocupou um dos nossos servidores em longo prazo.
Não pense que agora vai escapar e fazer o que quer.
Virá comigo e trabalhará até pagar todas as horas que Nicodemos ficou com você.
Se não vier por bem, virá por mal.
Tenho como levá-la mesmo contra a sua vontade.
Ela estava aterrorizada.
Nunca havia lidado com pessoas como aquelas.
Tentou correr, mas Teodoro lançou-lhe uma energia que a fez se sentir imóvel.
Quanto mais tentava se mexer e fugir, mais percebia que era inútil.
De repente lembrou-se de Deus e percebeu que só ele poderia salvá-la naquele momento.
Num gesto desesperado começou a rezar:
"Deus, meu pai, vem em meu socorro nesse momento de aflição. Estou arrependida.
Sei que a vingança não me trouxe felicidade e quero mudar desejo encontrar a paz.
Não permita que o mal invada minha vida, me protege, livra-me desses inimigos".
Aquela oração simples teve o poder de deter Nicodemos e Teodoro, que já se aproximavam para capturá-la.
Uma luz azulada a envolveu e eles não puderam se aproximar.
Do meio de uma luz branca muito forte surgiu Diana.
Finalmente, Flaviana, encontrou o caminho certo.
Seu arrependimento sincero muito a ajudou nesse momento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:03 pm

— Agradeça a Deus; pode vir connosco.
Flaviana chorava muito.
Diana retirou as correntes que a prendiam e as fez desaparecer; junto com elas, Teodoro e Nicodemos também sumiram.
Abraçadas, Flaviana soluçava:
— Não sei como agradecê-la, amiga.
Sei que não mereço tanta ajuda. Fui vingativa e desejei o mal a Isabela.
Hoje sei que estava errada.
Vendo-a sofrer tão amargamente, não fiquei feliz.
Como estava enganada!
Diana sorriu.
— Você buscou a vingança porque acreditava que tinha sido vítima.
Mas vítima ninguém é.
Quem busca pagar o mal com o próprio mal tem muito que sofrer.
Felizmente se arrependeu na hora certa, se não fizesse assim não a poderíamos defender e iria sofrer na escravidão com aqueles irmãos menos esclarecidos.
Toda vingança prejudica primeiro a quem a pratica; hoje você sabe disso.
— Agora desejo ir para aquela colónia onde estão meus filhos. Vamos?
— Ainda não será possível.
Primeiro você vai permanecer num Posto de Socorro muito próximo da Terra e, quando for possível, viremos buscá-la.
Flaviana ficou triste.
— Esperava ver logo meus filhos.
— Deverá ter paciência.
Você acaba de sair de uma situação muito precária.
Estava se alimentando por intermédio dos encarnados, sugando as energias dos alimentos; emagreceu e está em um estado que não lhe permite ainda viver em nossa colónia.
No Posto de Socorro Aliança você receberá os primeiros socorros, aprenderá a ajudar e, quando estiver melhor, viverá connosco.
Ela recomeçou a chorar.
Diana a abraçou e juntas desapareceram em meio aos transeuntes.
**********
Isabela estava sozinha e em pranto copioso quando ouviu batidas leves na porta de seu quarto.
Ela gritou áspera:
— Deixem-me em paz!
A porta se abriu e Fernando entrou.
Aproximou-se da cama e sentou.
Quando ela percebeu que era ele, seu rosto se alegrou.
Ele a abraçou e trocaram longos beijos.
Olhando-o firme nos olhos, ela disse:
— Veja como estou.
A mulher que você conhecia morreu junto com aquela criança.
Peço que me esqueça, que este seja nosso último beijo.
Ele, muito nervoso, retrucou:
— Não diga isso.
Você vai levantar dessa cama e reviver para mim e para o nosso amor.
Nada pode ser maior do que o que sentimos um pelo outro.
Aquelas palavras tiveram o dom de acalmar a alma sofrida de Isabela.
— Sinto que não tenho mais forças para nada.
Descobri que a riqueza e o luxo de nada valem sem meu filhinho tão inocente.
Não quero mais viver.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:03 pm

— Não diga isso. Você é cheia de vida e me ensinou o que é o verdadeiro amor.
Tenho de confessar que estou amando você.
Ela não podia acreditar.
— Você nunca disse isso para mim.
Não brinque com meus sentimentos, não quero que diga que me ama só porque estou numa cama em depressão.
— Eu a amo de verdade.
O que era apenas uma atracção e uma aventura transformou-se num sentimento verdadeiro dentro de mim.
Você acha que estaria me arriscando a estar agora em seu quarto sozinho com você se não fosse por amor?
— Você me fez sentir bem, mas não posso ser mais quem eu era.
Meu filho foi à maior razão dos meus actos.
Tudo o que fiz foi por amor a ele.
Queria que crescesse e se tornasse um homem, para ensiná-lo a ser duro, inflexível, pisar em todos que fossem obstáculos para seus planos.
Mas não pude vê-lo crescer.
Esse Deus mau e cruel o tirou de mim. — Dizendo isso, ela voltou a chorar compulsivamente.
Fernando, apressado, pois estava aproveitando que Patrícia estava no banho, finalizou:
— Tenha forças.
Seu filho se foi, mas eu estou aqui.
Nós nos amamos e esse amor é mais que motivo para você continuar vivendo.
Amanhã vamos nos encontrar no lugar de sempre.
Estarei esperando-a as três.
Ele saiu e Isabela levantou-se.
Entrou na banheira e começou a meditar.
Seus pensamentos estavam confusos.
Ter visto Daniel morrer sem que pudesse fazer nada a deixara em um estado muito grande de tristeza.
Ela nunca havia sentido uma dor tão grande.
Mas também tinha o amor de Fernando; se ele havia se declarado era porque realmente a amava.
De repente, pensou que poderia ainda ser feliz, mesmo com o vazio que seu filho ia fazer em seu peito.
Mesmo com todo o dinheiro e com todos os recursos da medicina, ninguém o salvara.
Naquele instante, ela sentiu um grande ódio de Deus e da vida.
Se ela já era dura e má, de agora por diante seria pior.
Quando saiu da banheira estava decidida a destruir Patrícia para ter Fernando só para ela; sabia que conseguiria.
Só outro filho poderia suprir a falta de Daniel, mas ela nem pensava em tê-lo com Humberto.
Decidiu naquele momento que teria um filho com Fernando.
Horas mais tarde, quando desceu, todos se surpreenderam.
Ela estava bonita e bem produzida.
Morgana e Patrícia, que não esperavam vê-la assim em tão pouco tempo, tiveram de se conter e nada perguntar.
Se ela estava melhor não queriam magoá-la com recordações do filho.
No dia seguinte, quando estava pronta para ir ao encontro de Fernando, a empregada veio lhe dizer que havia uma mulher querendo falar com ela e que a aguardava na sala.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:03 pm

Isabela não podia imaginar quem seria e desceu apressada, não poderia perder a hora.
No alto da escada seu coração disparou e ela parou estarrecida.
Madame Aurélia estava à sua frente.
Sorrindo ironicamente, ela comentou:
— Muito bonita esta mansão.
E uma pena que não lhe pertença.
Qualquer dia desses Humberto vai voltar a frequentar minha casa e colocará outra em seu lugar; é apenas uma questão de tempo.
Isabela trincou os dentes de ódio.
— O que deseja aqui?
Saiba que não é bem-vinda.
Retire-se imediatamente ou mandarei os seguranças a arrancarem à força.
O que prefere?
— Não fique nervosa.
Só vim para lhe dizer que está sendo castigada por Deus, por isso perdeu seu filho.
Não sabe como fiquei alegre quando soube que ele morreu, e não podia deixar de vir aqui lhe dar meus pêsames.
Isabela, com muito ódio ia avançando para agredi-la quando se lembrou do seu encontro.
Mesmo assim, proferiu com a voz rouca de ódio:
— Um dia lhe disse que não viveria muito para me humilhar ou rir de mim.
Pois hoje assinou sua sentença de morte.
Saia agora de minha casa e me espere; vai saber do que sou capaz.
— Não tenho medo de suas ameaças.
Sairei porque estar com você me causa náuseas.
Passe bem.
Ela saiu e Isabela chegou a chorar de ódio.
Aquela mulher tivera coragem de ir até sua casa tripudiar sobre a morte de uma criança inocente.
Mas, a partir daquele dia, ela viveria para levá-la à morte.
Já havia matado duas pessoas e não haveria problema em matar mais uma.
Também queria se livrar de Patrícia, mas não pensava em matá-la.
Tinha outros planos para ela.
Levantou-se e foi refazer a maquiagem; queria estar impecável para Fernando.
Já na saída, quando ia entrando no carro, viu uma mulher de aspecto miserável que passava sobre sua calçada, certamente esmolando.
Seus olhares se encontraram e ela reconheceu sua mãe, Lourdes.
A velha e doente senhora deixou uma lágrima cair dos seus olhos e, virando-se para ela, falou emocionada:
— Há quanto tempo não a vejo, Clotilde.
Onde você está? Por que está com essas roupas, filha?
Ela ficou nervosa.
O que menos queria era um encontro com alguém de sua família.
Fingiu não conhecê-la.
— A senhora é uma louca que está me confundindo com outra pessoa.
Saia da minha calçada, aqui não é lugar para mendigos.
— Por que está agindo assim comigo?
Sou sua mãe, fui eu quem a colocou no mundo.
Abrace-me; sinto muito sua falta.
Desde o dia que desapareceu, vivo na esperança de encontrá-la.
Ao falar isso, Lourdes se aproximou e abraçou Isabela, mas ela foi mais ágil e a empurrou tão forte que a velha senhora caiu no chão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:04 pm

Virando-se para o motorista, ordenou:
— Vamos, já estamos atrasados.
Não tenho tempo a perder com esses pedintes.
O carro partiu e Lourdes ficou jogada no chão, chorando e se sentindo humilhada.
Patrícia estava acabando de chegar e, ao vê-la, correu para auxiliá-la.
— O que faz aí nesse chão?
Ela ficou sem jeito, quem seria aquela moça?
— Eu caí. Mas não se preocupe, estou bem.
— Não quer entrar e tomar um pouco de água?
A senhora deve estar com fome.
Lourdes sorriu.
Uma estranha tratava-a bem, enquanto sua filha a humilhava profundamente.
Quem seria essa moça com rosto angelical?
— Não desejo entrar.
Estava andando, tentando encontrar alguma coisa para comer.
Não quero incomodar.
— Não será incómodo algum.
A senhora entra comigo e vou lhe arrumar uma cesta com alimentos, assim não precisará andar mais.
A senhora tem idade!
Porque não manda seus filhos pedirem em seu lugar?
Lourdes olhou para um ponto distante e comentou:
— Já não tenho ninguém.
Meus filhos foram embora, alguns morreram.
Tinha uma filha que desapareceu.
Moro só num barraco, mas não quero que se preocupe comigo.
Você é moça e não tenho o direito de envolvê-la em meus problemas.
Patrícia teve compaixão daquela alma pobre e solitária e se calou, pois percebeu que falar daqueles problemas estava sendo penoso para ela.
Quando entraram na mansão, o segurança olhou para Patrícia e alertou:
— Seu pai não vai gostar nada de saber que colocou uma mendiga dentro de casa.
Essas pessoas são perigosas, não é prudente o que a senhora vai fazer.
— Não se preocupe Albano.
Assumo a responsabilidade.
Olhe bem para ela, acha mesmo que é perigosa e capaz de fazer algum mal?
Albano concordou a contragosto.
Patrícia levou Lourdes para a mansão e ela ficou encantada.
Nunca, nem em seus maiores sonhos havia imaginado um lugar como aquele.
O que Clotilde fazia ali?
Tentaria descobrir.
Na cozinha, Patrícia lhe serviu um lanche, enquanto mandou que fizessem uma cesta com mantimentos.
Enquanto comia, Lourdes de uma forma que procurou parecer casual, perguntou:
— Vi quando a dona da casa saiu muito arrumada e bonita.
Ela não tem idade para ser sua mãe.
Será sua irmã?
— Não, ela é minha madrasta.
Minha mãe morreu há algum tempo e meu pai se casou novamente.
— Muito bonita sua madrasta.
Como se chama?
— Isabela e é realmente muito bonita.
Lourdes se calou.
Por que sua filha usava outro nome? Resolveu não insistir com as perguntas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:04 pm

Terminou o lanche e agradeceu o que Patrícia lhe tinha feito.
Quando saiu da mansão, estava se sentindo muito humilhada e infeliz.
A vida lhe havia tirado tudo, até o amor de sua filha, que agora era casada e não queria mais saber dela.
De volta ao barraco, Lourdes chorou.
Sentiu dores fortes no peito e teve um infarto fulminante.
Desencarnou e foi levada a um Posto de Socorro ainda próximo da crosta terrestre.
**********
No carro, Isabela ia enraivecida.
Aquele não tinha sido um bom dia.
Primeiro a visita incómoda de Aurélia, logo depois sua mãe.
O que iria fazer se ela insistisse em procurá-la novamente?
Se isso acontecesse, a procuraria e lhe daria uma boa quantia em dinheiro, mas se a mãe insistisse, teria de usar meios mais drásticos para afastá-la.
Tentou não pensar mais naquele assunto, todavia de hora em hora, as imagens de Aurélia e Lourdes voltavam a sua mente.
Pediu ao motorista que a deixasse em uma loja como de costume e logo depois tomou um táxi, indo em direcção ao apartamento que havia alugado para os encontros com o amante.
Quando chegou, encontrou Fernando bebendo uísque.
Ela o abraçou e o beijou repetidas vezes nos lábios, depois falou emocionada:
— Só você foi capaz de me tirar da depressão.
Sem você não seria feliz.
Novamente se abraçaram e esquecidos do mundo lá fora, foram para a cama.
Quando terminaram, Isabela, deitada a seu lado, confessou:
— Não quero perdê-lo.
Quero que jure que, mesmo casado com Patrícia, vai continuar com o nosso amor.
— Já lhe disse que a amo e que estou me casando com ela porque preciso ter uma vida estável.
Continuaremos como sempre até que, de posse de tudo que desejo, possa me separar dela.
Isabela demonstrou tristeza.
— Minha vida está uma infelicidade!
Pelo menos não vou ter de me sujeitar a ter relações com o Humberto.
Você sabia que ele não tem conseguido?
Fernando sorriu maliciosamente.
— Quer dizer que meu sogro ficou impotente?
— Isso mesmo, para minha felicidade.
Só nos seus braços me sinto completa.
— Eu também, meu amor.
Pelo menos agora, com o Humberto "pra baixo", não vou ter de dividi-la com outro homem.
Não sabe como me sinto mal em saber que todas as noites ele a tem.
Mas mudemos de assunto.
Fale-me como anda sua cabecinha.
Sei que melhorou daquela depressão que estava querendo envolvê-la.
Enquanto ela comentava a infelicidade de ter perdido o filho, ele pensava na maneira como se livraria dela no futuro.
Ele havia começado a gostar sinceramente de Patrícia e pensava em usar Isabela até quando lhe fosse conveniente.
Queria trabalhar em Brasília, casar em comunhão de bens e contava com Isabela para ajudá-lo.
Enquanto a estivesse satisfazendo, ele sabia que poderia contar com ela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:04 pm

Mas jamais se separaria de Patrícia.
Ela era tudo o que ele realmente tinha sonhado para a vida dele:
uma mulher rica, culta, bonita e inteligente.
O que ele poderia querer mais?
Os dias foram passando e Humberto, sempre que tentava ter relações com a mulher, não conseguia.
Isabela se esmerava para tentar tirá-lo daquela apatia, mas nada que ela fizesse estava tendo efeito.
Humberto se sentia desesperado.
Estava triste e resolveu se ausentar de Brasília para tratar da saúde.
Não podia deixar um receio ser mais forte do que seu bem-estar.
Procurou doutor Caldas, que o atendeu prontamente.
— Você está com inapetência sexual.
Melhor dizendo, está impotente.
Isso é normal e acontece com todos os homens em algum momento da vida.
Na maioria dos casos, a causa da impotência masculina está ligada a problemas psicológicos, contudo há também problemas físicos que podem ocasioná-la.
Humberto retrucou:
— Não estou com nenhum problema grave.
Sempre fui viril, me orgulhava disso.
Não sei por que isso foi acontecer comigo.
O doutor Caldas era um senhor de meia-idade muito simpático.
Sorridente, explicou:
— Não se preocupe.
Até rapazes podem ter esse problema.
Vou lhe prescrever um medicamento que tem resolvido praticamente todos os casos de impotência masculina.
Mas você vai fazer todos esses exames.
Precisamos ver se há algo em seu físico.
Naquele dia Humberto saiu animado do consultório.
Comprou o medicamento com uma certa vergonha e, ao chegar em casa, esperou ansiosamente à noite.
Mas qual não foi sua surpresa quando nada de diferente aconteceu.
Mesmo tendo tomado o remédio, como o médico lhe indicara, o problema continuava.
Humberto estava cada vez mais envergonhado perante Isabela.
Naquela noite, enquanto estava sentado de costas fumando seu costumeiro charuto, ele disse:
— Não sei o que está acontecendo.
Fui ao médico, tomei os remédios e nada mudou.
— Não se desespere meu bem.
O mais importante você já fez que foi a consulta com o doutor Caldas.
O remédio não fez efeito hoje, mas certamente fará amanhã.
Isabela fazia carinho nele sentindo-se aliviada.
Depois que conhecera a intimidade de Fernando, estava lhe sendo penoso manter relações com o marido.
Ainda assim, tentava se mostrar compreensiva e tolerante, como toda boa esposa deve fazer.
Foi com desespero que Humberto viu o problema continuar todas as noites, mesmo fazendo tudo que o médico recomendara.
Assim seguiram-se semanas.
Os exames deram resultados satisfatórios e ele não entendia por que continuava doente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:04 pm

Já ia tentar a alternativa extrema de implantar uma prótese quando o médico, mais sério que o habitual, lhe disse:
— Humberto, sei que somos amigos e, como amigos, tenho a liberdade de lhe dizer que seu problema pode ter uma outra causa.
Algo em que talvez você não acredite, mas peço que pense nessa causa com seriedade.
Seu problema pode ser espiritual.
Como sabe, sou espírita há muitos anos e tenho estudado certos fenómenos de interferência de seres desencarnados.
Sei que eles podem causar problemas físicos os mais variados até mesmo à impotência.
Você não tem nada no corpo físico, também não tem passado por problemas graves que o possam estar deprimindo.
Tudo leva a crer que seu problema seja obsessivo.
Humberto ouviu com atenção.
Caldas era um homem sério, dedicado, responsável; se estava dizendo aquilo, com certeza tinha um fundamento.
Mas ao seu lado estavam os espíritos de Juvêncio e Romário, insuflando-lhe ideias:
— Não acredite nesse velho louco.
O que ele diz não é verdade.
Logo você, um homem da política, vai acreditar em tamanha bobagem? — soprava um ao seu ouvido.
— Seja racional, Humberto!
Essa ideia de espíritos é falsa.
Esses seres não existem, são crenças de pessoas desocupadas — sugeriu o outro.
Imaginando estar pensando sozinho, Humberto protestou:
— Sei que o senhor é um homem de ciência, um homem sensato, mas não posso acreditar no que me diz.
Aliás, nem sei como um doutor pode se deixar levar por uma seita de pessoas desocupadas.
Isso é bobagem que só serve para mocinhas como minha filha, Patrícia.
Ela também acredita nisso.
O médico insistiu:
— Sei que está tentando ser racional, mas se estou lhe dizendo é porque quero seu bem.
Somos amigos de longa data e não desejo vê-lo ir de médico em médico sem obter uma solução.
Se for realmente o que imagino, a medicina nada poderá fazer.
Só um tratamento espiritual adequado pode sanar o problema.
Sei que sua filha também tem esses pensamentos.
Quase sempre a vejo no centro que, por coincidência, é o mesmo que frequento.
É uma jovem muito inteligente e sensível.
Não se deixe levar por preconceitos, Humberto.
Faça uma consulta.
Caso não se convença, então faça como achar melhor.
— Consulta?
— Sim. Lá no centro que frequento temos médiuns capacitados que dão consultas gratuitamente, mas jamais atendem problemas mesquinhos ou sem importância.
Eles atuam na área da desobsessão e, através de seus amigos espirituais, aconselham o tratamento mais oportuno.
Às vezes um tratamento de limpeza com passes magnéticos pode ajudar de forma definitiva; em outros casos é necessária uma intervenção mais directa com os espíritos que estão assediando a pessoa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:04 pm

Se for até lá, garanto que não vai se arrepender.
Tenho visto casos de meus pacientes que só se resolveram com ajuda espiritual.
Pense nisso.
Ele cocou o bigode e respondeu:
— Prometo pensar.
Todas as noites tenho esperanças de que tudo se regularize, mas nada acontece.
Vou dar mais alguns dias; caso não melhore, volto a procurá-lo.
Mas não desejo que minha filha saiba de nada; sinto receio.
— Não se preocupe.
A discrição é natural quando trabalhamos com a espiritualidade.
Pense bem, sua saúde está em suas mãos.
Quando Humberto saiu, o doutor Caldas rezou e pediu a Deus protecção para seu amigo, que sentiu estar envolvido por entidades sombrias.
Sua oração surtiu efeito e envolveu Humberto em uma camada de energia que os espíritos não conseguiram penetrar.
Juvêncio chamou o seu chefe em pensamento e logo ele apareceu.
Muito nervoso, ele falou:
— Nosso plano pode estar perdido.
Aquele médico idiota está tentando levar Humberto para um centro onde poderá se libertar de nossa influência.
O que faremos?
O homem sorriu de maneira macabra.
— Eles não conseguirão tão facilmente e até lá nosso plano de matar Isabela já estará realizado.
Temos de impedir que Humberto frequente esse centro.
Contudo, ainda que vá, os seres da luz não conseguirão libertá-lo rapidamente.
Pensa que é fácil afastar os ovóides?
Juvêncio pareceu pensar.
— Estou mais calmo.
O que devemos fazer agora?
— Continuem seguindo Humberto.
Não permitam que ele vá a esse lugar horroroso e encontre a espiritualidade.
Quero-o do nosso lado, quando desencarnar.
Dizendo isso desapareceu deixando Juvêncio e Romário, que se preparavam para voltar à casa de Isabela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:05 pm

16 - DE VOLTA AO MUNDO MAIOR
Foi com dedicação e amor que Diana e seus amigos recolheram o espírito de Daniel ainda em forma infantil e o conduziram à colónia onde viviam.
Ele ficou em uma câmara de vidro adormecido, recebendo no perispírito pulsos magnéticos que o faziam pouco a pouco recuperar a forma adulta.
Foi no hospital da Terra que esses espíritos amigos desfizeram os laços que prendiam Daniel ao corpo físico antes mesmo que ele exalasse o último suspiro.
Diana levara em seus braços aquele espírito que vivera pouco mais de três anos terrenos até o hospital que se encontrava no astral.
A porta se abriu e Gabriel entrou.
— Como ele está hoje, Diana?
— Está muito bem.
Continua adormecido, mas, como pode ver, já está recuperando a forma adulta e voltando a ser fisicamente quem foi na última encarnação.
Gabriel observou Daniel e notou que ele estava praticamente com as feições de Thierry, exactamente igual a quando vivera reencarnado na França.
— Por que ele está voltando a ser como era antes?
— É que ele não teve tempo de se tornar adulto na presente encarnação, então seu inconsciente está plasmando a última aparência adulta que teve.
Ademais, aquela reencarnação trouxe-lhe experiências muito fortes; é natural que isso acontecesse.
Gabriel perguntou a Diana o que tinha curiosidade desde quando ajudara Daniel a se livrar do corpo físico.
— Por que ele não teve tempo de crescer para viver os desafios necessários à sua evolução?
Diana explicou com sua paciência característica:
— Já falamos outras vezes sobre as causas das mortes prematuras, e Daniel não foge à regra.
Antes de nascer, ele pediu que desencarnasse cedo caso tivesse uma má educação que o fosse influenciar negativamente.
Mais uma vez, foi o medo de falir que ditou essa escolha.
Isabela prometeu levar vida digna e o instruir para o bem, de modo que, quando os desafios aparecessem, ele, munido de uma boa educação, pudesse vencê-los.
Todavia, Daniel se lembrava da personalidade de Isabela e com medo de cometer mais erros devido a uma orientação equivocada, solicitou voltar rapidamente.
— Mas não seria melhor ele continuar vivendo, vencer os valores errados e reajustar-se consigo mesmo?
— Era o melhor que poderia acontecer, mas infelizmente as pessoas no mundo agem pelo medo.
Esse sentimento tem impedido nosso crescimento como espíritos, nossa realização como pessoa, e atrasado nossa evolução espiritual.
O medo paralisa, e quem pára atrai o sofrimento.
No dia em que todos vencerem seus medos, aprenderem que o mundo não é mau, que é um lugar seguro, de paz e felicidade, certamente darão um passo definitivo rumo à evolução.
Infelizmente, as crenças negativas das pessoas têm causado todo o sofrimento que há em nosso planeta.
Quando entenderem que não nasceram para a infelicidade, tudo mudará; é apenas uma questão de tempo.
— Até quando Daniel vai ficar fugindo sem querer enfrentar os desafios que a vida vai lhe trazer?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:05 pm

— O livre-arbítrio é respeitado, mas até certo ponto.
Não podemos esquecer que quem comanda tudo no universo é Deus, por leis perfeitas e imutáveis.
Um dia vai chegar à hora de ele enfrentar o que é preciso e acabará evoluindo; se não for pelo amor, será pela dor.
Gabriel não estava satisfeito.
— Como o Departamento de Reencarnação permite que esses espíritos escolham vidas que em nada vão contribuir para seu progresso?
Diana elucidou:
— Aqui temos condições de escolher melhor do que quando estamos na Terra, envolvidos pelos problemas materiais.
Todavia, ainda sim podemos fazer escolhas erradas, movidas por valores falsos.
Se muitos escolhem correctamente os desafios que irão enfrentar no mundo, outros escolhem baseados em crenças negativas e acabam vivendo várias reencarnações que outros julgam perdidas, mas que na realidade não são.
Na vida nada se perde e, em cada uma delas, mesmo quando escolhemos supostamente errado, estamos nos tornando mais fortes, estamos nos imunizando.
Toda reencarnação é aprovada por Deus.
Se Ele permite que nos equivoquemos com as escolhas é porque sabe que delas vamos retirar lições preciosas.
O preguiçoso, que escolheu uma vida na ociosidade descobrirá, no além túmulo, o quanto estava enganado e aprenderá a valorizar o trabalho.
O egoísta que escolheu a dor para apagar suas culpas descobrirá decepcionado que o amor cobre a multidão dos pecados e que é unicamente por ele que se apaga o mal que se fez.
O medroso que escolheu a pobreza com receio de enfrentar as tentações da riqueza acabará percebendo que enterrou seu talento e terá de voltar atrás, aprender a produzir, ajudar a sociedade, conduzir ao progresso.
O ávido pelo poder que escolheu a riqueza unicamente para satisfação de seus desejos aprenderá que dinheiro é progresso espiritual, e não fonte de paixões e egoísmos, que nada produzem.
— Quer dizer que não era para existir o sofrimento?
— Não. O sofrimento e a dor são criados pelo próprio homem e pela sua condição inferior.
O mal só existe para aqueles que acreditam nele.
Há humanidade um dia entenderá isso e a Terra se transformará num paraíso.
— E onde fica a lei de acção e reacção?
Não devemos sofrer para pagar o mal que fizemos aos outros?
Diana sorriu.
— Essa é uma inversão de valores perigosa e que não nos leva ao bem verdadeiro.
A lei do retorno não visa punir, mas educar.
Quando agimos mal é porque não temos condições de fazer diferente.
Quem faria o mal se soubesse os seus resultados?
Para Deus, os maldosos, os assassinos, os mentirosos, os cruéis, os corruptos são crianças espirituais que estão agindo de acordo com o nível de evolução que lhes é próprio.
Como pai bom e justo que é, criou para essas pessoas a reparação pelo bem e pelo amor ao próximo.
É dessa forma, na boa acção e na mudança de atitudes, que temos a única chance de nos redimir completamente e aprender o valor da bondade.
A dor só aparece para quem insiste no mal, para quem se culpa para os que cultivam pensamentos negativos, para quem acha que tem de sofrer para pagar por enganos cometidos durante sua infância evolutiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 24, 2017 11:05 pm

Eis a grande causa do sofrimento humano.
Gabriel havia entendido.
Nesse momento, Daniel estava abrindo os olhos.
Finalmente havia despertado.
Diana se aproximou, abriu a câmara e perguntou:
— Como se sente?
— Um tanto atordoado.
Quem são vocês?
— Amigos que estão aqui para ajudar.
Você está dormindo há dias.
Não quer sair connosco?
Nosso parque é muito bonito.
— Sim, aceito.
Sinto que preciso andar um pouco.
Os três saíram e ele, como quase todos que desencarnam, fazia perguntas, sem entender o que se passava.
Diana e Gabriel respondiam com evasivas.
Eles sabiam por experiência que não podiam contar a todos que haviam morrido; em muitos casos tinham de esperar que a própria pessoa descobrisse sua real situação.
Depois do passeio, pararam diante de uma casa pequena e Diana explicou:
— Aqui será seu novo lar a partir de agora.
Entre e descanse; depois conversaremos.
Daniel ainda estava um tanto confuso:
— Não vou voltar àquele quarto?
— Você não precisa, não está doente.
Mas aqui há um quarto onde poderá deitar e dormir.
É bom que descanse.
Ele não insistiu.
Após entrar e examinar seu novo lar foi para a cama e deitou.
Mais uma vez um torpor o invadiu e ele dormiu e sonhou.
Sonhou que estava em uma cabana tendo um encontro amoroso.
As cenas se sucediam e ele se lembrou de Nathalie, percebendo que era com ela que se encontrava.
Sonhou que estava invadindo um castelo e que tirava a vida de um homem, depois surgiu à imagem dele assassinando uma senhora.
Outras cenas seguiram-se e ele se viu pequenino nos braços de Isabela e reviu a agonia de sua morte.
Nesse instante acordou com um susto e, com os olhos abertos, falou em voz alta para si mesmo:
— Lembrei, lembrei de tudo! Minha mãe, Isabela, é a mesma Nathalie de antes.
Fui assassino, traidor e cruel.
Em seguida, caiu em pranto sentido.
Chorou por horas.
No outro dia pela manhã, Diana e Gabriel foram visitá-lo.
Acomodados em uma espécie de sofá próximo à cama, eles iniciaram a conversa:
— Pelo visto, lembrou-se de tudo.
Como se sente? — perguntou Diana amavelmente.
— Não me sinto bem.
Muito pelo contrário, estou me sentindo culpado por tantos crimes que cometi no passado.
Minha morte foi uma fuga dos problemas que ia enfrentar no mundo.
Sinto-me perdido — confessou desalentado.
— Procure não cultivar a culpa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2017 7:58 pm

Tente elevar-se com suas experiências para poder auxiliar quem realmente precisa de você: Isabela.
— Sinto que preciso auxiliá-la, mas não sei como.
— Viemos aqui lhe dizer que você pode fazer isso e que vai contar com uma pessoa muito especial para ajudá-lo: sua avó, Lourdes.
Ela acaba de desencarnar e, assim que passar pelo sono reparador vamos nos reunir e encontrar a melhor maneira de auxiliar aquela que foi sua mãe.
Sou muito amiga dela de outros tempos e sei que não conseguiu ainda vencer suas fraquezas, porém não podemos desanimar.
Um dia ela vai despertar.
Contudo, até lá, temos muito que fazer.
Daniel se emocionou e naquele instante jurou para si mesmo que tudo faria para ver Isabela se regenerar.
Sentada em luxuoso sofá, Isabela chorava lembrando-se do filho que havia morrido.
A mansão estava silenciosa e naquele instante ela se sentiu muito só.
Nada tinha para reclamar da vida.
Era rica, estava casada, tinha um amante, mas nada daquilo servia para fazê-la feliz naquele momento.
Lembrou-se da mãe e de quando sentavam num tronco seco de árvore em sua favela para conversar.
Sentiu saudades dela naquele momento e chorou ainda mais.
"A vida me transformou num monstro, mas não tive culpa.
Tudo que fiz foi pensando no meu filho", reflectia, tentando consolar-se.
A luz do abajur foi acesa e ela percebeu que Morgana havia chegado com uma bandeja que continha chá e biscoitos.
— Coma, vai lhe fazer bem — aconselhou Morgana tentando levantar o ânimo da outra por se sentir culpada.
— Não sei o que se passa dentro de mim.
Sinto um vazio, um buraco que nada pode preencher.
Sinto que sem meu filho jamais terei a mesma alegria.
— Não vai lhe fazer bem ficar assim.
Pense que é rica que possui bens e que pode usufruir de tudo isso.
Além do mais, há Fernando.
Quer motivo maior para a felicidade?
— Confesso que só ele me dá ânimo para prosseguir nessa jornada.
A outra procurou conversar sobre o amante, pois sabia que lhe fazia bem.
— Pense que um dia você vai se ver livre do Humberto para sempre e poderá viver com ele onde quiser.
Isabela fez um ar de descrença.
— Essa vida me ensinou muitas coisas, e sei perceber o que vai ao coração dos homens.
Apesar de tudo, sinto que Fernando não me ama e desconfio que está começando a gostar da lambisgóia da Patrícia.
Sinto que está comigo apenas por interesse, mas não consigo deixá-lo, mesmo sabendo disso.
Infelizmente, estou apaixonada.
Morgana fingiu compreender.
— Sei como são essas coisas.
Também já me apaixonei uma vez, pouco antes de você chegar à mansão.
Ele era casado, mas me contentava apenas em ser sua amante.
Nós, prostitutas, não temos o direito ao sonho de amor e sempre soube que ele não iria ficar comigo.
Felizmente você teve sorte, encontrou Humberto, que a assumiu integralmente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2017 7:58 pm

— Mas não o amo.
Confesso que sentia uma atracção sexual por ele a princípio, mas, depois de conhecer a intimidade de Fernando, não posso suportar que me tome.
Tenho de dizer que estou adorando o facto de Humberto estar impotente.
— Ele não está conseguindo ter relações com você?
— Não, e estou dando graças a Deus.
Amanhã é o dia de ele chegar; espero que não tenha melhorado.
Patrícia chegou sorrindo com Fernando, aparentando muita felicidade.
Cumprimentaram as duas e subiram as escadas.
Isabela, com muito ódio atirou longe a xícara que segurava.
Morgana assustou-se.
— Você tem de se controlar; eles quase perceberam.
Quer colocar tudo a perder?
Se a Patrícia desconfiar, você estará perdida. Fernando não vai admitir que tem um caso com você e ela vai acreditar nele, e vocês vão se afastar.
E isso que quer?
Ela chorava agora de inveja e ódio.
Professou entre dentes:
— Vou tirar essa menina do meu caminho ou não me chamo Isabela; ou melhor, Clotilde.
Virando-se para Morgana, asseverou:
— Você vai me ajudar.
Traçarei um plano e na hora exacta vamos colocá-lo em prática.
Já perdi meu filho e não vou suportar perder o homem que amo.
— Conte comigo.
Mas, se quiser que as coisas dêem certo, deverá ser fria; não pode demonstrar o que sente por Fernando, principalmente quando Humberto estiver por aqui.
— Esse é um bom conselho.
Sinto que você é um anjo que a vida colocou em meu caminho.
As duas terminaram o chá e Isabela subiu sem sequer imaginar que iria ser traída por aquela que mais julgava ser sua amiga.
No outro dia, Humberto chegou e ela tentou ser paciente e estar bem-humorada.
Fernando estava cada vez mais íntimo da casa e da família, e durante o almoço parecia mais falante do que o habitual.
Isabela ficou desconfiada.
Quando foram para a sala, ele se virou para Humberto e, em tom solene, começou:
— Senhor Humberto, como já é do seu conhecimento, eu e Patrícia nos amamos.
Estamos há certo tempo juntos e gostaríamos de oficializar nossa relação.
Estou pedindo a mão de sua filha em casamento.
Gostaria de ouvir um sim de sua parte.
Humberto não estava surpreso.
Percebia que a filha estava apaixonada e sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acabar acontecendo, mas não deixou de dar seu discurso de pai.
— Antes de dar a resposta, gostaria de dizer que eu e Flaviana criamos Patrícia para a felicidade.
Se ela escolheu você, acredito que tem condições de fazê-la feliz, pois minha filha tem bom senso e não iria gostar de um rapaz que pudesse fazer sua infelicidade.
Como pai, torço para que ela seja feliz.
Se ela quer sê-lo a seu lado, que assim seja, e que tenham muita felicidade.
Têm a minha bênção.
Mas saiba que, se um dia fizer Patrícia sofrer, terá um inimigo.
Mesmo com o tom áspero das últimas palavras de Humberto, todos ficaram muito felizes.
Patrícia levantou-se, beijou o pai repetidas vezes, depois voltou a se sentar perto de Fernando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2017 7:58 pm

Humberto indagou:
— O que você faz da vida?
Suponho que tenha uma boa profissão, uma vez que deseja se casar.
Fernando esperava por aquela pergunta e estava bem preparado.
— Trabalho numa grande empresa e fui promovido.
Tenho o suficiente para dar um lar a sua filha e uma vida digna.
Mas não posso oferecer o conforto e o luxo aos quais ela está acostumada.
Nós conversamos e ela insiste para que moremos aqui depois do casamento.
Não quero, tenho minha dignidade.
Humberto cocou o bigode e retorquiu preocupado:
— Só posso conceder a mão de minha filha se você passar a morar aqui.
Esta mansão é muito grande, e era o sonho de Flaviana que Patrícia, quando casada, viesse a morar na casa que ela mesma ajudou a construir com seu bom gosto.
Aliás, essa mansão é de Patrícia.
Antes de Flaviana morrer, nós a colocamos em seu nome, como única filha viva de nosso casamento.
Se não vier morar aqui, não posso concordar que se casem.
Patrícia, passando a mão pelos cabelos castanhos dele, falou com voz que a paixão tornava doce:
— Concorde, meu amor.
Só falta você deixar sua teimosia de lado e aceitar.
Era tudo que Fernando queria ser adulado ao máximo.
Fingiu demorar a pensar, depois reconsiderou:
— Tudo bem. Se for essa a condição, aceito.
Patrícia, muito carinhosa, o beijou várias vezes, até que todos na sala pararam quando escutaram o barulho de vidro quebrando.
Isabela, com feições que o ódio modificava, havia quebrado a taça que segurava entre os dedos, dos quais jorrava sangue.
Humberto se aproximou preocupado:
— O que há com você?
Por que fez isso?
Ela percebeu que havia se excedido e rapidamente encontrou a saída:
— Estava alheia a tudo que acontecia aqui.
Pensava na morte de meu filho e sentia muito ódio da vida, por isso sem querer esmaguei essa taça em minhas mãos.
Não se preocupem; pedirei a Morgana que faça um curativo.
Patrícia, que havia se levantado, olhou para as mãos dela e assustou-se.
— Mas ainda estão muito cortadas.
Terá de ir ao médico. Precisa de pontos.
Um ódio surdo brotou em Isabela que, com feições coléricas, bradou:
— Sei do que preciso, não é necessário se meter.
Ao dizer isso, fulminou-a com o olhar e saiu da sala.
Patrícia e os outros não entenderam a súbita agressão de Isabela, a qual Humberto tentou atenuar:
— Perdoem a minha mulher.
Ela está assim desde que o filho morreu; daquele dia em diante, nunca mais foi à mesma.
Naquele dia eles estavam por demais alegres para imaginar o que na realidade se passava com aquela mulher cheia de inveja.
Voltaram a conversar normalmente, apenas Fernando parava às vezes para pensar com certo receio.
Algo lhe dizia que Isabela ainda iria lhe dar trabalho.
Morgana acompanhou a amiga até a cozinha, onde recebeu os primeiros socorros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2017 7:58 pm

Quando se viram a sós, Morgana comentou:
— Desta vez você passou dos limites, mas confesso que esperei coisa pior.
Precisa se cuidar para não fazer coisa parecida outra vez ou colocará seu relacionamento com Fernando a perder.
De preferência, nem vá ao casamento.
Dê uma desculpa, invente alguma coisa, sei lá.
Ela vociferou:
— Esse casamento não vai acontecer; antes, eu acabo com essa alegria.
Não posso perder o homem de minha vida para uma pirralha qualquer.
Tenho de imaginar algo, preciso agir.
Isabela rodava pela cozinha muito nervosa.
Morgana tentou acalmá-la:
— Não acho prudente você tentar acabar com esse casamento.
O melhor é que ele venha morar aqui e que vocês continuem como sempre.
Se acabar com o casamento, não vai poder ficar com ele, pois há o Humberto e, além do mais, se Fernando descobrir que foi você, poderá vir a odiá-la.
— Você tem razão. Estou me deixando levar pelas emoções.
Permitirei que esse casamento aconteça, mas depois vou agir para que ele seja um inferno.
Agora mande o motorista tirar o carro, pois esses cortes voltaram a sangrar. Vamos ao médico.
Minutos depois ambas saíram. Fernando também havia deixado à mansão e Patrícia ficou só com o pai.
De súbito, ela comentou:
— Senti que Isabela não ficou feliz com o meu casamento.
Não foi normal aquela reacção de ódio quando falou comigo.
Só não consigo entender o porquê.
Humberto, já com outro copo de uísque nas mãos, concordou:
— Também não achei normal, aliás, venho notando que Isabela não fica bem quando está na presença de Fernando.
Às vezes fala demais, em outros momentos fica retraída...
Hoje mesmo, enquanto vocês comunicavam a decisão do casamento, percebi que ela os olhava com rancor.
Patrícia não conseguia entender.
Apesar de ser muito intuitiva, ela havia se deixado levar pela paixão.
Nesse estado geralmente perdemos contacto com nossa essência e tudo quanto se refere à pessoa amada de modo negativo costumamos ignorar.
Algumas vezes Patrícia havia sentido que Fernando não estava sendo sincero com ela, todavia, por não querer acreditar, não dava ouvidos à intuição e acabara perdendo o contacto com ela.
Tanto que nunca poderia supor que ele a estivesse traindo.
A conversa mudou de rumo e Patrícia ficou feliz quando o pai comunicou-a de que finalmente iria ao centro naquela noite para fazer uma consulta.
— Fico feliz que tenha tomado essa decisão.
Não poderei acompanhar o senhor hoje, mas garanto que iremos juntos outras vezes.
Quem vai lá uma vez sempre deseja voltar.
Ele, meio envergonhado, confessou:
— Estou indo empurrado pela vida.
Tenho passado por muitos problemas ultimamente e há muito não me ligo a essas coisas de religião.
Nem sei há quanto tempo fiz uma oração.
— Sempre é tempo para nos dedicarmos à espiritualidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2017 7:59 pm

O senhor falou em religião, mas posso garantir que espiritismo e espiritualidade nada têm a ver com religião.
Ao frequentar o centro, o senhor vai descobrir que é muito mais que isso; trata-se do estudo das leis de Deus e da vida.
Humberto queria mesmo descobrir como tudo isso funcionava e foi com ansiedade que esperou a noite chegar.
Isabela passara o resto do dia deitada pretextando uma dor de cabeça e ele saiu sem avisar.
O centro iniciava suas tarefas às oito da noite em ponto e ele não queria se atrasar.
Com o endereço em mãos, partiu.
Ao chegar na frente do prédio, se surpreendeu.
Era muito grande e a fachada moderna indicava que as pessoas tinham bom gosto.
Quando entrou, logo sentiu uma sensação agradável de paz.
Mesmo assim, procurou sentar em uma das últimas filas; não queria encontrar nenhum conhecido.
A despeito disso, viu o doutor Caldas, que acenou com a mão.
As luzes se apagaram, ficando acesas apenas pequenas lâmpadas verdes.
O dirigente fez uma prece a Deus evocando a presença dos amigos espirituais e falou sobre a importância da fé.
Uma moça distribuiu um papel com o número que indicava a ordem das consultas, e Humberto percebeu que teria de esperar um pouco.
Mas a espera foi agradável.
O ambiente em penumbra, com música relaxante, provocou em Humberto uma sensação de bem-estar como há muito ele não sentia.
Todos nós nos sentimos felizes e serenos quando entramos em contacto com a espiritualidade.
No turbilhão do mundo, envolvidos pelos problemas materiais e com as regras da sociedade, muitas vezes nos esquecemos desse contacto e de como ele nos beneficia.
E por isso que todo ser, ao meditar, orar ou frequentar lugares onde mora a espiritualidade superior sente sensações de paz e alegria que não estão acostumados a ter na rotina do dia-a-dia.
Humberto ignorava que para estar ali naquele momento muito esforço fora empreendido pelos seus amigos espirituais e por Flaviana, que agora procurava auxiliá-lo a encontrar o caminho do bem.
Juvêncio, Romário e Nicodemos tudo tentaram para impedir que ele chegasse ali.
Primeiro planejaram mexer no mecanismo do carro para que ele não conseguisse dirigir, depois pensaram em induzi-lo a um sono profundo, também cogitaram visitas de amigos da política e, por fim, uma terrível dor de cabeça.
Nada conseguiram porque os espíritos do bem estavam em alerta e havia em Humberto o desejo sincero de melhorar.
Mas nem sempre isso acontece.
As pessoas, quando chamadas a um lugar de oração e espiritualidade, costumam ter toda espécie de problemas corriqueiros:
dores de cabeça e mal-estar, visitas inesperadas, falta de vontade de ir, acidentes domésticos, desânimo, entre outros.
É preciso o desejo sincero do bem para obter protecção.
Finalmente chegou sua hora e ele, um pouco envergonhado, entrou em pequena sala iluminada apenas por uma lâmpada azul.
A atendente perguntou:
— Qual o motivo de sua consulta?
Aqui estamos dispostos a ajudar em nome de Deus e não deve temer confessar seus problemas.
Somos todos seres humanos e necessitamos em algum momento da ajuda espiritual.
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