LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro

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Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 14, 2014 9:09 am

luseneb insistia, exasperado:
- Está escutando, Nitetis? Está me ouvindo?
Ela por fim respondeu:
- Sim, claro, Iuseneb, você tem razão.
- Do que está falando?

- De tudo. Tem razão em tudo.
Preciso tomar uma atitude.
Vou ao encontro de Bek agora mesmo.

- O quê? Está maluca?
- Não, você está correto.
Preciso tomar uma atitude drástica, não é isso?
Então, que seja agora!
Vou à casa dele, assim podemos resolver já essa situação.

Perplexo, Iuseneb custou um pouco a responder:
- Não é necessário.
Ele estará aqui em algumas horas e poderão definir os pormenores desse casamento.
- Quero vê-lo já, meu irmão.
Agora. Tenho urgência em vê-lo.

- Nitetis, estou cansado de suas atitudes impensadas. Para que...
Ela o interrompeu:
- Ora, ele já deve estar em pé, a esta hora.
Veja, está quase amanhecendo.
Raquel pode ir comigo.

- Vocês não irão sozinhas a parte alguma.
- Então, venha connosco.
Depois de instantes de indecisão, ele capitulou:
- Muito bem, vá chamar Raquel e ver se concorda em nos acompanhar.
Se ela vier, preparo os animais.

Nitetis levantou-se sem dizer palavra e correu ao quarto de Raquel, que já estava desperta e quando a viu indagou:
- O que está havendo, Nitetis?
Você e seu irmão estão discutindo outra vez?
- Nós a acordamos, Raquel? Desculpe.

- Meu sono estava leve, escutei as vozes.
O que está havendo?
- Confia em mim, Raquel?
- Por que pergunta?
- Preciso desesperadamente de sua ajuda.

- O que foi?
- Tive um sonho, eu acho.
Sonhei que Amenhotep está seriamente enfermo, em um lugar onde vivem os leprosos e banidos da sociedade.
- O quê?! O lugar dos leprosos, em Hermon?
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Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 14, 2014 9:09 am

- Acho que sim.
- Que coisa terrível!
- E creio que não é somente um sonho, Raquel.
É um aviso. Meu irmão está doente e precisa de mim.
- Ainda que isso fosse verdade, o que você poderia fazer?

- Tenho de saber se é verdade ou nada mais que um sonho, e você precisa me ajudar.
- Como?
- Pedi a Iuseneb que nos leve agora à casa de Bek.

- A esta hora?
- Está quase amanhecendo, Raquel. Por favor, não negue.
E por isso que estava tão angustiada ontem à noite.
Meu irmão está muito doente, está sofrendo demais.

- Nitetis...
- Por favor, Raquel, só preciso que descubra se é verdade.
Enquanto converso com Bek, você vai até o mercado e pergunta pelos últimos acontecimentos do palácio.
Bek mora bem perto do mercado e muito mais próximo ao palácio do que nós.
Lá devem saber de alguma coisa.

- Nitetis, tente se acalmar e pensar melhor...
As duas conversavam quando Iuseneb apareceu à porta anunciando:
- Seu noivo acaba de chegar.
Vá trocar de roupa e venha recebê-lo.
Raquel, prepare o desjejum para nossos hóspedes.

Imediatamente Raquel se levantou e começou a se arrumar.
Nitetis olhou firme para Iuseneb e foi para seu quarto.

Em alguns segundos estava de volta à sala de almoço para encontrar Bek:
- Veio só?
- Achei melhor. Temos muito que conversar e decidir.
Meu pai está impaciente, Nitetis, e por isso preferi vir sozinho.

luseneb, que escutava a conversa, interveio:
- E ele está certo. Eu também estou impaciente com essa demora.
O que estão esperando, afinal?

Nitetis olhava para Raquel, como a implorar que tocasse no assunto relacionado a Amenhotep, mas ela se mantinha calada.

Após tomar alguns goles de suco de uva, Bek se levantou, aproximou-se de Nitetis, tomou-lhe as mãos delicadas e beijando-as, disse:
- Esperamos tão-somente que Nitetis se sinta segura com a decisão.
- Ela já está segura, Bek.
Devem casar-se imediatamente.

Nitetis continuava a olhar suplicante para Raquel, que não conseguiu mais se conter:
- Afora a impaciência, seu pai e sua família estão bem de saúde, senhor Bek?
- Estão todos bem. Os negócios é que não andam muito promissores.
- E por quê? - perguntou Iuseneb, interessado.
- As recentes mudanças no palácio deixaram todos alvoroçados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 14, 2014 9:09 am

- E o que houve?
- Ainda não sabem? - ele hesitava, olhando fixo para Nitetis, que logo falou:
- Amenhotep está afastado do palácio e de suas funções, não é, Bek?

Percebendo que ela já sabia do facto que tentava ocultar, Bek prosseguiu:
- Sim, definitivamente.
- Por quê? - questionou Iuseneb.
- Ele está doente... Parece que é um mal incurável.

Olhando para Raquel, Nitetis disse:
- Foi banido do Egipto para sempre.
Iuseneb fitou a irmã e, intrigado, indagou:
- Você já sabia disso e não me disse nada?
- Foi esta noite que descobri.
- Como? - foi a vez de Bek interrogar.

- Devo ter sonhado e ao acordar tive a certeza de que ele está muito doente.
Bek apertou a mão da noiva entre as suas e disse:
- Sei o quanto isso a machuca, Nitetis, mas não há nada que possamos fazer para ajudá-lo.
Ele foi banido, e onde está agora ninguém poderá acompanhá-lo.

Pesado silêncio dominou o ambiente, enquanto Raquel mantinha os olhos em Nitetis, penalizada.

Mais de duas semanas haviam transcorrido desde que chegara.
Arqueado e ofegante, Amenhotep caminhava na direcção de um pequeno riacho que por ali passava.
Ajoelhou-se à beira das águas tranquilas, que naquela parte formavam um pequeno lago, e viu sua imagem reflectida.

Tirando a túnica que lhe cobria o corpo, pôde observar as feridas que aumentavam no peito e nos ombros.
Ele as tocou de leve, sem ter dor ou qualquer outra sensação.

Levantou-se, ergueu os olhos para o céu e gritou alto:
- Por que os deuses estão fazendo isso comigo?
O que foi que eu fiz de tão abominável?

Ajoelhando-se outra vez, chorou amargurado até que as lágrimas secassem em seu rosto.
Ele sabia que sua situação era terrível.
Sentia que nunca mais deixaria aquele lugar e, mesmo que uma vez ou outra lhe viesse à cabeça a ideia de retornar à Mênfis, faltavam-lhe forças para sair dali.

Sua mente estava confusa e seu coração profundamente magoado.
Amenhotep sentia-se traído, abandonado e sem esperanças.
Cambaleando, alcançou a sombra de uma árvore;
deitou-se sob sua ramagem farta e adormeceu.

Quando acordou o sol já desaparecera no horizonte.
Ele recordou o esplendoroso entardecer que via de sua sacada, no palácio, e teve imenso desejo de voltar.
Pensou em seu quarto e subitamente lembrou-se de que havia dias não comia nada; apenas bebia a água pura.

Notou, então, que tinha muita fome.
Olhou para o alto da árvore que o protegia e percebeu que era uma tamareira.
Tentou subir para colher alguns frutos, sem êxito. Não tinha forças.
Sentou-se novamente e, com o olhar perdido no horizonte, recomeçou a pensar em morrer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 14, 2014 9:10 am

Somente a morte lhe restava como saída.
Sabia que não poderia mais voltar para seu lar, para a vida que deixara.
Portanto, que a morte viesse o mais depressa possível.
Com enorme esforço, levantou-se e andou na direcção da fumaça que via ao longe, em uma clareira.

Ainda não se aproximara de nenhum dos outros que viviam ali, tampouco permitira que alguém se aproximasse dele;
não quisera conversa, mantendo-se isolado de todos.

Teve muita dificuldade até chegar a um grupo de pessoas sentadas ao redor de uma fogueira.
A princípio o olharam com certa curiosidade, para em seguida, ignorando-o, continuarem o assunto que os entretinha.

Amenhotep avançou mais e perguntou:
- Sabem qual erva é a mais venenosa deste lugar?

Os que o ouviram se entreolharam sem responder.

Uma mulher se levantou e perguntou:
- O que pretende fazer?
Não há ervas venenosas aqui.
Fomos abandonados neste lugar para morrermos aos poucos...

- Não acredito que não haja em algum ponto desta região uma planta que se possa tornar veneno.
Tem de haver; elas existem em toda parte.
Um homem que estava bem próximo do fogo disse, erguendo um pouco a cabeça:
- Deve até haver alguma planta assim, porém ninguém aqui sabe qual é.
Terá de descobrir sozinho...

Indignado, Amenhotep bradou:
- Vocês não fazem nada?
Ficam aqui, como um bando de imprestáveis, esperando que seus corpos apodreçam? Inúteis!

Outro dos homens que rodeavam a fogueira se ergueu e, agarrando Amenhotep pela garganta, apertou-a até quase sufocá-lo.

Quando conseguiram afastá-lo do arquitecto, ele arrancou a túnica e gritou, exibindo o corpo desnudo e com um só braço, pois o outro já fora devorado pela lepra:
- Todos sofremos muito!
Basta-nos a dor de nossa solidão, a tortura de morrermos aos poucos!
Não precisamos suportar alguém a nos insultar!

Chega! Se o vir por perto de novo, não vai precisar de nenhuma planta venenosa.
Eu mesmo, com esta minha única mão, acabarei com sua vida, imbecil!

Ao ver o estado lastimável daquele jovem, Amenhotep afastou-se enojado e correu como pôde para a margem do riacho.
Recostou-se sob a tamareira e adormeceu ao relento, coberto pelo céu cintilante de estrelas.

O tempo cumpria seu papel:
Amenhotep mal conseguia comer as tâmaras que caíam da árvore frondosa;
estava a cada dia mais magro e cansado;
as chagas se aprofundavam lentamente, e ele já sentia dores pelo corpo todo.

Às margens do Nilo, na propriedade de Nitetis e de seus irmãos, Iuseneb e Bek acertaram a data e os detalhes para a realização do casamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 14, 2014 9:10 am

Entretanto, Nitetis sentia-se infeliz.
Estava sendo pressionada pelo irmão a aceitar o casamento com Bek, quando intimamente sabia que tinha de fazer outra coisa.
Naquela noite, Iuseneb trouxe os últimos animais que seriam preparados para as bodas, que aconteceriam dali a três dias.

Nitetis, em seu quarto, cruzava-o de um lado a outro, até que se sentou na cama, pensativa.
Então, tomou sua decisão.
Sob a cama guardava alguns trabalhos que executara antes que o pai partisse.

Embrulhou-os com cuidado;
eram três pequenas esculturas primorosamente entalhadas em pedra.
Ela sabia que mais perto do palácio, com algum mercador, conseguiria uma boa troca.

Silenciosamente, preparou-se.
Separou algumas roupas e as esculturas, colocando tudo em uma sacola.
Foi até a porta do quarto, abriu a cortina e observou o movimento que vinha da sala de almoço.

Todos estavam entretidos com os preparativos para os festejos do casamento.
Desejou chamar Raquel, mas temia que dessa vez ela não ficasse do seu lado.

Hesitou. Por fim, ainda escutando a voz carinhosa da amiga, que falava animada de uma das receitas de família que trouxera de seus parentes, saiu pelo outro lado da casa e rápido desapareceu na estrada que levava à capital do reino.

Caminhou durante toda a noite, cuidadosa, para que ninguém a visse.
Já era manhã quando avistou um pequeno povoado, com um mercado movimentado.

Foi até um dos comerciantes, que tinha obras artesanais à venda.
Mostrou-lhe uma das estátuas.
Impressionado, o mercador declarou só ter visto algo tão belo e perfeito na câmara mortuária do faraó, que estava sendo construída.

Sem vacilação ficou com a peça, dando em troca mantimentos e uma mula bem tratada.
Nitetis ficou satisfeita;
era tudo de que precisava.

Subiu no animal e já se afastava quando perguntou:
- Sabe alguma coisa sobre o ministro-chefe do Egipto, senhor?
- Amenhotep?

Ela anuiu com a cabeça e o homem respondeu, num sussurro:
- Ele foi enviado para o lugar dos degredados.
- Que lugar?
- O lugar para onde vão todos os que têm aquela doença horrenda.

- Sabe onde fica?
- Fica a caminho da Palestina, entre o deserto de Sur e Amom.
Mas por que pergunta? Qual o seu interesse?
- Apenas curiosidade.

Depois de pequena pausa, ela indagou:
- E as pessoas não saem de lá?
- Os doentes não podem entrar em parte alguma.
Para onde quer que se dirijam, levam consigo as marcas de sua sina.
Nunca lhes permitiriam viver perto de outras pessoas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:02 am

Nitetis agradeceu e iniciou sua jornada.
Mas como chegar lá, se não conhecia o caminho?
Decidiu então que iria até mais próximo ao palácio, onde conseguiria mais informações que a levassem até o irmão doente.

Quase sem perceber, ela foi directo para a imponente construção do templo mortuário do faraó.
Logo reconheceu o lugar e apressou-se.

Desmontou sem dificuldade e viu Amy, que veio saudá-la à entrada da edificação:
- Nitetis, o que faz por aqui?
Pensei que tivesse voltado para casa.

Cumprimentando com um aceno de cabeça o antigo supervisor de obra de seu irmão, ela começou a conversa:
- Como está, Amy? Como anda a construção?
- Um pouco lenta, agora que nosso mestre foi afastado.
- Sabe como ele estava quando partiu?

- Parecia bem, apenas um pouco preocupado.
- Tem alguma notícia dele, Amy?
- Não, nenhuma.
- Quem assumiu a responsabilidade pela obra?
- Rudamon assumiu a construção juntamente com Iaret, porém eles não entendem nada do assunto e estão tornando o trabalho muito difícil.

- Pobre Amy, não deve estar sendo fácil mesmo!
Observando a grande construção que se erguia, ela continuou:
- Está muito bonita e por certo Amenhotep estaria muito orgulhoso de você.
Amy, sabe para onde o levaram?
- Para o lugar dos degredados, em Hermon;
é para onde vão os doentes e banidos do reino.

- E onde fica exactamente?
- Para que quer saber, Nitetis?
- Sabe como posso chegar lá?

- Você pretende ir até Hermon? Está louca?
Ninguém volta de lá! Não faça isso.
É muito jovem e tem toda a vida pela frente.
Por que estragar tudo?
Não poderá ajudar Amenhotep.

- Tenho certeza de que ele precisa de mim e de que posso ajudá-lo.
Sabe como se vai até lá?
- Não importa o que eu diga, não vai desistir, não é?
Não importa quão perigosa seja e viagem, nada a impedirá.

Ela sorriu ao confirmar:
- Nada. Tenho viajado por estradas muito mais longas para estar com Amenhotep, acredite-me.

Amy a fitou sem compreender.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:02 am

Nitetis perguntou novamente:
- Pode me ajudar, Amy?
- Poderia pedir a algum escravo conhecedor do caminho que a levasse;
só que nada tenho para dar em troca...

Ela tirou outra escultura da sacola e entregou-a ao amigo:
- Tome, talvez isto sirva.
Com outra peça consegui de um mercador mantimentos e o animal...

Amy tomou a estátua nas mãos e examinou-a com atenção.

Era linda. Ia questionar a jovem, mas achou melhor dizer apenas:
- Fique aqui, vou ver o que consigo.

Depois de algum tempo de espera, Nitetis viu Amy chegando com dois homens muito simples.

Ao se aproximarem, Amy explicou:
- Estes são servos de minha confiança.
Eles conhecem o caminho e a levarão até bem perto do lugar; depois voltarão e lhes entregarei a escultura.
- Óptimo. Podemos ir já?
- Não prefere passar a noite aqui e viajar pela manhã? É mais seguro.

Temendo que Iuseneb enviasse alguém atrás dela, Nitetis pediu:
- Quero ir imediatamente, preciso chegar depressa.
Estou muito preocupada com o estado de Amenhotep.
Receio que ele não suporte o sofrimento e acabe com a própria vida.

- O que seria até um bem para ele...
- Não diga isso, Amy.
A vida é nossa oportunidade.
Enquanto estamos aqui, podemos lutar, vencer, renovar, construir.

- Mas a situação dele é muito difícil.
- Eu sei, por isso quero estar ao seu lado nesta etapa.
Ela já se preparava para subir na mula, quando Amy a segurou pelo braço e perguntou:
- E você, Nitetis, vai entregar a vida dessa maneira?
Não deveria também lutar, construir, como você mesma disse?

- É exactamente o que estou fazendo;
para isso estou aqui.
Sem dizer mais nada, ela montou no animal e agradeceu:
- Muito obrigada por tudo, Amy.
Nunca vou esquecer quanto me ajudou, meu amigo.
Seu coração é generoso e bom.
Que o Deus único esteja sempre com você.

Antes que ele pudesse indagar que deus era aquele, ela se virou e partiu, seguida pelos dois servos, que também levavam grande quantidade de mantimentos obtida por Amy.

Ele acenou admirando profundamente aquela jovem mulher, determinada e corajosa, que iria sacrificar a vida para ajudar o irmão.
Após longa e exaustiva jornada, a pequena caravana avistou finalmente o lugar que buscava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:02 am

Assim que o viu, um dos escravos parou e se virou para a jovem:
- É somente até aqui que a acompanhamos.
O local fica ali, depois daquele estreitamento nos rochedos. Pode vê-lo?

Ela observou a área que se espalhava aos pés da colina:
- Sim, estou vendo.
Sabe se todo esse espaço está destinado aos banidos?
- Acredito que sim, pois ninguém ousa ir além deste ponto.
Tem certeza de que quer prosseguir?

- Tenho, sim, e agradeço muito por sua companhia.
- Ao descer o morro, vá em direcção àqueles rochedos.
Está vendo, lá embaixo?
- Estou vendo.
- Logo que entrar pelo estreito rochoso estará no lugar dos abandonados e esquecidos.
Desejo que encontre o que procura.

Mais uma vez, ela olhou para os dois homens e disse:
- Que o Deus único os guarde.
Obrigada, novamente, por me trazerem em segurança até aqui.

Em silêncio eles acomodaram na mula os sacos com mantimentos que vinham carregando e puseram-se no caminho de volta à capital do império.

Nitetis ficou parada, contemplando o local à distância.
Notou a beleza das árvores que sobressaíam na paisagem e respirou fundo, como a haurir forças da natureza para ir até o fim em seu objectivo.
Olhou para o céu de intenso azul e pediu ao Deus que ela não conhecia bem, mas que já amava e em quem confiava, que a amparasse em seu empreendimento.

E começou a descer.
O estreito, que do alto parecera tão próximo, ficava mais distante à medida que ela descia.
Nitetis chegara de manhã com os dois escravos e foi somente ao entardecer que finalmente atingiu a pequena passagem que logo se abria, expondo a farta vegetação.

Ao atravessar a fenda entre as rochas, viu algumas pessoas que a olhavam a certa distância.

Parou o animal e perguntou:
- Procuro por um homem chamado Amenhotep.
Sabem onde posso encontrá-lo?

Vários rostos - ocultos em trapos - continuavam a espreitá-la desconfiados.

Ela, então, esclareceu:
- Por favor, ele é meu irmão e preciso achá-lo. Sabem onde está?
Um dos homens se manifestou, enfim:
- O que deseja aqui? Veio buscá-lo?
- Bem que eu gostaria, mas sei que ele não poderá entrar em parte alguma.
Vim para ficar com ele e ajudá-lo.

- Não sei quem é esse de quem você fala.
- Ele não deve estar neste local há muito tempo;
no máximo três ou quatro meses...
- Aqui aparecem estropiados todos os dias.
Como vamos saber quem é esse tal que procura?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:03 am

- Não ouviram ninguém mencionar esse nome?
Uma das mulheres, que até aquele momento apenas ouvia a conversa, disse:
- Só se for aquele impertinente de quem não sabemos sequer o nome.
É insuportável e ninguém fala com ele desde que chegou.

- Talvez seja ele mesmo.
Sabem onde posso encontrá-lo?
- Não, ele nunca fica com o grupo;
está sempre perambulando...

O homem que primeiro respondera a Nitetis interveio:
- Pode ser que encontre esse de quem lhe falamos perto das árvores, na parte de cima do riacho.
Ele gosta de ficar por ali.
Tomando o animal pela corda que o prendia, ela começou a andar rumo ao riacho, dizendo:
- Muito agradecida, vou até lá agora mesmo.

A mulher lhe perguntou:
- Sabe o que está fazendo?
Sabe realmente que lugar é este?
Nitetis sorriu, serena, e respondeu:
- Eu sei, senhora, não se preocupe.

A jovem caminhou até a beira do riacho e ali deixou que o animal se dessedentasse da longa jornada.
Ela também se abaixou e tomou grandes goles da água cristalina que descia pelas rochas.

Ao erguer a vista notou que sob uma frondosa árvore, acima da outra margem do rio, alguém estava estendido no chão.
Puxou o animal com a corda, cruzou o riozinho e aproximou-se do homem prostrado sobre as folhas secas e a relva.

Já bem perto, constatou que era Amenhotep.
Instantaneamente seus olhos encheram-se de lágrimas que desciam pesadas, escorrendo-lhe pela face.

A condição do irmão a penalizara de imediato.
Seu corpo estava coberto por chagas purulentas, suas roupas eram trapos imundos e seu abatimento era indescritível.

Ele parecia dormir.
Nitetis andava devagar, para não acordá-lo.
Prendeu a mula em uma pequena árvore e sentou-se ao lado de Amenhotep, limpando-lhe delicadamente o rosto com água fresca que trouxera do riacho.

Ele abriu os olhos, tentando ver o que o tocava, e espantou-se ao deparar com o olhar doce e terno de Nitetis.

Sentou-se, tirou as mãos dela de seu rosto e inquiriu:
- O que faz aqui?
- Vim cuidar de você, meu irmão.
- Vá embora, não preciso de ninguém.
Calmamente, ela propôs:
- Então cuide de mim.
Eu preciso muito estar perto de você.

Ele a fitou nos olhos tranquilos e amorosos, molhados pelas lágrimas, e indagou:
- O que deseja, humilhar-me ainda mais?
- Sabe que não é isso.
Quero ficar aqui com você, para ajudá-lo nesta hora difícil.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:03 am

- Não acredito nisso.
Todos me abandonaram.

Ela sentou-se ao seu lado e, segurando-lhe a mão, disse:
- Vamos cuidar desses machucados.
Trouxe algumas ervas que podem aliviar sua dor.
Sente dor, Amenhotep?
Ele puxou a mão doente ao responder:
- Muita.

Ela tornou a pegar-lhe a mão.

Tirando alguns frascos de um dos sacos, começou a fazer compressas em ambas as mãos do irmão, enquanto dizia:
- Vamos cuidar desses machucados.

Ele emudeceu e ficou a observá-la, sem acção.

Seu coração orgulhoso estava tocado de profunda ternura pela irmã e, a despeito da revolta que o dominava, não teve coragem de reagir; ficou calado algum tempo, depois perguntou:
- Sabe que nada disso vai adiantar, não é?
Esta praga não tem cura!
Eu vou morrer de qualquer jeito.

Por que não me deixa morrer sozinho?
De que adianta ficar aqui, desperdiçando seu tempo e sua vida?
Será inútil, Nitetis.
Eu não ficarei curado e você acabará morrendo também.

Com os olhos fixos nos do irmão, sentindo emoção intensa, ela disse:
- Amenhotep, a vida é uma grande oportunidade.
Todos os momentos são preciosos para nossa alma imortal.
E sua alma é o mais importante para mim.
Quero estar ao seu lado, ajudando-o a atravessar este momento tão difícil em sua existência.

Para isso vim: para ficar ao seu lado.
Não importa o que vai acontecer depois:
quero ajudá-lo; sempre quis, meu irmão.

Angustiado, ele se levantou e ficou andando de um lado para outro, sem falar.

Depois se virou para a irmã:
- Não consigo compreendê-la, Nitetis.
Por que quer jogar fora sua vida?
Você mesma está dizendo que a vida é uma oportunidade.
Por que então não quer aproveitar a sua, estragando-a por minha causa?

Ela fitou-o e disse:
- Porque o amo muito e não posso viver longe daqui, sabendo que precisa de apoio e de alguém tão-somente para conversar, aliviando assim a dor do seu coração.
De que me valeria estar distante, com o coração triste, angustiado, desejoso de saber notícias suas?
Serei mais feliz aqui, ao seu lado.

Tocado no mais íntimo pelas palavras amorosas da irmã, ele ajoelhou-se e verteu copioso pranto.

Nitetis o abraçou e aconchegou-o junto ao ombro:
- Chore, meu irmão, que as lágrimas vão aliviar um pouco o seu coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:03 am

Ele alçou um pouco a fronte e disse:
- Duvido. Chorar é só o que tenho feito e meu coração está ainda mais pesado e oprimido.
Perdi tudo o que possuía, tudo com que sempre sonhara.
Eu tinha conquistado tudo, Nitetis, tudo.
Tinha tudo aquilo que desejei, inclusive...

- Inclusive?
- Um filho.
- Um filho?
- Iaret está esperando um filho meu.
E agora eu perdi tudo!
Minha vida não tem mais sentido, não tenho mais razão para existir!

Ele chorava convulsivamente e Nitetis calou-se por alguns minutos.

Quando Amenhotep sossegou um pouco, ela ergueu seu rosto, limpou as lágrimas que teimavam em correr e disse:
- Sei que é difícil para você compreender, por ora, mas às vezes quando pensamos perder é que realmente estamos ganhando.
O Deus único, que sabe todas as coisas, cuida de nós e nunca nos abandona.
- Que deus é esse? Nunca ouvi falar nele.
- Mas sabe, bem no fundo da alma, que ele existe.
E, mais do que isso, vai enviar para a Terra alguém muito especial, que ensinará aos homens o caminho da luz.

- Do que está falando, Nitetis?
- Do enviado dos céus que virá ensinar o amor e ajudará todos os homens a se reaproximarem de Deus.
- Afinal, que deus é esse?
Onde ouviu falar dele?

- Foi Raquel quem me falou do Deus único, criador de todo o Universo.
E eu creio nele.
- Só podia ser ideia da Raquel...

- Acredito nele, e não é só pelo que ela contou.
Na verdade é como se eu soubesse desde sempre da existência desse Deus.
Por mais que aprendesse sobre os nossos deuses e sobre o respeito que lhes devíamos, sentia que havia alguém mais poderoso e superior a todos eles, e que esse era o verdadeiro Deus.
Quando Raquel me falou sobre ele, apenas o reconheci.

- Não a compreendo, Nitetis.
- Tem certeza?
Sei que no fundo você também sabe de todas essas coisas, apenas não quer admitir.
- E que tem esse deus a ver com o que estou vivendo?
- Ele só quer o nosso bem.

O irmão gritou, dilacerado pela dor:
- E por isso nos põe doentes e nos mata?
Ela enlaçou-o com amor e disse:
- Entendê-lo, e perceber o sentido de tudo isso, é nossa tarefa.
E o mensageiro de Deus, o enviado de que lhe falei, nos ajudará a conhecê-lo e compreendê-lo.

- Foi Raquel quem lhe falou desse tal enviado?
- Ela falou algumas coisas, mas eu já sabia de tudo o que me disse.
- E quando ele virá?
- Não sabemos; mas é certo que um dia virá.

Envolvido pelas suaves vibrações que Nitetis irradiava enquanto conversavam, Amenhotep sentou-se ao seu lado.

A irmã lhe deu pão, frutas e vinho e ele, por fim, adormeceu em seu colo e repousou como há muito não conseguia.
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Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:03 am

CAPÍTULO 25

O sol raiou no horizonte e seu brilho feriu os olhos de Amenhotep, que dormia sono profundo.

Ao sentir os raios do astro-rei lhe tocarem a face, despertou vagarosamente.
Abriu os olhos e fitou o céu de azul intenso.

Sentou-se sem pressa e procurou por Nitetis.
Não a vendo em parte alguma, levantou-se e caminhou devagar até a beira do riacho.
Avistou a irmã conversando com algumas pessoas na outra margem.

Teve vontade de chamá-la, porém desistiu e voltou, sentando-se outra vez embaixo da tamareira.
Notou que sobre um forro de linho alvo ela havia deixado algumas frutas e suco de uva.
Comeu e bebeu, enquanto Nitetis retornava de sua caminhada.

- O que estava fazendo?
O que conversava com aquela gente?
- Estava oferecendo um pouco de comida a eles.
- Não devia fazer isso, Nitetis.

- E por que não?
- Vamos acabar ficando sem nada!
- Não se preocupe.
Amy vai providenciar mais alimento daqui a poucos dias.
- Amy?

- Sim, deixei com ele duas esculturas que fiz há algum tempo.
Ele está trocando por alimentos e mandará alguém para nos deixar as provisões num lugar combinado, no alto da montanha.

Amenhotep observou-a enquanto se movimentava, organizando tudo à sua volta.

Depois, quando ela se sentou, perguntou:
- Por que estava ajudando aquelas pessoas?
- Porque precisam de ajuda. É tão simples...
- Vai acabar sendo atacada e roubada por eles e por outros, quando souberem que trouxe comida.

- Não se inquiete, meu irmão; teremos o suficiente.
Depois de longa pausa, Nitetis questionou:
- Ontem você falou que Iaret espera um filho seu.
Tem certeza disso?
- Foi ela própria quem me contou, e não tinha razão para mentir.

Demorado silêncio se fez entre eles.

Por fim, Amenhotep perguntou:
- Você me faria um favor?
- O que estiver ao rneu alcance.
- Quando vierem trazer mantimentos, se é que realmente virão, poderia tentar obter notícias da capital, de Iaret e de meu filho?
- Não sei se vou conseguir, mas posso tentar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:03 am

Amenhotep se levantou, caminhou até a beira do riacho e agachou-se.

Fitou longamente as feridas que já cobriam grande parte de seu corpo;
olhou uma a uma as que sua vista alcançava.
Em seguida voltou e sentou-se, calado.

Nitetis, que o observara sutilmente, também permaneceu em silêncio, até que perguntou:
- Quando começaram?
- Há alguns meses.
- Sentiu alguma coisa diferente?
Teve contacto com alguém doente?

- Não, foi tudo de repente, de uma hora para outra.
Quando apareceram eram somente manchas avermelhadas.
Não dei muita importância;
quis acreditar que não era nada sério e que sumiriam logo.
No entanto, ao invés de desaparecerem elas começaram a aumentar até se transformarem nessa coisa horrenda que tenho agora.

- Não diga isso, meu irmão.
- Estou horrível! E vou ficar cada vez pior.
Alguns daqueles homens que ficam do outro lado do rio...
Eles são verdadeiros monstros...


Nitetis o olhou com piedade e não alimentou o assunto.
Apenas foi ao encontro dele e ofereceu-lhe o braço:
-Vamos dar uma caminhada?
Este lugar é muito bonito e sei que você não saiu desta banda desde que chegou.

Amenhotep olhou-a incrédulo e perguntou:
- Está brincando?
- Claro que não!
- Não quero andar, não quero fazer nada!
Quero morrer, é somente isso que desejo!

Pacientemente, Nitetis tomou a mão dele entre as suas e, puxando-o suavemente, reiterou:
- Venha, vamos caminhar um pouco.
Há paisagens magníficas ali adiante.
Às vezes o espaço que nos separa da felicidade é bem menor do que podemos imaginar.

Venha caminhar ao meu lado.
Vamos conversar um pouco, meu irmão.
Que mais pode fazer agora, a não ser aproveitar o tempo para ver e sentir coisas belas?

- Você não entende. Eu estou morrendo...
Que beleza posso ver naquilo que me cerca?
- Existe beleza em toda parte, Amenhotep.
E além do mais, a vida continua sempre, sabe disso.
Portanto, preparemos nossos corações para encontrar com a eternidade...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:04 am

Sem saber o que responder, ele a acompanhou em agradável caminhada à margem do riacho, por entre clareiras e mata fechada, vendo muita beleza natural.

Iniciou-se assim um hábito diário.
Nitetis e o irmão andavam bem cedo, pela manhã, quando ele tinha mais disposição e suportava melhor a exposição ao sol.

Durante os passeios, os dois conversavam muito sobre diferentes assuntos.
Nitetis pôde compartilhar com ele tudo o que vivera ao lado do pai, lembrar todo o carinho que este lhe dedicara, e mostrar a Amenhotep quanto lhe queriam bem.

Quando a revolta dominava Amenhotep, as longas caminhadas o ajudavam a espairecer.
Quase sempre, ao retornar em companhia da irmã, ele estava de ânimo um pouco mais elevado.
Entretanto, ao mesmo tempo, seu corpo se deteriorava rapidamente sob a acção voraz da doença que o consumia.

Em alguns meses, Amenhotep não conseguia mais se mirar nas águas do riacho.
Seu corpo estava desfigurado e passou a ocultar-se em panos, como via os outros fazerem quando chegara.

As feridas exalavam forte odor, e os panos o continham ligeiramente.
Amenhotep sentia as forças lhe sumirem aos poucos do organismo cansado.

Naquela manhã ele não quis caminhar.
Nitetis saiu para buscar as provisões que os escravos trouxeram e ocultaram atrás das plantas, no alto do morro.
De longe, fizeram sinal para Nitetis, que então subiu para apanhar os alimentos.

Ainda que a distância, deram-lhe breves notícias do palácio.

Assim que ela regressou o irmão perguntou, ansioso:
- Soube alguma notícia de Iaret? Ela está bem?
Já deve ter tido o bebé, ou ele está para nascer. O que soube?

Nitetis acomodou-se ao seu lado e ofereceu:
- Quer um pouco de leite?
Aproveite enquanto está fresco...
Amenhotep, junto dela, insistiu:
- Conte logo, o que soube de Iaret?
Eles disseram alguma coisa, não disseram?

Com o semblante preocupado e entristecido, ela respondeu, ante a insistência do irmão:
- Iaret está bem.
- Que bom! E o bebé?
- Ela não teve bebé algum.
- E quando vai nascer?

- Não vai nascer.
- Como assim?
- Iaret não está mais grávida.
- O que me diz? Ela perdeu o bebé?
- Eles disseram que houve boatos abafados sobre uma gravidez, porém o falatório logo se dissipou.
Iaret, que tivera diversos mal-estares, recuperou-se plenamente e nunca mais teve qualquer problema.
Muitos dizem que tirou o bebé.
- Isso não é possível! Ela não...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:04 am

Amenhotep calou-se.
De súbito, lembrou-se vivamente de Iaret, de seu temperamento impetuoso e de seu comportamento.
Não disse mais nada. Sabia que os boatos podiam ser verdadeiros.

Lágrimas ardentes rolaram pelo seu rosto.

Nitetis achegou-se ainda mais a ele e tentou animá-lo:
- Não fique triste assim, meu irmão.
Vamos caminhar?
- Não!

Ele se abaixou e tomou nas mãos punhados de terra misturada à areia, que jogou sobre a cabeça.

Depois se sentou e disse:
- Estou de luto, Nitetis.
Já perdera quase tudo, mas tinha a luz da esperança na imagem que fizera de meu filho.
Agora perdi a nesga de luz que ainda restava em minha alma.

Abraçando-o com ternura, ela pediu:
- Tem de continuar a acreditar no bem.
- Como? Eu não tenho mais nada!
Tiraram-me tudo.

Nitetis o olhou nos olhos e disse num profundo suspiro:
- Eu sei que é difícil.
Chore, que o pranto lhe fará bem.

Quando o irmão parecia mais calmo, ela continuou:
-Tudo tem uma explicação.
Precisamos aprender a ler os sinais da divindade a nos guiar em tudo o que nos acontece.

Enfurecido, com alguma dificuldade ele se levantou e gritou:
- Não aguento mais seus sermões ridículos!
Não me venha outra vez com essa história de que tudo é para o bem!
Não é verdade! Se existe mesmo um deus único, como você vive falando, ele deve se divertir muito às nossas custas!
É um monstro!

Sem dizer nada, Nitetis foi até as sacolas com as provisões, pegou alguns mantimentos e saiu levando-os consigo.
Já era madrugada quando retornou e encontrou Amenhotep delirando, com febre muito alta.
Ela o protegeu com mais cobertas e preparou-lhe um chá, que ele bebeu sem relutar.

Depois daquela noite, o estado físico de Amenhotep piorou rapidamente.
Ele não mais se levantou e Nitetis cuidava dele com extremado carinho, fazendo compressas em suas feridas para atenuar as fortes dores que sentia.
Paciente, ela lhe falava com doçura do Deus único e da grande oportunidade que a vida representa.

Quase sem poder falar, ele apenas a ouvia e, ainda que entorpecido pela situação, percebia o amor que a irmã lhe dedicava.
Algumas noites depois, sob o frio cortante da madrugada, Amenhotep chamou pela irmã, que dormia a seu lado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:04 am

Sua voz fraca sumia na garganta:
- Nitetis...
A jovem se levantou de imediato e se debruçou sobre ele, solícita:
- O que foi, meu irmão?
Apertando-lhe a mão com força, Amenhotep balbuciou:
- Perdoe-me...

Nitetis olhou firme em seus olhos e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, viu que estavam imóveis.
Compreendendo que Amenhotep partira para a outra vida, fechou-lhe os olhos com carinho.

As lágrimas corriam pela sua face ao se despedir:
- Que Deus todo-poderoso o receba em seu lar.

Quando o dia amanheceu, Nitetis terminava de enterrar o irmão.
Exausta, sentou-se à sombra da frondosa árvore que os abrigara e adormeceu.
Enquanto seu corpo dormia, seu espírito desprendeu-se do corpo físico e encontrou o corpo espiritual de Amenhotep, ainda sob a árvore, deitado exactamente na posição em que estava ao expirar.

Então ela avistou Jonefá e, aliviada, disse:
- Que bom vê-lo, meu amigo.
- Sua missão está encerrada.
Deve regressar em breve ao nosso plano.

- Deixe-me ajudar um pouco mais esses homens e mulheres que estão aqui.
Gostaria de falar-lhes do amor divino e consolar-lhes o coração sem esperança.
Afagando-lhe a fronte com carinho paternal, Jonefá as sentiu:
- Está bem, permaneça um pouco mais com nossos irmãos necessitados.
Contudo, não deveremos prolongar em demasia sua estada.
Sua missão terminou.

Olhou para o corpo espiritual de Amenhotep que gemia sobre a relva:
- Vão levá-lo agora ao hospital, para que se recupere?
- Vamos levá-lo, fique tranquila.
Apesar da rebeldia renitente que abriga, o coração de nosso irmão está abrandado.

A doença prolongada lapidou seu interior;
ele está pronto para receber ajuda de irmãos que já transitam em esferas superiores.
Vamos fazer tudo o que for possível por ele, enquanto aguardamos seu retorno, minha irmã.

Abraçando Jonefá com carinho, ela agradeceu e voltou ao corpo físico.

Jonefá tomou nos braços o corpo espiritual de Ernesto, ainda sob a forma de Amenhotep, e, em companhia de outros irmãos que também vinham ajudar, levou-o consigo para uma colónia de socorro em ambiente próximo à crosta da Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:04 am

CAPÍTULO 26

Quando Nitetis despertou o dia já ia alto.
Embora entristecida pela partida do irmão, sentia-se afeiçoada aos habitantes daquele lugar.
Ela se levantou, juntou os pertences e foi em direcção ao grupo que se mantinha no centro da região.

Aproximou-se e serenamente disse:
- Meu irmão morreu ontem;
já não tenho mais ninguém.
Posso ficar com vocês?

Os homens e mulheres doentes se entreolharam e um deles falou:
- Não nos importa que fique, mas você não contraiu a doença, ainda.
Por que não volta para casa, já que seu irmão está morto?
O que mais tem para fazer aqui?

Nitetis fitou o homem e pensou por alguns segundos antes de responder:
- Tem razão, eu deveria partir;
no entanto, é imensa minha vontade de continuar aqui.
Se não os incomodar, pretendo ficar.

E abrindo uma das sacolas, ela tirou pão e frutas secas que ofereceu aos circundantes:
- Tenho comida, querem um pouco?

Uma das mulheres achegou-se desconfiada e aceitou a comida.
Depois outra e mais outra vieram para perto da jovem.
Lentamente, um após outro, foram todos se juntando ao redor da bondosa moça.

Ela, então, disse:
- Quando vim para cá, trouxe algumas ervas para ajudar no tratamento de meu irmão.
Apesar de não poderem curar essa doença, elas aliviam a dor.
Se desejarem, ainda tenho bastante aqui comigo.

A mulher que se aproximara primeiro comia sofregamente um pedaço de pão, ouvindo Nitetis.

À sua última oferta, a doente informou:
- Sei de alguns que estão muito mal, quase sem poder andar.
Moram para lá do riacho, mais abaixo de onde você e seu irmão costumavam ficar.
Talvez possa ajudá-los.

- Claro, vamos até lá.
Podem levar-me até eles?

Concordando com a cabeça, a mulher caminhou na direcção dos mais necessitados, seguida pela jovem egípcia.
Nitetis passou a tratar dos doentes mais graves, enquanto espalhava suavidade e doçura com sua presença e suas palavras.
Além de cuidar do corpo degenerado daqueles homens e mulheres excluídos e esquecidos, tinha sempre uma mensagem de esperança a dirigir-lhes.

Em muitas noites frias, sentava-se ao lado deles, em volta da fogueira, e falava-lhes do salvador prometido que viria à Terra para socorrer a humanidade;
abrandava a revolta e a desesperança com suas palavras de compreensão e incentivo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:05 am

Frequentemente dizia:
- Tenham paciência, meus irmãos, pois toda a dor há-de passar.
Fitava os olhos sofridos daqueles seus irmãos e prosseguia, cheia de compaixão e misericórdia:
- Não se sintam abandonados.
O Deus único e verdadeiro, que nos criou a todos, está sempre connosco, por mais difíceis sejam os momentos que vivemos sobre a Terra.
Ele nos mandará o Messias, e esse enviado encherá nosso planeta de amor e de novas esperanças.

Eles a olhavam sem coragem para responder.
Entre aqueles seres degredados, muitos eram egípcios e nunca haviam ouvido falar em um deus único.

Todavia, aquela jovem perfeitamente sã, cuidando deles com tanto amor, tocava até o mais endurecido coração.
E eles a ouviam e se enterneciam com suas doces palavras e seus gestos de bondade.

Em uma colónia espiritual, próximo à crosta da Terra, Amenhotep descansava sobre um leito limpo e confortável.
Às vezes acordava e via a seu lado um jovem de vestes alvas e resplandecentes que lhe dirigia palavras tranquilizadoras e lhe dava água;
ele bebia e logo, outra vez sonolento, voltava a dormir.

Assim permaneceu por várias semanas.
À medida que se fortalecia, os períodos de vigília começaram a se ampliar.
Ele passou a sentar-se na cama e por algum tempo conseguia permanecer desperto.

Naquele dia, abriu os olhos sentindo-se bem melhor.
Sentou-se na cama e não viu ninguém por perto.
Tudo lhe parecia estranho: a construção em que estava era diferente de todas que conhecera antes.

Mas pequenos desenhos familiares estavam distribuídos pelas paredes do quarto, semelhantes às esculturas que Nitetis fazia.

À lembrança da irmã o estranhamento foi ainda maior.
A última coisa de que se lembrava era de estar com ela no local dos banidos.

Onde estaria agora? Que lugar era aquele?
As dúvidas se acumulavam na mente de Amenhotep.
Ele tentou se levantar e teve de sentar-se de novo, assaltado por forte vertigem.

Ouviu uma voz já familiar:
- Não queira se levantar, você precisa descansar.
- Onde estou? Que lugar é este?
Quem é você? Onde está Nitetis?
- Calma, uma coisa de cada vez.
Tome um pouco de água.

Amenhotep recusou:
- Não. Toda vez que bebo dessa água volto a dormir.
O que estão colocando nela?
- Meu irmão, essa água só lhe tem feito bem.
Você já está mais forte.

Amenhotep olhou para seus braços e pernas e viu que as feridas tinham quase desaparecido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:05 am

- Estou curado!
Veja, as feridas estão sumindo... É essa água?
O rapaz sorriu e disse:
- Essa água faz muitos milagres, mas sua recuperação se deve também a outros factores.

- Foram as ervas de minha irmã, não foram?
Elas estão me curando!
Pacientemente, o jovem prosseguiu:
- Acha que consegue caminhar apoiado em mim?

Erguendo-se, Amenhotep respondeu:
- Vou tentar. Para onde vai me levar?
- Vamos dar uma caminhada.
Quero mostrar-lhe algo.

Apoiado no rapaz, Amenhotep acompanhou-o para fora do quarto.

Assim que saíram, olhou com surpresa o ambiente onde se encontrava:
- Afinal, que lugar é este?
Quem são vocês e todas essas pessoas?
São outros leprosos?

E fitando seu acompanhante com estranheza, insistiu:
- Onde está minha irmã?
O rapaz apenas respondeu:
- Venha comigo, vamos ver uma pessoa.

Alcançaram uma construção bela e simples, rodeada por flores de uma espécie que Amenhotep nunca vira, e que ainda assim lhe pareciam familiares.
Parou diante das flores e ficou a apreciá-las.

O rapaz lhe perguntou:
- Gostou das flores?
- Estou intrigado.
Não me lembro de ter visto flores iguais antes, porém ao mesmo tempo parece que as conheço...
- Vamos entrar.
Há muitas coisas que você já viu e das quais agora não se lembra.

Amenhotep seguiu-o em silêncio.

Ao chegarem à ampla sala, repleta de livros, o jovem certificou-se de que ele estava bem e, acomodando-o em uma confortável poltrona, pediu:
- Fique aqui um instante, vou chamar alguém que quer muito vê-lo.

Confuso e agitado, Amenhotep ficou a observar a poltrona e os livros, sem entender o que era tudo aquilo.
Que tipo de artefacto seria aquele em que se sentava?
O que seriam todos aqueles objectos colocados lado a lado em escadas de madeira?

Ele se fazia muitas outras perguntas, ao mesmo tempo em que olhava os braços e especialmente as mãos, limpos das feridas que tanto o haviam torturado.

O rapaz voltou junto com Jonefá.
Ao vê-lo, Amenhotep teve outra forte vertigem.
Prestes a perder a consciência, foi acudido pelo jovem, que lhe aplicou passes restauradores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 15, 2014 9:05 am

Com isso, aliado ao amparo de Jonefá, Amenhotep conseguiu refazer-se e, apoiando-se no rapaz, sentou-se de novo na poltrona.

Jonefá se acomodou em uma cadeira ao lado e disse:
- Você deve estar se fazendo muitas perguntas.
Tenha paciência. A memória virá gradativamente.
Se fizer maior esforço para recordar tudo de uma vez, a vertigem que sentiu agora voltará mais forte.
Precisa ter paciência.

- Eu o conheço... Não sei de onde, mas sei que conheço.
Tocando o ombro do antigo amigo, Jonefá disse:
- Sim, meu irmão, você me conhece, bem como a este lugar; e muitas outras lembranças que hoje lhe parecem confusas retornarão à sua mente aos poucos.

- Onde estou?
- Esta é uma colónia espiritual, situada próximo à crosta da Terra.
- Colónia espiritual...
- Exactamente. Você não está mais em Hermon, nem na Terra;
Nitetis continua lá, porém você deixou o planeta;
você desencarnou.

- O quê?
- Você morreu, Amenhotep.
- Mas como? Não entendo...
- Seu corpo mais denso, que usou na Terra, está morto, vítima da lepra que o consumiu.
Você se encontra numa colónia de recuperação, onde poderá restaurar as energias para então compreender seu passado e preparar-se para o futuro que o espera.

Fitou o jovem que também se sentara ao seu lado:
- Eu o conheço igualmente... Mas de onde?!
De súbito, imagens vagas apareceram na mente de Amenhotep:
- Vejo uma casa estranha... Um lugar distante... Você...

Ele parou de falar.
Seus olhos miraram o infinito.

Então deu um grito doloroso e caiu em pranto convulsivo:
- Elvira!

Amparado novamente por Henrique, que acabara de reconhecer, e por Jonefá, que lhe aplicava passes na região da glândula pineal, Amenhotep adormeceu.

Ao despertar de um longo período de descanso e refazimento, estava de volta ao leito.
Só que dessa vez as lembranças afloravam uma após outra.
Assim que despertou, sentou-se e viu Henrique.

Exclamou, quase gritando:
- Eu me lembro, Henrique!
Lembro-me de muita coisa... De sua mãe...
Onde está Elvira?

Henrique sentou-se na cama ao lado de Amenhotep;
dando-lhe água, respondeu:
- Precisa se acalmar.
As lembranças não podem vir todas de uma vez, como Jonefá lhe disse;
têm de vir aos poucos, ou você não suportará.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 16, 2014 9:03 am

- Onde está ela?
- Lembra-se de sua recente estada na Terra?
- Estou confuso.
Sinto-me várias pessoas ao mesmo tempo...

- Você estava vivendo no Egipto, recorda?
- Sim, claramente!
Disso eu não tenho dúvida alguma.
São outras lembranças sobrepostas que me perturbam.
- São suas outras vidas, suas outras encarnações.
Por isso deve ir com calma.

- Mas por que me lembro tão nitidamente de você e de Elvira? Onde está Elvira?
- Permanece encarnada na Terra.
Fitando o rapaz longamente, ele disse:
- Lembro-me de outro lugar, outro país, outro... mundo!
- Sim, um mundo do sistema de Capela.
É de lá que viemos.

- Estou confuso...
- Com o tempo tudo ficará mais claro.
- Disse que Elvira está na Terra?
Ela também veio connosco de Capela?
- Eu e ela viemos de maneira um pouco diferente da sua.

Amenhotep ia prosseguir, quando Henrique o deteve:
- Agora descanse, precisa estar calmo para que as lembranças não o perturbem tanto.
Durma um pouco. Eu ficarei aqui mesmo, não vou sair.
Quando despertar, continuaremos nossa conversa.
Você se sentirá melhor ao acordar.

Sem discutir, sentindo-se profundamente cansado, Amenhotep acomodou-se e adormeceu novamente.
Ao despertar, viu Henrique sentado em uma poltrona perto de sua cama, lendo tranquilo.

Sentou-se e perguntou:
- O que é isso que tem nas mãos?
- É um livro.
- Livro... Livro... Sim, livro.
Muitos livros... Sei que tenho muitos livros...
- Como se sente?
- Melhor.

Encostando-se na cabeceira da cama, ele perguntou:
- Onde está Jonefá?
- Está ocupado agora, cuidando de assuntos importantes.
- Ele sabe onde está Elvira?
- Lembra-se de seu nome, quando esteve com Elvira pela última vez?

Ele pensou um pouco, depois respondeu:
- Não me lembro.
- Não faz mal. Vai se lembrar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 16, 2014 9:03 am

- E por que a recordação de Elvira é tão clara?
- Porque você a ama profundamente.
- Sim, eu a amo muito.
- Ela também o ama muito.

Amenhotep fitou Henrique e seu semblante se fez sério;
depois ele disse, entristecido:
- Agora eu me lembro.
Fui expulso de meu mundo, por isso vim para a Terra.
As lembranças voltam...
Ferdinando... Onde está ele?

- Está no Egipto.
- O Egipto... Lembro-me do palácio, de Iaret...
Nitetis... Ela ainda está no lugar dos banidos?
- Está.
- Por que continuou lá? Poderia ter ido embora...

- Ela ficou para ajudar aquelas almas sofridas.
- E Ferdinando?
- É agora Rudamon.
- Claro! Aquele monstro só poderia ser Ferdinando.
E Nitetis... Aqueles olhos ternos...

Subitamente o semblante de Amenhotep se transformou.

Ele arregalou os olhos, empalideceu e disse, trémulo:
- Não me diga que Nitetis...
Elvira... Não pode ser. Ela não pode ser Elvira...
Eu não posso tê-la tratado tão mal.
Meu Deus, não...
Diga-me que não, Henrique, por favor...
Por favor, meu Deus, não pode ser...

- Calma, precisa se acalmar.
Agarrando o rapaz pela túnica, ele se pôs a chorar:
- O que ela foi fazer na Terra?
Por que foi para lá? Deveria estar em Capela...
- Veio para ajudá-lo.
Sem o apoio de Elvira, dificilmente você estaria aqui agora.

Com um sinal afirmativo da cabeça, Amenhotep encostou-a nos joelhos e entregou-se ao pranto doloroso.
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Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 16, 2014 9:03 am

CAPÍTULO 27

Enquanto, no plano espiritual próximo à Terra, Amenhotep recuperava as forças e as lembranças, Nitetis se dedicava incessantemente aos doentes.

Seu carinho constante se derramava como bálsamo sobre os corações revoltados e tristes dos prisioneiros daquele lugar esquecido.
Incansável, ela servia aos enfermos com bondade e resignação.

Naquela tarde ela cuidava de uma das doentes.
A jovem mulher, entretanto, mostrava-se revoltada e descrente.

Nitetis buscava consolá-la:
- Samira, tente descansar.
Venha, sente-se aqui, sob a tamareira.
Cambaleando, Samira respondeu:
- Não quero me sentar.
Se tiver de morrer, que seja em pé.

- Não precisa se impor sofrimento maior do que o que já está suportando.
Venha, sente-se.
- Pensa que é muito boa, não é mesmo, Nitetis?
Só porque vem cuidar de nós, pobres desamparados do mundo!
Só que você não tem a menor ideia do sofrimento pelo qual passamos.
Eu estava noiva, ia me casar, e fui abandonada por todos.

- Não é verdade, Samira.
Jeová não a abandonou.
- Ele foi o primeiro!
Sou filha de um sacerdote hebreu - um levita, servo especial de Jeová.
Se isto fosse verdade, se Jeová de facto se importasse connosco, como essa coisa terrível teria acontecido comigo?

Caminhando até onde a jovem tentava ficar em pé, Nitetis apoiou-a e carinhosamente a conduziu para a sombra de frondosa árvore.

Depois, carregando água fresca do riacho, serviu-a, dizendo:
- Os caminhos de Deus são muitas vezes incompreensíveis para nossa mente;
é então que devemos procurar compreendê-los com nosso coração, com nossa fé, com nossos sentimentos.
Deus não erra, Samira, e nos ama a todos sem distinção.

— Jeová está muito distante de nós.
Como pode permitir que esse lugar exista e que pessoas vivam aqui como fantasmas?

Nitetis calou-se por instantes e reflectiu.

Depois, fitando firme os olhos da moça, ela disse:
- Não podemos tentar explicar nossa existência apenas por esta vida de hoje;
é necessário entender que já vivemos muitas outras vidas e que tudo o que nos acontece hoje, tanto de bom como de ruim, é consequência de nossos actos, daquilo que semeamos no passado.

- Do que está falando?
Já ouvi alguma coisa a esse respeito, mas meus pais disseram que não é verdade.
- Certamente é verdade.
No entanto, é preciso que busquemos a confirmação dentro de nós mesmos.
Essas vidas que já tivemos estão gravadas em nosso interior e nos apontam de alguma forma o caminho que devemos seguir hoje, na presente experiência.
- Diz isso porque os egípcios crêem que vivemos outras vidas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 16, 2014 9:03 am

Parecendo distante, Nitetis redarguiu:
-Tem razão. No meu povo, muitos acreditam que a vida continua depois de morte.
E os que detêm conhecimentos mais profundos sabem que ela começou antes de estarmos no corpo que ora usamos, e que continuará em outros corpos que haveremos de usar.
- Chega! Não quero ouvir mais essas estórias...

Samira ia se levantar, mas Nitetis segurou-a pelo braço com suavidade e disse:
- Se não quer acreditar no que lhe digo, tudo bem, mas pense:
estou aqui apenas para ajudar.
Não ganharei nada com isso, e posso até perder minha vida.

Por que acha que faço isso?
É que algo dentro de mim aponta o caminho que devo trilhar.

Sem saber o que responder, Samira ficou em silêncio, só rompido quando Nitetis perguntou:
- Quer comer alguma coisa?
- Não tenho fome, estou com muita dor.

Nitetis se aproximou da jovem e imediatamente começou a fazer-lhe compressas balsamizantes.
Durante a noite, Nitetis acordou muitas vezes, sentindo o corpo febril.
Pela manhã, assim que o sol despontou no horizonte, ela foi até o riacho, desejando banhar-se na água fresca.

Ali chegando, encontrou-se com alguns de seus assistidos que a olharam estranhamente.
Ao mirar sua imagem nas águas cristalinas, constatou que seu rosto apresentava várias manchas.
Tocou nelas e percebeu que não sentia nada naqueles locais.

Teve então certeza:
havia contraído lepra.
Seus olhos encheram-se de lágrimas, que escorreram, densas, pela sua face.
Sentou-se à beira da água e, abraçada aos joelhos, chorou baixinho.

Quando se acalmou, sentiu que alguém a abraçava.
Ergueu a cabeça e viu à sua volta muitos habitantes do lugar.
O abraço era de Samira, que vertia lágrimas silenciosas.
Muitas outras mulheres choravam também e alguns homens tinham os olhos vermelhos.

Nitetis fitou-os com carinho.
Aquelas almas sofridas e maceradas pela dor haviam se tornado sua família.

Samira lhe disse:
- Perdoe-me pelo que falei ontem.
Não poderia imaginar que hoje mesmo você estaria como nós...
Nitetis limpou os olhos e sorriu:
- Não tenho nada para perdoar.
Agora poderei realmente sentir o que vocês sentem.

Samira lamentou:
- Não queria que isso lhe acontecesse.
- Não foi culpa de ninguém, Samira.
Eu sabia que poderia ficar doente.
Peço ajuda ao seu Deus, Jeová, o único Deus, e sei que a recebo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 16, 2014 9:04 am

Aceitando sua situação, Nitetis continuou quanto pôde a auxiliar os demais doentes.
Aos poucos, porém, a doença se alastrou e tomou conta de todo o seu corpo, até que, sem forças, caiu prostrada, em condições lastimáveis.

Alguns dos que ela assistia já haviam morrido, e outros mostravam estado idêntico ao dela;
assim, contava com pouca ajuda.

Entretanto, toda noite, durante o sono físico, seu corpo fluídico se desprendia e encontrava-se com Jonefá e Henrique;
além deles, outros irmãos a amparavam agradecidos, pois muitos eram amigos e entes queridos dos que ela ajudara.

Com as forças renovadas, quando despertava Nitetis trazia no coração a calma e o ânimo que lhe permitiam suportar as limitações temporárias com absoluta resignação.
Muitos daqueles que, ainda em pé, tinham os corações revoltados e que haviam recebido assistência da jovem egípcia, sentiam-se transformados pelo exemplo de suas atitudes e de suas palavras.

Certa noite, enquanto ela se revirava de um lado ao outro, com dores por todo o corpo, Jonefá chegou em companhia de vários amigos, trazendo também Amenhotep.

Ao ver seu estado ele se prostrou em lágrimas, pedindo:
- Perdoe-me, Nitetis; perdoe-me, Elvira.
Como fui tolo em não perceber...
Meu Deus, como fui tolo!

Jonefá acercou-se e o ergueu:
- Amenhotep, nós o trouxemos porque insistiu em vê-la.
Mas deve ajudá-la. Concentre-se em Nitetis.
Sua necessidade agora é de carinho, respeito e consideração.

Lastimar-se não irá ajudá-la e ainda poderá prejudicá-la.
Envolva-a com todo o seu amor.
Depois, quando se encontrarem em nosso plano, poderá conversar com ela e então contar tudo o que lhe vai ao coração.
O momento é de trabalho activo pelo bem de nossa irmã.

Limpando as lágrimas, Amenhotep respondeu:
- É claro, tem razão.
Jonefá asseverou:
- Isso, assim está melhor.
Ajudemos nossa irmã a adormecer.
Aplicando passes longitudinais sobre o corpo de Nitetis, os amigos do espaço a auxiliaram a adormecer.

Assim que se viu desprendida do envoltório denso, ela abraçou Jonefá e, com voz fraca, o saudou como sempre:
- Como é bom vê-lo, meu amigo.
Jonefá lhe disse:
-Tenha só mais um pouco de paciência.
Sua energia vital está prestes a terminar e muito em breve estará connosco.

- Anseio por esse momento, meu bom amigo.
- Trouxemos alguém que lhe é muito querido.
Afastando-se ligeiramente, Jonefá deixou que Nitetis visse Amenhotep, e informou:
- Nosso amigo finalmente está se recuperando.

Ao ver aquele a quem tanto amava, ela estendeu-lhe a mão e sorriu:
- Meu amor, como me alegra vê-lo tão bem!
Amenhotep, que já trazia de novo no perispírito traços de sua vida como Ernesto, ajoelhou-se diante de Elvira e disse, segurando-lhe as mãos:
- Amor da minha vida!
Jamais poderei agradecer todo o bem que você me fez!
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