Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
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Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Um amor de Verdade
Zíbia Gasparetto
É proibida a reprodução de parte ou da totalidade dos textos sem autorização prévia do editor.
Ditado por Lucius
Em meio à tempestade que molhava seu rosto, Nina caminhava alheia a tudo, indiferente à chuva pesada que lhe ensopava o corpo, aos trovões que rugiam iluminando o céu de quando em quando, misturando as lágrimas que embaçavam sua visão com a torrente incontida da tormenta.Zíbia Gasparetto
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Ditado por Lucius
E que a tempestade interior irrompia mais forte do que a de fora, e ela não conseguia acalmar seu coração tumultuado e aflito.
Na rua não havia ninguém.
Até os carros haviam parado, esperando que a tempestade amainasse.
Ela, porém, continuava andando, como se aquele andar fosse imperioso e inadiável.
Por trás das vidraças embaçadas, alguns rostos assustados, vendo-a passar, lançavam olhares temerosos, intimamente indagando por que ela enfrentava a tempestade.
Nina, porém, voltada para seu drama interior, continuava caminhando, tendo consciência apenas de sua dor.
Dentro de seu coração, a revolta, a raiva, o inconformismo por tudo que a vida estava lhe negando como se ela fosse menos, não merecesse a felicidade.
Ela parou um momento e cerrou os punhos com força, dizendo baixinho:
— Eles não vão me vencer! Eu ainda estou viva.
Daqui para a frente, tudo vai mudar.
André não será feliz com ela.
A visão dos dois abraçados e sorridentes surgiu novamente, e ela gritou desesperada:
— Vou ter meu filho e viver para minha vingança, eu juro! Eles não perdem por esperar.
Um relâmpago mais forte iluminou seu rosto naquele momento, mostrando sua fisionomia contraída, pálida, sofrida.
Ela sentiu como se as forças da natureza estivessem confirmando seu juramento.
Suas lágrimas cessaram.
Precisava poupar as forças, pensar no que fazer, como enfrentar os cinco meses que faltavam para a criança nascer.
Olhou o céu cinzento e escuro no prenúncio da noite que se aproximava.
A chuva havia passado. Decidiu ir para casa.
Seu rosto estava pálido porém sem lágrimas.
Havia chorado tudo que podia.
Sentia um vazio dentro do peito mas ao mesmo tempo uma força nova.
Entrou na pequena e graciosa casa onde residia disposta a arruinar suas coisas.
Pretendia ir embora no dia seguinte.
Quando André a procurasse, não mais a encontraria.
Pediria demissão do emprego na manhã seguinte e iria embora.
Possuía algumas economias que a ajudariam a viver modestamente até seu filho nascer.
Enquanto isso, resolveria que rumo dar à vida.
Conhecera André havia três anos.
Quando ele a cortejou, ela já estava apaixonada.
Ele era de família abastada e estava se formando em advocacia.
Trabalhava no escritório do tio, um advogado famoso e conceituado.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Nina recordou-se da felicidade que haviam desfrutado juntos, da casa que ele havia alugado, onde ela passou a residir e ele ficava a maior parte do tempo.
André pedira-lhe segredo, alegando que sua família não queria vê-lo casado antes de formar-se e ganhar o suficiente.
Prometera-lhe que logo depois da formatura formalizaria o compromisso.
De cima da mesinha-de-cabeceira, Nina apanhou um porta-retratos em cuja foto André sorria feliz.
Disse com voz fria:
— Traidor! Agora que se formou, escolheu Janete para casar-se.
Chegou a pedir que eu abortasse.
Falou em ilusão da juventude, disse que eu devia esquecer, como se o passado fosse nada.
Aconteceu ontem, e hoje eu os vi juntos, aliança nos dedos, olhando-se com amor.
Colocou o porta-retratos no lugar e continuou:
— Pois você está enganado, André!
Não vou esquecer nunca!
Eu o amei com toda a pureza do meu coração.
Eu me entreguei de corpo e alma a esse sentimento e você jogou fora, como se eu não existisse como se tudo fosse mentira.
De agora em diante vou me lembrar de tudo, todos os dias.
Vou viver cada minuto pensando em mostrar a vocês que eu sou gente, sou pessoa, e que não podem me descartar como um objecto usado inútil.
Decidida, abriu o armário, apanhou uma mala e começou a arrumar suas coisas.
Passava da meia-noite quando deixou tudo pronto para a mudança.
Só ia levar roupas e objectos pessoais.
O resto ficaria para André decidir.
Ele lhe dissera que continuaria pagando o aluguel e as despesas da casa e que ela poderia ficar despreocupada.
A esse pensamento, Nina trincou os dentes com força.
Nunca aceitaria essa migalha.
Era forte e inteligente o bastante para manter-se.
Na manhã seguinte, depois de demitir-se do emprego, iria ao pensionato das freiras conseguir uma vaga.
Trabalharia a troco de casa e comida até ter o filho.
Ficaria lá até resolver o que fazer.
Guardaria suas economias para mais tarde.
Sentiu o estômago doendo e lembrou-se de que não havia comido nada o dia inteiro.
Foi à cozinha, fez um lanche reforçado e comeu.
Precisava cuidar da saúde.
Dali para a frente só poderia contar consigo mesma.
Lembrou-se dos pais. Eles não sabiam de nada.
Melhor assim. Saberiam quando fosse oportuno.
Moravam no interior de Minas Gerais, e Nina preferia poupá-los.
Quando se deitou, ela esforçou-se para não pensar em mais nada.
Qualquer lembrança triste minaria sua força; precisava dela para sobreviver.
Assim, decidida a reagir, deitou-se e, mantendo o firme propósito de não pensar em nada, logo adormeceu.
André pedira-lhe segredo, alegando que sua família não queria vê-lo casado antes de formar-se e ganhar o suficiente.
Prometera-lhe que logo depois da formatura formalizaria o compromisso.
De cima da mesinha-de-cabeceira, Nina apanhou um porta-retratos em cuja foto André sorria feliz.
Disse com voz fria:
— Traidor! Agora que se formou, escolheu Janete para casar-se.
Chegou a pedir que eu abortasse.
Falou em ilusão da juventude, disse que eu devia esquecer, como se o passado fosse nada.
Aconteceu ontem, e hoje eu os vi juntos, aliança nos dedos, olhando-se com amor.
Colocou o porta-retratos no lugar e continuou:
— Pois você está enganado, André!
Não vou esquecer nunca!
Eu o amei com toda a pureza do meu coração.
Eu me entreguei de corpo e alma a esse sentimento e você jogou fora, como se eu não existisse como se tudo fosse mentira.
De agora em diante vou me lembrar de tudo, todos os dias.
Vou viver cada minuto pensando em mostrar a vocês que eu sou gente, sou pessoa, e que não podem me descartar como um objecto usado inútil.
Decidida, abriu o armário, apanhou uma mala e começou a arrumar suas coisas.
Passava da meia-noite quando deixou tudo pronto para a mudança.
Só ia levar roupas e objectos pessoais.
O resto ficaria para André decidir.
Ele lhe dissera que continuaria pagando o aluguel e as despesas da casa e que ela poderia ficar despreocupada.
A esse pensamento, Nina trincou os dentes com força.
Nunca aceitaria essa migalha.
Era forte e inteligente o bastante para manter-se.
Na manhã seguinte, depois de demitir-se do emprego, iria ao pensionato das freiras conseguir uma vaga.
Trabalharia a troco de casa e comida até ter o filho.
Ficaria lá até resolver o que fazer.
Guardaria suas economias para mais tarde.
Sentiu o estômago doendo e lembrou-se de que não havia comido nada o dia inteiro.
Foi à cozinha, fez um lanche reforçado e comeu.
Precisava cuidar da saúde.
Dali para a frente só poderia contar consigo mesma.
Lembrou-se dos pais. Eles não sabiam de nada.
Melhor assim. Saberiam quando fosse oportuno.
Moravam no interior de Minas Gerais, e Nina preferia poupá-los.
Quando se deitou, ela esforçou-se para não pensar em mais nada.
Qualquer lembrança triste minaria sua força; precisava dela para sobreviver.
Assim, decidida a reagir, deitou-se e, mantendo o firme propósito de não pensar em nada, logo adormeceu.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Nina olhou o relógio e levantou-se rápida.
Não perderia aquele encontro por nada.
Tratava-se de um contacto importante e que poderia abrir-lhe as portas do mundo em que desejava entrar.
Lançou um olhar sobre a escrivaninha, fixando-o no porta-retratos em que um menino sorria alegre.
Seu rosto abrandou-se, mas em seus olhos havia um brilho determinado e forte.
Marcos era sua força, seu enlevo, seu tesouro.
Desde que nascera, cinco anos atrás, tomara conta de seus pensamentos, do seu amor.
Apesar disso, não esquecera os votos que havia feito naquela tarde tempestuosa.
Se antes havia forte motivo para desejar subir na vida, o nascimento de Marcos viera reforçar sua determinação.
Nunca mais tivera contacto com André.
Francisca, uma amiga e vizinha da casa onde morara com ele, a informava dos acontecimentos.
Depois de demitir-se do emprego, fora ter com ela para se despedir.
Francisca tentou demovê-la da ideia de deixar a casa. Mas foi inútil.
Nina estava decidida:
— Você é a única pessoa que sabe para onde vou.
Não conte a ninguém.
Apanhe a correspondência que chegar.
Depois virei buscá-la.
Não quero que minha mãe saiba o que está acontecendo.
— Acho que você está se precipitando.
O André virá procurá-la, estou certa. O que lhe direi?
— Que não sabe de nada.
— Você está acostumada com um padrão de vida bom.
Agora que está grávida, precisa de cuidados.
Não pode ficar sem recursos, depender da caridade das freiras do pensionato.
— Tenho algumas economias. Posso pagar.
Depois, lá estarei protegida.
Só não quero que André saiba onde estou.
— Ele vai ficar desesperado.
— Não se iluda. Ele ficará aliviado.
Estou saindo do caminho.
Estará livre para fazer o que quiser.
Francisca ainda tentou argumentar, mas Nina foi irredutível.
Enquanto viveu no pensionato, foi através de Francisca que ela acompanhara os passos de André.
A princípio, ele ficou aflito, tentou por todas as formas descobrir seu paradeiro. Não conseguiu.
Em uma fria madrugada de junho, Marcos nasceu.
Olhando o retrato sobre a escrivaninha, Nina recordou-se do momento em que o teve em seus braços pela primeira vez.
Um misto de alegria e dor.
Um sentimento de plenitude e ao mesmo tempo de tristeza diante do seu filho sem pai.
André preferira outro amor, e ela imaginou o quanto ele estava perdendo por não poder sentir essa plenitude.
Não perderia aquele encontro por nada.
Tratava-se de um contacto importante e que poderia abrir-lhe as portas do mundo em que desejava entrar.
Lançou um olhar sobre a escrivaninha, fixando-o no porta-retratos em que um menino sorria alegre.
Seu rosto abrandou-se, mas em seus olhos havia um brilho determinado e forte.
Marcos era sua força, seu enlevo, seu tesouro.
Desde que nascera, cinco anos atrás, tomara conta de seus pensamentos, do seu amor.
Apesar disso, não esquecera os votos que havia feito naquela tarde tempestuosa.
Se antes havia forte motivo para desejar subir na vida, o nascimento de Marcos viera reforçar sua determinação.
Nunca mais tivera contacto com André.
Francisca, uma amiga e vizinha da casa onde morara com ele, a informava dos acontecimentos.
Depois de demitir-se do emprego, fora ter com ela para se despedir.
Francisca tentou demovê-la da ideia de deixar a casa. Mas foi inútil.
Nina estava decidida:
— Você é a única pessoa que sabe para onde vou.
Não conte a ninguém.
Apanhe a correspondência que chegar.
Depois virei buscá-la.
Não quero que minha mãe saiba o que está acontecendo.
— Acho que você está se precipitando.
O André virá procurá-la, estou certa. O que lhe direi?
— Que não sabe de nada.
— Você está acostumada com um padrão de vida bom.
Agora que está grávida, precisa de cuidados.
Não pode ficar sem recursos, depender da caridade das freiras do pensionato.
— Tenho algumas economias. Posso pagar.
Depois, lá estarei protegida.
Só não quero que André saiba onde estou.
— Ele vai ficar desesperado.
— Não se iluda. Ele ficará aliviado.
Estou saindo do caminho.
Estará livre para fazer o que quiser.
Francisca ainda tentou argumentar, mas Nina foi irredutível.
Enquanto viveu no pensionato, foi através de Francisca que ela acompanhara os passos de André.
A princípio, ele ficou aflito, tentou por todas as formas descobrir seu paradeiro. Não conseguiu.
Em uma fria madrugada de junho, Marcos nasceu.
Olhando o retrato sobre a escrivaninha, Nina recordou-se do momento em que o teve em seus braços pela primeira vez.
Um misto de alegria e dor.
Um sentimento de plenitude e ao mesmo tempo de tristeza diante do seu filho sem pai.
André preferira outro amor, e ela imaginou o quanto ele estava perdendo por não poder sentir essa plenitude.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Apertando-o de encontro ao coração, Nina pensou:
— André não fará falta.
Eu farei tudo por meu filho: serei mãe, pai, guia, apoio.
O que for preciso.
Durante o tempo em que ficara no pensionato, Nina havia trabalhado no colégio das freiras, que ficava no prédio ao lado.
Prestativa, incansável, educada, fez amizade com os professores, granjeou sua simpatia e admiração.
Havia feito o curso de secretariado e, depois de pouco tempo, foi convidada para assumir a secretaria da escola, que ia até o nível colegial.
Seus vinte anos, sua gravidez assumida corajosamente, sua disposição de trabalhar a ajudaram a progredir rapidamente.
Quando Marcos nasceu, ela continuou trabalhando.
Seu filho ficava na creche do pensionato, onde continuou morando.
Ganhando bom salário, gastando muito pouco, ela conseguiu juntar algum dinheiro.
Levava vida regrada. Seu tempo livre passava com Marcos.
Nina olhou a sala onde trabalhava havia cinco anos.
Gostava da sobriedade dos móveis, da simplicidade daquele ambiente.
Se o encontro que ia ter desse certo, logo deixaria aquele lugar onde se sentira segura e amparada.
Mas era preciso seguir adente, cuidar do seu futuro e de seu filho.
Foi até o banheiro e olhou-se no espelho.
Precisava causar boa ir pressão.
Ajeitou os cabelos, retocou a delicada maquilhagem, apanhou a bolsa e saiu.
A tarde estava fria e ela abotoou o casaco.
Sabia que estava elegante.
Comprara a roupa para aquela ocasião.
Apanhou o bonde para o centro da cidade.
Desceu na Praça da Sé e foi andando até a Rua Marconi, olhando atentamente o número.
Encontrou o que procurava: era um prédio elegante, ela entrou.
O elevador a deixou no quarto andar.
No corredor, ela leu na placa:
Dr. António Dantas -advogado.
Tocou a campainha e logo uma moça abriu-a, fazendo-a entrar.
— Meu nome é Nina Braga.
— O Dr. António a espera. Sente-se, por favor.
Vou avisá-lo que chegou.
Nina sentou-se no sofá olhando atentamente o ambiente luxuoso e sóbrio com satisfação.
Admirou o vaso sobre a mesinha lateral, de onde um arranjo de rosas vermelhas exalava delicado perfume.
A moça voltou, dizendo amável:
— Pode entrar. O Dr. António a espera.
Nina levantou-se imediatamente e com passos firmes entrou na sala.
Vendo-a, ninguém imaginaria o quanto estava nervosa.
Fixou o olhar no homem de meia-idade que estava em sua frente.
Moreno, cabelos grisalhos nas têmporas, o rosto era sério mas seus olhos ágeis e alegres contrastavam com sua postura erecta e discreta.
— André não fará falta.
Eu farei tudo por meu filho: serei mãe, pai, guia, apoio.
O que for preciso.
Durante o tempo em que ficara no pensionato, Nina havia trabalhado no colégio das freiras, que ficava no prédio ao lado.
Prestativa, incansável, educada, fez amizade com os professores, granjeou sua simpatia e admiração.
Havia feito o curso de secretariado e, depois de pouco tempo, foi convidada para assumir a secretaria da escola, que ia até o nível colegial.
Seus vinte anos, sua gravidez assumida corajosamente, sua disposição de trabalhar a ajudaram a progredir rapidamente.
Quando Marcos nasceu, ela continuou trabalhando.
Seu filho ficava na creche do pensionato, onde continuou morando.
Ganhando bom salário, gastando muito pouco, ela conseguiu juntar algum dinheiro.
Levava vida regrada. Seu tempo livre passava com Marcos.
Nina olhou a sala onde trabalhava havia cinco anos.
Gostava da sobriedade dos móveis, da simplicidade daquele ambiente.
Se o encontro que ia ter desse certo, logo deixaria aquele lugar onde se sentira segura e amparada.
Mas era preciso seguir adente, cuidar do seu futuro e de seu filho.
Foi até o banheiro e olhou-se no espelho.
Precisava causar boa ir pressão.
Ajeitou os cabelos, retocou a delicada maquilhagem, apanhou a bolsa e saiu.
A tarde estava fria e ela abotoou o casaco.
Sabia que estava elegante.
Comprara a roupa para aquela ocasião.
Apanhou o bonde para o centro da cidade.
Desceu na Praça da Sé e foi andando até a Rua Marconi, olhando atentamente o número.
Encontrou o que procurava: era um prédio elegante, ela entrou.
O elevador a deixou no quarto andar.
No corredor, ela leu na placa:
Dr. António Dantas -advogado.
Tocou a campainha e logo uma moça abriu-a, fazendo-a entrar.
— Meu nome é Nina Braga.
— O Dr. António a espera. Sente-se, por favor.
Vou avisá-lo que chegou.
Nina sentou-se no sofá olhando atentamente o ambiente luxuoso e sóbrio com satisfação.
Admirou o vaso sobre a mesinha lateral, de onde um arranjo de rosas vermelhas exalava delicado perfume.
A moça voltou, dizendo amável:
— Pode entrar. O Dr. António a espera.
Nina levantou-se imediatamente e com passos firmes entrou na sala.
Vendo-a, ninguém imaginaria o quanto estava nervosa.
Fixou o olhar no homem de meia-idade que estava em sua frente.
Moreno, cabelos grisalhos nas têmporas, o rosto era sério mas seus olhos ágeis e alegres contrastavam com sua postura erecta e discreta.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Boa tarde, doutor.
Ele, que se levantara quando ela entrou, apertou firme a mão que Nina lhe estendeu, pedindo-lhe que se sentasse.
Vendo-a acomodada à sua frente, olhou-a por alguns instantes, depois disse:
— Você é muito jovem.
Quantos anos tem?
— Vinte e cinco.
— Desculpe não ter perguntado quando se candidatou à vaga.
Eu havia pensado em uma pessoa mais velha.
Nina sustentou o olhar e disse séria:
— Tenho experiência e muita vontade de vencer.
Posso me dedicar inteiramente, pois não tenho compromisso. Sou solteira.
— Sei que tem um filho.
— Sim. Mas tenho com quem deixar.
Como sabe, passei cinco anos trabalhando no colégio, mas durante esse tempo estudei Direito e posso afirmar que só não tenho diploma porque não pude ir para uma faculdade.
— Na carta que escreveu, você disse que conhecia leis.
Pensei que pelo menos houvesse frequentado os primeiros anos de uma faculdade.
— Eu não podia. Mas estudei muito.
Tenho convicção de que o conhecimento, a vontade de aprender, o desejo do sucesso, são mais importantes do que um diploma.
Se eu pudesse, teria conquistado um.
Contudo, sinto-me confortada por observar que em muitos casos um diploma não garante o bom desempenho de um profissional.
Os olhos dele apertaram-se um pouco, fixando-a como querendo penetrar nos pensamentos dela, que não desviou o olhar.
— Concordo — disse ele, por fim.
Noto que deseja muito esta vaga.
— Sim. Tenho certeza de que estou capacitada e posso oferecer um serviço à altura da fama desta empresa.
— Você se importaria de fazer um teste?
— Estou à disposição.
— Muito bem.
Vou preparar tudo e a espero amanhã às nove horas.
— Estarei aqui.
Nina despediu-se e saiu.
Sentia as pernas um pouco trémulas, mas estava contente.
Pelo menos ele lhe dera uma oportunidade.
Saberia aproveitá-la. Queria fazer carreira no mesmo ramo que André.
Como não pôde fazer a universidade e concorrer com ele de igual para igual, concluiu que precisaria estudar por conta própria.
Conseguiu o currículo de uma faculdade de Direito e orientou-se por ele, adquirindo os livros conforme podia, dedicando todo o seu tempo livre estudando-os.
Além disso, decidiu actualizar seus conhecimentos.
Passou a ler diariamente os jornais, revistas que o colégio recebia, acompanhava as notícias do rádio, mantendo-se informada de todos os assuntos da actualidade.
Seguia atentamente os temas judiciários, procurando nos livros as leis relativas, anotando tudo, pensando em como agiria se tivesse de advogar aquela causa.
Ele, que se levantara quando ela entrou, apertou firme a mão que Nina lhe estendeu, pedindo-lhe que se sentasse.
Vendo-a acomodada à sua frente, olhou-a por alguns instantes, depois disse:
— Você é muito jovem.
Quantos anos tem?
— Vinte e cinco.
— Desculpe não ter perguntado quando se candidatou à vaga.
Eu havia pensado em uma pessoa mais velha.
Nina sustentou o olhar e disse séria:
— Tenho experiência e muita vontade de vencer.
Posso me dedicar inteiramente, pois não tenho compromisso. Sou solteira.
— Sei que tem um filho.
— Sim. Mas tenho com quem deixar.
Como sabe, passei cinco anos trabalhando no colégio, mas durante esse tempo estudei Direito e posso afirmar que só não tenho diploma porque não pude ir para uma faculdade.
— Na carta que escreveu, você disse que conhecia leis.
Pensei que pelo menos houvesse frequentado os primeiros anos de uma faculdade.
— Eu não podia. Mas estudei muito.
Tenho convicção de que o conhecimento, a vontade de aprender, o desejo do sucesso, são mais importantes do que um diploma.
Se eu pudesse, teria conquistado um.
Contudo, sinto-me confortada por observar que em muitos casos um diploma não garante o bom desempenho de um profissional.
Os olhos dele apertaram-se um pouco, fixando-a como querendo penetrar nos pensamentos dela, que não desviou o olhar.
— Concordo — disse ele, por fim.
Noto que deseja muito esta vaga.
— Sim. Tenho certeza de que estou capacitada e posso oferecer um serviço à altura da fama desta empresa.
— Você se importaria de fazer um teste?
— Estou à disposição.
— Muito bem.
Vou preparar tudo e a espero amanhã às nove horas.
— Estarei aqui.
Nina despediu-se e saiu.
Sentia as pernas um pouco trémulas, mas estava contente.
Pelo menos ele lhe dera uma oportunidade.
Saberia aproveitá-la. Queria fazer carreira no mesmo ramo que André.
Como não pôde fazer a universidade e concorrer com ele de igual para igual, concluiu que precisaria estudar por conta própria.
Conseguiu o currículo de uma faculdade de Direito e orientou-se por ele, adquirindo os livros conforme podia, dedicando todo o seu tempo livre estudando-os.
Além disso, decidiu actualizar seus conhecimentos.
Passou a ler diariamente os jornais, revistas que o colégio recebia, acompanhava as notícias do rádio, mantendo-se informada de todos os assuntos da actualidade.
Seguia atentamente os temas judiciários, procurando nos livros as leis relativas, anotando tudo, pensando em como agiria se tivesse de advogar aquela causa.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Por tudo isso, sentia-se preparada para o teste da manhã seguinte.
Não estava nervosa por causa dele, mas sim pela impaciência em conseguir seus objectivos.
Sabia que André trabalhava com o tio e usufruía de sua fama, não tendo que lutar para conseguir o próprio sucesso.
De vez em quando lia uma ou outra notícia sobre ele nos jornais.
Via fotos dele com a esposa nas revistas da sociedade.
Nesses momentos, pensava com tristeza em seu filho sem pai, mas ao mesmo tempo sentia redobrar a vontade de vencer, de mostrar a André que ela podia dar ao filho tudo quanto ele não dera.
Apressou os passos.
Pretendia chegar ao colégio depressa.
Quando entrou na Rua Barão de Itapetininga, sentiu que alguém a puxava pelo braço:
— Nina!
Voltou-se e viu André olhando-a ansioso.
Sentiu as pernas tremerem, mas controlou-se.
Disse apenas:
— André!
— Finalmente a encontrei.
Precisamos conversar.
Ela puxou o braço que ele segurava, dizendo com voz firme:
— Não temos nada para conversar.
— Eu tenho. Não sabe como tenho procurado você.
Por que fez isso comigo?
Ela fixou-o séria e respondeu:
— Eu?! Não fiz nada.
Você decidiu seguir outro caminho e eu tratei cuidar da minha vida.
— Tenho me perguntado o que aconteceu com você...
— Não se preocupe.
Está tudo bem. Preciso ir.
— Não. Por favor. Venha, vamos tomar alguma coisa.
Não posso deixá-la ir dessa forma.
— Pois eu vou. Não temos nada a nos dizer.
— Você está bonita, bem vestida...
Hesitou um pouco, depois perguntou:
— Você se casou?
Pelos olhos de Nina passou um brilho irónico:
— Por que pergunta?
Acha que eu não poderia cuidar de minha vida sozinha?
— Não quis dizer isso.
É que está mais bonita do que antes, melhorou sua aparência.
Deve ter progredido.
Não estava nervosa por causa dele, mas sim pela impaciência em conseguir seus objectivos.
Sabia que André trabalhava com o tio e usufruía de sua fama, não tendo que lutar para conseguir o próprio sucesso.
De vez em quando lia uma ou outra notícia sobre ele nos jornais.
Via fotos dele com a esposa nas revistas da sociedade.
Nesses momentos, pensava com tristeza em seu filho sem pai, mas ao mesmo tempo sentia redobrar a vontade de vencer, de mostrar a André que ela podia dar ao filho tudo quanto ele não dera.
Apressou os passos.
Pretendia chegar ao colégio depressa.
Quando entrou na Rua Barão de Itapetininga, sentiu que alguém a puxava pelo braço:
— Nina!
Voltou-se e viu André olhando-a ansioso.
Sentiu as pernas tremerem, mas controlou-se.
Disse apenas:
— André!
— Finalmente a encontrei.
Precisamos conversar.
Ela puxou o braço que ele segurava, dizendo com voz firme:
— Não temos nada para conversar.
— Eu tenho. Não sabe como tenho procurado você.
Por que fez isso comigo?
Ela fixou-o séria e respondeu:
— Eu?! Não fiz nada.
Você decidiu seguir outro caminho e eu tratei cuidar da minha vida.
— Tenho me perguntado o que aconteceu com você...
— Não se preocupe.
Está tudo bem. Preciso ir.
— Não. Por favor. Venha, vamos tomar alguma coisa.
Não posso deixá-la ir dessa forma.
— Pois eu vou. Não temos nada a nos dizer.
— Você está bonita, bem vestida...
Hesitou um pouco, depois perguntou:
— Você se casou?
Pelos olhos de Nina passou um brilho irónico:
— Por que pergunta?
Acha que eu não poderia cuidar de minha vida sozinha?
— Não quis dizer isso.
É que está mais bonita do que antes, melhorou sua aparência.
Deve ter progredido.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Melhorei. Pretendo melhorar ainda mais.
Se quer saber, não me casei nem pretendo me casar.
Na verdade, ficar sozinha foi bom:
descobri minha própria capacidade.
Ela fez menção de andar.
Ele segurou seu braço novamente.
— Sinto saudade.
Vamos conversar pelo menos alguns minutos, em consideração ao tempo em que vivemos juntos.
Ela riu bem-humorada e respondeu:
— Esse é um tempo que passou e já esqueci.
Gosto de andar para a frente.
Não quero olhar para trás. Adeus.
Puxou o braço e, antes que ele reagisse, ela andou apressada, parou um táxi que passava e entrou.
Olhando para trás, viu que ainda a seguiu sem conseguir alcançá-la.
Dentro do carro, Nina deu vão à irritação.
O que ele pretendia?
Voltar a relacionar-se com ela?
Dizer que sentia muito o que havia feito e recomeçar?
Trincou os dentes com raiva.
Se dependesse dela, André nunca se aproximaria do filho.
Felizmente o encontrara quando estava bem arrumada, usando roupas elegantes, bem maquiada.
Isso devolveu-lhe o bom humor. Precisava estar preparada.
No novo emprego teria muitas chances de encontrá-lo.
Aliás, escolhera cuidadosamente aquela carreira para isso.
Queria que ele presenciasse seu sucesso, que se arrependesse por tê-la trocado por outra.
Se voltasse a apaixonar-se por ela, então seria sua oportunidade de desprezá-lo e mostrar que o passado não significava mais nada.
De volta ao trabalho, tentou esquecer aquele encontro.
Precisava concentrar-se no teste que faria na manhã seguinte.
À noite, em casa, pretendia rever alguns tópicos que julgava importantes.
Apesar desse propósito, o rosto surpreendido de André não lhe saía do pensamento.
Ele também estava mais bonito.
Mais amadurecido, muito bem vestido.
Ela sabia que ele estava muito bem.
Ganhara nome e dinheiro na profissão.
Várias vezes encontrara referências a ele nas colunas sociais.
Uma vez em casa, tentou estudar, porém não conseguiu concentrar-se.
Nervosa, procurou um comprimido.
Depois de ingerir o calmante, recostou-se no sofá e fechou os olhos, tentando reagir.
Não podia deixar-se impressionar.
André tripudiara sobre seus sentimentos, a enganara.
Se quer saber, não me casei nem pretendo me casar.
Na verdade, ficar sozinha foi bom:
descobri minha própria capacidade.
Ela fez menção de andar.
Ele segurou seu braço novamente.
— Sinto saudade.
Vamos conversar pelo menos alguns minutos, em consideração ao tempo em que vivemos juntos.
Ela riu bem-humorada e respondeu:
— Esse é um tempo que passou e já esqueci.
Gosto de andar para a frente.
Não quero olhar para trás. Adeus.
Puxou o braço e, antes que ele reagisse, ela andou apressada, parou um táxi que passava e entrou.
Olhando para trás, viu que ainda a seguiu sem conseguir alcançá-la.
Dentro do carro, Nina deu vão à irritação.
O que ele pretendia?
Voltar a relacionar-se com ela?
Dizer que sentia muito o que havia feito e recomeçar?
Trincou os dentes com raiva.
Se dependesse dela, André nunca se aproximaria do filho.
Felizmente o encontrara quando estava bem arrumada, usando roupas elegantes, bem maquiada.
Isso devolveu-lhe o bom humor. Precisava estar preparada.
No novo emprego teria muitas chances de encontrá-lo.
Aliás, escolhera cuidadosamente aquela carreira para isso.
Queria que ele presenciasse seu sucesso, que se arrependesse por tê-la trocado por outra.
Se voltasse a apaixonar-se por ela, então seria sua oportunidade de desprezá-lo e mostrar que o passado não significava mais nada.
De volta ao trabalho, tentou esquecer aquele encontro.
Precisava concentrar-se no teste que faria na manhã seguinte.
À noite, em casa, pretendia rever alguns tópicos que julgava importantes.
Apesar desse propósito, o rosto surpreendido de André não lhe saía do pensamento.
Ele também estava mais bonito.
Mais amadurecido, muito bem vestido.
Ela sabia que ele estava muito bem.
Ganhara nome e dinheiro na profissão.
Várias vezes encontrara referências a ele nas colunas sociais.
Uma vez em casa, tentou estudar, porém não conseguiu concentrar-se.
Nervosa, procurou um comprimido.
Depois de ingerir o calmante, recostou-se no sofá e fechou os olhos, tentando reagir.
Não podia deixar-se impressionar.
André tripudiara sobre seus sentimentos, a enganara.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Sentiu acentuar-se seu rancor.
Era assim que queria se lembrar dele.
Era desse sentimento que tirava sua força de seguir em frente, sua vontade de subir na vida.
Sorriu lembrando-se do brilho de admiração que vira nos olhos dele.
Haveria de conseguir muito mais.
Para isso, precisava ser fria, dura, esquecer completamente que um dia o havia amado.
Esse amor estava morto.
Agora só havia lugar para a mulher traída, abandonada.
Respirou fundo.
Em seu coração não havia lugar para mais nada, só para seus objectivos de sucesso.
Apanhou novamente o livro, decidida a estudar.
Mergulhou na leitura e dessa vez conseguiu esquecer completamente tudo que não fosse o que estava lendo.
André chegou em casa pensativo.
O encontro com Nina o perturbara.
Durante o trajecto, recordou com saudade os momentos que haviam desfrutado juntos.
Haviam se amado com a força e a pureza da juventude.
O Dr. Romeu Cerqueira César, seu pai, formado em Engenharia, herdou do avô, além de considerável fortuna, uma empresa de construção civil muito respeitada, com uma carteira de clientes importantes.
Competente e dedicado, Romeu conseguiu não só manter como fazer progredir essa empresa, desfrutando da confiança e do respeito da alta sociedade.
Tinham um casal de filhos.
Tanto ele quanto Andreia, sua esposa, gostariam que André houvesse seguido a carreira do pai.
Ele, porém, estava determinado a ser advogado, e depois de alguma insistência acabaram concordando, afinal um bom advogado poderia assumir o controle da empresa quando chegasse o momento.
Era esse o sonho de Romeu:
encaminhar o filho, torná-lo um cidadão útil.
Apesar de haver nascido em berço de ouro e de nunca ter passado nenhum tipo de necessidade, Romeu entendia que um homem precisa do trabalho para viver bem.
Era contra qualquer tipo de ociosidade.
Ele mesmo deu o exemplo, trabalhando sempre com alegria e disposição.
Já Milena, cinco anos mais nova do que André, possuía um temperamento difícil e pouco afeito aos estudos.
Com facilidade ia da euforia à depressão, ou vice-versa, confundindo os pais, professores, amigos e parentes.
Seu humor instável tornava difícil qualquer programa para o futuro.
Na adolescência, deu tanto trabalho à família que os pais procuraram ajuda psiquiátrica, sem conseguir muito.
Quando ela tomava o remédio, mergulhava na depressão, falava em suicídio, não se alimentava nem queria sair da cama.
O médico mudava o tratamento, e ela tornava-se eufórica, agitada, mergulhava em festas até o dia clarear.
Por isso estava atrasada nos estudos.
Aos dezanove anos, não conseguira concluir o curso secundário.
Era assim que queria se lembrar dele.
Era desse sentimento que tirava sua força de seguir em frente, sua vontade de subir na vida.
Sorriu lembrando-se do brilho de admiração que vira nos olhos dele.
Haveria de conseguir muito mais.
Para isso, precisava ser fria, dura, esquecer completamente que um dia o havia amado.
Esse amor estava morto.
Agora só havia lugar para a mulher traída, abandonada.
Respirou fundo.
Em seu coração não havia lugar para mais nada, só para seus objectivos de sucesso.
Apanhou novamente o livro, decidida a estudar.
Mergulhou na leitura e dessa vez conseguiu esquecer completamente tudo que não fosse o que estava lendo.
André chegou em casa pensativo.
O encontro com Nina o perturbara.
Durante o trajecto, recordou com saudade os momentos que haviam desfrutado juntos.
Haviam se amado com a força e a pureza da juventude.
O Dr. Romeu Cerqueira César, seu pai, formado em Engenharia, herdou do avô, além de considerável fortuna, uma empresa de construção civil muito respeitada, com uma carteira de clientes importantes.
Competente e dedicado, Romeu conseguiu não só manter como fazer progredir essa empresa, desfrutando da confiança e do respeito da alta sociedade.
Tinham um casal de filhos.
Tanto ele quanto Andreia, sua esposa, gostariam que André houvesse seguido a carreira do pai.
Ele, porém, estava determinado a ser advogado, e depois de alguma insistência acabaram concordando, afinal um bom advogado poderia assumir o controle da empresa quando chegasse o momento.
Era esse o sonho de Romeu:
encaminhar o filho, torná-lo um cidadão útil.
Apesar de haver nascido em berço de ouro e de nunca ter passado nenhum tipo de necessidade, Romeu entendia que um homem precisa do trabalho para viver bem.
Era contra qualquer tipo de ociosidade.
Ele mesmo deu o exemplo, trabalhando sempre com alegria e disposição.
Já Milena, cinco anos mais nova do que André, possuía um temperamento difícil e pouco afeito aos estudos.
Com facilidade ia da euforia à depressão, ou vice-versa, confundindo os pais, professores, amigos e parentes.
Seu humor instável tornava difícil qualquer programa para o futuro.
Na adolescência, deu tanto trabalho à família que os pais procuraram ajuda psiquiátrica, sem conseguir muito.
Quando ela tomava o remédio, mergulhava na depressão, falava em suicídio, não se alimentava nem queria sair da cama.
O médico mudava o tratamento, e ela tornava-se eufórica, agitada, mergulhava em festas até o dia clarear.
Por isso estava atrasada nos estudos.
Aos dezanove anos, não conseguira concluir o curso secundário.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Cansada, Andreia dizia ao marido:
— Acho melhor Milena ficar só no colegial e não ir para a faculdade.
Afinal, não vai precisar de uma profissão para viver.
— Talvez ela encontre um bom marido — respondia Romeu.
O amor, os filhos, mudam as pessoas.
Ser esposa e mãe a fará amadurecer.
— Acho difícil que um homem aguente o génio dela.
Ele balançava a cabeça e tentando confortá-la respondia:
— O amor é cego.
Ela é uma moça bonita.
Depois, há gosto para tudo.
Há quem goste de mandar e de ser mandado, de confortar ou de proteger.
— Deus o ouça. Seria uma bênção.
Alguém que a ajudasse a se equilibrar.
Vai aparecer. Você verá.
Andreia suspirava esperançosa.
A filha era seu problema, mas André seu enlevo.
Desde cedo concentrara nele seu afecto e era com orgulho que observava o quanto ele se destacava no clube, o quanto as moças o admiravam.
Ele, sim, haveria de corresponder ao seu sonho de mãe.
Seria um brilhante advogado.
André entrou em casa.
Janete estava na sala e, vendo-o entrar, aproximou-se atenciosa:
— Você chegou mais cedo.
Aconteceu alguma coisa?
— Não — respondeu ele beijando-a levemente na face.
Fui a uma audiência que acabou agora.
Mamãe nos convidou para jantar.
Se eu fosse ao escritório, fatalmente me atrasaria.
Você sabe:
papai faz questão de pontualidade.
— Não sei como ele consegue ser tão formal.
André olhou-a sério e não respondeu.
Janete era seu oposto: não tinha hora para nada.
Odiava ter de programar alguma coisa com antecedência.
André olhou o relógio e considerou:
— Teremos que sair dentro de uma hora.
Espero que esteja pronta.
— Estarei.
Agora gostaria que você desse uma olhada nestas revistas que separei.
Estive pensando em mudar o jardim em volta da piscina.
— Acho melhor Milena ficar só no colegial e não ir para a faculdade.
Afinal, não vai precisar de uma profissão para viver.
— Talvez ela encontre um bom marido — respondia Romeu.
O amor, os filhos, mudam as pessoas.
Ser esposa e mãe a fará amadurecer.
— Acho difícil que um homem aguente o génio dela.
Ele balançava a cabeça e tentando confortá-la respondia:
— O amor é cego.
Ela é uma moça bonita.
Depois, há gosto para tudo.
Há quem goste de mandar e de ser mandado, de confortar ou de proteger.
— Deus o ouça. Seria uma bênção.
Alguém que a ajudasse a se equilibrar.
Vai aparecer. Você verá.
Andreia suspirava esperançosa.
A filha era seu problema, mas André seu enlevo.
Desde cedo concentrara nele seu afecto e era com orgulho que observava o quanto ele se destacava no clube, o quanto as moças o admiravam.
Ele, sim, haveria de corresponder ao seu sonho de mãe.
Seria um brilhante advogado.
André entrou em casa.
Janete estava na sala e, vendo-o entrar, aproximou-se atenciosa:
— Você chegou mais cedo.
Aconteceu alguma coisa?
— Não — respondeu ele beijando-a levemente na face.
Fui a uma audiência que acabou agora.
Mamãe nos convidou para jantar.
Se eu fosse ao escritório, fatalmente me atrasaria.
Você sabe:
papai faz questão de pontualidade.
— Não sei como ele consegue ser tão formal.
André olhou-a sério e não respondeu.
Janete era seu oposto: não tinha hora para nada.
Odiava ter de programar alguma coisa com antecedência.
André olhou o relógio e considerou:
— Teremos que sair dentro de uma hora.
Espero que esteja pronta.
— Estarei.
Agora gostaria que você desse uma olhada nestas revistas que separei.
Estive pensando em mudar o jardim em volta da piscina.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Mudar? Está tão bonito!
Além disso, reformamos tudo antes do nosso casamento.
— Estou enjoada de olhar sempre para a mesma coisa.
Pensei em fazer um deck moderno. Chamei um paisagista para refazer os canteiros.
Tenho tudo planeado dentro da cabeça. Vai ficar lindo.
— Vamos deixar isso para outro dia.
Além do mais, gosto muito do jeito que está.
Não vejo razão para mexer nisso agora.
Ela franziu o cenho, contrariada.
— Pois eu não gosto.
Semana passada fui passar a tarde na casa da Elvira e fiquei humilhada.
Ela reformou tudo. Você precisa ver que beleza!
Fez igual a uma casa que ela visitou em Hollywood, daquela artista famosa, como é mesmo o nome dela?
— Eu não sei.
— Quando cheguei aqui, notei o quanto nossa casa está ultrapassada.
André olhou-a sério:
— Estou cansado, Janete. Tive um dia estafante.
Por favor, vamos deixar este assunto para outro dia.
Vou subir, tomar um banho, e você trate de arrumar-se, porque não quero atrasar.
Sem dar tempo a que ela respondesse, André subiu para o quarto.
Janete engoliu a raiva.
Se ele pensava que ela ia desistir, estava enganado.
Uma vez no quarto, André sentou-se na cama para tirar os sapatos.
Na sua mesa de cabeceira estava um retrato de Janete. Olhou-o pensativo.
Morena, olhos grandes, rosto oval, cabelos lisos, boca bem-feita, era muito bonita.
Talvez por isso ele tenha se deixado envolver pela mãe, cujo sonho era vê-lo casado com a filha do desembargador Fontoura.
Andreia era amiga da família, conhecia Janete desde que era pequena.
Altiva, rica, bonita, instruída, era a esposa ideal para André.
Quando ele decidiu tornar-se advogado, Andreia pensou logo que um sogro desembargador, respeitado, o ajudaria a fazer brilhante carreira.
O que Andreia mais desejava era que o filho brilhasse, conquistasse nome, se tomasse famoso e, quem sabe, até um político importante.
Talvez ele viesse a tomar-se um grande estadista.
Ele merecia tudo, até tomar-se presidente da república.
A princípio, André não havia se interessado por Janete.
Amava Nina, sentia-se feliz a seu lado.
Porém Andreia sonhava alto e não perdia ocasião para tentar convencer o filho a fazer o que ela desejava.
Ouvindo sua mãe discorrer sobre os projectos do seu futuro, tinha receio de falar com ela sobre seu relacionamento com Nina, mulher bonita, inteligente, instruída, mas longe de preencher as expectativas de Andreia.
Além disso, reformamos tudo antes do nosso casamento.
— Estou enjoada de olhar sempre para a mesma coisa.
Pensei em fazer um deck moderno. Chamei um paisagista para refazer os canteiros.
Tenho tudo planeado dentro da cabeça. Vai ficar lindo.
— Vamos deixar isso para outro dia.
Além do mais, gosto muito do jeito que está.
Não vejo razão para mexer nisso agora.
Ela franziu o cenho, contrariada.
— Pois eu não gosto.
Semana passada fui passar a tarde na casa da Elvira e fiquei humilhada.
Ela reformou tudo. Você precisa ver que beleza!
Fez igual a uma casa que ela visitou em Hollywood, daquela artista famosa, como é mesmo o nome dela?
— Eu não sei.
— Quando cheguei aqui, notei o quanto nossa casa está ultrapassada.
André olhou-a sério:
— Estou cansado, Janete. Tive um dia estafante.
Por favor, vamos deixar este assunto para outro dia.
Vou subir, tomar um banho, e você trate de arrumar-se, porque não quero atrasar.
Sem dar tempo a que ela respondesse, André subiu para o quarto.
Janete engoliu a raiva.
Se ele pensava que ela ia desistir, estava enganado.
Uma vez no quarto, André sentou-se na cama para tirar os sapatos.
Na sua mesa de cabeceira estava um retrato de Janete. Olhou-o pensativo.
Morena, olhos grandes, rosto oval, cabelos lisos, boca bem-feita, era muito bonita.
Talvez por isso ele tenha se deixado envolver pela mãe, cujo sonho era vê-lo casado com a filha do desembargador Fontoura.
Andreia era amiga da família, conhecia Janete desde que era pequena.
Altiva, rica, bonita, instruída, era a esposa ideal para André.
Quando ele decidiu tornar-se advogado, Andreia pensou logo que um sogro desembargador, respeitado, o ajudaria a fazer brilhante carreira.
O que Andreia mais desejava era que o filho brilhasse, conquistasse nome, se tomasse famoso e, quem sabe, até um político importante.
Talvez ele viesse a tomar-se um grande estadista.
Ele merecia tudo, até tomar-se presidente da república.
A princípio, André não havia se interessado por Janete.
Amava Nina, sentia-se feliz a seu lado.
Porém Andreia sonhava alto e não perdia ocasião para tentar convencer o filho a fazer o que ela desejava.
Ouvindo sua mãe discorrer sobre os projectos do seu futuro, tinha receio de falar com ela sobre seu relacionamento com Nina, mulher bonita, inteligente, instruída, mas longe de preencher as expectativas de Andreia.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Para agradar a mãe, que vivia convidando a família de Janete para jantares, reuniões no clube, festas e recepções às quais lhe pedia que comparecesse, ele começou a dançar com ela, conversar, levá-la em casa.
Andreia dizia que a moça estava apaixonada por ele, que tanto ela como seu pai gostariam que eles se casassem.
Ela era a mulher ideal. Janete frequentava a alta sociedade e era muito cortejada.
Sua paixão por ele o lisonjeava.
Os amigos o invejavam, tinham o casamento como certo.
Ninguém imaginava que ele pudesse não querer.
Quando Nina lhe disse que estava grávida, ele foi arrancado de seus devaneios. Ficou assustado.
Não podia assumir aquela paternidade.
Seria um escândalo. Seus pais nunca aprovariam.
Sua mãe teria um enorme desgosto.
Não poderia causar-lhe tal decepção.
Ela esperava que ele se tornasse um grande sucesso.
Como casar-se com uma moça pobre, comum, abdicando dos belos projectos com que haviam sonhado?
O encontro com Nina naquela tarde o havia impressionado.
Uma semana após o rompimento. fora à sua procura. Mas ela havia desaparecido.
Nos meses que se seguiram, tentou encontrá-la, saber o que havia acontecido, inutilmente.
Francisca cumpriu à risca o que havia prometido a ela.
Nina estava mais linda, mais mulher. Muito bem vestida.
Como estaria vivendo?
Imaginava que, vendo-se abandonada, ela houvesse mudado de ideia e recorrido ao aborto.
Afinal, aquela gravidez bem poderia ter sido uma maneira de pressioná-lo ao casamento.
Como ele não havia cedido, ela teria se livrado daquele compromisso.
Foi para o chuveiro, mas de repente uma dúvida o assaltou.
E se ela houvesse continuado com a gravidez?
Nesse caso, a criança já teria nascido.
Não. Ela não teria sido tão imprudente.
Sempre fora uma moça ponderada, com pés no chão.
Não iria mergulhar numa aventura dessas.
Saiu do chuveiro e, enquanto se vestia, a dúvida voltava, provocando uma inquietação desagradável.
Tentava acalmar-se, imaginando que, se houvesse mesmo uma criança, ela o teria procurado para que ele a ajudasse a sustentá-la.
Não. Certamente ela teria dado um jeito e esse filho nunca teria nascido.
Janete apareceu no quarto e ele considerou:
— Está quase na hora.
Já disse que não podemos nos atrasar.
— Vou tomar um banho e me arrumar.
— Já vi que vai demorar mais de uma hora.
Por favor, deixe esse banho para mais tarde.
Andreia dizia que a moça estava apaixonada por ele, que tanto ela como seu pai gostariam que eles se casassem.
Ela era a mulher ideal. Janete frequentava a alta sociedade e era muito cortejada.
Sua paixão por ele o lisonjeava.
Os amigos o invejavam, tinham o casamento como certo.
Ninguém imaginava que ele pudesse não querer.
Quando Nina lhe disse que estava grávida, ele foi arrancado de seus devaneios. Ficou assustado.
Não podia assumir aquela paternidade.
Seria um escândalo. Seus pais nunca aprovariam.
Sua mãe teria um enorme desgosto.
Não poderia causar-lhe tal decepção.
Ela esperava que ele se tornasse um grande sucesso.
Como casar-se com uma moça pobre, comum, abdicando dos belos projectos com que haviam sonhado?
O encontro com Nina naquela tarde o havia impressionado.
Uma semana após o rompimento. fora à sua procura. Mas ela havia desaparecido.
Nos meses que se seguiram, tentou encontrá-la, saber o que havia acontecido, inutilmente.
Francisca cumpriu à risca o que havia prometido a ela.
Nina estava mais linda, mais mulher. Muito bem vestida.
Como estaria vivendo?
Imaginava que, vendo-se abandonada, ela houvesse mudado de ideia e recorrido ao aborto.
Afinal, aquela gravidez bem poderia ter sido uma maneira de pressioná-lo ao casamento.
Como ele não havia cedido, ela teria se livrado daquele compromisso.
Foi para o chuveiro, mas de repente uma dúvida o assaltou.
E se ela houvesse continuado com a gravidez?
Nesse caso, a criança já teria nascido.
Não. Ela não teria sido tão imprudente.
Sempre fora uma moça ponderada, com pés no chão.
Não iria mergulhar numa aventura dessas.
Saiu do chuveiro e, enquanto se vestia, a dúvida voltava, provocando uma inquietação desagradável.
Tentava acalmar-se, imaginando que, se houvesse mesmo uma criança, ela o teria procurado para que ele a ajudasse a sustentá-la.
Não. Certamente ela teria dado um jeito e esse filho nunca teria nascido.
Janete apareceu no quarto e ele considerou:
— Está quase na hora.
Já disse que não podemos nos atrasar.
— Vou tomar um banho e me arrumar.
— Já vi que vai demorar mais de uma hora.
Por favor, deixe esse banho para mais tarde.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Você hoje está mal-humorado... O que houve?
— Faça o que estou lhe pedindo, por favor.
Estarei esperando lá embaixo.
André sentou-se na sala irritado.
Não gostava de esperar.
Lembrou-se de que Nina era rápida e nunca se atrasava.
Respirou fundo. Sentia-se nervoso, inquieto.
Foi difícil esperar por Janete, que, como sempre, se atrasou.
Ele estava a ponto de explodir quando ela finalmente desceu.
— Até que enfim! — desabafou ele.
Você sabe que não gosto de esperar e, mesmo assim, nunca chega na hora.
Ela deu de ombros:
— E cedo. Que mania vocês têm de jantar com as galinhas.
Em sociedade é de bom-tom jantar depois das nove.
— Para mim é de bom-tom respeitar os hábitos dos anfitriões.
Meus pais gostam de jantar às sete e meia. Vamos logo.
Durante o trajecto, André ficou silencioso.
Reconhecia que estava sendo desagradável, mas não se sentia à vontade.
A criada os fez entrar na sala onde Romeu os esperava degustando seu whisky.
André aproximou-se do pai dizendo:
— Desculpe o atraso, papai. Foi involuntário.
— Tudo bem, meu filho. Quer beber alguma coisa?
— O mesmo que você. Tive um dia tenso, preciso relaxar.
Vendo que o pai se levantava para servi-lo, interrompeu-o:
— Não se incomode eu me sirvo.
Romeu olhou-o sério.
Vendo-o sentar-se na poltrona com o copo na mão, perguntou:
— Aconteceu alguma coisa?
André olhou disfarçadamente para Janete, que havia se sentado no sofá e estava folheando uma revista, e respondeu:
— Não. Nada.
— Como vão as coisas em seu escritório?
— Bem. Você sabe que o Breno é óptimo.
Com ele tudo caminha rápido.
— Ele me surpreendeu.
Você sabe que fui contra recomendá-lo para trabalhar com o Olavo.
Afinal, apesar de ter cursado a mesma faculdade que você, ele não pertence à nossa roda.
Não sou preconceituoso mas considero a educação factor muito importante.
— Ele estudou tanto quanto eu.
— Mas não tem berço. Isso é básico.
Mas, como eu dizia, nestes dois anos ele tem me surpreendido.
Olavo não tem lhe poupado elogios.
Se você não tomar cuidado, ele pode acabar fazendo carreira mais rápido do que você.
— Faça o que estou lhe pedindo, por favor.
Estarei esperando lá embaixo.
André sentou-se na sala irritado.
Não gostava de esperar.
Lembrou-se de que Nina era rápida e nunca se atrasava.
Respirou fundo. Sentia-se nervoso, inquieto.
Foi difícil esperar por Janete, que, como sempre, se atrasou.
Ele estava a ponto de explodir quando ela finalmente desceu.
— Até que enfim! — desabafou ele.
Você sabe que não gosto de esperar e, mesmo assim, nunca chega na hora.
Ela deu de ombros:
— E cedo. Que mania vocês têm de jantar com as galinhas.
Em sociedade é de bom-tom jantar depois das nove.
— Para mim é de bom-tom respeitar os hábitos dos anfitriões.
Meus pais gostam de jantar às sete e meia. Vamos logo.
Durante o trajecto, André ficou silencioso.
Reconhecia que estava sendo desagradável, mas não se sentia à vontade.
A criada os fez entrar na sala onde Romeu os esperava degustando seu whisky.
André aproximou-se do pai dizendo:
— Desculpe o atraso, papai. Foi involuntário.
— Tudo bem, meu filho. Quer beber alguma coisa?
— O mesmo que você. Tive um dia tenso, preciso relaxar.
Vendo que o pai se levantava para servi-lo, interrompeu-o:
— Não se incomode eu me sirvo.
Romeu olhou-o sério.
Vendo-o sentar-se na poltrona com o copo na mão, perguntou:
— Aconteceu alguma coisa?
André olhou disfarçadamente para Janete, que havia se sentado no sofá e estava folheando uma revista, e respondeu:
— Não. Nada.
— Como vão as coisas em seu escritório?
— Bem. Você sabe que o Breno é óptimo.
Com ele tudo caminha rápido.
— Ele me surpreendeu.
Você sabe que fui contra recomendá-lo para trabalhar com o Olavo.
Afinal, apesar de ter cursado a mesma faculdade que você, ele não pertence à nossa roda.
Não sou preconceituoso mas considero a educação factor muito importante.
— Ele estudou tanto quanto eu.
— Mas não tem berço. Isso é básico.
Mas, como eu dizia, nestes dois anos ele tem me surpreendido.
Olavo não tem lhe poupado elogios.
Se você não tomar cuidado, ele pode acabar fazendo carreira mais rápido do que você.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
André sorriu e respondeu:
— Não corro esse risco.
Também tenho feito um bom trabalho.
O tio também está satisfeito com meu desempenho.
Aproveitando que Janete deixara a sala, Romeu disse baixinho:
— Se não é no trabalho, o que é?
— Não há nada.
— Mas você disse que estava tenso.
Significa que tem algum problema.
Está tudo bem entre você e Janete?
— Claro. Fique tranquilo. Não há nada.
Tive uma audiência de um caso desagradável e fiquei irritado. Mas já passou.
— Ainda bem.
A criada apareceu e avisou que o jantar estava sendo servido.
Andreia estava logo atrás e abraçou o filho dizendo:
— Ainda bem que chegaram.
Seu pai estava impaciente.
André não respondeu.
Beijou a mãe e acompanhou-a até a sala de jantar.
Acomodados ao redor da mesa, Andreia mandou que o jantar fosse servido e tentou animar a conversação.
Porém viu logo que estava difícil.
André parecia distraído, Janete, entediada;
Milena, de cara fechada, estava em um daqueles dias de depressão:
não comeu nada, não conversou.
Andreia olhava desconsolada para Romeu, mas nenhum dos dois se atrevia a conversar com ela.
Sabia que se fizessem isso seria pior.
Depois do jantar, Milena fechou-se no quarto, e os demais foram para a sala conversar.
Andreia sentou-se ao lado da nora, enquanto Romeu e André acomodaram-se um ao lado do outro, conversando sobre a empresa da família.
Era o assunto predilecto de Romeu.
Pretendia com isso interessar o filho para que um dia se decidisse a assumir o património que ele se orgulhava de ter conseguido ampliar e manter.
Andreia conversou com a nora, comentando as últimas notícias sociais.
Mas aos poucos foi encaminhando o assunto para o que lhe interessava:
— Faz quatro anos que vocês se casaram.
— É. Passou rápido.
Andreia fez ligeira pausa e continuou:
— Está na hora de pensar em um filho, você não acha?
— Não corro esse risco.
Também tenho feito um bom trabalho.
O tio também está satisfeito com meu desempenho.
Aproveitando que Janete deixara a sala, Romeu disse baixinho:
— Se não é no trabalho, o que é?
— Não há nada.
— Mas você disse que estava tenso.
Significa que tem algum problema.
Está tudo bem entre você e Janete?
— Claro. Fique tranquilo. Não há nada.
Tive uma audiência de um caso desagradável e fiquei irritado. Mas já passou.
— Ainda bem.
A criada apareceu e avisou que o jantar estava sendo servido.
Andreia estava logo atrás e abraçou o filho dizendo:
— Ainda bem que chegaram.
Seu pai estava impaciente.
André não respondeu.
Beijou a mãe e acompanhou-a até a sala de jantar.
Acomodados ao redor da mesa, Andreia mandou que o jantar fosse servido e tentou animar a conversação.
Porém viu logo que estava difícil.
André parecia distraído, Janete, entediada;
Milena, de cara fechada, estava em um daqueles dias de depressão:
não comeu nada, não conversou.
Andreia olhava desconsolada para Romeu, mas nenhum dos dois se atrevia a conversar com ela.
Sabia que se fizessem isso seria pior.
Depois do jantar, Milena fechou-se no quarto, e os demais foram para a sala conversar.
Andreia sentou-se ao lado da nora, enquanto Romeu e André acomodaram-se um ao lado do outro, conversando sobre a empresa da família.
Era o assunto predilecto de Romeu.
Pretendia com isso interessar o filho para que um dia se decidisse a assumir o património que ele se orgulhava de ter conseguido ampliar e manter.
Andreia conversou com a nora, comentando as últimas notícias sociais.
Mas aos poucos foi encaminhando o assunto para o que lhe interessava:
— Faz quatro anos que vocês se casaram.
— É. Passou rápido.
Andreia fez ligeira pausa e continuou:
— Está na hora de pensar em um filho, você não acha?
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Janete estremeceu e tentou dissimular a contrariedade. Filhos.
— É cedo, Andreia.
Temos muito tempo para pensar nisso.
— Romeu e eu sonhamos com um neto.
Uma criança completa a felicidade de um casal.
Janete apertou os lábios, tentando controlar a irritação.
— Por enquanto não quero.
Estamos muito bem assim.
Uma criança agora viria atrapalhar nossa vida.
Andreia olhou-a um pouco escandalizada.
— Uma criança nunca atrapalha.
Você não gosta de crianças?
— Não se trata disso, Andreia.
Quero viver mais algum tempo sozinha com André.
Usufruir mais da sua companhia, dar-lhe toda a minha atenção. Ainda não é hora.
— Você me assustou.
Cheguei a pensar que não desejasse ter filhos.
Janete sorriu tentando esconder a raiva.
Não gostava de intromissões em sua vida.
Precisava tomar cuidado. Andreia era manipuladora.
Fazia isso com o filho o tempo todo. Mas com ela ia se dar mal.
Não era ingénua como ele. Filhos, não estava em cogitação.
Ainda bem que André nunca falara sobre isso.
Olhou no relógio, disfarçando o tédio.
André conversava animadamente com o pai, e ela desejava ir embora logo.
Quando Andreia saiu da sala por alguns instantes, ela aproximou— se do marido, dizendo com voz que procurou tornar delicada:
— André, gostaria de ir para casa.
Estou com uma tremenda dor de cabeça.
— Peça um comprimido a mamãe, descanse um pouco.
— Quando tenho esta dor de cabeça, só passa relaxando no quarto escuro. Remédio não adianta.
— Tem sempre isso?— indagou Romeu, preocupado.
Já consultou um médico?
— Já. Trata-se de enxaqueca.
Apreciaria muito poder ir para casa e descansar.
André levantou-se dizendo:
— E melhor irmos embora.
Se eu puder, amanhã passarei em seu escritório para continuar nosso assunto.
— Faça isso, meu filho. Estarei esperando.
— É cedo, Andreia.
Temos muito tempo para pensar nisso.
— Romeu e eu sonhamos com um neto.
Uma criança completa a felicidade de um casal.
Janete apertou os lábios, tentando controlar a irritação.
— Por enquanto não quero.
Estamos muito bem assim.
Uma criança agora viria atrapalhar nossa vida.
Andreia olhou-a um pouco escandalizada.
— Uma criança nunca atrapalha.
Você não gosta de crianças?
— Não se trata disso, Andreia.
Quero viver mais algum tempo sozinha com André.
Usufruir mais da sua companhia, dar-lhe toda a minha atenção. Ainda não é hora.
— Você me assustou.
Cheguei a pensar que não desejasse ter filhos.
Janete sorriu tentando esconder a raiva.
Não gostava de intromissões em sua vida.
Precisava tomar cuidado. Andreia era manipuladora.
Fazia isso com o filho o tempo todo. Mas com ela ia se dar mal.
Não era ingénua como ele. Filhos, não estava em cogitação.
Ainda bem que André nunca falara sobre isso.
Olhou no relógio, disfarçando o tédio.
André conversava animadamente com o pai, e ela desejava ir embora logo.
Quando Andreia saiu da sala por alguns instantes, ela aproximou— se do marido, dizendo com voz que procurou tornar delicada:
— André, gostaria de ir para casa.
Estou com uma tremenda dor de cabeça.
— Peça um comprimido a mamãe, descanse um pouco.
— Quando tenho esta dor de cabeça, só passa relaxando no quarto escuro. Remédio não adianta.
— Tem sempre isso?— indagou Romeu, preocupado.
Já consultou um médico?
— Já. Trata-se de enxaqueca.
Apreciaria muito poder ir para casa e descansar.
André levantou-se dizendo:
— E melhor irmos embora.
Se eu puder, amanhã passarei em seu escritório para continuar nosso assunto.
— Faça isso, meu filho. Estarei esperando.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Na viagem de volta, André permaneceu calado.
A imagem de Nina tomava conta de seus pensamentos.
Janete, por sua vez, também ficou calada.
Inventara a mentira e precisava fingir que estava mesmo com dor de cabeça.
Não desejava indispor-se com André.
Ele gostava muito da família.
Ela não podia demonstrar seu desagrado.
Naquela noite, enquanto Janete dormia tranquila, foi muito difícil para André conciliar o sono.
As lembranças do passado voltaram fortes e ele não conseguia esquecer seu encontro com Nina.
Precisava vê-la novamente, encontrar respostas para as indagações que o estavam incomodando.
Mas onde encontrá-la?
Porque a deixara ir sem saber seu endereço?
E se nunca mais a visse?
A esse pensamento, remexia-se no leito inquieto. Não era possível.
Haveria de encontrá-la, mesmo que tivesse de contratar alguém para isso.
Queria saber a verdade.
Nina apressou o passo.
Não desejava chegar atrasada.
Fazia dois meses que estava trabalhando no novo emprego.
Ao contratá-la, António lhe dissera:
— Apesar de você não ter formação universitária, seu teste foi bom.
Por isso vamos dar-lhe uma chance.
Começará como auxiliar de escritório.
— Obrigada, doutor, Não vai se arrepender.
Neide, a chefe do escritório, era uma mulher sisuda, beirando os cinquenta anos, exigente, discreta, fria.
Quando se dirigia a um subalterno, raramente sorria.
Falava pausado mas firme. Vestia-se com classe e elegância.
Todos os advogados da organização estavam satisfeitos com seus serviços e sua experiência, confiando a ela as providências mais delicadas.
Nina era o oposto dela.
Exuberante, jovem e bonita, notou logo que sua contratação não fora vista com simpatia.
Percebeu que aquela mulher poderia atrapalhar seus planos.
Por isso, no fim do primeiro dia de trabalho procurou-a em sua sala.
— O que deseja? — indagou Neide, olhando-a nos olhos.
— Conversar com a senhora — respondeu Nina sem desviar o olhar.
— Sente-se e vá directo ao assunto.
— Obrigada. Vim pedir uma orientação pessoal.
Estudei muito, me esforcei para conseguir este emprego, mas hoje, vendo-a, senti que, embora tenha conhecimento profissional, falta-me a classe, a postura, que notei na senhora.
A imagem de Nina tomava conta de seus pensamentos.
Janete, por sua vez, também ficou calada.
Inventara a mentira e precisava fingir que estava mesmo com dor de cabeça.
Não desejava indispor-se com André.
Ele gostava muito da família.
Ela não podia demonstrar seu desagrado.
Naquela noite, enquanto Janete dormia tranquila, foi muito difícil para André conciliar o sono.
As lembranças do passado voltaram fortes e ele não conseguia esquecer seu encontro com Nina.
Precisava vê-la novamente, encontrar respostas para as indagações que o estavam incomodando.
Mas onde encontrá-la?
Porque a deixara ir sem saber seu endereço?
E se nunca mais a visse?
A esse pensamento, remexia-se no leito inquieto. Não era possível.
Haveria de encontrá-la, mesmo que tivesse de contratar alguém para isso.
Queria saber a verdade.
Nina apressou o passo.
Não desejava chegar atrasada.
Fazia dois meses que estava trabalhando no novo emprego.
Ao contratá-la, António lhe dissera:
— Apesar de você não ter formação universitária, seu teste foi bom.
Por isso vamos dar-lhe uma chance.
Começará como auxiliar de escritório.
— Obrigada, doutor, Não vai se arrepender.
Neide, a chefe do escritório, era uma mulher sisuda, beirando os cinquenta anos, exigente, discreta, fria.
Quando se dirigia a um subalterno, raramente sorria.
Falava pausado mas firme. Vestia-se com classe e elegância.
Todos os advogados da organização estavam satisfeitos com seus serviços e sua experiência, confiando a ela as providências mais delicadas.
Nina era o oposto dela.
Exuberante, jovem e bonita, notou logo que sua contratação não fora vista com simpatia.
Percebeu que aquela mulher poderia atrapalhar seus planos.
Por isso, no fim do primeiro dia de trabalho procurou-a em sua sala.
— O que deseja? — indagou Neide, olhando-a nos olhos.
— Conversar com a senhora — respondeu Nina sem desviar o olhar.
— Sente-se e vá directo ao assunto.
— Obrigada. Vim pedir uma orientação pessoal.
Estudei muito, me esforcei para conseguir este emprego, mas hoje, vendo-a, senti que, embora tenha conhecimento profissional, falta-me a classe, a postura, que notei na senhora.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Nina fez ligeira pausa e, vendo que Neide a ouvia com atenção, continuou:
— Gostaria que me orientasse, que me dissesse como me tornar uma funcionária exemplar.
Prometo obedecer a seus conselhos e dedicar-me inteiramente ao trabalho.
Sem mover um músculo do rosto, Neide respondeu:
— Vejo que é perspicaz. Muito bem.
Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que, para trabalhar em um escritório onde os advogados são homens, precisa ser muito discreta nas roupas, nas atitudes e ser muito profissional.
Por isso pedi que contratassem alguém de mais idade.
Você me parece muito nova para a função.
— Garanto que, se me disser como deseja que eu proceda, obedecerei e não terá motivo para lamentar haver me contratado.
— Bom, vejamos... Deve mudar seu penteado.
Melhor cabelo preso.
Escolher roupas de boa grife, mas com cores discretas.
Os complementos deverão ser de cores básicas.
A maquiagem, suave; a postura, séria.
Os assuntos dentro do escritório deverão ser exclusivamente profissionais.
Conversas com os colegas só admitimos fora da empresa.
Isso vale também com relação aos advogados, desta ou de outras empresas que circulam aqui.
— Entendi.
Farei o possível para atender a suas considerações.
Obrigada por ter me orientado. Até amanhã.
No dia seguinte, Nina já compareceu ao trabalho com um conjunto discreto, cabelo preso e atitude séria.
Neide não lhe disse nada, mas Nina percebeu que ela aprovara sua aparência.
António olhou-a surpreendido, mas não comentou.
A partir desse dia ela dedicou-se ao trabalho, procurando fazer o melhor que sabia.
Entretanto, notou logo que Neide evitava ao máximo que algum dos advogados conversasse com ela ou com as outras três moças sob sua direcção.
Neide ficava atenta para que eles só se dirigissem a ela, evitando a todo custo que abordassem as outras funcionárias.
Ficou claro para Nina que ela manipulava tudo, objectivando aparecer sempre como a pessoa chave, nunca permitindo que as outras se destacassem.
Por isso desejava que elas se tornassem inexpressivas, sem nada que chamasse a atenção.
Todas elas se vestiam igual, falavam igual, actuavam igual.
Eram como robôs nas mãos de Neide.
Nina, apesar de perceber o jogo dela, submeteu-se temporariamente à sua tutela.
Estava chegando, não havia tido ocasião para mostrar sua capacidade.
Se Neide desejasse despedi-la, seria fácil.
Claro que sua opinião seria ouvida e ela não teria como provar o contrário.
Mesmo assim, continuou se esforçando, nunca chegando atrasada, ficando depois do horário sempre que lhe pediam.
Naquele dia, ao entrar no escritório, Nina notou logo que alguma coisa não estava como de costume.
— Gostaria que me orientasse, que me dissesse como me tornar uma funcionária exemplar.
Prometo obedecer a seus conselhos e dedicar-me inteiramente ao trabalho.
Sem mover um músculo do rosto, Neide respondeu:
— Vejo que é perspicaz. Muito bem.
Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que, para trabalhar em um escritório onde os advogados são homens, precisa ser muito discreta nas roupas, nas atitudes e ser muito profissional.
Por isso pedi que contratassem alguém de mais idade.
Você me parece muito nova para a função.
— Garanto que, se me disser como deseja que eu proceda, obedecerei e não terá motivo para lamentar haver me contratado.
— Bom, vejamos... Deve mudar seu penteado.
Melhor cabelo preso.
Escolher roupas de boa grife, mas com cores discretas.
Os complementos deverão ser de cores básicas.
A maquiagem, suave; a postura, séria.
Os assuntos dentro do escritório deverão ser exclusivamente profissionais.
Conversas com os colegas só admitimos fora da empresa.
Isso vale também com relação aos advogados, desta ou de outras empresas que circulam aqui.
— Entendi.
Farei o possível para atender a suas considerações.
Obrigada por ter me orientado. Até amanhã.
No dia seguinte, Nina já compareceu ao trabalho com um conjunto discreto, cabelo preso e atitude séria.
Neide não lhe disse nada, mas Nina percebeu que ela aprovara sua aparência.
António olhou-a surpreendido, mas não comentou.
A partir desse dia ela dedicou-se ao trabalho, procurando fazer o melhor que sabia.
Entretanto, notou logo que Neide evitava ao máximo que algum dos advogados conversasse com ela ou com as outras três moças sob sua direcção.
Neide ficava atenta para que eles só se dirigissem a ela, evitando a todo custo que abordassem as outras funcionárias.
Ficou claro para Nina que ela manipulava tudo, objectivando aparecer sempre como a pessoa chave, nunca permitindo que as outras se destacassem.
Por isso desejava que elas se tornassem inexpressivas, sem nada que chamasse a atenção.
Todas elas se vestiam igual, falavam igual, actuavam igual.
Eram como robôs nas mãos de Neide.
Nina, apesar de perceber o jogo dela, submeteu-se temporariamente à sua tutela.
Estava chegando, não havia tido ocasião para mostrar sua capacidade.
Se Neide desejasse despedi-la, seria fácil.
Claro que sua opinião seria ouvida e ela não teria como provar o contrário.
Mesmo assim, continuou se esforçando, nunca chegando atrasada, ficando depois do horário sempre que lhe pediam.
Naquele dia, ao entrar no escritório, Nina notou logo que alguma coisa não estava como de costume.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
As colegas estavam tensas e nervosas.
Foi para sua mesa e tratou de se preparar para começar seu trabalho.
Foi quando ouviu vozes alteradas na sala de Neide.
Depois de alguns instantes, Antónia, sua colega, saiu de lá chorando e foi ao banheiro.
Nina sentiu vontade de ir atrás, mas conteve-se.
Neide apareceu na sala, dizendo séria:
— Não tolero falta de controle.
Tratem de começar a trabalhar logo.
Temos muitas coisas para hoje.
Ninguém se atreveu a dizer nada.
Cada uma tratou de obedecer. Nina estava com raiva.
Aquela mulher não podia tratar assim uma pessoa.
Antónia era uma moça doce, delicada e muito esforçada.
Tinha certeza de que, se ela perdera o controle, deveria ter um motivo sério.
O tempo foi passando e Antónia não voltava.
As três se entreolhavam aflitas, mas não se animavam a ir atrás dela.
De repente, ouviram um grito.
Imediatamente saíram correndo, e no corredor a faxineira soluçava em pânico.
Neide apareceu no corredor, indagando séria:
— O que foi, Augusta?
Por que está fazendo esse escândalo?
— E a Antónia, D. Neide.
Fui limpar o banheiro e ela estava lá, estendida no chão.
Acho que está morta!
Neide foi ao banheiro e as outras a acompanharam assustadas.
Antónia estava estendida no chão.
— Avisem a telefonista para chamar uma ambulância.
E isso que dá a falta de controle.
— Ela está muito pálida — disse uma das moças.
Olhando o tosto pálido de Antónia, Nina sentiu um aperto no peito.
Viu logo que seu estado era grave.
A ambulância chegou e o médico, depois de ligeiro exame, disse sério:
— Sinto muito, mas é tarde. Ela está morta!
Alguém pode me dizer o que aconteceu?
Neide tomou a dianteira, dizendo:
— Não sabemos, doutor.
Sou a encarregada do escritório.
Antónia é nossa funcionária há dois anos.
Ela fechou-se no banheiro, foi a faxineira que a encontrou.
Foi para sua mesa e tratou de se preparar para começar seu trabalho.
Foi quando ouviu vozes alteradas na sala de Neide.
Depois de alguns instantes, Antónia, sua colega, saiu de lá chorando e foi ao banheiro.
Nina sentiu vontade de ir atrás, mas conteve-se.
Neide apareceu na sala, dizendo séria:
— Não tolero falta de controle.
Tratem de começar a trabalhar logo.
Temos muitas coisas para hoje.
Ninguém se atreveu a dizer nada.
Cada uma tratou de obedecer. Nina estava com raiva.
Aquela mulher não podia tratar assim uma pessoa.
Antónia era uma moça doce, delicada e muito esforçada.
Tinha certeza de que, se ela perdera o controle, deveria ter um motivo sério.
O tempo foi passando e Antónia não voltava.
As três se entreolhavam aflitas, mas não se animavam a ir atrás dela.
De repente, ouviram um grito.
Imediatamente saíram correndo, e no corredor a faxineira soluçava em pânico.
Neide apareceu no corredor, indagando séria:
— O que foi, Augusta?
Por que está fazendo esse escândalo?
— E a Antónia, D. Neide.
Fui limpar o banheiro e ela estava lá, estendida no chão.
Acho que está morta!
Neide foi ao banheiro e as outras a acompanharam assustadas.
Antónia estava estendida no chão.
— Avisem a telefonista para chamar uma ambulância.
E isso que dá a falta de controle.
— Ela está muito pálida — disse uma das moças.
Olhando o tosto pálido de Antónia, Nina sentiu um aperto no peito.
Viu logo que seu estado era grave.
A ambulância chegou e o médico, depois de ligeiro exame, disse sério:
— Sinto muito, mas é tarde. Ela está morta!
Alguém pode me dizer o que aconteceu?
Neide tomou a dianteira, dizendo:
— Não sabemos, doutor.
Sou a encarregada do escritório.
Antónia é nossa funcionária há dois anos.
Ela fechou-se no banheiro, foi a faxineira que a encontrou.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Alguém tocou em alguma coisa?
— Não respondeu Neide.
O médico deu uma olhada em volta e apanhou um frasco em um canto da pia, ao lado do copo.
— Está parecendo suicídio.
Tenho que avisar a polícia.
— Não podemos evitar o escândalo?
Seria melhor se pudéssemos chamar a família e resolver tudo.
— Não posso. Avisem a família, mas eu vou avisar a polícia.
Não toquem em nada. Vamos fechar a porta.
Onde posso falar ao telefone?
— Queira me acompanhar, doutor.
Voltando-se para as moças:
— Saiam do corredor e voltem ao trabalho.
Tratem de controlar as emoções.
Elas voltaram para seu lugar mas ninguém conseguiu trabalhar.
Falavam baixinho, assustadas.
António chegou preocupado, conversou com o médico e levou-o à sua sala para esperarem a chegada da polícia.
Meia hora depois, o delegado chegou acompanhado de algumas pessoas.
António e o médico informaram ao delegado o que havia acontecido.
— Tudo indica que foi suicídio — disse por fim o delegado.
— É o que parece — confirmou o médico.
— Ela não deixou nenhum bilhete, nada?
— Penso que não — informou o médico.
Ele interrogou a faxineira que encontrara o corpo, e seus homens confirmaram que não havia nenhum bilhete.
Enquanto isso, um dos investigadores conversava com as três funcionárias do escritório.
— O que levaria uma moça jovem e bonita a cometer uma loucura dessas?
— Não sei — comentou Gilda.
Nunca imaginei que ela pudesse fazer isso.
— Sempre foi uma boa funcionária, boa colega — tornou Maria.
— Apesar de hoje ela ter chegado muito pálida e nervosa.
Parecia doente — disse Gilda.
— Eu a vi chorando às escondidas — ajuntou Maria.
Tanto que D. Neide a chamou para uma conversa.
Sabe como é: aqui temos que ser profissionais.
Os problemas pessoais precisam ficar em casa.
— Acham que ela foi repreendida? — disse ele.
— Bem... não sei. É que... — Gilda hesitou e mordeu os lábios.
— O que foi? — perguntou ele.
Pode dizer. Fica entre nós.
— Nós a ouvimos discutindo com D. Neide.
Depois, saiu correndo e trancou-se no banheiro — concluiu Gilda.
— Não respondeu Neide.
O médico deu uma olhada em volta e apanhou um frasco em um canto da pia, ao lado do copo.
— Está parecendo suicídio.
Tenho que avisar a polícia.
— Não podemos evitar o escândalo?
Seria melhor se pudéssemos chamar a família e resolver tudo.
— Não posso. Avisem a família, mas eu vou avisar a polícia.
Não toquem em nada. Vamos fechar a porta.
Onde posso falar ao telefone?
— Queira me acompanhar, doutor.
Voltando-se para as moças:
— Saiam do corredor e voltem ao trabalho.
Tratem de controlar as emoções.
Elas voltaram para seu lugar mas ninguém conseguiu trabalhar.
Falavam baixinho, assustadas.
António chegou preocupado, conversou com o médico e levou-o à sua sala para esperarem a chegada da polícia.
Meia hora depois, o delegado chegou acompanhado de algumas pessoas.
António e o médico informaram ao delegado o que havia acontecido.
— Tudo indica que foi suicídio — disse por fim o delegado.
— É o que parece — confirmou o médico.
— Ela não deixou nenhum bilhete, nada?
— Penso que não — informou o médico.
Ele interrogou a faxineira que encontrara o corpo, e seus homens confirmaram que não havia nenhum bilhete.
Enquanto isso, um dos investigadores conversava com as três funcionárias do escritório.
— O que levaria uma moça jovem e bonita a cometer uma loucura dessas?
— Não sei — comentou Gilda.
Nunca imaginei que ela pudesse fazer isso.
— Sempre foi uma boa funcionária, boa colega — tornou Maria.
— Apesar de hoje ela ter chegado muito pálida e nervosa.
Parecia doente — disse Gilda.
— Eu a vi chorando às escondidas — ajuntou Maria.
Tanto que D. Neide a chamou para uma conversa.
Sabe como é: aqui temos que ser profissionais.
Os problemas pessoais precisam ficar em casa.
— Acham que ela foi repreendida? — disse ele.
— Bem... não sei. É que... — Gilda hesitou e mordeu os lábios.
— O que foi? — perguntou ele.
Pode dizer. Fica entre nós.
— Nós a ouvimos discutindo com D. Neide.
Depois, saiu correndo e trancou-se no banheiro — concluiu Gilda.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Acham que ela se suicidou por causa dessa discussão?
— Isso não — respondeu Maria. — Ela já chegou nervosa.
— Peço que não diga nada ao delegado pediu Gilda.
Preciso muito deste emprego.
Se D. Neide souber que eu contei, posso ser despedida.
— Fique tranquila. Não vai acontecer nada.
Ele foi juntar-se ao delegado e Maria comentou:
— Não devíamos ter dito nada.
— Pois eu acho que fizemos bem.
Ninguém me tira da cabeça que, se Neide fosse mais humana, teria evitado essa tragédia.
— É possível. Antónia estava desesperada.
E o desespero anula a razão e o bom senso — comentou Nina, que estivera silenciosa até então.
Ela sentia o coração apertado.
Recordava-se da sua desilusão, do desespero que sentira vendo ruir seus sonhos de amor.
Teria acontecido o mesmo com Antónia?
Não saberia dizer.
Ela era uma moça doce, mas muito calada.
Nunca fazia confidências nem falava sobre sua vida.
Assim que a polícia permitiu, António reuniu todos os funcionários.
Tomou a palavra, dizendo emocionado:
— Estamos consternados pelo que aconteceu.
Infelizmente não pudemos evitar.
Estão todos dispensados por hoje.
Amanhã nosso escritório ficará fechado.
Assim, poderão ir ao enterro.
Como é sexta-feira, retornaremos na segunda normalmente.
Mandei colocar o endereço da casa dela no mural. Peço-lhes discrição.
Comentar esta tragédia só vai agravar um caso que já é muito triste.
Nina deixou o emprego na hora em que o corpo estava sendo transportado.
Uma onda de tristeza a acometeu.
Também pensava que, se Neide houvesse sido mais humana e perspicaz, talvez tivesse evitado aquele suicídio.
Nina também achava que ela mesma, por sua vez, deveria ter seguido seu impulso e ido atrás de Antónia.
De certa forma, sentiu-se culpada.
Ela estava sendo muito passiva.
Neide as dominava e ela aceitara esse controle sem fazer nada.
Aquilo não podia continuar assim. Precisava recuperar a posse de si.
Elas estavam se tornando bonecos que Neide manipulava conforme desejava.
Precisava reagir, fazer alguma coisa.
Arrependeu-se profundamente de ter contemporizado.
— Isso não — respondeu Maria. — Ela já chegou nervosa.
— Peço que não diga nada ao delegado pediu Gilda.
Preciso muito deste emprego.
Se D. Neide souber que eu contei, posso ser despedida.
— Fique tranquila. Não vai acontecer nada.
Ele foi juntar-se ao delegado e Maria comentou:
— Não devíamos ter dito nada.
— Pois eu acho que fizemos bem.
Ninguém me tira da cabeça que, se Neide fosse mais humana, teria evitado essa tragédia.
— É possível. Antónia estava desesperada.
E o desespero anula a razão e o bom senso — comentou Nina, que estivera silenciosa até então.
Ela sentia o coração apertado.
Recordava-se da sua desilusão, do desespero que sentira vendo ruir seus sonhos de amor.
Teria acontecido o mesmo com Antónia?
Não saberia dizer.
Ela era uma moça doce, mas muito calada.
Nunca fazia confidências nem falava sobre sua vida.
Assim que a polícia permitiu, António reuniu todos os funcionários.
Tomou a palavra, dizendo emocionado:
— Estamos consternados pelo que aconteceu.
Infelizmente não pudemos evitar.
Estão todos dispensados por hoje.
Amanhã nosso escritório ficará fechado.
Assim, poderão ir ao enterro.
Como é sexta-feira, retornaremos na segunda normalmente.
Mandei colocar o endereço da casa dela no mural. Peço-lhes discrição.
Comentar esta tragédia só vai agravar um caso que já é muito triste.
Nina deixou o emprego na hora em que o corpo estava sendo transportado.
Uma onda de tristeza a acometeu.
Também pensava que, se Neide houvesse sido mais humana e perspicaz, talvez tivesse evitado aquele suicídio.
Nina também achava que ela mesma, por sua vez, deveria ter seguido seu impulso e ido atrás de Antónia.
De certa forma, sentiu-se culpada.
Ela estava sendo muito passiva.
Neide as dominava e ela aceitara esse controle sem fazer nada.
Aquilo não podia continuar assim. Precisava recuperar a posse de si.
Elas estavam se tornando bonecos que Neide manipulava conforme desejava.
Precisava reagir, fazer alguma coisa.
Arrependeu-se profundamente de ter contemporizado.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Na manhã seguinte, ao telefonar para o endereço de Antónia para informar-se sobre o sepultamento, teve uma surpresa: ela morava em uma pensão.
A dona informou-a que não sabia quando e onde Antónia seria velada.
Nina ficou pensativa. Precisava dessa informação.
Decidida, ligou para a casa de Neide.
— Aqui é Nina. A senhora sabe onde será o velório de Antónia?
— Não. Você não anotou o endereço dela?
— Ela morava em uma pensão e a dona não sabe de nada.
— Pois eu também não.
— A senhora não vai ao enterro?
— Por que iria? Ela não é minha parente.
Já chega a confusão que ela nos arrumou com esse suicídio.
E isso que dá ser tão destrambelhada.
— Desculpe. Eu não devia tê-la incomodado.
Passe bem, D. Neide.
Nina desligou o telefone irritada.
Apanhou sua agenda, encontrou o número e discou.
Uma voz de mulher atendeu:
— Por favor, posso falar com o Dr. Dantas?
— Quem deseja?
— Nina. Sou uma funcionária do escritório dele.
Depois de alguns segundos ele atendeu:
— Alô.
Dr. Dantas, sou eu, Nina.
Trabalho em seu escritório.
Desculpe incomodá-lo em sua casa, mas não tive alternativa.
Falei com D. Neide, mas ela não está interessada.
— Do que se trata?
— Eu desejo ir ao velório da nossa colega Antónia.
Acontece que ela morava em uma pensão, parece que não tem família.
A dona da pensão não sabe de nada e não deseja envolver-se com o caso.
— Isso é o diabo! — comentou ele, sério.
Tem certeza do que está dizendo?
— Sim, senhor.
— Vou ver o que posso fazer.
Fez silêncio por alguns segundos, depois continuou:
- Teremos que investigar.
Você pode ir até o escritório agora?
— Posso.
A dona informou-a que não sabia quando e onde Antónia seria velada.
Nina ficou pensativa. Precisava dessa informação.
Decidida, ligou para a casa de Neide.
— Aqui é Nina. A senhora sabe onde será o velório de Antónia?
— Não. Você não anotou o endereço dela?
— Ela morava em uma pensão e a dona não sabe de nada.
— Pois eu também não.
— A senhora não vai ao enterro?
— Por que iria? Ela não é minha parente.
Já chega a confusão que ela nos arrumou com esse suicídio.
E isso que dá ser tão destrambelhada.
— Desculpe. Eu não devia tê-la incomodado.
Passe bem, D. Neide.
Nina desligou o telefone irritada.
Apanhou sua agenda, encontrou o número e discou.
Uma voz de mulher atendeu:
— Por favor, posso falar com o Dr. Dantas?
— Quem deseja?
— Nina. Sou uma funcionária do escritório dele.
Depois de alguns segundos ele atendeu:
— Alô.
Dr. Dantas, sou eu, Nina.
Trabalho em seu escritório.
Desculpe incomodá-lo em sua casa, mas não tive alternativa.
Falei com D. Neide, mas ela não está interessada.
— Do que se trata?
— Eu desejo ir ao velório da nossa colega Antónia.
Acontece que ela morava em uma pensão, parece que não tem família.
A dona da pensão não sabe de nada e não deseja envolver-se com o caso.
— Isso é o diabo! — comentou ele, sério.
Tem certeza do que está dizendo?
— Sim, senhor.
— Vou ver o que posso fazer.
Fez silêncio por alguns segundos, depois continuou:
- Teremos que investigar.
Você pode ir até o escritório agora?
— Posso.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Nós nos encontraremos lá.
A polícia levou a carteira profissional dela, mas nela só consta o endereço que você tem.
Teremos que dar uma busca no escritório. Ela deve ter família.
— Se não a encontrarmos, ela será enterrada como indigente.
— Tem razão. Estarei no escritório dentro de meia hora.
Nina tratou de arrumar-se.
Olhou-se no espelho e decidiu.
Ia se arrumar do jeito que gostava.
Neide não a dominaria mais.
Aprontou-se e foi para o escritório.
Quando chegou lá, António já se encontrava.
Vendo-a, olhou-a admirado, mas não disse nada.
António pediu que Nina procurasse a ficha de Antónia nos arquivos.
Ela foi à sala dele com a pasta.
Ele abriu-a e, contemplando seu retrato, disse triste:
— Ela era tão bonita!
Por que teria feito isso?
— O desespero é mau conselheiro.
Ontem ela chegou ao escritório muito abatida e triste.
Tanto que não podia conter as lágrimas.
— Nesse caso, por que não conversou com ela e tentou saber o que estava acontecendo?
— Sinto-me culpada por não haver feito isso.
D. Neide a chamou em sua sala.
Ele abanou a cabeça negativamente:
— Ela não era a pessoa mais indicada para ajudar.
— Não mesmo. Elas discutiram e Antónia saiu de lá chorando.
Passou por nós e foi fechar-se no banheiro.
Tive vontade de ir atrás dela, mas me contive.
Estou muito arrependida por não ter feito nada.
Ele suspirou fundo e considerou:
— Tenho uma filha quase da idade dela. Estou muito chocado.
Gostaria muito de ter percebido e feito alguma coisa.
— Todos nós estamos nos sentindo assim, doutor.
Por isso quero despedir-me dela.
— Vamos ver o que há na ficha.
"Antónia Alves - vinte e três anos - professora - natural de Campinas, SP - filha de José Alves e Clementina Alves."
Nada mais, além do endereço que eles já conheciam.
— Não é possível, Nina. Precisamos fazer alguma coisa.
Não vou permitir que ela seja enterrada como indigente.
Vou ligar para o delegado.
A polícia levou a carteira profissional dela, mas nela só consta o endereço que você tem.
Teremos que dar uma busca no escritório. Ela deve ter família.
— Se não a encontrarmos, ela será enterrada como indigente.
— Tem razão. Estarei no escritório dentro de meia hora.
Nina tratou de arrumar-se.
Olhou-se no espelho e decidiu.
Ia se arrumar do jeito que gostava.
Neide não a dominaria mais.
Aprontou-se e foi para o escritório.
Quando chegou lá, António já se encontrava.
Vendo-a, olhou-a admirado, mas não disse nada.
António pediu que Nina procurasse a ficha de Antónia nos arquivos.
Ela foi à sala dele com a pasta.
Ele abriu-a e, contemplando seu retrato, disse triste:
— Ela era tão bonita!
Por que teria feito isso?
— O desespero é mau conselheiro.
Ontem ela chegou ao escritório muito abatida e triste.
Tanto que não podia conter as lágrimas.
— Nesse caso, por que não conversou com ela e tentou saber o que estava acontecendo?
— Sinto-me culpada por não haver feito isso.
D. Neide a chamou em sua sala.
Ele abanou a cabeça negativamente:
— Ela não era a pessoa mais indicada para ajudar.
— Não mesmo. Elas discutiram e Antónia saiu de lá chorando.
Passou por nós e foi fechar-se no banheiro.
Tive vontade de ir atrás dela, mas me contive.
Estou muito arrependida por não ter feito nada.
Ele suspirou fundo e considerou:
— Tenho uma filha quase da idade dela. Estou muito chocado.
Gostaria muito de ter percebido e feito alguma coisa.
— Todos nós estamos nos sentindo assim, doutor.
Por isso quero despedir-me dela.
— Vamos ver o que há na ficha.
"Antónia Alves - vinte e três anos - professora - natural de Campinas, SP - filha de José Alves e Clementina Alves."
Nada mais, além do endereço que eles já conheciam.
— Não é possível, Nina. Precisamos fazer alguma coisa.
Não vou permitir que ela seja enterrada como indigente.
Vou ligar para o delegado.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Ele ligou e ficou sabendo que o delegado estava tentando localizá-lo pelo mesmo motivo.
Nenhum dos dois conseguiu outra informação.
António estava inconformado.
Nina sugeriu:
— O senhor pode colocar um anúncio no jornal.
— É uma boa ideia. Pode cuidar disso?
— Certamente. Posso mandar publicar a foto dela?
— Pode. É muito pequena, mas é a que temos.
Nina foi até o balcão de anúncios do jornal levando a foto.
Ficou esperando que eles a copiassem e voltou ao escritório.
António ainda estava lá e Nina, depois de recolocar a foto na ficha de Antónia, foi à sala dele e perguntou:
— Há alguma coisa mais que eu possa fazer?
— Penso que não. Teremos que esperar.
Nina estendeu-lhe um papel, dizendo:
— Este é o número do telefone de onde moro.
Se precisar de mim para qualquer coisa, estarei à disposição.
Hesitou um pouco e concluiu:
— Gostaria de ter notícias do caso.
— Fique tranquila.
Se eu souber de alguma coisa, telefonarei.
— Obrigada, doutor.
Ela saiu e ele suspirou triste.
O suicídio de Antónia o impressionara muito.
Resolveu ir para casa.
Nina comprou o jornal no dia seguinte e o anúncio da morte, com a foto ampliada de Antónia, foi publicado, pedindo o comparecimento da família à delegacia.
Como António não telefonou, Nina deduziu que não haviam tido nenhuma notícia.
Foi à tarde que ele finalmente ligou, uma mulher havia procurado a delegacia dizendo ser tia de Antónia.
— O delegado me avisou e pediu para conversar com ela.
Eu gostaria muito que você me acompanhasse.
— Está bem. Onde é a delegacia?
— E melhor me dar seu endereço e passarei para apanhá-la.
Quero ir o mais rápido possível.
Meia hora depois ele passou e foram para a delegacia.
Mílton os recebeu imediatamente e os conduziu a uma sala onde foram apresentados à tia de Antónia.
Era uma mulher de uns cinquenta anos, magra, alta, muito bem vestida.
Via-se que tinha classe e dinheiro.
— Esta é a Sra. Olívia Fontoura, tia de Antónia — disse o delegado.
— Viu o anúncio e nos procurou.
Nenhum dos dois conseguiu outra informação.
António estava inconformado.
Nina sugeriu:
— O senhor pode colocar um anúncio no jornal.
— É uma boa ideia. Pode cuidar disso?
— Certamente. Posso mandar publicar a foto dela?
— Pode. É muito pequena, mas é a que temos.
Nina foi até o balcão de anúncios do jornal levando a foto.
Ficou esperando que eles a copiassem e voltou ao escritório.
António ainda estava lá e Nina, depois de recolocar a foto na ficha de Antónia, foi à sala dele e perguntou:
— Há alguma coisa mais que eu possa fazer?
— Penso que não. Teremos que esperar.
Nina estendeu-lhe um papel, dizendo:
— Este é o número do telefone de onde moro.
Se precisar de mim para qualquer coisa, estarei à disposição.
Hesitou um pouco e concluiu:
— Gostaria de ter notícias do caso.
— Fique tranquila.
Se eu souber de alguma coisa, telefonarei.
— Obrigada, doutor.
Ela saiu e ele suspirou triste.
O suicídio de Antónia o impressionara muito.
Resolveu ir para casa.
Nina comprou o jornal no dia seguinte e o anúncio da morte, com a foto ampliada de Antónia, foi publicado, pedindo o comparecimento da família à delegacia.
Como António não telefonou, Nina deduziu que não haviam tido nenhuma notícia.
Foi à tarde que ele finalmente ligou, uma mulher havia procurado a delegacia dizendo ser tia de Antónia.
— O delegado me avisou e pediu para conversar com ela.
Eu gostaria muito que você me acompanhasse.
— Está bem. Onde é a delegacia?
— E melhor me dar seu endereço e passarei para apanhá-la.
Quero ir o mais rápido possível.
Meia hora depois ele passou e foram para a delegacia.
Mílton os recebeu imediatamente e os conduziu a uma sala onde foram apresentados à tia de Antónia.
Era uma mulher de uns cinquenta anos, magra, alta, muito bem vestida.
Via-se que tinha classe e dinheiro.
— Esta é a Sra. Olívia Fontoura, tia de Antónia — disse o delegado.
— Viu o anúncio e nos procurou.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
— Meu nome é António Dantas, advogado, e esta é Nina.
Antónia trabalhava em meu escritório.
Nós colocamos o anúncio porque Antónia nunca nos deu informações sobre sua família.
Olívia levantou-se e apertou a mão que ele lhe estendia, dizendo:
— Ainda estou chocada.
Apesar de tudo, não esperava uma notícia dessas.
— Sentem-se e fiquem à vontade — disse o delegado.
Vou ver se consigo o resultado da autópsia para poder liberar o corpo.
Eles se acomodaram e António indagou:
— A senhora é tia dela?
— Sim. A mãe dela era irmã de meu marido.
— Já avisou o resto da família?
— Com excepção de meu marido e eu, ela não tem mais ninguém.
Para dizer a verdade, eu não queria vir.
Mas meu marido insistiu. Ele está fora do País.
— Ainda bem que a senhora veio disse António.
Todos estamos chocados com o caso.
— Certamente ela causou transtorno à sua empresa.
Isso ela sempre soube fazer muito bem.
Quando a mãe dela morreu em um acidente de carro, ela era adolescente e meu marido, um homem muito caridoso, a trouxe para nossa casa.
Mas ela só nos deu trabalho.
Por isso, quando resolveu se mudar, foi um alívio.
O senhor deve ter se aborrecido.
Ela bem poderia ter se suicidado em outro lugar.
Nina remexia-se na cadeira inquieta.
Era-lhe insuportável presenciar a atitude daquela mulher.
António considerou:
— Não vejo dessa forma.
Se houvesse percebido o que ela pretendia fazer, teria me esforçado para impedir.
Fico me perguntando por que teria feito isso.
Era jovem, bonita.
Tinha todo um futuro pela frente.
— O senhor é um homem educado. Mas ela era assim.
Nunca se importava com os problemas dos outros.
Era instável, cheia de altos e baixos.
Só podia dar no que deu.
Nina interveio:
— Vejo que a senhora não a conhecia bem.
Antónia era uma moça doce, meiga, delicada e gentil.
Todas as colegas a estimavam, além de ser uma funcionária exemplar.
Para fazer o que fez, ela deve ter sofrido muito.
Antónia trabalhava em meu escritório.
Nós colocamos o anúncio porque Antónia nunca nos deu informações sobre sua família.
Olívia levantou-se e apertou a mão que ele lhe estendia, dizendo:
— Ainda estou chocada.
Apesar de tudo, não esperava uma notícia dessas.
— Sentem-se e fiquem à vontade — disse o delegado.
Vou ver se consigo o resultado da autópsia para poder liberar o corpo.
Eles se acomodaram e António indagou:
— A senhora é tia dela?
— Sim. A mãe dela era irmã de meu marido.
— Já avisou o resto da família?
— Com excepção de meu marido e eu, ela não tem mais ninguém.
Para dizer a verdade, eu não queria vir.
Mas meu marido insistiu. Ele está fora do País.
— Ainda bem que a senhora veio disse António.
Todos estamos chocados com o caso.
— Certamente ela causou transtorno à sua empresa.
Isso ela sempre soube fazer muito bem.
Quando a mãe dela morreu em um acidente de carro, ela era adolescente e meu marido, um homem muito caridoso, a trouxe para nossa casa.
Mas ela só nos deu trabalho.
Por isso, quando resolveu se mudar, foi um alívio.
O senhor deve ter se aborrecido.
Ela bem poderia ter se suicidado em outro lugar.
Nina remexia-se na cadeira inquieta.
Era-lhe insuportável presenciar a atitude daquela mulher.
António considerou:
— Não vejo dessa forma.
Se houvesse percebido o que ela pretendia fazer, teria me esforçado para impedir.
Fico me perguntando por que teria feito isso.
Era jovem, bonita.
Tinha todo um futuro pela frente.
— O senhor é um homem educado. Mas ela era assim.
Nunca se importava com os problemas dos outros.
Era instável, cheia de altos e baixos.
Só podia dar no que deu.
Nina interveio:
— Vejo que a senhora não a conhecia bem.
Antónia era uma moça doce, meiga, delicada e gentil.
Todas as colegas a estimavam, além de ser uma funcionária exemplar.
Para fazer o que fez, ela deve ter sofrido muito.
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Olívia fulminou-a com o olhar e não respondeu.
António tornou:
— Essa também era minha opinião.
Seja como for, o importante agora é saber que providências a senhora deseja tomar com relação ao enterro.
— Bem, meu marido não vai poder vir.
Está em um seminário importante na Suíça.
Ele é médico, oftalmologista.
Mas vamos pagar todas as despesas.
Será enterrada ao lado da mãe dela.
Agora preciso ir. Aqui está meu cartão.
Aguardarei notícias.
Depois que ela se foi, Nina não se conteve:
— Que mulher antipática!
Desculpe doutor, mas foi difícil me conter.
— Deu para notar que ela não gostava de Antónia.
Em todo caso, conseguimos nosso objectivo.
Agora só falta saber quando o corpo será liberado.
Temos que tomar providências para o funeral.
Ela vai pagar, mas deixou claro que não deseja incomodar-se com nada.
— Se quiser, posso obter todas as informações a respeito e o senhor resolve o que preferir.
— Faça isso. Vamos embora.
Vou levá-la em casa.
— Não se incomode, doutor.
Posso tomar um ónibus. O senhor está cansado.
— Faço questão.
Uma vez no carro, ele disse:
— Você mora em um colégio. Não tem família?
— Meus pais moram no interior de Minas Gerais.
Tenho um filho pequeno que nasceu no pensionato das freiras.
Antes de trabalhar com o senhor, trabalhei no colégio.
Mudei de emprego, mas continuo morando lá.
Meu filho fica na creche do colégio.
— Você é uma moça corajosa.
— Precisei ser.
Tenho que criar meu filho sozinha.
Desejo dar-lhe uma boa educação.
Nina pensou que ele fosse perguntar pelo pai do menino, mas ele não o fez.
Foi discreto, e ela apreciou sua atitude.
Mas, se ele perguntasse, não teria acanhamento em responder.
Havia assumido sua situação com naturalidade e não se importava com o juízo que pudessem fazer dela.
António tornou:
— Essa também era minha opinião.
Seja como for, o importante agora é saber que providências a senhora deseja tomar com relação ao enterro.
— Bem, meu marido não vai poder vir.
Está em um seminário importante na Suíça.
Ele é médico, oftalmologista.
Mas vamos pagar todas as despesas.
Será enterrada ao lado da mãe dela.
Agora preciso ir. Aqui está meu cartão.
Aguardarei notícias.
Depois que ela se foi, Nina não se conteve:
— Que mulher antipática!
Desculpe doutor, mas foi difícil me conter.
— Deu para notar que ela não gostava de Antónia.
Em todo caso, conseguimos nosso objectivo.
Agora só falta saber quando o corpo será liberado.
Temos que tomar providências para o funeral.
Ela vai pagar, mas deixou claro que não deseja incomodar-se com nada.
— Se quiser, posso obter todas as informações a respeito e o senhor resolve o que preferir.
— Faça isso. Vamos embora.
Vou levá-la em casa.
— Não se incomode, doutor.
Posso tomar um ónibus. O senhor está cansado.
— Faço questão.
Uma vez no carro, ele disse:
— Você mora em um colégio. Não tem família?
— Meus pais moram no interior de Minas Gerais.
Tenho um filho pequeno que nasceu no pensionato das freiras.
Antes de trabalhar com o senhor, trabalhei no colégio.
Mudei de emprego, mas continuo morando lá.
Meu filho fica na creche do colégio.
— Você é uma moça corajosa.
— Precisei ser.
Tenho que criar meu filho sozinha.
Desejo dar-lhe uma boa educação.
Nina pensou que ele fosse perguntar pelo pai do menino, mas ele não o fez.
Foi discreto, e ela apreciou sua atitude.
Mas, se ele perguntasse, não teria acanhamento em responder.
Havia assumido sua situação com naturalidade e não se importava com o juízo que pudessem fazer dela.
Ave sem Ninho- Mensagens : 126028
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Re: Série Lúcius - ´Um amor de Verdade / ZÍBIA GASPARETTO
Ele deixou-a em casa e Nina, depois de ver o filho, tomou as informações para o sepultamento de Antónia.
Combinou tudo com António.
O corpo foi liberado no domingo pela manhã e o enterro marcado para a tarde do mesmo dia.
Nina cuidou de tudo e António ficou aliviado por haverem-se desembaraçado de tão desagradável tarefa.
Aliás, Nina organizou tudo, poupando-lhe o trabalho.
No velório, Nina permaneceu o tempo todo.
Havia avisado todos os funcionários, inclusive Neide, apesar de ela haver dito que não iria.
Suas colegas Gilda e Maria compareceram logo após o almoço e ficaram até a hora do enterro.
Neide não compareceu.
A tia de Antónia esteve lá, não mais do que quinze minutos.
Meia hora antes do enterro, António compareceu com a esposa e acompanharam o corpo até a sepultura.
Quando tudo terminou, na saída do cemitério, António aproximou-se de Nina e apresentou-lhe sua esposa.
Mercedes era uma mulher bonita e elegante, de olhos vivos e francos.
— Esta é Nina, que muito nos ajudou nesta hora.
Mercedes estendeu a mão, olhando-a nos olhos com simpatia:
— Tenho muito prazer em conhecê-la.
Estou muito grata pelo que fez.
António ficou muito chocado com o caso.
Seria muito penoso para ele cuidar dos detalhes.
— Gostaria de poder ter evitado esta tragédia.
Ainda estou me sentindo um pouco culpada.
— Não diga isso. Você não poderia prever o que aconteceu.
Apesar de o momento ser de tristeza, apreciei muito conhecê-la.
Espero tornar a vê-la em uma ocasião mais alegre.
António me disse que você é muito eficiente.
— Será um prazer.
Se precisar de alguma coisa, estarei à sua disposição.
Eles se despediram.
Gilda e Maria, que os observavam, aproximaram-se:
— Não sabia que você era tão importante — disse Gilda.
— Trabalho lá pra mais de quatro anos e nunca fui apresentada à D. Mercedes — tornou Maria.
Você já a conhecia?
— Não — respondeu Nina com naturalidade.
É muito simpática. Agora preciso ir.
Deixei meu filho com as freiras.
Fizeram-me esse favor e não posso abusar.
Até amanhã.
Depois que Nina se foi, Gilda comentou:
— Se D. Neide soubesse dessa intimidade com o Dr. António, ficaria muito irritada.
— Você não pensa em contar, não é?
— Pensando bem, até que seria muito bom.
D. Neide iria disfarçar, mas ficaria comendo fogo.
Isso eu gostaria de ver.
Combinou tudo com António.
O corpo foi liberado no domingo pela manhã e o enterro marcado para a tarde do mesmo dia.
Nina cuidou de tudo e António ficou aliviado por haverem-se desembaraçado de tão desagradável tarefa.
Aliás, Nina organizou tudo, poupando-lhe o trabalho.
No velório, Nina permaneceu o tempo todo.
Havia avisado todos os funcionários, inclusive Neide, apesar de ela haver dito que não iria.
Suas colegas Gilda e Maria compareceram logo após o almoço e ficaram até a hora do enterro.
Neide não compareceu.
A tia de Antónia esteve lá, não mais do que quinze minutos.
Meia hora antes do enterro, António compareceu com a esposa e acompanharam o corpo até a sepultura.
Quando tudo terminou, na saída do cemitério, António aproximou-se de Nina e apresentou-lhe sua esposa.
Mercedes era uma mulher bonita e elegante, de olhos vivos e francos.
— Esta é Nina, que muito nos ajudou nesta hora.
Mercedes estendeu a mão, olhando-a nos olhos com simpatia:
— Tenho muito prazer em conhecê-la.
Estou muito grata pelo que fez.
António ficou muito chocado com o caso.
Seria muito penoso para ele cuidar dos detalhes.
— Gostaria de poder ter evitado esta tragédia.
Ainda estou me sentindo um pouco culpada.
— Não diga isso. Você não poderia prever o que aconteceu.
Apesar de o momento ser de tristeza, apreciei muito conhecê-la.
Espero tornar a vê-la em uma ocasião mais alegre.
António me disse que você é muito eficiente.
— Será um prazer.
Se precisar de alguma coisa, estarei à sua disposição.
Eles se despediram.
Gilda e Maria, que os observavam, aproximaram-se:
— Não sabia que você era tão importante — disse Gilda.
— Trabalho lá pra mais de quatro anos e nunca fui apresentada à D. Mercedes — tornou Maria.
Você já a conhecia?
— Não — respondeu Nina com naturalidade.
É muito simpática. Agora preciso ir.
Deixei meu filho com as freiras.
Fizeram-me esse favor e não posso abusar.
Até amanhã.
Depois que Nina se foi, Gilda comentou:
— Se D. Neide soubesse dessa intimidade com o Dr. António, ficaria muito irritada.
— Você não pensa em contar, não é?
— Pensando bem, até que seria muito bom.
D. Neide iria disfarçar, mas ficaria comendo fogo.
Isso eu gostaria de ver.
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