Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Apertando o frasco nas mãos, Nitetis caminhou até o quarto onde Tanutamun repousava.
Abriu a fina cortina que circundava o leito do pai e se aproximou dele, que, ao vê-la, fez um esforço para sentar-se:
- Nitetis, minha filha, que bom que voltou!
Venha cá, dê-me um abraço.
Senti muito sua falta, minha doce Nitetis.
Correndo e enlaçando-se nos braços do pai, ela disse:
- Também senti sua falta, mas foram somente dois dias, papai!
Fiz uma boa viagem e olhe o que trouxe:
um remédio que Amenhotep preparou especialmente para você.
Com cuidado para evitar nova crise de tosse, Tanutamun ajeitou-se para abraçar melhor a filha.
Ainda enlaçando-a, olhou para o remédio e perguntou:
- Como está seu irmão, Nitetis?
- Ele está bem, papai.
- Continua bonito?
- Mais lindo do que nunca!
- Que bom! Eu sabia que seria um homem muito bonito!
Prolongado silêncio se fez entre eles.
Foi Nitetis quem o quebrou:
- Vamos, papai, tome o remédio agora mesmo.
Precisa ficar bom logo.
Temos muito trabalho, e meus irmãos não conseguem fazer nada sem você.
Tanutamun sorriu, fixando o olhar na bela jovem que lhe oferecia o remédio.
Observou atentamente os traços suaves de Nitetis, lembrando-se da esposa, Bint-Anath.
A filha não se parecia exactamente com ela, mas tinha o mesmo olhar cheio de bondade e os mesmos gestos carinhosos.
Os longos cabelos lisos e negros lhe desciam pelos ombros, enfeitando-lhe o rosto, que a quase ausência de ornamentos no colo delicado tornava cada dia mais admirável.
Ele sentiu imensa ternura pela filha.
Ela enchera aquela casa de luz e de amor.
Jamais conhecera alguém como ela.
Nitetis era especial.
Parecia compreender cada um ao seu redor e buscava, incessantemente, a harmonia e o bem-estar de todos;
não só da família, como dos amigos, e até daqueles que nem conhecia.
Fora Nitetis que lutara pela libertação de Raquel.
Fizera muitas viagens para convencer o irmão a lhe dar a liberdade.
Amenhotep trouxera Raquel ainda jovem para servir na casa dos pais.
Fora sua última visita à família, já fazia mais de seis anos.
A princípio ele relutara, pois não admitia libertar qualquer escravo.
Mas Nitetis tinha seu jeito peculiar e acabara convencendo o irmão.
Abriu a fina cortina que circundava o leito do pai e se aproximou dele, que, ao vê-la, fez um esforço para sentar-se:
- Nitetis, minha filha, que bom que voltou!
Venha cá, dê-me um abraço.
Senti muito sua falta, minha doce Nitetis.
Correndo e enlaçando-se nos braços do pai, ela disse:
- Também senti sua falta, mas foram somente dois dias, papai!
Fiz uma boa viagem e olhe o que trouxe:
um remédio que Amenhotep preparou especialmente para você.
Com cuidado para evitar nova crise de tosse, Tanutamun ajeitou-se para abraçar melhor a filha.
Ainda enlaçando-a, olhou para o remédio e perguntou:
- Como está seu irmão, Nitetis?
- Ele está bem, papai.
- Continua bonito?
- Mais lindo do que nunca!
- Que bom! Eu sabia que seria um homem muito bonito!
Prolongado silêncio se fez entre eles.
Foi Nitetis quem o quebrou:
- Vamos, papai, tome o remédio agora mesmo.
Precisa ficar bom logo.
Temos muito trabalho, e meus irmãos não conseguem fazer nada sem você.
Tanutamun sorriu, fixando o olhar na bela jovem que lhe oferecia o remédio.
Observou atentamente os traços suaves de Nitetis, lembrando-se da esposa, Bint-Anath.
A filha não se parecia exactamente com ela, mas tinha o mesmo olhar cheio de bondade e os mesmos gestos carinhosos.
Os longos cabelos lisos e negros lhe desciam pelos ombros, enfeitando-lhe o rosto, que a quase ausência de ornamentos no colo delicado tornava cada dia mais admirável.
Ele sentiu imensa ternura pela filha.
Ela enchera aquela casa de luz e de amor.
Jamais conhecera alguém como ela.
Nitetis era especial.
Parecia compreender cada um ao seu redor e buscava, incessantemente, a harmonia e o bem-estar de todos;
não só da família, como dos amigos, e até daqueles que nem conhecia.
Fora Nitetis que lutara pela libertação de Raquel.
Fizera muitas viagens para convencer o irmão a lhe dar a liberdade.
Amenhotep trouxera Raquel ainda jovem para servir na casa dos pais.
Fora sua última visita à família, já fazia mais de seis anos.
A princípio ele relutara, pois não admitia libertar qualquer escravo.
Mas Nitetis tinha seu jeito peculiar e acabara convencendo o irmão.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Uma vez livre, ao invés de retornar à Palestina, Raquel preferiu continuar com eles no Egipto.
Os irmãos mais velhos não compreendiam Nitetis.
Apesar da distância e da indiferença de Amenhotep para com a família, era ele quem a entendia melhor.
Tanutamun estava absorto em seus pensamentos quando sentiu a filha tocar-lhe o ombro:
- Vamos, pai, tome o remédio, vai lhe fazer bem.
Sem responder, ele obedeceu e deitou-se de novo.
- Sinto-me cansado...
- Descanse. Eu não deveria ter deixado que se levantasse e se movimentasse.
Precisa repousar.
Ela já ia saindo, quando o pai a chamou:
- Filha...
- O que é?
- Obrigado por ter ido até seu irmão.
Saiba que aprecio muito seus esforços...
Ela interrompeu-o, colocando o dedo em seus lábios, e pediu:
- Não faça mais nenhum esforço, pai.
Precisa descansar. Deite-se, vamos.
Ajudando-o a se acomodar, ela finalizou:
- Agora durma, descanse.
Sei que em breve estará muito melhor.
Tanutamun fechou os olhos e balançou a cabeça concordando.
A jovem saiu do quarto e, ao ver-se longe do pai, no jardim da casa, caiu em pranto doloroso.
Raquel a viu e, correndo ao seu encontro, perguntou:
- O que foi, Nitetis? O que houve?
- Ele está piorando, Raquel, posso sentir.
- Não, acho que está do mesmo jeito, nem melhor, nem pior.
- Está piorando. Sinto suas forças vitais diminuindo.
- Suas o quê?
- Forças vitais.
- O que é isso?
- As forças que fazem com que vivamos.
Essas forças estão acabando.
Por alguma razão, ele vai nos deixando aos poucos.
Limpando as lágrimas que insistiam em banhar-lhe a face, ela continuou:
- O remédio não vai resolver nada, eu sinto isso.
- Não fale assim, tem de haver alguma esperança!
Vou pedir ao meu Deus por seu pai.
Meu Deus é poderoso e forte. Ele vai ajudá-lo!
Os irmãos mais velhos não compreendiam Nitetis.
Apesar da distância e da indiferença de Amenhotep para com a família, era ele quem a entendia melhor.
Tanutamun estava absorto em seus pensamentos quando sentiu a filha tocar-lhe o ombro:
- Vamos, pai, tome o remédio, vai lhe fazer bem.
Sem responder, ele obedeceu e deitou-se de novo.
- Sinto-me cansado...
- Descanse. Eu não deveria ter deixado que se levantasse e se movimentasse.
Precisa repousar.
Ela já ia saindo, quando o pai a chamou:
- Filha...
- O que é?
- Obrigado por ter ido até seu irmão.
Saiba que aprecio muito seus esforços...
Ela interrompeu-o, colocando o dedo em seus lábios, e pediu:
- Não faça mais nenhum esforço, pai.
Precisa descansar. Deite-se, vamos.
Ajudando-o a se acomodar, ela finalizou:
- Agora durma, descanse.
Sei que em breve estará muito melhor.
Tanutamun fechou os olhos e balançou a cabeça concordando.
A jovem saiu do quarto e, ao ver-se longe do pai, no jardim da casa, caiu em pranto doloroso.
Raquel a viu e, correndo ao seu encontro, perguntou:
- O que foi, Nitetis? O que houve?
- Ele está piorando, Raquel, posso sentir.
- Não, acho que está do mesmo jeito, nem melhor, nem pior.
- Está piorando. Sinto suas forças vitais diminuindo.
- Suas o quê?
- Forças vitais.
- O que é isso?
- As forças que fazem com que vivamos.
Essas forças estão acabando.
Por alguma razão, ele vai nos deixando aos poucos.
Limpando as lágrimas que insistiam em banhar-lhe a face, ela continuou:
- O remédio não vai resolver nada, eu sinto isso.
- Não fale assim, tem de haver alguma esperança!
Vou pedir ao meu Deus por seu pai.
Meu Deus é poderoso e forte. Ele vai ajudá-lo!
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- O chefe de todos os seus deuses?
- Não, Nitetis, o único Deus que existe.
- O único Deus?
- Sim. Você sabe que meu povo acredita em Jeová, que é o único e verdadeiro Deus.
- Você já me falou dele.
E sabe de uma coisa, Raquel?
Eu acredito nisso:
que só existe um Deus, dono de tudo, criador de tudo!
- É mesmo?
- Sei que só existe um Deus, que cuida de todos nós.
Portanto, o seu Deus deve ser o mesmo que cuida de meu povo.
Surpresa e sem saber o que responder, Raquel disse:
- Então vamos pedir ao Deus verdadeiro por seu pai.
Ele vai nos escutar!
As duas se ajoelharam ali mesmo, no meio do jardim, e Raquel elevou aos céus sentida prece.
Ela não compreendia bem seus sentimentos, mas gostava demais de Nitetis e de seu pai.
Quando se vira livre do cativeiro em que vivera nos últimos quinze anos, não tivera coragem para deixá-los.
Algo a prendia a eles.
Ainda estavam de joelhos quando os três irmãos de Nitetis -luseneb, Ineni e Ikeni - chegaram, ruidosos.
Ouvindo-os, Raquel se levantou depressa, seguida por Nitetis.
Mas eles perceberam sua rápida movimentação e foi Iuseneb, o mais velho, quem perguntou:
- O que as duas faziam?
- Orávamos ao Deus todo-poderoso - respondeu Nitetis, sem hesitar.
- Deus todo-poderoso?
Sei. Pedia que seu irmãozinho querido voltasse para casa?
- Não. Pedíamos pela saúde de nosso pai.
- Desista, Nitetis. Ele não vai melhorar.
Está velho demais.
A hora de cruzar o grande vale está chegando.
Ele irá juntar-se em breve aos nossos ancestrais.
Não há o que ser feito.
- Não fale assim!
- Não foi o que lhe disse o velho e bom Amenhotep?
- Não! Ele virá logo ver nosso pai.
Deu-me até um remédio para ajudá-lo enquanto ele não chega.
- Como você é tola, Nitetis. Amenhotep não virá.
Recebemos notícias de que ele foi escolhido pelo faraó para ser o ministro-chefe.
Tem ideia do poder e da influência que estão agora depositados nas mãos de Amenhotep?
- Não, Nitetis, o único Deus que existe.
- O único Deus?
- Sim. Você sabe que meu povo acredita em Jeová, que é o único e verdadeiro Deus.
- Você já me falou dele.
E sabe de uma coisa, Raquel?
Eu acredito nisso:
que só existe um Deus, dono de tudo, criador de tudo!
- É mesmo?
- Sei que só existe um Deus, que cuida de todos nós.
Portanto, o seu Deus deve ser o mesmo que cuida de meu povo.
Surpresa e sem saber o que responder, Raquel disse:
- Então vamos pedir ao Deus verdadeiro por seu pai.
Ele vai nos escutar!
As duas se ajoelharam ali mesmo, no meio do jardim, e Raquel elevou aos céus sentida prece.
Ela não compreendia bem seus sentimentos, mas gostava demais de Nitetis e de seu pai.
Quando se vira livre do cativeiro em que vivera nos últimos quinze anos, não tivera coragem para deixá-los.
Algo a prendia a eles.
Ainda estavam de joelhos quando os três irmãos de Nitetis -luseneb, Ineni e Ikeni - chegaram, ruidosos.
Ouvindo-os, Raquel se levantou depressa, seguida por Nitetis.
Mas eles perceberam sua rápida movimentação e foi Iuseneb, o mais velho, quem perguntou:
- O que as duas faziam?
- Orávamos ao Deus todo-poderoso - respondeu Nitetis, sem hesitar.
- Deus todo-poderoso?
Sei. Pedia que seu irmãozinho querido voltasse para casa?
- Não. Pedíamos pela saúde de nosso pai.
- Desista, Nitetis. Ele não vai melhorar.
Está velho demais.
A hora de cruzar o grande vale está chegando.
Ele irá juntar-se em breve aos nossos ancestrais.
Não há o que ser feito.
- Não fale assim!
- Não foi o que lhe disse o velho e bom Amenhotep?
- Não! Ele virá logo ver nosso pai.
Deu-me até um remédio para ajudá-lo enquanto ele não chega.
- Como você é tola, Nitetis. Amenhotep não virá.
Recebemos notícias de que ele foi escolhido pelo faraó para ser o ministro-chefe.
Tem ideia do poder e da influência que estão agora depositados nas mãos de Amenhotep?
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Ele não virá. Tem muitas coisas para fazer, muito para cuidar.
Tem o Egipto em suas mãos.
Acha que irá se preocupar com o velho pai moribundo?
- Você não tem coração, Iuseneb!
- Ele não virá porque não se importa com ninguém além dele próprio.
Foi isso que quis desde o princípio.
Está agora onde sempre desejou estar.
Não ama ninguém, a não ser ele mesmo.
É ele que não tem coração, e não eu.
Mas parece que isso você não enxerga.
Nunca quis enxergar. Vive preocupada com o irmãozinho Amenhotep...
Nitetis afastou-se correndo dos irmãos, na direcção da plantação, à beira do Nilo.
Raquel fitou Iuseneb e censurou:
- Por que faz isso com ela?
É apenas uma criança.
Erguendo a cabeça e medindo Raquel de alto a baixo, ele entrou na casa sem dizer nada.
Tem o Egipto em suas mãos.
Acha que irá se preocupar com o velho pai moribundo?
- Você não tem coração, Iuseneb!
- Ele não virá porque não se importa com ninguém além dele próprio.
Foi isso que quis desde o princípio.
Está agora onde sempre desejou estar.
Não ama ninguém, a não ser ele mesmo.
É ele que não tem coração, e não eu.
Mas parece que isso você não enxerga.
Nunca quis enxergar. Vive preocupada com o irmãozinho Amenhotep...
Nitetis afastou-se correndo dos irmãos, na direcção da plantação, à beira do Nilo.
Raquel fitou Iuseneb e censurou:
- Por que faz isso com ela?
É apenas uma criança.
Erguendo a cabeça e medindo Raquel de alto a baixo, ele entrou na casa sem dizer nada.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
CAPÍTULO 14
Depois da partida do faraó, Amenhotep, satisfeito pela posição alcançada, embora frustrado pela súbita ausência de Iaret, entregou-se completamente ao trabalho.
Gastava horas debruçado sobre o projecto arquitectónico da câmara mortuária de Djoser, pensando e repensando cada detalhe da construção.
Os seus dias eram ocupados ainda pelos difíceis problemas a serem solucionados junto aos ministros.
Pouco tempo lhe sobrava para qualquer outra actividade.
Os reduzidos momentos livres dedicava a cultuar as divindades que adorava.
Seus conhecimentos rapidamente se tornaram respeitados por todos os ministros do reino;
Amenhotep conquistou-lhes a reverência e a admiração.
Entretanto, Rudamon mantinha-se à espreita, aproveitando todas as oportunidades para questioná-lo e diminuir-lhe os atributos e qualidades.
Em frente às primeiras pedras que iriam ser depositadas na ansiada construção, Rudamon levantava e abaixava os braços, e alçava a voz em súplica:
- Oh! Grande e poderosa Isis!
Proteja e conduza a construção da tumba de Djoser!
Proteja a tumba do faraó, desde agora e para sempre!
Ajoelhou-se apoiado em seu cajado, que na ponta trazia a imagem da respeitada deusa guardiã de túmulos e urnas mortuárias.
De joelhos permaneceu longo tempo, até ouvir a batida dura de soldados a aproximar-se do local onde se ergueria aquela obra monumental que passaria para a história do Egipto.
Pôs-se em pé e olhou a movimentada chegada dos soldados.
Diante da expressão reprovadora do sacerdote, o oficial se aproximou e disse:
- Perdoe-nos interromper seu culto, grande Rudamon.
Acabamos de chegar da Palestina e trouxemos escravos que o faraó ordenou fossem enviados para a construção do túmulo.
- Todos os escravos passam por minha supervisão e são por mim destinados ao trabalho que deverão assumir.
E olhando em redor, o sacerdote continuou:
- Trazem, por alto, mais de 2 mil escravos.
São muitos. Quero uma centena deles para outras finalidades.
O oficial, mantendo o corpo erecto e os olhos baixos, sem fitar directamente Rudamon, afirmou:
- São precisamente 2 256 escravos, entre homens e mulheres, e o faraó nos ordenou que fossem encaminhados ao ministro-chefe, para que definisse o destino dos mesmos.
Rudamon bateu o cajado com toda a força no chão, retrucando indignado:
- Maldito seja! Como ousa discutir minhas ordens?
O oficial, tremendo, respondeu:
- Senhor, estamos obedecendo às ordens do faraó.
Sem dizer palavra, Rudamon afundou seu cajado no solo arenoso, fixando o soldado sem piscar.
Este, tomado de súbita dor no peito, caiu no chão e começou a gritar, pedindo socorro.
Assustados, os demais não ousaram aproximar-se enquanto o soldado gritava desesperado, até, poucos minutos depois, desfalecer completamente.
Ao ver o pobre soldado estirado, sem vida, Rudamon arrancou o bordão do solo e acercou-se lentamente do homem.
Olhou-o sem clemência e disse:
- Na próxima vida, aprenda a respeitar o representante de Ra!
Depois da partida do faraó, Amenhotep, satisfeito pela posição alcançada, embora frustrado pela súbita ausência de Iaret, entregou-se completamente ao trabalho.
Gastava horas debruçado sobre o projecto arquitectónico da câmara mortuária de Djoser, pensando e repensando cada detalhe da construção.
Os seus dias eram ocupados ainda pelos difíceis problemas a serem solucionados junto aos ministros.
Pouco tempo lhe sobrava para qualquer outra actividade.
Os reduzidos momentos livres dedicava a cultuar as divindades que adorava.
Seus conhecimentos rapidamente se tornaram respeitados por todos os ministros do reino;
Amenhotep conquistou-lhes a reverência e a admiração.
Entretanto, Rudamon mantinha-se à espreita, aproveitando todas as oportunidades para questioná-lo e diminuir-lhe os atributos e qualidades.
Em frente às primeiras pedras que iriam ser depositadas na ansiada construção, Rudamon levantava e abaixava os braços, e alçava a voz em súplica:
- Oh! Grande e poderosa Isis!
Proteja e conduza a construção da tumba de Djoser!
Proteja a tumba do faraó, desde agora e para sempre!
Ajoelhou-se apoiado em seu cajado, que na ponta trazia a imagem da respeitada deusa guardiã de túmulos e urnas mortuárias.
De joelhos permaneceu longo tempo, até ouvir a batida dura de soldados a aproximar-se do local onde se ergueria aquela obra monumental que passaria para a história do Egipto.
Pôs-se em pé e olhou a movimentada chegada dos soldados.
Diante da expressão reprovadora do sacerdote, o oficial se aproximou e disse:
- Perdoe-nos interromper seu culto, grande Rudamon.
Acabamos de chegar da Palestina e trouxemos escravos que o faraó ordenou fossem enviados para a construção do túmulo.
- Todos os escravos passam por minha supervisão e são por mim destinados ao trabalho que deverão assumir.
E olhando em redor, o sacerdote continuou:
- Trazem, por alto, mais de 2 mil escravos.
São muitos. Quero uma centena deles para outras finalidades.
O oficial, mantendo o corpo erecto e os olhos baixos, sem fitar directamente Rudamon, afirmou:
- São precisamente 2 256 escravos, entre homens e mulheres, e o faraó nos ordenou que fossem encaminhados ao ministro-chefe, para que definisse o destino dos mesmos.
Rudamon bateu o cajado com toda a força no chão, retrucando indignado:
- Maldito seja! Como ousa discutir minhas ordens?
O oficial, tremendo, respondeu:
- Senhor, estamos obedecendo às ordens do faraó.
Sem dizer palavra, Rudamon afundou seu cajado no solo arenoso, fixando o soldado sem piscar.
Este, tomado de súbita dor no peito, caiu no chão e começou a gritar, pedindo socorro.
Assustados, os demais não ousaram aproximar-se enquanto o soldado gritava desesperado, até, poucos minutos depois, desfalecer completamente.
Ao ver o pobre soldado estirado, sem vida, Rudamon arrancou o bordão do solo e acercou-se lentamente do homem.
Olhou-o sem clemência e disse:
- Na próxima vida, aprenda a respeitar o representante de Ra!
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Depois se voltou para os outros soldados, que de olhos arregalados e sem acção testemunhavam os acontecimentos.
Rudamon, então, determinou:
- Levem os escravos e tranquem-nos até que eu decida o que será feito deles.
Nesse momento, Amenhotep surgiu em companhia de seus guardas pessoais e contestou:
- Os escravos ficam, Rudamon.
O faraó deseja ver seu templo mortuário construído e vamos começar já!
Preciso de todos os escravos, além daqueles que já foram destinados para esse fim.
E não serão suficientes.
O faraó promete enviar mais, assim que avançar sobre o seu território.
- É insolente, Amenhotep!
- Não tenho tempo a perder, Rudamon.
Chegando mais perto de Amenhotep, o sacerdote disse:
- Se quer tantos trabalhadores, por que liberta escravos pessoais, domésticos?
- Se está se referindo à mulher que trabalha para meu pai, desista!
Ele é um velho cansado e doente e precisa da mulher para cuidar dele.
Pediu-me que a libertasse e eu não quis entregar-me a atritos com um homem daquela idade.
Afinal, o que deseja, Rudamon?
- Repito, mancebo, você é insolente demais!
Para que tantos escravos?
O poder lhe subiu à cabeça muito depressa!
E, fincando o cajado no solo, passou a fitar Amenhotep, raivoso.
O rapaz, tranquilo, sustentou-lhe o olhar e aproximou-se dele.
Pôs as mãos sobre as de Rudamon e, com esforço, arrancou o cajado da areia e depois das mãos do sacerdote, lançando-o longe:
- Basta de ameaças que não têm razão nem fundamento.
Se tiver algo contra mim, diga logo!
Não tenho medo de você, Rudamon.
Caminhando vagaroso em direcção ao cajado, Rudamon abaixou-se, tomou-o nas mãos e limpou-o cuidadosamente.
Depois, virou-se para Amenhotep e disse:
- Eu o amaldiçoo até sua quinta geração!
Seus dias estão contados!
Sem prestar atenção às reacções de Rudamon, Amenhotep ordenou:
- Vamos, acomodem os escravos que amanhã começarão o trabalho.
E vocês, levem este infeliz daqui e o enterrem dignamente.
Ao menos cruzou as portas da morte servindo ao faraó.
Virando-se para alguns jovens que, assustados, mantinham-se ao seu lado, continuou:
- Tenho definido cada detalhe da construção.
Vocês não terão problema algum e eu acompanharei, sempre que puder, as etapas da obra.
Rudamon, então, determinou:
- Levem os escravos e tranquem-nos até que eu decida o que será feito deles.
Nesse momento, Amenhotep surgiu em companhia de seus guardas pessoais e contestou:
- Os escravos ficam, Rudamon.
O faraó deseja ver seu templo mortuário construído e vamos começar já!
Preciso de todos os escravos, além daqueles que já foram destinados para esse fim.
E não serão suficientes.
O faraó promete enviar mais, assim que avançar sobre o seu território.
- É insolente, Amenhotep!
- Não tenho tempo a perder, Rudamon.
Chegando mais perto de Amenhotep, o sacerdote disse:
- Se quer tantos trabalhadores, por que liberta escravos pessoais, domésticos?
- Se está se referindo à mulher que trabalha para meu pai, desista!
Ele é um velho cansado e doente e precisa da mulher para cuidar dele.
Pediu-me que a libertasse e eu não quis entregar-me a atritos com um homem daquela idade.
Afinal, o que deseja, Rudamon?
- Repito, mancebo, você é insolente demais!
Para que tantos escravos?
O poder lhe subiu à cabeça muito depressa!
E, fincando o cajado no solo, passou a fitar Amenhotep, raivoso.
O rapaz, tranquilo, sustentou-lhe o olhar e aproximou-se dele.
Pôs as mãos sobre as de Rudamon e, com esforço, arrancou o cajado da areia e depois das mãos do sacerdote, lançando-o longe:
- Basta de ameaças que não têm razão nem fundamento.
Se tiver algo contra mim, diga logo!
Não tenho medo de você, Rudamon.
Caminhando vagaroso em direcção ao cajado, Rudamon abaixou-se, tomou-o nas mãos e limpou-o cuidadosamente.
Depois, virou-se para Amenhotep e disse:
- Eu o amaldiçoo até sua quinta geração!
Seus dias estão contados!
Sem prestar atenção às reacções de Rudamon, Amenhotep ordenou:
- Vamos, acomodem os escravos que amanhã começarão o trabalho.
E vocês, levem este infeliz daqui e o enterrem dignamente.
Ao menos cruzou as portas da morte servindo ao faraó.
Virando-se para alguns jovens que, assustados, mantinham-se ao seu lado, continuou:
- Tenho definido cada detalhe da construção.
Vocês não terão problema algum e eu acompanharei, sempre que puder, as etapas da obra.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
E olhando com desdém para o sacerdote, que se afastava, aduziu:
- O importante é que a construção comece e não seja mais interrompida, por ninguém, a não ser o próprio faraó!
Vocês me entendem?
- Sim, senhor. Conte connosco.
- Óptimo. Assim está bem melhor.
Rudamon seguiu para o templo, enfurecido.
Entrou em sua câmara e, ajoelhado diante de muitas imagens, amaldiçoou:
- Para cada pedra que ele colocar no edifício, uma chaga se abrirá em seu corpo!
Ao final da construção, ele morrerá!
E pôs-se a abrir diversos papiros e a fazer várias anotações.
De quando em quando, levantava a cabeça e se lembrava do ministro-chefe, lançando odiosos pensamentos em direcção a ele, que à distância, sem perceber, os recebia em sua aura.
Amenhotep prosseguiu o trabalho, incessante, sem ao menos recordar a família e sua casa, onde os dias transcorriam sem novidades.
Nitetis, ansiosa, esperava a chegada do irmão, enquanto piorava o estado de saúde de Tanutamun.
Passaram-se semanas.
Naquela tarde, o pai chamou-a:
- Peça a um de seus irmãos que me leve até o jardim.
- Não pode, papai, assim vai piorar.
Afagando-lhe os cabelos sedosos, ele disse:
- Querida, não há como ficar pior do que já estou.
Ela baixou os olhos, tentando controlar as lágrimas que neles assomavam.
Tanutamun ergueu seu rosto suavemente e falou:
- Nitetis, minha filha, não vê que estou morrendo?
- Não, papai, não é verdade!
- Filha, não fique triste, morrer não é ruim, e continuamos a viver em outra dimensão.
A vida sempre continua.
Ela calou-se, pensativa.
O pai insistiu:
- Quero ver o sol, senti-lo tocando minha pele.
Quero que Aton-Ra me envolva antes que eu vá cruzar o grande vale.
Assentindo com a cabeça, ela disse:
- Vou ver quem está por perto para levá-lo.
- Qualquer um deles, menos seu irmão mais velho.
- Tudo bem, papai.
Em alguns segundos, Ineni, Nitetis e o pai estavam no belo jardim da casa.
A tarde era esplendorosa e o sol iluminava o jardim inteiro.
Sentados sob os galhos de uma árvore frondosa, protegiam-se do sol directo.
Ineni acomodou o pai e perguntou:
- De que mais precisa?
Tenho de voltar ao trabalho.
- O importante é que a construção comece e não seja mais interrompida, por ninguém, a não ser o próprio faraó!
Vocês me entendem?
- Sim, senhor. Conte connosco.
- Óptimo. Assim está bem melhor.
Rudamon seguiu para o templo, enfurecido.
Entrou em sua câmara e, ajoelhado diante de muitas imagens, amaldiçoou:
- Para cada pedra que ele colocar no edifício, uma chaga se abrirá em seu corpo!
Ao final da construção, ele morrerá!
E pôs-se a abrir diversos papiros e a fazer várias anotações.
De quando em quando, levantava a cabeça e se lembrava do ministro-chefe, lançando odiosos pensamentos em direcção a ele, que à distância, sem perceber, os recebia em sua aura.
Amenhotep prosseguiu o trabalho, incessante, sem ao menos recordar a família e sua casa, onde os dias transcorriam sem novidades.
Nitetis, ansiosa, esperava a chegada do irmão, enquanto piorava o estado de saúde de Tanutamun.
Passaram-se semanas.
Naquela tarde, o pai chamou-a:
- Peça a um de seus irmãos que me leve até o jardim.
- Não pode, papai, assim vai piorar.
Afagando-lhe os cabelos sedosos, ele disse:
- Querida, não há como ficar pior do que já estou.
Ela baixou os olhos, tentando controlar as lágrimas que neles assomavam.
Tanutamun ergueu seu rosto suavemente e falou:
- Nitetis, minha filha, não vê que estou morrendo?
- Não, papai, não é verdade!
- Filha, não fique triste, morrer não é ruim, e continuamos a viver em outra dimensão.
A vida sempre continua.
Ela calou-se, pensativa.
O pai insistiu:
- Quero ver o sol, senti-lo tocando minha pele.
Quero que Aton-Ra me envolva antes que eu vá cruzar o grande vale.
Assentindo com a cabeça, ela disse:
- Vou ver quem está por perto para levá-lo.
- Qualquer um deles, menos seu irmão mais velho.
- Tudo bem, papai.
Em alguns segundos, Ineni, Nitetis e o pai estavam no belo jardim da casa.
A tarde era esplendorosa e o sol iluminava o jardim inteiro.
Sentados sob os galhos de uma árvore frondosa, protegiam-se do sol directo.
Ineni acomodou o pai e perguntou:
- De que mais precisa?
Tenho de voltar ao trabalho.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- Vá, meu filho, não se preocupe comigo.
Quando retornarem me levam para dentro.
- Não vai se cansar demais, pai? - o jovem insistiu.
- Não é possível ficar mais cansado do que já estou.
-Pois bem, se precisar de alguma coisa, Nitetis sabe onde me encontrar.
- Obrigado, meu filho.
Ineni afastou-se rápido e Nitetis ajeitou-se perto do pai, que fitou o céu luminoso e sorriu, satisfeito.
Nitetis acariciou-lhe as mãos cansadas e comentou:
- Ra lhe faz bem, pai. Há tempo não o vejo sorrir assim.
Ele tomou-lhe as mãos entre as suas e disse:
- Há muito tenho saudade do lar, minha filha.
Estou cansado e quero regressar.
- Para o vale dos mortos, pai?
- Não, Nitetis. Para o nosso verdadeiro lar.
Quando olho as estrelas e o céu iluminado por elas, sinto enorme saudade.
Sei que em algum lugar está meu lar.
E é para lá que desejo voltar.
Sem titubear, a jovem abraçou-o com desvelado carinho e disse:
- Sim, pai, sei que sente saudade de seu verdadeiro lar.
Mas em breve estará unido àqueles que mais ama...
- De quem está falando? De sua mãe?
- Não só dela, mas dos outros que deixou para trás ao partir.
- A que se refere, minha filha?
Eu lhe falei de algo impreciso que sinto dentro de mim, e você me fala de algo tão preciso...
- Seu coração é grandioso, papai.
Por certo há muitos que o antecederam e que o esperam com amor.
Tanutamun continuou a fitar a filha, sem entender claramente o sentido de suas afirmações.
Depois a abraçou e sorriu, dizendo:
- Sempre com suas frases misteriosas...
Deveria ser sacerdotisa, Nitetis.
Você sabe dos segredos do Universo mais do que qualquer um que eu tenha conhecido.
É na realidade uma enviada de Ísis.
- E você, papai, é uma das almas mais generosas que já conheci.
Tem o coração em paz?
- Só Amenhotep me preocupa.
Devo ter falhado com ele.
- Sabe que não é verdade, pai.
Fez o melhor que podia por ele também.
- Mas não foi suficiente...
Ouvindo aquelas palavras, Nitetis ergueu-se, com o coração opresso e angustiado, como se elas lhe trouxessem triste lembrança.
Virou-se para o pai e perguntou:
- Quer um pouco de refresco?
- Não, minha filha. Venha, sente-se aqui, ao meu lado.
Quando retornarem me levam para dentro.
- Não vai se cansar demais, pai? - o jovem insistiu.
- Não é possível ficar mais cansado do que já estou.
-Pois bem, se precisar de alguma coisa, Nitetis sabe onde me encontrar.
- Obrigado, meu filho.
Ineni afastou-se rápido e Nitetis ajeitou-se perto do pai, que fitou o céu luminoso e sorriu, satisfeito.
Nitetis acariciou-lhe as mãos cansadas e comentou:
- Ra lhe faz bem, pai. Há tempo não o vejo sorrir assim.
Ele tomou-lhe as mãos entre as suas e disse:
- Há muito tenho saudade do lar, minha filha.
Estou cansado e quero regressar.
- Para o vale dos mortos, pai?
- Não, Nitetis. Para o nosso verdadeiro lar.
Quando olho as estrelas e o céu iluminado por elas, sinto enorme saudade.
Sei que em algum lugar está meu lar.
E é para lá que desejo voltar.
Sem titubear, a jovem abraçou-o com desvelado carinho e disse:
- Sim, pai, sei que sente saudade de seu verdadeiro lar.
Mas em breve estará unido àqueles que mais ama...
- De quem está falando? De sua mãe?
- Não só dela, mas dos outros que deixou para trás ao partir.
- A que se refere, minha filha?
Eu lhe falei de algo impreciso que sinto dentro de mim, e você me fala de algo tão preciso...
- Seu coração é grandioso, papai.
Por certo há muitos que o antecederam e que o esperam com amor.
Tanutamun continuou a fitar a filha, sem entender claramente o sentido de suas afirmações.
Depois a abraçou e sorriu, dizendo:
- Sempre com suas frases misteriosas...
Deveria ser sacerdotisa, Nitetis.
Você sabe dos segredos do Universo mais do que qualquer um que eu tenha conhecido.
É na realidade uma enviada de Ísis.
- E você, papai, é uma das almas mais generosas que já conheci.
Tem o coração em paz?
- Só Amenhotep me preocupa.
Devo ter falhado com ele.
- Sabe que não é verdade, pai.
Fez o melhor que podia por ele também.
- Mas não foi suficiente...
Ouvindo aquelas palavras, Nitetis ergueu-se, com o coração opresso e angustiado, como se elas lhe trouxessem triste lembrança.
Virou-se para o pai e perguntou:
- Quer um pouco de refresco?
- Não, minha filha. Venha, sente-se aqui, ao meu lado.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Ela tornou a sentar-se, ainda angustiada.
O pai abraçou-a ternamente e disse:
- Você me fez muito feliz, filha.
Só me trouxe alegrias. Tenho orgulho de ser seu pai.
Ela sorriu, sem responder, e Tanutamun prosseguiu:
- Sempre amei todos os meus filhos igualmente, e os tratei com o mesmo carinho e respeito.
- Sei disso, pai.
Como se relembrasse o passado, ele emendou:
- Mas com Amenhotep nada funcionou.
Usei tudo o que sabia para ajudá-lo a compreender o que realmente tem valor na vida, e ele ignorou tudo o que lhe ensinei.
Não vejo sequer vestígios de nossos valores na vida de seu irmão.
Isso é o que mais me desgosta.
Sempre soube que ele seria grande no Egipto.
Desde pequeno revelava uma inteligência fora do comum e algumas de suas habilidades me assustavam;
matava os animais que o incomodavam, só de olhar para eles.
Por causa disso, redobrei minha atenção sobre ele.
Contudo, mesmo assim, Amenhotep partiu e esqueceu de tudo o que lhe ensinei.
Ele fez uma pausa e a jovem considerou:
- Você fez tudo o que podia, pai, não fique triste.
Um dia ele compreenderá!
- Não sei, Nitetis. O coração dele fica cada vez mais endurecido.
Sinto isso. Deveria usar tudo o que sabe para ajudar o povo do Egipto, para promover o bem entre a população, e o que faz?
Só pensa em si mesmo, em autopromoção.
Quantas oportunidades já teve de utilizar seus conhecimentos para o bem geral?
E nunca o fez!
- Por mais que isso o aflija, peço que fique tranquilo, pois eu sempre estarei perto de Amenhotep, a lembrá-lo de seus deveres e responsabilidades!
- Como, Nitetis, se ele nem nos visita?
- Não sei ao certo, pai, porém algo me diz que ficarei muito próxima dele.
- Mais uma vez, você com seus segredos...
Tanutamun começou a tossir sem parar, e a crise se intensificou.
Assustada, sem afastar-se do pai, Nitetis gritou por Raquel, que acudiu correndo.
Quando as duas tentaram carregá-lo, Tanutamun tossiu mais e mais; não conseguiam movê-lo.
Depois de alguns minutos, tendo a crise cedido ligeiramente, Nitetis procurou erguê-lo outra vez.
Ele fez sinal para que parasse e alçou o olhar para o sol.
Quis falar algo, mas foi impossível.
Nova crise o assaltou e então ele, sem forças, caiu ao chão.
Após ameaças de tosse que lhe morriam na garganta, fitou o sol uma vez mais e se imobilizou.
Nitetis inclinou-se sobre seu peito e auscultou-lhe o coração.
Ao levantar o rosto, grossas lágrimas desciam-lhe pela face rubra.
Ela, ajoelhada, seguiu com os olhos a direcção do olhar do pai e tentou mirar o sol.
Sem conseguir, fechou-lhe os olhos com delicadeza, depois disse para Raquel:
- Ele partiu para a grande viagem.
Raquel, que também chorava, disse:
- Que Deus todo-poderoso o abençoe.
E Nitetis, segurando as mãos de Raquel, repetiu:
- Que Deus o abençoe, papai.
O pai abraçou-a ternamente e disse:
- Você me fez muito feliz, filha.
Só me trouxe alegrias. Tenho orgulho de ser seu pai.
Ela sorriu, sem responder, e Tanutamun prosseguiu:
- Sempre amei todos os meus filhos igualmente, e os tratei com o mesmo carinho e respeito.
- Sei disso, pai.
Como se relembrasse o passado, ele emendou:
- Mas com Amenhotep nada funcionou.
Usei tudo o que sabia para ajudá-lo a compreender o que realmente tem valor na vida, e ele ignorou tudo o que lhe ensinei.
Não vejo sequer vestígios de nossos valores na vida de seu irmão.
Isso é o que mais me desgosta.
Sempre soube que ele seria grande no Egipto.
Desde pequeno revelava uma inteligência fora do comum e algumas de suas habilidades me assustavam;
matava os animais que o incomodavam, só de olhar para eles.
Por causa disso, redobrei minha atenção sobre ele.
Contudo, mesmo assim, Amenhotep partiu e esqueceu de tudo o que lhe ensinei.
Ele fez uma pausa e a jovem considerou:
- Você fez tudo o que podia, pai, não fique triste.
Um dia ele compreenderá!
- Não sei, Nitetis. O coração dele fica cada vez mais endurecido.
Sinto isso. Deveria usar tudo o que sabe para ajudar o povo do Egipto, para promover o bem entre a população, e o que faz?
Só pensa em si mesmo, em autopromoção.
Quantas oportunidades já teve de utilizar seus conhecimentos para o bem geral?
E nunca o fez!
- Por mais que isso o aflija, peço que fique tranquilo, pois eu sempre estarei perto de Amenhotep, a lembrá-lo de seus deveres e responsabilidades!
- Como, Nitetis, se ele nem nos visita?
- Não sei ao certo, pai, porém algo me diz que ficarei muito próxima dele.
- Mais uma vez, você com seus segredos...
Tanutamun começou a tossir sem parar, e a crise se intensificou.
Assustada, sem afastar-se do pai, Nitetis gritou por Raquel, que acudiu correndo.
Quando as duas tentaram carregá-lo, Tanutamun tossiu mais e mais; não conseguiam movê-lo.
Depois de alguns minutos, tendo a crise cedido ligeiramente, Nitetis procurou erguê-lo outra vez.
Ele fez sinal para que parasse e alçou o olhar para o sol.
Quis falar algo, mas foi impossível.
Nova crise o assaltou e então ele, sem forças, caiu ao chão.
Após ameaças de tosse que lhe morriam na garganta, fitou o sol uma vez mais e se imobilizou.
Nitetis inclinou-se sobre seu peito e auscultou-lhe o coração.
Ao levantar o rosto, grossas lágrimas desciam-lhe pela face rubra.
Ela, ajoelhada, seguiu com os olhos a direcção do olhar do pai e tentou mirar o sol.
Sem conseguir, fechou-lhe os olhos com delicadeza, depois disse para Raquel:
- Ele partiu para a grande viagem.
Raquel, que também chorava, disse:
- Que Deus todo-poderoso o abençoe.
E Nitetis, segurando as mãos de Raquel, repetiu:
- Que Deus o abençoe, papai.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
CAPÍTULO 15
Sentado à mesa de trabalho, Amenhotep meditava, examinando a planta do monumento em construção.
Olhava detidamente os detalhes da entrada da câmara mortuária que se erguia lentamente do chão.
Queria ter certeza de que aquele templo dedicado a Djoser fosse perfeito.
Verificando os pormenores da saudação a Isis que desejava gravar no corredor principal de entrada, pensava em qual artesão seria o mais indicado para receber incumbência de tal envergadura.
A quem daria a honra de pintar as paredes da entrada da tumba? - conjecturava.
Conhecia diversos artistas, mas queria que a pintura tivesse beleza ímpar, bem como estilo diferenciado, superior ao de todos os artesãos que conhecia.
Levantou-se e caminhou até a varanda.
Observou a abóbada celeste, cravada de estrelas, que ele tanto admirava, e deixou o pensamento vaguear.
Com os olhos no firmamento, pensava:
em algum lugar daquele céu haveria outros povos, semelhantes ao seu próprio povo, ou estariam sozinhos no Universo?
Em um espaço tão gigantesco, seriam os únicos?
Não, por certo;
sendo os deuses sábios e poderosos, devia haver outros seres humanos, em outra parte.
Ele sabia que existiam.
Enquanto fitava o infinito, recordou-se de uma peça curiosa que a irmã pintara.
Retractava o céu estrelado e um grupo de homens que chegava à Terra, descendo de um objecto voador indecifrável.
Disse, então, em voz alta:
- É isso! Nitetis é a artista certa para pintar a entrada do túmulo.
Não conheço ninguém que pinte como ela, que tenha os traços tão lindos e tão marcantes!
Ela é capaz de fazer o que eu imagino que tem de ser feito!
Feliz, saiu do quarto, procurou a escrava que o assistia e ordenou:
- Vou viajar até a casa de meu pai.
Prepare tudo para partirmos amanhã, sem perda de tempo.
Não me demorarei muito; levaremos o essencial.
Preciso retornar em breve.
As fundações do templo estão prontas e começaremos a erguer as paredes da tumba.
Vamos, depressa. Quero sair logo pela manhã.
A escrava curvou-se diante do seu senhor e saiu com rapidez para obedecer-lhe as ordens.
Amenhotep se vestiu e foi ao templo, pela segunda vez naquele dia, verificar a construção.
Tinha colocado escravos trabalhando dia e noite.
Dispunha de supervisores treinados e formados por ele - homens de sua confiança - acompanhando a obra;
no entanto, queria certificar-se de que tudo corria como planeara.
Assim que chegou, notou ligeiro tumulto no local.
Ouvia gritos e homens corriam de um lado a outro.
Segurou um deles pelo braço e gritou:
- O que aconteceu?
Sentado à mesa de trabalho, Amenhotep meditava, examinando a planta do monumento em construção.
Olhava detidamente os detalhes da entrada da câmara mortuária que se erguia lentamente do chão.
Queria ter certeza de que aquele templo dedicado a Djoser fosse perfeito.
Verificando os pormenores da saudação a Isis que desejava gravar no corredor principal de entrada, pensava em qual artesão seria o mais indicado para receber incumbência de tal envergadura.
A quem daria a honra de pintar as paredes da entrada da tumba? - conjecturava.
Conhecia diversos artistas, mas queria que a pintura tivesse beleza ímpar, bem como estilo diferenciado, superior ao de todos os artesãos que conhecia.
Levantou-se e caminhou até a varanda.
Observou a abóbada celeste, cravada de estrelas, que ele tanto admirava, e deixou o pensamento vaguear.
Com os olhos no firmamento, pensava:
em algum lugar daquele céu haveria outros povos, semelhantes ao seu próprio povo, ou estariam sozinhos no Universo?
Em um espaço tão gigantesco, seriam os únicos?
Não, por certo;
sendo os deuses sábios e poderosos, devia haver outros seres humanos, em outra parte.
Ele sabia que existiam.
Enquanto fitava o infinito, recordou-se de uma peça curiosa que a irmã pintara.
Retractava o céu estrelado e um grupo de homens que chegava à Terra, descendo de um objecto voador indecifrável.
Disse, então, em voz alta:
- É isso! Nitetis é a artista certa para pintar a entrada do túmulo.
Não conheço ninguém que pinte como ela, que tenha os traços tão lindos e tão marcantes!
Ela é capaz de fazer o que eu imagino que tem de ser feito!
Feliz, saiu do quarto, procurou a escrava que o assistia e ordenou:
- Vou viajar até a casa de meu pai.
Prepare tudo para partirmos amanhã, sem perda de tempo.
Não me demorarei muito; levaremos o essencial.
Preciso retornar em breve.
As fundações do templo estão prontas e começaremos a erguer as paredes da tumba.
Vamos, depressa. Quero sair logo pela manhã.
A escrava curvou-se diante do seu senhor e saiu com rapidez para obedecer-lhe as ordens.
Amenhotep se vestiu e foi ao templo, pela segunda vez naquele dia, verificar a construção.
Tinha colocado escravos trabalhando dia e noite.
Dispunha de supervisores treinados e formados por ele - homens de sua confiança - acompanhando a obra;
no entanto, queria certificar-se de que tudo corria como planeara.
Assim que chegou, notou ligeiro tumulto no local.
Ouvia gritos e homens corriam de um lado a outro.
Segurou um deles pelo braço e gritou:
- O que aconteceu?
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
O escravo, que mal falava a língua egípcia, fez sinal negativo com a cabeça e correu para junto dos demais escravos.
Amenhotep seguiu rápido até o centro da construção e logo encontrou o seu supervisor:
- Amy, o que aconteceu?
- Tivemos um acidente, senhor.
Algumas pedras rolaram e... Bem...
- Diga logo, o que houve?
- Dois escravos ficaram sob as pedras.
- Foi só isso?
- Bem, creio que perdemos esses dois homens.
- É pena, porém em breve receberemos mais escravos para acelerar a construção.
- Só que agora os escravos não querem trabalhar, estão com medo.
- Como, não querem trabalhar?
Eles não têm querer!
- Mas, senhor, eles estão assustados.
Seus amigos acabaram de morrer!
- Muito bem, trate de enterrá-los, conforme os seus costumes, e depois ordene que continuem.
Aqueles que se recusarem irão para a prisão.
Está entendendo, Amy?
- Sim, senhor.
E se muitos forem para a prisão, como poderemos manter o ritmo da obra?
- Não se preocupe.
É o começo da estiagem do Nilo;
muitos colonos virão para trabalhar connosco, em troca de alimento.
Eles serão de grande utilidade neste momento.
Livre-se logo dos corpos dos escravos acidentados, e trate de silenciar os outros, para que não espantem também os colonos.
E quero saber por que as pedras deslizaram.
Fizemos todos os cálculos para o transporte delas.
- É um sistema muito novo, senhor;
ainda estamos aprendendo a fazer tudo exactamente como nos ensinou.
Ninguém utilizou antes pedras tão grandes e tão pesadas para uma construção.
Sorrindo satisfeito, Amenhotep respondeu com os olhos brilhantes:
- Sei disso. Essa obra será grandiosa e inesquecível!
Cada nível abrigará uma tumba de influente súbdito real, e no topo da escada ficará o túmulo do glorioso faraó!
Imponente, elevado, divino!
No lugar que lhe cabe de direito!
O supervisor olhava-o maravilhado; ainda assim, insistiu:
- Acho que é preciso rever os cálculos e o método da movimentação das pedras, para evitar futuros acidentes.
Amenhotep puxou-o pelas vestes, impaciente:
- Calculei cada décimo de movimentação das pedras, de cada uma delas.
Se alguma coisa deu errado, pode ter certeza de que não foi o cálculo, e sim quem executou meus planos.
Concentre-se em seguir minhas orientações e pode estar certo de que não haverá mais acidentes!
Amenhotep seguiu rápido até o centro da construção e logo encontrou o seu supervisor:
- Amy, o que aconteceu?
- Tivemos um acidente, senhor.
Algumas pedras rolaram e... Bem...
- Diga logo, o que houve?
- Dois escravos ficaram sob as pedras.
- Foi só isso?
- Bem, creio que perdemos esses dois homens.
- É pena, porém em breve receberemos mais escravos para acelerar a construção.
- Só que agora os escravos não querem trabalhar, estão com medo.
- Como, não querem trabalhar?
Eles não têm querer!
- Mas, senhor, eles estão assustados.
Seus amigos acabaram de morrer!
- Muito bem, trate de enterrá-los, conforme os seus costumes, e depois ordene que continuem.
Aqueles que se recusarem irão para a prisão.
Está entendendo, Amy?
- Sim, senhor.
E se muitos forem para a prisão, como poderemos manter o ritmo da obra?
- Não se preocupe.
É o começo da estiagem do Nilo;
muitos colonos virão para trabalhar connosco, em troca de alimento.
Eles serão de grande utilidade neste momento.
Livre-se logo dos corpos dos escravos acidentados, e trate de silenciar os outros, para que não espantem também os colonos.
E quero saber por que as pedras deslizaram.
Fizemos todos os cálculos para o transporte delas.
- É um sistema muito novo, senhor;
ainda estamos aprendendo a fazer tudo exactamente como nos ensinou.
Ninguém utilizou antes pedras tão grandes e tão pesadas para uma construção.
Sorrindo satisfeito, Amenhotep respondeu com os olhos brilhantes:
- Sei disso. Essa obra será grandiosa e inesquecível!
Cada nível abrigará uma tumba de influente súbdito real, e no topo da escada ficará o túmulo do glorioso faraó!
Imponente, elevado, divino!
No lugar que lhe cabe de direito!
O supervisor olhava-o maravilhado; ainda assim, insistiu:
- Acho que é preciso rever os cálculos e o método da movimentação das pedras, para evitar futuros acidentes.
Amenhotep puxou-o pelas vestes, impaciente:
- Calculei cada décimo de movimentação das pedras, de cada uma delas.
Se alguma coisa deu errado, pode ter certeza de que não foi o cálculo, e sim quem executou meus planos.
Concentre-se em seguir minhas orientações e pode estar certo de que não haverá mais acidentes!
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- Sim, senhor.
-Quero que comecem amanhã a erguer as paredes.
- Para isso precisamos ter por aqui o artista que vai pintá-las, para começar o trabalho de ornamentação.
- Já tenho a pessoa que irá pintar as paredes.
Limite-se a colocar meus planos, à risca, em prática e deixe o restante comigo.
O rapaz sorriu, reverente:
- Sim, grande Amenhotep!
O ministro-chefe despediu-se do supervisor e retornou ao palácio.
Na manhã seguinte, antes que o sol estendesse seus raios sobre o Egipto, Amenhotep seguia viagem rumo à casa paterna.
Já era noite quando avistou o amplo portal que delimitava o início da propriedade da família.
Entrou determinado.
Trazia consigo mais alguns medicamentos que havia preparado, com ervas novas que descobrira terem efeito regenerador do sistema respiratório;
dessa maneira, esperava poder ajudar o pai a recuperar-se.
Ao se avizinhar da casa com seu séquito, esperou que logo alguém viesse recebê-lo, mas surpreendeu-se com o silêncio no interior da residência.
Em alguns segundos estava cruzando as portas da conhecida moradia em que vivera toda a infância e parte da juventude.
Foi Iuseneb, o irmão mais velho, que ele encontrou na sala de refeições.
Ao vê-lo, Iuseneb levantou-se abruptamente:
- Amenhotep!
- Como vai, Iuseneb? Onde estão todos?
Nitetis, meu pai...
Iuseneb sorriu, irónico, ao responder:
- Seu pai? Você tem pai, Amenhotep?
Estranho, pensei que tivesse esquecido totalmente disso.
Amenhotep ignorou o tom de ironia do irmão e reiterou:
- Onde estão todos?
Raquel apareceu trazendo a singela refeição.
Ao vê-lo, sentiu o corpo estremecer num mal-estar indescritível.
Ela temia Amenhotep.
Trazia dolorosas recordações de sua experiência no cativeiro, e assim que o viu suas lembranças afloraram.
Ela se deteve, muda.
Iuseneb chamou-a à realidade:
- Vamos, Raquel, sirva-me o jantar!
Não fique aí parada!
Com as mãos trémulas, sem dizer nada, aproximou-se da mesa e colocou sobre ela os utensílios que trazia.
Depois saiu, igualmente em silêncio.
Correu para o quarto de Nitetis, ofegante:
- Nitetis...
- O que foi, Raquel?
- Seu... Seu irmão...
-Quero que comecem amanhã a erguer as paredes.
- Para isso precisamos ter por aqui o artista que vai pintá-las, para começar o trabalho de ornamentação.
- Já tenho a pessoa que irá pintar as paredes.
Limite-se a colocar meus planos, à risca, em prática e deixe o restante comigo.
O rapaz sorriu, reverente:
- Sim, grande Amenhotep!
O ministro-chefe despediu-se do supervisor e retornou ao palácio.
Na manhã seguinte, antes que o sol estendesse seus raios sobre o Egipto, Amenhotep seguia viagem rumo à casa paterna.
Já era noite quando avistou o amplo portal que delimitava o início da propriedade da família.
Entrou determinado.
Trazia consigo mais alguns medicamentos que havia preparado, com ervas novas que descobrira terem efeito regenerador do sistema respiratório;
dessa maneira, esperava poder ajudar o pai a recuperar-se.
Ao se avizinhar da casa com seu séquito, esperou que logo alguém viesse recebê-lo, mas surpreendeu-se com o silêncio no interior da residência.
Em alguns segundos estava cruzando as portas da conhecida moradia em que vivera toda a infância e parte da juventude.
Foi Iuseneb, o irmão mais velho, que ele encontrou na sala de refeições.
Ao vê-lo, Iuseneb levantou-se abruptamente:
- Amenhotep!
- Como vai, Iuseneb? Onde estão todos?
Nitetis, meu pai...
Iuseneb sorriu, irónico, ao responder:
- Seu pai? Você tem pai, Amenhotep?
Estranho, pensei que tivesse esquecido totalmente disso.
Amenhotep ignorou o tom de ironia do irmão e reiterou:
- Onde estão todos?
Raquel apareceu trazendo a singela refeição.
Ao vê-lo, sentiu o corpo estremecer num mal-estar indescritível.
Ela temia Amenhotep.
Trazia dolorosas recordações de sua experiência no cativeiro, e assim que o viu suas lembranças afloraram.
Ela se deteve, muda.
Iuseneb chamou-a à realidade:
- Vamos, Raquel, sirva-me o jantar!
Não fique aí parada!
Com as mãos trémulas, sem dizer nada, aproximou-se da mesa e colocou sobre ela os utensílios que trazia.
Depois saiu, igualmente em silêncio.
Correu para o quarto de Nitetis, ofegante:
- Nitetis...
- O que foi, Raquel?
- Seu... Seu irmão...
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- Quem? O que aconteceu? Iuseneb?
- Não... Amenhotep.
- O que foi? O que tem ele?
- Está na sala de refeições!
Nitetis fitou Raquel espantada e, com intenso brilho nos olhos, saiu correndo do quarto.
Ao deparar com o irmão na sala, correu ao seu encontro e agarrou-se ao seu pescoço, beijando-lhe a face com ternura.
Amenhotep abraçou a irmã, e logo a afastou gentilmente, perguntando:
- Você está bem, Nitetis?
- Com muita saudade, Amenhotep!
Demorou muito para chegar!
- Tenho muitas responsabilidades pesando sobre meus ombros.
O futuro do Egipto depende de mim.
Iuseneb soltou uma gargalhada.
- Ah, essa é muito boa!
O futuro do Egipto depende de você?
Não seja ridículo!
- Veja lá como fala comigo, Iuseneb.
Respeite-me pela posição que ocupo, ou então...
- Ou então o que você vai fazer?
- Mando prendê-lo por desacatar-me!
- Respeito? Quem é você para falar em respeito?
Não tem consideração por ninguém.
- Iuseneb, estou avisando.
Não abuse da minha paciência e boa vontade.
Respeite-me, sou ministro-chefe, o poder máximo do Egipto na ausência do faraó.
- Para mim você não é ninguém!
- Vou prendê-lo agora mesmo!
Quando Amenhotep fez menção de sair para chamar um de seus guardas, Iuseneb empunhou uma lança que estava junto à porta de entrada e avançou sobre o irmão, gritando:
- O que quer aqui? Vá embora!
Não tem nada para fazer nesta casa!
Nitetis colocou-se entre os dois, pedindo ao irmão mais velho:
- Por favor, Iuseneb, acalme-se.
Amenhotep não vem à nossa casa há muito tempo!
- Pois deveria continuar onde estava!
- Minha visita é breve, não tenho intenção de demorar-me.
Quero apenas ver meu pai e falar com Nitetis.
A jovem insistiu com autoridade:
- Vamos, Iuseneb, abaixe essa arma!
Papai não gostaria nada dessa atitude!
Tinha horror a brigas entre nós!
luseneb afastou-se, jogou a lança brutalmente contra a parede e saiu irritado, deixando os irmãos na sala.
Amenhotep olhou para a irmã, surpreso.
- Não... Amenhotep.
- O que foi? O que tem ele?
- Está na sala de refeições!
Nitetis fitou Raquel espantada e, com intenso brilho nos olhos, saiu correndo do quarto.
Ao deparar com o irmão na sala, correu ao seu encontro e agarrou-se ao seu pescoço, beijando-lhe a face com ternura.
Amenhotep abraçou a irmã, e logo a afastou gentilmente, perguntando:
- Você está bem, Nitetis?
- Com muita saudade, Amenhotep!
Demorou muito para chegar!
- Tenho muitas responsabilidades pesando sobre meus ombros.
O futuro do Egipto depende de mim.
Iuseneb soltou uma gargalhada.
- Ah, essa é muito boa!
O futuro do Egipto depende de você?
Não seja ridículo!
- Veja lá como fala comigo, Iuseneb.
Respeite-me pela posição que ocupo, ou então...
- Ou então o que você vai fazer?
- Mando prendê-lo por desacatar-me!
- Respeito? Quem é você para falar em respeito?
Não tem consideração por ninguém.
- Iuseneb, estou avisando.
Não abuse da minha paciência e boa vontade.
Respeite-me, sou ministro-chefe, o poder máximo do Egipto na ausência do faraó.
- Para mim você não é ninguém!
- Vou prendê-lo agora mesmo!
Quando Amenhotep fez menção de sair para chamar um de seus guardas, Iuseneb empunhou uma lança que estava junto à porta de entrada e avançou sobre o irmão, gritando:
- O que quer aqui? Vá embora!
Não tem nada para fazer nesta casa!
Nitetis colocou-se entre os dois, pedindo ao irmão mais velho:
- Por favor, Iuseneb, acalme-se.
Amenhotep não vem à nossa casa há muito tempo!
- Pois deveria continuar onde estava!
- Minha visita é breve, não tenho intenção de demorar-me.
Quero apenas ver meu pai e falar com Nitetis.
A jovem insistiu com autoridade:
- Vamos, Iuseneb, abaixe essa arma!
Papai não gostaria nada dessa atitude!
Tinha horror a brigas entre nós!
luseneb afastou-se, jogou a lança brutalmente contra a parede e saiu irritado, deixando os irmãos na sala.
Amenhotep olhou para a irmã, surpreso.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Ela disse:
- Nosso pai cruzou o grande vale.
Já não faz parte deste mundo.
Iremos encontrá-lo um dia no paraíso, ou quem sabe aqui mesmo, quando voltarmos para o Egipto, em nossa próxima reencarnação.
Sentindo-se constrangido pela situação, o irmão recém-chegado perguntou:
- Quando aconteceu?
- Faz alguns meses...
- Por que não mandou me avisar?
Poderíamos embalsamá-lo e dar-lhe um enterro com honra!
- Ele teve um enterro com honra e foi devidamente embalsamado.
Está enterrado sob as areias quentes perto das margens do Nilo, na divisa de nossa propriedade.
Seu corpo está preservado, pode ficar tranquilo.
Amenhotep sentou-se à mesa calado e se deixou ficar meditando.
Nitetis aproximou-se e, tocando-lhe as mãos, questionou:
- Por que demorou tanto?
Eu lhe disse que ele não estava bem, que precisava de você!
- Eu sei, Nitetis. Sinto muito.
Fiquei envolvido com meus deveres.
São muitas as minhas obrigações agora.
Ela baixou a cabeça e, suspirando, falou com a voz embargada:
- Ora, Amenhotep, nunca veio nos visitar, nem antes de se tornar ministro-chefe!
Todos nós sentimos muito a sua falta.
Papai foi quem mais sofreu com a sua ausência;
ele falava muito em você.
Que pena não ter podido vê-lo antes de partir...
Amenhotep se levantou, andou de um lado para outro na sala, depois se sentou outra vez e disse, constrangido:
- Eu sinto muito.
- Nosso pai cruzou o grande vale.
Já não faz parte deste mundo.
Iremos encontrá-lo um dia no paraíso, ou quem sabe aqui mesmo, quando voltarmos para o Egipto, em nossa próxima reencarnação.
Sentindo-se constrangido pela situação, o irmão recém-chegado perguntou:
- Quando aconteceu?
- Faz alguns meses...
- Por que não mandou me avisar?
Poderíamos embalsamá-lo e dar-lhe um enterro com honra!
- Ele teve um enterro com honra e foi devidamente embalsamado.
Está enterrado sob as areias quentes perto das margens do Nilo, na divisa de nossa propriedade.
Seu corpo está preservado, pode ficar tranquilo.
Amenhotep sentou-se à mesa calado e se deixou ficar meditando.
Nitetis aproximou-se e, tocando-lhe as mãos, questionou:
- Por que demorou tanto?
Eu lhe disse que ele não estava bem, que precisava de você!
- Eu sei, Nitetis. Sinto muito.
Fiquei envolvido com meus deveres.
São muitas as minhas obrigações agora.
Ela baixou a cabeça e, suspirando, falou com a voz embargada:
- Ora, Amenhotep, nunca veio nos visitar, nem antes de se tornar ministro-chefe!
Todos nós sentimos muito a sua falta.
Papai foi quem mais sofreu com a sua ausência;
ele falava muito em você.
Que pena não ter podido vê-lo antes de partir...
Amenhotep se levantou, andou de um lado para outro na sala, depois se sentou outra vez e disse, constrangido:
- Eu sinto muito.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
CAPÍTULO 16
Nitetis sorriu para o irmão com doçura e exclamou:
- Que bom que está aqui; tardou, mas não falhou...
Tenho certeza de que nosso pai, onde quer que esteja, sente-se feliz por saber que você veio.
Apesar de todas as suas responsabilidades, está aqui.
Amenhotep observava a irmã, procurando ensejo para tocar no real motivo de sua visita.
Ele disse:
- Sabe que não poderei demorar-me.
Preciso retornar o mais rápido possível;
como você mesma reconhece, muitos deveres me aguardam.
O faraó está viajando e em breve retornará;
não posso decepcionar o representante dos deuses, você sabe, minha irmã.
- Mas acabou de chegar...
- Contudo, não poderei delongar esta visita;
vou conversar com nossos irmãos para saber se há algo que possa fazer por eles, depois partiremos.
Nitetis o olhou, surpresa, e perguntou:
- O que quer dizer com isso? Partiremos?
Tomando as mãos delicadas da irmã entre as suas, ele falou:
- Quero que venha comigo, Nitetis.
Perplexa, ela indagou:
- Não estou compreendendo.
Por que deseja que eu o acompanhe?
Ele não respondeu de pronto.
Apertou as mãos da irmã com mais força, olhou-a nos olhos e disse:
- Existem certas coisas que foram determinadas pelos deuses, Nitetis.
Nosso destino não nos pertence, e sim a eles.
A jovem permanecia atenta ao irmão, que prosseguiu:
- Preciso de você.
- De mim? Por quê? - ela cada vez mais se surpreendia.
- Preciso de um artista talentoso - o mais talentoso do Egipto - para decorar o túmulo de Djoser.
Quero que pinte o templo mortuário do faraó.
Nitetis olhava o irmão, atónita, incrédula.
Ele perguntou:
- Você me acompanha, Nitetis?
- Mas, meu irmão, sabe que uma mulher dificilmente poderia fazer esse trabalho, menos ainda vê-lo aceito...
- Não se preocupe, terá ajudantes, todos eunucos, que poderão dividir com você a tarefa.
Seu trabalho será aceito dessa forma.
Ninguém precisa saber que é a verdadeira responsável.
O importante é que todo o seu talento será finalmente consagrado.
Nitetis sorriu para o irmão com doçura e exclamou:
- Que bom que está aqui; tardou, mas não falhou...
Tenho certeza de que nosso pai, onde quer que esteja, sente-se feliz por saber que você veio.
Apesar de todas as suas responsabilidades, está aqui.
Amenhotep observava a irmã, procurando ensejo para tocar no real motivo de sua visita.
Ele disse:
- Sabe que não poderei demorar-me.
Preciso retornar o mais rápido possível;
como você mesma reconhece, muitos deveres me aguardam.
O faraó está viajando e em breve retornará;
não posso decepcionar o representante dos deuses, você sabe, minha irmã.
- Mas acabou de chegar...
- Contudo, não poderei delongar esta visita;
vou conversar com nossos irmãos para saber se há algo que possa fazer por eles, depois partiremos.
Nitetis o olhou, surpresa, e perguntou:
- O que quer dizer com isso? Partiremos?
Tomando as mãos delicadas da irmã entre as suas, ele falou:
- Quero que venha comigo, Nitetis.
Perplexa, ela indagou:
- Não estou compreendendo.
Por que deseja que eu o acompanhe?
Ele não respondeu de pronto.
Apertou as mãos da irmã com mais força, olhou-a nos olhos e disse:
- Existem certas coisas que foram determinadas pelos deuses, Nitetis.
Nosso destino não nos pertence, e sim a eles.
A jovem permanecia atenta ao irmão, que prosseguiu:
- Preciso de você.
- De mim? Por quê? - ela cada vez mais se surpreendia.
- Preciso de um artista talentoso - o mais talentoso do Egipto - para decorar o túmulo de Djoser.
Quero que pinte o templo mortuário do faraó.
Nitetis olhava o irmão, atónita, incrédula.
Ele perguntou:
- Você me acompanha, Nitetis?
- Mas, meu irmão, sabe que uma mulher dificilmente poderia fazer esse trabalho, menos ainda vê-lo aceito...
- Não se preocupe, terá ajudantes, todos eunucos, que poderão dividir com você a tarefa.
Seu trabalho será aceito dessa forma.
Ninguém precisa saber que é a verdadeira responsável.
O importante é que todo o seu talento será finalmente consagrado.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Não há ninguém no Egipto que faça o que você faz com as tintas.
Quero o melhor para esse empreendimento fenomenal.
Portanto, quero que seja você a ilustrá-lo, Nitetis.
- Sinto-me lisonjeada, Amenhotep.
Contudo, não gostaria de me afastar de casa neste momento.
Nossos irmãos precisam de mim.
- Eles têm Raquel. Tão logo termine as pinturas, você regressará, se assim o desejar.
Por outro lado, se preferir continuar no palácio, poderei providenciar novas obras para você ornamentar com seu notável talento.
Nitetis encarou o irmão, pensativa.
Calado, ele esperava pela resposta.
Ela, então, abriu um grande sorriso e decidiu:
- Está bem, vou acompanhá-lo.
Farei o que me pede.
Porém ao terminar voltarei para casa.
Raquel, que ouvia toda a conversa, não ousou dizer palavra.
Amenhotep se levantou satisfeito:
- Excelente! Arrume suas coisas que partiremos imediatamente.
Não precisa levar muitas roupas, pois quando chegarmos mandarei que lhe confeccionem vestes especiais, de linho puro.
Ficará deslumbrante, Nitetis.
- Ora, Amenhotep, isso não me interessa.
Quero apenas fazer o que me pede.
Se isso vai deixá-lo feliz...
- Sim, é fundamental para mim.
- E isso é o que me importa.
Nitetis foi para o quarto preparar suas coisas.
Raquel seguiu-a e, assim que se viram a sós, repreendeu-a:
- O que está fazendo, Nitetis?
Vai abandonar seu lar também?
Esse Amenhotep a enfeitiça! Não é possível!
- Ele precisa de mim, Raquel. Não percebe?
- Vai usar seu talento em favor dos interesses dele; é só isso que está querendo!
Nitetis abraçou Raquel amorosamente e admitiu:
- Eu sei, Raquel. Amenhotep é muito egoísta.
No entanto, tenho uma oportunidade a mais de ficar perto dele, de tentar auxiliá-lo, falando-lhe com maior frequência.
Quem sabe não consigo algum resultado?
Aqui, longe como estou, pouco poderei fazer por ele.
Devo acompanhá-lo, Raquel.
Preciso aproveitar a oportunidade que a vida me oferece.
- Seus irmãos não vão gostar nada disso, Nitetis.
Já estou prevendo a reacção deles.
A linda jovem de cabelos negros reflectiu por alguns instantes e depois disse:
Quero o melhor para esse empreendimento fenomenal.
Portanto, quero que seja você a ilustrá-lo, Nitetis.
- Sinto-me lisonjeada, Amenhotep.
Contudo, não gostaria de me afastar de casa neste momento.
Nossos irmãos precisam de mim.
- Eles têm Raquel. Tão logo termine as pinturas, você regressará, se assim o desejar.
Por outro lado, se preferir continuar no palácio, poderei providenciar novas obras para você ornamentar com seu notável talento.
Nitetis encarou o irmão, pensativa.
Calado, ele esperava pela resposta.
Ela, então, abriu um grande sorriso e decidiu:
- Está bem, vou acompanhá-lo.
Farei o que me pede.
Porém ao terminar voltarei para casa.
Raquel, que ouvia toda a conversa, não ousou dizer palavra.
Amenhotep se levantou satisfeito:
- Excelente! Arrume suas coisas que partiremos imediatamente.
Não precisa levar muitas roupas, pois quando chegarmos mandarei que lhe confeccionem vestes especiais, de linho puro.
Ficará deslumbrante, Nitetis.
- Ora, Amenhotep, isso não me interessa.
Quero apenas fazer o que me pede.
Se isso vai deixá-lo feliz...
- Sim, é fundamental para mim.
- E isso é o que me importa.
Nitetis foi para o quarto preparar suas coisas.
Raquel seguiu-a e, assim que se viram a sós, repreendeu-a:
- O que está fazendo, Nitetis?
Vai abandonar seu lar também?
Esse Amenhotep a enfeitiça! Não é possível!
- Ele precisa de mim, Raquel. Não percebe?
- Vai usar seu talento em favor dos interesses dele; é só isso que está querendo!
Nitetis abraçou Raquel amorosamente e admitiu:
- Eu sei, Raquel. Amenhotep é muito egoísta.
No entanto, tenho uma oportunidade a mais de ficar perto dele, de tentar auxiliá-lo, falando-lhe com maior frequência.
Quem sabe não consigo algum resultado?
Aqui, longe como estou, pouco poderei fazer por ele.
Devo acompanhá-lo, Raquel.
Preciso aproveitar a oportunidade que a vida me oferece.
- Seus irmãos não vão gostar nada disso, Nitetis.
Já estou prevendo a reacção deles.
A linda jovem de cabelos negros reflectiu por alguns instantes e depois disse:
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- Pode ser que não aceitem;
mesmo assim, tenho de arriscar.
Preciso tentar, Raquel.
Sei que bem no fundo Amenhotep tem muitas coisas boas, eu posso pressenti-las.
Preciso ajudá-lo a achá-las dentro de si.
- Você é muito boa, minha amiga, vendo sempre o que há de melhor em todos à sua volta.
E abraçando a jovem com ternura, Raquel suspirou fundo e concluiu:
- Ah! Nitetis, desejo que Deus a abençoe e acompanhe.
- Peça a seu Deus por mim, Raquel.
Precisarei de todo o amparo possível.
As duas ouviram gritos vindos da sala de almoço.
Nitetis, que acabara de preparar seus poucos pertences, correu para a porta do quarto, com a intenção de ir ao encontro dos irmãos.
Foi detida pela entrada de Ikeni:
- O que está fazendo, Nitetis?
Não pense em fazer isso!
- Eu preciso, Ikeni, embora você não possa compreender.
- Está querendo destruir sua vida, abandonando o lar, os nossos cuidados, para enfiar-se no palácio, justamente onde o pai detestava que Amenhotep estivesse?
- Ele é igualmente meu irmão, também poderá cuidar de mim.
- Não seja ingénua. Amenhotep não tem qualquer intenção de cuidar de você.
Estará sozinha lá, em meio a estranhos, em meio a disputas constantes, orgulho, vaidade, jogo de poder.
É isso que deseja para sua vida?
E quanto a seu noivo, Bek? O que vai dizer a ele?
- Não vou dizer nada agora.
Assim que tiver ideia do tempo que vou levar para pintar as paredes da construção, enviarei uma mensagem a Bek.
Espero que ele entenda...
- Não está em seu juízo perfeito.
O que aconteceu com você, Nitetis?
- Ikeni, sabe que os amo a todos e amo nosso lar.
Jamais faria algo para magoá-lo, ou a Ineni ou a Iuseneb.
Da mesma forma, amo muito Amenhotep e ele é quem mais precisa de apoio neste momento.
Tenho de fazer alguma coisa, e estar perto dele poderá ajudar.
Agora devo ir. Por favor, procure compreender.
Lágrimas corriam pela face de Raquel, que chocada assistia à discussão dos dois irmãos.
Nitetis desenvencilhou-se do irmão e foi ao encontro de Amenhotep.
Ao chegar ao salão de refeições, o embate seguia acalorado e Amenhotep estava sob a protecção de seus soldados.
Iuseneb gritava:
- Você é um covarde!
Tem de esconder-se atrás de seus homens para resolver um problema de família...
- Chega, Iuseneb.
Estou indo com Amenhotep, e não há nada que me possa impedir!
- Se sair com ele por aquela porta, Nitetis, nunca mais porá os pés nesta casa, está ouvindo?
Tem de escolher.
Se for com ele, terá de viver com ele para sempre!
mesmo assim, tenho de arriscar.
Preciso tentar, Raquel.
Sei que bem no fundo Amenhotep tem muitas coisas boas, eu posso pressenti-las.
Preciso ajudá-lo a achá-las dentro de si.
- Você é muito boa, minha amiga, vendo sempre o que há de melhor em todos à sua volta.
E abraçando a jovem com ternura, Raquel suspirou fundo e concluiu:
- Ah! Nitetis, desejo que Deus a abençoe e acompanhe.
- Peça a seu Deus por mim, Raquel.
Precisarei de todo o amparo possível.
As duas ouviram gritos vindos da sala de almoço.
Nitetis, que acabara de preparar seus poucos pertences, correu para a porta do quarto, com a intenção de ir ao encontro dos irmãos.
Foi detida pela entrada de Ikeni:
- O que está fazendo, Nitetis?
Não pense em fazer isso!
- Eu preciso, Ikeni, embora você não possa compreender.
- Está querendo destruir sua vida, abandonando o lar, os nossos cuidados, para enfiar-se no palácio, justamente onde o pai detestava que Amenhotep estivesse?
- Ele é igualmente meu irmão, também poderá cuidar de mim.
- Não seja ingénua. Amenhotep não tem qualquer intenção de cuidar de você.
Estará sozinha lá, em meio a estranhos, em meio a disputas constantes, orgulho, vaidade, jogo de poder.
É isso que deseja para sua vida?
E quanto a seu noivo, Bek? O que vai dizer a ele?
- Não vou dizer nada agora.
Assim que tiver ideia do tempo que vou levar para pintar as paredes da construção, enviarei uma mensagem a Bek.
Espero que ele entenda...
- Não está em seu juízo perfeito.
O que aconteceu com você, Nitetis?
- Ikeni, sabe que os amo a todos e amo nosso lar.
Jamais faria algo para magoá-lo, ou a Ineni ou a Iuseneb.
Da mesma forma, amo muito Amenhotep e ele é quem mais precisa de apoio neste momento.
Tenho de fazer alguma coisa, e estar perto dele poderá ajudar.
Agora devo ir. Por favor, procure compreender.
Lágrimas corriam pela face de Raquel, que chocada assistia à discussão dos dois irmãos.
Nitetis desenvencilhou-se do irmão e foi ao encontro de Amenhotep.
Ao chegar ao salão de refeições, o embate seguia acalorado e Amenhotep estava sob a protecção de seus soldados.
Iuseneb gritava:
- Você é um covarde!
Tem de esconder-se atrás de seus homens para resolver um problema de família...
- Chega, Iuseneb.
Estou indo com Amenhotep, e não há nada que me possa impedir!
- Se sair com ele por aquela porta, Nitetis, nunca mais porá os pés nesta casa, está ouvindo?
Tem de escolher.
Se for com ele, terá de viver com ele para sempre!
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Ela ficou paralisada.
Olhava para Amenhotep e para os outros irmãos sem saber o que fazer.
Enfim disse:
- Nosso pai não concordaria com isso, Iuseneb!
Está sendo egoísta.
- Nosso velho pai jamais permitiria que fosse com ele, Nitetis, isso nunca!
Estou tentando fazer o que é melhor para você, como ele também faria.
Desista dessa ideia maluca.
E aproveitando-se da hesitação da jovem, virou-se para Amenhotep e gritou:
- Desista também, egoísta!
Ela não irá com você!
Nitetis caminhou com firmeza e colocou-se ao lado de Amenhotep, afirmando:
- Vamos, estou pronta.
Protegidos pelos soldados do faraó e pela guarda pessoal de Amenhotep, saíram em direcção aos animais que os levariam para a capital.
Iuseneb gritava, impedido pelos soldados de se aproximar:
- Nunca mais volte, Nitetis, está ouvindo bem?
Você não tem mais casa, não tem mais família!
Raquel chorava baixinho, vendo Nitetis desaparecer junto da comitiva que acompanhava o ministro-chefe do Egipto.
Nitetis permaneceu muda a viagem inteira.
Olhava a paisagem com o pensamento distante, nos irmãos que deixara para trás.
Amenhotep também seguiu calado.
Sentia-se desconfortável pela situação que acabara de provocar para a irmã.
Sabia que ela não poderia mais regressar ao lar e que teria de preparar um lugar para ela viver, agora no palácio.
Pensou no pai e em tudo o que ele lhe dizia sobre a família, o amor que seus membros deveriam ter entre si, bem como para com os outros.
Subitamente, profunda tristeza apossou-se dele e tudo lhe pareceu sem sentido.
Foi assim ensimesmado que Amenhotep retornou ao palácio.
Ao chegar, acomodou a irmã em um quarto contíguo ao seu:
- Tenho certeza de que vai ficar bem aqui, Nitetis.
Terá tudo de que precisa.
Amanhã mesmo providenciarei uma escrava exclusivamente para atendê-la.
Procurarei alguém que conheça bem o palácio e possa auxiliá-la em tudo de que necessite.
- Não quero uma escrava.
Sei me virar sozinha e tenho você para me ajudar, se precisar de alguma coisa.
Amenhotep olhou-a preocupado, e avisou:
- Não teremos muito tempo juntos.
Tenho muito trabalho a fazer, minhas responsabilidades são imensas.
Preocupo-me com você sozinha aqui, em um lugar estranho e...
Olhava para Amenhotep e para os outros irmãos sem saber o que fazer.
Enfim disse:
- Nosso pai não concordaria com isso, Iuseneb!
Está sendo egoísta.
- Nosso velho pai jamais permitiria que fosse com ele, Nitetis, isso nunca!
Estou tentando fazer o que é melhor para você, como ele também faria.
Desista dessa ideia maluca.
E aproveitando-se da hesitação da jovem, virou-se para Amenhotep e gritou:
- Desista também, egoísta!
Ela não irá com você!
Nitetis caminhou com firmeza e colocou-se ao lado de Amenhotep, afirmando:
- Vamos, estou pronta.
Protegidos pelos soldados do faraó e pela guarda pessoal de Amenhotep, saíram em direcção aos animais que os levariam para a capital.
Iuseneb gritava, impedido pelos soldados de se aproximar:
- Nunca mais volte, Nitetis, está ouvindo bem?
Você não tem mais casa, não tem mais família!
Raquel chorava baixinho, vendo Nitetis desaparecer junto da comitiva que acompanhava o ministro-chefe do Egipto.
Nitetis permaneceu muda a viagem inteira.
Olhava a paisagem com o pensamento distante, nos irmãos que deixara para trás.
Amenhotep também seguiu calado.
Sentia-se desconfortável pela situação que acabara de provocar para a irmã.
Sabia que ela não poderia mais regressar ao lar e que teria de preparar um lugar para ela viver, agora no palácio.
Pensou no pai e em tudo o que ele lhe dizia sobre a família, o amor que seus membros deveriam ter entre si, bem como para com os outros.
Subitamente, profunda tristeza apossou-se dele e tudo lhe pareceu sem sentido.
Foi assim ensimesmado que Amenhotep retornou ao palácio.
Ao chegar, acomodou a irmã em um quarto contíguo ao seu:
- Tenho certeza de que vai ficar bem aqui, Nitetis.
Terá tudo de que precisa.
Amanhã mesmo providenciarei uma escrava exclusivamente para atendê-la.
Procurarei alguém que conheça bem o palácio e possa auxiliá-la em tudo de que necessite.
- Não quero uma escrava.
Sei me virar sozinha e tenho você para me ajudar, se precisar de alguma coisa.
Amenhotep olhou-a preocupado, e avisou:
- Não teremos muito tempo juntos.
Tenho muito trabalho a fazer, minhas responsabilidades são imensas.
Preocupo-me com você sozinha aqui, em um lugar estranho e...
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
A jovem olhava-o, aguardando, até que ele encerrou a frase cortada:
- Vou providenciar uma escrava e não se discute mais o assunto.
Sei de uma jovem palestina que chegou há algum tempo.
Acho que se darão bem, ela é muito parecida com Raquel.
Cansada, Nitetis não discutiu com o irmão.
Ajeitou-se na cama confortável, em meio a almofadas macias, e suspirou fundo:
- Como quiser, meu irmão.
- E não adianta me pedir para libertá-la.
Nitetis reagiu, surpresa:
- Eu nem conheci a moça ainda!
- Mas eu conheço você muito bem.
Não adianta vir me pedir que a liberte.
Estamos no palácio e, aqui, há inumeráveis interesses em jogo.
Fui interpelado por Rudamon quanto à liberdade que concedi à Raquel.
Isso quase me prejudicou.
Não fosse a desculpa de que cedia a um velho doente, e ele teria conseguido criar-me problemas com o facto.
Portanto, aqui viveremos de acordo com as minhas regras.
Agora descanse, que amanhã tomaremos juntos o desjejum e em seguida iremos para a construção.
Quero que comece seu trabalho o mais rápido possível.
Depois que Amenhotep saiu, Nitetis ficou observando detidamente as paredes do quarto, o tecto e os objectos de decoração distribuídos pelo aposento.
Apesar de oprimida pela situação, sentia-se feliz por estar perto do irmão que tanto amava.
- Vou providenciar uma escrava e não se discute mais o assunto.
Sei de uma jovem palestina que chegou há algum tempo.
Acho que se darão bem, ela é muito parecida com Raquel.
Cansada, Nitetis não discutiu com o irmão.
Ajeitou-se na cama confortável, em meio a almofadas macias, e suspirou fundo:
- Como quiser, meu irmão.
- E não adianta me pedir para libertá-la.
Nitetis reagiu, surpresa:
- Eu nem conheci a moça ainda!
- Mas eu conheço você muito bem.
Não adianta vir me pedir que a liberte.
Estamos no palácio e, aqui, há inumeráveis interesses em jogo.
Fui interpelado por Rudamon quanto à liberdade que concedi à Raquel.
Isso quase me prejudicou.
Não fosse a desculpa de que cedia a um velho doente, e ele teria conseguido criar-me problemas com o facto.
Portanto, aqui viveremos de acordo com as minhas regras.
Agora descanse, que amanhã tomaremos juntos o desjejum e em seguida iremos para a construção.
Quero que comece seu trabalho o mais rápido possível.
Depois que Amenhotep saiu, Nitetis ficou observando detidamente as paredes do quarto, o tecto e os objectos de decoração distribuídos pelo aposento.
Apesar de oprimida pela situação, sentia-se feliz por estar perto do irmão que tanto amava.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
CAPÍTULO 17
Amenhotep deixou a irmã e foi para seu quarto.
Andou mecanicamente pelo belo aposento, com a mente distante.
Caminhou até a varanda e passou longo tempo contemplando o reflexo da luz e das estrelas sobre o esplendoroso Nilo.
A imagem do pai vinha-lhe constantemente à cabeça.
Exausto da viagem, ajeitou-se na cama e procurou dormir.
Não obstante o cansaço que sentia, teve dificuldade em conciliar o sono.
Indefinível angústia tomava-lhe o peito;
era a mesma aflição que já o havia dominado muitas outras vezes.
Por fim, vencido pelo cansaço, adormeceu.
Sonhou que estava em um lugar maravilhoso, repleto de árvores muito verdes, com todo tipo de flores coloridas enfeitando o jardim.
Uma linda mulher aproximava-se dele, suavemente.
Via crianças correndo ao seu encontro, com roupas estranhas e completamente diferentes das que usavam no Egipto.
Os meninos se agarravam ao seu pescoço e chamavam-no de pai.
Então, aquela mulher o abraçava com carinho.
Aos poucos, porém, a mulher se transformava e, quando a olhava outra vez, era Nitetis quem sorria para ele.
Despertou assustado.
Antes que pudesse levantar-se, viu Nitetis sentada à beira de sua cama, tocando-o com delicadeza:
- Acorde, Amenhotep.
Não queria estar cedo na construção, para começarmos o trabalho decorativo?
Meio atordoado, sem saber se dormia ou estava acordado, ele sentou-se na cama, esfregando os olhos.
Fitou Nitetis e perguntou:
- O que faz aqui?
- Vim acordá-lo, meu irmão.
Faz muito tempo que estou aguardando, mas como demorou demais vim ver o que se passava.
Pedi à sua... Sua serviçal que preparasse algo para comermos e já está tudo pronto.
O que aconteceu?
Sempre acordou tão cedo!
- Custei a pegar no sono ontem à noite, e creio que não dormi muito bem.
Suspirou fundo, levantou-se e observou o sol que ia alto no céu, derramando-se pela varanda.
Disse, então, agitado:
- Já é tarde, vamos depressa; tenho muito que fazer.
Estavam prestes a sair quando um mensageiro do faraó apareceu na porta do quarto e entrou, seguido pela escrava:
- Trago mensagem do grande Djoser.
- Pois fale, rapaz.
Amenhotep deixou a irmã e foi para seu quarto.
Andou mecanicamente pelo belo aposento, com a mente distante.
Caminhou até a varanda e passou longo tempo contemplando o reflexo da luz e das estrelas sobre o esplendoroso Nilo.
A imagem do pai vinha-lhe constantemente à cabeça.
Exausto da viagem, ajeitou-se na cama e procurou dormir.
Não obstante o cansaço que sentia, teve dificuldade em conciliar o sono.
Indefinível angústia tomava-lhe o peito;
era a mesma aflição que já o havia dominado muitas outras vezes.
Por fim, vencido pelo cansaço, adormeceu.
Sonhou que estava em um lugar maravilhoso, repleto de árvores muito verdes, com todo tipo de flores coloridas enfeitando o jardim.
Uma linda mulher aproximava-se dele, suavemente.
Via crianças correndo ao seu encontro, com roupas estranhas e completamente diferentes das que usavam no Egipto.
Os meninos se agarravam ao seu pescoço e chamavam-no de pai.
Então, aquela mulher o abraçava com carinho.
Aos poucos, porém, a mulher se transformava e, quando a olhava outra vez, era Nitetis quem sorria para ele.
Despertou assustado.
Antes que pudesse levantar-se, viu Nitetis sentada à beira de sua cama, tocando-o com delicadeza:
- Acorde, Amenhotep.
Não queria estar cedo na construção, para começarmos o trabalho decorativo?
Meio atordoado, sem saber se dormia ou estava acordado, ele sentou-se na cama, esfregando os olhos.
Fitou Nitetis e perguntou:
- O que faz aqui?
- Vim acordá-lo, meu irmão.
Faz muito tempo que estou aguardando, mas como demorou demais vim ver o que se passava.
Pedi à sua... Sua serviçal que preparasse algo para comermos e já está tudo pronto.
O que aconteceu?
Sempre acordou tão cedo!
- Custei a pegar no sono ontem à noite, e creio que não dormi muito bem.
Suspirou fundo, levantou-se e observou o sol que ia alto no céu, derramando-se pela varanda.
Disse, então, agitado:
- Já é tarde, vamos depressa; tenho muito que fazer.
Estavam prestes a sair quando um mensageiro do faraó apareceu na porta do quarto e entrou, seguido pela escrava:
- Trago mensagem do grande Djoser.
- Pois fale, rapaz.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- Ele deve retornar em cerca de dois meses e quer saber notícias da construção.
- Venha connosco e recolha suas próprias impressões.
Estou certo de que Djoser se surpreenderá ao chegar.
A edificação já está bastante avançada.
Hoje mesmo começaremos o trabalho decorativo das paredes do templo.
Acompanhe-nos e faça seu relatório.
O jovem obedeceu sem dizer nada.
Nitetis também seguia em silêncio, admirando a grandiosidade das construções que via ao redor.
O palácio era soberbo, com colunas altas e elegantes espalhadas por toda parte.
Acostumada que estava à visão da natureza, às margens do Nilo, encantava-se com a beleza da cidade.
Amenhotep também ia calado.
Parecia triste e preocupado.
De quando em quando, Nitetis observava o semblante do irmão, no qual transparecia sua exasperação.
Ao se aproximarem da imponente construção, Nitetis exclamou:
- Amenhotep, que maravilha!
Como é ampla! Tudo isso para abrigar o corpo do faraó?
Somente o dele?
- Não, Nitetis.
Pretendo que este seja também o repouso dos ministros e sacerdotes do faraó:
a elite política e religiosa do reino.
Sem falar, a jovem caminhava entre os escravos e camponeses que dedicados erguiam, pedra por pedra, o grandioso monumento.
Nitetis tocava as paredes com as duas mãos, impressionada com sua solidez.
Disse então:
- Que pedras, Amenhotep! É magnífico.
- E vai ficar muito mais, com o seu trabalho.
Do que é que precisa para iniciar?
Diga-me, e providenciarei tudo.
E você, eunuco, já pode ir contar ao faraó que seu templo mortuário será incomparável.
Falta muito para que fique pronto, porém será a mais bela edificação do Egipto, isso eu garanto.
O rapaz moveu a cabeça afirmativamente e, dando uma última olhada em torno, pegou o caminho que o levaria ao palácio e de lá directo ao faraó, que ainda se encontrava em terras palestinas.
Nitetis e Amenhotep andaram por todo o sítio, estudando cada detalhe da construção que se erguia.
Ele havia encomendado aos artesãos da corte todo o material de que Nitetis necessitava para começar o trabalho.
Assim que o material foi trazido, ele disse à irmã:
- Nitetis, quero um esboço completo do que pretende fazer.
Desejo que descreva em detalhes a história de nosso povo;
tudo o que é relevante para nós precisa estar gravado nessas paredes.
Use tudo o que sabe.
Quero que supere o que já realizou antes.
- Pode ficar tranquilo, meu irmão, terá o melhor de mim.
- Muito bem. Aqui estão os eunucos que irão ajudá-la.
Agora preciso ir, tenho muito trabalho a fazer.
- Venha connosco e recolha suas próprias impressões.
Estou certo de que Djoser se surpreenderá ao chegar.
A edificação já está bastante avançada.
Hoje mesmo começaremos o trabalho decorativo das paredes do templo.
Acompanhe-nos e faça seu relatório.
O jovem obedeceu sem dizer nada.
Nitetis também seguia em silêncio, admirando a grandiosidade das construções que via ao redor.
O palácio era soberbo, com colunas altas e elegantes espalhadas por toda parte.
Acostumada que estava à visão da natureza, às margens do Nilo, encantava-se com a beleza da cidade.
Amenhotep também ia calado.
Parecia triste e preocupado.
De quando em quando, Nitetis observava o semblante do irmão, no qual transparecia sua exasperação.
Ao se aproximarem da imponente construção, Nitetis exclamou:
- Amenhotep, que maravilha!
Como é ampla! Tudo isso para abrigar o corpo do faraó?
Somente o dele?
- Não, Nitetis.
Pretendo que este seja também o repouso dos ministros e sacerdotes do faraó:
a elite política e religiosa do reino.
Sem falar, a jovem caminhava entre os escravos e camponeses que dedicados erguiam, pedra por pedra, o grandioso monumento.
Nitetis tocava as paredes com as duas mãos, impressionada com sua solidez.
Disse então:
- Que pedras, Amenhotep! É magnífico.
- E vai ficar muito mais, com o seu trabalho.
Do que é que precisa para iniciar?
Diga-me, e providenciarei tudo.
E você, eunuco, já pode ir contar ao faraó que seu templo mortuário será incomparável.
Falta muito para que fique pronto, porém será a mais bela edificação do Egipto, isso eu garanto.
O rapaz moveu a cabeça afirmativamente e, dando uma última olhada em torno, pegou o caminho que o levaria ao palácio e de lá directo ao faraó, que ainda se encontrava em terras palestinas.
Nitetis e Amenhotep andaram por todo o sítio, estudando cada detalhe da construção que se erguia.
Ele havia encomendado aos artesãos da corte todo o material de que Nitetis necessitava para começar o trabalho.
Assim que o material foi trazido, ele disse à irmã:
- Nitetis, quero um esboço completo do que pretende fazer.
Desejo que descreva em detalhes a história de nosso povo;
tudo o que é relevante para nós precisa estar gravado nessas paredes.
Use tudo o que sabe.
Quero que supere o que já realizou antes.
- Pode ficar tranquilo, meu irmão, terá o melhor de mim.
- Muito bem. Aqui estão os eunucos que irão ajudá-la.
Agora preciso ir, tenho muito trabalho a fazer.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Amenhotep pôs-se a caminho do palácio, mas pouco se afastara quando ouviu Nitetis que corria em sua direcção.
Alcançando-o, ela segurou-o pelo braço e indagou:
- Você está bem, meu irmão?
Qual é o problema, o que o aflige?
- Nada!
- Eu o conheço e sei quando algo não vai bem.
O que há? Diga-me para que eu tente ajudar.
- Estou apenas preocupado com as muitas responsabilidades que pesam sobre mim.
Concentre-se no seu trabalho.
Você ouviu o mensageiro:
o faraó volta em breve e quero que fique totalmente fascinado pela beleza da construção.
Sem esperar resposta, Amenhotep partiu.
Nitetis ficou a observá-lo até desaparecer na estrada.
Então se virou e fitou a esplêndida construção de pedras que o irmão havia projectado.
Sorriu impressionada com sua habilidade e seguiu a passos firmes para principiar o trabalho.
Uma semana transcorreu.
Amenhotep dedicava-se ao trabalho, mas tinha dificuldade de concentração.
Algo lhe faltava;
sentia-se oprimido e entristecido, sem entender o porquê de seus sentimentos.
Tentava empenhar-se mais no trabalho, buscando aliviar o coração.
Nitetis quase não via o irmão, a não ser à noite, quando chegava da construção para o jantar.
Nesses momentos, pouco conversava, atendo-se a acompanhar o andamento do trabalho que ela executava.
Sempre que Nitetis insistia em falar do que se passava com ele, Amenhotep voltava a atenção para os assuntos do ministério e afastava-se dela.
Naquela tarde, Nitetis estava radiante.
Terminara a parede da entrada da câmara, e as inscrições em homenagem a Isis haviam ficado esplêndidas.
Ela contemplava o resultado do trabalho, junto com os auxiliares, quando se ouviu inesperado burburinho, seguido de silêncio absoluto.
Uma mulher jovem e sensual, lindamente vestida e com ar soberbo, entrou na construção.
À medida que ela passava, todos lhe faziam reverência.
Assim que pôs os pés na edificação, ela perguntou:
- Onde está Amenhotep? Quero vê-lo.
Amy aproximou-se e ajoelhou-se reverente:
- Alteza, não sabíamos que o faraó já havia chegado.
Perdoe-nos, por favor.
Amenhotep não está aqui.
- O faraó ainda deverá demorar um pouco.
Algumas batalhas foram muito difíceis e, preocupado, o faraó quis colocar-me em segurança e ordenou que eu regressasse.
Ela calou-se por alguns segundos e olhou ao redor; depois continuou:
- É pena que Amenhotep não esteja.
Trago-lhe mais escravos e tenho certeza de que irá apreciar.
Gostaria também de dar-lhe pessoalmente as últimas instruções do faraó.
Alcançando-o, ela segurou-o pelo braço e indagou:
- Você está bem, meu irmão?
Qual é o problema, o que o aflige?
- Nada!
- Eu o conheço e sei quando algo não vai bem.
O que há? Diga-me para que eu tente ajudar.
- Estou apenas preocupado com as muitas responsabilidades que pesam sobre mim.
Concentre-se no seu trabalho.
Você ouviu o mensageiro:
o faraó volta em breve e quero que fique totalmente fascinado pela beleza da construção.
Sem esperar resposta, Amenhotep partiu.
Nitetis ficou a observá-lo até desaparecer na estrada.
Então se virou e fitou a esplêndida construção de pedras que o irmão havia projectado.
Sorriu impressionada com sua habilidade e seguiu a passos firmes para principiar o trabalho.
Uma semana transcorreu.
Amenhotep dedicava-se ao trabalho, mas tinha dificuldade de concentração.
Algo lhe faltava;
sentia-se oprimido e entristecido, sem entender o porquê de seus sentimentos.
Tentava empenhar-se mais no trabalho, buscando aliviar o coração.
Nitetis quase não via o irmão, a não ser à noite, quando chegava da construção para o jantar.
Nesses momentos, pouco conversava, atendo-se a acompanhar o andamento do trabalho que ela executava.
Sempre que Nitetis insistia em falar do que se passava com ele, Amenhotep voltava a atenção para os assuntos do ministério e afastava-se dela.
Naquela tarde, Nitetis estava radiante.
Terminara a parede da entrada da câmara, e as inscrições em homenagem a Isis haviam ficado esplêndidas.
Ela contemplava o resultado do trabalho, junto com os auxiliares, quando se ouviu inesperado burburinho, seguido de silêncio absoluto.
Uma mulher jovem e sensual, lindamente vestida e com ar soberbo, entrou na construção.
À medida que ela passava, todos lhe faziam reverência.
Assim que pôs os pés na edificação, ela perguntou:
- Onde está Amenhotep? Quero vê-lo.
Amy aproximou-se e ajoelhou-se reverente:
- Alteza, não sabíamos que o faraó já havia chegado.
Perdoe-nos, por favor.
Amenhotep não está aqui.
- O faraó ainda deverá demorar um pouco.
Algumas batalhas foram muito difíceis e, preocupado, o faraó quis colocar-me em segurança e ordenou que eu regressasse.
Ela calou-se por alguns segundos e olhou ao redor; depois continuou:
- É pena que Amenhotep não esteja.
Trago-lhe mais escravos e tenho certeza de que irá apreciar.
Gostaria também de dar-lhe pessoalmente as últimas instruções do faraó.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Observando com mais atenção em derredor, disse:
- Vejo que as obras vão adiantadas.
Ao olhar a pintura nas paredes, sem deter-se nas figuras, viu Nitetis;
acercou-se dela com evidente desagrado:
- Quem é você? O que faz aqui, em meio à construção?
Sem saber ao certo de quem se tratava, mas reconhecendo estar diante de importante autoridade real, respondeu:
- Estou ajudando os eunucos no trabalho de pintura das paredes do templo.
Iaret examinou novamente as pinturas, depois dirigiu-se a Amy:
- Não estou compreendendo.
Por que necessitamos de uma mulher para esse trabalho?
Mande-a embora imediatamente. Exijo somente eunucos.
Nitetis baixou os olhos e esperou pela resposta de Amy.
- Esta é Nitetis, uma artesã talentosa, contratada pelo próprio Amenhotep para colaborar com os eunucos.
Antes de dispensar seus serviços, preciso comunicar a Amenhotep.
Ele não vai admitir atrasos na obra.
- E eu estou ordenando que a despeça agora.
Não quero mais vê-la aqui.
Amy curvou-se em sinal de reverência e ao erguer-se disse a Nitetis:
- Deixe tudo como está e vá embora.
Nitetis fitou-o sem saber o que falar.
Levantou-se, tomou alguns de seus pertences pessoais e saiu.
Assim que a jovem deixou a construção, Iaret determinou:
- Voltem ao trabalho. Tenho mais de trezentos escravos, Amy.
Muitos são soldados e bem fortes.
Aproveite todos e coloque-os para trabalhar!
Quero que Amenhotep termine essa construção ao menor prazo possível, e que tudo fique como ele deseja.
Iaret saiu e seguiu directo para o palácio.
O sol que se punha no horizonte transformava a paisagem em um espectáculo inebriante.
Os tons alaranjados se espalhavam por sobre o Nilo, reflectidos em suas águas, tornando difícil saber onde terminava o céu e começava a terra.
Amenhotep entrou em seu quarto apressado, à procura de um de seus planos para a construção do grande templo de Ra.
Deparou com Nitetis, que, nervosa, apertava as mãos.
Ao ver a irmã, ele indagou:
- O que faz aqui a esta hora?
- Ora, não é tão cedo assim. Ra já está indo dormir.
Você se acostumou mal a minhas longas jornadas de trabalho.
Antes que ele respondesse, Nitetis aduziu:
- Além do mais, fui dispensada.
- O quê? Como, dispensada?
- Aquela jovem que vi em seu quarto, quando vim procurá-lo há algum tempo, apareceu na construção e me mandou embora.
- Vejo que as obras vão adiantadas.
Ao olhar a pintura nas paredes, sem deter-se nas figuras, viu Nitetis;
acercou-se dela com evidente desagrado:
- Quem é você? O que faz aqui, em meio à construção?
Sem saber ao certo de quem se tratava, mas reconhecendo estar diante de importante autoridade real, respondeu:
- Estou ajudando os eunucos no trabalho de pintura das paredes do templo.
Iaret examinou novamente as pinturas, depois dirigiu-se a Amy:
- Não estou compreendendo.
Por que necessitamos de uma mulher para esse trabalho?
Mande-a embora imediatamente. Exijo somente eunucos.
Nitetis baixou os olhos e esperou pela resposta de Amy.
- Esta é Nitetis, uma artesã talentosa, contratada pelo próprio Amenhotep para colaborar com os eunucos.
Antes de dispensar seus serviços, preciso comunicar a Amenhotep.
Ele não vai admitir atrasos na obra.
- E eu estou ordenando que a despeça agora.
Não quero mais vê-la aqui.
Amy curvou-se em sinal de reverência e ao erguer-se disse a Nitetis:
- Deixe tudo como está e vá embora.
Nitetis fitou-o sem saber o que falar.
Levantou-se, tomou alguns de seus pertences pessoais e saiu.
Assim que a jovem deixou a construção, Iaret determinou:
- Voltem ao trabalho. Tenho mais de trezentos escravos, Amy.
Muitos são soldados e bem fortes.
Aproveite todos e coloque-os para trabalhar!
Quero que Amenhotep termine essa construção ao menor prazo possível, e que tudo fique como ele deseja.
Iaret saiu e seguiu directo para o palácio.
O sol que se punha no horizonte transformava a paisagem em um espectáculo inebriante.
Os tons alaranjados se espalhavam por sobre o Nilo, reflectidos em suas águas, tornando difícil saber onde terminava o céu e começava a terra.
Amenhotep entrou em seu quarto apressado, à procura de um de seus planos para a construção do grande templo de Ra.
Deparou com Nitetis, que, nervosa, apertava as mãos.
Ao ver a irmã, ele indagou:
- O que faz aqui a esta hora?
- Ora, não é tão cedo assim. Ra já está indo dormir.
Você se acostumou mal a minhas longas jornadas de trabalho.
Antes que ele respondesse, Nitetis aduziu:
- Além do mais, fui dispensada.
- O quê? Como, dispensada?
- Aquela jovem que vi em seu quarto, quando vim procurá-lo há algum tempo, apareceu na construção e me mandou embora.
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Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
Amenhotep arregalou os olhos, que brilharam intensamente:
- Iaret... Então o faraó chegou?!
Ao perceber a reacção do irmão, Nitetis emendou:
- Não, ainda demora um pouco.
Mas, afinal, quem é ela?
Pareceu-me tão poderosa!
Respirando fundo e aliviado, ele sorriu:
- É a esposa preferida do faraó.
- Isso explica sua autoridade.
Ela não quer que eu trabalhe na pintura das paredes...
Amenhotep sorriu satisfeito, ao perceber o ciúme da mulher que desejava, e assegurou à irmã:
- Não se preocupe, vou falar com ela.
Eles conversavam, quando Iaret entrou, procurando pelo amante:
- Amenhotep...
Ao ver a jovem que havia dispensado da obra em construção, ela empalideceu de raiva:
- O que faz aqui? Veio reclamar ao seu contratante?
Já disse que não a quero trabalhando no templo funerário de meu marido!
Amenhotep aproximou-se de Iaret e, reverenciando-a, disse:
- Com sua permissão, senhora, posso explicar tudo.
- Estou esperando...
Voltando-se para Nitetis, pediu:
- Vá, Nitetis, depois conversamos.
A jovem levantou-se e saiu, fazendo antes sinal de reverência à rainha do Egipto.
Iaret encarou Amenhotep com firmeza e perguntou:
- O que significa isso?
Como ousa permitir que uma mulher entre em seu quarto, sobretudo em minha ausência?
E o que ela fazia na tumba? Por que a contratou?
- Acalme-se, por favor.
E olhando-a apaixonado, tomou-a nos braços:
- Como está linda!
Não sei por que retornou antes do faraó, mas estou muito feliz em vê-la.
Morria de saudade de você, minha amada!
- Não tente distrair-me, Amenhotep.
Quero uma explicação!
Ele sorriu e beijou-a com fervor.
Após entregar-se à carícia apaixonada sem resistir, Iaret se desvencilhou dele e cobrou:
- Estou esperando sua explicação.
- Nitetis é minha irmã.
Não se recorda daquele dia, antes de minha indicação, antes de você viajar?
Ela esteve aqui, quando estávamos juntos.
Veio procurar-me porque meu pai estava doente. Lembra-se?
- Iaret... Então o faraó chegou?!
Ao perceber a reacção do irmão, Nitetis emendou:
- Não, ainda demora um pouco.
Mas, afinal, quem é ela?
Pareceu-me tão poderosa!
Respirando fundo e aliviado, ele sorriu:
- É a esposa preferida do faraó.
- Isso explica sua autoridade.
Ela não quer que eu trabalhe na pintura das paredes...
Amenhotep sorriu satisfeito, ao perceber o ciúme da mulher que desejava, e assegurou à irmã:
- Não se preocupe, vou falar com ela.
Eles conversavam, quando Iaret entrou, procurando pelo amante:
- Amenhotep...
Ao ver a jovem que havia dispensado da obra em construção, ela empalideceu de raiva:
- O que faz aqui? Veio reclamar ao seu contratante?
Já disse que não a quero trabalhando no templo funerário de meu marido!
Amenhotep aproximou-se de Iaret e, reverenciando-a, disse:
- Com sua permissão, senhora, posso explicar tudo.
- Estou esperando...
Voltando-se para Nitetis, pediu:
- Vá, Nitetis, depois conversamos.
A jovem levantou-se e saiu, fazendo antes sinal de reverência à rainha do Egipto.
Iaret encarou Amenhotep com firmeza e perguntou:
- O que significa isso?
Como ousa permitir que uma mulher entre em seu quarto, sobretudo em minha ausência?
E o que ela fazia na tumba? Por que a contratou?
- Acalme-se, por favor.
E olhando-a apaixonado, tomou-a nos braços:
- Como está linda!
Não sei por que retornou antes do faraó, mas estou muito feliz em vê-la.
Morria de saudade de você, minha amada!
- Não tente distrair-me, Amenhotep.
Quero uma explicação!
Ele sorriu e beijou-a com fervor.
Após entregar-se à carícia apaixonada sem resistir, Iaret se desvencilhou dele e cobrou:
- Estou esperando sua explicação.
- Nitetis é minha irmã.
Não se recorda daquele dia, antes de minha indicação, antes de você viajar?
Ela esteve aqui, quando estávamos juntos.
Veio procurar-me porque meu pai estava doente. Lembra-se?
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Localização : Porto - Portugal
Re: Série Lúcius - EXILADOS POR AMOR / Sandra Carneiro
- Não, não me lembro. Ela é sua irmã?
- Sim, Iaret.
- Mas por que está ajudando os eunucos?
- São os eunucos que a estão ajudando.
- Como?
- Nitetis é a mais talentosa artesã de todo o Egipto.
Eu a trouxe porque quero o melhor para o templo mortuário de Djoser.
Ela sorriu cinicamente:
- Você quer que todos se ajoelhem aos seus pés reconhecendo quanto é inteligente e capaz!
- E desejo o melhor para o faraó também.
- Pois eu não a quero lá.
- Ora, vamos, Iaret, que diferença isso faz para você?
Ela é muito boa no que faz!
- Eu a expulsei! Como poderia readmiti-la?
- Vá comigo à obra amanhã.
Observamos juntos o trabalho e depois você comenta com todos que até seria interessante que a artesã voltasse.
O que acha?
- Não a quero por lá;
não a quero perto de você.
- Iaret, pare com isso. Ela é minha irmã!
- E daí? A primeira esposa do faraó também é irmã dele!
- Mas é diferente, eu não tenho esse tipo de atracção por ela.
Atirando-se nos braços de Amenhotep, ela insistiu:
- Não tem?
- Não. Quero apenas que ela faça o trabalho no qual é habilidosa, nada mais.
- Pois bem, que volte, mas eu a quero bem longe de você!
Ele a abraçou novamente e pediu:
- Agora que está mais calma, conte-me todos os pormenores da viagem.
Quero saber de tudo o que aconteceu, desde a sua partida.
- Sim, Iaret.
- Mas por que está ajudando os eunucos?
- São os eunucos que a estão ajudando.
- Como?
- Nitetis é a mais talentosa artesã de todo o Egipto.
Eu a trouxe porque quero o melhor para o templo mortuário de Djoser.
Ela sorriu cinicamente:
- Você quer que todos se ajoelhem aos seus pés reconhecendo quanto é inteligente e capaz!
- E desejo o melhor para o faraó também.
- Pois eu não a quero lá.
- Ora, vamos, Iaret, que diferença isso faz para você?
Ela é muito boa no que faz!
- Eu a expulsei! Como poderia readmiti-la?
- Vá comigo à obra amanhã.
Observamos juntos o trabalho e depois você comenta com todos que até seria interessante que a artesã voltasse.
O que acha?
- Não a quero por lá;
não a quero perto de você.
- Iaret, pare com isso. Ela é minha irmã!
- E daí? A primeira esposa do faraó também é irmã dele!
- Mas é diferente, eu não tenho esse tipo de atracção por ela.
Atirando-se nos braços de Amenhotep, ela insistiu:
- Não tem?
- Não. Quero apenas que ela faça o trabalho no qual é habilidosa, nada mais.
- Pois bem, que volte, mas eu a quero bem longe de você!
Ele a abraçou novamente e pediu:
- Agora que está mais calma, conte-me todos os pormenores da viagem.
Quero saber de tudo o que aconteceu, desde a sua partida.
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