LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 4 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:46 pm

Poderia desejar imprimir novo rumo ao seu idealismo de mulher, embora adiando realizações sem as quais não se erguerá livremente do mundo.

Os orientadores da Espiritualidade procuram companheiros, não escravos.
O médium digno da missão do auxílio não é um animal subjugado à canga, mas sim um irmão da Humanidade e um aspirante à Sabedoria.

Deve trabalhar e estudar por amor...
É por isso que muitos começam a jornada e recuam.

Livres para decidir quanto ao próprio destino, muitas vezes preferem estagiar com indesejáveis companhias, caindo em temíveis fascinações.

Iniciam-se com entusiasmo na obra do bem, entretanto, em muitas circunstâncias dão ouvidos a elementos corruptores que os visitam pelas brechas da invigilância.

E, assim, tropeçam e se estiram na cupidez, na preguiça, no personalismo destruidor ou na sexualidade delinquente, transformando-se em joguetes dos adversários da luz, que lhes vampirizam as forças, aniquilando-lhes as melhores possibilidades.

Isso é da experiência de todos os tempos e de todos os dias...

— Sim, sim... — concordei — mas não seria possível aos mentores espirituais a movimentação de medidas capazes de pôr cobro aos abusos, quando os abusos aparecem?

Meu interlocutor sorriu e obtemperou:
— Cada consciência marcha por si, apesar de serem numerosos os mestres do caminho.
Devemos a nós mesmos a derrota ou a vitória.

Almas e colectividades adquirem as experiências com que se redimem ou se elevam, ao preço do próprio esforço.

O homem constrói, destrói e reconstrói destinos, como a Humanidade faz e desfaz civilizações, buscando a melhor direcção para responder aos chamamentos de Deus.

É por isso que pesadas tribulações vagueiam no mundo, tais como a enfermidade e a aflição, a guerra e a decadência, despertando as almas para o discernimento justo.

Cada qual vive no quadro das próprias conquistas ou dos próprios débitos.

Assim considerando, vemos no Planeta milhões de criaturas sob as teias da mediunidade torturante, milhares detendo possibilidades psíquicas apreciáveis, muitas tentando o desenvolvimento dos recursos dessa natureza e raras obtendo um mandato mediúnico para o trabalho da fraternidade e da luz.

E, segundo reconhecemos, a mediunidade sublimada é serviço que devemos edificar, ainda que essa gloriosa aquisição nos custe muitos séculos.

— Mas, ainda num mandato mediúnico, o tarefeiro da condição de Dona Ambrosina pode cair?

— Como não? — acentuou o interlocutor — um mandato é uma delegação de poder obtida pelo crédito moral, sem ser um atestado de santificação.

Com maiores ou menores responsabilidades, é imprescindível não esquecer nossas obrigações perante a Lei Divina, a fim de consolidar nossos títulos de merecimento na vida eterna.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:47 pm

E, com significativo tom de voz, acrescentou:
— Recordemos a palavra do Senhor:
“muito se pedirá de quem muito recebeu”.

A conversação, à margem do serviço, oferecera-me suficiente material de meditação.
As valiosas anotações do Assistente, em se reportando à mediunidade, impeliam-me a silenciar e reflectir.

Isso, porém, não acontecia com o meu companheiro, porque Hilário, fixando o espelho fluídico em que os benfeitores do nosso plano recolhiam informações rápidas para respostas às consultas, solicitou de nosso orientador alguma definição sobre o delicado instrumento, que funcionava às mil maravilhas, mostrando quadros com pessoas angustiadas ou enfermas, de momento a momento.

— É um televisor, manobrado com recursos de nossa esfera.
— Entretanto — inquiriu Hilário, minucioso —‘ a face do espelho mostra o veículo de carne ou a própria alma?
A própria alma.
Pelo exame do perispírito, alinham-se avisos e conclusões.

Muitas vezes, é imprescindível analisar certos casos que nos são apresentados, de modo meticuloso;
todavia, recolhendo apelos em massa, mobilizamos meios de atender a distância.

Para isso, trabalhadores das nossas linhas de actividade são distribuídos por diversas regiões, onde captam as imagens de acordo com os pedidos que nos são endereçados, sintonizando as emissões com o aparelho receptor sob nossa vista.

A televisão, que começa a estender-se no mundo, pode oferecer uma ideia imediata de semelhante serviço, salientando-se que entre nós essas transmissões são muito mais simples, exactas e instantâneas.

Meu colega reflectiu alguns momentos, como se grave problema lhe aflorasse à cabeça, e considerou:
— O que vemos sugere importantes ponderações.

Imaginemos que alguém expeça determinada solicitação ao mandato mediúnico, sujeita a certa demora entre a requisição e a resposta...

Figuremos que o interessado, situado longe, desencarne e permaneça, em Espírito, como acontece em muitas ocasiões, num aposento doméstico ou em algum leito de hospital, embora já liberado do corpo físico...

Num caso desses, a resposta dos benfeitores espirituais será fornecida como se fosse dedicada ao encarnado autêntico?

— Isso pode ocorrer em várias circunstâncias — acrescentou o Assistente —, de vez que não nos achamos num serviço automático ou milagroso.

Agimos com espírito de cooperação e boa-vontade, dependendo o êxito do auxílio mútuo, porque uma só peça não solucionará os problemas da máquina inteira.

Funcionários que recolhem anotações reclamam o concurso eficiente daqueles que as transmitem.

Muita vez, a longa distância, a criatura em sofrimento é mostrada aos que se propõem socorrê-la e os samaritanos da fraternidade, em virtude do número habitualmente enorme dos aflitos, com a obrigação de ajudar, de improviso, não podem, de momento, ajuizar se estão recebendo informes acerca de um encarnado ou de um desencarnado, mormente quando não se acham laureados por vastíssima experiência.

Em certas situações, os necessitados exigem auxílio intensivo em pequenina fracção de minuto.
Assim sendo, qualquer equívoco desse jaez é perfeitamente admissível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:47 pm

— Mas, isso — tornou Hilário — não seria perturbar o serviço da fé?
Se fossemos nós, os encarnados, não julgaríamos tal acontecimento como sendo inútil resposta enviada a um morto?

— Não, Hilário, não podemos situar a questão nestes termos.
Quem busca sinceramente a fé, encontra o prémio da compreensão clara e pacífica das coisas, sem prejudicar-se diante de contradições superficiais e aparentes.

Nesse ponto do diálogo, o Assistente meditou um instante e observou:
— Mas se os consulentes são exemplares de leviandade e má-fé, abeirando-se do trabalho mediúnico no propósito deliberado de estabelecer a descrença e a secura espiritual, semelhantes resultados, quando se verificam, servem para eles como justa colheita dos espinhos que plantam, de vez que abusam da generosidade e da paciência dos Espíritos amigos e recolhem para si mesmos a negação e a tortura mental.

Quem procura a fonte límpida, arremessando-lhe lodo à face, não pode, em seguida, obter a água pura.

Hilário, satisfeito, silenciou.

E porque dois médiuns de cura passassem a socorrer doentes em sala próxima, enquanto Dona Ambrosina e os oradores cumpriam seus edificantes deveres, procuramos o serviço de passes magnéticos, à cata de novos conhecimentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:47 pm

17 - Serviço de passes

Atravessamos a porta e fomos defrontados por ambiente balsâmico e luminoso.

Um cavalheiro maduro e uma senhora respeitável recolhiam apontamentos em pequeno livro de notas, ladeados por entidades evidentemente vinculadas aos serviços de cura.

Indicando os dois médiuns, o Assistente informou:
— São os nossos irmãos Clara e Henrique, em tarefa de assistência, orientados pelos amigos que os dirigem.

— Como compreender a atmosfera radiante em que nos banhamos? — aventurou Hilário, curioso.

— Nesta sala — explicou Aulus, amigavelmente — se reúnem sublimadas emanações mentais da maioria de quantos se valem do socorro magnético, tomados de amor e confiança.

Aqui possuímos uma espécie de altar interior, formado pelos pensamentos, preces e aspirações de quantos nos procuram trazendo o melhor de si mesmos.

Não dispúnhamos, todavia, de muito tempo para a conversação isolada.
Clara e Henrique, agora em prece, nimbavam-se de luz.

Dir-se-ia estavam quase desligados do corpo denso, porque se mostravam espiritualmente mais livres, em pleno contacto com os benfeitores presentes, embora por si mesmos não no pudessem avaliar.

Calmos e seguros, pareciam haurir forças revigorantes na intimidade de suas almas.
Guardavam a ideia de que a oração lhes mantinha o espírito em comunicação com invisível e profundo manancial de energia silenciosa.

Ante a porta ainda cerrada, acotovelavam-se pessoas aflitas e bulhentas, esperando o término da preparação a que se confiavam.

Os dois médiuns, porém, afiguravam-se-nos espiritualmente distantes.
Absortos, em companhia das entidades irmãs, registavam-lhes as instruções, através dos recursos intuitivos.

Pelas irradiações da personalidade magnética de Henrique, reconhecia-se-lhe, de imediato, a superioridade sobre a companheira.

Era ele, dentre os dois, o ponto dominante.
Por isso, decerto, ao seu lado se achava o orientador espiritual mais categorizado para a tarefa.

Aulus abraçou-o e no-lo apresentou, gentil.
O irmão Conrado, nosso novo amigo, enlaçou-nos acolhedor.
Anunciou que o serviço estaria à nossa disposição para os apontamentos que desejássemos.

E o nosso instrutor, colocando-nos à vontade, autorizou-nos dirigir a Conrado qualquer indagação que nos ocorresse.

Hilário, que nunca sopitava a própria espontaneidade, começou, como de hábito, a inquirição, perguntando respeitosamente:
— O amigo permanece frequentemente aqui?

— Sim, tomamos sob nossa responsabilidade os serviços assistenciais da instituição, em favor dos doentes, duas noites por semana.
— Dos enfermos tão-somente encarnados?
— Não é bem assim.
Atendemos aos necessitados de qualquer procedência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:48 pm

— Conta com muitos cooperadores?
— Integramos um quadro de auxiliares, de acordo com a organização estabelecida pelos mentores da Esfera Superior.

— Quer dizer que, numa casa como esta, há colaboradores espirituais devidamente fichados, assim como ocorre a médicos e enfermeiros num hospital terrestre comum?
— Perfeitamente.

Tanto entre os homens como entre nós, que ainda nos achamos longe da perfeição espiritual, o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos.

A Lei não pode menosprezar as linhas da lógica.

— E os médiuns? são invariavelmente os mesmos?
— Sim, contudo, em casos de impedimento justo, podem ser substituídos, embora nessas circunstâncias se verifiquem, inevitavelmente, pequenos prejuízos resultantes de natural desajuste.

Meu colega passeou o olhar inquieto pelos dois companheiros encarnados, em oração, e continuou:
— Preparam-se nossos amigos, à frente do trabalho, com o auxílio da prece?
— Sem dúvida.
A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai.

Por ela, Clara e Henrique expulsam do próprio mundo interior os sombrios remanescentes da actividade comum que trazem do círculo diário de luta e sorvem do nosso plano as substâncias renovadoras de que se repletam, a fim de conseguirem operar com eficiência, a favor do próximo.

Desse modo, ajudam e acabam por ser firmemente ajudados.

— Isso significa que não precisam recear a sua exaustão...
— De modo algum.
Tanto quanto nós, não comparecem aqui com a pretensão de serem os senhores do benefício, mas sim na condição de beneficiários que recebem para dar.

A oração, com o reconhecimento de nossa desvalia, coloca-nos na posição de simples elos de uma cadeia de socorro, cuja orientação reside no Alto.

Somos nós aqui, neste recinto consagrado à missão evangélica, sob a inspiração de Jesus, algo semelhante à singela tomada eléctrica, dando passagem à força que não nos pertence e que servirá na produção de energia e luz.

A explicação não podia ser mais clara.

E enquanto Hilário sorria satisfeito, Conrado afagou os ombros de Henrique, como a recordar-lhe o horário estabelecido, e o médium, apesar de não lhe assinalar o gesto no campo das sensações físicas, obedeceu, de pronto, encaminhando-se para a porta e descerrando-a aos sofredores.

Pequena multidão de encarnados e desencarnados aglomerou-se à entrada, todavia, companheiros da casa controlavam-lhes os movimentos.

Conrado entregou-se ao trabalho que lhe competia e, em razão disso, tornamos à intimidade do Assistente.

Ambos os médiuns atacaram a tarefa.
Enfermos de variada expressão entravam esperançosos e retiravam-se, depois de atendidos, com evidentes sinais de reconforto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:48 pm

Das mãos de Clara e Henrique irradiavam-se luminosas chispas, comunicando-lhes vigor e refazimento.

Na maioria dos casos, não precisavam tocar o corpo dos pacientes, de modo directo.

Os recursos magnéticos, aplicados a reduzida distância, penetravam assim mesmo o «halo vital» ou a aura dos doentes, provocando modificações subitâneas.

Os passistas afiguravam-se-nos como duas pilhas humanas deitando raios de espécie múltipla, a lhes fluírem das mãos, depois de lhes percorrerem a cabeça, ao contacto do irmão Conrado e de seus colaboradores.

O quadro era efectivamente fascinador pelos jogos de luz que apresentava.

Hilário sondou o ambiente e, em seguida, indagou de nosso orientador:
— Por que motivo a energia transmitida pelos amigos espirituais circula primeiramente na cabeça dos médiuns?

— Ainda aqui — disse Áulus —, não podemos subestimar a importância da mente. O pensamento influi de maneira decisiva, na doação de princípios curadores.

Sem a ideia iluminada pela fé e pela boa-vontade, o médium não conseguiria ligação com os Espíritos amigos que actuam sobre essas bases.

— Entretanto — ponderei —, há pessoas tão bem dotadas de força magnética perfeitamente despreocupadas do elemento moral!...

— Sim — redarguiu o Assistente —, refere-se você aos hipnotizadores comuns, muita vez portadores de energia excepcional.
Fazem belas demonstrações, impressionam, convencem, contudo, movimentam-se na esfera de puro fenómeno, sem aplicações edificantes no campo da espiritualidade.

É imperioso não esquecer, André, que o potencial magnético é peculiar a todos, com expressões que se graduam ao infinito.

— Mas semelhantes profissionais podem igualmente curar! — frisou meu companheiro, completando-me as observações.

— Sim, podem curar, mas acidentalmente, quando o enfermo é credor de assistência espiritual imediata, com a intervenção de amigos que o favorecem.

Fora disso, os que abusam dessa fonte de energia, explorando-a ao seu bel-prazer, quase sempre resvalam para a desmoralização de si mesmos, porque interferindo num campo de forças que lhes é desconhecido, guiados tão-somente pela vaidade ou pela ambição inferior, fatalmente encontram entidades que com eles se afinam, precipitando-se em difíceis situações que não vêm à baila comentar.

Se não possuem um carácter elevado, susceptível de opor um dique à influenciação viciosa, acabam vampirizados por energias mais acentuadas que as deles, porquanto, se considerarmos o assunto apenas sob o ponto de vista da força, somos constrangidos a reconhecer que há imenso número de vigorosos hipnotizadores espirituais, nas linhas atormentadas da ignorância e da crueldade, de onde se originam os mais aflitivos processos de obsessão.

E, sorrindo, acrescentou:
— Recordemos a Natureza.
A serpente é um dos maiores detentores de poder hipnótico.

— Então — disse Hilário —, para curar, serão indispensáveis certas atitudes do espírito...

— Indiscutivelmente não prescindimos do coração nobre e da mente pura, no exercício do amor, da humildade e da fé viva, para que os raios do poder divino encontrem acesso e passagem por nós, a benefício dos outros.
Para a sustentação de um serviço metódico de cura, isso é indispensável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:28 pm

— Entretanto, para o esforço desse tipo precisaremos de pessoas escolhidas, com a obrigação de efectuarem estudos especiais?

— Importa ponderar — disse Aulus, convicto — que em qualquer sector de trabalho a ausência de estudo significa estagnação.

Esse ou aquele cooperador que desistam de aprender, incorporando novos conhecimentos, condenam-se fatalmente às actividades de subnível, todavia, em se tratando do socorro magnético, tal qual é administrado aqui, convém lembrar que a tarefa é de solidariedade pura, com ardente desejo de ajudar, sob a invocação da prece.

E toda oração, filha da sinceridade e do dever bem cumprido, com respeitabilidade moral e limpeza de sentimentos, permanece tocada de incomensurável poder.

Analisada a questão nestes termos, todas as pessoas dignas e fervorosas, com o auxílio da prece, podem conquistar a simpatia de veneráveis magnetizadores do Plano Espiritual, que passam, assim, a mobilizá-las na extensão do bem.

Não nos achamos à frente do hipnotismo espectacular, mas sim num gabinete de cura, em que os médiuns transmitem os benefícios que recolhem, sem a presunção de doá-los de si mesmos.

É importante não esquecer essa verdade para deixarmos bem claro que, onde surjam a humildade e o amor, o amparo divino é seguro e imediato.

O ministério da cura, porém, a desdobrar-se eficiente e pacífico, reclamava-nos atenção.

Os doentes entravam dois a dois, sendo carinhosamente atendidos por Clara e Henrique, sob a providencial assistência de Conrado e seus colaboradores.

Obsidiados ganhavam ingresso no recinto, acompanhados de frios verdugos, no entanto, com o toque dos médiuns sobre a região cortical, depressa se desligavam, postando-se, porém, nas vizinhanças, como que à espera das vítimas, com a maioria das quais se reacomodavam, de pronto.

Alinhando apontamentos, começamos a reparar que alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria.

As irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico.
Registando o fenómeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.

— Porquê?
— Falta-lhes o estado de confiança — esclareceu o orientador.
— Será, então, indispensável a fé para que registem o socorro de que necessitam?
— Ah! sim.
Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em electricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz.

No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa “tensão favorável”.
Essa tensão decorre da fé.

Certo, não nos reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo.

Sem recolhimento e respeito na receptividade, não conseguimos fixar os recursos imponderáveis que funcionam em nosso favor, porque o escárnio e a dureza de coração podem ser comparados a espessas camadas do gelo sobre o templo da alma.

A lição fora simples e bela.
Hilário calou-se, talvez para reflectir sobre ela, em silêncio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:29 pm

Sem descurar dos nossos objectivos de estudo, Aulus considerou a conveniência de nosso contacto directo com o serviço em acção.

Seria interessante para nós a auscultação de algum dos casos em foco.

Para isso, aproximou-se de idosa matrona que acabava de entrar, à cata de auxilio e, com permissão de Conrado, convidou-nos a examiná-la com cuidado possível.

A senhora, aguardando o concurso de Clara, sustentava-se dificilmente de pé, com o ventre volumoso e o semblante dolorido.

— Observem o fígado!
Utilizamo-nos dos recursos ao nosso alcance passamos a analisar.

Realmente, o órgão mencionado demonstrava a dilatação característica das pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca.

As células hepáticas pareceram-me vasta colmeia, trabalhando sob enorme perturbação.
A vesícula congestionada impeliu-me a imediata inspecção do intestino.
A bile comprimida atingira os vasos e assaltava o sangue.
O colédoco interdito facilitava o diagnóstico.

Ligeiro exame da conjuntiva ocular confirmava-me a impressão.
A icterícia mostrava-se insofismável.

Após ouvir-me, Conrado reafirmou:
— Sim, é uma icterícia complicada.
Nasceu de terrível acesso de cólera, em que nossa amiga se envolveu no reduto doméstico.

Rendendo-se, desarvorada, à irritação, adquiriu renitente hepatite, da qual a icterícia é a consequência.

— E como será socorrida?
Conrado, impondo a destra sobre a fronte da médium, comunicou-lhe radiosa corrente de forças e inspirou-a a movimentar as mãos sobre a doente, desde a cabeça até o fígado enfermo.

Notamos que o córtex encefálico se revestiu de substância luminosa que, descendo em fios tenuíssimos, alcançou o campo visceral.

A senhora exibiu inequívoca expressão de alívio, na expressão fisionómica, retirando-se visivelmente satisfeita, depois de prometer que voltaria ao tratamento.

Hilário fixou os olhos interrogadores no Assistente que nos acompanhava, solícito, e indagou:
— Nossa irmã estará curada?

— Isso é impossível — acentuou Áulus, paternal —; temos aí órgãos e vasos comprometidos.
O tempo não pode ser desprezado na solução.

— E em que bases se articula semelhante processo de curar?
— O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular.

Vocês sabem que na própria ciência humana de hoje o átomo não é mais o tijolo indivisível da matéria... que, antes dele, encontram-se as linhas de força, aglutinando os princípios sub-atómicos, e que, antes desses princípios, surge a vida mental determinante...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:29 pm

Tudo é espírito no santuário da Natureza.
Renovemos o pensamento e tudo se modificará connosco.

Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que ela ajude a si mesma.

A mente reanimada reergue as vidas microscópicas que a servem, no templo do corpo, edificando valiosas reconstruções. O passe, como reconhecemos, é importante contribuição para quem saiba recebê-lo, com o respeito e a confiança que o valorizam.

— E pode, acaso, ser dispensado a distância?

— Sim, desde que haja sintonia entre aquele que o administra e aquele que o recebe.
Nesse caso, diversos companheiros espirituais se ajustam no trabalho do auxílio, favorecendo a realização, e a prece silenciosa será o melhor veículo da força curadora.

O serviço, em torno, prosseguia intenso.

Aulus considerou que a nossa presença talvez sobrecarregasse as preocupações de Conrado, e que não seria lícito permanecer junto dele por mais tempo, já que havíamos recolhido os apontamentos rápidos que nos propúnhamos obter e, à vista disso, despedimo-nos do supervisor, buscando o salão central para a continuidade de nossas abençoadas lições.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:29 pm

18 - Apontamentos à margem

Dona Ambrosina continuava psicografando várias mensagens, endereçadas aos presentes.

E um dos oradores, sob a influência de benigno mentor da Espiritualidade, salientava a necessidade de conformação com as Leis Divinas para que a nossa vida mental se refaça, fazendo jus a bênçãos renovadoras.

Alguns encarnados jaziam impermeáveis e sonolentos, vampirizados por obsessores caprichosos que os acompanhavam de perto, entretanto, muitos desencarnados de mediana compreensão ouviam, solícitos, e sinceramente aplicados ao ensino consolador.

Gabriel, de olhos percucientes e lúcidos, a tudo presidia com firmeza.
Nenhuma ocorrência, por mínima que fosse, lhe escapava à percepção.

Aqui, a um leve sinal seu, entidades escarnecedoras eram exortadas à renovação de atitude, ali, socorriam-se doentes que ele indicava com silencioso gesto de recomendação.

Era o pulso de comando, forte e seguro, sustentando a harmonia e a ordem, na exaltação do trabalho.

Contemplamos a mesa enorme em que a direcção se processava com equilíbrio irrepreensível e, fitando a médium, rodeada de apetrechos do serviço, em actividade constante, Hilário perguntou ao nosso orientador:
— Porque tantas mensagens pessoais dos Espíritos amigos?
— São respostas reconfortantes a companheiros que lhes solicitam assistência e consolo.

— E essas respostas — continuou meu colega — traduzem equação definitiva para os problemas que expõem?

— Isso não — aclarou o Assistente, convicto —;
entre o auxílio e a solução vai sempre alguma distância em qualquer dificuldade, e não podemos esquecer que cada um de nós possui os seus próprios enigmas.

— Se é assim, porque motivo o intercâmbio?
Se os desencarnados não podem oferecer uma conclusão pacífica aos tormentos dos irmãos que ainda se demoram na carne, porque a porta aberta entre eles e nós?

— Não te esqueças do impositivo da cooperação na estrada de cada ser — disse Aulus com grave entoo.
Na vida eterna, a existência no corpo físico, por mais longa, é sempre curto período de aprendizagem.
E não nos cabe olvidar que a Terra é o campo onde ferimos a nossa batalha evolutiva.

Dentro dos princípios de causa e efeito, adquirimos os valores da experiência com que estruturamos a nossa individualidade para as Esferas Superiores.

A mente, em verdade, é o caminheiro buscando a meta da angelitude, contudo, não avançará sem auxílio.
Ninguém vive só.

Os pretensos mortos precisam amparar os companheiros em estágio na matéria densa, porquanto em grande número serão compelidos a novos mergulhos na experiência carnal.

É da Lei que a sabedoria socorra a ignorância, que os melhores ajudem aos menos bons.

Os homens, cooperando com os Espíritos esclarecidos e benevolentes, atraem simpatias preciosas para a vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão construindo facilidades para o dia de amanhã, quando de volta à lide terrestre.

— Sim, sim, compreendo... — exclamou Hilário, reconhecido.
Entretanto, colocando-me na situação da criatura vulgar, recordo-me de que no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução decisiva e absoluta para inúmeros problemas que se nos deparam...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:29 pm

— Semelhante atitude, porém — acentuou o orientador —, decorre de antiga viciação mental no Planeta.
Para maior clareza do assunto, rememoremos a exemplificação do Divino Mestre.

Jesus, o Governador Espiritual do Mundo, auxiliou a doentes e aflitos, sem retirá-los das questões fundamentais que lhes diziam respeito.

Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido a modificar a sua conduta.

Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se no árduo combate da renovação interior.

Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte.

Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão.

Segundo reconhecemos, seria ilógico aguardar dos desencarnados a liquidação total das lutas humanas.
Isso significaria furtar o trabalho que corresponde ao sustento do servidor, ou subtrair a lição ao aluno necessitado de luz.

A essa altura, não longe de nós, simpática senhora monologava em pensamento:
— Meu filho! meu filho!
Se você não está morto, visite-me! Venha! venha!

Estou morrendo de saudade, de angústia!... fale-me alguma palavra pela qual nos entendamos...
Se tudo não está acabado, aproxime-se da médium e comunique-se!
É impossível que você não tenha piedade...

As frases amargas, embora inarticuladas, atingiam-nos a audição, qual se fossem arremessadas ao ambiente em voz abafadiça.

Leve rumor à retaguarda feriu-nos a atenção.
Um rapaz desencarnado apresentou-se em lastimáveis condições e avançou para a triste mulher, dominado por invencível atracção.

Da boca amarfanhada escorria a amargura em forma de palavras comovedoras.
— Mãe! mãe! — gritava de joelhos, qual se fora atormentada criança, aconchegando-se-lhe ao regaço — não me abandone!...

Estou aqui, ouça-me! não morri... perdoe-me, perdoe-me!... sou um renegado, um náufrago!...
Busquei a morte quando eu deveria viver para o seu carinho!
Agora sim! Vejo o sofrimento de perto e desejaria aniquilar-me para sempre, tal a vergonha que me aflige o coração!...

A matrona não lhe via a figura agoniada, contudo, registava-lhe a presença, através de intraduzível ansiedade, a constringir-lhe o peito.

Dois vigilantes aproximaram-se, arrebatando o moço ao colo materno, e, ladeando por nossa vez o Assistente, que se deu pressa em socorrer a senhora em lágrimas, ouvimo-la clamar, mentalmente:
— «Não será melhor segui-lo? Morrer e descansar!...
Meu filho, quero meu filho!...

Aulus aplicou-lhe recursos magnéticos, com o que a desventurada criatura experimentou grande alívio, e, em seguida, informou:
— Anotemos o caso desta pobre mãe desarvorada.
O filho suicidou-se, há meses, e ainda não consegue forrar-se à flagelação Intima.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:30 pm

Em sua devoção afectiva, reclama-lhe a manifestação pessoal sem saber o que pede, porque a chocante posição do rapaz constituir-lhe-ia pavoroso martírio.
Não poderá, desse modo, recolher-lhe a palavra directa, entretanto, ao contacto do trabalho espiritual que aqui se processa, incorporará energias novas para refazer-se gradualmente.

— Decerto — acrescentou Hilário, com inteligência —, não terá resolvido o problema crucial da sensibilidade ferida, no entanto, adquire forças para recuperar-se...
— Isso mesmo.

— Aliás — considerei a meu modo —, a mediunidade de hoje é, na essência, a profecia das religiões de todos os tempos.

— Sim — aprovou Aulus, prestimoso —, com a diferença de que a mediunidade hoje é uma concessão do Senhor à Humanidade em geral, considerando-se a madureza do entendimento humano, à frente da vida, O fenómeno mediúnico não é novo.

Nova é tão-somente a forma de mobilização dele, porque o sacerdócio de várias procedências jaz, há muitos séculos, detido nos espectáculos do culto exterior, mumificando indebitamente o corpo das revelações celestiais.

Notadamente o Cristianismo, que deveria ser a mais ampla e a mais simples das escolas de fé, há muito tempo como que se enquistou no superficialismo dos templos.

Era preciso, pois, libertar-lhe os princípios, a benefício do mundo que, cientificamente, hoje se banha no clarão de nova era.

Por esse motivo, o Governo oculto do Planeta deliberou que a mediunidade fosse trazida do colégio sacerdotal à praça pública, a fim de que a noção da eternidade, através da sobrevivência da alma, desperte a mente anestesiada do povo.

É assim que Jesus nos reaparece, agora, não como fundador de ritos e fronteiras dogmáticas, mas sim em sua verdadeira feição de Redentor da Alma Humana.

Instrumento de Deus por excelência, Ele se utilizou da mediunidade para acender a luz da sua Doutrina de Amor.

Restaurando enfermos e pacificando aflitos, em muitas ocasiões esteve em contacto com os chamados mortos, alguns dos quais não eram senão almas sofredoras a vampirizarem obsidiados de diversos matizes.

E, além de surgir em colóquio com Moisés materializado no Tabor, Ele mesmo é o grande ressuscitado, legando aos homens o sepulcro vazio e acompanhando os discípulos com acendrado amor, para que lhe continuassem o apostolado de bênçãos.

Hilário esboçou o sorriso de um estudante satisfeito com a lição, e exclamou:
— Ah! sim, tenho a impressão de começar a compreender...

Os trabalhos da reunião tocavam a fase terminal.
Nosso orientador percebeu que Gabriel se dispunha a grafar a mensagem do encerramento e, respeitoso, pediu-lhe cunhar alguns conceitos em derredor da mediunidade, ao que o supervisor aquiesceu, gentil.

Dona Ambrosina entrara em pausa ligeira para alguns momentos de recuperação.
O director da reunião rogou silêncio para o remate dos serviços, e, tão logo reverente quietação se fez na assembleia, o condutor da casa controlou o cérebro da medianeira e tomou-lhe o braço, escrevendo aceleradamente.

Em minutos rápidos, os apontamentos de Gabriel estavam concluídos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:30 pm

A médium levantou-se e passou a lê-los em voz alta:
— “Meus amigos — dizia o mentor —, é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior.

«Compreendendo assim a verdade, é necessário renovar a nossa conceituação de médium, para que não venhamos a transformar companheiros de ideal e de luta em oráculos e adivinhos, com esquecimento de nossos deveres na elevação própria.

«O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo, convidando-nos ao aperfeiçoamento individual, por intermédio do trabalho construtivo e incessante.

«Dentro das leis da cooperação, será justo aceitar o braço amigo que se nos oferece para a jornada salvadora, entretanto é imprescindível não esquecer que cada qual de nós transporta consigo questões essenciais e necessidades intransferíveis.

«Desencarnados e encarnados, todos palmilhamos extenso campo de experimentações e de provas, condizentes com os impositivos de nosso crescimento para a imortalidade.

«Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em carácter exclusivo, e nem aguardemos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe.

«Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar, segundo os velhos hábitos que nos caracterizam a preguiça mental na Terra:
— Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?

«Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos o pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para mais amplo discernimento da realidade.

Neles recolhemos exactos informes, quanto à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais envolvemos.

E a eles deveremos, acima de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal, com as legítimas noções da consciência cósmica.

«Alcançadas semelhantes fórmulas de raciocínio, perguntaremos a vós outros por nossa vez:
— «Acreditais seja pouco revelar a excelsitude da Justiça?
Admitis seja desprezível descortinar a vida em suas ilimitadas facetas de evolução e eternidade?

«Reverenciemos, pois, o Espiritismo e a Mediunidade como dois altares vivos no templo da fé, através dos quais contemplaremos, de mais alto, a esfera das cogitações propriamente terrestres, compreendendo, por fim, que a glória reservada ao espírito humano é sublime e infinita, no Reino Divino do Universo.
A comunicação psicográfica tratou de outros assuntos e, finda a sua leitura, breve oração de reconhecimento foi pronunciada.

E, enquanto os assistentes tornavam à conversação livre, Hilário e eu, ante os conceitos ouvidos, passamos a profunda introversão para melhor aprender e meditar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:30 pm

19 - Dominação telepática

Dispúnhamo-nos à despedida, quando simpática senhora desencarnada abeirou-se de nós, cumprimentando o Assistente com respeitosa afectividade.

Aulus incumbiu-se da apresentação.

— É a irmã Teonília, uma de nossas diligentes companheiras no trabalho assistencial.
A nova amiga correspondeu-nos às saudações com gentileza e explicou ao nosso orientador o objectivo que a trazia.

Contou, então, que Anésia, devotada companheira da instituição em que nos achávamos, sorvia o fel de dura prova.

Além das preocupações naturais com a educação das três filhinhas e com a assistência imprescindível à mãezinha doente, em vésperas de desencarnação, sofria tremenda luta íntima, de vez que Jovino, o esposo, vivia agora sob a estranha fascinação de outra mulher.

Esquecera-se, invigilante, das obrigações no santuário doméstico.
Parecia, de todo, desinteressado da companheira e das filhas.
Como que voltara às estroinices da primeira juventude, qual se nunca houvesse abraçado a missão de pai.

Dia e noite, deixava-se dominar pelos pensamentos da nova mulher que o enlaçara na armadilha de mentirosos encantos.

Em casa, nas actividades da profissão ou na via pública, era ela, sempre ela a asenhorear-lhe a mente desprevenida.

Transformara-se o mísero num obsidiado autêntico, sob a constante actuação da criatura que lhe anestesiava o senso de responsabilidade para consigo mesmo.
Não poderia Aulus interferir?

Não seria justo afastar semelhante influência, como se extirpa uma chaga com o socorro operatório?

O Assistente ouviu-a com calma e falou, conciso:
— Conheço Anésia e nela estimo admirável irmã.
Há meses, não disponho de oportunidade para visitá-la como venho desejando.

Decerto, não me negarei ao concurso fraterno, entretanto, não será conveniente estabelecer medidas drásticas sem uma auscultação do caso em si.

Sabemos que a obsessão entre desencarnados ou encarnados, sob qualquer prisma em que se mostre, é uma enfermidade mental, reclamando por vezes tratamento de longo curso.

Quem sabe se o pobre Jovino não estará na condição de um pássaro hipnotizado, não obstante o corpanzil que lhe confere aparências de robustez no plano físico?

— Do que posso perceber — anotou a inter-locutora —, vejo tão-somente um homem comprometido em trabalho digno, ameaçado por perversa mulher...

— Oh! não! — atalhou o nosso instrutor condescendente —, não a classifique com semelhante adjectivação.
Acima de tudo, é imperioso aceitá-la por infeliz irmã.

— Sim, sim... concordo — exclamou Teonília, reajustando-se. — De qualquer modo, rogo-lhe a caridosa intercessão.
Anésia tem sido uma colaboradora providencial em nossa tarefa.
Não me sentiria satisfeita, cruzando os braços...

— Faremos quanto se nos afigure viável no círculo de nossas possibilidades, contudo, é imprescindível analisar o passado para concluir sobre as raízes da ligação indébita a que nos reportamos.

E, imprimindo grave tonalidade à voz, o Assistente enunciou:
— Estará descendo Jovino a impressões do pretérito?
Não será uma provação que o nosso amigo terá traçado à própria consciência, com finalidade redentora, e à qual não sabe agora como resistir?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:30 pm

Teonília esboçou um gesto de humildade silenciosa, enquanto Aulus rematava, afagando-lhe os ombros:
— Guardemos optimismo e confiança. Amanhã, à noitinha, conte connosco no lar de Anésia.
Sondaremos, de perto, quanto nos caiba fazer.

Nossa amiga, expressou reconhecimento e despediu-se sorrindo.
A sós connosco, durante o regresso ao nosso templo de trabalho e de estudo, Aulus salientou a nossa oportunidade de prosseguir observando.

O assunto prendia-se naturalmente a problema de influenciação e teríamos ensejo de examinar fenómenos mediúnicos importantes, na esfera vulgar da experiência de muitos.

Com efeito, em momento preestabelecido, reunimo-nos no dia seguinte para a excursão programada.

Atingimos a estação de destino ao anoitecer.
Teonília aguardava-nos no pórtico de domicílio confortável, sem ser luxuoso.
Pequeno roseiral à entrada dizia sem palavras dos belos sentimentos dos moradores.

Guiados por nossa amiga, alcançamos o interior doméstico.
A família entregava-se à refeição.

Uma senhora jovem servia atenciosamente a um cavalheiro maduro e bem-posto, ladeado por três meninas, das quais a mais moça revelava a graça primaveril dos catorze a quinze anos.

Claro que o entendimento da véspera dispensava novas informações.

Aulus, no entanto, esclareceu, minucioso:
— Anésia e Jovino acham-se aqui com as filhinhas Marcina, Marta e Márcia.

A palestra familiar desdobrava-se afectuosa, mas o dono da casa parecia contrafeito.
Doces apontamentos das meninas não lhe arrancavam o mais leve sorriso.

Contudo, enquanto o progenitor timbrava em mostrar-se aborrecido, a mãezinha se fazia mais terna e mais contente, incentivando a conversação das duas filhas mais velhas que comentavam episódios humorísticos do bazar de quinquilharias em que trabalhavam juntas.

Findo o jantar, a senhora dirigiu-se à mais moça e recomendou com carinho:
— Márcia, minha filha, volte à vovó e espere por mim.
Nossa doente não deve estar a sós.

A pequena obedeceu de bom grado e, transcorridos alguns instantes, Marcina e Marta demandaram sala próxima, em palestra mais Intima.

Dona Anésia reajustou a copa e a cozinha, operando em silêncio, enquanto o marido se esparramava numa poltrona, devorando os jornais vespertinos.

Reparando, todavia, que o esposo se levantara para sair, endereçou-lhe olhar inquieto e indagou, delicadamente:
— Poderemos, acaso, esperar hoje por você?
— Hoje? hoje?... — redarguiu o interlocutor, sem fixá-la.

E o diálogo prosseguiu, animadamente.
— Sim, um pouco mais tarde; faremos nossas preces em conjunto...
— Preces? para que isso?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2012 8:31 pm

— Sinceramente, Jovino, creio no poder da oração e suponho que nunca precisamos tanto como agora de usá-la em favor de nossa tranquilidade doméstica.
— Não concordo com a sua opinião.

E, sarcástico, a exibir estranho sorriso, continuou:
— Não disponho de tempo para lidar com os seus tabus.
Tenho compromissos inadiáveis.
Estudarei, junto de amigos, excelente negócio.

Nesse instante, contudo, surpreendente imagem de mulher surgiu-lhe à frente dos olhos, qual se fora projectada sobre ele a distância, aparecendo e desaparecendo com intermitências.

Jovino fez-se mais distraído, mais enfadado.
Fitava agora a esposa com indiferença irónica, demonstrando inexcedível dureza espiritual.

Intrigados com o fenómeno sob nossa vista, ouvimos Anésia que, enlaçada por Teonília, dizia quase suplicante:
— Jovino, você não concorda que temos estado mais ausentes um do outro, quando precisamos estar mais juntos?

— Ora, ora! deixe de pieguices!
Sua preocupação seria própria, há vinte anos, quando não éramos senão tolos colegiais!

— Não, não é bem isso...
Inquietam-me nosso lar e nossas filhas...

— De minha parte, não vejo como torturar-me.
Creio que a casa está bem provida e não estou dormindo sobre nossos interesses familiares.
Meus negócios estão em movimento.

Preciso de dinheiro e, por essa razão, não posso perder tempo com beatices e petitórios, endereçados a um Deus que, sem dúvida, deve estar muito satisfeito em morar no Céu, sem lembrar-se deste mundo...

Anésia dispunha-se a revidar, no entanto, a atitude do marido era tão flagrantemente escarnecedora que, decerto, julgou mais oportuno silenciar.

O chefe da família, depois de apurar o nó da gravata vivamente colorida, bateu a porta estrepitosamente sobre os próprios passos e retirou-se.

A companheira humilhada caiu em pranto silencioso sobre velha poltrona e começou a pensar, articulando frases sem palavras:
— «Negócios, negócios... Quanta mentira sobre mentira!
Uma nova mulher, isso sim!...
Mulher sem coração que não nos vê os problemas...

Dívidas, trabalhos, canseiras!
Nossa casa hipotecada, nossa velhinha a morrer!...
Nossas filhas cedo arremessadas à luta pela própria subsistência!»

Enquanto as reflexões dela se faziam audíveis para nós, irradiando-se na sala estreita, vimos de novo a mesma figura de mulher que surgira à frente de Jovino, aparecendo e reaparecendo ao redor da esposa triste, como que a fustigar-lhe o coração com invisíveis estiletes de angústia, porque Anésia acusava agora indefinível mal-estar.

Não via com os olhos a estranha e indesejável visita, no entanto, assinalava-lhe a presença em forma de incoercível tribulação mental.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:22 pm

De inesperado, passou da meditação pacífica a tempestuosos pensamentos.
— «Lembro-me dela, sim — reflectia agora em franco desespero —, conheço-a! é uma boneca de perversidade...

Há muito tempo vem sendo um veículo de perturbação para a nossa casa.
Jovino está modificado...
Abandona-nos, pouco a pouco.

Parece detestar até mesmo a oração...
Ah! que horrível criatura uma adversária qual essa, que se imiscui em nossa existência à maneira da víbora traiçoeira!

Se eu pudesse haveria de esmagá-la com os meus pés, mas hoje guardo uma fé religiosa, que me forra o coração contra a violência...

Á medida, porém, que Anésia monologava intimamente em termos de revide, a imagem projectada de longe abeirava-se dela com maior intensidade, como que a corporificar-se no ambiente para infundir-lhe mais amplo mal-estar.

A mulher que empolgava o espírito de Jovino ali surgia agora visivelmente materializada aos nossos olhos.
E as duas, assumindo a posição de francas inimigas, passaram à contenda mental.

Lembranças amargas, palavras duras, recíprocas acusações.
A esposa atormentada passou a sentir desagradáveis sensações orgânicas.
O sangue afluía-lhe com abundância à cabeça, impondo-lhe aflitiva tensão cerebral.

Quanto mais se lhe dilatavam os pensamentos de revolta e amargura, mais se lhe avultava o desequilíbrio físico.

Teonília afagou-a, carinhosa, e informou ao nosso orientador:
— Há muitas semanas diariamente se repete o conflito.
Temo pela saúde de nossa companheira.

Aulus deu-se pressa em aplicar-lhe recursos magnéticos de alívio e, desde então, as manifestações estranhas diminuíram até completa cessação.

Efectivado o reajustamento relativo de Anésia e percebendo-nos a curiosidade, o Assistente esclareceu:
— Jovino permanece actualmente sob imperiosa dominação telepática, a que se rendeu facilmente, e, considerando-se que marido e mulher respiram em regime de influência mútua, a actuação que o nosso amigo vem sofrendo envolve Anésia, atingindo-a de modo lastimável, porquanto a pobrezinha não tem sabido imunizar-se com os benefícios do perdão incondicional.

Hilário, intrigado, perguntou:
— Examinamos, porém, um fenómeno comum?

— Intensamente generalizado.
É a influenciação de almas encarnadas entre si que, às vezes, alcança o clima de perigosa obsessão.
Milhões de lares podem ser comparados a trincheiras de luta, em que pensamentos guerreiam pensamentos, assumindo as mais diversas formas de angústia e repulsão.

— E poderíamos enquadrar o assunto nos domínios da mediunidade?

— Perfeitamente, cabendo-nos acrescentar ainda que o fenómeno pertence à sintonia.
Muitos processos de alienação mental guardam nele as origens.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:23 pm

Muitas vezes, dentro do mesmo lar, da mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do passado se reencontram.

Chamados pela Esfera Superior ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se vêem possuídos, uns à frente dos outros, e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em venenos magnéticos, susceptíveis de provocar a enfermidade e a morte.

Para isso, não será necessário que a perseguição recíproca se expresse em contendas visíveis.

Bastam as vibrações silenciosas de crueldade e despeito, ódio e ciúme, violência e desespero, as quais, alimentadas, de parte a parte, constituem corrosivos destruidores.

Finda ligeira pausa, o Assistente continuou:
— O pensamento exterioriza-se e projecta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os objectivos que se propõe atingir.

Quando benigno e edificante, ajusta-se às Leis que nos regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado e deprimente, estabelece aflição e ruína.

A química mental vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam connosco.

— E como solucionar o problema da antipatia contra nós? — indagou meu companheiro com interesse.

Aulus sorriu e respondeu:
— A melhor maneira de extinguir o fogo é recusar-lhe combustível.
A fraternidade operante será sempre o remédio eficaz, ante as perturbações dessa natureza.

Por isso mesmo, o Cristo aconselhava-nos o amor aos adversários, o auxílio aos que nos perseguem e a oração pelos que nos caluniam, como atitudes indispensáveis à garantia de nossa paz e de nossa vitória.

Nesse instante, porém, Anésia consultara o relógio e reerguera-se.

Vinte horas.
Era o momento preciso de suas preces junto da mãezinha doente, e acompanhamo-la, atenciosos, a fim de igualmente orarmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:23 pm

20 - Mediunidade e oração

Em estreito aposento, uma senhora, aparentando setenta anos de idade, acusava aflitiva dispneia.

A pequena Márcia, agitando um leque improvisado, propiciava-lhe ar fresco.

Ao lado da enferma, porém, uma entidade de aspecto desagradável exibia estranha máscara de perturbação e sofrimento, imantando-se a ela e agravando-lhe os tormentos físicos.

Tratava-se de um homem desencarnado, demonstrando no olhar a alienação mental evidente.

Enquanto Anésia se acomodava, junto à doente, com inexcedível ternura, procurando esquecer-se de si mesma para ajudá-la, Aulus informou, prestimoso:
— Temos aqui nossa irmã Elisa, em avançado processo liberatório...
Vive as últimas horas no corpo carnal...

— E este homem de triste apresentação que lhe guarda a cabeceira? — perguntou Hilário, indicando a entidade que não nos via.

— Este é um infortunado filho de nossa veneranda amiga, há muitos anos distanciado da experiência física.
Teve a infelicidade de chafurdar no vício da embriaguez e foi assassinado numa noite de extravagância.
A progenitora, porém, dele se recorda, como a um herói, e, a evocá-lo incessantemente, retém o infeliz ao pé do próprio leito.

— Ora essa! Porquê?

O Assistente modificou o tom de voz e recomendou-nos serenidade.
Analisaríamos o caso em momento oportuno.
O problema de Anésia pedia colaboração imediata.

Realmente, a pobre senhora, de fisionomia fatigada, acariciava a enferma com palavras de amor, mas Dona Elisa parecia aloucada, distante...

Anésia desfez-se em lágrimas.
— Por que chorar, mãezinha? Vovó não está pior...

A voz meiga de Márcia ressoou no quarto, modulada com inefável carinho.
A menina, que nem de longe poderia perceber a tortura materna, enlaçou a progenitora convidando-a à oração.

Dona Anésia desejou a presença das filhas mais velhas, contudo, Marcina e Marta alegaram que o natalício de uma companheira de trabalho lhes impunha a necessidade de sair por alguns minutos.

A dona da casa sentou-se rente à enferma e, acompanhada pela atenção da filhinha, pronunciou sentida prece.

A medida que orava, funda modificação se lhe Imprimia ao mundo interior. Os dardos de tristeza, que lhe dilaceravam a alma, desapareceram ante os raios de branda luz a se lhe exteriorizarem do coração.

Desde esse instante, qual se houvera acendido uma lâmpada em plena obscuridade, vários desencarnados sofredores penetraram o quarto, abeirando-se dela, à maneira de doentes, solicitando medicação.

Nenhum deles nos assinalava a presença e, diante da nossa curiosidade silenciosa, Aulus aclarou:
— São companheiros que trazem ainda a mente em teor vibratório idêntico ao da existência na carne.

Na fase em que estagiam, mais depressa se ajustam com o auxílio dos encarnados, em cuja faixa de impressões ainda respiram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:23 pm

Quantos se encontram em semelhante estado, dentro do raio de acção das preces de nossa amiga, recebem o toque de espiritualidade que emana do serviço dessa natureza e, quando sensíveis ao bem ou sedentos de renovação interior, dão-se pressa em responder ao apelo de elevação que os visita, aderindo à oração, de cujo sublime poder recolhem esclarecimento e consolo, amparo e benefício.

— Quanto valor num insignificante acto de fé!

O Assistente afagou a fronte inquieta de Hilário e concordou:
— Sim o homem terrestre criou enormes complicações ao seu caminho, contudo, a morte constrange-o a regressar aos alicerces da simplicidade para a regeneração da própria vida.

A essa altura, Anésia abriu precioso livro de meditações evangélicas, acreditando agir ao acaso, mas o tema, em verdade, foi escolhido por Teonília, que lhe vigiava, bondosa, os movimentos.

Com surpresa, a dona da casa notou que o texto se reportava à necessidade do trabalho e do perdão.

Dócil, correspondendo à influenciação da mentora espiritual, a esposa de Jovino começou a falar sabiamente sobre os impositivos do serviço e da tolerância construtiva, em favor da edificação justa do bem.

A voz dela, fluente e suave, transmitia, sem que ela mesma percebesse, o pensamento de Teonília que, com isso, buscava socorrer-lhe o coração atormentado.

Numa pausa mais longa, Márcia reparou com inteligência:
— Continue, mãezinha! Continue...
Tenho a ideia de que nos achamos à frente de enorme multidão...

E sem reflectir que estava pregando, acima de tudo, para si mesma, Anésia adiantou:
— Sim, minha filha, estamos sozinhas porque a vovó, fatigada, não nos ouve.
Isso, porém, é só na aparência.

Muitos irmãos desencarnados, decerto, permanecem aqui connosco e acompanham nosso culto de oração.

E prosseguiu nos comentários que, efectivamente, acendiam novo ânimo nas almas presentes, ávidas de luz, tanto quanto sequiosas de paz e refazimento.

Terminada a tarefa, Márcia despediu-se da mãezinha com um beijo.
O serviço escolar da manhã exigia o repouso mais cedo.
Depois de afectuosas recomendações à menina, viu-se Anésia a sós com a progenitora semi-inconsciente.

Acariciou-lhe o rosto pergaminhado e pálido, acomodou-lhe a cabeça suarenta nos travesseiros e estirou-se ao lado dela, como que procurando pensar, pensar..

Aulus fez significativo gesto a Teonilia e exclamou:
— Este é o momento exacto.

Cuidadosamente, começaram ambos a aplicar-lhe passes sobre a cabeça, concentrando energia magnética ao longo das células corticais.

Anésia viu-se presa de branda hipnose, que ela própria atribuía ao cansaço e não relutou.
Em breves instantes, deixava o corpo denso na prostração do sono, vindo ao nosso encontro em desdobramento quase natural.

Não parecia, contudo, tão consciente em nosso plano quanto seria de desejar.
Centralizada no afecto ao marido, Jovino constituía-lhe obcecante preocupação.

Reconheceu Teonília e Aulus por benfeitores e lançou-nos significativo olhar de simpatia, no entanto, mostrava-se atordoada...
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 4 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:23 pm

Queria ver o esposo, ouvir o esposo...
O Assistente deliberou satisfazê-la.

Amparada pelos braços da admirável amiga, tomou a direcção que lhe pareceu acertada, como quem possuía, de antemão, todos os dados necessários à localização do marido.

Aulus connosco explicou que as almas, quando associadas entre si, vivem ligadas uma às outras pela emanação magnética, superando obstáculos e distâncias.

Em vasto salão de um clube nocturno, surpreendemos Jovino e a mulher que se fizera nossa conhecida nos fenómenos telepáticos, integrando um grupo alegre, em atitudes de profunda intimidade afectiva.

Rodeando o conjunto, diversas entidades, estranhas para nós, formavam vicioso círculo de vampiros que não nos registaram a presença.

O anedotário menos edificante prendia as atenções.
Ao defrontar o companheiro na posição em que se achava, Anésia desferiu doloroso grito e caiu em pranto.

Seguida por nós, recuou ferida de aflição e assombro e tão logo nos vimos na via pública, bafejados pelo ar leve da noite, o Assistente abraçou-a, paternal.

Notando-a mais senhora de si, embora o sofrimento lhe transfigurasse o rosto, falou-lhe com extremado carinho:
— Minha irmã, recomponha-se.
Você orou, pedindo assistência espiritual, e aqui estamos, trazendo-lhe solidariedade.
Reanime-se! Não perca a esperança!.

— Esperança? — clamou a pobre criatura em lágrimas.
Fui traída, miseravelmente traída...

E o entendimento, entre os dois, prosseguiu comovente e expressivo.
— Traída por quem?
— Por meu esposo, que falhou aos compromissos do casamento.

— Mas você admite, porventura, que o casamento seja uma simples excursão no jardim da carne?
Supôs que o matrimónio terrestre fosse apenas a música da ilusão a eternizar-se no tempo?

Minha amiga, o lar é uma escola em que as almas se reaproximam para o serviço da sua própria regeneração, com vistas ao aprimoramento que nos cabe apresentar de futuro.

Você ignora que no educandário há professores e alunos?
Desconhece que os melhores devem ajudar aos menos bons?

A interlocutora, chamada a brios, sustou a lamentação.
Ainda assim, após fitar o nosso orientador com entranhada confiança, alegou, triste:
— Mas Jovino...

Aulus, porém, cortou-lhe a frase, acrescentando:
— Esquece-se de que seu esposo precisa muito mais agora de seu entendimento e carinho?

Nem sempre a mulher poderá ver no companheiro o homem amado com ternura, mas sim um filho espiritual necessitado de compreensão e sacrifício para soerguer-se, como também nem sempre o homem conseguirá contemplar na esposa a flor de seus primeiros sonhos, mas sim uma filha do coração, a requisitar-lhe tolerância e bondade, a fim de que se transfira da sombra para a luz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:24 pm

Anésia, o amor não é tão-somente a ventura rósea e doce do sexo perfeitamente atendido.

É uma luz que brilha mais alto, inspirando a coragem da renúncia e do perdão incondicionais, em favor do ser e dos seres que nós amamos.

Jovino é uma planta que o Senhor lhe confiou às mãos de jardineira.
É compreensível que a planta seja assaltada pelos parasitas ou pelos vermes da morte, todavia, nada há a recear se a jardineira está vigilante...

Nesse ponto das belas palavras do instrutor, a mãezinha de Márcia voltou-se para ele, à maneira de uma doente agarrando-se ao médico, e rogou em voz súplice:
— Sim, sim... Reconheço...
Entretanto, não me deixe sozinha...

Sinto-me atribulada. Que fazer da mulher que o domina?
Nela vejo a perturbação e o fel de nossa casa..
Assemelha-se a um Espírito diabólico, fascinando-o e destruindo-o...

— Não se refira a ela assim, com palavras amargas!
É também nossa irmã, vitimada por lastimáveis enganos!...

— Mas como aceitá-la? Percebo-lhe a influência maligna...
Parece uma serpente invisível, trazendo consigo pavorosos monstros para junto de nós...
Nosso templo doméstico, por isso, transformou-se num inferno em que não mais nos entendemos...

Tudo agora é fracasso, desarmonia e insegurança...
Que fazer de semelhante criatura?

— Compadeçamo-nos dela!
Terrível ser-lhe-á o despertamento.
— Compaixão?
— E que outra melhor represália senão essa?

— Não seria mais justo situá-la na reparação dos próprios erros?
Não seria mais certo relegá-la ao lugar escuro que merece?

Aulus, porém, tomou-lhe a destra inquieta e esclareceu:
— Abstenhamo-nos de julgar.
Consoante a lição do Mestre que hoje abraçamos, o amor deve ser nossa única atitude para com os adversários.

A vingança, Anésia, é a alma da magia negra.
Mal por mal significa o eclipse absoluto da razão.
E, sob o império da sombra, que poderemos aguardar senão a cegueira e a morte?

Por mais aflitiva lhe seja a lembrança dessa mulher, recorde-a em suas preces e em suas meditações, por irmã necessitada de nossa assistência fraterna.

Ainda não readquirimos nossa memória integral do passado e nem sabemos o que nos ocorrerá no futuro...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:24 pm

Quem terá sido ela no pretérito?
Alguém que ajudamos ou ferimos?
Quem será para nós no porvir?

Nossa mãe ou nossa filha?
Não condene!
O ódio é como o incêndio que tudo consome, mas o amor sabe como apagar o fogo e reconstruir.

Segundo a Lei, o bem neutraliza o mal, que se transforma, por fim, em servidor do próprio bem.

Ainda que tudo pareça conspirar contra a sua felicidade, ame e ajude sempre, porque o tempo se incumbirá de expulsar as trevas que nos visitam, à medida que se nos aumente o mérito moral.

Anésia, assemelhando-se a uma criança resignada, pousou no benfeitor os olhos límpidos, como a prometer-lhe obediência, e Aulus, afagando-a, recomendou:
— Volte ao lar e use a humildade e o perdão, o trabalho e a prece, a bondade e o silêncio, na defesa de sua segurança.

A mãezinha enferma e as filhinhas reclamam-lhe amor puro, tanto quanto
o nosso Jovino, que voltará, mais experiente, ao refúgio de seu coração.

Anésia ergueu a cabeça para o firmamento constelado de luz, pronunciando uma oração de louvor e, em seguida, tornou a casa.

Vimo-la despertar no corpo carnal, de alma renovada, quase feliz...
Enxugou as lágrimas que lhe banhavam o rosto e tentou ansiosamente recordar, ponto a ponto, a entrevista que tivera connosco.

Em verdade, não conseguiu alinhar senão fragmentárias reminiscências, mas reconheceu-se reconfortada, sem revolta e sem amargura, como se mãos intangíveis lhe houvessem lavado a mente, conferindo-lhe uma compreensão mais clara da vida.

Recordou Jovino e a mulher que o hipnotizava, compadecidamente, como pessoas a lhe exigirem tolerância e piedade.

Profundo entendimento brotava-lhe agora do espírito.
A compreensão da irmã superara o desequilíbrio da mulher.

E pensava: «que lhe adiantaria a revolta ou o desânimo, quando lhe competia a defesa do lar?
Fazendo justiça com as próprias mãos, não prejudicaria aqueles que lhe constituíam a riqueza do coração?

Em qualquer parte, o escândalo é a ruína da felicidade...
Não devia render graças a Deus por sentir-se na condição da esposa digna?

Sim, decerto a pobre criatura que lhe perturbava o marido não havia acordado ainda para a responsabilidade e para o discernimento.

Necessitava, pois, de compaixão e de amparo, ao invés de crítica e azedume...»

Consolada e satisfeita, passou à medicação da progenitora.

Hilário, admirado, exaltou os méritos da oração, ao que Áulus enunciou:
— Em todos os processos de nosso intercâmbio com os encarnados, desde a mediunidade torturada à mediunidade gloriosa, a prece é abençoada luz, assimilando correntes superiores de força mental que nos auxiliam no resgate ou na ascensão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:24 pm

Indicando a dona da casa, agora em serviço no aposento, meu colega observou:
— Vemos, então, em nossa amiga preciosa mediunidade a desenvolver-se...

— Como acontece a milhões de pessoas — disse o orientador —, ela detém consigo recursos medianímicos apreciáveis, que podem ser inclinados para o bem ou para o mal, competindo-lhe a obrigação de construir dentro de si mesma a fortaleza de conhecimento e vigilância, na qual possa desfrutar, em pensamento, as companhias espirituais que mais lhe convenham à felicidade.

— E pela prece busca solução para os enigmas que lhe flagelam a existência...

Aulus sorriu e ajuntou:
— Encontramos aqui precioso ensinamento acerca da oração...
Anésia, mobilizando-a, não conseguiu modificar os fatos em si, mas logrou modificar a si mesma. As dificuldades presentes não se alteraram.

Jovino continua em perigo, a casa prossegue ameaçada em seus alicerces morais, a velhinha doente aproxima-se da morte, entretanto, nossa irmã recolheu expressivo coeficiente de energias para aceitar as provações que lhe cabem, vencendo-as com paciência e valor. E um espírito transformado, naturalmente transforma as situações.

O Assistente, contudo, interrompeu-se e lembrou-nos o horário de volta.
Por solicitação de Teonília, examinou a doente e concluiu que a desencarnação de Dona Elisa estava próxima.

Externei o desejo de analisar-lhe o campo orgânico;
todavia, o instrutor recordou-nos a hora avançada e prometeu voltar connosco, em tarefa de assistência à velhinha na noite próxima.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:24 pm

21 - Mediunidade no leito de morte

Na noite seguinte, voltamos ao lar de Anésia, com o objectivo particular de socorrer-me a mãezinha doente.

Dona Elisa piorara.
Encontramo-la agitada, a desligar-se do corpo físico.
O médico da família examinava-lhe o quadro orgânico, evidenciando preocupação e desalento.

O estetoscópio dava-me a conhecer a posição difícil do coração exausto.
Além disso, o elevado teor de ureia favorecia a intoxicação alarmante.
Previa o fim próximo da resistência física, entretanto, o delírio da enferma desnorteava-o.

Dona Elisa via-se presa de estranha perturbação mental.
Superexcitada, aflita, declarava-se perseguida por um homem que se propunha abatê-la a tiros, clamava pelo filho desde muito na vida espiritual e dizia ver serpentes e aranhas ao pé do leito.

A despeito do suor pastoso de quem se aproxima da morte e da extrema palidez que lhe desfigurava a máscara fisionómica, fazia supremo esforço para continuar falando em voz alta.

O facultativo convidou a dona da casa a entendimento reservado e comunicou-lhe as péssimas impressões de que se via possuído.

A enferma deveria prosseguir com medicação de emergência, à face da crise, contudo, a noite ser-lhe-ia sacrificial.

A uremia avançava célere, o coração era um barco desgovernado e, por isso, o colapso poderia surpreendê-la de momento para outro.

Anésia acolheu a palavra do clínico, enxugando as lágrimas que teimavam em lhe saltar dos olhos.

Despediu-se dele e colocou-se em oração, confiando-se à influência de Teonília, que lhe seguia os passos, qual se lhe fora abnegado nume protector.

Sem conseguir explicar a si mesma a serenidade balsâmica que lhe tomou gradativamente a alma, aquietou-se entre a fé e a paciência, na certeza de que não lhe faltaria o amparo do Plano Superior.

Longe de perceber a ternura de que era objecto, por parte da devotada amiga, recebia-lhe os apelos confortadores em forma de sublimes pensamentos de esperança e de paz.

Demorou-se na contemplação da anciã que pedia socorro em voz arrastadiça e fitou-lhe os olhos desmesuradamente abertos, sem expressão...

Profunda piedade assenhoreou-lhe o carinho filial.
Mãezinha — disse, afectuosa —, sente-se agora melhor?

A interpelada tomou-lhe as mãos, como se fora uma criança medrosa, e sussurrou:
— Minha filha, não estou melhor, porque o assassino me espreita...
Não sei como escapar... estou igualmente cercada de aranhas enormes... que fazer para salvar-me?...

E, em seguida, elevando o tom de voz, gritou com lamentosa inflexão:
— Ai! As serpentes!... As serpentes!...
Ameaçam-me da porta... Que será de mim?

Escondia o rosto nas mãos descarnadas e debalde tentava erguer o corpo, movimentando a cabeça trémula.
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