LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:51 pm

E enquanto a matrona baixava o tom de voz, cochichando, um cavalheiro maduro dirigia-se a Teotónio, o outro comunicante da noite, clamando, indiscreto:
— Teotónio, até quando me cabe aguardar?

A entidade, que parecia embatucar-se com a pergunta, silenciou, humilde, mas o interlocutor alongou-se, exigente:
— Vai para quatro meses que espero pela decisão favorável referente ao emprego que me foi prometido, entretanto, até hoje!...
Você não conseguiria liquidar o problema?

— Que deseja que eu faça?
— Sei que o gerente da firma é do contra.
Ajude-me, inclinando-o a simpatizar-se pela boa solução de meu caso.

Nisso, outra senhora ocupou a atenção de Raimundo, solicitando:
— Meu amigo, conto com o seu valioso concurso.

Sou mãe.
Não me conformo em ver minha filha aceitar a proposta de um homem desbriado, para casar-se.
Nossa posição em casa é das mais alarmantes.

Meu marido não suporta o homem que nos persegue, e a menina revoltada tem sido para nós um tormento.
Você não poderá afastar esse abutre?

Raimundo respondeu, subserviente, enquanto Quintino tomava a palavra, logo em seguida, pedindo uma prece, em conjunto, a fim de que os desencarnados se fortalecessem para corresponder à confiança do grupo, prestando-lhe os serviços solicitados.

Entendimentos e conversas continuaram entre comunicantes e clientes da casa, todavia, não mais lhes dei atenção, considerando-lhes o obscuro aspecto.

Em aflitivas circunstâncias, vira obsidiados e entidades endurecidas no mal, através de tremendos conflitos;
contudo, em nenhum lugar sentia tanta compaixão como ali, vendo pessoas sadias e lúcidas a interpretarem o intercâmbio com o mundo espiritual como um sistema de criminosa exploração, com alicerces no menor esforço.

Aqueles homens e mulheres que se congregavam no recinto, com intenções tão estranhas, teriam coragem de pedir a companheiros encarnados os serviços que reclamavam dos Espíritos?

Não estariam ultrajando a oração e a mediunidade para fugir aos problemas que lhes diziam respeito?

Não dispunham, acaso, de veneráveis conhecimentos para mobilizar o cérebro, a língua, os olhos, os ouvidos, as mãos e os pés, no aprendizado enobrecedor?
Que faziam da fé?

Seria justo que um trabalhador relegasse a outros a enxada que lhe cabia suportar e mover na gleba do mundo?

Aulus registou-me as reflexões amargas, porque, generoso, deu-se pressa em reconfortar-me:
— Um estudo actual de mediunidade, mesmo rápido quanto o nosso, não seria completo se não perquiríssemos a região do psiquismo transviado, onde Espíritos preguiçosos, encarnados e desencarnados, respiram em regime de vampirização recíproca.

Aliás, constituem produto natural da ignorância viciosa em todos os templos da Humanidade.

Abusam da oração tanto quanto menoscabam as possibilidades e oportunidades de trabalho digno, porquanto espreitam facilidades e vantagens efémeras para se acomodarem com a indolência, em que se lhes cristalizam os caprichos infantis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:52 pm

— Mas, prosseguirão assim, indefinidamente? perguntei.

— André, sua dúvida está fora de propósito.
Você possui bastante experiência para saber que a dor é o grande ministro da Justiça Divina.

Vivemos a nossa grande batalha de evolução.
Quem foge ao trabalho sacrificial da frente, encontra a dor pela retaguarda.

O Espírito pode confiar-se à inacção, mobilizando delituosamente a vontade, contudo, lá vem um dia a tormenta, compelindo-o a agitar-se e a mover-se para entender os impositivos do progresso com mais segurança.

Não adianta fugir da eternidade, porque o tempo, benfeitor do trabalho, é também o verdugo da inércia.

Hilário, que reflectia, silencioso, junto de nós, inquiriu preocupado:
— Por que se entregam nossos irmãos encarnados a semelhantes práticas de menor esforço?

Há tantas lições de aprimoramento espiritual, há tantos apelos à dignificação da mediunidade, nas linhas doutrinárias do Espiritismo!...
Porquê o desequilíbrio?

Aulus pensou alguns instantes e redarguiu:
— Hilário, é imprescindível recordar que não nos achamos diante da Doutrina do Espiritismo.

Presenciamos fenómenos mediúnicos, manobrados por mentes ociosas, afeiçoadas à exploração inferior por onde passam, dignas, por isso mesmo, de nossa piedade.

E não ignoramos que fenómenos mediúnicos são peculiares a todos os santuários e a todas as criaturas.

Quanto à preferência de nossos amigos pela convivência com os desencarnados ainda imensamente presos ao campo sensorial da vida física, incapazes ainda de mais ampla visão das realidades do Espírito, isso é compreensível na Terra.

É sempre mais fácil ao homem comum trabalhar com subalternos ou iguais, porque, servir ao lado de superiores exige boa-vontade, disciplina, correcção de proceder e firme desejo de melhorar-se.

Sabemos que a morte não é milagre.
Cada qual desperta, depois do túmulo, na posição espiritual que procurou para si...

Ora, o homem vulgar sente-se mais à solta junto das entidades que lhe lisonjeiam as paixões, estimulando-lhe os apetites, de vez que todos somos constrangidos a educar-nos, na vizinhança de companheiros evolutivos, que já aprenderam deram a sublimar os próprios impulsos, consagrando-se à lavoura incessante do bem.

— Mas não será isso um abuso do homem encarnado?
Não será crime parasitar os desencarnados de condição inferior? — indagou Hilário.

— Isso não padece dúvida — confirmou o instrutor.
— E esse delito ficará impune?

Aulus fixou leve expressão de bom humor e respondeu:
— Não se preocupem demasiado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:52 pm

Quando o erro procede da ignorância bem-intencionada, a Lei prevê recursos indispensáveis ao esclarecimento justo no espaço e no tempo, porquanto a genuína caridade, sob qualquer título, é sempre venerável.
Entretanto, se o abuso é deliberado, não faltará corrigenda.

Vagueou o olhar sobre o director da assembleia e sobre os medianeiros que incorporavam os comunicantes e acrescentou:
— Teotónio e Raimundo, tanto quanto alguns outros desencarnados da posição deles, e que aqui se aglomeram, realmente são mais vampirizados que vampirizadores.

Fascinados pelas requisições de Quintino e dos médiuns que lhe prestigiam a obra infeliz, seguem-lhes os passos, como aprendizes no encalço dos mentores aos quais se devotam.

Na hipótese de não se reajustarem no bem, tão logo se desencarnem o dirigente deste grupo e os instrumentos medianímicos que lhe copiam as atitudes, serão eles surpreendidos pelas entidades que escravizaram, a lhes reclamarem orientação e socorro, e, mui provavelmente, mais tarde, no grande porvir, quando responsáveis e vitimas estiverem reunidos no instituto da consanguinidade terrestre, na condição de pais e filhos, acertando contas e recompondo atitudes, alcançarão pleno equilíbrio nos débitos em que se emaranharam.

Ante a nossa admiração silenciosa, o Assistente concluiu:
— Cada serviço nobre recebe o salário que lhe diz respeito e cada aventura menos digna tem o preço que lhe corresponde.

Logo após, Aulus concitou-nos a partir.
O ambiente não encorajava maior estudo e já havíamos assimilado a lição que ali poderíamos receber.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:52 pm

28 - Efeitos físicos

Vinte horas haviam soado no relógio terrestre, quando entramos em acanhado apartamento, no qual se realizariam trabalhos de materialização.

Tanto Hilário quanto eu não desejávamos encerrar a semana de estudos sem observar algum serviço dessa natureza, em companhia do Assistente.

De outra feita, acompanháramos experiência dessa ordem, assinalando-a em registo de nossas impressões (1) contudo, os ensinamentos de Aulus eram sempre expressivos, e valiosos pelos fundamentos morais de que se revestiam, e suspirei pelo instante de ouvi-lo discorrer sobre os fenómenos físicos que nos propúnhamos analisar.

O recinto destinado aos trabalhos constituía-se de duas peças, uma sala de estar ligada a estreita câmara de dormir.

O aposento íntimo, transformado em gabinete, albergava o médium, um homem ainda moço, e na sala espalhavam-se catorze pessoas, aparentemente bem-intencionadas, das quais se destacavam duas senhoras doentes, que representavam o motivo essencial da reunião, de vez que pretendiam recolher a assistência amiga dos Espíritos materializados.

Indicando-as, falou o orientador, com grave entonação de voz:
— Venho com vocês até aqui, considerando as finalidades do socorro aos enfermos, porque, embora sejam muitas as tentativas de materialização de forças do nosso plano, na Terra, com raras excepções quase todas se desenvolvem sobre lastimáveis alicerces que primam por infelizes atitudes dos nossos irmãos encarnados.

Só os doentes, por enquanto, no mundo, justificam a nosso ver o esforço dessa espécie, junto das raras experiências, essencialmente respeitáveis e dignas, realizadas pelo mundo científico, em benefício da Humanidade.

Quiséramos alongar o entendimento, no entanto, renteando connosco, diversos obreiros iam e vinham, dando a perceber o início dos trabalhos daquela noite.
A higienização processava-se activa.

O serviço reclamava cuidado.
Segundo apontamentos recolhidos por nós, em outras ocasiões, aqui surgiam aparelhos delicados para a emissão de raios curativos, acolá se efectuava a ionização do ambiente com efeitos bactericidas.

Alguns encarnados, como habitualmente acontece, não tomavam a sério as responsabilidades do assunto e traziam consigo emanações tóxicas, oriundas do abuso de nicotina, carne e aperitivos, além das formas-pensamentos menos adequadas à tarefa que o grupo devia realizar.

Atento ao estudo, Aulus recomendou-nos centralizar a atenção no gabinete do médium.

Obedecemos.
Ao redor, laboriosa actividade seguia adiante.
Dezenas de entidades bem comandadas e evidenciando as melhores noções de disciplina, articulavam-se no esforço preparatório.

O instrumento medianímico já havia recebido eficiente amparo no campo orgânico.
A digestão e a circulação, tanto quanto o socorro às vísceras já eram problemas solucionados.

Dispensar-nos-emos de maior rigor descritivo, porquanto, em outras páginas (2), a materialização, de acordo com as nossas possibilidades de expressão, mereceu-nos meticuloso exame, no que respeita às substâncias, associações, recursos e movimentos do plano espiritual.

Agora, interessava-nos a mediunidade em si.
Intentávamos analisar-lhe o comportamento,
em suas relações com o ambiente e as pessoas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:52 pm

E, para isso, a nosso parecer, nenhuma ocasião melhor que aquela, em que dispúnhamos da colaboração segura de um amigo competente e devotado qual o instrutor que nos acompanhava, solícito.

Apagada a luz eléctrica e pronunciada a oração de início, o agrupamento, como de praxe, passou a entoar hinos evangélicos, para equilibrar as vibrações do recinto.

Colaboradores desencarnados extraíam forças de pessoas e coisas da sala, inclusive da Natureza em redor, que casadas aos elementos de nossa esfera faziam da câmara mediúnica precioso e complicado laboratório.

Correspondendo à actuação magnética dos mentores responsáveis, desdobrou-se o médium, afastando-se do veículo físico, de modo tão perfeito que o acto em si mais se me afigurava a própria desencarnação, porque o corpo jazia no leito, como se fora um casulo de carne, largado e inerte.

O veículo físico, assim prostrado, sob o domínio dos técnicos do nosso plano, começou a expelir o ectoplasma, qual pasta flexível, à maneira de uma geleia viscosa e semilíquida, através de todos os poros e, com mais abundância, pelos orifícios naturais, particularmente da boca, das narinas e dos ouvidos, com elevada percentagem a exteriorizar-se igualmente do tórax e das extremidades dos dedos.

A substância, caracterizada por um cheiro especialíssimo, que não conseguimos descrever, escorria em movimentos reptilianos, acumulando-se na parte inferior do organismo medianímico, onde apresentava o aspecto de grande massa protoplásmica, viva e tremulante.

Companheiros nossos prestavam carinhosa assistência ao médium separado da vestimenta física, como se ele fora um doente ou uma criança.

À margem da acção, Aulus esclareceu prestimoso:
— O ectoplasma está em si tão associado ao pensamento do médium, quanto as forças do filho em formação se encontram ligadas à mente maternal.

Em razão disso, toda a cautela é indispensável na assistência ao medianeiro.

Hilário que ouvia, reverente, indagou:
— Tal cuidado decorre da possibilidade de inconveniente intervenção do médium nos trabalhos?
— Exactamente.

E Aulus prosseguiu:
— Se pudéssemos contar com mais ampla educação do instrumento, decerto menos teríamos a temer, de vez que a própria individualidade do servidor colaboraria junto de nós, evitando-nos preocupações e contratempos prováveis.

A materialização de criaturas e objectos de nosso plano, para ser mais perfeita, exige mais segura desmaterialização do médium e dos companheiros encarnados que o assistem, porque, por mais nos consagremos aos trabalhos dessa ordem, estamos subordinados à cooperação dos amigos terrestres, assim como a água, por mais pura, permanece submetida às qualidades felizes ou infelizes do canal por onde se escoa.

— Isso nos deixa entrever — acentuou meu colega — que o pensamento mediúnico pode influir nas formas materializadas, mesmo quando essas formas se encontrem sob rigoroso controlo de amigos da nossa esfera...

— Sim — confirmou o Assistente —, ainda quando o médium não consiga senhoreá-las de todo, pode perturbar-lhes a formação e a projecção, prejudicando-nos consequentemente o serviço.
Dai, o impositivo da completa isenção de ânimo, por parte de quantos se devotam a semelhantes realizações.

Hilário, não obstante satisfeito, continuou ponderando:
— As faculdades de materialização, desse modo, não traduzem privilégio para os seus portadores...
— De modo algum.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:53 pm

E, depois de breve pausa:
— O próprio verbo referente ao assunto, em sentido literal, não encoraja qualquer interpretação em desacordo com a verdade.

Materializar significa corporificar.

Ora, considerando-se que mediúnidade não traduz sublimação e sim meio de serviço, e reconhecendo, ainda, que a morte não purifica, de imediato, aquele que se encontra impuro, como atribuir santidade a médiuns da Terra ou a comunicantes do Além pelo simples facto de modelarem formas passageiras, entre dois planos?

— Então, essa força...
Meu companheiro não terminou.

Aulus percebeu-lhe o pensamento e atalhou, asseverando:
— Essa força materializante é como as outras manipuladas em nossas tarefas de intercâmbio.

Independe do carácter e das qualidades morais daqueles que a possuem, constituindo emanações do mundo psicofísico, das quais o citoplasma é uma das fontes de origem.

Em alguns raros indivíduos, encontramos semelhante energia com mais alta percentagem de exteriorização, contudo, sabemos que ela será de futuro mais abundante e mais facilmente abordável, quando a colectividade humana atingir mais elevado grau de maturação.

— Até lá, desse modo...

— Até lá, utilizar-nos-emos dessas possibilidades como quem aproveita um fruto ainda verde, em circunstâncias especiais da vida, suportando, porém, o assédio de mil surpresas desagradáveis ao recolhê-lo, de vez que, em experiências como esta, submetemo-nos a certas interferências mediúnicas indesejáveis, tanto quanto a influências menos edificantes de companheiros encarnados, francamente inaptos para os serviços dessa espécie.

Hilário que escutava, atencioso, a lição, ponderou ainda:
— Imaginemos que o médium esteja possuído de interesses inferiores, seja em matéria de afectividade mal conduzida, de ambição desregrada ou de pontos de vista pessoais, nos diversos departamentos das paixões comuns...

E, depois da alegação reticenciosa, indagou:
— Nessa posição poderá influir nos fenómenos em estudo?
— Sem dúvida alguma — elucidou Aulus, com naturalidade —, consciente ou inconscientemente.

— E os amigos do grupo?
Se imbuídos de propósitos malsãos conseguem perturbar-nos?
— Certamente!

— E por que nos sujeitarmos a factores incapazes, assim?
Os olhos do Assistente brilharam, expressivos.
E, afagando o meu colega, Áulus falou, com sensatez:
— Não diga “factores incapazes”.
Digamos “factores incipientes”.

Simbolizemos a necessidade como sede escaldante e a mediunidade imperfeita ou mal comandada como sendo a água menos limpa.

A falta do líquido puro, não podemos hesitar.
Utilizamo-nos da água nas condições em que a encontramos.
E, em seguida, que fazer?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 8:59 pm

Teremos paciência com a fonte, decantando-lhe, pouco a pouco, a corrente poluída.

A mediunidade sublimada, através de instrumentos dignos e conscientes no mandato que lhes corresponde, é algo de eterno e divino que a Humanidade está edificando.

Isso não é obra de afogadilho.
A improvisação não é alicerce para os santuários da sabedoria e do amor que desafiam o tempo.

Meu colega e eu sorrimos, encantados com aquele monumento de compreensão e tolerância.

Em redor, grande massa de substância ectoplásmica leitosa-prateada, da qual se destacavam alguns fios escuros e cinzentos, amontoava-se, abundante.

Técnicos de nosso plano manipulavam-na, com atenção.
Aulus fixou a paisagem de trabalho activo e explicou-nos:
— Aí temos o material leve e plástico de que necessitamos para a materialização.

Podemos dividi-lo em três elementos essenciais, em nossas rápidas noções de serviço, a saber — fluidos “A”, representando as forças superiores e subtis de nossa esfera, fluidos “B”, definindo os recursos do médium e dos companheiros que o assistem, e fluidos “C”, constituindo energias tomadas à Natureza terrestre.

Os fluidos “A” podem ser os mais puros e os fluidos “C” podem ser os mais dóceis;
no entanto, os fluidos “B”, nascidos da actuação dos companheiros encarnados e, muito notadamente, do médium, são capazes de estragar-nos os mais nobres projectos.

Nos círculos, aliás raríssimos, em que os elementos “A” encontram segura colaboração das energias “B”, a materialização de ordem elevada assume os mais altos característicos, raiando pela sublimidade dos fenómenos;
contudo, onde predominara os elementos “B”, nosso concurso é consideravelmente reduzido, porquanto nossas maiores possibilidades passam a ser canalizadas na dependência das forças inferiores do nosso plano, que, afinadas aos potenciais dos irmãos encarnados, podem senhorear-lhes os recursos, invadindo-lhes o campo de acção e inclinando-lhes as experiências psíquicas no rumo de lastimáveis desastres.

As elucidações não poderiam ser mais claras.

Dispúnhamo-nos a prosseguir no entendimento, todavia, Garcez, um dos técnicos espirituais do serviço, veio até nós, invocando o auxílio magnético de Aulus.
O campo fluídico na sala se fizera demasiado espesso.

Os pequenos jactos de força ectoplásmica, arremessados até lá, em carácter experimental, tornavam ao gabinete, revelando forte teor de toxinas de variada classificação.

As catorze pessoas assembleadas no recinto eram catorze caprichos diferentes.

Não havia ali ninguém com bastante compreensão do esforço que se reclamava do mundo espiritual e cada companheiro, ao invés de ajudar o instrumento mediúnico, pesava sobre ele com mauditas exigências.

Em razão disso, o médium não contava com suficiente tranquilidade.
Figurava-se-nos um animal raro, acicatado por múltiplos aguilhões, tais os pensamentos descabidos de que se via objecto.

— Não atingiremos, então, a materialização de ordem superior... — falou o Assistente, algo preocupado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 8:59 pm

— De modo algum — informou Garcez com desapontamento.
Teremos tão-só o médium desdobrado, incorporando a nossa enfermeira para socorro às irmãs doentes.
Nada mais. Não dispomos do concurso preciso.

Aulus atendeu à solicitação que lhe era dirigida e auxiliou magneticamente a transferência de certo coeficiente de energias do vaso físico ao corpo perispiritual que se mostrou vivamente reanimado.

O veículo de matéria densa, no leito, desceu à mais funda prostração, mas o médium, em seu perispírito, evidenciava maior vitalidade e maior lucidez.

Amigos espirituais envolveram-no em extenso roupão ectoplásmico e a enfermeira uniu-se a ele, comandando-lhe os movimentos.

O médium, não obstante ausente do corpo carnal, achava-se controlado pela benfeitora, à maneira de um médium psicofónico, diferenciado apenas pela roupagem singular, estruturada com apetrechos ectoplásmicos imprescindíveis à permanência dele no recinto, onde explodiam pensamentos perturbados e inquietantes.

Vendo-o caminhar, inseguro, abraçado pela enfermeira que o movimentava para o serviço assistencial, Hilário, ciciante, falou para o nosso orientador:
— O médium está consciente durante o fenómeno?
— Fora do corpo sim, mas, possivelmente, não guardará qualquer lembrança, logo regresse ao campo físico.

Meu colega ainda aventurou:
— Vemo-lo avançar com indumentos materializados e sob a orientação da enfermeira amiga.
Entretanto, caso alimente, nessas condições, qualquer desejo menos digno, pode interferir no trabalho, prejudicando-o?

— Perfeitamente — disse Aulus —, ele está sob controlo, mas controle não significa anulação.
Qualquer impulso infeliz do nosso companheiro correrá por conta do serviço.
Daí, a inconveniência das actividades dessa espécie, sem alto objectivo moral.

O medianeiro das curas, enlaçado pela entidade generosa, alcançou o estreito aposento, exibindo a roupagem delicada, semelhante a uma túnica de luar, emitindo prateada luz.

No entanto, à medida que varava a atmosfera reinante no recinto, a claridade esmaecia, chegando a apagar-se quase de todo.

Diante do nosso olhar indagador, o Assistente esclareceu:
— A posição neuro-psíquica dos companheiros encarnados que nos compartilham a tarefa, no momento, não ajuda.

Absorvem-nos os recursos, sem retribuição que nos indemnize, de alguma sorte, a despesa de fluidos laboriosamente trabalhados.

A convite do orientador, penetramos a sala.
Efectivamente, escuras emissões mentais esguichavam contínuas, entrechocando-se de maneira lastimável.

Os amigos, ainda na carne, mais se nos figuravam crianças inconscientes.
Pensavam em termos Indesejáveis, expressando petições absurdas, no aparente silêncio a que se acomodavam, irrequietos.

Exigiam a presença de afeições desencarnadas, sem cogitarem da oportunidade e do merecimento imprescindíveis, criticavam essa ou aquela particularidade do fenómeno ou prendiam a imaginação a problemas aviltantes da experiência vulgar.

O concurso dos amigos espirituais era ali recebido, não como gentileza de benfeitores, mas como espectáculo fútil a ser obrigatoriamente elaborado por servos ínfimos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 8:59 pm

Ainda assim, os obreiros do nosso plano ofereciam o melhor pelo êxito da tarefa.
A enfermeira devotada socorreu as doentes, aplicando-lhes raios curativos.

Várias vezes, deixou o recinto e tornou a ele, porquanto, à simples aproximação dos pensamentos inadequados que lhe senhoreavam as vibrações, toda a matéria ectoplásmica se ressentia, obscurecendo-se ao bombardeio das formações mentais nascidas da assistência.

Terminado que foi o trabalho medicamentoso, um risonho companheiro de nossa esfera tomou pequena porção das forças materializantes do médium sobre as mãos e afastou-se para trazer, daí a instantes, algumas flores que foram distribuídas com os irmãos encarnados, no intuito de sossegar-lhes a mente excitadiça.

Calmando-nos a curiosidade, Áulus esclareceu:
— É o transporte comum, realizado com reduzida cooperação das energias medianímicas.

Nosso amigo — e designou com a destra o emissário das flores — apenas tomou diminuta quantidade de força ectoplásmica, formando somente pequeninas cristalizações superficiais do polegar e do indicador, em ambas as mãos, a fim de colher as flores e trazê-las até nós.

— É importante observar — disse Hilário — a facilidade com que a energia ectoplásmica atravessa a matéria densa, porque o nosso companheiro, usando-a nos dedos, não encontrou qualquer obstáculo na transposição da parede.

— Sim — comentou o instrutor —, o elemento sob nossa vista é extremamente subtil e, aderindo ao nosso modo de ser, adquire renovada feição dinâmica.

— E se fosse o médium o objecto do transporte?
Trespassaria a barreira nas mesmas circunstâncias?

— Perfeitamente, desde que esteja mantido sob nosso controle, intimamente associado às nossas forças, porque dispomos entre nós de técnicos bastante competentes para desmaterializar os elementos físicos e reconstitui-los de imediato, cônscios da responsabilidade que assumem.

E sorrindo:
— Você não pode esquecer que as flores transpuseram o tapume de alvenaria, penetrando aqui com semelhante auxílio.

De idêntica maneira, caso encontrássemos utilidade num lance dessa natureza, o instrumento que nos serve de base ao trabalho poderia ser removido para o exterior com a mesma facilidade.

As cidadelas atómicas, em qualquer construção da forma física, não são fortalezas maciças, qual acontece em nossa própria esfera de acção.

O espaço persiste em todas as formações e, através dele, os elementos se interpenetram.

Chegará o dia em que a ciência dos homens poderá reintegrar as unidades e as constituições atómicas, com a segurança dentro da qual vai aprendendo a desintegrá-las.

Logo após, os amigos presentes, sempre interessados em acordar os irmãos encarnados para as realidades do espírito, acomodaram o médium, religando-o ao corpo carnal.

O rapaz esfregou o rosto, estremunhado; contudo, sob a actuação de passes calmantes, arrojou-se, de novo, à hipnose profunda.

Forças ectoplásmicas recomeçaram a surgir das narinas e dos ouvidos, revitalizadas e abundantes.

Alguns companheiros passaram a compartimento vizinho, seguidos por nós.
Nesse aposento, sobre pequeno fogão eléctrico grande balde de parafina fervente requisitava-nos a atenção.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:00 pm

Um amigo de semblante simpático cobriu a destra com a pasta dúctil que manava fartamente do médium e materializou-a com perfeição, mergulhando-a, logo após, na parafina super aquecida, deixando aos componentes da reunião o primoroso molde como lembrança.

Uma jovem que nos saudou, cordial, trabalhou igualmente o ectoplasma, modelando três flores que, submersas no vaso, ficaram, depois, em mesa próxima para os assistentes, à guisa de doce recordação daquela noite de tolerância e carinho.

Afeiçoados da casa trouxeram do exterior diversas conchas marinhas, em que se viam delicados perfumes que se volatizaram no recinto em vagas deliciosas.

Reparando que os tarefeiros espirituais submetiam o instrumento medianímico a complicadas operações magnéticas, através das quais a substância materializante era restituída ao corpo físico, inteiramente purificada, crivamos o instrutor de questões e perguntas.

Realmente todas as pessoas, na Terra, possuíam consigo a energia que examinávamos?
Seria lícito esperar no futuro mais amplas manifestações dela?
Essa força era invariavelmente influenciável ou, em alguma circunstância, conseguia organizar-se por si?

Aulus deixou aos demais obreiros as medidas atinentes à fase terminal dos trabalhos e elucidou:
— O ectoplasma está situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica, assim como um produto de emanações da alma pelo filtro do corpo, e é recurso peculiar não somente ao homem, mas a todas as formas da Natureza.

Em certas organizações fisiológicas especiais da raça humana, comparece em maiores proporções e em relativa madureza para a manifestação necessária aos efeitos físicos que analisamos.

É um elemento amorfo, mas de grande potência e vitalidade.

Pode ser comparado a genuína massa protoplásmica, sendo extremamente sensível, animado de princípios criativos que funcionam como condutores de electricidade e magnetismo, mas que se subordinam, invariavelmente, ao pensamento e à vontade do médium que os exterioriza ou dos Espíritos desencarnados ou não que sintonizam com a mente mediúnica, senhoreando-lhe o modo de ser.

Infinitamente plástico, dá forma parcial ou total às entidades que se fazem visíveis aos olhos dos companheiros terrestres ou diante da objectiva fotográfica, dá consistência aos fios, bastonetes e outros tipos de formações, visíveis ou invisíveis nos fenómenos de levitação, e substancializa as imagens criadas pela imaginação do médium ou dos companheiros que o assistem mentalmente afinados com ele.

Exige-nos, pois, muito cuidado para não sofrer o domínio de Inteligências sombrias, de vez que manejado por entidades ainda cativas de paixões deprimentes poderia gerar clamorosas perturbações.

E, apontando o mediador que despertava sonolento, enunciou:
— Nosso amigo, polarizando as energias do nosso plano, funciona como entidade maternal, de cujas possibilidades criativas os Espíritos materializados totalmente, ou não, retiram os recursos imprescindíveis às suas manifestações, sendo, a prazo curtíssimo, autênticos filhos dele.

Assinalando a conceituação, Hilário falou entusiástico:
— Isso dá a entender que nas forças geradoras extravasadas do médium e dos cooperadores de nossa esfera poderemos surpreender igualmente os princípios fundamentais da genética humana, em figurações que a ciência terrena ainda não conhece...

— Sim, sem dúvida — confirmou o Assistente —, os princípios são os mesmos, embora os aspectos sejam diferentes, O futuro nos reserva admiráveis realizações nesse ponto. Trabalhemos e estudemos.

Nossas disponibilidades de tempo, contudo, haviam terminado.

E, por isso, Aulus encerrou a notável conversação, convidando-nos a voltar.

(1) “Missionários da Luz”. — (Nota do Autor espiritual.)
(2) “Missionários da Luz”. — (Nota do Autor espiritual.)
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 6 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:00 pm

29 - Anotações em serviço

De retorno ao lar de Áulus, ocorreu-me auscultar-lhe a opinião com respeito a diversos problemas, sempre vivos ao redor de quantos se dedicam ao estudo de questões mediúnicas, na actualidade terrestre.

Em companhia do orientador, havíamos tocado de relance, mas seguramente, palpitante material, que nos facultara excelente curso educativo.

Examináramos, de perto, entre encarnados e desencarnados, a assimilação de correntes mentais, a psicofonia, a possessão, o desdobramento, a clarividência, a clariaudiência, as forças curativas, a telepatia, a psicometria e a materialização, além de alguns dos temas de importância central da mediunidade, como sejam o poder da prece, a fixação mental, a emersão do subconsciente, a licantropia, a obsessão, a fascinação, a lei de causa e efeito, o desdobramento no leito de morte e as energias viciadas, tudo isso sem necessidade de recurso a complicações terminológicas.

Não obstante nosso respeito à ciência humana, indagávamos intimamente por que motivo tanto embaraço verbalístico em sucessos comuns a todos, quando a simplificação seria bem mais interessante.

Os metapsiquistas chamavam “criptestesia” à sensibilidade oculta, críptica, e baptizaram o conhecimento de factos sem o concurso dos sentidos carnais com a palavra “metagnomia”...

Dividiam os médiuns (sujets, na terminologia de alguns investigadores) em duas categorias, os de «faculdades psicológicas inabituais» e os de «faculdades mecânico-físico-químicas»...

E por aí afora...
Porque não aplainar tais dificuldades de expressão?
Afinal — reflectia eu —, a mediunidade, na essência, consulta o interesse da Humanidade inteira...

Acalentava tais pensamentos, quando Áulus, observando-me, por certo, a crítica meditada, considerou:
— A mediunidade, indubitavelmente, é património comum a todos, entretanto, cada homem e cada grupo de homens no mundo registaram-lhe a evidência a seu modo.

De nossa parte, é possível abordá-la com a simplicidade evangélica, baseados nos ensinamentos claros do Mestre, que esteve em contacto incessante com as potências invisíveis ao homem vulgar, curando obsidiados, levantando enfermos, conversando com os grandes instrutores materializados no Tabor, ouvindo os mensageiros celestiais em Getsemani e voltando Ele próprio a comunicar-se com os discípulos, depois da morte na cruz, entretanto, a ciência terrestre, por agora, não pode analisá-la sem o rigor da experimentação.

O Assistente fez ligeira pausa e prosseguiu:
— Não importa que os aspectos da verdade recebam vários nomes, conforme a índole dos estudiosos.
Vale a sinceridade com que nos devotamos ao bem.
O laborioso esforço da Ciência é tão sagrado quanto o heroísmo da fé.

A inteligência, com a balança e com a retorta, também vive para servir ao Senhor.
Esmerilhando os fenómenos mediúnicos e catalogando-os, chegará ao registo das vibrações psíquicas, garantindo a dignidade da Religião na Era Nova.

Não desejava, porém, situar a conversação nos domínios científicos.
Nosso aprendizado atingia o marco final.

Aquela era a última noite em que podíamos desfrutar a sábia companhia do orientador e propunha-me ouvi-lo quanto à mediunidade em si.

Por essa razão, provoquei o diálogo que passarei a desdobrar.
— É justo que a Ciência não examine o campo mediúnico por nosso prisma — aleguei.

A lógica e a experimentação positiva caminham por estradas muito diferentes daquelas que conhecemos no itinerário da intuição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:00 pm

No entanto, nas próprias correntes do Espiritualismo, vemos a mediunidade atormentada pelas mais diversas interpretações...

— Que pretende você dizer, André? — falou o instrutor, com brandura.
— Lembro-me daqueles irmãos que acoimam os médiuns de insanos e loucos, aconselhando a segregação dos estudantes da verdade em templos de iniciação, a deliberada distância dos sofredores e dos ignorantes que contamos no mundo por legiões inumeráveis...

— Ah! sim, o santuário de iniciação religiosa, qualquer que ele seja, é para nós venerável como posto avançado de distribuição da luz espiritual;
entretanto, os que fogem dentro dele à lei da cooperação, isolam-se na torre de marfim do orgulho que lhes é próprio, fixando-se em discussões brilhantes e estéreis.

Tais companheiros assemelham-se a viajantes agrupados em perigosa ilha de repouso, enquanto os nautas corajosos do bem suam e sofrem na descoberta de rotas seguras para o continente da fraternidade e da paz.

Descansam sob o arvoredo, confortados pela caça abundante e pela água refrescante, pesquisando a grandeza do céu ou filosofando sem proveito, mas sempre chega um dia em que a maré brava lhes invade o provisório domicilio, arrebatando-os ao mar alto, para que recomecem a experiência que lhes é necessária.

— Muitos estudiosos da nossa esfera de realização no mundo asseveram que será licito cultivar tão-somente o convívio com os génios superiores da Espiritualidade, relegando as manifestações mediúnicas vulgares à fossa da obsessão e da enfermidade, que, na opinião deles, devem ser entregues a si mesmas, sem qualquer atenção de nossa parte.

— Isso é comodismo sob o rótulo de cultura.
Não podemos negar que a obsessão seja moléstia da mente, contudo, poderá a Medicina curar alguém à força de usar o esquecimento do dever que lhe cabe?

Os génios realmente superiores da Espiritualidade jamais abandonam os sofredores e os pequeninos.

À maneira do Sol que clareia o palácio e a furna, com o mesmo silencioso devotamento auxiliam a todos, em nome da Providência.

— Há companheiros no Espiritualismo que não suportam qualquer manifestação primitivista no terreno mediúnico.

Se o médium não lhes corresponde à exigência, revelando-se em acanhado círculo de compreensão ou competência, afastam-se dele, agastadiços, categorizando por fraude ou mistificação valiosas expressões da fenomenologia.

Aulus sorriu e comentou:
— Serão esses, provavelmente, os campeões do menor esforço.
Ignoram que o sábio não dispensou a alfabetização no começo da existência e, decerto, amaldiçoam a criancinha que não saiba ler.

Semelhantes amigos, André, olvidaram o socorro que receberam da escola primária e, solicitando facilidades, à maneira do morfinómano que reclama entorpecentes, viciam-se em atitudes deploráveis à frente da vida, de vez que tudo exigem para si, desrespeitando a obrigação de ajudar aos que ainda se encontram na retaguarda.

— Há quem diga que o Espiritismo age erradamente, abrigando os desequilibrados e os enfermos, porque, com isso, oferece a impressão de uma Doutrina que, à força de ombrear com a loucura para socorrê-la, vai convertendo seus templos de oração em vastos refúgios de alienados mentais.

— Simples disparate dos que desertam do serviço ao próximo.

A Medicina não sofre qualquer diminuição por prestar auxilio aos enfermos.
Honrada pelos hospitais em que actua, engrandece-se à medida que se agiganta na obra assistencial aos doentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:01 pm

O Espiritismo não pode responsabilizar-se pelos desequilíbrios que lhe pedem amparo, tanto quanto não podemos imputar ao médico a autoria dos males que lhe requisitam a intervenção.

Aliás, temos nele o benfeitor da mediunidade torturada e da mente doentia, propiciando-lhes o bálsamo e o esclarecimento indispensáveis ao reajuste.

É muito fácil inventar teorias que nos exonerem do dever de servir, e muito difícil aplicar os princípios superiores que esposamos, utilizando-nos, para isso, de nossa cabeça e de nossas próprias mãos.

Se a recuperação do mundo e de nós mesmos estivesse circunscrita a lindas palavras, o Cristo, que nos constitui o padrão de todos os dias, não precisaria ter vindo ao encontro dos necessitados da Terra.

Bastaria que enviasse proclamações angélicas à Humanidade, sem padecer-lhe, de perto, a incompreensão e os problemas.

Felizmente, porém, os espiritualistas conscientes e sensatos estão aprendendo que o nosso escopo é reviver o Evangelho em suas bases simples e puras e que o Senhor não nos concede o tesouro da fé apenas para que possamos crer e falar, mas também para que estejamos habilitados a estender o bem, começando de nós mesmos.

— Há igualmente quem afirme que em todos os processos da obsessão funciona, implacável, a lei de causa e efeito, e que, por isso, não vale interferir em favor da mediunidade atormentada...

— Mera argumentação do egoísmo bem nutrido.
Isso seria o mesmo que abandonar os doentes, sob o pretexto de que são devedores perante a Lei.

Todos lutamos por ressarcir compromissos do pretérito, compreendendo que não há dor sem justificação;
e se sabemos que só o amor puro e o serviço incessante são capazes de garantir-nos a redenção, uns à frente dos outros, como desprezar o companheiro que sofre, em nome de princípios a cujo funcionamento estamos submetidos por nossa vez?

Hoje, é o vizinho que amarga as consequências de certas acções efectuadas a distância, amanhã seremos nós a colher os resultados de gestos que nos desabonavam o passado e que agora nos afligem o presente.

Se falece a cooperação entre as vítimas do espinheiro, decerto será muito mais longa e difícil para cada um a tarefa salvadora.
— Não faltam igualmente os que supõem não devamos atender a qualquer problema de mediunidade complexa, porque, dizem eles, cada criatura deve procurar a verdade por si.

Admitem que as religiões não passam de muletas e que a ninguém assiste a faculdade de socorrer-se de instrutores em assuntos da própria orientação.

Aulus esboçou um gesto de bom humor e redarguiu:
— Isso seria suprimir a escola e vilipendiar o amor imanente na Criação Inteira.

A religião digna, qualquer que seja o templo em que se expresse, é um santuário de educação da alma, em seu gradativo desenvolvimento para a imortalidade.

Imaginemos um país imenso, em que milhões de crianças fossem relegadas ao abandono pelos pais e mestres, sob a alegação de que lhes cabe o dever de procurar a virtude e a sabedoria por si, furtando-se-lhes toda espécie de apoio moral e cultural...

Imaginemos um campo enorme superlotado de enfermos, aos quais eminentes médicos recomendassem procurar a saúde por si mesmos, confiando-os à própria sorte...

Onde estaria a lógica de semelhantes medidas?
A interdependência mora na base de todos os fenómenos da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:01 pm

O forte é tutor do fraco.
O sábio responsabilizar-se-á pelo ignorante.
A criancinha na Terra não prescinde do concurso dos pais.

O instrutor fez ligeiro intervalo e prosseguiu:
— É preciso considerar que nem todos possuem idêntica idade espiritual e que a Humanidade Terrestre, em sua feição de conjunto, ainda se encontra tão longe da angelitude quanto a agressiva animalidade ainda está distante da razão perfeitamente humana.

É muito cedo para que o homem se arrogue o direito de apelar para a Verdade Total...

Por agora, é imprescindível trabalhe intensivamente, com devoção ardente e profunda ao bem, para atingir mais amplo discernimento das realidades fragmentárias ou provisórias que o cercam na vida física e, considerada a questão nesse aspecto, estejamos convictos de que a ausência de escolas do espírito ou a supressão dos instrutores constituíram a multiplicação dos hospícios e o rebaixamento do nível moral, porque sem o apelo à dignificação da individualidade, em processo de crescimento mental e de sublimação no tempo, não poderíamos contar senão com a estagnação nas linhas inferiores da experiência.

Havíamos, contudo, atingido o fim da viagem.

O lar-santuário em que o Assistente residia levantava-se, agora, ao nosso olhar.
— Trabalhemos com bom ânimo — disse-nos ainda o orientador —;
o tempo conjugado com o serviço no bem é o alicerce de nossa vitória.

No dia imediato, Aulus deveria partir no rumo de elevada missão a distância.

Por isso, prometeu-nos o abraço de adeus para a manhã seguinte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:01 pm

30 - Últimas páginas

Acompanhávamos o Assistente, reflectindo agora em nossa separação...

Achávamo-nos, Hilário e eu, preocupados e comovidos.
Ante o Sol renascente, o campo terrestre brilhava em plena manhã clara.
Mudos e expectantes, renteamos com um homem do campo manobrando a enxada na defesa do solo.

Aulus apontou-o com a destra e rompeu o silêncio, murmurando:
— Vejam! A mediunidade como instrumentação da vida surge em toda a parte. O lavrador é o médium da colheita, a planta é o médium da frutificação e a flor é o médium do perfume.

Em todos os lugares, damos e recebemos, filtrando os recursos que nos cercam e moldando-lhes a manifestação, segundo as nossas possibilidades.

Avançávamos e, em breves momentos, víamo-nos defrontados por singela oficina de carpinteiro.

Nosso orientador indicou o operário que aplainava enorme peça e observou:
— Possuímos no artífice o médium de preciosas utilidades.
Da devoção com que se consagra ao trabalho, nasce elevada percentagem de reconforto à Civilização.

Não longe, surpreendemos pequena marmoraria, à porta da qual um jovem envergava o escopro, ferindo a pedra.

— Eis o escultor — disse Áulus —, o médium da obra-prima.
A Arte é a mediunidade do Belo, em cujas realizações encontramos as sublimes visões do futuro que nos é reservado.

O Assistente prosseguiu enunciando importantes considerações sobre o assunto, quando passamos por alguns empregados da higiene pública, removendo o lixo de extensa praça.

— Aqui temos os varredores — disse com respeitoso acento —, valiosos médiuns da limpeza.
Logo após, contornamos um edifício em que funcionava um tribunal de justiça e nosso instrutor adiantou:
— Vemos aqui o fórum onde o juiz é o médium das leis.

Todos os homens em suas actividades, profissões e associações são instrumentos das forças a que se devotam.

Produzem, de conformidade com os ideais superiores ou inferiores em que se inspiram, atraindo os elementos invisíveis que os rodeiam, conforme a natureza dos sentimentos e ideias de que se nutrem.

Atingíramos, no entanto, o lar em que Hilário e eu nos dedicaríamos ao socorro de uma criança doente.

Nesse ponto da excursão, o orientador, esperado a distância, separar-se-ia de nós, por fim.
Aulus seguiu-nos, paternal.
Na intimidade doméstica, um cavalheiro maduro e a esposa tomavam café em companhia de três petizes.

Ladeando a mesa limpa e sóbria, descansava em larga poltrona o menino abatido e pálido que nos recolheria o esforço assistencial.

O instrutor fixou os olhos no quadro expressivo que nos tomava a atenção e exclamou:
— A família consanguínea é uma reunião de almas em processo de evolução, reajuste, aperfeiçoamento ou santificação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 21, 2012 9:02 pm

O homem e a mulher, abraçando o matrimónio por escola de amor e trabalho, honrando o vínculo dos compromissos que assumem perante a Harmonia Universal, nele se transformam em médiuns da própria vida, responsabilizando-se pela materialização, a longo prazo, dos amigos e dos adversários de ontem, convertidos no santuário doméstico em filhos e irmãos.

A paternidade e a maternidade, dignamente vividas no mundo, constituem sacerdócio dos mais altos para o Espírito reencarnado na Terra, pois, através delas, a regeneração e o progresso se efectuam com segurança e clareza.

Além do lar, será difícil identificar uma região onde a mediunidade seja mais espontânea e mais pura, de vez que, na posição de pai e de mãe, o homem e a mulher, realmente credores desses títulos, aprendem a buscar a sublimação de si mesmos na renúncia em favor das almas que, por intermédio deles, se manifestam na condição de filhos.

E, num sopro de bela inspiração, concluiu:
— A família física pode ser comparada a uma reunião de serviço espiritual no espaço e no tempo, cinzelando corações para a imortalidade.

Em seguida, o Assistente leu o mostrador de um relógio e observou:
— Quem caminha com a responsabilidade não deve esquecer as horas.

Retirou-se, precipite, e seguimo-lo até a praça próxima.

Aulus fixou o céu azul em que o Sol como que se desfazia em chuva de ouro quintessenciado, e dispunha-se a enlaçar-nos, quando me percebeu o propósito mais intimo, falando com humildade:
— Faça a prece por nós, André!

Reverente, pedi em voz alta:
— Senhor Jesus!
Faz-nos dignos daqueles que espalham a verdade e o amor!

Acrescenta os tesouros da sabedoria nas almas que se engrandecem no amparo aos semelhantes.
Ajuda aos que se despreocupam de si mesmos, distribuindo em Teu Nome a esperança e a paz...

Ensina-nos a honrar-te os discípulos fiéis com o respeito e o carinho que lhes devemos
Extirpa do campo de nossas almas a erva daninha da indisciplina e do orgulho, para que a simplicidade nos favoreça a renovação.

Não nos deixes confiados à própria cegueira e guia-nos o passo, no rumo daqueles companheiros que se elevam, humilhando-se, e que por serem nobres e grandes, diante de Ti, não se sentem diminuídos, em se fazendo pequeninos, a fim de auxiliar-nos...

Glorifica-os, Senhor, coroando-lhes a fronte com os teus lauréis de luz!...


O orientador devia saber que ele próprio personificava para nós os benfeitores a cuja grandeza nos reportávamos;
entretanto, não ousei pronunciar-lhe o nome, tal a veneração que nos merecia.

Terminada a oração, fitei-o de olhos húmidos.
Aulus não disse uma palavra.

Revestido de radiações luminescentes, dando-nos a entender que se despedia de nós igualmente em prece, recolheu-nos num só abraço e partiu...

À maneira de crianças, Hilário e eu, em pranto mudo de reconhecimento, contemplamo-lo, até que se lhe apagou o vulto ao longe.

Lembramo-nos, então, do trabalho que nos aguardava e, louvando o serviço que em toda a parte é a nossa bênção, passamos a socorrer a criança enferma, como quem se incorporava ao grande futuro...

Fim

§.§.§- O-canto-da-ave

Caro amigo:
Se você gostou do livro e tem condições de comprá-lo, faça-o, pois assim estarás ajudando diversas instituições de caridade; que é para onde os direitos autorais desta obra são destinados.


Muita Paz
Que Jesus o abençoe
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