LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 3 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:39 pm

12 - Clarividência e clariaudiência

Notei que a reunião atingia a fase terminal.

Duas horas bem vividas haviam corrido céleres para nós.
Raul Silva consultou o relógio e cientificou os companheiros de haver chegado o momento das preces de despedida.

Os amigos sofredores, aglomerados no recinto, poderiam receber vibrações de auxílio, enquanto os elementos do grupo recolheriam, através da oração, o refazimento das próprias forças.

Pequeno cântaro de vidro, com água pura, foi trazido à mesa.

E porque Hilário perguntasse se iríamos assistir a alguma cerimónia especial, o Assistente explicou, afável:
— Não, nada disso.
A água potável destina-se a ser fluidificada.

O líquido simples receberá recursos magnéticos de subido valor para o equilíbrio psicofísico dos circunstantes.

Com efeito, mal acabávamos de ouvir o apontamento, Clementino se abeirou do vaso e, de pensamento em prece, aos poucos se nos revelou coroado de luz.

Daí a instantes, de sua destra espalmada sobre o jarro, partículas radiosas eram projectadas sobre o líquido cristalino que as absorvia de maneira total.

— Por intermédio da água fluidificada — continuou Aulus —, precioso esforço de medicação pode ser levado a efeito.

Há lesões e deficiências no veículo espiritual a se estamparem no corpo físico, que somente a intervenção magnética consegue aliviar, até que os interessados se disponham à própria cura.

O Assistente silenciou, porquanto a palavra de Silva se fez ouvir, recomendando aos médiuns observassem, através da vidência e da audição, os ensinamentos que porventura fossem, naquela noite, ministrados ao grupo pelos amigos espirituais da casa.

Reparamos que Celina, Eugénia e Castro aguçaram as suas atenções.
Clementino, findo o preparo da água medicamentosa, consagrou-lhes maior carinho, aplicando-lhes passes na região frontal.

— Nosso amigo — esclareceu o Assistente — procura ajudar aos nossos companheiros de mediunidade, favorecendo-lhes o campo sensório.

Não lhes convêm, por agora, a clarividência e a clariaudiência demasiado abertas.
Na esfera dos Espíritos reencarnados, há que dosar observações para que não venhamos a ferir os impositivos da ordem.

Cada qual de nós deve estar em sua faixa de serviço, fazendo o melhor ao seu alcance.

Imaginemos um aparelho radiofónico terrestre, colectando todas as espécies de onda, em movimento de captação simultânea, O proveito e a harmonia da transmissão seriam realmente impraticáveis, e não haveria propósito construtivo na mensagem.

Um médium, pois, não deve demorar-se com todas as solicitações do meio em que se situa, sob pena de arrojar as suas impressões ao desequilíbrio, a menos quando, por sua própria evolução, consiga sobre pairar ao campo do trabalho, dominando as influências do meio e seleccionando-as, segundo o elevado critério de quem já consegue orientar-se para o bem e orientar aqueles que o acompanham.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:51 pm

Hilário reflectiu um momento e indagou:
— Os trabalhos mediúnicos, porém, são rigorosamente iguais nos três instrumentos sob nosso exame?

— Isso não.
O círculo de percepção varia em cada um de nós.

Há diferentes géneros de mediunidade;
contudo, importa reconhecer que cada Espírito vive em determinado degrau de crescimento mental e, por isso, as equações do esforço mediúnico diferem de indivíduo para indivíduo, tanto quanto as interpretações da vida se modificam de alma para alma.

As faculdades medianímicas podem ser idênticas em pessoas diversas, entretanto, cada pessoa tem a sua maneira particular de empregá-las.
Um modelo, em muitas ocasiões, é o mesmo para grande assembleia de pintores, todavia, cada artista fixá-lo-á na tela a seu modo.

Uma lâmpada exibirá claridade lirial, em jacto contínuo, mas, se essa claridade for filtrada por focos múltiplos, decerto estará submetida à cor e ao potencial de cada um desses filtros, embora continue sendo sempre a mesma lâmpada a fulgurar em seu campo central de acção.

Mediunidade é sintonia e filtragem.
Cada Espírito vive entre as forças com as quais se combina, transmitindo-as segundo as concepções que lhe caracterizam o modo de ser.

Notando o cuidado que o irmão Clementino empregava na preparação dos médiuns, meu colega inquiriu ainda:
— A clarividência e a clariaudiência acaso estão localizadas exclusivamente nos olhos e nos ouvidos da criatura reencarnada?

Aulus acariciou-lhe a cabeça e acentuou:
— Hilário, vê-se que você está começando a jornada no conhecimento superior.

Os olhos e os ouvidos materiais estão para a vidência e para a audição como os óculos estão para os olhos e o ampliador de sons para os ouvidos — simples aparelhos de complementação.

Toda percepção é mental.
Surdos e cegos na experiência física, convenientemente educados, podem ouvir e ver, através de recursos diferentes daqueles que são vulgarmente utilizados.

A onda hertziana e os raios 10º vão ensinando aos homens que há som e luz muito além das acanhadas fronteiras vibratórias em que eles se agitam, e o médium é sempre alguém dotado de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem o horizonte dos sentidos.

Meu companheiro fixou o gesto de quem aproveitara a lição, mas objectou, reverente:
— Desejava, porém, saber se Dona Celina, por exemplo, está enxergando o irmão Clementino e ouvindo-o, tão-somente pelo processo curial de percepção na Terra.
— Sim, isso acontece, por uma questão de costume cristalizado.

Celina pensa ouvir o supervisor, através dos condutos auditivos, e supõe vê-lo, como se o aparelho fotográfico dos olhos estivesse funcionando em conexão com o centro da memória, no entanto, isso resulta do hábito.

Ainda mesmo no campo de impressões comuns, embora a criatura empregue os ouvidos e os olhos, ela vê e ouve com o cérebro, e, apesar de o cérebro usar as células do córtex para seleccionar os sons e imprimir as imagens, quem vê e ouve, na realidade, é a mente.

Todos os sentidos na esfera fisiológica pertencem à alma, que os fixa no corpo carnal, de conformidade com os princípios estabelecidos para a evolução dos Espíritos reencarnados na Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:51 pm

Sorrindo, ajuntou:
— Vocês possuem uma prova disso, quando o homem se encontra naturalmente desdobrado, cada noite, durante o sono, vendo e ouvindo, a despeito da inactividade dos órgãos carnais, na experiência a que chamam “vida de sonho”.

E, baixando o tom de voz, acrescentou:
— Somos receptores de reduzida capacidade, à frente das inumeráveis formas de energia que nos são desfechadas por todos os domínios do Universo, captando apenas humilde fracção delas.

Em suma, nossa mente é um ponto espiritual limitado, a desenvolver-se em conhecimento e amor, na espiritualidade infinita e gloriosa de Deus.

Decorreram mais alguns instantes.
— Centralizemos mais atenção na prece, adestrando-nos para o serviço do bem!

Essa frase foi pronunciada por Clementino, em voz clara e pausada, como a oferecer uma base única para a convergência de nossas cogitações.

Atento, porém, aos nossos objectivos de estudo, acompanhei os médiuns mais directamente interessados no apelo.

Dona Celina registara as palavras com precisão e guardava a atitude do aluno disciplinado.
Dona Eugénia assimilara-as, em forma de ordem intuitiva, e mostrava-se na condição do aprendiz criterioso.

Castro, contudo, não as recolhera nem de leve.
Com permissão do supervisor, pusemo-nos em tarefa de análise.

Observei que subtilmente ligados à faixa fluídica de Clementino, os três médiuns, cada qual a seu modo, lhe acusavam a presença.

Dona Celina anotava-lhe os mínimos movimentos, à maneira do discípulo diante do professor, Dona Eugénia lhe assinalava a vizinhança
com menos facilidade, qual se o distinguisse imperfeitamente, através dum lençol de nebulosidade, e Castro, embora o visse com perfeição, parecia completamente alheio à influência do instrutor.

— As possibilidades de Celina e Castro, na clarividência e na clariaudiência, são por enquanto mais vastas que em nossa irmã Eugénia — esclareceu Aulus, prestimoso.

Acham-se os três levemente submetidos ao comando magnético de Clementino e podem Identificar-lhe a presença com analogia de observações, porque, nas circunstâncias em que operam, estão agindo como pessoas comuns, utilizando-se da percepção habitual.

— Entretanto — aduziu Hilário —, se o trio foi colocado sob a ordenação magnética do super-visor, por que motivo nossas amigas lhe acataram o convite, enquanto Castro se mantém visivelmente impermeável a ele?

— O mentor do recinto exerce apenas branda influência, abdicando de qualquer pressão mais forte, susceptível de provocar viciosa irmanação, em desfavor de nossos amigos — disse Aulus, convicto.

Além disso, a mente de Castro passou, de súbito, a alimentar propósitos diferentes.

Incapaz de concentrar a atenção, de modo irrepreensível, na região superior do trabalho que nos compete levar a efeito, de momento não mais se revela interessado em satisfazer ao programa de Clementino, mas sim em provocar um reencontro com a progenitora desencarnada.

Enxerga o orientador do conjunto, como quem é constrangido a ver alguém de passagem, todavia, sem qualquer preocupação de escutá-lo ou servi-lo, confinado como se encontra às emoções do jardim doméstico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:51 pm

Basta a indiferença mental para que nada ouça do que mais interessa agora ao esforço colectivo da reunião.

Evidentemente desejoso de definir a lição, no quadro de nossos conhecimentos terrestres, acrescentou:
— É uma antena que se insensibilizou, de improviso, recusando sintonizar-se com a onda que a procura.

Nesse instante, vimos que um companheiro simpático de nosso plano avançou do círculo de espectadores, abeirando-se de Dona Celina e chamando-a, discreto.

A nobre criatura ouviu-lhe a voz, mas não se voltou para trás.
Entretanto, respondeu-lhe em pensamento, numa frase que se fez perfeitamente audível para nós:
— “Encontrar-nos-emos mais tarde.”

Aulus informou, presto:
— É o esposo desencarnado de nossa irmã que a visita, com afectuosa solicitação, contudo, disciplinada quanto é, Celina sabe renunciar ao conforto de ouvi-lo, a fim de colaborar no êxito da reunião com maior segurança.

Logo após, vimos Castro desdobrar-se de novo, auxiliado agora simplesmente pelo forte desejo de ausentar-se do círculo e, revestido das emanações que lhe desfiguravam o perispírito, caminhou, hesitante, ao encontro de uma entidade amiga que o aguardava a pequena distância.

— Nosso cooperador — falou o Assistente —, menos habituado à disciplina edificante, julga que já fez o possível, em favor dos trabalhos programados para esta noite, e põe-se no encalço da mãezinha, que vem sendo beneficiada em nossa organização.

Não nos foi, porém, possível alongar anotações.
Clementino, à cabeceira da assembleia, estendeu os braços e colocou-se em prece.

Cintilações de safirino esplendor revestiam-lhe agora o busto, dando-nos a impressão de que o abnegado benfeitor se convertera num anjo sem asas.

Em momentos ligeiros, verdadeiro jorro solar desceu do Alto, coroando-lhe a fronte e, de suas mãos, passou a irradiar-se prodigiosa fonte de luz, que nos alcançava a todos, encarnados e desencarnados, prodigalizando-nos a sensação de indescritível bem-estar.

Nada consegui dizer, não obstante as perquirições que me esfuziavam o pensamento.
O êxtase do mentor impelia-nos a respeitosa mudez.

Aqueles minutos de vibração sem palavras representavam precioso manancial de energias restauradoras para quantos lhe abrissem as portas do espírito.

É o que eu conseguia depreender pelo revigoramento de minhas próprias forças.
Terminada que foi a operação inesquecível, Raul solicitou ainda alguns instantes de tranquilidade e expectativa.

Competia ao grupo aguardar a manifestação de algum dos orientadores da casa, à guisa de instrução geral no encerramento.

Dona Celina rogou licença para notificar que vira surgir no recinto um ribeiro cristalino, em cuja corrente muitos enfermos se banhavam, e Dona Eugénia seguiu-a, explicando que chegara a contemplar um edifício repleto de crianças, entoando hinos de louvor a Deus.

Registarmos semelhantes comunicados com surpresa.
Nada víramos ali que pudesse recordar sequer de longe um córrego de águas curativas ou algum pavilhão de serviço à infância.

A sala era demasiado estreita para comportar tais cenários.
Fitando-me, intrigado, Hilário parecia perguntar se as duas médiuns não estariam sob o influxo de alguma perturbação momentânea.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:52 pm

Assinalando-nos a estranheza, o Assistente considerou, prestimoso:
— Importa não esquecer que ambas se encontram reunidas na faixa magnética de Clementino, fixando as imagens que a mente dele lhes sugere.

Viram-lhe os pensamentos, relacionados com a obra de amparo aos doentes e com a formação de uma escola, que a instituição pretende, em breve, mobilizar no socorro ao próximo.

Ideias, elaboradas com atenção, geram formas, tocadas de movimento, som e cor, perfeitamente perceptíveis por todos aqueles que se encontrem sintonizados na onda em que se expressam.

Não podemos olvidar que há fenómenos de clarividência e clariaudiência que partem da observação activa dos instrumentos mediúnicos, identificando a existência de pessoas, paisagens e coisas exteriores a eles próprios, qual acontece na percepção terrestre vulgar, e existem aqueles que decorrem da sugestão que lhes é trazida pelo pensamento criador dos amigos desencarnados ou encarnados, estímulos esses que a mente de cada médium traduz, segundo as possibilidades de que dispõe, favorecendo, por isso mesmo, as mais díspares interpretações.

— Oh! — exclamou Hilário, entusiasmado — temos aí a técnica dos obsessores quando improvisam para as suas vítimas variadas impressões alucinatórias...
— Sim, sim... — confirmou o Assistente.

É isso mesmo No entanto, evitemos a conversação agora. O trabalho da reunião vai terminar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:52 pm

13 - Pensamento e mediunidade

O silêncio se fez profundo e respeitoso.

O grupo esperava a mensagem terminal.
Senti que o ambiente se fizera mais leve, mais agradável.

Sobre a cabeça de Dona Celina apareceu brilhante feixe de luz.
Desde esse instante, vimo-la extática, completamente desligada do corpo físico, cercada de azulíneas irradiações.

Admirado com o belo fenómeno, enderecei um gesto de interrogação ao nosso orientador, que explicou sem detença:
— Nossa irmã Celina transmitirá a palavra de um benfeitor que, apesar de ausente daqui, sob o ponto de vista espacial, entrará em comunhão connosco através dos fluidos teledinâmicos que o ligam à mente da médium.

— Mas Isso é possível? — indagou Hilário, discretamente.

Aulus ponderou, de imediato:
— Lembre-se da radiofonia e da televisão, hoje realizações amplamente conhecidas no mundo.

Um homem, de cidade a cidade, pode ouvir a mensagem de um companheiro e vê-lo ao mesmo tempo, desde que ambos estejam em perfeita sintonia, através do mesmo comprimento de onda.

Celina conhece a sublimidade das forças que a envolvem e entrega-se, confiante, assimilando a corrente mental que a solicita.

Irradiará o comunicado-lição, automaticamente, qual acontece na psicofonia sonambúlica, porque o amigo espiritual lhe encontra as células cerebrais e as energias nervosas quais teclas bem ajustadas de um piano harmonioso e dócil.

O Assistente emudeceu, de súbito, fixando o olhar no jacto de safirina luz, que se fizera mais abundante, a espraiar-se em todos os ângulos do recinto.

Contemplei os circunstantes.
O rosto da médium reflectia uma ventura misteriosa e ignorada na Terra.
O júbilo que a possuía como que contagiara todos os presentes.

Dispunha-me a prosseguir observando, mas a destra do Assistente tocou-me, de leve, recordando-me a quietude e o respeito.

Foi então que a voz diferenciada de Dona Celina ressoou, clara e comovente, mais ou menos nestes termos:
— Meus amigos — começou a dizer o instrutor que nos acompanhava o trabalho a longa distancia —, guardemos a paz que Jesus nos legou, a fixa de que possamos servi-lo em paz.

Em matéria de mediunidade, não nos esqueçamos do pensamento.
Nossa alma vive onde se lhe situa o coração.
Caminharemos, ao influxo de nossas próprias criações, seja onde for.

A gravitação no campo mental é tão incisiva, quanto na esfera da experiência física.

Servindo ao progresso geral, move-se a alma na glória do bem.
Emparedando-se no egoísmo, arrasta-se, em desequilíbrio, sob as trevas do mal.

A Lei Divina é o Bem de Todos.
Colaborar na execução de seus propósitos sábios é iluminar a mente e clarear a vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:52 pm

Opor-lhe entraves, a pretexto de acalentar caprichos perniciosos, é obscurecer o raciocínio e coagular a sombra ao redor de nós mesmos.

É indispensável ajuizar quanto à direcção dos próprios passos, de modo a evitarmos o nevoeiro da perturbação e a dor do arrependimento.

Nos domínios do espírito não existe a neutralidade.
Evoluímos com a luz eterna, segundo os desígnios de Deus, ou estacionamos na treva, conforme a indébita determinação de nosso «eu».

Não vale encarnar-se ou desencarnar-se simplesmente.
Todos os dias, as formas se fazem e se desfazem.

Vale a renovação interior com acréscimo de visão, a fim de seguirmos à frente, com a verdadeira noção da eternidade em que nos deslocamos no tempo.

Consciência pesada de propósitos malignos, revestida de remorsos, referta de ambições desvairadas ou denegrida de aflições não pode senão atrair forças semelhantes que a encadeiam a torvelinhos infernais.

A obsessão é sinistro conúbio da mente com o desequilíbrio comum às trevas.
Pensamos, e imprimimos existência ao objecto idealizado.

A resultante visível de nossas cogitações mais íntimas denuncia a condição espiritual que nos é própria, e quantos se afinam com a natureza de nossas inclinações e desejos aproximam-se de nós, pelas amostras de nossos pensamentos.

Se persistimos nas esferas mais baixas da experiência humana, os que ainda jornadeiam nas linhas da animalidade nos procuram, atraídos pelo tipo de nossos impulsos inferiores, absorvendo as substâncias mentais que emitimos e projectando sobre nós os elementos de que se fazem portadores.

Imaginar é criar.
E toda criação tem vida e movimento, ainda que ligeiros, impondo responsabilidade à consciência que a manifesta.

E como a vida e movimento se vinculam aos princípios de permuta, é indispensável analisar o que damos, a fim de ajuizar quanto àquilo que devamos receber.

Quem apenas mentalize angústia e crime, miséria e perturbação, poderá reflectir no espelho da própria alma outras imagens que não sejam as da desarmonia e do sofrimento?

Um viciado entre os santos não lhes reconheceria a pureza, de vez que, em se alimentando das próprias emanações, nada conseguiria enxergar senão as próprias sombras.

Quem vive a procurar pedras na estrada, certamente não encontrará apenas calhaus subservientes.
Quem se detenha indefinidamente na medição de lama está ameaçado de afogamento no lodo.

O viajante fascinado pelos sarçais, à beira do caminho, sofre o risco de enlouquecer entre os espinheiros do mato inculto.

Vigiemos o pensamento, purificando-o no trabalho incessante do bem, para que arrojemos de nós a grilheta capaz de acorrentar-nos a obscuros processos de vida inferior.

É da forja viva da ideia que saem as asas dos anjos e as algemas dos condenados.

Pelo pensamento, escravizamo-nos a troncos de suplício infernal, sentenciando-nos, por vezes, a séculos de peregrinação nos trilhos da dor e da morte.

A mediunidade torturada não é senão o enlace de almas comprometidas em aflitivas provações, nos lances do reajuste.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:53 pm

E, para abreviar o tormento que flagela de mil modos a consciência reencarnada ou desencarnada, quando nas grades expiatórias, é imprescindível atender à renovação mental, único meio de recuperação da harmonia.

Satisfazer-se alguém com o rótulo, em matéria religiosa, sem qualquer esforço de sublimação interior, é tão perigoso para a alma quanto deter uma designação honorifica entre os homens com menosprezo pela responsabilidade que ela impõe.

Títulos de fé não constituem meras palavras, acobertando-nos deficiências e fraquezas.
Expressam deveres de melhoria a que não nos será lícito fugir, sem agravo de obrigações.

Em nossos círculos de trabalho, desse modo, não nos bastará o acto de crer e convencer.

Ninguém é realmente espírita à altura desse nome, tão-só porque haja conseguido a cura de uma escabiose renitente, com o amparo de entidades amigas, e se decida, por isso, a aceitar a intervenção do Além-Túmulo na sua existência;
e ninguém é médium, na elevada conceituação do termo, somente porque se faça órgão de comunicação entre criaturas visíveis e invisíveis.

Para conquistar a posição de trabalho a que nos destinamos, de conformidade com os princípios superiores que nos enaltecem o roteiro, é necessário concretizar-lhes a essência em nossa estrada, por intermédio do testemunho de nossa conversão ao amor santificante.

Não bastará, portanto, meditar a grandeza de nosso idealismo superior. É preciso substancializar-lhe a excelsitude em nossas manifestações de cada dia.

Os grandes artistas sabem colocar a centelha do génio numa simples pincelada, num reduzido bloco de mármore ou na mais ingénua composição musical.

As almas realmente convertidas ao Cristo lhe reflectem a beleza nos mínimos gestos de cada hora, seja na emissão de uma frase curta, na ignorada cooperação em favor dos semelhantes ou na renúncia silenciosa que a apreciação terrestre não chega a conhecer.

Nossos pensamentos geram nossos actos e nossos actos geram pensamentos nos outros.

Inspiremos simpatia e elevação, nobreza e bondade, junto de nós, para que não nos falte amanhã o precioso pão da alegria.

Convicção de imortalidade, sem altura de espírito que lhe corresponda, será projecção de luz no deserto.

Mediação entre dois planos diferentes, sem elevação de nível moral, é estagnação na inutilidade.

O pensamento é tão significativo na mediunidade, quanto o leito é importante para o rio.
Ponde as águas puras sobre um leito de lama pútrida e não tereis senão a escura corrente da viciação.

Indubitavelmente, divinas mensagens descerão do Céu à Terra. Entretanto, para isso, é imperioso construir canalização adequada.

Jesus espera pela formação de mensageiros humanos capazes de projectar no mundo as maravilhas do seu Reino.
Para atingir esse aprimoramento ideal é imprescindível que o detentor de faculdades psíquicas não se detenha no simples intercâmbio.

Ser-lhe-á indispensável a consagração de suas forças às mais altas formas de vida, buscando na educação de si mesmo e no serviço desinteressado a favor do próximo o material de pavimentação de sua própria senda.

A comunhão com os orientadores do progresso espiritual do mundo, através do livro, nos enriquece de conhecimento, acentuando-nos o valor mental;
e a plantação de bondade constante traz consigo a colheita de simpatia, sem a qual o celeiro da existência se reduz a furna de desespero e desânimo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:53 pm

Não basta ver, ouvir ou incorporar Espíritos desencarnados, para que alguém seja conduzido à respeitabilidade.

Irmãos ignorantes ou irresponsáveis enxameiam, como é natural, todos os departamentos da Terra, em vista da posição evolutiva deficitária em que ainda se encontram as colectividades do Planeta e, muita vez, sem qualquer raiz de perversidade propriamente dita, milhares de almas, despidas do envoltório denso, praticam o vampirismo junto dos encarnados invigilantes, simplesmente no intuito de prosseguirem coladas às sensações do campo físico das quais não se sentem com suficiente coragem para se desenvencilharem.

Toda tarefa, para crescer, exige trabalhadores que se dediquem ao crescimento, à elevação de si mesmos.

Isso é demasiado claro em todos os planos da Natureza.
Não há frutos na árvore nascente.

A madeira não desbastada é incapaz de servir, com eficiência, ao santuário doméstico.
A areia movediça não garante a sustentação.
Não se faz luz na candeia sem óleo.

O carro não transita com êxito onde a picareta ainda não estruturou a estrada conveniente.

Como esperardes o pensamento divino, onde o pensamento humano se perde nas mais baixas cogitações da vida?

Que mensageiro do Céu fará fulgir a mensagem celestial em nosso entendimento, quando o espelho de nossa alma jaz denegrido pelos mais inferiores dos interesses?

Em vão buscaria a estrela retratar-se na lama de um charco.
Amigos, pensemos no bem e executemo-lo.
Tudo o que existe dentro da Natureza é a ideia exteriorizada.

O Universo é a projecção da Mente Divina e a Terra, qual a conheceis em seu conteúdo político e social, é produto da Mente Humana.

Civilizações e povos, culturas e experiências constituem formas de pensamento, através das quais envolvemos, incessantemente, para esferas mais altas.

Atentemos, pois, para a obrigação de auto-aperfeiçoamento.

Sem compreensão e sem bondade, irmanar-nos-emos aos filhos desventurados da rebeldia. Sem estudo e sem observação, demorar-nos-emos indefinidamente entre os infortunados expoentes da ignorância.

Amor e sabedoria são as asas com que faremos nosso voo definitivo, no rumo da perfeita comunhão com o Pai Celestial.

Escalemos o plano superior, instilando pensamentos de sublimação naqueles que nos cercam.

A palavra esclarece.
O exemplo arrebata.
Ajustemo-nos ao Evangelho Redentor.
Cristo é a meta de nossa renovação.

Regenerando a nossa existência pelos padrões dEle, reestruturaremos a vida íntima daqueles que nos rodeiam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:53 pm

Meus amigos, crede!...
O pensamento puro e operante é a força que nos arroja do ódio ao amor, da dor à alegria, da Terra ao Céu...

Procuremos a consciência de Jesus para que a nossa consciência lhe retrate a perfeição e a beleza!...

Saibamos reflectir-lhe a glória e o amor, a fim de que a luz celeste se espelhe sobre as almas, como o esplendor solar se estende sobre o mundo.

Comecemos nosso esforço de soerguimento espiritual desde hoje e, amanhã, teremos avançado consideravelmente no grande caminho!..

Meus amigos, meus irmãos, rogando a Jesus que nos ampare a todos, deixo-vos com um até breve.

A voz da médium emudeceu.
Sensibilizados, reparamos que, no alto, se apagara o jorro brilhante.

Raul Silva, em prece curta, encerrou a reunião.

Enlaçamos Clementino às despedidas.
— Voltem sempre — convidou-nos gentil.

Sim, sim, continuaríamos aprendendo.
E, lado a lado com o nosso orientador, retiramo-nos, felizes, como quem sorvera a água viva da paz, na taça da alegria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 13, 2012 9:53 pm

14 - Em serviço espiritual

Distanciávamo-nos da instituição, quando o marido desencarnado de Dona Celina, cuja presença assinaláramos no decurso da reunião, se aproximou de nós.

Demonstrava conhecer nosso orientador, porque estacou ao nosso lado e exclamou:
— Meu caro Assistente, por obséquio...

Áulus apresentou-nos o novo amigo:
É o nosso irmão Abelardo Martins.
Foi o esposo de nossa cooperadora Celina e vem-se adaptando aos nossos regimes de acção.

Via-se, de pronto, que Abelardo não era uma entidade de escol.

As maneiras e a voz traíam-lhe a condição espiritual de criatura ainda profundamente arraigada aos hábitos terrestres.

— Meu caro Assistente — continuou, inquieto —, venho rogar-lhe auxílio em favor de Libório.
O socorro do grupo melhorou-lhe as disposições, mas agora é a mulher que piorou, perseguindo-o...

— Conte connosco — aderiu o orientador, de boa-vontade —, contudo, é importante que Celina nos ajude.

E, afagando-lhe os ombros, concluiu:
— Volte à companheira e, tão logo se desligue Celina do corpo, pela influência do sono, traga-a em sua companhia, a fim de que possamos seguir todos juntos. Aguardá-los-emos no jardim próximo.

O interlocutor afastou-se, contente, enquanto penetrávamos enorme praça arborizada.
Detivemo-nos, à espera dos companheiros, e, aproveitando os minutos, Aulus se reportou à solicitação recebida.

Abelardo interessava-se por Libério dos Santos, o primeiro comunicante daquela noite, que viramos amparado, por intermédio de Dona Eugénia.

E, alongando explicações, informou-nos que o esposo de Dona Celina vagueara por muito tempo, em desespero.
Na experiência física, fora um homem temperamental e não se resignara, de imediato, às imposições da morte.

Atrabiliário e voluntarioso, desencarnara muito cedo, em razão dos excessos que lhe minaram a força orgânica.

Tentou, em vão, obsidiar a esposa, cujo concurso reclamava qual se lhe fora simples serva.

Reconhecendo-se incapaz de vampirizá-la, excursionou, alguns anos, no domínio das sombras, entre Espíritos rebelados e irreverentes, até que as orações da companheira, coadjuvadas pela intercessão de muitos amigos, conseguiram demovê-lo.

Curvara-se, enfim, à evidência dos factos.

Reconheceu a impropriedade da intemperança mental em que se comprazia e, depois de convenientemente preparado pela assistência do grupo de amigos que acabávamos de deixar, foi admitido numa organização socorrista, em que passou a servir como vigilante de irmãos desequilibrados.

Tão logo o Assistente completou a rápida biografia, Hilário considerou, curioso:
— O contacto com Abelardo suscita indagações interessantes...
Continuará ele, porventura, em comunhão com a esposa?

— Sim — elucidou o orientador —, o amor entre ambos tem profundas raízes no pretérito.
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 3 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:45 pm

— Apesar da diferença em que se exprimem?
— Porque não?
Acaso, o Pai Celestial deixa de amar-nos, não obstante as falhas com que pautamos, ainda, a vida que nos é própria?

— Realmente — concordou meu colega, um tanto desapontado —, este argumento é indiscutível.
Entretanto, Abelardo religou-se à mulher?
— Perfeitamente.
Nela encontra valioso incentivo ao trabalho de auto-recuperação em que estagia.

— Mas, na posição de Espírito desencarnado, chega a partilhar-lhe o templo doméstico?

— Tanto quanto lhe é possível.
Por haver descido consideravelmente à indisciplina e à perturbação, ainda sofre as consequências desagradáveis do desequilíbrio a que se rendeu e, por esse motivo, o lar terreno, com a ternura da esposa, é o maior paraíso que poderá receber por enquanto.

Diariamente se entrega ao serviço árduo, na obra assistencial em favor de companheiros ensandecidos, mas descansa, sempre que oportuno, no jardim familiar, ao lado da companheira.

Uma vez por semana, acompanha-lhe o culto íntimo de oração, é-lhe firme associado nas tarefas mediúnicas e, todas as noites em que se sentem favorecidos pelas circunstâncias, consagram-se ambos ao trabalho de auxílio aos doentes.

Não foram apenas cônjuges, conforme as disposições da carne.
São infinitamente amigos e Abelardo agora procura aproveitar o tempo, a benefício do seu reajuste, sonhando receber a esposa com novos títulos de elevação, quando Celina for novamente trazida à pátria espiritual.

— Isso, porém, é comum?
A separação dos casais é apenas imaginária?
— Um caso não faz regra — ponderou o Assistente bem-humorado.

Onde não prevalecem as afinidades do sentimento, o matrimónio terrestre é um serviço redentor e nada mais.

Na maioria das situações, a morte do corpo somente ratifica uma separação que já existia na experiência vulgar.

Nesses casos, o cônjuge que abandona o envoltório físico se retira da prova a que se submeteu, à maneira do devedor que atingiu a paz do resgate.

Todavia, quando os laços da alma sobre-pairam às emoções da jornada humana, ainda mesmo que surja o segundo casamento para o cônjuge que se demora no mundo, a comunhão espiritual continua, sublime, em doce e constante permuta de vibrações e pensamentos.

Hilário reflectiu alguns momentos e conjecturou:
— A travessia pelo túmulo impõe efectivamente ao Espírito singulares modificações...
Cada viajor em sua estrada, cada coração com seu problema...

— Bem-aventurados os que se renovam para o bem! — exclamou Aulus, satisfeito.
O verdadeiro amor é a sublimação em marcha, através da renúncia.

Quem não puder ceder, a favor da alegria da criatura amada, sem dúvida saberá querer com entusiasmo e carinho, mas não saberá coroar-se com a glória do amor puro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:46 pm

Depois da morte, habitualmente aprendemos, no sacrifício dos próprios sonhos, a ciência de amar, não segundo nossos desejos, mas de conformidade com a Lei do Senhor:
mães obrigadas a entregar os filhinhos a provas de que necessitam, pais que se vêem compelidos a renovar projectos de protecção à família, esposas constrangidas a entregar os maridos a outras almas irmãs, esposos que são impelidos a aceitar a colaboração das segundas núpcias, no lar de que foram desalojados...

Tudo isso encontramos na vizinhança da Terra.
A morte é uma intimação ao entendimento fraternal...
E quando lhe não aceitamos o desafio, o sofrimento é o nosso quinhão...

E, com largo sorriso, ajuntou:
— Quando o amor não sabe dividir-se, a felicidade não consegue multiplicar-se.
A conversação prosseguia valiosa e animada, quando Abelardo e Celina chegaram até nós.

Vinham reconfortados, felizes.
Em companhia da esposa, o novo amigo parecia mais leve e radiante, como se lhe absorvesse a vitalidade e a alegria.

Notei que Hilário, pela expressão fisionómica, trazia consigo um novo mundo de indagações a exteriorizar.

Contudo, Aulus advertiu:
— Sigamos! É necessário agir com presteza.
A breve tempo, penetramos nebulosa região, dentro da noite.

Os astros desapareceram a nossos olhos.
Tive a impressão de que o piche gaseificado era o elemento preponderante naquele ambiente.

Em redor, proliferavam soluços e imprecações, mas a pequenina lâmpada que Abelardo agora empunhava, auxiliando-nos, não nos permitia enxergar senão o trilho estreito que nos cabia percorrer.

Findos alguns minutos de marcha, atingimos uma construção mal iluminada, em que vários enfermos se demoravam, sob a assistência de enfermeiros atenciosos.

Entramos.
Aulus explicou que estávamos ali diante de um hospital de emergência, dos muitos que se estendem nas regiões purgatoriais.
Tudo pobreza, necessidade, sofrimento...

— Este é o meu templo actual de trabalho — disse-nos Abelardo, orgulhoso de ser ali uma peça importante na máquina de serviço.

O irmão Justino, director da instituição, veio até nós e cumprimentou-nos.
Pediu escusas por lhe não ser possível acompanhar-nos.
A casa jazia repleta de psicopatas desencarnados e não poderia, dessa forma, deter-se naquele momento.

Deu-nos, porém, permissão para agir com plena liberdade.
A desarmonia era efectivamente tão grande no local que não pude sopitar meu espanto.
Como cogitar de reajuste num meio atormentado quanto aquele?

O Assistente, contudo, amparou-me, aclarando:
— Importa reconhecer que este pouso é um refúgio para desesperados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:46 pm

Segundo a reacção que apresentam, são conduzidos, de pronto, a estabelecimentos de recuperação positiva ou regressam às linhas de aflição de que procedem.

Aqui apenas atravessam pequeno estágio de recuperação.
Alcançáramos o leito simples em que Libério, de olhar esgazeado, se mostrava distante de qualquer interesse pela nossa presença.

Enxergava-nos, impassível.
Exibia o semblante dos loucos, quando transfigurados por ocultas flagelações.

Um dos guardas veio até nós e comunicou a Abelardo que o doente trazido à internação denotava crescente angústia.

Aulus auscultou-o, paternalmente, e, em seguida, informou:
— O pensamento da irmã encarnada que o nosso amigo vampiriza está presente nele, atormentando-o.

Acham-se ambos sintonizados na mesma onda.
É um caso de perseguição recíproca.
Os benefícios recolhidos no grupo estão agora eclipsados pelas sugestões arremessadas de longe.

— Temos então aqui — aleguei — um símile perfeito do que verificamos comumente na Terra, nos sectores da mediunidade torturada.

Médiuns existem que, aliviados dos vexames que recebem por parte de entidades inferiores, depressa como que lhes reclamam a presença, religando-se a elas automaticamente, embora o nosso mais sadio propósito de libertá-los.

— Sim — aprovou o orientador —, enquanto não lhes modificamos as disposições espirituais, favorecendo-lhes a criação de novos pensamentos, jazem no regime da escravidão mútua, em que obsessores e obsidiados se nutrem das emanações uns dos outros.

Temem a separação, pelos hábitos cristalizados em que se associam, segundo os princípios da afinidade, e daí surgem os impedimentos para a dupla recuperação que lhes desejamos.

O doente fizera-se mais angustiado, mais pálido.
Parecia registar uma tempestade interior, pavorosa e incoercível.

— Tudo indica a vizinhança da irmã que se lhe apoderou da mente.
Nosso companheiro se revela mais dominado, mais aflito...

Mal acabara o orientador de formular o seu prognóstico e a pobre mulher, desligada do corpo físico pela actuação do sono, apareceu à nossa frente, reclamando feroz:
— Libório! Libório! Porque te ausentaste?
Não me abandones! Regressemos para nossa casa! Atende, atende!...

— Que vemos? — exclamou Hilário, intrigado.
— Não será esta a criatura que o serviço desta noite pretende isolar das más influências?

E porque o orientador respondesse de modo afirmativo, meu colega continuou:
— Deus de bondade! Mas não está ela interessada no reajustamento da própria saúde?
Não roga socorro à instituição que frequenta?

— Isso é o que ela julga querer — explicou Aulus, cuidadoso —, entretanto, no íntimo, alimenta-se com os fluidos enfermiços do companheiro desencarnado e apega-se a ele, instintivamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:46 pm

Milhares de pessoas são assim.
Registam doenças de variados matizes e com elas se adaptam para mais segura acomodação com o menor esforço.

Dizem-se prejudicadas e inquietas, todavia, quando se lhes subtrai a moléstia de que se fazem portadoras, sentem-se vazias e padecentes, provocando sintomas e impressões com que evocam as enfermidades a se exprimirem, de novo, em diferentes manifestações, auxiliando-as a cultivar a posição de vítimas, na qual se comprazem.

Isso acontece na maioria dos fenómenos de obsessão.
Encarnados e desencarnados se prendem uns aos outros, sob vigorosa fascinação mútua, até que o centro de vida mental se lhes altere.

É por esse motivo que, em muitas ocasiões, as dores maiores são chamadas a funcionar sobre as dores menores, com o objectivo de acordar as almas viciadas nesse género de trocas inferiores.

A esse tempo, a recém-chegada conseguira abeirar-se mais intimamente de Libório, que passou a demonstrar visível satisfação.
Sorria ele agora à maneira de uma criança contente.

Identificando, porém, a presença de Dona Celina, a infeliz bradou, colérica:
— Quem é esta mulher? diz! diz!...

Nossa abnegada amiga avançou para ela com simplicidade e implorou:
— Minha irmã, acalme-se!
Libório está fatigado, enfermo!
Ajudemo-lo a repousar!...

A interlocutora não lhe suportou o olhar doce e benigno e, longe de reconhecer a prestimosa médium do grupo a que se associara, enceguecida de ciúme, gritou para o enfermo palavras amargas, que não seria licito reproduzir, e abandonou o recinto, em desabalada carreira.

Libório mostrou evidente contrariedade.
Áulus, contudo, aplicou-lhe passes, restituindo-lhe a calma.

Em seguida, o Assistente nos disse, amorável:
— Como vemos, a Bondade Divina é tão grande que até os nossos sentimentos menos dignos são aproveitados em nossa própria defesa.

O despeito da visitante, encontrando Celina junto do enfermo, dar-nos-á tréguas valiosas, de vez que teremos algum tempo para auxiliá-lo nas reflexões necessárias.

Quando acordar no corpo carnal, pela manhã, nossa pobre amiga lembrar-se-á vagamente de haver sonhado com Libório, ao lado de uma companheira, pintando um quadro de impressões a seu bel-prazer, porquanto cada mente vê nos outros aquilo que traz em si mesma.

Abelardo estava satisfeito.
Acariciava o doente, antevendo-lhe as melhoras.

Hilário, semi-espantado, considerou:
— O que me assombra é reconhecer o serviço incessante por toda a parte.
Na vigília e no sono, na vida e na morte...

Respondeu Aulus, sorrindo:
— Sim, a inércia é simplesmente ilusão e a preguiça é fuga que a Lei pune com as aflições da rectaguarda.
Mas, nossa tarefa estava agora cumprida.

E, por isso, afastamo-nos.

Daí a minutos, despedindo-nos, prometeu o Assistente reencontrar-nos, para a continuidade de nossas observações, na noite seguinte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:47 pm

15 - Forças viciadas

Caía a noite...

Após o dia quente, a multidão desfilava na via pública, evidentemente buscando o ar fresco.

Dirigíamo-nos a outro templo espírita, em companhia de Aulus, segundo o nosso plano de trabalho, quando tivemos nossa atenção voltada para enorme gritaria.

Dois guardas arrastavam, de restaurante barato, um homem maduro em deploráveis condições de embriaguez.

O mísero esperneava e proferia palavras rudes, protestando...
— Observem o nosso infeliz irmão! — determinou o orientador.

E porque não havia muito tempo entre a porta ruidosa e o carro policial, pusemo-nos em observação.

Achava-se o pobre amigo abraçado por uma entidade da sombra, qual se um polvo estranho o absorvesse.

Num átimo, reparamos que a bebedeira alcançava os dois, porquanto se justapunham completamente um ao outro, exibindo as mesmas perturbações.

Em breves instantes, o veículo buzinou com pressa e não nos foi possível dilatar anotações.

— O quadro daria ensejo a valiosos apontamentos...
Ante a alegação de Hilário, o Assistente considerou que dispúnhamos de tempo bastante para a colheita de alguns registos interessantes e convidou-nos a entrar.

A casa de pasto regurgitava...
Muita alegria, muita gente.
Lá dentro, certo recolheríamos material adequado a expressivas lições.

Transpusemos a entrada.
As emanações do ambiente produziam em nós indefinível mal-estar.
Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes.

Algumas sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelo calor dos pulmões que as expulsavam, nisso encontrando alegria e alimento.
Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes.

Indicando-as, informou o orientador:
— Muitos de nossos irmãos, que já se desenvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar.

— Mas por que mergulhar, dessa forma, em prazeres dessa espécie?
— Hilário — disse o Assistente, bondoso —, o que a vida começou, a morte continua...

Esses nossos companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos do mundo, alimentando-se com um tipo de emoções que os localiza na vizinhança da animalidade.

Não obstante haverem frequentado santuários religiosos, não se preocuparam em atender aos princípios da fé que abraçaram, acreditando que a existência devia ser para eles o culto de satisfações menos dignas, com a exaltação dos mais astuciosos e dos mais fortes.

O chamamento da morte encontrou-os na esfera de impressões delituosas e escuras e, como é da Lei que cada alma receba da vida de conformidade com aquilo que dá, não encontram interesse senão nos lugares onde podem nutrir as ilusões que lhes são peculiares, porquanto, na posição em que se vêem, temem a verdade e abominam-na, procedendo como a coruja que foge à luz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:47 pm

Meu colega fez um gesto de piedade e indagou:
— Entretanto, como se transformarão?

— Chegará o dia em que a própria Natureza lhes esvaziará o cálice — respondeu Áulus, convicto.
Há mil processos de reajuste, no Universo Infinito em que se cumprem os Desígnios do Senhor, chamem-se eles aflição, desencanto, cansaço, tédio, sofrimento, cárcere...

— Contudo — ponderei —, tudo indica que esses Espíritos infortunados não se enfastiarão tão cedo da loucura em que se comprazem...

— Concordo plenamente — redarguiu o instrutor —, todavia, quando não se fatiguem, a Lei poderá conduzi-los a prisão regeneradora.
— Como?

A pergunta de Hilário ecoou, cristalina, e o Assistente deu-se pressa em explicar:
— Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício.

Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil.

Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem...

— No entanto — comentei —, e se os nossos irmãos encarnados, visivelmente confiados à devassidão, resolvessem reconsiderar o próprio caminho?... se voltassem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem?...

— Ah! isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando com segurança os amigos desencarnados...
Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres...

Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heróico.

Observando os beberrões, cujas taças eram partilhadas pelos sócios que lhes eram invisíveis, Hilário recordou:
— Ontem, visitamos um templo, em que desencarnados sofredores se exprimiam por intermédio de criaturas necessitadas de auxílio, e ali estudamos algo sobre mediunidade...

Aqui, vemos entidades viciosas valendo-se de pessoas que com elas se afinam numa perfeita comunhão de forças superiores...
Aqui, tanto quanto lá, seria lícito ver a mediunidade em acção?

— Sem qualquer dúvida — confirmou o orientador —; recursos psíquicos, nesse ou naquele grau de desenvolvimento, são peculiares a todos, tanto quanto o poder de locomoção ou a faculdade de respirar, constituindo forças que o Espírito encarnado ou desencarnado pode empregar no bem ou no mal de si mesmo.

Ser médium não quer dizer que a alma esteja agraciada por privilégios ou conquistas feitas.

Muitas vezes, é possível encontrar pessoas altamente favorecidas com o dom da mediunidade, mas dominadas, subjugadas por entidades sombrias ou delinquentes, com as quais se afinam de modo perfeito, servindo ao escândalo e à perturbação, em vez de cooperarem na extensão do bem.

Por isso é que não basta a mediunidade para a concretização dos serviços que nos competem.

Precisamos da Doutrina do Espiritismo, do Cristianismo Puro, a fim de controlar a energia medianímica, de maneira a mobilizá-la em favor da sublimação espiritual na fé religiosa, tanto quanto disciplinamos a electricidade, a benefício do conforto na Civilização.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:47 pm

Nisso, Aulus relanceou o olhar pelos aposentos reservados mais próximos, qual se já os conhecesse, e, fixando certa porta, convidou-nos a atravessá-la.

Seguimo-lo, ombro a ombro.
Em mesa lautamente provida com fino conhaque, um rapaz, fumando com volúpia e sob o domínio de uma entidade digna de compaixão pelo aspecto repelente em que se mostrava, escrevia, escrevia, escrevia...

— Estudemos — recomendou o orientador.
O cérebro do moço embebia-se em substância escura e pastosa que escorria das mãos do triste companheiro que o enlaçava.

Via-se-lhes a absoluta associação na autoria dos caracteres escritos.
A dupla em trabalho não nos registou a presença.

— Neste instante — anunciou Aulus, atencioso —, nosso irmão desconhecido é hábil médium psicógrafo.
Tem as células do pensamento integralmente controladas pelo infeliz cultivador de crueldade sob a nossa vista.

Imanta-se-lhe à imaginação e lhe assimila as ideias, atendendo-lhe aos propósitos escusos, através dos princípios da indução magnética, de vez que o rapaz, desejando produzir páginas escabrosas, encontrou quem lhe fortaleça a mente e o ajude nesse mister.

Imprimindo à voz significativa expressão, ajuntou:
— Encontramos sempre o que procuramos ser.

Finda a breve pausa que nos compeliu à reflexão, Hilário recomeçou:
— Todavia, será ele um médium na acepção real do termo?
Será peça activa em agrupamento espírita comum?

— Não. Não está sob qualquer disciplina espiritualizante.
É um moço de inteligência vivaz, sem maior experiência da vida, manejado por entidades perturbadoras.

Após inclinar-se alguns momentos sobre os dois, o instrutor elucidou com benevolência:
— Entre as excitações do álcool e do fumo que saboreiam juntos, pretendem provocar uma reportagem perniciosa, envolvendo uma família em duras aflições.

Houve um homicídio, a cuja margem aparece a influência de certa jovem, aliada às múltiplas causas em que se formou o deplorável acontecimento.

O rapaz que observamos, amigo de operoso lidador da imprensa, é de si mesmo dado à malícia e, com a antena mental ligada para os ângulos mais desagradáveis do problema, ao atender um pedido de colaboração do cronista que lhe é companheiro, encontrou, no caso de que hoje se encarrega, o concurso de ferrenho e viciado perseguidor da menina em foco, interessado em exagerar-lhe a participação na ocorrência, com o fim de martelar-lhe a mente apreensiva e arrojá-la aos abusos da mocidade...

— Mas como? — indagou Hilário, espantadiço.

— O jornalista, de posse do comentário calunioso, será o veículo de informações tendenciosas ao público.

A moça ver-se-á, de um instante para outro, exposta às mais desapiedadas apreciações, e decerto se perturbará, sobremaneira, de vez que não se complicou com o mal, na forma em que se lhe define a colaboração no crime, O obsessor, usando calculadamente o rapaz com quem se afina, pretende alcançar o noticiário de sensação, para deprimir a vida moral dela e, com isso, amolecer-lhe o carácter, trazendo-a, se possível, ao charco vicioso em que ele jaz.

— E conseguirá? — insistiu meu colega, assombrado.
— Quem sabe?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:47 pm

E, algo triste, o orientador acrescentou:
— Naturalmente a jovem teria escolhido o género de provações que atravessa, dispondo-se a lutar, com valor, contra as tentações.

— E se não puder combater com a força precisa?
— Será mais justo dizer se não quiser», porque a Lei não nos confia problemas de trabalho superiores à nossa capacidade de solução.
Assim, pois, caso não delibere guerrear a influência destrutiva, demorar-se-á por muito tempo nas perturbações a que já se encontra ligada em princípio.

— Tudo isso por quê?

A pergunta de Hilário pairou no ar por aflitiva interrogação, todavia, Aulus serenou-nos o ânimo, elucidando:
— Indiscutivelmente, a jovem e o infeliz que a persegue estão unidos um ao outro, desde muito tempo...

Terão estado juntos nas regiões inferiores da vida espiritual, antes da reencarnação com que a menina presentemente vem sendo beneficiada.

Reencontrando-a na experiência física, de cujas vantagens ainda não partilha, o desventurado companheiro tenta incliná-la, de novo, à desordem emotiva, com o objectivo de explorá-la em actuação vampirizante.

Aulus fez ligeiro intervalo, sorriu melancólico e acentuou:
— Entretanto, falar nisso seria abrir as páginas comoventes de enorme romance, desviando-nos do fim que nos propomos atingir.

Detenhamo-nos na mediunidade.

Buscando aliviar a atmosfera de indagações que Hilário sempre condensava em torno de si mesmo, ponderei:
— O quadro sob nossa análise induz à meditação nos fenómenos gerais de intercâmbio em que a Humanidade total se envolve sem perceber...

— Ah! sim! — concordou o orientador — faculdades medianímicas e cooperação do mundo espiritual surgem por toda parte.
Onde há pensamento, há correntes mentais e onde há correntes mentais existe associação.

E toda associação é interdependência e influenciação recíproca.
Daí concluímos quanto à necessidade de vida nobre, a fim de atrairmos pensamentos que nos enobreçam.

Trabalho digno, bondade, compreensão fraterna, serviço aos semelhantes, respeito à Natureza e oração constituem os meios mais puros de assimilar os princípios superiores da vida, porque damos e recebemos, em espírito, no plano das ideias, segundo leis universais que não conseguiremos iludir.

Em silencioso gesto com que nos recordava o dever a cumprir, o Assistente convidou-nos à retirada.

Retomamos a via pública.
Mal recomeçávamos a avançar, quando passou por nós uma ambulância, em marcha vagarosa, sirenando forte para abrir caminho.

A frente, ao lado do condutor, sentava-se um homem de grisalhos cabelos a lhe emoldurarem a fisionomia simpática e preocupada.

Junto dele, porém, abraçando-o com naturalidade e doçura, uma entidade em roupagem lirial lhe envolvia a cabeça em suaves e calmantes irradiações de prateada luz.

— Oh! — inquiriu Hilário, curioso — quem será aquele homem tão bem acompanhado?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:48 pm

Aulus sorriu e esclareceu:
— Nem tudo é energia viciada no caminho comum.
Deve ser um médico em alguma tarefa salvacionista.

— Mas, é espírita?

— Com todo o respeito que devemos ao Espiritismo, é imperioso lembrar que a Bênção do Senhor pode descer sobre qualquer expressão religiosa — afirmou o orientador com expressivo olhar de tolerância.

Deve ser, antes de tudo, um profissional humanitário e generoso que por seus hábitos de ajudar ao próximo se fez credor do auxílio que recebe.

Não lhe bastariam os títulos de espírita e de médico para reter a influência benéfica de que se faz acompanhar.

Para acomodar-se tão harmoniosamente com a entidade que o assiste, precisa possuir uma boa consciência e um coração que irradie paz e fraternidade.

— Contudo, podemos qualificá-lo como médium? — perguntou meu companheiro algo desapontado.
— Como não? — respondeu Aulus, convicto.
É médium de abençoados valores humanos, mormente no socorro aos enfermos, no qual incorpora as correntes mentais dos génios do bem, consagrados ao amor pelos sofredores da Terra.

E, com significativa inflexão de voz, acrescentou:
— Como vemos, influências do bem ou do mal, na esfera evolutiva em que nos achamos, se estendem por todos os lados e por todos os lados registamos a presença de faculdades medianímicas, que as assimilam, segundo a direcção feliz ou infeliz, correcta ou indigna em que cada mente se localiza.

Estudando, assim, a mediunidade, nos santuários do Espiritismo com Jesus, observamos uma força realmente peculiar a todos os seres, de utilidade geral, se sob uma orientação capaz de discipliná-la e conduzi-la para o máximo aproveitamento no bem.

Recordemos a electricidade que, pouco a pouco, vai transformando a face do mundo.
Não basta ser dono de poderosa cachoeira, com o potencial de milhões de cavalos-vapor.

É preciso instalar, junto dela, a inteligência da usina para controlar-lhe os recursos, dinamizá-los e distribuí-los, conforme as necessidades de cada um...

Sem isso, a queda dágua será sempre um quadro vivo de beleza fenoménica, com irremediável desperdício.

O tempo, contudo, não nos permitia maior delonga na conversação e rumamos, desse modo, para um agrupamento em que os nossos estudos da véspera encontrariam o necessário prosseguimento.
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 3 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2012 9:48 pm

16 - Mandato mediúnico

Eram quase vinte horas, quando estacamos à frente de sóbrio edifício, ladeado por vários veículos.

Muita gente ia e vinha.
Desencarnados, em grande cópia, congregavam-se no recinto e fora dele.

Vigilantes de nosso plano estendiam-se, atenciosos, impedindo o acesso de Espíritos impenitentes ou escarnecedores.

Variados grupos de pessoas ganhavam ingresso à intimidade da casa, mas no pórtico experimentavam a separação de certos Espíritos que as seguiam, Espíritos que não eram simples curiosos ou sofredores, mas blasfemadores e remetentes no mal.

Esses casos, porém, constituíam excepção, porque em maioria o séquito de irmãos desencarnados se formava de gente agoniada e enferma, tão necessitada de socorro fraterno como os doentes e aflitos que passavam a acompanhar.

Entramos.
Grande mesa, ao centro de vasta sala, encontrava-se rodeada de largo cordão luminoso, de isolamento.

Em redor, reservava-se ampla área, onde se acomodavam quantos careciam de assistência, encarnados ou não, área essa que se mostrava igualmente protegida por faixas de defesa magnética, sob o cuidado cauteloso de guardas pertencentes à nossa esfera de acção.

A frente, na parte oposta à entrada, vários benfeitores espirituais conferenciavam entre si e, junto deles, respeitável senhora ouvia, prestimosa, diversos pacientes.

Apresentava-se a matrona revestida por extenso halo de irradiações opalinas, e, por mais que projecções de substância sombria a buscassem, através das requisições dos sofredores que a ela se dirigiam, conservava a própria aura sempre lúcida, sem que as emissões de fluidos enfermiços lhe pudessem atingir o campo de forças.

Designando-a com a destra, o Assistente informou:
— É a nossa irmã Ambrosina, que, há mais de vinte anos sucessivos, procura oferecer à mediunidade cristã o que possui de melhor na existência.

Por amor ao ideal que nos orienta, renunciou às mais singelas alegrias do mundo, inclusive o conforto mais amplo do santuário doméstico, de vez que atravessou a mocidade trabalhando, sem a consolação do casamento.

Ambrosina trazia o semblante quebrantado e rugoso, reflectindo, contudo, a paz que lhe vibrava no ser.
Na cabeça, dentre os cabelos grisalhos, salientava-se pequeno funil de luz, à maneira de delicado adorno.

Intrigados, consultamos a experiência de nosso orientador e o esclarecimento não se fez esperar:
— É um aparelho magnético ultra-sensível com que a médium vive em constante contacto com o responsável pela obra espiritual que por ela se realiza.

Pelo tempo de actividade na Causa do Bem e pelos sacrifícios a que se consagrou, Ambrosina recebeu do Plano Superior um mandato de serviço mediúnico, merecendo, por isso, a responsabilidade de mais intima associação com o instrutor que lhe preside às tarefas.

Havendo crescido em influência, viu-se assoberbada por solicitações de múltiplos matizes.
Inspirando fé e esperança a quantos se lhe aproximam do sacerdócio de fraternidade e compreensão, é, naturalmente, assediada pelos mais desconcertantes apelos.

— Vive então flagelada por petitórios e súplicas? — indagou Hilário, inevitavelmente curioso.

— Até certo ponto sim, porque simboliza uma ponte entre dois mundos, entretanto, com a paciência evangélica, sabe ajudar aos outros para que os outros se ajudem, porquanto não lhe seria possível conseguir a solução para todos os problemas que se lhe apresentam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:45 pm

Abeiramo-nos da médium respeitável e modesta e vimo-la pensativa, não obstante o vozerio abafado, em torno.

Não longe, o pensamento conjugado de duas pessoas exteriorizava cenas lamentáveis de um crime em que se haviam embrenhado.

E, percebendo-as, Dona Ambrosina reflectia, falando sem palavras, em frases audíveis tão-somente em nosso meio:
— “Amados amigos espirituais, que fazer?
Identifico nossos irmãos delinquentes e reconheço-lhes os compromissos...

Um homem foi eliminado...
Vejo-lhe a agonia retratada na lembrança dos responsáveis...
Que estarão buscando aqui nossos infortunados companheiros, foragidos da justiça terrestre?”

Reparávamos que a médium temia perder a harmonia vibratória que lhe era peculiar.
Não desejava absorver-se em qualquer preocupação acerca dos visitantes mencionados.

Foi então que um dos mentores presentes se aproximou e tranquilizou-a:
— Ambrosina, não receie. Acalme-se.
É preciso que a aflição não nos perturbe.

Acostume-se a ver nossos irmãos infelizes na condição de criaturas dignas de piedade.
Lembre-se de que nos achamos aqui para auxiliar, e o remédio não foi criado para os sãos.

Compadeça-se, sustentando o próprio equilíbrio!
Somos devedores de amor e respeito uns para com os outros e, quanto mais desventurados, de tanto mais auxílio necessitamos.

É indispensável receber nossos irmãos comprometidos com o mal, como enfermos que nos reclamam carinho.

A médium aquietou-se.
Passou a conversar naturalmente com os frequentadores da casa.

Aqui, alguém desejava socorro para o coração atormentado ou pedia cooperação em benefício de parentes menos felizes.

Ali, suplicava-se concurso fraterno para doentes em desespero, mais além, surgiam requisições de trabalho assistencial.

Dona Ambrosina consolava e prometia.
Quando Gabriel, o orientador, chegasse, o assunto lhe seria exposto.
Decerto, traria a colaboração necessária.

Não decorreram muitos minutos e Gabriel, o mais categorizado mentor da casa, deu entrada no recinto, acompanhado por grande séquito de amigos.

Acomodaram-se em palestra afectiva à frente da mesa.

Aí reunidas, as entidades de vida mental mais nobre estabeleciam naturalmente larga faixa de luz inacessível às sombras que senhoreavam a maioria dos encarnados e desencarnados da grande reunião.

Gabriel e os assessores abraçaram-nos generosos.
Dir-se-ia partilhávamos brilhante festividade, tão vivo se mostrava o júbilo dos instrutores e funcionários espirituais da instituição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:45 pm

O trato com doentes e sofredores dos dois planos não lhes roubava a esperança, a paz, o optimismo...

Compareciam ali, com o abnegado e culto orientador, a quem Aulus não regateava os seus testemunhos de veneração, médicos e professores, enfermeiros e auxiliares desencarnados, prontos para servir na lavoura do bem.

Irradiavam tanta beleza e alegria, que Hilário, tão deslumbrado quanto eu, retornou às perguntas que lhe caracterizavam o temperamento juvenil.

Aqueles amigos, considerando as mensagens de luz e simpatia que projectavam de si mesmos, seriam altos embaixadores da Divina Providência?

Desfrutavam, acaso, o convívio dos santos?
Viveriam em comunhão pessoal com o Cristo?
Teriam alcançado a condição de seres impecáveis?

O Assistente sorriu bem-humorado, e esclareceu:
— Nada disso.
Com todo o apreço que lhes devemos, é preciso considerar que são vanguardeiros do progresso, sem serem infalíveis.

São grandes almas em abençoado processo de sublimação, credoras de nossa reverência pelo grau de elevação que já conquistaram, contudo, são Espíritos ainda ligados à Humanidade terrena e em cujo seio se corporificarão, de novo, no futuro, através do instituto universal da reencarnação, para o desempenho de preciosas tarefas.

— No entanto, à frente da assembleia de criaturas torturadas que observamos, são eles luminares isentos de errar?

— Não — acentuou Aulus, compreensivo.
Não podemos exigir deles qualidades que somente transparecem dos Espíritos que já atingiram a sublimação absoluta.

São altos expoentes de fraternidade e conhecimento superior, porém, guardam ainda consigo probabilidades naturais de desacerto.

Primam pela boa-vontade, pela cultura e pelo próprio sacrifício no auxilio incessante aos companheiros reencarnados, mas podem ser vítimas de equívocos, que se apressam, contudo, a corrigir, sem a vaidade que, em muitas circunstâncias, prejudica os doutos da Terra.

Aqui temos, por exemplo, variados médicos sem o envoltório da experiência física.
Apesar de excelentes profissionais, devotados e beneméritos na missão que esposaram, não seria, contudo, admissível fossem promovidos, de um instante para outro, da ciência fragmentária do mundo à sabedoria integral.

Com a imersão nas realidades da morte, adquirem novas visões da vida, alargam-se-lhes os horizontes da observação.

Compreendem que algo sabem, mas esse algo é muito pouco daquilo que lhes compete saber.
Entregam-se, desse modo, a preciosas cruzadas de serviço e, dentro delas, ajudam e aprendem.

Trabalhadores de outros círculos da experiência humana encontram-se no mesmo regime. Auxiliam e são auxiliados.

Não poderia ser de outro modo. Sabemos que o milagre não existe como derrogação de leis da Natureza.
Somos irmãos uns dos outros, evolvendo juntos, em processo de interdependência, no qual se destaca o esforço individual.

Nessa altura do esclarecimento que registávamos, felizes, Dona Ambrosina sentara-se ao lado do director da sessão, um homem de cabelos grisalhos e fisionomia simpática que havia organizado a mesa orientadora dos trabalhos com catorze pessoas, em que transpareciam a simplicidade e a fé.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:45 pm

Enquanto Gabriel se postava ao lado da médium, aplicando-lhe passes de longo circuito, como a prepará-la com segurança para as actividades da noite, o condutor da reunião pronunciou sentida prece.

Em seguida, foi lido um texto edificante de livro doutrinário, acompanhado por breve anotação evangélica, em cuja escolha preponderou a influência de Gabriel sobre o orientador da casa.

Da leitura global distinguia-se a paciência por tema vivo.
E, realmente, a assembleia, examinada no todo mostrava-se flagelada de problemas inquietantes, reclamando a chave da conformação para alcançar o reequilíbrio.

Dezenas e dezenas de pessoas aglomeravam-se, em derredor da mesa, exibindo atribulações e dificuldades.
Estranhas formas-pensamentos surgiam de grupo a grupo, denunciando-lhes a posição mental.

Aqui, dardos de preocupação, estiletes de amargura, nevoeiros de lágrimas...
Acolá, obsessores enquistados no desânimo ou no desespero, entre agressivos propósitos de vingança, agravados pelo temor do desconhecido...

Desencarnados em grande número suspiravam pelo céu, enquanto outros receavam o inferno, desajustados pela falsa educação religiosa recolhida no plano terrestre.

Vários amigos espirituais, junto aos componentes da mesa directora, passaram a ajudá-los na predicação doutrinária, com bases no ponto evangélico da noite, espalhando, através de comentários bem feitos, estímulos e consolos.

Fichas individuais não eram declinadas, entretanto percebíamos claramente que as pregações eram arremessadas ao ar, com endereço exacto.

Aqui, levantavam um coração caído em desalento, ali, advertiam consciências descuidadas, mais além, renovavam o perdão, a fé, a caridade, a esperança...

Não faltavam quadros impressionantes de Espíritos perseguidores, que procuravam hipnotizar as próprias vítimas, precipitando-as no sono provocado, para que não tomassem conhecimento das mensagens transformadoras, ali veiculadas pelo verbo construtivo.

Muitos médiuns funcionavam no recinto, colaborando em favor dos serviços de ordem geral a se processarem harmoniosos, todavia, observávamos que Dona Ambrosina era o centro da confiança de todos e o objecto de todas as atenções.

Figurava-se, ali, o coração do santuário, dando e recebendo, ponto vivo de silenciosa junção entre os habitantes de duas esferas distintas.

Junto dela, em oração, foram colocadas numerosas tiras de papel.
Eram requerimentos, anseios e súplicas do povo, recorrendo à protecção do Além, nas aflições e aperturas da existência.

Cada folha era um petitório agoniado, um apelo comovedor.

Entre Dona Ambrosina e Gabriel destacava-se agora extensa faixa elástica de luz azulínea, e amigos espirituais, prestos na solidariedade cristã, nela entravam e, um a um, tomavam o braço da medianeira, depois de lhe influenciarem os centros corticais, atendendo, tanto quanto possível, aos problemas ali expostos.

Antes, porém, de começarem o trabalho de resposta às questões formuladas, um grande espelho fluídico foi situado junto da médium, por trabalhadores espirituais da instituição e, na face dele, com espantosa rapidez, cada pessoa ausente, nomeada nas petições da noite, surgia ante o exame dos benfeitores que, a distância, contemplavam-lhe a imagem, recolhiam-lhe os pensamentos e especificavam-lhe as necessidades, oferecendo a solução possível aos pedidos feitos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2012 8:45 pm

Enquanto cultos companheiros de fé ensinavam o caminho da pacificação interior, sob a inspiração de mentores do nosso plano, Dona Ambrosina, sob o comando de instrutores que se revezavam no serviço assistencial, psicografava sem descanso.

Equilibrara-se o trabalho no recinto e, com isso, entendemos que havia reaparecido ocasião adequada para as nossas indagações.

Hilário foi o primeiro na inquirição que não conseguíamos sopitar, e, indicando o enorme laço fluídico que ligava Dona Ambrosina ao orientador que lhe presidia à missão, perguntou:
— Que significa essa faixa, através da qual a médium e o dirigente se associam tão intimamente um ao outro?

Aulus, com a tolerância e a benevolência habituais, elucidou:
— O desenvolvimento mais amplo das faculdades medianímicas exige essa providência. Ouvindo e vendo, no quadro de vibrações que transcendem o campo sensório comum, Ambrosina não pode estar à mercê de todas as solicitações da esfera espiritual, sob pena de perder o seu equilíbrio.

Quando o médium se evidencia no serviço do bem, pela boa-vontade, pelo estudo e pela compreensão das responsabilidades de que se encontra investido, recebe apoio mais imediato de amigo espiritual experiente e sábio, que passa a guiar-lhe a peregrinação na Terra, governando-lhe as forças.

No caso presente, Gabriel é o perfeito controlador das energias de nossa amiga, que só estabelece contacto com o plano espiritual de conformidade com a supervisão dele.

— Quer dizer que para efectuarmos uma comunicação por intermédio da senhora, sob nosso estudo, será preciso sintonizar com ela e com o orientador ao mesmo tempo?

— Justamente — respondeu Áulus, satisfeito.
Um mandato mediúnico reclama ordem, segurança, eficiência.
Uma delegação de autoridade humana envolve concessão de recursos da parte de quem a outorga.
Não se pedirá cooperação sistemática do médium, sem oferecer-lhe as necessárias garantias.

— Isso, porém, não dificultará o processo de intercâmbio?

— De modo algum.
Perante as necessidades respeitáveis e compreensíveis, com perspectivas de real aproveitamento, o próprio Gabriel se incumbe de tudo facilitar, ajudando aos comunicantes, tanto quanto auxilia a médium.

Assinalando a perfeita comunhão entre o mentor e a tutelada, indaguei por minha vez se uma associação daquela ordem não estaria vinculada a compromissos assumidos pelos médiuns, antes da reencarnação, ao que Áulus respondeu, prestimoso:
— Ah! sim, semelhantes serviços não se efectuam sem programa.

O acaso é uma palavra inventada pelos homens para disfarçar o menor esforço.
Gabriel e Ambrosina planearam a experiência actual, muito antes que ela se envolvesse nos densos fluidos da vida física.

E por que dizer — continuei, lembrando ao Assistente as suas próprias palavras — «quando o médium se destaca no serviço do bem recebe apoio de um amigo espiritual», se esse amigo espiritual e o médium já se encontram irmanados um ao outro, desde muito tempo?

O instrutor fitou-me de frente e falou:
— Em qualquer cometimento, não seria licito desvalorizar a liberdade de acção.

Ambrosina comprometeu-se:
isso, porém, não a impediria de cancelar o contrato de serviço, não obstante reconhecer-lhe a excelência e a magnitude.
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