LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 2 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 10, 2012 8:40 pm

Na hipótese de efectivarmos o tentame, conseguiríamos tão-somente infrutuosa inquirição, endereçada a um alienado mental, que, por algum tempo, ainda se mostrará lesado em expressivos centros do raciocínio.

Trazendo consigo a herança de uma existência desequilibrada e fortemente atraído para a mulher que o ama e de quem se fez desabrido perseguidor, a nada aspira, por agora, senão à vida parasitária, junto à irmã, de cujas energias se alimenta.

Envolve-a em fluidos enfermiços e nela se apoia, assim como a trepadeira que se alastra e prolifera sobre um muro...
Somando tudo isso ao choque oriundo da morte, não temos o direito de esuerar dele uma experiência completa de identificação pessoal.

Enquanto isso, Libório prosseguia, alucinado:
— Quem poderá suportar esta situação?
Alguém me hipnotiza?
Quem me fiscaliza o pensamento?
Valerá restituir-me a visão, manietando-me os braços?

Fixando-o com simpatia fraterna, o Assistente informou-nos:
— Queixa-se ele do controle a que é submetido pela vontade cuidadosa de Eugénia.

Ruminando as indagações que nos esfervilhavam na alma, Hilário objectou:
— Consciente a médium, qual se encontra, e ouvindo as frases do comunicante, que lhe utiliza a boca assim vigiado por ela, é possível que Dona Eugénia seja assaltada por grandes dúvidas...

Não poderá ser induzida a admitir que as palavras proferidas pertençam a ela mesma?
Não sofrerá vacilações?

— Isso é possível — concordou o Assistente —;
no entanto, nossa irmã está habilitada a perceber que as comoções e as palavras desta hora não lhe dizem respeito.

— Mas... e se a dúvida a invadisse? — insistiu meu colega.

— Então — disse Aulus, cortês —, emitiria da própria mente positiva recusa, expulsando o comunicante e anulando preciosa oportunidade de serviço.

A dúvida, nesse caso, seria congelante faixa de forças negativas...

Todavia, porque Raul Silva iniciara a conversação com o hóspede revoltado, o orientador amigo convidou-nos a melhor observar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 10, 2012 8:40 pm

7 - Socorro espiritual

Sob a influência de Clementino, que o envolvia inteiramente, Silva levantara-se e dirigia-se ao comunicante com bondade:
— Meu amigo, tenhamos calma e roguemos o amparo divino!

— Estou doente, desesperado...
— Sim, todos somos enfermos, mas não nos cabe perder a confiança.
Somos filhos de Nosso Pai Celestial que é sempre pródigo de amor.

— É padre?
— Não. Sou seu irmão.
— Mentira. Nem o conheço...
— Somos uma só família, à frente de Deus.

O interlocutor conturbado riu-se irónico e acentuou:
— Deve ser algum sacerdote fanatizado para conversar nestes termos!..

A paciência do doutrinador sensibilizava-nos.
Não recebia Libório, qual se fora defrontado por um habitante das sombras, susceptível de acordar-lhe qualquer impulso de curiosidade menos digna.

Ainda mesmo descontando o valioso concurso do mentor que o acompanhava, Raul emitia de si mesmo sincera compaixão de mistura com inequívoco interesse paternal.

Acolhia o hóspede sem estranheza ou irritação, como se o fizesse a um familiar que regressasse demente ao santuário doméstico.

Talvez por essa razão o obsessor a seu turno se revelava menos agastadiço. Tão logo passou a entender-se, de algum modo, com o dirigente da casa, observamos que Eugénia se revigorava no esforço assistencial que lhe competia.

— Não sou um ministro religioso — continuava Raul, imperturbável —, mas desejo me aceite como seu amigo.

— Que irrisão! não existem amigos quando a miséria está connosco...
Dos companheiros que conheci, todos me abandonaram.
Resta-me apenas Sara! Sara, que não deixarei...

Fixou a expressão de quem se detinha na lembrança da pessoa a quem se referira e acrescentou com recalcada indignação:
Ignoro por que me entravam agora os passos. É inútil.

Aliás, não sei a razão pela qual me contenho.
Um homem provocado, qual me vejo, decerto deveria esbofeteá-los a todos...
Afinal, que fazem aqui estes cavalheiros silenciosos e estas mulheres mudas? que pretendem de mim?

— Estamos em prece por sua paz — falou Silva, com inflexão de bondade e carinho.
— Grande novidade! que há de. comum entre nós? Devo-lhes algo?

— Pelo contrário — exclamou o interlocutor, convicto —, nós somos quem lhe deve atenção e assistência.

Estamos numa instituição de serviço fraterno e é fora de dúvida que, num hospital, a ninguém será lícito inquirir da luta particular daqueles que lhe batem à porta, porque, antes de tudo, é dever da medicina e da enfermagem a prestação de socorro às feridas que sangram.

Ante o argumento enunciado com sinceridade e simpleza, o renitente sofredor pareceu apaziguar-se ainda mais.
Jactos de energia mental, partidos de Silva, alcançavam-no agora em cheio, no tórax, como a lhe buscarem o coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 10, 2012 8:40 pm

Libério tentou falar, contudo, à maneira de um viajante que já não pode resistir à aridez do deserto, comoveu-se diante da ternura daquele inesperado acolhimento, a surgir-lhe por abençoada fonte de água fresca. Surpreendido, notou que a palavra lhe falecia embargada na garganta.

Sob o sábio comando de Clementino, falou o doutrinador com afectividade ardente:
— Libério, meu irmão!

Essas três palavras foram pronunciadas com tamanha inflexão de generosidade fraternal que o hóspede não pôde sopitar o pranto que lhe subia do âmago.

Raul avançou para ele, impondo-lhe as mãos, das quais jorrava luminoso fluxo magnético, e convidou:
— Vamos orar!

Findo um minuto de silêncio, a voz do director da casa, sob a inspiração de Clementino, suplicou enternecidamente:

- Divino Mestre, lança compassivo olhar sobre a nossa família aqui reunida...
Viajores de muitas romagens, repousamos neste instante sob a árvore bendita da prece e te imploramos amparo!

Todos somos endividados para contigo, todos nos achamos empenhados à tua bondade infinita, à maneira de servos insolventes para com o senhor.

Mas, rogando-te por nós todos, pedimos particularmente agora pelo companheiro que, decerto, encaminhas ao nosso coração, qual se fora uma ovelha que torna ao aprisco ou um irmão consanguíneo que volta ao Lar..

Mestre, dá-nos a alegria de recebê-lo de braços abertos.
Sela-nos os lábios para que lhe não perguntemos de onde vem e descerra-nos a alma para a ventura de tê-lo connosco em paz.

Inspira-nos a palavra a fim de que a imprudência não se imiscua em nossa língua, aprofundando as chagas interiores do irmão, e ajuda-nos a sustentar o respeito que lhe devemos...

Senhor, estamos certos de que o acaso não te preside às determinações!
Teu amor, que nos reserva invariavelmente o melhor, cada dia, aproxima-nos uns dos outros para o trabalho justo.

Nossas almas são fios da vida em tuas mãos!
Ajusta-os para que obtenhamos do Alto o favor de servir contigo!

Nosso Libório é mais um irmão que chega de longe, de recuados horizontes do passado...
Ó Senhor, auxilia-nos para que ele não nos encontre proferindo o teu nome em vão!...


O visitante chorava.
Via-se, porém, com clareza, que não eram as palavras a força que o convencia, mas sim o sentimento irradiante com que eram estruturadas.

Raul Silva, sob a destra radiosa de Clementino, afigurava-se-nos aureolado de intensa luz.
— Ó Deus, que se passa comigo?... — conseguiu gritar Libório em lágrimas.

O irmão Clementino fez breve sinal a um dos assessores de nosso plano, que apressadamente acorreu, trazendo interessante peça que me pareceu uma tela de gaze tenuíssima, com dispositivos especiais, medindo por inteiro um metro quadrado, aproximadamente.

O mentor espiritual da reunião manobrou pequena chave num dos ângulos do aparelho e o tecido suave se cobriu de leve massa fluídica, branquicenta e vibrátil.
Em seguida, postou-se novamente ao pé de Silva, que, controlado por ele, disse ao comunicante:
— Lembre-se, meu amigo, lembre-se!
Faça um apelo à memória! Veja à frente os quadros que se desenrolarão aos nossos olhos!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 10, 2012 8:41 pm

De imediato, como se tivesse a atenção compulsoriamente atraída para a tela, o visitante fixou-a e, desde esse momento, vimos com assombro que o rectângulo sensibilizado exibia variadas cenas de que o próprio Libório era o principal protagonista.

Recebendo-as mentalmente, Raul Silva passou a descrevê-las:
— Observe, meu amigo! É noite.

Ouve-se um burburinho de algazarra a distância...
Sua mãe velhinha chama-o à cabeceira e pede-lhe assistência...
Está exausta...

Você é o filho que lhe resta...
Derradeira esperança de flagelada vida.
Único arrimo... A pobre sente-se morrer.

A dispneia martiriza-a...
E o distúrbio cardíaco pressagiando o fim do corpo... Tem medo.
Declara-se receosa da solidão, de vez que é sábado carnavalesco e os vizinhos se ausentaram na direcção dos centros festivos.

Parece uma criança atemorizada...
Contempla-o, ansiosa, e roga-lhe que fique...
Você responde que sairá tão-somente por alguns minutos... o bastante para trazer-lhe a medicação necessária...

Em seguida, avança, rápido, para uma gaveta situada em aposento próximo e apropria-se do único dinheiro de que a enferma dispõe, algumas centenas de cruzeiros, com que você se julga habilitado a desfrutar as falsas alegrias do seu clube...

Amigos espirituais de seu lar abeiram-se de você, implorando socorro em favor da doente, quase moribunda, mas você se mostra impermeável a qualquer pensamento de compaixão...

Dirige algumas palavras apressadas à enferma e sai para a rua.

Em plena via pública, imanta-se aos indesejáveis companheiros desencarnados com os quais se afina... entidades turbulentas, hipnotizadas pelo vício, com as quais você se arrasta ao prazer...

Por três dias e quatro noites consecutivos, entrega-se à loucura, com esquecimento de todas as obrigações...
Somente na madrugada de quarta-feira você volta estafado e semi-inconsciente...
A velhinha, socorrida por braços anónimos, não o reconhece mais...

Aguarda, resignadamente, a morte, enquanto você se encaminha para um quarto dos fundos, na expectativa de conseguir um banho que o auxilie a refazer-se...

Abre o gás e senta-se por alguns minutos, experimentando a cabeça entontecida...
O corpo exige descanso, depois da louca folia...
A fadiga surge, insopitável...

Desapercebe-se de si mesmo e dorme semi-embriagado, perdendo a existência, porque as emanações tóxicas lhe cadaverizam o cor.....
Na manhã clara de sol, um rabecão leva-o ao necrotério, como simples suicida...

Nessa altura, o interlocutor, como se voltasse de um pesadelo, bradou desesperado:
— Oh! esta é a verdade! a verdade!.., onde está minha casa?
Sara, Sara, quero minha mãe, minha mãe!...
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— Acalme-se! — recomendou Raul, compadecido — nunca nos faltará o socorro divino!
Seu lar, meu amigo, cerrou-se com os seus olhos de carne e sua progenitora, de outras esferas, lhe estende os braços amorosos e santificantes.

O comunicante, vencido, caiu em lágrimas.
Tão grande lhe surgiu a crise emotiva que o mentor espiritual do grupo se apressou a desligá-lo do equipamento mediúnico, entregando-o aos vigilantes para que fosse convenientemente abrigado em organização próxima.

Libório, em fundo processo de transformação, afastou-se, tornando Eugénia à posição normal.
E porque a tela regressasse à transparência do início, desfechei sobre o nosso orientador algumas indagações improvisadas.

Que função desempenhava aquele rectângulo que eu ainda não conhecia?
Que cenas eram aquelas que se haviam desdobrado céleres sob a nossa admiração?

— Aquele aparelho — informou Aulus, gentil — é um «condensador ectoplásmico».
Tem a propriedade de concentrar em si os raios de força projectados pelos componentes da reunião, reproduzindo as imagens que fluem do pensamento da entidade comunicante, não só para a nossa observação, mas também para a análise do doutrinador, que as recebe em seu campo intuitivo, agora auxiliado pelas energias magnéticas do nosso plano.

— Evidentemente, a engrenagem de semelhante mecanismo deve ser maravilhosa! — exclamou Hilário, sob forte impressão.

— Nada de espanto — alegou o orientador —; o hóspede espiritual apenas contempla os reflexos da mente de si mesmo, à maneira de pessoa que se examina, através de um espelho.

— Mas, se estamos à frente de um condensador de forças — considerei —, precisamos concluir que o êxito do trabalho depende da colaboração de todos os componentes do grupo...

— Exacto — confirmou o Assistente —, as energias ectoplásmicas são fornecidas pelo conjunto dos companheiros encarnados, em favor de irmãos que ainda se encontram semimaterializados nas faixas vibratórias da experiência física.

Por isso mesmo, Silva e Clementino necessitam do concurso geral para que a máquina do serviço funcione tão harmoniosamente quanto seja possível.

Pessoas que exteriorizem sentimentos menos dignos, equivalentes a princípios envenenados nascidos das viciações de variada espécie, perturbam enormemente as actividades dessa natureza, porquanto arrojam no condensador as sombras de que se fazem veículo, prejudicando a eficiência da assembleia e impedindo a visão perfeita da tela por parte da entidade necessitada de compreensão e de luz.

Levava-nos o assunto a diferentes inquirições, mas o nosso orientador lançou-nos um olhar discreto, como a pedir-nos silêncio e atenção.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 10, 2012 8:41 pm

8 - Psicofonia sonambúlica

Sob a guarda de venerando amigo, que mais se nos afigurava um nume apostolar, pobre Espírito dementado varou o recinto.

Lembrava um fidalgo antigo, repentinamente arrancado ao subsolo, porque os fluidos que o revestiam era verdadeira massa escura e viscosa, cobrindo-lhe a roupagem e despedindo nauseabundas emanações.

Nenhuma das entidades sofredoras que se acotovelavam à frente exibia tão horrenda fácies.

Aqui e ali, nos variados semblantes a se comprimirem no lugar reservado a irmãos menos felizes, as máscaras de sofrimento eram suavizadas por sinais inequívocos de arrependimento, fé, humildade, esperança...

Mas naquele rosto patibular, parecendo emergir dum lençol de lama, aliavam-se a frieza e a malignidade, a astúcia e o endurecimento.

Ante a expressão com que surgia de inopino, os próprios Espíritos perturbados recuaram receosos.

Na destra, o estranho recém-chegado trazia um azorrague que tentava estalar, ao mesmo tempo que proferia estrepitosas exclamações.

— Quem me faz chegar até aqui, contra a minha vontade? — bramia, semi-afónico.
Covardes! Porque me segregarem assim?
onde estão os abutres que me devoraram os olhos?
Infames! Pagar-me-ão caro os ultrajes sofridos!...

E evidenciando o extremo desequilíbrio mental de que se fazia portador, continuava em rude tom de voz:
— Quem disse que a malfadada revolução dos franceses terá reflexos no Brasil?

A loucura de um povo não pode alastrar-se a toda a Terra...
Os privilégios dos nobres são invioláveis!
Vêm dos reis, que são indiscutivelmente os escolhidos de Deus!

Defenderemos nossas prerrogativas, exterminando a propaganda dos rebeldes e regicidas!
Venderei meus escravos alfabetizados, nada de panfletos e comentários da rebelião.

Como produzir sem o chicote no lombo?
Cativos são cativos, senhores são senhores.
E todos os fujões e criminosos conhecerão o peso dos meus braços...

Matarei sem piedade.
Cinco troncos de suplício! Cinco troncos!
Eis aquilo de que necessito para refazer a nossa tranquilidade.

— Foi um fazendeiro desumano — esclareceu nosso orientador amigo.
Desencarnou nos últimos dias do século 18, mas ainda conserva a mente estagnada na concha do próprio egoísmo.

Nada percebe, por enquanto, senão os quadros interiores, criados por ele mesmo, constando de escravos, dinheiro e lucros da antiga propriedade rural em que enterrou o pensamento, convertendo-se hoje em vampiro inconsciente de almas reencarnadas que lhe foram queridas no Brasil colonial.

Com todo o respeito que devemos à fraternidade, podemos dizer que ele nada mais fora que desapiedado algoz dos infortunados cativos que lhe caíam sob o guante de ferro.

Detentor de vastíssimo latifúndio, possuía consigo larga, legião de servidores que lhe conheceram, de perto, a tirania e a perversidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:52 pm

Valendo-me da pausa espontânea, fitei o rosto do triste recém-chegado, com mais atenção, reconhecendo que os seus olhos, embora móveis quanto os de um felino, estavam vidrados, mortos...

Ia apontar para aquelas órbitas inexpressivas, quando o instrutor, adivinhando-me o impulso, acrescentou:
— Odiava os trabalhadores que lhe fugiam às garras e quando conseguia arrebatá-los ao quilombo, não somente os algemava aos troncos de martírio, mas queimava-lhes os olhos, reduzindo-os à cegueira, para escarmento das senzalas.

Alguns dos raros quilombolas que resistiam à morte eram sentenciados, depois de cegos, às mandíbulas de cães bravios, de cuja sanha não conseguiam escapar.

Com semelhante sistema de repressão, instalou o terror em derredor dos seus passos, granjeando, então, fama e riqueza, contudo, veio a jornada inevitável do túmulo e, nessa fase nova, não encontrou senão desafectos, a se levantarem, junto dele, na feição de temíveis perseguidores.

Muitas vítimas de alma branda lhe haviam desculpado as ofensas, mas outras não conseguiram a força para o perdão espontâneo e converteram-se em vingadores do passado a lhe cumularem o espírito de aflitivo pavor.

Emaranhado nas teias da usura e fazendo do ouro o único poder em que acreditava, nem de leve se sentiu transportado de um modo de vida para outro, através da morte.

Crê-se num cárcere de trevas, atormentado pelos escravos, prisioneiro das próprias vítimas.
Vive, assim, entre a desesperação e o remorso.

Martirizado pelas reminiscências das flagelações que decretava e hipnotizado pelos algozes de agora, dos quais no pretérito foi verdugo, vê-se reduzido a extrema cegueira, por se lhe desequilibrarem no corpo espiritual as faculdades da visão.

Enquanto se nos alongava o entendimento, o infeliz foi situado junto de Dona Celina.
A medida impressionou-me desfavoravelmente.

Logo Dona Celina, o melhor instrumento da casa, é quem deveria acolher o indesejável comunicante?
Reparei-lhe a luminosa auréola, contrastando com a vestimenta pestilencial do forasteiro, e deixei-me avassalar por incoercível temor.

Semelhante providência não seria o mesmo que entregar uma harpa delicada às patas de uma fera?

Aulus, porém, deu-se pressa em explicar-nos:
— Acalmem-se, O amigo dementado penetrou o templo com a supervisão e o consentimento dos mentores da casa.

Quanto aos fluidos de natureza deletéria, não precisamos temê-los.
Recuam instintivamente ante a luz espiritual que os fustiga ou desintegra.

É por isso que cada médium possui ambiente próprio e cada assembleia se caracteriza por uma corrente magnética particular de preservação e defesa.

Nuvens infecciosas da Terra são diariamente extintas ou combatidas pelas irradiações solares, e formações fluídicas, inquietantes, a todo momento são aniquiladas ou varridas do Planeta pelas energias superiores do Espírito.

Os raios luminosos da mente orientada para o bem incidem sobre as construções do mal, à feição de descargas eléctricas.

E, compreendendo-se que mais ajuda aquele que mais pode, nossa irmã Celina é a companheira ideal para o auxílio desta hora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:52 pm

Indicando-a, exclamou:
— Observemos.
A médium desenvencilhou-se do corpo físico, como alguém que se entregava a sono profundo, e conduziu consigo a aura brilhante de que se coroava.

Clementino não teve necessidade de socorrê-la.
Parecia afeita àquele género de tarefa.
Ainda assim, o condutor do grupo amparou-a, solícito.

A nobre senhora fitou o desesperado visitante com manifesta simpatia e abriu-lhe os braços, auxiliando-o a senhorear o veículo físico, então em sombra.

Qual se fora atraído por vigoroso ímã, o sofredor arrojou-se sobre a organização física da médium, colando-se a ela, instintivamente.

Auxiliado pelo guardião que o trazia, sentou-se com dificuldade, afigurando-se-me intensivamente ligado ao cérebro mediúnico.

Se Eugénia revelara-se benemérita enfermeira, Dona Celina surgia aos nossos olhos por abnegada mãezinha, tal a devoção afectiva para com o hóspede infortunado.

Dela partiam fios brilhantes a envolvê-lo inteiramente e o recém-chegado, em vista disso, não obstante senhor de si, demonstrava-se criteriosamente controlado.

Assemelhava-se a um peixe em furiosa reacção, entre os estreitos limites de um recipiente que, em vão, procurava dilacerar.

Projectava de si estiletes de treva, que se fundiam na luz com que Celina - alma o rodeava, dedicada.

Tentava gritar impropérios, mas debalde.
A médium era um instrumento passivo no exterior, entretanto, nas profundezas do ser, mostrava as qualidades morais positivas que lhe eram conquista inalienável, impedindo aquele irmão de qualquer manifestação menos digna.

— Eu sou José Maria... — clamava o visitante, irritadíssimo, enfileirando outros nomes com o evidente intuito de lançar importância sobre a sua origem.

Amontoava reclamações, deitava reprimendas e revoltava-se exasperado, contudo, percebi que não usava palavras semelhantes às que proferira junto de nós.

Achava-se como que manietado, vencido, embora prosseguisse rude e áspero.

Aparecia tão completamente implantado na organização fisiológica da medianeira, tão espontâneo e tão natural, que não sopitei as perguntas a me escorrerem céleres do pensamento.

A mediunidade falante em Celina era diversa?
Eugénia e ela se haviam desligado da veste carnal, durante o trabalho...

Porque a primeira se mantivera preocupada, qual enfermeira inquieta, enquanto que a segunda parecia devotada tutora do irmão dementado, seguindo-o com cuidados de mãe?

Porque numa delas a expectação atormentada e na outra a serena confiança?

Desculpando-nos a condição de aprendizes, Aulus passou a esclarecer-nos, enquanto Clementino e Raul Silva amparavam o comunicante, através de orações e frases renovadoras de incentivo ao bem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:52 pm

— Celina — explicou, bondoso — é sonâmbula perfeita.
A psicofonia, em seu caso, se processa sem necessidade de ligação da corrente nervosa do cérebro mediúnico à mente do hóspede que o ocupa.

A espontaneidade dela é tamanha na cessão de seus recursos às entidades necessitadas de socorro e carinho, que não tem qualquer dificuldade para desligar-se de maneira automática do campo sensório, perdendo provisoriamente o contacto com os centros motores da vida cerebral.

Sua posição medianímica é de extrema passividade.
Por isso mesmo, revela-se o comunicante mais seguro de si, na exteriorização da própria personalidade.
Isso, porém, não indica que a nossa irmã deva estar ausente ou irresponsável.

Junto do corpo que lhe pertence, age na condição de mãe generosa, auxiliando o sofredor que por ela se exprime qual se fora frágil protegido de sua bondade.

Atraiu-o a si, exercendo um sacrifício voluntário, que lhe é doce ao coração fraterno, e José Maria, desvairado e desditoso, imensamente inferior a ela, não lhe pôde resistir.

Permanece, assim, agressivo tanto quanto é, mas vê-se controlado em suas menores expressões, porque a mente superior subordina na que se lhe situam à retaguarda, nos domínios do espírito.

É por essa razão que o hóspede experimenta com rigor o domínio afectuoso da missionária que lhe dispensa amparo assistencial.

Impelido a obedecer-lhe, recebe-lhe as energias mentais constringentes que o obrigam a sustentar-se em respeitosa atitude, não obstante revoltado como se encontra.

Diante da pausa que se fazia natural, reparamos que Silva conseguia franco progresso na doutrinação.
O ex-tirano rural começava a assimilar algumas réstias de luz.

Hilário, contudo, provocou a continuidade da lição, perguntando:
— Embora seja preciosa auxiliar, como vemos, não se lembrará Dona Celina das palavras que o visitante pronuncia por seu intermédio?

— Se quiser, poderá recordá-las com esforço, mas na situação em que se reconhece, não vê qualquer vantagem na retenção dos apontamentos que ouve.

— Indubitavelmente — ponderou meu colega — observamos singular diferença entre as duas médiuns que caíram em transe...

Tenho a ideia de que, na psicofonia consciente, Dona Eugénia exercia um controle mais directo sobre o hóspede que lhe utilizava os recursos, ao passo que Dona Celina, embora vigiando o companheiro que se comunica, deixa-o mais à vontade, mais livre...

Caso não fosse Dona Celina a trabalhadora hábil, capaz de intervir a tempo, em qualquer circunstância menos agradável, não seria de preferir as faculdades de Dona Eugénia?

— Sim, Hilário, você tem razão, O sonambulismo puro, quando em mãos desavisadas, pode produzir belos fenómenos, mas é menos útil na construção espiritual do bem.

A psicofonia inconsciente, naqueles que não possuem méritos morais suficientes à própria defesa, pode levar à possessão, sempre nociva, e que, por isso, apenas se evidencia integral nos obsessos que se renderam às forças vampirizantes.

Hilário reflectiu um momento e tornou a considerar:
— Aqui, vemos a médium fora do vaso físico, dominando mentalmente a entidade que lhe é inferior...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:52 pm

Mas... e se fosse o contrário?
Se tivéssemos aqui uma entidade intelectualmente superior, senhoreando mentalmente a médium?

— Nesse caso — redarguiu o paciente interlocutor —, Celina seria naturalmente controlada.

Se o comunicante fosse, nessa hipótese, uma inteligência degenerada e perversa, a fiscalização correria por conta dos mentores da casa e, em se tratando de um mensageiro com elevado património de conhecimento e virtude, a médium apassivar-se-ia com satisfação, porquanto lhe aproveitaria as vantagens da presença, tal como o rio se beneficia com as chuvas que caem do alto.

O instrutor ia continuar, mas Clementino solicitou-lhe o concurso para a remoção de José Maria que, algo renovado, principiava a aceitar o serviço da prece, chegando mesmo a atingir a felicidade de chorar.

Nosso orientador passou a contribuir na assistência ao visitante, que foi novamente entregue ao amigo paternal que o trazia, a fim de internar-se em organização socorrista distante.
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 2 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:53 pm

9 - Possessão

O cavalheiro doente, na pequena fila de quatro pessoas que haviam comparecido à cata de socorro, parecia incomodado, aflito...

Articulava palavras que eu não conseguia registar com clareza, quando o irmão Clementino, consultado por Áulus, disse, cortês, para o Assistente:
— Sim, já que o esforço se destina a estudos, permitiremos a manifestação.

Percebi que o nosso orientador solicitava alguma demonstração importante.
Convidados pelo instrutor, abeiramo-nos do moço enfermo que se fazia assistir por uma senhora de cabelos grisalhos, sua própria mãezinha.

Atendendo às recomendações do supervisor, os guardas admitiram a passagem de uma entidade evidentemente aloucada, que atravessou, de chofre, as linhas vibratórias de contenção, vociferando, frenética:
— Pedro! Pedro!...

Parecia ter a visão centralizada no doente, porque nada mais fixava além dele.
Alcançando o nosso irmão encarnado, este, de súbito, desfecha um grito agudo e cai desamparado.
A velha progenitora mal teve tempo de suavizar-lhe a queda espectacular.

De imediato, sob o comando de Clementino, Silva determinou que o rapaz fosse transferido para um leito de câmara próxima, isolando-o da assembleia.

Dona Celina foi incumbida do trabalho de assistência.
Junto dela acompanhamos o enfermo com carinhoso interesse.

As variadas tarefas do recinto prosseguiram sem quebra de ritmo, enquanto nos insuflávamos no aposento para a cooperação que o caso exigia.

Pedro e o obsessor que o jugulava pareciam agora fundidos um no outro.
Eram dois contendores engalfinhados em luta feroz.

Fitando o companheiro encarnado mais detidamente, concluí que o ataque epiléptico, com toda a sua sintomatologia clássica, surgia claramente reconhecível.

O doente trazia agora a face transfigurada por indefinível palidez, os músculos jaziam tetanizados e a cabeça, exibindo os dentes cerrados, mostrava-se flectida para trás, enquanto que os braços se assemelhavam a dois galhos de arvoredo, quando retorcidos pela tempestade.

Dona Celina e a matrona afectuosa acomodaram-no na cama e dispunham-se à prece, quando a rigidez do corpo se fez sucedida de estranhas convulsões a se estenderem aos olhos que se moviam em reviravoltas contínuas.

A lividez do rosto deu lugar à vermelhidão que invadiu as faces congestas.
A respiração tornara-se angustiada, ao mesmo tempo que os esfíncteres se relaxavam, convertendo o enfermo em torturado vencido.

O insensível perseguidor como que se entranhara no corpo da vítima.
Pronunciava duras palavras, que somente nós outros conseguíamos assinalar, de vez que todas as funções sensoriais de Pedro se mostravam em deplorável inibição.

Dona Celina, afagando o doente, pressentia a gravidade do mal e registava a presença do visitante infeliz, contudo, permanecia alerta de modo a manter-se, valorosa, em condições de auxiliá-lo.

Anotei-lhe a cautela para não se apassivar, a fim de seguir, por si própria, todos os trâmites do socorro.

Bondosa, tentou estabelecer um entendimento com o verdugo, mas em vão.
O desventurado continuava gritando para os nossos ouvidos, sem acolher-lhe os apelos comovedores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:53 pm

— Vingar-me-ei! vingar-me-ei!
Farei justiça por minhas próprias mãos!... — bradava, colérico.

Repreensões injuriosas apagavam-se na sombra, porquanto não conseguiam exteriorizar-se através das cordas vocais da vítima, a contorcer-se.

Permanecia o cavalheiro plenamente ligado ao algoz que o tomara de inopino.
O córtex cerebral apresentava-se envolvido de escura massa fluídica.
Reconhecíamos no moço incapacidade de qualquer domínio sobre si mesmo.

Acariciando-lhe a fronte suarenta, Áulus informou, compadecido:
— É a possessão completa ou a epilepsia essencial.
— Nosso amigo está inconsciente? — aventurou Hilário, entre a curiosidade e o respeito.

— Sim, considerado como enfermo terrestre, está no momento sem recursos de ligação com o cérebro carnal.
Todas as células do córtex sofrem o bombardeio de emissões magnéticas de natureza tóxica.
Os centros motores estão desorganizados.

Todo o cerebelo está empastado de fluidos deletérios.
As vias do equilíbrio aparecem completamente perturbadas.

Pedro temporariamente não dispõe de controlo para governar-se, nem de memória comum para marcar a inquietante ocorrência de que é protagonista.

Isso, porém, acontece no sector da forma de matéria densa, porque, em espírito, está arquivando todas as particularidades da situação em que se encontra, de modo a enriquecer o património das próprias experiências.

Fitei, sensibilizado, o quadro triste e perguntei, com objectivo de estudo:
— De vez que nos achamos defrontados por um encarnado e por um desencarnado, jungidos um ao outro, não obstante a dolorosa condição de sofrimento em que se caracterizam, será lícito considerar o facto sob nosso exame como sendo um transe mediúnico?

Embora activo na tarefa assistencial, o instrutor respondeu:
— Sim, presenciamos um ataque epiléptico, segundo a definição da medicina terrestre, entretanto, somos constrangidos a identificá-lo como sendo um transe mediúnico de baixo teor, porquanto verificamos aqui a associação de duas mentes desequilibradas, que se prendem às teias do ódio recíproco.

E, fixando o par de infelizes em contorções, acrescentou:
— Nessa aflitiva situação achava-se Pedro nas regiões inferiores, antes da presente reencarnação que lhe constitui uma bênção.

Por muitos anos, ele e o adversário rolaram nas zonas purgatoriais, em franco duelo.
Presentemente, melhorou.

Qual ocorre em muitos processos semelhantes, os reencontros de ambos são agora mais espaçados, dando azo ao fenómeno que observamos, em razão de o rapaz ainda trazer o corpo perispirítico provisoriamente lesado em centros importantes.

Nesse ínterim, percebendo a dificuldade para atingir o obsessor com a palavra falada, Dona Celina, com o auxílio de nosso orientador, formulou vibrante prece, implorando a Compaixão Divina para os infortunados companheiros que ali se digladiavam inutilmente.

As frases da venerável amiga libertavam jactos de força luminescente a lhe saltarem das mãos e a envolverem em sensações de alívio os participantes do conflito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:53 pm

Vimos que o perseguidor, qual se houvesse aspirado alguma substância anestesiante, se desprendeu automaticamente da vítima, que repousou enfim, num sono profundo e reparador.

Guardas e socorristas conduziram o obsessor semi-adormecido a um local de emergência.

E enquanto Dona Celina ministrava um pouco dágua fluidificada à progenitora do enfermo, chorosa e assustadiça, retornamos à conversação cordial.

— Apesar da carga doentia que suporta na actualidade, devemos aceitar o nosso Pedro na categoria de um médium? — perguntou Hilário, atencioso.

— Pela passividade com que reflecte o inimigo desencarnado, será justo tê-lo nessa conta, contudo, precisamos considerar que, antes de ser um médium na acepção comum do termo, é um Espírito endividado a redimir-se.

— Mas não poderá cogitar do próprio desenvolvimento psíquico?

O Assistente sorriu e observou:
— Desenvolver, em boa sinonímia, quer dizer “retirar do invólucro”, “fazer progredir” ou produzir.
Assim compreendendo, é razoável que Pedro, antes de tudo, desenvolva recursos pessoais no próprio reajuste.
Não se constroem paredes sólidas em bases inseguras.

Necessitará, portanto, curar-se.
Depois disso, então...

— Se é assim — objectou meu colega —, não resultará infrutífera a sua frequência a esta casa?

— De modo algum.
Aqui recolherá forças para refazer-se, assim como a planta raquítica encontra estímulo para a sua restauração no adubo que lhe oferecem.

Dia a dia, ao contacto de amigos orientados pelo Evangelho, ele e o desafecto incorporarão abençoados valores em matéria de compreensão e serviço, modificando gradativamente o campo de elaboração das forças mentais.

Sobrevirá, então. um aperfeiçoamento de individualidades, a fim de que a fonte mediúnica surja, mais tarde, tão cristalina quanto desejamos.

Salutares e renovadores pensamentos assimilados pela dupla de sofredores em foco expressam melhoria e recuperação para ambos, porque, na imantação recíproca em que se vêem, as ideias de um reagem sobre o outro, determinando alterações radicais.

Diante da nossa atitude cismarenta, no exame das questões complexas de que nos sentíamos nodeados, o Assistente ponderou:
— Aparelhos mediúnicos valiosos naturalmente não se improvisam.
Como todas as edificações preciosas, reclamam esforço, sacrifício, coragem, tempo...

E sem amor e devotamento, não será possível a criação de grupos e instrumentos louváveis, nas tarefas de intercâmbio.

Voltando, porém, a atenção para o doente adormecido, Áulus continuou:
— Nosso amigo está preso a significativo montante de débitos com o passado e ninguém pode avançar livremente para o amanhã sem solver os compromissos de ontem.

Por esse motivo, Pedro traz consigo aflitiva mediunidade de provação.
É da Lei que ninguém se emancipe sem pagar o que deve.
A rigor, por isso, deve ser encarado como enfermo, requisitando carinho e tratamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:54 pm

Em seguida, como se quisesse recolher dados informativos para completar a lição, tocou a fronte de Pedro, auscultando-a demoradamente.

Decorridos alguns instantes de silêncio, informou:
— A luta vem de muito longe.

Não dispomos de tempo para incursões no passado, mas, de imediato, podemos reconhecer o verdugo de hoje como vítima de ontem. Na derradeira metade do século findo, Pedro era um médico que abusava da missão de curar.

Uma análise mental particularizada identificá-lo-ia em numerosas aventuras menos dignas.

O perseguidor que presentemente lhe domina as energias era-lhe irmão consanguíneo, cuja esposa nosso amigo doente de agora procurou seduzir.

Para isso, insinuou-se de formas diversas, além de prejudicar o irmão em todos os seus interesses económicos e sociais, até incliná-lo à internação num hospício, onde estacionou, por muitos anos, aparvalhado e inútil, à espera da morte.

Desencarnando e encontrando-o na posse da mulher, desvairou-se no ódio de que passou a nutrir-se.
Martelou-lhes, então, a existência e aguardou-o, além-túmulo, onde os três se reuniram em angustioso processo de regeneração.

A companheira, menos culpada, foi a primeira a retornar ao mundo, onde mais tarde recebeu o médico delinquente nos braços maternais, como seu próprio filho, purificando o amor de sua alma.

O irmão atraiçoado de outro tempo, todavia, ainda não encontrou forças para modificar-se e continua vampirizando-o, obstinado no ódio a que se rendeu impensadamente.

Respondendo com um olhar amigo à nossa expressão de assombro, acrescentou:
— Penetramos forçosamente no inferno que criamos para os outros, a fim de experimentarmos, por nossa vez, o fogo com que afligimos o próximo.

Ninguém ilude a justiça.
As reparações podem ser transferidas no tempo, mas são sempre fatais.
O ensinamento era simples, contudo, a terrível situação do enfermo fatigado e triste infundia-nos justificável espanto.

Estudando sempre, Hilário considerou:
— Se Pedro, no entanto, é ainda um médium torturado, que poderá fazer num agrupamento como este?

O instrutor sorriu e obtemperou:
O acaso não consta dos desígnios superiores.
Não nos aproximamos uns dos outros sem razão.

Decerto, nosso amigo possui aqui ligações afectivas do pretérito com o dever de auxiliá-lo.

Se não pode, desse modo, ser um elemento valioso ao conjunto, de imediato, pode e precisa receber o concurso fraterno, imprescindível ao seu justo soerguimento.

— Curar-se-á, contudo, em tempo breve? —indaguei por minha vez.

— Quem sabe? — retrucou Áulus, sereno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:54 pm

E, com o grave entoo de quem pesa a substância das próprias palavras, prosseguiu:
— Isso dependerá muito dele e da vítima com quem se encontra endividado.
A assimilação de princípios mentais renovadores determina mais altas visões da vida.

Todos os dramas obscuros da obsessão decorrem da mente enfermiça.

Aplicando-se com devotamento às novas obrigações de que será investido, caso persevere no campo de nossa Consoladora Doutrina, sem dúvida abreviará o tempo de expiação a que se acha sujeito, de vez que, em se convertendo ao bem, modificará o tonus mental do adversário, que se verá arrastado à própria renovação pelos seus exemplos de compreensão e renúncia, humildade e fé.

Ainda assim, depois de se extinguirem os acessos de possessão, Pedro sofrerá os reflexos do desequilíbrio em que se envolveu, a se exprimirem nos fenómenos mais leves da epilepsia secundária, que emergirão, por algum tempo, ante as simples recordações mais fortes da luta que vem atravessando, até o integral reajuste do corpo perispirítico.

— E isso é trabalho de longa duração? — inquiriu Hilário, algo aflito.
Nosso interlocutor estampou significativa expressão fisionómica e ponderou:
— Quem poderá penetrar a consciência alheia?

Com o esforço da vontade é possível apressar a solução de muitos enigmas e reduzir muitas dores.
O assunto, porém, é de foro íntimo...

Estejamos entretanto convencidos de que as sementes da luz jamais se perdem. Os médiuns que hoje se enlaçam a tremendas provas, se persistirem na plantação de melhores destinos, transformar-se-ão em valiosos trabalhadores no futuro que a todos aguarda em abençoadas reencarnações de engrandecimento e progresso...

E, ante a nossa admiração, concluiu:
— O problema é de aprender sem desanimar e de servir ao bem sem esmorecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 11, 2012 9:54 pm

10 - Sonambulismo torturado

Tornamos ao recinto.

Dona Eugénia acabava de socorrer pobre companheiro recém-desencarnado, a retirar-se sob o fraterno controlo dos vigilantes.

Fomos recebidos por Clementino, generoso, que nos aproximou de jovem senhora, concentrada em oração, seguida por distinto cavalheiro, na pequena fila dos enfermos que naquela noite receberiam assistência.

Afagando-lhe a cabeça, o supervisor notificou:
— Favoreceremos a manifestação de infeliz companheiro que a vampiriza, não somente com o objectivo de socorrê-lo, mas também com o propósito de estudarmos alguma coisa, com respeito ao sonambulismo torturado.

Observei a dama, ainda muito moça, inclinada para o homem irrepreensivelmente trajado que a amparava de perto.

O mentor do recinto afastou-se em tarefa de governança, mas Áulus tomou-lhe o lugar, passando a esclarecer-nos com a bondade que lhe era característica.

Indicando-nos o casal, informou:
— São ambos marido e mulher num enlace de provação redentora.

A essa altura, porém, os guardas espirituais permitiram o acesso do infortunado amigo:
Achamo-nos positivamente frente a frente com um louco desencarnado.
Perispírito denso, trazia todos os estigmas da alienação mental, indiscutível.

Olhar turvo, fisionomia congesta, indisfarçável Inquietação...
A presença dele inspiraria repugnância e terror aos menos afeitos à enfermagem.

Além da cabeça ferida, mostrava extensa úlcera na garganta.
Precipitou-se para a jovem doente, à maneira de um grande felino sobre a presa.

A simpática senhora começou a gritar, transfigurada.
Não se afastara espiritualmente do corpo.

Era ela própria a contorcer-se, em pranto convulsivo, envolta, porém, no amplexo fluídico da entidade que lhe empolgava o campo fisiológico, integralmente.

Lágrimas quentes lhe corriam dos olhos semicerrados, o organismo relaxara-se como embarcação à matroca e a respiração se tornara sibilante e opressa.

Tentava falar, contudo a voz era um assobio desagradável.
As cordas vocais revelavam-se incapazes de articular qualquer frase inteligível.

Raul, sob o comando de Clementino, abeirou-se da dupla em aflitivo reencontro e aplicou energias magnéticas sobre o tórax da médium, que conseguiu expressar-se em clamores roufenhos:
— Filha desnaturada!...
Criminosa! criminosa!... nada te salva!

Descerás comigo às trevas para que me partilhes a dor...
Não quero socorro... quero estar contigo para que estejas comigo!
Não te perdoarei, não te perdoarei!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:37 pm

E, do pranto convulso, passava incompreensivelmente a gargalhadas de vingador.
Agora, não podíamos saber se estávamos à frente de uma vítima que se lastimava ou de um palhaço que escarnecia.

— A justiça está em mim! — prosseguia bradando por entre silvos
Sou o advogado de minha própria causa! E a desforra é o meu único recurso...

Raul, sob a inspiração do benfeitor que o acompanhava, passou a falar-lhe dos valores e vantagens da humildade e do perdão, do entendimento e do amor, procurando renovar-lhe a atitude.

E, enquanto desenvolvia o trabalho da doutrinação, buscamos contacto com o orientador diligente.

Ante as nossas primeiras perguntas, Aulus acentuou:
— É um caso doloroso como o de milhares de criaturas.

— Vê-se bem — aduziu Hilário, sob forte impressão —, que é a nossa própria irmã quem fala e gesticula...
— Sim — aprovou o Assistente —, entretanto, encontra-se imantada ao companheiro espiritual, cérebro a cérebro.

— Poderá, todavia, recordar-se com precisão do que lhe sucede agora? — inquiri, por minha vez.
— De modo algum.
Tem as células do córtex cerebral totalmente destrambelhadas pelo desventurado amigo em sofrimento.

Nos transes, em que se efectua a junção mais directa entre ela e o perseguidor dementado, cai em profunda hipnose, qual acontece à pessoa magnetizada, nas demonstrações comuns de hipnotismo, e passa, de imediato, a retratar-lhe os desequilíbrios.

E, designando a garganta da médium, repentinamente avermelhada e intumescida, continuou:
— Nesta hora, tem a glote dominada por perturbação momentânea.
Não consegue exprimir-se senão em voz rouquenha, quebrando as palavras.

Isso porque o nosso irmão torturado, ao qual se liga pelos laços mais íntimos, lhe transmite as próprias sensações, compelindo-a a copiar-lhe o modo de ser.

— Tão entranhada se revela a associação de ambos — alegou Hilário —, que sou levado a indagar de mim mesmo se na vida comum não serão eles, a bem dizer, duas almas num só corpo, assim como duas plantas distintas uma da outra a se desenvolverem num vaso único...

Na experiência diária, vulgar, não será nossa irmã constantemente influenciada, de maneira positiva, embora indirecta, pelo companheiro que a obsedia?

— Você examina o assunto com acertado critério. Nossa amiga, na equipe doméstica, é um enigma para os familiares.

Moça de notável procedência, possui belas aquisições culturais, entretanto, sempre se comporta de modo chocante, evidenciando desequilíbrios ocultos.

A princípio, compareciam a insatisfação e a melancolia ocasionando crises de nervos e distúrbios circulatórios.

Doente, desde a puberdade, em vão opinaram clínicos de renome sobre o caso, até que um cirurgião, crendo-a prejudicada por desarmonias da tiróide, submeteu-a a delicada intervenção, da qual saiu com seus padecimentos inalterados.

Logo após, conheceu o cavalheiro sob nossa observação, que a desposou convencido de que o matrimónio lhe constituiria renovação salutar.

Ao invés disso, porém, a situação se lhe agravou.
A gravidez cedo se verificou, consoante a planificação de serviço, traçada na Vida Superior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:37 pm

Nossa irmã doente deveria receber o perseguidor nos braços maternos, afagando-lhe a transformação e auxiliando-lhe a aquisição de novo destino, mas, sentindo-lhe a aproximação, recolheu-se a insopitável temor, adiando o trabalho que lhe compete.

Impermeável às sugestões da própria alma, provocou o aborto com rebeldia e violência.
Essa frustração foi a brecha que favoreceu mais ampla influência do adversário invisível no círculo conjugal.

A pobre criatura passou a sofrer multiplicadas crises histéricas, com súbita aversão pelo marido.
Principalmente à noite, é colhida, de assalto, por fenómenos de sufocação e de angústia, amargurando o consorte desolado.

Médicos foram trazidos, no entanto os hipnóticos foram empregados em vão...
Em franca demência, a enferma foi conduzida à casa de saúde, todavia, a insulina e o electro-choque não lhe solucionaram o problema.

Presentemente, atravessa um período de repouso em família, deliberando o esposo experimentar o concurso do Espiritismo.

Enquanto Silva e Clementino procuravam sossegar a médium e o comunicante, reunidos numa simbiose de extremo desespero, Hilário e eu continuávamos famintos de esclarecimento maior.

— E se ela conseguisse nova maternidade? — inquiriu meu colega, estudioso.
— Sim — concordou Áulus, convicto —, semelhante reconquista ser-lhe-á uma bênção, contudo, pela trama de sentimentos contraditórios em que se emaranhou, na fuga das obrigações que lhe cabem, não pode receber, de pronto, esse privilégio.

Lembrei-me de mulheres que se fazem mães nos hospícios, mas, analisando-me os pensamentos, o orientador explicou:
— A posição de alienada mental não lhe retira os favores da Natureza, mas a crueldade meditada com que se afastou dos compromissos assumidos, imprimiu certo desequilíbrio ao centro genésico.

Nossas defecções mais íntimas, embora desconhecidas dos outros, prejudicam-nos o veículo subtil e não podemos trair o tempo nas reparações necessárias, ainda mesmo quando o remorso nos ajude a restaurar as boas intenções.

A perfeita entrosagem dos elementos psicofísicos filia-se à mente.
A vida corpórea é a síntese das irradiações da alma.
Não há órgãos em harmonia sem pensamentos equilibrados, como não há ordem sem inteligência.

O serviço de socorro espiritual, porém, continuava inquietante.

A entidade vingadora, jungida à médium, demorava-se contida pelos assessores de Clementino, ao passo que a moça, reflectindo-lhe as emoções e os impulsos, tinha o peito arfante e gemia em soluços:
— Para mim não há recurso!... Sou um renegado!...

— Perdoa, meu irmão, e o caminho ser-te-á renovado — dizia Raul, com inflexão de amor.
Desculpando, somos desculpados. Todos temos dívidas...
Não se inclinará, porventura, ao auxílio para que seja igualmente ajudado?

— Não posso, não posso... — chorava o infeliz.

E, à frente daquele par de Espíritos sofredores num só corpo, Aulus prosseguiu esclarecendo:
— A fim de examinar com serenidade as agruras da obsessão na mediunidade torturada, não podemos esquecer as causas do suplício de hoje a se enraizarem nas sombras de ontem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:37 pm

Os templos espíritas vivem repletos de dramas comoventes, que se prendem ao passado remoto e próximo.

Apontando o casal com a destra, continuou:
— O esposo de agora foi no pretérito um companheiro nocivo para a nossa irmã obsidiada, induzindo-a a envenenar o pai adoptivo, hoje metamorfoseado no verdugo que a persegue.

Herdeira de considerável fortuna, com testamento garantido, em sua condição de filha adoptiva e única, viu que o velho tutor pretendia alterar decisões.

Isso aconteceu em aristocrática mansão do século que passou.
O viúvo abastado, que a criara com desvelado carinho, não concordou com a escolha feita.

O moço não lhe agradava.
Parecia mais interessado em pilhar-lhe as finanças que em fazer a felicidade da jovem desprevenida e insensata.

Procurou, então, subtrai-la à influência do noivo, verificando que debalde lhes buscava a separação.

Indignado, mobilizava medidas legais para deserdá-la, quando o rapaz, explorando a paixão de que a moça se via possuída, induziu-a a eliminá-lo, através de entorpecentes contínuos.

Anulado o velhinho, por duas semanas de falsa medicação, o serviço da morte foi completado por diminuta dose de corrosivo.

Findo ligeiro período de luto, a jovem herdeira enriqueceu o marido ao casar-se, contudo, em pouco tempo, viu-se presa de aflitivas desilusões, porque o esposo depressa se revelou jogador inveterado e libertino confesso, relegando-a a profunda miséria moral e física.

Não lhe bastou esse género de aniquilamento gradativo.
O tutor desencarnado imantou-se a ela, com desvairada fome de vingança, submetendo-a a horríveis tormentos íntimos.

Em verdade, o parricídio permaneceu ignorado na Terra, mas foi registado nos tribunais divinos e longo trabalho expiatório vem sendo levado a efeito, porquanto, ainda aqui, estamos observando esse trio de consciências entrelaçadas nos fios dilacerantes da provação redentora.

O infortunado perseguidor recolhia afectuosas admoestações de Raul Silva e, depois de breve intervalo, o Assistente continuou:
— Como vemos, a tragédia de nossa irmã enferma vem de longe.

Nos planos inferiores da vida espiritual, vagueou por muito tempo na faixa de ódio da vítima que se lhe fez vingativo credor e, na actualidade, em nova etapa de luta, tem o pensamento enovelado ao dele.

Atravessou a infância e a puberdade, experimentando-lhe o assédio a distância, todavia, quando o inimigo de outrora reapareceu na condição de marido actual, com a tarefa de ajudar a companheira e reeducá-la, e fraquejando nossa amiga nos primeiros tentames da responsabilidade maternal, o obsessor aproveitou-se do ascendente magnético sobre a pobrezinha, golpeando-lhe o equilíbrio.

Sensibilizados com o quadro de justiça a desdobrar-se sob nossos olhos, não conseguíamos fugir à indagação para melhor fixar ensinamentos.

Fixando a atenção no esposo da vítima, que a amparava carinhosamente, Hilário considerou:
— Com que, então, nosso amigo tem o seu débito a saldar para com a mulher doente...
— Sem dúvida — confirmou Aulus com grave entoo —, o Poder Divino não nos aproxima uns dos outros sem fins justos.

No matrimónio, no lar ou no círculo de serviço, somos procurados por nossas afinidades, de modo a satisfazer aos imperativos da Lei de Amor, seja na ampliação do bem, ou no resgate de nossas dívidas, resultantes do nosso deliberado contacto com o mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:38 pm

Nossa irmã sofre os efeitos do parricídio a que se entregou pelo anseio de desfrutar prazeres que lhe desajustaram o plano consciencial, e o amigo que lhe inspirou a acção deplorável é agora chamado a ajudá-la na restauração imprescindível.

Olhei penalizado o cavalheiro tristonho e pensei na frustração a que devia sentir-se preso.

Bastou a reflexão para que o orientador me explicasse, solícito:
— Decerto, nosso companheiro na actualidade não se sente feliz.

Recapitulando a antiga fome de sensações, abeirou-se da mulher que desposou, procurando instintivamente a sócia de aventura passional do pretérito, mas encontrou a irmã doente que o obriga a meditar e a sofrer.

— Transferindo nossos interesses de estudo para este caso — comentou Hilário —, ainda assim poderemos classificar a enferma à conta de médium?

— Como não? É um médium em aflitivo processo de reajustamento.
É provável se demore ainda alguns anos na condição de doente necessitada de carinho e de amor.

Encarcerada nas teias fluídicas do adversário demente, purifica-se, através das complicações do sonambulismo torturado.

Desse modo, por enquanto é um instrumento para a criação de paciência e boa-vontade no grupo de trabalhadores que visitamos, mas sem qualquer perspectiva de produção imediata, no campo do auxílio, de vez que se revela extremamente necessitada de concurso fraternal.

— Naturalmente, porém — aleguei —, mesmo agora, a presença dela aqui não será inútil.
— De modo algum — acrescentou o instrutor —;
primeiramente, ela e o esposo constituem valioso núcleo de trabalho em que nossos companheiros de serviço podem adestrar suas qualidades de semeadores da luz.

Além disso, o impacto da doutrinação não é perdido.
Noite a noite, de reunião a reunião, na intimidade da prece e dos apontamentos edificantes, o trio de almas renovar-se-á, pouco a pouco.

O perseguidor compreenderá a necessidade de perdão para melhorar-se, a enferma fortalecer-se-á em espírito para recuperar-se como é preciso e o esposo adquirirá a paciência e a calma, a fim de ser realmente feliz.

Nessa altura, com a colaboração de amigos espirituais da casa, o hóspede foi retirado do ambiente psíquico da jovem senhora, que voltou à normalidade, e, atendendo-nos à inquirição, o Assistente anotou, bondoso:
— Quando nosso irmão Clementino convocou-nos a observar o problema, indubitavelmente quis salientar os imperativos de trabalho e tolerância, compreensão e bondade para construirmos a mediunidade completa no mundo.

Médiuns repontam em toda parte, entretanto, raros já se desenvencilharam do passado sombrio para servir no presente à causa comum da Humanidade, sem os enigmas do caminho que lhes é particular.

E como ninguém avança para diante, com a serenidade possível, sem pagar os tributos que deve à retaguarda, saibamos tolerar e ajudar, edificando com o bem...

A conversação, contudo, foi interrompida.
Clementino, diligente, chamava-nos a cooperar em outros sectores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:38 pm

11 - Desdobramento em serviço

Chegara a vez do médium António Castro.

Profundamente concentrado, denotava a confiança com que se oferecia aos objectivos de serviço.
Aproximou-se dele o irmão Clementino e, à maneira do magnetizador comum, impôs-lhe as mãos aplicando-lhe passes de longo circuito.

Castro como que adormeceu devagarinho, inteiriçando-se-lhe os membros.
Do tórax emanava com abundância um vapor esbranquiçado que, em se acumulando à feição de uma nuvem, depressa se transformou, à esquerda do corpo denso, numa duplicata do médium, em tamanho ligeiramente maior.

Nosso amigo como que se revelava mais desenvolvido, apresentando todas as particularidades de sua forma física, apreciavelmente dilatadas.

Desejei ensaiar algumas indagações, contudo, a dignidade do serviço impunha-me silêncio.
O director espiritual da casa submetia o medianeiro a delicada intervenção magnética que não seria lícito perturbar ou interromper.

O médium, assim desligado do veículo carnal, afastou-se dois passos, deixando ver o cordão vaporoso que o prendia ao campo somático.

Enquanto o equipamento fisiológico descansava, imóvel, Castro, tacteante e assombrado, surgia, junto de nós, numa cópia estranha de si mesmo.

Porquanto, além de maior em sua configuração exterior, apresentava-se azulada à direita e alaranjada à esquerda.

Tentou movimentar-se, contudo, parecia sentir-se pesado e inquieto...
Clementino renovou as operações magnéticas e Castro, desdobrado, recuou, como que se justapondo novamente ao corpo físico.

Verifiquei, então, que desse contacto resultou singular diferença. O corpo carnal engolira, instintivamente, certas faixas de força que imprimiam manifesta irregularidade ao perispírito, absorvendo-as de maneira incompreensível para mim.

Desde esse instante, o companheiro, fora do vaso de matéria densa, guardou o porte que lhe era característico.

Era, agora, bem ele mesmo, sem qualquer deformidade, leve e ágil, embora prosseguisse encadeado ao envoltório físico pelo laço aeriforme, que parecia mais adelgaçado e mais luminoso, à medida que Castro-Espírito se movimentava em nosso meio.

Enquanto Clementino o encorajava com palavras amigas, o nosso orientador, certamente assinalando-nos a curiosidade, deu-se pressa em esclarecer:
— Com o auxílio do supervisor, o médium foi convenientemente exteriorizado.

A principio, seu perispírito ou “corpo astral” estava revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como sendo o «duplo etérico», formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora.

Para melhor ajustar-se ao nosso ambiente, Castro devolveu essas energias ao corpo inerme, garantindo assim o calor indispensável à colmeia celular e desembaraçando-se, tanto quanto possível, para entrar no serviço que o aguarda.

— Ah! — disse Hilário, com expressão admirativa — aqui vemos, desse modo, a exteriorização da sensibilidade!...

— Sim, se algum pesquisador humano ferisse o espaço em que se situa a organização perispirítica do nosso amigo, registaria ele, de imediato, a dor do golpe que se lhe desfechasse, queixando-se disso, através da língua física, porque, não obstante liberto do vaso somático, prossegue em comunhão com ele, por intermédio do laço fluídico de ligação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:38 pm

Observei atentamente o médium projectado ao nosso círculo de trabalho.
Não envergava o costume azul e cinza de que se vestia no recinto, mas sim um roupão esbranquiçado e inteiriço que descia dos ombros até o solo, ocultando-lhe os pés, e dentro do qual se movia, deslizante.

Aulus registou-me as anotações íntimas e esclareceu:
- Nosso irmão, com a ajuda de Clementino, está usando as forças ectoplásmicas que lhe são próprias, acrescidas com os recursos de cooperação do ambiente em que nos achamos.

Semelhantes energias transudam de nossa alma, conforme a densidade específica de nossa própria organização, variando desde a sublime fluidez da irradiação luminescente até a substância pastosa com que se operam nas crisálidas os variados fenómenos de metamorfose.

Depois de fitar o médium hesitante alguns momentos, prosseguiu:
— Castro é ainda um iniciante no serviço.

Á medida que entesoure experiência, manejará possibilidades mentais avançadas, assumindo os aspectos que deseje, considerando que o perispírito é constituído de elementos maleáveis, obedecendo ao comando do pensamento, seja nascido de nossa própria imaginação ou da imaginação de inteligências mais vigorosas que a nossa, mormente quando a nossa vontade se rende, irreflectida, à dominação de Espíritos tirânicos ou viciosos, encastelados na sombra.

— Nosso amigo, então, se pudesse... — comentou Hilário, curioso.

Mas, cortando-lhe a frase, o Assistente completou-a, ajuntando:
— Se pudesse pensar com firmeza fora do campo físico, se já tivesse conquistado uma boa posição de auto governo, com facilidade imprimiria sobre as forças plásticas de que se reveste a imagem que preferisse, aparecendo ao nosso olhar como melhor lhe aprouvesse, porque é possível estampar em nós mesmos o desenho que nos agrade.

— Sim — ponderei —, importa reconhecer, contudo, que esse desenho, embora vivo, não é comparável ao vestuário em nosso plano...

Aulus percebeu que minhas indagações incluíam sempre o imperativo de maior esclarecimento para Hilário, ainda neófito em nosso campo de acção e, talvez por isso, procurou fazer-se tão claro e minucioso quanto possível, acrescentando:
— De modo nenhum.

O pensamento modelará a forma que nos inclinamos a adoptar, no entanto, os apetrechos de nossa apresentação na esfera diferente de vida a que fomos trazidos, segundo vocês já conhecem, variarão em seus tipos diversos.

Lembremo-nos, para exemplificar, de um homem terrestre tatuado.
Terá ele escolhido um desenho, através do qual a sua forma, por algum tempo, se faz mais facilmente identificável, mas envergará a vestimenta que mais lhe atenda ao bom gosto, conforme as usanças do quadro social a que se ajusta.

E, sorrindo, acentuou:
— Pela concentração mental, qualquer Espírito se evidenciará na expressão que deseje, todavia, empregando nossa imaginação criadora, podemos e devemos mobilizar os recursos ao nosso alcance, aprimorando concepções artísticas no campo de nossas relações, uns com os outros.

A Arte, tanto quanto a Ciência, entre nós, é muito mais rica que no círculo dos encarnados e, por ela, a educação se processa mais eficiente, no que tange à beleza e à cultura.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:38 pm

Assim como não podemos conceber uma sociedade terrestre digna e enobrecida, tão-somente composta por homens e mulheres em nudismo absoluto, embora com maravilhosos primores de tatuagem, é preciso considerar que os indivíduos de nossa comunidade, não obstante dispondo de um veículo prodigiosamente esculpido pelas forças mentais, não menoscabam as excelências do vestuário, por intermédio das quais seleccionamos emoções e maneiras distintas.

Não podemos esquecer que progresso é trabalho educativo.
A ascensão do Espírito não seria regresso ao empirismo da taba.

Aulus silenciou.
O médium, mais à vontade fora do corpo denso, recebia as instruções que Clementino lhe administrava, paternal.
Dois guardas aproximaram-se dele e lhe aplicaram à cabeça um capacete em forma de antolhos.

— Para a viagem que fará — avisou-nos o Assistente —, Castro não deve dispersar a atenção. Incipiente ainda nesse género de tarefa, precisa instrumentação adequada para reduzir a própria capacidade de observação, de modo a interferir o menos possível na tarefa a executar.

Vimos o rapaz plenamente desdobrado alçar-se ao espaço, de mãos dadas com ambos os vigilantes.
O trio volitou em sentido oblíquo, sob nossa confiante expectação.

Desde esse momento, demonstrando manter segura comunhão com o veículo carnal, ouvimo-lo dizer através da boca física:
— Seguimos por um trilho estreito e escuro!

Oh! tenho medo, muito medo...
Rodrigo e Sérgio amparam-me na excursão, mas sinto receio!...
Tenho a ideia de que nos achamos em pleno nevoeiro...

Estampando no rosto sinais de angústia e estranheza, continuava:
— Que noite é esta?...
A escuridão parece pesar sobre nós!... Ai de mim!
Vejo formas desconhecidas agitando-se em baixo, sob nossos pés!...

Quero voltar! voltar!...
Não posso prosseguir!... não suporto, não suporto!...

Mas Raul, sob a inspiração do mentor da casa, elevou o padrão vibratório do conjunto, numa prece fervorosa em que rogava do Alto forças multiplicadas para o irmão em serviço.

Junto de nós, Aulus informou:
— A oração do grupo, acompanhando-o na excursão e transmitida a ele, de imediato, constitui-lhe abençoado tónico espiritual.

— Ah! sim, meus amigos — prosseguia Castro, qual se o corpo físico lhe fosse um aparelho radiofónico para comunicações a distância —, a prece de vocês actua sobre mim como se fosse um chuveiro de luz...

Agradeço-lhes o benefício!... Estou reconfortado... Avançarei!...

Interpretando os fatos sob nossa observação, o Assistente explicou:
— Raros Espíritos encarnados conseguem absoluto domínio de si próprios, em romagens de Serviço edificante fora do carro de matéria densa.

Habituados à orientação pelo corpo físico, ante qualquer surpresa menos agradável, na esfera de fenómenos inabituais, procuram instintivamente o retorno ao vaso carnal, à maneira do molusco que se refugia na própria concha, diante de qualquer impressão em desacordo com os seus movimentos rotineiros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:39 pm

Castro, porém, será treinado para a prestação de valioso concurso aos enfermos de qualquer posição.
Enquanto assinalávamos o apontamento, a voz do médium se elevava no ar, vigorosa e cristalina.

— Que alívio! Rompemos a barreira de trevas!...
A atmosfera está embalsamada de leve aroma!...
Brilham as estrelas novamente... Oh! é a cidade de luz...

Torres fulgurantes elevam-se para o firmamento!
Estamos penetrando um grande parque!...
Oh! meu Deus, quem vejo aqui a sorrir-me!...

É o nosso Oliveira! Como está diferente!
Mais moço, muito mais moço...
Lágrimas copiosas banharam o rosto do médium, comovendo-nos a todos.

No gesto de quem se entregava a um abraço carinhoso, de coração a coração, o medianeiro continuou:
— Que felicidade! que felicidade!...
Oliveira, meu amigo, que saudades de você!...

por que razão teríamos ficado assim, sem a sua cooperação?
Sabemos que a Vontade do Senhor deve prevalecer, mas a distância tem sido para nós um tormento!... a lembrança de seu carinho vive em nossa casa...

Seu trabalho permanece entre nós como inesquecível exemplo de amor cristão!...
Volte! Venha incentivar-nos na sementeira do bem!...
Amado amigo, nós sabemos que a morte é a própria vida, no entanto, sentimos sua falta!...

A voz do viajante, que se fazia ouvir de tão longe, entrecortava-se agora de doloridos soluços.
O próprio Raul Silva mostrava igualmente os olhos marejados de pranto.
Aulus deu-nos a conhecer quanto ocorria.

— Oliveira foi um abnegado trabalhador neste santuário do Evangelho — explicou.
Desencarnou há dias, e Castro, com aquiescência dos orientadores, foi apresentar-lhe as afectuosas saudações dos companheiros.

Demora-se em refazimento, ainda inapto a comunicação mais íntima com os irmãos que ficaram.
Mas poderá enviar a sua mensagem, por intermédio do companheiro que o visita.

— Abrace-me, sim, querido amigo! — prosseguia Castro, com inenarrável inflexão de ternura fraterna.
Estou pronto!... direi o que você deseja...
Fale e repetirei!...

E, recompondo-se, na atitude de quem se devia fazer intermediário digno, modificou a expressão fisionómica, falando cadenciadamente para os circunstantes:
— Meus amigos, que o Senhor lhes pague.

Estou bem, mas na posição do convalescente, incapaz de caminhada mais difícil...
Sinto-me reconfortado, quase feliz!

Indiscutivelmente, não mereço as dádivas recebidas, pois me vejo no Grande Lar, amparado por afeições inolvidáveis e sublimes!
As preces do nosso grupo alcançam-me cada noite, como projecção de flores e bênçãos!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 12, 2012 8:39 pm

Como expressar-lhes gratidão se a palavra terrestre é sempre pobre para definir os grandes sentimentos de nossa vida?
Que o Pai os recompense!...

Aqui, onde me encontro, vim reconhecer, mais uma vez, a minha desvalida e agora concluo que todos os nossos sacrifícios pela causa do bem são bagatelas, comparados à munificência da Divina Bondade...

Meus amigos, a caridade é o grande caminho! Trabalhemos!...
Jesus nos abençoe!...

A voz de Castro apagou-se-lhe nos lábios e, dai a instantes, vimo-lo regressar, amparado pelos irmãos que o haviam conduzido, retomando o corpo denso, com naturalidade.

Reajustando-se, qual se o vaso físico o absorvesse, de inopino, acordou na esfera carnal, na posse de todas as suas faculdades normais, esfregando os olhos, como quem desperta de grande sono.

O desdobramento em serviço estava findo e com a tarefa terminada havíamos recolhido preciosa lição.
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