LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 5 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Abr 17, 2012 9:25 pm

— Mãezinha, acalme-se! — rogava a filha comovida.
Confiemos na Providência.
Jesus é o nosso Amigo Vigilante.

Porque não esperar pela protecção dele?
A senhora vai recuperar-se...
Repare com atenção.
Nosso quarto está em paz...

Asserenava-se a enferma de algum modo, com a desconfiança e o medo a se lhe estamparem nos olhos e, logo após, constrangendo Anésia a inclinar-se, segredava-lhe aos ouvidos:
— Sinto que o nosso Olímpio está connosco...
Meu filho desceu do Céu e veio buscar-me...
Não tenho dúvida... é meu filho, sim... meu filho...

A carinhosa enfermeira acreditou no que ouvia, compreendendo, porém, que a presença do irmão não seria de desejar e convidou a progenitora ao serviço da prece. Não seria melhor que se unissem ambas em prece, pedindo o socorro celestial?

E enquanto Anésia se fazia intérprete da assistência de Teonília, a esforçar-se por envolver a velhinha em fluidos calmantes, Aulus convidou-nos a reparar a comunhão entre o filho desencarnado e a pobre mãe a desencarnar.

Olímpio, o rapaz assassinado noutro tempo, jungia-se a ela, à maneira de planta parasitária asfixiando um arbusto raquítico.

— Nossa amiga — explicou o Assistente —, em sua doce afectividade, supõe no filho um génio guardião, quando a realidade é que o infeliz se deixou dominar, mesmo depois de perder o veículo carnal, pelo vício da embriaguez.

Alcoólatra impenitente, caiu ante o revólver de um companheiro, tão desvairado quanto ele mesmo, numa noite de insânia.

Desligado da carne e já intensamente minado pelo “delirium tremens”, não teve forças para mentalizar a recuperação que lhe é imprescindível e prosseguiu em companhia daqueles que lhe pudessem facultar o prolongamento dos excessos em que se compraz...

Evocado, contudo, pela insistência materna, veio parar neste quarto, onde se encontra enleado pelas requisições da irmã Elisa.

Acontece, no entanto, que, em se libertando gradualmente do vaso físico, nossa irmã transfere o campo emotivo, do círculo da carne para a esfera do Espírito, passando compulsoriamente a sofrer ó influxo pernicioso da entidade que ela própria trouxe para junto de si, usando a vontade e o pensamento.

Na posição em que se colocam, são ambos, assim, por força das circunstâncias, duas mentes sintonizadas na mesma faixa de impressões, porque, enfraquecida qual se encontra, a enferma se submete facilmente ao domínio do rapaz, cujo pavor e cujo desequilíbrio se lhe transfundem na alma submissa e afectuosa.

Analisando o fenómeno, perguntei se a associação sob nossa vista poderia ser comparada à incorporação mediúnica, qual a conhecemos.

- Sem qualquer dúvida — confirmou o orientador.
Elisa, atraindo o filho, num estado de passividade profunda, que lhe sobrevém por motivo de natural desgaste nervoso e sem experiência que lhe outorgue discernimento e defesa, assimila-lhe, de modo espontâneo, as correntes mentais, retratando-lhe a desarmonia interior.

Estando a desencarnar-se, devagarinho, reflecte-lhe as reminiscências do pretérito e as terríveis visões Intimas que lhe são agora familiares, de vez que, à distância das libações costumeiras, o infortunado amigo padece as alucinações comuns às vítimas do alcoolismo crónico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:24 pm

- Céus! — exclamou Hilário, compadecido como relegar uma velhinha doente a provação dessa ordem? não significará isso, clamorosa injustiça?

— Concordo em que é lamentável o quadro sob nosso exame — obtemperou o Assistente —, entretanto, ninguém trai as leis que nos regem a vida.

Elisa, com a presença do filho, recebeu aquilo que procurou ardentemente.

Certo, apresenta-se na configuração passageira de uma anciã penetrando a antecâmara da morte, todavia, na realidade, é um Espírito imperecível e responsável, manejando os valores mentais que se expressam e se conjugam, segundo princípios claros e definidos.

Finda ligeira pausa, acentuou:
— Muita vez, pedimos o que não conhecemos, recolhendo o que não desejamos.
No fim, porém, há sempre lucro, porque o Senhor nos permite retirar, de cada situação e de cada problema, os preciosos valores da experiência.

Aulus, contudo, não perdeu tempo em divagações.
Conferenciou reservadamente com Teonília quanto ao serviço programado, em favor da enferma e, aceitando-nos a colaboração, desligou o rapaz, usando para isso avançados potenciais magnéticos.

Tão logo se afastou o desventurado Olímpio, identificamos curioso fenómeno.
Dona Elisa, que falava singularmente animada, entrou em absoluta prostração, qual se houvera sido manietada.

Assinalando-nos a curiosidade, o orientador esclareceu:
— A actuação do filho desencarnado alimentava-lhe a excitação mental a incidir sobre o campo nervoso.
Agora, está confinada às energias que lhe são próprias.

A doente, emitindo sons guturais, calara-se, de súbito.
Debalde tentou Anésia arrancar-lhe uma palavra.
Dona Elisa, embora vendo e ouvindo, não mais logrou articular uma frase.

Buscou inutilmente mover os braços, ante a dor aguda que passou a registar no peito, todavia, não teve forças para tanto.

Aulus deu-se pressa em administrar-lhe passes calmantes, contudo, não obteve grande resultado.

— É a contracção final das coronárias — exclamou, comovido.
Elisa não resistirá, O miocárdio não mais reage ao nosso influxo magnético.

O processo anginoso alcançou o fim.
Reparei que a agonizante estimaria conversar com a filha, no entanto, incoercível sofrimento constringia-lhe o tórax.

A língua não mais lhe obedecia ao comando íntimo.
Teve a noção de que lhe cabia fazer a viagem do túmulo...

Como se um relâmpago lhe rasgasse a noite mental, num desses raros minutos que valem séculos para a alma, reviu apressadamente o passado.

Todas as cenas da infância, da mocidade e da madureza reapareceram de inesperado no templo da memória, como que a convidá-la a escrupuloso exame de consciência.

A enferma não vacilou.
Seus momentos na carne estavam contados.
Incapaz de entender-se com a filha, desejou despedir-se de velha irmã que residia a longa distância.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:24 pm

Vimo-la, num supremo esforço, concentrando os próprios pensamentos para satisfazer a essa derradeira aspiração...

Anésia, por sua vez, sob a influência de Teonília, percebeu que a progenitora atingira a estação terminal da existência terrestre e, enlaçando-a, carinhosamente, orava em pranto silencioso.

A agonizante entendeu-a, mas apenas derramou comoventes lágrimas como resposta.

Demorando na filha o olhar dorido e ansioso, Dona Elisa projectou-se, por fim, em nosso meio, mantendo-se, porém, ainda ligada ao veículo físico por um laço de prateada substância.

Enquanto se lhe inteiriçavam os membros, um só pensamento lhe predominava no espírito — dizer adeus à última irmã consanguínea que lhe restava na Terra.

Envolvida na onda de forças, nascida de sua própria obstinação, afastou-se, ligeira, volitando automaticamente no rumo da cidade em que se lhe situava a parenta.

Correspondendo à ordem de Aulus, passamos a segui-la de perto.
Dezenas de quilómetros foram instantaneamente vencidos.

Em plena noite alta, colocamo-nos ao lado dela, num aposento mal iluminado, em que venerável anciã dormia tranquila.

— Matilde! Matilde!...
A recém-chegada tentou despertá-la, à pressa, mas em vão.

Consciente de que não dispunha senão de rápidos instantes, vibrou algumas pancadas no leito da irmã, que acordou de chofre, entrando, de imediato, em sua esfera de influência.

Dona Elisa passou a falar-lhe, atormentada.

Dona Matilde, contudo, não lhe escutava as palavras pelos condutos auditivos do vaso carnal e sim pelo cérebro, através de ondas mentais, em forma de pensamentos a lhe remoinharem ao redor da cabeça.

Reerguendo-se, inquieta, falou de si para consigo: — «Elisa morreu».

Indicando-nos as duas irmãs juntas, o Assistente explicou:
— Temos aqui uns dos tipos habituais de comunicação nas ocorrências de morte.
Pela persistência com que se repetem, os cientistas do mundo são constrangidos a examiná-los.

Alguns atribuem esses factos a transmissões de ondas telepáticas, ao passo que outros neles encontraram os chamados «fenómenos de premonição.

Isso tudo, porém, reduz-se na Doutrina do Espiritismo à verdade simples e pura da comunhão directa entre as almas imortais.

— Todas as pessoas, desde que o desejem — perguntou meu colega —, podem efectuar semelhantes despedidas, quando partem da Terra?

— Sim, Hilário, você diz bem quando afirma «desde que o desejem», porque semelhantes comunicações, no instante da morte, somente se realizam por aqueles que concentram a própria força mental num propósito dessa espécie.

Todavia, não dispúnhamos de tempo para maiores conversações.
Dona Elisa, após liberar-se do anseio que lhe inquietava o campo Intimo, qual se o corpo distante lhe reclamasse a presença, à feição do que ocorre num caso de desdobramento vulgar, voltou, de imediato, a casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:24 pm

Seguindo-a de perto, notamo-la menos aflita, embora fatigada.

No aposento familiar, quis reaver o veículo físico, satisfazendo aos velhos hábitos, como se a realidade lhe constituísse tão-somente estranho pesadelo, contudo, abatida e atormentada, flutuou sobre o leito, ligada aos despojos pelo ténue fio a que nos referimos.

A recém-desencarnada, de alma opressa, resistia à fome de repouso que lhe castigava o pensamento, indecisa e agoniada, sem saber definir se estava viva dentro da morte ou se estava morta dentro da vida.

Outros amigos espirituais penetraram a câmara.

Aulus consultou o horário e acrescentou:
— Voltemos. Nada mais nos cabe fazer.

Hilário fixou o laço prateado entre o corpo hirto e a nossa amiga recém-liberta e indagou:
— Não poderemos colaborar no desfazimento desse cordão incómodo?

— Não — explicou o orientador —, esse elo tem a sua função específica no reequilíbrio da alma.
Morte e nascimento são operações da vida eterna que demandam trabalho e paciência.

Além disso, há companheiros especializados no serviço da libertação última.
A eles compete o toque final.

E, acompanhando o instrutor, retiramo-nos do lar de Anésia, onde havíamos recolhido preciosas lições.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:25 pm

22 - Emersão do passado

Em companhia do Assistente, tornamos à segunda reunião semanal do grupo presidido pelo irmão Raul Silva, a cuja organização nosso orientador não regateava simpatia e confiança.

O conjunto de trabalhadores não se alterara na constituição que lhe era característica.
A pequena fila dos obsessos, todavia, apresentava modificações.

Duas senhoras, seguidas pelos respectivos esposos, e um cavalheiro de fisionomia fatigada integravam a equipe dos que receberiam assistência.

Os médiuns da casa desempenharam caridosa tarefa, emprestando as suas possibilidades para a melhoria de várias entidades transviadas na sombra e no sofrimento, com a colaboração eficiente de Dona Celina à frente do serviço.

Solucionados diversos problemas alusivos ao programa da noite, eis que uma das senhoras enfermas cai em pranto convulsivo, exclamando:
— Quem me socorre? quem me socorre?...

E comprimindo o peito com as mãos, acrescentava em tom comovedor:
— Covarde! por que apunhalar, assim, uma indefesa mulher?
Serei totalmente culpada? meu sangue condenará seu nome infeliz...

Raul, com a serenidade habitual, abeirou-se dela e consolou-a, com carinho:
— Minha irmã, o perdão é o remédio que nos recompõe a alma doente...
Não admita que o desespero lhe subjugue as energias!...
Guardar ofensas é conservar a sombra.
Esqueçamos o mal para que a luz do bem nos felicite o caminho...

— Olvidar? nunca...
O senhor sabe o que vem a ser uma lâmina enterrada em sua carne?
Sabe o que seja a calamidade de um homem que nos suga a existência para arremessar-nos à miséria, comprazendo-se, depois disso, em derramar-nos o próprio sangue?

— Sim, sim, ninguém lhe contraria o direito à justiça, segundo as suas afirmações, entretanto, não será mais aconselhável aguardar o pronunciamento da Bondade Divina? Quem de nós estará sem mácula?

— Esperar, esperar?
há quanto tempo não faço outra coisa!
Em vão procuro reaver a alegria...

Por mais me dedique ao trabalho de romper com o pretérito, vivo a carregar a sombra de minhas recordações, como quem traz no próprio peito o sepulcro dos sonhos mortos...

Tudo por causa dele...
Tudo pelo malvado que me arruinou o destino...

E a pobre criatura prorrompeu em soluços, enquanto um homem desencarnado, não longe, fitava-a com inexprimível desalento.

Perplexos, Hilário e eu lançamos um olhar indagador ao Assistente, que nos percebeu a estranheza, porquanto a enferma, sem a presença da mulher invisível que parecia personificar, prosseguia em aflitiva posição de sofrimento.

— Não vejo a entidade de quem a nossa irmã se faz intérprete — alegou Hilário, curioso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:25 pm

— Sim — disse por minha vez —;
observo em nossa vizinhança um triste companheiro desencarnado, mas se ele estivesse telepaticamente ligado à nossa amiga, decerto a mensagem definiria a palavra de um homem, sem as características femininas da lamentação que registarmos...

Em verdade, não notamos aqui qualquer laço magnético que nos induza a assinalar fluidos teledinâmicos sobre a mente da médium...

Aulus afagou a fronte da doente em lágrimas, como se lhe auscultasse o pensamento, e explicou:
— Estamos diante do passado de nossa companheira.

A mágoa e o azedume, tanto quanto a personalidade supostamente exótica de que dá testemunho, tudo procede dela mesma...

Ante a aproximação de antigo desafecto, que ainda a persegue de nosso plano, revive a experiência dolorosa que lhe ocorreu, em cidade do Velho Mundo, no século passado, e entra em seguida a padecer insopitável melancolia.

Recomeçou a luta na carne, na presente reencarnação, possuída de novas esperanças, contudo, tão logo experimenta a visitação espiritual do antigo verdugo, que a ela se enleia, através de vigorosos laços de amor e ódio, perturba-se-lhe a vida mental, necessitada de mais ampla reeducação.

É um caso no qual se faz possível a colheita de valiosos ensinamentos.

— Isso quer dizer, então...

A frase de Hilário ficou, porém, no ar, porque o instrutor lhe, definiu o pensamento, acrescentando:
— Isso quer dizer que nossa irmã imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo emotivo, em torno da experiência a que nos referimos, a ponto de semelhante cristalização mental haver superado o choque biológico do renascimento no corpo físico, prosseguindo quase que intacta.

Fixando-se nessa lembrança, quando instada de mais perto pelo companheiro que lhe foi irreflectido algoz, passa a comportar-se qual se estivesse ainda no passado que teima em ressuscitar.

É então que se dá a conhecer como personalidade diferente, a referir-se à vida anterior.

Sorrindo, paternal, considerou:
— Sem dúvida, em tais momentos, é alguém que volta do pretérito a comunicar-se com o presente, porque ao influxo das recordações penosas de que se vê assaltada, centraliza todos os seus recursos mnemónicos tão-somente no ponto nevrálgico em que viciou o pensamento.

Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao electro-choque, entretanto, para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo amparo moral e cultural para a renovação Intima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo.

Analisei-a, com atenção, e concluí:
— Mediunicamente falando, vemos aqui um processo de autêntico animismo.
Nossa amiga supõe encarnar uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma...

— Poderíamos, então, classificar o facto no quadro da mistificação inconsciente? — interferiu Hilário, indagador.

Aulus meditou um minuto e ponderou:
— Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem;

Portanto, não nos cabe adoptar como justas as palavras «mistificação inconsciente ou subconsciente, para baptizar o fenómeno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:25 pm

Na realidade, a manifestação decorre dos próprios sentimentos de nossa amiga, arrojados ao pretérito, de onde recolhe as impressões deprimentes de que se vê possuída, externando-as no meio em que se encontra.

E a pobrezinha efectua isso quase na posição de perfeita sonâmbula, porquanto se concentra totalmente nas recordações que já assinalamos, como se reunisse todas as energias da memória numa simples ferida, com inteira despreocupação das responsabilidades que a reencarnação actual lhe confere.

Achamo-nos, por esse motivo, perante uma doente mental, requisitando-nos o maior carinho para que se recupere.

Para sanar-lhe a inquietação, todavia, não nos bastam diagnósticos complicados ou meras definições técnicas no campo verbalista, se não houver o calor da assistência amiga.

Nosso orientador fez ligeira pausa, acariciando a enferma, e, enquanto Raul Silva continuava a doutriná-la e a consolá-la, notificou-nos, bondoso:
— Deve ser tratada com a mesma atenção que ministramos aos sofredores que se comunicam.

É também um Espírito imortal, solicitando-nos concurso e entendimento para que se lhe restabeleça a harmonia.

A ideia de mistificação talvez nos impelisse a desrespeitosa atitude, diante do seu padecimento moral.
Por isso, nessas circunstâncias, é preciso armar o coração de amor, a fim de que possamos auxiliar e compreender.

Um doutrinador sem tato fraterno apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse correctivo inoportuno ao invés de socorro providencial.

Primeiro, é preciso remover o mal, para depois fortificar a vítima na sua própria defesa.

Felizmente, o nosso Raul assimila as correntes espirituais que prevalecem aqui, tornando-se o enfermeiro ideal para as situações dessa ordem.

Hilário, tanto quanto eu, edificado com os ensinamentos ouvidos, perguntou respeitoso:
— E podemos considerá-la médium, mesmo assim?

— Como não?
Um vaso defeituoso pode ser consertado e restituído ao serviço.
Naturalmente, agora a paciência e a caridade necessitam agir para salvá-la.

Nossa irmã deve ser ouvida na posição em que se revela, como sendo em tudo a desventurada mulher de outro tempo, e recebida por nós nessa base, para que use o remédio moral que lhe estendemos, desligando-se enfim do passado...

O assunto não comporta desmentido, porque indiscutivelmente essa mulher existe ainda nela mesma.
A personalidade antiga não foi tão eclipsada pela matéria densa como seria de desejar.
Ela renasceu pela carne, sem renovar-se em espírito...

O Assistente fixou o gesto de quem mergulhava na própria consciência a sonda de suas reflexões e falou, qual se o fizesse de si para consigo:
— Ela representa milhares de criaturas aos nossos olhos...
Quantos mendigos arrastam na Terra o esburacado manto da fidalguia efémera que envergaram outrora!

Quantos escravos da necessidade e da dor trazem consigo a vaidade e o orgulho dos poderosos senhores que já foram em outras épocas!...

quantas almas conduzidas à ligação consanguínea caminham do berço ao túmulo, transportando quistos invisíveis de aversão e ódio aos próprios parentes, que lhes foram duros adversários em existências pregressas!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:25 pm

Todos podemos cair em semelhantes estados se não aprendemos a cultivar o esquecimento do mal, em marcha incessante com o bem...

Nessa altura, Raul Silva, na condição de hábil psicólogo, convidou a doente ao benefício da prece.

Competia-lhe a ela suplicar ao Céu a graça do olvido.
Cabia-lhe expungir o passado da imaginação, de maneira a pacificar-se.

E, singularmente comovido, recomendou-lhe repetir em companhia dele as frases sublimes da oração dominical.

A pobre senhora acompanhou-o docilmente.
Ao término da súplica, mostrava-se mais tranquila.

O prestimoso amigo, traduzindo a colaboração do mentor que o acompanhava, solícito, rogou-lhe considerar, acima de tudo, o impositivo do perdão aos inimigos para a reconquista da paz e, em lágrimas, a enferma desligou-se das impressões que a imobilizavam no pretérito, tornando à posição normal.

Enquanto Silva lhe aplicava passes de reconforto, o Assistente comentou:
— Outra não pode ser, por enquanto, a intervenção assistencial em seu benefício.

Pela enfermagem espiritual bem conduzida, reajustar-se-á pouco a pouco, retomando o império sobre si mesma e capacitando-se para o desempenho de valiosas tarefas mediúnicas mais tarde.

Estimaríamos a possibilidade de continuar analisando o caso sob nossa vista, contudo, a outra senhora doente passou de improviso ao transe agitado e era preciso estudar, fazendo o melhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:26 pm

23 - Fascinação

Levantara-se a dama, de esquisita maneira, e, rodopiando sobre os calcanhares, qual se um motor lhe accionasse os nervos, caiu em convulsões, inspirando piedade.

Jazia sob o império de impassíveis entidades da sombra, sofrendo, contudo, mais fortemente, a actuação de uma delas que, ao enlaçá-la, parecia interessada em aniquilar-lhe a existência.

A infortunada senhora, quase que uivando, à semelhança de loba ferida, gritava a debater-se no piso da sala, sob o olhar consternado de Raul que exorava a Bondade Divina em silêncio.

Coleando pelo chão, adquiria animalesco aspecto, não obstante sob a guarda generosa de sentinelas da casa.

Aulus e o irmão Clementino, usando avançados recursos magnéticos, interferiram no deplorável duelo, constrangendo o obsessor a desenvencilhar-se, de certo modo, da enferma que continuou, ainda assim, dominada por ele, a estreita distância.

Após reerguer a doente, auxiliando-a a sentar-se, rente ao marido, nosso instrutor deu-se pressa em explicar-nos:
— É um problema complexo de fascinação.

Nossa irmã permanece controlada por terrível hipnotizador desencarnado, assistido por vários companheiros que se deixaram vencer pelas teias da vingança.

No ímpeto de ódio com que se lança sobre a infeliz, propõe-se humilhá-la, utilizando-se da sugestão.

Não fosse o concurso fraternal que veio recolher neste santuário de prece, em transes como este seria vítima integral da licantropia deformante.

Muitos Espíritos, pervertidos no crime, abusam dos poderes da inteligência, fazendo pesar tigrina crueldade sobre quantos ainda sintonizam com eles pelos débitos do passado.

A semelhantes vampiros devemos muitos quadros dolorosos da patologia mental nos manicómios, em que numerosos pacientes, sob intensiva acção hipnótica, imitam costumes, posições e atitudes de animais diversos.

Ao passo que a doente gemia de estranho modo, amparada pelo esposo e por Raul, que se esmerava no auxílio, Hilário, espantado, indagou:
— Tão doloroso fenómeno é comum?

— Muito generalizado nos processos expiatórios em que os Espíritos acumpliciados na delinquência descambam para a esfera vibratória dos brutos — esclareceu nosso orientador, coadjuvando em benefício da enferma, cujo cérebro prosseguia governado pelo insensível perseguidor como brinquedo em mãos de criança.

— E por que não separar de vez o algoz da vítima?

— Calma, Hilário! — ponderou o Assistente.
Ainda não examinamos o assunto em sua estrutura básica.
Toda obsessão tem alicerces na reciprocidade.

Recordemos o ensinamento de nosso Divino Mestre.
Não basta arrancar o joio.
É preciso saber até que ponto a raiz dele se entranha no solo com a raiz do trigo, para que não venhamos a esmagar um e outro.

Não há dor sem razão.
Atendamos, assim, à lei da cooperação, sem o propósito de nos anteciparmos à Justiça Divina.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:26 pm

Raul, sob o controle do mentor da casa, tentava sossegar o agitado comunicante, recordando-lhe as vantagens do perdão e incutindo-lhe a conveniência da humildade e da prece.

Aflito, como não querendo perder o fio da lição, meu colega abeirou-se de nosso orientador e alegou:
— Todavia, para colaborar em favor desses irmãos em desespero, será suficiente o concurso verbalista?

— Não lhes estendemos simplesmente palavras, mas acima de tudo o nosso sentimento.
Toda frase articulada com amor é uma projecção de nós mesmos.

Portanto, se é incontestável a nossa impossibilidade de oferecer-lhes a libertação prematura, estamos doando, em favor deles, a nossa boa-vontade, através do verbo nascido de nossos corações, igualmente necessitados de plena redenção com o Cristo.

E, num tom demasiado significativo, Aulus acrescentou:
— Analisando o pretérito, ao qual todos nos ligamos, através de lembranças amargas, somos enfermos em assistência recíproca.

Não seria lícito guardarmos a pretensão de lavrar sentenças definitivas pró ou contra ninguém, porque, na posição em que ainda nos achamos, todos possuímos contas maiores ou menores por liquidar.

Interrompendo a conversação, nosso instrutor lançou-se ao amparo eficiente da dupla em desesperada contenda.

Para o cuidado fraterno de que dava testemunho, a doente e o perseguidor mereciam igual carinho.

Aplicou passes de desobstrução à garganta da enferma e, em breves instantes, o verdugo começou a falar, através dela, numa algaravia, cujo sentido literal não conseguíamos perceber.

Entretanto, pela onda de pensamento que lhe caracterizava a manifestação, sabíamos que a ira se lhe extravasava do ser.

Raul Silva, a seu turno, recolhendo impressões idênticas, pela dura inflexão da voz com que as palavras eram pronunciadas, procurava serena-lo quase em vão.

Observando a enferma completamente transfigurada e assinalando-nos a muda interrogação, Aulus se deteve por alguns minutos a auscultar o cérebro do comunicante e o da médium, como a sondar-lhes o mundo íntimo, e, em seguida, voltou para junto de nós.

Diante da profunda apreensão que passou a dominar-lhe o rosto, Hilário tomou-me a dianteira, inquirindo, assombrado:
— A que causa atribuir semelhante conflito?

— Tentei alguma penetração no passado a fim de algo saber — respondeu o orientador, entristecido.
As raízes da desavença vêm de longa distância no tempo.

Não obstante o dever de não relacionar pormenores, para não conferir maior saliência ao mal, posso dizer-lhe que o enigma perdura vai já em pouco mais de um milénio.

Nosso infeliz irmão fala um antigo dialecto da velha Toscana, onde, satisfazendo a obsidiada de hoje, se fez cruel estrangulador.

Era legionário de Ugo, o poderoso duque da Proveriça, no século X...
Pela exteriorização a que se confia, acompanho-lhe as terríveis reminiscências...

Reporta-se ao saque de que participou na época a que nos referimos, no qual, para satisfazer à mulher que lhe não correspondeu ao devotamento, teve a infelicidade de aniquilar os próprios pais...
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 5 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Abr 18, 2012 9:26 pm

Tem o coração como um vaso transbordante de fel..
Porque o Assistente se interrompera, meu colega, naturalmente tão interessado quanto eu em maiores revelações, pediu-lhe mais ampla incursão no passado, ao que Áulus nos recomendou aquietássemos o espírito de consulta.

A volta aos quadros terrificantes, largados ao longe por aquelas almas em sofrimento, a ninguém edificaria.

Eram dois corações desesperados, no inferno estabelecido por eles mesmos.
Não convinha analisar-lhes o sepulcro de fogo e lama, nas sombras da retaguarda.

Restaurando a atenção no estudo que nos cabia fazer, lembrei a questão do idioma.
Achávamo-nos no Brasil e a obsidiada ensaiava frases num dialecto já morto.

Por que motivo não assimilava o pensamento da entidade, a empolgar-lhe o cérebro em ondas insofreáveis, transformando-o em palavras do português corrente, qual acontecera em numerosos processos de intercâmbio sob nossa observação?

— Estamos à frente de um caso de mediunidade poliglota ou de xenoglossia — explicou o Assistente.

O filtro mediúnico e a entidade que se utiliza dele acham-se tão intensamente afinados entre si que a passividade do instrumento é absoluta, sob o império da vontade que o comanda de modo positivo.

O obsessor, por mais estranho pareça, jaz ainda enredado nos hábitos por que pautava a sua existência, há séculos, e, em se exprimindo pela médium, usa modos e frases que lhe foram típicos.

— Isso, entretanto — objectou Hilário —, e atribuível à mediunidade propriamente dita ou à sintonia mais completa?
— O problema é de sintonia — informou o Assistente.

— Contudo, se a doente não lhe houvesse partilhado da experiência terrestre, como legítima associada de seu destino, poderia o comunicante externar-se no dialecto com que se caracteriza?

— Positivamente não — esclareceu Aulus.
Em todos os casos de xenoglossia, é preciso lembrar que as forças do passado são trazidas ao presente, Os desencarnados, elaborando fenómenos dessa ordem, interferem, quase sempre, através de impulsos automáticos, nas energias subconscienciais, mas exclusivamente por intermédio de personalidades que lhes são afins no tempo.

Quando um médium analfabeto se põe a escrever sob o controle de um amigo domiciliado em nosso plano, isso não quer dizer que o mensageiro espiritual haja removido milagrosamente as pedras da ignorância.

Mostra simplesmente que o psicógrafo traz consigo, de outras encarnações, a arte da escrita já conquistada e retida no arquivo da memória, cujos centros o companheiro desencarnado consegue manobrar.

Hilário fez o gesto indagador do aprendiz e insistiu:
— Podemos concluir, então, que se a enferma fosse apenas médium, sem o pretérito de que dá testemunho, a entidade não se exprimiria por ela numa expressão cultural diferente da que lhe é própria...

— Sim, sem dúvida alguma — aprovou o instrutor —;
em mediunidade há também o problema da sintonia no tempo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:28 pm

E, de olhar vago, acentuou:
— O facto sob nossas vistas pode ser, de certo modo, comparado às correntes dágua.
Cada qual tem o seu nível.

As águas à flor da terra guardam a serventia e o encanto que lhes são peculiares, contudo, somente as águas profundas encerram o tesouro educado ou inculto das enormes forças latentes, que podem ser convenientemente utilizadas quando aquelas são trazidas à superfície.

A lição era de subido valor, no entanto, fazia-se necessário agir no trabalho assistencial.

Conjugando nosso esforço, separamos, de alguma sorte, o algoz da vítima, conquanto, segundo apontamento de nosso orientador, continuassem unidos pela fusão magnética, mesmo a distância.

Companheiros de nossa esfera retiraram o Espírito obsidente, encaminhando-o a certa organização socorrista.

Ainda assim, a doente gritava, afirmando estar à frente de medonho estrangulador em vias de sufocá-la.

Aplicando-lhe passes de reconforto, Áulus esclareceu:
— Agora é apenas o fenómeno alucinatório, natural em processos de fascinação como este.

Perseguidor e perseguida jazem na mais estreita ligação telepática, agindo e reagindo mentalmente um sobre o outro.

Gradativamente, a enferma acalmou-se.

Finda a crise, perguntei ao nosso orientador sobre o remédio definitivo à dolorosa situação, ao que respondeu com grave entoo:
— A doente está sendo preparada, tendo-se em vista uma solução justa para o caso.

Ela e o verdugo, em breve, serão mãe e filho.
Não há outra alternativa na obtenção do trabalho redentor.

Energias divinas do amor puro serão mais profundamente tocadas em sua sensibilidade de mulher e nossa irmã praticará o santo heroísmo de acolhê-lo no próprio seio...

Em seguida, deixando-nos pensativos, caminhou no rumo de outro necessitado, enquanto exclamava:
— Louvado seja Deus pela glória do lar!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:28 pm

24 - Luta expiatória

Junto de nós, o cavalheiro que se mantinha entre os enfermos caiu em estremeções coreiformes.

Não fosse a poltrona em que se apoiava e ter-se-ia arrojado ao chão.
Desferia gemidos angustiados e roucos, como se um guante invisível lhe constringisse a garganta.

Não longe, duas entidades de presença desagradável reparavam-lhe os movimentos, sem contudo interferir magneticamente, de maneira visível, na agitação nervosa de que ele se fazia portador.

O doente aparentava madureza física, mas Aulus, esclarecendo-nos com mais segurança, informou, comovido:
— É um pobre irmão em luta expiatória e na realidade mal atravessou a casa dos trinta anos, na presente romagem terrestre.

Desde a infância, sofre o contacto indirecto de companhias inferiores que aliciou no passado, pelo seu comportamento infeliz.

E quando experimenta a vizinhança desses amigos transviados, ainda em nosso plano, com os quais conviveu largamente, antes do regresso à carne, reflecte-lhes a influência nociva, entregando-se a perturbações histéricas, que lhe sufocam a alegria de viver.

Tem sido aflitivo problema para o templo doméstico em que renasceu.
Desde a meninice, vive de médico a médico.

Ultimamente, a malarioterapia, a insulina e o electro-choque hão sido empregados em seu benefício, sem resultado prático.

Os tratamentos dolorosos e difíceis, de certo modo, lhe castigaram profundamente a vida física.

Parece um velho, quando poderia mostrar-se em pleno vigor juvenil.

Enquanto o enfermo tremia, pálido, nosso orientador e o irmão Clementino aplicavam-lhe recursos magnéticos de auxílio, serenando-lhe o corpo conturbado.

Findo o acidente paroxístico, notamo-lo suarento e desmemoriado, qual se fora surdo às preces que Raul Silva pronunciava, implorando o socorro divino em seu favor.

Decorridos alguns minutos, a calma no ambiente refazia-se completa.
Abeirava-se a reunião da fase de encerramento, contudo, o rapaz que nos tomara, por último, a atenção, prosseguia apático, melancólico.

Registávamos a esperança e o encorajamento, em variados tons, em todos os presentes, menos nele, que denotava tortura e introversão.

Aulus, com a tolerância habitual, dispusera-se a ouvir-nos.
— Como interpretar o caso de nosso amigo? indagou Hilário, curioso.

Não lhe vimos o desdobramento e, ao que nos foi concedido verificar, não assimilou emissões fluídicas de qualquer habitante de nossa esfera...

Enquadrar-se-lhe-á o transe em algum processo mediúnico que desconhecemos?

— O enigma de nosso irmão — elucidou o Assistente — é de natureza mental, considerando-se-lhe a origem pura e simples, mas está radicado à sensibilização psíquica, tanto quanto as ocorrências de ordem mediúnica.

— Ainda assim — aleguei —, poderemos considerá-lo médium?

— De imediato, não.
Presentemente, é um enfermo que reclama cuidado assistencial, no entanto, sanada a desarmonia de que ainda é portador, poderá cultivar preciosas faculdades medianímicas, porque a moléstia, nesses casos, é factor importante de experiência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:28 pm

A dor em nossa vida íntima é assim como o arado na terra inculta.
Rasgando e ferindo, oferece os melhores recursos à produção.

— E a doença em si? — tornou meu companheiro admirado — será do corpo ou da alma?

- É desequilíbrio da alma a retratar-se no corpo — falou o instrutor, comovido.

E, acariciando a fronte do moço triste, continuou:
— Nosso amigo em reajuste, antes da presente imersão na carne, vagueou, por muitos anos, em desolada região de trevas.

Aí foi vítima de hipnotizadores cruéis com os quais esteve na mais estreita sintonia, em razão da delinquência viciosa a que se dedicara no mundo.

Sofreu intensamente e voltou à Terra, trazendo certas deficiências no organismo perispiritual.

É um histérico, segundo a justa acepção da palavra.

Acolhido pelo heroísmo de um coração materno e por um pai que lhe foi associado de insânia, hoje também na travessia de amargosas provas, vem procurando a própria recuperação.

Aos sete anos da nova experiência terrena, quando se lhe firmou a reencarnação, sentiu-se tomado pela desarmonia trazida do mundo espiritual e, desde então, vem lutando no laborioso processo regenerativo a que se impôs.

Algemado à perturbação em que se enleou, supõe haver nascido com o fracasso congenial.
Não se acredita capaz de qualquer serviço nobre.
Crê-se derrotado, antes de qualquer luta.

Apraz-lhe tão-somente a solidão em que se nutre dos pensamentos enfermiços que lhe são arremessados ao espírito pelos antigos companheiros de viciação.

Enfim, vive em deploráveis condições patológicas do sistema nervoso, numa crise de longo curso, a caracterizar-se por estranhas perturbações da inteligência e contracturas repentinas, que o inutilizam temporariamente para o trabalho digno.

As preces terminais convidaram-nos ao silêncio.
Finda a reunião, ofereceu-se Aulus para acompanhar o rapaz doente, até a casa, medida essa que Clementino aprovou, satisfeito.

O moço parecia anestesiado, inerte...
Depois de meia hora, durante a qual buscamos assisti-lo nas eventualidades da via pública, atingimos singela casinha suburbana.

Ao chamado insistente do rapaz, simpática velhinha veio atender.
— Américo, meu filho, graças a Deus vejo-o de volta...
A ternura materna vibrava, iniludível, naquela voz clara e reconfortante.

E a progenitora conduziu-o, sem delonga, para a intimidade doméstica, onde um rapaz embriagado desferia palavrões.

Fitando-o, disse preocupada:
— Márcio, infelizmente, excedeu-se de novo...

E, porque reparasse a apatia do recém-chegado, ajuntou:
— Mas, primeiro, tratemos de acomodar você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:29 pm

O moço não relutou.
Deixou-se arrastar pelo carinho materno e envolveu-se nas cobertas do leito, em acanhado telheiro aos fundos.

Américo dormiu sem detença, surgindo junto de nós em desdobramento natural.
Não nos pressentiu, porém, nem de longe.
Registava tão-somente a perturbação mental de que se via possuído.

Amedrontado, espantadiço, avançou para estreita câmara, a pequena distância, e rojou-se ao lado de um velho paralítico, choramingando:
— Pai, estou sozinho! sozinho!... quem me socorre?
Tenho medo! medo!...

O doente, vigilante e calmo, assinalou-lhe a presença, de algum modo, porque mostrou no semblante dolorida expressão, como se lhe estivesse ouvindo as queixas.

Aulus recomendou-me auscultar a fronte pensadora do enfermo, atado ao catre limpo, e, buscando sintonizar-me com ele, escutei-lhe a mente, conversando de si para consigo:
— Ó Senhor, sinto-me cercado por Espíritos inquietos...
Quem estará junto de mim?

Dá-me forças para compreender-te a vontade e acatar-te os desígnios...
Não me abandones! Tristes são a velhice, a doença e a pobreza quando nos avizinhamos da morte!...

E, sob a influência do rapaz, cujos pensamentos assimilava sem perceber, vimo-lo também dobrar a cabeça e chorar copiosamente.

Fixando-os, de maneira significativa, nosso orientador esclareceu:
— Achamo-nos à frente de pai e filho. Júlio, o progenitor de Américo, foi acometido, faz muitos anos, de paralisia das pernas, vivendo assim amarrado à cama, onde ainda se esforça pela subsistência dos seus, em trabalhos leves.

Entregue à provação e à soledade, começou a ler e a reflectir com segurança.

Apreendeu a verdade da reencarnação, encontrou consolo e esperança nos ensinamentos do Espiritismo e, com isso, tem sabido marchar com resignação e fortaleza nos dias ásperos que vem atravessando...

Sentindo-nos a sede de maiores informes, o instrutor prosseguiu, depois de ligeira pausa:
— Sustentado pelo devotamento heróico da esposa, trouxe ao mundo cinco filhos, dos quais uma jovem que lhe foi abençoada irmã noutra vida terrestre, e os demais, inclusive Américo, são quatro rapazes de trato muito difícil.

Márcio, que já conhecemos, é cliente da embriaguez, Guilherme e Benício estão consumindo a mocidade em extravagâncias nocturnas, Laura que é abnegada companheira dos pais, e o nosso Américo, o primogénito, que ainda está longe de recuperar o equilíbrio completo...

— E observando o dono da casa em semelhante posição — interferiu Hilário —, somos levados a pensar nas dificuldades que se desenrolam aqui...

— Indubitavelmente, a expiação do grupo doméstico sob nossa vista é rude e dolorosa...
Em passado próximo, o paralítico de hoje era o dirigente de pequeno bando de malfeitores.

Extremamente ambicioso, asilou-se num sítio, onde se transformou em perseguidor de viajantes desprevenidos, dedicando-se ao furto e à vadiagem...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:29 pm

Conseguiu convencer quatro amigos a acompanhá-lo nas aventuras delituosas a que se entregou pela cobiça tiranizante, comprometendo-lhes a vida moral, e esses quatro companheiros são hoje os filhos que lhe recebem nova orientação, crivando-o de preocupações e desgostos.

Desviou-os do caminho recto, agora busca recuperá-los para a estrada justa, achando-se, ele mesmo, em penosas inibições...

A torturada conformação do velhinho sensibilizava-nos as fibras mais Intimas.
Tivemos, contudo, nossa atenção atraída para novo fenómeno.

Uma jovem, de fisionomia nobre e calma, penetrou o quarto em Espírito, passou rente a nós sem notar-nos e, reanimando Américo, retirou-o para fora.

Percebendo-nos a silenciosa indagação, o Assistente informou:
— É Laura, a filha generosa, que ainda mesmo durante o sono físico não se descuida de amparar o progenitor doente.

— Então está domiciliada aqui mesmo? — perguntou meu colega, admirado.
— Sim, dormindo em aposento próximo.

E, depois de ministrar recursos vitalizantes ao enfermo em lágrimas, o Assistente acrescentou:
— Quando o corpo terrestre descansa, nem sempre as almas repousam.
Na maioria das ocasiões, seguem o impulso que lhes é próprio.

Quem se dedica ao bem, de um modo geral continua trabalhando na sementeira e na seara do amor, e quem se emaranha no mal costuma prolongar no sono físico os pesadelos em que se enreda...

— Pelo que analisamos — disse Hilário —, os factos mediúnicos no lar são constantes...

— Justo! — confirmou o orientador.
Os pensamentos daqueles que partilham o mesmo teto agem e reagem uns sobre os outros, de modo particular, através de incessantes correntes de assimilação.

A influência dos encarnados entre si é habitualmente muito maior que se imagina.
Muita vez, na existência carnal, os obsessores que nos espezinham estão connosco, respirando, reencarnados, o mesmo ambiente.

Do mesmo modo há protectores que nos ajudam e elevam e que igualmente participam de nossas experiências de cada dia.

É imprescindível compreender que, em toda a parte, acima de tudo, vivemos em espírito.

O intercâmbio de alma para alma, entre pais e filhos, cônjuges e irmãos, afeiçoados e companheiros, simpatias e desafeições, no templo familiar ou nas instituições de serviço em que nos agrupamos, é, em razão disso, a bem dizer, obrigatório e constante.

Sem perceber, consumimos ideias e forças uns dos outros.

Dispúnhamo-nos à retirada, quando Hilário, como quem se valia do ensejo, curiosamente indagou:
— Voltando, contudo, ao caso de Américo e reconhecendo-o como portador da histeria, haverá vantagem na frequência dele ao grupo em que outros médiuns se aperfeiçoam?

— Como não? — obtemperou o Assistente.
O progresso é obra de cooperação.

Consagrando-se à disciplina e ao estudo, à meditação e à prece, ele se renovará mentalmente, apressando a própria cura, depois da qual poderá cooperar em trabalhos mediúnicos dos mais proveitosos.

Todo esforço digno, por mínimo que seja, recebe invariavelmente da vida a melhor resposta.

Aulus, a seguir, lembrou afazeres a distância e considerou por finda a valiosa lição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:29 pm

25 - Em torno da fixação mental

No caminho de volta procuramos, Hilário e eu, movimentar a conversação, no sentido de recolher da palavra de nosso orientador alguma lição a respeito da fixação mental.

Muita vez, anotara o fenómeno, buscando estudá-lo, entretanto, para colaborar com o amigo, mais novo que eu nos serviços da Espiritualidade, aderi ao assunto, animando-o com o melhor interesse.

Meu colega, sem disfarçar o espanto que lhe assomara à alma, desde a manifestação do estrangulador da Toscana, falou preocupado:
— Sinceramente, por mais me esforce, grande é a minha dificuldade para penetrar os enigmas da cristalização do Espírito em torno de certas situações e sentimentos.

Como pode a mente deter-se em determinadas impressões, demorando-se nelas, como se o tempo para ela não caminhasse?

Tomemos, por exemplo, o drama de nosso infortunado companheiro, há séculos imobilizado nas ideias de vingança...

Estará nessa posição lamentável, por tantos anos, sem ter reencarnado?

Aulus ouviu com atenção e ponderou:
— É imprescindível compreender que, depois da morte no corpo físico, prosseguimos desenvolvendo os pensamentos que cultivávamos na experiência carnal.

E não podemos esquecer que a Lei traça princípios universais que não podemos trair.
Subordinados à evolução, como avançar sem lhe acatarmos a ordem de harmonia e progresso?
A ideia fixa pode operar a indefinida estagnação da vida mental no tempo.

Simbolizemos o estágio da alma, na Terra, através da reencarnação, como sendo valiosa linha de frente, na batalha pelo aperfeiçoamento individual e colectivo, batalha em que o coração deve armar-se de ideias santificantes para conquistar a sublimação de si mesmo, a mais alta vitória.

A mente é o soldado em luta.
Ganhando denodadamente o combate em que se empenhou, tão logo seja conduzida às aferições da morte sobe verticalmente para a vanguarda, na direcção da Esfera Superior, expressando-se-lhe o triunfo por elevação de nível.

Entretanto, se fracassa, e semelhante perda é quase sempre a resultante da incúria ou da rebeldia, volta horizontalmente, nos acertos da morte, para a retaguarda, onde se confunde com os desajustados de toda espécie, para indeterminado período de tratamento.

Em qualquer frente de luta terrestre, a retaguarda é a faixa atormentada dos neuróticos, dos loucos, dos mutilados, dos feridos e dos enfermos de toda casta.

Ante o interesse com que lhe ouvíamos a exposição, Áulus prosseguiu, depois de ligeira pausa:
— Decerto, as legiões vitoriosas não se esquecem dos que permaneceram no desequilíbrio e daí vemos as missões de amor e renúncia, funcionando diligentes onde estacionam a desarmonia e a dor.

— E o problema da imobilização da alma? — tornou meu colega, ávido de saber.

O interpelado sorriu e considerou:
— Em nossa imagem, podemos defini-la com a propriedade possível.
É que o tempo, para nós, é sempre aquilo que dele fizermos.

Para melhor compreensão do assunto, lembremo-nos de que as horas são invariáveis no relógio, mas não são sempre as mesmas em nossa mente.

Quando felizes, não tomamos conhecimento dos minutos.
Satisfazendo aos nossos ideais ou interesses mais íntimos, os dias voam céleres, ao passo que, em companhia do sofrimento e da apreensão, temos a ideia de que o tempo está inexoravelmente parado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:29 pm

E quando não nos esforçamos por superar a câmara lenta da angústia, a ideia aflitiva ou obcecante nos corrói a vida mental, levando-nos à fixação.

Chegados a essa fase, o tempo como que se cristaliza dentro de nós, porque passamos a gravitar, em Espírito, em torno do ponto nevrálgico de nosso desajuste.

Qualquer grande perturbação interior, chame-se paixão ou desânimo, crueldade ou vingança, ciúme ou desespero, pode imobilizar-nos por tempo indefinível em suas malhas de sombra, quando nos rebelamos contra o imperativo de marcha incessante com o Sumo Bem.

Analisemos ainda o nosso símbolo do combate.
O relógio inflexível assinala o mesmo horário para todos, entretanto, o tempo é leve para os que triunfaram e pesado para os que perderam.

Com os vencedores, os dias são felicidade e louvor e com os vencidos são amargura e lágrimas.

Quando nós não desenvencilhamos dos pensamentos de flagelação e derrota, através do trabalho constante pela nossa renovação e progresso, transformamo-nos em fantasmas de aflição e desalento, mutilados em nossas melhores esperanças ou encafurnados em nossas chagas íntimas.

E quando a morte nos surpreende nessas condições, acentuando-se-nos então a experiência subjectiva, se a alma não se dispõe ao esforço heróico da suprema renúncia, com facilidade emaranha-se nos problemas da fixação, atravessando anos e anos, e por vezes séculos na repetição de reminiscências desagradáveis, das quais se nutre e vive.

Não se interessando por outro assunto a não ser o da própria dor, da própria ociosidade ou do próprio ódio, a criatura desencarnada, ensimesmando-se, é semelhante ao animal no sono letárgico da hibernação.

Isola-se do mundo externo, vibrando tão-somente ao redor do desequilíbrio oculto em que se compraz.

Nada mais ouve, nada mais vê e nada mais sente, além da esfera desvairada de si mesma.
Revestia-se o assunto de imenso interesse para minhas observações pessoais.

Em multas ocasiões, sondara de perto as consciências que dormitam, após a morte, quais múmias espirituais.

E lembrei-as ao Assistente, que nos disse, atencioso:
— Sim, a mente estacionária na deserção da Lei, durante o repouso habitual em que se imobiliza, além do túmulo, sofre angustiosos pesadelos, despertando quase sempre em plena alienação, que pode persistir por muito tempo, cultivando apaixonadamente as impressões em que julga encontrar a própria felicidade.

— E qual o remédio mais adequado à situação? — inquiri, respeitoso.

— Muitas dessas almas desorientadas — comentou o instrutor — por fim se entediam do mal e procuram a regeneração por si mesmas, ao passo que outras, em nossas tarefas de assistência, acordam para as novas responsabilidades que lhes competem no próprio reajuste.

São os soldados feridos buscando corresponder às missões de amor que lhes visitam o pouso de restauração.

Entendem o impositivo da luta dignificante a que foram chamados e, ajudando aos que os ajudam, regressam ao bom combate, em cujas linhas se acomodam com o serviço que lhes é possível desempenhar.

Outras, porém, recalcitrantes e inconformadas, são docemente constrangidas ao retorno à batalha para que se desenvencilhem da prostração a que se recolheram.

A experiência no corpo de carne, em posição difícil, é semelhante a um choque de longa duração, em que a alma é convidada a restabelecer-se.
Para isso, tomamos o concurso de afeições do interessado que o asilam no templo familiar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:30 pm

— Mas, nesses casos, a reencarnação será compulsória, assim como um ato de violência? — perguntou Hilário com atenção.

— Que fazemos na Terra — disse o Assistente — quando surge um louco em nossa casa?
Não passamos a assumir a responsabilidade do tratamento?
Aguardaremos qualquer resolução do alienado mental, no que tange às medidas indispensáveis à restauração do seu equilíbrio?

É certo que nos cabe o dever de honrar a consciência livre, capaz de decidir por si mesma nos variados problemas da luta evolutiva, entretanto, à frente do irmão irresponsável e enfermo, a nossa colaboração significa amizade fiel, ainda que essa colaboração expresse doloroso processo de reequilíbrio em seu favor.

Após ligeira pausa, continuou:
— A reencarnação, em tais circunstâncias, é o mesmo que conduzir o doente inerte a certa máquina de fricção para o necessário despertamento.

Intimamente justaposta ao campo celular, a alma é a feliz prisioneira do equipamento físico, no qual influencia o mundo atómico e é por ele influenciada, sofrendo os atritos que lhe objectivam a recuperação.

Os significativos apontamentos convidavam-nos a meditar e aprender.

Impressionado, considerei:
— Em virtude de semelhantes fixações, é que vemos entidades padecendo deplorável amnésia.

Quando se comunicam com os irmãos encarnados, não conservam exacta lembrança senão dos assuntos em que se lhes encravam as preocupações e, quando permutam impressões connosco, assemelham-se a psicóticos renitentes.

— Isso mesmo.
Por esse motivo, requerem habitualmente grande carinho em nosso trato pessoal.

— E quando encaminhadas à reencarnação, no desajuste em que se vêem, essas criaturas tornam à realidade, de súbito? — perguntei com interesse.
— Nem sempre.

E imprimindo novo entoo à voz, o Assistente continuou:
— Na maioria das vezes, o soerguimento é vagaroso.

Podemos comprovar isso no estudo das crianças retardadas, que exprimem dolorosos enigmas para o mundo...

Somente o extremado amor dos pais e dos familiares consegue infundir calor e vitalidade a esses entezinhos que, não raro, se demoram por muitos anos na matéria densa, como apêndices torturados da sociedade terrestre, curtindo sofrimentos que parecem injustificáveis e estranhos e que constituem para eles a medicação viável.

É possível auscultar ainda a verdade de nossa assertiva, nos chamados esquizofrénicos e nos paranóicos que perderam o senso das proporções, situando-se em falso conceito de si mesmos.

Quase todas as perturbações congeniais da mente, na criatura reencarnada, dizem respeito a fixações que lhe antecederam a volta ao mundo.

E, em muitos casos, os Espíritos enleados nesses óbices seguem do berço ao túmulo em recuperação gradativa, experimentando choques benéficos, através das terapêuticas humanas e das exigências domésticas, das imposições dos costumes e dos conflitos sociais, deles retirando as vantagens do que podemos considerar por «extroversão indispensável à cura das psicoses de que são portadores.

A conversação era instrutiva e sugeria-nos importantes estudos, entretanto, serviços outros aguardavam o Assistente, motivo por que a interrompemos.
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Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE - Página 5 Empty Re: Série André Luiz - NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:30 pm

26 - Psicometria

O rápido curso de aprendizagem que vínhamos realizando atingia a sua fase final.

Aulus não dispunha de tempo para favorecer-nos com experiências mais amplas.
Era um trabalhador comprometido em serviços diversos.
Embora isso compreendêssemos, Hilário e eu nos sentíamos algo melancólicos.

O Assistente, contudo, desenvolvia todas as possibilidades ao seu alcance para conservar-nos o entusiasmo habitual.

Atravessávamos ruas e praças, quando nos defrontamos com um museu, a que se acolhiam alguns visitantes retardatários.

E o nosso orientador, como quem se dispunha a aproveitar as horas que nos restavam para dilatar observações e apontamentos, convidou-nos a entrar, exclamando:
— Numa instituição como esta, é possível realizar interessantíssimos estudos.

Decerto, já ouviram referências à psicometria.

Em boa expressão sinonímica, como o é usada na Psicologia experimental, significa «registo, apreciação da actividade intelectual», entretanto, nos trabalhos mediúnicos, esta palavra designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contacto de objectos comuns.

Passamos por longo portal e, no interior do edifício, reparamos que muitas entidades desencarnadas iam e vinham, de mistura com as pessoas que anotavam utilidades de outro tempo, com crescente admiração.

— Muitos companheiros de mente fixa no pretérito frequentam casas como esta pelo simples prazer de rememorar... — comentou o Assistente.

Verifiquei que algumas preciosidades, exceptuando-se uma que outra, estavam revestidas de fluidos opacos, que formavam uma massa acinzentada ou pardacenta, na qual transpareciam pontos luminosos.

Notando-me a curiosidade, o instrutor aclarou, benevolente:
— Todos os objectos que você vê emoldurados por substâncias fluídicas acham-se fortemente lembrados ou visitados por aqueles que os possuíram.

Não longe, havia curioso relógio, aureolado de luminosa faixa branquicenta.

Aulus recomendou-me tocá-lo e, quase instantaneamente, me assomou aos olhos mentais linda reunião familiar, em que venerando casal se entretinha a palestrar com quatro jovens em pleno viço primaveril.

Com aquele quadro vivo a destacar-se ante a minha visão interior, examinei o recinto agradável e digno.

O mobiliário austríaco imprimia sobriedade e nobreza ao conjunto, que jarrões de flores e telas valiosas enfeitavam.

O relógio lá se encontrava, dominando o ambiente, do cimo de velha parede caprichosamente adornada.

Registando-me a surpresa, o Assistente adiantou:
— Percebo a imagem sem o toque directo. O relógio pertenceu a respeitável família do século passado.

Conserva as formas-pensamentos do casal que o adquiriu e que, de quando em quando, visita o museu para a alegria de recordar.

É um objecto animado pelas reminiscências de seus antigos possuidores, reminiscências que se reavivam no tempo, através dos laços espirituais que ainda sustentam em torno do círculo afectivo que deixaram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Abr 19, 2012 8:30 pm

Hilário tacteou a preciosidade e falou:
— Isso quer dizer que vemos imagens aqui impressas por eles, por intermédio de vibrações...

— Justamente — confirmou o orientador.
O relógio está envolvido pelas correntes mentais dos irmãos que ainda se apegam a ele, assim como o fio de cobre na condução da energia está sensibilizado pela corrente eléctrica.

Auscultando-o, na fase em que se encontra, relacionamo-nos, de imediato, com as recordações dos amigos que o estimam.

Hilário reflectiu alguns momentos e observou:
— Então, se estivéssemos interessados em conhecer esses companheiros e encontrá-los, um objecto nessas condições seria um mediador para a realização de nossos desejos...

— Sim, perfeitamente — aprovou o instrutor —;
usaríamos, para isso, alguma coisa em que a memória deles se concentra.
Tudo o que se nos irradia do pensamento serve para facilitar essa ligação.

— Muito importante o estudo da força mental — considerei, sob forte impressão.

Aulus sorriu e comentou:
— O pensamento espalha nossas próprias emanações em toda parte a que se projecta.

Deixamos vestígios espirituais, onde arremessamos os raios de nossa mente, assim como o animal deixa no próprio rastro o odor que lhe é característico, tornando-se, por esse motivo, facilmente abordável pela sensibilidade olfactiva do cão.

Quando libertados do corpo denso, aguçam-se-nos os sentidos e, em razão disso, podemos atender, sem dificuldade, a esses fenómenos, dentro da esfera em que se nos limitam as possibilidades evolutivas.

— Somos, desse modo, induzidos a crer — considerou meu companheiro — que não dispomos de recursos para alcançar o pensamento daqueles que se fizeram superiores a nós...

— Sim, aqueles que atingiram uma elevação que não somos capazes de imaginar, remontaram a outros planos, transcendendo-nos o modo de expressão e de ser. O pensamento deles vibra em outra frequência.

Naturalmente, podem acompanhar-nos e auxiliar-nos, porque é da Lei que o superior venha ao inferior quando queira, contudo, por nossa vez, não nos é facultado segui-los.

O Assistente reflectiu um instante e prosseguiu:
— Simbolizemos, para discernir.
O que ocorre, entre eles e nós, acontece entre nós e os seres que se nos localizam à retaguarda.

Podemos, por exemplo, cuidar dos interesses das tribos primitivas ou retardadas, sem que elas consigam fazer o mesmo em nosso favor.

Penetramos os costumes e conhecimentos da taba, sem que a taba entenda patavina de nosso edifício cultural.

O pensamento nos condiciona ao círculo em que devemos ou merecemos viver e, só ao preço de esforço próprio ou de segura evolução, logramos aperfeiçoá-lo, superando limitações para fazê-lo librar em esferas superiores.

O Assistente fitou-nos com bondade e acrescentou:
— No entanto, evitemos digressões em desacordo com os nossos objectivos essenciais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:50 pm

— Imaginemos — disse por minha vez — que nos propuséssemos fixar a atenção num exame mais circunstanciado.
Poderíamos, assim, conhecer a história da matéria que serve à formação do relógio que analisamos?

— Sem dúvida.
Isso demandaria mais trabalho, mais tempo, contudo, é iniciativa perfeitamente viável.

— Cada objecto, então — concluiu Hilário —, pode ser um mediador para entrarmos em relação com as pessoas que se interessam por ele e um registo de factos da Natureza...

— Sem mais nem menos — confirmou Áulus, seguro de si —;
não podemos esquecer que o paleontologista pode reconstituir determinadas peças da fauna pré-histórica por um simples osso encontrado a esmo.

Quando se nos apura a sensibilidade de maneira mais intensiva, em simples objectos relegados ao abandono podemos surpreender expressivos traços das pessoas que os retiveram ou dos sucessos de que foram testemunhas, através das vibrações que eles guardam consigo.

E, num sorriso, ajuntou:
— As almas e as coisas, cada qual na posição em que se situam, algo conservam do tempo e do espaço, que são eternos na memória da vida.

Logo após, detivemo-nos a estudar primorosa tela do século 18, que não apresentava qualquer sinal de moldura fluídica.

Efectivamente, era uma preciosidade isolada.
Por ela, não nos foi possível estabelecer qualquer contacto espiritual de natureza exterior.

Aulus assumiu a atitude do professor benevolente que lhe era peculiar e explicou:
— Pesquisado mais intimamente, este quadro será interessante registo, oferecendo-nos informações acerca dos ingredientes que o constituem, entretanto, não funciona como «mediador de relações espirituais, por achar-se plenamente esquecido pelo autor e por aqueles que provavelmente o possuíram...

Avançamos mais além.
Ao lado de extensa galeria, dois cavalheiros e três damas admiravam singular espelho, junto do qual se mantinha uma jovem desencarnada com expressão de grande tristeza.

Uma das senhoras teve palavras elogiosas para a beleza da moldura, e a moça, na feição de sentinela irritada, aproximou-se tacteando-lhe os ombros.

A matrona tremeu, involuntariamente, sob inesperado calafrio, e falou para os companheiros:
— Aqui há um estranho sopro de câmara funerária.
É melhor que saiamos...

Confiou-se o grupo a manifestações de bom-humor e retirou-se, acompanhando-a noutro rumo.
A entidade, que não nos assinalava a intromissão, pareceu-nos contente com a solidão e passou a contemplar o espelho, sob estranha fascinação.

Aulus acariciou-a, de leve, tocou o objecto com atenção e comentou:
— Anotaram o fenómeno?
Do pequeno conjunto de visitantes, a irmã que registou a aproximação da jovem, sob nosso exame, é portadora de notável sensibilidade mediúnica.

Se educasse as suas forças e sondasse o espelho, entraria em relação imediata com a moça que ainda se apega a ele desvairadamente.

Receber-lhe-ia as confidências, conhecer-lhe-ia o drama íntimo, porque imediatamente lhe assimilaria a onda mental, senhoreando-lhe as imagens...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:51 pm

Hilário, incapaz de sofrear a curiosidade que nos esfogueava o cérebro, indagou sobre a moça.
Que fazia ali, naquele túmulo de recordações?
Porque se interessava, com tanta ânsia, por um simples espelho, sem maior significação?

O Assistente, como quem já esperava por nosso inquérito, respondeu sem pestanejar:
— Toquei o objecto para informar-me.
Este espelho originalíssimo foi confiado à jovem por um rapaz que lhe prometeu casamento.

Vejo-lhe a figura romântica nas reminiscências dela.
Era filho de franceses asilados no Brasil, ao tempo da França Revolucionária de 1791.
Menino ainda, aportou no Rio e aí cresceu e se fez homem.

Encontrou-a e conquistou-lhe o coração.
Quando arquitectavam projectos de casamento, depois da mais Intima ligação afectiva, a família estrangeira, animada com os sucessos de Napoleão, na Europa, deliberou o retorno à pátria.

O moço pareceu desolado, mas não desacatou a ordem paterna.
Despediu-se da noiva e lhe implorou guardasse a peça como lembrança, até que pudesse voltar, e serem então felizes para sempre...

Contudo, distraído na França pelos encantos de outra mulher, não mais regressou...
Depressa esqueceu responsabilidades e compromissos, tornando-se diferente.
A pobrezinha, no entanto, fixou-se na promessa ouvida e continua a esperá-lo.

O espelho é o penhor de sua felicidade.
Imagino a longa viagem que terá feito no tempo, vigiando-o como sendo propriedade sua, até que a lembrança viesse por fim repousar no museu.

— O assunto — aventei, preocupado — compele-nos a reflectir sobre as antigas histórias de jóias enfeitiçadas...

— Sim, sim — ponderou o Assistente —, a influência não procede das jóias, mas sim das forças que as acompanham.

Hilário, que meditava a lição maduramente, considerou:
— Se alguém pudesse adquirir a peça e conduzi-la consigo...
— Decerto — atalhou o instrutor — arcaria também com a presença da moça desencarnada.

— E isso seria justo?

Aulus esboçou leve sorriso e obtemperou:
— Hilário, a vida nunca se engana.
É provável que alguém apareça por aqui e se extasie à frente do objecto, disputando-lhe a posse.

— Quem?
— O moço que empenhou a palavra, provocando a fixação mental dessa pobre criatura, ou a mulher que o afastou dos compromissos assumidos.
Reencarnados, hoje ou amanhã, possivelmente um dia virão até aqui, tomando-a por filha ou companheira, no resgate do débito contraído.

— Mas não podemos aceitar a hipótese de a jovem desencarnada ser atraída por algum círculo de cura, desembaraçando-se da perturbação de que é vitima?

— Sim — concordou o orientador —, Isso é também possível;
entretanto, examinada a harmonia da Lei, o reencontro do trio é inevitável.
Todos os problemas criados por nós não serão resolvidos senão por nós mesmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:51 pm

A conversação era preciosa, contudo, a responsabilidade impelia-nos para diante.
De saída, renteamos com o gabinete em que funcionava a direcção da casa.

Vendo duas cadeiras vagas, junto a pequena mesa de trabalho, meu colega consultou, com o evidente intuito de completar a lição:
— Creio que os móveis sob nossa vista são utilizados por auxiliares da administração do museu...
Se nos sentarmos neles, poderemos entrar em relação com as pessoas que habitualmente os ocupam?

— Sim, se desejarmos esse tipo de experiência — informou o orientador.
— E em nos referindo aos encarnados? — prosseguiu Hilário.
Qualquer pessoa, em se servindo de objectos pertencentes a outros, tais como vestuários, leitos ou adornos, pode sentir os reflexos daqueles que os usaram?

— Perfeitamente.
Contudo, para que os registem devem ser portadores de aguçada sensibilidade psíquica.
As marcas de nossa individualidade vibram onde vivemos e, por elas, provocamos o bem ou o mal naqueles que entram em contacto connosco.

— E tudo o que observamos é mediunidade?...
— Sim, apesar de os fatos dessa ordem serem arrolados, por experimentadores do mundo científico, sob denominações diversas, entre elas a “criptestesia pragmática”, a «metagnomia táctil», a “delestesia”.

E, tomando-nos a dianteira para o retorno à via pública, rematou:
— Em tudo, vemos integração, afinidade, sintonia...

E de uma coisa não tenhamos dúvida:
através do pensamento, comungamos uns com os outros, em plena vida universal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Abr 20, 2012 8:51 pm

27 - Mediunidade transviada

Descera a noite totalmente, quando penetramos estreita sala, em que um círculo de pessoas se mantinha em oração.

Várias entidades se imiscuíam ali, em meio dos companheiros encarnados, mas em lamentáveis condições, de vez que pareciam inferiores aos homens e mulheres que se faziam componentes da reunião.

Apenas o irmão Cássio, um guardião simpático e amigo, de quem o Assistente nos aproximou, demonstrava superioridade moral.

Notava-se-lhe, de imediato, a solidão espiritual, porquanto desencarnados e encarnados da assembleia não lhe percebiam a presença e, decerto, não lhe acolhiam os pensamentos.

Ante as interpelações do nosso orientador, informou, algo desencantado:
— Por enquanto, nenhum progresso, não obstante os reiterados apelos à renovação.

Temos sitiado o nosso Quintino com os melhores recursos ao nosso alcance, mobilizando livros, impressos e conversações de procedência respeitável, no entanto, tudo em vão...

O teimoso amigo ainda não se precatou quanto às duras responsabilidades que assume, sustentando um agrupamento desta natureza...

Aulus buscou reconfortá-lo com um gesto silencioso de compreensão e convidou-nos a observar.
Revestia-se o recinto de fluidos desagradáveis e densos.

Dois médiuns davam passividade a companheiros do nosso plano, os quais, segundo minhas primeiras impressões, jaziam convertidos em criados autênticos do grupo, assalariados talvez para serviços menos edificantes.

Entidades diversas, nas mesmas condições, enxameavam em torno deles, subservientes ou metediças.

O fenómeno da psicofonia era ali geral.
Os sensitivos desdobrados se mantinham no ambiente, alimentando-se das emanações que lhes eram peculiares.

Raimundo, um dos comunicantes, sob as vistas complacentes do director da casa, conversava com uma senhora, cuja palavra leviana inspirava piedade
Raimundo — dizia —; tenho necessidade do dinheiro que há meses vem sendo acumulado no Instituto, do qual sou credora prejudicada.
Que me diz você de semelhante demora?

— Espere, minha irmã — recomendava a entidade —, trabalharemos em seu benefício.

E a palestra continuava.
— A solução é urgente.
Você deve ajudar-me com acção mais expedita.

Tente uma volta pelo gabinete do director ranzinza e desencrave o processo...
Você quer o endereço das pessoas que precisamos influenciar?

— Não, não. Conheço-as e sei onde moram...

— Vejo, Raimundo, que você anda distraído.
Não se interessou por meu caso, com a presteza justa.

— Não é bem assim... Tenho feito o que posso.
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