LUZ ESPÍRITA
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Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 7:57 pm

— Vaidosa do jeito que era...
— Há certas coisas que, primeiro, a gente precisa aprender a usar, para depois ter!
— Concordo. A minha existência parece ter sido programada para mexer com Espiritismo: eu só tinha alguma facilidade para as coisas da Doutrina.
— Voltando ao nosso Benvindo, ele, possivelmente, reencarnará tendo um cérebro que lhe permita fixar lições, prontidão intelectual... E, ao desencarnar, trará consigo maior lucidez. Existem níveis de despertamento que são ou não consentidos pelo cérebro.
— Eu conheço gente de bom coração, de raciocínio prático, que, no entanto, não é capaz de guardar o número de um telefone - às vezes, do próprio telefone!
— Bem - despediu-se o Sr. Manoel -, espero que você aproveite a caminhada... Preciso ir. O Dr. Inácio está à minha espera e não devo me atrasar.
— A conversa com você foi interessante.
— Estou admirado de seu vocabulário, Domingas, se expressando bem, sem tantos erros de concordância...
— Deu para notar?
O Benfeitor sorriu e arrematou:
— Nada se perde; vai ficando tudo arquivado, não é? Quando a gente, ao desencarnar, não sai de uma camisa-de-força para outra que nos tolhe mais ainda os movimentos, tudo melhora.
— A gente fica até mais inteligente - brinquei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 7:57 pm

18 - Passado Obscuro
A cada dia, embora a saudade dos familiares e dos amigos, dos companheiros de tarefa que havia deixado na Terra, dos irmãos e das irmãs que sempre estavam comigo, me apoiando em minhas humildes iniciativas mediúnicas e doutrinárias, eu estava me sentindo melhor. Crescia em mim o desejo de ser mais útil e, de certa forma, voltar, para dar o meu testemunho e concorrer para o fortalecimento da fé dos que ainda se mostravam vacilantes.
Atenta às recomendações recebidas, passava horas, dentro do quarto, lutando com as palavras, no sentido de alinhavar ideias sobre o papel, aborrecida por não lograr traduzir, com fidelidade, a grandeza de tudo. Sem desencarnar, ninguém há de compreender o Mundo Espiritual; e digo mais: sem olhar as coisas por aqui com outros olhos que não os da Fé Raciocinada, pouco perceberá da realidade.
Foi um dia destes, quando estava anotando as experiências e impressões da véspera, que o nosso caro Dr. Odilon veio me visitar.
— Como é, Domingas - saudou-me, sorridente -, interrompo?
— Que é isto, Doutor, o senhor nunca interrompe. Não imagina a minha alegria em recebê-lo! Conheço muitos e muitas que gostariam de desencarnar, só para estarem em meu lugar, agora. Desde, é claro, que tivessem certeza de reencontrá-lo...
— Ora, não seja exagerada!
— E verdade, o senhor aqui ao meu lado, puxando uma cadeira para se sentar, sem aquela ciumeira de outrora... Dr. Odilon, morrer assim é óptimo! Se soubesse, não teria lutado tanto contra o câncer...
— Bem que não sabia, pois era preciso que lutasse por você e pelos nossos irmãos que lhe acompanharam o drama.
— É brincadeira; estou sentindo falta da turma...
— E a turma, de você. Se soubesse, Domingas, o número de reclamações que temos recebido...
— Reclamações?
— Mentais... O pessoal, em seus pensamentos e preces, tem lamentado muito a sua ausência.
— Eu, uma mulher completamente bronca, sem predicado algum... Ah, eles são extremamente carentes!
Ficamos sem o senhor, sem o Lilito Chaves, sem o nosso Chico... Eles têm que se arranjar com os que ficaram, não acha? Se eu não tivesse morrido há pouco, teria que morrer depois... Melhor assim, pronto: a Domingas já era!
— Já era?!... Você não sabe o que a espera: a festa está apenas começando... A Vida, minha filha, é sinónimo de serviço, cada vez mais. Daqui para a frente, noutras encarnações e tudo... Antes de sabermos das coisas, a gente trabalha descansando. Agora, porém, descansa trabalhando...
— Não dá - perguntei - para a gente realizar uma excursãozinha, visitando outros mundos? Sonhamos tanto com isto, quando encarnados!...
— Até que dá, uma excursão de aprendizado e trabalho. Estrela não é trapézio!...
— Nem trampolim de piscina, não é?, para a gente dar um mergulho no Oceano do Infinito...
— E as suas anotações? - inquiriu, sem tempo para continuar jogando conversa fora comigo.
— Estão indo, Doutor, com extrema dificuldade:
escrevo, risco, escrevo de novo, tomo a riscar... Eu não tenho nenhum pendor literário.
— Matricule-se. Temos boas escolas por aqui...
— Ai, meu Deus! Que preguiça de estudar e, ainda por cima, Português!
— Não há recurso, minha filha: não se dá osmose de oxigénio nas narinas nem de livro debaixo do travesseiro...
0 ar é absolutamente de graça, mas a leitura propõe estudo.
O resto requer esforço, pois quem não realiza na Terra tem que realizar aqui!
— E as nossas conquistas passadas, não afloram, não?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 7:59 pm

— Quais, Domingas? Somos filhos da Terra, que somente agora, de um século ou dois para cá, está saindo da ignorância... O nosso acervo está vazio - dentro de nós, sucata, moral e intelectual, a ser reciclada.
— Cruzes!...
O Dr. Odilon sorriu e emendou com inteligência:
— Rima com luzes...
— O senhor disse algo sobre o passado que, de facto...
— Bem... Não querendo interrompê-la, mas já a interrompendo, o pretérito, nas experiências que vivenciamos, pesa mais contra nós que a favor... Não estou generalizando; pode ser, e com certeza é. que, com um ou outro, seja diferente. A nossa derradeira romagem na carne foi, sem dúvida, a melhor e a mais proveitosa...
— Os nossos irmãos encarnados?...
— Estão tendo, como tivemos, a sua mais preciosa oportunidade de ascensão, e isto desde que os seus espíritos foram criados. Eu não entendo como o pessoal vive querendo vasculhar o que foi em vidas que se foram...
— Se é assim, melhor deixar quieto.
— E muito quieto, Domingas.
— Eu, às vezes, alimentava a esperança de...
— O quê?...
— Ter sido uma personagem ilustre da História.
— Uma personagem ilustre é até provável; agora...
Poupando-o de concluir, comentei:
— Certa vez, uma senhora, ao término de uma das reuniões de Chico, perguntou-lhe: — “Estão dizendo que, na vida anterior, eu fui uma rainha francesa... O que o senhor acha?” Sem pestanejar, com o intuito talvez de livrá-la daquela obsessão, o médium respondeu, jogando uma pá de cal sobre o assunto: — “Ah, minha filha, uma rainha francesa?... Deve ter sido mesmo, porque as lavadeiras estão todas no Céu”.
— Os espíritos redimidos e os que se redimem não aparecem com tanta frequência no cenário terrestre...
— É mesmo! - exclamei. — Esse pessoal some da gente...
— Regressam ou ascendem a Planos Superiores. Não se desinteressam de nós, mas não ficam se expondo às lutas e às tentações do mundo, das quais triunfaram...
— ...ou se safaram, não é?
— Eu não quis empregar o verbo, que, em muitas circunstâncias, talvez fosse mais apropriado.
— Recordo-me de Alcíone, no livro “Renúncia”, da lavra mediúnica de Chico...
— Ah, sim!
— Quando decide voltar à Terra, o Instrutor Antémio, lhe diz:—“Já ponderaste nos obstáculos imensos? Lembra que o próprio Jesus, penetrando na região terrena, foi compelido a se aniquilar em sacrifícios pungentes.
Recorda...”
Dr. Odilon, possuidor de excelente memória, completou:
— “...que as leis planetárias não afectam somente os espíritos em aprendizado ou reparação, mas, também, os missionários da mais elevada estirpe”.
— “Conheço numerosos irmãos - aduzi com voz pausada - que, depois de pedirem missões arriscadas como esta, voltaram onerados de mil problemas a resolver, retardando assim preciosas aquisições.”
— Alcíone, segundo Emmanuel, o autor espiritual da referida obra, se encontrava ligada a trabalhos no sistema planetário de Sírius...
— Se falhasse, ela poderia regredir? - perguntei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 7:59 pm

— Regredir propriamente, não; o espírito não perde as aquisições que tenha efectuado, não retrograda, mas, do ponto de vista cármico, pode criar vínculos que o constranjam a repetir experiências das quais já se tenha liberado...
— E de dar medo.
— Felizmente ou infelizmente, porém, este não é o nosso caso, que não passamos de girinos em processo de metamorfose no charco, que é o nosso habitat natural...
— Estamos querendo criar perninhas para virarmos sapo... Refiro-me a mim e não ao senhor! Desculpe-me!
Fiquei empolgada.
— Ora, Domingas! Eu ainda estou coaxando na beira da lagoa...
— Lá no livro, Doutor, Antémio diz a Alcíone que, daquela hora em diante... Como é mesmo?
— “...ficas desde já desligada de tuas obrigações nesta esfera, a fim de te adaptares, vencendo as situações adversas das regiões inferiores que nos separam do mundo, no que, pressinto-o, deverás gastar quase dez anos terrestres”!...
— Dez anos, Doutor, de adaptação, para reencarnar?!
— Eu não voltaria de jeito nenhum! - proclamou o
Dr. Inácio Ferreira, que acabava de entrar, vindo juntar-se a nós.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 7:59 pm

19 - Mediunidade
— Depois de me safar da boca do vulcão?... Pelo amor de Deus! - descontraía-se, como sempre, o admirável companheiro, que, aliás, nos infundia enorme respeito.
— Inácio...
— Odilon, você fica assustando as menininhas, contando essas histórias de terror... Não faça isto - já pedi a você. A coisa é bem mais feia do que a gente pinta, mas não podemos falar...
O Dr. Odilon sorria, meneando a cabeça.
— A coisa é ainda mais feia, Doutor? - perguntei, provocativa.
— Se contarmos como é, o pessoal lá embaixo desiste... Maneire nos seus escritos, hem, Domingas! Nada de fazer concorrência comigo... O “lobo mau” sou eu; você é a “vovozinha” ou o “Chapeuzinho Vermelho” - pode escolher; o Odilon é o “caçador”...
— O senhor não voltaria mesmo?
— Eu, depois de estar em Sírius?! Com todo o respeito à nossa Alcíone, é gostar muito de sofrer...
— Inácio! - ergueu a mão, franzindo o cenho, o Dr. Odilon, como a repreendê-lo.
— Domingas, a coisa aqui está de um jeito, que nem mais podemos fazer piada. Daqui a pouco, vamos transformar isto aqui em Céu, com harpas e anjos cantando e tudo o mais! Se virar Céu, já sabem, não contem comigo: o meu destino é outro...
— Inácio - falou o nosso Mentor, pegando uma das folhas nas quais eu havia feito algumas anotações -, a Domingas, ao que me parece, está indo bem...
— Seja original, minha filha! Abra o coração e...
— Eu ia dizer a ela que a transmissão mediúnica...
— E uma calamidade! Escreva muito, escreva o mais que você puder, para ver se, pela estreiteza da porta da cabeça do médium, passa pelo menos um pouco...
Mediunidade é porta estreita! Inventaram uma tal de filtragem. Fica tudo retido...
— Ué! Eu não vou conseguir...?
— Ditar palavra por palavra? Esqueça. Em mediunidade, isto não existe. Você foi médium e sabe...
— Um médium mecânico...
— Médium mecânico é o que conserta carro...
O Dr. Odilon e eu sorrimos.
— A questão da filtragem... - quis comentar.
— Uns filtram de mais, outros filtram de menos...
Nós, os desencarnados, espíritos escrevinhadores, quase batedores, que, no jogo da transmissão mediúnica, vamos perder, vamos. Agora, é tentar não perdermos de goleada...
— Dr. Odilon, quando o senhor se expressava por mim... Como era?
— A ideia ia, Domingas; a ideia passava!...
— Não acredite, minha filha, ele é muito condescendente... Olhe que tenho me esforçado: mentalizo, mentalizo, me aproximo do médium, tento influenciá-lo durante o sono, oro por ele, vigio-o quando sai à rua, procuro sugestioná-lo, estou me tornando expert em clichés mentais...
— Mediunidade é pensamento a pensamento - elucidou o Mentor. — Estabelecer sintonia é difícil...
—Mais difícil ainda é sustentá-la! - observou o autor de “A Psiquiatria em face da Reencarnação”. — A coisa vai até indo bem, de repente... É impressionante como a mente mediúnica oscila - extremamente sensível a interferências de natureza negativa.
— Em Chico Xavier, o transe me parecia linear...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 7:59 pm

—Domingas, deixemos Chico de lado! Ele não serve:
a cabeça dele, a constituição física e psíquica eram completamente diferentes.
— Sim...
— Em toda e qualquer faculdade de efeitos intelectuais, o espírito comunicante está sujeito às condições em que o médium se oferece para o serviço de intercâmbio - esclareceu o Dr. Odilon.
— O médium mecânico, a passividade mediúnica?...
—Domingas - sabatinou-me o Dr. Inácio -, permitam: você já leu “O Livro dos Médiuns”?
— Já, nós o estudávamos no “Cinza”, com o Dr. Odilon; eu o li mais de uma vez, acho...
— Leu, desculpe-me, como eu mesmo o li, mas não entendeu.
— A gente discutia...
— Discutia, não; dispersava a conversa...
— O senhor tem razão.
— No capítulo XIX, “Papel do Médium nas Comunicações Espíritas”, vejamos apenas a questão 10, no item 223: “Parece resultar destas explicações que o espírito do médium nunca é completamente passivo?” A resposta nos pede atenção. “É passivo quando não mistura suas próprias ideias às do espírito estranho; porém jamais é absolutamente nulo; seu concurso é sempre necessário como intermediário, mesmo nos que vocês chamam de médiuns mecânicos” (grifei).
— Eu não me lembrava deste tópico.
— Quase ninguém se lembra, no entanto, está lá, há quase 150 anos!
— E dizem que Kardec está ultrapassado...
— Ultrapassados por Kardec estamos nós; o Espiritismo se nos antecipa no tempo... Precisamos, Domingas, saber ler o que está na Codificação.
— É bom o senhor estar dizendo assim, porque eu não sei se sabe...
— Sei!
— O que andam dizendo?
— Que os meus livros são antidoutrinários!
— Tem-se chegado a proibir a comercialização deles em algumas livrarias... Discuti muito por causa do senhor, defendendo-o.
— Agradeço, mas você sabe qual o único equívoco cometido pelo Criador, em relação às criaturas?
Figuradamente, é lógico...
— Não.
— Proibir Adão e Eva de comerem “do fruto da árvore que está no meio do jardim...”
— Da maçã?...
— Não sei se maçã, jabuticaba ou amora... Ainda se fosse jaca! Aliás, aproveitemos para reparar uma injustiça: uma jaca madura é uma delícia!
— E uma fruta meio enjoativa, Doutor.
— Para quem quer comê-la inteira! Experimente comer um cacho de bananas...
Sorri, lembrando os meus exageros, e o Dr. Inácio voltou a considerar, retomando o assunto da mediunidade.
— Você escreva bastante e, depois, se contente com pouco - se o médium conseguir filtrar, digamos, de um a dois por cento...
— O que é isto, Inácio? - corrigiu o Dr. Odilon. — De dez a vinte por cento, temos conseguido...
—Você; eu não! Quanto mais caraminholas colocam na cabeça dele, mais ele se me retrai... É interessante como a própria Humanidade vive a regular a quantidade de luz que se lhe projecta do Alto - está imersa nas trevas, clama por luz e não a quer!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 8:00 pm

— Inácio, uma ressalva...
— Sim, Odilon, vou fazê-la. Escreva aí, Domingas, que a luz não sou eu, porque, caso contrário, iremos municiar os adversários... Refiro-me à luz da Revelação: a gente permanece na expectativa de que a Verdade se nos descortine em novas nuances, todavia, quando a ponta do véu começa a ser levantada, pegamos aqueles que se atrevem e os enviamos à fogueira...
— As fogueiras da Inquisição já se apagaram - considerei.
— Mas as do escárnio continuam a crepitar no mundo - as da injúria, as da maledicência, as da ortodoxia... São tantas! Todas elas, ávidas por vítimas.
— Dr. Inácio, então, se é, assim, a transmissão mediúnica tão deficiente, é melhor eu não escrever nada...
— Seja humilde!
— O pessoal vai me malhar...
— E daí? Você não incorporava o Odilon, o Rudolf?... Até a mim, chegou a incorporar!...
— Por que está dizendo assim? Não era o senhor, não?...
— Era até mais do que eu - respondeu, deixando-me a pensar-, e agradeço o fato de me ter albergado o espírito...
Aliás, presentemente, há muita gente me recebendo, e a todos sou grato. Eu não me importo que me atribuam a autoria do bem de que nem sempre sou o autor directo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 8:00 pm

20 - Ainda Mediunidade
— Dr. Odilon, me socorra! - solicitei. — É muita filosofia para a minha cabeça...
— Domingas, uma vez mais, recordemos “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIV, “Identidade dos Espíritos”.
A certa altura, Allan Kardec escreveu: “...desde que o espírito diz apenas boas coisas, pouco importa o nome sob o qual as deu.” Um pouco adiante, acrescenta de forma magistral: “A medida que os espíritos se purificam e se elevam na hierarquia, os caracteres distintivos de sua personalidade se confundem na uniformidade da perfeição (grifei) e, contudo, não deixam de conservar sua individualidade (...) Nesta posição, o nome que tinham na Terra, em uma das mil existências corporais efémeras pelas quais passaram, é uma coisa totalmente insignificante”.
— Meu Deus! É tanta coisa para perguntar!...
— Devagar, senão atropela...
— É, atropelamos o pessoal lá embaixo: hão de ficar feito a Pantera Cor-de-Rosa, estirados no asfalto!
— “Uma das mil existências corporais efémeras"...
Quantas será que tivemos? Fico me sentindo uma libélula...
Foi o Dr. Inácio quem se adiantou, respondendo:
— Se levarmos em consideração as hipóteses levantadas pelo Hinduísmo, que deriva do Bramanismo, as mónadas, que somos nós. apenas no que se denomine de “encarnações terrenas”, ou seja, em ordem progressiva: numerosas variedades de partículas de pó; creia, seixos, pedregulhos e rochas; os vários metais; as várias pedras preciosas; argila, enxofre e os vários sais - permanecem nessas formas primitivas “por períodos que vão desde menos de um segundo até 22.000 anos e, enquanto permanecem nesse nível, podem chegar a viver até 700.000 encarnações”!
— O senhor acredita nisto?
— Digamos que não duvido; se me fosse permitido, sugeriria apenas pequena revisão nos cálculos numéricos...
Dr. Odilon sorriu descontraidamente.
— Em seguida, temos as “encarnações aquáticas”, as “encarnações vegetais”, as “ígneas”, as “eólicas”; depois, os seres com dois sentidos, três, quatro, cinco; os animais aquáticos, terrestres e aéreos, até chegarmos à espécie humana...
— Chega, Doutor! Eu fiz uma perguntinha à toa...
—Veja você, minha irmã, como o nosso egocentrismo é natural ou, pelo menos, explicável: a gente tem vivido tanto sem identidade, que, de repente, eu sou Inácio Ferreira!
Ora, que Inácio Ferreira, que nada!... Ficamos olhando o nosso retrato e fixamos a nossa cara... É um retrocesso acharmos que temos a cara da fotografia!
—Meu caro, a gente tem que se fixar, porque senão...
— Eu sei, Odilon, mas deixe-me esculhambar com isto...
— Eu, de mim, já não sei mais nada... Diante do exposto - falei, desanimada, apalpando-me para ver se, pelo menos, ainda estava ali.
— Precisamos fixar certos ^caracteres, para nos conscientizarmos de nossa individualidade, para, depois...
— ...a perdermos!
— Primeiro, nos identificamos como seres humanos, para, daqui há milhões de anos, nos identificarmos com o Divino - mas não é com o Divino José da Silva, não, um amigo que sempre ia me pedir uma caneca de café e um cigarro aceso: e aceso, porque nem fósforos ele tinha...
— E a nossa conversa estava sendo sobre mediunidade! - exclamei, ante aquela verdadeira avalanche de informações. — Conversávamos sobre a identidade dos espíritos... Nem sei mais se era mesmo sobre isto!
— Domingas, esta questão da identidade do espírito comunicante é relativíssima, minha filha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 8:00 pm

— O problema é que os nossos irmãos encarnados fazem questão, não é, Inácio? No entanto, admito difícil, extremamente difícil a plena identificação de um espírito qualquer e qualquer médium.
— Eu diria impossível! Dá-se mais valor à cédula de identidade do defunto que ao que, verdadeiramente, o identifica: o seu pensamento! Se o comunicado está permeado de detalhes absolutamente desconhecidos do médium, aceita-se o mesmo por autêntico. Isto acaba estimulando a mistificação...
— E verdade, a gente, enquanto médium, se sente pressionado, na obrigação de fornecer provas contundentes da sobrevivência.
— Nenhum médium - Odilon, desculpe-me se radicalizo - está apto a tanto! Allan Kardec foi genial: a nossa fé é raciocinada!
— Estudo profundo, este - observei. — Se os nossos irmãos da Terra me solicitarem, através de médium com o qual tenho certa afinidade, o número do meu RG e do meu CIC... Se bem que eu nunca os tive de cor!
— Carecemos de parar com hipocrisia... Você, Domingas, não os tem memorizados, mas muitos os têm, e mesmo estes não seriam capazes de transmiti-los via médium.
— A mediunidade tem limitações.
— Precisamos admitir e reconhecer que sim, estudando o tema do ponto de vista científico. A entrosagem entre médium e espírito é relativa. Estamos trabalhando para estreitar os laços, aproximando as Duas Dimensões, porém, se os médiuns e os espíritas não se dispuserem a nos auxiliar...
— E depois, Inácio - aduziu o Mentor o pessoal se esquece de uma equação muito simples, elaborada pelo Codificador, e que Emmanuel sintetizou em “Seara dos Médiuns”, obra de sua lavra: “Toda produção medianímica é a soma do mensageiro espiritual com o médium e as influências do meio”!
— Excelente lembrança - endossou o Dr. Inácio.
— Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, dedicou um capítulo inteiro, o XXI, à questão da “influência do meio”.
— Não é só ficar na expectativa de colher...
— Colher sem semear, como?! O médium é produto final do meio - das expectativas, dos anseios, dos interesses.., O médium é o ponto de contacto que o meio oferece à Espiritualidade, para o serviço de intercâmbio.
— Se o meio duvida e se retrai...
— O médium se retrai e duvida!
— E, consequentemente, o espírito...
— Literalmente, bate com a cara na porta!
—Ah - disse, lamentosa -, o nosso pessoal não está preparado... E uma pena! Cumula o médium de exigências e... oferece pouco; transfere, para o médium e para o espírito - mais para o medianeiro -, toda a responsabilidade do comunicado. A influência do meio...
— ...directa e indirectamente, é decisiva, Domingas - enfatizou o antigo Presidente da “Casa do Cinza”. — Ele tanto acrescenta, motiva e inspira, quanto retira, desalenta e anula. Se o médium e o espírito são chamados a operar em um meio doutrinário e culto, sentem-se, naturalmente, requisitados a se esmerarem na produção. Comunicações, digamos, sofríveis, denotam um meio pouco exigente e esclarecido, dando azo às mistificações.
— Permita-me perguntar - solicitei. — O meio interfere intelectual e moralmente no conteúdo da mensagem? Isto não é algo afecto tão só à dupla médium e espírito?
— Não resta dúvida que, em qualquer processo de transmissão, emissor e receptor são factores determinantes.
Há que se considerar, contudo, as interferências ambientais...
— Dr. Odilon, o senhor poderia ser mais claro?
— Recorramos, outra vez, ao “O Livro dos Médiuns”...
— E bom mesmo, Odilon - aparteou o Dr. Inácio, pois, caso contrário, irão dizer que é teoria sua.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 8:00 pm

— No capítulo XIX, já referido, encontramos notável colocação sobre a qual os estudiosos carecem se debruçar:
“Vocês não se dão bem conta do papel que desempenha o médium; há nisso uma lei que vocês ainda não apanharam (grifei). Lembrem-se de que, para conseguir o movimento de um corpo inerte, o espírito precisa de uma porção de fluidos animalizados que ele empresta do médium para animar momentaneamente a mesa, a fim de que esta obedeça à sua vontade; pois bem! Compreendam também que para uma comunicação inteligente ele necessita de um intermediário inteligente e que este intermediário é o espírito do médium”.
— Deixe-me ver se entendo: mesmo nos fenómenos físicos inteligentes, ou seja, dos quais um comunicado racional transparece...
— O médium de efeitos físicos, para além da obtenção de simples ruídos, fenómenos de pirogenia, etc., o é também de efeitos intelectuais - não é só pura e simplesmente uma questão de ectoplasmia!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:49 am

21 - Transcendência
Continuando, ante o meu interesse e o do próprio Dr. Inácio, o Mentor aduziu:
— Kardec, ao fim da colocação mencionada anteriormente, argumentou: “Isto não parece aplicável ao que chamamos de mesas falantes; porque, quando os objectos inertes, como mesas, pranchetas e cestinhas, dão respostas inteligentes, parece que o espírito do médium nisso em nada toma parte”.
— É razoável...
— Analisemos, no entanto, Domingas, a palavra incisiva dos Espíritos, na sequência: “É um erro; o espírito pode dar ao corpo inerte uma vida factícia momentânea, mas não inteligente; jamais um corpo inerte foi inteligente.
E então o espírito do médium que recebe o pensamento sem o saber (grifei) e o transmite pouco a pouco com o auxílio dos diversos intermediários”.
— Nossa! Fomos longe demais! A minha cabeça está em rodopios... Fluidos inteligentes!
— No fenómeno das mesas que batiam, os médiuns passavam batidos - fez o Dr. Inácio o trocadilho (eis aqui outra palavrinha - que coisa intrigante! - que eu nunca soube empregar).
— E, pelo jeito - emendei estão passando batidos até hoje, apanhando da mediunidade...
— Os mais eruditos, ou que assim se consideram, levando uma tremenda surra!
— Não é só ectoplasmia, não é?
— Não, Domingas! A matéria intelectual dos médiuns, no fenómeno das chamadas “mesas girantes”, era utilizada pelos espíritos, com ou sem conhecimento dos sensitivos...
— ...e dos próprios espíritos! “...há nisso uma lei que vocês ainda não apanharam", quer dizer, não entendemos claramente.
— Eu acho que, por hoje, está bom - redargui como quem conclui que nada sabe de coisa alguma. Eu vivi com “O Livro dos Médiuns” nas mãos...
— Consinta-me apenas clarear, sem a pretensão de explicar, porque, confesso, igualmente não passo de mero aprendiz.
— Odilon, como você sabe ofender com classe - alfinetou o Dr. Inácio no fundo, você gosta de humilhar...
“Mero aprendiz”! Hum!...
— Sem comentários. Vamos ao texto, na pergunta seguinte formulada pelo Codificador: “Parece resultar destas explicações que o espírito do médium nunca é completamente passivo? ” (grifei) Resposta: “E passivo quando não mistura suas próprias ideias às do espírito estranho; porém jamais é absolutamente nulo; seu concurso é sempre necessário como intermediário, mesmo nos que vocês chamam de médiuns mecânicos”.
— Nós é que rotulamos os médiuns de mecânicos?...
— Deduz-se que sim. Não existe passividade intelectual!
—Ai!... - gritou o Dr. Inácio, levando a mão à perna.
— O que foi, Inácio?
— Você chutou-me a canela...
— Esse Dr. Inácio!... A gente quase nunca sabe quando ele está falando sério.
— Odilon, na nossa actual condição evolutiva, seriedade demais é loucura.
— No médium, não existe passividade intelectual? - perguntei.
— Absoluta, não.
— Não sei o que vou fazer para anotar tudo isto - falei, espiando as laudas espalhadas na mesa.
— E depois, Domingas (não se esqueça de escrever), eu é que sou polémico...
— “...há nisso uma lei que vocês ainda não apanharam”...
— O nosso pensamento reverbera no Pensamento de Deus! Sem o Pensamento Divino, o pensamento humano não se propaga!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:49 am

—Explique, Doutor - solicitei ao incansável Mentor.
— A Inteligência do Criador é que toma viável a inteligência nas criaturas. No fenómeno específico em análise, das “mesas girantes”, a vontade, ainda que subtil e, portanto, inconsciente, dos médiuns e dos espíritos é a causa inteligente.
— A Física moderna está descobrindo um tipo de “inteligência” nas partículas - observou o Dr. Inácio.
— Tudo é mediunidade!
— Que beleza! Que transcendência, Dr. Odilon! Fico feliz em saber que, como instrumento, eu nunca inventei nada... Eu era médium mesmo!
— Somos todos médiuns, mesmo!
—Agora, deixem esta parte comigo. Você, Domingas, eu, o nosso caro Odilon e outros mais, de fato, somos médiuns de alguém ou de alguma coisa - somos intérpretes, mas a interpretação é que faz a diferença, a sublimidade ou a vulgaridade do fenómeno!
— Você resumiu tudo - concordou o Instrutor. 0 intercâmbio não é mais uma possibilidade: é uma certeza.
Todos os seres e todas as Dimensões jazem entrelaçados, agindo e reagindo, sem pausa, uns sobre os outros. Há inegável empatia entre o grão de areia e a estrela que brilha no firmamento, entre o ser angelizado que paira nas Alturas e o verme que se arrasta no subsolo!
Após pequeno intervalo, já preparando para se retirar, o Dr. Odilon rematou:
— Não estranhe, minha filha, se eu lhe disser que o nosso contacto com as pessoas em geral ainda acontece mais em nível de inconsciência que de consciência:
pensamos, falamos, agimos, mas não nos apercebemos do nosso relacionamento inconsciente com a Vida que nos rodeia, do que somos capazes de fazer desencadear, perto ou longe de nós, sem clara noção do que protagonizamos.
— O inconsciente, individual e colectivo, de Jung - pontificou o ilustre escritor espírita.
— O que Kardec, em “A Génese”, chamou de “alma do mundo”, a resultante dos anseios conscientes e inconscientes da Humanidade, determinando os rumos da Evolução, os avanços e os aparentes retrocessos do homem como ser colectivo.
—A interdependência dos reinos, em incomensurável perspectiva - dos reinos mineral, vegetal, animal, hominal e espiritual! Sendo que a abrangência do que, genericamente, denominamos Reino Espiritual não cabe na mais fértil imaginação humana, superando a mais ousada das ficções.
— Estou me sentindo uma lagartixa - brinquei.
— Eu, minha filha, o rabo da lagartixa! - retrucou o Psiquiatra, que, para mim, fazia questão de se ocultar em sua verdadeira grandeza de inteligência e coração.
—Dr. Inácio - pedi, valendo-me do ensejo -, o senhor nos cederia um espaço para a realização do culto do Evangelho com um grupo de amigos? É uma das actividades das que mais tenho sentido falta, pois, nas noites de domingo, o pessoal se reunia na minha casa...
— Não há problema, porém vocês terão que pagar o aluguer...
— Como?...
— Precisamos de voluntários por aqui; a maioria, depois que recebe alta, dá no pé... Quase ninguém quer assumir compromissos.
— Por aqui, também?
— A Vida continua, minha filha! Não se trata de simples força de expressão. O pessoal, assim que melhora, quer ascender... Ora, só se for acender sem o í - acender a ponta do meu cigarro, por exemplo!
— O senhor ainda fuma? - perguntei, ingénua.
— Fumo, fumo cigarro, charuto, cachimbo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:49 am

— Ele está brincando, Domingas - interferiu o Dr. Odilon.
— Cheiro rapé, masco fumo... Ninguém tem nada com os meus vícios. Você não acha que seria preferível fumar que mentir, roubar, corromper, ser orgulhoso, insensível, metido a intelectual?... Arre! Chega a me dar urticária - disse, olhando os braços como se estivessem empolando.
— Quem, Doutor, ou o quê chega a lhe dar urticária?
— É quem mesmo... Essa gente que continua apegada à letra que mata, os espíritas moralistas, que acham que espírito não fuma, não bebe, não come, não dorme, não...
— Inácio!...
— Não, Odilon, eu não vou extrapolar, estou sob controle.
— Vocês me desculpem - atalhei -, mas estou apertada para ir ao banheiro...
— Ah, que beleza! - ironizou o Dr. Inácio. — Um espírito humano! Está cheio de gente na Terra pensando que vai chegar sem intestinos e bexiga por aqui!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:50 am

22 - Mentalização
Na outra semana, eu estava me sentindo bem melhor.
As sessões de fisioterapia estavam se espaçando e já me era permitido caminhar sozinha por certas dependências do Hospital.
— Olá, Domingas! - saudou-me Manoel Roberto, o Administrador responsável pela Instituição.
— Olá! - respondi, estendendo-lhe a mão. — Estou admirando a organização, a limpeza, o bom gosto...
— Você sabe como o Chefe é exigente, não é?
— Eu não o vejo há dias... O Dr. Inácio deve ser um homem muito ocupado: além de cuidar disto tudo, encontra tempo para escrever - a produção dele...
— De fato, ele não descansa, fazendo ainda questão de acompanhar pessoalmente o caso de alguns pacientes, os de maior gravidade; está sempre se superando em sua capacidade de trabalho e, para não ficarmos muito para trás...
— Sr. Manoel, ele lhe falou a respeito de uma sala para a realização que pretendemos do culto do Evangelho?
— Sim, temos diversas. Não estão ociosas, mas, como não se encontram o tempo todo ocupadas, você poderá escolher. Algumas dão para o jardim do complexo administrativo e permitem maior recolhimento e segurança.
— Segurança?!
— É, não se esqueça de que muitos de nossos internos, como é natural, se mostram em grave estado de alienação...
— Tentam se evadir?
— A todo momento. O Hospital conta com sofisticado sistema de vigilância; temos câmaras espalhadas pelos corredores, mas, mesmo assim...
— Li a respeito - disse, reportando-me a obras como “Do Outro Lado do Espelho”, “Na Próxima Dimensão”, “Infinitas Moradas”... Inclusive, a pressão externa sobre a Instituição...
— Estamos localizados um pouco acima da Crosta e, a rigor, a nossa situação não é muito diferente dos presídios da Terra.
— Os que estão do lado de fora?...
— Se pudessem, invadiriam. Domingas, a morte, como está verificando in loco...
— Sr. Manoel, confesso-lhe que (não vá comentar com o Dr. Inácio), quando lia as descrições dele, eu ficava meio assim... Não era possível!
— Agora, está vendo, ou melhor, começando a ver que é.— Começando a ver em mim mesma que, com a desencarnação, apenas perdi aquele corpanzil - aquela “entidade” que me obsidiava...
— Nos presídios de segurança máxima...
— Eu sei, os bandos se organizam, corrompem policiais, comandam o tráfico, planejam assassinatos, destroem, matam, falam uns com os outros através de celulares...
— Sabemos de espíritos de alto poder de mentalização para o mal que vibram o tempo todo sobre a Instituição: muitos de nossos pacientes caem em transe natural e...
— Chegam a ficar mediunizados?
— Sim, potencializando o seu grau de agressividade.
Temos feito o possível: instalamos música ambiente, improvisamos cascatas, no sentido de atrair um número maior de pássaros, melhoramos a iluminação ambiente...
— Tudo com o propósito...
— ...de dificultar a conexão mental com as trevas. O Dr. Inácio determinou que os internos sejam sempre remanejados de seus aposentos, que não permaneçam inactivos, enfim, que se ocupem e sejam ocupados em sua atenção, inviabilizando a sintonia com as entidades que se opõem...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:50 am

— ...ao Cristo!
— Sem dúvida, porque se trata de estabelecer o império do caos. Não temos, em nossa Causa, inimigos pessoais: toda oposição é direccionada ao Evangelho e, evidentemente, ao que ele representa para a Humanidade.
Falávamos assim, quando, às pressas, um auxiliar veio requisitar a presença do Sr. Manoel Roberto num dos pavilhões contíguos.
— Você está preparada? - indagou-me.
— Estou - respondi titubeante, sem ao menos saber ao certo para quê.
— Então, venha, mas conserve-se atenta; não entre na faixa... Um dos internos está em crise: é a terceira vez esta semana. Richard foi um médium que, infelizmente, se perdeu.
Chegando ao quarto, onde dois outros auxiliares procuravam conter o paciente em fúria, deparamo-nos com um quadro desolador: Richard, completamente nu, havia defecado e urinado no chão, de maneira incomum; olhos arregalados e uma secreção pastosa a lhe escorrer do canto da boca, proferia toda espécie de impropérios e palavras de baixo calão...
O diligente Administrador se aproximou, contendo o meu avanço espontâneo, recomendando-me de novo:
— Não chegue muito perto! Não entre na faixa...
— Safado! - vociferou a entidade, contorcendo-se.
Não entre na faixa... Esta vadia! Sabemos que você chegou, sua... Louca! Quem está pensando que é? Epiléptica Veio se juntar aos cordeirinhos, não é? Faz meia-dúzia de rezas lá embaixo e quer o Céu... Venha cá!... Chegue perto de mim! Não tenha medo!... - disse, assumindo um comportamento lascivo.
O Sr. Manoel Roberto me acenou com a mão, solicitando-me silêncio.
— Você é igual a este aqui, ó - prosseguiu a entidade, debochando da situação de Richard. — Ele era médium...
Hum!... Vagabundo, mentiroso... Médium, eu sei do quê!...
0 que ele aprontava! Aliás, todos vocês aqui... Aquele médico sarnento... Onde está, que não aparece? Soltem-me, que eu quero lhe dar um sopapo... “Hospital dos Médiuns”!... Hum!... Que coisa! Vamos acabar com isto tudo, tirar a máscara da cara de vocês!...
— Meu irmão - começou a argumentar o Benfeitor, pousando-lhe, com cuidado, a destra sobre a fronte empastada de suor. — Acalme-se! Você conhece a realidade... Não resista, não se oponha ao Bem. É inútil a revolta! Estamos deste Outro Lado da Vida... Somos filhos de Deus, que nos ama a todos. Não prolongue o seu próprio sofrimento... Reconsidere!
— Reconsiderar?! Vocês não têm uma argumentação mais inteligente?... Implicam-se connosco, perseguem-nos, querem transformar-nos — falam em caridade e querem nos obrigar a ser o que não somos! Marginalizam-nos, rotulam-nos de espíritos das trevas... Ora, vamos deixar de babaquice! Pelo menos, somos mais autênticos... Onde é que está aquele médico, que não se digna de vir falar connosco? Sim, constituímos, ou melhor, continuamos a ser “legião”...
— Meu irmão, quem é que está molestando quem?
Porventura, somos nós que estamos desrespeitando a liberdade de vocês?... A nossa casa é um abrigo para os que sofrem e querem, de livre e espontânea vontade, mudar de vida; não constrangemos a quem quer que seja...
Compreenda! Não podemos nos negar a quem nos bate à porta... Se, um dia, se decidir a vir, será bem-vindo - você e qualquer um.
— Era só o que faltava, tentar me enredar com palavras melífluas!... Vocês nos humilham, fazendo pouco
da nossa capacidade de raciocinar. Deixem-nos! Este aqui, ó, este aqui é meu, e essa aí não há de ficar com vocês por muito tempo... Veja se tem cabimento: querem nos evangelizar!... Hum!... Será que não se enxergam?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:50 am

— O que Jesus fez para que os homens fizessem o que fizeram com Ele? - ponderou o companheiro, transfigurado pela inspiração. — Curava os doentes, socorria os necessitados, defendia os oprimidos, alimentava os famintos... O que podemos ter contra isto, meu irmão?
Por que, passados dois mil anos, continuamos a esbofeteá-lo? “Se falei mal” - adverte-nos o Senhor, na pergunta que não se cala em nossas consciências -, “dá testemunho do mal; mas se falei bem, por que me feres?” A luz incomoda os olhos de quem se habituou à escuridão... Seria lícito que impedíssemos a claridade? Queremos tomar o lugar de Deus na Criação? Que sabe o verme da estrela?... Por que não somos capazes de amar, da mesma forma que odiamos? Você poderia nos responder?...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:50 am

23 - Doutrinação e Prece
Ante a segura argumentação de Manoel Roberto, a entidade que mentalizava sobre Richard, mediunizando-o, se retraía e passava a responder com gestos obscenos.— Meu irmão - prosseguia o evangelizador, tranquilo procure reflectir... Todos sabemos que, muito em breve, haveremos de voltar à Terra, em novo corpo. A Lei é indefectível; de repente, o espesso véu do esquecimento se fará sobre nós e, então, nos veremos colhendo o semeado... Não acredite nos engodos de quantos procuram enganá-lo, com o objectivo de tê-lo à mercê de sua vontade revel: impossível nos opormos, indefinidamente, aos Desígnios Divinos! Todos nós, mais cedo ou mais tarde, experimentaremos, no âmago do ser, a necessidade de renovação... Ninguém há de permanecer para trás, porque o Criador não se frustra em nenhuma de suas criaturas. O amor é um sentimento espontâneo, ao passo que o ódio impõe tremendo sofrimento ao espírito que se equivoca ao sustentá-lo... A fonte desliza cantante, a flor se abre em perfume, o pássaro trina esvoaçando no céu!
— Chega, chega! - gritou a entidade, debatendo-se e dando-me a impressão de que queria partir e, ao mesmo tempo, ficar. — Cale-se! Não quero ouvir... Cão insolente!
Você tem sido treinado por aquele... maldito doutor! Ele os hipnotiza e manobra. Ah, existe uma grande recompensa pesando sobre a cabeça dele... Vocês sabiam? Quem a apresentar numa bandeja aos nossos superiores será regiamente recompensado...
—Não, ouça um pouco mais; já que veio ter connosco, aproveite a oportunidade - insistia o confrade, valendo-se da ensancha que vislumbrara de incutir ideias que persistissem trabalhando o pensamento da entidade que se manifestava por Richard. — Liberte-se! Com a revolta cristalizada na mente, em que condições se dará o seu renascimento? Quem o receberá, na Terra, como seus genitores, protegendo-o dos perigos a que, com certeza, estará exposto na infância e na adolescência? Quantos abusos e distorções de carácter pode padecer o espírito na idade infantil, crescendo à mercê das circunstâncias de um mundo de provas e expiações! A sua situação poderá se complicar muito...
— Ainda ousa me ameaçar?!... Cale-se, seu... Então, não sabe que temos quem cuida de nós? Haverei de me antecipar à Lei a que você se refere - planejarei a minha volta e... Ah, ah, ah!... Serei filho de um casal rico, morarei numa mansão e curtirei a vida, ao máximo. Se perder o corpo, não importa; o que me interessa é o prazer!... Acaso, não terei o direito que tem um cachorro de madame? Não terei pediatras, enquanto tantos cães têm veterinários e são tratados em salões de beleza?... Ora!...
— Meu irmão, as coisas não são exactamente assim...
0 mal termina por punir a si próprio! Você acha que os seus superiores haverão de favorecê-lo com privilégios - de privilégios que disputam, acirradamente, entre eles? O dinheiro fácil o levaria à droga, e o vício à consequente suicídio... Recue! Há sempre um abismo mais profundo no qual podemos nos precipitar. Somente em Jesus conheceremos a verdadeira paz! Depois que lhe sugarem todas as energias, você será abandonado... Veja a situação dos que aqui se encontram, em tratamento e, o que é pior, daqueles que jazem caídos lá fora, rentes aos que os observam com indiferença... Há algum bom samaritano por aí? Porventura, existem hospitais em que vocês se tratam uns aos outros?...
— Não, não temos hospital algum! Não precisamos, não somos doentes!
— Não negue o que os seus olhos constatam...
— Estou indo embora... Cale-se! Não me prenda...
Solte-me! Que sortilégios fez contra mim? Veneno, veneno - eis o que está inoculando na minha mente. Casa de loucos... Isto aqui é um hospício, uma Sodoma sob disfarce!
Vadios... Deixe-me ir ou estouro a cabeça deste infeliz...
— Senhor Jesus - começou a orar o experiente doutrinador, erguendo a fronte para o Alto -, que as Tuas bênçãos se façam sobre nós neste instante... Todos carecemos de Tua misericórdia! Não nos deixes a sós...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:51 am

Fortalece-nos a vontade de sermos bons! Auxilia-nos a identificar os próprios erros e encoraja-nos a repará-los.
Mestre, nos reconhecemos destituídos de todo e qualquer mérito para tanto, mas, se não caminhares connosco, não lograremos chegar a parte alguma... Escora-nos em nossa fragilidade espiritual, na inevitável jornada de nossa redenção. Queremos a cruz!... Não nos deixes maldizê-la; ao contrário, que possamos acariciá-la, como acariciaste o madeiro que Te impusemos aos ombros... És a nossa alegria e esperança!... Contigo, o nosso coração se aquieta e a sombra em tomo, aos poucos, se dissipa. Compadece-Te de nossas dores, oriundas da rebeldia e ignorância milenares... Confiamos exclusivamente em Ti! És nosso abrigo e aconchego!... Sê connosco, hoje e para sempre!...
A entidade, retirando-se sem sequer mais uma palavra, deixara Richard, o médium, extenuado. Enquanto os auxiliares se encarregavam de limpá-lo, providenciando, inclusive, a assepsia do quarto, o Sr. Manoel Roberto, que, devagar, se recompunha das emoções da sentida prece que pronunciara, entrava em pausada conversação comigo.
— Você está bem? - perguntou-me.
— Não se preocupe - respondi como se, de certa maneira, também estivesse envolvida naquele processo, semelhante a tantos outros dos quais, na condição de médium psicofónica, havia participado por minha vez. — O Richard, Domingas...
— Impressionei-me com a sua passividade.
— Vemos que os médiuns em desequilíbrio são extraordinariamente passivos para... o mal. A qualidade e a elevação do fenómeno é uma questão de onde se nos situa o pensamento.
— O espírito comunicante, ao que constatei, não estava aqui...
— E nem haveria necessidade - esclareceu. — Uma notícia viaja milhares de quilómetros e nos influencia...
Uma pessoa conversa com outra pelo telefone e se faz presente. A mediunidade, por assim dizer (desculpe-me se não sou claro), é a globalização do pensamento.
— E um universo, não?
— Ainda a ser convenientemente desbravado.
— O espírito, ou melhor, o médium não precisa sentir o espírito ao seu lado...
— Fisicamente, o espírito nunca está ao lado do médium; a menos, é óbvio, que se apresente materializado.
— Quer dizer que eu, na condição de médium, quando anunciava a presença do Dr. Odilon ou do Dr. Rudolf?...
— Não estava faltando com a verdade; apenas não se expressava bem...
— Preciso rever muitos conceitos.
Saindo, agora, dos aposentos de Richard, que se entregara a profundo estado de sonolência, continuamos a conversar.
— Sr. Manoel, a comunicação que presenciamos...
Richard, espírito, incorporou...?
— Um espírito!
— Habitante desta Dimensão?
— Sim, como se fosse intercâmbio mediúnico entre encarnados...
— Isto é mediunidade? Não está mais para animismo, ou mistificação?
—Domingas, o médium, no momento do transe, com raríssimas excepções, é um receptor de ideias provenientes de todos os lados. Numa sessão mediúnica, há interferência também dos encarnados...
— Dos integrantes da reunião?
— Não apenas. O médium é susceptível de captar vibrações - ideias e emoções - dos presentes e dos ausentes, que, principalmente, estejam de atenção voltada para a sessão em andamento.
— Familiares, amigos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:51 am

— Vizinhos, curiosos que passam na rua!...
— Você disse, “raríssimas excepções”... Como acontecem?
— Com o médium e o espírito treinados na sintonia, que trabalham em maior regime de comunhão de propósitos e pensamentos, estreitando laços de afinidade ao longo do tempo.
— Mediunidade em diferentes níveis de sintonia!
— Correto. Veja, um espírito a procura para um primeiro contacto... Falta entrosamento, confiança - a reciprocidade não acontece apenas em nível fluídico, vibratório.
— A gente nem conversa direito com uma pessoa que está vendo pela vez primeira, e nem costuma se abrir com um amigo de muitos anos!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 10:51 am

24- 0 Sonho
Após ter acertado com o Sr. Manoel Roberto a sala para a realização do culto do Evangelho, voltei para o meu quarto, sentindo necessidade de repousar. As forças, de repente, se me esvaíram e indefinível sensação de fraqueza apossara-se de mim. A verdade é que eu ainda não me achava completamente adaptada à nova situação.
Comunicando ao amigo o súbito mal-estar de que me vira acometida, ele se prontificou em me acompanhar aos aposentos, oferecendo-me o braço por apoio.
— Não se preocupe, Domingas - explicou. — É assim mesmo: as sequelas da desencarnação podem nos afectar por-um tempo mais ou menos longo. A sua recuperação nos tem sido surpreendente... O próprio Dr. Inácio, em comentário connosco, se mostrava admirado.
Descanse um pouco, tentando relaxar, num rápido cochilo...
— Eu não durmo, nunca dormi no período da tarde - acho um desperdício de tempo. Já temos a noite e...
— De qualquer forma, deite-se, pois não lhe convém abusar. Os seus vínculos sentimentais com os nossos irmãos encarnados...
— E, eu tenho pensado muito neles; não consigo me admitir fora de combate...
— Mas você não está fora de combate; ao contrário, veio para a linha de frente...
— Sinto-me, no entanto, como quem tivesse desertado... Tínhamos tantos planos! Fizeram tanto por mim e tencionava retribuir, a cada um deles, com a minha amizade. No fundo, eu esperava ficar bem...
— Faz parte do contexto de nossas provas a nossa frustração no bem que anelamos concretizar. Em vidas anteriores, quando tínhamos saúde e oportunidade ao nosso dispor, não aproveitamos: malbaratamos o tempo, fugimos à responsabilidade, desprezamos circunstâncias favoráveis, agora...
— Considero que desencarnei em minha fase mais produtiva, apesar dos 65 de idade!
— Antes assim - respondeu, auxiliando-me a deitar.
— Vou diminuir a claridade e recomendar que ninguém entre no quarto, nas próximas três horas. Tente dormir e, se possível, sonhar...
Quando o Benfeitor se retirou, comecei a reflectir, dialogando com o eco de meus pensamentos.
—Tudo é uma questão de fragilidade espiritual, com repercussões na minha mente e no meu organismo - se fosse um espírito mais consciente, não estaria sujeita às limitações que, mesmo depois de morta, me trazem para a cama... Ora, com tanto trabalho à minha espera! Estou envergonhada... Deste Outro Lado, o nosso envoltório continua a nos constranger, não importando que tenha o sofisticado nome de perispírito. Eu imaginava que, uma vez liberta do corpo de carne, volitaria, e distância alguma se me constituiria em embaraço. Ledo engano! Será que, um dia, voarei? Estou aqui, não sei há quanto tempo e, até o presente momento, não vi ninguém volitando - é pé no chão mesmo!
Mergulhada em tais devaneios, cochilei e me vi fora do corpo, sem saber lhes dizer para que Dimensão me transferira. Teria, por instantes, me transportado para o ambiente terrestre, ou ascendera a paisagem mais eterizada?
Os desdobramentos sempre me intrigavam, embora, a rigor, eu nunca soubesse interpretá-los em sua possível mensagem - quando alguém se aproximava de mim para narrar uma experiência onírica (de onde agora é que me vem esta palavra -onírica! -, que, tenho certeza, jamais pronunciei na vida?), confesso, era acometida por certa crise de preguiça em ouvi-la... Escutava apenas por educação. Certa vez, sorri muito de um amigo, quando eu mesma me dispus a contar-lhe um sonho que tivera na véspera. Ao terminar, com entusiasmo, a narrativa longa, na esperança de que me decifrasse as visões, ele simplesmente respondeu: — “Domingas, eu não sou José do Egipto e nem tampouco o profeta Daniel... Sonho, para mim, é ou não é - desculpe-me, mas não me dou o trabalho de interpretá-los”. — “Eu pensei” - disse-lhe — “que, pelo menos, você fosse me dar um palpite para jogar no bicho...”
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Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli - Página 3 Empty Re: Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 8:44 pm

— “Nem isto” - retrucou ;‘uma vez sonhei, nitidamente, com o número 4... Joguei seguidamente, durante um mês, na borboleta, e... nada: dava o zoológico todo, menos a borboleta!...”
Bem, seja como for, o certo é que espírito também sonha, sai do corpo, desdobra-se - não sei para onde, mas desdobra-se e faceia uma outra realidade.
Esperando contar com a paciência de vocês, digo-lhes que (vou resumir para não cansá-los), naquela tarde, em que cochilara, me vi diante de uma assembleia, composta por gente viva e gente morta, reunida para ouvir uma conferência minha.
— Meus irmãos - lembro-me de lhes ter falado -, o Espiritismo, em nossas vidas, se assemelha a exímio cirurgião a extirpar-nos do cérebro o tumor de nossa milenar ignorância... O conhecimento espírita é uma espécie de bisturi agindo em nossa mente, ampliando-nos a capacidade de enxergar e compreender a Verdade, para a qual, desde muito, nos temos feito cegos! Precisamos estudar a Doutrina, que é luz, porque mais luz significa mais visão. A nossa Fé é raciocinada. Antes, não sabíamos pensar...
Apegados à letra, não atinávamos com o espírito do ensinamento. O livro espírita em nossas mãos é um privilégio; o trabalho, uma bênção... Por mais façamos pela causa do Evangelho Redivivo, jamais estaremos sendo suficientemente gratos a Jesus! Precisamos ser mais úteis aos propósitos do Divino Mestre. Renunciemos um pouco mais aos nossos projectos de felicidade pessoal, porque não há ventura maior que a de servir... Não nos entreguemos a conflitos estéreis, submetendo-nos às sugestões das trevas. Polémica, quase sempre, é perda de tempo.
Carecemos de abrandar o coração, consentindo que o Espiritismo trabalhe os nossos sentimentos... Unamo-nos!
Não há quem faça mais pela Doutrina do que aquele que procura dar o exemplo...”
Meu Deus, ocorre-me agora, enquanto escrevo: estaria eu falando incorporada?! Aqueles conceitos não poderiam ser exclusivamente meus!...
Despertei, procurando um papel para anotar, às pressas, as ideias centrais da prelecção, com receio de que se me apagassem da memória, o que, efectivamente, acontecia, à medida que me esforçava para lembrá-las.
O repouso vespertino me fizera bem. Revigorada, sentia que, estranhamente, mais uma parte de mim havia desencarnado... Respirava melhor, de coração aliviado.
Enganam-se quantos imaginam que morrer seja um processo instantâneo. Não! A desvinculação psíquica do espírito acontece de maneira gradativa e não poderia ser diferente. Deixar o corpo pela desencarnação não se traduz por simples “virar as costas” para os problemas e laços afectivos da retaguarda - sair do corpo é uma coisa, afastar-se do mundo é outra... Administrar emoções do Outro Lado da Vida é um dos maiores desafios ao espírito recém-desencarnado.
Graças a Deus, as minhas ocupações e os meus anseios de trabalho na existência nova não me permitiam debruçar, em excesso, sobre o passado. Pensava, como ainda penso, frequentemente, nos familiares e amigos, mas estava consciente, como estou, de que, para auxiliá-los, precisava me fortalecer, ganhando maior independência de movimentos.
Algo, no entanto, necessito declarar, com o único propósito de advertir os companheiros: por ter desencarnado e estar, sem merecimento algum de minha parte, convivendo com amigos queridos nas regiões do Além, não concluam que eu já tenha superado completamente os meus conflitos de natureza íntima. Não!
Por vezes, pensamentos que me entristecem ainda me acodem ao cérebro... Não pretendo me justificar, mas é assim com a maioria. E é natural que assim seja, sem significar, contudo, que mereçamos o rótulo de espíritos apegados à matéria. Quando vocês desencarnarem, compreenderão o que digo... Esperem e verão!
Nós, os espíritas, não poucas vezes nos referimos pejorativamente aos irmãos de ideal que nos antecederam na Grande Viagem: Fulano não está bem, esteve se comunicando lá no Centro e não está bem; Sicrano está enfrentando dificuldades no Mundo Espiritual; Beltrano está chorando muito, lamentando os erros - falta de aviso não foi, pois ele conhecia a Doutrina...
Querem um conselho? Se não querem, vou dá-lo do mesmo jeito: fiquem quietos, calados, não julguem ninguém, vocês não sabem nada... “Olhem para si próprios e orem pelos outros” - eis uma das frases que o nosso caro Dr. Inácio mandou escrever, em letras garrafais, numa das paredes do Hospital.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 8:45 pm

25- 0 Primeiro Culto
Foi uma alegria a realização de nosso primeiro culto do Evangelho, em arejada sala das dependências do Hospital. Donas Geralda, Nair Dorça e Maria Modesta, o Sr. Manoel Roberto, o Dr. Inácio e o Dr. Odilon estiveram presentes, participando daqueles instantes de oração, à luz das lições ofertadas por “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”.
— Interessante - disse, logo após D. Nair ter proferido a prece de abertura eu imaginava que, deste Outro Lado, outros livros doutrinários de conteúdo mais profundo e abrangente estariam à nossa disposição, mas não, aqui estamos a estudar as mesmas obras...
— E natural, Domingas - observou D. Modesta digo-lhe por mim mesma, que, confesso, quando encarnada, pouco assimilei das verdades da Doutrina.
— A senhora?! - exclamei, evidenciando sincera surpresa.
— Sim, e não me pejo de fazer tal confissão. Eu era médium, minha irmã, e, de certa maneira, como quase todos os médiuns, me julgava talvez dispensada de estar sempre estudando e renovando conhecimentos.
— Modesta - aparteou o Dr. Inácio, discordando -, não era tanto assim, você lia muito: em sua casa, eu sempre a surpreendia com uma das Obras Básicas nas mãos!
— Mas não as lia, Inácio, com aquele espírito de sequência, com método e disciplina; compulsava-as aleatoriamente, como, infelizmente, a maioria faz: uma página aqui, outra ali...
— Neste sentido - falou D. Nair -, eu também perdi muito tempo. Aprendia mais ouvindo palestras, que estudando por mim mesma, o que, reconheço, foi um erro, já que os temas comentados se repetiam com bastante frequência. É claro, a gente precisava de ouvi-los, mas...
— A nossa velha desculpa de falta de tempo, não é?
- comentou D. Geralda. Se com vocês, que considerava estudiosos da Doutrina, era assim, comigo então... A luta, não raro, se fazia tão grande, que eu não tinha cabeça - chegava a cochilar com o livro aberto nas mãos! Não sabia se lia ou se orava pelos meus, em tantas provas que enfrentávamos, deixando-me com extremo desgaste. Você se lembra, não é, Domingas?
— A senhora pelejava muito... Sinceramente, não sei como conseguia administrar tantos problemas!
— Ouvindo o depoimento de vocês... - tomou a palavra o Sr. Manoel Roberto. Eu achava que só o facto de trabalhar no Sanatório e conviver com o Dr. Inácio me seria suficiente...
— Para quê? - perguntou este.
— Para conhecer a Doutrina...
—Tenha a santa paciência, Manoel! Não me envolva nisto. Eu vivia insistindo com vocês...
— É verdade, Doutor. Vivia nos presenteando com exemplares de livros: no Natal, no aniversário, nas festas de confraternização...
— Não seja injusto comigo. Eu não os presenteava apenas com livros... Se for preciso, evocarei o testemunho de outros defuntos: irei atrás deles e os trarei, de onde estiverem, até aqui! - brincou, parecendo indignar-se com seriedade.
— Permitam-me falar - solicitei. — Eu adorava ler - adoro! -, porém entender mesmo, que é bom... Que dificuldade! Lia uma página, duas, três, quatro vezes, para ver se alguma coisa ficava retida na minha cabeça, e não conseguia memorizar sequer uma questão de “O Livro dos Espíritos”! Invejava os companheiros que, assomando a tribuna, citavam trechos inteiros de cor...
—Domingas - ponderou o Dr. Odilon -, o importante é assimilar a essência, que se traduza em nossas acções quotidianas. O resto, sem o propósito de querer diminuir o esforço de ninguém, é fenómeno mnemónico.
— Concordo e não concordo, Odilon - interveio o autor de “Novos Rumos à Medicina” -, pois, se a gente não consegue fixar a Verdade como aplicá-la?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 8:45 pm

— Caímos no velho confronto entre teoria e prática, não é? Não padece dúvida: o estudo é fundamental, Inácio, todavia, conforme se sabe...
— ...muitos se preocupam tão-somente em conhecer!
Vaidade intelectual... O espírita corre semelhante risco, ainda mais agora com tanta ênfase ao aspecto científico da Doutrina. Compreendo, Odilon, a sua advertência, e você tem razão.
— Conhecer Doutrina é uma coisa; saber Doutrina é outra - enfatizou o Mentor. Conhecê-la teoricamente é tarefa da inteligência; sabê-la diz respeito à inteligência e ao coração...
— O que conhece é adepto; o que sabe é tarefeiro...
— Dr. Odilon - indaguei -, é possível se saber algo da Verdade, sem, digamos, conhecê-la integralmente?
— O conhecimento da Verdade que liberta é o que se acresce de sua vivência. Conhecimento é o encontro específico da informação que se busca; sabedoria é a intuição abrangente... O conhecimento se transmite, a sabedoria se adquire!
— O livro transmite conhecimento...
— Mas não sabedoria!
— Ler muito?...
— É importante, todavia não basta! Só quem reflecte sobre o que lê e se empenha em transformar teoria em prática alcança a luz do saber.
— Às vezes, o pessoal, nos cultos semanais realizados em minha casa, reclamava que demorávamos muito com tal ou qual livro - ficávamos uma hora discutindo uma única questão de “O Livro dos Espíritos”!...
— E por isto, Domingas - exclamou Dr. Inácio, indo ao cerne da questão -, que quase ninguém sabe nada de Doutrina! As Obras Básicas, principalmente, carecem de ser dissecadas... “O Livro dos Médiuns” é o exemplo de obra que está passando sem ser conhecida e, o que é pior, dos médiuns! “O Céu e o Inferno”, então...
— Como é o nome? - foi minha vez de brincar, ironizando a mim mesma. — “O Céu e o Inferno”? Muito prazer em conhecer... De quem é?! De Allan Kardec ou de Chico Xavier?...
— Dos dois e de um só! - respondeu o Dr. Inácio. — E de Kardechico...
— Estou com vergonha, mas este, “O Céu e o Inferno”..., devo tê-lo aberto poucas vezes na vida!
— Ixe!... O pessoal lá embaixo vai bordoá-la... Como se atreve a escrever sobre Espiritismo para os vivos, sendo ré confessa?!... E “A Génese”, então?
— “A Génese”, nem passei perto...
— Não se preocupem - interferiu o Dr. Odilon, amenizando o conhecimento do Pentateuco é para 5 gerações...
— 5 gerações de 100 anos cada, não é? É para 500 anos!... Sendo que, a rigor, ainda não completamos nem a 1.ª geração...
— E dizem que Kardec está ultrapassado, Inácio!
— Trata-se de pequeno equívoco: em vez de Kardec ultrapassado, é Kardec ultrapassou! Não é ignorância doutrinária: é gramatical!...
— Inácio, o Mundo Espiritual não poderia existir sem você. Ficaria mais pobre e sem graça! Você fala sem rodeios...
— É uma das vantagens de não ser espírito missionário!
— Inácio! Bem!...
— Odilon!... - replicou o companheiro, simulando entrevero com o Instrutor, para, em seguida, sorrir com descontracção.
— Temos, no entanto - perguntei -, outras obras de cunho doutrinário por aqui, não temos?
— Sim - esclareceu o fundador da “Casa do Cinza” o pessoal afeito à Literatura continua escrevendo, autores e médiuns espíritas prosseguem produzindo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 8:45 pm

— Na Biblioteca do Hospital, você poderá ter acesso a diversas delas. Compreenda, porém - elucidou o Dr. Inácio -, que, para nós, espíritas no corpo e fora do corpo, o Evangelho de Jesus e os livros fundamentais da Doutrina se constituem de imutáveis revelações para todos os Planos em que a vida humana se manifesta. O Evangelho é a Verdade Universal, e os princípios kardequianos, que nele se alicerçam, reflectem-lhe a sublime claridade.
— Nada de novo, então?
— Ao contrário, minha filha, para o homem velho que somos, tudo permanece inédito. Você quer algo de mais inédito para as pessoas do que o Amor? O que poderia superá-lo? Quem ama realiza o Reino dos Céus em si e... pronto! O Amor é a síntese de toda a Verdade que pode ser apreendida!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Fev 13, 2024 8:45 pm

26 - Recreio Espiritual
— Aprendida, Dr. Inácio? - perguntei, supondo que não o tivesse escutado pronunciar correctamente a palavra.
— Apreendida, Domingas - repetiu - com dois ee; quer dizer: assimilada, apanhada, incorporada ao património intelecto moral...
— Quantas vezes quis utilizar este termo em minhas palestras e não encontrava jeito de encaixá-lo... Agora, aprendi.
—Aprendeu, porque apreendeu! A gente só aprende o que apreende, ou seja, o que compreende, o que abrange...
Muitos aprendem Espiritismo, mas não o apreendem...
— O que quer dizer?
— Não logram assimilar o espírito da Doutrina, a essência da mensagem! Por exemplo, aprender o caminho: significa conhecê-lo, localizá-lo...
— Apreender o caminho?...
— Significa saber trilhá-lo... Quem aprende o caminho, percorre-o de olhos abertos; quem o apreende, palmilha-o de olhos fechados...
— Aprender Espiritismo?...
— Não basta! Aprender é teorizar, discutir, porque se está informado; apreender é intuir, sentir o que, nem sempre, se consegue dizer - é formação espiritual!
— Coitada de mim, que não aprendi nem apreendi!..
— Com os olhos da carne, se aprende; com os olhos do espírito se apreende...
— Por enquanto - enfatizei -, a única coisa que aprendi e apreendi é que não sei nada...
— Você está chegando a Sócrates, Domingas!
— É aquele que bebeu soda cáustica, não é?
— Ele bebeu soda cáustica e você está compondo um novo “samba de crioulo doido”...
Até D. Maria Modesta não aguentou e sorriu a valer.
— Consertem isto aí - solicitou o Dr. Odilon -, caso contrário...
— Ora, Odilon, todo o mundo sabe que Sócrates bebeu formicida... - brincou o Dr. Inácio, piscando um olho.
— Foi obrigado a tomar cicuta, Inácio! Por favor...
—Afinal - perguntou D. Geralda -, o que foi mesmo que ele tomou?
— Foi condenado à morte mediante sorver, à vista do povo, uma taça de cicuta, veneno letal extraído de certa planta - aduziu o Mentor, apreensivo. — O Dr. Inácio e a Domingas estão formando uma bela dupla...
—Desculpe-me, Dr. Odilon, reconheço que excedi...
A única coisa em que posso tentar corresponder é no bom humor, no mais, coitada de mim, quem sou eu?...
—Agora, você está chegando a Chico Xavier... Que é isto, Domingas?! Que síndrome é essa? - questionou-me o Dr. Inácio, fazendo cara de sério.
— Síndrome da “ponta de unha” - o senhor já ouviu falar? Não? Pois é, se manifesta de maneira inconsciente...
— Pronto! Está querendo chegar a psiquiatra; quer me desempregar...
— Ah! - disse eu, por fim -, quem me dera ser, pelo menos, uma lasquinha de unha de qualquer um desses luminares, inclusive do senhor?!...
—E porque você não sabe o estado das minhas unhas, todas encravadas e atacadas por micose!
— Esse Dr. Inácio!... - exclamou “tia” Nair.— Afinal, isto aqui está sendo um culto ou...?
— E a hora do recreio, Odilon; as nossas irmãs precisam sorrir... Não há maldade em nossas brincadeiras - você sabe disto, e espero que os companheiros encarnados também saibam. Elas lutaram muito, sendo verdadeiras heroínas da fé. A maior dádiva que um amigo pode oferecer a outro é a da alegria!
O Dr. Inácio, emocionado, se transfigurara.
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