LUZ ESPÍRITA
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Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:28 am

Eu, Espírito Comum
Carlos A. Baccelli

pelo espírito Domingas


Maria Rodrigues Salvador (Domingas), nascida em Monte Carmelo - MG, em 26 de maio de 1940, quarta filha do militar José Rodrigues e Sabina Rodrigues, viúva do Cabo Abel Salvador desde 1971. Foi funcionária pública estadual aposentada em Pedagogia na Área da Educação.
Desde 1964, exercia suas actividades mediúnicas no Templo Espírita “Casa do Cinza” , em Uberaba-MG.
Trabalhava em Auxílio ao Enfermo na Casa Espírita “Jesus de Nazareth”, na mesma cidade, exercendo também a divulgação doutrinária no Lar Espírita “Pedro e Paulo” e em diversas outras entidades congéneres.
Exerceu, durante 13 anos, a direcção do Departamento Artístico da União da Mocidade Espírita de Uberaba, emprestando devotada e esclarecida contribuição intelectual às reuniões doutrinárias mensais.

Eu, Espírito Comum
Logo que se reconheceu no Mundo Espiritual, nossa irmã Domingas - Maria Rodrigues Salvador recém-liberta do corpo físico, após cumprir laboriosa existência na Terra, servindo com denodo à causa da Doutrina Espírita por cerca de quatro décadas, solicitou-nos permissão para, tanto quanto possível, continuar fazendo sentir-se junto aos companheiros de Ideal, dos quais, obviamente, não desejaria ter-se afastado.
Estando ainda em convalescença, com a espontaneidade que lhe é característica, indagou-nos oportunamente: —“Seria viável a um espírito comum como eu algo escrever, através dos canais da mediunidade, dando notícias de minha chegada ao Além aos amigos saudosos?”. Daí, sob a tutela de diversos Benfeitores, ter nascido este livro que ora fazemos vir a lume, esperando que ele seja de real proveito para os estudiosos das diferentes facetas da Vida, que prossegue, sem alteração, para além das fronteiras do túmulo.
Contando com a condescendência dos estimados leitores que se dignarem de perpassar os olhos sobre estas páginas singelas, rogamos ao Senhor fortaleça nossa irmã Domingas, a fim de que ela continue a inspirar-nos com seus exemplos de boa vontade e amor ao trabalho, no melhor aproveitamento do tempo que nos é concedido para servir-mos aos propósitos Daquele a quem tudo devemos!

Uberaba-MG, 17 de agosto de 2006.
Odilon Fernandes
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índice
1 - Primeiras Palavras
2 - Tomando Consciência
3 - Entre Amigos
4 - Minha Mãe
5 - Fisioterapia
6 - Pérolas aos Poucos
7 - Melhorando
8 - Sabendo Mais
9 - Espíritos Criadores
10 - Amor e Evolução
11 - Com D. Maria Modesto
12 - Outros Esclarecimentos
13 - Coligindo Anotações
14 - Passeio Matinal
15 - “Tia” Nair e D. Horizonta
16- 0 Caso Benvindo
17- 0 Espírito é Tudo!
18 - Passado Obscuro
19 - Mediunidade
20 - Ainda Mediunidade
21 - Transcendência
22 - Mentalização
23 - Doutrinação e Prece
24- 0 Sonho
25- 0 Primeiro Culto
26 - Recreio Espiritual
27 - “Céu Espírita”
28 - “Cigana”
29 - Na Periferia da Caridade
30 - Conhecendo Labélius
31 - “O Código Da Vinci”
32 - Abrindo um Parêntese
33 - Os Elementais
34 - Graças a Deus!
35 - Importante Ousadia
36 - Árvore da Mediunidade
37 - Rumo ao “Liceu”
38 - A Natureza no Além
39 - Convite Inesperado
40 - Singelo Depoimento
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1 - Primeiras Palavras
De início, peço-lhe desculpas pela minha insistência em escrever, narrando, por seu intermédio, as minhas impressões de além-túmulo. Os amigos compreenderão que ainda estou em estado de convalescença e não exigirão muito de mim, ansiosa que me encontro por dar sequência ao trabalho de que necessito, ou melhor, de que todos necessitamos. Abençoada Doutrina que não nos permite ficar por muito tempo na horizontalidade!
Sinceramente, eu tinha certo receio de desencarnar (não se importe tanto com as palavras, não as escolha demais), porque temia, não a morte em si, mas a condição em que haveria de chegar ao Outro Lado da Vida; você sabe, por mais façamos, a gente nunca faz o que deve, da maneira como deve... Eu tinha medo, principalmente de que o meu passado voltasse.
Graças a Deus, assim que cerrei os olhos do corpo em definitivo e, depois, pude abri-los, um dos primeiros semblantes que divisei foi o de nosso caro Dr. Odilon Fernandes, que me saudou, descontraído:
— Olá, Domingas! Há quanto tempo, minha filha!
Não se preocupe, estamos aqui. Tente relaxar e dormir um pouco; não resista ao sono reparador... Você lutou muito e precisa se refazer. Velaremos por você. Durma!...
Seria tudo aquilo realidade? Eu queria, aliás, era tudo o que sempre quis, mas não merecia tanto. Será que, de fato, havia desencarnado? Não se tratava de um sonho, de visões facilitadas pelo meu estado de abatimento? Há praticamente dois anos, eu vinha lutando com sérios problemas de saúde e... Bem, sentindo a destra do Dr. Odilon pousar sobre a minha fronte, um torpor foi tomando conta de mim, ao mesmo tempo em que estranha sensação de leveza me fazia fluir para fora do corpo - era como se, de repente, a gravidade tivesse desaparecido para mim.
Custou-me ceder, pois, afinal, eu queria registrar tudo, conferir a minha própria experiência de espírito recém desencarnado ou ainda em processo de desencarnação, com as informações da literatura espírita; não - é óbvio - que duvidasse do relato de diversos companheiros que nos trouxeram o seu testemunho, mas desejava, por mim mesma, acompanhar todas as etapas de meu reingresso ao Mundo dos Espíritos. Sempre fui extremamente curiosa e, antes da desencarnação, pensava que, se me fosse dada oportunidade, assim que possível, procuraria um médium - um ou mais de um, tentando estabelecer melhor sintonia.
Compreendam os nossos amigos, os que, porventura, vierem a correr os olhos sobre estas linhas, que escrevo sem nenhuma preocupação cronológica com os acontecimentos. O Dr. Odilon, que continua a me orientar, me disse: — “Minha filha, não se aflija, para não afligirmos o médium... Tudo o que você puder alinhavar no papel será interessante. Escreva como se você estivesse conversando; nada de ideias rebuscadas...”
Por mais quisesse permanecer no corpo, houve um instante - uma fracção de segundo! -, em que perdi o controlo do pensamento, sim, porque eu monitorava o corpo o tempo todo, não querendo deixar de me sentir encarnada... A verdade é que eu não queria partir, pois, se o quisesse, tivera doenças de sobra para fazê-lo antes. Os Espíritos têm razão quando nos dizem que um minuto a mais de vida no corpo físico é uma bênção! As vezes, aquele minuto é decisivo para a nossa maior conscientização quanto às realidades que nos esperam no Além - quanto mais morremos sabendo que estamos morrendo, mais haveremos de viver sabendo que estamos vivendo! Não sei se estou conseguindo me expressar com clareza; se não, vocês discutam o assunto entre si e cheguem à conclusão que desejarem.
Conforme ia lhes dizendo, foi numa fracção de segundo, num piscar de olhos, que tudo aconteceu... De repente, eu não estava mais imantada ao corpo - por assim dizer eu havia me deslocado, perdendo o comando da situação. Pronto! Não dava para voltar... Determinados filamentos ainda me jungiam à minha forma - literalmente,
à minha forma - ou à minha representação física, mas o processo de meu desenlace se fizera irreversível, sem a mínima sensação de dor. Morrer, o ato de morrer, não dói no corpo, dói na consciência.
Num átimo (este termo, não sei se é meu ou se é do médium, porém não importa), eu me colocara entre as Duas Vidas; a derradeira coisa que percebi do mundo - graças a Deus! - foi a presença de amigos ao redor de meu leito, orando e me transmitindo o passe... Como descrever isto?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:29 am

Difícil; agora, não encontro uma imagem a que possa recorrer... Eu me sentia suspensa no ar, transitando de uma esfera para outra; creio ser este, talvez, o único momento em que o espírito se vê, ao mesmo tempo, de um lado e de outro... A luminosidade do quarto do hospital, gradativamente, se apagava para mim - tudo na Terra ia ficando cada vez mais distante... Quem já viajou de avião, lembrando-se do momento da descolagem, terá uma ideia do fenómeno que eu experimentava. Curioso: a cada batida do coração, que claudicava, eu me sentia puxada para baixo\ Quando respirava, enchendo os pulmões de oxigénio, ou melhor, um dos pulmões (o outro desapareceu sob a acção do tumor), o corpo me prendia; quando expirava, ele me soltava... Por este motivo, de quem morre, as pessoas dizem que “expirou”; morrer, de fato, é expirar em definitivo.
Lamentei, sim, a minha desencarnação, quando - é claro - pude fazê-lo. Sinceramente, eu queria viver mais para trabalhar e vir em melhores condições; espiritualmente, desencarnei em minha melhor fase. Graças a Deus, que foi assim, porém... No entanto, pior, muito pior, se eu tivesse deixado o corpo numa daquelas crises obsessivas que me vitimaram no começo. O Espiritismo ou, por outra, o Evangelho de Jesus operou em mim uma transformação extraordinária: deixei de ser um doente crónico, para ser um doente em recuperação... Tudo devo ao trabalho, ao esforço, à perseverança. Se tive algum, o mérito que tive foi o de justamente ter perseverado; nunca pensei em abandonar nada por causa de melindre, ciumeira, ofensa...
Sentimentos menores que a morte pulveriza! Quanto a gente se arrepende de ter valorizado tantas coisinhas. O espírita, em geral, lembrando-me agora de uma colocação do nosso caro Dr. Inácio Ferreira, é muito bobo ou, para amenizar, ingénuo, pois perde um tempão danado com querelas e picuinhas. Ah, quanto estamos iludidos! Meus irmãos, não se iludam, trabalhem. O trabalho no Bem é a única coisa que conta, a única coisa que fica! Vigiem a palavra invigilante, a insinuação maledicente.
Graças a Deus que, em minha retrospectiva, eu tive muitas coisas boas de que me lembrar - os meus melhores momentos no mundo foram os que pude dedicar à Caridade!
A Caridade, nada se compara. Fiz palestras, escrevi livros, incorporei espíritos, mas nada, absolutamente nada nos proporciona tanta alegria íntima quanto o menor gesto espontâneo em favor de alguém. Eu trocaria todas as minhas palestras por mais um prato de sopa que, de minhas mãos, alguém tivesse recebido! Falarão em caridade moral, tudo bem, mas é uma questão de foro íntimo. Se há quem verdadeiramente se contente em apenas falar ou escrever...
Com que objectivo, afinal, falamos ou escrevemos? O esclarecimento é luz, todavia, até onde posso alcançar, ainda há muita vaidade e personalismo permeando as nossas iniciativas intelectuais. Positivamente, há menos vaidade em se visitar um doente ou doar algo de natureza material a alguém do que assomar a tribuna para uma conferência ou lançar um livro com sessão de autógrafos.
E o que penso. Se estou errada, me perdoem. Não é o meu intuito efectuar julgamentos. Cada qual faça o que puder, como e onde puder.
Eu estava me referindo à chamada visão panorâmica, que, sem dúvida, se trata de um fenómeno que transcende qualquer explicação. O Dr. Odilon me disse que, nos espíritos mais conscientes, os seus contornos são ainda mais nítidos, com detalhes impressionantes. Com certeza, de maneira providencial, muitos detalhes do que fiz ou deixei de fazer me escaparam; se assim posso me expressar, eu via apenas as imagens paradas, os clichés estampados em meu cérebro... Ah, quem suportaria todas as suas intenções devassadas! Ao invés de uma, a consciência haveria de nos pesar duas toneladas... Não, eu não quero saber o que fui e o que fiz no passado remoto; as reminiscências de ontem já me incomodam o suficiente...
Deste Outro Lado, acreditem, o esquecimento do passado continua sendo uma bênção! E chegar a pensar que, quando encarnados, a curiosidade em relação ao que fomos é quase incontrolável... Por isto, quando os questionávamos, os Espíritos respondiam com evasivas, quando respondiam. É lógico, reporto-me aos Espíritos com E maiúsculo, ou seja, àqueles que sabem e podem.
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2 - Tomando Consciência
Antes de continuarmos, convém que eu faça uma ressalva: existem espíritos, que, evidentemente, não sabem nem de seu próprio passado, quanto mais dos outros! Os Espíritos, com E maiúsculo, aqueles que nos podem acessar o inconsciente, nem sempre consideram oportuna qualquer revelação concernente às nossas vidas anteriores, que, aliás, nos pertencem e fazem parte de nossa intimidade indevassável. Os médiuns que ousam vasculhar o pretérito de alguém, na maioria das vezes, agem por conta própria, e o que dizem não merece assim tanto crédito, pois muitos, infelizmente, são movidos por escusos interesses pessoais que, agora, não vem ao caso comentar.
Retomando a narrativa de meu desenlace (vocês me perdoem se for repetitiva), digo-lhes que, quando me encontrava naquela situação, transitando entre uma e outra dimensão, tive oportunidade de ouvir um diálogo que se travava a certa distância de mim. Não, o que escutava não era fruto de minha imaginação sobre-excitada: as palavras soavam com nitidez aos meus ouvidos e, naquele instante, cheguei a temer sobre a minha vida, além da morte.
— E ela? - perguntava, irónica, uma voz masculina.
— Sim, é ela - respondia um outro daquele grupo de três ou quatro entidades que eu não conseguia ver; a minha impressão era que permaneciam nas proximidades, à espreita, na expectativa de que algo de mim sobrasse para eles.
— E uma pena - lamentava um terceiro está sob protecção... Ela era nossa, e a perdemos!
— Incompetência de quem agiu antes de nós! - prosseguiam falando.
— Ela foi nos escapando aos poucos...
— Fizemos a nossa parte; não lhe dávamos trégua, mas ela não nos dava brecha...
— Nem quando se debilitou fisicamente...
— Fizemos o possível!...
E, de facto, haviam feito mesmo. Quantas vezes, ao saber da presença do tumor em meu organismo, eu estivera a ponto de vacilar!... Graças a Deus, a acção dos Espíritos Benfeitores e dos amigos encarnados, que não me deixavam dia nenhum sem a assistência da oração e do passe, pude resistir ao assédio daquelas ideias pessimistas, que me visitavam com frequência. A minha protecção maior advinha do trabalho, das tarefas, inclusive mediúnicas, às quais comparecia me arrastando, literalmente arrastando o meu
corpo pesado e doente. Pensava em Chico Xavier, que, aos 92 de idade, de saúde extremamente frágil, não faltava às reuniões no “Grupo Espírita da Prece”, sendo que, às vésperas de sua desencarnação, estivera, num sábado, em visita aos irmãos carentes da periferia.
O Mundo Espiritual me socorreu de todas as formas possíveis e imagináveis, só não me livrando do câncer, que, afinal, era o meu carma. Mesmo assim, desencarnei em consequência dele, mas não por ele... Eu sofrera muito com a quimío e com a radioterapia, nas poucas aplicações às quais me submeti, e não mais queria me submeter àquele tipo de tratamento - orava para que, neste sentido, não tivesse que voltar ao hospital. Fui atendida - sem mérito algum de minha parte, reconheço, fui atendida.
Compreendam, não era por preconceito ou vaidade... A radioterapia me queimara o esófago todo e a quimío parecia introduzir uma entidade estranha no meu organismo; o mal-estar era tão grande, que, sinceramente, eu teria desencarnado antes, não tendo aqueles dois anos de forçosa moratória pela frente.
Faço questão de registar o fenómeno das vozes, ao qual me referi, para que ninguém suponha que eu, Domingas, espírita e médium de muitos anos, frequentadora de diversas casas espíritas em Uberaba, tenha merecido algum privilégio. Os nossos fantasmas do passado, quando não completamente exorcizados, um dia voltam para nos atormentar... Se eu, por exemplo, tivesse me curado da obsessão e da epilepsia, mas não tivesse abraçado a Doutrina, a história, em seu desfecho, teria sido diferente:
com certeza, aquelas entidades oportunistas teriam me arrebatado o espírito...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:30 am

Sei que muitos irmãos e irmãs ficaram como que meio decepcionados com o meu desenlace, questionando, em silêncio, a eficácia da terapêutica espiritual do passe - nos períodos da crise, em que sofria com falta de ar e insónia, os médiuns iam à minha casa três vezes por dia.
Preciso, no entanto, dizer-lhes que os espíritos que nos perseguem, nossos adversários de outrora, se valem de todas as circunstâncias para nos inocularem “nas veias” o veneno da descrença... Não, eu fui muito bem assistida, e nada, absolutamente nada me faltou. Sou imensamente grata a todos e, se desencarnei, é porque meu tempo havia, sim, expirado! Vejam comigo: pude editar as obras que havia psicografado e organizar as actividades que começamos no “Jesus de Nazaré”, deixando o grupo estruturado e coeso.
O Dr. Odilon Fernandes não me faltou, o Dr. Rudolf von Müller e tantos outros amigos da Vida Maior que eu sequer conseguiria nomear! Em parte, não o faço por me sentir envergonhada, pois, com toda a sinceridade, eu não merecia e não mereço nada do que recebi e venho recebendo. Sinto-me endividada e com a responsabilidade de melhor corresponder ao carinho com que todos me cercaram.
Vocês sabem quem está sendo meu enfermeiro deste Outro Lado da Vida? O Abel, o Abel Salvador, meu marido!
Não, eu não tenho palavras para descrever a emoção que experimentei, quando, depois de muitos anos, pude vê-lo ao meu lado: jovem, robusto, simpático e, o que é mais importante, sem estar embriagado. Ele me sorriu e eu lhe disse:
— Abel, mas eu estou tão descomposta, tão desajeitada...
— Você pensa que está assim - respondeu-me.
— Eu não esperava encontrá-lo tão bem...
— Devo isto a você, pois, mesmo depois de morto, você continuou a me doutrinar... Graças a Deus e a você, deixei de beber!
Ainda enfraquecida, a minha voz não saía; os efeitos, as sequelas da enfermidade que me acometera, com tantas complicações, permaneciam comigo.
— Abel - perguntei, tentando manter o bom humor -, será que desencarnei mesmo? Foi rápido demais!...
— Qual a razão da dúvida? - questionou-me.— E que eu posso estar apenas vendo o seu espírito...
Você se esqueceu de que sou médium ou, pelo menos, era?
— Mas, pela vidência, você nunca me viu assim com tanta nitidez...
— E verdade - redargúi -, principalmente tão jovem e tão bonito, ao ponto de já me deixar com ciúmes...
Antes que me esqueça (são tantas as informações que desejo transmitir!), preciso dizer que é muito comum ao recém-desencarnado, mesmo tendo sido ele espírita, a incerteza quanto à sua nova situação, de vez que, a rigor, de início, muito pouca coisa muda na vida de além-túmulo:
a mudança brusca deixaria em estado de perturbação o espírito não convenientemente preparado para ela. Por este motivo, por enquanto, para salvaguardar o meu equilíbrio, sem saber se vou descer ou subir, estou por aqui... Espero que entendam.
Imaginemos, para melhor entender o que estou dizendo, que alguém nos sequestre e nos dê um sonífero:
acordamos completamente desnorteados, sem qualquer noção de espaço e de tempo... Ao abrirmos os olhos, haveremos de nos indagar: Onde estamos? Que dia é hoje?
Que lugar é este? Lembro-me de que, certa vez, após ter dormido profundamente, numa tarde, despertei, tendo que olhar no calendário para conferir a data e, assim mesmo, tive que confirmá-la com uma de minhas irmãs. A gente se orienta por certos pontos de referência, quando momentaneamente os perde...
Agora, somente agora, é que compreendo melhor a finalidade ou uma das finalidades da reunião de desobsessão, que, para muitos espíritos que a ela comparecem, são autênticas sessões de reorientação espacial. Assim como os homens têm dificuldade para se aceitarem na condição de espíritos reencarnados, nós, os homens fora do corpo, relutamos em admitir a própria desencarnação. Nem todos os que morrem acompanham, ou aceitam, as evidências oriundas de seu velório, féretro e sepultamento.
Por saber que estava mal e com câncer, não me foi tão difícil concluir pela realidade. Do ponto de vista espiritual, é melhor que a desencarnação nos chegue de maneira gradativa, a fim de que, através do pensamento, nos antecipemos à chegada da morte para o corpo. Ninguém gosta de sofrer; eu também não gostava e não gosto, mas o sofrimento, sem contradita, tem as suas vantagens.
Espero estar sendo suficientemente clara e que vocês possam me reconhecer nestas palavras, que, como médium, eu estava longe de supor que ao espírito comunicante fosse tão complexo transmitir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:30 am

3 - Entre Amigos
— Dr. Odilon — disse eu ao dilecto amigo, assim que melhor pude me expressar —, sinto-me cansada, com falta de ar... Por que, se desencarnei?
— É assim mesmo, minha filha - respondeu-me em tom paternal durante algum tempo, sofremos as consequências dos desgastes do corpo... Não se preocupe.
A tendência agora é de melhora a cada dia. A gente leva algum tempo para desencarnar a mente...
— Significa que o meu perispírito também está doente? - perguntei um tanto ofegante.
— Não mais... Você está íntegra, mas, é claro, será convenientemente examinada e, se necessário, medicada.
— Quer dizer que trazemos para cá as nossas enfermidades?
— Habitualmente, trazemos, mais na cabeça que no corpo...
— Esta falta de ar me incomoda...
— Amanhã começaremos com sessões de fisioterapia.
— Fisioterapia?! - exclamei, surpresa.
— Exercícios respiratórios, Domingas; temos profissionais muito competentes...
— Estou com sede e fome... Nos últimos dias, nada me parava no estômago; até mesmo água, eu tinha que beber em pequenas quantidades...
— Você se alimentará.
— Que coisa! Onde é que eu estou?
— Num dos hospitais do Mundo Espiritual; a vida, literalmente, continua... O xerox de tudo está lá embaixo, na Terra!
— Que cidade é esta, se é que estou em alguma cidade?
— Uberaba - residimos em Uberaba e adjacências...
— Uma Uberaba no Além?!...
— Ora, você sabia disto...
— Sabia, mas...
— Não pensava que fosse exactamente assim, não é? - observou, auxiliando Abel a me ajeitar as almofadas à guisa de travesseiros.
— O corpo inteiro me dói - reclamei, gemendo com a discrição possível. — Eu tinha esperança de...
— ...sair do corpo volitando!
— Mais ou menos - respondi, feliz por dentro e péssima por fora. — Que alegria, a constatação da realidade espiritual! Não estarei sonhando? Temo acordar e verificar que é fruto da minha imaginação...
— Você já teve um sonho assim tão nítido?
— Não e nem tão longo...
— Há quantos dias desencarnei?
Abel, adiantando-se, esclareceu:
— Há exactamente duas semanas...
— Ainda sinto sobre mim o meu corpo macilento; é uma sensação estranha... Quando poderei me levantar?
—Por enquanto, não lhe convém semelhante esforço - advertiu-me o companheiro, que, agora, eu nem sabia mais o que era meu: se esposo ou irmão.
— Abel, o seu livro... - tentei explicar.
— Meu, não, o nosso; sozinho, eu não teria escrito uma linha... Estou estudando, Domingas! Você sabe, eu era quase analfabeto... O Dr. Odilon é que me ajudou a escrever “O Despertar de um Alcoólatra5’.
— Eu não queria ter desencarnado ainda...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:30 am

— Com raríssimas excepções, minha filha, todos deixamos o corpo antes da hora... E preciso que se tenha mérito para que se viva no corpo longamente. Abusamos muito e...
— Quer dizer que eu?... E o meu carma?
— Digamos que tenha sido antecipado em 10, 15 anos!
— O quê?!...
— Não se assuste; eu também tive o meu antecipado - pelo cigarro!
— Eu também! - disse, com o indicador da mão direita para cima, o nosso caro Dr. Inácio Ferreira. — Estou convencido de que o cigarro me tirou mais de 10 anos...
— Eu nunca fumei...
— Mas, nos bons tempos, chegou a pesar quase uma tonelada! - gracejou o admirável companheiro de tantas lides no Sanatório.
Foi a primeira vez que sorri, depois de morta, a saculejar-me toda.
— Cuidado, que você me quebra a cama, Domingas...
— Doutor, vim parar no seu hospital - no hospital dos médiuns loucos?...
— Uns mais, outros menos, mas todos igualmente loucos, inclusive os médicos e os enfermeiros. O único sadio aqui é o Odilon...
— Doutor, que alegria - disse, apertando-lhe a mão de encontro ao peito sempre tive pelo senhor um carinho muito grande...
— Epá! Declaração de amor na frente de seu marido!
Por favor, não me comprometa...
— O Dr. Inácio, Domingas... - começou a explicar o Dr. Odilon, participando da descontracção.
— O tiro me saiu pela culatra!
— ...depois que vem escrevendo para a Terra, arranjou uma legião de admiradoras.
— Quase todas da 3.a ou da 4.a idade; todo dia chega uma aí me procurando... O hospital está entupido de gente - até quem nunca foi médium quer vir para cá. Não sei mais o que fazer...
— O nosso caro Irmão José já disse ao senhor...
—É, vou ter que abrir filiais; estou recrutando gente...
Você trate de melhorar logo, minha irmã. Meu Deus, antes eu tivesse ficado quieto, com aqueles livrinhos no mundo que mais ninguém lê!... Fui inventar moda...
— Que livros fantásticos, Doutor! (Engraçado, conversando daquele jeito, com aquela alegria espontânea, eu me esquecera completamente da falta de ar!)
— Exagero seu.
— O senhor me permite uma pergunta?
— Até mais de uma...
— Aquilo é tudo verdade, Doutor?
O Dr. Odilon não se conteve e, por instantes, tive a impressão de vê-lo, de novo, à porta da “Casa do Cinza”, ao término de uma de nossas inesquecíveis reuniões, com aquele seu sorriso contagiante.
— O que devo responder para a sua pupila, Odilon?
— A pergunta, Inácio, não foi endereçada a mim - esquivou-se o querido Instrutor.
— Pois muito bem: levando em consideração que você se encontra em estado de convalescença, adiarei o meu puxão de orelha, apertando apenas as suas bochechas - disse, pressionando-me o rosto, de ambos os lados, suavemente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:31 am

Neste ínterim, adentrando o amplo e arejado quarto, aproximou-se um senhor elegante, vestido com sobriedade, acompanhado por uma jovem senhora, que, pegando as minhas mãos entre as suas, me perguntou:
— Não está nos reconhecendo, minha irmã?
—Desculpem-me, mas... -respondi, solicitando com os olhos que o Dr. Odilon me socorresse a memória falha.
— Esta é a nossa Maria Modesto Cravo, Domingas, e este é o Manoel Roberto da Silva!
— Viemos trazer a sua primeira refeição - explicou o devotado amigo do Dr. Inácio, pedindo ao Abel que o auxiliasse com pequena bandeja.
— Um saboroso “caldo reconfortante”! - enfatizou D. Modesta, como a prefere chamar o Dr. Inácio e como, doravante, a chamaremos também. — Sabemos que você aprecia muito um pedaço de carne, mas aqui é só um caldinho...
— Que alegria tê-los!... A senhora - frisei - é a minha primeira visita feminina. Manoel Roberto, que prazer! Eu não me lembrava mais de seu semblante...
— E, depois que morreu, ele acabou muito - aparteou o Dr. Inácio, não perdendo oportunidade de esculhambar com o amigo.
— Doutor, na “Casa do Cinza” a gente tinha medo do senhor, porque o Dr. Odilon nos dizia assim: — “Se vocês não se disciplinarem e não trabalharem, o Sanatório fica perto - médium é aqui ou lá!” Às grades do Sanatório,
—E assim mesmo terminou vindo, não é, minha irmã?
Demorou, mas veio...
— De facto! - exclamei, tomando a primeira colherada de alimento depois de não sei quantos dias sem comer, não experimentando nenhuma espécie de enjoo que me fizesse regurgitar.
— Que delícia! De que é feito?
— Em essência - respondeu-me D. Modesta, pondo em minha boca uma segunda porção -, é sopa de centro espírita...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 10:31 am

4 - Minha Mãe
No outro dia (força de expressão, figura literária, já que não posso precisar por quanto tempo tomei a dormir, após ter me alimentado pela primeira vez), sentindo-me bem mais disposta, a respiração um tanto mais tranquila, quase sem nenhuma dor pelo corpo, Abel anunciou, sorridente:
— A sua segunda visita feminina, Domingas.
— Mamãe! - exclamei ao vê-la com a sua aura de bondade, caminhando em minha direcção, abraçando-me no leito.
— Que saudade, minha filha! Eu estava tão aflita por você... Graças a Deus! Vamos, conte-me tudo...
— Conte-me a senhora-redargui, observando quanto ela havia rejuvenescido. — E o papai?...
— Está tudo bem, não se preocupe, afinal estamos todos “sãos e salvos”... Você tinha razão! O Espiritismo é uma grande verdade... E as suas irmãs, seus irmãos? Que notícias que você me dá?...
— A senhora não sabe deles?
— Não, com detalhes; não é sempre que podia ir ao encontro de vocês... Mantinha-me relativamente informada, mas...
— Compreendo.
— Quando soube que você estava para voltar, solicitei permissão para ir vê-la, e o nosso Dr. Rudolf me acompanhou. Pude estar com você apenas duas vezes, a primeira delas quando começou a fazer quimioterapia...
— E a segunda?
— Você se lembra, filha, quando foi acometida por forte falta de ar, certa noite?
— Sim, pensei que a minha hora havia chegado...
— E teria mesmo, mas o Dr. Rudolf, observando a sua aflição e desespero, me pediu que eu a abraçasse, que me jungisse ao máximo ao seu espírito, enquanto ele providenciava para que as batidas de seu coração se regularizassem... Embora consciente de tudo, vendo-a naquela situação, fiquei apavorada. Ele, o Dr. Rudolf, orava em voz alta, enquanto agia, de olhos postos no Céu:
— Não, ainda não é hora... Senhor, não consinta que seja agora!... A nossa irmã precisa um pouco mais de tempo... Concede-lhe, Senhor, concede-lhe!...
— Como dei trabalho a todos vocês - lamentei, entristecida.
— Desde então, filha, os nossos Mentores acharam melhor, inclusive o Dr. Odilon, que eu a esperasse; foi difícil para mim, porque tinha receio que você se desesperasse, não sei...
— Não, mamãe, graças a Deus, nunca nada de ruim me passou pela cabeça e, no fundo, eu alimentava, sim, a esperança de viver um pouco mais - aproveitar o meu tempo no corpo um pouco mais. A senhora se lembra de que, desde pequena, eu imaginava que fosse desencarnar aos 64 de idade?...
— Você, ainda menina, chegava a escrever no chão, a carvão, os números 6 e 4...
— Passei um pouquinho, não é?
— Mas, e os seus irmãos, conte-me, estou ansiosa...
— Estão bem, no entanto, estão na mesma; falta de insistir com um e com outro, não foi... Pelo menos, pararam de implicar comigo, com as minhas manias, com as minhas ideias espíritas... Nos quase dois anos em que estive doente, eles lucraram muito, espiritualmente; acho que nunca viram tanta rezação em casa e tanta solidariedade dos amigos.
— Filha, você me perdoe...
— Uma filha não tem absolutamente nada o que perdoar em sua mãe! Ao contrário, a senhora é que me desculpe certa intolerância - amadureci muito devagar...
— Se uma filha nada tem a perdoar em sua mãe, muito menos uma mãe a perdoar em sua filha!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 8:23 pm

Abraçamo-nos, comovidas, e insisti, perguntando:
— E o papai? A senhora ainda não me respondeu...
— O seu pai, mais tarde, virá vê-la; de quando em quando, nos encontramos. Ele está se preparando...
— Se preparando para quê?
— Você sabe, para aqueles que, depois da morte, não encontram o Céu, nem o Inferno, não resta alternativa...
— Quer dizer que a senhora já aceita a Reencarnação?
— Filha, confesso a você que a minha cabeça ainda vacila. Tenho participado de algumas conferências... Não sei; por mim mesma, ainda não cheguei a qualquer conclusão. Voltar ao mundo, sinceramente, não é uma ideia que me agrada - continuar sofrendo, começar tudo de novo, criar família, lutar com dificuldades, esquecer, como dizem que a gente esquece... Mas, afinal, onde estou? Isto aqui não pode ser o Purgatório!
— A vida - a senhora se lembra do que o Dr. Odilon nos dizia? -, continua com naturalidade...
— Não é possível que milhões e milhões de adeptos de outras religiões estejam enganados... É um absurdo!
Trata-se, na minha opinião, de uma das maiores distorções, deliberadamente provocada nas mentes humanas.
— Concordo. Não pense que, mesmo para nós, os espíritas, seja fácil pensar de maneira diferente do que, milenarmente, temos sido ensinados a pensar.
—Domingas, na companhia de amizades que fiz aqui, há pouco estive numa cidade que é um santuário...
— Um santuário?...
— Sim, como a cidade de Aparecida do Norte.
Visitamos uma basílica enorme, onde verdadeira multidão se aglomerava, orando, cantando, como a gente costumava ver na televisão...
— Que coisa complicada!
— O que vocês chamam de Mundo Espiritual é
constituído de diversos mundos.
— Isto, mais ou menos, eu sei.
— O Dr. Odilon, nosso amigo, me explicou, por alto, que os espíritos que se assemelham pela forma de pensar se atraem, constituindo verdadeiras comunidades; e mais, que, assim reunidos, pela força do pensamento eles plasmam o mundo em que desejam viver... Então, eu fico imaginando...
— O quê?...
— Com quem está a Verdade?
— Posso dizer à senhora o seguinte: estou chegando agora e não sei praticamente nada, mas uma única coisa sempre é certeza e sobre ela não discuto - o Cristo é a Verdade! Quanto ao resto, a gente pode até conversar e terá muito pano para mangas...
Notando que minha mãe ensimesmara, procurei mudar um pouco de assunto.
— O que está achando de mim? - perguntei, passando a mão nos cabelos e olhando os músculos flácidos dos braços.
— Emagreceu um pouco; você está bem, mas ainda há de ficar melhor... Não se preocupe. Quando deixei o corpo...
— Quando desencarnou...
— E... faleci, desencarnei, morri... Eu não vim para este hospital. Dormi muito mais do que você...
— A senhora me mandou uma mensagem no “Pedro e Paulo”...
— Não sei como aquilo aconteceu. O Dr. Odilon me levou até lá, me colocou perto de um rapaz que estava escrevendo...
— O Carlos, esposo da Márcia, filha do Prof. José Thomaz e de D. Therezinha, vizinhos nossos de muitos anos...
— Sim, conheço o Prof. José Thomaz, filho do Joaquim Cassiano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 8:23 pm

— Então, ia dizendo, pegou a mão dele e escreveu?...
— Não, não foi assim. O Dr. Odilon me pediu apenas que eu pensasse com força sobre o que eu gostaria de dizer a você e aos seus irmãos; foi o que fiz, sem maior noção do que estava acontecendo...
— Fiquei muito feliz com as notícias da senhora.
— Domingas, a Vida para mim cada vez mais é um mistério... Quando começo a pensar, a querer me aprofundar, fico com a cabeça cansada.
— Então, não pense, mamãe.
— Prefiro as minhas costuras e, para dizer a verdade, não querendo ofender você, até os meus terços: é mais fácil, mais simples...
— Eu não vejo a hora de me levantar daqui.
— Sem ordem médica?...
— Não estou aguentando mais esta cama; preciso trabalhar...
— Fazer o quê, minha filha?
— Qualquer coisa. Chega de ser tão paparicada...
Estou perdendo muito tempo! Isto vai acabar me acostumando mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 8:23 pm

5 - Fisioterapia
Quando minha mãe se retirou, ainda sonolenta e cansada, alternando estados de euforia e certa tristeza, adormeci. Eu não conseguia desligar o pensamento das coisas, dos amigos e das tarefas que havia deixado.
O espírito na minha condição dorme e também sonha... Cerrando as pálpebras que me pesavam, vi-me como se estivesse a vagar pelos caminhos da Terra, percorrendo a mesma trajectória de quase sempre: “Casa do Cinza”, Lar “Pedro e Paulo”, “Jesus de Nazaré”, Centro Espírita “Uberabense”, Lar dos Velhinhos “Bezerra de Menezes”... Em minha mente, amigos mortos e vivos desfilavam, silenciosos, sem que eu pudesse trocar com eles qualquer palavra.
Será que aquelas imagens percebidas por mim eram fruto da minha mente ou, de fato, eu saía de meu corpo espiritual, voltando ao mundo a procurar os ambientes entre os quais me movimentara pela maior parte da existência?
— Meu Deus - monologava será que desencarnei mesmo?! Quem sabe?... Eu estou tão fraca!... Talvez eu esteja sendo vítima de uma ilusão. O meu cérebro pode ter sido afectado pelo tumor...
E caminhava, caminhava, como um náufrago bracejando contra a correnteza.
Acordei ensopada de suor, com o Abel a me observar, sereno.
— Está tudo bem, acalme-se - disse-me, enxugando-me o rosto com uma toalha.
— Eu estava sonhando antes ou estou sonhando agora? - perguntei, sentindo-me estranhamente mais leve, tão leve ao ponto de quase flutuar da cama.
— Antes, Domingas... É assim mesmo. Com você, ainda é sonho; comigo era pesadelo...
— Falta de avisar, não foi, Abel! - contrariada, repreendi-o, uma vez mais, pelo passado.
— Eu sei, eu sei - redarguiu, humilde, abaixando a cabeça.
— Perdoe-me - solicitei -, eu não quis magoá-lo; é que me sinto assim tão vazia... No fundo, eu tinha esperança de desencarnar uma pessoa melhor; imaginava que, largando o corpo, esqueceria tudo... Como é difícil!
— Considere-se privilegiada...
— Por quê? - perguntei, ingénua.
— Ora, você sabe; a sua recuperação, segundo ouvi do próprio Dr. Odilon, em conversa com o Dr. Inácio, vem sendo das mais rápidas.
— Mas - insisti -, se eu já estou morta, por que não posso me levantar? Admito, fisicamente, ou sei lá o quê, sinto-me melhor: não tenho dores, no entanto estou fraca...
Será que é falta de me alimentar de forma conveniente?
Por favor, um copo d’água, do tamanho desses que são utilizados nas salas de passes.
— Não - brinquei, após sorvê-la, buscando retomar o bom humor -, não quero água fluidificada. Eu quero é água mesmo, para matar a sede; do jeito que estou desidratada,...
— Você desidratou o corpo inteiro, Domingas!
— ...eu bebo um litro! - completei, sem, no momento, conseguir atinar com a inteligente observação.
— Bem - indagou-me -, você está preparada?
— Para quê?...
— Para as sessões de fisioterapia.
— Vou precisar mesmo?
— O Dr. Inácio as prescreveu, e dou-lhe um conselho: não convém contrariá-lo.
— Não precisa dizer mais nada; vamos a elas...
Quando começo?
— Amanhã, logo cedo.
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No outro dia, depois de uma noite de sono mais tranquilo, uma jovem, acompanhada por um rapaz sorridente, veio me tirar da cama.
— De pé, D. Domingas!
— Como?...
— Para o banho primeiro...
Falou, me pegando pelos braços, um de cada lado, e me fazendo dar alguns tímidos passos no quarto.
— Estou com medo de cair...
— Não se preocupe: está segura...
— Se eu cair, posso me machucar?
— Pode, mas não acontecerá. O Afrânio e eu não deixaremos.
— Quem são vocês?
— Fisioterapeutas.
— Eu nunca pensei...
— Nem eu - disse, fazendo-me mergulhar numa banheira de água fria, que, gradativamente, esquentava e voltava a esfriar.
— Está quente... Está frio... - ia reclamando, quando a temperatura oscilava demais.
— O choque térmico é importante para o seu melhor e mais pronto refazimento.
— Qual é o seu nome? - perguntei, tendo o corpo todo trémulo.
— Celina!
— O Afrânio?...
— É meu esposo.
— Esposo.
— E, casamo-nos aqui.
— Casaram-se aqui?
— D. Domingas, respire pela boca e solte pelo nariz.
Vamos contar 30 vezes... Hoje, serão duas sessões; amanhã, mais duas. Depois de amanhã, caminharemos pelo jardim.
— Pegue leve comigo, minha filha! - pedi, quase morta de novo.
— Afrânio, pressione-lhe as costas à altura dos pulmões; precisamos desencarcerá-los...
— O que é isto? - quis saber, com a respiração ofegante.
— Um deles, o direito, ficou quase todo atrofiado, e o outro, o esquerdo, está com a tonicidade prejudicada.
— Chega - solicitei, ofegante.
— Force mais um pouquinho; está terminando: 28, 29, 30!... Óptimo!
— Ai! - gemi. Estou morta...
— Literalmente, D. Domingas; aliás, todos estamos mortos - retrucou Celina, pedindo a Afrânio que a auxiliasse a me fazer sair da banheira.
— Estou meio zonza - reclamei -; eu tenho labirintite... Eu sempre fui uma mulher muito achacada.
— Labirintite e...
— Alergia, extremamente alérgica, principalmente a perfume.
— A um bom perfume francês, não é?
— Não; só a perfume barato...
— A senhora é alegre - comentou Afrânio, enquanto a esposa me fazia entrar num roupão estampado.
—No Espiritismo, a gente aprende a sorrir da própria desgraça... Desculpem-me pelo termo - disse com a voz entrecortada -; mas é o ditado...
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— Que termo?...
—A minha mãe não gostava que a gente pronunciasse essa palavra - expliquei.
— Ora, palavras são letras que se juntam para expressar ideias - aparteou a competente fisioterapeuta, que, pelo jeito, trazia o marido ali, ó...
— Você me parece ciumenta, Celina.
— D. Domingas, a senhora não sabe de certas coisas que se passam por aqui...
— Se é assim, minha filha, não sei mesmo. Os livros em que estudamos na Terra...
— São livros de reza, D. Domingas, livros de reza!...
— Você é espírita?
— O Afrânio, mais ou menos; já eu estou me definindo...
— Como foi que você desencarnou?
— Um acidente na rodovia Uberaba - Uberlândia...
— Na BR-050!
— Não sei; estava escuro, chovia, um caminhão parado na pista...
— E o Afrânio?...
— Um colapso, enquanto jogava futebol de salão; caí na quadra, me levaram para o hospital, fiquei mais de uma semana na UTI com morte cerebral...
— Há quanto tempo morreram?
— Eu, há nove anos; o Afrânio...
— ...há pouco mais de cinco! - atalhou o rapaz de temperamento dócil.
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6 - Pérolas aos Poucos
Entre uma sessão de fisioterapia e outra, o Dr. Odilon apareceu para uma nova visita. Interessante: somente de vê-lo, eu me sentia bem mais animada. Então, disse-lhe:
— A presença do senhor, para mim, é mais que a visita de um médico...
— Ora, minha filha - respondeu, desconversando -, quem sou eu?! A minha presença é apenas a de um companheiro...
— Será verdade mesmo que desencarnei? Não estou acreditando... Tudo é perfeito demais para ser verdade!
Se eu soubesse que haveria de ser exactamente assim...
— Você sabia, eu sabia, os nossos irmãos sabem...
— Como o pensamento da gente vacila, quando estamos no corpo! Por que será, meu Deus? Preciso confessar ao senhor uma coisa: eu era médium, mas, no fundo, tinha uma pontinha de dúvida...
— Todos somos assim, ou melhor, todos éramos assim...
— O senhor também duvidava? - atrevi-me a perguntar.
— Às vezes, como você disse, eu imaginava que a Vida, conforme a Doutrina no-la explica, é perfeita demais...
— Não, o senhor era um homem convicto - tinha fé para si e para nós, que lhe demos tanto trabalho!
— Vocês me deram oportunidade de trabalhar - é diferente.
— Perdoe-me, mas, repito, no fundo, ouvindo-o, tantas vezes, discorrer sobre os pontos fundamentais da Doutrina, eu dizia a mim mesma: — “Que bom, se tudo fosse exactamente assim: sem morte, o espírito evoluindo, a Reencarnação, o intercâmbio mediúnico, a felicidade um dia, a Terra - mero orbe de transição, o destino em nossas mãos!”...
Ante o silêncio do Mentor, acrescentei:
— Eu não sei se perseverava, porque tentava me convencer de que, somente se fosse assim, a Vida teria sentido...
— Domingas, com raras excepções, as pessoas ainda não estão preparadas para crer sem bacilos - a rigor, não possuímos nem cérebro para tanto... Vejamos: os que lograram se desapegar totalmente dos bens materiais foram, à época em que viveram, considerados loucos, visionários... Se todos, de repente, nos desinteressássemos das coisas do mundo!...
— O senhor tem razão: a fé há-de ser uma conquista gradativa...
— Afinal, disse-nos o Cristo que ninguém levanta uma construção sólida sobre a areia, não é?
— Muitas vezes, cheguei a pensar em renunciar ao que havia me sobrado...
— Não é assim, minha filha, que a gente melhora e se espiritualiza. Há pessoas que, aparentemente, vivem afastadas do mundo - aparentemente! Ora. não conseguimos nos desprender nem depois de mortos!... Quantos, por aqui, continuam a viver em função da vida que construíram na Terra?
— E verdade...
—Não basta que, fisicamente, nos distanciemos disto ou daquilo: precisamos desapegar o coração, ou seja, não olharmos para trás, como, no exemplo bíblico, a mulher de Lot, que acabou transfigurada em estátua de sal...
— Dr. Odilon, eu...
—Não querendo interrompê-la, você reparou, minha filha, quantas vezes neste diálogo nosso pronunciou o termo “eu”?...
— Não! - exclamei, como quem, naquele instante, despertasse um pouco mais da hipnose...
— Quem é você, Domingas, o seu corpo, a sua forma exterior?
— Eu?...
— Sim, o seu “eu” verdadeiro! Quem é ou, com maior propriedade, o que é?
— Sou - respondi, como se estivesse efectuando um profundo mergulho -, filha de Deus...
— Filha ou filho?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 8:25 pm

— Não sei; sou espírito!...
— Óptimo! Porém melhor ainda se tivesse respondido:
“Sou essência!”
— Quer dizer que este meu estado de debilidade, após a desencarnação...
— ...significa que, mentalmente, você se fixou em demasia nas coisas que aparentam ser, inclusive no seu corpo.
— Na minha obesidade, na cor morena da minha pele, dos meus olhos...
— ...nos pontos de referência que nos “garantem” a identidade.
— Dr. Odilon, eu não tenho cabeça para isto, não!...
— Tem e, se não tiver, tem que ter.
Efectuando ligeira pausa, prosseguiu:
— Por isto, Domingas, quando desencarnamos, temos que encontrar uma cidade edificada, sendo que, alguns - para não dizermos, a maioria — carecem de pontos de referência ainda mais sólidos, palpáveis, onde se deparem com condições de existência em quase tudo semelhantes à vida que deixaram...
— Dizendo isto a mim - redargui com um sorriso - , o senhor está atirando pérolas aos porcos...
— Pérolas aos poucos!...
— Que expressão linda - pérolas aos poucos!...
— Não se menoscabe... Você é um espírito antigo, que possui uma vivência extraordinária! De fato, perto do que somos, não estamos sendo nada, mas não é todo o mundo que tem cabeça para assimilar as coisas que o Espiritismo nos ensina, não.
— 0 senhor me fez lembrar do que Chico Xavier, certa vez, nos disse, quando comentou connosco que os que aceitam a Reencarnação não são espíritos da Terra...
Fiquei assim por entender...
— Talvez estivesse querendo dizer que a tese da Reencarnação não é uma ideia facilmente assimilável por espíritos que têm feito a sua evolução apenas no orbe terrestre; a Reencarnação, que cérebros brilhantes, como Pitágoras, por exemplo, chamavam de metempsicose, era pregada pelos espíritos egressos de Capela - de um dos orbes do sistema de Capela, bem entendido!
— Pitágoras acreditava...
— ...que, por punição, o espírito humano podia reencarnar no corpo de um animal.
— Eu me lembro de ter lido algo a respeito em um dos livros da lavra de Chico; se não me engano, o autor é Emmanuel...
— Exacto! “A Caminho da Luz”, aliás uma obra que, infelizmente, os espíritas, de um modo geral, têm consultado pouco.
— Os jovens, principalmente. Como o senhor acha que há-de ficar essa situação? - indaguei, sinceramente preocupada com o que, quando encarnada, era objecto de várias conversas minhas com os confrades.
— Digo-lhe que as trevas têm interesse em que as obras de Chico Xavier sejam relegadas ao esquecimento, porque, além de serem o complemento natural da Codificação, dão ênfase ao aspecto religioso da Doutrina, conscientizando as criaturas quanto à necessidade de se renovarem interiormente.
— A obra mediúnica de Chico Xavier...
— ...representa o vínculo definitivo da Doutrina com o Evangelho de Jesus!
— Contrariando inúmeros interesses, não é?
— Inúmeros e variados, Domingas!
— Uma página de Emmanuel...
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— Com todo respeito a Emmanuel, espírito do qual nos encontramos infinitamente distantes (e vamos colocar um pouco mais de distância nisto) não creio que tenha sido ele o autor pessoal das obras que assinou - nem ele e, em essência, nenhum dos demais Instrutores que escreveram para a Terra pelas mãos de Chico Xavier!
— Não?...
— Não! É crença entre nós - entre muitos de nós - que a obra mediúnica de Chico Xavier é de autoria do próprio Cristo!...
— Eu sempre pensava nisto, mas... não falava!
— A Codificação não foi obra pessoal de Kardec: o que está exarado em “O Livro dos Espíritos”, vem de muito mais alto, inclusive de um Plano superior ao que os Espíritos que se colocaram em contacto com ele se situavam.
— O Espírito da Verdade?...
— Era médium do Senhor, e os demais Espíritos, médiuns dele!...
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7 - Melhorando
O diálogo com o Dr. Odilon me ilustrava e distraía, fazendo com que eu me esquecesse um pouco mais do que deveria deixar para trás.
— O senhor tem sido um pai para mim - disse, com os olhos se me enchendo de lágrimas eu não sei o que teria sido de minha vida, caso não o tivesse conhecido...
Dei-lhe tanto trabalho! Como me envergonho!...
— Trabalho nenhum, minha filha, você ou nossas irmãs que, valorosas, continuam à frente das actividades da “Casa do Cinza”... Não se preocupe.
— Ai, meu Deus - tomei a gemer, imagine será que tudo isto é verdade? Não pode ser. É mais do que eu esperava e, com certeza, que merecia e mereço... Difícil acreditar que realizei a Travessia sem maiores problemas.
Há quanto tempo desencarnei? O senhor poderia me dizer?...
— Domingas, há pouco mais de um mês...
— Ainda me sinto trémula, fraca; às vezes, penso que deliro - as ideias se confundem na minha cabeça...
— É assim mesmo; considere-se em excelente recuperação... Existem espíritos que, antes de se mostrarem aptos a qualquer socorro de nossa parte, perambulam por mais de dez anos na Terra, sendo que muitos ficam por lá mesmo e reencarnam...
— Reencarnam?...
— Reencarnam, sem, propriamente, virem ao Plano Espiritual...
— Como desencarnar e não vir ao Plano Espiritual?!
- perguntei, tentando entender melhor a colocação do Benfeitor.
— Claro, trata-se de uma força de expressão, todavia espíritos existem - milhares - que, mentalmente, não conseguem acessar a realidade da Vida, após a morte do corpo... A lucidez espiritual é de poucos. Inclusive, muitos espíritas, em deixando o corpo, não logram enxergar a verdade nem como ela lhes foi revelada ou lhes está revelada nos livros.
— No fundo, a nossa esperança de Céu?...
— Permanece, oriunda de arraigadas concepções religiosas que sustentamos desde muitas existências.
— Dr. Odilon, e pensar no que André Luiz, através de Chico Xavier, nos fala no livro “Libertação”, que a criatura humana está lidando com a razão há, aproximadamente, 40.000 anos!
— É tempo demais e, ao mesmo tempo, não. É o Ministro Flácus que, em belíssima prelecção, nos fala sobre o assunto - o espírito, vinculado à evolução do orbe terrestre, atingiu a láurea da razão, ou seja, a possibilidade do pensamento contínuo, há 40.000 anos!
— E tempo que não acaba mais... O senhor não acha que progredimos pouco? A minha cabeça chega a rodopiar...
Ante o meu desembaraço de afastar as cobertas e, sozinha, sentar-me na cama, sem me aperceber da manobra que fizera, o Mentor sorriu e elucidou:
—Filha, no Evangelho de João, capítulo 17, versículo 5, está escrito: “Agora, glorifica-me tu, ó Pai” - disse o Mestre, em oração -, “junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo, antes que o mundo existisse”.
— O que quer dizer?
— Sabemos, inclusive pelo que Emmanuel nos informa em “A Caminho da Luz”, que o Senhor presidiu a formação da Terra, desde quando ela se desprendeu da nebulosa solar, fixando-se no espaço que lhe cabia dentro do Sistema...
— Segundo cálculos aproximados de alguns cientistas, a Terra existe há 4 bilhões e 700 milhões de anos...
— E Jesus...
— ...já era Jesus!...
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Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli Empty Re: Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 8:26 pm

— Meu Deus! - exclamei, saltando da cama e, auxiliada pelo Dr. Odilon, procurando escorar-me numa poltrona ao lado. — Quanto temos nos atrasado! Não é possível!... Como a evolução é lenta!...
— Temos, séculos e séculos, para não dizer milénios, andando em círculos, entrando e saindo do corpo, incontável número de vezes, como quem entra numa casa pela porta da frente e sai pela porta dos fundos, sem maiores consequências.
— “Andando em círculos”, literalmente - observei, questionando em seguida, surpresa comigo mesma: “Onde será que arranjei esta palavra - literalmente! - e fui capaz de empregá-la em sentido correto?”
— Você, aos poucos, será capaz de muito mais; não se espante com o domínio alcançado sobre o significado de uma única palavra, pois, afinal, nem que tenha sido adquirido por osmose, alguma coisa, nestes 40.000 anos...
— “Osmose”... - interrompo o Instrutor, apreendendo, num átimo, o sentido do termo. — Que coisa engraçada!
Eu ouvia esta palavra na boca de muita gente, de conferencistas espíritas mais cultos, e ficava imaginando...
Achava-a bonita, mas não sabia como empregá-la. Daqui há pouco, estarei falando francês ou... alemão!
— Não se entusiasme em excesso; também não é assim - aliás, tomara que não seja assim.
— Por quê?
— Porque as nossas reminiscências, em relação ao passado, não acontecem de maneira selectiva - não nos recordamos apenas dos fatos positivos...
— Compreendo; se é assim, é melhor que eu continue ignorando o vernáculo... Meu Deus, escapou! O que é isto: vernáculo?... Não, por favor, Dr. Odilon, eu não quero; o senhor dê um jeito na minha cabeça...
— Esta parte do corpo, Domingas - cabeça! -, é com o Dr. Inácio; eu só posso ajudar você com mediunidade...
— Desculpe-me. Voltemos à conversa anterior...
Vamos fazer as contas: há quase 5 bilhões de anos, o Cristo já era o Cristo, e nós...
— Com sorte, não passávamos de simples mónadas...
— “Mónadas”? Hum!..., entendo - redargui, estranhando a minha facilidade em saber o significado de palavras complicadas.
— ...de simples princípio inteligente!
— Quando o Cristo já era Ele mesmo, “antes que o mundo existisse”... Ora, se o mundo não existia ainda, a gente sequer era pedra! Doutor, valha-me!...
— Valha-nos quem pode, minha filha!
— Agora estou entendendo por que Chico se dizia um “cisco”... Não era só por humildade, não.— Diante da grandeza do Senhor, de fato, não passamos de vermes rastejantes!
— Chico falava que 2.000 anos de Evangelho, para os projectos de Jesus junto à Humanidade, representava uma faixa de tempo muito estreita...
— Por este motivo, não devemos perder a esperança no futuro da Humanidade. A tendência é que, doravante, o nosso progresso se acelere um pouco...
— E, as coisas lá embaixo estão acontecendo muito depressa - estão se precipitando, de maneira vertiginosa...
A Terra está parecendo uma casa em reforma, um campo todo revolvido.
— Por aqui, as coisas não estão diferentes, mormente nas regiões espirituais inferiores.
— Existem espíritos - indaguei - sendo deportados?...
— Sim, o grande êxodo espiritual já começou e há de se acentuar gradativamente.
De súbito, embora recostada em confortável poltrona, experimentei rápida vertigem e, assustada, vomitei uma substância escura.
— Dr. Odilon...
— Não se preocupe; você se esforçou muito... É natural.
— Será ainda o tumor em actividade?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 10, 2024 8:26 pm

— Não, minha filha. Digamos assim: são toxinas remanescentes que o seu organismo espiritual está expelindo...
— Que coisa ruim! Voltam todas as lembranças de meus tempos últimos...
— Pelo menos, você já começa a se referir ao corpo como uma experiência passada.
— E mesmo; um sonho ou um pesadelo não poderia durar tanto... Estou convencida de que morri.
— Se você não se convenceu - disse o Dr. Inácio, adentrando os aposentos onde me encontrava confortavelmente instalada-, poderemos providenciar uma visita ao cemitério; você é minha vizinha de quadra...
— Uma visita ao cemitério, Doutor?!
— É, com pouco mais de um mês debaixo da terra, o seu antigo “casulo”...
— Não, Deus me livre!
— Deus a livre, de quê? Uma coisa tão natural: o que é pó vira pó!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:06 am

8 - Sabendo Mais
— Você, minha cara - continuou o médico já, pelo menos, sonhava connosco antes? Com o Odilon, é possível, mas comigo, creio que não, pois, quando ambos encarnados, não tínhamos tanto relacionamento assim...
— E verdade; sempre tive grande admiração pelo senhor, no entanto, nunca trabalhamos juntos, aliás, pouco nos víamos. Eu não sei se se lembra de que, certa vez, não quis o meu concurso como médium no Sanatório...
— E claro que me lembro... Desculpe-me. Eu ficara mal-acostumado com a Modesta... O Odilon me falou de você...
— Estivemos lá, meu caro; a Domingas participou de uma sessão - disse o Mentor -, mas, à época, de facto, era muito imatura.
— Imatura ou impulsiva - emendei -; estava começando a sair de uma obsessão que me acompanhara desde jovenzinha - ainda tinha crises epilépticas horríveis!
— Pois é, minha filha, se você não se convencer de que está morta, ante tudo o que está vendo e o que estamos, detalhadamente, conversando, teremos mesmo que, em seu benefício, deixá-la trancada por algum tempo. Não podemos permitir que saia vagando por aí...
— Vagando?...
— E, vagando, porque, para o seu antigo corpo, lhe é impossível voltar, e, depois, estaria à mercê de algum obsessor remanescente, sem contar, é óbvio, com os adversários gratuitos da Causa que abraçamos.
— O Espiritismo tem muitos inimigos assim, doutor?
— Mais do que eu e você possamos imaginar juntos, dos Dois Lados da Vida!
— Sinceramente, eu nunca consegui entender... Os espíritos, frente a frente com a realidade espiritual, persistindo no erro...
— Filha, vejamos o seu caso... Há quantos anos estava e está na Doutrina e na mediunidade?
— Ah!, uns 40 anos, não é, Dr. Odilon?
— Sim, você, quando nos procurou na “Casa do Cinza”, não completara os 30 de idade.
— E com todo o seu relativo conhecimento, na lida praticamente diária com a mediunidade, reluta em aceitar a simples verdade de que morreu, sendo que o seu processo desencarnatório se desencadeou há dois anos atrás, quando do diagnóstico de tumor no pulmão...
— É...
—Agora, admitir o desenlace do corpo de carne não é o mais problemático, porque, com o tempo, o espírito vai ficando sem saída, sem argumento; o pior é quando, convencido de que morreu, o homem, deste Outro Lado da Vida, persiste na ilusão, nos conceitos equivocados...
Todos os dias - prosseguiu o Dr. Inácio -, me defronto com espíritos que me questionam: — “Por que tem que ser como o senhor está me dizendo que é?”
— Insanidade! - exclamei, sem perceber que rotulava a mim mesma.
— Insanidade, da qual, com poucas excepções, estamos caminhando rentes. O que dela nos separa é uma ténue linha divisória... As ideias nas quais o Espiritismo está nos auxiliando a pensar são muito novas para nós. O Mundo Espiritual - parece um contra-senso - ainda não se mostra suficientemente espiritualizado...
— Se fosse maior o contraste entre a vida e a morte...
— Como, se a vida que nos rodeia aqui é uma projecção de nossas mentes?
— Que coisa complexa, Doutor!
— A vida do homem sobre a face da Terra é a materialização de seus pensamentos; ele plasma com as mãos as ideias que concebe — o exterior há sempre de nos reflectir o interior. Ninguém verdadeiramente conseguirá mudar a vida em tomo, se não efectuar mudanças substanciais no mundo de si mesmo.
— Quer dizer?...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:07 am

— Atente, minha filha, para o que, com a permissão do nosso Odilon, vou lhe dizer: Deus criou o Bem; já o Mal, em todas as suas manifestações, é criação do homem...
— Em todas as suas manifestações?
— Sim, em todas. A mente humana é um fragmento da Mente Divina e, portanto, criadora.
— Um tumor, por exemplo, como o que tive, não é criação de Deus?
— A rigor, não! Tudo o que é transitório reflecte a imperfeição do ser.
— Dr. Inácio, mas os microorganismos patogénicos, os agentes de tantas doenças que se espalham pelo mundo, os vírus, as bactérias?...
— Excrescências da mente em desequilíbrio...
— Que se materializam e tomam forma?!...
— E se voltam contra o seu criador... O mal sempre toma à sua fonte de origem.
— O meu tumor de pulmão?...
— Os nossos diversos corpos, ao longo das vidas sucessivas, podem nos ser representados como os antigos “mata-borrões”, através dos quais, a pouco e pouco, as nossas imperfeições vão se escoando... Toda doença no corpo é processo de cura espiritual.
— O meu câncer?...
— Toda patologia física é precedida por uma patologia de natureza psicológica.
—Não obstante - argumentei, cada vez mais surpresa com o número de palavras novas que se me incorporavam ao vocabulário -, todas as pessoas adoecem e morrem... E Jesus, um Espírito Puro?!
— Jesus não morreu, foi morto... Aliás, salvo melhor juízo, o único espírito sobre a Terra que, caso não tivesse sido morto, não se sabe como viria a morrer...
— Estou com a cabeça cansada - queixei-me.
— Então, vamos parar...
— Não, não, por favor, conversemos um pouquinho mais... Se não estou morta, quero estar!
Ambos, o Dr. Odilon e o Dr. Inácio, sorriram e o diálogo prosseguiu.
— As guerras, os desarranjos no clima, as epidemias?... - insisti, ávida de novos conhecimentos.
— A argúcia mental do homem concentrado no mal, movimentando, de maneira consciente ou inconsciente, a sua capacidade de criar, sempre dará origem a novos agentes de enfermidade que dizimarão milhões de vidas no Planeta; neste instante, minha filha, em que estamos conversando, cientistas se encontram reunidos em laboratórios fabricando sofisticados engenhos de destruição e morte...
— Estou impressionada! E as vacinas, os medicamentos de combate?...
— São o sinal da Providência Divina, pois, caso contrário, a vida terminaria por se inviabilizar no orbe terrestre.
— Repita, por favor, Doutor...
— Odilon, providenciemos para a nossa Domingas algumas laudas de papel, você não acha?
— Sim, já percebi.
— Doutor - insisti -, os vírus?...
— Mentes altamente intelectualizadas realizam ensaios no mal!
— Eu nunca tinha ouvido nada semelhante...
— Os pensamentos doentios da Humanidade, como um todo, têm sido um excelente “meio de cultura”, para que tais criações se desenvolvam e se reproduzam.
— Em um Mundo de Regeneração?...
— Teremos, sem dúvida, menos doenças. Por enquanto, a doença surge primeiro, o remédio aparece depois: o mal segue adiante e o Bem no seu encalço... A Medicina do futuro será mais preventiva!
— O senhor disse que a argúcia mental do homem, movimentando de maneira consciente...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:07 am

— O homem cria de maneira directa ou indirecta.
— Existem espíritos que...
— ...operam no mal conscientemente, é claro, sem total consciência do mal que fazem a si próprios, porque, em última instância, o mal é loucura, e os que estão loucos...
— ...não ficam apenas inspirando ideias negativas?
— Não, vão muito mais longe, chegando, digo-lhe, a disputar entre si quem é capaz de criar uma forma mais letal de agente nocivo à saúde humana; o seu intuito é o de estabelecer uma nova ordem nas coisas, a partir de suas insanas concepções da Vida...
— E, mas são incapazes de criar para o bem...
— Transitoriamente, sim, absolutamente incapazes:
podem, por exemplo, conceber um vírus, mas não uma espécie da mais diminuta e delicada flor do campo!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:07 am

9 - Espíritos Criadores
— Está aí - disse - uma coisa que sempre me intrigou:
existem espíritos que se dedicam à criação de formas e expressões de vida de ordem superior? Não sei se estou conseguindo formular a pergunta com clareza... Por exemplo, as diversas espécies de flores, árvores, frutíferas ou ornamentais enfim, até mesmo os animais, apareceriam aleatoriamente?
Foi o Dr. Odilon que tomou a iniciativa da resposta.
— Domingas, herdeiro do Criador, o espírito, seja ele qual for, igualmente não cessa de criar, aperfeiçoando sempre a obra de sua autoria. Você sabe: basicamente, pensar é criar... A Natureza é prodigioso laboratório de infinitas experimentações. Existem, sim, espíritos que se dedicam aos mais diversos campos de pesquisa, no campo da Botânica, da Zoologia, da Genética Humana e Animal.
Se nos deparamos com os que engenham para o mal, temos os que se exercitam na arte de diversificar para o bem.
— O que os homens chamam de “geração espontânea” - aparteou o Dr. Inácio - nada mais é do que a semente de uma ideia de vida ardorosamente acalentada.
— Sempre me chamou a atenção a diversidade e a exuberância de vida no fundo dos oceanos...
— Em todos os mundos, físicos e extra-físicos, os espíritos criadores, ou, se você preferir, co-criadores, se empenham em criar, ornamentando a Criação Divina...
Veja: quando falamos em criar, é óbvio que toda ideia original, neste sentido, emana de Deus - o homem nada mais é que o seu intérprete...
— O seu médium...
— Que, não raro, descaracteriza a Mensagem que é chamado a intermediar para o Bom e para o Belo!
— Deus inspira e o homem processa - esclareceu o Dr. Inácio, continuando. À medida que se eleva, o espírito vai se identificando com o Pensamento do Criador. Um dia, o lar da criatura redimida há de se transformar no Jardim do Éden!
— O objectivo da Evolução - tomou o Dr. Odilon - é criar e, incessantemente, aperfeiçoar para o Supremo Bem; por este motivo, até que colimem o propósito da Vida, todas as formas são transitórias - umas haverão de suceder as outras...
— Inclusive a raça humana? - indaguei.
— Sim, o homem também está sob experimentação; o corpo físico está longe de ser uma obra acabada...
— Aliás, Domingas, o próprio corpo espiritual, ou perispírito, se encontra em fase de elaboração; tudo o que nos é periférico vem sendo plasmado pela nossa capacidade de reflectir a Inspiração Divina...
— Quer dizer que o Universo ainda vem sendo pensado?
— Não por Deus, que, desde toda a Eternidade, já o tem definitivamente concebido, mas pelo espírito, que, tendo alcançado a láurea da razão, vem brincando de criar, como uma criança que modela em cera, para, em seguida destruir as formas imaginadas... Da simples modelagem em cera, passará, mais tarde, a arrojados projectos arquitectónicos...
— À tela primorosa, à pauta musical, à escultura...
— Sim, tudo, digamos, é coisa que homem de génio apreende da Mente Divina... Tudo permanece vibrando no Cosmos, à espera de que alguém entre em sintonia com o já existente e lhe dê forma, graduando-lhe as manifestações aos sentidos humanos.
— Mozart?...
—Todos eles, Mozart e Beethoven, Da Vinci e Renoir, Michelangelo e Rodin, todos os expoentes da cultura humana, no campo da intelectualidade e da emoção - Francisco de Assis e Teresa d’Ávila, Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá - desentranharam, traduziram, em suas obras e acções, o Pensamento de Deus, sendo, portanto, potencialmente médiuns!
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