LUZ ESPÍRITA
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Eu, Espírito Comum - Domingas/Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:07 am

— Lembro-me, Doutor - comentei, embevecida -, de uma história que li sobre Michelangelo, acerca de uma pergunta que alguém lhe fez, quando, pacientemente, ele esculpia uma pedra de mármore...— A célebre resposta de Michelangelo! - exclamou
o Dr. Inácio, empostando a voz: — “Há um anjo preso dentro desta pedra e eu tenho o compromisso de libertá-lo...”
— O senhor me fez lembrar agora...
— De nosso caro Prof. Fausto De Vito, que bem gostaríamos de ter aqui, ao nosso lado. Sabemos, porém, que as Editoras para as quais ele trabalha, como Revisor, vivem pedindo a Deus que lhe conceda interminável moratória. Sim, porque ele reúne em si duas vantagens, além da dedicação e presteza: tanto é versado em Gramática quanto em Doutrina.
— Quando ainda eu encarnada, ele fez a revisão completa de meus dois livros narrativos: “Nosso Álbum de Lembranças” e “O Despertar de um Alcoólatra”, sabem?
Doutor, possivelmente, ele haverá de rever também estas anotações...
— Anotações? - perguntei, curiosa. Que anotações?
— As que você, minha filha, com certeza haverá de fazer...
— Escrever?!...
— E - adiantou-se Dr. Inácio -, escrever como espírito, para que você sinta a dureza que é lidar com médium...
— Coitada de mim! - exclamei, reacendendo como a chama semi-apagada de uma vela.
— Ora, Domingas, não se faça de rogada; e, depois, precisamos dividir com você... O seu depoimento será interessante.
— Mas - ponderou Dr. Odilon - antes de falarmos sobre este assunto, voltemos à questão dos Espíritos criadores.
— É um assunto fascinante; às vezes, com tantas flores que chegavam à minha casa, enviadas pelos amigos, rosas e orquídeas, lírios e flores do campo, eu ficava me questionando a contemplá-las: meu Deus, quem será que as criou assim tão belas?... De quando em quando, um pássaro pequenino... Oh, deu-me um branco, agora! Como é mesmo o seu nome?...
— Beija-flor! Colibri! - socorreu-me o Psiquiatra.
— Exactamente. Não sei como não consegui me lembrar...
— Para você não se entusiasmar muito com a flexibilidade intelectual que está tendo, ante o reavivamento da memória, após o desenlace do corpo. A isquemia cerebral pode reactivar algumas áreas do cérebro e apagar outras.
— Um beija-flor, crendo-as, certamente, ainda presas à haste, pairava sobre elas, na tentativa de sugar-lhes o néctar...
— Domingas - interveio o Dr. Inácio -, a pronúncia correta é néctar! Trata-se de uma palavra paroxítona...
— Hem?! O senhor está falando grego?... - gracejei.
— Esta é das nossas, Odilon - retrucou o simpático ex-velhinho, de bem melhor aparência que a minha.
—Iremos fazer um verdadeiro forfé por aqui, Doutor!
Estou me sentindo meio combalidazinha, mas logo, logo...
— O que você ia falando a respeito do beija-flor, filha? — perguntou o Mentor, tentando colocar ordem na conversa que, de minha parte, descambaria.
— Ao ver aquele pássaro tão gracioso, rente à corola de uma orquídea, eu me extasiava, questionando em silêncio: — “Meu Deus, que espírito o terá criado?” Agora, dialogando com os senhores...
— Nos Planos Superiores, os espíritos ocupam parte de seu tempo em conceber o Belo, em sublimada disputa na divina arte de criar, reunindo-se, periodicamente, e apresentando uns aos outros o resultado de suas concepções.
— Então, é assim que surgem uma profusão de espécies vegetais diferentes, como se já existissem no seio da terra, à espera do momento propício para eclodir?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:08 am

— Espécies vegetais, animais e, vamos mais longe, minerais também.
— Minerais também?
— O simples átomo de um corpo inorgânico anseia por se transformar em célula... Tudo evolui e vive em transição, da forma rudimentar para outra mais perfeita.
— Já ouvi diversas referências a este importante assunto - aduzi. — Onde o senhor me diz que poderia conhecê-lo melhor - nos domínios da Doutrina Espírita, é claro?
— Mais tarde, quando estiver em condições mentais favoráveis, poderá estudá-lo em “O Livro dos Espíritos” (capítulo II e IV) e, principalmente, em “A Génese” (capítulo X). Allan Kardec, ainda que limitado à ciência do seu tempo, também nestas Obras Básicas se revela o sábio Codificador do Espiritismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:08 am

10 - Amor e Evolução
Entre o Dr. Odilon e o Dr. Inácio, eu me sentia como quem se visse sob um fogo-cruzado de luz ou pesada artilharia de conhecimentos.
— Não entendo - falei desculpem-me, por que vocês estão me confiando tantas informações...
— Primeiro, minha filha - adiantou-se o primeiro, em resposta -, porque você pergunta muito, e, depois, porque o seu cérebro precisa ser estimulado.— E este é o momento - emendou o segundo, alternando palavras e opiniões com o amigo.—De fazermos os neurónios de seu cérebro espiritual funcionarem...
— Não se esqueça de que você está “nascendo” de novo e, qual ocorre com o cérebro em expansão das crianças, que carecem, nos primeiros anos de vida, de suficientes estímulos externos para se desenvolverem a contento...
— Quando voltamos para cá, necessitamos de “lubrificar” as engrenagens...
— O processo, semelhante, ocorre de maneira inversa. Compreende?
— Mais ou menos. Quer dizer que...
— As primeiras semanas e meses do espírito que volta à Pátria Espiritual são decisivos para a sua melhor adaptação à realidade.
— Não nos esqueçamos de que ele, ou seja, nós, sempre reencarnamos e desencarnamos com outros olhos...
—Por este motivo, tanto de um Lado quanto de outro, a paisagem nos parece diferente - estamos sempre enxergando um pouco mais!
— De facto - concordei -, parece que nunca estive por aqui...
— E não esteve mesmo, porque nada disto existia antes e, quando reencarnar, daqui a uma semana...
— Eu, reencarnar, daqui a uma semana?!... O senhor está brincando, não é? Deixei por lá excelentes amigos, mas não pretendo voltar tão cedo... Deus me livre! Escapei por um triz... Não fosse o Espiritismo em minha vida, o Dr. Odilon, a minha encarnação teria sido um desastre...
— Então, corrigindo, quando reencarnar, daqui a uns 100 anos...
— Melhorou!
— ...o mundo, para você, estará irreconhecível.
— Espero que positivamente...
— Está difícil, mas nós também - enfatizou o Dr. Odilon.
— Gostaria - disse - de lhes fazer uma pergunta.
— Domingas, como você é curiosa! - brincou o Dr. Inácio.
—Tudo bem: o espírito desencarna, reencarna, evolui um pouquinho, mas... estamos aqui, deste Outro Lado, quase na mesma. No que me diz respeito, deveria até regredir, no entanto os senhores dois... Quando, afinal, ascenderemos?
— Eis a questão! Odilon, você tem a palavra...
—A resposta é aquela que já sabe ou que já sabemos: não nos resgataremos da Terra, ascendendo a Planos Superiores, enquanto não aprendermos a amar!...
— O conhecimento, por si só, não basta.
— Nunca, em tempo algum, soubemos tanto sobre a nossa destinação...
— Não obstante, o grande desafio é amar! Num cálculo excessivamente optimista, em cada um milhão...
Não, este cálculo está optimista demais: em cada dez milhões, um ama ou está começando a amar!...
— O Amor é o único caminho para os Cimos.
— Conhecimento pode não passar de simples informação... Se apenas isto fosse suficiente, o Céu estaria repleto de computadores!
Parecendo-me treinados naquela técnica de diálogo, um complementando a frase do outro e falando de modo reticente para motivar a quem os ouvisse a raciocinar, ambos prosseguiam alternando conceitos, que eu ousava interromper.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:08 am

— Dr. Odilon, em uma de suas obras mediúnicas, agora não me ocorre qual o título, o senhor define o Espiritismo como sendo a “Religião do Livro”...
— Domingas, tudo o que nos é dado aprender em tomo da Verdade é com o único objectivo de que saibamos amar, pois, sem amor, a própria Vida careceria de sentido.
— O Amor é o sentido da Vida! Quem não ama, participa de movimento inverso ao propósito da Criação, coloca-se à margem, salta para fora do contexto, contrariando, assim, a sua natureza divina. Ninguém foi criado para o ódio, para a aversão, para o mal... O problema do homem, basicamente, é de sintonia com o seu “eu” profundo, de mais plena identificação consigo mesmo, abandonando a vida fictícia em que intenta viver.
—Ah - lamentei -, o Amor nos parece tão inacessível!
Sinceramente, não me recordo de uma única vez em que tenha sido impulsionada por ele em qualquer atitude, em relação ao próximo. Praticava, sim, a caridade, mas...
— Eu também, minha filha - confessou o Dr. Inácio, pela primeira vez com certo entono de desencanto -, não me lembro de ter sido impulsionado pelo verdadeiro amor...
— Doutor - retruquei, sem deixá-lo concluir -, o senhor tratava os seus pacientes como se fossem filhos - sou testemunha do carinho que lhes devotava... Não fale assim, porque eu vou me sentir mais deprimida ainda.
Coitadinha de mim! Se houver um tapete por aqui, vou ter que me esconder debaixo...
— A vaga é minha; você vai ter que se esconder noutro lugar... De quando em quando, eu saio, mas logo volto para lá...
— A caridade...
— A caridade - pontificou o Dr. Odilon - é a nossa iniciação espiritual no aprendizado do Amor; é exercício de desprendimento gradativo, porque sem crescente desapego não há quem, por fim, consiga se doar por inteiro.
— A gente começa doando ínfima parte do que tem no bolso; Deus, no entanto, não se contenta - Ele quer tudo: o que temos no bolso, o próprio bolso, o coração...
— Doutor!...
— Estou mentindo, Odilon? Ora, quantas vezes eu enfiava a mão no bolso, escolhendo a cédula de menor valor para o pedinte que me interceptava na rua... — “Inácio - a consciência me questionava, mal tinha virado as costas -, você não se envergonha?” Não, respondia. — “Pois, deveria...” Quando dava uma cédula um pouco maior - eu fazia o teste! -, era a mesma coisa. — “Inácio, você não se envergonha?” Não - tomava a responder. — “Pois, deveria; você mora num sobrado, tem carro na garagem, conta no banco...”
— Sorri, sem conseguir me controlar.
— O senhor me desculpe... Comigo também era a mesma coisa: Deus queria até a minha cama... Eu já não tinha nada dentro de casa, só alguns poucos móveis velhos...
— E Ele queria, não é?
— Queria, mas eu não dava...
— E com você, Odilon?
— Inácio, eu não tinha nada - tudo era de minha esposa e de meus filhos... Agora, vocês dois eram praticamente sozinhos, não? A Domingas casou-se, ficou viúva, sem filhos...
— E com uma pensão que o Abel me deixou!... 0 senhor casou-se...
—Pois é, minha filha, ainda temos que aguentar isto...
Cheguei ao fim da vida literalmente quebrado, no mais amplo sentido da palavra - quebrado e alquebrado, e Deus me pedia os cacos! Resolvi largar tudo - pronto, não tenho mais coisa alguma. Agora, Ele está pedindo o meu tempo:
tomou-me o que tinha, despojou-me de tudo, agora quer a mim... A gente dá um dedo, Ele quer a mão; dá a mão, Ele quer o braço... Resistir, como escreveu o poeta de “Visita à Casa Paterna”, quem há-de?...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 11:08 am

— Doutor, como o senhor é bacana!...
— Bacana?!... Nunca ninguém me chamou por este termo.
— No bom sentido, é claro; o senhor ensina a gente de uma maneira...
— ...só dele, Domingas, só dele! O nosso Doutor é dono de um coração imenso... - aparteou o Dr. Odilon.
— Coração?! Que coração?!... Eu não tenho mais nada, não, e nem quero ter, estou bem... E, minha cara - concluiu com especial inflexão de voz -, o que é pior: nem assim sei o que é o Amor! Estou esperando... Quem sabe, um dia, algo aconteça, daqui uns mil e... novecentos anos, não é?
— O senhor não acha que está sendo optimista demais? - perguntei.
— Odilon, a Domingas é das nossas!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:37 pm

11 - Com D. Maria Modesto
Decorrida mais uma semana, eu já estava me movimentando, dentro do quarto, com maior desembaraço, e, confesso, cada vez mais curiosa quanto aos detalhes de tudo o que me rodeava, inclusive de que material eram feitos os objectos e utensílios à minha disposição: cama, poltrona, uma pequena mesa adornada por um vaso de flores, quadros na parede, roupas de cama e banho...
— Meu Deus, esta cadeira - pensava, tacteando-a do encosto aos pés bem trabalhados -, aos meus olhos e sentidos, é uma cadeira comum, não tem nada de diferente - não é muito mais leve, nem mais pesada das que eu tinha em casa... A existência de uma cadeira no Mundo Espiritual seria de causar espanto aos próprios espíritas ortodoxos!
E, analisando-a de perto, ia deduzindo:
— Ora, para que serve uma cadeira no Além?
Obviamente, não se trata de simples objecto de decoração...
Ela existe mesmo - não se trata de criação mental! Até prova em contrário, cadeira é para se sentar... como cama é para a gente se deitar.
Experimentando a sua comodidade, prosseguia:
— Uma simples cadeira, depois da morte do corpo, é um problema que transcende. Engraçado: houve época em que eu supunha que o Mundo Espiritual fosse vazio, que os objectos se plasmassem pela força da mente e se desfizessem, de modo quase instantâneo... Mas não, esta cadeira é firme para me suportar o peso e está aqui ao meu lado o tempo todo. Coisa da minha cabeça, não é! Esta cama, esta poltrona, esta mesa — tudo consistente.
Aproximei-me do delicado vaso com flores e, tocando-as, falei como quem estivesse conversando a sós:— Flores, lindas e reais! Não são artificiais... De uma espécie que não conheço! Não são rosas, não são cravos... Que perfume agradável!
Olhando em torno: — Madeira imitando madeira, mas não é madeira; plástico imitando plástico, mas não é plástico... E matéria: posso pegar, sentir a consistência...
Estes lençóis, o meu roupão... Fios de algodão, porém diferentes, translúcidos, leves...
Aproximei-me de um copo com água, ergui-o contra a luminosidade que vinha, intensa, varando os vidros da janela, e examinei-o:
— Agua! Esta, sim, podemos chamar de levíssima, um orvalho eterizado!... Deixe-me sorver esta linfa... Não, na Terra não há sequer uma fonte, por mais cristalina, de que jorre água semelhante!...
— Olá, Domingas! - interrompeu-me D. Maria Modesto, adentrando o quarto do qual eu ainda não conseguira sair. Surpresa, não é?
— Eu estava sentindo os objectos, inclusive o meu corpo: que coisa, parece carne!...
— Aos nossos olhos, tudo parece ser o que não é...
— O perispírito é feito de carne?
— Recorramos a “O Livro dos Espíritos”... Você se lembra?
— Mais ou menos...
— Deus, espírito e matéria! Deus, o Criador; o espírito, o elemento inteligente da Criação: a matéria - bem, a matéria é energia, que vive em metamorfose...
— O perispírito é carne? - perguntei, de novo.
— Por que você não pergunta se o corpo de carne, o corpo físico, é perispírito?
— E é?...
— E lógico! O corpo somático é, por assim dizer, a porção mais grosseira de nossos diversos invólucros espirituais - quando encarnados, é o nosso corpo periférico...
— Corpo de periferia?...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:37 pm

— Sim, para um mundo de periferia!...
— Então, não estou enganada: é carne?
—Não, evidentemente, como diria o nosso Dr. Inácio, uma came dessas que não cozinham nem em panela de pressão, o dia inteiro ao fogo, mas é carne.
— Desalentador!
— Por quê?
— Porque, se é carne, é passível de adoecer e... morrer outra vez!
— Tornarmo-nos espírito puro significa tomarmo-nos puro espírito, livres de toda e qualquer excrescência.
Neste instante, acometida por uma crise de maior vertigem, estive, por assim dizer, “fora de mim” por alguns instantes. Eu me percebia estática, como se o meu pensamento se projectasse a longa distância, em um desses devaneios aos quais nos entregamos sem perceber.
Quando, após, tornei à consciência, sentindo-me enfraquecida, D. Modesta me chamava pelo nome com delicadeza, auxiliando-me a sair daquele torpor:
— Domingas, minha irmã! Domingas!...
— O que aconteceu? Tive a impressão de que...
— De que alguém se apropriou de seu pensamento!
— Exactamente; que coisa estranha!...
— São os nossos irmãos da Terra, os companheiros saudosos de você...
— Como?! - perguntei, tomando um gole d’água, a respiração um tanto ofegante como se estivesse saindo de um transe.
— Você se comunicou, Domingas...
— O quê? - indaguei mais surpresa ainda.
— É, o seu pensamento foi rastreado ou, por outra, o seu espírito foi fortemente evocado por algum dos médiuns do grupo...
— Isto pode acontecer, sem a participação da minha vontade?
— Você não queria?...
— Bem, queria e quero, mas...
— Os irmãos reunidos estão pensando em você, sentindo a sua falta... A mente do médium, em certas circunstâncias, pode requisitar o pensamento do espírito, principalmente quando coadjuvada por outras mentes em atitude de oração.
— Entendo... Quer dizer que eu me comuniquei?
— Quando, em nossos círculos de actividade, desencarna um tarefeiro como você, todo o grupo fica sugestionável... É natural.
— Não se trata de mistificação?
— Absolutamente; pode, sim, até ocorrer, mas aqui não é o caso... O grupo...
— Qual deles especificamente me chamou?
— O “Jesus de Nazaré”, onde, por último, você vinha centralizando as suas actividades mediúnicas.
— E será que eu disse algo a eles?
— E provável que, uma ou outra palavra, tenha pronunciado de maneira indirecta.
— Como médium, eu?...
— Sim, você, eu e tantos outros já operamos mediunicamente assim; não nos esqueçamos de que o médium, sobretudo, é altamente impressionável... O inconsciente dos demais companheiros pesa sobre o dele e, então, se sente induzido a sair procurando.
— Uma mensagem forjada?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:37 pm

— Não.
— Mas eu não me lembro de nada...
— 0 espírito pode se manifestar com maior ou menor grau de lucidez.
— Insisto: um mistificador não poderia tomar meu lugar?
— Poderia e, repito, nos grupos invigilantes, o fenómeno acontece com certa frequência, mormente quando o médium se deixa levar pelo personalismo.
— Quando o nosso Chico Xavier desencarnou, muitos médiuns começaram a receber mensagens dele ou atribuídas a ele...
— Você colocou bem: atribuídas a ele, o que não significa que, todas, necessariamente, tenham sido transmitidas por ele.
— Algumas mais e outras menos autênticas?
— Sim, de acordo com a capacidade do médium em registar-lhe o pensamento... Domingas, o pensamento de nosso Chico está por aí - não nos esqueçamos de que o pensamento tem comprimento de onda, é uma força que se propaga através do éter. Mediunidade - nunca será demais repetir - é sintonia, que se traduz por “entrar na mesma faixa”...
— O espírito nem sempre “vai” ao médium?
—A mediunidade é uma via de mão dupla, pela qual o espírito e o médium trafegam sob os mais diferentes impulsos.
— Estarei, agora que desencarnei, sempre sujeita a isto?
—Até que, pelo menos, a comoção dos companheiros a deixe com independência relativa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:37 pm

12 - Outros Esclarecimentos
— Independência relativa? - questionei, interessada em me aprofundar. — O que quer dizer?
— Sim, minha irmã, porque, afinal, quem, nisto ou naquilo, pode se ufanar de completa liberdade de atitude?
Estamos sempre agindo segundo as conveniências pessoais, não raro sequer claramente detectadas por nós.
— D. Modesta, um espírito pode ser atraído a uma reunião...
— Domingas, utilize o termo que você queria, em vez de “atraído”...
— A palavra que, primeiro, me veio à mente foi “constrangido”...
— Então, refaça a pergunta: “um espírito...”
— ...pode ser constrangido a uma reunião, a comparecer a uma reunião, pelos seus familiares?
— Os espíritos não se sentem evocados apenas e tão-somente por palavras formais. Vejamos, nas reuniões de desobsessão...
— Sim, eu ficava sem entender a presença dos obsessores, que compareciam com a finalidade de serem doutrinados. Ora, se eu fosse um obsessor, passaria longe...
— Temos, aí, que levar em consideração vários factores: a prece em conjunto cria poderoso campo magnético de atracção, dentro do qual operamos; como a limalha de ferro se sente atraída pelo imã...
— As trevas se sentem atraídas pela luz!
— Os espíritos obsessores, em maioria, não comparecem voluntariamente às sessões mediúnicas de esclarecimento espiritual; em se associando às mentes dos Espíritos Mentores, os médiuns psicofónicos ou portadores de outras faculdades vão até eles e...
— ...os coagem a comunicar-se!
— A revelarem-se em suas intenções...
— Não são todos conduzidos pelos Benfeitores?
— Às vezes, sequer se encontram no recinto constituído pelo espaço físico da reunião.
— Mediunidade...
— É um pensamento emocional, actuando dentro e fora do espaço e do tempo!
— Pensamento emocional...
— O espírito não é só pensamento.
Respirando de maneira mais tranquila, após aquele “transe indirecto”, indaguei, preocupada:
— D. Modesta, eu era “piolho” de centro em Uberaba...
— Eu sei.
— De repente, se todo médium amigo me quiser “receber”, estarei frita...
— Precisamos, filha, ponderar quanto ao seu actual estado de fragilidade psíquica - você aprenderá a se isolar...
Se nós, os desencarnados, incomodamos os médiuns, é natural que eles nos incomodem. Estamos dentro de nosso “métier”...
— Nossa! - exclamei. — De mediunidade, a gente não sabe nada...
— Nem a gente lá embaixo nem a gente aqui em cima!
— Fico pensando no quanto aborreci os espíritos: o Dr. Odilon, o Dr. Rudolf, Irmão José e mesmo a senhora...
— Existem espíritos que dão procuração aos médiuns ou a outros espíritos, e pronto.
— Procuração?
— Força de expressão. Os nossos irmãos entendam como puderem ou quiserem!
— Que irmãos? - questionei, ingénua.
— Os irmãos aos quais você irá escrever!
— Eu?!...
— Você mesma, Maria Rodrigues Salvador, mais conhecida por Domingas. Você adora escrever, minha filha!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:38 pm

— Adorar, adoro, mas... escrever para a Terra!...
— Orientações são orientações - disse D. Maria Modesto, entregando-me como se fosse um calhamaço.
— O Dr. Odilon pediu-me que lhe passasse este material: vá anotando tudo o que considera mais interessante...
— Tudo é interessante! Estou respirando - eu não supunha que, no Além, existisse oxigénio; a minha carne, que coisa!
— Depois, o Dr. Odilon revisará, considerando o que é e o que deixa de ser conveniente publicar.
— Mas eu não sei me expressar...
— Não se preocupe com as palavras; o que importa é a informação...
— A senhora não estaria mais apta para tanto?
— Filha, dedico-me a outras actividades e, por serem recentes, as suas impressões haverão de ser mais interessantes; não sei se feliz ou infelizmente, pouca gente lá embaixo ainda pensa em mim... Como diz o nosso caro Inácio, você é um defunto fresco!
— Ele é terrível! Como se dará a transmissão destas minhas notícias? Eu mesma poderei fazê-lo?
— Provavelmente, sim; trata-se de um detalhe de somenos... Os que duvidam sempre haverão de duvidar, ao passo que, para os que crêem, tudo é admissível.
— Alguém poderia escrever em meu nome?
— E claro, sem nenhum problema.
— Já que estamos tratando de assunto tão interessante, permita-me perguntar: o médium, em desdobramento, pode se programar previamente? Não sei se estou me expressando bem. Quando encarnada...
D. Modesta sorriu.
— O que foi? - indaguei, imaginando que, sem perceber, tivesse dito alguma impropriedade.
— A naturalidade com que você começa a se referir ao próprio desenlace... Mas continue.
— Quando encarnada, eu tinha a impressão de que, durante a noite, me entrevistava com os espíritos que, no dia seguinte, haveriam de se expressar por meu intermédio...
Pode acontecer?
— Com bastante frequência. Esse entendimento prévio entre médium e espírito facilita a sintonia. Vejamos bem: raras vezes, por exemplo, um pintor concebe um quadro sem antes esboçá-lo sobre a tela; um pianista não se apresenta para determinado concerto, sem exercitar-se por horas a fio; um cirurgião não se atreve a intervir com o bisturi sobre um organismo vivo, sem aulas de dissecação em cadáver; os maiores escritores rascunharam as suas obras, aprimorando a redacção dos textos...
— A instantaneidade?...
— E a da ideia original. Deixe-me ser mais clara: o espírito é o autor da ideia; a sua apresentação corre por conta do médium...
— Somente a apresentação ou será lícito ao médium desenvolvê-la?
— O médium é co-autor!
— Para enriquecer um trabalho, ele pode pesquisar?
— Pode e deve, sem nenhum escrúpulo.
— Eu gostaria, no entanto, se possível, de eu mesma escrever através do médium...
— O seu pensamento o fará escrever você não escreverá.
— Quando eu incorporava o Dr. Rudolf?..
— O pensamento do Dr. Rudolf sensibilizava o seu - mediunidade é isto! Na verdade, nunca será demais repetir: o espírito manifestante se utiliza do espírito do médium; e não propriamente de seu corpo. O médium é uma espécie de tradutor de idiomas, consentindo que alguém se expresse pela sua boca...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:38 pm

— D. Modesta, e aqueles espíritos enfermos que a gente recebia nas sessões de desobsessão? Choravam por nosso intermédio, sentiam dores, mutilações, às vezes, esbracejavam...
— Domingas, ao processo intelectual de transmissão da ideia junta-se o processo do envolvimento emocional, de acordo, é óbvio, com o grau de sensibilidade ou de passividade de cada medianeiro. Existem espíritos que, embora chorem copiosamente, não conseguem verter uma única lágrima através dos olhos do médium de que está se valendo... O médium deve estar para o espírito como um actor está para o seu personagem em cena!
— A gente oferece muita resistência, não é? Por preconceito, excesso de desconfiança...
— Precisamos buscar o meio-termo, a moderação, porque, evidentemente, não podemos nos descurar da disciplina. Se se manifestassem eles mesmos, sem nenhum controle da parte do médium ou dos Benfeitores que os conduzem, certos espíritos haveriam de inviabilizar o proveito da reunião, constituindo-se, inclusive, em ameaça à integridade física de seus participantes. O centro espírita é uma casa de caridade, mas nem por isto deve-se consentir que vândalos a invadam; a caridade do “não” é tão importante quanto a do “sim” - cabe-nos discernir o momento de uma ou de outra!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:38 pm

13 - Coligindo Anotações
Quando nossa irmã D. Modesta saiu, iniciei o trabalho de coligir anotações sobre as experiências que estava vivenciando, transferindo, depressa, para o papel algumas impressões básicas, com o intuito de que não viesse a perdê-las; tive medo de que, qual nos ocorre quando sonhamos na Terra, fosse acometida de qualquer amnésia quanto a certas lembranças que julgasse essenciais... E, depois, embora certa desenvoltura intelectual comigo, eu não me sentia totalmente recuperada da isquemia cerebral de que fora acometida.
— Por onde começar? - questionei, articulando as palavras, com a mão estática sobre a primeira lauda. Uma forte emoção apoderou-se de mim e, pensando nos amigos que deixara, consenti que algumas lágrimas me viessem aos olhos. Ah, como gostaria de lhes transmitir uma prova irrefutável de minha sobrevivência! Quantas vezes, na condição de reles mortal, eu suspirara por um comunicado de além-túmulo que me repletasse o coração de esperança e me satisfizesse todas as exigências da razão!...
Num átimo, vi-me, em espírito, de novo participando das reuniões no Lar Espírita “Pedro e Paulo”, em Uberaba, aos sábados e domingos pela manhã, sendo testemunha auricular dos espíritos que, escrevendo através do médium, sempre enfatizavam as dificuldades na tarefa do intercâmbio... Seriam, de fato, tão grandes assim? - perguntava, esquecendo-me de que também era médium, e que, em outros dias da semana, as dificuldades eram comigo, quando me dispunha a intermediar os desencarnados. Marcara-me, profundamente, o comunicado de um jovem aos seus progenitores, escrevendo mais ou menos assim: — “Mamãe e papai, se pudesse, haveria de me materializar aos olhos de vocês, ensejando que me pudessem tocar com as mãos, de forma que não lhes pairasse qualquer dúvida em relação à minha sobrevivência... Entretanto, não conto com nada além de uma caneta e algumas folhas em branco para lhes falar do meu amor e saudade, na expectativa de que vocês não duvidem de que aqui, nestas linhas, sou eu mesmo, o filho que não morreu!...”
— Meu Deus! - exclamei, limpando com as mãos as lágrimas que me banhavam o rosto. — O que, igualmente, poderei fazer com caneta e papel, já que, agora, não disponho de recursos mais directos e convincentes a fim de me dirigir aos que, talvez, esperam, de minha parte, manifestações retumbantes?
Deixando, por instantes, a caneta de lado, orei pedindo a Jesus que me arredasse do espírito qualquer pretensão, incompatível com a minha indigência espiritual - que eu não almejasse o que não estivesse à altura de minhas possibilidades, compreendendo que tudo tem o seu curso natural e que a aceitação ou não do que viesse a escrever, era questão concernente a cada um.
Ao terminar a ligeira prece, comecei a rascunhar palavras, seleccionando informações que, de fato, fossem de interesse prático para os seus possíveis leitores, os irmãos encarnados, sempre tão ávidos por notícias do Plano Espiritual. Recordei-me de que eu mesma, quando uma nova obra mediúnica me vinha ter às mãos, percorria as suas páginas com sofreguidão, na expectativa de novidades que me ilustrassem e fortalecessem a fé na Imortalidade.
Que poderia dizer de diferente, se pouco ou quase nada eu constatava de diferente em mim e à minha volta? A vida no Plano em que me situo, me parecia, quanto me parece, tão igual à existência que vinha de deixar no corpo grosseiro!... Como - questionava-me -, na Terra, olhando para o Espaço aparentemente vazio, podemos não enxergar uma vida tão concreta e tão palpável? De sentidos obliterados, não temos cérebro programado para enxergar além do que os nossos olhos foram habituados, nem para registar ouvidos acima ou abaixo de nossa capacidade auditiva.
A luz da Verdade não vara as sombras da ignorância humana, senão muito lentamente - pensei. O que posso fazer se, à semelhança de tantos outros, não lograr sair do lugar-comum? Pela primeira vez, compreendi a dificuldade dos espíritos que se colocam em contacto com os homens e, com frequência, se queixam da pobreza do vocabulário para se expressarem com maior clareza de ideias.
Estava já quase desistindo, quando um jovem, cujo semblante não me era de todo estranho, veio me visitar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:39 pm

— Domingas, minha irmã. como vai passando?
— Você é o...
— Paulino Garcia!
— Que alegria, é um prazer apertar a sua mão pessoalmente! Sou fã incondicional de suas obras...
— Pálidos esboços, Domingas - nada mais do que isto.
— Eu as comentava com entusiasmo em minhas palestras; a sua linguagem é muito acessível...
— Não dou conta de complicar... É uma das vantagens da falta de erudição.
— Modéstia sua.
— O Dr. Odilon me disse que você...
— É, estou aqui, semi-analfabeta, mal sabendo falar, tentando escrever... Sempre fui um espírito atrevido. Hoje, me envergonho... Meu Deus, quando me levantava para uma palestra espírita, devia estar mediunizada - não encontro outra explicação para a minha coragem.
— Não. Escutei-a muitas vezes no “Pedro e Paulo”; você falava embasada no currículo de sua experiência de vida; falava com o coração.
Aproximando-se, com discrição, da mesa em que me encontrava apoiada, com o olhar perdido no horizonte, à espera da inspiração que custava a chegar, Paulino perguntou-me:
— Bem, como está se saindo em sua nova tarefa?
— O pensamento não deslancha - queixei-me está difícil...
— Escreva sem preocupação.
— O pessoal lá embaixo é muito exigente, crítico...
— Façam melhor!
— Este era o meu argumento preferido, quando...
Percebendo que eu não terminara a frase, o simpático pupilo do Dr. Odilon emendou sem evasivas:
— ...quando alguém me criticava, não é?
— Estou encantada com a sua presença - disse, procurando desconversar. — Você é real?...
— Se quiser, pode me apalpar - redarguiu com jovial sorriso nos lábios.
— Se eu não me sentisse comprometida... Paulino, lembro-me muito de seus pais, no “Pedro e Paulo” - de seus irmãos, um pouco menos.
— Estão todos lutando... Realmente, quando encarnados, não é fácil nos desembaraçarmos das circunstâncias da vida material, as quais, quanto mais nos entregamos a elas, mais nos fragilizam.
— Você tocou num ponto...
— Tudo pede cultivo. Ninguém se espiritualiza a contento, fazendo concessões ao imediatismo. Trata-se de uma escolha complexa e, naturalmente, de foro íntimo.
Quem somos para solicitar maior cota de renúncia, desapego de nossos irmãos no corpo?...
— A questão, Paulino, estou chegando recentemente da Terra e sei, é que o homem não consegue deixar de pensar em seu saldo bancário - ele tem um medo terrível do futuro! Também, com a falta de solidariedade que grassa no mundo...
— Todavia os pássaros não morrem de fome!...
— Eu não posso me queixar, os amigos me ajudaram muito, mas de modo geral... Um dos médicos que me atenderam chegou a me fazer a seguinte pergunta, para justificar o dinheiro que me pedia por fora de meu convénio:
— A senhora veio aqui para se curar ou para morrer? O seu convénio só cobre tal medicamento...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:39 pm

Fiz uma pausa e acrescentei, hilária:
— Um dos motivos de eu estar me convencendo de que estou morta é que, até o presente momento, ninguém falou aqui em dinheiro comigo: não me perguntaram sobre plano de saúde, não me pediram para assinar nenhum documento... É, estou “mortinha da silva”! Internação de graça, remédio de graça, comida de graça, nos hospitais da Terra?!...
— Ideias originais... Gostei! Coloque-as no papel.
— Dirão assim: — “Domingas, escritora?! Aquela obsediada, que vivia correndo nas ruas de Uberaba, apaixonada por um soldado bêbado?!...”
— Falaram e falam de mim: — “Aquele filhinho-de-papai, agora metido a autor de obras espíritas?! Vivia correndo de moto nas ruas de Rio Preto, frequentando boates, namorando a granel...”
— Há tanto tempo que eu não namoro, que até me esqueci de como é, mas deve ser bom, não é, Paulino?
Gente morta tem o direito de namorar? - perguntei com uma ponta de ironia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 11, 2024 8:39 pm

14 - Passeio Matinal
Antes de prosseguir, faço questão de esclarecer que para mim, a palavra namoro nunca teve a conotação que, modernamente, se lhe vem dando, chegando a deturpar-lhe o significado romântico, se bem que, não sei a causa, se pensa que o espírito é um ser assexuado... Se o simples facto de desencarnarmos equacionasse os nossos problemas afectivos, a chamada morte seria muito mais eficiente do que a Vida, no que tange à nossa reforma interior.
Afrânio e Celina, os fisioterapeutas, haviam, por orientação do Dr. Inácio, vindo me acompanhar em meu primeiro passeio matinal. Pela primeira vez, depois de não sei quantos dias, eu sairia do quarto.
— D. Domingas - anunciou Celina, auxiliando-me com uma roupa mais apropriada -, vamos dar uma volta pelo pátio...
— Os jardins do hospital são muito bem cuidados - emendou Afrânio a senhora vai gostar.
— Será que as minhas pernas vão aguentar? Eu tinha um problema terrível nos joelhos...
— Esqueça; não pense nisto!... Pelo menos, da dor em suas articulações, a desencarnação deve tê-la livrado.
— Pelo menos! - concordei. — Se não for assim, morrer não vale a pena... Deixem-me tentar caminhar até a porta. Vamos ver se não manco... Era uma dor que, dos joelhos, me subia até aos quadris, quase me entrevando.
Engraçado, eu ainda não tinha prestado atenção - preocupada com os meus pulmões, a questão articular crónica se fizera obsoleta.
— Vê que coisa? Estou mais lépida, quase volitando...
— Vamos com calma; falta muito para a senhora chegar lá - disse-me Celina, acompanhando-me os movimentos desenvoltos.
— Sério mesmo: estou me sentindo mais leve...
—A mente é a última parte do espírito a desencarnar!
— Podemos sair? - perguntei. — Estou ansiosa por ver gente...
— Quer dizer que nós, D. Domingas?...
— Não, vocês não entenderam... Ou entenderam - não sei.
Impossível descrever um dos muitos jardins do hospital, todos eles muito bem cuidados e constantemente floridos.
— Que maravilha! Sim - comentei, descontraída -, devo estar mesmo morta, porque, em Uberaba, eu nunca vi nada igual: lá no Sanatório, então, ultimamente o mato vinha invadindo tudo... Não se trata de crítica, mas, se entenderem assim, tudo bem, assumo o que estou dizendo e seja o que Deus quiser - o pau irá cantar na minha e, principalmente, na cabeça do médium: não tem importância...
Caminhando pelas alamedas, respirando o ar balsâmico daquela manhã, extasiava-me com a beleza e a exuberância das flores.
— Que azaléias lindas, rosas e hortênsias!
— Não merecemos tanto, não é, Domingas? - ouvi uma voz que me pareceu extremamente familiar.
Quando me virei, para ver quem tinha pronunciado o meu nome, fui tomada de indefinível emoção.
— D. Geralda! - exclamei, embargada. — É mesmo a senhora?...
— Em came e osso, Domingas!
— Não, não é possível! Agora me convenci de vez...
— ...de que está morta, não é?
— Por favor - pedi -, quero ganhar um abraço...
Que saudade! Que alegria! Como a senhora está bem!...
— Melhorando, melhorando... Conte-me as novidades.
— Eu é que quero ouvi-la... Como é que está se arranjando o nosso pessoal?...
—Na luta de sempre - devagar, quase parando, mas, com a protecção de Jesus, não há de parar!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:28 am

— E nem pode, minha irmã. Vamos nos sentar um pouco - convidou, tomando-me as mãos entre as suas, logo após, com o olhar, ter solicitado a aprovação de Affânio e Celina.
— Estou sem palavras...
— E, assim que os meus olhos se descerraram por aqui, estas paragens, eu também fiquei; depois, a gente vai se acostumando... Façamos de conta que mudamos de país, que estamos vivendo entre pessoas um pouco mais civilizadas, morando numa cidade sem vandalismo, sem corrupção política...
— D. Geralda, isto, até fazer de conta, é difícil.
— Estou feliz por você, Domingas... O pessoal tem comentado...
— Comentado o quê? Já estão fofocando com o meu nome? Eu mal cheguei...
— Não - redarguiu, sorridente há muito espírita por aqui, mas não é fofoca, não... O Dr. Inácio, que não brinca em serviço, manda trancafiar a turma. O pessoal está dizendo que você se houve muito bem...
— Em quê?! Coitada de mim!... A minha vida foi sempre muito atribulada - a senhora sabe. Eu não sei se era médium de desobsessão ou se tinha obsessão de médium...
— Pode, vá lá, concordo, ter se equivocado em um ou outro detalhe, porém, no geral, foi vitoriosa; investindo na caridade, você agiu com sabedoria, Domingas! O mesmo, infelizmente, não posso dizer a meu respeito...
— Por que, não? A senhora nos deu verdadeiros exemplos de fé, de amor à Causa...
— Preocupei-me em excesso com a família, desperdiçando muita energia com o pessoal à minha volta; não me convém especificar... A verdade é que espiritualmente, eu poderia ter deslanchado mais.
- Eu não penso assim...
— Mas a minha consciência pensa.
— D. Geralda, a senhora foi extraordinária! Somente a sua presença entre nós...
— Vamos deixar de comentários tristes - quis mudar o rumo da conversa. — O certo é que agora estou me sentindo mais livre; pelo menos, não abandonei minha cruz..
— De forma alguma! A senhora era um dos nossos pontos de referência moral... Não fique assim. O que há de sobrar para mim ou para os nossos amigos lá embaixo que continuam quebrando a cabeça?
— Domingas, minha filha, a coisa aqui é feia: isto é uma imensidão! Para todo lado que a gente vire, tem espaço incomensurável... A ilusão de sairmos do corpo volitando...
— E, eu sei: sair do corpo volitando, viajar pelo Cosmos com a força do pensamento, adquirir poderes ‘sobrenaturais”...
—A morte é um passo adiante... no tempo! Em relação aos que ainda se encontram encarnados, estamos vivendo no futuro.
— Que, para nós, é Presente e, para os que já se adiantaram, é Passado!
— Reencarnar, de certa forma, é viajar ao Passado...
— Desencarnar, um salto quântico ao Futuro!
"Salto quântico”? Domingas, onde você aprendeu isto? Eu não sabia que tinha estudado Física...
—Nem eu! De quando em quando, isto vem à minha cabeça... Eu tomava muito “Melhorai”, não é, D. Geralda?
Todo dia!
— Um “Melhorai” pela manhã, todo dia! Para alguma coisa, o remédio deve ter servido...
— Mas, como íamos falando - retomou o assunto - , isto aqui é inimaginável: se, na Terra, a gente se sentia nada, aqui a gente nada se sente... Tenho conversado com o Dr. Inácio, para ver se ele põe a minha cabeça no lugar - não é que eu esteja ficando louca, não! É que, por mais tentasse fazer ideia...
Chamando a minha atenção para alguns pássaros que trinavam nas ramadas, alimentando os filhotes recém-saídos dos ninhos, D. Geralda Andrade Freitas considerou:
— Bem, você está se refazendo e eu... Desculpe-me.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:29 am

— Desculpá-la, de quê? Está sendo óptimo... Estou felicíssima por reencontrá-la! Não podemos nos encontrar, depois da morte, para apenas ficarmos falando das flores e dos pássaros - gosto muito de flores, mas a Verdade me interessa mais! Sou curiosa, quero observar cada detalhe...
Por exemplo: a pele de seu rosto, as rugas desapareceram; os cabelos se tomaram mais sedosos; os olhos estão mais vivos; os seus ombros não se mostram arqueados como antes - a senhora rejuvenesceu!
— Pelo menos, por fora, parece que sim...
— O seu porte, a sua elegância... Eu, com os quilos que perdi, vou ter que recorrer a um cirurgião plástico. A senhora sabe me dizer se o Dr. Pitanguy já desencarnou?
Sorrimos e continuamos a dialogar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:29 am

15 - “Tia” Nair e D. Horizonta
— D. Geralda, conte-me...
— Domingas, não é preciso estar me chamando de D. Geralda! Essas convenções ficaram por lá...
— É força do hábito; vai ser difícil eu me acostumar - respondi.
— Somos espíritos, sem idade, sem qualquer formalidade no relacionamento, até, para dizer a verdade, sem uma face definida, sem lado...
— O corpo de carne continua nos assombrando, não é?
— E como nos assombra, minha filha! - disse simpática companheira se aproximando, envolta num halo de suave luminosidade.
— Quem é? - perguntei, curiosa.
— Vamos ver se adivinha... Coloque a sua mediunidade para funcionar.
— A sua fisionomia não me é estranha...
— - Ora, Domingas! - aparteou D. Geralda. — É a “tia” Nair...
— D. Nair Dorça, do “A Caminho da Luz”?!
— Ainda, como você, minha filha, em carne e osso, literalmente.
— Que alegria! - disse, levantando-me do banco para abraçá-la.
— Soube que você tinha chegado e vim lhe dar boas-vindas, em meu nome e no de muita gente nossa, que, aos poucos, você reencontrará.
— “Tia” Nair, morrer assim é muito bom; é quase como estar no Céu...
— Mas não se iluda, não estamos. Aqui, é apenas a outra metade da laranja ou, se preferir...
— ...da jaca!
— Isto mesmo.
— Quem foi que lhe deu a notícia de meu passamento? - indaguei. — Credo! como as novidades se espalham...
— “Credo”! Um termo bem humano. Gostei.
— Fomos informados antes que você estava prestes a deixar a carcaça e ficamos na torcida...
— Para que eu me recuperasse, não é?
— Não, para que viesse logo! Depois de certa idade, Domingas, a gente começa a marcar passo; o negócio é começar de novo...
— Começar de novo, trabalhando com mais proveito - falou outra irmã, vindo se juntar ao nosso pequeno grupo.— A senhora?... - questionei reticente, francamente incapaz de identificá-la.
— A senhora, não, você! Horizonta Lemos, ao seu dispor.
— D. Horizonta! Não é possível!
— Dona, eu?! Mais jovem que você?!...
— Como vocês estão todas bem e eu neste estado: gorda, feia e, alguns meses antes, careca - a quimioterapia derrubou os meus cabelos!
— O corpo de carne é uma tapera que vai ruindo devagar...
— Vocês se organizaram em algum grupo? Quero participar... Posso? Estão estudando a Doutrina, trabalhando?
— Estudando e trabalhando como nunca - elucidou “tia” Nair -, tentando esquecer o que fomos...
— Para quê? Esquecer o que fomos?
— Para não ficarmos na suposição de que fizemos algo...
— O pessoal nos cultua, os nossos amigos e, às vezes, até os nossos familiares - cultuam a nossa memória, o nosso esforço insignificante... Ora, o que foi que fiz? - questionou D. Horizonta. Nada! Construir uma casa espírita? Reunir pedras e tijolos?... Fazer sopa na periferia?... Sinceramente, estou empenhada em esquecer
que fui Horizonta!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:29 am

— Interessante.
— A gente precisa se identificar, mas...
— A trajectória que, neste sentido, precisamos imitar - comentou “tia” Nair - é mesmo a do nosso Chico Xavier: de Francisco, passou a Chico; de Chico, a “cisco” e, de “cisco”, virou luz!
— Por onde será que anda? - perguntei.
— Por aí, minha filha, por aí.
— Vocês já o viram?
— Nós, ainda não; outros, sim.
— Ah, eu queria vê-lo!...
— Quem sabe, não é? De repente, a luz pode se tangibilizar...
— Antes de vocês chegarem, estava conversando com D. Geralda do Capitão Sabino, tentando entender...
Não sei, à medida que o tempo vai passando, a experiência que vivenciei na Terra, embora recente... Não tenho palavras para explicar. De repente, eu não quero ficar pensando... Penso em tudo, menos no trabalho, é claro, com certa indiferença. Meu Deus, como nos prendemos ao transitório! Eu não sei como pode haver espírito que fica retido, preso a posses e sensações efémeras!...
Enquanto no corpo...
— A gente não quer morrer de jeito nenhum! - completou D. Horizonta.
— É, mas, depois de morrer, acha que deveria ter morrido há mais tempo!
— Não é o que todos pensam, Domingas - apressou-se em esclarecer “tia” Nair a impressão que você retrata demonstra já um certo grau de amadurecimento do espírito, na gradativa independência que vem conquistando sobre a matéria. Compreenda, não estamos nos colocando, em relação aos demais, nos colocando - repito - numa condição superior; não fosse o Espiritismo em nossas vidas!...
— Nem fale, Nair! - atalhou Dona Geralda, que acompanhara o nosso diálogo em silêncio. Não fosse o conhecimento da Doutrina, meu Deus!, eu estaria na mediocridade, ou melhor, na mais completa mediocridade.
— Quanto a mim - concordei -, seria uma louca correndo pelas ruas...
— O Espiritismo nos coloca nos trilhos da evolução - observou D. Horizonta com ele, a gente começa a crescer...
— Existe companheiro que afirma que ser espírita é uma condição de merecimento...
— Merecimento, não; necessidade, sim - redarguiu “tia” Nair. Para mim, conhecer a Doutrina foi como nascer de novo na própria existência física!
— O Espiritismo nos acorda, não é? Sinceramente, eu não consigo enxergar o meu passado - é como se ele não existisse ou não valesse a pena existir. Estou começando a viver agora...
— Muito bem, Domingas - falou D. Geralda -, você se expressou com clareza. Tenho a impressão de que o meu parto espiritual foi realizado pela Doutrina...
Espiritualmente, nasci na minha derradeira encarnação!
Todavia...
A querida irmã, de mãos cruzadas sobre o colo, suspirou fundo e, de semblante anuviado, completou:
— ...sinto que estou perdendo tempo; mesmo assim, estou perdendo tempo! Eu preciso me animar, entregando o meu pessoal um pouco mais à Divina Providência; ainda me preocupo muito... Tenho pena deles!
— Ora, Geralda! - comentou “tia” Nair -, se continuar assim, de coração preso, não demora você estará reencarnando. Não é momento disto; as coisas precisam melhorar um pouco, pois, caso contrário, voltará quase para a mesma situação... Desapegue-se! Os filhos, netos e familiares outros são de Deus e não nossos.
— A “tia” Nair tem razão, Dona Geralda - disse, tentando confortar a querida irmã, a quem considerava por minha própria mãe. Os nossos Instrutores esclarecem que a saudade e a tristeza, em relação aos que deixamos no mundo, quando excessivas, fazem precipitar o regresso do espírito à experiência física.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:30 am

A senhora, todos somos testemunhas disto, cumpriu, e muito bem, o seu papel de esposa, de mãe, de avó. Deu a sua cota; agora, é com eles, que precisam aprender a se virar...
— O que vocês me aconselham, para não continuar com a sensação de que estou perdendo tempo?
— Geralda, minha irmã - esclareceu “tia” Nair essa sensação é de todos nós: por mais façamos, sempre estaremos aquém de nossas possibilidades... O integral aproveitamento do tempo é conquista dificílima. Dias atrás, conversando a respeito com o nosso caro Dr. Inácio, ele nos disse: — “Mantenhamo-nos em actividade produtiva, sempre procurando um modo de sermos úteis aos semelhantes; o segredo é não paralisarmos as mãos, ainda que seja costurando ou varrendo...”
— D. Domingas - chamou-me, discretamente, Afrânio, o fisioterapeuta -, peçamos licença às nossas irmãs... Precisamos seguir.
—Vamos nos reunir - convidei-as -, como fazíamos, para o culto do Evangelho... Que tal?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:30 am

16 - 0 Caso Benvindo
— Será óptimo, Domingas! - alegrou-se D. Geralda.
— Outros poderão participar connosco - acrescentei.
— Creio que o Dr. Inácio nos cederá uma sala... Poderemos nos reunir uma vez por semana, não só reflectindo sobre as lições do Evangelho, quanto conversando em torno das experiências que temos vivenciado, no corpo e, agora, fora dele.
— Excelente ideia - aprovou “tia” Nair. — Você já chegou querendo movimentar as coisas, não é?
— Vejam bem, não estou querendo coordenar nada...
— Não, não foi o que eu quis dizer; estou admirada de seu dinamismo e disposição para o trabalho... Que falta você deve estar fazendo aos nossos irmãos encarnados! O seu entusiasmo é contagiante.
— Eu não sei fazer outra coisa, “tia” Nair. Não sei ser mãe, esposa, não sei cozinhar, não sei mexer com dinheiro, não tenho nenhuma vocação artística... A única coisa que aprendi a ser, mais ou menos, foi ser espírita e médium! Se, um dia, tiver que reencarnar para ser mãe ou pai, vai ser um problema. O Abel está me rodeando de novo, mas... O Espiritismo é a minha praia! Eu gosto é de reunião, espírito comunicando-se, dar passes em doentes...
E disto que gosto! Vivendo assim, estou feliz, não quero mais nada.
— D. Domingas, vamos - foi a vez de Celina insistir comigo.
— Apareçam! Tragam mais gente!
Despedimo-nos e, assim que me vi a sós com os fisioterapeutas que me acompanhavam naquele passeio matinal, perguntei:
— Vocês acham que estou com a cabeça afectada?
Sempre me achei um pouco exagerada... Do que mais me chamavam era “fanática” e “obsedada” - gente que se dizia espírita!
— A senhora...
—Desculpem-me: estou, confesso, deslumbrada com tudo! A vida depois da morte é muito mais interessante que eu imaginava: nada de espírito voando, de corpo espiritual diáfano (eis aqui outra palavrinha que eu nunca sequer soube pronunciar!), de construções suspensas...
Certa vez, um espírito escreveu lá no “Pedro e Paulo” que, para ele, o fenómeno da morte era como entrar numa casa pela porta dos fundos e sair pela porta da frente, ou vice-versa: a uns conduz ao jardim, a outros, ao quintal!...
— A senhora vai acabar nos doutrinando - gracejou Affânio.
— Eu?! Imagine!... Não tenho a intenção disto, não.
Se vocês estão aqui, são espíritos e ainda não se convenceram da realidade, longe de mim qualquer pretensão. Aliás, sinceramente, eu não entendo...
— O quê, D. Domingas? - inquiriu-me Celina.
— Vocês não acreditarem na Reencarnação!
Perdoem-me a franqueza. Dois jovens inteligentes... Não sei o que se passa. Sabem que morreram, que não encontraram o Céu...
— E, graças a Deus, nem o Inferno! - apressou-se Afrânio em dizer.
— Como explicam isto tudo? Estão aqui, formam um casal, um lindo casal, estão trabalhando... Afinal, como entendem a Vida? Quais são as suas perspectivas em relação ao futuro?
—A senhora mesma - alegou o fisioterapeuta -, que se confessa espírita...
— Lidei com espíritos a vida inteira!
— Pois é, ainda há pouco vacilava em aceitar os fatos que considera coerentes com a própria crença. A Reencarnação é uma ideia interessante, mas difícil de assimilar...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:30 am

— É uma lógica absurda! - interveio Celina. — O Afrânio, conforme disse, é simpático ao Espiritismo e eu também sou. Admiro os espíritas e tudo mais, porém ainda não dei conta de aceitar a Doutrina plenamente, mesmo porque eu não gostaria de voltar à Terra.
—Desconfio que o Espiritismo esteja com a Verdade, se não toda, pelo menos com boa parte dela...
— Vocês me baratinam a cabeça - falei sem rodeios.
— Trabalham numa instituição espírita...
— Isto não quer dizer nada, D. Domingas. A contradição parece ser da natureza humana... O Dr. Inácio Ferreira, em suas prelecções aos internos, vive dizendo que, na condição de espíritas e médiuns que muitos são, eles precisam ter mais fé.
— Hum!... Este é um ponto para análise, sobre o qual precisamos obter melhores respostas. Não estou satisfeita. Se vocês dois estivessem vagando nas trevas, ainda vá lá, mas não: estão aqui...
Não caminhamos muito e me deparei com um companheiro de lides espíritas de Uberaba, que mal me reconheceu, sendo que nos encontrávamos com relativa frequência.
— Benvindo (o nome é fictício, de vez que não me convém identificá-lo), como está? - perguntei, estranhando a sua alienação.
— Você é a...?
— Domingas! Não me reconhece?
—Ah, sim! Me lembro... Você desencarnou? Eu não sabia - falou dispersivo, olhando de um lado para outro.
— Desencarnei! Não estou aqui desdobrada, não..
— Acho que nem eu.
— Benvindo, o que está havendo? Recebeu alguma pancada na cabeça que lhe causou amnésia?
— Hem?...
— Meu Deus!
— Eu preciso ir, depois a gente se fala mais. Até logo! - despediu-se, deixando-me sem reacção.
— Não se aflija, minha irmã - disse o Sr. Manoel Roberto da Silva, vindo ao meu encontro.
— Ele...
— Há muita gente assim por aqui.
— Nós nos conhecemos bem; ele não saía das reuniões lítero-músico-doutrinárias da “União”, aos últimos sábados. Agiu como se nada tivesse acontecido. Estou impressionada!
— O Dr. Inácio nos diz que o problema não é tão raro quanto supomos.
— Qual é a explicação? Estou pasma... Ele me parecia uma pessoa normal.
— Aí é que está: no corpo, a gente aparenta muita coisa que não é.
— Como pode? Benvindo...
— O corpo de carne, Domingas, pelas naturais limitações dos sentidos, nos protege de nós mesmos.
Reencarnamos para colocar ordem em nossa casa mental.
— Compreendo, mas...
— Quando não conseguimos satisfatório equilíbrio das emoções e dos pensamentos, nos vemos, deste Outro Lado, sem autocontrole. Há considerável diferença entre se conduzir um velocípede e um automóvel, você não acha?
— O corpo físico?...
— Podemos, grosseiramente, compará-lo a um velocípede; crianças que ainda somos, não temos maior problema para lidar com ele...
— O corpo da ressurreição, ou seja, o corpo espiritual?...
— É um automóvel com painel electrónico de última geração.
— Em Benvindo?...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:30 am

— A interacção mente-cérebro não está funcionando bem.
— É uma patologia mental?
— Não propriamente. Por este motivo, muitos não se ajustam à realidade espiritual: têm cérebro pronto para viverem na Terra, mas não nas Dimensões da Vida além da morte...
— O que é? - quis saber. — Falta de maturação psíquica? Benvindo era mais ou menos assíduo às reuniões...
— Isto, você sabe, não quer dizer nada. Em certos espíritos, quanto maior o seu distanciamento do corpo somático, maior a alienação.
— Está clareando um pouco.
— O Dr. Inácio poderá lhe explicar melhor.
Olhei para Afrânio e Celina, reflecti sobre a minha própria situação de recém-desencarnada e fiquei pensando:
—“Meu Deus, que pobreza a nossa! Que atraso!... Quando encarnados, não temos cabeça para a Vida Espiritual, e, uma vez desencarnados, continuamos a não ter... A imperfeição é mesmo uma insanidade!”
— Em nossa actual condição evolutiva - esmerou-se Manoel Roberto em elucidar a grave questão que examinávamos -, a vida no corpo de carne é um estado mais consentâneo com a nossa realidade intrínseca.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:31 am

17- 0 Espírito é Tudo!
— Em “O Livro dos Espíritos” - argumentei na questão 85, “Qual dos dois - o mundo espírita ou o mundo corpóreo é o principal na ordem das coisas?”, Kardec obteve a seguinte resposta: “O mundo espírita; ele preexiste e sobrevive a tudo”.
— Correto, Domingas, a vida do espírito em contacto com a matéria densa é antinatural, não obstante, indispensável ao seu despertar. Enquanto o mais ténue invólucro revestir o espírito...
— A nossa vida aqui, no Além?...
— Ainda é antinatural, embora, convenhamos, mais compatível com a nossa natureza íntima. O Dr. Inácio costuma dizer que a mente constrói o cérebro, que, por sua vez, enseja a sua própria expansão.
— O cérebro humano?
— Está em evolução e há de se tomar cada vez mais complexo; a tendência é que o corpo, por um processo de selecção natural, vá perdendo os seus apêndices, ou implementos.
— Os Espíritos Superiores?
— Você citou “O Livro dos Espíritos”. Pois bem.
Vejamos a questão 88: “Os Espíritos têm uma forma determinada, circunscrita e constante?” Resposta: “Aos vossos olhos, não; aos nossos, sim. Eles são, se o quiserdes, uma flama, um clarão ou uma centelha etérea.” Adiante, respondendo à pergunta de número 249-a: “A faculdade de ouvir, como a de ver, está em todo o seu ser (espírito)?”, os Mentores esclareceram: “Todas as percepções são atributos do espírito e fazem parte do seu ser; quando ele se reveste de um corpo material, elas não se manifestam senão pelos meios orgânicos; mas, no estado de liberdade, não estão mais localizadas”.
— “Não estão mais localizadas” - repeti, com ênfase.
— Temos muito a caminhar, deixando, à feição das naves que os homens lançam ao espaço, módulos para trás, reduzindo-nos à cápsula original.
—Módulos para trás significa: pernas, braços, órgãos que perdem a função...
— Quanto mais leveza, mais nos aproximaremos de nosso Centro Gravitacional!
— Deus!...
— Exactamente.
— Sr. Manoel, você se importa de eu tentar compreender um pouco melhor? Benvindo...
— Com variações, Domingas, ele é um caso relativamente comum.
— Sr. Manoel - atalhou Afrânio, que acompanhava o diálogo com interesse permita-me. O meu caso e o de Celina...?
— Meu irmão, comparemo-nos a sementes lançadas sobre extensa gleba... Potencialmente, todas são iguais, no entanto, cada qual germinará a seu tempo.
— A seu tempo, quer dizer? - tornou o jovem fisioterapeuta.
— Segundo o seu posicionamento ao, por exemplo, receber a luminosidade do Sol, a maior ou menor fertilidade do trato de chão em que, finalmente, se enraíza, as benesses da chuva - resumindo, as circunstâncias que aceleram ou retardam a sua eclosão.
Fazendo uma pausa, aduziu:
—E o mais importante, é óbvio: a resposta da semente aos estímulos naturais que receba!
— “Estímulos naturais”? - perguntei.
— A força das coisas ou à acção conjunta das Leis que regem os princípios da Vida no Universo.
— Circunstâncias que aceleram ou retardam a eclosão da semente... Não há favorecimento a uma, em detrimento de outra?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 12, 2024 11:31 am

—A Lei de Compensação se encarrega, digamos, de reparar possíveis “prejuízos” causados pelas circunstâncias. A Justiça é indefectível. No tempo, todos são favorecidos exactamente pelas mesmas oportunidades...
— O assunto transcende! - exclamei, novamente admirada da palavra que, quando encarnada, algumas vezes eu pronunciava sem atinar com o seu significado. — Precisamos estudar um pouco mais...
— Estudar e reflectir, minha irmã!
— 0 que acontecerá com Benvindo? - perguntei, penalizada.
— Logo, ele será encaminhado a novo estágio reencarnatório. Temos equipes que seleccionam casos e procuram localizar com maior proveito espíritos na carne...
— Por favor, Sr. Manoel, explique melhor.
— Não temos técnicos em quantidade suficiente para cuidar do encaminhamento de todos; por aqui, igualmente, a seara é grande e poucos os seareiros... O hospital conta com um grupo que vem se dedicando, com a supervisão do Alto, a promover reencarnações de “qualidade”...
— De “qualidade”?...
— Força de expressão, Domingas, já que, a rigor, toda experiência no corpo físico é abençoada ensancha de aprendizado. Benvindo tem demonstrado interesse em crescer, e, por este motivo, muito provavelmente reencarnará na condição de filho de pais que algo possam lhe acrescentar, inclusive geneticamente.
— Complicou - comentei com espontaneidade. — O cérebro espiritual não é a matriz do cérebro físico? Ou, por outra, o corpo não é uma construção do espírito?
— Em linhas gerais, sim, todavia nem sempre o espírito consegue se impor à matéria.
— Não sei se vou entender...
— E nem eu, se vou conseguir explicar a contento.
Vejamos: existem espíritos que se constrangem a reencarnações dolorosas, do ponto de vista físico - renascem com limitações, com o cérebro danificado... A culpa, consciente ou inconsciente, age, de maneira determinante, sobre as leis biológicas; trata-se de um reajuste transitório...
— Nem sempre - falei - filhos de pais inteligentes são inteligentes.
— O carma é predominante, o mérito, a necessidade...
— Benvindo...
— Carece de uma instrumentação física que lhe favoreça o aprendizado: um cérebro em condições de ser mais bem utilizado, notadamente no campo da memória...
— Um atleta?...
—Reencarnará, de preferência, descendendo de uma família que, ao longo das vidas sucessivas, vem cuidando dos reflexos, do desenvolvimento motor, da explosão muscular...
— Um músico...?
— É a mesma coisa.
— Um médium...?
— Também.
— Todavia o espírito de vontade firme poderá se impor sobre possíveis adversidades genéticas?
— Sem dúvida. O espírito é tudo!
— Eu - observei, quase em tom de lamento - não fui muito favorecida fisicamente, não: um corpo desengonçado, obesa, memória falha, dificuldade para me fixar nos estudos...
—Às vezes, Domingas, a Lei nos protege de maneira diferente, não é? Já imaginou se tivesse tido um corpo de modelo?...
— Um desastre!
— Ou fosse muito inteligente?...
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