LUZ ESPÍRITA
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JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:18 am

Artistas são também convocados para tais reuniões, no Além, e são instruídos quanto à importância da arte, como um dos elementos mais preponderantes no progresso do espírito.
— Mas de que adianta, se a gente, dormindo, vai para outros planos e entra em contacto com excelsos mestres da espiritualidade?
Quando a gente acorda, engole depressa o café com leite e sai em disparada, não se lembrando de mais nada — obtemperou Nilo Raldi, empresário muito dinâmico, mas inclinado a disciplinas espirituais.
— Nem tanto ao céu, nem tanto à Terra — objectou Tonas C. calmamente — pois as ideias que, no Além, foram lançadas ficam bem lá dentro do inconsciente e que, no momento aprazado, como ocorre com uma semente oculta, num montículo de terra, germina e se transforma em árvore frondosa.
Quantas vezes, não levantamos com propósitos renovados.
Às vezes, um negociante retrógrado, para surpresa de todos, passa a auxiliar o humilde empregado, manda construir uma casinhola para a velha e sacrificada empregada doméstica e toma atitudes liberais que ninguém esperava e isto, em consequência, do que ouviu e viu fora da matéria.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Que é desdobramento?
— Ê a faculdade que certas pessoas têm de se projectarem fora do corpo físico.
É conhecido pelo nome de bicorporeidade, projecção do corpo astral ou “out-of-the- body”, expressão inglesa que quer dizer: “fora do corpo”.
Todos nós nos desdobramos, principalmente quando dormimos, mas só algumas pessoas se lembram de onde estiveram e o que viram, durante o estado de sono induzido (provocado) ou espontâneo.
Hamilton Prado, grande advogado paulista, deputado e líder partidário na Câmara Federal, tinha este dom e nos revela os seus estranhos passeios, o encontro com espíritos, a visita a planos espirituais, enquanto o seu corpo carnal dormia!
Hoje, os fenómenos de desdobramento estão sendo os mais pesquisados pela Parapsicologia, no sector reservado à Psi-Theta, investigação esta ligada à sobrevivência do espírito.
O médico Raymond A. Moody Jr. fez um estudo brilhante das pessoas que foram clinicamente dadas como mortas, nos hospitais e que voltaram à vida.
Elas revelaram a existência real de uma vida após esta vida, coincidindo com os ensinos da Doutrina Espírita.
Leiam o livro “Life After Life” desse médico, Raymond A. Moody Jr., traduzido em nosso idioma com o título “Vida após Vida”.
Pode o espírito de uma pessoa viva aparecer a outrem?
— Perfeitamente e isto é comum, principalmente quando a pessoa está muito doente ou preocupada com outra.
No caso de moribundos isto se dá amiúde, pois os laços que prendem o espírito à carne se afrouxam e a alma sai fora do corpo e pode buscar pessoas queridas para avisá-las.
Célebre é o caso do cap. Roberto Bruce.
Ele navegava perto da Terra Nova, quando viu um misterioso cidadão escrevendo na sua escrivaninha.
Procurou aproximar-se e o cidadão desapareceu como um fantasma, mas deixou um bilhete: “Navegue para Noroeste”.
Seguindo, o capitão, aquela nova rota, descobriu o navio Québec naufragado e os sobreviventes se debatendo nas ondas.
Recolheu-os todos, um daqueles náufragos recolhidos a bordo era idêntico ao fantasma que lhe havia deixado o bilhete na escrivaninha.
O Capitão Bruce mandou que o cidadão escrevesse num papel as mesmas palavras do fantasma.
Conferiu a caligrafia: era igualzinha!
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:18 am

Por que, dormindo, se dão casos extraordinários de percepção ou actuação extra-sensorial?
— Justamente porque o espírito sai fora da caixa corpórea e o homem cresce em sua dimensão psi, passando a ver, ouvir e sentir de maneira mais extensa e perfeita.
Notem que grandes descobertas científicas, como a do cientista Friedrich August Kakulé, no tocante à molécula de benzeno, se dão em virtude de sonhos.
Outrossim, grandes vaticínios, profecias, precognições de toda sorte, vêm ao homem através de sonhos.
Conforme o tipo de sono, o homem passa a viver, em parte, espiritualmente (ou melhor espiriticamente), libertando-se das leis físicas, químicas, biológicas é até do próprio espaço-tempo.
Fora deste nosso estreito espaço-tempo, que é muito relativo, dado pelo nosso relógio, ei-lo adivinhando ou prognosticando acontecimentos futuros.
Não lhes parece estranho que um homem, dormindo, possa muitas vezes, ver, ouvir, conhecer, resolver problemas, com mais facilidade do que outro acordado?
Importa, pois, compreender que aquele humilde jardineiro, João dos Anzóis, é muito maior como indivíduo espiritual, do que se nos apresenta nesta existência.
Poderá ele ter sonhos contínuos de que leva vida faustosa, num Palácio, cujos detalhes deixam transparecer que realmente já viveu aquela vida.
Para uma análise completa do sonho, faz-se mister que os psicólogos e psiquiatras aceitem aquilo que o Espiritismo ensina:
a reencarnação e o mundo dos espíritos, bem como as complexas influenciações entre os encarnados e os desencarnados.
Remetemos o aluno para o nosso livro “Os Mortos Acordam os Vivos”, capítulo 7 — “Os sábios também sonham”.

1 (*) Recomendamos a leitura da obra “Freud e as manifestações da alma*, de Carlos Imbassahy — Editora Eco
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:18 am

Capítulo V - NASCER É MATERIALIZAR-SE
Jonas C. tinha pedido a Fer que bancasse o operador e, desta forma, projectasse para a turminha à qual ele chamava carinhosamente de Patota — umas fotos coloridas, de autoria do célebre fotógrafo Lennart Nilsson e outras, todas referentes à formação da criança no útero materno.
As garotas e os rapazes ficaram de olhos grudados na tela.
Lá estava registado um dos acontecimentos mais empolgantes da vida:
o aparecimento do homem, na face da Terra.
Espectacular a maneira de o homem nascer.
Na primeira foto, a fecundação do ovo pelo espermatozóide.
O ovo parecia uma bexiga cheiinha de ar, leve e transparente.
Seguia-se de massa amorfa, a formação do ser ainda em embrião.
Depois de 32 dias, o ser humano era um pontinho indefinido, que ninguém diria ser possível tornar-se um homem.
Ei-lo, então, assemelhando- se a um peixinho, em possível repetição filogenética até atingir feições simiescas e, logo mais, necessitado de carinho e calor, enrolado sobre si mesmo, mas todo enrugadinho.
Prontinho, um feto! Ninguém diria que aquele projecto dê gente poderia vir a ser um Hitler furioso ou um Gandhi pacífico, um imbecil Chico Tonto ou um genial Einstein!
— Creio que vocês prestaram bem atenção nas imagens.
O ser humano não é algo que já aparece pronto e acabado.
Ele vai se materializando.
Uma força delicada, inteligente e cheia de vontade vai trabalhando esse material protoplásmico até que o converta em neném pronto e acabado para ser expelido do útero.
O médico obstetra recebê-lo-á e os pais sorrirão embevecidos:
“carne da minha carne”.
Deu-se o milagre de amor.
Para o bebé nascer, a natureza, dirigida pela Inteligência Criadora, cercou esse serzinho, tão frágil e inerme, de mil e um instrumentos eficientes de defesa; inclusive colocou-o dentro de um saco de placenta, cheio de água tépida, para amortecer-lhe os choques.
Jonas C. assim falou meio eufórico, o que sempre ocorria quando observava a natureza e desta partia para uma reverência ao Criador.
“Por que razão — costumava dizer — o homem tirou Deus da natureza e o colocou na gaiola de um altar, tornando-o inerte?
Não seria melhor que acostumássemos as criancinhas a descobrirem o amor, a inteligência e a beleza do Pai na delicadeza da folha de uma avença, no exuberante colorido da petúnia?
A gaivota, voando na amplidão serenamente ou o peixe cindindo as águas, não lhes diriam mais que o avião e o submarino?
Importava infundir na criança essa reverência e, depois, até mesmo um certo orgulho, de modo que a criança dissesse:
“Tenho muito orgulho do meu Pai-Criador.
Se ele me faz tanta coisa, por certo, não me desamparará.”
Jonas C. ali estava, na frente dos seus discípulos, naturalmente limitado pela própria limitação espiritual deles.
Por isso, com esforço voltou ao tema:
— Nascer, pois, é materializar-se.
O homem carnal é um espírito que se materializa de forma definitiva.
Não definitiva, para sempre, mas para um tempo existencial necessário de 60 a 80 anos.
Somos, na verdade fantasmas materializados com os elementos simples do planeta Terra:
cálcio, iodo, ferro, chumbo, fósforo, etc.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:20 am

Por isso, o Dr. Gustavo Geley, observou com exactidão:
“A reencarnação não passa de uma materialização normal, completa, lenta e durável.
Para realizá-la, a força espiritual vai buscar os elementos essenciais do seu corpo ao germe orgânico fecundado: depois, por assimilação, aos produtos de nutrição, aos elementos colhidos exteriormente, mas quase exclusivamente na matéria suficientemente evolucionada dos vegetais e dos animais”.
Rosana, jovem muito meiga e delicada, começou a demonstrar inquietação.
Eles sentavam-se como queriam, nas cadeiras, poltronas ou no chão, em posição de ioga ou simplesmente encostados na parede, mas ela demonstrava não estar bem em posição alguma.
— Que é que há Rosana? — indagou Jonas C.
— Sabe, Jonas, eu não sei o que vem a ser materialização.
Se você fala que nascer é materializar-se, eu fico na mesma...
— Você tem razão.
Acontece que coloquei o carro na frente dos bois.
Mas vamos lá... Fer, passe outra série de “slides”, relativos a uma sessão de materialização.
Apagaram-se as luzes e, na tela, apareceu uma imagem branca, leitosa, algo indefinível que parecia, assim, uma clara de ovo meio cozida.
— Que é isso? perguntou Rosana.
— É o que conhecemos pelo nome de ectoplasma.
É matéria fluídica exsudada pelos médiuns de efeito físico.
Estes médiuns tem essa faculdade prodigiosa, semelhante à aranha que tira de si mesma os delicadíssimos fios com que fabrica a sua teia.
Nós suamos suor aquoso.
Eles, em condições especiais, geralmente, de transe, expelem esse material ainda desconhecido da ciência convencional, embora já tenha sido muito pesquisado por notoriedades científicas.
O próprio nome ectoplasma foi introduzido por Charles Richet, Prémio Nobel de Fisiologia.
Portanto, não se trata de invencionice ou “superstição” espírita.
— Certo, — obtemperou Fer, que andava mergulhado em estudos de biologia — mas nos compêndios escolares não há referência à tal ectoplasmia, mas sim, à de outro tipo.
— Você tem razão, no entanto, esse ectoplasma espirítico tem existência real.
Muitos cientistas já o pesaram e o fotografaram.
Eu citaria, de raspão, o grande cientista inglês William Crookes, que descobriu a matéria radiante; W, Crawford, da Universidade de Belfast, que o mediu de todas as formas, pois era professor de Mecânica, enquanto que Schrenck-Notzing, Mme Disson e Lebiedzinkski mandaram até fazer análise rigorosa desse estranho material.
O problema é que o ectoplasma se desvanece.
Mormente tem horror à luz e se desfaz instantaneamente quando o iluminamos, a não ser que os operadores espirituais o preparem, para tal fim experimental.
Ele se desfaz quando desejamos colocá-lo num recipiente, deixando nele apenas resíduos.
E a ciência — caro Fer — não está para isso.
Ela não se aplica a nada que apareça e desapareça ou que possa estar aqui e possa não estar na hora aprazada.
A ciência, assim, terá de permanecer sempre no nível mais congelado do Universo, na matéria palpável.
Mas, acredite Fer, que, além dessa matéria inorgânica e orgânica que você, na Faculdade, examina com o microscópio, existem miríades de outras no imenso universo.
É verdade que, através de aparelhos em infravermelho já conseguimos observar, no escuro, a formação do ectoplasma, mas, mesmo assim, o cientista se esquiva, agindo como os professores universitários que não queriam olhar no telescópio de Galileu, receosos de se tornarem hereges.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:20 am

Fer, que se preparava para ser médico, muito apegado a Jonas C., sabia que aquele final discursivo se destinava a todo estudante de medicina.
Jonas C. não cansava de dizer que o médico era o profissional mais condicionado, pelos seus estudos, a negar o espiritualismo concretista, o facto espírita, o espírito real e tangível, porque mergulhava a cabeça nas tripas e acabava com uma cosmovisão “tripina”.
— Será que isso poderá me acontecer? - disse Alzira que já cursava a Faculdade e que, também, era profundamente interessada na Doutrina Espírita e em tudo que proporcionasse uma visão mais ampla do ser.
Confessava-nos:
“O que tenho, na minha vida juvenil de mais precioso é esta convicção espiritual.
Achei-a, aqui, com você, Jonas C., nesta casa, em contacto com as entidades espirituais.
Se é para perder todo esse maravilhoso achado que nos dá força, resolução e paz, mesmo nas tempestades, não sei se vale a pena formar-me médica! ”
Jonas C. adorava a jovem Alzira.
Abraçou-a tema- mente e beijou-lhe os cabelos.
Era uma alma de escol, coração puro e sincero.
Consolou-a:
— Você tem razão, Alzira.
De que vale ter acumulado um mundo de nomes difíceis e dissecado o cadáver se, através desse método analítico, vocês caminham em sentido contrário à realidade do ser, que é um todo?
Como uma formiga poderia falar do homem, se a sua Universidade Formiguenta se colocasse na unha do homem e se pusesse, ali, a analisá-la, sem sair do dedão?
Assim, vocês médicos com tal método nunca poderão saber do Espírito que está na razão de ser de tudo!
Mas, eu falo para vocês, apenas como advertência, para que fujam a tal hipnose.
Conheçam os fenómenos físicos e utilizem as suas leis para o bem da humanidade.
Isto é muito nobre e belo, mas... conservem a mente elevada para perceber a existência de um mundo maior.
— Hipnose? Que tem a ver nosso estudo com a hipnose?
— Não são só vocês os hipnotizados, mas a maioria dos homens.
Muitos hipnólogos de circo fazem um homem fixar a vista num objecto reluzente e, por meio de cargas sugestivas, levam o paciente ao transe hipnótico e este fica dominado completamente, sem mais capacidade para ver por si mesmo!
Assim, as disciplinas, os professores catedráticos, os livros bem escritos, as experiências, o meio ambiente doutoral e a sociedade em geral, podem criar um condicionamento e vocês não verão nada mais além do que aquilo que “eles” viram!
No entanto, a Medicina tem heróis que se conservam acordados, voltados para o invisível!
— Vejam esta foto aqui! — disse Jonas C. — continuando a projecção de “slides”.
— Gozado! — exclamou Marco Polo — parece algodão!
— Você tem razão.
Nas fotos, o ectoplasma, saindo pelo orifício nasal e pelo ouvido, parece gaze.
Tanto é assim que, certa ocasião, o repórter de uma revista, desejando agredir o Espiritismo a fim de demonstrar pretensa fraude muna sessão de materialização, publicou uma foto destas dizendo:
“a médium escondeu metros de tecidos no nariz e no ouvido, com os quais, depois, se fantasiou de fantasma...”
Todos deram risada da mancada do repórter.
— Olhem esta foto seguinte!
Ouviu-se o barulho do automático do projector e, na tela, aquela nuvem ectoplásmica branca, havia se transformado num rosto de mulher muito mal esculpido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:31 am

A impressão era de que tivessem querido fazer uma estátua com neblina compacta.
— Vocês notam que existe, atrás disso tudo, uma criatura pensante que está tentando esculpir-se em ectoplasma!
Mas esse ser, naturalmente um espírito, está lidando com material muito instável, movediço e excessivamente plástico, daí a dificuldade.
Ê como se déssemos mingau de gesso para um escultor célebre fazer uma Vénus de Milo...
Passemos à chapa seguinte.
— Maravilhoso! exclamou Soninha Cabral.
E todos concordaram.
Aquele debuxo se convertera como num passe de mágica, em linda mulher.
Uma mulher de outro mundo!
Os espíritos materializados, como essa moça, se movem? — redarguiu Soninha.
— Depende da maior ou menor perfeição da materialização.
Quando a materialização é perfeita, o espírito se apresenta como uma pessoa.
Pode estender-nos a mão, cumprimentar-nos, locomover-se na sala e até falar.
A jovem dessa foto chamava-se Ana Flora.
Havia falecido em pleno viço da adolescência, no Rio de Janeiro.
Ana Flora materializou-se, conversou com a mãe, trouxe-lhe flores, derramou-lhe perfume e a beijou.
— Eu gostaria muito de ver uma sessão de materialização — disse Fer.
— Eu, também.
— Eu não... nessa não... — disse Mirtha Gradeia — com gesto de que desejava ver isto de longe.
É no escuro? Essa de escuridão... fantasma... branco.
Não vou nessa, não...
Fico arrepiada só de pensar...
Jonas C. parou um pouco.
Achou graça do temor de Mirtha e disse:
— Nem parece mulher feita. Medo do quê?
O escuro infelizmente é uma contingência, pois os fótons destroem o ectoplasma.
Vocês poderiam passar cinema em plena luz solar?
Assim, também, tais efeitos ectoplásmicos, que são chamados de efeitos luminosos.
No entanto, com método e tenacidade, as sessões poderão ser realizadas com luzes especiais ou mesmo naturais, bem fraquinhas.
Eu já assisti a muitas sessões, com claridade óptima.
— O fantasma que você viu — voltou a falar Mirtha — era uma zinha bonita como esta?
— Pelo contrário.
Era um fantasma de dois metros de altura ou mais.
Era todo branco.
O seu rosto era como de escultura feita de gesso, mas não completamente acabada.
Ele me chamou.
Cheguei a ficar frente a frente com ele.
O fantasma me estendeu as mãos e elas pareciam feitas de borracha.
Ele me perguntou se eu tinha levado um disco.
Respondi que sim.
Dei um passo para trás, apanhei o disco de cima da cadeira e entreguei-lhe.
Ele pegou o disco e foi enrolando, como se enrolasse uma folha de cartolina, até fazer um canudo.
Depois devolveu-me.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:32 am

Quando me devolveu o canudo de disco, estava pegando fogo!
Todos nós ouvimos atentos. Jonas C. pediu à Pixoxa para apanhar o disco, que se encontrava na gaveta da estante.
— Podem vocês examinar o disco...
Passou o disco enrolado de mão em mão.
Sem dúvida, era algo para deixar qualquer um de boca aberta.
— Eu não disse que com estas coisas não se brinca? - resmungou Mirtha.
— Tudo é questão de hábito — acrescentou Jonas C. Geralmente, quando privamos com essas almas de outro mundo, somos tomados de afeição por elas...
— Afeição?! Gostar no duro de uma alma de outro mundo?
— Ê que a humanidade ficou condicionada a temer os espíritos e a palavra “alma de outro mundo” causa impressão de fantasmas, em noite de tempestades, arrastando correntes, pelos castelos medievais.
Mas não é nada disso.
Os espíritos são pessoas como nós.
A nossa falecida mãe é um espírito.
Nosso paizinho e todos aqueles entes queridos que partiram.
Geralmente, são temas, pacientes, conselheiras e bondosas.
Fazem sacrifícios enormes para vir do Além trazer-nos a consolação, o medicamento, a esperança e, sobretudo, dar-nos prova da sobrevivência da alma.
Jonas C. dirigiu-se ao arquivo de aço e começou a remexer num gavetão.
As suas gavetas eram piores que bolsa de mulher.
Ele socava dentro delas tudo quanto era papel, anotação, misturando-os com objectos, lápis, canetas, lascas de madeira e barbante.
Sorrindo, com o acaso feliz, disse:
— Achei! Eu sabia que ia achar... apesar de que nunca acho nada.
Quero que vocês vejam esta fotografia.
Nela estou sendo abraçado pelo espírito materializado de uma mulher falecida que, em vida, foi freira.
A foto andou de mão em mão.
Era incrivelmente perfeita.
Lá estava o prof. Jonas C. bem juntinho com uma jovem mulher do Além.
— Agora vejam esta outra.
Ê a mesma entidade, Irmã Jesualda, cercada de crianças.
. — Puxa vida!
E essas criancinhas não têm medo? — disse Cybele.
— Mostrei-lhes tais fotos, por isto mesmo.
Essas crianças são filhinhos dos directores do Grupo Espírita.
Estão tão acostumadas com tais manifestações e conversam com espíritos, como se fossem gente viva.
Oferecem- lhes flores.
Pedem-lhes a bênção. Sentam-se ao derredor e ouvem histórias contadas pelo espírito.
Quando o espírito é de uma criança, como Japi, indiazinha, tornam-se amiguinhas dela e fazem brincadeiras.
Ana Regina que se encontrava caladona, sempre às voltas com uma mediunidade embotada e que não a desenvolvia, em virtude de reacção instintiva de medo, indagou:
— Por que, então, o homem tem tanto medo de espírito?
Ele pode enfrentar um batalhão de soldados armados, mergulhar e lutar contra um tubarão, mas grite-se:
“olha a alma de outro mundo” e ele sai correndo! um barulhinho, na calada da noite, arrepia a gente.
Mesmo que queiramos racionalizar, reflectir, começamos a tremer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:32 am

— Porque durante séculos e séculos fizeram dos mortos seres demoníacos.
Não há nada que nos infunda mais pavor do que o cemitério, depois de anoitecer.
No entanto, ali estão nossos antepassados queridos aos quais levamos flores.
A nossa psique ficou condicionada.
Os mortos, parecem-nos com figuras patibulares.
No entanto, podem ser formosas como a Ana Flora da materialização que projectamos.
Minha mãe, que faleceu velhinha, numa sessão disse:
“Sabe Jonas, se você me visse agora, não me reconheceria.
Estou jovem e formosa!”
Soninha Cabral que era visceralmente espírita, ensaiando algumas pequenas palestras e escrevendo para jornais, especialmente para a Alavanca, de Campinas, excelente órgão de divulgação espírita, ajuntou:
— Esse medo tolo prejudica muito o congraçamento entre os vivos e nossos mortos queridos.
Às vezes, chega a causar profundo desengano e frustração.
Contou-me, uma entidade, que Libório morreu e deixou a família em prantos, pois que era o mais feliz e querido chefe de família.
Desligado do corpo em virtude do seu merecimento, foi para um lugar muito bom.
Mas, não obstante isso, não estava contente.
Queria rever os seus.
A esposa não lhe saía da cabeça.
Ela devia estar muito saudosa. Haveria de pedir tanto, a Deus, que apareceria para ela e a confortaria.
Diria até: “Meu amor, não te desesperes”.
De facto, o Alto lhe concedeu autorização.
Desceu à Terra. Aproximou-se da sua casa.
O coração parecia querer saltar fora do peito.
A esposa já estava deitada, em sonolência.
Era um momento auspicioso.
Encheu-se de vontade, mentalizou bem e se fez visível.
Olhos esbugalhados, a esposa viu-o.
O cabelo eriçou-se. Saiu em disparada.
Chamou-o de Satanás e mandou-o para os quintos dos infernos.
Apelou para o vigário da paróquia e todos os dias este comparecia, na casa, com o breviário e o hissope a jogar água benta por todos os cantos.
Muitas gotas de água benta se misturavam com as lágrimas de Libório.

Paixão de “Sa” Biluva
Cornélio Pires
João da Mata espichou no boqueirão.
Tirava pau no Morro do Esqueleto
Para o serviço novo do coreto,
Caiu, gritou... Morreu de supetão.

“Sa” Biluva na Roça do Pilão,
Magrela de paixão que nem graveto
Vivia de clamar, toda de preto:
— Quero ver João, meu Deus!
Quero ver João!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:32 am

O Espírito de João, com dó da viúva,
Veio uma noite e disse: — “Sa" Biluva,
Não chore, minha velha! Eu não morri!...

Mas Biluva, assungando a cruz de ferro,
Rebolou no colchão, soltando um berro:
— “Te arrenego, capeta! Sai daqui!...

(Poesia de Cornélio Pires, ditada através de Chico Xavier, da obra “O Espírito de Cornélio Pires” — Editora Feb)

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Que vem a ser médium de efeito físico?
— É o médium que tem a faculdade de propiciar a produção de fenómenos objectivos, que podem ser percebidos pelos nossos sentidos normais, como vozes directas, ecoando no espaço (pneumatofonia); ruídos de toda espécie (raps, poltergeist), movimento de objectos, transporte destes objectos pelo ar e até mesmo através de paredes (aportes), nuvens, sinais luminosos, moldagens em parafina de mãos, pés e flores, fogo paranormal (parapirogenia) e a materialização, propriamente dita, de espíritos ou imagens, etc.
Tais fenómenos foram bem estudados?
— Foram os mais estudados, pois que, entre meados do século passado e parte deste, apareceram médiuns magníficos de efeito físico na Europa, como Florence Cook, Me. D’Esperance, Eusápia Paladino, etc.
Charles Richet, Prémio Nobel de Fisiologia, chegou a pedir ao fantasma materializado de Bien Boa que soprasse num tubo de barita e deu-se uma precipitação química, como ocorreria no caso de um encarnado tê-lo feito. Diz Richet:
“O fantasma possuía todos os atributos de ser vivo, andava, falava, movia-se, respirava, etc.”
Outro cientista famoso foi William Crookes, descobridor dos raios catódicos que, durante muito tempo, conseguiu que o espírito de Katie King, encantadora jovem, se materializasse em seu lar.
Ela ao terminar sua missão, despediu-se, permitindo que lhe tirassem uma madeixa dos seus cabelos e muitas vezes deixou que experimentadores lhe cortassem o vestido, cujo rasgo reconstituía na mesma hora!
Temos ainda o eminente professor de Mecânica de Belfast, W. Crawford que usava para testar o ectoplasma, no Círculo Goligher, electroscópio, dinamómetro, galvanómetro, circuito de pilhas, etc.
No Brasil, o médico Eliezet Magalhães atestou a materialização do espírito de um médico falecido, Dr. Kempler, ou que assim se identificava, tendo-lhe examinado o pulso e as batidas cardíacas.
E descreve o comportamento do fantasma como se fosse um médico de carne e osso.
Era, actualmente, para o mundo não ter mais dúvida da existência do espírito e da sua comunicabilidade.
Que leva a ciência a recalcitrar e não tomar conhecimento oficial desse empolgante facto?
— Primeiramente porque os cientistas temem passar por charlatães ou feiticeiros, caso em que poderiam perder a cátedra, a clientela e aquela honorabilidade resultante do “establishment” vigente nos meios científicos e profissionais.
Colocando isto de lado, a pesquisa no terreno psicobiofísico requer argúcia, tenacidade e paciência infinita, pois, o fenómeno dito de materialização não é repetível à vontade do experimentador e a repetibilidade é um dos pontos básicos da experimentação científica.
Se o cientista reúne dois volumes de hidrogénio e um de oxigénio, dentro de condições prefixadas, ele obterá matematicamente uma molécula de água.
No entanto, esse mesmo cientista, reunindo um médium, debaixo de Luz adequada, cabina de ectoplasmia própria, observação de todas as regras, poderá não produzir nem mesmo um fantasminha!
Acontece simplesmente que o homem não domina o fenómeno espírita, pois que o espírito é livre, pode aparecer ou não aparecer, conseguir ou não conseguir o resultado colimado.
O cientista teria de engendrar outros métodos para descobrir a realidade espírita ou as manifestações em nível de efeito psi, pois, não o fazendo, arrisca-se a ficar frustrado e negar, levianamente, como alguém que desejasse segurar fumaça com as mãos.
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JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia - Página 2 Empty Re: JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:33 am

Capítulo VI - OS ANIMAIS
A turma toda da Patota, a convite dos Luporini, decidira passar o fim de semana na famosa Casa de Pedra, localizada num lugar chamado Riqueza.
Valia a originalidade da paisagem.
Para qualquer direcção que olhássemos, nossa visão ricocheteava nas pedras em profusão, semeadas nas fraldas dos outeiros como se um paisagista inconsequente as houvesse atirado ao léu.
Quando do alpendre da Casa de Pedra, eu olhava aqueles caminhos pedregosos, sumindo entre as rochas, não sei porque me vinha à mente cenas do “far-west” americano e a diligência podia, logo naquela curva, ser assaltada pelos bandidos.
Aladim, nosso tio, figura cuja paciência era superior à de Jó e cuja delicadeza e capacidade de servir pareciam visgo de prender amigos, ali estava connosco e havia prometido levar-nos ao Zoológico Shelton.
De manhãzinha, quando acordamos, ouvindo o que não ouvíamos havia tempo, os galos cantando de quebrada em quebrada, num desafio bucólico, saímos para apanhar a condução.
— A condução é esta — disse Aladim, com um sorriso matreiro nos lábios.
Vocês estão pensando que vão sempre andar de Gálaxie.
Por estas estradas cheias de pedra, automóvel não conta.
Isto se chama trole.
Nos tempos antigos, servia de ónibus, ligando fazendas ou vilas entre si.
O veículo parecia um tílburi destes aristocráticos que ainda encontramos em cidades de turismo, como Petrópolis, com a diferença de o trole ser rústico, com rodas de aro metálico, sem estofamento.
Subimos no mesmo, super- lotando-o. Atrás, foram os moleques de pé no bagageiro.
Aladim tomou assento na boleia, fazendo as vezes de cocheiro, para economizar lugar.
Entre subidas íngremes, nas quais os animais punham toda a sua força, retesando os músculos e esgaravatando as pedras com as ferraduras e descidas perigosas, em curva, que terminavam em ribanceiras, chegamos a uma planície todinha verde pintalgada de florezinhas silvestres amarelas.
À direita, o rio que sempre estivera raivoso, espumando nas gargantas e corredeiras, abria-se em remanso tranquilo.
No meio, uma ilha que, à distância, parecia paradisíaca.
— O Zoo Shelton fica naquela ilha.
Foi organizado por uma família inglesa desse nome que, depois, o doou à municipalidade — explicou Aladim.
Atravessamos o braço de rio numa ponte de madeira em estado precário.
A ilha conservava intocável a vegetação dos seus melhores dias.
Sagüis traquinas punham-se curiosos a nos espreitar, saltando alvoroçados e bandos de periquitos e baitacas passavam em revoada barulhenta.
Bichos-preguiças ensaiavam movimentos lerdos enquanto preás atravessavam rápido o caminho.
— Não há jaula, aqui? - perguntou Soninha.
— Há, sim, respondeu Aladim, mas só para animais que realmente possam ameaçar a segurança dos visitantes.
Os restantes andam por aí, ao Deus dará.
Realmente, depois de algum tempo, chegamos à sede e, ao redor, distinguiam-se inúmeras jaulas e cercados.
Numa delas, havia um macaco esquisito.
Tinha a nádega todinha vermelha.
Não parecia, pela cara, de boa paz, mas Pixoxa não resistiu à tentação, pois sempre fora inclinada por animais.
Chegou-se à grade, fez gesto de que ia dar-lhe uma banana, ao tempo que começou a pronunciar palavras de carinho, como fazia em casa com os seus pequenos “hamsters”.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:33 am

O animal, que era um mandril, rugiu, ficou violento, colocou, como Sansão, as duas mãos na grade e, em esgares medonhos, procurava derrubá-la.
Pixoxa saiu correndo, na direcção de Aladim, trémula.
— Por quê?
Por que ele ficou assim bravo comigo?
Eu o tratei com tanto carinho.
Meu pai me contou que Francisco de Assis domava as víboras com o seu amor e que um lobo, que aterrorizava a Umbria, o seguia porta a dentro da Igreja, causando pânico. Por quê?
Aladim, naquele seu modo simpático de falar, obtemperou:
— Primeiramente, minha sobrinha, nenhum de nós é Francisco de Assis e, em segundo lugar, este espécime é um mandril, antropóide agressivo.
Tem você de considerar que o lobo, amansado pelo amor de um santo, andava livre, mas este mandril não.
Tiraram-no da sua floresta, na África, prenderam-no e confinaram-no dia e noite nesse espaçozinho.
O homem acha, no entanto, que é bondoso chegando até ele e estendendo-lhe uma banana, com um sorriso.
Ele, pelo contrário, talvez gostasse de nos devorar vivos.
Pense, bem, Pixoxa, se super-homens de outro planeta chegassem a Terra e nos imobilizassem com raios especiais e nos levassem, em astronave, para um Parque Zoológico e nos colocassem numa jaula.
E viriam, de toda parte, adultos e crianças, espiar- nos e dar-nos pedacinhos de doces...
— Agora, entendi. Ele está revoltado.
Em compensação, mais adiante, havia no bosque uma clareira, à qual se seguia um brejo que se convertia em lagoa muito plácida e bela.
Paturis chegavam, sem temor, tão perto da gente, que dava vontade de pegá-los.
À esquerda havia um barranco arenoso que caía formando um espraiado.
As tartarugas andavam por ali completamente mansas.
As juritis comiam de nossas mãos.
Verinha, de Eglantina, dada à poesia, não resistiu a tentação e pôs-se a recitar um poema de “II Poverello”:
"Pássaros, meus irmãozinhos e irmãzinhas,
Deveis ser muito gratos a Deus vosso Criador.
E deveis louvá-lo, porque Ele vos deu a liberdade de voar por toda parte e vos deu duplo e triplo vestuário.
E ainda deveis ser gratos a Ele, porque, embora nem semeeis, nem colheis, Deus vos alimenta e dá-vos os ribeiros e fontes onde bebeis, as montanhas e vales onde vos abrigais e as altas árvores onde possais fazer vossos ninhos”.
Uma brisa balançava as altas copas das árvores onde os pintassilgos trinavam em canto de amor.
— Interessante é o amor.
O pintassilgo chama a amada e isto dá musicalidade à floresta.
— Música é continuidade.
O amor é reunião — acrescentou Bia, que gostava de dar ênfase a esse sentimento, a ponto de, sendo já moça, adorar desenhar corações com uma flecha atravessada e ter expressões singelas nos seus escritos.
— Não só um encontro a dois — como nos ensinou Jonas C., em nosso cursinho, mas força unitiva, aquela que obriga uma molécula estar com outra, uma célula com outra, formando órgãos uns aos outros, formando o animal, os animais uns com outros formando casais, ou uma colmeia.
E os homens, assim constituindo a família, a vila, a cidade, a nação e... a humanidade.
A inteligência — ensinou Jonas C. —faz o ser crescer verticalmente, daí que a evolução se deu num processo de encefalização, isto é, toda a natureza empenhada em criar um cérebro mais perfeito.
Mas, é o amor que abarca, como num abraço reunindo todos os seres.
Sem Amor, não haveria sóis, planetas, fauna, flora e nada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:33 am

Enquanto Bia falava tão inspirada nessa linha filosófica, eu comecei a pensar nestes nossos chamados “irmãos inferiores”.
Que pensariam eles?
Que seriam eles?
Por que não nos falavam?
Por que, no dizer de Michelet, suportavam as suas dores mudas?
Eis um casal de búfalo.
Os seus olhos são grandes, mas apagados, sem profundidade.
Ao contrário, a pombinha tem os olhos como uma continha brilhante vermelha.
Os jacarés não abrem sequer os olhos, mas os do macacos são expressivos e movem-se rápidos.
Os olhos do cão só faltam falar!
Foi, então, que Marinho parecendo pensar o mesmo que eu, disse:
— Os animais são um mistério.
Eu tive um cavalo branco chamado Guarani que me conhecia pela voz e relinchava, para se corresponder comigo.
Deixava-o solto no pasto e se eu desejasse pegá-lo, vinha-me ao encontro para que eu lhe colocasse as rédeas.
Colocava-o no carrinho de pão e ele ia de porta em porta, sem que eu o guiasse.
Caiu, certa ocasião, de uma ponte e quebrou a espinha.
Vários dias agonizou, mas não morreu, enquanto eu não cheguei de viagem.
Na época, eu tinha apenas uns quinze anos de idade...
Entre que conversávamos, aproximou-se sorrateiro, Mr. Brown, o encarregado do zoológico.
Era parente dos ricos Sheltons, mas queria tão bem aos animais que se recusou a partir.
Ficou encantado porque afinávamos com ele, no amor aos animais.
Com sotaque inglês, disse:
— Eu tenho muitas provas de que os animais não possuem só instintos.
Revelam, às vezes, sentimentos e realizam prodígios mentais.
Apenas, noto que é como um lampejo inteligente que aparece e desaparece.
Os animais têm um pensamento contínuo, como o nosso, só que fragmentário.
Digamos, se tivéssemos tocando um “tape” com uma frase única sempre igual, enfadonha e repetitiva, de repente, ouvíssemos:
“Como vai, Mr. Brown?”.
Ficaríamos estupefactos, esperaríamos ansiosos uma continuação, um diálogo em prosseguimento, sem que viesse mais nada!
Num momento, um cão parece raciocinar como gente, age inteligentemente, depois... volta aos seus míseros reflexos caninos!
Mr. Brown, naquele modo bem inglês e fleumático, continuou:
— Ao menos, posso garantir-lhes que se não têm pensamento contínuo, são portadores de faculdades telepáticas.
Tenho feito experiências, nesta ilha, onde na verdade não existe a solidão que vocês imaginam.
Os animais percebem, por predisposição talvez extra-sensorial, as intenções das pessoas que chegam aqui.
Não sei se isso seria hiperestesia, mas que há comunicação, isto há.
Quando viajei pela Europa, pela última vez, fiz questão de correr todas as nações e quando sabia de algo ligado a animais procurava inteirar-me disso.
Assim conheci o célebre treinador de cães chamado Vladimir Durov.
Ele fez testes, na presença de cientistas, nos quais demonstrava a realidade da transmissão telepática.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:34 am

Ele ordenava mentalmente que o seu cão chamado Lord fosse até\a sala, pegasse um livro e lho trouxesse, depois de subir na mesa, correr até o banheiro e subir numa cadeira.
Lord saía correndo e realizava com precisão as operações que eram improvisadas e variadas, a gosto dos cientistas presentes.
Tomaram-se famosos os cavalos de El-berfeld, de propriedade de um tal Karl Krall, que respondiam a questões dando sinal com as patas.
Chegavam a fazer operações, inclusive de raiz quadrada, tendo sido controlados por cientistas e até pelo célebre escritor e filósofo Maeterlinck.
— Também, no Brasil — acrescentou Fer — houve um cachorro célebre, chamado Sarampo, que fazia cálculos.
Malba Tahan, o notável contista e matemático, autor de “O homem que calculava”, examinou-o, ficando perplexo diante da sua habilidade.
— Então, Malba Tahan deveria ter escrito “O cão que calculava” — interferiu Tedy, como sempre, com as suas piadinhas, às vezes infames.
Naquele momento, me veio à mente a figura ímpar de Walt Disney.
Ele, sem dúvida, seria espírito iluminado, portador de tão linda missão.
Os seus animais se tornaram tão gente como a gente. Pato Donald é-nos tão familiar como nosso tio de verdade.
Olhei, no entanto, para Martinha e a achei desinteressada.
Talvez pensasse no seu namorado e lastimasse que tanta beleza natural, na ilha, estivesse se perdendo com fuinhas, gazelas e macacos.
Foi, com surpresa que a vi sair
daquele estado de torpor e melancolia que a assoberbava, passando a comentar:
— Os animais são de facto imprevisíveis.
O Sr. Euclides José Felipe contou que a sua cadela Maruca estava muito doente.
Percebendo que Maruca ia morrer, porque não conseguia deglutir, um filho dela mastigava a comida e passava esse bolo alimentar para a boca da sua mãe.
Assim, salvou-lhe a vida...
Essa é uma história que nos leva a pensar, como os animais possuem sentimentos às vezes superiores aos do homem.
Mais significativa do que essa é a de um cavalo que, tendo morrido o dono, chamado Koya El Zeatary, atirou-se de uma colina em Marsa.
Horas e horas, ficou o grupo discorrendo sobre animais.
Este falava dos seus peixinhos, aquele dos seus gatos.
Pixoxa interrompia todos, a todo momento, realçando os prodígios do seu cão Saci.
Este, e disto dou testemunho, conversava com ela, emitindo sons vocais, num esforço tremendo, como se desejasse falar.
A sua avó, D. Cota muito medrosa, ficava impressionada:
— “Daqui a pouco, esse Saci vai falar e, por Deus, eu vou sair correndo, com todo o meu reumatismo...
— Sabe o que o Juninho faz? - disse Tedy, como sempre com muita gaiatice.
Ele é amestrador de pulgas.
Amestra pulgas para o Circo de Mr. Mysto.
Juninho saiu correndo atrás dele e sumiram no matagal.
Leitura
“Certo dia de inverno rigoroso, minha mulher ouviu a campainha da porta da frente ressoar levemente, uma ou duas vezes, como se alguma criança estivesse procurando tocá-la com mãos envoltas em luvas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:34 am

Olhando pela janela, viu Rex, nosso “fox-terrier” que, deitado ao lado da porta, de vez em quando se levantava com esforço enorme e apertava a pata contra o botão da campainha.
Minha mulher abriu a porta e o cão caiu-lhe aos pés.
Levara um tiro e estava seriamente ferido.
Tendo observado como os visitantes conseguiam entrar em casa depois de tocar a campainha, Rex deve ter compreendido de algum modo o que devia fazer numa hora em que necessitava desesperadamente de socorro.
Até então nunca tocara a campainha; e nunca mais a tocou, uma vez curado do ferimento."
Rev. George E. Mayo
Apud. Selecções do Reader’s Digest — abril 1948.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Os animais têm alma?
— Não podemos falar em animais, dentro da Ciência Espírita, em termos assim genéricos, pois, a palavra animal não define bem os seres.
Um verme é um animal e o cachorro, também, o é; no entanto, são psiquicamente muito diferentes.
Todo animal, e até mesmo as plantas, têm uma quantidade de psiquismo.
Quanto mais se eleva na escala animal, tanto mais psíquico se toma.
No caso dos animais superiores, cão, gato, elefante, etc. eles têm alto grau de psiquismo.
Em virtude disto esse psiquismo já consegue sobreviver como um psi autónomo, isto é, fora do corpo físico.
Esse psi autónomo, talvez não possamos chamar de alma ou espírito, mas já sobrevive, depois da morte, durante certo tempo e em condições que variam muito.
Por que esse etasino é importante?
— Porque os homens de grande saber nunca aceitaram ensino teológico de que o homem tem alma e os animais não, achando isto uma incongruência.
O Espiritismo, ligando o homem ao animal, permite uma ideia de Deus mais equânime, pois Ele não poderia deixar os animais à margem da Providência e do progresso.
Diz Kardec:
“A inteligência do homem e a dos animais emana de um princípio único, só que, no homem, recebeu uma elaboração que o eleva acima do que anima o animal”.
Pode o espírito de um homem encarnar-se no corpo de um animal?
— Os antigos ensinavam esta doutrina errada, chamada Metempsicose.
Não pode isto acontecer em virtude da própria mecânica da reencarnação, pois, o espírito humano ligado ao ovo, é que passa a comandar o embrião, no útero, obrigando as células a seguirem as suas linhas magnéticas de ser humano.
Logo, não poderia haver hipótese de o espírito humano tomar-se um burro.
Existem factos que sugerem a sobrevivência de animais?
— Sim. Quando Raymond, morto em Flandres, comunica-se com o seu pai, o grande cientista Oliver Lodge, confessa entusiasmado ter reencontrado, no Além, o seu cãozinho.
Existem psico-fotografias, as quais, feitas as restrições de ideoplastia, revelam, na foto, a presença do animal de estimação morto, como ocorreu na família Buxton, cuja estampa se encontra no livro de Sylvia Bar- banell, “When your animais dies”.
Por outro lado, livros revelativos, como os de André Luiz, psicografados por Francisco C. Xavier, mostram-nos a existência de animais no Além.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 15, 2019 9:35 am

Capítulo VII - A DESENCARNAÇÃO
Seu Henrique, pai de Heitorzinho, havia tempo, não andava bem de saúde.
Tudo começara com uma pequena e constante dor abdominal.
Exames daqui e dali, internamentos, radiografias, até chegar à palavra fatídica: câncer no pâncreas.
A Patota, em peso, correu a amparar Heitorzinho, naquele transe doloroso.
Em volta do caixão, no velório, D. laiá desfeita em lágrimas e, de resto, aquela atmosfera pesada peculiar.
Heitorzinho, porém, não sabia avaliar o que representava a morte do pai.
Se o pai houvesse morrido, quando tinha 5 a 7 anos, tinha certeza de que se agarraria ao caixão, gritaria e desejaria acompanhá-lo.
Era demais agarrado ao pai e este vivia colocando-o nos joelhos e apertando-o ao peito, com muito amor.
O rapaz não sabia porque, naquele momento de luto, se lembrava das festas natalinas.
Por causa das flores e das coroas?
O pai montava enorme árvore de Natal, no jardim de inverno e os enfeites, com bolas multicoloridas, tomavam-na de beleza sobrenatural.
Depois, os presentes iam sendo depositados nela. Já, na véspera, sentia-se um ar de festa, porque a casa ficava cheiinha de tios, primos, parentes e até amigos chegados.
Às tantas, ouvia-se tocar um sininho.
Todos os adultos gritavam:
“Papai Noel! É o Papai Noel!”
Esse som de sino ia chegando cada vez mais perto.
Os coraçõezinhos batiam descompassadamente no peito.
A porta se abria de chofre e aparecia Papai Noel, corado, autêntico!
Os lábios da pequenina Cris começavam a tremer e ela explodia em choro convulsivo e assustado.
Fer, então, pequenino, ficava duro e teso, igual a uma rãzinha diante de um farol e os seus olhos miúdos e redondos se fixavam no luminoso e radiante Papai Noel.
O pirralho admirava e tinha medo, ao mesmo tempo, por isso respondia ao Papai Noel, tartamudeando.
Era um Papai Noel engraçado, muito alegre e dengoso.
Distribuía os presentes, mas, quando Chegava perto da criança, falava de todas as más-criações que esta fizera, os defeitos que tinha de relacionamento e lhe dava conselhos.
Ficávamos intrigados pelo fato do Papai Noel saber da vida particular de cada um, ele que morava tão longe e viera em trenó puxado a renas.
Mas, um dia, e isto Heitorzinho lembrava-se bem, olhou para os pés de Papai Noel e achou que aqueles sapatos eram do seu pai.
Deu a volta por trás e percebeu que a cabeça não era branca, mas cortada rente e achatada, igual à do pai.
E, por fim, descobriu, de tanto fuçar, aquela roupa no vestiário, dentro de enorme caixa:
A roupa do Papai Noel largada e amarfanhada como fantasia depois do carnaval ...
Isto lhe deixou uma satisfação de quem se convence de que já cresceu, mas, criou-lhe um vazio no coração.
Tinha sido excitante descobrir a verdade, mas, como sempre, aquela verdade lhe roubara a poesia da infância.
Ficara do pai, no entanto, aquela figura, deste mundo mesmo, que o protegia e parecia contente em dar-lhe tudo o que queria, sem mais essa de Papai Noel:
o pião musical, a locomotiva eléctrica ou o boliche gigante.
Em compensação, Heitorzinho obedecia-lhe.
A mania do velho era vê-lo pianista.
Punha-o com o prof.
Macedo a martelar um piano velho e desafinado, horas e horas.
E a sua satisfação era assistir a ele, nos seus 10 anos, numa audição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:40 am

Olhava embevecido, para Heitorzinho e para a plateia.
Era isto, para o velho, mais do que ganhar a sorte grande.
Heitorzinho, porém, não se recordava quando se desmamou do pai e foi se separando dele.
Aquele homem foi-se-lhe tomando um estranho.
Sim, um homem qualquer, até mesmo aborrecido, pois era portador de prerrogativas:
Tinha o direito de repreendê-lo, deixá-lo ir ou não ir ao bailinho, de deixá-lo ou não passar as férias longe.
Não compreendia de onde tinha brotado aquele cidadão cheio de direitos e ele, Heitorzinho, cheio de obrigações.
Passava pelo “living” e não ia mais abraçá-lo.
Pelo contrário, tinha pavor de que o pai, com aquela barba que espetava, o viesse beijar.
Quando pequeno, grudava no pai, quando este lidava no jardim ou na banca de marcenaria.
Depois, nem mais sabia se a sua casa tinha jardim ou formão com o qual o pai lhe fazia inúmeras fitas de madeira.
A separação ia-se fazendo, por si só, cada vez mais profunda.
Quando, na vida de Heitorzinho, começaram a surgir as garotas e as levava para casa, não aguentava certas manias antiquadas do pai.
Não tinha mais nada do que se orgulhar dele.
Ele era um homem comum, de sofrível educação, afinal um negociante medíocre e de pouquíssimas letras.
Não era igual ao Dr. Galba, pai do Martinho, um homem e tanto, culto e festejado pela sociedade, considerado notoriedade médica.
Heitorzinho lembrava-se de como achara ridículo o pai, naquele terno marca de giz, muito antigo, no dia em que tirara diploma do Colegial.
Agora, em vésperas de doutorar-se, temia o que lhe aprontaria o velho.
Advertia o pai:
“Não vá me dar vexame”.
Vendo-o no caixão, com um ar assim de paz, sorriso aflorando nos lábios, manso como sempre foi, não ligava muito o morto, ao pai.
Enfim, estava realmente confuso.
Dias depois, procurou Jonas C. particularmente e confidenciou-lhe tais sentimentos, que não conseguia analisá-los.
Julgava-se uma alma pervertida e fria.
Ele se desligara do pai, havia anos, mas a casa, agora, ficara tremendamente vazia.
Aquele vulto paternal errante e apagado, parecia que começava a reinar e tomar conta de tudo.
Não conseguia pensar numa coisa qualquer, que o pai não entrasse no meio.
Queria uma explicação.
Jonas C. recebeu-o com a costumeira atenção, dizendo-lhe:
— Esse desligamento do filho, em relação ao pai, é muito natural e se dá na puberdade, quando o rapagote ou a mocinha descobrem sinais de que já se estão tomando adultos.
Passam por transformações fisiológicas profundas.
Os pais se lhe tomam figuras competitivas e, se pudessem, sairiam correndo para bem longe.
A natureza sábia fez, assim, para que o futuro homem, já com organismo adequado para a procriação, se tome psiquicamente mais dono de si próprio.
Se continuasse naquele estado afectivo e de subjugação, como um neném, a personalidade se distorceria.
Todos ficariam, assim, como vocês dizem: maricas.
£ próprio do homem sair, lutar e conquistar uma companheira.
Na alma de cada um de nós, existem tais atavismos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:41 am

Já com as mulheres, não se dá tão fortemente essa crise, porque a função delas é sempre a do lar.
Simplesmente, sentem incompreensível irritação para com a mãe e poderão facilmente responder-lhe mal, quando tempos atrás lhe falavam com meiguice e doçura.
A mãe, então, chora de sentimento e, se não for orientada, abisma-se diante de tais reacções da sua florzinha.
— Então — disse Heitorzinho — o que se passa comigo não é ausência de bom sentimento?
— Espere, aí, meu filho.
Eu disse que, na puberdade, se dá tal crise de separatividade e estranheza.
Mas, eu não disse que, passada essa faixa, estando você já com vinte e quatro anos, isto seja natural e justo.
Depois da perturbação da puberdade, você, capaz de racionalizar e equilibrado, devia ter voltado para o seu pai, evidente sem mais aqueles arroubos infantis de beijos, abraços e ternura excessiva mas, admirando-o e começando a lhe prestar um tributo de gratidão, por tudo o que ele fez por você.
Tomá-lo-ia como companheiro e conselheiro.
— Muitas vezes, pensei nisto.
Comparei-me com o meu amigo Martinho e vi-o tão gentil, prestativo e interessado pelo pai, cuidando do seu mínimo achaque ou negócio, que fiquei muitas vezes matutando.
Algumas vezes, estava com Martinho em Caraguatatuba e ele me dizia:
“Vou subir a serra. Amanhã é aniversário do papai”.
Eu achava aquilo uma tremenda chatice.
Mas, ao mesmo tempo, ficava pensando se não havia algo de errado comigo.
No entanto, o pai do Martinho era o Dr. Galba, homem diferente de meu pai, admirado por muita gente.
Talvez fosse isso...
Jonas C. ficou ouvindo bem, depois opinou:
— A questão não é essa de o pai de A, B ou C ter esta ou aquela qualidade relevante. Martinho, naturalmente, é um espírito afim com o pai.
A sua admiração vem do fundo da alma.
Quanto a você, Heitorzinho, pode dar-se facto diferente.
Pode ser que você seja espírito vaidoso que, em existência pregressa, ocupou posição de destaque e exerceu mandonismo.
Inconscientemente passou a desprezá-lo ou considerá-lo da mesma maneira com que um fidalgo trata o mordomo.
O seu pai era para você a pessoa que tinha a obrigação de comprar-lhe a roupa, dar-lhe a mesada, arranjar-lhe o automóvel, pagar-lhe os estudos, mas nenhum direito de se meter na sua vida.
— Por que, então, eu vim a nascer filho do meu pai se eu, intelectual como sou, devia ser filho do pai do Martinho, enquanto que o Martinho, pouco cerebral, talvez se desse melhor com o meu pai, que é negociante?
— Esses assuntos são muito complexos.
Um espírito quando se prepara para a reencarnação, se já é possuidor de descortinio, estuda todos os aspectos da volta e, no espaço, existem Departamentos Reencarnatórios.
Ali estuda as suas fichas acásicas, naturalmente mediante autorização, para verificar as suas falhas em outras existências e pontos fracos do carácter.
Verifica onde sempre caiu, o seja, qual é o empeço no seu progresso espiritual.
Depois, analisa os grupos genéticos de encarnados, sob o ponto de vista biológico e, ao mesmo tempo, debaixo do aspecto afectivo ou correctivo.
Existem dívidas a pagar e créditos a receber.
Feita a escolha, dá o mergulho na carne e renasce bebé e se torna uma nova personalidade.
Heitorzinho ficou pensando quão misterioso é o ser humano.
Como é enigmático o semblante do homem.
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JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia - Página 2 Empty Re: JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:41 am

Aquele tem cara de raposo.
Outro, de fuinha.
Quem sou eu?
Quem é você?
Por isso indagou de Jonas C.:
— Seria possível a gente saber quem fomos e como vivemos, para que nos orientássemos?
— Saber-se isto é difícil e Deus, com inteligência, nos ocultou, para nosso bem.
Ele nos deu a infância para aprendermos a amar nossos pais e os pais serem atraídos pela inocência da criança.
£ um artifício genial.
Existem crises, mas passam e voltam os afectos.
No entanto, isto já ensinamos à Turma da Patota, que, muitas vezes, conseguimos romper essa barreira ou passar pelo dragão que guarda tão importante segredo da psique humana.
Passe aqui amanhã, pois que vou levá-lo ao Dr. Lourel, notável hipnólogo, habilíssimo em provocar regressão de memória.
Não garanto nada, mas pode ser que dê certo.
No dia seguinte, Heitorzinho e Jonas C. estavam diante de um cidadão bem apessoado, que os introduziu numa sala carpetada e reservada.
Ele mandou que Heitorzinho se sentasse numa cadeira, ficasse relaxado e, num instante, o rapaz estava em profundo transe hipnótico.
Com facilidade, o prof. Lourel levou-o, de regressão em regressão, à primeira infância.
E era inacreditável como balbuciava as palavras como um neném.
Logo mais, depois de passar pela fase intra-uterina, Heitorzinho começou a falar:
— Estou, agora, num espaço muito claro.
Não nasci ainda...
O prof. Lourel tinha sido feliz.
Conseguira levar a regressão de Heitorzinho à pré-existência carnal.
Dali, por diante, seria mais fácil.
O hipnólogo fê-lo reviver vidas pregressas.
Impressionantes os detalhes com os quais Heitorzinho se descrevia, descrevia os seus e tomava a sentir a dor ou a alegria do que passara havia século.
Em resumo, o relacionamento de Heitorzinho com o seu pai Henrique, nesta encarnação, ficava esclarecido.
Em meados do século passado, em importante centro produtor agrícola brasileiro, Heitorzinho fora um riquíssimo visconde esclavagista, que havia liderado todos os movimentos contra quaisquer leis que protegessem o negro.
Tinha um escravo que, em sua casa, exercia função de mordomo, chamado Estefânio, que lhe era dedicado de corpo e alma.
Quando esse visconde morreu, encontrou no Além séria perseguição e barreira por ter impedido na Terra o progresso, aceito a crueldade e incentivado a injustiça.
Sofreu muito, mas penitenciou-se.
Desejou renascer de novo.
Já então o escravo Estefânio estava reencarnado na Terra e era recém-casado.
O visconde foi aconselhado a nascer em lar simples e em ambiente onde ninguém se realçasse, na cultura ou no poder económico.
Então escolheu nascer como filho único do seu escravo Estefânio e dna. Iaiá, filha de sitiantes locais.
Isto, de certo modo, explicava aquele modo do "seu” Henrique dado a ficar num canto da sala como cão à espera do chamado do dono e aquele servilismo em engraxar os sapatos do filho e o desmedido orgulho de tê-lo como filho!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:41 am

Enquanto isto, o sentimento inconsciente de Heitorzinho pelo pai era de desdém e vergonha, como condicionamento de existência anterior.
— Ê. Existem muitos mistérios com que não sonha a vã sabedoria humana — dizia Heitorzinho, no dia seguinte.
Coitado do papai. Fui-lhe muito ingrato.
Ele serviu de instrumento para a busca de minha regeneração.
Tinha-me profundo e verdadeiro amor, que vinha de outras eras.
Lutou como leão para fazer-me alguém.
Ele se foi e o meu adeus foi tão frio que, penso, os seus olhos de morto choraram.
Que posso fazer?
Jonas C. pensou, pensou e respondeu:
— Você pode honrar a figura singela do seu pai, honrando todos os pais simples.
O importante é fazer de um limão uma limonada.
Podemos, na educação da alma, transformar aquilo que nos acontece de pior, em algo melhor.
Se você escreve bem, escreva sobre tais assuntos.
Não faça um túmulo rico de mármore ao velho.
Não lhe compre flores, que murcham, mas todos os dias da sua vida, ofereça ao seu pai um gesto de humildade.
Esse gesto de humildade deve tomar-se automático no seu ser, com a prática constante.
Troque o “eu”, pelo “nós”.
Não se ligue aos bajuladores que o destacam por interesse de troca social, mas ame os seus subalternos, estimule-os e ajude-os a criarem e educarem a prole numerosa.
Visite as favelas. Carregue no colo aquelas criancinhas sujas e mal-cheirosas.
Examine-as, quando for médico, e dê-lhes as suas amostras grátis.
Não só remédio, mas o pão que é também remédio.
Participe dos movimentos que visem construir creches, asilos e instituições socorristas.
Não receie, como médico, participar de ambientes simples de trabalhadores.
Combata aquele germe de orgulho que o fez tombar muitas vezes em outras existências.
Enobreça- se, verdadeiramente, não no sangue, mas no espírito.
— E o meu pai me perdoará?
— As almas de escol, mesmo que queiram, não conseguem marcar nada, ruminar coisa alguma e vibrar negativamente.
Você está perdoado pela própria natureza elevada do seu pai.
No entanto, Heitorzinho, o duro vai ser você alcançá-lo e cabe, a você, o resgate.
Heitorzinho entendeu porque Jesus havia dito:
“os últimos serão os primeiros” e “bem-aventurados os simples”.
Pela primeira vez, naquela noite olhou o céu estrelado e mediu a vastidão do céu que, pesado e cor de chumbo, se tornara azul e profundo como toda promessa de ascensão e felicidade.

Carta a Meu Pai
(*) Paulo Sérgio Milliet Duarte da Costa e Silva
Ninguém te ouviu a prece de esperança,
Quando entregaste ao berço, de mansinho,
Meu pobre coração de passarinho
Engastado no corpo de criança.
Calado herói do bem que não descansa.
Tanta vez a lutar, mudo e sozinho.
Ninguém te enxerga o pranto de carinho
Com que me guardas vivo na lembrança.
Ê por isso, meu pai, que dia a dia
Varo a senda de névoa espessa e fria,
Que o sepulcro de lágrimas nos junca,
Para ofertar-te, ao peito, brando e forte,
A certeza de vida além da morte,
Na luz do Amor que não se apaga nunca.
(*) Ditado pelo espírito desse jovem poeta (apud “Antologia dos Imortais” - Chico Xavier).
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:41 am

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Que vem a ser desencarnação?
Desencarnação é sinónimo de morte, trespasse e falecimento.
Desencarnar é deixar a carne, ou seja, morrer.
Por isso os espíritas falam:
Fulano desencarnou.
A palavra desencarnar é mais adequada do que morrer, pois, na verdade, ninguém morre.
Em sentido para científico e filosófico, desencarnar é desmaterializar-se, tanto quanto reencarnar é materializar-se.
Quando nascemos tomamos a matéria e revestimo-nos com ela; quando morremos, deixamos a matéria.
De que forma se dá a desencarnação?
— O corpo, que se sujeita às leis bioquímicas, morre e o espírito tem de se desligar dele, ao qual está preso por um cordão chamado prateado, que é cortado ou rompido à maneira do cordão umbilical.
Na verdade morrer, aqui, é nascer noutro plano; por isso, existem organizações, no Além, com enfermeiros, obstetras e técnicos para fazer esse parto, no inverso.
Para sustentar o nosso equilíbrio emocional e, sobretudo, evitar-nos o medo da morte, muitos parentes e amigos falecidos vêm-nos receber, como se tivéssemos chegando de uma longa viagem.
Qual é o factor mais prejudicial ao desencarnante?
— A mente despreparada para enfrentar a morte; estar excessivamente ligado aos interesses terrenos; qualquer apego exagerado, principalmente por paixão ou ódio.
O homem anda tão desligado da espiritualidade que, ao morrer, sofre tamanho impacto que pode virar um espírito dementado.
No entanto, abnegadas equipes espirituais do Além possuem métodos próprios para anestesiá-lo, removendo-o, assim dormindo, para hospitais do Espaço.
E os que não morrem de morte natural?
— Os que tombam em campos de batalha, incêndios, desastres de automóvel, suicídio, etc., geralmente, demoram para se compenetrar de que morreram, exigindo um maior tempo de preparo para lhes revelarem o que ocorreu, a fim de que não se dementem e se desesperem.
De todos, porém, é o suicida o que se sujeita a maior sofrimento, pois, além de não morrer, ainda o veneno que ingeriu continua corroendo-lhe as vísceras ou o estampido do tiro persiste ribombando no cérebro e os espasmos não têm breve fim.
Estes necessitam muito da nossa prece.
Qual £ o comportamento recomendável, no caso de perda de entes queridos?
— Se os parentes se desesperam, choram convulsivamente e gritam, em cenas patéticas, o espírito do ente querido que está se libertando, quer a todo custo voltar ao corpo cadavérico.
Não conseguindo isto, vira um alucinado.
Também, nos dias que se seguem ao enterro, é desaconselhável conversar, sem parar, aludindo aos fatos ligados ao morto, principalmente em tom de lástima, pena ou critica; tampouco devem os parentes se deter excessivamente nos objectos de uso pessoal ou bens que tenha deixado.
Um ambiente mórbido pós morte, no lar, atrai o espírito do falecido para aquele círculo, ao qual fica imantado, em estado aflitivo, sem poder seguir aos páramos de recuperação.
O sentimento pela perda é natural e louvável, pois a completa indiferença revelaria falta de sentimento, no entanto, em tudo, importa haja equilíbrio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:42 am

Capítulo VIII - A PSICOSFERA OU MEIO-AMBIENTE ESPIRITUAL
Toda a turma da Patota e mais elementos jovens de mocidades espíritas de outros núcleos, chefiados por Jonas C., tinham decidido conhecer um Museu de Cera, que havia chegado da França, instalando-se no Anhembi.
Embora se constituísse em uma simples secção do Museu Grévin de Paris, sabia-se que era uma das maravilhas do mundo.
Evidente que não perdêssemos aquela oportunidade.
No entanto, para Jonas C. o núcleo de tais programas não se situava em ver o espectáculo, mas em despertar nos jovens elaborações mentais, de modo que se enriquecessem espiritualmente.
Por isso, Jonas C. sempre nos advertia:
“Não me julguem um cicerone. Se vocês quiserem descobrir as chinelas de Apeles, a corda com que enforcaram Tiradentes ou a tíbia de Santo Onofre, procurem vocês mesmos”.
Era uma tarde de julho e o frio da Pauliceia parecia congelar no ar as emanações deletérias que subiam da terra, mergulhando a megalópolis em denso “fog”.
Criancinhas tossiam, velhos respiravam asmaticamente e todos lacrimejavam.
Dir-se-ia que, em breve, andaríamos de máscara e seríamos tomados como habitantes de outro planeta.
— Tudo poluído — observou Maurício.
Terra, céu e água.
O legendário rio Tietê que carregou em seu dorso os indómitos bandeirantes, corria agora, ao lado da Via Marginal, lerdo, pastoso e fétido.
Um rio morto de imundície.
Os peixes de há muito haviam morrido e a vegetação aquática não lhe enfeitava mais a margem.
Um cidadão idoso, que havia crescido naquelas cercanias, ajuntou:
— Quando eu era garoto, vinha pescar por aqui.
O rio era piscoso, coalhado de tabaranas, piabas ligeiras e lambaris de rabo vermelho.
O seu leito era arenoso e espadaúdos portugueses faziam a América, extraindo areia e transportando-a em barcaças enormes.
Mergulhávamos em suas águas calmas e bebíamos delas.
Tedy, que andava com luninho de um a outro lado do ónibus, não aguentava mais aquela conversa em tom de seresta e, então, para se vingar, deu uma de Vicente Celestino.
Reuniu todas as forças, esticou ao máximo as cordas vocais e mandou brasa, em vários “dós de peito”:
“Nem céu, nem mar, nem nada... ”
Enquanto Juninho imitava um soprano ligeiro:
“Nem mesmo ar para respirar ...”
Jonas C., que cochilava sossegado em sua poltrona reclinável, despertou com aquele som gutural.
— Só você mesmo, Tedy.
E com isto, você está também, ajudando a poluição sonora com gritos a mais de 120 decibéis...
Fez gesto de que ia continuar dormindo.
No entanto voltou-se para nós e continuou:
— ... O homem está envenenando e destruindo o seu próprio lar, a Terra.
Está cometendo o crime inominável de matricídio, pois, está matando sua mãe, a natureza.
Acreditem vocês, jovens, que é o problema mais crucial do mundo contemporâneo.
As chaminés vomitam fumaça pára o alto e isto é o mesmo que cuspir para cima.
Jogam os detritos e dejecções na água que, depois, vão beber.
Esparzem herbicidas, insecticidas, ácidos e nos alimentamos, depois, destes venenos.
No entanto, isto é sedição e o seu estudo se subordina à chamada Ecologia.
Vocês sabem disto, lógico que sabem.
Mas que adianta saber e não fazer coisa alguma com aquilo que se sabe?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:42 am

Percebia-se que Jonas G. estava amargurado com isso.
Espírito superior, digno e nobre, aspirando o melhor para a humanidade, não se conformava com a estupidez humana.
— Mas vocês, porém, não sabem tudo.
E não sabem o pior.
A nossa psicosfera, também, está poluidíssima e chega a se constituir em iminente perigo para a humanidade toda.
— Que é psicosfera? — perguntou delicadamente a simpática jovem Raquel, que estudava odontologia.
— Vocês sabem que a Terra é envolvida por uma camada gasosa à qual chamamos atmosfera, que nos presta os maiores serviços para que sobrevivamos, pois que é o maior reservatório de ar que respiramos.
No entanto, além dessa atmosfera física, existe outra chamada psicosfera.
Ela é constituída de...
— De partículas mentais ou átomos espirituais — obtemperou Fer.
Jonas C. moveu as sobrancelhas e abriu os braços, como os italianos que se exprimem melhor assim por mímica, quando as palavras parecem impróprias para significar o que desejam expressar.
— É resultante de todos os pensamentos emitidos pelos encarnados e pelos desencarnados; além de compreender a soma de todas as auras individuais, num complexo difícil de definir.
A nossa alma respira nessa psicosfera, mas também inocula nesse meio as suas projecções mentais.
Para vocês examinarem a atmosfera terrena não existe problema, mas para conhecerem a psicosfera de cada lugar na Terra, importaria que vocês passassem para outra dimensão: a dimensão-psi.
Nós só percebemos aquilo que vibra no mesmo campo vibratório nosso.
— Mas como conseguiríamos, então, isso? indagou Raquel.
— Virando anjo ou espectro — disse Marcos Fernando — em tom de brincadeira.
— Mas, aqui, a não ser o Nelson que está estupidamente apaixonado pela Camila, a ponto de perder o interesse por tudo, ninguém mais quer saber da morte, nem pintada na parede — atalhou Pixoxa.
Jonas C. sorriu e falou:
— Não é necessário morrer, para sentir a dimensão- psi.
Podemos utilizar faculdades psíquicas para conhecer a psicosfera dum lugar.
Aliás, com exercício, chegamos a sentir um ambiente e dizemos:
“está levíssimo, cheio de fluídos bons”.
Ou então, confessamos:
“aquele ambiente me deixou zonzo; havia uma psicosfera agressiva e desagradável. ..
—. E não poderíamos conhecer a psicosfera de um lugar, através do desdobramento? — insinuou Soninha Cabral.
— Sem dúvida. O desdobramento, que os ingleses chamam pela sigla muito usada “OOB” (out-of-the body = fora do corpo) e que os esoteristas qualificam de “projecção do corpo astral” permite-nos estar noutro mundo, sem sair deste.
É uma maneira de morrer, sem esticar as canelas.
É, por isso, que nas pesquisas referentes aos fenómenos ligados à morte, chamados de Psi-Theta, o meio mais utilizado pela parapsicologia é o desdobramento.
Fora do corpo, durante o sono provocado ou natural, eis que poderíamos talvez examinar a psicosfera de um lar, de uma vila, de um clube, etc.
— Mas, então, a psicosfera se particulariza — obtemperou Suely, que fazia Medicina.
— Exacto, Suely.
E isto 6 interessante.
Um missionário do Além, ao descer à Terra, sabe quais os lares que têm psicosfera boa e quais os que têm psicosfera ruim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:42 am

Vista do Além, cada casa tem o seu brilho peculiar.
Chico Xavier revelou-nos que o Hospital do Fogo Selvagem de Uberaba tem uma psicosfera tão elevada e luminosa que os espíritos o tomam como um farol que lhes serve de orientação, quando descem à Terra.
Existem instituições, templos de diversos cultos, lares às vezes humildes, centros espíritas, que servem de “aeroportos” celestes.
Certa ocasião, estando com Divaldo Franco, na residência de amigo comum, o médium baiano, entrando numa sala de música, disse: “Curioso.
Esta sala serve de ponto de encontro de espíritos em missão na Terra, para orarem, “acertarem propósitos e saírem em missão na crosta”.
Nós, moradores de uma casa, que se toma lar, criamos a sua psicosfera própria identificável.
Um botequim ou “dancing” tem a sua psicosfera, Quando a multidão se comprime, em tomo de um ringue, para ver um pugilista esmurrar outro até nocauteá-lo, cria-se, no local, uma psicosfera em convulsão terrível, como a nossa atmosfera varrida por violento furacão.
— E pode prejudicar a gente, se a isso estivermos assistindo? — perguntou Teresa, em voz arrastada.
Jonas C., depois de ter caçoado um pouco pelo fato de a jovem ter saído do seu estado sonolento, obtemperou:
— Evidente, srta. Teresa.
Naquele clima de violência, ingerimos drágeas psicoenergéticas desequilibrantes e somos atuados por formas pensamentos asfixiantes.
Tocam nossa estrutura psicossomática e a abalam.
A simpática e risonha Maria Antónia obtemperou:
—- Agora, começo a entender.
Quando fui na companhia de dna. Geni, Dr. Mário e uma equipe de seareiras visitar o presídio, saí de lá com tremenda dor de cabeça e em estado esquisito.
Dna. Dirce Almeida propôs dar-me um passe, mas eu não entendia por quê.
Para mim, talvez tivesse ficado nervosa, ou comido alguma coisa que me fizesse mal.
Psicologicamente, como poderia eu me sentir mal, se eu estava fazendo o bem?
Mas, agora, com esta explicação da psicosfera,' torna-se evidente que uma cadeia deve possuir atmosfera psíquica irrespirável e pesada. Minha natureza delicada não aguentou.
— Muito bem, Maria Antónia.
É isto mesmo.
Você sabe que, certa ocasião, fui visitar o Frigorífico Anglo, onde se abatem milhares de bois.
Nunca me senti, na vida, tão mal.
Os próprio animais ao morrerem, impregnam a atmosfera de uma vibração angustiante.
Jonas C. fez uma pausa e continuou:
— É uma pena que os homens ignorem isto, embora hoje a Medicina Psicossomática esteja na crista da onda.
Grande parte das nossas doenças vem da mente.
Ora, se essa mente se desequilibra por interferência da psicosfera, eis que deveríamos cuidar onde e com quem andamos.
Os jovens geralmente são curiosos como os peixinhos de um lago.
Querem conhecer e frequentar tudo.
E isto pode deformá-los psicossomaticamente, pois os jovens são criaturas desarmadas e inseguras.
Ensinam-lhe caraté, mas não lhes oferecem nenhuma arma de defesa psíquica.
Oração, leitura espiritual, passes, ioga, são defesas óptimas.
A professora D. Eunice, muito espiritualizada, ainda obtemperou:
— Se os homens estudassem essa matéria, buscariam estabelecer qual a relação que existe entre a epidemia de demência que invade o mundo contemporâneo e os factores de infestação da psicosfera.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:43 am

Estudaria de per si esta sociedade, aquela casa, a cidade e até a nação.
Não sei não, mas quando passo numa banca de revista, acho que ela é uma bomba poluidora; assim como programas de T. V. com filmes de crime, erotismo desenfreado e obscenidade de todo jeito.
— Fácil é avaliar, — emendou Jonas C. — como isto tudo nos entorta a psique.
Porventura, nas Faculdades, se ensina que é o homem?
Colocam o seu cadáver em cima da mesa e seccionam-no, dividindo-o em pedacinhos, dando nome complicadíssimo a cada pecinha anatómica e os alunos não só se convencem de que essa memorização é alta ciência, como acabam acreditando que aquilo é o homem!
Não sabem que o homem é ser espiritual materializado e que emite pensamentos e os recepciona.
Ê uma estação emissora e receptora ambulante.
Não cuidam de que, mesmo que não conversemos, estamos trocando projecções, intercambiando radiações, ajudando-nos ou machucando-nos, buscando o céu ou despencando juntos para o inferno.
£ uma pena que os professores e catedráticos nada saibam da mente e nem desta realidade, a de que até mesmo o astral pesa sobre nós,
Quando na Terra criamos campo propício, despenham-se torrentes de espíritos tenebrosos, envolvendo-nos em suas maquinações e levando-nos à prática de actos cruéis ou debochados, com que nunca sonhamos.
Jonas C. tinha elevado o tom da sua voz, como a de quem protestasse.
Abriu uma revista., que levava para ler no ônibus e mostrou a manchete:
“Ascensão e Queda do III Reich”.
— Eis um caso típico de psicosfera conturbada.
Um povo dos mais educados e cultos do mundo, de repente, passa a respirar e agir consoante uma psicosfera poluída por pregação sistemática e hábil.
Homens mansos, pacíficos e alegres bebedores de cerveja e tocadores de sanfona, num instante deixam de dançar as polcas ruidosas e marcham a passo de ganso.
Afivelam ao rosto máscaras brutais e tomam-se servis.
Jonas C. parecia recordar-se de alguma coisa.
Essa coisa não era boa.
Talvez se lembrasse daquela adorável menina-moça, Anne Frank, que viveu oculta, com os seus, num edifício da Holanda, num só cómodo a que denominou “Anexo Secreto” até que a Gestapo a apanhou e a levou, impiedosamente, para o campo de concentração de Bergen-Belsen, onde morreu.
— Mas isso, meus filhos — continuou fonas C. — não sucedeu só à Alemanha.
Que de barbaridades não fizeram os revolucionários e o zé-povinho francês, os “sans-culottes”, na Revolução Francesa-, dependurando as cabeças dos aristocratas guilhotinados nos varapaus e dançando com elas uma dança macabra.
Fez uma pausa e depois continuou:
— Daí que vocês devem ter muito cuidado para que nunca sejam envolvidos, levados a agir inconscientemente.
— Você tem razão — atalhou o cirurgião-dentista, Dr. Francisco Gabriel, conhecido por Bié e que viajava na companhia do seu filho Fer.
Bié pediu licença e contou a sua experiência:
— Calculem que não sou capaz de matar uma formiga e, no entanto, estando a assistir uma partida de futebol entre Corinthians, time do meu coração e Palmeiras, eis que um jogador palmeirense cometeu falta grave, no adversário, mas teve a infelicidade de, em seguida, cair.
O jogador corintiano foi-lhe em cima de botinadas.
A multidão da arquibancada e principalmente do alambrado gritava furiosa: “mate esse carcamano... liquide com ele... mate...”
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 16, 2019 9:43 am

Quando dei conta, eu estava de pé, vociferando, também, repetindo inconscientemente as mesmas palavras. Imaginem que coisa terrível.
Conforme o Dr. Francisco Gabriel falava, o meu pensamento voltou-se para os mártires cristãos no Coliseu e à plebe romana, gritando eufórica para Nero e se divertindo com aqueles espectáculos sangrentos.
Eles sabiam o que faziam?
Mas, Jonas C. ainda preveniu-nos:
— Todos homens têm sensibilidade mediúnica, embora em grau não tão perceptível e principalmente de captação, isto é, recebemos e nos impregnamos das cargas de pensamentos emitidos pelos nossos irmãos encarnados e desencarnados. Daí que esse terreno ainda deva ser pesquisado até mesmo para a interpretação dos actos humanos, devendo, no futuro, influir no julgamento do réu.
Conheci um adolescente íntegro e de inteligência invulgar.
Quis o destino que fosse trabalhar num meio onde se lidava com importação e exportação.
A princípio, a sua noção de integridade moral impedia-o de aceitar propinas.
Mas... a psicosfera, ali dominante, era de que o tirar-se vantagem era um direito consuetudinário do servidor.
Afinal, essa corrupção tinha-se tomado tacitamente aceita, tanto pela direcção superior, quanto pelos clientes.
Nosso jovem acabou por pensar como pensavam os outros.
Não sentiu mais que aquilo não era direito.
Quando mais tarde, a instituição foi submetida a um rigoroso inquérito moralizador e foi chamado a prestar conta dos seus actos, ficou completamente perturbado.
Sendo interiormente honesto, cheio de amor próprio, envergonhava-se do que havia feito e não sabia explicar como chegara àquilo.
Começou a cogitar de suicídio, quando o trouxeram para que o orientássemos espiritualmente.
Outra participante da comitiva ao Museu de Cera, era uma ilustre professora, Dna. Nora, que obtemperou:
— Esta matéria, que desconhecia inteiramente, é deveras palpitante.
Na minha classe, tenho uma aluna chamada Calíope, que sempre foi um modelo de comportamento ético.
Dias atrás, procurou-me chorosa:
“Estou passando horrível depressão.
Tenho vontade de desaparecer.
Quando vejo minha santa mãe, meus boníssimos irmãos, meu pai tão correto, elogiando-me, sinto um vazio na boca do estômago.
Não sou nada disto, Dna. Nora.
Eu comecei a participar de um clubinho organizado, aqui dentro da Escola.
Ao mesmo tempo, foram aderindo elementos estranhos.
Começamos a nos reunir, para fins elevados.
Passamos a tentar, por nós mesmos, psicodramas.
Por fim, misturamos pesquisas com diversões.
Quando percebi, eu estava puxando maconha.
Desta passei para as picadas.
Para obter dos fornecedores o material, acabei fazendo concessões libidinosas.
De repente, eu estava, num inferninho de apartamento.
Não sei como acordei...
Sei sim. Uma amiguinha, percebendo em mim algo de anormal, mas ignorando o meu verdadeiro estado moral, levou-me à casa de um senhor muito versado em espiritualismo.
Conversou comigo e fez-me participar de uma reunião espírita.
Orei com aquela gente cheia de fé e confiança.
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