LUZ ESPÍRITA
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A mãe que desistiu do céu / M. B. Tamassia

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 09, 2019 9:45 am

A mãe que desistiu do céu

Este é um livro fácil de ser lido.
Escolhi textos de fundo ou filosofia moral que o leitor pudesse apreciar directamente, sem nenhum comprometimento de outra ordem.
No entanto, vinculei-os a um dado tema que ensejasse depois uma abordagem, estudo e reflexões.
Daí que de cada enfoque nasça um “Tema para Reflexões” e, para exemplificar, formulo perguntas que a estimulem.
Desta forma, pretendi converter uma prosaica colocação em perguntas e respostas, método que didacticamente Allan Kardec preferiu para a sua obra de codificação basilar “O Livro dos Espíritos".
Sócrates e Platão, que o missionário de Lião projecta na abertura de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, como precursores da Doutrina Espírita, também usavam maiêutica como aquela que se opunha a aprender decorando, mas, por força da necessidade de saber.
Vejo o público lendo pilhas de livros espíritas, sem que se detenha Lêem e passam.
Não voltam atrás, nem mesmo para uma releitura.
Noutros casos, temos aqueles que lêem muito, mas não se desbordam dessa leitura, procurando conhecer aquilo que outros disseram, vindo a se tornar incapacitados para as explicações, pois, o estudante do Espiritismo tem de ser trabalhado num sentido mais largo, em que possa esclarecer, com raciocínio próprio, mas, na medida da cultura e do obstáculo oposto pelo perguntador.
Livro despretensioso, vazado na linguagem comum de todo dia, é apenas uma contribuição à mensagem do Cristo, retrabalhada pelos seus prepostos na sagrada missão de dar ao mundo de hoje uma tradução dos seus ensinos.

Campinas, na chegada da Primavera de 1987

M. B. Tamassia
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 09, 2019 9:46 am

1 - A MÃE QUE DESISTIU DO CÉU.
Se soubéssemos respeitar o sentimento materno, não erraríamos tanto durante a nossa existência, pois que todo e qualquer insucesso e desventura que nos ferem, ferem, em maior grau, nossa mãe.
Têm sido as mães dos presidiários as figuras mais comoventes deste triste desvão da vida, a que damos o nome de cárcere.
Nas audiências do Conselho Carcerário de Campinas, onde servimos muitos anos, as mães dos encarcerados sempre nos impressionaram sobremaneira.
Desde o momento em que o seu filho é detido e indiciado, a mãe começa a sofrer, como se lhe tivessem lancetando o coração.
Quando então o Juiz da Vara Criminal exara nos autos o despacho condenatório, ela começa a morrer.
Entra em agonia.
O pano de boca do palco judiciário esconde, atrás da ribalta, e longe dos olhos do público, um drama familiar que vai se prolongar por largos anos, e às vezes para sempre, no qual os figurantes são criaturas inocentes que não infringiram lei alguma: a esposa, os filhos menores, o pai e a mãe do delinquente.
Nos quadros da via crucis poderão faltar todos, mas, nunca a mãe.
Com que tenacidade, suportando toda sorte de humilhações, ela, tão frágil, pleiteia, justifica, explica, perambula pelos corredores do Palácio da Justiça, ou batendo à porta da cadeia, enfrenta leoninamente guardas, carcereiros, delegados, escrivães, a fim de conseguir um benefício para o seu filho ou um amparo.
Nenhum advogado melhor, mais eficiente, a tal ponto que mães simplórias, e até analfabetas, com o perpassar do tempo, acabam entendendo de prisão albergue, domiciliar, livramento condicional, reunificação de processos, amnistia ou perempção.
Algumas sabem de cor inúmeros artigos do Código Penal!
Uma velhinha surrada e moída, a quem perguntei se morava longe, respondeu-me:
“Não. Moro pertinho da cadeia, apenas vinte quilómetros daqui.”
E de que forma a senhora vai e vem?
“Vou a pé. Somos pobres.”
Olhei bem para ela.
Era mãe de um presidiário e a imagem da desolação.
Pálida, anémica e encarquilhada, vinha todos os dias, mesmo que fosse para ficar sentada na escadaria externa da cadeia.
Quando, nesse emaranhado processual, os protagonistas vacilam, na fase preparatória, a mãe nunca o faz:
“O meu filho é bom, muito bom mesmo...”
No olhar destas mães, há tanta grandeza, quanto naquele de Jesus, virando-se para Dimas, o bom ladrão.
“Não há dor igual à minha dor”, teria exclamado Maria diante do filho supliciado.
E acredito piamente que teria sofrido muito menos, se fosse ela a condenada ao madeiro infamante.
Ah! nossas mães, simples ou doutas, ricas ou pobres, vestindo andrajos ou arminhos!
Mesmo depois que os seus olhos carnais se fecham com a morte, continuam no Além a velar por nós.
Nas notícias que chegam à Terra, através das mensagens recebidas por Chico Xavier, os mortos contam que uma santa lhes apareceu no portal da vida, para recebê-los com muito amor, e era simplesmente a sua mãe que partira antes.
Regista J. Doillet, na obra “Que é um Santo?", o facto de que, desde o tempo do Império Romano, nas catacumbas, os vivos se dirigiam às mães, no epitáfio, pedindo para que elas, no Além, os protegessem na Terra.
Assim, alinha tais evocações, entre as quais esta:
“Mãe Ercília, que te foste, intercede por nós.„”
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 09, 2019 9:47 am

Uma passagem é bem conhecida, acerca de certa mãe que, tendo morrido em santidade, foi conduzida ao Céu e recebida carinhosamente pela comunidade espiritual.
Pelo tanto que lutara em vida, com nobreza e abnegação, colocaram-na em lugar aprazível, florido, cheio de encanto, musicalidade e conforto, cercada de almas angélicas, solícitas em servi-la Ela no entanto, se revelou inquieta e logo mostrou a razão, perguntando ansiosa:
“Onde se encontra o meu filho Ditinho, que morreu bem antes do que eu?”
O Guia espiritual, esclareceu-a:
- “Ele está nas zonas inferiores purgatoriais.”
- “Então - disse a mãe - me perdoem. Não posso ficar aqui no Céu e meu filho no inferno.
Vou-me embora para ajudá-lo.
Coitado do Ditinho, ele deve estar precisando de mim.”

TEMA PARA REFLEXÕES:
Amor: Materno - Paterno - Filial - à Pátria - à Humanidade - a Deus - a toda criação. Amor afeição - Amor procriativo - Amor sexo.

QUE NOS SUGERE O DESVELADO E PROFUNDO AMOR MATERNO, POR SINAL, ACENTUADO EM TODOS OS ANIMAIS?
- Que se trata de uma força útil unitiva na natureza, desde a atracção dos átomos para formar a molécula, a das moléculas formando células, das células compondo órgãos e órgãos constituindo o espécime e os espécimes, entre si, formando o grupo, ou a família, dando continuidade à vida.
Conforme o ser progride evolutivamente, o amor se transubstancia, subtiliza-se, enche maior espaço, até todo o espaço, como é o amor de Jesus Cristo.
Os ensaios rudimentares de sexo no reino animal se transformam no Amor Transcendente franciscano e, maior ainda, nos Espíritos co-criadores com o Pai, que se dão de todo, e inteiro, na missão coadjuvante de dirigir e, de certo modo, conviver com as esferas, as inumeráveis casas planetárias, espalhadas pelo Universo.

QUE REPRESENTA O DESAMOR?
- A quebra da unidade, gerando assim a desarmonia.
O desamor decompõe o lar, desfaz os laços afectivos familiares, afecta a nação e faz perecer parte da humanidade de maneira ignominiosa.
O exemplo mais chocante de desamor é o uso da fissão nuclear para fins guerreiros.
Aliás, tão somente desintegrando a matéria inadvertidamente, desequilibramos o mundo físico criado por Deus para suporte do Espírito.
Sempre que o homem substitui o amor pela crueldade, está destruindo a criação e infringindo gravemente a Lei de Amor.

E O SUICÍDIO, COMO ENFOCÁ-LO?
- O homem não tem o direito de destruir nem mesmo o seu corpo, pois que este não é obra sua.
Quando se suicida, contraria a lei da vida; contrapõe-se bruscamente ao processo vital e mental, desorganizando o seu próprio ser; pratica acto de vandalismo no templo sagrado, onde mora a sua própria alma.
Daí que tenha de pagar um preço alto de dor, salvo raras excepções, por este ato que, no fundo, é de rebeldia à Lei do Amor Divino, que quer-nos com vida, até onde devamos tê-la naturalmente, em aprendizagem.
Toda a vida exuberante que nos rodeia e vibra fisiologicamente dentro de nós, permitindo-nos ser um ente pessoalizado faz parte de um Amplo Projecto do Supremo Arquitecto Universal; e todo obstáculo criado a tal projecto significa uma força adversa, prejudicial e anti evolutiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 09, 2019 9:47 am

2 - OS LENÇOS BRANCOS
Certa ocasião, no Além, se promoveu reunião de espíritos que haviam se dedicado ao mister de servir a humanidade pelas sendas do trabalho mediúnico, da caridade e da orientação espiritual.
Havia, no conclave, atmosfera de expectativa, pois, um iluminado irmão orador viria de esferas mais altas.
A assembleia era composta de espíritos desenfaixados da carne e de outros, que tinham sido levados para ali, durante o sono.
Eis que, como um nimbo de luz, o Grande Visitante desce no meio do anfiteatro, mas conserva-se silencioso.
Não se pronuncia sobre tema algum, deixando a assistência perplexa, já que esperavam, deste mestre, abordagem de temas importantes e transcendentes.
Depois de algum tempo, começou a mover os braços, como um caçador de borboletas, e apanhar, no ar, lenços brancos.
Depois de recolhê-los, jogava-os em direcção ao auditório.
Os lenços, porém, subiam a pique e, no alto, se tornavam bioluminescentes, como retalhos de ectoplasma luminoso, que desciam direccionados para a cabeça dos presentes, penetrando-lhes o corpo perispiritual.
Todos, um por um, foram se acendendo como se fossem lampiões belgas tocados por uma mecha.
Por fim, cada irmão, cuja tónica dominante, em sua vida carnal ou espiritual, era do serviço à humanidade, se converteu em verdadeiro bojo de luz.
“Que é isto? - murmurou a Irmã Veneranda, directora dos trabalhos. Por acaso, trata-se de um espectáculo de prestidigitação?”
A palavra do Emissário divino quebrou o silêncio, esclarecendo:
“Estes lenços brancos são o símbolo da mensagem que trago do nosso Mestre Jesus, destinada a todos os que o servem na seara do bem, na disseminação da luz e da consolação.
Principalmente, e mais ainda, aos que fazem tal sacrifício, suportando o vilipêndio e a incompreensão, por parte da humanidade.
“Os lenços brancos, que em vos mostro, são aqueles com os quais enxugastes as lágrimas dos desesperados; dos que estavam à beira do suicídio e, com a vossa palavra, os segurastes e os reerguestes, fazendo com que continuassem a viver em vida abundante; dos que tinham o lar derruído pela discórdia, e lhes destes as palavras próprias vossas ou inspiradas, de tal forma, que o fogo na lareira persistisse aquecendo e iluminando-os; daqueles que tinham angústia no coração e a tirastes; dos que perderam os seus filhos e buscavam-nos na campa gélida e lhes destes a certeza da continuidade da vida no Além, permitindo-lhes sentir o hálito quente e a palavra confortadora dos seus mortos queridos; daqueles que não acreditavam em mais nada, mas, conseguistes vivificar-lhes a fé em alguma coisa, numa existencialidade mais ampla no Universo; daqueles que reencontraram, graças a vós, o Cristo desaparecido na voragem do materialismo ou da pátina do tempo e das deformações feitas na sua figura pelos homens; daqueles aos quais, sofridos e lanhados, conseguistes estender uma taça, não com o sangue de Jesus, e considerada sagrada, mas, com misteriosos fluidos de amor, refrigerantes e curativos; dos que, desenganados pela medicina terrena, conseguistes-lhes um medicamento fabricado nas retortas do coração do Mestre ou nos arcanos indevassáveis do Criador; daqueles que mesmo incuráveis, mercê de débitos cármicos, destes-lhes tão grande suplemento de força e reserva espiritual, que passaram, dali por diante, a sofrer sorrindo; daqueles deserdados da sorte que reunistes num lugar, tratastes dos mesmos e dos seus filhos, destes-lhes sopa, abraçastes tais criaturas como se fossem amigos e parentes próximos; daqueles que, sem paz, a receberam de vós; dos que, condenados, confinados em ergástulos como feras e mergulhados na solidão, sem qualquer
outro afecto para litigar-lhes o 'profundo sentido de desolação, visitastes, levastes-lhes agasalhos e cuidastes dos seus filhos.
Eis, pois, meus irmãos, os lenços brancos que Jesus vos mostra e vos dá, para que não vos desanimeis em vossas lutas, pois que Ele andou pelo mundo, teve os seus pés em ferida, foi lancetado pela ingratidão, atacado pelos doutores da Lei e, por esta razão, vos entende em vossas tarefas, que os presunçosos desdenham.
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Ele sabe que, muitas e muitas vezes, vos sentireis frustrados à vista dos parcos resultados da colheita em relação à semeadura e do indisfarçável riso mofino daqueles que não obtiveram resultados rápidos, julgando estivéssemos administrando o pátio dos milagres.
“Assim Ele quer que, quando vos sentires fraquejar, vos lembreis dos lenços brancos com os quais enxugastes tantas lágrimas e, por certo as vossas, também, o serão pelo Senhor.

TEMA PARA REFLEXÕES:
O prazer de servir - O serviço remunerado. - Obcecação pelo lucro - Importância de um trabalho não retribuído.

POR QUE DAR TANTA IMPORTÂNCIA AO SERVIÇO AO PRÓXIMO NÃO REMUNERADO?
- É característico do movimento espírita brasileiro este afã de servir ao próximo, sem remuneração, o que causa estranheza a outros povos.
Mas, não devem nos estranhar, pois, o trabalho, para ganhar a vida ou enriquecer materialmente, tem a sua paga, que é o dinheiro.
Assim, o homem trabalha, e o faz com fito naquilo que vai ganhar.
O ganho é o seu objectivo, e não o que faz e a quem está servindo.
Daí provêm muitos males à humanidade que caminha permanentemente em guerra dentro de si mesma.
Se um produto dá lucro, produzem-no, caso contrário, embora a ausência provoque a morte de muitos, deixam de fabricá-lo.
Se a fabricação de armas enriquece a empresa e cria divisas para a nação, incrementam-na, e poderão até ser exportadas para nações com as quais se encontre em beligerância.
Uma pessoa pobre, indigente, pode morrer às portas de um hospital, caso não tenha recursos.
Na cadeia se encontram muitos presos que já cumpriram a pena, mas não possuem meios para contratar advogados.
Crianças carentes crescem no analfabetismo e outros não prosseguem no estudo, embora talentosos, porque os seus pais não ganham o suficiente para lhes pagar a mensalidade dos colégios.
Como o objectivo primacial do Espiritismo é exercitar os bons pendores do espírito, levando-o ao crescimento espiritual, estimula esse tipo de trabalho caritativo.
Todo homem, entrando por esse caminho, aprende o que poucos povos aprenderam: ligar o seu esforço à satisfação do beneficiado.
Tornamo-nos mais irmãos daqueles a quem servimos.
A fraternidade brota sã desta comunhão efectiva.
Prepara-se, aqui, um novo espécime humano para a nova Civilização do III Milénio, na qual os planeamentos públicos se darão, libertos de tais empeços, pois, a regra será a colaboração.
O hedonismo económico, aquele princípio de que “só daremos coisas aos semelhantes, se eles nos derem outras em troca”, passará a existir como um sonho mau que se foi.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 09, 2019 9:49 am

3 - OS TAUMATURGOS CONVENCIDOS
Conta-se que num Convento, nas proximidades de Roma, certa freira estava se notabilizando, em virtude dos seus inúmeros dons espirituais, que iam desde a difícil profecia até às curas mais assombrosas.
Premido pelo alarde que se fazia em torno da futura santa, o Papa pediu a Felipe de Neri que visitasse a religiosa e, da entrevista, lhe fizesse um relatório confidencial.
Montado em sua mula, confiado na misericórdia do Pai, lá se foi São Felipe, por envios e penosos caminhos, chegando ao convento mais roto do que já andava e completamente moído de cansaço.
Apresentou-se à abadessa e solicitou que fizesse vir à sua presença a famosa irmã milagreira.
O santo pediu-lhe que o ajudasse a tirar as botas que se encontravam encharcadas e cheias de lama, com o que, peremptoriamente, e mui amuada, a taumaturga não concordou.
Estava habituada a considerações especiais dos visitantes e salamaleques de toda a sorte.
Como poderia, ela, tão cheia de graças, descer do altar em que tinha se colocado?
O famoso santo nada mais pediu nem perguntou.
Montou o seu animal e regressou a Roma, onde confidenciou ao Papa:
“Nada existe com o que se preocupar.
Não há milagres, naquele convento, porque ali não existe humildade".
Também fui levado, certa ocasião, a conhecer as maravilhas de um senhor, de grande nome nos meios espíritas que, em São Paulo, estava fazendo paralíticos andarem e cegos enxergarem.
O enorme salão, situado no Brás, estava apinhado de gente das mais longínquas plagas do Brasil.
Como um actor, o taumaturgo pôs-se diante daquele heterogéneo público a realçar logo os seus altos feitos, as suas qualidades missionárias e o fazia como um camelo disposto a impingir o seu produto a qualquer preço.
Acelerava o seu gramofone laríngeo, imprimindo-lhe rotações que iam de 33 a 330 por minuto, segundo devêssemos entender ou não o que dizia.
Gesticulava, bradava, acusava os perseguidores, santificava-se a si próprio.
Às tantas, apontava para a plateia e dizia, decisivo:
“Você ai...”
E lá se levantava alguém cambaleante.
A assistência vibrava, balbuciando locuções com alta carga de misticismo:
“Um coxo tinha andado.”
Quando me perguntaram, depois, que eu achara daquilo, tive de confessar que não achara nada que valesse a pena.
Para mim, aquele médium e líder espírita era demasiado convencido de si mesmo, para que pudesse realizar alguma coisa de real, no subtil reino da manifestação da luz e dos seus efeitos em nome de Cristo, que o mesmo usava demasiado.
E, de facto, não se aguentou muito no altar.
A humildade é marca distintiva aposta em toda ovelha do Senhor.
Jesus aponta-a centenas de vezes na sua Via, chegando a anunciar que, numa certa altura da evolução espiritual, os exaltados seriam humilhados.
Quando, então, se trata de pedir força ao Alto,
mostra-nos dois homens que se dirigiam ao altar, um fariseu orgulhoso, convencido da sua graça e outro publicano humilde, sendo a prece deste a preferida por Deus.
Nas histórias da carochinha, quando um jovem herói deva tirar da boca de um dragão a chave com que abrirá a torneira do Elixir da Longa Vida, para o velho rei moribundo, exige-se dele, denodo e coragem.
Nas “Histórias das Almas” sucede que, mais do que coragem o Alto exige do herói muita humildade.
Possivelmente, no Tratado de Psicologia Celeste, editado no mundo espiritual, a chamada humildade representa o mais consagrado heroísmo, pelo facto de ser início de renúncia de si mesmo, em beneficio de uma colectividade, a parte se integrando no Todo, o individuo deixando-se atrair para Deus, consumindo o seu egolatrismo para a Fraternidade Universal.
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TEMA PARA REFLEXÕES:
Humildade - Para os romanos era fraqueza - Jesus tornou-a uma virtude - A prepotência é força do orgulho.

POR QUE JESUS ENFATIZOU TANTO A HUMILDADE?
- Pelo facto de que representa evolução espiritual.
O humilde já venceu o amor próprio, a vaidade, o egoísmo e, portanto, como a cobra, deixou cair a sua casca que o impedia de ver a verdade e sentir amor.
Uma das propriedades da humildade é a aceitação.
Sujeitando-se a tantas provas insuperáveis, humildemente toma, como Jesus, a sua cruz e segue-o.
Até para aprender, temos de ser humildes.
Todavia, não confundamos este estado elevado de alma, com aqueles que apenas aparentam humildade, mas que não o são verdadeiramente, pois, se revelam submissos e servis, por conveniência, e em todas as situações mantêm-se a salvo, sem opinar, participar ou conviver.
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4 - A AMBIÇÃO DE TARPÉIA
Quando os romanos se encantaram pelas sabinas, acharam de bom alvitre raptá-las, o que levaram a cabo com tão grande êxito, que se tomou no maior rapto de mulheres praticado por um povo.
As sabinas, carregadas nos ombros musculosos dos hercúleos romanos, não protestaram; pelo contrário, parece que gostaram, mas os sabinos ergueram brados aos céus e juraram vingança, por tão humilhante afronta.
E Tácio, comandante sabino, à frente de poderoso contingente, marchou contra Roma, mas foi obrigado a se deter diante das fortificações de difícil assédio.
Dentro da cidadela de Roma morava uma jovem chamada Tarpeia, muito bela e vaidosa, portadora de tanto charme que a levara a conquistar até mesmo o amor de Rómulo, rei de Roma.
A jovem possuía, no entanto, ambição incontida.
E isto fez com que cobiçasse os braceletes de ouro que os sabinos traziam em profusão no braço esquerdo.
Propôs-se, então, a trair Roma, desde que os sabinos, ao adentrarem na cidade, lhe entregassem tudo o que carregassem no braço esquerdo.
Assim, ela abriu as portas de Roma ao exército inimigo.
O comandante Tácio ordenou que a sua soldadesca, em fila, cumprisse a promessa.
Ao passar junto a Tarpeia, atiravam-lhe tudo o que traziam naquele braço: braceletes, enfeites, até mesmo os seus pesados escudos de guerra, com o que ela não contava
Tarpeia, desta forma, foi soterrada por tantos objectos na maioria de ouro, acabando por morrer sufocada, de maneira tão estúpida e inglória donde ter aquele lugar se chamado Tarpeia, nos antigos tempos.
A história de Tarpeia se parece com a de muitas mulheres que se deixam fascinar por um tipo de vida brilhante e de destaque social, como artistas que devem, por profissão, desfilar na ribalta.
Necessitam estar em dia com a moda, indefectivelmente presentes em mil e uma reuniões, assinar a frequência em balneários que lhes poderão dar nota elevada, enfim, movimentarem-se de um lado para outro, incessantemente, tudo tão depressa, tão entrecortado de telefonemas, contactos, providências, que a vida se lhes toma verdadeira sarabanda.
Conforme se elevam em prestígio, os que começam a romper os baluartes da sociedade entregam-lhes os seus sonhos, aspirações, devaneios para que sejam transformados em pedestais.
Quando dão por fé, estão praticamente mortas como Tarpeia.
Não são os objectos que podem nos sufocar, mas, muito mais do que estes, aquelas preocupações de servir, acolher, acompanhar, aplaudir, sair, com ou sem vontade, para estes ou aqueles lugares.
Deixam de ser pessoas em si mesmas, para se tomarem adornos e iscas de empreendimentos e demonstrações de evidência.
Perdem aquela sensibilidade diante do que seja simples e trivial, que, no entanto, constituem o legítimo tesouro da vida:
a carícia de uma criança, o afago de uma irmã, a presença carinhosa e descontraída da mãe, do pai, dos irmãos, o colóquio, sem enfatuação, com o esposo.
Não lhes chamarão a atenção as peripécias de um cão vira-lata, o desabrochar de uma flor, tampouco o deleite de colhê-la e colocá-la num vaso.
Faltar-lhe-á o abraço de um velho amigo de infância, que continuou pobre, mas que poderia despertar-lhe lembranças de ternura singela e pura.
Não poderá vadear um ribeirinho de águas cristalinas, fluindo frescor sobre um lajedo, batendo os pés nus, como observa Lyn Yuntang, em “Importância de Viver*.
As próprias fotos antigas, tão interessantes, dos seus progenitores e parentes, fazendo um piquenique, à sombra esparramada de uma figueira, viverão longe dos olhos, nos fundos das caixas, para que ninguém as veja.
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A própria refeição com os seus, o feijão com arroz, a farinha de mandioca, o doce de cidra, uma galinha perdida bicando por baixo das mesas o farelo de pão, aqueles sons de vida de animais, dos insectos que povoam o bosque adjacente, tudo desfeito.
Mais tarde, com varizes nas pernas, e a idade avançando, sentirá tédio.
Nem os netos, hoje homens espadaúdos, teve tempo de beijar.
Dizia-nos Gilmar, uma entidade espiritual que nos trazia do Além muita poesia e moral:
“Usai pérolas, usai pérolas, pois que elas são opalinas contas reflectindo a beleza celeste; mas não esqueçais do humilde barbantinho do amor, que as sustenta juntas, fazendo delas um colar.”

TEMA PARA REFLEXÕES:
Ambição - Ambição desmedida gera a incompatibilidade de convivência - Leva à guerra - Até aos genocídios.

PORVENTURA TODA AMBIÇÃO EXPRESSA DEFORMAÇÃO DE CARÁCTER E EGOCENTRISMO PERNICIOSO?
- Temos aqui de tomar por medida o ensino, como norma geral, difundido por Allan Kardec: “o que prejudica é o abuso e não o uso.”
Evidente que todo ser humano necessita ter uma ambição dosada para que possa sobreviver no espaço social em que se encontra.
A este propósito, Gide dizia que mesmo Francisco de Assis tinha a ambição de alcançar o céu.
Por conseguinte, temos de indagar do ambicioso que é que está ambicionando e até onde espera chegar.
Há ambições de elevado significado e nobreza, como aquela de Simon Bolívar que, sacrificando todos os seus bens e conforto, lutou e conseguiu a independência de várias nações da América Latina.
Não é maravilhoso que um Grupo Espírita pobre ambicione construir uma creche, e o faça?
Mas, também, neste sentido de benemerência, importa avaliar e pesar se essa ambição não se coloca insaciável, sempre mais e mais, tornando-se apenas uma vaidade dissimulada, para se revelar a maior entre os irmãos da seara.
Falta absoluta de ambição é dasafirmação.
Poderá tratar-se de preguiça e comodismo.
Enquanto vivermos na Terra, a nossa individualidade necessita possuir um núcleo, que é o ego, que a sustente de pé.
O problema se parece com o da Pátria; seria melhor que não existissem pátrias, mas, são indispensáveis como construções provisórias de unidade superior ao indivíduo, e que o leva a abdicações de si mesmo, paulatinamente, no decurso do progresso do Espírito.
Assim como o patriotismo exacerbado leva a nação a guerras, também, no homem, a ambição desmedida, descontrolada, egolátrica chega a converter um cidadão em Inimigo n9 1 de um povo.
Quando tivermos o necessário para nós e a nossa família, bom é que nos adestramos a pôr um limite à nossa ambição de posse.
Reservemos um cantinho de nós mesmos e da vida, para nos refazer.
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5 - AS FLORES QUE NÃO MURCHAM
A jovem Lynn Yougman, estudante do Groucher College, em Baltimore, adoeceu gravemente atacada de poliomielite bulbar, o que a levou em busca do ministro da sua Igreja, que tinha a fama de realizar prodigiosas curas pela fé.
Não obstante todo o empenho do reverendo curador, a meiga e delicada Lynn faleceu.
O insucesso chocou sobremaneira o ministro, que se sentiu frustrado, pois parecia que Deus não lhe ouvira as preces e que, assim, se Ele não atendera aos apelos do seu amor àquela criaturinha necessitada, a culpa possivelmente seria sua, a de não estar em graça com o Alto ou não ser dotado do dom de curar, como todos julgavam que ele fosse.
O humilde ministro procurou, no entanto, a médium Olga Worral, mundialmente famosa que, embora atendesse na Igreja Metodista, tinha números dons psíquicos, entre os quais, o de “ver espíritos”, e ela lhe disse:
“Vejo uma jovem a seu lado, sorrindo.
E alta, loira, de olhos azuis.
Pede que eu lhe diga que o seu nome é Lynn e que o senhor deixe de sofrer sem razão.
Diz-lhe, também, que o senhor não cometeu nenhuma falta em relação a ela.
Não lhe foi possível curar- lhe o corpo, mas curou-lhe o espírito.”
Depois de uma pausa, a médium exclamou:
“Estranho! Ela agora está se inclinando e beijando-o na testa, ao tempo que me pede para transmitir-lhe o seguinte recado:
‘Diga ao reverendo que estou retribuindo o seu beijo’.”
Quando esta última frase foi pronunciada, o ministro deu um pulo do sofá, em que se acomodara:
“Isto é demais para mim!
Ela está me retribuindo um beijo que, de fato, lhe dei, no mais absoluto segredo.
Só eu e Deus sabíamos disto!”
O fato acontecera no Hospital, onde a moça fora internada e colocada num pulmão de aço, em virtude do seu estado gravíssimo.
O reverendo, naquela hora, contristado e comovido, levado por reverente piedade cristã, aproximou-se furtivamente e deu um beijo paternal naquela figurinha lívida e já desfalecida.
Agora, Lynn vinha do Além para demonstrar a sua gratidão. Guardara, para sempre, mesmo noutra vida, a gratidão, que é apanágio dos seres evoluídos.
As flores, que colocamos num vaso de porcelana, fenecem, mas, não as que semeamos em outro coração.
Ishar, deusa fenícia, diz em “Temas do Amor Imortal”, de nossa autoria:
“Os que me construíram altares marmóreos ou movimentaram maquinalmente os turíbulos de incenso não ficaram no meu livro branco; registei, com gratidão, os que afagaram e beijaram, por mim, os desvalidos.”
A delicada passagem de Lynn não nos põe, tão somente, diante de uma inconteste verdade:
a de que, se somos imortais, se existe a sobrevivência da alma, esta deverá continuar com a sua individualidade, ao menos, naquilo substancial, como os verdadeiros afectos que alimentam o coração.
Quando o famoso pregador do Senado americano,
Peter Marshall, faleceu, de repente, a sua esposa Catherine ficou desesperada.
Sentia-se atirada pela janela, caindo no abismo.
A vida, sem Peter, apavorava-a.
Não sabia fazer nada.
Faltava-lhe até o instinto natural de sobrevivência.
Eis que um dia ouviu uma voz falar-lhe ao ouvido:
“Catherine, não penses em mim como morto."
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:22 am

Daí, por diante, sentia a sua presença e, certa ocasião, em sonho, foi ter com o seu amado Peter.
Ele, tranquilo, cuidava de extenso e maravilhoso roseiral.
Veio-lhe ao encontro, como era seu hábito, esfregando-lhe o nariz no nariz.
E disse a Catherine:
“Sabe de uma coisa?!
Até eu mesmo, pregador e estudioso, não estava preparado para entender a vida além da sepultura.”
Catherine, agora confortada, descobriu com a ajuda de Peter uma vocação:
a das letras, e se tornou a festejada escritora que conhecemos, autora do best-seller:
“Ninguém está só:tm:"
E ninguém está mesmo.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Amparo - caridade - sustentação.
Na natureza a árvore é amparada pela terra.
A Terra pelo Sol.
O fraco deve ser amparado pelo forte.

ATÉ ONDE SE TORNA CLARO QUE O SER HUMANO É AMPARADO NA VIDA TERRENA E, TAMBÉM, NO PÓS-MORTE?
- Na Terra, está claro o facto de que, antes de nascermos, já nossos pais estavam de braços abertos para nos receber e amparar.
A agricultura, a indústria, o comércio produziram bens de que necessitávamos, a começar pelos cueiros, fraldas, mamadeiras, medicamentos e agasalhos.
Vida afora, milhares e milhares de pessoas estiveram trabalhando para que vivêssemos.
Devíamos prestar mais atenção nesta realidade.
Que pão comeríamos, em que tecto nos recolheríamos, que água beberíamos, não fossem principalmente estes homens que trabalham duro e com firmeza em seus campos, oficinas e escritórios?
Deveríamos criar o “Dia de Graças ao Trabalho dos Nossos Semelhantes.”
Deus é nosso Pai, e nos criou, como tudo de que é feito o Cosmos.
Colocou em cada um de nós o amor para que seguremos uns nas mãos dos outros.
Do mais insignificante ser humano até Deus, existe uma corrente, na qual nos colocamos como elos; logo, não existe nenhum elo que esteja desligado e sem amparo, de maneira absoluta.
O que existe é diferença no volume e na qualidade do amparo.
Um homem que na Terra só se preocupou consigo mesmo, naturalmente, no Além, poderá sentir-se só.
O que deu muito de si terá gerado muita simpatia, e recebê-lo-ão festivamente.
Na verdade, o homem cresce e se expande na medida em que se projecta no coração do próximo; e a semeadura serve concomitantemente para esta vida e a outra, actuando como somatório neste e noutro mundo.
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6 - A CONCHA “ASA DE ANJO”
Quando uma pessoa se sentia deprimida ou desesperada, não sabendo onde e em que se agarrar, procurava Mr. Ken.
Dele se irradiava serenidade e segurança tal, que mesmo não dizendo nada, somente ouvindo, pacificava a alma do semelhante e dava ao mesmo condições de prosseguir na jornada.
Um dia, o renomado escritor e moralista Arthur Gordon perguntou-lhe:
“De que maneira você consegue afastar as preocupações da gente?
Como alcança isto?”
Ao que respondeu, fazendo um aceno para que o acompanhasse.
Tirou da gaveta uma velha caixa de papelão e, acendendo o seu cachimbo, começou a contar:
“Por volta de 1929, eu tinha sorte demais; em tudo que arriscava saia ganhando, e vencia todas as paradas, do que resultou o excesso de confiança em mim mesmo e exagerado alto conceito acerca da minha pessoa.
E foi a audácia que me levou à ruína, quando a Bolsa de Nova Iorque estourou.
Fiquei absolutamente sem nada, a pão e banana, como se diz na gíria.
Não conhecendo outro tipo de ligação senão o narcisista, não nutrindo nenhum afecto à minha esposa, tendo-a
apenas como objecto de sustentação da aparência social, não encontrei em que me segurar.
Comecei a beber, para fugir à realidade.
Quanto mais bebia, ao voltar do efeito alcoólico, me sentia mais miserável e sem salvação.
Olhava-me no espelho e me achava irreconhecível. Sem crença alguma, entendi que só tinha uma saída: suicidar-me.
Era madrugada, e um temporal revolvia o mar, tornando-o furioso.
Resolvi nadar assim mesmo, até onde dessem as minhas forças e, depois, me abandonaria à morte.
Eis que, dirigindo-me à praia, desviei-me por um caminho ermo onde as ondas chegavam ainda mansas.
Eis que, pisando na areia, encontro uma concha.
Era uma concha comum, como tantas outras, opalina, estriada, graciosa, mas, tão delicada e frágil, que fiquei espantado em vê-la, ali, perto dos meus pés, ainda inteiriça e perfeita, sem nenhum quebradinho.
Comecei a me perguntar a razão pela qual aquela concha tão fininha chegara à praia, no meio de costões, onde as ondas se dilaceravam, lançando espuma pela boca, a quinze metros de altura!
De que profundezas e distâncias te- ria vindo?
Uma voz subtil interior parecia explicar-me:
A concha não havia lutado contra aquela tormenta passageira.
Não se ergueu quixotescamente contra a violência de iradas águas, capazes de virar um navio.
Contrapor-se seria insânia.
Aceitou o jogo, amaneirou-se, deixou-se levar.
E, imitando hábil surfista cavalgou a onda, utilizou a sua gigantesca força a seu favor, até que enfraquecida, exânime, sem condições de violentar ninguém, ela mesma a depositou delicadamente naquele lugar mais resguardado da procela.”
Mr. Ken ajeitou o fumo e tirou uma baforada do cachimbo, tendo a fumaça se enovelado ao seu redor.
Depois da pausa, continuou:
“Desisti de praticar o gesto tresloucado e covarde de um suicida.
A concha estava me dando uma lição, e devia aproveitá-la.
O meu país estava arrostando uma tempestade económica tão grande, quanto aquela que açoitava o litoral.
Naquele momento, edifícios gigantescos da indústria e do comércio estavam ruindo.
No meu ramo, que era o acionário, todas as grandes fortunas aplicadas em acções, não valiam a tinta e a composição empregadas na confecção dos títulos.
Eu não estava só. Milhões de homens deveriam estar se debatendo e esperando um novo dia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:23 am

Eu não ajudaria ninguém com o meu gesto desatinado, nem a pátria, a família ou a mim mesmo.
A conchinha tão delicada, agora, se me representava a arca da salvação.
Não da espécie, mas do Espírito.
Entrei nela, não me afligi com mais nada, e assim fiquei suspenso nas águas do dilúvio até que ressurgisse o sol.
E, de facto, passou a tormenta, o mercado de acções foi voltando à normalidade, e eu com a longa experiência no ramo, não tive dificuldade para me colocar, outra vez, bem na vida.”
“Ele depositou o cachimbo na mesinha ao lado, levantou-se, e, como se estivesse praticando um ato religioso, abriu a caixa, e me mostrou, dentro de um escrínio, a pequena concha opalina, realmente leve, como se pudesse voar, a um sopro do vento. Com muita unção, virou-se para mim, e disse:
‘Eu chamo esta concha pelo nome de Asa de Anjo.”
Quantas Asas de Anjo, Deus espalha pelo mundo para tirar-nos da agonia do coração, do rebaixamento, da miséria, da dor, sem que os nossos olhos vejam, nossos ouvidos
interiores ouçam, e sem que arranjemos um cantinho para reflexões e outro para orar, agradecendo-O.

TEMA PARA REFLEXÕES:
A Esperança - Homem algum viveria sem ela - Temos de aprender a depositar Esperança na Sabedoria Divina que, a longo prazo, nos levará a um estado de felicidade.

COMO E ONDE COLOCAR A ESPERANÇA?
- Vivemos e, em cada minuto de vida vivida, a Esperança se fortalece ou fenece em nosso coração.
Ela lateja em nós. Quando não se realizam nossos anseios, temos impressão de que nunca mais haveremos de esperar.
No entanto, como o Sol, que se põe, volta a aparecer no horizonte, penetrando como um raiozinho luminoso pelas frestas da porta, assim, acontece connosco.
É um dos maravilhosos dons com que Deus proveu o homem.
Ninguém conseguiria sobreviver, diante de provas difíceis, sem Esperança Ela é como a primavera da alma que enverdece as macegas secas da paisagem.

QUE AMPLITUDE DEVEMOS DAR À ESPERANÇA?
E DE QUE FORMA O ESPIRITISMO AUXILIA O HOMEM?

- O Espiritismo ajuda muito pelo facto de abrir a visão do homem para outras dimensões.
Quanto maior a janela, maior é a amplitude alcançada pela nossa vista.
Assim, o espírita aprende a esperar com menos açodamento ou ansiedade.
Não se torna revoltado, pelo fato de não ter sido atendido prontamente pelo Alto.
Ele sabe que Deus é também Lei, e a Lei possui artigos e parágrafos e que, muitas vezes, o suplicante tem de satisfazer algumas exigências, antes de lhe chegar aquilo que desejou.
Noutros casos, sabe que é ainda uma criança e que aquilo que pede pode não ser-lhe o bem desejável para sua felicidade ou evolução.
Amadurecido, acaba por adquirir uma Esperança definitiva que se cruza com a confiança em Deus, convindo que tudo deverá, por fim, dar certo, apenas variando o tempo em que isto sucederá e a forma como lhe advirá o socorro ou o sucesso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:23 am

7 - A PROVIDÊNCIA DIVINA
Conta-se que o Mahatma Gandhi, viajando em sua missão de paz, nas cercanias de Mysore, durante o percurso, na zona rural, parava aqui e ali, cavaqueando com aqueles humildes trabalhadores tostados de sol e calejados na faina agrícola. Todavia, tinham tais campónios uma aura de maravilhosa serenidade diluída em todo ser, a tal ponto que isto levou Gandhi a indagar “Quem é o feliz Príncipe ou Governador desta região?”
Ao que, em coro responderam:
“Não sabemos e nunca nos preocupou isto.
Sabemos apenas que existe um Governo porque, para nós, são oportunas e suficientes as suas providências.”
Gandhi enalteceu-os, e aproveitou para fazer uma digressão luminosa:
“Se o conhecimento destas humildes criaturas é tão limitado que chegam a ignorar quem é o seu governante, nada podendo me informar acerca da sua identidade, eu que sou infinitamente menor em relação a Deus, não é de admirar que não possa dar explicações quanto a Ele.
Sinto-me na mesma posição dos campónios.
Como eles simplesmente sentem a presença do governo, também eu sinto a presença de Deus.
Posso apenas afirmar que, pelo visto, Ele é sumamente bom!"
Ninguém, de fato, pode definir Deus, pois que importaria em restringi-lo, colocando-o dentro de conceitos puramente humanos que, na opinião de Bergson, foram convertidos em palavras e frases para designar coisas materiais.
Mas, e isto é sumamente importante, que nos acostumemos a sentir a sua presença na Governadoria do Mundo.
Se os gigantes estelares não fogem às suas órbitas e, das galáxias a um minúsculo insecto, ambos da mesma forma permanecem encabrestados e dóceis às leis universais, por que seríamos nós os trânsfugas?
Tudo nos diz, sem palavras, que o Condutor do Mundo é seguro, sabe de onde viemos e para onde vamos.
Temos de ser possuídos por uma convicção plena de que chegaremos a destinos felizes, mesmo que sejamos recalcitrantes.
E por que, também, deixaríamos de confiar nos prepostos do Pai?
De plano a plano, nas infinitas moradas, Ele tem necessidade de se reduzir à dimensão própria para que se tome útil aos seus filhos.
Se a energia nos chegasse directamente da Usina Maior, talvez nos queimasse pela alta potência.
Por esta razão, no plano material, se colocam nas ruas os transformadores, para que aquela energia colossal possa tornar-se luz em nossa lâmpada.
Cada um de nós, no género humano, pode mediunizar essa Força e retransmiti-la, ao irmão, perfeitamente dosada à sua cura, ao seu equilíbrio, à sua felicidade.
Recebemos, e estamos sempre recebendo, e importa que doemos, como transmissores, sem o que estaremos prejudicando o Plano Celeste para iluminação e trabalho do Mundo.
Quem, na Terra, supor que lhe é permitido ser egoísta, gastando toda dádiva divina consigo próprio, está redondamente enganado, porque ele simplesmente se queimará como um charuto reduzindo-se a cinza inutilmente.
Quando, por esta razão, criaturas torturadas na existência julgam-se totalmente perdidas, já que a ciência humana não consegue resolver-lhes o problema psíquico ou físico, costumo dizer-lhes que ainda existe esperança, pois, as consideráveis Forças Superiores comandam a própria Vida Universal e a vida de cada um de nós é fragmento dessa soberba totalidade.
E ninguém deixará de receber um acréscimo de poder para a própria cura e a felicidade aspirada, desde que se ponha em sintonia com o Mais Alto, limpando-se das impurezas e vibrando ao tom maior das grandiosas sinfonias divinas.
O socorro lhes advirá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:23 am

A Providência não faltará, às vezes, ou quase sempre, pelas mãos de uma pessoa humilde ou uma entidade espiritual revestida de simplicidade.
“Os homens de boa vontade são braços da Providência* - ensina André Luiz.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Providência divina - Diferença entre providência e milagre - Não esperamos, hoje, que o maná caia no deserto.

QUE DEVEMOS ENTENDER POR PROVIDÊNCIA DIVINA?
- É o conjunto de soluções que Deus estabeleceu para resolver os problemas da criação.
O sal na água do mar é fruto de uma providência, sem a qual a água se corromperia e todos
os seres da crosta planetária morreriam.
Assim, também, a rotação da Terra em tomo de si mesma, ou a sua translação em tomo do Sol, pois, se ela parasse, em pouco tempo a humanidade pereceria queimada ou enregelada.
O feto humano fica bem resguardado, e defendido de qualquer choque, dentro de um saco de placenta cheio de líquido tépido!
Nosso coração bate o tempo inteiro, bombeando sangue pela extensa malha das artérias, carregando oxigénio e irrigando o corpo todo e até mesmo o cérebro, com prodigiosa precisão, através de capilares que, se entupissem ou rompessem, poderíamos ser levados à morte repentina

E COMO SE COMPORTA O HOMEM DIANTE DESTA PROVIDÊNCIA PROVEDORA?
- Como diante de tudo no Cosmos que sucede em perfeita ordem e silêncio: não nota.
É acordado apenas nos momentos de crise no seu organismo, a que chamamos doença. Geralmente esta é acompanhada de dor.
Então o homem volta-se para si mesmo, e lhe vêm à mente momentos das mais profundas reflexões, acerca do ser, do destino e da dor.
Nesta eventualidade, em que nos sintamos em perigo ou que necessitemos de auxílio de emergência confiamos que, mercê da misericórdia divina, façamos jus a uma “providência" pessoal e especial.
É em virtude dessa expectativa que as religiões descem aos apelos, às prosternações, ao cumprimento de rituais, gerando mil e uma formas de intercâmbio e oferendas.
Nem por isto, deixa de se constituir isto um ato religioso, pois é a linguagem dos simples e de meios de que se valem, a seu alcance.
Não podemos medir Deus e estabelecer os limites de sua acção, em resposta aos pedidos dos homens.
Faltar-nos-ia humildade.
Quem conhece os desígnios do Alto?
André Luiz nos conta uma passagem que viveu em missão de desligamento na Crosta Planetária, junto a uma senhora de idade, mas muito virtuosa, de nome Albina, cujo quadro clínico era o de que inelutavelmente desencarnaria.
No entanto, a equipe recebeu ordens de mobilizar todos os recursos para que a paciente se restabelecesse.
Nem tinham acabado de ministrar-lhe o tratamento, eis que Albina, uma quase moribunda volta a si, ensejando júbilo dos seus que lhe cercam o leito.
André Luiz desejou saber que intercessão poderosa lhe causara alteração no curso natural da desencarnação.
Eis que adentra o quarto da paciente um menino chamado Joãozinho e este beija-lhe as faces e as mãos.
Traz nos lábios palavras animadoras, chamando-a “vovó”, com muita ternura.
O Assistente da Equipe, apontando-o obtempera:
“A súplica dessa criança alcançou-nos a colónia espiritual e modificou-nos o roteiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:24 am

Não é neto consanguíneo da doente, embora se considere tal.
É órfão que lhe abandonaram à porta, após o nascimento.
Não obstante a prova, Joãozinho é grande e abnegado servo de Jesus, reencarnado em missão do Evangelho.
Tem largos créditos na retaguarda Ligado à família de Albina, há alguns séculos, torna ao seio de criaturas muito amadas, a caminho do serviço apostólico do porvir."1

1 O "Obreiros da Vida Eterna”, Francisco C. Xavier, André Luiz, Ed. FEB, Cap. 11 e17.

QUAL É O CONCEITO DE PROVIDÊNCIA?
- Antigamente, o crente esperava tudo de Deus.
Hoje, principal mente, o Espiritismo faz-nos saber que os próprios homens são os braços da Providência.
Quando uma criança tem fome, os Espíritos que cobrem todas as áreas, buscam um homem de boa vontade e este lhe providencia a alimentação.
Temos de servir a Deus através do serviço ao nosso irmão.
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8 - A OUTRA FACE DO HOMEM
Alguns veteranos da I Guerra Mundial, que tinham lutado ombro a ombro, em várias frentes de batalha, tomaram por norma se reunir em data certa, depois do armistício.
Era um reencontro cordial e festivo.
O lugar escolhido, para tal fim, era a mansão de um deles, Jules Grandin, que possuía excelentes condições financeiras.
Ali estavam os veteranos em torno do opulento anfitrião, e este lhes mostrava uma moeda de ouro de grande valor numismático pela sua raridade, quando esta lhe cai da mão e desaparece por encanto!
Jules Grandin não quis dar a moeda como perdida e, por consenso geral, deliberou-se que todos os presentes fossem revistados.
Por certo, ela seria encontrada na algibeira de algum esperto, ou, de modo diferente, a turma ficaria livre de uma permanente suspeita, que lhes estragaria a reunião.
Lebeau, outro veterano que ali estava de roupa surrada e ar ensimesmado, não concordou que o revistassem.
Foi o único a protestar com veemência.
Logo, todos entenderam:
“Ele, sem dúvida, havia surripiado a moeda.”
Nunca mais, em outras reuniões sucessivas dos veteranos, tornaram a ver Lebeau.
“Lebeau, um ladrão. Lebeau, um ladrão!”
Um dia, Jules Grandin resolveu fazer uma reforma na sua vivenda e eis que numa fresta do assoalho, rente à parede, encontra a sua preciosa moeda!
Fica amargurado com a injustiça que praticara com o velho companheiro e imediatamente procura Lebepu, para pedir-lhe desculpas.
Ao mesmo tempo, pergunta:
Por que, caro Lebeau, não te deixas te revistar?”
Queres saber mesmo?
Vou contar-te:
- Na ocasião, a minha família estava passando fome.
Não tinha côdea de pão para dar aos meus filhinhos.
Participando, como veterano, de uma mesa tão farta, tive a infeliz ideia de esconder restos de comida debaixo da camisa, para levar- lhes!
Temi que, na revista, o meu segredo fosse exposto.”
As aparências podem enganar-nos, daí que não devamos ajuizar afoitamente, dando prémios e castigos, por fãs ou por nefas, a todas as criaturas colocadas ao alcance de nossa língua.
Jesus toma Maria de Magdala e a coloca entre seus íntimos.
Ele sentiu, de pronto, e avaliou o toque de vinte e quatro quilates daquele coração de mulher que o vulgo tomava como a de uma perdida e corrupta.
Zaqueu era execrado cobrador de impostos, que se regalava e enriquecia, graças aos pesados tributos exigidos pelo Império Romano de seus irmãos de raça.
No entanto, o Divino Mestre não precisou nem mesmo do seu convite para ir à sua casa.
Ele sabia quão diferente era um homem por fora e aquilo que estava no seu interior, às vezes oculto como uma reserva aurífera.
Contava, a propósito, a parábola dos dois fiéis, um fariseu vaidoso, certo de que diante do altar a sua prece tinha subido valor, outro um publicano comum, muito humilde que pedia até desculpas ao Pai pela sua insignificância.
No entanto, é a presença deste humilde que comove o Pai, e não a do fariseu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:24 am

A tiara não qualifica ninguém para o verdadeiro céu, tanto assim, que na hora derradeira Jesus leva, com ele, o ladrão arrependido aos páramos superiores.
A todo momento Jesus repetia:
“Não julgueis...”
- “Estais viciados a somente ver o argueiro no olho do vizinho, mas, não em vós próprios”
- “Sois como os túmulos caiados por fora”
Não existe Doutrina alguma que esteja em condições de embasar os ensinos de Jesus neste sentido, como a do Espiritismo.
Esta nos permite, através da mediunidade, olhar este e o outro lado da rua, esta e outras moradas da Casa do Pai.
Todos os dias, em trabalhos práticos, estamos verificando pessoas simples, donas de casa, serviçais humildes, funcionários comuns, motoristas, mecânicos cheios de graxa, faxineiras, soldados rasos, na ressurreição verdadeira que se dá imediatamente após a morte, a que chamamos desencarnação.
Fora da carne, se tornam anjos da guarda, protectores daqueles seus patrões ou chefes enfatuados.
“Os últimos serão os primeiros” - enunciava Jesus.
Para que os homens soubessem de facto, bastaria que lessem os abundantes relatos nas obras espíritas, através das quais compreenderiam que, nesta faixa evolutiva medíocre, em que nos encontramos, ainda não sabemos medir ninguém com os olhos da alma.

TEMA PARA REFLEXÕES:
O hábito de mal julgar o próximo - Vemos o argueiro no olho do vizinho - Se formos obrigados a julgar, façamo-lo com muito cuidado.

QUAL É A RAZÃO DE JESUS PREOCUPAR-SE MUITO COM O JULGAMENTO DO PRÓXIMO?
- Pelo fato de termos a tendência de somente ver os defeitos dos outros, enquanto esquecemos os nossos.
O certo mesmo seria aproveitarmos o defeito do próximo para nos conscientizar da sua feiura, a fim de evitarmos fazer o mesmo.
No entanto, gostamos mesmo é de ocultar a nossa pequenez, chamando a atenção dos circunstantes para o nanismo do semelhante, praticando uma escamoteação psicológica.
Por outro lado, querendo demonstrar verve, brilho, humorismo, qualidades de um bom papo, colocamos alguém na berlinda, rimos e fazemos rir a todos.
Temos de nos exercitar contra este pendor maléfico, evitando pôr reparos nos outros.
O Espiritismo nos ajuda a encontrar o verdadeiro caminho, que é o da compreensão, pois, na senda da evolução, todos nós temos os nossos defeitos e àqueles que se situam em degraus inferiores ao nosso, temos de estender a mão, sem arrogância, disfarçadamente, para que coloquem o pé no patamar superior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:25 am

9 - “MALINHA DE PINTURA”
Visitando a Exposição de Trabalhos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e detendo-me na oficina de cerâmica e porcelana, sob a direcção da emérita profalida Tereza M. de Barros, me foi dado apreciar uns versinhos da sua autoria que estão postos assim na parede:
“Peçamos então ao Senhor
Que do Céu mude a escritura.
E permita a nossa entrada
Com as malinhas de pintura”
Eu tive um amigo violinista e seresteiro que estava sempre me confidenciando os seus anseios:
“Se é para depois da morte, alcançar um Céu, onde nada tenha a fazer, vou pedir a Deus que me dê um lugarzinho mais modesto, onde eu possa estar com o meu violino, numa rua iluminada a lampião a gás, de casas de amplos beirais e avarandadas, dando para jardim florido cheio de jasmins do cabo, exalando doce perfume."
Isto não é pedir demais, nem de menos:
e estamos certos de que existem realmente planos espirituais pictóricos, musicais, artísticos, enfim, onde a motivação principal da existência não é o parecer-se aos ratos trocadores, hedonistas, mas o de desenvolver a criatividade, porque, um dia, teremos também de criar estrelas, planetas, satélites, árvores, flores e frutos, simplesmente com a mente sem cinzel, pincel ou perfuratrizes.
Aquele mesmo violinista faleceu e um dia, através da médium Sílvia Paschoal, pôde voltar para trazer-me uma notícia:
“Saiba que o meu vislumbre acerca da vida além do véu, de que lhe falava sempre, era certo.
Estou habitando um plano espiritual, onde todos vivemos em função da musicalidade.
Não conseguiria transmitir a você e aos meus queridos companheiros de tocatas, as novas e diferentes expressões musicais que aqui são descobertas.
O que me deixou perplexo foi aprender certas incríveis relações que existem entre a Música e a Criação!
A lenda de Anfíon, que erguia muros com a sua lira, tem aqui um certo fundo de realidade.
Estou felicíssimo e encantado!
(a) Zeca Cruz."
Haverá então planos espirituais assim, aos quais podemos entrar com a nossa malinha de pintura?
Certo que sim, pois que a vida seria chocha se as boas inspirações morressem, de vez, amanhã.
Tudo que nasce, morre mas renasce em nível mais elevado.
Onde haja vida e inteligência não existe entropia, e isto reconheceu o pai da Cibernética, Norbert Wiener.
Não é só a Doutrina Espírita que propaga este ensino.
Hoje já o encontramos, se bem velado, em manifestações de padres progressistas da própria Igreja Católica.
No “Novo Catecismo para Adultos”, lançado pelo clero holandês, em tomo do qual se levantou, no mundo, muita celeuma, tratando de Arte, os seus autores teólogos, sugerem:
“Também, aqui podemos perguntar-nos: o resultado permanente da arte consiste apenas nos frutos do amor?
Será que também se eternizará, no “novo céu e nova terra” algo da própria forma em que agora nascem nesta terra, a ciência e a arte?
Pois, se o melhor no homem ressuscita em incorporação, porque também não o melhor em suas criações?”
Extraordinária e corajosa pergunta-sugestão de uma ala do clero tão combatida.
Qual a razão pela qual, no aperfeiçoamento da alma, teríamos de ficar simplesmente no cumprimento de um código ético?
Fazermos o Bem não é, também, enriquecer a sensibilidade do próximo?
Tomando maior, em amplitude, a face do homem, porventura, não cresce, de modo a sentir e compreender Deus melhor?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 10, 2019 11:25 am

E o “Novo Catecismo” obtempera:
“Poder-se-ia comparar a vocação e a missão do artista, de certo modo, como sacerdócio:
o verdadeiro artista possui o dom de fazer surgir no mundo a luz da verdade e da beleza”
Só de uma coisa não se deu conta aquele catecismo:
E que a comunhão entre os planos sé estabelecem em intercâmbio de inspirações.
Ora levamos connosco, no pós-morte, ou no desdobramento, a nossa “malinha de pintura”, a que alude a ceramista-poetisa, ora são nossos grandes irmãos dos planos da musicalidade e da pintura, que sopram em nossos ouvidos e enchem de imagens os nossos olhos.

TEMA PARA REFLEXÕES:
A arte - o artista - a harmonia - consonância e dissonância. Diferença entre a música e a arte plástica. Deus também é artista.

A ARTE TEM ALGUMA IMPORTÂNCIA NA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL DO SER HUMANO?
- Em virtude de um erro de visão, que vem da antiguidade, principalmente da estruturação do Cristianismo, acabaram por conceder o reconhecimento de beatitude apenas àqueles portadores de virtudes cristãs dentro de certos parâmetros, em que se configuram a dedicação, a fé, o amor e a graça perante o Senhor.
O céu, pois, seria habitado por espíritos assim, cujos protótipos encontramos nos hagiógrafos.
Poderíamos afirmar que é o Espiritismo aquele que veio tirar o véu de Isis, revelando, em linguagem didáctica, ao alcance de todos, os mistérios do Céu e da Terra.
Assim, ficamos sabendo que o Espírito tem de evoluir em todos os sentidos, na ciência, na tecnologia, na arte, no amor, na literatura, na poesia, na filosofia, na política.
E isto é uma verdade que alcançamos através dos colóquios com nossos irmãos que se foram desta vida, bem como em virtude de ilação.
Deus é um poliedro de infinitas facetas radiantes, abrangendo todos os dons, saberes e conhecimentos.
Tudo que temos vem d’Ele.
E o Supra-Sumo, como entendia Platão.
Evidente que, se evoluir é “ascendermos" a Ele, temos de imitá-lo.
É por esta razão que preconizamos a Educação Integral do Homem.
Se bem que lá no Alto, tocando as fimbrias do Reino Divino, haja o fenómeno de convergência de todas as diversificações, formando uma estria única, contendo todas as multiformidades, eis que, enquanto caminheiros, temos de treinar a juntar tijolos com argamassa para levantar o edifício.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:56 pm

10 - QUE ACHARAM ELES DE JESUS?
Gibran Khalil Gibran, o rutilante bardo-filósofo, tinha plena convicção de que conhecera pessoalmente Jesus em vida pregressa.
Dizia, então, para que não ignorassem essa realidade, que lhe era substancial:
“Eu o vi lá...
- “Era jovem, fora de toda idade, e imortal.. Não Deus.„”
Existiriam, vivendo ainda na Terra, criaturas que te- riam vivido no tempo de Jesus, ouvido as suas palavras e comtemplado a sua figura?
Na Terra, encarnados, sinceramente eu não sei, embora isto não me viesse causar admiração, pois o que o ser humano se desenvolve vertiginosamente no sentido material, mas muitíssimo lento no caminho da espiritualidade.
No, entanto, tenho já tido contacto com alguns espíritos desencarnados, que afirmam ter partilhado do convívio do Divino Mestre.
Que impressão esse sobrevivente e testemunha pessoal do maior evento da história da Humanidade teria tido do que se passou e de que forma, naquela época, considerou. Jesus?
Ora, talvez a mesma impressão que encontramos, na obra "Jesus, o Filho do Homem", de Gibran Khalil Gibran.
Para um boticário grego, chamado Filémon, Jesus era médico notável e, por isso, lastimava que Ele perdesse tempo “fazendo discursos na praça do mercado”.
Para Caifás, Jesus “era um profanador e um corruptor, que visava destruir o templo de Jerusalém e que, por isso, devia morrer”.
Joana, mulher do despenseiro de Herodes, admirava em Jesus a maneira como ele era “amigo das mulheres e conhecia-as como devem ser conhecidas: na doce camaradagem.
Era amigo de todas as crianças e tolerante para com as prostitutas".
Para um jovem sacerdote de Cafarnaum, Jesus não passava de “um mágico, um feiticeiro, um homem de enredamento e de trama, que confundia a todos com sortilégios e encantamento.
Era um prestidigitador e um enganador.
Ele desrespeitava o Sábado para conseguir o apoio dos sem-lei".
Eis, aí, aquilo que deve ter se passado.
Não julguemos, pois, que logo o reconheceram, aceitaram os ensinos e se rejubilaram.
Num colóquio psicofónico, através da médium campineira, Sílvia Cruz Paschoal, certa ocasião Túlio, espírito de alto descortino e erudição, disse-nos ter conhecido pessoalmente Jesus.
Já, então, naquela época, Túlio era homem de letras.
Prestava bastante atenção às palavras de Jesus, mas, como tinha sido educado nas linhas da cultura helénica, tais ensinos lhe soavam enigmáticos.
Tinha intuição de que aquela Voz enunciava profundas verdades, mas, de que lhe adiantavam, se não conseguia entendê-las?
O que, no entanto, mais lhe pesava na alma e o deixava intrigado, era testemunhar que a população rude e atrasada estava pronta para receber tais ensinos que, depois, se converteram no Evangelho:
“Eu sou um homem de letras e muita coisa me escapa deste Profeta.
Que poderão entender estes ignorantes que estão aqui e que não sabem ler, escrever, falar correctamente, apenas adestrados ao pastoreio, ao amanho da terra e à pesca?” - resmungava ele.
Túlio, então, nos advertiu:
“Porque o entenderam com o coração, os simples seguiam-no sem vacilação.
Os intelectuais complicados, como eu, ficaram à margem do Caminho, porque buscavam sempre as razões e a lógica nos discursos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:57 pm

Pulando de razão em razão, de explicação em explicação, enredaram-se, confundiram-se, duvidaram e se perderam.
Por isto, passados dois milénios, eu, ainda hoje, permaneço aqui, neste vale de sombras, sofrimentos em renovadas experiências.
Deixo-vos um conselho:
“Não pareis, irmãos, demasiado, para pensar.
Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida e tudo se tornará simples se o seguirdes.
Caso contrário, sereis sempre frustrados retardatários no Caminho da Luz.”
A hesitação é aceitável enquanto podemos chamá-la prudência.
Todavia, desde que se torne hábito, tolhe o ser, como o próprio instinto de conservação exacerbado.
A coragem é uma virtude de que os antigos se vangloriavam e com a qual mediam os próprios deuses.
Indaguei, certa ocasião, ao amigo Demétrio, bem posto na vida, simpático, inteligente, de boa prosa quem, no entanto, aparecia e desaparecia do nosso convívio espiritual:
Você gostou da nossa Doutrina?
Apreciou o seu fundamento nas leis de justiça divina?
Entendeu a abertura para os espaços sem fim?
Encontrou nela a raiz profunda da fraternidade entre os homens, os quais se reencarnam, muitas e muitas vezes, em meios diferentes de raça, cor e religião?
Percebeu que maravilha é a evolução indefinida do Espírito, através dos patamares nas estrelas e em planos ultra-físicos pluri-dimensionais?
E, sobretudo, sentiu o trabalho porfiado cristão da grei espirita, no amparo a todos os que sofrem?
Notou o extraordinário poder consolador dos Espíritos de Luz?" Sim!"
E por que não atravessou para nosso lado da rua e não veio estar connosco?”
A isto, Demétrio respondeu:
Tenha paciência, sei que estou em falta, em virtude de minhas ocupações, mas, mês que vem em diante, participarei das suas reuniões tão belas e ricas em ensinamentos; começarei a arregaçar as mangas da camisa e trabalhar firme na seara.
E veja lá, quero ainda ser o capitão do time!"
Em relação, a Jesus, não chegou até hoje o dia de Túlio e muito menos o “mês que vem" de Demétrio.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Hesitação - Dúvida - Falta de determinação.

QUAIS SÃO OS MALEFÍCIOS DA HESITAÇÃO?
— É aquele de um cidadão que concordou em dar uma volta de barco.
Logo mais, parou a barca em pleno mar, e com a mão no leme, caiu num estado de profunda hesitação, se continuava o passeio ou não.
Sem que desse pela coisa, a correnteza marítima tomou o seu barco e lançou contra as rochas, despedaçando-o.
É certo que devemos ter um momento próprio para tomar um caminho; uma vez deliberado, importa que nos enchamos de coragem, confiança, pensamento positivo, mentalizando o êxito.
Só depois de alcançado esse primeiro objectivo, podemos cogitar de um reinício para novos horizontes.
O jovem que faz muitos planos, e não se fixa em coisa alguma, é semelhante àquele atirador que vê muitos pombos na mira da sua espingarda e quer acertar
em todos, vacila na pontaria e não derruba nenhum.
Em matéria de construir uma obra de benemerência, Emmanuel, ensina-nos:
“Não vacile.
O mais difícil na obra filantrópica é o primeiro passo, porque outros passos recebem a ajuda tão pronta que o edifício se erguerá como se fosse levantado pelos anjos.”
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:57 pm

11 - O B0NEZINH0 E A VACA
.Em Londres vivia um velho e honrado lixeiro chamado Mollygruber, muito benquisto no quarteirão que lhe cabia limpar.
Um dia, a sua atenção foi despertada por um menino que se debatia nas águas do lago e se aproximou o mais que pôde, verificando que o garotinho estava se afogando.
Várias outras pessoas que passeavam no parque municipal se reuniram, ali, curiosos; no entanto, ninguém se movia para fazer alguma coisa.
O velho lixeiro, embora fisicamente derruído, com as suas dores reumáticas, atirou-se na água gelada e com muita dificuldade salvou o menino, trazendo-o à margem.
Foi, naquele momento, muito aplaudido e considerado o herói do dia, figurando a sua foto na primeira página de um matutino.
No entanto, pobre do velho, esforçou-se muito além do que lhe teria sido dado fazê-lo, e desfaleceu, tendo sido levado a um hospital.
Enquanto isto se passava, a mãe do menino salvo, ao tempo que o cobria de beijos e lágrimas de satisfação, notou que o mesmo estava sem o bonezinho que lhe havia comprado dias atrás.
Irritou-se com isto.
“Roubaram o bonezinho do meu filho».
Não quero saber de nada_ ele estava aqui, à beira do lago com o bonezinho...
Faço questão do bonezinho...
Esse velho caduco, por certo, encenou tudo isto, apenas para roubar-lhe o bonezinho..."
A mulher não se contentou com isto.
Foi atrás da ambulância, adentrou o hospital, dirigiu-se à sala de Pronto Socorro e começou a infernizar todos os médicos e enfermeiros.
Queria, a qualquer custo, o bonezinho do garoto e ameaçava todo o mundo.
Fizeram-na ver que o velho não tinha condições de falar, prestar declarações alusivas a tal bonezinho.
Por fim o Director do Hospital lhe deu um ultimato:
“Ou a senhora deixa o velho herói em paz ou chamo a Polícia e mando prendê-la.”
Só, assim, intimidada, aquela mãe ingrata abandonou a causa, mas, o velho, no dia seguinte, morreu, e os moradores do quarteirão encheram as ruas de flores e dísticos alusivos à gratidão devida a quem tantos anos trabalhara, ali, com tanta dedicação e, por fim, dera a própria vida em troca da de uma criança.
Esta passagem, contada com outras palavras, por Lobsang Rampa, em sua obra “3 Vidas”, serve para identificar estas almas que trazem, nas suas personalidades, insculpida em traços profundos a tendência para a ingratidão.
Basta-lhes desapareça um parafuso numa obra, para que se enfureçam.
Não sabem ao certo se se perdeu, no meio de tanta bugiganga mas, possuem essa vocação para justiceiros desalmados.
Qualquer pessoa que permaneça algumas horas numa Delegacia de Polícia ficará
deprimida diante de tantos delatores e queixosos, que desempenham essa função gratuitamente ou por razões de somenos importância.
Certa ocasião, o dono de uma pequena fábrica de artefactos de couro, cidadão benquisto e honesto, sofreu rigorosa fiscalização por parte da Receita Federal.
Tendo o estabelecimento crescido à custa de meio século de trabalho pessoal ingente e porfiado, ele não ligava muito para a escrituração dos seus livros.
E a Fiscalização foi directa neste ponto fraco, e anulou-lhe a escrita, e submeteu-o ao sistema de arbitramento dos lucros por muitos anos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:57 pm

O quantum apurado assim, acrescido de pesada multa, se elevou à cifra que, para a sua capacidade contributiva, era astronómica.
Com isto, tornou-se insolvível e a sua propriedade foi a leilão.
Uma tragédia para a família, e esta foi gerada por uma simples denúncia de um vizinho que não lhe tolerava os cachorros que latiam muito à noite!
Os casos de herança inspirariam, muito, aqueles que andam pesquisando nesta área.
Um fazendeiro deixou para os seus herdeiros, esposa e filhos, 50.000 cabeças de gado.
O filho mais moço se concentrou de tal maneira na fiscalização da herança que contava até os pés de milho.
Por fim, verificou que no arrolamento havia falta de uma vaca.
Com essa vaca conseguiu fazer todo mundo infeliz, principalmente a sua mãe, viúva-meeira e inventariante.
Não perdoou a ninguém por causa de uma vaca, chegando mesmo a distribuir alguns balaços.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Vilania - avareza - mesquinhez.

QUAL A RELAÇÃO DO HOMEM E SUAS POSSES?
- Diz um provérbio que “o dinheiro foi feito para o homem e não o homem para o dinheiro”.
Devemos ser donos dos objectos e não estes, donos de nós.
Muitas pessoas ricas perdem a sua existência tomando conta das suas propriedades e negócios, com tanta fixação que esquecem de usufruir as boas amizades, o amor conjugal, a ternura dos filhos, sem se dar a si próprios qualquer direito a um espairecimento.
“Onde está o nosso tesouro aí está nosso coração” - preveniu-nos Jesus.
No pós-morte, via de regra, o Espírito excessivamente ligado à fortuna, continuará preso aos seus negócios, e ficará vagueando na crosta, sem condições de ascender a páramos de mais luz.
Foi por esta razão que Jesus também advertiu-nos:
“É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico ir ao céu."
Humberto de Campos (Irmão X) sendo inquirido sobre aquilo que mais prejudicava um desencarnado, logo depois do seu trespasse, respondeu:
“Os registos imobiliários, partilhas, avaliações, papéis de contractos particulares de compra e venda, e essa papelada toda que deixou em virtude de morte repentina, cujo significado só o “de cujus” sabe.
Estranho ver tais vultos, obcecados, como se vivos fossem, vasculharem os cartórios, e andarem pressurosos pelos corredores do Palácio da Justiça, profundamente chocados e até mesmo enlouquecidos.”
QUE NOS ENSINA ISTO?
- Que aprendamos a nos despojar em vida, pois que, deixar isto para depois da morte, é perigoso para a paz da nossa alma.
André Luiz bate muito nesta tecla: que devamos nos desfazer de objectos que não nos têm mais utilidade.
O inservível para nós, geralmente, serve para a população pobre.
Tudo Serve” é o nome de um departamento do Centro Espírita Allan Kardec, de Campinas, que aceita doação de qualquer coisa que não queiramos mais.
Conserta objectos e vende-os para as suas obras sociais, com grande resultado.
Esvaziemos nossos armários, gavetas e despensas para que não ocupem lugar em nosso coração, e esse espaço enchamos com a reverência e simpatia dos nossos irmãos mais necessitados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:58 pm

12 - REMEXENDO A MOCHILA
Conta-nos Jacob Needleman, em “As Novas Religiões” que um rapaz, estudante de biomédica, buscou o caminho da verdade e da libertação.
Para quaisquer jovens, como ele, tal resolução advém de desejarem orgulhosamente' quebrar vínculos que garantem o património moral da humanidade, mas que consideram absolutamente convencionais.
Têm-se a si mesmo como presas de uma “Sociedade repressiva” à qual todos homens se alienam.
A alienação é palavra mágica, insistentemente usada por Marcuse e Freud, para essa conversão à certa rebeldia.
Nosso herói era um jovem comum e alinhou-se na luta contra a alienação: ao patrão, aos pais, às instituições, ao Estado, às religiões opressoras, ao horário, à limpeza diária; tomou-se barbudo como os outros, gadelhudo como Sansão, declarou-se ao lado do “amor livre’ e saiu por este mundo afora, sem disciplina, relógio, ou cuidados burgueses.
No entanto, estas exterioridades não o satisfaziam.
Desejava encontrar preceitos transcendentes para embasar toda essa maravilhosa atitude de desapego, firmando-se em alguma sabedoria, o que evidentemente era impossível.
Saiu em busca de um Mestre Perfeito.
Em nenhum lugar no mundo se encontram tantos, e tão facilmente, segundo o modo de pensar desta gente, como na índia Milenar dos profundos mistérios, que os iniciados transmitem de uns a outros.
E lá se foi nosso herói à índia, com o seu gosto e seis vinténs no bolso, carregando a sua mochila.
E foi feliz. Conseguiu entrar em contacto com Meher Baba, cognominado “O Pai Compassivo”, o idealizador e construtor da célebre colónia de Meherazad.
Todavia, este jovem hippie era norte-americano.
Tinha ainda mente bioquímica e raciocínio baseado na cibernética.
Assim sendo, levava consigo a mochila cheia das chamadas “cápsulas da realidade” feita de ácido lisérgico, LS.D. puríssimo.
Já tinha, pois, o seu método de encontrar a realidade suprema, através de drogas.
Era via mais directa, simples e efectiva.
“Por que - falava de si para consigo mesmo - tanto tempo para chegar ao samadhi?
Vejam só!
Quarenta anos Siddhartha Gautama meditou debaixo da árvore Bodi”
Agora se encontrava face a face com o Mestre Mener Baba, no seu próprio ashran.
Era-lhe uma glória.
No entanto o Mestre não o apanhou pelas mãos e levou-o a qualquer contemplação extraordinária.
Não tirou a sua alma da bainha, nem a levou a passear em regiões sublimes.
Não o libertou, como aspirava.
Pelo contrário, mostrou-se-lhe um homem qualquer, como realmente um “Pai Compassivo", dizendo- lhe:
“Não pretenda o irmão encontrar o que busca, exercitando-se neste ashram, em lugar de outro qualquer, tampouco sonhe alcançar beatitude em monastérios, de que tem notícia Nenhum passo você estará dando, vagabundeando pelo mundo, sem fazer nada.
Tampouco julgue que possa elevar- se um centímetro da terra, ingerindo drogas.
Só vocês ocidentais, criaturas estranhas, imaginariam encontrar a realidade inefável engolindo cápsulas.
A droga é uma ilusão dentro de outra ilusão."
O rapaz já se sentia meio envergonhado de ter penetrado aquele ashram com a sua mochila cheia de drogas e, em silêncio, confiava que o Baba, ao menos, lhe indicasse um caminho, pois viera de tão longe!
E, realmente, o Baba voltou-se para ele, e o orientou, dando-lhe uma ordem que não esperava “Volte.
Volte aos Estados Unidos, ao seu trabalho no hospital.
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