LUZ ESPÍRITA
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:51 pm

Watab decidiu convocar novamente os exus — guardiões das ruas e das instituições — para tomarem conta das manifestações com aspiração ao vandalismo, enquanto ele, secundado pela equipe de imediatos, supervisionaria os acontecimentos relacionados directamente à Horda.
Entrementes, Raul resolveu tomar providências por si só.
— Não aguento ficar aqui, de braços cruzados. Deus me livre desses espíritos do bem com essa pasmaceira, essa lentidão. Vou entrar em campo! — disse em voz alta.
Raul estava horrível. Fora trabalhar naquele dia, mas guardara tudo somente para si, sem comentar nada nem mesmo com os amigos mais próximos. Quando chegou ao serviço, tinha a aparência de quem havia sido atropelado por um caminhão. Em dado momento, não se conformando em ficar fora dos acontecimentos, resolveu descer as escadas do local onde actuava profissionalmente, adentrou um dos cómodos desocupados do lugar e deitou-se no chão mesmo, preparando-se para começar.
Tão logo se concentrou para sair do corpo, super-agitado, notou que não estava só. A despeito disso, sentindo-se protegido e confiante, embora o corpo físico estivesse aos farrapos, forçou o corpo espiritual à decolagem. Um barulho diferente ouviu-se no interior da caixa craniana. Uma espécie de ploc, como se houvesse se quebrado algo deveras delicado. O cordão de prata tornou-se elástico imediatamente, como que obedecendo a um instinto ou a uma ordem inarticulada emitida pelo espírito. A sensação de descanso e de leveza tomou conta da mente e do psicossoma do sensitivo. Levitou poucos metros acima do corpo, virou-se e rodopiou, pairando de pé, ao lado do corpo, e fitando-o.
— Onde você pensa que vai? — indagou a voz firme atrás de Raul, uma voz que não podia ignorar.
— Joseph? Você aqui?
— Sim, sou eu, mas não estou aí. Estou a milhares de quilómetros de distância, embora, vibratoriamente, perto de você. Isso que vê é apenas uma projecção do meu espírito; posso estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo.1
“Odeio esse tipo de gente — pensou Raul. — Estar em dois lugares ao mesmo tempo… Por que raios, podendo estar em mais lugares, veio justo aqui, para perto de mim?”
— Vim para conversar com você, amigo. Precisa se acalmar e evitar fazer qualquer coisa precipitada — respondeu o espírito, denotando que sabia o que Raul pensava.
— Então, nem adianta, pois sabe muito bem que vou fazer o que precisa ser feito…
— Quem sabe pensa um pouco mais e decide fazer diferente?
Raul recusou-se a ouvir mais o espírito e, elevando a frequência do pensamento, emitiu um grito mental sem par:
— Irminaaaaa!… Irminaaaaa! Venha looogo, mulheeer!… Cadê você?
O espírito pareceu ignorar o grito mental de Raul e falou, com o sotaque que lhe era próprio, balançando a cabeça:
— Este é você mesmo, meu irmão. Nem mais nem menos do que você.
Como que dando um sinal previamente combinado, desvaneceu-se dali ao mesmo tempo em que outro espírito, um guardião, substituiu-o ao lado de Raul. Joseph já conhecia bem o médium e sabia que não arredaria pé de fazer o que já havia decidido. Ao reagrupar as moléculas do corpo espiritual, distante do local onde Raul estava, o espírito comentou:
— Ainda bem que tem gente decidida neste mundo. Eu não esperava outra atitude dele. Assim, resolverá dois problemas de uma só vez.
— Mas você aprova o jeito impetuoso e desrespeitoso do médium? — perguntou-lhe outro dos Imortais que o receberam no novo contexto.
Joseph olhou firmemente os olhos do espírito e respondeu, quase sem dar importância ao que dissera:
— Impetuoso, sim; desrespeitoso, não.
Sem dar maior atenção, após breve instante, acrescentou, reflectindo a maneira pragmática de pensar que lhe era tão característica:
— Se ele resolver o problema, por mim, tudo bem; ajudará a seu modo. Desde que resolva, é o que importa, e não os pormenores de como tudo se dará.
Em seguida, saiu, sem se importar com a perplexidade do Imortal.

“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado.”
TIAGO 4:17
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:51 pm

Capítulo 9 – Testando limites
Mal Joseph Gleber se transportara a outras regiões a fim de dar continuidade ao seu trabalho, Raul prosseguiu resoluto com seu intento, sem esperar pela aprovação do orientador evolutivo. No fundo, sabia que, se Joseph quisesse, seria capaz de dissuadi-lo facilmente e até impedi-lo de fazer o que tinha em mente. Já vivera situações semelhantes e obtivera o aval do mentor, apesar da forma particular como tomava decisões. Contava com o fato de que os Imortais não agiam baseados em emoções nem tinham arroubos de sentimentalismo. Disso o médium tinha convicção, após tantos anos de serviço sob sua direcção. Em parte, também porque, no período entre vidas, antes da actual experiência reencarnatória, gostava de ser treinado pelos guardiões nas regiões sombrias. Com eles se sentia à vontade. Talvez por isso tinha seu jeito decidido, directo e sem rodeios ao falar e ao agir. Os guardiões sem dúvida o influenciaram: são certeiros, politicamente incorrectos e, às vezes, irreverentes; não têm pudores em dar nome aos bois e frequentemente incomodam.
“A culpa é de Jamar!” — pensou Raul, sem dar atenção ao que se passava ao redor. “Odeio ter de dar explicações do que vou fazer. Afinal, o certo é certo, e o errado, errado, por mais que alguém o defenda. Jamar foi me dar cordas, agora que aguente…”
O rapaz viu o guardião que sucedera Joseph, porém, não deu bolas para ele. Continuou gritando mentalmente, chamando a amiga Irmina Loyola, que, naquele instante, estava do outro lado do planeta, na Bulgária, no exercício de actividades profissionais. Ao notar que ela não aparecia, resolveu partir sem mais delonga, a não ser por uma última providência.
Parou um pouco, concentrou-se e concentrou-se ainda mais, até que o corpo espiritual começou a mudar o aspecto. Passou as duas mãos nos cabelos e, enquanto as deslizava sobre os fios, tornava-se calvo, com apenas um rabo de cavalo encimando a cabeça. Novamente repetiu a operação, desta vez, à frente da cabeça, e as feições se modificaram por completo. Olhos grandes, lábios grossos e uma tonalidade de pele ligeiramente avermelhada. O corpo do médium, após a transfiguração, aparentava uma idade à volta dos 40 anos. Os trajes acompanharam a transformação e, então, eram roupas iniciáticas de algum mago duma época perdida no tempo. Vestia apenas vermelho-escuro, ante dos olhos perplexos do guardião. Mirando-o, com uma postura arrogante e altiva, falou, saindo em seguida:
— Vai ficar me olhando aí parado ou virá comigo?!
Anthony, o guardião que o acompanharia naquela incursão, fez que não entendeu nada, pois já havia sido informado, no momento da convocação, sobre a forma como o rapaz se portava fora do corpo. Preferiu ficar calado e segui-lo.
À medida que caminhavam pelas regiões sombrias, o próprio guardião transfigurava-se também. A aparência iluminada e a espada que rebrilhava feito ouro apagaram-se, gradativamente, dando lugar à feição de um soldado comum. As vestes, ora resplandecentes, transmutaram-se em roupas escuras, rotas, muito apropriadas ao ambiente aonde iam. Sob o impulso da mente do guardião, o armamento converteu-se em uma espada de aspecto comum, embora guardasse todas as propriedades concedidas pela tecnologia superior. Tornara-se opaca, aparentemente suja, e nada em seu feitio denotava se tratar de um equipamento forjado nas dimensões subtis.
Assim caminhavam os dois, enquanto Raul, ora na conformação de Gilgal, movimentava os braços de determinada maneira, como a fazer movimentos cabalísticos no ar. De repente, um portal, ou algo assim, abriu-se diante de ambos. Atravessaram-no, embora parecesse terem sido engolidos por ele. Assim que reagruparam as moléculas dos corpos energéticos e espirituais do outro lado do portal, aguardava-os Irmina Loyola, com a aparência e as vestes costumeiras.
— Precisava gritar por mim dessa maneira? — questionou ela, com boa dose de ironia, antes mesmo de cumprimentá-los. — Onde estão a educação, a polidez?
— Deixa de mimimi, mulher! Vai ou não vai me acompanhar? Vou entrar no reduto dos magos de qualquer jeito.
— Ficarei aqui fora, Raul, para o caso de vocês precisarem de ajuda, afinal, alguém precisa ficar na retaguarda. Não vou, definitivamente — afirmou Irmina, convicta —, modificar minha aparência lindíssima para entrar nesse ninho de serpentes. Fico de plantão aqui fora enquanto vocês dois entram e destroem tudo.
— Não vamos destruir nada, mulher. Fique tranquila. Podemos precisar de você a qualquer momento.
Antes de Raul/Gilgal e Anthony penetrarem o reduto dos senhores da escuridão, chegou uma guarnição a mando de Watab, os chamados guardiões da noite, cuja especialização era justamente lidar com magos negros. Ficariam de prontidão enquanto Raul estivesse agindo conforme lhe competia. Watab tinha consciência dos planos do agente. Na verdade, ele contava com essa reacção do médium. Somente não o provocara para aquela direcção a fim de testar sua pro-actividade ou porque talvez suspeitasse que sua rebeldia pudesse atrapalhar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:51 pm

O ambiente era escuro como breu, uma escuridão palpável, quase viva, embora, a despeito dela, fosse possível enxergar usando as propriedades do corpo espiritual, cuja visão era capaz de tudo perpassar se ele fosse conduzido pelo espírito com lucidez. O aspecto geral era o de uma grande caverna incrustada em meio a uma jazida de cristais no interior da Terra, na região astral denominada submundo ou sub-crosta. As redondezas abrigavam uma fonte de energia impressionante, embora nem sequer a maior parte dos guardiões soubesse explicar por quê. Estavam sob o solo de Brasília.
Vegetações raquíticas assomavam aqui e acolá, lembrando cardos e certas plantas carnívoras, as quais se alimentavam de formas-pensamento nocivas. Tratava-se de um capricho da natureza astral, uma vez que era preciso higienizar o ambiente constantemente, devido às emissões dos habitantes locais. O interior da caverna apresentava-se mais ou menos organizado, embora o estilo do mobiliário fosse realmente medieval, com mesas e cadeiras rebuscadas, estantes repletas de livros empoeirados, feitos de um material tosco. Em todos os cantos, acumulava-se algo que, à primeira vista, nada mais era que lixo. Objectos de uso ritualístico também sobejavam ali, sobretudo em torno de uma ala semelhante a um altar, porém, cheia de apetrechos de um culto estranho, talvez de alguma religião perdida nos séculos e há muito extinta entre os homens. O chão do lugar estava recoberto de uma espécie de limo movediço. Raul e Anthony passaram por tudo sem se deter, evitando olhar para o solo astral.
— Aposto que são formas-pensamento configuradas como escorpiões, baratas e outros bichos repugnantes — falou Raul, ignorando o que pisava, sabendo que as criaturas se moviam feito loucas, ameaçando subir-lhes perna acima, mas em vão; eles marchavam velozmente. Raul andava com relativa desenvoltura, como se conhecesse o lugar de outras ocasiões.
— O ambiente lhe parece familiar… — notou o guardião, que, durante aquela expedição, permaneceu quase o tempo todo calado. Afinal, não adiantariam as tentativas de demover Raul de qualquer de seus planos — traço característico de sua personalidade, mesmo em sua vida social, entre encarnados.
— Já conheço tudo isso aqui! Parece que você que é novato neste ambiente. Já estive aqui com Irmina e alguns agentes do Brasil quando viemos sondar e pesquisar os planos dos magos para o país.
Caminhavam ambos observando os sinais cabalísticos incandescentes nas paredes do ambiente. No chão, além do limo e das formas parasitárias inferiores, havia também alguns símbolos do género. Raul estendia as mãos e emitia magnetismo por meio de determinados gestos, do modo como aprendera em outras experiências reencarnatórias, e assim desfazia os desenhos antes que pisassem sobre eles, excepto se pudessem contorná-los sem maiores esforços.
— Temos de ter cuidado, pois preciso fazer uma aparição surpresa. Estes sinais — falou para Anthony, apontando-os — são capazes de absorver magnetismo e constituem uma espécie de armadilha mental e emocional. Sobre você, talvez não produzam nenhum efeito, pois é desencarnado; no meu caso, entretanto, apesar da forma espiritual modificada, podem me sugar energia e ectoplasma, deixando-me desvitalizado.
Raul prosseguia firme lado a lado com o guardião, dissipando os laços inflamados do inimigo com puro magnetismo que irradiava de seus pés e suas mãos, de sorte que, onde pisava, os sinais cabalísticos eram dissolvidos, conquanto restasse um resíduo magnético pulverizado no solo ambiente. As formas-pensamento1 com aspecto de baratas, escorpiões e ratos, ao encostarem nesse resíduo, também se desagregavam e eram absorvidas pelo lodo ferruginoso e sulfuroso que se espalhava pela região. O caminho até ali estivera totalmente deserto, pois os magos habitualmente se supunham totalmente seguros em suas fortalezas e, por isso, dispensavam a vigilância dos sombras, a milícia de espíritos escravizados que os servia.
Logo à frente, depois de cruzarem corredores intermináveis, pararam repentinamente diante de uma porta imponente, de mais de 4m de altura e bastante larga, parecendo ser feita de madeira maciça. Um símbolo invertido da estrela de Salomão, ou pentagrama, estava inscrito no portal, lacrando-o para qualquer estranho. Na verdade, era a fechadura. Gilgal logo soube o que tinha de fazer: tocar no centro da estrela com a mão espalmada.
Entrementes, Irmina permanecia na companhia da guarnição especializada no trato com magos negros, fato que explicava o nome pelo qual eram conhecidos entre os demais guardiões: especialistas da noite.
— Estou preocupada com meu amigo Raul — disse a um dos sentinelas enviados por Watab. — Ele é arrogante e muito obstinado; receio que possa passar algum aperto no covil dos senhores da escuridão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:52 pm

— Não se preocupe, Irmina — asseverou um guardião extremamente gentil. — Raul não está só, e o guardião que o acompanha, na verdade, é um antigo senhor da magia, dos mistérios. Watab não o deixaria desprotegido, tampouco Joseph.
— Aqui fora da caverna parece desolado; tudo remete ao abandono — a agente comentou com Yiannis, um guardião ligado à cultura espiritual da antiga Grécia. — Embora eu saiba que não podemos baixar a guarda em nenhum momento, pois existem armadilhas montadas especialmente para deter intrusos encarnados em desdobramento. São armadilhas psíquicas muito eficazes caso o sensitivo não as conheça nem se previna.
Naquela região sub-crostal, espíritos experientes na manipulação de mentes, principalmente experts na vertente política, reuniam-se para traçar os destinos dos povos do planeta. Representantes de diversas facções compareceram, desde inteligências ligadas ao narcotráfico, na dimensão sombria, até os magos negros, exímios especialistas da mente, passando por cientistas sociais e conselheiros políticos que, ao longo dos séculos, operaram nos bastidores de governos e países, tramando nos porões do poder, além de encarnados trazidos até ali pelos sombras por meio do desdobramento, na maioria, activistas e líderes de movimentos que patrocinavam manifestações de turbulência social e violência, provenientes de várias partes do mundo. Havia ali, também, indivíduos associados ao radicalismo islâmico, que traziam os símbolos da estrela e do quarto crescente estampados no peito e uma cobertura de tecido negro encimando a cabeça.
De súbito, Raul e Anthony ingressaram no salão incrustado na caverna do submundo, embora não houvessem recebido convite para tanto, o que causou certo rebuliço entre os magos e seus asseclas. O guardião, com a aura apagada, não foi reconhecido como tal. Logo ao entrarem, identificaram cadeiras vazias, destinadas aos faltantes. Raul, tendo o corpo espiritual modificado como se fosse um antigo mago egípcio, manteve o olhar acima do ponto onde se fixavam os olhos dos magos, empregando certa técnica que aprendera com os guardiões. De cabeça erguida, num rompante de soberba misturada à petulância, Gilgal tomou a frente. Os dois simplesmente não cumprimentaram ninguém e se assentaram, como se fossem velhos conhecidos da corja. Passada a surpresa inicial, em instantes os demais perderam interesse na dupla recém-chegada, dada sua postura convincente, que acabou por calar qualquer questionamento.
Os dois olhavam por todos os lados, sem que a assembleia se desse conta de que tudo registavam em sua memória extra-física. Gilgal/Raul moveu sua cabeça num gesto previamente combinado com o sentinela, indicando certa direcção para que também observasse. O alvo da atenção eram espíritos ligados ao Estado Islâmico e alguns mais, da outra corrente fundamentalista muçulmana. Atrás deles, que ostentavam o símbolo do Islã, viam-se, devido às propriedades do corpo espiritual, as imagens que povoavam suas auras. Pessoas despedaçadas, mulheres e homens-bomba, explosões e guerras, além de gente faminta, doente e na mais absoluta miséria, compunham a série de desgraças que eram patrocinadas por aqueles representantes da maldade.
Tentando mudar o foco da atenção, a fim de evitar tais imagens mentais, Gilgal/Raul notou a presença de mais um guardião ali. Enviou um pensamento a Anthony:
— Veja! É Omar, um velho amigo. Deve estar actuando como agente duplo também. Ele provém de experiências reencarnatórias no Oriente Médio, em países de maioria árabe e muçulmana — falou mentalmente, enquanto Anthony observava com discrição. Não podiam comprometer o disfarce e revelar-se guardiões superiores em hipótese nenhuma.
— Sei disso, Gilgal — respondeu o soldado do astral, também por telepatia. Ele sabia a respeito de Omar, que se infiltrara para reportar cada detalhe da reunião independentemente da resolução de Raul em comparecer.
Neste momento, uma espécie de juiz das trevas elevava-se acima dos demais, no púlpito, e discorria sobre os acontecimentos para estabelecer a desordem no plano físico e, portanto, atrapalhar qualquer tipo de progresso, causando terror na população e impedindo a propagação das ideias do Cordeiro por parte de médiuns vinculados às forças da justiça, com destaque para a publicidade dos planos dos ditadores do abismo. Comentou sobre a iniciativa de colocar uns contra os outros, isto é, opor o grupo dos representantes dos guardiões no mundo e os mensageiros dos magos que nele se infiltraram.
Em seguida, assumiu a palavra um antigo mago caldeu, que dividia a tribuna infernal com um ser das trevas em actuação exitosa na região da Líbia:
— Vamos introduzir nossa gente no Brasil mediante a manipulação dos parlamentares no Congresso. Pretendemos fazer com que eles aprovem certas leis que favorecerão a imigração de nossos aliados no plano físico, mas de forma tal que, previamente, tomamos as providências para assegurar que a imprensa não divulgue o que é arquitectado nos bastidores da política, evitando que nossas intenções sejam frustradas.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:52 pm

“Precisamos levar avante nosso projecto de manter o clima internacional de antagonismo e fomentar a guerra com a ajuda de grandes nações. Espalhar os focos de terrorismo atende a esse objectivo, pois necessitamos de grande quantidade de ectoplasma, contanto que recolhido em meio a fortes emoções de dor, a fim de que tenhamos combustível suficiente para cumprir nossas metas nas Américas do Sul e Central.”
Um dos seres da escuridão, a certa altura, tomou a palavra para anunciar, em poucos instantes, algo que surpreendeu a assembleia:
— Pretendemos libertar os daimons de suas prisões eternas, pois temos conhecimento de que a magia não é natural deste planeta, tampouco deste sistema e muito menos desta galáxia. Libertando-os, alcançaremos projecção na estrutura de poder invejável que eles erigiram. Reparem que, mesmo depois de circunscritos às regiões ínferas, que nenhum de nós sequer conhecemos, ainda assim seus ditames funcionam rigorosamente, sendo levados a efeito por seus subordinados fiéis, os espectros.
A fala do mago causou tumulto entre os presentes, pois a grande maioria discordava da ideia. Afinal, não queriam correr o risco de ter que dividir o poder com os temíveis dragões.
Gilgal/Raul ouvia tudo atentamente, porém, com certa impaciência, pois sabia que, em outro canto, os filiados a Bugsy e Lucky punham em movimento seu plano diabólico, enquanto os magos perdiam tempo discorrendo sobre eventos e planeamentos que todos ali — ou pelo menos ele e os guardiões — conheciam em detalhes. Raul pretendia colocar os magos contra a Horda e, assim, sabotar a continuidade das reuniões mediúnicas que visavam a empresários, deputados e senadores, além de ministros e outras autoridades brasileiras.
Logo mais, um cientista subiu à tribuna e expôs a intriga desenvolvida para agir na internet, violando dados de pessoas, empresas e órgãos de estado. Ao ser fomentada a armazenagem do maior volume possível de arquivos na chamada nuvem, organizações e instituições mundiais jamais estariam tão seguras quanto pensavam os especialistas encarnados. Os cientistas das sombras trabalhavam para, a qualquer momento, permitir que as informações fossem alvo de crackers, de adulteração ou de vazamento, visando à manipulação de quem fosse ou à simples desestabilização social, conforme os magos julgassem adequado.
Outro ser, de aparência grotesca, então começou a falar dos projectos nucleares de dois países do Oriente e dos passos para disseminar o caos entre a população. Falava a respeito de um sistema de governo teocrático e de um ditador, ambos em suas mãos, ensandecidos pelo desejo de domínio e poder. Nitidamente, fazia referência ao Irã e à Coreia do Norte, respectivamente.
Neste ponto, Gilgal/Raul não aguentou mais e levantou-se de chofre, interrompendo a prelecção do expoente do submundo, deixando até mesmo Omar e Anthony perplexos diante da ousadia da intromissão, logo ali, no seio da elite das sombras:
— Senhores, senhores, por favor, prestem atenção — falou em tom de voz alto, sobrepondo-se ao espírito que discursava, sem dar tempo de ser questionado. — Meu nome é Gilgal, e estas são minhas credenciais para que saibam quem se dirige a Vossas Excelências, senhores absolutos da escuridão e da magia ancestral.
Arremangou a bata vermelha que o cobria, mostrando símbolos cabalísticos impressos qual tatuagem, em ambos os braços, mas sem dar muito tempo aos magos para perscrutá-los. Prosseguiu:
— Enquanto nós perdemos tempo aqui, planeando coisas a respeito das quais já nos entendemos e já estamos cansados de saber, em outro local, a Horda está reunida com políticos e autoridades diversas em desdobramento, além de certos homens de poder tanto do Brasil quanto da Venezuela e da Colômbia. Todos estão prestes a ser submetidos a um processo de subjugação do controle mental. Vamos fazer alguma coisa a respeito ou seremos preteridos por essa facção, que ninguém sabe de onde vem nem a serviço de quem opera? Estamos dispostos a abdicar do domínio sobre os políticos do Brasil? Ofereceremos de mão beijada nossas marionetes no mundo? — provocou, referindo-se àqueles que eram manipulados pelos magos. — Sei que, durante longo tempo, muitos aqui lutaram para instaurar o caos no Brasil e nos países vizinhos. Agora, porém, perdem tempo com ideias e explicações que só serão úteis à Horda, para dar-lhe tempo de dar o bote! Logo, logo serão Vossas Excelências que terão de abandonar seu refúgio, pois a Horda não brinca em serviço.
— E como você sabe desses planos da Horda? — perguntou um dos magos. — Diga: como sabe de tantos detalhes sobre esse grupo de poder que ousa cooptar nossas presas?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:53 pm

— Eu próprio me imiscuí no meio deles para saber a que vieram e o que planeiam. Eis aqui! — falou Gilgal, entregando um pequeno papel com a identificação do local onde Lucky e seus comparsas se reuniam com as marionetes desdobradas, na iminência de realizarem uma espécie de lobotomia espiritual em seus alvos.
O mago tomou o papel nas próprias mãos e, logo que o tocou, projecções holográficas surgiram a partir do material fornecido por Gilgal, com sua aparência imponente de mago egípcio, sendo ele o único ali que trajava escarlate, pois os demais vestiam preto, cinza ou tons ferruginosos. O mago repassou a informação escrita e cifrada apenas aos mais importantes senhores da magia ali presentes, entretanto, todos resolveram, em meio à azáfama causada pela intervenção de Gilgal, interromper a reunião urgentemente e sair rumo ao local onde suas presas estavam para ser arrebanhadas de suas mãos.
— Não toleraremos uma ofensiva dessa categoria! — bradou em fúria contra a Horda um dos magos mais perigosos no recinto.
Todos partiram às pressas, arrastando seus mantos escuros e andrajos umbralinos impregnados de fluidos densos e resíduos tóxicos próprios das regiões inferiores. Gilgal conseguira embargar a conferência dos poderosos das trevas e colocá-los em confronto directo contra Lucky e sua máfia. Anthony olhou significativamente para Gilgal/Raul, dando a entender que estava de acordo com a atitude dele. Com sua forma heterodoxa, ele lograra mudar o destino dos espíritos sujeitos ao maior processo de obsessão complexa visto até então.
Gilgal e Anthony saíram do ambiente por último, antes, porém, aproximaram-se de Omar. Travestido de mago escarlate, Raul entregou a Omar, igualmente disfarçado, outro papel tecnológico com um mapa mental do que deveria ser feito a partir de então. Omar deteve-se, pois, de acordo com aquela estratégia, teria muito a fazer ali mesmo, num dos redutos dos magos.

JÁ MAIS PRÓXIMO À SAÍDA da caverna de cristais, Anthony e Gilgal notaram a presença de um ser bastante diferente. Era um reptiloide, um extraterrestre que se arrastava com suas escamas, seu rabo e seus olhos redondos, muito expressivos, por entre os recônditos do antro dos magos negros. O mago escarlate não se conteve e aproximou-se do ser, distinto de todos os demais:
— Que faz por aqui, ser das estrelas? — falou apenas mentalmente, pois sabia que uma linguagem articulada comum seria de todo impossível tanto para ele quanto para o ser extraterrestre. Forçou para se lembrar da técnica que facultava, com relativa facilidade, a comunicação entre seres de culturas diferentes, aprendida nos cursos da erraticidade, isto é, no período entre vidas.
O alienígena olhou para os dois emissários dos guardiões e, ao perscrutá-los, como que fazendo uma espécie de escaneamento ou varredura psíquica de ambos, respondeu com o pensamento, dirigindo-se a Gilgal/Raul:
— Nós dois somos seres que estamos projectados nesta dimensão dos que se intitulam magos.
— Então você está encarnado e desdobrado aqui, neste reduto?
O alienígena permaneceu algum tempo em silêncio. Naquele momento, já haviam conseguido boa distância dos magos, que saíram em debandada rumo ao local onde Lucky estava com a Horda reunida e seus associados.
— Sei quem vocês são e não estou preocupado com o jogo que vocês estão fazendo. É uma excelente estratégia de guerra a que você usa, e os magos nem sequer desconfiam que eles é que foram manipulados.
— Se não fosse assim, eu não seria um estrategista — respondeu Gilgal/Raul, sem tirar o foco do ser das estrelas.
— Estou aqui na Terra há muitas décadas, juntamente com alguns membros de nossa raça. Somos apenas uma entre as várias raças que disputam o domínio sobre seu planeta. Existem outras nove actualmente, pelo que sei. Cada uma a seu jeito, todas atuam nos bastidores da política no seu mundo.
— Como fazem isso sem que os magos e outras facções do submundo os impeçam?
O ser ficou mais um momento calado, enquanto atingiam o local fora da caverna, sendo recepcionados por Yiannis e Irmina. Juntaram-se, e o visitante do espaço continuou falando, pois se sentia tão seguro que não temia se revelar aos emissários da justiça:
— Dominamos amplamente os artífices da política na Rússia e temos um dos nossos semimaterializado2 entre os conselheiros de Putin. Mas não nos interessa disputar o poder com esses que se dizem senhores da magia; não competimos pelo mesmo território.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:53 pm

“Minha raça intenta, de fato, colonizar este mundo; porém, sem entrar em confronto com facções de poder das trevas nas regiões espirituais. Queremos triunfar silenciosamente, infiltrando-nos entre os homens de mando e substituindo-os, sobretudo os donos da política e do dinheiro. Roubando-lhes a identidade energética, em breve nos tornaremos os conquistadores do planeta. Com essa estratégia, pretendemos permanecer discretos, sem o alarde de uma invasão aberta, declarada. Quando concluirmos a execução de nossos planos — continuou o visitante do espaço —, ao nos apossarmos das mentes de certos homens de negócio e de autoridade, começará então a invasão propriamente dita, sem naves, sem sermos percebidos. Gradativamente, substituiremos seres humanos, usando seus próprios corpos ou aqueles manipulados em nossos laboratórios, dotados de aparência idêntica à daqueles cujos lugares assumiremos.”
Irmina compreendeu aonde Raul queria chegar e se imiscuiu, fazendo uma pergunta significativa à luz dos planos do ser de outro sistema:
— Como farão vocês, extraterrestres, para adquirir as lembranças e os registros mnemónicos da pessoa que até então habitava o corpo que pretenderão ocupar?
O ser olhou para Irmina com tom de reprovação quanto à intromissão, no entanto, demonstrava tamanha confiança de que sua segurança não estava em risco que respondeu, sem titubear:
— Estudamos há décadas os corpos dos humanos que tombam em suas guerras. Descobrimos, em nossas pesquisas, que o cérebro dos humanos retém imagens e lembranças por algum tempo, apesar de curto, após a morte. Tais elementos perduram na rede neural de vocês, e, além disso, as imagens mentais continuam povoando o ambiente em torno do corpo morto por algumas horas. Os únicos que nos são imprestáveis são os que praticam o auto-extermínio. Os demais, independentemente da forma como morrem, podem servir aos nossos propósitos. Por isso, também ajudamos a patrocinar certas investidas de grupos terroristas, bem como quem os financia.
“Ao ser mapeada a estrutura cerebral e nervosa dos que morreram e morrem em conflitos do género, a identificação daqueles que nos serão úteis é bastante favorecida. Apossamo-nos das imagens, dos registros mentais residuais e das emoções impregnadas nas células recém-desocupadas pelo morto e, então, absorvemos tudo, todas as memórias cerebrais, recompondo seu histórico pessoal. Estamos bem adiantados em outras experiências também, o que talvez nos aponte uma alternativa melhor do que nos valermos de pessoas assassinadas por sua própria raça.”
— Assassinados por humanos, de fato; todavia, inspirados pelos magos e por vocês, naturalmente — redarguiu Raul, enquanto os guardiões anotavam tudo em seus aparelhos de tecnologia superior.
O estranho ser do espaço fitou o grupo com seus olhos redondos e quase sem pálpebra e avançou em seus comentários:
— Nem sempre precisamos insuflar ideias ou patrocinar acções dos chamados magos para promover o terrorismo e as guerras, que nos fornecem matéria-prima para nossa pesquisa em curso. Conseguimos bons resultados com pessoas ainda vivas em determinadas circunstâncias. Favorece-nos quando um humano entra numa espécie de crise intensa, que pode ser um coma ou algo análogo. Nessas ocasiões, somos capazes, em vários casos, mas não em todos, de nos ligar aos registros impressos nos neurónios do enfermo. Nessa vertente, já estamos adiantados na consumação do roubo da memória holográfica, a qual contém imagens, identidade energética e emoções do hospedeiro. É um processo em fase de testes, um pouco mais demorado.
“De posse dos dados necessários, moldamos nossos corpos para que assumam conformação idêntica à dos terráqueos. Em certas situações, já chegamos a substituir por período relativamente longo o dono do corpo; existem algumas experiências assim em pleno andamento.
“Em suma, nossa invasão obedece a um roteiro cuja execução foi posta em marcha há décadas, o que lhes permite inferir que o tempo dos humanos na Terra não é nada para nós.”
Raul e Irmina não perderam tempo e emitiram um sinal para os guardiões. Anthony e a guarnição de especialistas da noite enviados ao local por Watab imediatamente prenderam o ser do espaço num campo de forças de tal magnitude e tal frequência que lhe foi impossível se libertar, embora se tenha debatido de forma vigorosa dentro do campo invisível. Uma vez capturado, seria conduzido a uma base apropriada dos guardiões, a fim de que seus planos pudessem ser descortinados ainda mais abertamente, estudados em profundidade. A intenção era que, no futuro, o esquema das invasões alienígenas silenciosas fosse decifrado por completo e, quiçá, debelado. Afinal, a convicção do reptiloide sobre a inviolabilidade da própria segurança fora abalada de modo definitivo diante da potente tecnologia dos guardiões, aplicada de súbito contra o ser das estrelas.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:54 pm

Os dois agentes da justiça desdobrados se retiraram, deixando os guardiões tomarem conta do ser extraterrestre, que olhava para eles com furor. Gilgal, que, àquela altura, lentamente reassumia sua forma de Raul, virou-se para Irmina:
— Dois coelhos com uma cajadada só! É impossível que Jamar ou Joseph me chamem a atenção — disse, com ar de vitória.
— Aliás, como eu digo, repetindo certo pensamento que um dia ouvi de você mesmo: “Ruim comigo, pior sem-migo”.
E foram-se rumo a outro local para se reabastecerem e, então, regressarem às atribulações da vida em vigília.

“O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra.”
SALMOS 34:7

“E a besta, que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição. E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta. Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis.”
APOCALIPSE 17:11-14
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:54 pm

Capítulo 10 – Guerra de facções
O ambiente era de profunda concentração nos objectivos da facção criminosa que disputava o domínio sobre um grupo selecto composto por parlamentares, ministros e outras autoridades, bem como por empresários e demais pessoas influentes ali presentes, todas projectadas na dimensão astral por meio do desdobramento consciencial. Muitos se assentavam em móveis preparados pela engenhosidade dos espíritos especialistas da Horda, enquanto outros, os principais elementos do estranho ritual de manipulação mental, deitavam-se em macas. Os médiuns desdobrados e aliciados pela máfia das trevas, nesse momento, já haviam se posicionado ao lado de vários alvos, e eram secundados por psicólogos, hipnos e cientistas da mente.
Já estavam avançados os preparativos para a intrusão psíquica numa proporção possivelmente jamais tão ousada — caso se considere a combinação de dois factores: escala e intensidade —, sobretudo por atingir a cúpula dos três poderes e o cerne da economia privada e da imprensa. De modo algum que o país e seus 200 milhões de habitantes, aproximadamente, passariam incólumes por tão forte abalo, por tão grande golpe no cérebro nacional.
As trevas mais ínferas estavam atentas, pois os últimos acontecimentos demostraram que o povo começava a reagir, e alguns integrantes da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal estavam determinados a perseguir e erradicar o maior esquema de corrupção já descoberto no país, se não no mundo. Além do mais, diversos agentes encarnados da justiça divina, reunidos a partir de várias partes do mundo, promoviam uma ofensiva igualmente sem precedentes sobre os filhos das trevas. Tais fatos poderiam denotar grave empecilho aos grupos de poder do submundo.
Watab e a comitiva de guardiões aproximavam-se vibratoriamente do local onde se reuniam os especialistas da Horda.
— Não vamos deixar de nos precaver contra os representantes do Cordeiro — falou o general das tropas, o responsável pela segurança da Horda. — Precisamos posicionar nosso exército em torno deste local, pois o que realizamos aqui é algo nunca antes experimentado.
— Não se preocupe, general, pois dispus nossas tropas de maneira que não há como ninguém ultrapassar as barreiras do entorno. Primeiro, posicionei um cordão de isolamento formado por entidades vampiras, capazes de sugar as reservas energéticas de quaisquer miseráveis que tenham a habilidade de se projectar além do corpo. Elas cheiram de longe o ectoplasma dos encarnados. Conseguimos aliciar um grupo numeroso de vampiros, dispostos a tudo mediante o recebimento de uma cota de fluidos humanos. Damos migalhas a eles, que não servem a nosso propósito, de tão envenenados por vícios e comportamentos depravados.
— Mas devemos nos precaver de modo especial contra os agentes encarnados da justiça. Existe número apreciável deles pelo mundo inteiro, agora, conectados através da internet, atrevendo-se a práticas espirituais avançadas. Quero saber se nossos planos para lhes boicotar o trabalho já estão em andamento. Urge tomar alguma medida de acordo com as fraquezas dessas pessoas.
Antes mesmo de prosseguir o trabalho com os médiuns desdobrados, trazendo sindicalistas por meio da projecção de seus corpos espirituais na dimensão extra-física, o coronel Razzor confidenciou ao general daquele exército de espíritos inimigos do bem:
— Os planos já estão em pleno andamento, senhor. Visam à desestabilização dos agentes, predispondo-os à animosidade entre si, acentuando a insegurança de um ou outro líder do movimento dos guardiões. Tratamos de espalhar comentários e fofocas pela mesma ferramenta que utilizam, a internet, a fim de desprestigiar a imagem de muitos, sobretudo dos responsáveis. Entre outras coisas, pretendemos usar as emoções, a tendência à mentira, o hábito de omitir ou esconder informações, de ser menos transparente, com o objectivo de minar o quartel-general dos representantes encarnados dos guardiões. Não passarão ilesos os que militam nas fileiras dos opositores.
“Nossos especialistas elaboram uma estratégia para afastar uns dos outros, acentuar a desconfiança mútua e, sobretudo, fazer as mensagens dos espíritos que lhes orientam caírem em descrédito. Assim sucedendo, erodirão a célula-base, de onde irradiam o conhecimento e as directrizes para todos ao redor do mundo. Semearemos um tipo de discórdia velada, que se instalará devagar, além de exacerbarmos as emoções em detrimento da razão. Um será levado a falar e se queixar do outro sem perceber e, principalmente, sem admitir tal comportamento. Tudo concorrerá para que dêem mais valor às suas questões emocionais, pois se sentirão traídos, aviltados, emocionalmente instáveis.
“O objectivo é claro: impedir que o trabalho continue com o fervor e a qualidade com que foi iniciado. Colocaremos gente que lhes é familiar no cerne das instituições das quais fazem parte, contudo, gente já contaminada por nossas ideias.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 27, 2023 8:55 pm

Assim, esfriaremos o ‘primeiro amor’,1 apagaremos a chama da fé e da dedicação. Sem que o detectem antes que seja tarde, propostas diferentes gradualmente se misturarão aos objectivos originais, modificando o projecto espiritual pouco a pouco, com discrição, mas com um grande trunfo: tudo será interpretado como modernização, qualificação, aprimoramento do trabalho.”
— Então não preciso me preocupar com essa gente ignóbil?
— Asseguro-lhe, general! — falou Razzor. — Eles próprios se encarregam de se auto-destruir. São peritos nisso! Basta recorrer ao emocionalismo abundante contra eles próprios. Com isso, aprofundam o hábito de se calarem ante algo que os incomode, fugindo ao assunto; por conseguinte, agravam o problema, o conflito se instaura e, sem o abordarem, apartam-se uns dos outros e acabam por esmorecer, um a um. Logo alguém se afastará definitivamente do grupo — e isso será bom para nós. Presa fácil! Veja bem: seria muito proveitoso converter um ex-agente dos guardiões em nosso agente, pois já viria treinado em habilidades que nos serão utilíssimas!2
Razzor deu uma gargalhada sem igual, embora seu comandante tenha permanecido em silêncio, olhando-o admirado, talvez mais do riso nervoso que da estratégia delineada.

AO LONGE, O CLÃ DOS MAGOS se assemelhava a um bando de abutres negros voando em baixa altitude. Faziam barulho infernal, à semelhança de uma matilha, emitindo uivos que podiam ser ouvidos ao longe. Uma nuvem de fluidos escuros e tóxicos os precedia, espalhando-se por entre as construções da cidade, principalmente na Esplanada dos Ministérios. O cúmulo espesso de emanações infectas penetrava aonde quer que fosse à medida que se expandia; somente escapavam pontos de reunião e oração das diversas religiões, abrigados em templos ou centros de irradiação mental e espiritual ou mantidos por estes em locais estratégicos da cidade. Os magos vinham levitando, conquanto, para isso, se valessem de aparatos tecnológicos, os quais, paradoxalmente, pareciam bigas, as carruagens de guerra da Antiguidade. Voavam a mais ou menos 2m de altitude, não mais do que isso.
À frente e atrás dos senhores da escuridão, uma malta de entidades vampiras e um exército de sombras, a milícia secreta que há séculos lhes servia. As tropas eram compostas, de modo geral, por seres que, na Terra, guerrearam cega e ferozmente em nome de causas a que se entregaram sem reservas, abraçando o fanatismo em detrimento do raciocínio. Tratava-se de extremistas religiosos, terroristas de várias procedências, ou homens-bomba e camicases, cujos corpos espirituais foram reorganizados sob influxo mental de certos especialistas a serviço dos magos. Traficantes de drogas de diversos países e épocas também eram largamente recrutados. Todos passavam por treinamento com os oficiais mais experientes e sujeitavam-se à manipulação e à hipnose promovidas pelos próprios lordes da escuridão profunda.
Uma vez que tinham primazia na disputa pelo poder na América Latina, jamais os antiquíssimos iniciados das trevas cederiam o mando para qualquer outra facção que porventura se intrometesse no covil onde se congregava a elite de seus fantoches encarnados. Com os magos cheios de ódio e grande ira, talvez sua marcha rumo ao ataque ali, na capital federal, pudesse ser bem expressa nas palavras do profeta: “Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo”.3
A falange de almas malditas parecia não conhecer limites. Violava todo lugar, desde que encontrasse humanos encarnados que se afinassem com sua mente diabólica, com o projecto hediondo de poder, com a política abjecta e obscena que lhe animava. Deixava sua marca, seu selo e um rastro de fluidos perniciosos por onde quer que passasse e onde se infiltrasse. Por outro lado, ao deparar com pessoas ou grupos que pensassem o contrário, isto é, que actuassem em conexão com a proposta de renovação da humanidade — denominada Evangelho —, passava ao largo, sem perder tempo.
Magos negros irradiam ira, furor, ódio e vingança por todos os poros de sua epiderme espiritual. A maior parte deles, assim como os que salteavam Brasília, exibe corpos energéticos deformados, devido à acção do tempo, uma vez que reluta em corporificar-se, mergulhando na vida material, durante séculos e, em alguns casos, até milénios. Entretanto, não lhes é dado adiar definitivamente a vivência em novo corpo físico. Alguns deles, em passado recente, ao serem capturados pelos guardiões, foram submetidos à experiência reencarnatória em organismos dotados de carga genética compatível, por meio dos quais pudessem expressar o conteúdo de suas almas doentias e rebeldes. Quem sabe surtiria efeito um último esforço em corpos físicos, em cadeias de carne, privados de exprimir suas vibrações e seu pensamento execrável? Era a derradeira tentativa de um processo reeducativo ainda no planeta Terra.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:55 am

Não obstante, aquele grupo remanescente partira rumo ao local onde se concentrava a Horda de Razzor, Lucky e Bugsy. O mago negro mais antigo daquele grupo, Egbá, o qual coordenava uma guarnição a partir de uma das bases na sub-crosta de Brasília, e Amon-Saat, outro dos iniciados mais poderosos, iam à frente da súcia de feiticeiros do astral mais subterrâneo, precedidos todos pelo batalhão de choque dos sombras.
— Senhor, algo estranho está acontecendo! É urgente que venha ver o que se passa.
— Fale, sentinela — respondeu Bugsy para seu imediato, que prestava atenção em tudo ao redor na capital federal. — Sabe que nada poderá nos deter ou nos impedir de levar avante nossos planos.
— Uma nuvem escura, senhor, com o aspecto de uma maldição, vem se alastrando sobre a cidade. Parece crescer a partir do centro do poder federal. É algo sombrio, como um mau presságio — falou o servo, meio atónito, para seu superior.
— Você sabe, criatura, que eu não tenho medo de presságios nem de nenhuma força mística. Nunca me dobrei diante de ninguém e não acredito em presságios ou forças malignas, a não ser a dos espectros. Esses, sim, a única força que respeito.
— Mas, senhor… — balbuciou o infeliz das sombras, em vão.
Bugsy não deu atenção ao relato, pois estava totalmente concentrado na acção de seus especialistas. Competia-lhe levar avante o plano descomunal arquitectado pelos chefes de legião.

ENTREMENTES, UM GRUPO DE guardiões descia vibratoriamente sobre os arredores do Plano Piloto. O próprio Watab o conduzia, assessorado por Semíramis e Astrid, enquanto Kiev e Dmitri distribuíam os demais pelas cercanias, prontos para entrar em acção. Foi Kiev quem deu o alerta:
— Guardiões, emergem na cidade um exército de magos e seus asseclas. Trata-se de um grupo muito expressivo. Tudo indica que haverá confronto entre os obsessores.
— Tranquilize-se, Kiev — falou Watab, assegurando-se de que seu pensamento fosse percebido por todo o contingente. — Não entraremos em combate com as entidades obsessoras; esse é um tipo de guerra que não nos diz respeito. Vamos agir junto dos homens desdobrados: médiuns, políticos e empresários envolvidos nessa trama. Fiquem atentos ao meu comando.
Um a um, os guardiões se colocaram em posição, conforme os planos traçados por Watab e seus especialistas. Aguardavam o momento de agir em profundo silêncio. Nenhum dos lados, nenhum dos grupos, fosse a trupe de Lucky, fosse a dos magos, percebeu a presença dos guardiões e das guardiãs.
Semíramis falou em seguida, ao se reagruparem os oficiais dos especialistas da noite:
— Kiev, eis nossas directrizes quanto aos políticos e aos empresários envolvidos. Seleccione os homens mais experientes sob seu comando e disfarcem-se, diminuindo a vibração do corpo espiritual. Devem se passar por espíritos comuns, sem nenhum atractivo ou algo que os identifique, despercebidos, sobretudo, pelas facções que digladiarão.
Kiev examinou o mapa mental entregue por Semíramis, a mais antiga entre as guardiãs, e admirou a táctica desenvolvida. Fitou a mulher com um olhar de respeito e admiração.
— Não diga nada, guardião. Vamos trabalhar! Muita coisa depende de nossa habilidade em seguir o planeamento estratégico.
Kiev calou-se, pensando nos conceitos discutidos entre os guardiões durante as aulas em que estudavam temas como estratégia. Maravilhou-se do conhecimento de Semíramis, o qual remontava a épocas imemoriais, quando ela estabeleceu, na companhia de outros, uma das civilizações mais poderosas do passado longínquo.
Um mapeamento como o que Kiev recebera da guardiã — sempre muito reservada quanto à sua procedência espiritual, que não revelava — consiste de um gráfico por meio do qual se podem comparar certas informações de determinada região ou de determinados grupos de indivíduos. Trata-se de um levantamento de dados, descrito de maneira bem clara, capaz de ser examinado com rapidez. Pode ser utilizado, por exemplo, em meio a um confronto espiritual, para conhecer pormenores dos inimigos do progresso e da evolução e, além disso, os recursos disponíveis aos guardiões naquela disputa. Tal mapeamento abrange toda a estrutura de ataque do adversário, incluindo seu pensamento. Desse modo, permite aos guardiões e a seus agentes ter uma visão nítida e minuciosa da estratégia dos opositores ao bem e à justiça. Trata-se de um recurso possível, no entanto, tão somente num trabalho conjunto entre guardiões e certo tipo de agente encarnado em desdobramento.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:55 am

Astrid, que, até o momento, observara tudo em silêncio, afinal se manifestou:
— Repare o seguinte, meu caro Kiev: o mapeamento mental, ou a modelagem do pensamento dos opositores à política divina, não faz parte do combate em si; é apenas um recurso que precede a batalha espiritual.
— Nossos agentes no plano físico tiveram um papel central para o confronto prestes a eclodir, não é mesmo, Astrid? A impetuosidade deles fez com que os magos viessem de encontro à turma de gângsteres sob o comando de espectros.
Um pelotão especial cercava o Palácio do Planalto a fim de evitar algo mais delicado ainda para o futuro da nação. Era tarde da noite do dia 16 de maio de 2017 quando esses acontecimentos tiveram seu estopim.

OS MAGOS CHEGARAM COM TUDO, com todo o seu arsenal de guerra, manipulando elementais e seres das profundezas mais atrozes. Desfecharam uma investida fulminante sobre o grupo de Lucky. O chefe dos chefes e seu braço direito foram pegos de surpresa ao depararem com a tropa de sombras e magos negros e ao verem-na entrar em batalha franca e declarada contra seus mafiosos e especialistas. A malta comandada pelos senhores da escuridão atacou de forma impiedosa, projectando magnetismo causticante sobre psicólogos, médiuns desdobrados e a Horda como um todo, que estava particularmente exposta. Afinal, a máfia de Bugsy e Luciano encontrava-se fora de seu quartel-general, pois que estava inteiramente dedicada à empreitada de manipular autoridades e cidadãos influentes que haviam arrastado até o ambiente astral daquele hotel requintado.
Uma sombra escura solapou todos ali, como se, de repente, uma neblina espessa, sombria, uma nuvem de gases tóxicos e fumacentos fosse expelida das profundezas por algum vulcão em súbita erupção. O hotel onde se realizava a experiência macabra da Horda foi totalmente engolfado naquela fumaça amaldiçoada de fluidos densos e pestilentos manipulados pelas mentes diabólicas dos magos negros.
Tão logo Lucky tomou ciência dos acontecimentos macabros daquela noite, deu ordem imediatamente:
— Protejam nossos especialistas, o homem forte, os irmãos Castro e Maduro e também os do grupo selecto, que nos são caros. Protejam-nos a todo custo! Esses não podem cair nas mãos dos magos outra vez. Retirem-nos imediatamente do salão onde jazem submetidos a nossas experiências. Abandonem o restante de parlamentares e os demais!
Lucky instruiu rapidamente seu general, comandante de um exército de entidades que defendiam com unhas e dentes a política adoptada pela Horda, sob as ordens de espectros. Os emissários levaram a sério as determinações do chefe, pois sabiam muito bem o que significava não obedecer a Lucky Luciano. Não demorou muito para o líder da máfia perceber o que sucederia a partir de então.
— Vamos, Bugsy! Vamos retornar ao nosso ninho. Sei que por trás de tudo isso estão as mãos dos agentes dos guardiões. Eles não tardam aparecer por aqui.
— Para o reduto de sempre, chefe?
— Claro! De lá teremos como observar tudo sem cairmos nas armadilhas dos magos. Poderemos administrar tudo a partir de nossa base. Acredito que já temos certo domínio sobre os parlamentares e sobre número expressivo de poderosos. A coisa vai incendiar por aqui, e no mundo físico, também. Vamo-nos!
Simplesmente sumiram, desapareceram pelas galerias mais sombrias, pois, embora não temessem os magos — num claro gesto de imprudência —, tinham convicção de que, dentro em breve, os guardiões apareceriam. Por conseguinte, a operação foi abortada repentinamente; a sessão mediúnica demoníaca da hidra foi decapitada, ao menos por ora.
Razzor aproveitou a deixa dos chefes e desligou alguns parlamentares dos médiuns, retirando-os do ambiente. Não admitia perder suas presas de modo assim tão fácil, porém, não teve tempo de fazer muito mais. Os magos irromperam com toda a fúria de que eram detentores.
O embate aconteceu nas primeiras horas da madrugada do dia fatídico em que viriam à tona certos segredos que abalariam a nação. O exército de Lucky, comandado por seu general, alimentou as baterias de suas armas eléctricas — retirando a electricidade da atmosfera circundante — e disparou contra a milícia atacante. A linha de frente da horda dos magos, composta pelos sombras, foi francamente abalada. Ressentindo-se do impacto em seus corpos quase materiais, eles tombavam ao solo, rolando; logo em seguida, porém, ainda em meio ao movimento, levantavam-se, tontos, e retomavam as investidas.
Por sua vez, os sombras empunhavam um armamento de aparência um tanto arcaica. Quando o accionavam, uma substância fuliginosa, desconhecida dos soldados da Horda, cortava o ar e atingia de chofre a estrutura perispiritual dos oponentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:55 am

O projéctil, de forma circular e com alguns poucos centímetros de diâmetro, explodia sobre os corpos dos seres alvejados e, ao romper-se, despejava fluidos venenosos advindos das regiões mais ínferas, ignoradas pela máfia de Luciano. Aquilo se aderia aos guerreiros atingidos, fazendo com que revolvessem de dor e, no chão, tremessem como numa convulsão. O amálgama pestilencial continha, na verdade, elementais envenenados, que haviam sido cultivados nas redomas dos magos e dos cientistas das sombras e alimentados exclusivamente com a matéria pútrida dos pântanos umbralinos. Não apresentavam somente a propriedade de se grudarem nos alvos, como também passavam a sugar-lhes a vitalidade, à moda vampiresca. Era uma batalha como nenhuma outra jamais enfrentada pelas tropas de Lucky, que começavam a temer os senhores da escuridão e da magia.
Egbá, o mago mais antigo, movimentava mãos e braços formando símbolos cabalísticos na atmosfera psíquica circundante e, então, arremessava o produto de sua magia, desconhecida pelos opositores, rumo a eles. O general dos exércitos de Lucky aproximou-se, rodopiando a custo nos fluidos grosseiros da região extrafísica terra a terra, em cima de um veículo redondo e chato. Era uma espécie de disco, ou prancha voadora, guiado por meio de dispositivos desenvolvidos nos laboratórios do submundo. Quando fez menção de capturar Egbá, ficou claro que nem sequer o oficial de mais alta patente da Horda sabia contra quem combatia.
O mago voltou-se num átimo e mirou fixamente os olhos do general daquela brigada da penumbra. Já nesse momento, ele escorregou e tombou do veículo, embora se tenha mantido elevado a alguns centímetros do solo antes de se espatifar vergonhosamente. Mas levitar não estava no rol de habilidades do militar; tudo era efeito da força invulgar do pensamento do antigo iniciado, que gargalhava sinistramente.
Uma mão esquálida aproximou-se da cabeça do homem de Lucky, o general das trevas. Egbá o tocou com um olhar demoníaco, exalando uma fuligem amarela dos poros de seu corpo astral. O hálito da criatura lembrava o cheiro fétido das profundezas. O odor se aprofundava à medida que sua aura, uma mistura de tons escuros de roxo e vermelho, irradiava-se no entorno do espírito do guerreiro, que urrava de dor enquanto seu feitio se estertorava. O aspecto do deplorável ser se transformava perante os olhos atónitos de seu companheiro de armas, que ocupava posição imediatamente inferior na hierarquia militar da guerrilha. Ele assistia a certa distância ao fenómeno, que lhe era tanto estranho quanto inédito. Nada ali seria capaz de impedir o mago de sugar as últimas reservas vitais do inimigo, como um monstro voraz das regiões abissais. O infeliz espírito tinha convulsões e mais convulsões, até modificar por completo sua aparência, enquanto seu algoz girava em torno do próprio eixo, cada vez mais intensamente, e atirava dardos inflamados a esmo, atingindo as fileiras do adversário, que se quedavam ao chão.
Por todo lado, a batalha entre a Horda e os magos estava a pleno vapor. Tudo à volta parecia ferver em meio aos fluidos turbulentos despertados e inflamados pelas energias mentais de magos experientes, que intentavam retomar a hegemonia sobre certos parlamentares e demais indivíduos influentes que tinham sob seu jugo havia tempos, apesar das recentes baixas e derrotas.
A guerra entre facções rivais do submundo somente terminou quando se ouviu um estrondo, assustador para ambos os lados, ao irromper-se, sem prévio aviso, a majestosa nave dos guardiões, jorrando luz sideral por todos os seus sete compartimentos. Era a Estrela de Aruanda, guiada por espíritos das esferas superiores. Aquela foi a deixa para Watab entrar em acção com os guardiões. Espíritos das trevas, magos, cientistas, especialistas da mente, psicólogos a serviço de Lucky e sua família de mafiosos, todos partiram em debandada. Watab deu a ordem, e os guardiões entraram em campo com toda a força de combate, liberando os seres em desdobramento da acção engenhosa dos hipnos da Horda. Os militares da máfia que não tombaram em batalha correram do ambiente, recolhendo seus soldados, embora muitos tivessem sido capturados pelos guardiões ali mesmo, ante o olhar aflito dos comandantes e dos cientistas a serviço de espectros.
O mago Amon-Saat associou-se a Egbá, e saíram velozes do ambiente astral, por temerem a acção dos guardiões, cuja autoridade admitiam seriamente. Ambos sabiam que, se fossem capturados, seriam compelidos a enfrentar a justiça sideral ou — ainda pior, segundo acreditavam — a reencarnação, uma espécie de prisão corpórea, durante a qual correriam sério risco de perder a memória espiritual, esquecendo-se temporariamente dos conhecimentos que traziam armazenados. Fariam de tudo para evitar ambas as alternativas.
Em seguida, Watab mandou reunir as pessoas desdobradas diante da Catedral de Brasília e, ali mesmo, a céu aberto, deu a ordem para que fossem imunizadas em relação à acção de magos e de espíritos da Horda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:56 am

Assim, os médiuns receberam intenso magnetismo ministrado por guardiões especializados em situações do género. Não somente eles, mas muitos dos parlamentares, dos empresários e dos homens influentes submetidos às experiências nefastas, mesmo os sindicalistas e outros parasitas que viviam atrás das autoridades para obter alguma vantagem particular, foram liberados da Horda e da acção dos especialistas em manipulação mental.
— Não terminamos o trabalho, amigos — asseverou Watab aos guardiões. — Lamentavelmente, boa parte dos parlamentares entrou nessa situação por conta própria, sabendo a que se sujeitava. Tal fato complica o quadro, pois não podemos interferir quando são eles mesmos que desejam a filiação a mentes criminosas. Nesse caso, não se pode afirmar que tenham sido vítimas. Há, também, ministros de estado e do Supremo, além de magistrados do TSE e do STJ, cujos comportamentos atraíram a Horda, e, como consequência, eles se associaram livremente a seus mandatários. Estão entregues ao próprio desatino, até porque adotaram como mentores pessoais os próprios magos negros e alguns especialistas da Horda. Fizeram jus a tamanho galardão. Em relação aos demais, podemos auxiliar em maior ou menor medida, conforme o caso particular.
— E a situação no mundo físico, entre os encarnados, Watab? — perguntou Omar, um dos oficiais, que até então fazia papel de agente duplo, tendo se infiltrado entre os magos.
— A corrupção é como um lixo, meu caro: sempre haverá enquanto os homens não adoptarem a rectidão de carácter como um valor inegociável. Por isso, em matéria de gravidade, ela depende da motivação e do objectivo a que atende — até porque costuma crescer em escala também segundo esses mesmos factores. Afinal, a hidra não incita apenas ao ganho pessoal e ao derrogamento de princípios; ela ambiciona colocar esses elementos a serviço de uma ideologia atroz, daquilo que se convencionou chamar de projecto criminoso de poder. Portanto, compete a nós proceder a uma faxina periódica, dentro do possível, senão chegará a hora em que será penoso demais transitar em meio a tanto lixo mental, ideológico e espiritual.
“Felizmente, contamos com gente nossa dentro do Congresso e em outros departamentos de estado, gente que está ali para cumprir o papel que lhe cabe, com diligência, presteza e atenção. Graças a esses, ainda poderemos continuar trabalhando pela limpeza do país. Confesso: é uma batalha árdua e longa, até inglória em algumas passagens. Mas não há tempo para esmorecer; muito está por vir. Precisamos reunir nossos agentes entre os encarnados e formar uma equipe só, firme, unida, para enfrentarmos as ciladas do inimigo com tenacidade ainda maior.”
Seguindo as orientações que Watab dera, Semíramis, Astrid, Kiev e Dmitri, juntamente com outros oficiais dos guardiões, espalharam-se na tentativa de liberar algumas pessoas da acção nefasta realizada pelos cientistas da Horda. Sabiam que aquele era apenas o início. Quando as guardiãs retornaram, ainda ouviram Watab falar aos oficiais, enquanto os médiuns que se ofereceram para a associação criminosa com a Horda compunham a última turma a ser reconduzida aos corpos físicos:
— Precisamos que nossos aliados no plano físico se conscientizem mais e mais quanto ao fato de que nosso embate é com elementos espirituais acima de tudo, e não com humanos encarnados somente. Lidamos com uma guerra nos bastidores da vida, na qual os homens são meras marionetes do sistema desenvolvido nas sombras. A fim de enfrentar esse sistema e obter uma vitória mais expressiva, é preciso pôr em prática estratégias mais apuradas.
“Como exemplo, podemos citar o seguinte: no intuito de auxiliar de maneira mais produtiva, é ideal que nossos parceiros no mundo físico investiguem mais a fundo quem está por trás, nos bastidores extra-físicos de todos os conflitos. A partir de então, cabe identificar as conexões espirituais dos governantes, dos indivíduos que exercem poder, como grandes empresários, líderes sindicais e políticos de todos os partidos, notadamente os que estão envolvidos em processos de corrupção. É claro: há que eleger alvos e prioridades em meio a um grupo tão amplo. Uma acção desse naipe tornaria possível aos nossos agentes no mundo realizar, mediante sondagem medianímica e varredura nos enredados na teia da corrupção, o mapeamento das fortalezas e dos campos de concentração energética e espiritual que acometem o país. Esse tipo de acção, de pesquisa extra-física, levará a descobrir os grupos de inteligências sinistras que estão por trás desse processo impiedoso que se alastrou por toda a nação.
“Nossos aliados e agentes precisam se organizar mais e deixar de trabalhar apenas por espasmo, abordando emergências. Isso também vale para grupos mediúnicos e de espiritualidade que queiram fazer algo. Recomenda-se estabelecer uma estratégia para agirem com foco em resultado sistemático, em vez de atacarem os problemas apenas quando estes se apresentarem de forma mais visível. Antecipar-se ao inimigo é usar da inteligência para perscrutar-lhe a maneira de agir, as prioridades, as armas, os redutos onde actua, enfim.”
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:56 am

Nessa altura, surgiu Raul desdobrado, pois se recusara a ficar ao longe, como espectador. Chegou exactamente no momento em que Watab acabara de endereçar essas últimas palavras à equipe de guardiões.
— Desculpe, Watab — intrometeu-se Raul. — Esse tema me interessa pessoalmente, pois lido com diversas equipes, em frentes de trabalho diferentes. Como faremos, na prática, para realizar esse mapeamento das frentes de combate dos inimigos do bem e da justiça? Existe um esquema que podemos adoptar?
— Claro, Raul, existem vários esquemas, mas penso que vocês precisam, antes de tudo, operar com uma equipe unida, na qual, além de engajamento, haja confiança mútua. Ter entre vocês elementos que estejam hesitantes e que alimentem discórdia entre os componentes do grupo equivale a dar vitória ao inimigo.
“Uma vez que tenham conseguido estabelecer um grupo coeso, confiável e que tenha interesse real em participar dessa guerra espiritual, podem começar por eleger o escopo de actuação, por hipótese, o Congresso Nacional ou até uma só das casas legislativas, entre outros alvos expressivos. A partir desse passo, no exemplo dado por mim, devem-se apontar os deputados e os senadores de maior projecção que notoriamente estejam mergulhados na corrupção e nas concupiscências do poder. Anotem as ligações partidárias e pessoais. Pesquisem a respeito de suas ligações com inteligências extra-físicas, explorem o histórico espiritual de cada um, tanto quanto o histórico na vida actual.
“Tudo isso formará um tipo de memória com base na qual poderão realizar as investidas espirituais ou o tipo de abordagem energética e desobsessiva que bem entenderem para auxiliar-nos, os guardiões, a actuar mais intensamente em benefício da nação ou do alvo mental específico que elegeram.”
Raul ficou pensativo por uns momentos, enquanto Watab dava cabo daquela etapa de trabalho, que chegava ao fim. Respirando profundamente, o guardião da noite arrematou:
— Não pensem, amigos, que encerramos nossas actividades. Ao contrário, apenas iniciamos a faxina energética e espiritual. Em toda a Terra, empreende-se operação análoga e sem precedentes. Nesta hora grave, nosso foco não pode ser apenas um homem, um partido, nem sequer o Brasil isoladamente. A América Latina, em particular, atravessa momentos turbulentos. Portanto, significa que esta região do planeta tem sido alvo constante de ofensivas das trevas mais densas. Por que será?
“Arriscamos hipóteses. Neste solo abençoado, vemos prosperarem as ideias de espiritualidade independente, de uma religiosidade cada vez mais sadia, bem como conceitos optimistas e atitudes humanitárias que levarão esta nação e o próprio continente a se tornarem um farol para o restante do mundo. Não nos deixemos abater pelos maus ou pelas políticas das sombras. Não esmoreçamos com a deserção de companheiros que antes faziam parte de nossa equipe. Muitos serão testados, outros sairão do nosso meio, e poucos, muito poucos sobrarão, mas os veremos efectivamente comprometidos com o ideal. Grande parte se perde em meio ao tumulto, às brigas e às intrigas em redes sociais, ao fanatismo e à perseguição de pessoas e instituições que fazem algo de genuíno em prol da humanidade. Recordem: existem aqueles que se julgam zeladores da verdade imaculada e missionários da salvação doutrinária, para quem trazer a verdade à tona se equipara a destruir o trabalho alheio.
“Não desanimem. Temos muito tempo de trabalho pela frente. Mãos invisíveis sustentarão aqueles que permanecerem na luta. Serão vencedores apenas os que persistirem, não os desertores. Sobre todos nós, ergue-se a mão de quem é mais poderoso do que todos, o Cristo planetário, o qual mantém o leme da embarcação terrena em suas mãos. Não olvidemos isso jamais. O Brasil cumprirá sua missão, pois justamente onde existe mais necessidade, mais corrupção, é que há maior carência de luz e de conhecimento para fazer claridade.”

Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia.
2 TIMÓTEO 4:7-8

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.”
EFÉSIOS 6:13-16
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:57 am

Epílogo – Tango em Mendoza
O encontro ocorreu em meio a um ambiente paradisíaco. Ao sul do continente, reuniram-se diversos chefes de estado para abordar, prioritariamente, os problemas socio-económicos de sua região. Porém, entre os presentes, apenas um parecia perceber algo fora do comum para sua realidade. Para ele, era como se vivesse momentaneamente em dois lugares ao mesmo tempo, porém, interpretou isso como se fosse algum problema de saúde, que vinha sentindo periodicamente, dando-lhe a sensação de tonteira e, em outros momentos, a visão turva. Assim, ninguém ali percebia com nitidez a movimentação atrás do véu que separa as dimensões.
O hotel luxuoso abrigava as delegações dos países do chamado Cone Sul e alguns representantes de outros países convidados para a ocasião. Além da delicada membrana psíquica que limitava as dimensões, via-se grande movimentação. Três agentes desdobrados, cujos corpos estavam repousando num hotel no centro da cidade, estavam ali, na companhia dos guardiões. Os eventos no Brasil, na Venezuela e em alguns outros países se conectavam, no mínimo pela mesma vibração de entidades que manipulavam os acontecimentos.
— Vocês terão de ter cuidado redobrado, Herald e Raul — recomendou Zura, o espírito responsável pelos guardiões Legionários de Maria. — Temos aqui a presença de pelo menos um espectro; sabem bem como eles farejam de longe o ectoplasma de agentes nossos, desdobrados. Andrew deverá retornar ao corpo para ficar de prontidão, e assim se revezarão a cada dez ou quinze minutos. Enquanto dois estiverem fora do corpo, outro ficará na retaguarda com os guardiões, porém atento à base física, onde se encontram seus corpos. O máximo de cautela é necessário.
— Mas por que nos convidaram a vir para este evento repentinamente, sem nos avisarem com a devida antecedência? — perguntou Herald ao amigo espiritual.
— Sei que você estava em Caracas e que sua actuação lá tem sido de grande ajuda aos guardiões, mas aqui você e Raul poderão ser muito úteis. Raul já sabia há mais de três semanas que teria de vir. Existe um planeamento ousado dos espectros, que é sequestrar o duplo etérico de dois dos presidentes aqui presentes. Não somente as questões sociais, económicas e políticas estão em jogo aqui, mas outras muito mais expressivas. Reparem, por exemplo, quem está aqui. Observem quem senta à mesa, desdobrado.
Raul e Herald se voltaram e viram Raul Castro, ladeado por Chávez — este, mais ou menos lúcido —, e um dos espectros, que, ao longe, prestava atenção a tudo o que ocorria. Em torno do salão luxuoso, diversos seres da escuridão tencionavam aproximar-se de alguns dirigentes, mas eram impedidos pelos guardiões dos Andes, que agiam em sintonia com os guardiões planetários. Os artífices das sombras sabiam que não poderiam fazer nada que não lhes fosse permitido, porém, tentavam mesmo assim.
— Por isto trouxeram Chávez e Castro desdobrados para cá: têm algo mais perigoso em mente.
— Sim! — respondeu Zura, com seu porte altivo e seu turbante azul-claro encimando a cabeça, como era próprio dos Legionários. — Querem sequestrar o duplo etérico de dois presidentes em especial. Um deles eles pretendiam recentemente levar ao auto-extermínio, depois das actividades da Horda. Veja lá! — apontou Zura para o outro extremo do salão.
— Lucky e seu comparsa, os mesmos que agiam no Brasil.
— Ainda agem, Raul. Não desistiram; apenas deram um intervalo para não enfrentarem os magos negros directamente, pois querem ganhar tempo com os parlamentares. Estão aqui porque existem conexões entre os países dessa aliança e seus presidentes e conselheiros, ministros e demais delegações.
Raul encheu-se de raiva ao ver Lucky e Bugsy no ambiente.
— Cuidado, Raul! — Herald alertou o amigo. — Contenha seu ímpeto. Teremos muita demanda de trabalho hoje e amanhã. Sua raiva poderá fazer com que sejamos descobertos. Veja se não apronta uma das suas…
— Sei o que estou fazendo, Herald. Não sou louco, sabe muito bem.
— Só sei que, quando você está presente, muita coisa louca acontece! — falou Herald para o amigo, a quem conhecia há mais de trinta anos.
Viram que Bugsy saiu do ambiente após confidenciar algo ao amigo Lucky. Raul não deixou de notar o movimento.
O aparato já estava todo montado no quarto do hotel onde um dos presidentes ficaria hospedado. Era um tempo curto, mas o suficiente para que toda a parafernália pudesse ser montada ali pelos especialistas de Bugsy. Em outro quarto do hotel luxuoso, outra equipe montara os mesmos aparatos, obedecendo ao mesmíssimo rito.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:57 am

— O que não conseguimos fazer no Brasil faremos aqui, longe dos agentes dos guardiões — falou Bugsy para Razzor, que o acompanhava naquela empreitada. Estavam ali em obediência ao planeamento daquele espectro que não se desligava da reunião, enquanto outro ficava de plantão no Palácio de Miraflores, em Caracas.
Na ocasião em que Raul retornava ao corpo pela terceira vez, Watab comunicou-se com o Legionário de Maria:
— Faça tudo para proteger nossos agentes, Zura. Eles foram convocados para servir de doadores de ectoplasma, a fim de que possamos usar nossos recursos e prosseguir com os planos. Convém ficar atento, pois cada agente tem lá seu jeito especial de se portar. Sabe bem a que me refiro.
Zura sorriu, algo que não lhe era habitual, mas mesmo assim o fez lembrando-se das peripécias dos seus parceiros encarnados.
— Pode deixar, meu caro. Estou atento a tudo.
— Envio-lhe Kiev, pois ele já tem experiência com alguns de nossos agentes. Por vezes, eles nos surpreendem de tão independentes que são.
Raul levantou-se por um minuto do local onde repousava, apenas para tomar um copo d’água e averiguar se o seu amigo Andrew estava desdobrado mesmo. Logo após, retornou para o leito e forçou a saída do corpo. Os fluidos do corpo espiritual se aglutinaram ao lado; rodopiou em seguida, conservando a mesma forma do corpo físico, apenas guardando ligeira diferença na altura do corpo espiritual e nos filamentos que sobressaíam do chacra coronário, à semelhança de fios de electricidade finíssimos que pareciam movimentar-se logo acima do rapaz.
— Olá, Raul!
— Pelo amor de Deus, Kiev! Você aqui? Aposto que foi Jamar que o mandou pra me atrapalhar.
Kiev nem respondeu, pois sabia que não adiantaria nada. Limitou-se a questionar:
— O que faremos agora, meu caro? Qual é o plano?
Raul fitou Kiev da forma mais inocente possível, dizendo:
— Eu? Plano? Mas Zura me pediu para ficar atento às ordens dele. Nem sei a que se refere…
— Ora, Raul, não me venha com essa agora. Fale, homem! Diga logo o que pretende.
Raul não se fez de rogado. Preferiu não esconder de Kiev:
— Você conhece a história de Lucky e Bugsy, não?
— Bem, pesquisei algo a respeito quando tivemos de enfrentar a Horda, no Brasil. Só sei que a Horda se reorganizou após a batalha com os magos negros. Agora, os dois grupos disputam entre si permanentemente; são inimigos ferozes.
— Isso não importa, Kiev; deixe que se auto-destruam. Falo do que na ocasião aprendemos na escola dos guardiões a respeito de Luciano e Bugsy. Eles ainda não confiam um no outro plenamente, embora os dois hajam trabalhado juntos no passado, em larga medida. Bugsy quer se vingar de Luciano, apenas aguarda o momento propício. Mas Lucky não sabe disso, ou pelo menos finge não saber.
— Já imagino o que tem em mente.
— Óptimo! Preciso localizar urgentemente a mãe de Bugsy. Você pode me ajudar?
— Logo a mãe de Bugsy? Como farei isso, homem?
— Ora, você que é o desencarnado aqui, e não eu. Mexa seus pauzinhos, meu caro.
Kiev revirou os olhos e, sem argumentar com o amigo, contentou-se em enxergar o fio da meada. Enviou uma mensagem mental a seus contactos em meio aos guardiões de Aruanda.
Entrementes, Lucky planejava atingir os dois presidentes ao mesmo tempo. A reunião da cúpula do Mercosul não era apenas uma convenção de encarnados. Aliás, sempre existem espíritos envolvidos nas relações entre os humanos encarnados no planeta. Os espíritos estão por toda parte — sobre a Terra, nas entranhas da Terra, nas águas, nos ares; em tudo, enfim. Como ali se encontravam homens com responsabilidades expressivas, existia quem quisesse aproveitar da situação. Não obstante, constatava-se o equilíbrio das forças ali representadas: assim como havia espíritos querendo atrapalhar, verdadeiros especialistas no campo da política, incluindo alguns convidados sobretudo para agirem na surdina, havia também guardiões.
Lucky incumbira seu braço direito, Bugsy, das providências para o sequestro dos duplos etéricos dos alvos. Sabia que podia confiar plenamente nele — embora Bugsy tivesse bastantes motivos para não confiar em Lucky, mas disfarçava isso, como se fosse vítima de uma amnésia. Lucky estava de olho no espectro, e o espectro, atento a Lucky, pois o nomeara seu porta-voz e o treinara pessoalmente durante diversos intervalos reencarnatórios.
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O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro - Página 3 Empty Re: O golpe - Ângelo Inácio/Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:57 am

Assim que Bugsy foi conferir os preparativos com sua equipe, algo diferente aconteceu, algo que nunca estivera nos planos do ex-gângsteres. Raul e Kiev mantiveram-se por algum tempo ocultos aos olhos do mafioso desencarnado. Ele não os podia notar, devido ao disfarce magnético cedido por Kiev a pedido de Raul. Serenos, o guardião e o médium aguardavam os acontecimentos.
— Filho querido! Benji!… — falou uma voz feminina, que fez Bugsy arrepiar-se todo. Sua memória voltou-se aos tempos de criança e de adolescência no instante em que ouviu o apelido carinhoso, derivado de seu primeiro nome, Benjamin.
— Mamãe?! — sobressaltou-se o gângster, num misto de pergunta e exclamação de espanto.
Quase se arrebentando em soluços, somente diante da lembrança materna, tentou conter o pranto para não ser visto por seus homens naquela situação.
— Você me prometeu voltar, filho! Disse que retornaria para nos tirar daquela vida…
— Mamãe, me desculpe! Me perdoe!… — agora não aguentava mais segurar o pranto. Soluçava, mesmo sem ver a mãe, que estava ali, presente. Invisível, a princípio, ela tocava-lhe a face.
— Filho do meu coração! Que você fez de sua vida? Por que não voltou, amor de minha vida? Como te amo, meu filho!
— Mãe! Mãe… — chorava e gritava em prantos, enquanto os homens a seu redor, os espíritos que se subordinavam a ele, não compreendiam o que sucedia.
Naquele exacto momento, os presidentes chegavam aos seus aposentos, em virtude de um breve intervalo, mas a ordem esperada para sua trupe agir não foi dada por Bugsy, que estava derrotado, encharcado nas lembranças de tempos idos. Perdera a janela, a oportunidade de realizar o projecto do espectro e de Luciano.
— Meu filho amado! Como esperei por este dia… — nessa altura, a mulher adensou seu corpo espiritual ali mesmo, numa espécie de materialização subtil, a ponto de ser percebida por Bugsy, ou Benji. Utilizou o ectoplasma de Raul, que se sentia desfalecer à medida que o espírito maternal se corporificava à frente do filho, sendo amparado por Kiev.
— Você é doido mesmo, Raul — balbuciou o guardião, sabendo que Raul não o ouvia mais. Estava totalmente em transe enquanto o fenómeno se produzia e seu ectoplasma servia de matéria-prima para a mãe se adensar quase que completamente aos olhos do antigo gângster.
— Filho querido! — falava chorando a mãe, que logo abraçou Benji, o qual se jogara em seus braços, vencido pela emoção aterradora de vê-la daquela maneira absolutamente súbita e inesperada, após tantas décadas.
Ambos choravam, embora Benji, ou Bugsy, estivesse em pranto quase convulsivo.
— Que vergonha de você, mamãe! Que vergonha… — ele se deixava envolver cada vez mais nos braços da mãe, que o afagava. Enquanto isso, as lágrimas da mulher caíam-lhe sobre o corpo espiritual, o qual se modificava lentamente.
— Como te amo, filho! Quanta falta você me fez por estes anos todos.
— Mamãe querida! Que vergonha de você… Eu não pensei que iria tão longe assim, minha mãe. Juro que não pensei…
— Oh, meu Benji amado, não se preocupe com isso. Não precisa ter vergonha, filho. Eu te amo, e isso é suficiente.
As lágrimas da mulher derramavam-se sobre o gângster vencido enquanto ele via o próprio corpo espiritual remodelar-se, até assumir forma juvenil, quase de uma criança.
— Abraça-me, Benji! Abraça-me!
Os dois se abraçaram em pranto, como se as represas das duas almas tivessem se arrebentado e rios de água viva escorressem, aliviando a saudade e as dores de ambos.
Raul permanecia desfalecido, enquanto Kiev o segurava nos braços, ao mesmo tempo que Herald chegava para seu turno de trabalho fora do corpo. Este viu a situação e resolveu não intervir. Kiev olhou para o agente, e ele entendeu o que ocorria.
Depois de certo tempo, Bugsy, ora transformado no jovem Benjamin, adormeceu nos braços da mãe, como uma criança se entregando completamente cansada para ser conduzida por aquela que aprendera a amar. Somente depois disso, quando Jennie Siegel, a mãe de Bugsy, abrigou-o completamente em seus braços, Raul foi despertando também, nos braços de Kiev, tossindo um pouco, como se estivesse engasgado.
— Você me abraçando, guardião? — brincou com o amigo Kiev. O guardião ruborizou-se todo. Não falou nada, apenas liberou Raul, que foi se levantando, com lucidez suficiente para ver a mãe de Benji se retirar com seu filho adormecido no colo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:58 am

— Obrigada, meu caro amigo — foi o pensamento que Raul ouviu assim que o espírito de Jennie Siegel desvaneceu-se totalmente diante de seus olhos.
A equipe de Luciano e Bugsy viu tudo meio atónita, mas foi Razzor quem primeiro chegou perto de Luciano para dar a notícia. Luciano deu um grito, mesmo em meio à reunião da cúpula em Mendoza. O espectro captou-lhe o pensamento e, furioso, foi ao encontro de Lucky, com um ódio somente conhecido por quem já foi sua vítima um dia. Haviam perdido a oportunidade de fazer duas presas ao mesmo tempo.
Lucky Luciano saiu correndo, com todas as forças de sua alma rebelde e criminosa. Estava cheio de ódio e, ao mesmo tempo, com um medo descomunal do espectro, que o procurava por todos os lados. Ai dele se fosse pego pelo chefe de legião… Além do mais, um dos mais preciosos agentes se perdera — alguém que ele mesmo, o chefe de legião, havia treinado em conjunto com Lucky. Aquilo não ficaria assim; Luciano sabia o que o aguardava.
Kiev olhou para Raul e falou:
— Você é um demónio, meu amigo! Eu nunca pensaria algo assim.
— Eu sei! — respondeu Raul, fazendo o género blasé, como se não desse importância ao que Kiev dissera. — Mas não terminei ainda.
Kiev tentou fitar Raul, que se esquivou do seu olhar.
Àquela altura, Luciano saía do ambiente dentro do hotel luxuoso, onde a reunião de cúpula do Mercosul caminhava para o encerramento, sem que houvesse executado os planos do espectro, que agora o perseguia. Raul, por outro lado, em vez de sair dos aposentos e ficar quieto, concentrou-se profundamente, atraindo Luciano para perto de si. O gângster ouviu o chamado mental e, cheio de raiva e ódio pelo que acontecera, somados ao medo profundo do espectro, foi igual a um míssil em direcção a Raul desdobrado, feito agora seu mais recente inimigo número um.
Raul, sabendo o que se passaria, gritou para Kiev:
— Fique perto de mim e faça o que lhe compete. Se algo acontecer comigo, você verá o que Jamar pode fazer.
— Eu sei, Raul, eu sei disso. Mas você tinha que aprontar justo agora?
Luciano chegou a 2m do médium desdobrado, mas se deteve tão logo viu Kiev empunhando a espada na mão direita, a qual rebrilhava como se fosse feita de ouro. Lucky sabia que a espada dos guardiões era, na realidade, um instrumento da técnica sideral. Muitas vezes ouvira falar desse precioso instrumento usado pelos representantes da justiça. Kiev, então, rodopiou a espada no ar, abrindo uma brecha no espaço, através da qual parecia passar o brilho de estrelas distantes. Luciano temeu por si. Não sabia o que era pior: enfrentar o espectro ou os guardiões.
— Não se preocupe, Luciano — falou Raul para il capo dei capi, o chefão dos chefões. — Os guardiões não o prenderão.
— Seu miserável! Você foi o responsável pelo que aconteceu com meu amigo Bugsy. Sabia que se intrometeu nos negócios do espectro? Sabia que poderá enfrentá-lo a qualquer momento e…
— Deixa de chororô, homem. Você é quem corre perigo.
— Eu te mato, miserável dos infernos! — e fez menção, descontrolado que estava, de partir para cima de Raul aos socos. Este não se moveu um centímetro que fosse, apenas apontou para Kiev, que remexia a espada como se fosse um brinquedo. Luciano, o chefão da máfia, deteve-se uma vez mais.
— Venho oferecer algo a você. Podemos escondê-lo do espectro caso queira evitar um confronto com ele. Pense nisso.
Luciano parou um momento, e sua fúria foi aos poucos se arrefecendo. Raul olhou directo nos olhos dele e aproximou-se perigosamente, mas confiante.
— Olha aqui, moço, eu sei que você não presta, é um assassino e, como se não bastasse, foi você quem matou seu amigo Bugsy. Que amigo você é… — falou ao gângster. — Além do mais, o espectro está atrás de você e sabe muito bem com quem você se associou. Você não tem nenhuma chance de enfrentar o espectro, pois sabe que ele é capaz de degenerar sua forma espiritual num estralar de dedos ou, então, aniquilar sua almazinha com uma força tão bruta que fará com que você se sinta uma criança impotente.
Luciano não sabia o que fazer ou dizer. Kiev olhava-os pronto para agir como um relâmpago caso fosse necessário.
— Olhe aqui, meu caro — continuou Raul, agora depositando o braço direito sobre ombro do espírito, que tremia todo de raiva, ansiedade e pânico, encurralado que estava pela situação. — Vamos falar a verdade: você não tem escolha! Ou se rende aos guardiões ou enfrenta o espectro. Creio que seja melhor para você vir para o nosso lado, pois aqui você será tratado com o máximo respeito, isso eu posso garantir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jan 28, 2023 10:58 am

— Respeito? Vocês porventura tratam com respeito quem trabalha contra vocês?
— Claro que sim! Ainda mais em tempos de delação premiada, como estamos vivendo no Brasil; assim, as coisas podem ser interessantes para seu lado.
— Como assim? — perguntou Lucky, visivelmente atraído pela proposta.
“Raul, não prometa o que você não pode assegurar” — Kiev advertiu o amigo por telepatia. Raul o ignorou.
— Bem, Lucky, posso lhe garantir que, se você colaborar connosco, dando-nos as coordenadas da Horda ou falando da estrutura de poder desse grupo, Jamar, o nosso comandante, terá um olhar mais compassivo para com você — Raul falou piscando para Kiev, que não acreditava no que estava ouvindo.
— Mas… — gaguejou Luciano, o antigo gângster.
— Pense bem, amigo — falou Raul, caminhando a passos lentos com o criminoso astral. — Você não tem muitas opções, pois sabe que não poderá retornar para a sua Horda, e, além do mais, seu tempo está se esgotando. Vá com Kiev, vá, homem!
Entregou-o, assim, ao guardião. Kiev o recebeu colocando, também, o braço sobre o ombro do outrora poderoso chefe dos chefes do crime organizado norte-americano. Raul prosseguiu, enquanto Luciano já estava sob a custódia de Kiev:
— Em todo caso, você não será nosso prisioneiro. Caso resolva nos ajudar dando-nos as informações de que precisamos, tenho certeza de que Kiev mesmo lhe dará uma atenção especial — falou sem ao menos olhar nos olhos do guardião. Somente ouviu em sua mente a reacção:
“Raulll…”
— Eu só dei uma forcinha, amigo — respondeu o médium em alta voz, sem ao menos olhar na direcção de ambos, que se foram rumo ao quartel-general dos guardiões. Lucky Luciano não tinha alternativa.
— Raul, você sabe o que está fazendo? — falou Herald com o amigo.
— Claro que sei! Delação premiada, Herald. Você não conhece isso? — brincou Raul, fazendo uma mesura, enquanto regressavam do desdobramento.
Ao se levantarem, estavam com o corpo todo moído, as costas doendo, a cabeça latejando, pois travaram contacto com alguns dos mais perigosos chefes do crime organizado no umbral.
— Está na hora de voltarmos para a capital. Vou retornar ainda hoje; vou antecipar meu voo.
— Impossível, Raul! — falou o amigo Andrew. — Não dá mais tempo; teremos de pernoitar aqui mesmo. Embarcaremos amanhã, afinal, não há nada mais a fazer por aqui. Os campos de luta voltarão a ser o Brasil e a Venezuela. A luta continua, amigo. Sabe que pode contar connosco. Agora temos um time de primeira, uma turma cada vez mais consciente e disposta a trabalhar.
Raul pensou nos diversos amigos no Brasil e fora do Brasil que actuavam em sintonia com os guardiões. Tinham muita coisa a fazer pelo país, pela humanidade; não dava para ficar de braços cruzados. O golpe estava em andamento do outro lado da vida, e, naquele momento, havia mais gente disposta a lutar junto com os guardiões, mais gente envolvida na guerra contra o mal.

Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.
EFÉSIOS 6:12
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referências bibliográficas
BÍBLIA de estudo Scofield. Versão: Almeida Corrigida e Fiel. São Paulo: Holy Bible, 2009.
KARDEC, Allan. A génese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
____. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
____. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 1. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
____. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2004. (Ano ii, fev. 1859.)
PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. A marca da besta. Contagem: Casa dos Espíritos, 2010. (O reino das sombras, v. 3.)
____. Pelo espírito Ângelo Inácio. A quadrilha: o Foro de São Paulo. Contagem: Casa dos Espíritos, 2016. (A política das sombras, v. 2.)
____. Pelo espírito Ângelo Inácio. Cidade dos espíritos. Contagem: Casa dos Espíritos, 2013. (Os filhos da luz, v. 1.)
____. Pelo espírito Ângelo Inácio. Legião: um olhar sobre reino das sombras. 11. ed. rev. Contagem: Casa dos Espíritos, 2011. (O reino das sombras, v. 1.)
____. Pelo espírito Ângelo Inácio. O agênere. Contagem: Casa dos Espíritos, 2015. (Crónicas da Terra, v. 3.)
____. Pelo espírito Ângelo Inácio. O partido: projecto criminoso de poder. Contagem: Casa dos Espíritos, 2016. (A política das sombras, v. 1.)
____. Pelo espírito Joseph Gleber. Além da matéria: uma ponte entre ciência e espiritualidade. 2. ed. rev. Contagem: Casa dos Espíritos, 2011.

NOTAS
preâmbulo_Carta do espírito José do Patrocínio à gente brasileira
1. “Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? ‘Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão’.” (KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 1. ed. esp. Rio de Janeiro: feb, 2005. p. 526, item 932.)

capítulo 1 – Os filhos da besta
1. Cf. PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. Cidade dos espíritos. Contagem: Casa dos Espíritos, 2013. p. 50-129. (Os filhos da luz, v. 1.)
2. O autor espiritual explica pormenores sobre o processo de criação e a associação entre os escritores citados e outros mais em obra anterior. Cf. PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. A marca da besta. Contagem: Casa dos Espíritos, 2010. p. 30-61. (O reino das sombras, v. 3.)
3. Cf. PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. Legião. 11. ed. rev. Contagem: Casa dos Espíritos, 2011. p. 453-459. (O reino das sombras, v. 1.)
4. Nascido em Belo Horizonte, mg, o médium Rafael A. Ranieri (1919–1989) participou activamente do movimento espírita local, inclusive convivendo com Chico Xavier, que até 1959 residia em Pedro Leopoldo, a apenas 30km da capital mineira. Após curta permanência no Rio de Janeiro, a partir de 1950 Ranieri radicou-se no Vale do Paraíba. Foi delegado da Polícia Civil, profissão na qual se aposentou, tendo chegado a se eleger prefeito de Guaratinguetá (1969–1972) e deputado estadual por São Paulo, em 1974.
5. Cf. “Emancipação da alma”. In: KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: feb, 2011. p. 293-322, itens 400-455.
6 . Cf. Pv 4:18.
7. Mt 24:24.
8. Jo 13:34-35; 1Pe 1:22 etc.
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capítulo 2 – A Horda
1. Cf. “Os daimons”. In: PINHEIRO. A marca da besta. Op. cit. p. 510-616.
2. KARDEC. O livro dos espíritos. Op. cit. p. 325, item 459.
3. Cf. PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. A quadrilha: o Foro de São Paulo. Contagem: Casa dos Espíritos, 2016. p. 182-200. (A política das sombras, v. 2.)
4. Cf. PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. O partido: projecto criminoso de poder. Contagem: Casa dos Espíritos, 2016. (A política das sombras, v. 1.)
5. Cf. Ef 6:12.

capítulo 3 – Mensageiro da justiça
1. Mc 2:17. bíblia de estudo Scofield. Versão: Almeida Corrigida e Fiel. São Paulo: Holy Bible, 2009. (Todas as citações bíblicas foram extraídas dessa fonte.)
2. “Carta do espírito Tancredo Neves à nação brasileira”. In: PINHEIRO. O partido. Op. cit. p. 19-20.
3. Cf. “Juízo final”. In: KARDEC, Allan. A génese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: feb, 2009. p. 507-511, cap. 17, itens 62-67.
4. Cf. Hb 10:37.

capítulo 4 – Assuntos urgentes
1. Irineu Evangelista (1813–1889), barão do império e, posteriormente, Visconde de Mauá, é personagem dos volumes anteriores desta série (cf. PINHEIRO. O partido. Op. cit.; PINHEIRO. A quadrilha. Op. cit.).

capítulo 5 – Na noite mais escura, na treva mais densa…
1. Cf. “Elementais artificiais e naturais”. In: PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Joseph Gleber. Além da matéria: uma ponte entre ciência e espiritualidade. 2. ed. rev. Contagem: Casa dos Espíritos, 2011. p. 151-161.
2. Cf. PINHEIRO. A quadrilha. Op. cit. p. 242-264.
3. Cf. PINHEIRO. A quadrilha. Op. cit. p. 29.

capítulo 6 – Táctica de guerra
1. Mt 10:34.
2. Cordão de prata: “substância semi-material que liga e mantém o psicossoma ou perispírito ligado ao corpo físico ou soma” (PINHEIRO. Além da matéria. Op. cit. p. 105).

capítulo 7 – Moderna obsessão
1. Considerado o pai moderno do crime organizado nos Estados Unidos, Charles “Lucky” Luciano (1897–1962) foi chefe da máfia italiana antes de substituir o chefe de todas as famílias de mafiosos e extinguir a posição. Condenado à prisão em 1936, foi deportado para a Itália, seu país natal, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Tornou-se um personagem lendário da sociedade norte-americana. Chegou a morar em Cuba antes de ser novamente deportado.
2. Benjamin “Bugsy” Siegel (1906–1947), membro da máfia judaica e de sindicatos do crime, foi considerado um dos gângsteres mais infames dos tempos da lei seca, nos eua. Mantinha laços com a Cosa Nostra, a máfia italiana, por meio de Lucky Luciano, entre outros. Fundou a Murder, Inc. (Assassinato Ltda.), como matador profissional.
3. Nicolás Maduro (1962–) preside a República Bolivariana da Venezuela desde 2013.
4. Raúl Castro (1931–) está à frente da ditadura cubana desde 2008.
5. Fidel Castro (1926–2016) governou Cuba por quase 50 anos, entre 1959 e 2008. Até 1976, exerceu o cargo de primeiro-ministro e, depois, o de presidente.

capítulo 8 – Navalha do crime
1. Cf. “Forma e ubiquidade dos espíritos”. In: KARDEC. O livro dos espíritos. Op. cit. p. 124-125, itens 92-92a.
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capítulo 9 – Testando limites
1. Cf. PINHEIRO. Legião. Op cit. p. 57-69.
2. Cf. “Os agêneres”. In: KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: feb, 2004. p. 62-66. (Ano ii, fev. 1859.); PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Ângelo Inácio. O agênere. Contagem: Casa dos Espíritos, 2015. (Crónicas da Terra, v. 3.)

capítulo 10 – Guerra de facções
1. Ap 2:4.
2. “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo. Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, […] forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2Pe 2:19-21).
3. Ap 12:12.

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