LUZ ESPÍRITA
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ERROS E ACERTOS - Marcelo/Célia Xavier de Camargo

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:56 am

ERROS E ACERTOS
Célia Xavier de Camargo

Pelo Espírito Marcelo

ÍNDICE
APRESENTAÇÃO


1 - A VERDADE
2 - RESPEITO ÁVIDA
3 - AUTO-AFIRMAÇÃO
4 - O PRECONCEITO
5 - O PERDÃO
6 - RECUPERAÇÃO - I
7 - RECUPERAÇÃO - II
8 - O DIÁRIO
9 - A MENTIRA
10 - A FLOR AMARELA
11 - DOENÇA PROVIDENCIAL
12 - INDIFERENÇA
13 - ÁRVORES E FRUTOS
14 - DIGNIDADE
15 - TRABALHO EM EQUIPE
16 - AMBIÇÃO
17 - VIVÊNCIA CRISTÃ
18 - A PEQUENA MENDIGA
19 - ABNEGAÇÃO


Última edição por Ave sem Ninho em Seg maio 18, 2020 9:55 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:56 am

APRESENTAÇÃO
A trajectória do Espírito rumo à evolução é repleta de experiências, grande parte das quais negativas, mas que se revestem de imensa importância, uma vez que, através das incontáveis vivências reencarnatórias, ele vai aprendendo a superar erros, vencer dificuldades, contornar obstáculos, refazendo relacionamentos danificados, revisando conceitos, acrescentando valores morais e amadurecendo emocional e espiritualmente.
De cada encarnação, o Espírito sai mais forte e experiente.
Todavia, nada se faz sem esforço.
E, na construção de um ser melhor, a vida é a grande mestra, pois coloca a criatura diante de situações e problemas que envolvem pessoas e sentimentos, obrigando-a a tomar decisões que serão fundamentais para seu futuro, por meio do confronto com aqueles que um dia prejudicou, ou foi por eles prejudicado.
Nesses momentos, o Espírito terá que acessar, da memória profunda, todo o conhecimento adquirido, as qualidades morais já conquistadas, as inúmeras experiências vividas, e, manipulando seus sentimentos, tomar a atitude que melhor se coadune com o seu estágio evolutivo.
Então, graças ao livre-arbítrio, dádiva que lhe foi conferida pelo Criador, poderá escolher a opção que mais lhe aprouver.
E é aí que, não raro, erra e se compromete, candidatando-se a um futuro de dores e sofrimentos, em obediência aos ditames da lei de causa e efeito.
Entretanto, sempre poderá refazer seus passos.
Deus é Pai justo e bom, oferecendo novas oportunidades ao faltoso, desde que demonstre sincero desejo de reparar o mal praticado.
Assim, todo dia é dia de renovação.
A todo instante podemos modificar nossa existência, criando, com o auxílio do Bem, créditos que funcionem a nosso favor, amenizando o mal que praticamos e oferecendo-nos novas condições de vida.
O Evangelho de Jesus é roteiro seguro para todos nós, concitando-nos à modificação interior.
E a Doutrina Espírita, tão sabiamente codificada por Allan Kardec, facilita nosso entendimento, leva-nos a reflectir sobre os grandes questionamentos do ser humano e nos conduz à fé raciocinada, apanágio do verdadeiro espírita-cristão.
Podemos agora afirmar com certeza:
não apenas acreditamos, temos convicção!
A finalidade desta obra é exactamente lembrar alguns exemplos de ERROS e ACERTOS.
Pela análise de casos que nos chegaram para estudo e do qual participamos, nosso grupo considerou que seria importante deixá-los registrados, em textos simples e despretensiosos, de modo que todos, especialmente os jovens, deles pudessem tomar conhecimento, e, de alguma forma, ser ajudados.
Os nomes foram trocados para evitar qualquer reconhecimento ou identificação passível de prejudicar os encarnados cujas histórias foram enfocadas.
Todos os casos reflectem situações e problemas do dia-a-dia, em que os personagens, ao contacto com a mensagem evangélica, repensaram suas atitudes e se modificaram, exercitando o perdão, a humildade, a compreensão, a responsabilidade, a tolerância, a generosidade, o desprendimento, enfim o amor.
Do imenso acervo, o grupo pinçou apenas alguns casos positivos, que realmente podem servir de exemplo e alerta para os que vierem a folhear estas páginas.
Também resolvemos que nos manteríamos à margem, praticamente sem nos darmos a conhecer durante o transcorrer dos acontecimentos, salvo excepções, limitando-nos a relatar pura e simplesmente as histórias, que são retalhos de vidas.
Como representante da equipe, agradeço a colaboração de todos os que, de alguma forma, deram sua colaboração para que mais este trabalho - iniciado em 13 de março de 2000 e concluído nesta data - se realizasse.
Nossa gratidão: especialmente a Deus, Pai Amantíssimo, pela oportunidade que nos foi concedida, pois sem Sua permissão nada seria possível.
A Jesus, Mestre e Amigo querido, pelas lições imorredouras que nos deixou, as quais, como um farol, direccionam nossas vidas no roteiro do Bem e do Amor.
À Espiritualidade Maior, representada pela mentora Maria de Nazaré, pelo amparo e assistência em todas as horas.
Por fim, aos Orientadores, que tanto nos ajudam e instruem.

Aos leitores, o nosso abraço, suplicando a Jesus os ampare e fortaleça no cumprimento do dever.
Muita paz!

Marcelo

Rolândia, 23 de outubro de 2001.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:56 am

01 - A VERDADE
(...) Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais. (...)
(O Livro dos Espíritos - pergunta 1000, Allan Kardec.)

Naquela manhã, Marina acordou mal-humorada.
Não bastasse ter passado quase toda a noite insone, preocupada com a prova de Biologia que teria logo cedo, ainda essa chuva irritante que não parava.
Marina nunca gostou de chuva.
Amava o sol, o calor, os dias alegres, o céu azul.
E agora esse aguaceiro que não tinha fim.
Levantou-se descontente e sem ânimo.
O quarto ainda estava escuro.
Movimentou-se com cuidado para não despertar a irmã, que dormia na outra cama.
Arrumou-se, pegou a mochila e foi para a cozinha, onde a mãe preparava o café.
Em silêncio, tomou um copo de leite.
- Aconteceu alguma coisa, minha filha?
Você está com uma cara!...
- Não dormi direito, mamãe.
- Algum problema? - perguntou a senhora.
Tenho prova de Biologia hoje.
- Ah!... Então, boa sorte, Marina.
Que Jesus a ampare.
Antes da prova, minha filha, não se esqueça de fazer uma oração.
Verá que a ajuda de Deus não vai faltar.
Alegando pressa, e antes que a mãe acrescentasse alguma coisa, Marina saiu correndo.
Abriu o guarda-chuva e enfrentou o aguaceiro que caía, enquanto pensava:
Ajuda de Deus, pois sim!
Eu que não estude para ver o que acontece...
Chegou à escola, encharcada.
O barulho dos alunos era ensurdecedor.
Dirigiu-se à sua sala, onde os colegas estavam esperando o início das aulas.
Logo que entrou, ela o viu.
Roberto, ou Beto, como todos o chamavam, tinha sido sempre seu melhor amigo.
Alguma coisa dentro dela, porém, se quebrou, desde o dia em que o vira todo sorridente, abraçado a uma garota, passeando no centro da cidade.
Tudo tinha mudado.
Reconhecia-se descontente, insatisfeita, irritada e nervosa.."
Agora, ao vê-lo na classe conversando com um colega, percebeu que seu mau humor não era pela noite mal dormida, pela prova de Biologia ou pela chuva que continuava a cair lá fora.
Era por causa dele.
Sentia-se traída.
Dirigiu-se à sua carteira e sentou-se, de cara amarrada.
- Ei! bom dia!
Que bicho a picou hoje?
Não precisou se virar para saber que era ele.
A voz era inconfundível.
Cumprimentou-o.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:56 am

Beto estava de excelente humor, alegre e brincalhão, como sempre.
Isso a irritou ainda mais.
A professora entrou na sala e os alunos se acomodaram.
Enquanto ela passava as orientações sobre o teste que seria realizado, Marina não conseguia prestar atenção.
Só pensava em Beto.
ma onda de mágoa e ressentimento avolumava-se em seu íntimo.
Tinha vontade de tirar aquele sorriso do rosto dele, de fazê-lo sofrer tanto quanto ela estava sofrendo.
Respondeu aos quesitos da prova sem perceber direito o que estava fazendo.
Era boa aluna, e o teste, fácil.
Estava para se levantar e entregar a folha, quando viu que Vera, a colega do lado esquerdo, deixara cair uma "cola" sobre o assento da carteira.
No mesmo instante, notou que Beto terminara o teste e também se levantava.
Então, uma ideia infeliz acudiu-lhe à mente.
Ergueu-se e, discretamente, apanhou o papelzinho no banco ao lado; caminhou lentamente para a mesa da frente, dando tempo para que Roberto depositasse sua prova no monte, junto com as outras.
Depois, Marina colocou sua prova por cima, tendo o cuidado de inserir a "cola" na folha de Beto.
Saiu satisfeita.
Estava vingada.
Dois dias depois, estourou o escândalo.
A professora entrou na sala, séria e compenetrada.
Antes de entregar o resultado, fez um discurso. com uma das provas na mão, explicou que um aluno, exactamente aquele de quem ela menos esperava tal atitude, havia usado de fraude.
Mas fora denunciado por si mesmo, uma vez que esquecera a prova do crime dentro do teste.
Em virtude disso, teria nota zero.
Todos estavam espantados e curiosos para saber a quem ela se referia.
Afinal, a professora falou:
- Roberto Fontes, venha buscar sua prova.
Perplexo, incapaz de acreditar, Beto levantou-se e dirigiu-se à mesa.
A mestra olhou-o desolada:
- Lamento, Roberto.
Você não precisava disso.
O rapaz não entendia o que estava acontecendo.
Seu olhar esgazeado ia da folha para a professora e desta para os colegas, sem conseguir dizer nada.
Enquanto ele retornava para seu lugar, havia tal sofrimento em seu rosto que Marina se condoeu.
Tomara uma atitude irreflectida, por impulso, e agora estava arrependida.
Mas não podia voltar atrás.
Com o rosto afogueado, ele não conseguiu mais segurar as lágrimas e deixou a sala gritando:
- Eu não fiz nada!
Sou inocente! Não fiz nada!...
A classe ficou em silêncio.
Os alunos estavam sob o impacto da cena que se desenrolara diante deles.
Mais tarde, naquele mesmo dia, alguns amigos se reuniram e resolveram dar uma força para Roberto.
Convidaram Marina, naturalmente.
Ela foi obrigada a acompanhar o grupo, conquanto tivesse o coração apertado de remorso.
Ele os recebeu com gentileza.
O rosto, inchado de tanto chorar, agora estava enxuto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:57 am

Trazia uma expressão triste, mas resignada.
Diante dos comentários dos colegas, afirmou:
- Deve ter sido um engano.
Tenho fé em que a verdade vai aparecer.
Não se preocupem.
Tudo será esclarecido.
Nesse momento, a porta se abriu e entraram na sala duas pessoas: uma delas era dona Judite, mãe de Roberto, e a outra, uma moça.
Marina reconheceu a garota que Beto abraçava naquele dia.
Somente agora pôde vê-la melhor: alta, loira, olhos azuis e um lindo sorriso.
Era muito atraente, elegante, e certamente ele a amava.
Mordeu os lábios, despeitada.
Roberto, vendo-as chegar, apresentou:
- Esta é minha prima Solange, que está passando alguns dias connosco.
Minha mãe, vocês já conhecem.
Marina, que se remoía de ciúmes, ao ouvir essas palavras respirou aliviada.
Então, eles não eram namorados.
E aquele ressentimento, tão profundamente alimentado em seu coração, foi aos poucos se dissolvendo.
Após algum tempo, os colegas se despediram.
Marina acabou ficando por último.
Envergonhada, comentou:
- Outro dia eu vi você e Solange juntos na cidade e pensei que fossem namorados.
- Eu e a prima?
Que ideia! Não.
Nós nos damos super bem.
Sempre que nos encontramos, o que não é fácil porque ela mora longe, é uma alegria.
Contudo, namoro é outra coisa.
Só com alguém a quem eu realmente ame.
Acompanhou essas palavras com um olhar tão carinhoso que Marina sentiu o coração bater apressado.
- E você ama alguém? - atreveu-se a perguntar.
- Amo. Essa garota, no entanto, finge que não entende meus sentimentos.
- E ela? Estará apaixonada por você, Roberto?
O rapaz passou a mão, com carinho, sobre os cabelos dela.
- Espero que sim.
Mas isso só você poderá dizer, Marina.
E, vendo a expressão de surpresa no rosto dela, completou baixinho:
- Não entendeu ainda que é você que eu amo?
Marina não podia acreditar em tamanha felicidade.
Beto segurou-lhe o rosto com as mãos e deu-lhe um delicado beijo na boca.
Quando se despediram, ela estava nas nuvens.
Todavia, ao retornar para casa, lembrou-se do que fizera e ficou muito aflita.
A felicidade a fez esquecer por completo sua malfadada atitude.
O remorso corroía-lhe o íntimo.
Agora que se sabia amada e que a outra não representava perigo, compreendia o quanto fora má e inconsequente.
Antes, os sentimentos estavam confusos dentro dela.
Sempre o tratou como amigo e não percebeu que era ciúme o que sentira quando viu Beto com outra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:57 am

Ela o amava, e prejudicara justamente aquele a quem amava.
Ele, que sempre fora digno, respeitador, estudioso, companheiro e amigo.
Como reverter a situação?
Impossível!
Não suportaria vê-lo sofrer por algo que não tinha feito.
Por outro lado, se contasse a verdade, o perderia.
Roberto não perdoaria a maldade que cometera contra ele.
O que fazer? O que fazer?
Marina chegou em casa e fechou-se no quarto.
Não queria ver ninguém.
Quando a mãe veio chamá-la para jantar, disse que estava sem fome.
- Você está doente?
Tem febre?
- Claro que não, mamãe.
Só quero ficar sozinha.
- Aconteceu alguma coisa hoje no colégio?
- Não! - gritou Marina, impaciente.
Já disse que quero ficar só!
- Hum! Que mau humor! - murmurou a senhora, saindo e fechando a porta, preocupada.
Na manhã seguinte, a jovem acordou pálida e desfeita.
Não tinha fome.
Na escola, uma novidade.
Comentava-se que a professora, inconformada com o acontecido - pois gostava muito de Roberto e o julgava incapaz de tal atitude -, resolveu levar a fundo a questão e, analisando a caligrafia na "cola", descobriu que não era a dele.
Não se falava de outra coisa.
Vera, a dona da "cola", estava inquieta.
Desde que percebeu que tinha perdido o papelzinho, não teve mais sossego.
Depois, Roberto foi acusado e ela se aquietou; certamente ele também tentara colar.
Mas agora, se a letra não era a dele, de quem seria?
Seria a sua?
Seria seu aquele papel encontrado no meio da prova de Beto?
E se isso fosse verdade, como teria ido parar lá?...
O mistério prosseguia e não se falava de outra coisa no colégio.
Três dias depois, Marina era uma sombra do que fora.
Emagreceu e parecia sempre aflita e assustada.
Não tinha coragem de enfrentar Roberto e o evitava, levando-o a achar que ela estava fugindo dele porque não o amava.
A situação estava nesse pé quando, uma noite, a mãe procurou Marina no quarto.
Ela estava deitada, com a cabeça coberta e virada para a parede.
De vez em quando, ouviam-se soluços abafados.
Marina chorava.
A mãezinha, com ternura, sentou-se no leito, envolvendo a filha com o braço:
- Minha filha, não posso vê-la se consumir assim, desse jeito.
Fale comigo. Abra seu coração.
Percebo que você está sofrendo muito e não posso mais me calar.
Não sei qual é o problema que tanto a aflige, mas para tudo há uma saída, acredite.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:57 am

Não há problema sem solução.
Marina, ouvindo as palavras da mãezinha, recomeçou a chorar com mais intensidade.
Como ela continuasse calada, a senhora prosseguiu:
- Minha querida, seu pai e eu estaremos do seu lado em qualquer circunstância.
Você é nossa filha e nós a amamos muito.
Confie em nós.
Silêncio. Fez uma pausa e arriscou:
- Você está grávida?
Marina virou-se, descobrindo a cabeça e sentando-se na cama, surpresa:
- Por Deus, mãe, claro que não!
O que a levou a pensar isso?
- Bem, não sei.
O Roberto esteve tantas vezes aqui em casa e você não quis vê-lo, pensei...
- Pois pensou errado.
Não tenho nada com ele.
- Mas o Beto a ama, minha filha, e está sofrendo com sua atitude.
Marina baixou a cabeça e murmurou:
- Sofreria mais ainda se soubesse a verdade...
- Que verdade, minha filha?
Você está gostando de outro?
- Não, mamãe.
Eu amo o Beto. - e desatou em choro convulsivo.
- Então?...
Marina pensou um pouco e não conseguiu mais se segurar. com o rosto lavado de lágrimas, explodiu:
- Mamãe, me ajude!
Por favor, me ajude!
Não aguento mais!
Abraçando a filha, a senhora acalentou-a como se fosse um bebé.
- Fale, filhinha, estou escutando.
E Marina, entre soluços, contou para a mãe tudo o que tinha acontecido, sem omitir nada.
Quando terminou de falar, a mãe, séria, considerou:
- Você realmente agiu muito mal, minha filha.
Todavia, não é tão grave assim.
É muito jovem, tem apenas dezasseis anos, e agiu por impulso.
Como eu afirmei, para tudo há solução e a verdade é sempre o melhor caminho.
Explique a situação para Roberto, em primeiro lugar.
- Isso nunca!
Ele não me perdoará!
- Como pode saber?
Talvez ele se enterneça ao ver que você agiu assim por ciúme, e que o ama.
- Não sei, mamãe.
Creio que não terei coragem.
- Tente. Se você teve coragem para fazer o que fez, certamente terá coragem também para desfazer seu erro.
Depois, esclareça o caso com a professora, que precisa ser inteirada da verdade.
Marina estava ainda em dúvida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:57 am

A mãe concluiu:
- Minha filha, não perca essa oportunidade de reparar o mal cometido.
Enfrente a responsabilidade pelos seus actos.
Não basta reconhecer que errou, é preciso reparar o erro.
Seja sincera, verdadeira, e se surpreenderá.
Além disso, você será a maior beneficiada.
O remorso é dor pungente da alma e que não dá tréguas.
Há quantos dias está sofrendo, sem ter sossego?
A paz de espírito, minha querida, é uma bênção de valor inestimável. Coragem!
Marina concordou finalmente com a mãezinha.
Libertar o coração lhe faria bem.
Na manhã seguinte, foi para o colégio disposta a contar a verdade.
Ao entrar na sala, porém, percebeu um burburinho diferente.
Biologia seria a primeira aula, e a professora já estava na classe.
Levantando-se, a mestra acusou Vera como a dona da "cola".
Chorando, a garota explicou:
- É verdade, professora, a "cola" é minha.
Fiz porque tinha medo de não me sair bem na prova.
Entretanto, não a usei.
A senhora deve ter visto que o conteúdo dela não caiu no teste.
- Tudo bem.
Mas a infracção permanece.
Você também terá nota zero na prova.
Só não sei por que colocou o papelzinho dentro da prova de Roberto, incriminando-o.
A confusão era total.
Beto estava aliviado, apesar de intimamente condoído da situação de Vera.
Nisso, não suportando mais, Marina levantou-se, decidida:
- A culpa não é dela. É minha.
Toda a classe se aquietou de repente.
- Pode se explicar melhor? - indagou a professora, espantada.
Respirando fundo, Marina prosseguiu:
- Antes, quero dizer que me arrependo muito do que fiz e estou disposta a enfrentar as consequências dos meus actos.
Vera está inocente, assim como Roberto.
Fui eu que peguei a "cola" que Vera deixou cair na carteira e a coloquei no meio da prova dele.
Todos estavam abismados.
Beto, perplexo, não conseguia acreditar.
- Você?!...
Por que, Marina? Por quê?
Virando-se para ele, viu a expressão de sofrimento em seu rosto.
Esquecendo-se do resto da classe, ela explicou:
- Fiquei com ciúme quando o vi abraçado com aquela garota no centro da cidade e desejei fazê-lo sofrer.
Não sabia que ela era sua prima.
Percebo agora que o amo demais, Roberto, e que minha vida não terá sentido sem você.
Poderá me perdoar algum dia?
Roberto, atingido no que tinha de mais caro, baixou a cabeça e não respondeu.
- É justo.
Não mereço o seu perdão - murmurou Marina, saindo da sala a correr e escondendo as lágrimas que lhe desciam pelo rosto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:57 am

Uma semana depois, Roberto procurou Marina em sua casa.
Os amigos não mais a tinham visto e estavam preocupados.
Tocou a campainha e dona Helena veio abrir.
- bom dia, dona Helena.
Gostaria de falar com Marina.
Ela está?
- Olá, Roberto!
Que prazer em vê-lo!
Marina está no quintal.
Vá entrando. Você sabe o caminho.
O rapaz agradeceu e dirigiu-se para os fundos da casa.
Logo viu a garota sentada num banco, debaixo de uma enorme mangueira.
Aproximou-se, sem que ela desse pela sua presença.
Não pôde deixar de constatar as mudanças que se haviam operado nela: emagrecera bastante, trazia uma expressão triste e abatida nos olhos perdidos ao longe.
Acercando-se mais, ele chamou baixinho:
- Marina...
A jovem sorriu levemente, sem se voltar.
Ele repetiu:
- Marina!...
Só então ela deu pela presença dele.
- Você está aqui, Roberto!...
Pensei que fosse minha imaginação...
- Como está, Marina? - perguntou ele, acomodando-se ao lado dela no banco.
- Vou levando - respondeu, de cabeça baixa.
- Não nos vimos mais desde aquele dia.
Você não voltou mais à escola...
- Não tive coragem de enfrentar a classe, a professora, você... enfim, não depois de tudo o que aconteceu.
- Acho que está enganada, Marina.
Você tem muita coragem, sim.
Se não tivesse, não teria contado a verdade.
- É... e agora todos me desprezam.
- Engana-se.
Os colegas reconhecem que você agiu mal, mas todos admiram sua coragem.
Afinal, Marina virou-se e, levantando a cabeça, olhou para o rapaz.
- Verdade?
Ou está dizendo isso para me consolar?
- Palavra de honra.
Todos sentem sua falta.
E eu, mais do que os outros.
Ela novamente curvou a fronte, envergonhada.
Roberto pensou um pouco e prosseguiu:
- Marina, a princípio fiquei revoltado com sua atitude.
Depois, pensando melhor, tive tempo para analisar tudo o que aconteceu, suas razões, seus sentimentos.
E, o que é mais importante, lembrei-me das palavras do Cristo:
"Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado".
Foi o suficiente para entender que não podemos julgar ninguém.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 17, 2020 10:58 am

Fitou-a com imenso carinho.
O olhar dela, fixo no dele, parecia não ter entendido direito.
- Quer dizer que você me perdoa?...
- Quero dizer que a amo muito e que nada mais poderá nos separar.
- Você é muito generoso, Roberto.
Jamais conheci alguém como você.
Abraçaram-se, permutando sentimentos e o prazer de estarem juntos.
Marina, depois de alguns minutos, comentou:
- Nesses dias de isolamento, pude reflectir bastante, Roberto.
A par da valiosa ajuda de meus pais, apeguei-me a Jesus, sentindo grande alívio e consolo com seu amparo.
Aprendi grandes lições, cresci bastante nesse pequeno espaço de tempo.
Aprendi, em especial, que nunca podemos agir de forma irreflectida, porque só temos o controlo de nossas acções antes de executá-las.
Além disso, o ressentimento é mau conselheiro e nos leva a reacções desajustadas.
Depois, por mais que nos arrependamos, não podemos voltar atrás.
Aprendi também que a verdade é o único caminho possível para quem deseja ter consciência tranquila.
Confesso que, apesar do sofrimento e da vergonha que passei, desnudando-me perante todos, senti-me tranquila e em paz comigo mesma.
Roberto concordou:
- Acredito que todos aprendemos muito com esse episódio:
Vera, que não deve usar meios escusos; a professora, que não deve julgar ninguém; os colegas, que aproveitarão a experiência dos outros, adaptando-a às suas próprias vidas e dela tirando ensinamentos úteis.
Todos têm algo encoberto, que não desejam venha a público, algo que é preciso rectificar, para se alcançar a paz.
Abraçaram-se novamente, e Roberto sugeriu:
- Vamos entrar e contar à sua mãe?
Sei que ela tem sofrido muito e certamente ficará satisfeita com nosso reencontro.
Aproximaram-se da porta da cozinha, onde a senhora fazia o almoço.
Enlaçando Marina, Roberto informou:
- Dona Helena, segunda-feira Marina retorna às aulas.
Vendo, pelo sorriso da filha, que entre eles tudo se esclarecera, ela levantou as mãos para o Alto:
- Tenho orado muito e agradeço a Deus, que ouviu minhas preces.
Felizmente, tudo retornou à normalidade.
Roberto, quer almoçar connosco?

Em qualquer circunstância, procure manter o equilíbrio das emoções.
Sentimentos negativos, como o ciúme e a inveja, nos levam ao ressentimento, e pela irreflexão tomamos atitudes impulsivas e desordenadas, emitindo julgamentos precipitados e causando prejuízos a outrem.
Lembre-se: somente a paz interior baseada em sentimentos nobres e pensamentos elevados poderá nos conduzir ao amor e à felicidade que almejamos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:54 am

02 - RESPEITO À VIDA
Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
- Há crime sempre que transgredis a lei de Deus.
Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.

(O Livro dos Espíritos - pergunta 358, Allan Kardec.)

O trânsito estava impossível; congestionamentos dificultavam a evasão dos veículos.
Nas calçadas, uma multidão frenética se acotovelava, caminhando apressada para rumos diferentes.
Àquela hora do dia, as pessoas saíam do serviço e ansiavam voltar logo para casa.
Imersa em seus pensamentos, Tânia andava pelas ruas sem se dar conta do intenso movimento.
O sol sumira por trás dos edifícios e começava a escurecer.
Nesse instante, ela ouviu uma freada brusca, enquanto uma buzina soava estridente, bem próxima.
Uma voz irritada berrou:
- Ei! Veja por onde anda!
Está ficando louca?
Virou-se assustada.
Era com ela que o motorista falava.
Só então percebeu que o carro freara bem perto dela e por pouco não a atropelara.
Nervosa, balbuciou um pedido de desculpas e afastou-se, ouvindo ainda o motorista praguejar em altos brados, enquanto uma enxurrada de buzinas soava vinda da fileira de carros, cujos motoristas, inquietos, aguardavam passagem.
Atravessou a avenida de tráfego intenso com o coração aos saltos.
Do outro lado, livre do trânsito, encontrou certa paz numa pequena praça, que, semelhante a um oásis no deserto, acolheu-a.
Sentou-se num banco para recuperar o fôlego.
A cabeça dava voltas.
Intimamente, sentia-se confusa, assustada, atónita.
Talvez fosse melhor ter sido atropelada mesmo - pensou, amargurada.
Ao mesmo tempo, a voz da consciência segredava-lhe:
Nem pense nisso!
Especialmente agora, você tem que se preservar.
Tânia colocou a cabeça entre as mãos e começou a chorar.
Imagens surgiam-lhe na mente, lembrando tudo o que tinha acontecido.
Conhecera Rogério numa lanchonete.
Ele era muito atraente.
Moreno, alto, cabelos soltos e encaracolados, e ela sentiu-se imediatamente fascinada por ele.
O rapaz, igualmente interessado, aproximou-se, oferecendo-lhe uma bebida.
Ele tinha papo agradável e sabia como seduzir uma garota.
A partir desse momento, estabeleceu-se grande ligação entre ambos.
Tânia, adolescente de dezasseis anos, estatura mediana, era delicada, de traços bem-feitos e olhos amendoados.
Embora parecesse ser mais velha, pois tinha corpo sensual e boca adornada de lábios carnudos e vermelhos.
Apaixonaram-se perdidamente um pelo outro e entregaram-se ao amor, sem reservas, com a força e o entusiasmo dos jovens.
Isso acontecera há alguns meses.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:55 am

Todavia, de uns tempos para cá, Tânia vinha tendo estranhas sensações.
Sentia-se diferente.
Tinha muito sono e acordava com mal-estar e náuseas frequentes.
Em virtude disso, não conseguia se alimentar direito.
Para complicar ainda mais a situação, a menstruação não viera e ela estava apavorada.
Tenho que falar com Rogério.
E se estiver mesmo grávida, como tudo leva a crer, o que será de minha vida?
E meus pais, como irão reagir? - ao pensar neles, uma onda de pavor apoderou-se dela.
- Meu Deus! Estou perdida!
Meus pais nunca me perdoarão.
Fizeram tantos projectos para mim, sonham ver-me ingressando na universidade, diplomando-me num curso superior... o que vou fazer?... - murmurou baixinho.
Nisso, ouviu uma voz empastada próximo de sua cabeça.
Ergueu a fronte e deu com um homem bêbado, sujo e maltrapilho, que lhe dizia alguma coisa.
Assustada, levantou-se e saiu correndo.
Estava muito escuro.
Preocupada com seus problemas, não viu a noite chegar e o céu se encher de estrelas.
Apressou o passo.
Precisava chegar logo em casa, onde os pais estariam preocupados com sua demora.
Procurou se recompor.
Abriu o portão, respirando fundo e enxugando o rosto ainda molhado das lágrimas.
Não podia permitir que eles percebessem seu estado.
A televisão estava ligada.
Reconheceu a voz do apresentador do telejornal.
Em seguida, ouviu a voz da mãe:
- Olá, minha filha!
Você demorou hoje.
- Tive um trabalho para fazer, mamãe.
Desculpe não ter avisado.
- O lanche está na mesa, filha.
Fiz cachorro-quente, que você tanto gosta - informou a mãe com carinho.
Ao ouvir falar em comida, Tânia sentiu-se mal e correu para o banheiro.
Ao retornar, desculpou-se:
- Mamãe, amanhã eu como o cachorro-quente.
Comi alguma coisa na rua, com os colegas, e estou sem fome, vou para meu quarto.
Sinto-me exausta.
Boa noite, papai!
Boa noite, mamãe!
Em seus aposentos, ela ficou rolando na cama sem conseguir conciliar o sono.
Tenho que falar com alguém.
Não suporto mais esta tortura.
Preciso de conselhos, de ajuda.
Sinto-me tão só...
Nesse momento, lembrou-se de uma amiga e resolveu:
Amanhã vou contar à Margarida.
Creio que ela poderá me ajudar.
Pelo menos, seremos duas cabeças a pensar no assunto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:55 am

No dia seguinte, logo que chegou ao colégio, viu a amiga:
- Margarida, preciso falar com você.
- Pode falar, Tânia.
- Não aqui.
É assunto sério.
Depois da aula.
- Está bem - concordou a outra.
Ao saírem da escola, caminharam juntas.
A colega estava impaciente:
- O que você tem para me dizer, Tânia?
Estou curiosa! - indagou, aflita.
- Você jura, Margarida, que não conta para ninguém?
- Juro. Pode confiar em mim!
- Estou encrencada.
- Como assim?
- Acho que estou grávida - disse, abaixando a voz e olhando em torno, com medo de ser ouvida.
A outra arregalou os olhos e abriu a boca:
- Não é possível! Tem certeza?
- Certeza não tenho.
Porém, pelos sintomas...
Espírito prático, Margarida considerou:
- Bem, se não tem certeza, é preciso procurar saber a verdade.
- Como? Não tenho coragem de ir a um médico.
- Olhe, tem um remédio na farmácia que funciona como um teste.
Não se preocupe. Deixe comigo.
Quem é o pai?
- Como, quem é o pai? - retrucou Tânia, indignada.
Rogério, é lógico.
- Ah!... Ele já sabe?
- Ainda não.
- Melhor assim.
Os homens se assustam com facilidade.
Vamos confirmar suas suspeitas antes.
Agora preciso ir, mas a procuro assim que puder.
- Obrigada, Margarida, tinha certeza de que você poderia me ajudar.
É sempre tão decidida, sabe o que quer e como fazer para consegui-lo. Tchau!
No final da tarde, Margarida dirigiu-se à casa de Tânia.
Discretamente, entregou-lhe um pequeno embrulho:
- Aqui está o remédio. Tome.
Em dúvida, Tânia questionou, preocupada:
- E se eu estiver grávida?
Não vai provocar um aborto, vai?
- Deixe de ser boba.
É claro que não.
Esse comprimido é apenas um teste.
Se dentro de alguns dias não vierem suas regras, então não haverá dúvida: está grávida mesmo.
- Bem, seja o que Deus quiser! - exclamou Tânia, esperançosa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:56 am

Como se suspeitava, as regras não vieram.
Passou-se uma semana, depois outra, e nada.
Tânia estava desesperada.
Perdia o controlo com facilidade, chorava por qualquer coisa.
Margarida teve que admitir:
- Creio que você está encrencada mesmo.
Tânia agarrava e puxava os cabelos em pânico:
- Quero morrer! Prefiro a morte!...
- Não seja dramática, Tânia!
Para tudo há solução.
Temos que dar um jeito nisso.
- Que jeito?
- Conheço uma clínica onde ajudam mulheres a se livrarem desses problemas.
- Como assim?
Fazem abortos?!...
- Se prefere...
- Não posso fazer isso, Margarida.
Dizem que é perigoso. E ilegal.
A outra fez um gesto amplo de desalento:
- Então, enfrente a situação.
- Não posso.
Meus pais não vão aceitar.
- Bem, você terá que se decidir, amiga!
Ou uma coisa ou outra.
Não há outra saída!
- Vou pensar.
- Pois pense rápido.
Não temos muito tempo.
E custa caro.
No dia seguinte, uma colega com quem Tânia nunca tivera grande afinidade aproximou-se dela no intervalo.
- Oi, Tânia, tudo bem?
- Tudo bem.
- Tem certeza?
Soube que está com problemas e...
- Problemas?
- É. Margarida me contou.
Indignada, Tânia retrucou:
- Não acredito.
Ela me jurou que nada diria a ninguém.
Confiei nela!
A quantas pessoas terá contado meu segredo?!...
- Compreendo que esteja zangada.
Se Margarida contou a mais alguém, não sei.
Quanto a mim, fique tranquila.
Quero apenas ajudá-la.
Tânia olhou para Jane.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:56 am

Parecia que a estava vendo pela primeira vez.
Seu aspecto sereno, o olhar firme, o sorriso meigo, transmitiam sinceridade e confiança.
- Obrigada, Jane.
Estou mesmo precisando de ajuda.
Não sei o que fazer.
- Pois o melhor é enfrentar a situação.
Contar logo a verdade, acredite.
Surpresa, Tânia retrucou:
- É mesmo?
Margarida acha que devo abortar.
- Pois essa é a pior solução, Tânia.
Nunca pense numa coisa dessas.
É um crime que se comete contra um ser indefeso.
- Verdade?
Mas ainda não existe vida!...
- Como não?
Desde o momento da concepção, existe vida.
Diante da incredulidade da colega, Jane assegurou:
- Creio que você precisa se informar melhor.
Amanhã lhe trarei alguns livros que tratam do assunto.
Leia-os e, depois, voltaremos a conversar.
Alguns dias depois, tornaram a se encontrar na casa de Jane.
- Agradeço os livros que me emprestou, Jane.
Agora compreendo melhor o crime que iria cometer contra meu filho.
Não posso fazer aborto.
Você tem razão.
Há uma vida que palpita dentro de mim.
Fez uma pausa e observou:
- Não sabia que você era espírita.
- Pois sou, sim.
Tornei-me espírita lendo livros como esses, que alguém me emprestou certa vez.
- Eles são muito interessantes e tratam do assunto com grande profundidade e seriedade.
Sinto que minha visão se ampliou com essas leituras.
Gostaria que me emprestasse outras obras.
Quero entender melhor o Espiritismo.
- Sem dúvida.
Estou à sua disposição.
A propósito, frequento um grupo de jovens, uma vez por semana, onde trocamos ideias sobre esses e outros assuntos, inclusive o estudo sistemático de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec.
- Gostaria de participar também.
Mas, voltando ao meu problema, tenho medo de enfrentar a situação, Jane.
- Não tema.
Tenha confiança em Deus, minha amiga.
Posso lhe dizer que, muitas vezes, nos surpreendemos.
Obstáculos que nos parecem intransponíveis são resolvidos facilmente, quando existe a fé.
Você aceita orar comigo?
- Claro.
Jane fez uma prece singela que saiu do fundo do seu coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:56 am

Depois, aplicou um passe na amiga.
Quando terminou, Tânia estava emocionada e sentindo grande bem-estar e uma paz que não conhecia há tempos.
- Temos que aprender a confiar mais na compreensão das pessoas, amiga.
- Antes, não acreditava nisso.
Agora, felizmente, sinto-me mais confiante e tranquila.
Sua oração me fez muito bem.
Obrigada, Jane.
- Então agora, vamos à luta.
Estarei junto de você, se quiser.
Comece falando com sua mãe.
Ela é mulher e saberá compreendê-la melhor.
Tânia respirou fundo:
- Está bem. vou tentar.
E se não der certo?
- Vai dar. Confie.
A futura mãezinha foi para casa.
Dona Laura estava arrumando a mesa para o almoço quando ela chegou.
Tânia tomou fôlego:
- Mamãe, tem alguns minutos?
Preciso falar com você.
- Agora não, filha, estou atrasada com o almoço. Depois.
- É importante, mãe.
- Não dá pra esperar?
- Não. Estou grávida - despejou.
Dona Laura parou, fingiu enxugar as mãos no avental:
- Creio que não ouvi direito.
- Ouviu sim, mamãe. Estou grávida.
Sei que será um choque para vocês, como foi para mim.
Estou apavorada...
E começou a soluçar.
A mãe aproximou-se, atónita.
Abraçou a filha em silêncio, tentando digerir a notícia.
- Mamãe, papai vai me expulsar de casa? - com os olhos rasos de pranto, Laura fitou a filha, que lhe parecia tão indefesa, ali encolhida em seus braços.
- Claro que não, querida!
Ele ficará tão surpreso quanto eu, mas compreenderá, tenho certeza.
Laura esqueceu-se do almoço.
Desligou as bocas do fogão e levou a filha para um sofá, onde ficaram conversando.
- O pai da criança já sabe?
- Ainda não.
Vou contar ao Rogério hoje mesmo.
Nós nos amamos, mamãe.
Acho que não haverá problema.
- De qualquer forma, minha filha, estou feliz.
Uma criança irá alegrar nossa casa.
Tânia abraçou a mãe.
Ambas estavam comovidas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:56 am

- Mamãe, agradeço sua compreensão.
Não esperava.
Tive tanto medo, sofri tanto até resolver lhe contar...
- Os pais querem o melhor para seus filhos, Tânia, e serão sempre seus melhores amigos.
- Agora entendo isso, mamãe.
Tânia contou à mãe os conselhos de Jane, deixando de falar sobre Margarida, que quase colocara tudo a perder.
Estava aliviada.
Jane tinha razão.
Nada como falar a verdade.
Mais tarde, Tânia telefonou para Rogério marcando um encontro.
Arrumou-se cuidadosamente.
Seria uma noite especial.
Às oito horas da noite, ele chegou e em seguida saíram.
Rogério parou o carro numa rua menos movimentada e abraçou Tânia com paixão.
- Calma, Rogério!
Precisamos conversar.
- Depois...
- Não! Agora!
- Está bem.
Do que se trata? - perguntou ele, impaciente.
- Você me ama?
- Que pergunta é essa agora?
Claro que amo!
- O suficiente para se casar comigo?
- Casar?... - perguntou ele, arregalando os olhos, assustado.
Casar? Por que isso agora?
- Porque estou esperando um filho seu, Rogério.
O rapaz fez silêncio por alguns segundos.
Depois, tornou, receoso:
- Está grávida?
- Estou.
- Tem certeza?
- Tenho.
- De quantos meses?
- Pouco mais de dois.
Ele permaneceu calado, tenso, olhando fixamente para um ponto qualquer à frente.
Tânia murmurou:
- Você não me ama.
- Não é isso.
- É, sim.
- Compreenda, Tânia.
Estou surpreso, confuso.
Essa notícia pegou-me desprevenido.
Sou muito novo para tomar decisões, para me comprometer, entende?
Só tenho vinte anos!
- Entendo. Leve-me para casa - disse ela, considerando mentalmente que era ainda bem mais nova do que ele e teria que enfrentar essa barra da maternidade sozinha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:56 am

O rapaz dirigiu em silêncio, pensativo.
Antes que Tânia descesse do carro, sugeriu:
- Por que não faz um aborto?
Olhe, é o melhor que temos a fazer, e tenho certeza de que meus pais pagarão tudo, não se preocupe.
Você compreende, não posso me casar agora.
Preciso concluir o curso.
Depois, poderemos ter quantos filhos quiser.
Tânia sorriu melancolicamente:
- Compreendo. Infelizmente, aborto está fora de cogitação.
Margarida também já havia sugerido essa saída.
- Está vendo?
Ela mostra que é uma garota sensata.
- Creio que vocês se merecem.
Pensam da mesma forma.
Para mim, não serve.
Adeus, Rogério.
Com um aperto no coração, desceu do carro e viu-o afastar-se.
Ela o amava e sentia como se um pedaço dela tivesse sido arrancado.
Porém, em momento algum se arrependeu da decisão que tomara.
O pai já estava sabendo de tudo.
Quando ela entrou em casa, ele se aproximou e a abraçou, carinhoso.
Nos fortes braços paternos, deixou que as lágrimas corressem livremente pelo rosto.
Aproveitou para contar aos pais a posição de Rogério, recebendo deles apoio incondicional.
- Não tem importância, minha filha.
Você tem a nós e isso basta.
Você nunca seria feliz se ele aceitasse casar-se por obrigação.
É melhor assim - tranquilizou-a o pai.
Os meses se passaram.
Entre as visitas ao médico, os cuidados com a saúde e os preparativos para a chegada do bebé, Tânia nem viu o tempo passar.
Deixou de frequentar a escola e, como quase não saía de casa, nunca mais viu Rogério.
Na época prevista, o bebé nasceu.
Era um lindo menino, e Tânia deu-lhe o nome de Pedro.
Ao receber o filho nos braços pela primeira vez, a mãezinha sentiu-se gratificada, com a certeza de que fizera o melhor.
O recém-nascido tornou-se o centro das atenções e a alegria da casa.
Certo dia, a campainha tocou.
Era Rogério.
Constrangido, explicou:
- Dona Laura, sei que não mereço, mas gostaria que a senhora me permitisse ver Tânia e conhecer o bebé.
- Entre, Rogério. Sente-se.
Mãe e filho estão no quarto. vou ver se Tânia pode recebê-lo agora.
Voltou pouco depois:
- Venha. Ela o espera.
Meio sem jeito, Rogério entrou no quarto.
Imediatamente foi envolvido pelo ambiente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:57 am

Era o quarto de Tânia, que fora decorado para receber o bebé.
Em tons de azul, amarelo e branco, o aposento recebia os raios de sol naquela hora e tudo era alegre e aconchegante, cheio de brinquedos e bichinhos de pelúcia.
Um cheirinho bom de nené invadiu seu olfacto.
Tânia, mais linda do que nunca, acabava de dar banho na criança.
Agindo com naturalidade, convidou:
- Entre, Rogério. Fique à vontade.
- Obrigado, Tânia. Como está?
- Muito bem, como pode ver.
Ela acabou de vestir o bebé e, pegando-o no colo, apresentou:
- Este é Pedro.
Rogério olhou a criança e uma onda de emoção o dominou:
- É lindo. Parece com a mãe.
Tânia corou de prazer e sentou-se numa poltrona, enquanto Rogério acomodava-se em outra cadeira. com naturalidade, ela ofereceu o seio ao bebé, que o agarrou com sofreguidão.
Rogério gostaria de ficar ali indefinidamente, mas não desejava impor sua presença.
- Tânia, preciso ir agora.
Sou-lhe grato por ter-me deixado ver meu filho depois de tudo o que lhe fiz.
Gostaria que me permitisse arcar com as despesas do garoto.
Afinal, é meu filho.
- Não há necessidade, Rogério.
Aqui ele tem tudo de que precisa.
- Claro. Entendo.
Está bem, se assim prefere.
Antes de sair, titubeou, parando no limiar da porta:
- Posso voltar outras vezes? - suplicou.
- Naturalmente. Sempre que quiser.
O sorriso com que ele devolveu a gentileza falava da alegria que estava sentindo.
Rogério retornou outras vezes àquela casa.
Os laços entre ele e Pedro foram se estreitando cada vez mais.
Saíam juntos, passeavam.
Pedro tinha apenas seis meses, mas se alegrava com a chegada do pai.
Um dia, Rogério sugeriu:
- Tânia, que acha de nos casarmos?
- Casar?!...
Mas você é muito novo, ainda não concluiu o curso e...
- Perdoe-me pelas palavras irreflectidas que lhe disse.
Naquela época, realmente não estava preparado para assumir responsabilidades.
Hoje, porém, tudo é diferente.
Pedro mudou minha vida.
Minha cabeça mudou.
Sinto-me pai e responsável.
- Sei disso.
Tenho acompanhado as mudanças que se operaram em você durante esse tempo.
- Confesso que você também me surpreendeu, Tânia.
Assumiu seu papel de mãe com competência e seriedade.
E ainda é adolescente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 18, 2020 9:57 am

- Agora tenho quase dezoito anos.
- É verdade.
Além disso, desde que nos separamos, senti muito sua falta.
Não sabe o que sofri.
Nunca deixei de amá-la e agora a amo mais do que nunca.
Por favor, me dê essa oportunidade!
Ela respirou fundo.
Sentia-se satisfeita e aliviada:
- Não vai se arrepender?
Se a qualquer momento quiser voltar atrás...
- Não! É o que quero, sim!
Se algo tenho de me arrepender, é de ter sugerido que você fizesse aborto.
Quando olho para nosso filho, sinto remorso.
Graças a Deus, você não aceitou minha sugestão.
- Está bem, Rogério.
Vamos tentar, se é o que realmente deseja.
Trocaram um longo olhar, em que estava implícito o amor que sentiam um pelo outro.
Abraçaram-se, sentindo que a tempestade passara e que uma nova era começava como prenuncio de paz e de felicidade.
Pedro, que engatinhava no tapete, aproximou-se deles.
Tânia o pegou no colo e lhe disse com ternura:
- Agora seremos realmente uma família, meu filho.
Unidos num mesmo abraço, deixaram que a emoção tomasse conta de seus corações.
Sentiam-se preparados para uma vida em comum.
Sabiam que a felicidade dependeria deles e que, exercitando a compreensão, a boa vontade e o amor, teriam grandes chances de êxito.

A responsabilidade perante os próprios actos é uma característica dos seres que, atingindo certo grau de evolução, já sentem o despertar da consciência e, no exercício do livre-arbítrio que lhe foi concedido pelo Criador, ficam submetidos à lei de causa e efeito.
Assim, jamais fuja ao cumprimento do dever, porquanto, se o fizer, a lei interior que vige em você não lhe dará paz.
Enfrente a consequência de seus actos e terá a consciência tranquila.
Seja o que for que você tenha feito, confie em Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 19, 2020 10:50 am

03 - AUTO-AFIRMAÇÃO
Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?
- Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes.
O que lhe falta é a vontade.
Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!

(O Livro dos Espíritos - pergunta 909, - Alan Kardec.)

No chão ressequido, uma fileira de operosas formigas transitava a caminho do formigueiro.
Enquanto umas iam, outras retornavam, transportando folhas verdes, migalhas de pão e pedaços de um doce que alguém deixou cair.
Renato, porém, mantinha o olhar fixo no solo, completamente alheio ao que estava acontecendo sob suas vistas.
Aquela hora da manhã, um sol morno espalhava-se ao redor, aquecendo todas as coisas e trazendo esperança nova de vida.
A friagem da noite e o sereno que caíra na madrugada haviam ficado para trás, substituídos por uma aconchegante sensação de calor e bem-estar.
Renato levantou a cabeça, deixando que os raios de sol lhe banhassem o rosto.
Sentia estranha sensação de alívio e de paz.
Naquele momento, recordou-se do dia em que conhecera Laerte.
Era um rapaz mais velho, vivido, experiente, e que, aonde chegava, era bem recebido.
Alegre, extrovertido, sabia contar histórias engraçadas e picantes, provocando risadas e mudando o ambiente.
Renato simpatizara imediatamente com ele.
Ficou orgulhoso ao perceber-se alvo das atenções de Laerte.
Afinal, era um menino de quatorze anos, de voz indefinida, magro e alto demais para a idade, desajeitado, tímido e inseguro.
Natural que se sentisse valorizado com as atenções que o outro lhe dispensava.
Tornaram-se amigos.
Encontravam-se vez por outra na lanchonete.
Nunca conseguira entender muito bem o que Laerte fazia.
Não era aluno da escola, tampouco cursava a universidade local.
Quando Renato perguntava qual a actividade a que ele se dedicava, Laerte dizia que trabalhava por conta própria, mediante serviço de entregas.
Desconversava, e Renato continuava na mesma.
Alguns dias depois, já amigos, Laerte ofereceu um cigarro para Renato.
- Obrigado. Não fumo.
- Ora, que bobagem!
Pegue um! Vai gostar.
E depois, as mulheres gostam de homens que fumam.
Acham elegante.
Como quer conquistar uma gatinha se age ainda como criança?
Tem que demonstrar que é homem, que sabe o que quer.
Renato deixou-se convencer.
Confiava plenamente no novo amigo e achou que ele tinha razão.
Sim, tinha que se impor, aprender a ser homem.
Tirou a primeira baforada e a cabeça rodou.
Sentiu-se mal.
Laerte ironizou e todos deram risada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 19, 2020 10:50 am

- Não vai me dizer que esse cigarro é forte demais para você!
Renato sorriu constrangido e continuou.
Não podia demonstrar fraqueza perante Laerte e seus amigos.
A partir desse dia, tornou-se um fumante inveterado.
O cigarro lhe dava sensações que nunca tivera antes.
Fazia-o sentir-se corajoso, forte, seguro de si mesmo e alegre.
Verdade é que essas sensações duravam pouco tempo.
Depois, vinha a depressão, e sentia necessidade de fumar de novo, para manter o alto astral.
com o transcorrer dos dias, aquilo que era uma gentileza passou a ser necessidade.
Laerte começou a cobrar, afirmando sorridente:
- A partir de agora, você vai ter que comprar seus cigarros, amigo.
Vê lá se posso manter vício alheio.
Custa caro, ó meu!
Renato passou então a comprar o fumo.
A essa altura, tinha percebido que não se tratava de cigarros normais.
Eram de maconha.
Notou também que eram viciados como ele os jovens que recebiam Laerte com tanta satisfação.
Em casa, enfrentava a maior dificuldade.
Era obrigado a dar desculpas a toda hora, a esconder os cigarros, a mascar chicletes para que seus pais não percebessem o cheiro característico da maconha, bastante desagradável.
Denise, uma menina bonita e simpática, que se mostrava interessada nele, e por quem Renato também se sentia atraído, disse-lhe um dia:
- O que está acontecendo, Renato?
Você está tão diferente!
- Não está acontecendo nada, Denise.
- Você age de forma estranha, afastou-se de nós, dos amigos e colegas da classe.
Está sempre em companhia daquele cara e sua turma...
- Laerte?
Ele é muito legal, Denise.
Venha comigo, vou apresentá-la a ele.
- De jeito nenhum!
Pelo que ouvi dizer, ele é péssima companhia.
- Ora, Denise, isso é inveja.
- Pode ser.
A verdade, porém, é que sua mãe também está muito preocupada com você.
Também o nota estranho, desatento e diz que você não estuda mais.
Parou de falar, olhando-o fixamente.
- Acha que ela pensa assim por inveja?
Renato baixou a cabeça e calou-se.
Não sabia o que dizer.
Despediram-se.
No fundo, ele sabia que sua mãe e Denise tinham razão, porém já não podia voltar atrás.
Certo dia, Laerte lhe ofereceu uma substância diferente.
Renato, agora mais esperto, percebeu que era cocaína.
Tinham-se encontrado numa lanchonete que Laerte e sua turma gostavam de frequentar.
Havia um lugar reservado, onde, a salvo de olhares indiscretos, sentiam-se mais à vontade.
Quando Renato entrou, alguns rapazes estavam inclinados sobre a mesa.
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ERROS E ACERTOS - Marcelo/Célia Xavier de Camargo Empty Re: ERROS E ACERTOS - Marcelo/Célia Xavier de Camargo

Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 19, 2020 10:50 am

Viu um pó branco, semelhante ao açúcar, disposto em carreirinha, que alguém inalava, utilizando-se de um tubo vazio de caneta esferográfica.
Laerte convidou:
- Quer experimentar, Renato?
Mas, isso aqui é coisa de homem!
Renato teve desejo de voltar atrás, ir embora, desaparecer.
Porém, a curiosidade foi maior.
Inalou um pouco daquela substância e sentiu-se transportado a um mundo diferente.
Viajou pelo tempo e pelo espaço, experimentando sensações indescritíveis.
com o decorrer dos dias, passou a ter urgência da droga.
Não podia suportar a vida sem ela.
Tornara-se um dependente.
Sua existência mudou de forma radical.
Não conseguia mais estudar, nem se interessar por nada.
Foi caindo até atingir o máximo da abjecção: começou a roubar tudo o que tinha em casa para manter o vício.
A princípio, pegava pertences seus, relógios, roupas, calçados, aparelho de som, CDs, e os vendia.
Depois, quando estava liso, começou a levar objectos da casa: vasos, telas, cristais, aparelhos electrodomésticos e o que fosse passível de comercialização, inclusive as jóias da sua mãe.
Os seus pais estavam preocupados; mais que isso, desesperados.
Agora já não ignoravam o que estava acontecendo.
Tinham consciência do problema do filho, insistiam para levá-lo ao médico ou a um psicólogo, mas Renato reagia.
Não aceitava tratamento.
Sugeriram uma desintoxicação em hospital especializado - nada.
Grupos de apoio existentes na sociedade - nada.
Renato dizia sentir-se bem assim, não queria deixar o uso da droga.
Quando quisesse, largaria, afirmava convicto.
Denise, que realmente o amava e não suportava vê-lo naquele caminho de autodestruição, insistia:
- Renato, participo de um grupo de jovens num centro espírita e tenho certeza de que você se sentiria bem lá.
Venha comigo!
Aprenderia coisas importantes e que mudariam sua maneira de ver a vida.
Ele agradecia, gentil, porém algo irritado:
- Talvez algum dia, Denise.
Agora não posso.
As coisas caminhavam de mal a pior quando, certa ocasião, Laerte e seus discípulos reuniram-se na lanchonete costumeira.
Estavam todos animados para viajar.
Repartiam a droga, cada um fazendo uso dela a seu tempo.
Uma das garotas, Marlene, muito fissurada, exagerou na dose da cafungada e começou a passar mal.
A confusão se estabeleceu.
Todos falavam ao mesmo tempo.
Laerte, quando viu a situação ficar preta, escapuliu pelos fundos, gritando para um companheiro que estava sempre junto dele:
- Chiii! Pintou sujeira na área!
Hora de sumir, cara!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 19, 2020 10:50 am

O dono do estabelecimento, ao perceber o barulho, foi ver o que estava acontecendo.
Chegou na porta e se assustou.
- Levem essa mulher para fora daqui, rápido!
- Mas ela está passando mal.
Precisa de um médico! - informou alguém, aflito.
- Não me interessa!
Fora daqui, rápido!
A polícia vem aí!
Não posso me comprometer!
Os que estavam em melhores condições carregaram a moça.
Quando chegaram à calçada, perceberam que ela acabara de morrer.
- E agora, o que vamos fazer? - perguntou alguém.
- Se a polícia nos pega, estamos encrencados - disse outro.
- Vamos levá-la para aquele beco, ali adiante.
Arrastaram a moça até o local, escuro e abandonado, deixando-a entre latas de lixo.
Depois, como ratos assustados, cada um pegou um rumo diferente, desaparecendo de vista.
Em estado de choque, Renato viu tudo isso sem conseguir articular palavra.
Ficou parado até ouvir a sirene da polícia, que se aproximava.
Seu instinto de defesa fez com que virasse na primeira esquina, caminhando apressado, sem saber para onde ir.
Queria afastar-se o mais rápido possível daquele lugar horroroso.
Caminhou muito, sem parar.
Depois de horas, sentou-se numa praça para descansar.
Estava exausto.
Tudo lhe parecia um pesadelo.
Um terrível pesadelo.
Queria acordar e ver que tudo fora um sonho, que aqueles acontecimentos da noite não existiram, que aqueles meses estavam apenas em sua imaginação.
Todavia, a consciência lhe afirmava que tudo era real.
Que era responsável também, juntamente com os outros, por tudo o que acontecera.
Marlene era tão jovem!
Uma adolescente, como ele!
Ainda não completara dezassete anos e estava morta.
Aquela menina bonita, de olhos grandes e longas pestanas, de sorriso encantador, nariz arrebitado e boca rosada, estava morta.
Ela lhe contara, certa ocasião, que tinha problemas de relacionamento com os pais e, por isso, preferia ficar fora de casa.
Que era filha de pais separados e não aceitava essa situação.
Mas eu não tenho problemas de relacionamento com meus pais, nem eles são divorciados!
Por que é que entrei nessa? - pensava Renato.
A emoção afinal transbordou, e ele começou a chorar.
A princípio, um choro desesperado, convulsivo.
Depois, lágrimas que lhe caíam mansamente pelo rosto, lavando-lhe a alma.
Fez um retrospecto de toda a sua vida.
Tudo lhe fora favorável:
tinha o amor dos pais, dava-se muito bem com os irmãos, sempre fora bom aluno na escola.
Dificuldade nenhuma lhe entravara a vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 19, 2020 10:51 am

A não ser sua tremenda insegurança, necessidade de auto-afirmação, e o encontro com Laerte...
Revendo o passado, lembrou que nunca lhe faltaram admoestações e avisos para que retomasse o caminho do dever.
Quando se lembrou dos pais é que se deu conta do quanto eles estariam sofrendo esse tempo todo.
O semblante de Denise surgiu em sua tela da memória.
Ela realmente deveria amá-lo muito, porque sempre procurou ajudá-lo.
Ele é que não aceitava, não queria nenhum tipo de ajuda.
Nesse momento, percebeu que a noite passara e que as trevas iam sendo substituídas por um novo dia.
Branda claridade espalhou-se pelo céu, enquanto as estrelas desapareciam aos poucos do firmamento.
Renato dava-se conta agora que sentia frio, embora já o atingissem os primeiros raios de sol, que começavam a aquecer-lhe o corpo e o íntimo.
Queria mudar de vida.
Estava decidido.
Como aquele novo dia que expulsara a noite, como prenuncio de oportunidade nova, também ele queria mudar.
Sentia saudade da vida que levava antes, dos hábitos singelos, dos prazeres infantis.
Queria reconquistar o respeito de todos, o amor da família e o carinho de Denise.
Compreendia agora como era falsa e ilusória a popularidade de Laerte.
Ele era disputado apenas por aqueles infelizes que, como ele, haviam-se tornado dependentes das drogas.
Ao vê-lo fugir com o inseparável amigo, deixando os demais ali, no meio de uma tremenda confusão, concluiu como Laerte era covarde, insensível e egoísta.
Utilizara-se deles para ganhar dinheiro e agora os abandonava.
Um imenso sentimento de desprezo por Laerte o dominava.
Não queria ser alguém como ele.
Não era isso o que desejava para sua vida.
Levantou-se do banco, tomando o rumo de casa.
Ao chegar, os pais estavam preocupadíssimos, bem como Denise, que também ali estava.
A mãe aproximou-se, ansiosa, mas aliviada:
- Meu filho, onde você esteve?
Passou a noite toda fora de casa!
Lá pelas cinco horas da manhã, telefonaram avisando que a Marlene tinha sido encontrada morta... não sabíamos o que pensar.
Graças a Deus você está bem.
Renato ouviu tudo em silêncio.
Quando a mãe terminou de falar, ele disse:
- Mamãe! Papai!
Quero fazer aquele tratamento que me sugeriram.
Em lágrimas de emoção, a mãe perguntou:
- Tem certeza, meu filho?
Não será fácil, você sabe.
- Nunca estive tão certo de alguma coisa, mãe.
Sei que vai ser difícil, mas quero tentar.
Também tenho uma longa... longa história para contar.
Denise sorriu entre as lágrimas:
- Você vai conseguir, Renato.
Todos o ajudaremos.
- A propósito, Denise, quando sair da clínica, quero ir com você àquele grupo de jovens do qual me falou.
Está combinado?
Denise correu e o abraçou com ternura.
- Combinado.
Tudo vai dar certo, com o amparo de Deus, nada devemos temer.

Se você está em crise, atravessando problemas difíceis ou passando por grandes aflições, lembre-se de que o dom maior que possuímos é a VIDA, bênção divina que devemos preservar.
Tudo pode ser modificado.
Nada é definitivo.
Nenhum problema é insolúvel.
Pense nisso.
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