LUZ ESPÍRITA
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Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:10 pm

Celina, tomando pausadamente um copo de suco, disse com voz irónica:
- Não sei se Andressa vai querer ajuda de um psicólogo.
Estávamos conversando e o que ela mais quer agora é se vingar de Helena - frisou com ares de zombaria.
Renato exasperou-se:
- Vingar-se de Helena?
Mas o que Helena tem a ver com isso?
- É o que também quero saber - perguntou Vera Lúcia sem entender.
Foi com prazer que Celina disse:
- Sua filha está culpando Helena pelo que lhe aconteceu.
Disse que se você não tivesse anunciado que iria se casar, ela não teria saído de casa e nem teria pensando em dormir fora.
Disse que está ansiosa para que o casamento aconteça logo para tornar a vida de “Laura” um inferno.
Renato esmurrou a mesa:
- Mas que disparate!
A culpa do que aconteceu a Andressa foi dela mesma, por ter sido sempre mimada e habituada a ter todos os seus desejos satisfeitos.
Ela foi irresponsável de ter ido para longe de casa e se hospedado em um lugar perigoso.
Helena não tem absolutamente nada a ver com isso.
Vera Lúcia objectou:
- Meu sobrinho está certo, e aposto que você deu total apoio a ela.
- Claro que não - mentiu Celina com ares de ofendida.
Jamais apoiaria um pensamento infantil desses, mas vocês sabem como é Andressa, quando coloca algo na cabeça não tira por nada.
Acho bom vocês irem se preparando, essa casa vai virar um inferno quando Helena chegar aqui.
- Pois eu vou tratar de colocar limites em Andressa.
Vocês sabem que amo Helena e quero viver com ela em paz para recuperar o tempo que me foi roubado por um assassino cruel e implacável.
E se eu fosse vocês, trataria de colaborar para esta paz.
Sabem muito bem que Helena tem todas as cartas na manga, sabe de segredos de vocês duas que estou longe de suspeitar o que sejam.
Se ela perceber que tem alguém aqui nesta casa fazendo da vida dela um inferno, pode revelar o que sabe, o que não seria bom para ninguém.
Pensem nisso.
Dizendo aquilo, Renato levantou-se da mesa e se dirigiu para o escritório.
Vera Lúcia notou que a irmã estava pálida e trémula:
- Renato está certo, é melhor que você não colabore com essa ideia maluca de Andressa.
Helena irá perdoar a filha, mas com certeza não a perdoará e revelará o seu segredo, que aliás, deve ser algo bem sujo.
Celina bradou:
- Maldita Helena!
O pior é que estamos todos nas mãos dela, inclusive você, que quer se fazer de santa, mas também tem um segredo que deve ser igualmente sujo.
Já esqueceu que Helena sabe o que você fez na sua viagem pela Europa em 1974?
Vera Lúcia pareceu não se importar com aquilo:
- Sempre fui amiga de Helena e aqui dentro ela terá todo meu apoio.
Vocês sempre souberam que eu nunca acreditei que ela tivesse matado nosso irmão.
Helena é boa, honesta, íntegra.
Só você não enxerga isso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:10 pm

Irritada com o rumo da conversa, Celina mudou de assunto:
- Por que os rapazes saíram tão cedo?
- Para tentar evitar o pior.
- Como assim?
- Pelo que Renato contou havia repórteres ontem no hotel.
Ninguém sabe se eles apuraram a fundo os factos, mas o que menos queremos é que um acontecimento deste vá parar nos jornais.
- É realmente preocupante, mas o que eles pretendem fazer?
- Foram verificar os jornais do dia nas bancas de jornal mais próximas.
Irão comprar todos os jornais que falem do assunto.
Celina franziu o cenho preocupada:
- Não vai adiantar muito.
Vamos torcer para que não tenha saído em jornais de grande circulação, senão a reputação de Andressa estará perdida para sempre.
Nenhum rapaz jovem e do nosso nível social vai querer se casar com uma mulher que foi estuprada.
Vera Lúcia não acreditou no que ouvia:
- É com isso que você está preocupada? Casamento?
Os meninos foram fazer isso para evitar mais constrangimentos para a irmã.
Quem for se casar com ela será por amor e quem ama não tem nenhum tipo de preconceito.
Levantando-se da mesa Celina disse:
- Mas é uma tola mesmo, ainda acredita em amor em pleno século XXI...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:11 pm

Capítulo 23
Zeli começou a gargalhar alto e suas gargalhadas eram tantas que passaram a ecoar por todo o apartamento de Pamela e Duílio que, naquele momento, terminavam o café da manhã.
Como Zelí não parava de rir, eles estranharam e foram até a sala ver o que estava acontecendo.
Encontraram a mulher vestida em seu habitual robe cor-de-rosa, rolando de rir, trazendo nas mãos um jornal que já começava a ficar amassado.
- O que está acontecendo aqui, posso saber? - perguntou Duílio irritado.
A voz grave de Duílio fez Zelí parar de rir por alguns instantes, ajeitar o robe e novamente abrir o jornal para ler em voz alta:
- Filha de grande empresário é estuprada num hotel da periferia.
Zelí recomeçou a rir, então mais contida, enquanto Duílio arrebatava o jornal de sua mão para lê-lo junto à esposa.
À medida que liam, os rostos de ambos ficavam pálidos.
Duílio sentou-se numa poltrona e pediu à esposa que lhe trouxesse um copo de água com açúcar.
Naquele periódico, além de fotos de Andressa e Renato, havia uma foto do estuprador.
A matéria contava em detalhes como tudo havia acontecido e, ao final, o repórter criticava a excessiva liberdade que os pais da classe alta davam a seus filhos.
Duílio conhecia Andressa desde pequena e estava chocado com o que havia acontecido, mas o que mais lhe preocupava era aquele assunto arranhar, de alguma forma, a imagem da empresa, o que seria péssimo para os negócios.
Felizmente, aquele era um jornal de quinta categoria que Pamela assinava para Zelí, que adorava acompanhar as fofocas que ali traziam e os bastidores da televisão.
Restava saber se os grandes jornais do país tinham tomado conhecimento daquele fato.
Quando Pamela trouxe sua água e ele a tomou, sentiu-se mais calmo.
Olhou para a sogra com raiva e perguntou:
- Como é que a senhora tem coragem de rir tanto da desgraça dos outros?
Zelí arqueou as sobrancelhas exageradamente finas e com olhos brilhantes e críticos, levemente fechados de ironia, disse:
- Acho muito engraçado quando essas coisas acontecem com gente rica, não dizem que estupro é coisa de pobre?
Pois agora estão vendo que não.
Principalmente essa família metida que nunca sequer permitiu que eu entrasse naquela mansão translumbrante.
Por isso achei bom.
- Mamãe, deixe de ser cruel, Andressa é apenas uma criança.
- E o que ela queria sozinha naquele bairro distante?
Aposto que está apaixonada por um pobretão.
Se for verdade vou gostar mais ainda - fez pequena pausa, suspirou profundamente e disse em tom jocoso:
- Ah, como é bom esse costume que tenho de sempre ler o jornal antes de tomar café.
Notícias como esta abrem mais o meu apetite. Com licença.
Zelí retirou-se da sala, enquanto Pamela afrouxava ainda mais a gravata do marido e pedia:
- Desculpe a mamãe mais uma vez.
Tem horas que ela é insuportável.
- Já nem ligo mais para sua mãe, o que estou com medo é que esse escândalo tome proporções grandiosas e prejudique a empresa.
- Você acha que isso pode acontecer?
Mesmo que as pessoas saibam, Andressa não teve culpa de nada, ao contrário, ela foi vítima de um acto cruel e monstruoso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:11 pm

Duílio balançou a cabeça de um lado a outro:
- Não sei...
As pessoas são muito preconceituosas e assim como sua mãe, vão achar que Andressa estava na periferia em busca de homem.
- Mas o mundo dos negócios não vai se importar com uma coisa dessas.
Fique despreocupado, meu amor.
Duílio beijou a esposa dizendo:
- Deus te ouça, Deus te ouça...
Dizendo aquilo arrumou-se novamente e partiu para a empresa.
Eram 11 horas da manhã quando a campainha da mansão soou.
Renato encontrava-se ainda no escritório quando Berenice entrou assustada:
- Senhor Renato, a senhora Helena está aí fora pedindo para entrar, pois quer lhe falar.
O que faço?
Renato empalideceu.
Relutou a manhã inteira em não ligar para Helena a fim de informar o estado de Andressa, pois tinha certeza que depois que dissesse que a filha não estava nada bem, ela apareceria por lá.
Mas percebeu que não tinha adiantado, o jeito era enfrentar a situação:
- Mande entrar, Berenice.
Afinal, todos sabem que Laura Miller é minha noiva e como tal pode vir a esta casa quando quiser.
- Mas o senhor comentou que ia fazer um jantar especial para apresentá-la à família.
As crianças podem achar estranho a presença dela aqui sem nenhum aviso prévio.
- Sei disso, mas não posso deixar a mãe de meus filhos lá fora esperando.
Se algum deles aparecer, invento uma desculpa qualquer.
- Como queira.
Berenice saiu e Renato foi para o quarto vestir uma roupa melhor.
Queria sempre estar impecável na frente de Helena.
Seu coração batia descompassado, feito um adolescente. Como a amava!
Berenice autorizou a entrada de Helena e a recebeu na porta principal.
Seus olhos brilharam de emoção ao fitar aquela mulher linda, fina e elegante que sempre lhe despertou admiração desde a primeira vez que Renato a levou àquela casa.
Percebeu que os olhos de Helena também brilharam emocionados e com espontaneidade abraçaram-se.
- Dona Helena, que emoção vê-la novamente dentro desta casa, pensei que isto nunca iria acontecer.
Como Deus é grande!
- Você pode não acreditar, Berenice, mas eu sempre soube que este dia chegaria.
Nunca, nem um dia sequer naquela triste penitenciária, deixei de acreditar que um dia voltaria e recuperaria o amor de meus filhos.
- Que injustiça fizeram com a senhora!
- Mas a justiça será feita, e não se preocupe, tenho certeza que não foi você quem matou o doutor Bernardo.
Mas vamos parar com esta conversa porque pode chegar alguém.
Me conduza até a sala e diga a Renato que o estou esperando.
Sei que Andressa está arrasada e não saio daqui hoje sem ver minha filha.
- O que aconteceu com ela foi horrível.
Tomara que ela deixe a senhora vê-la.
Nada como o amor de mãe para ajudar a curar uma ferida dessas.
Berenice conduziu Helena à imensa sala de estar e quando ela ia se acomodar em uma das poltronas percebeu que Andressa descia as escadas perguntando:
- Berenice, onde está tia Celina?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:11 pm

A emoção tomou conta de Helena ao olhar para a escada e ver sua filha adulta, linda e educada, dirigindo--se a Berenice.
Na época de sua prisão, Andressa era uma criança, mas poderia reconhecê-la em qualquer lugar do mundo.
Contudo, conteve-se e não demonstrou nenhuma emoção.
Andressa, percebendo que havia visitas na casa, perguntou:
- Desculpe, não sabia que havia visitas.
Quando Andressa olhou dentro dos olhos de Helena uma onda de amor tão forte brotou de seu coração que ela sentiu todo seu corpo formigar e grande sensação de harmonia a envolveu.
Sem saber o que estava acontecendo com ela, deixou-se levar por aquela emoção e ficou alguns minutos imóvel, fixando o rosto daquela desconhecida que, para ela, soava imensamente familiar.
Quando deu por si, Berenice a estava apresentando:
-Andressa, esta é Laura Miller, futura esposa de seu pai.
Aquelas palavras pareceram setas que foram atiradas contra seu peito.
Ficou calada e novamente olhou o rosto da mulher.
Finalmente a conhecia.
Fora ela a culpada pelo desastre da sua vida.
Deveria odiá-la mais do que tudo no mundo, mas estranhamente não conseguia sentir nada além de um grande amor fraterno por aquela mulher que lhe era totalmente estranha.
- Muito prazer, senhora Laura, sou a filha mais velha.
- O prazer é todo meu, Andressa.
Como é que você está?
A pergunta de Helena feita com tanta sinceridade e carinho rompeu toda e qualquer barreira do ódio que Andressa queria sentir e uma emoção muito maior a invadiu e ela começou a chorar sentidamente abraçada a Helena que acariciava seus cabelos.
Os soluços de Andressa foram ouvidos por toda a casa e logo Renato, Celina e Vera Lúcia, pasmos e nervosos, presenciavam aquela cena sem entender o que estava acontecendo.
Helena, aos poucos, conduziu a filha para o sofá e fez com que se deitasse colocando sua cabeça sobre seu colo.
Como viu que Andressa não queria falar sobre o que lhe acontecera, deixou que ela continuasse chorando para desabafar.
Helena, discretamente, também chorava com o coração aos pedaços pelo sofrimento da filha.
Ninguém ousou dizer nada.
Berenice se retirou, mas Vera Lúcia, Celina e Renato acomodaram-se nas demais poltronas.
Quando finalmente Andressa parou de chorar, tirou a cabeça do colo de Helena, olhou para ela profundamente, pegou em suas mãos e disse:
- Desculpe-me, senhora, estou sofrendo muito e quando a vi uma emoção tão forte tomou conta de mim que minha única reacção foi chorar.
A senhora não sabe o que me aconteceu e deve estar achando que sou uma garota mimada qualquer que brigou com o namorado.
- Não se preocupe com isso, Andressa.
Sei que não é uma garota mimada qualquer.
Se está sofrendo deve ter algum motivo sério e, se quiser me ter como amiga, pode contar comigo.
Todos perceberam o entrosamento instantâneo entre mãe e filha, contra o qual ninguém poderia fazer nada.
Foi com ódio que Celina foi forçada a aceitar aquela situação, mas com alegria que Vera Lúcia e Renato viam que o amor de mãe tivera o poder de romper as barreiras do ódio e do ressentimento.
Continuaram calados ouvindo o diálogo que acontecia entre mãe e filha, como se eles não estivessem ali:
- Eu teria todas as razões do mundo para odiá-la até o fim da minha vida - disse Andressa, emocionada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:11 pm

Contudo, não sei como e nem por que, quando a vi senti um amor tão grande e uma confiança tão profunda que não sei explicar, mas não consigo odiá-la, por mais que queira.
Helena estranhou aquelas palavras.
- Mas por que tanto ódio contra mim?
- Por que essa madrugada passei por uma das piores coisas que uma mulher pode passar.
Quando soube que papai iria se casar com a senhora, dei uma de revoltada, saí de casa sem destino e por isso me aconteceu uma tragédia.
Mas olhando para a senhora não consigo mais culpá-la.
Algumas pessoas dizem que existe reencarnação.
Agora estou vendo que é bem provável que seja verdade, pois o que senti pela senhora ao vê-la e ainda estou sentindo, só pode ser porque nos conhecemos de outras vidas.
Ambas se abraçaram mais uma vez e Helena disse:
- Então deve ser verdade, pois ao vê-la senti também um amor tão grande como se você fosse minha filha de verdade.
Renato, vendo que aquela conversa estava tomando um rumo perigoso, resolveu intervir:
- Fico muito feliz que você tenha mudado tão rapidamente sua opinião a respeito de Laura.
Temos tudo para ser uma família feliz - lembrando que tinha que manter a farsa, Renato foi até Helena e a aproximou de Celina e Vera Lúcia dizendo:
- Sua visita sem avisar à nossa casa me faz com que eu precise apresentá-la às minhas duas tias logo agora.
Estava programando as apresentações para o jantar, mas conheça logo essas duas mulheres maravilhosas que me ajudaram a criar meus filhos quando a mãe deles morreu.
Esta é Celina e esta é Vera Lúcia.
Elas ficaram constrangidas com aquela situação, mas sabiam que fazia parte do plano, por isso cumprimentaram-se como se tivessem se conhecido naquele momento.
Novamente sentaram-se e Renato perguntou:
- E então, Laura, o que a trouxe à nossa casa de maneira tão urgente, sem ter me avisado antes?
Helena já havia formulado a desculpa muito antes de sair de casa:
- Fui à empresa hoje pela manhã e lá me disseram que você não iria participar da importante reunião com os accionistas hoje à tarde porque não estava passando bem.
Fiquei preocupada, pois embora você não vá com frequência à empresa, nesta reunião mensal você só costuma faltar se algo muito grave tiver acontecido.
Liguei para seu celular várias vezes e você não atendeu, liguei para a casa, mas também ninguém atendeu.
Muito preocupada, resolvi quebrar qualquer regra e vir aqui.
Afinal de contas, o que aconteceu?
Renato respondeu:
- Nada demais, apenas uma leve indisposição e...
Ele ia continuar quando Andressa interrompeu:
- Não precisa mentir, papai, não para Laura.
Não tenho como explicar, mas gostei demais dela para esconder algo tão grave, pode deixar que eu mesma conto - virando-se para Laura, levantou-se, puxando-a pelo braço, e pediu:
- Venha comigo até meu quarto e ouça tudo que tenho para lhe dizer.
Helena fez um gesto dizendo que sim e ambas subiram as escadas de mãos dadas.
Ao ver aquela cena os três ficaram mais uma vez espantados.
Renato e Vera Lúcia, muito alegres, e Celina sentindo muito ódio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:11 pm

Capítulo 24
Renato e as tias ficaram um bom tempo na sala discutindo sobre a rápida amizade surgida entre mãe e filha, quando Fábio e Humberto chegaram com rostos abatidos mostrando desespero.
- Veja isto aqui, papai - deram ao pai um dos jornais mais famosos e de maior circulação de São Paulo, que trazia a mesma notícia do jornal que estava na casa de Duílio, mas com muito mais sensacionalismo e detalhes.
Renato, ao ler, empalideceu e passou o periódico para as tias que igualmente empalideceram.
- Infelizmente não pudemos fazer nada.
Andressa vai precisar de muito apoio para vencer isto - disse Fábio, sentando-se ao lado do pai no sofá e apertando suas mãos para lhe dar coragem.
- Uma vergonha como essa acaba com a vida de qualquer moça de família - bradou Celina, chorando de raiva.
- Mas não há motivo para Andressa ter vergonha, ninguém tem culpa de ser violentado sexualmente.
Todos vão perceber que Andressa é, na verdade, uma vítima inocente de um monstro inescrupuloso - ponderou Vera Lúcia com calma.
Humberto retorquiu:
- Tia Vera tem razão.
Ninguém pode ter preconceito com uma pessoa só por que ela foi estuprada.
A senhora está exagerando, tia Celina.
Aproveitando o silêncio estabelecido na sala naquele momento, Renato informou:
- Minha futura esposa, Laura Miller, está lá em cima no quarto conversando com Andressa.
Espero que, quando ela descer, vocês a tratem com toda educação possível.
Os rapazes se alegraram e Fábio disse:
- Claro que vamos tratá-la bem, papai.
Jamais seremos contra a mulher que o senhor escolheu para ser feliz.
Mas que tipo de milagre aconteceu aqui para que Andressa aceitasse que Laura subisse para seu quarto para conversar?
- Nós também não sabemos - disse Renato reflexivo.
Ela, que estava com tanto ódio de Laura, a ponto de ter fugido de casa, ao vê-la transformou-se completamente.
Vocês precisavam ver.
Foi algo tão impressionante que nem ela mesma sabe explicar.
Andressa abraçou-se a Laura chorando, depois conduziu-a até o sofá onde deitou-se colocando sua cabeça sobre o colo dela.
Logo conversavam feito velhas amigas, até que surgiu o assunto do estupro e Andressa a convidou para falar do assunto em seu quarto.
Humberto e Fábio abraçaram o pai com alegria dizendo:
- Mas isso é uma felicidade muito grande, papai.
Já estávamos imaginando como seria desagradável para o senhor e para Laura ter que conviver dentro desta casa com o ódio de Andressa que é cabeça dura e transformaria a vida de vocês num inferno.
Renato sorriu:
- Isto é verdade, meus filhos.
Se eu fosse católico, diria que foi milagre de algum santo.
Todos riram, ao que Humberto disse:
- Agora sim, vejo que o senhor é um homem feliz.
Vejo que ama de verdade a Laura, pois nunca vi esse sorriso em seus lábios nem esse brilho de felicidade em seus olhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:12 pm

Vera Lúcia acrescentou:
 - Além disso, noto que o pai de vocês está cuidando mais da aparência.
Tenho certeza que ele será feliz com Laura como nunca foi com outra mulher.
 Celina reagiu:
 - Só espero que Renato não esqueça de Helena, a grande mulher que foi a mãe de vocês - disse, apontando para a falsa pintura sobre a lareira.
 - Que comentário de mal gosto, Celina! - disse Renato contrariado.
Claro que jamais vou esquecer de Helena mas meus filhos entendem que preciso reconstruir minha vida.
Nunca me casei com Letícia porque não a amava de verdade, mas com Laura é diferente e tenho certeza que serei muito feliz.
 - Também temos certeza, papai - disse Fábio olhando para Celina:
- Aposto que a tia está é com ciúmes porque agora terá outra mulher para cuidar da casa, do papai e de nós.
Mas saiba, tia Celina, que a senhora e tia Vera são insubstituíveis em nosso coração.
 O comentário de Fábio mexeu profundamente com Celina, mas ela não demonstrou, apenas disse:
 - Obrigada, Fábio, agora, me dêem licença.
 Enquanto Celina saía para o jardim, eles continuavam
 a conversar até que os passos de Helena e Andressa descendo as escadas fizeram com que todos se calassem.
 Renato aproximou-se da futura esposa, abraçou-a apresentando-a:
 - Estes são meus filhos Fábio e Humberto.
Esta é Laura, minha futura mulher.
Helena não entendeu.
Aquele rapaz que Renato a estava apresentando como seu filho não era filho dela.
Só Andressa e Fábio eram seus filhos.
Será que Renato havia tido algum outro fora do casamento e ela não sabia?
Certo descontentamento apertou-lhe o coração, mas ela fingiu nada sentir e apertou as mãos dos rapazes com alegria e simplicidade:
 - Vocês são lindos e é um grande prazer conhecê-los.
 - A senhora é que é a mais linda de todas as mulheres que já vi - disse Fábio, deslumbrado diante da beleza de Helena que o impactou.
 - Realmente, o papai tem muito bom gosto.
Além de linda, vejo que é uma pessoa de bem - disse Humberto sorrindo.
 - Obrigada, vocês é que são uns amores.
 - Laura é a melhor mulher que papai poderia ter conhecido - falou Andressa voltando a abraçá-la.
Como me arrependo de pensar mal dela sem a ter conhecido!
 - Não diga isso, meu amor - disse Helena com ternura.
Você estava com ciúmes de uma mulher ocupar o lugar da sua mãe, mas isso não irá acontecer.
Cada pessoa é única em nosso coração.
 Helena havia conquistado todos os filhos de Renato naqueles poucos instantes que passara ali.
Quando todos se sentaram mais uma vez na sala, Renato tornou:
 - Acredito que não precisará mais de jantar de apresentação.
Todos já conhecem Laura e estou muito feliz que tenham gostado dela.
Mas faço questão de um belo jantar de noivado, coisa que deve acontecer o mais rápido possível.
Amo-a muito e não quero mais perder tempo.
 - Papai está certo - disse Humberto.
Vamos marcar o jantar para o próximo sábado. Que acham?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:12 pm

- Acho óptimo! - disse Renato empolgado.
Quanto mais rápido eu ter Laura por esposa, melhor será.
O clima estava muito bom e Helena foi convidada para almoçar.
Sentiu-se como se nunca houvesse saído dali.
Só Celina é que demonstrava seu ódio e desagrado, lançando à Helena indisfarçáveis olhares de rancor e dando indirectas irónicas a todo momento.
O que ninguém percebia era que Fábio não parava de olhar para a mãe com olhos apaixonados.
Surgia ali um amor impossível que muito poderia fazê-lo sofrer, caso não soubesse guiar-se.
As semanas foram passando e Helena passou a frequentar a casa de Renato assiduamente.
Convivendo muito bem com os filhos ela se sentia harmonizada e feliz, tão feliz a ponto de desistir de saber a identidade do verdadeiro assassino que a fez pagar por um crime injustamente.
Já que a vida de Vera e de Fábio corriam perigo, era melhor deixar tudo como estava e usufruir daquela felicidade sem igual.
Uma tarde em que Helena não estava na mansão e Andressa lia atentamente um texto do seu curso na sala de estar, Berenice veio chamá-la:
- Há um rapaz aí fora querendo lhe falar.
- Quem é?
- Disse que se chama Ricardo e veio lhe entregar seu carro.
Só naquele momento Andressa se lembrou que seu carro havia ficado no maldito bairro para revisão na oficina de um simpático rapaz que a ajudara naquela noite.
Lembrar-se de tudo mais uma vez fez seu coração bater mais forte.
- Peça que entre.
Ricardo entrou na grande sala, acanhado.
Estava bem vestido, cabelos bem penteados e perfumado.
Perfume este que Andressa logo identificou ser de má qualidade.
- Senhorita, seu carro está óptimo.
Já o coloquei na garagem.
Quero pedir desculpas a você pela demora, pois precisei viajar para visitar minha mãe que adoeceu.
Mas liguei para seu pai e comentei o facto.
- Muito obrigada, Ricardo.
Meu pai está no escritório e já havia me falado da demora, vou avisá-lo para que possa lhe pagar.
Ele a interrompeu:
- Andressa, antes de você falar com seu pai, preciso falar com você em particular.
- O que deseja?
- Pode ser no jardim?
Ela o olhou desconfiada:
- Por que não aqui?
- Desculpe-me, é que aqui me sinto acanhado.
Nunca entrei numa casa dessas.
Ela sorriu:
- Compreendo.
Vamos, então.
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Capítulo 25
Quando chegaram ao jardim, sentaram-se num banco de madeira trabalhada debaixo de um belo ipê amarelo.
Ele, com receio, mas ao mesmo tempo movido pêlo impulso, tornou:
- Andressa, eu estou apaixonado por você.
Eu te amo desde que te vi pela primeira vez.
Um leve rubor cobriu as faces dela.
- O que você disse?
- O que ouviu.
Estou te amando, não consigo te esquecer.
Gostaria que me desse a chance de ser seu namorado.
Uma forte indignação tomou conta de Andressa que, sem pensar duas vezes, esbofeteou o rapaz:
- Quem você pensa que é?
Ricardo ia falar alguma coisa, mas ela o impediu, continuando a gritar com indignidade:
- Só porque fui violentada daquela maneira, pensa que virei uma qualquer?
Eu tenho posição, tenho nome.
Não importa se aquele facto horroroso saiu nos jornais, todos sabem que fui uma vítima.
Jamais uma moça como eu iria namorar um zé ninguém como você. Atrevido!
Ricardo, ainda passando a mão no rosto para aliviar a ardência da bofetada, levantou-se e, frente a frente com ela, disse com dignidade:
- Me desculpe por te amar, mas você não merece meu amor nem o amor de ninguém.
É uma pessoa mesquinha, soberba, que se acha superior aos outros só porque tem dinheiro e nome.
Como me enganei com você...
Vim procurá-la pois realmente me apaixonei.
Quando te vi pensei que fosse uma pessoa bondosa, digna, pensei que fosse gente.
Mas você não é gente! Adeus!
Completamente indignada, Andressa correu atrás dele detendo-o quando já estava no portão:
- Como ousa falar assim comigo?
Não tem medo do que meu pai possa fazer com você?
- Não, não tenho medo do senhor Renato, pois pelas atitudes dele, vejo que é bem diferente da filha.
Tenho certeza que seu pai jamais faria nada contra mim.
Posso morar num bairro pobre, posso não ter uma profissão de rico, mas sou um rapaz honesto e digno, acreditei que você fosse realmente uma pessoa humilde e humana, embora a riqueza que tem.
Mas saiba que, mesmo gostando de você, mesmo que você se ajoelhasse aos meus pés, eu é que não iria mais querer um relacionamento.
Uma pessoa como você só pode espalhar a infelicidade onde passa. Adeus.
Ela ainda gritou, mas Ricardo abriu o portão e ganhou a rua sumindo na primeira esquina.
Andressa adentrou a casa chorando muito.
Os soluços foram ouvidos e logo todos estavam na sala.
Celina abraçou-a perguntando:
- O que houve, minha querida?
Ela prosseguia chorando sem nada dizer.
Renato perguntou a Berenice:
- Quem esteve aqui?
- Foi um rapaz que veio entregar o carro dela.
- O que foi que ele lhe fez? - perguntou Renato preocupado.
Finalmente, ela controlou o pranto e respondeu:
- Ele teve a ousadia de me pedir em namoro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:12 pm

Celina não acreditava no que ouvia:
- Como assim?
O rapaz que veio entregar seu carro aqui pediu-lhe em namoro?
- Sim, tia!
Um pobre qualquer, dono de uma oficina tenebrosa naquele maldito bairro onde sofri a pior coisa de minha vida.
- Era só o que faltava!
Estão vendo como tenho razão?
Bastou ser violentada para todo tipo de gente achar que pode namorá-la.
Que absurdo!
Você não vai tomar nenhuma atitude, Renato?
- Vou - disse ele com calma.
Vou até a oficina dele pagá-lo e pedir desculpas pelo que Andressa fez, pois no mínimo ela deve ter dito uns bons desaforos.
- Não apenas disse como dei um tapa em seu rosto, para que aprenda quem sou.
Renato empalideceu:
- Você deu um tapa no rosto do rapaz?
- Sim, e daria outros se ele tivesse ficado mais.
- Isto é um absurdo, e você deve desculpas a ele.
Vou trazê-lo aqui e se você não pedir desculpas não sei do que serei capaz.
- Nunca! Nunca!
Vera ponderou:
- Não faça isso, Renato.
Tudo que aconteceu com Andressa no bairro que esse rapaz mora foi muito traumático.
Talvez por isso ela tenha tido esse tipo de reacção.
- Não é por isso, tia Vera.
Ela tem génio ruim mesmo.
Acha-se melhor que os outros só porque tem dinheiro e status.
Não sei como é assim. Aqui nesta casa nunca tivemos esse tipo de comportamento ou pensamento.
A não ser que tenha sido má influência de tia Celina.
- Eu? Agora a culpa é minha?
- Só pode ser, porque aqui é a única a ter preconceito social.
Eu, tia Vera, nunca tivemos esse tipo de preconceito.
- Ah, esquece o quanto o seu pai odiava Helena por ela ser pobre?
Não sei se Andressa aprendeu comigo, mas ela está certa.
Onde se viu uma pessoa qualquer querer namorá-la?
- O rapaz é gente, não é uma pessoa qualquer.
E ela vai pedir desculpas a ele nem que eu tenha que forçá-la.
Naquele momento, Andressa, de tanto chorar, começou a ter náuseas e em seguida vómitos.
Como aqueles sintomas não paravam, Celina ligou para o médico da família, que chegou depois de meia hora.
Já no quarto, Andressa havia melhorado, mas ainda sentia muita ânsia de vómito que não conseguia controlar.
Dr. Carlos a examinou com calma e, ao final, disse:
- Precisamos de um exame para confirmar, mas tenho quase certeza que Andressa está grávida.
Aquela notícia teve o impacto de uma bomba.
Renato, com lágrimas nos olhos e muito desespero, pediu:
- Doutor, diga que não é verdade.
- Infelizmente, eu soube o que aconteceu e pelo exame clínico percebe-se que seu útero está dilatado, cresceu.
Dentro de minha experiência posso afirmar que está grávida, mas só o exame de sangue irá confirmar.
Renato balbuciou:
- Não pode ser.
Naquele momento, Andressa desmaiou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:12 pm

Capítulo 26
Renato estava na sala, de cabeça baixa e com o telefone na mão, sem saber se ligava para Helena ou não, a fim de comunicá-la a trágica notícia.
Andressa, chocada, acordou novamente gritando, e o doutor Carlos precisou dar-lhe calmantes para que conseguisse dormir.
Celina também fora medicada e os rapazes, revoltados, saíram para beber com os amigos.
Era Vera Lúcia quem estava com a sobrinha no quarto.
Naquele final de tarde o resultado do exame de sangue já havia saído, comprovando a indesejada gravidez.
Por fim, Renato resolveu ir à casa de Helena.
Lá chegando, Leonora o recebeu com atenção e pediu que ele esperasse.
Logo, Helena surgiu na sala com ar preocupado:
- O que o trouxe aqui a essa hora?
Sinto um aperto no peito.
O que aconteceu com meus filhos?
Helena já sabia que Humberto era adoptivo, mas também se afeiçoara ao rapaz e o incluía na pergunta.
- Nem sei por onde começar.
Posso dizer que uma tragédia se abateu sobre nós.
- Meu Deus! Conte-me logo.
Ocorreu algum acidente?
Renato disse à queima-roupa:
- Andressa está grávida do monstro que a estuprou.
Helena sentiu-se gelar.
- Como isso pôde acontecer?
Meu Deus! Coitada de minha filha.
Precisamos fazer alguma coisa.
- Embora seja trágico já temos a solução: vamos abortar essa criança.
- Embora meu coração doa em saber que vamos abortar um inocente, dessa vez tenho que concordar.
Andressa jamais teria paz em gerar uma criança concebida dessa maneira ou viver feliz em vê-la crescer perto dela, lembrando--se sempre do ato hediondo que sofreu.
- Nem ela nem nós.
Nossa filha foi aviltada como mulher e não iremos conviver com o fruto desse crime, que só nos trará infelicidade dia após dia.
Leonora apareceu na sala de repente:
- Me desculpem, senhores, mas estava passando e não pude deixar de ouvir o final da conversa.
O senhor deve pensar bem e não deixar que essa criança seja abortada jamais.
- Mas o que é isso, Helena?
Sua empregada ouve conversa atrás das portas?
- Não, Renato.
Leonora é muito educada e jamais tem esse costume.
- Não tenho mesmo, ouvi sem querer, mas tenho certeza que foi Deus quem me fez ouvir para que possa abrir os olhos de vocês antes que aconteça o pior.
- Não queremos sua opinião, mocinha - disse Renato claramente chateado.
- Mas eu quero - tornou Helena com firmeza.
Leonora é uma sábia e se diz que não devemos fazer o aborto, com certeza tem razão.
Sente-se connosco Leonora e nos explique.
Leonora sentou e os encarou:
- Essa criança não está vindo para sua família por acaso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:13 pm

Toda gravidez, mesmo que aconteça num ato como esse, traz um espírito que necessita viver com a família e, principalmente com a mãe, para se redimirem do passado, encontrar a paz e a felicidade.
Abortar, além de ser um crime grave, corta toda essa programação.
- De onde você tirou essa ideia? - perguntou Renato, intrigado com a forma firme, segura com que Leonora falava.
- Sou espírita há muitos anos e aprendi muitas coisas sobre a vida.
Uma delas é que o direito de viver é sagrado e a ninguém é dado tirá-lo, só a Deus!
- Sei que essa doutrina é muito boa, tenho conhecidos que são espíritas e posso dizer que são as melhores pessoas que já conheci, mas não posso acreditar nisso.
Deus está nos forçando a conviver com uma criança que só nos fará mal, até mesmo pela simples presença.
Leonora prosseguiu sem titubear:
- O senhor é uma pessoa de coração bom, senhor Renato, tenho certeza que vai entender o que vou lhe explicar.
Deus nunca erra.
Se Ele permitiu que sua filha engravidasse, mesmo num ato desses, é porque essa criança vai trazer muita luz, não só para ela, mas para todos vocês.
- Você está querendo insinuar que foi Deus quem quis que ela engravidasse dessa maneira?
- Não é bem assim.
Nem tudo de ruim que acontece na Terra é pela vontade de Deus, mas sim pela ignorância e rebeldia dos homens.
Pela vontade de Deus só as coisas boas acontecem.
Sua filha agiu com rebeldia e com certeza tinha outras atitudes em sua vida que atraíram esse acontecimento.
Deus não queria que isso acontecesse, mas ela, Andressa, atraiu o facto por meio de seus pensamentos e atitudes.
Renato ia protestar, mas Leonora não deixou:
- Quanto à gravidez, é claro que Deus não queria que ela acontecesse dessa forma traumática, mas se ele permitiu é porque será para o bem de todos.
Os acontecimentos ruins que nos acontecem, embora não sejam da vontade de Deus, são permitidos por Ele para nosso crescimento moral e espiritual.
Nada na Terra ocorre sem que Deus permita.
Por mais que Ele não queira ou deseje, Ele permite, pois é a única forma que os envolvidos escolheram para aprender.
- Mas minha filha jamais escolheu aprender de uma forma dessas.
- Conscientemente não, mas devo lhe dizer que a maior parte dos acontecimentos de nossas vidas são projecções do nosso inconsciente, sede da alma, que sabe sempre o que é melhor para nós.
Chegou um momento em que Andressa não tinha mais condições de aprender pelo amor, então sua própria alma provocou esse fato para que ela aprendesse pela dor.
Se vocês permitirem o aborto, será pior para ela.
Renato estava levando a sério a conversa.
- O que pode acontecer com ela?
- Se o espírito que está para nascer tiver entendimento, for bom, vai sofrer com o choque de ser abortado, mas entenderá e esperará nova oportunidade.
Mas se o espírito reencarnante for endurecido, rebelde e até mau, poderá se voltar contra ela ou contra vocês e então todos perderão a paz.
Terão um espírito obsessor ao lado interferindo em todas as suas decisões, trazendo depressão para Andressa, remorso persistente e até mesmo a loucura.
- Mas se for um espírito mau, é melhor logo que seja abortado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:13 pm

Assim nos livraremos dele de vez.
Mesmo que nos persiga do além, é melhor do que tê-lo no seio de nossa família.
- É aí que o senhor se engana.
Mesmo que o espírito que está reencarnando seja mau, rebelde ou vingativo, está voltando para desenvolver o amor, a compaixão, o perdão e para aprender a ser melhor, resgatando o passado.
Quando ele nascer, esquecerá suas vidas anteriores e passará a amar todos vocês.
Se for recebido com carinho, amor, protecção, se tornará uma pessoa de luz, honesta, íntegra e vencerá suas más tendências.
Deus só permite acontecer o que é para o melhor.
Por isso, não importa quem esteja no ventre de Andressa para nascer.
O que importa é o amor que vocês têm e podem dar a ele.
- Mas quem poderá amar um ser que foi gerado num estupro?
- Qualquer um pode amar se esquecer essa doença chamada preconceito.
- Preconceito?
- Sim, preconceito.
Vocês estão valorizando muito mais a honra da filha de vocês que foi usurpada do que a vida de um ser indefeso e inocente.
Estão dando mais valor às regras da sociedade do que às leis eternas do espírito.
Se Andressa entender isso, tenho certeza que amará o filho dela agora, dentro do seu ventre.
Seja como for, essa criança não foi culpada pelo que lhe aconteceu.
- Mas nossa justiça permite o aborto nesses casos.
Não estaremos cometendo crime algum.
- A justiça dos homens é falha e imperfeita, mas a de Deus é perfeita, eterna e imutável.
Vocês podem cometer esse ato que, pelas leis humanas não é crime, mas pelas leis cósmicas é um crime grave ao qual todos, um dia, deverão responder com severidade.
Não devemos viver segundo as leis dos homens, mais sim segundo as leis de Deus.
- E nos países onde o aborto é obrigatório quando uma mulher só pode ter um filho, como é o caso da China?
- Aí é outro contexto.
A mulher é obrigada a abortar.
Aqui não é obrigação, é uma escolha.
- Então, as chinesas ficarão sem responder diante das leis de Deus?
- Um crime é um crime, não importa onde for cometido, contudo, Deus avalia com justiça todas as situações.
Uma mulher que é obrigada a abortar pelas leis do seu país também fica compromissada com as leis cósmicas, mas para ela esse compromisso será cobrado de outra maneira.
Chegará o dia em que ela terá todas as crianças que abortou para se quitar com a própria consciência.
Já quem escolhe o aborto por livre e espontânea vontade sofrerá muito com essa atitude, até que tudo esteja novamente em seu lugar.
Deus é justo e conhece o íntimo do homem.
O que vocês querem fazer não é se livrar de uma criança porque não têm dinheiro ou condições de criá-la como fazem muitas mulheres, mas porque não querem viver com a mancha de um dia terem sido feridos em seu orgulho e vaidade.
Não faça isso, senhor Renato!
Tanto Renato quanto Helena estavam tocados diante do que foi exposto por Leonora.
Ele disse:
- Não sei mais o que pensar depois de tudo o que ouvi aqui.
Você concorda com ela, Helena?
- Concordo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Fev 28, 2018 9:13 pm

Com Leonora tenho aprendido muito sobre a vida.
Sei que tudo que ela diz é sempre certo.
Estou estudando o Espiritismo e sei que a verdade da vida se encontra nele.
Não vou deixar Andressa abortar.
Renato passou a mão pela testa, a fim de enxugar o fino suor que a cobria.
Murmurou:
- Meu Deus, pobre de minha filha!
Que desgraça!
- Vou conversar com ela, você sabe como Andressa confia em mim e o quanto estima minha amizade.
Vou fazer com que nunca pense em abortar.
- Não sei se isso é certo...
- Você ainda não está convencido depois de tudo que ouviu aqui?
Renato demorou um pouco e respondeu:
- Realmente, Leonora está certa.
Estamos pensando é no social e não na criança indefesa que está por vir.
- Graças a Deus!
Ele tocou seu coração.
Obrigada, Leonora.
- Não agradeça a mim, agradeça a Deus, a Jesus e aos amigos espirituais que estão presentes aqui.
Perto de Renato há um senhor alto, calvo, bigode branco, tez morena, usando óculos arredondados, pedindo para você não deixar Andressa abortar.
Que chega de mortes na família dele.
Renato prorrompeu em prantos.
Era seu pai quem estava ali ou estava sendo vítima de um engano?
Enxugou as lágrimas e, emocionado, perguntou a Helena:
- Você mostrou alguma foto do papai a Leonora ou falou como ele era fisicamente?
- Não, nunca! Leonora jamais costuma mentir ou inventar algo acerca da espiritualidade.
Leonora prosseguiu:
- Ele disse que faz questão de provar que está aqui.
Está dizendo para você perdoar de coração o que sua tia Celina lhe fez quando era adolescente.
Agora era a prova definitiva.
Só o seu pai sabia o que havia acontecido em sua adolescência por culpa de Celina.
Renato, chorando baixinho, fechou os olhos e disse para o pai:
- Papai, não deixarei mais uma morte acontecer.
O senhor hoje me provou que a vida continua e que a morte não é o fim.
Fique tranquilo, pois será como o senhor pede.
Apenas peço que nos ajude a descobrir e a punir quem tirou sua vida.
Leonora repetia o que Bernardo lhe passava:
- Isso é com a justiça dos homens, meu filho!
Esqueça também esse assunto e, na hora certa, todos saberão.
- Por que Deus permite que erros jurídicos como esses aconteçam, deixando que pessoas inocentes paguem por crimes que não cometeram?
- Os erros jurídicos só acontecem do ponto de vista humano, do ponto de vista divino não existe erro jurídico nem erro médico nem erro algum.
Tudo no universo está certo e acontece visando ao crescimento e à evolução do ser humano, libertando-o das culpas do passado, permitindo se harmonizar com a lei soberana da justiça divina.
Não culpe os erros humanos, eles só são permitidos porque na Terra existem pessoas precisando passar por eles.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:21 pm

- Então, nunca devemos puni-los por terem errado?
- Não é isso.
O erro, mesmo sendo apenas do ponto de vista humano, deve sempre ser corrigido, e os responsáveis devem responder pelo que fizeram, pois, embora tenham sido instrumentos das leis de Deus, também precisam aprender e evoluir para que um dia não errem mais.
- E por que Deus nunca permitiu que o assassino fosse descoberto e preso até hoje?
- Porque ainda não chegou a hora.
Nada no universo está atrasado ou adiantado.
Tudo sempre acontece na hora certa.
Se as pessoas soubessem disso, jamais sofreriam por antecipação ou ansiedade.
Vou-me embora, que Jesus fique com vocês.
Foi tudo muito emocionante e Renato, abraçado a Helena, chorava baixinho enquanto Leonora murmurava singela prece de agradecimento a Deus por ter permitido aquele contacto tão salutar e benéfico.
Já era noite quando Renato saiu de lá levando Helena consigo.
Leonora, vendo-os sair, voltou a orar.
Desta vez para agradecer novamente por um dia ter conhecido a Doutrina Espírita.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:21 pm

Capítulo 27
Helena chegou à mansão para conversar com a filha.
Encontrou todos na sala, emocionou-se ao rever os filhos, mas teve que conter a emoção.
Após os cumprimentos de praxe foi directo para o quarto de Andressa, que se encontrava jogada na cama chorando de mansinho, abraçada ao travesseiro.
Quando viu Helena entrar, levantou-se rapidamente e abraçou-a com emoção.
Voltaram para a cama onde Helena sentou-se colocando a cabeça da filha no colo.
Pegou suas mãos, colocou-as sobre o ventre e disse:
- Você acha mesmo que ele tem culpa de alguma coisa?
Andressa não respondeu.
Helena voltou a perguntar:
- Acredita que seu filho merece sua rejeição?
Como ela não respondia, Helena tornou:
- Se não quer conversar agora, vou respeitar o seu momento.
Vou descer, outro dia volto.
Quando Helena fez menção de levantar, Andressa pediu súplice:
- Por favor, Laura, não vá.
Preciso muito de você.
Helena sentou-se novamente e deixou que ela falasse:
- Preciso muito de você para me explicar o que está acontecendo comigo.
Nem eu mesma sei.
Não estou me reconhecendo.
Helena disse, procurando ser carinhosa:
- Posso entender que uma moça de sua idade, tendo sofrido tamanha violência, não queira ter por perto o fruto dessa experiência tão amarga.
Mas eu gostaria muito de lhe pedir que não aborte essa criança.
Pelo amor que tem a si mesma e a Deus.
Andressa silenciou por instantes, sentou-se na cama e frente a frente com Helena, pegando em suas mãos, disse:
- Você não está entendendo o que está se passando dentro de mim.
Quando recebi a notícia de que provavelmente estava grávida, desmaiei.
Talvez o susto, a imagem daquele monstro vindo em minha direcção, não sei dizer, mas me desesperei e não aguentei a pressão, desmaiando, mas quando voltei a mim, estranho sentimento se apossou de minha alma.
É isso que não consigo entender.
Não estou conseguindo me reconhecer.
Helena notou que Andressa estava com dificuldade em se expressar, mas grande sentimento de alegria despontou em seu peito.
Será que Andressa havia aceitado o filho?
Permaneceu em silêncio, dando-lhe coragem para que prosseguisse:
- Quando acordei e olhei para meu ventre fui sentindo um amor tão forte, mas tão forte, que posso dizer que já amo esta criança do fundo de meu coração e não a abortaria por nada deste mundo.
Lágrimas de emoção desceram pelos belos olhos verdes de Helena:
- Deus tocou seu coração, Andressa!
Foi Ele quem te deu esse amor.
- Não sei o que foi, mas eu não consigo mais me ver sem meu filho.
Pela minha personalidade, pelo meu jeito de ser, não era jamais para estar aceitando gerar um filho de um homem asqueroso, que me violentou e me envergonhou perante toda a sociedade.
Mas esse sentimento é tão grande que não conseguirei jamais fazer um aborto.
Você me ajuda?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:21 pm

- Claro que ajudo, minha querida! - disse Helena.
Quando soube do acontecido fiquei com muita compaixão por você, mas acredito que um filho, venha como vier, é sempre um presente de Deus e por isso vim aqui pedir para que o deixe nascer, nem que depois você o dê para adopção.
- Nunca! Meu filho viverá comigo para sempre.
Posso não me entender, posso não saber o que se passa comigo, que deveria agora estar odiando este ser e pedindo a meu pai para providenciar a primeira clínica de aborto que ele encontrasse.
Mas, não! Meu coração pede que eu tenha meu filho e o ame cada vez mais.
- Você pode estar se estranhando, mas eu não.
Algo me dizia que você reagiria assim.
- Como pode saber se nunca conviveu comigo?
Todos me chamam de arrogante, snobe, fria e sem coração.
- Posso não ter convivido com você, mas sou muito observadora e desde que a vi, pela primeira vez, percebi que é uma alma boa, generosa, capaz de muito amar.
Andressa ouvia emocionada.
Sempre fora criticada pelo seu jeito, nunca ninguém lhe dissera aquelas palavras.
Helena prosseguiu:
- Você é uma pessoa boa, Andressa.
Dá para ver nos seus olhos que possui sentimentos nobres no coração.
Essa sua postura arrogante, indiferente e snobe é uma defesa que seu espírito criou inconscientemente para protegê-la.
Você acredita em vidas passadas?
- Acredito. Embora nunca tenha me aprofundado no assunto.
- Eu estou estudando e, pelo pouco que aprendi, sei que nosso espírito passa por muitas reencarnações para atingir a perfeição.
Muitas delas são marcadas por muita dor e sofrimento e, por isso, ao voltar a reencarnar, o espírito adquire determinadas posturas para se defender de coisas que já passaram, mas que acredita que possam acontecer novamente.
Li num livro que uma senhora descobriu, numa sessão de regressão de memória, que ela sempre fugira do casamento com medo de ser traída e sofrer muito, mas esse medo vinha por uma experiência vivida por ela na vida anterior, ocasião em que amou muito, mas foi profundamente traída e magoada.
Quando percebeu que aquilo havia passado e que não mais iria se repetir, mudou de vida e está começando a se relacionar amorosamente.
Percebendo que Andressa ouvia com atenção, ela continuou:
- Algo semelhante pode estar acontecendo com você.
Você pode ter vivido alguma experiência traumática em sua última encarnação e, por isso, desenvolveu essas posturas rígidas, na tentativa de evitar o sofrimento.
Mas a vida é sábia e está encaminhando você para viver tudo aquilo que teme, a fim de se superar e mostrar a si mesma que é forte, e que o passado passou.
- Suas palavras estão tocando minha alma.
Sinto que é verdade o que diz.
- Por isso você, embora tenha odiado saber que seu pai se casaria novamente, gostou de mim assim que me viu, pois sua bondade e seu amor pelo próximo, embora traga traumas de outras vidas, ainda são maiores que tudo.
O mesmo aconteceu com seu filho.
Se você fosse realmente essa pessoa arrogante e ruim que diz ser, estaria agora nas mãos de alguém que tiraria essa criança de seu ventre.
Mas, como seu amor por tudo e por todos é muito maior, você o amou e o quer para sempre ao seu lado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:21 pm

Andressa continuava calada, olhos marejados, ouvindo aquela que era sua mãe, mas que sequer desconfiava:
- Mas, no seu caso, creio que há algo ainda maior.
Acredito que, para você ter amado tanto essa criança em tão pouco tempo, é porque ela tem um laço muito forte de amor com seu espírito, que vem de muitas vidas.
- Quer dizer que já posso ter vivido com meu filho em outras existências?
- Segundo o Espiritismo, as famílias terrenas não são formadas ao acaso.
Muitas delas são compostas por almas afins que voltam à Terra para prosseguir suas jornadas evolutivas.
Contudo, às vezes, grupos de inimigos retornam na mesma família para reatar os laços de amizade e se perdoar mutuamente.
- Então, só pode ser verdade o que você está falando, e mais:
sinto que você também já fez parte de minha vida passada.
Se realmente existir a reencarnação, nós já vivemos juntas, porque a estima e a confiança que sinto por você são realmente inexplicáveis.
Helena abraçou a filha com muito amor, morrendo de vontade de dizer que, independentemente de terem vivido juntas em outras vidas, ela era sua mãe, quem a tinha gerado em seu ventre, e que grande parte daquela confiança e daquele amor vinha desse milagre de Deus.
Mas tinha que renunciar àquilo e não dizer nada.
Ela jamais poria em risco o amor da filha caso ela soubesse da acusação de assassinato e consequentemente os 20 anos de reclusão impostos à Helena.
Só quando o assassino fosse descoberto é que poderia se revelar para Andressa e para Fábio.
Andressa cortou seus pensamentos:
- Você precisa me ajudar, Laura.
Sei que meu pai e toda minha família jamais irão aceitar meu filho.
Vão querer que eu aborte.
Não deixe que façam isso comigo.
Eu amo meu filho!
- Não se preocupe, querida, conversei com seu pai e ele não quer que você aborte.
- Meu pai? Tem certeza?
- Sim. Ele foi à minha casa e lá conversamos muito.
Consegui convencê-lo.
- Incrível seu poder.
Meu pai só pode amá-la muito mesmo.
Mais uma vez obrigada.
Mas há meus irmãos e minhas tias, principalmente tia Celina.
Eles não me deixarão em paz e, mesmo que meu filho nasça, irão tratá-lo com desprezo.
- Juro a você que isso não irá acontecer.
Eu estarei aqui nesta casa e vou impedir que façam qualquer tipo de maldade com a criança.
Fragilizada, Andressa pediu:
- Você jura?
- Não preciso jurar.
Dou minha palavra, é mais que suficiente.
Então, vamos descer e comunicar sua decisão a todos?
- Não tenho coragem.
- Terá! Você estará ao meu lado.
Ninguém ousará dizer nada que a contrarie.
Troque de roupa, arrume-se para ficar mais bonita do que já é e vamos descer.
Tomada de grande coragem que mais uma vez Andressa não sabia de onde vinha, ela foi se arrumar para se apresentar à família.
Sem saber, Helena havia sido intuída a dizer tudo aquilo à filha.
E era tudo real.
O espírito que nasceria por Andressa era um grande amor de sua vida passada, mas como não pôde vir nesta encarnação para se unir pelos laços do matrimónio, estava voltando naquele momento para viver junto à Andressa, na condição de filho, e juntos poderem sublimar antiga paixão que muito os levou ao sofrimento tempos atrás.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:22 pm

Capítulo 28
Todos ainda continuavam na sala quando Andressa e Helena desceram as escadas.
Sentaram juntas e Helena disse:
- Andressa decidiu que não irá abortar a criança.
Vai deixá-la nascer e cuidar dela com muito amor.
Breve silêncio se fez e logo ouviu-se a voz de Celina:
- Você só pode estar brincando connosco.
Isso não é possível.
Andressa jamais deixará esse verme nascer.
- Respeite sua sobrinha, Celina! - disse Helena em tom grave.
Serei a nova dona desta casa e não vou admitir que ninguém fale mal dessa criança ou não a trate bem quando nascer.
Celina pareceu não ouvir, fixou os olhos miúdos de raiva na sobrinha e perguntou:
- O que esta mulher está falando é verdade?
Você só pode ter enlouquecido.
Diga para sua tia que é mentira desta invasora.
Andressa, magoada pela forma como a tia se referiu a seu filho, disse firme:
- O que Laura disse é verdade.
Não vou abortar meu filho de jeito nenhum.
Já o amo do fundo de meu coração.
Celina levantou-se raivosa e bradou:
- Foi culpa desta mulher.
Foi você quem a influenciou a tomar essa decisão.
Antes que Helena pudesse se defender, Andressa também se levantou e enfrentou a tia:
- Não foi Laura quem me convenceu de nada, muito menos me influenciou.
Simplesmente passei a sentir um grande, um imenso amor por meu filho e não há pessoa neste mundo que me faça tirá-lo de dentro de mim.
Andressa falou com tamanha firmeza que fez com que Celina sentasse calada, pondo as mãos na cabeça como a dizer que a sobrinha havia perdido a razão.
Foi a vez de Vera Lúcia se expressar:
- Pois eu acho maravilhosa a atitude de Andressa em ter essa criança.
Um filho é uma coisa sagrada.
Não importa como ele vem, o que importa é que vamos amá-lo do mesmo jeito.
Parabéns, minha sobrinha.
- Eu também apoio minha filha.
- Você? - gritou Celina, sem acreditar.
Mas você foi o primeiro a dizer que Andressa teria que abortar!
- Mudei de opinião.
- Com certeza foi esta mulher quem fez você mudar tão de repente.
Nem bem chegou e já está destruindo a nossa família.
Desta vez foi Renato quem se alterou.
Levantou-se e dedo em riste disse:
- Respeite Laura, que será minha mulher e a nova dona desta casa.
Também será a nova mãe de meus filhos se eles assim quiserem.
Mudei de opinião porque Laura me convenceu que o aborto é algo criminoso e que nunca vale a pena.
Se a senhora não aprender a respeitar minha mulher, vou pedir que saia desta casa e não volte nunca mais.
- Meu Deus!
Nunca fui tão ofendida em toda a minha vida - Celina fingia que chorava com mágoa.
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Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:22 pm

Fábio, que até aquele momento participava de tudo calado, disse:
- Eu também acho que papai está certo.
Não está vendo que Laura é uma mulher exemplar, que só quer nosso bem?
Laura me conquistou assim que a vi e não vou admitir que ninguém fale com ela nesse tom.
Humberto, que também estava calado, ponderou:
- Calma, meu irmão, acho que não devemos nos meter nisso.
- Claro que devemos, afinal Andressa é nossa irmã e tem direito de fazer da vida dela o que quiser, e Laura será a mulher de papai, precisa e merece nosso respeito e nossa defesa.
Humberto calou-se, pois não queria ter problema com a tia.
Celina reflectiu por instantes, depois disse:
- Tudo bem.
Posso respeitá-la e não dizer nada que a magoe, mas saiba que não gosto de você e minha amizade não terá jamais.
- Contanto que me respeite e não atrapalhe minha vida com meu marido e com meus enteados, não vejo problema.
- Agora terão a responsabilidade de ter toda a sociedade falando que Andressa, filha de quem é, herdeira de uma das maiores fortunas do país, teve um filho do homem que a estuprou.
Passem bem.
Celina subiu as escadas feito um furacão.
Andressa, ouvindo o que ela acabara de dizer, começou a chorar.
Laura a abraçou com carinho:
- Não fique assim, minha querida.
Não vamos dar importância ao que diz a sociedade.
O que importa é seu filho.
Lembre-se de que é muito melhor ser feliz, do que ficar se escondendo ou cometendo crimes só com medo do que os outros irão dizer.
- E quanto à sua tia Celina, ficarei atento.
Qualquer coisa que ela faça contra você ou essa criança, a expulso daqui - disse Renato.
- Apoiado, papai - disse Fábio, que não conseguia tirar os olhos de Helena.
Helena estava muito emocionada com o apoio do filho.
Tão emocionada que não percebia que os olhares dele eram de amor carnal e não de um filho admirando a mãe.
Pouco tempo depois, Helena e Renato deixaram a mansão a fim de ficarem a sós.
Não passou despercebida a Vera Lúcia a paixão perigosa que Fábio estava sentindo pela mãe.
Seu coração descompassou e ela estava ali, em seu quarto, ajoelhada, pedindo a Deus que a perdoasse por nunca ter dito a verdade sobre o assassino.
Helena só poderia revelar sua verdadeira personalidade quando ele aparecesse e fosse preso.
Mas até lá Fábio se apaixonaria cada vez mais pela mãe e sofreria muito.
Ao pensar naquilo, Vera Lúcia sentia o coração doer de angústia.
Resolveu que falaria com Fábio, caso estivesse em casa, e tentaria demovê-lo daquele nefasto sentimento.
Desceu a escada e percebeu que toda mansão estava às escuras, só a luz do escritório estava acesa.
Renato já teria voltado?
Entrou e notou que era Fábio quem estava lá, ouvindo músicas românticas com o olhar perdido num ponto indefinido.
Ela se amargurou ainda mais.
Tinha que demover o sobrinho daquela paixão.
Sentou-se na cadeira à frente e pediu:
- Abaixe o som, Fábio, preciso falar com você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:22 pm

Ele abaixou com o controle remoto e perguntou preocupado:
- Algum problema?
Onde está Andressa?
- Não é com ela o problema, mas com você.
- Comigo? - perguntou sem entender.
- Você está apaixonado por Laura, a futura mulher de seu pai.
Fábio corou:
- A senhora não deve estar bem, pode estar tendo algum daqueles surtos.
Vamos procurar o remédio.
- Estou óptima, Fábio.
Não queira fugir de você mesmo.
Notei claramente que está apaixonado por Laura.
Meu filho, tire esse sentimento de dentro de você.
Está errado, ela será a mulher de seu pai, sua futura esposa.
- Já que a senhora descobriu, vou dizer a verdade.
Eu não estou só apaixonado, eu amo Laura.
O coração de Vera parecia que ia saltar pela boca:
- Não diga isso nem de brincadeira.
Quer se tornar inimigo de seu pai?
- Já pensei nisso, tia, mas não posso me conter.
Estava aqui reflectindo e decidi que vou brigar pelo amor de Laura até o fim.
- Meu Deus! Que horror!
O que posso fazer para tirar essa ideia de sua cabeça?
- Nada. A senhora pode e vai me fazer um grande favor.
Fique calada e jamais diga a ninguém o que conversamos aqui.
Não sei como vou fazer para conquistar Laura, mas não vou deixar que se case com meu pai e, se não conseguir impedir o casamento, a conquistarei mesmo sendo esposa dele e a tomarei para mim.
- Você está louco?
Seu pai merece ser feliz, merece seu respeito!
- Mas eu também mereço ser feliz e sei que só serei feliz com Laura ao meu lado.
- Com tantas moças de sua idade por aí, por que foi logo se apaixonar por ela?
- Eu sempre gostei de mulheres maduras.
A senhora não sabe, mas sempre as namorei, e até tive recentemente um romance com uma casada, mais velha que Laura.
- Não quero saber o que você faz de sua vida, só não irei permitir que atrapalhe a felicidade de seu pai que já sofreu tanto na vida.
Não falarei com ninguém o que conversamos, mas vou tentar de todas as formas impedir mais essa tragédia em nossa família.
Dizendo aquilo saiu apressada, subindo as escadas de dois em dois degraus.
Naquela noite, Vera não conseguiu dormir e só via à sua frente uma solução:
revelar o verdadeiro assassino à Helena.
E era aquilo que iria fazer, o mais rápido que pudesse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:22 pm

Capítulo 29
No decorrer dos dias, todos foram se habituando à ideia de que Andressa iria realmente ter um filho, fruto de um estupro.
Helena estava sempre por perto, conversando com todos que, aos poucos, passaram a ver a situação com o máximo de naturalidade possível, excepto Celina que não participava das conversas e estava sempre fechada em seu quarto ou brigando com as empregadas.
Só Berenice notou que Vera Lúcia estava mais agitada que o habitual.
Subia e descia as escadas o tempo inteiro, falava com mais frequência ao celular e quase não se alimentava direito.
Ao final de uma semana, após descobrir a paixão do sobrinho pela mãe, Vera chamou Helena ao seu quarto.
Já no quarto, Vera Lúcia muito trémula e pálida, pegou nas mãos de Helena dizendo:
- Já não posso adiar mais, hoje você vai saber quem matou o Dr. Bernardo.
Helena assustou-se:
- Por que resolveu me contar isso?
- Porque coisas graves estão acontecendo e não posso mais deixar esse segredo encoberto.
- Você está me deixando nervosa, Vera, que coisas são estas?
- Seu filho Fábio está apaixonado por você.
- Como?
Vendo que Helena não queria acreditar no que ouvia, Vera contou-lhe tudo, ao final disse:
- Não é motivo mais do que suficiente para eu revelar?
- Estou pasma!
Nunca pensei que toda aquela atenção fosse uma paixão.
- Pois é, e das mais perigosas.
- Contudo, você pode morrer e ele também.
- Não, não vou mais morrer.
Durante essa semana consegui fazer coisas muito sérias.
Agora estou protegida e Fábio também.
Vou contar-lhe tudo, mas não aqui.
Assim que sair daqui hoje não leve Renato com você.
Depois de meia hora chego à sua casa e lá conversaremos.
Finalmente, você poderá dizer a seus filhos que é a mãe deles e esse assassino miserável será preso.
- Você diz que fez coisas que agora a deixam protegida e Fábio também.
Por que não fez isso desde o começo?
- Porque o que fiz esta semana exige muita coragem, coisa que, infelizmente, nunca tive.
Trago dentro de mim grande remorso por sua prisão, porque eu sempre soube quem matou o meu irmão e por covardia nunca disse, mas agora finalmente me libertarei desse fardo.
- Me conte o que você fez, por favor!
- Quando eu lhe revelar quem é o criminoso, você entenderá tudo.
Agora vamos descer para que ninguém desconfie.
Elas não perceberam que alguém escutava toda a conversa por detrás da porta e saiu rapidamente sem ser visto antes que as duas saíssem do quarto.
Foi difícil para Helena conter Renato aquela noite para que não fosse para sua casa.
Quando finalmente chegou encontrou Leonora sentada no sofá, olhos fechados, em prece.
Quando ela terminou, Helena disse:
- Não quis interromper sua oração.
Está se sentindo bem?
- Não estou.
Desde cedo comecei a sentir uma angústia muito grande, como se algo terrível fosse acontecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:22 pm

Helena assustou-se:
- O que você acha que pode ser?
- Não sei.
Tenho orado a Deus desde que a sensação começou.
Pedi a ele que se fosse pela presença de um espírito perturbador, o levasse para um local de refazimento.
Mas não creio ser a presença de um espírito.
Acho que algo ruim realmente vai acontecer.
Helena empalideceu:
- Isso me deixa muito preocupada.
Você não sabe o que aconteceu hoje.
Vera resolveu me contar quem é o assassino.
Leonora surpreendeu-se:
- Por que?
Helena contou tudo e finalizou:
- Será que seu pressentimento tem a ver com isso?
- Não sei, mas vamos continuar em prece.
Quando temos um presságio ruim não é para nos assustarmos com ele, mas sim para orarmos a Deus pedindo que Ele envolva a todos em vibrações de paz e harmonia para que o acontecimento se dê da maneira mais suave possível ou até possa ser evitado conforme a vontade Dele.
As duas oraram juntas e Helena pôs-se a esperar por Vera.
Ela havia dito que chegaria em meia hora, mas já passava mais de uma hora e nada de Vera aparecer.
Helena e Leonora iam à janela que dava para o jardim de onde podiam ver a rua, praticamente deserta àquela hora da noite.
Finalmente, viram o carro de Vera se aproximar.
Vera desceu do carro e Helena estava abrindo a porta para recebê-la quando o inesperado aconteceu.
Dois homens vestidos de preto, encapuzados, montados numa moto, apontaram duas armas para Vera e um deles disse:
- Não fará o que quer.
Sua vida termina aqui.
Um grito de pavor se fez ouvir e vários tiros foram disparados em direcção à Vera que tombou na mesma hora.
Helena gritou e correu para acudi-la enquanto os motoqueiros fugiam rapidamente.
- Socorro! Socorro! - gritava Helena vendo Vera agonizar em seus braços.
Leonora ligou para os bombeiros, e se juntou à Helena que chorava alucinada:
- Ela está morrendo, faça alguma coisa!
- Os bombeiros estão chegando.
- Ligue para Renato, avise a ele.
Leonora entrou e ligou.
Os poucos vizinhos começaram a surgir e pequena aglomeração se fez.
Vera estava banhada em sangue e Helena temia por sua morte.
Vera lhe disse que estava segura e não morreria mais, mas estava enganada.
O assassino havia descoberto que ela contaria a verdade, então, tentou impedi-la.
Vera tentava balbuciar algumas palavras, mas não conseguia dizer nada.
Helena desesperada, tentava:
- Diga-me quem é ele, diga-me, Vera!
O som do carro do corpo de bombeiros se fez ouvir e logo Vera estava sendo conduzida para o hospital.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 01, 2018 9:23 pm

Helena foi junto, não sem antes pedir que Leonora avisasse a todos para onde Vera estava sendo levada.
A notícia caiu como uma bomba na família.
Vera era muito estimada e todos entraram em desespero.
Renato ligou para a casa de Duílio e ele se surpreendeu dizendo que iria em seguida para o hospital.
Quando todos já estavam no hospital, um dos médicos responsáveis disse que Vera tinha sido gravemente ferida e corria grande risco de morte.
Informou que faria uma cirurgia delicada, porém, a família deveria se preparar para o pior.
O tempo de espera foi angustiante para todos.
Ninguém entendia por que Vera havia sido atacada na frente da casa de Helena.
Três longas horas se passaram até que o médico voltou com a fatídica notícia:
- Infelizmente, a senhora Vera não resistiu aos ferimentos e morreu durante a cirurgia.
Lamentamos, mas tudo fizemos para que isso não acontecesse.
Meus pêsames.
Descontrole geral tomou conta de todos, intimamente, suspeitavam que mais aquela morte tinha relação com o assassinato, porém, nada disseram.
O facto de Vera ter sido morta em frente à casa de Helena mostrava claramente que aquele crime, sem nenhuma tentativa de assalto, tinha os mesmos motivos que levaram o criminoso a matar o patriarca da família, vinte anos antes.
Os sobrinhos estavam inconsoláveis e, quando chegaram a casa, cada um foi se fechar em seu quarto.
Helena, então, viu-se a sós com o restante da família e aproveitou o momento:
- Foi um de vocês quem matou a Vera.
Aquela declaração à queima-roupa surpreendeu a todos:
- Como ousa dizer isso? - disse Celina irritada.
- Não apenas ouso, como posso afirmar que um de vocês cometeu esse crime lastimável.
Por que não se revela logo?
- Calma, meu amor, você está nervosa - disse Renato abraçando-a.
- Não, não estou apenas nervosa, mas indignada.
A pessoa que fez isso com Vera é o pior dos monstros.
Ontem à noite ela me chamou ao quarto dela e me disse que iria me revelar quem matou o Dr. Bernardo.
Pediu-me que eu não levasse Renato comigo para casa e que, meia hora depois que eu saísse daqui, ela chegaria lá para me revelar tudo.
Vera tinha um forte motivo para me dizer a verdade que guardou desde que o irmão morreu.
- Como assim?
Vera sabia quem matou o Dr. Bernardo? - perguntou Duílio incrédulo.
Parecia que todos ali queriam saber a mesma coisa, tal a ansiedade que expressavam no olhar.
- Sim, ela sabia.
Vera presenciou a cena do crime, viu tudo, mas nunca pôde dizer porque o assassino a chantageava.
- Como assim? - perguntou Bruno, interessado.
- O assassino descobriu que Vera sabia a verdade e a ameaçava de morte.
Não só ela, mas meu filho Fábio.
- Isso eu posso garantir - disse Renato.
No dia em que Helena saiu da prisão, tia Vera me pediu que a perdoasse, que fosse buscá-la para viver de novo nesta casa.
E ela revelou que sabia quem era o assassino, mas não podia dizer, pois sua vida e a de Fábio corriam risco.
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