LUZ ESPÍRITA
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Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 03, 2018 9:13 pm

Capítulo 36
O tempo passou rápido e Helena resolveu ocultar de Renato a descoberta que havia feito a respeito de Ester.
Ele estava ainda descobrindo a espiritualidade e não convinha abordar o assunto naquele momento, assunto esse que até ela mesma ainda estava tentando entender.
Naquela noite, Renato chamou Ricardo em seu escritório e pediu que se sentasse.
Fixou os olhos no rapaz e foi directo:
- Gostaria de lhe fazer uma proposta.
Queria que trabalhasse connosco na empresa.
Parecia que o rapaz esperava aquele momento:
- O senhor quer dizer que sua filha não pode se casar com um simples mecânico feito eu?
- Não é isso, Ricardo.
Você sabe que não tenho nada contra você ou sua profissão, mas acredito que sendo marido de Andressa você queira contribuir para que a vida dela e do filho seja a melhor possível.
Sei que não é nenhum aproveitador, ao contrário, percebo que quer muito colaborar com algo de si.
Por isso estou lhe oferecendo um emprego, um trabalho melhor, em que ganhe mais e possa fazer o que quiser com mais dignidade.
O discurso de Renato comoveu Ricardo.
Via que o sogro não o queria humilhar nem jogar na cara sua condição de rapaz pobre, mas ajudá-lo realmente.
- O senhor tem razão, desejo muito contribuir para que minha vida com Andressa seja melhor, mas não sei o que posso fazer em sua empresa, nunca tive condições de estudar muito, fiz curso de mecânica de automóveis e é só o que sei fazer.
Renato pôs a mão no queixo pensativo.
Logo, teve uma ideia que julgou excelente:
- Já que você só sabe lidar com automóveis, podemos ser sócios.
Eu invisto na compra de um galpão num bairro mais centralizado, na compra de melhores e mais modernos equipamentos de trabalho, e você poderá cobrar mais caro pelo serviço, trabalhando melhor.
Os olhos de Ricardo brilharam de satisfação, mas logo depois se entristeceram:
- Seria muito bom, na verdade representaria para mim a realização de um sonho.
Mas o senhor continuaria tendo um genro mecânico...
- Já disse que não me preocupo com isso, nem Andressa.
Ela mudou muito desde o triste episódio e também graças à convivência com Laura.
Além disso, ela ama você mais que tudo.
Para que o preconceito?
Ser mecânico é uma profissão digna, honrada, igual a qualquer outra.
- O senhor pensa assim, mas a sociedade não.
- Nunca liguei para o que a sociedade pensa.
Então? Negócio fechado?
Ricardo se levantou, apertou a mão que o sogro lhe estendia e disse:
- Negócio fechado.
Só falta saber como serão divididos os lucros em nossa sociedade.
Estou entrando com o trabalho e o senhor com o capital.
Como vamos fazer?
- Pense em tudo, faça os cálculos e depois me diga o valor que preciso para entrar na sociedade.
Até negociar a compra do galpão fica por sua conta.
- Muito obrigado, senhor Renato.
Tenho certeza que não se arrependerá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 03, 2018 9:13 pm

- Sei que não.
Desde que o vi pela primeira vez percebi que era um rapaz honesto.
Ambos se abraçaram e, assim que saiu do escritório, Ricardo encontrou Andressa ansiosa na sala esperando para saber do que se tratava a conversa.
Ele explicou tudo e ela ficou imensamente feliz, agradecendo a Deus por tudo estar se resolvendo bem.
A reforma da casa ficou pronta, e finalmente o dia do casamento chegou.
Helena fez questão de trazer Leonora para morar com ela e naquele momento, estavam juntas, terminando de arrumar os cabelos.
Helena estava linda num longo e elegante vestido branco-prateado, com graciosa tiara de prata, trazendo à mão um lindo buquê de rosas brancas e amarelas.
Duas leves batidas à porta fizeram com que Helena permitisse a entrada.
Era Fábio, muito bonito, vestido num terno cinza-claro, cabelos lisos arrumados para cima, com estranho brilho no olhar.
- Gostaria de falar com você.
Prometo ser rápido.
Helena percebeu a intenção do rapaz e Leonora também.
Sabia da paixão que o filho sentia por ela, e orava todos os dias para que aquilo se desfizesse.
Helena olhou para Leonora e pediu:
- Saia um instante e me espere aí fora.
Precisamos dar os toques finais.
Leonora obedeceu, e Fábio se aproximou.
Coração aos saltos, nunca tinha visto Helena tão linda como naquele momento, o que fez sua paixão aumentar.
- O que deseja, Fábio?
Algum problema com seu pai?
Ele, olhos vidrados de emoção, exalando álcool pegou em suas mãos e pediu:
- Por favor, não se case com meu pai!
O coração de Helena estremeceu:
- Que loucura é esta, Fábio?
Eu amo seu pai, o que pode haver de errado em nosso casamento?
- Eu a amo, Laura.
Amo-a loucamente, desde que a vi.
Helena estava abismada, pensava que Fábio iria se declarar, mas não daquela maneira tão intensa.
Não podia permitir aquilo.
Ele era seu filho, seu filhinho querido que vira nascer, vira dar os primeiros passos.
Parecia estar no meio de um pesadelo.
Reagiu com vigor:
- Você nunca mais deve repetir isso, ouviu?
É uma falta de respeito comigo e com seu pai.
Isso é uma loucura, você está fantasiando e jamais seria possível algo entre nós dois.
Eu amo Renato e ele é seu pai, seu pai, entendeu?
- Não adianta dizer nada disso.
Meu amor por você é maior que tudo e lutarei até o fim para conquistá-la.
- Fábio, por favor, tenha bom senso.
Eu não gosto de você!
Não dessa maneira como você quer, mas como um filho.
E é isso que será para sempre: um filho.
E se você continuar com essa loucura, vou contar para seu pai e pedir que ele tome as providências.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 03, 2018 9:13 pm

Fábio ouviu, mas não deu importância.
Seu rosto e seus olhos estavam inflamados de determinação, então, ele abraçou Helena.
- Pode dizer o que quiser a ele, não me importo, quero é que seja minha.
Helena chamou por socorro, mas Fábio foi mais rápido e tapou sua boa com as mãos.
Contudo, o grito de Helena foi suficientemente forte para que Leonora ouvisse e entrasse no quarto rapidamente:
- Solte ela, Fábio! Solte!
- Ora, não venha me atrapalhar, suma daqui.
Amo Laura e não vou permitir que ela se case com meu pai nunca!
- Vai soltar sim, agora!
- E por que devo soltá-la, se a amo?
- Porque ela é sua mãe! Sua mãe!
Fábio levou um susto ao ouvir aquelas palavras ditas em tom tão alto e seguro.
Soltou Helena imediatamente.
Ao vê-la chorando, desesperou-se:
- O que é isso?
Estão tentando me enlouquecer?
Que mentira é essa?
- Mentira nenhuma, Fábio, Laura é sua mãe!
E você jamais poderá amá-la como mulher. Jamais!
Fábio olhou para Helena súplice:
- Diga que isso é mentira.
Minha mãe morreu quando eu era pequeno...
A foto... A foto dela está lá na sala, em cima da lareira.
Minha mãe chama-se Helena.
Ante o silêncio dela, Fábio percebeu que estava diante de uma cruel e sinistra verdade.
Pior: percebeu que estava diante da maior mentira de sua vida.
Fábio rendeu-se e, sentando na cama, pôs as duas mãos no rosto e começou a chorar.
Leonora o abraçou acariciando seus cabelos:
- Laura é Helena, sua mãe.
Entendeu por que não pode amá-la?
Ele continuou a chorar e a dizer:
- Que mentira foi essa?
Por que nos enganaram?
Helena aproximou-se, sentou-se ao seu lado e disse-lhe:
- Meu filho querido! Não nos julgue!
Prometo lhe contar toda verdade antes de partir para a lua de mel, mas não faça nada para atrapalhar a felicidade de seu pai e de sua família.
Você é um bom menino.
Preciso de sua compreensão.
Fábio revoltou-se:
- Vocês são uns mentirosos, hipócritas, criminosos! -levantou-se exasperado.
- Não! - pediu Helena desesperada.
Não somos nada disso! Acalme-se.
Se seus irmãos chegarem aqui e virem seu estado, não vai ser possível ocultar-lhes a verdade.
- Ocultar a verdade?
Mais do que já foi ocultada?
Lá embaixo está cheio de gente.
A casa está cheia como nunca.
A mais fina sociedade paulistana está aqui.
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É um bom momento para eu falar para todo mundo a grande mentira que é nossa família, e farei isso agora.
Fábio abriu a porta do quarto, mas Leonora o seguiu enérgica puxando-o pelo braço:
- Faça isso e torne toda a sua família infeliz.
Torne todos desgraçados muito mais do que foram até agora.
Você é livre, mas será responsabilizado por tudo o que acontecer com eles.
Leonora possuía um nível alto de evolução espiritual e suas palavras possuíam mais força do que as de outras pessoas de nível espiritual mais baixo, por isso Fábio as ouviu e tremeu por dentro.
Não podia fazer aquilo com os irmãos, com a tia e com o pai.
Mesmo que Renato fosse culpado por aquela mentira, não podia pôr em risco a felicidade de seus irmãos.
Calou-se por alguns minutos, depois disse:
- Por meus irmãos não direi nada hoje, mas amanhã, antes da viagem, quero saber toda verdade.
- Saberá. Sua mãe é uma mulher de palavra.
Fábio saiu tentando conter o choro, para alívio de Leonora.
Quando ela voltou ao quarto, Helena estava aflita:
- Para onde ele foi?
- Trancou-se no quarto. Foi por pouco.
- O que faço agora?
Estou desesperada.
- Precisa se acalmar.
Tem que refazer essa maquiagem e fingir que está tudo bem.
Renato não deve saber de nada, pelo menos até a festa acabar.
- Não sei se terei como esconder meu estado de espírito.
- Tente! Não estrague essa festa que está tão linda!
Vou fazer uma prece e colocar minhas mãos sobre sua cabeça. Vai ajudar.
Leonora murmurou sentida prece pedindo a ajuda de Deus para aquele momento e, sem que as duas pudessem ver, espíritos luminosos chegaram ao quarto e deram passes em todo o corpo de Helena, fixando-se mais no chacra frontal.
Logo parecia que nenhum problema a estava afligindo.
- Estou em paz! - disse num murmúrio.
- A presença dos espíritos de luz nos conduz ao equilíbrio.
Agora vamos terminar os retoques.
Você já está atrasada.
Meia hora depois Helena desceu as escadas, linda, feito uma rainha.
Renato a recebeu e a conduziu a um belíssimo altar, ornamentado com orquídeas brancas, onde o juiz os esperava.
A cerimónia foi igualmente linda.
O juiz falou das belezas de um casamento com amor e, ao final, enquanto os noivos trocavam alianças, um belíssimo coral, acompanhado por violinos, entoava uma canção romântica convidando todos para dançarem junto com o casal.
Em seguida, o casal recebeu os cumprimentos e todos foram para o jardim, onde seria servido o bufê.
Uma orquestra começou a tocar músicas românticas e Helena, embalada ao sabor dos acontecimentos emocionantes, deixou-se levar nos braços de Renato e passaram a dançar com amor.
Não perceberam que eram observados por Fábio que, com olhar rancoroso, consumia-se por dentro, ansiando a hora de conversar com eles para jogar-lhes no rosto o quão mentirosos eram.
Pela cabeça de Fábio, mil pensamentos passavam e ele, por mais que tentasse, não conseguia entender por que sua mãe estava viva e por que mentiram, inventando sua morte, colocando um quadro de outra mulher para que eles venerassem como se fosse ela.
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Em outro ponto da festa, Celina encontrava-se sozinha numa mesa, bebericando um champanhe quando teve desagradável surpresa.
Uma voz aguda e cínica a chamava:
- Olá, Celina!
Quanto tempo, querida!
Vamos conversar?
Era Zelí, sogra de Duílio.
Celina enrubesceu:
- Maria José?
Como entrou aqui?
- Esqueceu-se de que sou sogra da alma das empresas desta família?
- Infelizmente. Duílio é um bom rapaz, não merecia uma sogra feito você.
Zelí, sem cerimónia, puxou uma cadeira e, acendendo um cigarro, sentou-se perto dela, tragando e jogando a fumaça em seu rosto.
Comentou cínica:
- Posso imaginar como você está sofrendo com esse casamento...
- Cale-se ou me retiro.
- Se você se retirar conto a todos por que você é contra a nova mulher de Renato.
Esqueceu que sei de tudo?
Celina ficou branca feito cera e começou a tremer.
- Você não teria coragem.
- Ah, não, pague para ver.
Aliás, hoje finalmente entrei nesta mansão belíssima.
Tem muitas coisas aí dentro que vou querer para mim.
E você vai me dar, não é?
- Jamais sai um alfinete sequer desta casa para você.
- Não seja tão ingrata.
Afinal, eu a ajudei quando tudo aconteceu.
Éramos companheiras, se não fosse por mim, todos teriam descoberto quem você é na realidade.
Quanto custa me dar de presente aquela imitação de um Monet que vi na sala?
- Não é imitação, é um Monet verdadeiro.
Jamais poderei tirar aquele quadro da sala.
- Ah, pode sim.
Basta mandar pintar um igual, colocar no lugar e me ceder o verdadeiro.
- Não acredito que você esteja me chantageando depois de tanto tempo.
Já não tem tudo o que quer morando com sua filha?
- Tenho tudo, mas preciso de um capital para abrir meu comércio.
- Que comércio?
- Você sabe qual.
Quero voltar aos velhos tempos.
E com um Monet desses...
- Você sabe que é impossível vender um quadro desses.
Há um registo, tem todo um processo.
Você seria presa por roubo.
As sobrancelhas arqueadas e finas de Zelí ficaram ainda mais suspensas e seus olhos estrategicamente mais miúdos quando ela disse:
- Então, o jeito será você levantar uma grana e me ajudar a reabrir meu comércio.
Ou isso ou então conto seu segredo.
Vou te dar uma semana para me dar uma resposta positiva. Até lá.
Zelí saiu sorrindo cinicamente e se misturou em meio aos convidados.
Celina, que estava se remoendo de ódio pelo casamento de Renato, vivia os horrores do medo.
Por que Zelí resolvera aparecer logo naquele momento?
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Capítulo 37
Quando finalmente os primeiros convidados começaram a sair, Renato e Helena deram as mãos e resolveram ir para o quarto.
Ela estava tão feliz que não mais se recordava do episódio com Fábio, acontecido horas antes.
Mas, assim que entraram no quarto e acenderam as luzes, tanto Helena quanto Renato assustaram-se ao ver Fábio, sentado numa poltrona ao lado da cama, deixando que lágrimas sentidas escorressem pelo seu rosto.
Naquele momento Helena percebeu que não mais poderia ocultar a verdade do marido.
- Filho, o que faz aqui?
O que aconteceu para estar chorando desse jeito? - indagou Renato, assustado.
Fábio não era dado a choros.
Algo muito grave acontecera.
Fábio levantou-se, mirou os olhos do pai e disparou:
- Mentiroso!
Mil vezes mentiroso!
Eu o odeio!
Renato empalideceu:
- O que está acontecendo, Fábio?
Por que essa agressão comigo?
- O senhor é cínico, vil, mentiroso.
Enganou a mim e a meus irmãos a vida inteira.
Como pôde fazer isso, pai?
Nunca teve pena de nós?
Helena estava pálida:
- Calma, Fábio, deixe seu pai explicar.
Tudo teve uma boa razão para acontecer.
- Boa razão?
Que boa razão pode existir para um pai mentir a seus filhos a vida inteira dizendo que a mãe deles está morta, enquanto ela está mais viva do que nunca?
Que motivos podem haver para um pai colocar uma pintura de uma mulher estranha na sala e nos fazer venerá-la?
Nenhum! Por isso o odeio.
Renato, completamente perdido e sem saber o que dizer, olhou para Helena e indagou:
- Como ele soube disso?
Quem falou a verdade para Fábio?
- Foi Leonora.
- Leonora? Mas ela não tinha esse direito.
Não a quero mais aqui, mande-a embora.
- Não seja injusto com Leonora, você não sabe o que aconteceu aqui minutos antes de nosso casamento.
- Então trate de me contar.
Helena contou tudo.
Falou da paixão de Fábio por ela, do jeito que ele estava desequilibrado e da tragédia que ocorreria caso Leonora não contasse a verdade.
Estarrecido, Renato sentou-se na cama e colocou as mãos na cabeça.
Antes que ele dissesse algo, Fábio bradou:
- Nem adianta vir com sermão para cima de mim.
Se ela não fosse minha mãe, eu iria conquistá-la e roubá-la do senhor.
E quem é o senhor para me dar sermão?
Mentiu a vida inteira, não tem moral.
Aliás, todos nesta casa mentem.
Ninguém aqui tem moral.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 03, 2018 9:14 pm

- Cale-se, Fábio, você não sabe os motivos que nos levaram a fazer isso.
- Quais? Pode ir dizendo.
Não saio deste quarto enquanto não souber toda a verdade e, a depender do que for, chamo meus irmãos agora mesmo e revelo tudo.
Renato levantou-se calmo e, abraçando o filho com carinho, trouxe-o para junto de si.
Ambos sentaram-se na cama e Helena fez o mesmo.
Renato, acariciando os cabelos do filho, começou:
- Nós erramos muito em ter feito tudo isso, até esse casamento é errado perante a lei, mas não tivemos outra saída.
Nem você nem seus irmãos sabem o que aconteceu com Helena.
Ela foi condenada e presa sob a acusação de ter matado meu pai, o avô de vocês.
Fábio olhou-o desconfiado:
- Como assim?
O vovô não morreu numa tentativa de assalto a esta casa?
- Isto foi o que dissemos a você e é o que todo mundo na sociedade pensa, mas na época o crime foi muito comentado.
Graças ao nosso dinheiro e influência foi que caiu no esquecimento e vocês puderam viver até agora sem essa sombra de tristeza.
- Mas como tudo aconteceu? - perguntou Fábio, já começando a acreditar no pai, pela veracidade que ele emitia em cada palavra.
Renato contou tudo em detalhes.
Desde quando conhecera Helena no interior, da resistência do senhor Bernardo ao casamento e das constantes brigas que ele tinha com Helena.
Contou sobre o crime e como a mãe deles fora levada para a prisão.
Não se esqueceu de dizer que até ele, Renato, só começou a acreditar na inocência dela quando Vera Lúcia começou a revelar a verdade.
Fábio estava estarrecido:
- Então, tia Vera morreu por causa desse crime?
- Sim, e devemos deixar isso no esquecimento, pois o assassino é perigoso e sua vida corre risco.
- Mas, por que eu?
- Nós nunca soubemos isso, Vera nunca nos contou, não teve tempo.
Fábio percebeu que os pais tinham razão no que fizeram.
Helena fora presa, culpada por um crime que não havia cometido.
Como deveria ter sofrido longe deles todos!
Naquele momento, sentiu-se extremamente culpado pelo que fizera e pelo amor que sentia pela própria mãe.
Sentindo-se sujo, saiu do quarto correndo, batendo a porta com força, e Helena o seguiu.
Viu que entrou no quarto dele e trancou-se.
- Vamos arrombar essa porta, Renato - pediu Helena em desespero.
A verdade foi muito cruel para ele.
Temo que faça alguma besteira.
- Não vamos fazer nada, Fábio é maduro, está triste, angustiado por saber a verdade e pela impossibilidade de amá-la.
Vai chorar muito, sofrer, mas irá entender.
Vamos para o quarto.
As emoções vividas com o filho foram por demais intensas e nenhum dos dois sentiu vontade de se entregar ao outro.
Abraçaram-se com carinho, até que, vencidos pelo cansaço, adormeceram.
Todos ainda dormiam quando Helena e Renato desceram as escadas e entraram no carro que os levaria ao aeroporto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 03, 2018 9:14 pm

Passariam duas semanas em lua de mel na Europa.
Quando o carro ia saindo, Fábio postou-se na frente.
O motorista desligou o motor e Renato e Helena desceram.
Fábio, emocionado, abriu os braços e os pais o abraçaram.
Quando a emoção serenou, ele disse:
- Estou aqui para lhes desejar felicidades.
Sei que merecem.
Mas não é só isso.
Vim para comunicar que também vou viajar, não aguentarei ficar mais nesta casa.
Helena preocupou-se:
- Vai embora para sempre daqui?
- Não, jamais os abandonarei nem os meus irmãos, mas quero ficar uns bons anos longe.
Vou para o Canadá terminar lá meus estudos.
Quando voltarem já não estarei mais aqui.
- Por favor, filho, não faça isso connosco - pediu Renato com lágrimas nos olhos.
- É a única forma que encontrei para esquecer esse louco amor que sinto por minha própria mãe e tentar administrar a verdade que acabei por saber.
Se eu continuar aqui, enlouquecerei.
- Então vá, filho, seja feliz!
Eles se abraçaram mais uma vez e o carro finalmente partiu.
Olhando mais uma vez para trás e vendo o filho a lhes acenar, Helena sentiu grande dor invadir seu coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 03, 2018 9:14 pm

Capítulo 38
A tarde ia a meio quando Leonora passou pelo corredor e ouviu que alguém chorava sentidamente dentro de um dos quartos.
Sentiu vontade de ajudar aquela pessoa e bateu na porta.
A voz ríspida de Celina se fez ouvir:
- O que quer?
Não desejo ver ninguém.
- Aqui é Leonora.
Gostaria de falar com a senhora!
- Não quero falar com ninguém, muito menos com uma empregadinha de quinta feito você.
Uma grande força envolveu Leonora que disse:
- A senhora está sofrendo muito, gostaria de lhe dar um abraço.
Pelo menos um abraço a senhora aceita?
O tom amoroso e as energias de bondade verdadeiras que Leonora imprimiu àquelas palavras fizeram com que o coração duro de Celina fosse tomado de grande emoção.
Sentiu que finalmente uma pessoa se interessava por ela verdadeiramente.
Abriu a porta e quando Leonora entrou abraçou-a soluçando.
Leonora a levou para a cama, fez com se sentasse e a abraçou, acariciando seus cabelos:
- Chore, dona Celina.
O choro faz bem à alma, pois pode limpar as energias negativas que estão acumuladas em nossa aura e nos alivia o coração amargurado.
Celina chorou mais e aos poucos, sentindo o abraço terno da nova amiga, começou a ficar mais calma:
- Desculpe-me a fraqueza.
Não queria chorar assim na sua frente.
- Todos nós temos fraquezas.
A senhora é um ser humano como todos os outros, tem direito a chorar, se lamentar, sentir raiva, amar, sentir carinho, enfim, pode e deve sentir tudo que os outros sentem.
Não tenha vergonha de expor seus sentimentos.
Celina a olhou observadora.
Leonora era diferente.
Algo nela a conquistara naquele instante.
- Tem razão, ando muito presa em meus sentimentos.
Esse choro me ajudou muito.
- Não está na hora de mudar e se mostrar como verdadeiramente é?
- Não posso fazer isso.
Você não me conhece, não sabe o monstro que sou.
- A senhora pode ter seus erros, mas tem o lado bom que é muito maior e cobre tudo.
- Você é ingénua.
Não me conhece, por isso diz essas coisas.
- Posso não conhecê-la, posso não saber sua história de vida, mas sou muito observadora e, desde que cheguei aqui, notei que a senhora faz o papel da durona, da pessoa forte, da moralista, mas no fundo é uma mulher muito sensível, amorosa, cheia de sentimentos bons para distribuir.
Por que não se permite ser como é?
Novamente, as lágrimas voltaram a cair no rosto de Celina, mas dessa vez eram de emoção:
- Tenho medo de demonstrar meu amor e prejudicar as pessoas.
- O amor jamais prejudicou ninguém.
Ao contrário, o amor é a fonte de todas as boas coisas da vida, só ele é capaz de unir e harmonizar as criaturas.
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- Mas minha forma de amor destrói, atormenta.
- Então, não é amor, mas paixão.
Essa sim, amarga e faz sofrer.
Celina calou-se.
Uma vontade imensa e praticamente incontrolável de se abrir com Leonora e contar todo o drama de sua vida surgiu e ela deu vazão:
- Leonora, não sei por que, mas sinto que posso confiar em você mais do que em qualquer outra pessoa neste mundo.
Não aguento mais sofrer pelo que fiz no passado.
Amargo essa culpa dia e noite, me tornei uma mulher amarga e cruel para fugir do que fiz.
Preciso desabafar isso com alguém, ou então vou enlouquecer.
Você precisa me ouvir e, pelo amor de Deus, não me condene.
Leonora pegou em suas mãos trémulas e frias e não disse nada, mas seus olhos passavam profunda compreensão.
Confiante, Celina começou:
- Eu amo meu sobrinho Renato.
Amo não, sou loucamente apaixonada por ele.
Como Leonora não esboçou nenhuma reacção como quem a condenasse, ela prosseguiu:
- Esse sentimento estranho toma conta de mim, desde que... desde que... desde que ele ficou adolescente.
Como pode, meu Deus?!
Eu vi esse menino nascer, fui uma das primeiras a pegá-lo no colo quando saiu da maternidade.
Mas ele foi crescendo e quando ficou rapazinho eu descobri que o amava.
Esse amor foi me deixando louca e dia após dia pensava nele com insistência.
Sabia que estava cometendo um pecado, mas não conseguia deixar de desejá-lo.
Eu era nova na época, poderia ter me casado, mas não, preferi viver essa paixão insana e platónica.
Para mim, vê-lo todos os dias era a maior felicidade, mas chegou um momento em que aquilo só não bastava.
Ter só sua amizade e o carinho de sobrinho para mim era um tormento.
Foi quando comecei a ter a ideia de seduzi-lo.
- Renato estava com catorze anos e não tinha maturidade quando, numa noite, o trouxe para meu quarto e o seduzi.
Ameacei-o para que não contasse a ninguém e ele, todas as noites, fazia o que eu queria.
Notava que ele odiava tudo aquilo, mas minha paixão era maior.
Foi quando Vera Lúcia descobriu e me ameaçou.
Foi dura comigo, recriminou-me e prometeu contar tudo a Bernardo, caso eu continuasse com aquilo.
Tive que parar porque Vera começou a fazer uma vigilância grande e nunca mais pude ter contacto com ele.
Depois desses acontecimentos, Renato ficou fechado, isolava-se com frequência, até que disse ao pai que precisava de um psicanalista, pois estava em dúvida sobre sua vocação.
Eu sabia que não era isso que o torturava, mas o facto de ter sido violentado por mim, sua tia.
A terapia fez efeito e logo Renato voltou a sorrir, a sair com os amigos, mas a cada namorada que ele trazia para casa eu entrava em depressão, ficava dias sem comer, só voltando a ficar bem quando o namoro acabava.
Foi quando ele conheceu Helena em Sorocaba e o namoro foi firme, culminando no casamento.
Desde sempre a odiei por tê-lo roubado de mim.
Em minha ilusão, Renato me pertencia e nenhuma mulher poderia ficar com ele.
Odeio Helena até hoje, pois pela segunda vez ela o tirou de mim.
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Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro - Página 6 Empty Re: Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:37 pm

Fez pequena pausa e prosseguiu:
- Contudo, por mais que eu odeie Helena, não matei meu irmão para culpá-la.
Posso ser uma pervertida sexual, posso ter cometido incesto, mas jamais teria coragem de tirar a vida de um ser humano.
Por favor, não me julgue e acredite em mim!
Eu não sou assassina!
Leonora abraçou-a novamente, depois fixou seus olhos de bondade nos dela, dizendo:
- Não tenho como julgar a senhora.
Aliás, ninguém pode, só a senhora mesma.
- Mas o incesto é pecado, a pedofilia é crime, é pecado.
- O incesto em alguns casos não é errado.
O que é o incesto?
São relações amorosas e sexuais com parentes.
Mas dois primos podem se casar normalmente e ninguém acha errado, e realmente não é.
- Mas no meu caso sou tia e ele sobrinho.
- Uma relação como esta já é mais complexa, os laços de sangue são mais profundos.
Nesse caso não é correto, nem no caso de irmãos que se relacionam ou pais com filhos.
- Sei que você segue o Espiritismo.
Como essa doutrina vê o incesto?
- O Espiritismo ensina que os laços de sangue não são sempre laços espirituais.
Podemos ver constantemente irmãos do mesmo sangue que se odeiam, enquanto que amigos de famílias diferentes se amam muito mais do que muitos irmãos de sangue.
Vemos constantemente pais e mães que não sentem amor por seus filhos de sangue, mas amam profundamente outras crianças com quem não têm nenhum parentesco.
Isso mostra que os verdadeiros laços são os do espírito.
Conheci uma mulher que teve uma criança e adoptou outra.
Ela não conseguia amar de forma alguma aquela que tinha saído de seu ventre, sentia aversão, viviam brigando, já a adoptiva ela amava mais que tudo.
O que realmente importa são os laços espirituais.
- Mas então não é errado eu me relacionar com Renato, pois se o que vale são os laços do espírito, não tenho nenhum com ele no sentido de ser sua tia.
Amo-o como homem.
- Deixe-me explicar melhor.
Embora o que realmente conte sejam os laços espirituais, os laços de sangue revelam que as pessoas que estão numa mesma família se atraíram mutuamente por necessidade de reajuste e, por isso, devem respeitar a posição em que nasceram.
Se Renato nasceu como seu sobrinho é para que se amem, nesta vida, de maneira fraterna e não de maneira carnal.
O mesmo ocorre com irmãos de sangue.
Se nasceram com esse grau de parentesco é para que se amem com sentimento fraterno, sublimem antigas paixões e vençam imperfeições.
Mais grave ainda são os laços da paternidade e maternidade que muitos desrespeitam.
Um pai e uma mãe nascem para amar com sublimidade seus filhos de sangue.
Qualquer envolvimento no sentido sexual revela uma infracção grave e condenável às leis divinas e, um dia, os envolvidos terão que pagar por esse erro através da dor e do sofrimento.
Já os primos não têm essa obrigação moral, pois os laços sanguíneos são mais distantes e geralmente não revelam compromissos negativos de vidas passadas.
- Você quer dizer que vou sofrer muito pelo que fiz com Renato?
- A senhora já está sofrendo.
Existe dor maior do que a de uma consciência culpada?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:37 pm

- E quando vai acabar esse tormento?
- Quando a senhora aprender a sublimar esse sentimento, quando a antiga paixão deixar de existir e no lugar ficar só o amor sublime e incondicional.
- Acho impossível!
Como posso fazer isso?
- Talvez a senhora não consiga totalmente nesta encarnação, mas pode dar um grande passo, e o primeiro deles é deixar de odiar Helena e tornar-se sua amiga.
Celina sentiu o coração acelerar:
- É impossível, eu a odeio!
- A senhora já parou para pensar que esse ódio seja fruto de uma ilusão?
- Como assim? Ele é muito real.
- A senhora está iludida pela posse.
Acha que é dona do Renato, mas só é dona de si mesma.
Mesmo que ele não fosse seu sobrinho, é Helena que ele ama e nunca ficaria com outra mulher.
Não está na hora de aceitar isso e ser feliz?
A ilusão da posse cega e faz sofrer; acabar com esse sofrimento só depende de nós.
- Jamais irei aceitar nada!
- Então, continuará sofrendo.
Todos os sofrimentos da vida só terminam quando as pessoas aceitam as coisas como são.
Enquanto resistimos e queremos mudar o que é impossível, continuamos a sofrer.
Isso não é válido apenas para o amor, mas também para as relações familiares, para as grandes perdas, para os graves problemas de saúde, para os problemas de amizade, dentre outros.
Só sofremos enquanto não aceitamos tudo como realmente é.
O dia que chegar a aceitação, com ela virão a felicidade, a paz e a harmonia.
- Suas palavras me tocaram.
Sinto que é verdade o que diz, mas entenda que é extremamente difícil para mim aceitar isso.
- Sei que não é da noite para o dia que a senhora vai conseguir.
Aliás, dificilmente uma mudança ocorre de maneira rápida.
Toda mudança requer tempo, paciência e persistência.
Tenho certeza que, se a senhora quiser, irá conseguir.
Celina não disse mais nada.
Abraçou Leonora mais uma vez, agradecendo-a em prantos.
Naquela tarde, Celina encontrara mais do que a chave para se livrar de seus problemas íntimos, mas uma grande e verdadeira amiga, talvez a primeira em tantos anos de vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:38 pm

Capítulo 39
Os dias foram passando depressa, e a amizade entre Leonora e Celina foi se consolidando cada vez mais, para espanto de Berenice e dos sobrinhos.
Celina parecia não se importar e vivia conversando com ela pelos jardins, dentro do quarto ou no jardim de inverno.
Notava-se grande melhora em seu humor, em seu estado de espírito, e todos concordavam que aquela estranha amizade havia lhe feito muito bem.
Leonora havia cativado todos na casa com sua conversa alegre, espirituosa, cheia de optimismo e de visão clara sobre o futuro.
Humberto também passara a conversar com a moça e aos poucos, foi abrindo sua vida íntima, contando-lhe suas particularidades, tornando-se também grande amigo.
Cinco dias após a viagem de lua de mel dos pais, Fábio surpreendeu a todos dizendo que viajaria para o exterior sem data para retornar.
Trancou o curso na faculdade e seguiu para o Canadá, mesmo sob protestos dos irmãos e de Celina, que não podia se conformar com aquilo.
Faltavam poucos dias para o regresso de Renato e Helena, quando Berenice resolveu, ela mesma, fazer uma arrumação melhor nos quartos da casa.
Entrou no quarto que fora de Vera Lúcia e viu que estava limpo, bem arrumado.
Ninguém entrava ali e praticamente não havia o que mexer.
Foi quando, sem saber por que, sua atenção foi voltada para o guarda-roupa.
Pensou que poderia fazer uma boa faxina ali, separar algumas roupas velhas para doação e também alguns objectos que Vera nem fazia questão de usar.
Quando abriu as portas principais, vendo as roupas daquela que fora uma criatura tão bondosa, que era a alma daquela casa, Berenice chorou.
Sentiu saudades de Vera e, abraçada a uma de suas blusas preferidas, orou pela sua alma.
Ela não percebeu, mas o espírito Bernardo estava ali, fazendo um esforço grande para falar com ela.
Berenice não tinha mediunidade desenvolvida, mas, como todos os encarnados, podia captar os pensamentos dos espíritos por telepatia.
Sabendo disso, Bernardo aproximou-se dela e disse:
- O fundo falso da última gaveta. Olhe lá!
Berenice enxugou as lágrimas, pôs a blusa no lugar e pensou em examinar as gavetas.
Foi olhando uma por uma e encontrando velhos álbuns de fotografias, agendas com quase nada escrito, livros que Vera costumava ler para passar o tempo, até que chegou à última gaveta.
Quando abriu percebeu que estava vazia e estranhou:
- Por que dona Vera não guardou nada aqui?
Com tanta coisa nesse guarda-roupas precisando de lugar, por que aqui está vazio?
O espírito Bernardo prosseguia dizendo em seus ouvidos:
- Nesta gaveta há um fundo falso, abra!
Berenice ia fechando a gaveta quando, de repente, sentiu vontade de examiná-la melhor.
Como não viu nada fechou-a de vez, mas estranho barulho, como se algo tivesse caído dentro dela fez com que a abrisse novamente.
Tomou um susto quando viu que o fundo da gaveta se descolara e caíra, deixando um espaço aberto que dava no piso.
Curiosa, Berenice olhou com mais atenção e viu um envelope branco.
Quase não conseguia vê-lo, pois o piso, igualmente branco, camuflava bem o papel.
Pegou o envelope e sentou-se na cama.
De repente, uma onda de medo a invadiu.
Sentiu, não sabia por que, que ali dentro havia uma coisa importante e talvez fosse melhor ela não abrir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:38 pm

Bernardo soprou-lhe aos ouvidos com toda a força que possuía na alma:
- Abra, Berenice, pelo amor que você tem ao seu filho, abra este envelope e leia seu conteúdo.
Berenice captou os pensamentos de Bernardo e tomada de coragem abriu o envelope.
Dentro havia uma carta cujas letras não deixavam dúvidas de que haviam sido escritas por Vera Lúcia.
Coração aos saltos, Berenice começou a ler.
À medida que lia seu coração disparava cada vez mais e ela foi ficando pálida, depois vermelha, parecendo que iria desmaiar.
Quando leu todo o conteúdo, chorou muito, tanto que acabou se ajoelhando no chão, suplicando:
- Deus! Me ajude!
Diga-me o que fazer com esta carta.
Bernardo, igualmente emocionado, disse-lhe:
- Entregue a Renato assim que ele chegar.
Todos precisam logo saber a verdade.
Berenice, mesmo no desespero que sentia, pensou que só poderia entregar a uma única pessoa: Renato.
Colocou a carta no bolso do uniforme e abriu a janela para respirar um pouco do ar fresco do jardim.
Pensou com tristeza:
- Essa carta pode libertar essa família ou pode acabar com ela de vez!
Bernardo deixou o quarto onde Berenice continuava se refazendo para descer, fingindo estar tudo bem.
O dia havia terminado quando Ricardo chegou a casa.
Encontrou Andressa lendo e se emocionou.
Sua futura mulher estava linda grávida e ele se sentia muito feliz por estar vivendo a seu lado e muito bem.
Ambos optaram por viver juntos na mansão antes mesmo de se casarem.
Aquela atitude havia despertado a inveja e a fofoca por parte de certas colegas de faculdade de Andressa e das pessoas da sociedade, mas ela não se importou.
Ricardo, por sua vez, havia comprado um galpão com a ajuda de Renato e estava se dando bem com os novos clientes que conseguira.
Ele chegava a casa todo sujo de graxa, mas muito feliz e realizado pelo que fazia.
- Como vai minha linda mulher? - perguntou enquanto subia as escadas.
- Estou melhor agora, vendo o grande amor de minha vida.
Não vem me dar um beijo?
Ele sorriu:
- Como posso beijá-la assim, sujo desse jeito?
Você sempre insiste em algo que não gosto.
- Mas eu gosto muito e não me importo com sua sujeirinha de graxa.
Ambos riram e ele encostou os lábios na face de Andressa beijando a distância.
- Vou ficar limpo e já volto!
Jogou um beijo com as pontas dos dedos e subiu.
Berenice observava tudo e disse:
- O amor de vocês é lindo!
Até hoje, quando a vejo grávida e casada com Ricardo não acredito.
Não parece a mesma pessoa.
- Eu sou esta pessoa aqui.
Aquela que você conhecia morreu naquele dia fatídico.
- Desculpe, não gostaria de tocar em algo que a machuca tanto.
- Já não machuca tanto assim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:38 pm

Tenho conversado com Leonora e ela tem me ensinado muitas coisas.
Uma delas é que, talvez se eu não tivesse passado por tudo isso, não teria voltado à minha verdadeira essência e estaria hoje muito infeliz.
Nesse ponto foi bom o que me aconteceu.
Berenice abriu a boca abismada:
- Você hoje acha bom o que lhe aconteceu?
- Bom mesmo não foi.
Ser invadida em sua intimidade, violada por uma pessoa que você não ama não é nada bom para uma mulher, mas olhando com os olhos da verdade, com os olhos da alma, sei que Deus só permitiu que aquilo acontecesse para que eu mudasse para melhor.
E veja, hoje amo meu filho e estou vivendo ao lado do homem que amo.
Quer coisa melhor?
Perto disso, tudo o que passei é coisa pequena.
Berenice emocionou-se.
A menina que vira nascer, crescer, se tornar uma mocinha, agora estava realmente madura, capaz de compreender a vida e as coisas ao seu redor.
Ficou imaginando o que diria se soubesse o conteúdo da carta de Vera Lúcia.
Aquela família já havia sofrido tanto, seria justo sofrer mais uma vez?
- Berenice! No que está pensando? - perguntou Andressa, vendo que ela viajava nos pensamentos.
- Nada de interessante, coisas minhas.
A propósito, vou sair.
Já deixei tudo pronto para o jantar e a casa está toda em ordem.
Logo Osvaldo chegará com as compras de supermercado e Jacira vai arrumar tudo e servir vocês quando a janta ficar pronta.
Só naquele momento Andressa notou que Berenice estava mais arrumada, sem o costumeiro uniforme.
Ela não costumava sair para demorar tanto.
Curiosa, perguntou:
- Posso saber aonde você vai?
- Vou à casa de meu filho Duílio.
Tenho um assunto sério a tratar com ele e por isso não tenho hora para voltar.
- Você está tensa, preocupada.
Algum problema sério?
- Nada que a possa preocupar, são coisas minhas.
- Mas você é como se fosse uma mãe para nós, como não quer que me preocupe?
Por acaso está doente?
- Não, não é nada disso.
Fique tranquila, minha querida - aproximou-se de Andressa, beijou-a e foi até o motorista da família que se encontrava sentado num dos bancos do jardim.
Pediu que tirasse o carro e a levasse à casa do filho.
- Não precisa me esperar.
Assim que terminar de conversar, ele me trará de volta.
Berenice era considerada da família e usava o carro como qualquer pessoa da casa.
Estava imaginando ter que ir à casa do filho e se deparar com a figura desagradável de Zelí, sua sogra, mas era o jeito.
Chegou ao prédio, subiu no elevador e frente a frente com a porta do apartamento de Duílio, suspirou forte e pediu mais uma vez força a Deus.
Pensou muito e decidiu dividir aquele tenebroso segredo com o filho.
Ele amava também aquela família e iria ajudá-la a tomar a melhor decisão.
Não estava certa se deveria mostrar a carta a Renato.
Preferia mesmo dar um fim a ela e que ninguém nunca ficasse sabendo de nada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:38 pm

Tocou a campainha e Zelí, vestida num robe cor-de-rosa, atendeu:
- Ora, ora, quem não morreu um dia aparece.
O que a fez sair daquele castelo para vir até essa arapuca?
Posso saber?
- Poupe-me do seu cinismo, Zelí.
Onde está meu filho?
- Duílio ainda não chegou da empresa e Pamela está na academia.
Queira sentar.
Berenice entrou e sentou.
Zelí se aproximou, sentou-se na poltrona ao lado, cruzou as pernas e disse:
- Qual é o problema, hein?
É seu velho que está doente?
- Não estou com problema algum e meu marido não é velho.
- Achei-o bem “acabadinho” quando o vi na festa.
Estava pálido, será que está com anemia?
Berenice irritou-se:
- Não me faça perder a paciência, Maria José!
Dessa vez foi Zelí que se irritou:
- Não me chame desse nome horroroso!
- Ah, prefere que eu a chame de Madame Zelí, não é?
Zelí corou:
- Não quero que me chame de nada.
É o que dá ser educada e tratar bem as pessoas.
Só queria saber o que a trouxe aqui.
Faz quatro anos que moro com minha filha e você só veio aqui duas vezes.
Suponho que, para estar aqui a uma hora dessas e com essa cara de múmia, algo muito grave deve ter acontecido.
- Saudades de meu filho... - disse Berenice tentando pôr fim àquela conversa desagradável.
- Não vem com essa.
Duílio anda todos os dias naquela mansão.
Já até falei para a Pamela ir morar com ele lá, mas não querem, dizem que desejam manter a privacidade.
Ah tá, tem espíritos de pobres, isso sim.
Berenice ia retrucar quando, para seu alívio, Duílio chegou.
Assustou-se:
- Mãe, a senhora aqui a essa hora?
O que houve?
- Preciso muito falar com você, em particular - disse virando-se para Zelí.
Como Zelí não moveu um músculo e continuava olhando para eles cinicamente, Duílio bradou:
- Não ouviu?
A conversa é particular.
Faça o favor de sair, Zelí.
Ela se levantou e sacudiu os ombros:
- Que gente mal-educada!
Quando ela sumiu pelo corredor, Berenice fez com que Duílio sentasse a seu lado e pegou em suas mãos nervosamente:
- Fiz uma descoberta que pode pôr fim à família do Renato.
Duílio assustou-se, sua mãe não era dada a brincadeiras:
- O que foi?
- Resolvi arrumar o quarto de Vera Lúcia hoje e encontrei uma carta deixada por ela no fundo falso de uma gaveta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:38 pm

Não sei por que fui inventar de fazer essa arrumação, o que descobri nesta carta era para ficar escondido para sempre.
- Mas é tão grave assim?
- Sim, muito grave.
Nela Vera Lúcia faz muitas revelações sobre a família e revela o principal:
quem foi o assassino do doutor Bernardo.
Duílio empalideceu:
- Passe-me esta carta, preciso ler.
- Trouxe-a para que você leia e me ajude no que fazer.
Quero entregar a Renato, mas temo o que possa acontecer depois que ele descobrir quem foi o assassino de seu pai.
Duílio pegou a carta das mãos da mãe e começou a ler.
Sua reacção não foi tão diferente à reacção de Berenice.
Seu rosto foi ficando pálido e em seguida vermelho.
Após ter lido a carta, jogou-se no sofá afrouxando a gravata e abrindo os botões da camisa desesperadamente.
- Isso é muito grave.
Não estou certo se Renato ou alguém daquela família deve saber.
É cruel demais tudo o que está escrito aqui.
Fui criado naquela casa, amo todos eles como se fossem minha real família.
Será justo estragar para sempre a felicidade daqueles a quem devemos tanto?
- É isso que não paro de pensar desde o momento que encontrei essa carta.
Acho melhor destruirmos isso.
- Ainda não.
Deixe-a comigo, vou pensar melhor e verei o que fazer.
- Só não demore muito, Duílio, pois estou desorientada e sei que só voltarei a ficar em paz quando resolvermos isso.
- Não se preocupe, mãe, encontrarei a melhor solução.
Berenice, mais calma, pediu que Duílio a levasse de volta para casa.
Ele foi até o quarto, colocou a carta dentro da gaveta de um dos criados-mudos e desceu com a mãe para a garagem.
O que ele não imaginava é que Zelí havia escutado parte da conversa, o suficiente para entender tudo, e vira claramente quando o genro entrara para o quarto a fim de guardar a carta.
Era sua chance.
Um segredo daquele em suas mãos lhe renderia o dinheiro suficiente para ir embora e finalmente abrir o comércio dos seus sonhos.
Não foi difícil para Zelí encontrar a carta na gaveta do criado-mudo.
Correu para seu quarto, fez as malas e desceu rapidamente.
Suspirou aliviada por não ter encontrado Pamela voltando da academia.
Rapidamente, tomou um táxi e deu o endereço de um hotel no subúrbio.
Naquele lugar ermo e com sua peruca chanel loira, ninguém jamais a reconheceria.
Sorriu feliz quando o táxi deu partida, já antegozando o momento de sua vitória.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:39 pm

Capítulo 40
Duílio chegou rápido e quando entrou no quarto deparou-se com Pamela que acabava de sair do banho.
Foi até o criado-mudo e deu um grito quando não encontrou a carta lá.
Pamela assustou-se:
- O que houve? Sente-se mal?
Ele pareceu não ouvir e saiu do quarto correndo e gritando:
- Maldita Zelí, onde está você, sua pilantra?
Duílio abriu a porta do quarto da sogra e ela não estava lá.
Empalideceu ainda mais quando viu todas as portas do guarda-roupa abertas, certificando-se que ele estava vazio.
Olhou para o grande espelho da penteadeira e leu a seguinte frase escrita por Zelí com batom vermelho:
“Até qualquer dia, baby.”
A reacção de Duílio foi pegar o primeiro objecto que encontrou e jogar contra o espelho que se estilhaçou.
Depois, sentou-se na cama e colocou as mãos no rosto.
Assustada com tudo aquilo e sem entender, Pamela perguntou:
- O que aconteceu aqui?
- A desqualificada da sua mãe acabou de aprontar uma comigo.
Será que não dá para perceber?
- Não chame mamãe assim, sabe que não gosto.
- Desculpe, Pamela, mas sua mãe é uma vigarista da pior espécie.
Ela acabou de se apoderar de uma carta que poderá pôr fim à família do Renato.
Meu Deus! Onde estava com a cabeça quando deixei essa carta aqui?
Ele sacudia a cabeça desesperado.
Pamela continuava sem entender:
- Mas o que tem nessa carta, o que aconteceu?
Duílio falou acerca de algumas coisas e finalizou:
- Com certeza sua mãe pegou a carta, leu e fará chantagem com Renato em troca das informações ali contidas.
Vendo a gravidade da situação, Pamela concordou:
- Desta vez mamãe foi longe demais.
Aguentei o quanto pude, mas não quero mais saber dela.
- Você tem alguma ideia de onde ela poderá ter ido?
- Nenhuma. Mamãe conhece muita gente, é muito experiente e vivida, jamais ficará em um lugar onde a encontrem facilmente.
O único jeito é esperar que ela ligue e comece a fazer contacto.
- Meu Deus! Que pesadelo!
Nem sei como dizer isso à minha mãe.
Ela ficará desesperada.
Se Renato não ceder à chantagem é provável que Zelí conte tudo a todos da maneira mais cruel.
- Você não me contou o conteúdo da carta.
- Só disse o que você pode saber.
Na carta, Vera conta muita coisa sobre a família e revela o verdadeiro assassino do irmão.
- Mas isso só vai ajudar a todos.
Saber a verdade sempre é melhor.
- A verdade exposta por Vera não é uma verdade qualquer, é uma verdade muito cruel.
Não sei se essa família merece saber isso.
Pámela calou-se, não sabia o que o marido tinha lido, desconhecia totalmente o que Vera havia escrito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:39 pm

Duílio sempre fora um homem ponderado, se estava com tanto pavor era porque a situação devia ser realmente assustadora.
Limitou-se a se sentar a seu lado e a lhe fazer carinho nos cabelos.
Aos poucos, Duílio foi se acalmando e, por fim, resolveu tomar um banho.
Decidiu que no dia seguinte contaria a Berenice o que havia acontecido.
No outro dia, pela manhã, Berenice foi receber o filho em seu quarto:
- E então? Decidiu o que fazer?
- Se prepare, mãe, aconteceu um desastre.
- O que foi?
Não me deixe mais assustada.
Duílio contou o que havia acontecido e Berenice, trémula, tornou:
- O que será de nós agora?
- Agora estamos nas mãos de Zelí, mas não adianta mais.
Parece que a vida quer que essa família saiba a verdade, porque se Renato ceder à chantagem que com certeza ela fará, acabará lendo a carta e se não ceder, Zelí fará questão de revelar tudo o que sabe da maneira mais cruel possível.
Berenice abraçou o filho chorando:
- Meu Deus, que desgraça!
Amanhã Helena e Renato chegam da lua de mel.
- A senhora deve fingir que está bem.
Não pode deixar que eles percebam algo.
- Está difícil.
- Mas a senhora tem que conseguir.
Deixe que Zelí entre em contacto.
Daí a senhora fala a verdade.
Berenice percebia que o filho tinha razão.
Se ela ficasse desequilibrada daquela maneira não teria como segurar a verdade.
Abraçou o filho mais uma vez e o acompanhou até o carro, depois voltou ao quarto, dessa vez em busca de um calmante.
Mais tarde Renato ligou e ela atendeu:
- Como estão vocês?
- Mais felizes do que nunca.
- Como estão todos? E as crianças?
- Estão todos bem.
A voz de Berenice estava pausada, bem diferente da sua forma naturalmente enérgica de falar, e Renato percebeu:
- O que está havendo, Berenice?
Você está diferente.
Não me esconda nada.
Aconteceu algo com as crianças?
Ela reagiu rápido:
- Estou indisposta, parece que vou resfriar, mas está tudo bem aqui.
O senhor sabe que eu jamais mentiria.
- Sei sim, confio muito em você.
Estou ligando para pedir que você organize uma festa linda aí para amanhã à noite, quando chegaremos de nossa lua de mel.
Helena está tão feliz que resolveu comemorar.
Queremos uma festa bonita, cheia de gente.
Você sabe quem convidar, basta procurar os números na agenda telefónica e ligar.
Berenice não sabia muito organizar festas, já que elas quase nunca fizeram parte do cotidiano daquela família.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:39 pm

- Não sei se irei conseguir, senhor Renato, não sei preparar uma festa.
- Não é preciso tanto trabalho, peça ajuda de Andressa e Humberto, eles a ajudarão em tudo.
- Tudo bem. Fico muito feliz por vocês!
Estava já com saudades!
- Mataremos todas as nossas saudades amanhã à noite.
Renato desligou o telefone, e Berenice suspirou pensando:
“Festa... Se eles soubessem o que sei teriam motivos para chorar e não festejar.
Coitados! Parece que essa família tem uma maldição”.
- Foi papai quem ligou? - perguntou Andressa, aproximando-se.
- Sim, ele quer que organizemos uma festa para a chegada dele e de Laura amanhã à noite.
Estão muito felizes e querem comemorar com a casa cheia.
- Que bom!
Vamos começar a organizar tudo, então! Eles merecem.
O entusiasmo de Andressa fez com que Berenice parasse de pensar um pouco no problema e chamasse Humberto para organizarem a comemoração.
A noite estava linda e a festa deslumbrante quando Helena e Renato chegaram.
Foram cumprimentados pelos presentes, e Renato fez pequeno discurso de agradecimento, contando resumidamente como tinha sido a viagem de lua de mel.
Helena estava linda como sempre e muito feliz por retornar ao lar e estar junto de Andressa e Humberto.
Até aquele momento Zelí não havia feito contacto, o que aumentava o nervosismo e a preocupação de Berenice e Duílio.
Ninguém sabia o que aquela mulher seria capaz de fazer.
Berenice estava andando por entre os convidados na grande sala de estar quando divisou Zelí no meio deles, saboreando uma taça de champanhe.
Ela abriu mais os olhos para ver se não estava tendo uma alucinação.
Mas era mesmo Zelí que estava ali, vestida num costume preto brilhante, olhando cinicamente para tudo e todos.
Ela sentiu o coração disparar e foi ter com Zelí imediatamente:
- O que você está fazendo aqui?
- Vim dar as boas-vindas ao casal.
O que mais poderia ser? - respondeu Zelí arqueando ainda mais as sobrancelhas finas.
- Deixe de ser cínica.
Você veio aqui para perturbar a nossa paz.
Vá embora agora ou chamo os seguranças para que a tirem à força.
- Faça isso se for mulher!
Se tiver essa coragem tiro o chapéu para você.
- É isso que farei agora.
- Vá e verá todo o segredo desta família ser revelado aqui mesmo, nesta grande sala - Zelí passeou os olhos pelo ambiente e com zombaria prosseguiu:
Será mesmo que você tem coragem?
Berenice viu que não podia fazer nada:
- Pelo amor de Deus, Zelí, entregue-nos a carta.
Eu e Duílio pagamos quanto você quiser.
- O dinheiro que eu quero uma empregada doméstica e um assalariado não têm.
Desistam. Quer saber realmente o que vim fazer aqui?
Vim conversar com Helena e pedir o que preciso para assegurar minha vida até o último dos meus dias, que aliás, está muito longe de chegar.
Berenice corou:
- Você disse Helena?
O nome da mulher de Renato é Laura!
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Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro - Página 6 Empty Re: Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:39 pm

- Ela pode enganar a todos, mas eu a conheço muito bem.
Conheço pessoas dessa família há muito tempo, tempo suficiente para não esquecer o rosto de uma bela mulher como Helena, nem o crime que aconteceu.
Além do mais, mesmo que eu nada soubesse, a carta é reveladora, esqueceu?
Berenice lembrou que na carta Vera mencionava também a história de Helena.
Mas não se lembrava de ter visto Zelí frequentando aquela casa ou sendo amiga de alguém da família.
- Você é amiga de quem aqui?
- Daquela ali - apontou para Celina que, andando com Leonora por entre os convidados, não percebeu.
- Amiga de Celina?
Nunca as vi juntas.
- Esse é outro caso que não lhe interessa.
Agora deixe-me em paz.
Saia de perto de mim.
Vendo a rispidez da outra, Berenice não viu outro jeito senão sair e procurar Duílio.
Encontrou-o com Pamela em uma das mesas do jardim.
Sentou-se com eles e disse:
- Preparem-se.
Zelí está aí no meio dos convidados.
Duílio empalideceu.
- Como conseguiu entrar?
- Com certeza se dizendo sua sogra.
Ela já veio aqui no casamento, todos os seguranças a conhecem.
- Preciso falar com ela.
Essa mulher vai me entregar a carta agora.
- Nem se levante.
Conversei com Zelí e ela veio aqui hoje disposta a falar com Helena.
Quer muito dinheiro para entregar a carta.
Disse que só trata do assunto com Helena e se insistirmos fará um escândalo e contará a verdade a todos que estão aqui.
Duílio esmurrou a mesa:
- Mas que peste!
Será que não podemos fazer nada?
- Infelizmente não, ela está com uma bomba nas mãos, não podemos arriscar.
Zelí é capaz de tudo e está com um brilho sinistro no olhar.
Duílio ficou quieto, após alguns instantes disse:
- Tive uma ideia, vou falar com Helena.
- Não! Não faça isso!
Não vá estragar sua festa.
- A festa dela será estragada mais cedo ou mais tarde.
Acalme-se, mãe, sei o que estou fazendo.
Duílio levantou-se deixando a mãe com Pamela que disse:
- Tenho medo do que possa acontecer.
Embora não saiba de quase nada, sinto que algo sinistro pode ser revelado essa noite.
- Não diga isso, pelo amor de Deus.
- Estou sentindo o coração apertado. Vamos orar.
- Orar nesse lugar e com essa música?
- Vamos para o seu quarto na edícula.
Lá nos concentraremos e pediremos ajuda espiritual.
- Não sabia que você tinha se tornado religiosa.
- Conheci a Doutrina Espírita através de uma amiga e estou gostando muito do que tenho estudado.
Aprendi que a prece é fundamental em todos os momentos de nossa vida, principalmente nos de angústia e dor.
Vamos pedir a ajuda de Jesus para que o melhor aconteça.
As duas se retiraram para orar enquanto, naquele mesmo momento, Duílio tinha uma séria conversa com Helena.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:39 pm

Capítulo 41
A orquestra começou a tocar um bolero e os casais foram dançar, entre eles estavam Renato e Helena.
Durante a dança ele perguntou:
- Você parece tensa.
Aconteceu algo?
- Não. Só uma ligeira dor de cabeça.
- Estou notando que não é a mesma de quando chegou à festa.
Quer se retirar?
- Depois da dança quero deitar um pouco em meu quarto, mas você terá que ficar aqui com os convidados.
- Tudo bem.
Mas tem certeza que é só uma dor de cabeça?
- Sim, logo passará.
Quando a música terminou, os casais se dispersaram e Helena foi para o quarto.
Propositalmente, circulou pela sala onde Zelí estava e, andando devagar, vendo que estava sendo seguida por ela, foi subindo a escada.
Logo a voz estridente de Zelí se fez ouvir:
- Senhora Helena?
Posso lhe falar um instante?
Helena fingiu surpresa:
- Como sabe meu verdadeiro nome?
- Sei não apenas seu verdadeiro nome, mas muitas coisas que lhe interessam.
Sou Zelí, sogra de Duílio.
Helena a olhou fingindo temor:
- Vamos conversar em meu quarto, é melhor.
- Já ia sugerir isso.
As duas subiram e já no quarto, Zelí entrou e sentou-se numa cadeira, cruzando as pernas, enquanto Helena estava de pé à sua frente.
- O que você sabe que tanto me interessa?
É assombroso que saiba meu verdadeiro nome.
- Assombroso é o que tenho aqui, dentro desta bolsa.
Zelí mostrou sua bolsa preta de lantejoulas prateadas e concluiu:
- O que tenho aqui vale sua liberdade.
E você terá que pagar por ela.
- Minha liberdade? - Helena fingia não entender.
- Sejamos práticas, querida.
Sei que você não se chama Laura Miller, mas sim Helena, a mulher de Renato que foi acusada, condenada e presa vinte anos atrás pela morte do Dr. Bernardo.
Sei também que pagou inocente por um crime, e o que tenho aqui revela o verdadeiro assassino.
Mesmo já sabendo do que se tratava, pois fora alertada por Duílio, Helena sentiu-se nervosa.
A carta de Vera revelava realmente quem era o criminoso, bem como outras particularidades da família.
Era tudo o que precisava saber para dizer aos filhos que era sua mãe, livre de quaisquer suspeitas.
- Então me passe o que você tem aí.
- É uma carta, escrita por Vera Lúcia, antes de morrer.
Zelí comentou como ficou sabendo de tudo e como se apoderou da carta, finalizando:
- Olha que eu já vi muita coisa nesse mundo, viu?
Fui dona de boate por mais de vinte anos, conheço a vida, mas nunca tinha visto algo como o que li nesta carta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:40 pm

É realmente assombroso.
Não sei se essa família irá se manter de pé depois que souber a verdade.
Eu, se fosse você, me pagaria a carta, leria e depois queimava.
Não contaria nada a ninguém.
O povo dessa família tem estômago fraco, não vai aguentar.
 - É tão grave assim?
 Zelí riu:
 - Estou lhe dizendo que eu, mesmo com tantos anos de vida, não vi nada nem parecido.
Se não tivesse lido e alguém me contasse, diria que isso aqui - retirou a carta da bolsa - é um roteiro de filme de terror.
 - Então me diga o quanto quer por esta carta.
 - Quinhentos mil reais.
 - Mas eu não tenho esse dinheiro aqui.
 - Se vire, minha filha.
Com certeza esta casa tem um cofre onde deve ter essa quantia.
Vai me dizer que não sabe o segredo do cofre?
 - Renato não costuma guardar um dinheiro desses aqui em casa.
 - Então ligue para o gerente de seu banco e peça para ele fazer uma transferência imediata para minha conta agora.
 - Não é assim que se fazem as coisas, Zelí.
Posso lhe dar um cheque.
 - Pensa que está lidando com quem? Só em espécie!
E agora, pois não estou disposta a esperar.
 - Tudo bem, vou ligar para o meu gerente.
Só não sei se ele vai atender a essa hora.
 - Posso ser um pouco velha, mas sou muito ligada.
Se ele não atender, você faz a transferência pela internet.
Deve ter internet nesse mausoléu, não é?
 Zelí estava realmente disposta a conseguir aquele dinheiro.
Talvez fosse melhor pagar e ter a carta do que fazer o que Duílio sugerira.
Mas agora era tarde.
Tinha que fazer o combinado.
 Helena fingiu estar discando um número e, quando viu que Zelí estava distraída, voou para cima dela tomando-lhe a bolsa:
 - Agora a carta é minha e você não vai levar um centavo meu.
 Zelí, muito calma, tirou de dentro do vestido uma arma e apontou para Helena:
 - Estava preparada para tudo.
Ou me entrega a carta ou morre!
 O coração de Helena disparou.
 - Vamos! - insistia Zelí.
Ou faz a transferência ou me entrega a carta.
Ou isso ou morre agora.
 Helena não viu outra forma a não ser gritar:
 - Duílio! Socorro!
 Duílio, que acompanhava tudo do outro lado da porta, entrou e, nervoso, pediu:
 - Baixe essa arma, Zelí, pelo amor de Deus!
Chega de tragédia.
 - Ah, estavam combinados? Muito bonito!
Agora morrerão os dois.
Ou me entrega a carta ou atiro, não tenho nada a perder.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:40 pm

Duílio partiu para cima de Zelí que tombou ao chão, mas, com força multiplicada, levantou-se e começou a travar com ele uma luta corporal, até que conseguiu se desvencilhar, apontou a arma para Duílio e atirou na sua nuca.
Depois, mirando para Helena disse:
- Maldita! Morra!
Três tiros no peito e Helena tombou desfalecida.
Todos os convidados se assustaram quando ouviram os gritos e Zelí, escondendo a arma, sumiu entre eles sem ninguém perceber que fora autora dos disparos.
Em meio à agonia, ninguém viu a carta caída no chão do quarto.
Desesperado e sem entender o que havia acontecido, Renato chorava desesperadamente sobre o corpo da amada, enquanto Berenice fazia o mesmo sobre o corpo do filho.
Logo o corpo de bombeiros chegou e levou Duílio e Helena para o hospital.
A polícia foi activada e revistaram todo o quarto, achando a carta.
Depois lacraram o local e saíram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 04, 2018 8:40 pm

Capítulo 42
A festa se desfez e os convidados saíram entre horrorizados e temorosos.
Ninguém conseguia entender por que Helena e Duílio estavam dentro daquele quarto e por que foram alvo de um assassino.
Andressa, arrasada, havia sido sedada pelo médico e dormia profundamente tendo ao lado Ricardo, que, preocupado e aflito, pedia a Deus que tudo se resolvesse e que Helena não morresse.
No hospital, havia começado o doloroso tempo de espera para Renato, Berenice, Osvaldo e Humberto.
Helena e Duílio estavam em processo cirúrgico para retirada das balas.
Os médicos informaram que os tiros haviam perfurado o pulmão esquerdo de Helena e atingido uma artéria coronária, ela havia perdido muito sangue e corria risco de morte.
Duílio teve o crânio perfurado e uma das balas se alojara no cerebelo, mesmo que escapasse da cirurgia ficaria com inúmeras sequelas.
Os investigadores tentaram falar com eles, mas como perceberam seus estados emocionais alterados, resolveram deixar para outro momento.
Três horas e meia depois, doutor Rodrigo, cirurgião responsável pela equipe que operara Helena, veio ter com eles.
Olhando para Renato disse:
- Felizmente, senhor Renato, sua mulher escapou com vida.
Se crê em Deus não deixe de agradecer a Ele, pois dificilmente alguém escapa de uma cirurgia como esta.
Renato suspirou aliviado enquanto era abraçado por Berenice e Osvaldo.
Perguntou entre lágrimas:
- Quando poderei vê-la?
- Só amanhã depois das dez é que estará liberada para receber visitas.
Ela ficará por algum tempo na UTI e pelas próximas quarenta e oito horas ainda corre sério risco de morte, mas como disse, só em ter escapado a essa cirurgia já pode ser considerado um milagre.
Renato agradeceu ao médico e perguntou:
- E Duílio? Como está?
- Estão finalizando a cirurgia e está fora de perigo.
Mas só o doutor Paulo poderá dar mais detalhes.
Creio que, daqui a meia hora, ele virá falar com vocês.
Doutor Rodrigo despediu-se e saiu.
Berenice suspirou aliviada:
- Pelo menos meu filho está fora de perigo.
Jamais iria me perdoar se ele morresse por minha culpa, aliás, jamais me perdoarei pelas sequelas que ele terá.
Se eu tivesse guardado a carta e entregado somente ao senhor Renato, tudo isso seria evitado.
Só naquele momento foi que Renato voltou-se para a causa dos tiros.
Tudo tinha sido muito estranho, Helena alegando estar com dor de cabeça, pedira para se retirar a fim de descansar.
Depois só ouvira os disparos e eis que encontra sua esposa tombada ao chão junto a Duílio.
O desespero para salvar sua vida foi tanto que ele havia se esquecido completamente de procurar a causa daquele acontecimento catastrófico.
Por isso, perguntou a Berenice com voz trémula:
- Você sabe por que isto tudo aconteceu?
Diga-me tudo agora, preciso saber.
- Vamos para a capela do hospital, lá é melhor para conversarmos.
Todos foram para a capela e lá, vendo a imagem de Nossa Senhora das Graças, olhando para ela com tanta piedade, Berenice não resistiu e começou a chorar.
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