LUZ ESPÍRITA
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NA PRÓXIMA DIMENSÃO - INÁCIO FERREIRA / Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 10, 2012 9:33 pm

CAPÍTULO 25

No outro dia, logo de manhã, Odilon, fazendo-se acompanhar dos seus tutelados, uma turma de vinte candidatos a médiuns no mundo, foi recebido por mim e por Manoel Roberto.

Vocês me desculpem — expliquei-me —, mas aqui não é o Liceu;
temos doentes praticamente em todos os níveis de desorientação, homens e mulheres, jovens e velhos, espíritas e... padres, mas, por incrível que pareça, os espíritas é que me dão mais trabalho.

O Hospital foi fundado e organizado por Eurípedes Barsanulfo, responsável por diversos núcleos semelhantes, alguns maiores, outros menores, em várias regiões.

Contamos com a colaboração de dezenas de estagiários que se especializaram ou estão se especializando em Psiquiatria;
um contingente enorme de enfermeiros e enfermeiras colabora connosco — todos sob a supervisão de Manoel Roberto.

O número de internos é flutuante, cerca de dois mil, aproximadamente, mas temos vagas para mais — disse, com o propósito de aterrorizar aqueles novatos.

— Todos os dias entram, todos os dias saem pacientes...
— Entram e saem de onde e para onde? — perguntou Paulino Garcia, inteligentemente.

— Entram provenientes das trevas e saem para institutos de reeducação, como o Liceu, por exemplo, fortalecendo-se para uma nova experiência reencarnatória;
em suma, saem para regressar às trevas do mundo...

— Por que? — insistiu o jovem monitor de Odilon — a religião está sempre presente no desequilíbrio desses nossos irmãos?

Espíritas, católicos, evangélicos...
— É uma boa pergunta, Paulino, pois raramente temos um ateu por aqui;
quase todos tiveram práticas religiosas na Terra...

Os cépticos e os materialistas devem estar em outra parte;
aqui estão os que se comprometeram mais directamente com Deus;
os que foram vítimas de seus delírios de grandeza espiritual:
os que mercadejaram com os dons do espírito, aqueles que não se beneficiaram com o poder do dinheiro, mas com a moeda da influência moral...

Pela minha experiência, que não é tanta assim, digo-lhes que a perturbação oriunda do fanatismo é mais danosa do que a que se origina do materialismo...

Deste Outro Lado da Vida, o materialista não tem mais nada e não é difícil convencê-lo disto, mas não é fácil argumentar com aquele que, espiritualmente, se julga superior a você;
a lógica dos católicos e protestantes atém-se ao que está escrito na Bíblia, mas a dos espíritas envolve questões mais delicadas:
muitos conhecem de memória todo “O Livro dos Espíritos” e não abdicam de suas interpretações pessoais da Verdade...

Os espíritas não se consideram doentes — começa por aí...

— E qual é o tipo de tratamento mais eficaz para eles? — tornou Paulino, interessado.

— O melhor remédio de que dispomos aqui é o tempo...
O que é que vamos fazer?

Conversamos, tentamos mostrar a realidade, organizamos actividades de laborterapia, auxiliamo-los a interpretarem as suas “visões” e as suas “vozes”;
quando possível, ensaiamos algum tipo de regressão da memória;
efectuamos periódicas excursões às regiões de maior sofrimento...

Sim, porque em pior estado do que aqueles que aqui se encontram internados estão os nossos irmãos que ainda não demonstraram a mínima disposição de serem socorridos, presos às sensações da vida material que não querem deixar ou estão estacionados nas regiões fronteiriças do túmulo, ligados a grupos de espíritos rebelados...

Olhando para os vinte jovens, entre rapazes e moças, que Odilon trouxera para nos visitar, disse-lhes sem rodeios:
— Caso não cumpram com o dever, é o que os espera...

Mas vamos entrar.
Primeiro, quero levá-los nos pavilhões daqueles que chegaram recentemente.
Não se assustem: são seres humanos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:12 pm

Fazendo questão de não interferir em nada do que eu falava, Odilon se fez acompanhar da turma pelo corredor que indiquei, o qual dá para uma imensa escada que conduz ao porão.

- Aqui não temos elevadores — expliquei —;
é para que tenhamos suficiente tempo de reflectir, enquanto descemos ou subimos...

O andar inferior é dividido em duas alas:
uma com vários e amplos dormitórios, onde ficam os que conseguem conviver pacificamente, e outra constituída de quartos menores que albergam um menor número de espíritos enfermos.

Os jovens, aos quais evidentemente eu não queria assustar, não estavam habituados àquelas visões;
sem dúvida, é grande a diferença entre um hospital de dementados e uma escola...

Assim que começamos a percorrer o extenso corredor, fracamente iluminado (os nossos irmãos provenientes das regiões de sofrimento nas trevas, sequer suportam a presença de luz artificial mais intensa), os pupilos de Odilon arregalaram os olhos, registrando gritos e gemidos que soavam sem eco...

— Não se preocupem — disse-lhes — com o que vocês irão ver e ouvir...
A mente, quando perde o controle sobre si mesma, provoca aberrações no corpo espiritual;
os nossos pensamentos exteriorizam o que somos...
Muitos, talvez a maioria, aqui se encontram inconscientes de sua situação.

— Foram todos médiuns?... — indagou-me uma jovem de nome Taís, com a qual eu logo simpatizei.
— Filha — respondi — foram e ainda o são...
Você sabe, ninguém perde o que adquiriu, mormente quando se trata daquilo que resulta do esforço evolutivo;
os nossos irmãos, aqui internados, não souberam lidar com as próprias percepções — não souberam e não quiseram aprender...

Creia que não lhes faltou oportunidade.
Que lavrador lança a semente à terra e, depois, a abandona às circunstâncias?
Os equívocos que cometemos no mundo, não são ocasionados pelo nosso absoluto desconhecimento das Leis, e sim pela nossa indiferença e descaso.

Conforme vocês devem ter se conscientizado no Liceu, médium não é somente quem se encontra vinculado ao Espiritismo;
o simples acto de orar nos coloca em comunhão com forças que transcendem as nossas emoções imediatas, ou seja, onde quer que estejamos, independente da crença religiosa que adoptemos, estamos em permanente contacto com seres encarnados e desencarnados...

A mediunidade, através do intercâmbio com o Além, acontece de múltiplas formas diferentes e não se circunscreve ao âmbito da Doutrina.

— Mas — voltou Taís a questionar — o número mais expressivo aqui é de médiuns espíritas?...
— Sem dúvida — concordei.
Por menor tenha sido o nosso tempo de contacto com o Espiritismo, ele foi o suficiente para nos esclarecer e, consequentemente, criar-nos complicações em nível de consciência...

“Muito se pedirá a quem muito recebeu”.
É a culpa pelo que fazemos que nos torna vulneráveis às consequências das próprias atitudes. O “inferno exterior” do qual todos procedemos, é o reflexo do “inferno” que estabelecemos em nós.

Sendo a presença de Deus na criatura, a consciência, por mecanismos que desconhecemos, mantendo-se incólume a todo e qualquer nível de desequilíbrio e de ignorância, nos cobra o retorno à harmonia...

Os quartos menores e os dormitórios maiores são destituídos de portas: tão somente os espíritos que, por vezes, podem se tornar agressivos, como é o caso de Nélio, ficam confinados em celas especiais;
porém, apesar de não serem dotados de portas, existe um sofisticado controle que, criando um campo magnético, impede que os doentes ganhem os corredores e empreendam fuga, ou mesmo se misturem com outros internos.

- Observem — enfatizei a situação destes nossos irmãos;
vejam como é difícil a retomada do equilíbrio...

Em que situação muitos deles serão reconduzidos ao corpo?
Em que labirinto foram se meter, a fim de se desnortearem tanto?...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:12 pm

CAPÍTULO 26

Qual acontece em qualquer hospital psiquiátrico, mesmo estando parcialmente fora de si, os doentes, ao perceberem aquela movimentação diferente no pavilhão, aproximavam-se das grades “invisíveis” e se punham a falar palavras desconexas.

— Impressionante!... — exclamou Taís, que caminhava acompanhada de perto por Paulino.
É inacreditável!
Se eu não estivesse vendo com os meus próprios olhos...
Doutor, como tratar individualmente de cada caso?

— Falta-nos gente, em número e habilitação.
A responsabilidade maior por eles é nossa, dos espíritas;
fomos nós que, de certa forma, criamos tudo isto...

— Tudo isto, o quê, Doutor? — sabatinou-me com inteligência.

— Vejamos, Taís, se você e os nossos irmãos encarnados podem entender:
os protestantes “puseram” os espíritos para dormir até o dia do Juízo Final;
os católicos os entregaram, em definitivo, para Deus ou para o Diabo;
os materialistas resolveram a questão com a ideia do nada;
os espíritas é que chamaram para si a responsabilidade de socorrê-los e resgatá-los, situando-os em colónias espirituais que tiveram que construir...

E ainda, de quando em quando, temos que escutar dos nossos irmãos encarnados que nós, os espíritos, não trabalhamos — concitamo-los ao trabalho e... cruzamos os braços.

Com todas as dificuldades da vida no corpo, eu não hesitaria em trocar de lugar com qualquer um deles, pois, comparada ao trabalho que temos por aqui, a Terra é uma autêntica estação de veraneio...

Destacando-se das dezenas de pacientes reclusos naquele dormitório, sob os cuidados de abnegados enfermeiros que praticamente se internavam junto com eles, impedindo que a promiscuidade se estabelecesse, uma senhora se aproximou e, olhando fixamente para Tais, disse-lhe:
- Você se parece com a minha neta Tais, a minha pequena Tais...

Eu sou a vovó Esther, mãe de seu pai; eu seria capaz de reconhecê-la entre milhares de outras pessoas...
Mas como você cresceu e como você demorou para me visitar!...

O seu pai e a sua mãe nunca vieram;
puseram-me aqui e nunca mais...
Sabe, eles diziam que eu era louca;
o Padre António é que aconselhou a minha internação neste lugar...

Ainda bem que você veio, minha filha!
Quem sabe, agora eles acreditarão em mim...
Eu vejo as almas do outro mundo, converso com os mortos...

Confesso-lhes que, com excepção de Odilon Fernandes, que continuava em silêncio, todos sofremos um baque.
Aquilo não podia ser uma simples coincidência...

Não tivesse sido amparada por Paulino e por mim, a jovem teria desfalecido, ante a surpresa que lhe fora reservada pelo destino.

Procurando conter-se, Tais se aproximou um pouco mais e perguntou, trémula:
- Vovó Esther?
— Sim, sou eu mesma — confirmou a senhora, mostrando o retrato que trazia pendente de uma corrente no pescoço.
Este é o retrato de seu pai, meu único filho;
eu estou aqui por obra de sua mãe, aquela megera!...

Foi ela que, em conluio com o Padre António, me mandou para cá;
sofri tanto, tanto, ao me ver separada de vocês, que já tentei me matar diversas vezes...

Tome cuidado com a sua mãe, Tais...
Ela não gosta de mim e não vai gostar de você.
Louca é ela e loucura é uma coisa hereditária...
Eu sei que você puxou a mim: pode ver e conversar com os mortos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:12 pm

— Vovó, mas eu era muito pequena...
— Sim, você não tinha ainda completado 10 anos...
Tudo se agravou, quando eu a levei para visitar um velho escravo que morava perto da fazenda;
o povo dizia que era feiticeiro, mas ele era um homem bom...

A sua mãe implicou comigo de vez e o meu pobre Roberto, seu pai, lhe obedecia cegamente.
Certa noite, quando acordei, estava sendo levada amarrada para um hospício e estou até hoje vivendo no meio de loucos...

Mas como foi, minha neta, que você me encontrou?...
Eu perdi a noção do tempo...

Neste momento, intervindo, Odilon esclareceu:
- Taís, realmente trata-se de sua avó...
Parte do que ela lhe diz é verdade.
— Que parte nada!
Tudo é verdade; eu não estou inventando...
O que vocês dizem que eu fiz é que é totalmente mentira...

— Infelizmente — continuou o Mentor, diminuindo o tom de voz — a nossa D. Esther, depois de quase três anos internada, voltou para casa e, aí, realmente, sob forte assédio espiritual, preparou um veneno para a sua mãe, sem pensar que aquele suco misturado a poderoso corrosivo igualmente lhe seria servido...

O resto, minha filha, é tragédia que se somou a tragédia. Quando atinou com o que fizera, a sua avó enlouqueceu de vez e encontraram-na enforcada numa árvore próxima à cabana do velho escravo, que acabou sendo culpado de tudo e foi morto a tiros, por ordem de seu pai.

A consternação tomou conta do pequeno grupo de jovens medianeiros.
Nenhum deles ousou se pronunciar, ante o drama da companheira que fazia força para se conter.

O mundo, de facto, era pequeno...
Como é que, numa simples visita, aparentemente casual, avó e neta foram se encontrar?

Leis indefectíveis, que não logramos identificar de imediato, agem presidindo todas as nossas acções;
o acaso não existe e tudo quanto nos acontece é consequência do que fazemos, aliado às nossas necessidades de redenção...

A Lei de Evolução é inteligente e, por vezes, dá-nos a impressão de que é o próprio Criador cuidando individualmente de cada criatura.

A meu sinal, um dos enfermeiros se aproximou e convidou Esther a se afastar.

Como se aquele esforço para recordar o passado a tivesse induzido a uma crise, a senhora se retirou pronunciando palavras desconexas:
- Eu não sei o que é verdade e o que é mentira, nem se estou viva ou se estou morta...
Estarei dormindo ou acordada?

Por favor, chamem o meu filho Roberto;
preciso dizer a ele para abandonar aquela mulher, antes que uma tragédia aconteça em nossa família...
Eu sou médium e estou com estranhos presságios.
Protejam a minha neta, pobrezinha!...

Confortando e encorajando Taís, Odilon falou-lhe em tom paternal:
- Filha, não se deixe abater...
A sua avó Esther está sendo cuidada e é possível que, futuramente, você tenha condições de auxiliá-la a se reerguer.

Não se esqueça de que, acima dos laços da consanguinidade, vigem os da afinidade espiritual;
mais do que parentes uns dos outros por determinação genética, somos irmãos, porque filhos do mesmo Pai, que nos ama indistintamente.

O problema daquela que foi sua avó no mundo não é mais seu do que nosso;
todos, em menor ou maior grau, somos responsáveis pelo que de negativo acontece aos nossos semelhantes...

Enquanto você se prepara para os deveres que a aguardam na Terra, alguém cuidará dela; mais tarde, ela e os personagens do drama que protagonizaram, haverão de se reunir a você...

Procure se empenhar ao máximo para que, quando tal vier a acontecer, você esteja em condições de auxiliá-los.

E, olhando para os demais componentes de sua equipe, advertiu:
— Somente o médium que ignora o que se passa nos bastidores da Vida além da morte, nos problemas que deixou pendentes e naqueles outros que o acompanham de perto na romagem terrestre é que, sem escrúpulos, se considera espírito missionário...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:12 pm

CAPÍTULO 27

A palavra de Odilon Fernandes, soara aos nossos ouvidos à feição de precioso medicamento contra a vaidade e o personalismo.

Em outros termos, era como se ele estivesse dizendo aos pupilos que haveriam de reencarnar brevemente:
— Não se iludam; se vasculharem o passado, cada qual se deparará com uma experiência cármica semelhante à de Taís...

Vocês estão indo à Terra, candidatando-se ao serviço da mediunidade no Espiritismo, com o propósito de refazerem a plantação:
arrancar o joio semeado e cultivar o trigo no mesmo chão...

Raros espíritos se corporificam no Planeta com tarefa delineada;
connosco, os de mediana evolução, as coisas vão acontecendo como consequência das coisas...

Sabemos que temos necessidade de servir, o aproveitamento, no entanto, é connosco;
a estrada que conduz ao abismo é a mesma que leva às alturas — tudo é uma questão de opção na caminhada, não tomando rumo equivocado...

Deixando Tais sob os cuidados de Paulino, que se retirara com ela, o grupo continuou percorrendo o pavilhão, procurando fixar na retina espiritual aqueles vivos quadros de aflição que a realidade emoldurava.

— Socorro! — gritou um de nossos internos mais revoltados.
Tirem-me daqui! ... Traidores!... Eu sou um de vocês!
Fui espírita e fui médium; defendi a causa do Espiritismo...
Por que me trancam nesta cela? Eu não sou louco!...

Como é que vocês queriam que eu sobrevivesse?...
Espírito não come e não bebe;
espírito não tem filhos para criar, não tem despesas...
Para vocês é fácil;
eu quero ver é se aguentariam o que eu tive que aguentar...

Lá embaixo, ninguém vive sem dinheiro.
Vocês não me deram respaldo;
deixaram que os espíritos obsessores me dominassem...

Eu solucionava os problemas dos outros, mas quem é que resolvia os meus?...
Tive que cobrar, sim. E daí?
Inventei, menti, mas era uma mentira inocente;
o povo gosta de ser enganado e eu enganava por uma boa causa...

Avançando alguns passos, um outro, que se arrastava no solo, ao perceber movimentação de visita, disse como quem estivesse amaldiçoando:
- Eis o que os espera; recuem...
Renascer na condição de médium é seguir voluntariamente para a fogueira;
exigências e mais exigências...

Querem, sendo humanos como somos, que sejamos santos...
Fui abandonado por eles, os que moram na Luz, e por estes que se julgam melhores do que nós...
Não passamos de cobaias; uma coisa é ser médium agora, outra coisa é ser médium depois...

Vocês irão ver;
tentações de todas as espécies — sexo, dinheiro, poder...
Não há quem resista; ninguém é insensível...
E melhor que sejamos um mortal comum...

Vejam a que estou reduzido.
Eu não tenho nada; eles é que me rotulam de doente...
Nas trevas, eu estaria melhor. E agora?
Desta cela é possível que me ofereçam um corpo deficiente no mundo...

Não se deixem influenciar — alertei os jovens, com receio de que, em poucos minutos, o entusiasmo se lhes arrefecesse no espírito.
Quantas vezes eu mesmo percorrera os corredores do Sanatório, em Uberaba, de cabeça baixa e ânimo completamente abatido...

Não tivesse sido pela protecção dos nossos Maiores que, por intermédio de Modesta, me ofereciam um “contraveneno”, é provável que eu também tivesse descido ao porão.

Com raras excepções — prossegui —, os nossos internos se julgam vítimas;
ninguém admite o erro e está disposto a arcar com as consequências da própria invigilância...

Qualquer réu, até o último instante do processo, alega inocência.
É natural que seja assim.
Se vocês os tivessem visto, antes de serem acolhidos pela Misericórdia Divina neste hospital!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:13 pm

A maioria, que agora está reivindicando, permanecia alienada. o que acontece com o louco que se deixa vagar na via pública?
A não ser uma maior degradação, absolutamente nada, não é?
Sem tratamento, a cura não beneficia o doente.

Aqui, vocês estão vendo o lado obscuro da mediunidade, mas o nosso Odilon deve ter comentado com vocês sobre a vitória alcançada por Chico Xavier, que, dias atrás, regressou à Vida Espiritual...

— Dr. Inácio, o senhor me desculpe — pediu a palavra um jovem de nome Luciano —, mas, ao que estamos informados, o espírito Chico Xavier procede das Altas Esferas...

— Sem dúvida, mas sofreu como um ser humano, ou melhor, mais do que qualquer um de nós sofremos ou iremos sofrer...

Ele não teve privilégios;
os Espíritos Superiores não o isentaram das provas...

Aos 5 anos de idade, já estava órfão de mãe, o que, com certeza, não acontecerá com nenhum de vocês;
recebeu maus tratos na infância que o traumatizaram pelo resto da vida;
passou fome; sempre foi doente;
lutou sozinho para ser médium, contando, inclusive, com a oposição da família;
viveu rodeado de preconceitos;
atravessou o século e, já ancião, não foi poupado de escândalos...

Vocês viverão numa época diferente — o Terceiro Milénio da Era Cristã!
Se caírem, não será por causa de artimanha alheia...

Embora o mundo ainda não seja o que desejamos, ai de quem molestar ou tocar sequer um dedo numa criança;
os direitos humanos vêm sendo apregoados de maneira sistemática e, com eles, não há mais espaço para o preconceito e nem para o fanatismo...

O que poderá, talvez, perdê-los será o excesso de liberdade.
Vocês terão tudo para vencer...

Psicografarão em modernos computadores;
terão as suas vozes gravadas em fitas ultra-sofisticadas;
encontrarão a Doutrina em franco desenvolvimento;
o melhor conhecimento das energias espirituais lhes ensejará infinitas possibilidades no campo da cura mediúnica;
as suas condições receptivas serão facilitadas pelo aprimoramento genético do cérebro...

O que é que vocês querem mais?
Chico Xavier não frequentou nenhum liceu...
Os centros espíritas da Terra estarão mais bem aparelhados para recebê-los.
Antes, o terreno havia que ser desbravado; agora, não...

— Falando assim—observou Luciano—, o senhor nos deixa envergonhados...
— Porém, a minha intenção não é esta — respondi.
O problema é que as consequências do mal aqui no Hospital dos Médiuns é tão flagrante, que, se não se enfatizar a existência do bem, ter-se-á a impressão de que ele não existe...

Hoje, o testemunho que se pede ao cristão não é o da morte nos circos de martírio ou o do sacrifício nos postes inquisitoriais;
o seu desafio maior na actualidade é superar interesses subalternos e demonstrar verdadeiro idealismo...

Se tudo evolui, as formas de tentação também evoluíram.
Ontem, a pedra-de-tropeço era a dificuldade; hoje, é a facilidade...

Silenciando por instantes, continuei, sob o olhar de aprovação de Odilon:
— O que vocês estão vendo aqui não é nada;
esse pessoal vai melhorar...

Os deformados recuperarão a perfeição da forma e todos serão encaminhados a novas experiências;
o sofrimento só é eterno enquanto dura...
A questão real, com a qual somos chamados a lidar, não é a dor mas, sim, a perda de tempo!...

O aluno que se reprova em determinada série escolar perde o contacto com os colegas que revelam maior aproveitamento.
O pássaro que se distancia do bando deixa de contar com a sua protecção e passa a viver entre hostilidades...

Eu me referi a Chico Xavier, de quem todos vocês, naturalmente, já devem ter ouvido falar, no entanto, antes dele e depois dele um sem-número de medianeiros anónimos se destacou no fiel cumprimento do dever.

Eu mesmo convivi com alguns deles, em Uberaba, e o nosso Odilon também.
Companheiros extraordinários que, numa época difícil, desempenharam a sua função.

Não foram, evidentemente, tão grandes quanto Chico Xavier, mas foram maiores do que eles próprios poderiam ter sido!...
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CAPÍTULO 28

Terminando de percorrer o pavilhão, em que os nossos futuros medianeiros na carne puderam constatar o devotamento com que uma legião de irmãos dedicados aos serviços de enfermagem tratavam os doentes — coisa rara de se ver, diga-se de passagem, nos nosocómios da Terra —, fomos ao pavimento superior, imediato àquele que diz respeito à administração.

O assunto dominante, entre outros, era o do desenlace de Chico Xavier.

Um dos tutelados de Odilon Fernandes, de nome Daniel, sentindo-se mais à vontade, comentou, enquanto subíamos:
— Eu conheci Chico;
fui um dos muitos que escreveram por ele...
Desencantei num acidente automobilístico.
Os meus pais, apesar de serem espíritas, embora não militantes, estavam desesperados...
O meu avô providenciou o contacto e a experiência foi tão marcante para mim, que decidi ser médium...

- Decidiu ser médium? — perguntei, procurando deixá-lo mais à vontade.
— É, passei a me interessar...
Desde criança, eu sentia a presença dos espíritos à minha volta, mas a minha cabeça estava voltada para outros interesses — o senhor sabe, namorada, essas coisas...

— Tempos bons, meu filho...
Eu também os tive — endossei, sorridente.
Só que, no meu tempo e no de Odilon, era muito diferente, não é, Professor?...

— No seu, Inácio, mais do que no meu ainda —retrucou o Instrutor, que se fazia admirado e querido de toda a turma.

— Cheguei a frequentar a mocidade espírita e, quando via Chico Xavier em acção, psicografando na televisão, por exemplo, eu entrava em êxtase;
mal podia imaginar que, um dia, eu estaria fazendo o mesmo por intermédio dele...
Certa noite, quando eu e dois colegas voltávamos de uma festa, perdemos o controle do veículo e...

— Chico fez escola dos Dois Lados da Vida—acrescentei.
O trabalho da Espiritualidade Superior através dele está muito longe de ser avaliado, em todas as suas consequências positivas...
Como você, Daniel, garanto que dezenas e dezenas de espíritos se sentiram motivados a cultivar os seus dons...

— O nosso Dr. Inácio Ferreira têm razão — acentuou Odilon.
Com o advento de Chico Xavier, as matrículas no Liceu aumentaram significativamente...
Antes, era difícil que alguém, principalmente sendo jovem, se interessasse por mediunidade.

As nossas expectativas, para o futuro, são as melhores.
Estamos abrindo novas turmas e estamos optimistas.
A repercussão do trabalho dele cria, nos nossos irmãos encarnados, condições propícias, tanto do ponto de vista espiritual quanto genético, para que a mediunidade amplie o seu campo...

- Como assim? — indagou Daniel, ansioso por maiores esclarecimentos.
— A vida missionária do médium de Emmanuel foi tão irrepreensível, que quase todos experimentamos um desejo inconsciente de imitá-lo...
— É mesmo — quase todos repetiram, em uníssono.

— É natural que seja assim, pois, afinal de contas, quem é que não anseia por triunfar sobre si, alcançando independência sobre a Lei do Carma?
Que pais não gostariam hoje — e vamos frisar este hoje — de ter um filho como Chico Xavier?...

- Principalmente, copiando-lhe a bondade, não é, Odilon? — questionei em tom afirmativo.
- Temos enfatizado este aspecto, Inácio, pois a faculdade mediúnica, por mais portentosa, que não aprimora o médium e nem coopera no aprimoramento dos circunstantes não passa de árvore sem frutos...

— De figueira seca — emendei.
- O objectivo da Vida é o amor;
tudo que se aprende a fazer, se aprende com a finalidade de saber amar;
tudo que se pode conhecer, se conhece para colocar o amor em prática...

Como nos diz Paulo, em sua carta aos Coríntios, ao fim de tudo, só o amor permanece.
A mediunidade que não melhora o médium como ser humano é obsoleta...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:13 pm

— Quer dizer, então — fiz questão de indagar — que é preferível ser bom a ser médium?
- Sem nenhuma sombra de dúvida — respondeu-me o Mentor, consciente de que reafirmava importantes lições aos aprendizes, os quais não lhe perdiam uma única palavra.

Se Chico Xavier não fosse um médium bom, ele não seria um bom médium...
Quase sem ver, atingimos o primeiro pavimento do Hospital, onde quase mil medianeiros se encontravam, e ainda se encontram, em franca recuperação.
Confesso-lhes que, na condição de médico, o mais difícil para mim continua sendo convencer essa gente a ocupar-se de alguma coisa...

A ociosidade é também um mal na Vida além da morte!
Poucos os que se convencem da necessidade de se reconstruírem interiormente, utilizando as mãos!...
Sem plasmar o que pensa de positivo, o homem não se educa.
A ideia que, de algum modo, não se materializa, não fixa valores no espírito.

Aproximando-me de um dos nossos internos, exactamente um daqueles que, de braços cruzados, permanecia na expectativa de que a graça divina o alcançasse, falei sem meias palavras:
— Como é, Adelino, quando é que você vai se resolver?
Eu já lhe disse que a sua mais rápida recuperação depende de seu esforço...

Faça alguma coisa, homem! ...
A rigor, você poderia estar de alta, mas...
Saia desse quarto, visite a biblioteca, tome a iniciativa de ler um livro...

— Ah! Doutor — respondeu-me —, eu ando muito deprimido;
de facto, tenho me sentido melhor, no entanto sei que sou frágil e voltarei a cair...
Não adianta. Creio que Deus nos fez de têmperas diferentes.

Noto que, com extrema facilidade, albergo pensamentos negativos...
Enquanto estou aqui, estou bem, mas, se eu colocar os pés para fora do Hospital...

Adelino era um grande doutrinador ou, por outra, havia sido na Terra um orador de qualidade, dotado de excelente memória e primorosa técnica expositiva;
infelizmente, como tantos outros, falara tão-somente com os lábios, não se esmerando em vivenciar aquilo que pregava...

— Meu irmão — repetia, tentando encorajá-lo —, todos somos assim...
Não exija santidade de você, porém, por outro lado, não se renda, de vez, às inclinações negativas.
Ao vício que detecta na sua personalidade, contraponha a virtude capaz de anulá-lo;
é assim que devemos proceder...

Não continue tão-somente no âmbito das palavras; se você aplicar a si mesmo parte do que já sabe, as coisas começarão a mudar...
Em cima dessa cama, a cismar sobre o passado, o futuro não chega.
Aproveite os seus conhecimentos e converse com os companheiros;
colabore connosco...

É procurando dar aos outros o que, muitas vezes, não temos sequer para consumo próprio, que a Vida providencia o que nos esteja faltando.

— Quem são estes jovens, Doutor? — questionou-me, apontando os discípulos de Odilon.
— Candidatos ao serviço mediúnico na Terra —expliquei —;
estagiários do Liceu que, dentro em breve, estarão se engajando na causa do Espiritismo...

— Tomara que tenham um destino diferente do meu;
no começo, eu era idealista como vocês — disse-lhes — mas, aos poucos a vaidade foi me dominando...
Nada pior para arrasar com um médium do que o elogio e o aplauso;
e, infelizmente, é o que queremos o tempo todo...

— Desculpe-me, Sr. Adelino — aparteou Timóteo, um dos componentes do grupo —, eu não posso concordar com o que diz;
pretendo ser médium da palavra e...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:13 pm

CAPÍTULO 29

— Desculpe-me você, jovem — redarguiu Adelino...
Como é mesmo o seu nome?
— Timóteo, senhor; o meu nome é Timóteo — respondeu.

— Pois, sem a intenção de ofendê-lo, digo que você é um dos que têm maior possibilidade de queda...
— Eu?...

— Sim, meu jovem, você mesmo;
quem ainda nem começou e já está advogando em causa própria...
Seja prudente. Uma coisa é a escola, outra coisa é o mundo...

Eu estou me vendo em você, tempos atrás;
chegava a ficar horas inteiras, diante do espelho, ensaiando.
Li, inclusive, sobre teatro, com o intuito de dramatizar em minhas conferências...

Quando não conseguia levar o auditório às lágrimas, eu me aborrecia;
preocupei-me mais com a forma do que com o conteúdo...
Sem perceber, fui distanciando o coração da palavra.

Timóteo inclinara a cabeça e Adelino prosseguiu:
- Agora estou aqui, neste hospital, experimentando imenso vazio no espírito...
Não me habituei a servir, mas, sim, a ser servido;
o meu negócio era ser notado...

Os espíritos que me inspiravam anonimamente foram, aos poucos, cedendo espaço àqueles que revelavam vocação para o palco.

Preguei a Doutrina, mas não a impregnei.
Quando alguém tentava me alertar, eu reagia com personalismo...

Eu, vaidoso?... Não, as pessoas é que tinham inveja de mim, do meu estilo...
Transformei-me num daqueles bonecos de ventriloquia, que só movimentam o maxilar inferior.

Depois de pequeno intervalo, Adelino arrematou:
- Você me desculpe, meu jovem, o doente aqui sou eu;
é que, quando eu me deparo com o meu futuro, o meu passado me causa indignação...

Desejo que você seja um vitorioso e, se depender de seus mestres, certamente haverá de sê-lo;
mas, se eu estivesse hoje em seu lugar, solicitaria providências no sentido de que a gagueira me acometesse até determinada idade...

O bom orador não é aquele que chega a apresentar calos nas cordas vocais, mas, sim, nas mãos.
Perdoe-me, mas disto eu entendo bem e posso falar;
a eloquência foi uma das poucas coisas que a morte ainda não me tirou...

— Bela maneira de tratar as visitas, Adelino! —interferi em tom repreendedor.
- Não, Inácio — observou Odilon — não se preocupe com constrangimentos;
o nosso Adelino está coberto de razão e Timóteo deve reflectir no que ele lhe disse;
aliás, não apenas Timóteo...

Viemos visitar o hospital dirigido por você para colher depoimentos semelhantes.
O nosso Timóteo não ignora as suas dificuldades pessoais, não é, meu filho?...

Tímido e hesitante, o rapaz concordou:
- Eu ainda não aprendi a ouvir a verdade a meu próprio respeito...
- Em geral — explicou o Instrutor — o que nos fere ou magoa é o que mais colabora connosco no sentido de desenvolver a humildade;
é o nosso amor-próprio que nos ocasionará aborrecimentos...

A humildade é uma virtude activa no agir e passiva no reagir.
Quem não ouve o que o contraria não se liberta da ilusão que o escraviza...

— Pois é, Adelino — voltei a direccionar a palavra ao meu paciente, — você poderia nos ser muito útil com a sua experiência de vida...
O erro dos outros sempre nos serve de advertência.

— Dr. Inácio, a pessoa escuta, mas quer cair...
O senhor sabe que é assim.
Eu não acreditava que o que acontecera aos outros pudesse acontecer comigo...
Por isto é que não adianta abrir a boca;
quem não rala os joelhos não aprende...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:14 pm

— E você aprendeu, Adelino? — perguntei, indo ao centro da questão.
— Ainda não, Doutor, ainda não.
A decepção que tive comigo foi muito grande;
vou precisar de um tempo mais longo para me recuperar.
Nem sei por onde recomeçar...

— Eu já lhe disse: tome uma vassoura nas mãos e vai varrer o pátio...
(Os nossos pacientes leitores poderão desacreditar de tudo que relatamos nesta obra, mas não acreditem que, no Mais Além, o espírito possa recuperar-se sem o concurso de pátios e vassouras.)

— Doutor! Varrer o pátio?...
— Por que não? Catar folhas de árvores, recolher o lixo...
— O que eu conheço me impede de fazer o que eu preciso...

— É um falso conhecimento, Adelino...
Na realidade, a única coisa que você tem para transmitir de seu é a experiência resultante do seu fracasso;
o resto, como nós dizíamos nos tempos de colégio, é decoreba pura...

Você sabe a Bíblia de cor?
É capaz de se lembrar, uma a uma, das perguntas e respectivas respostas de “O Livro dos Espíritos”?

Ora, Adelino, quem faz uma prece com fé sabe muito mais que você!...

Evidentemente, que não tínhamos tempo de apresentar caso por caso dos nossos visitantes;
cada um dos nossos internos encerra uma história diferente, que merecia e merece ser apreciada, mas os minutos à nossa disposição eram demasiadamente escassos para que o pudéssemos fazer.

Despedindo-nos de Adelino, que fizera questão de abraçar Timóteo, que se emocionara, tomei a iniciativa de levá-los à presença de um sacerdote recolhido às dependências do Hospital por obséquio de um grande amigo, o ex-Padre Sebastião Carmelita, do qual, anteriormente, já lhes falei.

O clérigo desencarnado, assim que me viu, não me poupou palavras de agradecimento:
— Não sei o que dizer, Dr. Inácio...
O senhor tem sido tão bom para mim;
eu estava numa situação muito difícil...

Graças ao senhor e ao Carmelita é que tenho me recuperado;
ainda sinto fortes crises, mas, a cada dia, estou me fortalecendo...

- Estamos apenas cumprindo com o dever, Jerónimo — respondi, pousando-Lhe a destra sobre o ombro.
Você tem sido afável às nossas recomendações e, segundo creio, Logo receberá alta.

— Reconheço que, na condição de membro da Igreja Católica, falhei muito;
limitava-me a ouvir os fiéis em confissão e a rezar as minhas missas...
Não consegui sentir a grandeza do Evangelho em mim mesmo — o que lamento, profundamente.
Perdi excelente oportunidade de servir ao Senhor.

— Você não tinha vocação para o serviço religioso e, muito menos, para o apostolado da Caridade...
- É verdade, é verdade...
Embora sendo devoto de São Vicente de Paulo, abracei o sacerdócio por decisão familiar;
desde menino, a minha mãe me prometia à igreja...

— Jerónimo — ponderei — o equívoco só não foi maior devido ao seu carácter;
aqui mesmo temos inúmeros religiosos em piores condições...
Você, pelo menos, não se prevaleceu da batina para mercadejar com os dons divinos...

— A minha saúde era muito debilitada;
graças a Deus, fui um homem doente, pois, caso contrário...

— Em muitas circunstâncias — concordei — a doença, de facto, é uma bênção, preservando-nos de quedas espectaculares...
E, por falar em doença — disse, dirigindo-me aos pupilos de Odilon, que me olharam, assustados - algum de vocês se lembrou de pedir algum tipo de achaque físico?...
Ser médium no mundo sem um problema orgânico que o fustigue é uma temeridade!

— Os jovens irão servir à causa do Espiritismo? — arguiu-me Jerónimo, humilde.
— Esses jovens simpáticos e robustos, são candidatos à iniciação mediúnica — respondi, procurando fazer sorrir o pequeno grupo.
Reencarnarão brevemente...

— Eu ouvia vozes na infância e na adolescência...
Os espíritos me fizeram sofrer muito;
estigmatizavam o meu corpo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Ago 11, 2012 9:14 pm

CAPÍTULO 30

Jerónimo prosseguiu na narrativa:
- Eu não entendia nada e, por este motivo, minha mãe resolveu que eu deveria ser padre;
o meu pai não se opôs e, àquela época, ninguém ousava contestar a opinião dos mais velhos...

Fui para o seminário, mas, confesso-lhes, sem vocação alguma;
de quando em quando, as vozes e as visões se me manifestavam, até que desapareceram por completo...

Creio que os Espíritos tenham desistido de mim.
Tentaram me sensibilizar mediunicamente, porém tomei um caminho inteiramente diferente.

Certa vez, conversei com um dos nossos orientadores e ele me disse que tudo aquilo nascia da minha cabeça, que a Igreja não permitia o contacto com os mortos e que eu deveria me submeter à mais rígida disciplina...

Vocês me perdoem, mas sequer gosto de me lembrar de tudo que passei.
Acovardei-me, tive medo e fugi dos espíritos que me procuravam...
Mesmo na condição de padre, eu poderia ter sido médium.

Li sobre a vida do Santo Cura d’Ars e verifiquei que ele era um médium extraordinário:
saía do seu próprio corpo e entrava em contacto com os mortos nas zonas purgatoriais;
os santos lhe apareciam nos momentos de êxtase;
sob a orientação dos Espíritos Superiores, curava os doentes;
ficava horas e horas ouvindo os fiéis em confissão e, inspirado, prescrevia a cada um a devida penitencia...

Uma verdadeira romaria se formava para vê-lo, que era um homem extremamente virtuoso.
Eu queria ter sido como ele, mas, infelizmente...

Os olhos de Jerónimo encheram-se de lágrimas, então eu disse, em sua defesa:
— Agora, meu filho, você se libertou;
logo estará refeito e, como não lhe pesa nenhum ato desabonador, doravante você poderá escolher o seu próprio caminho...

Toda experiência é válida.

Sempre fui e continuo sendo ferrenho adversário dos princípios teológicos do Catolicismo, que, para mim, espiritualmente, induziu a Humanidade a um atraso de séculos, mas sou forçado a admitir que, de certa forma, os seus votos o protegeram;
quem sabe, se não tivesse entrado para o seminário, você tivesse se perdido como tantos jovens que, afastando-se da fé em Deus, passam a viver um materialismo inconsciente?...

— Admito, Dr. Inácio, no entanto, mesmo assim fico triste — explicou-se Jerónimo.
— Para mim, servir a Deus, naquelas condições, foi extremamente penoso e tornei-me um sacerdote incapaz de sorrir...
Estive, diversas vezes, para abandonar a batina, mas o desgosto que ocasionaria aos meus pais e o escândalo seriam muito grandes...

Decidi aguentar, mas, o meu estado depressivo, que se fizera constante, debilitou-me o organismo e a tuberculose apareceu em cena;
antes dos 50 de idade deixei o corpo, de espírito desencantado...

Hoje, vejo que errei.
Não é o rótulo religioso que faz o apóstolo.
Tenho conversado com o nosso irmão Carmelita e apenas lamento não ter contado com um preceptor espiritual com a visão que ele possui da Vida.

— Meu filho — observei — não consinta que as sequelas da depressão que o acometeu no corpo persistam em seu espírito...
Você tem um caminho amplo pela frente;
convença-se de que as nossas lutas são determinadas pela própria necessidade de aprendizado.

Os seus pais não passaram de simples instrumentos...
Repito, ainda bem que você não se comprometeu...

- Fui omisso, Doutor, na aplicação do Evangelho;
eu poderia ter consolado a muita gente e não o fiz —não organizei na paróquia nenhuma obra social de vulto e, enfim, limitei-me a tocar o sino da igreja, rezar a missa em latim e... mais nada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:07 pm

E, dirigindo-se aos jovens que lhe acompanhavam o depoimento, considerou:
— Espero que vocês sejam mais felizes...
Ao que estou sabendo, o médium, tanto quanto o sacerdote, se não tem vocação para servir, não cumpre com a tarefa que lhe está reservada.

Eu não podia, vocês podem...
Fiz parte de uma religião que, neste sentido, me cerceava todos os movimentos;
vocês, ao contrário, contarão com todo tipo de incentivo.

Desculpem-me estar lhes falando assim, mas, infelizmente, ainda carrego muitas mágoas no coração.
Fui uma espécie de semente plantada em terreno não-propício para se desenvolver...

— Jerónimo, ao sair daqui — ponderei — você irá para o Liceu;
o nosso Odilon, com certeza, o admitirá por lá...
— Sem dúvida — enfatizou o companheiro —;
você, desde já, é nosso convidado...
Não se preocupe;
as nossas portas estarão abertas para recebê-lo...

— Do Liceu para a Terra, da Terra para o Hospital, do Hospital para o Liceu!...

Ante a observação de Jerónimo, que, aos poucos, ia recuperando o seu bom-humor, não pudemos deixar de sorrir.

— E, de quando em quando — acrescentei, fazendo graça —, uma pequena passagem pela região das Trevas, com o objectivo de nos depurarmos...
— Quando será que subiremos de facto, não é?... — perguntou o padre desencarnado.

— Cabe a nós, meu irmão — respondeu Odilon —, romper com o círculo vicioso da cadeia reencarnatória...
Conforme se constata, o nosso problema crucial está na Terra, pois, de acordo com o nosso menor ou maior aproveitamento por lá, é que nos direccionamos depois da morte.

Temos que reencarnar melhor preparados e conscientes, sobretudo conscientes de que o tempo no corpo passa depressa e não vale a pena nos entregarmos à ilusão;
até aproximadamente os 40 anos de idade, o homem soma:
saúde, prazeres, aquisições;
depois dos 40, começa a subtrair em sentido inverso...

Com a evolução tecnológica e a velocidade do pensamento, a existência humana vem se tornando vertiginosa;
um século continua tendo 100 anos, mas um dia parece não ter mais o mesmo número de horas...

A mente do homem está encurtando o seu tempo de permanência no corpo:
a expectativa de vida tem aumentado significativamente, mas o tempo mental da criatura encarnada está diminuindo progressivamente...

- Com a palavra os físicos, para melhor explicarem tal fenómeno de encurtamento do tempo interior — acentuei.

A continuar assim, dentro de mais alguns séculos, o homem será chamado a modificar a sua medida-padrão de tempo;
à proporção em que a vida se espiritualiza na Terra, o tempo se desmaterializa, ou seja:
quanto mais o homem se absorve interiormente, mais as coisas de fora deixam de se lhe constituir em ponto de referência...

Por este motivo, quando nos dirigimos aos nossos irmãos encarnados, habitualmente o fazemos sem noção de relógio e de calendário, pois a vida além da morte é apenas uma questão de aceleração das partículas que constituem o espaço em que nos movimentamos no novo corpo que nos abriga...

Cada dimensão espiritual é caracterizada por uma velocidade e, consequentemente, por um espaço geográfico;
a diferença de velocidade faz com que duas dimensões espaciais coexistam, ou seja, se interpenetrem;
isto modifica antigas concepções da Física, que, é bem provável, venha, em tempo mais curto que o esperado, colocar a questão da sobrevivência da alma numa equação matemática...

Futuramente, a Religião do homem será a Ciência, que, por sua vez, se lhe constituirá na mais legítima manifestação de Fé!

Quando terminei, Odilon brincou, provocando-me:
— Para quem nada sabe da Física, você foi longe, Inácio...
— De quando em quando, eu sou vítima desses transes estranhos — respondi, aceitando a provocação.

— Eu não sei de onde é que essas ideias saem de mim; estou enlouquecendo ou virando médium!...

Os jovens sorriram.
Despedimo-nos de Jerónimo e a visita ao Hospital estava encerrada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:07 pm

CAPÍTULO 31

Depois de aproximadamente uma semana de sua visita ao Hospital dos Médiuns, sob a nossa coordenação, Odilon entrou em novo contacto comigo.

Através de um aparelho de videotelefonia, ultra-sofisticado, de imagem e som instantâneos e de grande precisão, convidou-me para o que, desde muito, eu ansiava:
— Inácio — falou-me o amigo —, você se recorda de que, tempos atrás, conversamos sobre uma possível excursão à Próxima Dimensão?...
— Como não? — respondi.
Não vá me dizer que você conseguiu a nossa inclusão em um desses programas experimentais...

— O Liceu mantém intercâmbio de aprendizado com vários grupos e, em “Nosso Lar”, semelhantes viagens têm sido realizadas com relativa frequência.
Eu havia feito a solicitação ao responsável pelo Programa de Voos Espaciais de Reconhecimento à Dimensão Imediata e, agora, após analisar-me o pedido, recebi o comunicado de que o meu nome e o seu foram confirmados...

- É inacreditável!...
Para quando será? — indaguei, curioso, no diálogo que se desdobrou.
- Para daqui a quatro dias...
— Mas... sem nenhum treinamento específico?

- Não há necessidade; em um dia, seremos inteirados de tudo...
Essas excursões são semelhantes às viagens espaciais que os homens realizam à órbita de outros planetas, só que, por aqui, os que se dedicam a tal empreendimento já possuem um melhor domínio da técnica;
na Terra, a exploração espacial através de naves tripuladas e não-tripuladas ainda está em seus primórdios...

— Os nossos irmãos encarnados entenderão que estamos delirando...
- É possível, Inácio, porém, em seus contactos com eles, convém que você os esclareça de que, nas dimensões espirituais próximas ao orbe, a Ciência prossegue trabalhando para que as nossas limitações, diante do Universo, sejam superadas...

Infelizmente, ainda não somos portadores de suficiente poder espiritual para dispensarmos determinados expedientes exteriores.
Em estado de desdobramento natural, é raro que o homem encarnado sonhe que esteja excursionando a outro planeta do Sistema Solar...

Quem, por exemplo, já sonhou que estivesse em Júpiter ou Saturno?
Em nosso actual estágio evolutivo, a mente nos impõe limites e a densidade do nosso corpo espiritual não nos permite vencer a Força da Gravidade.

Apenas os espíritos que melhor se dominam, do ponto de vista mental, é que viajam às diferentes Dimensões Espirituais sem necessidade de veículos e roupagens apropriadas;
para eles, o Tempo e o Espaço inexistem...

É uma constatação curiosa, Odilon — concordei.
Quando no corpo, eu nunca sonhei que estivesse em outro orbe que não fosse a Terra;
no máximo, o que eu conseguia era guardar relativa consciência de que estivera em determinada região do Mundo Espiritual, que, agora, se constitui em novo verdadeiro habitat...

— Se em maioria, Inácio, os nossos companheiros encarnados, ao se entregarem ao refazimento pelo sono, não logram se distanciar mais que alguns centímetros ou metros da forma física que os reveste, como poderiam, depois da morte, ascender, aos páramos inconcebíveis pela sua própria capacidade de imaginação?
O real, cuja existência o homem não consegue sequer imaginar, não existe para ele...
E, depois, é necessário esclarecer-se que as conquistas científicas da Humanidade são, em verdade, um pálido reflexo daquelas às quais a comunidade espiritual já tem acesso.

— Mas, André Luiz, em sua obra, não faz nenhuma referência a esse Programa de Voos Espaciais de Reconhecimento à Dimensão Imediata...
— A descrição que o nosso André efectua de “Nosso Lar”, conta já bem mais de meio século;
de lá para cá, a cidade se modernizou extraordinariamente...
O que era a Terra há 50, 60 anos atrás?
O aparelho televisivo que hoje se encontra incorporado a quase todos os lares não passava de mera ficção;
e o que diríamos, então, do computador e outros incríveis inventos electrónicos?...

— O chamado PVERDI, a sigla do Programa em que conseguimos nos inscrever, vem sendo incrementado em “Nosso Lar” há apenas três décadas;
cientistas e cosmonautas desencarnados, conscientes da realidade espiritual, estão cuidando do Projecto que muito tem colaborado com a nossa comunidade, no sentido de que, mesmo na condição de mortos, melhor reverenciemos a grandeza e a sabedoria da Criação.
É verdade, Inácio, que o Programa, semelhante aos voos espaciais empreendidos por Institutos como a NASA, por exemplo, que possui plataformas de lançamento de foguetes que, do ponto de vista científico, muito deixa a desejar, igualmente está em seus primórdios, mas, futuramente, poderemos viajar à Próxima Dimensão sem tantas restrições...

— Existem outros programas semelhantes ao PVERDI, fora de “Nosso Lar”? — perguntei.
— Um ou outro apenas — esclareceu o Benfeitor.
— Não nos esqueçamos, repito, de que a imensa maioria deixa o corpo completamente incapaz de conceber a vida fora da matéria, quanto mais de admiti-la desdobrando-se em múltiplas dimensões, abaixo ou acima...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:07 pm

— De quantos elementos se constituirá a tripulação?
- É, no máximo;
eu e você, como convidados, um estagiário de “Nosso Lar” e dois comandantes...
— São brasileiros, Odilon, os dois comandantes?...

Odilon sorriu e contra perguntou:
- Qual é agora, Inácio, a sua nacionalidade?
Qual a sua cor, a sua idade ou mesmo a sua forma?...
— Desculpe-me, mas é que, por vezes, eu ainda me esqueço...
— Logo você, que sempre foi um homem de pensamento aberto para o Universo!...
Mas, apenas a título de informação, digo-lhe que os dois comandantes da nave espacial em que viajaremos, foram, em sua última experiência física, cientistas que viveram nos Estados Unidos e na União Soviética.

— Mas — comentei — esse pessoal costuma ser materialista...
— Depois de ir ao Espaço, Inácio, e de ver que a Terra já não passa de diminuta “bola de golfe”, suspensa pela gravitação, singelo “grão de areia” perdido na imensidão do Infinito, não há quem não altere as suas mais arraigadas concepções;
o maior ganho desses astronautas, sem dúvida, é o de readquirir a perdida crença em Deus:
praticamente todos, quando regressam de suas viagens, tornam-se místicos e reverentes;
muitos deles, inclusive, passando a requisitar acompanhamento psiquiátrico, tal o choque de realidade a que foram expostos...

E o que acontece com muitos espíritos que, quando constatam a própria imortalidade, se desnorteiam e necessitam de longos períodos de readaptação...

- Aqui, no Hospital, tenho muitos deles comigo;
convencê-los de que estão mortos, não é nada fácil...
- Não desejando absorver mais o precioso tempo de Odilon, indaguei:
— Quando iremos a “Nosso Lar”?...
- Depois de amanhã;
chegando na véspera será suficiente para que sejamos esclarecidos quanto às orientações básicas indispensáveis...

- E quanto tempo demoraremos?
A excursão será longa?...
— Ao que estou informado, no máximo três horas;
não temos permissão e nem equipamentos para uma permanência mais demorada...
Será o tempo de pousarmos e, se possível, entrarmos em contacto com alguém...

— Os nossos irmãos que lá habitam estão sabendo que iremos?
- É evidente que sim.
E se encontram empenhados em facilitar as coisas...

- Pousaremos no centro de alguma cidade?
- Inácio, o que é uma cidade?
Os nossos sentidos não nos consentirão ver além do que possamos registar;
os instrumentos da nave espacial que nos conduzirá arquivarão dados para uma análise mais acurada, posteriormente...
Mas isto não será de nossa alçada;
eu e você não passamos de simples convidados...

- Eles pretendem que noticiemos ao mundo, não é?
Ainda bem — observei com certa ironia — que, por aqui, as fogueiras da Santa Inquisição não nos podem alcançar...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:08 pm

CAPÍTULO 32

Chegando à conhecida cidade de “Nosso Lar”, fomos, para minha surpresa, recebidos pelo próprio André Luiz, que, ao avistar-me, saudou-me sorrindo:
- Dr. Inácio Ferreira!
De há muito, desejava conhecê-lo pessoalmente...
Homem de coragem, não é, Odilon?

— Sem dúvida — respondeu o companheiro, sendo abraçado por ele —, o nosso Inácio é um espírito destemido;
habituado a ser franco, jamais permitiu se intimidar...
E não seria agora, não é, Inácio?

— A que é que vocês estão se referindo? — perguntei, sentindo-me o alvo das atenções e das brincadeiras.
— Ao seu, principalmente, “Do Outro Lado do Espelho” e ao novo trabalho literário em andamento — respondeu André, convidando-nos a ocupar duas poltronas à sua frente.
— Estou fazendo bem menos do que você, meu caro — respondi ao admirado autor da série que escreveu por Chico Xavier —;
aliás, quase todos nós estamos nos seus rastros...
Você é o grande pioneiro.
A minha obra é um arremedo da sua;
não tem qualquer originalidade...

- Mas não há como negar que você e o nosso Paulino Garcia, tanto quanto possível, têm avançado...
— Tanto quanto médium, seria correto dizer, pois, se não tivéssemos encontrado o intermediário que connosco se afiniza...
— Desculpem-me mudar de assunto — interferiu Odilon, de maneira providencial.
Mas que notícias, André, você nos fornece sobre o nosso Chico?
Ele passou pela cidade?...

— Que nada! ... Subiu directo e não temos informações precisas do seu paradeiro.
Estamos preparando-lhe uma homenagem, porém não sabemos quando lhe será possível prestá-la...
Por aqui, a nossa expectativa com a presença de Xavier superou a expectativa dos brasileiros pela conquista efectuada levada a efeito nos campos da Coreia e do Japão...

— Pelo menos — insisti —, não desconfiam na companhia de quem ele esteja?
Inácio, você pergunta e se arrisca demais — disse-me André, como se fossemos velhos conhecidos.
Não se esqueça de que o nosso pessoal lá embaixo é um tanto avesso às revelações deste Outro Lado...

Quando publiquei “Nosso Lar”, quase desisti de seguir adiante;
não fosse pelas palavras de incentivo do Dr. Bezerra de Menezes e da Ministra Veneranda, eu teria recuado...
Ainda hoje, alegam que o meu trabalho é questionável, sob o pretexto de que eu não era espírita e que estagiei por mais de oito anos no Umbral, como se quase todos eles, ao deixarem o corpo físico, não fossem demorar-se nas regiões inferiores...

Fazendo breve silêncio, André, um tanto mais circunspecto, continuou:
- O nosso Xavier está na melhor companhia a que fez jus, pelo seu esforço e desprendimento...
Mais tarde, temos certeza, ele virá ter connosco e, então, lhe prestaremos a merecida homenagem, pois, afinal de contas, interpretando-me o pensamento, ele pode ser comparado a um descobridor de novas terras...

- E “Nosso Lar”, como é que vai? — indagou Odilon, cooperando com as anotações que, mentalmente, eu ia realizando.
- “Nosso Lar” mudou muito;
a cidade cresceu assustadoramente e, pasmem, quase todo espírita que desencarna quer vir para cá.

Tivemos, evidentemente, que controlar a questão da imigração espiritual...
Estamos hoje em cerca de dez milhões de habitantes e a qualidade de vida, como não poderia deixar de ser, vem sofrendo...

A “Nosso Lar” de nossa obra, escrita há quase sessenta anos, já não é mais a mesma;
muitos dos nossos personagens já reencarnaram:
Lísias, o próprio Ministro Clarêncio...

— E você — questionei — quando pretende descer?...
André sorriu e me disse:
- O cerco está apertando...
Com a desencarnação de Xavier, fiquei, digamos, desempregado;
tenho, sim, escrito páginas esparsas por um e outro médium, mas, neste sentido, a minha tarefa está concluída...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:08 pm

Creio que, no máximo, dentro de dois ou três lustros, reencarnarei...
Daqui em diante, procurarei me preparar, ampliando os meus estudos específicos, já que pretendo voltar a actuar no campo da Medicina, agora dando ênfase ao seu aspecto espiritual, e, depois, algumas questões familiares permanecem pendentes no meu carma...

— Até no seu caso, com tantos “bónus-horas”?...
Questionei, realmente surpreso.
- E por que não, Inácio?...
Assim escrever livros nos isentasse de determinadas provas;
eu vou ser chamado na condição de ser humano encarnado, a colocar em prática tudo que escrevi...

- Mas você não funcionou como médium?
— Não importa...
Aproveite para dizer ao pessoal da mediunidade na Terra que toda teoria necessita ser sancionada pela vivência;
o nosso Xavier fez as duas coisas ao mesmo tempo e se redimiu...

A ideia de que ser médium significa só ser ponte é primitiva;
à medida que os conhecimentos do medianeiro se dilatam, a sua responsabilidade se acresce:
ele é convidado a uma participação efectiva em todo e qualquer processo de intercâmbio...
Antes, o médium era meio;
hoje, ele deve ser meio e fim...

— No entanto — obtemperei — o pessoal continua querendo ser apenas meio...
— É mais fácil e mais cómodo, não é? — falou André Luiz, incisivo.
Carecemos, no entanto, lembrá-los de que o Espiritismo já conta quase um século e meio de existência...
É hora de crescer e de assumir maior responsabilidade.
Até quando os próprios medianeiros, com o propósito de não servir, vacilarão na fé?
Uma inverdade não resistiria tanto tempo assim...

— Você tem razão — concordei.

Odilon, que se conservava em silêncio, manifestou-se dizendo:
— O que particularmente me preocupa, é a questão do discernimento;
infelizmente, notamos a presença de muitos médiuns ensandecidos.
São portadores de excelentes faculdades, mas o excesso de personalismo e vaidade...

— A triagem, Odilon, acontecerá de modo natural...
Não se preocupe. Apenas os, de facto, idealistas persistirão;
nem a possibilidade de algum ganho financeiro com a mediunidade servirá de estímulo para os que não forem movidos pelo ideal...

Publicarão uma ou outra obra e... desaparecerão de cena.
Os Espíritos Inspiradores não se demoram ao lado de quem não abrace a causa da Doutrina por amor ao Evangelho;
a fonte jorra;
porém, se quem dela se beneficia não cuidar da nascente, ela terminará por secar...

Mudando o curso das palavras, André Luiz considerou:
— Bem, amanhã vocês dois farão parte do nosso projecto de viagens interdimensionais;
devo dizer-lhes que, por enquanto, as nossas excursões acontecem com maior facilidade sobre a Terra mesmo;
as nossas naves espaciais, inclusive, tem sido confundidas com os OVNIS, objectos voadores não identificados provenientes de outras esferas habitadas...

— Como assim? — interroguei.
- O facto explica, Inácio, o porquê de alguns verem e de outros não, os genericamente rotulados de OVNIS;
na verdade, a maioria dos nossos irmãos encarnados, dotados de clarividência momentânea, percebem as nossas naves espaciais em excursões próximas à Crosta...

Retomando a explicação inicial, o conhecido Instrutor prosseguiu:
— A viagem será curta; um breve pouso, tempo suficiente para que observem o indispensável, e retorno imediato à base...

— Essas viagens interdimensionais têm sido constantes? — perguntei.
— Sim, porém ainda não dominamos perfeitamente a técnica, principalmente no que se refere às nossas próprias percepções;
a luz intensa da Dimensão mais próxima, onde vocês estarão, bloqueia-nos a visão e nos sentimos enfraquecidos;
muitos chegaram a desfalecer e tiveram que ser hospitalizados;
a tendência da Luz maior é a de absorver a menor...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:08 pm

CAPÍTULO 33

A companhia de André Luiz era extremamente agradável e, enquanto efectuávamos, ciceroneados por ele, um pequeno tour por “Nosso Lar”, íamos conversando:
— Dr. Inácio — perguntou-me —, nunca esteve antes em nossa cidade?
— Não, André, a vontade sempre foi muita, mas confesso-lhe que nem em estado de desdobramento...
De modo geral, as minhas actividades me prendiam o espírito ao Sanatório;
mesmo quando saía do corpo, eu permanecia na região, sem conseguir ausentar-me da esfera das minhas preocupações imediatas...

E disse-lhe, envergonhado:
— Li o seu livro, que se converteu em best seller, uma única vez e não tive oportunidade de ler, detalhadamente, os demais que lhe constituem a famosa série;
desculpe-me, mas, para ler, como a maioria dos espíritas, eu sempre fui um tanto preguiçoso...
Odilon, sim, era um assíduo leitor, pois, sempre que eu o encontrava, estava de livro nas mãos e tinha o hábito de ler caminhando...

— Nós já o visitamos no Sanatório, em Uberaba, Doutor — revelou-me André com simplicidade —;
por duas ou três vezes, na companhia do Dr. Bezerra, lá estivemos apreciando o seu trabalho...

Quando a oportunidade nos ensejava, antes ou após as tarefas desenvolvidas na “Comunhão Espírita-Cristã”, passávamos por lá, conduzindo companheiros interessados no estudo da obsessão; aliás, visitávamos actividades semelhantes em toda a região do Triângulo Mineiro e de outros Estados;
nem sempre podíamos ir juntos, mas nos dividíamos em diversas equipes, sob a coordenação do Dr. Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo...

Certa vez, participei de uma reunião dirigida por você com a médium Maria Modesto Cravo, e admirei o entrosamento de ambos no trabalho mediúnico;
raros grupos, à época, conseguiam resultados tão satisfatórios...

— Bons tempos aqueles, André! — comentei, pesaroso.
- Os de hoje são melhores, Doutor — confortou-me o amigo, solicitando, com o olhar, a aprovação de Odilon.
- Desculpe-me perguntar — falei, aproveitando a chance — mas você não sente certa saudade do trabalho que desenvolveu ao lado do nosso Chico, desde Pedro Leopoldo?...
De anónimo seareiro na Vida Espiritual, você se tornou conhecido em todo o Brasil;
inúmeras de suas obras foram traduzidas para outros idiomas e o seu pseudónimo se encontra inscrito na fachada de várias instituições espíritas...

Sem receio algum de mostrar-se emocionado, o interpelado respondeu-me:
— Estou me sentindo como quem houvesse desencarnado uma segunda vez, sem que sequer tivesse novamente reencarnado...
— Os nossos irmãos do mundo não acreditarão nestas palavras...

— Muitos nos consideram aquilo que não somos, ou seja, espíritos já completamente libertos de toda e qualquer emoção humana...
Nós, os mortos, também sentimos saudades da Terra!...
Os que fazíamos parte da equipe dirigida pelo venerável Emmanuel, em tarefa regular junto ao médium Xavier, estamos com várias reuniões programadas com o nosso Dr. Bezerra.
Careceremos de definir rumos e... cuidar da vida, que não cessa...
Quanto a mim, digo-lhe que não esperava que a responsabilidade crescesse tanto, contudo, conforme lhe disse, uma nova experiência no corpo me espera...

- E conseguirá, ao reencarnar, esquecer o que foi e o que representa para o Movimento Espírita?
— Odilon — retrucou sorrindo o Benfeitor— o nosso Dr. Inácio vai fundo nas questões...
— Você ainda não viu nada! — comentou o confrade, deixando-me ruborizado.

— Desculpe-me o atrevimento, mas é o que eu, se ainda estivesse encarnado, gostaria de saber — expliquei-me.
— E com justa razão, Doutor;
estou apenas admirando o seu modo transparente de colocar as coisas...
Isto talvez seja uma virtude também rara por aqui, depois da morte.
Mas, respondendo-lhe, digo-lhe que é preciso que eu esqueça, assim como não mais me lembro de que, um dia, fui Carlos Chagas, haverei de me esquecer de que sou André Luiz...

- Você não era Osvaldo Cruz?... — indaguei sem vacilar.
- Não!...
- E por qual motivo não se identificou desde o início?
— A obra do médium Xavier não necessitava do meu nome para lhe conferir credibilidade e, depois, precisávamos evitar maiores problemas para a Doutrina...

— Está se referindo ao caso envolvendo a família do escritor Humberto de Campos?
— A ele e ao estardalhaço que a imprensa leiga haveria de promover;
se o próprio Emmanuel constitui pseudónimo, porque eu não poderia ter feito o mesmo?...
E Frederico Figner, porventura, não adoptou o pseudónimo Irmão Jacó, em tributo à sua origem judaica?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:08 pm

Quando me preparava para continuar entrevistando a respeitável entidade, cuja importância do trabalho mediúnico de parceria com Chico permanece inédita para a maioria dos adeptos do Espiritismo, Odilon chamou-me a atenção para a belíssima paisagem à frente:
- Veja, Inácio, como é exuberante a Natureza em “Nosso Lar”!...
— Este é o famoso “Bosque das Águas” — esclareceu André Luiz.
Hoje, evidentemente, como quase tudo aqui em “Nosso Lar”, se modernizou.

Apenas os casais de namorados que passeiam por ele, trocando juras de amor e traçando planos de futuro reencontro na Terra, não se alteraram em seus propósitos;
aqui continua sendo o lugar preferido dos que pretendem um relacionamento afectivo mais espiritualizado...

O veículo, que era conduzido por André, obedecendo-lhe ao comando mental, pousou suavemente sobre a relva, próximo a uma cascata que jorrava entre pedras dispostas em formato de coração. Para mim, eram tantas as novidades e surpresas, que eu me esquecera de reparar naquele aerobus em miniatura que nos transportara, sobrevoando o espaço aéreo da cidade...

Notando o meu interesse ao examinar o veículo, o devotado irmão esclareceu:
- À época em que escrevi “Nosso Lar”, o aerocar ainda estava em fase de experimentos;
ele é constituído de matéria subtilíssima, intermediária entre o vidro e o plástico, extremamente leve, porém ultra-resistente a impactos...
— A impactos? — indaguei, curioso.
- Sim, por vezes, o trânsito aéreo por aqui também fica complicado...

— Qual é o combustível que o faz movimentar-se?
— Energia solar, e o índice de poluição é zero...
— E o custo também?
- É claro!...

Convidando-nos a caminhar nas proximidades, André nos informou que o “Bosque” havia se transformado no cartão postal da cidade.

- Outras colónias espirituais têm procurado copiar o nosso paisagismo, no entanto, certas espécies de árvores e de flores só se desenvolvem aqui:
as sementes que elas produzem — ainda não se sabe por quê — não vingam em outras regiões.
Neste sentido, diversas experiências já foram realizadas em vão;
acredita-se que o magnetismo do solo lhes seja particularmente propício...

— Chove em “Nosso Lar”? — quis saber, inteirando-me dos detalhes possíveis.
- Como não! — respondeu André incisivo.
Em seu estado gasoso, que para nós é líquido, é que a água existe por aqui;
não temos aquelas tempestades que provocam enchentes devastadoras, mas, na estação oportuna, cai uma espécie de garoa que, sendo chuva muito fina, fertiliza o solo, aumenta o volume dos riachos e dos rios, saneia a atmosfera...

Não se esqueça, Dr. Inácio, de que “Nosso Lar” e uma colónia situada próxima à Crosta e muitos dos fenómenos atmosféricos que atingem o Planeta, de forma mais atenuada, passam igualmente por nós...

Apenas acima, na região fronteiriça a Dimensões pertencentes a outros orbes planetários do Sistema, é que o clima muda as suas características...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:09 pm

CAPÍTULO 34

Pássaros de plumagem maravilhosa e canto mavioso, esvoaçavam perto, sem nenhum temor da nossa presença.

Na mata que se estendia a perder de vista, não me parecia haver predominância de uma espécie animal sobre a outra;
eu tinha a impressão de que tudo, inclusive o espaço, era equitativamente dividido, o que emprestava ao ambiente uma harmonia incomparável...
Não foi sem grande surpresa que notei num galho de árvore a presença de um ninho entretecido com ramos e flores.

- Trata-se de uma espécie de rouxinol que se aclimou no “Bosque” — explicou-me André.
- Mas eles estão chocando?...
— E por que não haveriam de fazê-lo, Doutor?
Seria a Terra um mundo mais perfeito do que o nosso?
Enganam-se os que pensam que nós sejamos assexuados...

A vida sempre passa de uma Dimensão a outra;
rodeia-nos uma Dimensão invisível...
Respiraríamos o quê?
Ou os homens nos acreditam igualmente desprovidos de pulmões?

— E nascem crianças por aqui?...
André Luiz e Odilon se entreolharam e o amigo que nos acolhia respondeu-me:
— É claro que sim, no entanto convém que o senhor não se aprofunde agora neste assunto, pois correrá o risco de invalidar toda a sua obra...
A Reencarnação é constituída de nuances que os homens não poderiam entender.
Se a população espiritual é maior que toda a população mundial, de onde viriam esses espíritos?
Matematicamente, é impossível que procedam da Terra...

- De outros mundos físicos?
- Alguns, porém, não todos.
Esses espíritos, Doutor, são oriundos de Dimensões localizadas acima ou paralelamente à nossa...
O vazio absoluto não existe e a Vida palpita em toda parte;
as diferentes Dimensões se intercomunicam.
E existem passagens entre elas, e emigrar de uma para outra implica modificação em nível de perispírito e de forma...

A Reencarnação, na verdade, é uma escada que, quando desce, se materializa e, quando sobe, se subtiliza.
Os homens não deixam o corpo em definitivo;
mais cedo ou mais tarde, sentem-se atraídos para uma nova experiência física;
os espíritos que galgam outras Dimensões, muitos deles ainda não se emanciparam de seus compromissos por aqui...

Não nos prendamos à terminologia e procuremos entender o processo reencarnatório como sendo um sistema de renascimento.
De uma esfera espiritual a outra, os caminhos são intermediários, pois na Natureza, nada acontece abruptamente.

É só o que, por enquanto, Doutor, eu posso lhe adiantar.
O sexo, além da morte, não é algo pecaminoso: é instrumento de sublimação.

Não teríamos tempo para percorrer todo o “Bosque”;
escurecia e tínhamos necessidade de voltar.

Ah, as noites estreladas em “Nosso Lar”!...
As estrelas me pareciam imensas, e a Lua, em seus reflexos etéreos, era um gigantesco disco prateado que tudo emoldurava de luz.

Eu estava vendo a face da Lua que nenhum mortal jamais vira da Terra!...
A Lua “morta” era infinitamente mais linda que a Lua “viva”;
deste Outro Lado da Vida, os poetas, por ela apaixonados, deveriam se deslumbrar mais ainda!...
O luar de “Nosso Lar” é a paisagem mais bonita e espiritualizada que eu já vi!...
A noite, em “Nosso Lar”, é um dia mais belo que a mais bela manhã de domingo primaveril sobre a Terra!...

Confesso-lhes que fiz a viagem de volta em completo silencio.
Subimos ao aerocar que, sob o impulso mental de André Luiz, se ergueu do solo como se fosse um helicóptero sem hélices e partiu;
o seu chamado computador de bordo registava o comprimento de onda do pensamento do condutor, que aprendia a identificar, e se programava para obedecer-lhe...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:09 pm

Naquela noite, eu quase não dormi, ansioso pelo dia seguinte.
André recomendou-me que, pelo menos, tentasse relaxar, pois o êxito da nossa viagem à Próxima Dimensão também dependeria do nosso estado de espírito...

Eu estava com a cabeça cheia e tive dificuldades para me acalmar.
Por que será — reflectia, de olhos fixos no tecto do quarto — que André Luiz não fora mais explícito em suas revelações?
Por que motivos não nos falara dos detalhes interessantes que me estava sendo dado observar?

Lendo os meus pensamentos, Odilon, que descansava na cama ao lado, respondeu-me:
— Inácio, o seu “Do Outro Lado do Espelho” tem causado estranheza entre muitos companheiros que não aceitam o que você tentou descrever...
André escreveu “Nosso Lar” há quase 60 anos e, até hoje, ao que estamos sabendo, as suas informações têm sido contestadas;
espíritas eminentes não lhe aceitam as descrições do Umbral... Vá com calma!

O seu propósito é dos melhores, mas devemos esperar, no mínimo, talvez outros tantos para que o avanço da Ciência referende as revelações que desejamos transmitir aos nossos irmãos encarnados.
De facto, faltam-nos terminologia adequada e possibilidade mediúnica:
os médiuns dos quais nos temos valido temem a crítica e o ridículo, o que é natural.
Coloquemo-nos no lugar deles.
Durante séculos e séculos, a Igreja nos sugestionou e quantos não se mantêm vinculados à ideia de um Céu constituído de nuvens, Deus sentado num trono, Anjos tocando harpa e... nada mais...

- Infelizes padres!... — exclamei, quase profanando o ambiente em que nos encontrávamos.
— Atrasaram a Humanidade em mais de mil anos!...
— Diante de tudo quanto encontramos deste Outro Lado, Inácio — ponderou o companheiro, procurando me tranquilizar —, daquilo que estamos constatando e do que sequer podemos sentir, é forçoso concluir que não podemos culpar o espírito, qualquer que seja ele, pelas distorções da Verdade...

O orbe terrestre é um abençoado educandário, mas ainda extremamente primitivo;
custará muito rompermos a resistência que os homens impõem à crença na imortalidade...

Os espíritos infelizes dominam os nossos irmãos encarnados que, em maioria, se rendem, inermes, às ideias materialistas que lhes são inoculadas;
quando no corpo, assemelhamo-nos aos prisioneiros que Platão descreveu em “O Mito da Caverna”;
estamos, quase que de modo permanente com a face voltada para o ângulo obscuro da Vida, tomando a ilusão pela realidade...

— Você tem razão, Odilon — concordei.
Não podemos mesmo inculpar a quem quer que seja;
os que ousaram suspender uma ponta do véu que nos encobre a visão da Verdade foram sumariamente mortos...

Nós mesmos, na condição de espíritas, temos sido muito tímidos e, como não podemos crucificar os espíritos reveladores, ridicularizamos os médiuns que lhes servem de instrumentos, e tudo isto porque a luz projectada no escuro da ignorância humana não parte de nós...

Reconheço que tenho criticado os padres em excesso, mais talvez por hábito do que propriamente por convicção;
tenho que me corrigir neste sentido, como, aliás, em muitos outros...

O que fiquei sabendo hoje, em “Nosso Lar”, está me confundindo os pensamentos;
o facto de um simples rouxinol poder entretecer o seu ninho e chocar os seus filhotes, depois da morte!...
Não aceitar isto é, sem dúvida, fazer pouco da Inteligência de Deus...

- O Espiritismo, no final do milénio passado, deu importante passo para que o homem se integre com o Universo, mas ainda lhe falta muito;
aqui, onde agora nos encontramos domiciliados, a Vida nos surpreende a cada instante e nada é impossível...

Veja, estamos nos preparando para inusitada excursão, amanhã de manhã, à Dimensão mais próxima, e sei que você pretende narrar a experiência aos nossos irmãos da Terra o que, de minha parte, considero uma temeridade, todavia tanto você quanto o médium do qual se servirá dispõem de livre-arbítrio e suficiente discernimento para o que ambos desejam, porém é meu dever preveni-los no que tange às reacções contrárias que serão suscitadas...

Finalmente, vencido pela lassidão decorrente do meu estado de ansiedade, adormeci e, sinceramente, imaginando que aquilo tudo não passasse de um sonho, creio até que ronquei, com saudades do tempo em que as minhas preocupações eram infinitamente menores para o dia seguinte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 12, 2012 10:09 pm

CAPÍTULO 35

Quando André Luiz apareceu para nos conduzir à Estação de Embarque, Odilon e eu já o aguardávamos, olhando, pela vidraça da janela, a intensa movimentação dos que acordavam cedo em “Nosso Lar”.

- Em quase tudo — pensava comigo — semelhante à vida em uma grande cidade...
Quais serão, aqui, os objectivos das pessoas?
Sim, porquanto a morte não nos priva, de improviso, dos objectivos da pessoa comum...

Para onde caminham? Quais as suas ocupações?
O que pensam da vida que deixaram lá embaixo?...
Por incrível que parecesse, muitos daqueles com os quais eu já havia me relacionado não ligavam a mínima importância ao que se passava na Terra;
não lhes interessava sequer a sorte dos próprios familiares...

- Para que me preocupar — perguntou-me um deles —, se fatalmente acabaremos por nos encontrar;
a morte não existe — eis o essencial, o resto é consequência da Vida...
Observando toda aquela agitação na cidade que despertava, lembrei-me de um dos filmes de Flash Gordon que eu fora ver no cinema, há 65 anos, no qual uma ficção aperfeiçoada se tornara realidade;
os carros planavam no ar e os prédios mais me pareciam torres iluminadas, com os elevadores correndo na sua parte exterior...

Eu não percebia mendigos nas ruas, mas os transeuntes, alguns deles, evidenciavam problemas psicológicos, pois que caminhavam robotizados, ou seja, faltava-lhes algo de mais humano no semblante...
Com sinceridade, se a população de “Nosso Lar” fosse toda daquele jeito, eu preferiria conviver somente com os homens na Terra...
As minhas reflexões foram interrompidas com a chegada de André, que nos cumprimentou com descontracção.

- Como é, dormiram bem?
Espero que não tenham estranhado as nossas acomodações — disse, fixando em mim os olhos claros e lúcidos.
Enquanto estava a caminho, eu vinha acompanhando o pensamento do nosso Dr. Inácio...
Durante um bom tempo, eu também achei tudo muito diferente por aqui;
inclusive, o Umbral, onde estive durante uns oito anos, me parecia mais humano...

Aos poucos, porém, me habituei e, hoje, quando devo ir à Terra, confesso-lhes que, para mim, os nossos irmãos encarnados ainda vivem de maneira primitiva;
obra fantástica da evolução, o corpo físico me parece agora excessivamente animalizado, com todas as suas necessidades...

Determinados órgãos que ainda continuam a existir em nosso perispírito, não têm função alguma além da morte — reactivam-se tão-somente quando nos lançamos a uma nova experiência física...

Mas não podemos nos atrasar:
dentro de duas horas, o voo de que ambos participarão à Próxima Dimensão terá o seu início.
Conversaremos a caminho.

De certa forma, o silêncio de Odilon me incomodava e, então, eu lhe perguntei:
— Por que, Odilon, de hábito tão falante, você permanece em silêncio?
- Ora, Inácio — brincou o companheiro — eu bem que tenho tentado dizer alguma coisa, mas você não me dá tempo!

Pela primeira vez, vi um espírito, considerado Mentor, dar uma gostosa gargalhada.

— Havia muito que eu não ria deste jeito — explicou-se André, descontraído.
Você precisa vir mais vezes por aqui, Doutor;
o seu refinado senso de humor nos faz falta...
— Você quer dizer a minha turrice, não é?...
— O nosso Dr. Inácio — aparteou Odilon — é um dos espíritos mais autênticos que conheço...
— Agora, não me elogie, Odilon;
depois da vergonha que você me passou, não me elogie...

Prosseguindo a sorrir de nossas brincadeiras, André Luiz nos falou:
— Vejam, a Plataforma de Lançamento;
a nave espacial já está a postos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 8:50 pm

- Eu imaginei que ela fosse maior — objectei.
— Doutor, em comparação com as nossas, as naves espaciais da NASA são foguetes arcaicos e obsoletos...
Veja bem, não se trata de crítica, mas de simples constatação.
A Astronáutica na Terra é uma ciência que tem avançado rapidamente, no entanto muito ainda lhe compete progredir;
dentro de, aproximadamente, 20, 30 anos, se a Humanidade não mergulhar numa guerra de extermínio, as conquistas serão fantásticas...

O veículo que nos conduzia estacionou a certa distância e dirigimo-nos para um módulo que me parecia constituído de material semelhante ao vidro, tal a sua leveza e transparência.
André, que tinha acesso a todos os sectores da cidade, sem que se fizesse anunciar, menos no Palácio da Governadoria, foi nos guiando por um extenso corredor, que, automaticamente, ia lhe descerrando as portas, até nos levar à presença do Chefe da Estação.

- Olá — saudou-nos, assim que nos viu.
Espero que se sintam a vontade.
André nos forneceu as suas credenciais e estamos muito felizes por recebê-los.
Periodicamente, temos empreendido excursões de estudo e de reconhecimento à Dimensão Vizinha, que chamamos de DVI.
Não se assustem com números e siglas;
isto é apenas para facilitar.

Vocês serão acompanhados por um estagiário que está se preparando para ser piloto e pelo comandante Nielsen.
A nave em que embarcarão será aquela: “Capitão Nebo”...

Apertando um botão no colorido painel, uma ampla janela de duas folhas se abriu e pudemos ver a “Capitão Nebo” mais de perto, cujo comprimento não excede ao de um carro confortável;
por ser semitransparente, podíamos vê-la por dentro, reparando no seu mecanismo simples...

— Os nossos cientistas — explicou-nos o Dr. Dawson — já conseguiram eliminar grande número de peças;
as nossas naves são imantadas por um campo de força que não lhes permite fugir à rota traçada.
É como se um ímã a mantivesse interligada à Plataforma de Lançamento e à Estação de destino...
Isto facilita sobremodo, pois o risco de pane é menor.

— Pane?... — indaguei, perplexo.
- Sim, por que não? — respondeu o Dr. Dawson.
No “Sistema”, só Deus está isento de pane, o senhor concorda?
— Deus e Jesus Cristo — respondi.
— Os que comungam com a Mente Divina são divinos e, portanto, dá na mesma...

Percebi que o Dr. Dawson era extremamente prático no raciocinar e não tinha escrúpulo de carácter teológico ou doutrinário.
Nielsen e seu pupilo, o Aspirante Yuri! ... — apresentou-nos o Dr. Dawson aos nossos dois companheiros de voo, que, trajados a carácter, terminavam de entrar.

— Dentro de 30 minutos zarparemos, a nau já está devidamente preparada e convém que os nossos dois tripulantes se vistam adequadamente — esclareceu o simpático Nielsen, ao nos dar as boas-vindas.

Entrando numa pequena cabine, eu e Odilon nos despimos e envergamos uma espécie de macacão todo dourado, equipado com câmaras, microfones e fones de ouvidos.

— Para que todo este aparato? — perguntei a Yuri, que nos acompanhara.
- Para melhor nos comunicarmos entre nós — respondeu.
Na DVI, em algumas áreas, poderemos ficar completamente sem retorno...

— Sem retorno do quê? — insisti.
— Do pensamento...
Na DVI, à semelhança do som que não se propaga em determinado meio ou, então, se propaga com maior lentidão, carecemos de recorrer a...

— Microfones e fones de ouvidos?... Positivo! ...
O pensamento, que é constituído de ondas electromagnéticas, se perde sem eco e a comunicação se faz impossível...

— Isto é demais para a minha cabeça de psiquiatra — comentei, enquanto ajustava os fechos da roupa que nos colocara no corpo espiritual.
— Sem dúvida, que é — respondeu o Aspirante, laconicamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 8:51 pm

CAPÍTULO 36

A nave espacial que nos conduziria à DVI era de forma esférica, à semelhança de um OVNI, e constituída de material extremamente leve;
dentro dela, havia espaço apenas para quatro pessoas.

Já o painel, com tantas teclas e botões coloridos, seria impossível de descrever, principalmente para mim que apenas presenciei o advento do computador — nunca entrei na cabine de um avião e, portanto, não tenho elementos de comparação para melhor descrevê-lo...

O Dr. Dawson, que nos acompanhara, despediu-se de mim e de Odilon, caçoando, antes que tomássemos lugar na “Capitão Nebo”:
— Em caso de acidente, saibam que a morte não existe...

Nielsen e Yuri tomaram lugar à frente, enquanto eu e Odilon nos acomodávamos em poltronas anatómicas, que se nos ajustaram completamente.
(Faço uma ideia de como haverão de estar espantados e incrédulos os leitores que tiverem ousado chegar até o presente trecho destas minhas despretensiosas anotações...
Eu também ficaria! Advirto-lhes, porém, que estou tentando não causar-lhes tanta estranheza, sintetizando e omitindo detalhes que, talvez, os induzissem a maior espanto e incredulidade.)

Sinceramente, eu não saberia lhes dizer qual a natureza do material em que a “Capitão Nebo” se estrutura;
Nielsen disse-me o nome, mas a palavra me soou aos ouvidos como um amontoado de consoantes sem significado.

Os vidros laterais se fecharam e, accionando pequena tecla amarela, a nave entrou em funcionamento silencioso e, rápido, começou a se elevar da plataforma, imitando o movimento de um helicóptero sem hélices.

— Viajaremos à velocidade da luz e, portanto, não nos será possível apreciar a paisagem;
em alguns pontos, diminuiremos sensivelmente a aceleração e, então, vocês poderão perceber alguma coisa do Cosmos...

— A velocidade da luz, para alcançar algo que está tão próximo? — perguntei ao microfone acoplado à roupa especial.
— Tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante, Doutor — respondeu-me Nielsen.
Nada mais próximo, porém, nada tão distante quanto o Criador da criatura;
nenhum continente é imaginariamente tão longínquo que do homem quanto o seu próprio mundo interior.
A questão, Doutor, não é exactamente de distância...

— Que direcção estamos tomando? — indaguei, tentando desviar a mente de preocupação.
Estamos subindo ou descendo, para a direita ou para a esquerda?
- Esta segunda pergunta é mais difícil do que a primeira;
temos, evidentemente, uma rota, mas o seu sentido depende do ponto de referencia que estabelecemos...
Digamos que estamos subindo e avançando...

Não sei precisar quanto tempo se passou — alguns poucos segundos, talvez — e Nielsen nos explicou:
— Estamos atravessando um espaço sem gravidade, ou, pelo menos, sem gravidade convencional:
é uma espécie de fronteira magnética entre uma Dimensão e outra;
não se preocupem: a nave se converte em um planador e segue sem alterar a rota;
aproveitem para apreciar a paisagem...

— O que estamos vendo? — perguntei.
Algum planeta nosso conhecido na Terra ou alguma estrela que os astrónomos encarnados já tenham identificado?
- Nem uma coisa nem outra;
são esferas espirituais, inacessíveis ao olho humano:
é a parte positiva do Universo...

—A parte positiva do Universo?...
- Sim, Doutor, a negativa é a que se constitui de matéria densificada;
a morte, figuradamente, é a Vida em seu aspecto positivo...
Tudo se apoia e existe em função de um contraponto — Criador e criatura, Vida e morte, Bem e mal...

- Entramos em algum “buraco negro”?
- Sim, o que os homens tem chamado de Anti universo, ou Universo Paralelo...
- Que beleza extraordinária! — exclamei.
Tenho a impressão de que estamos navegando no mar;
a nossa nave espacial parece singrar determinadas ondas cósmicas!

Nielsen sorriu e concordou.
Bolhas flutuando, de cores inimagináveis e formatos variados, pairavam no Espaço — de todos os tamanhos e consistências...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 8:51 pm

— Algumas dessas “bolhas”, Doutor, são habitadas..
- Habitadas? Por quem?
- Por seres inteligentes...
- Humanos?

Ante a ingenuidade da minha pergunta, nem Odilon conseguiu deixar de sorrir, complacente.

— Doutor — falou-me o Comandante —, a forma humana é uma das mais primitivas expressões de vida inteligente...
- Eu sempre me achei feio, mas nem tanto — procurei descontrair.
Estrelas minúsculas pareciam brincar no firmamento sem gravidade e alguns “corpúsculos” pareciam se aproximar da nave, auscultando-nos a intenção.

— O que são? — argui, observando aqueles “pontos” que se destacavam dos demais, movimentando-se com racionalidade.
- São os seres que habitam as bolhas flutuantes...
— Espíritos?
— Sim...
— Sublimados?...
— Não... A sua evolução se vincula ao sistema de Vida da Próxima Dimensão;
nunca estiveram na Terra e, provavelmente, nunca estarão...

— Fica difícil compreender — afirmei, com ideias que se me confundiam na cabeça.
- Não tente, Doutor, não tente — aconselhou-me Nielsen.
- Esses seres reencarnam? — insisti.
- Digamos que tomarão corpo na Dimensão Vizinha — corpo e forma...

— São bons ou são maus?
- Melhores, Doutor, bem melhores do que os espíritos sem forma que nos rodeiam, ou seja, que rodeiam os homens encarnados...
— Está se referindo aos chamados corpos ovóides?
- Não somente a eles, mas também aos elementais, aos espíritos disformes, amorfos, aos que se encontram em estado de transição...

— Eu nunca soube deles, os em estado de transição...
— Mas eles existem...
Se somente o que somos capazes de conceber existisse, a Vida seria infinitamente pobre!

De repente, a “Capitão Nebo” sofreu mais acentuada aceleração e Yuri explicou:
- Estamos deixando o “cinturão sem gravidade”...
Pousaremos na DVI em poucos instantes — avisou-nos Nielsen.

Deixaremos a nave e não nos demoraremos mais do que o suficiente para alguns registos de estudo;
os nossos irmãos estão avisados da nossa visita, mas aqui nos sentiremos como o peixe que, fora do habitat natural, não consegue respirar por muito tempo;
o nosso corpo espiritual não se adapta:
o ar que aqui se respira, não serve para os nossos pulmões...

Não adianta ao homem querer ser anjo, antes de sê-lo...

A “Capitão Nebo” iniciou a sua aterrissagem em DVI e, quando tudo se aquietou, as duas portas laterais abriram-se sem qualquer ruído.

Nielsen e Yuri desceram primeiro e, ambos, com a destra erguida saudaram:
— O povo espiritual da Terra vem em missão de paz!...

A luz se intensificou lá fora e o Comandante consentiu que eu e Odilon descêssemos sobre a improvisada plataforma de pouso.
Infelizmente, eu não tenho como descrever o que vi e o que senti.
Cinco “seres de luz” se aproximaram de nós e um deles, se destacando, começou a tomar forma humana, semelhante à nossa.

— Eles podem se transfigurar com facilidade — disse-nos Nielsen —;
está copiando a nossa forma com o propósito de deixar-nos mais à vontade...
- Sejam bem-vindos, em nome do Divino Senhor da Luz — cumprimentou-nos.
- A Quem ele está se referindo? — perguntei a Yuri, que permanecera ao meu lado.

- A Jesus Cristo!...
- Quem são os dois novos amigos? — indagou se referindo a mim e a Odilon.
É a primeira vez que estão vindo com vocês?
Não me recordo deles...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 13, 2012 8:51 pm

CAPÍTULO 37

Nielsen respondeu:
— Trata-se de dois companheiros vinculados à Terra;
um deles é recém-chegado entre nós e ambos foram convidados pelo Dr. Dawson...

— Residem em “Nosso Lar”? — perguntou, dando-me, no entanto, a impressão de que conhecia praticamente tudo sobre mim e Odilon.
— Não; residem noutra Colónia, localizada nas imediações em que vem sendo desenvolvido importante trabalho de espiritualização no Brasil.
Foram contemporâneos do médium Xavier, aquele que se fez instrumento das revelações de André Luiz, que também já esteve aqui connosco...

- Soubemos de Xavier — afirmou a entidade sem nome, prosseguindo:
O trabalho dele possibilitará, no futuro, passos mais importantes e decisivos para que a Humanidade empreenda...
Ao deixar o corpo que, um dia, ocupamos de forma semelhante em outros orbes, ele se elevou acima da Dimensão que habitamos...
Presenciamos o cortejo iluminado que o conduziu.

Eu estava estupefacto e, sinceramente, não sabia em que atentar, se no diálogo que a entidade transfigurada mantinha com o Comandante da expedição ou nas edificações que podia divisar nas proximidades;
a cidade deles, se é que posso chamar o que via de cidade, era toda de vidro ou de material semelhante;
as edificações eram lindas e praticamente flutuavam, de tão leves e translúcidas;
davam-me a ideia de casas em formato de redoma, algumas maiores, outras menores, impossíveis de descrever em seus traços arquitectónicos, pois não havia uma sequer absolutamente igual a outra...

- Os senhores desejam formular alguma pergunta? — falou Nielsen, dirigindo-se a nós.
Não se esqueçam de que o nosso tempo de permanência é curto...

Digo-lhes que, por mais me esforçasse naquele instante, não consegui coordenar o raciocínio;
eram tantos os questionamentos, porém como me expressar, se eu não conseguia sequer me movimentar?...

Pela primeira vez, tive medo — medo de que o meu cérebro estourasse...
Eu queria saber, sim, mas por onde começar?
Tive vergonha e me senti um verme, diante daquela entidade que irradiava amor, o mais puro sentimento de amor que eu jamais sentira.
Comecei a me considerar indigno de pisar aquele chão...

Percebendo-me a angústia, o ser de luz se me dirigiu com extrema bondade:
— Somos irmãos: não se recrimine...
Onde quer que estejamos, estamos na Casa de Deus!
Não se aflija intelectualmente;
procure tão-somente guardar estes instantes no coração...

A Verdade transcende o domínio das palavras;
é impossível conhecê-la em sua essência, se não aprendemos a senti-la...
Você não conseguirá traduzir esta experiência com a terminologia ao seu alcance;
doravante, apenas quem conseguir fitar os seus olhos saberá o que pretende dizer a respeito...

Os Discípulos do Cristo, denominados Evangelistas, por causa de semelhante fenómeno, só depois de muitos anos é que conseguiram transportar algo do que ouviram e presenciaram para o papel...

Acalme-se, Inácio Ferreira! — disse-me a entidade, envolvendo-me em vibrações de paz que percorreram todo o meu corpo e se me centralizaram no coração.

O ar, que começara a me faltar, insuflou-me os pulmões, uma sensação de extrema leveza me possuiu e lágrimas discretas me deslizaram no rosto...

- Lágrimas!... — exclamou a entidade, aproximando-se e tocando-me as faces com o que suponho ser a ponta dos dedos.
Há quanto tempo eu não as via!...
Por aqui, exprimimos de forma diferente as nossas emoções...

Naquele instante, diminuta pétala resplandecente se destacou dos lábios da entidade e procurou a palma da minha mão, como se me ofertasse um ósculo de amizade eterna e, em seguida, dirigiu-se a Odilon, que a recebeu de cabeça inclinada, como quem não se julgasse merecedor de tamanha deferência.

Enquanto nos entendíamos, diversas outras entidades se aproximaram...
Quem seriam? Como se chamavam?
Eram todas adultas? De que se ocupavam?...
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