LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Página 2 de 3 Anterior  1, 2, 3  Seguinte

Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 16, 2012 10:20 pm

NOVA ADVERTÊNCIA
Irmão Jacob

Quantas horas; despendêramos voejando sobre o extenso império das sombras?

Debalde tentava rearticular a noção de tempo. O abatimento e as surpresas sucessivas como que me aniquilavam o autocontrole.

Continuávamos sem ocorrências dignas de menção especial, através da mesma paisagem triste e obscura, quando um dos membros da expedição, ao lado de Bezerra, lhe mostrou um objecto semelhante à bússola que conhecemos na Terra, emitindo impressões que o supervisor escutou atenciosamente.

Logo após, o venerável amigo determinou uma pausa e, congregando-nos todos em redor dele;
comunicou em voz sumida e prudente que nos avizinhávamos de uma ponte de acesso aos círculos de actividade espiritual dignificada, que nos aguardavam além; entretanto, o registo magnético do psiquismo de nosso grupo assinalava o fenómeno que classificou por “inquietante média de pavor”.

Acrescentou que a importância da ponte era tão grande que, comummente, muitos habitantes das regiões perturbadas se aglomeravam na base que deveríamos atingir dentro em pouco, ameaçando os candidatos ao Reno da luz.

Pediu-nos calma e decisão, silêncio e prece e, sobretudo, lembrou-nos a obrigação de esquecer qualquer falta mais grave do passado para não cairmos em sintonia com os Espíritos ignorantes, penitentes ou malfeitores, daqueles domínios.

Competia-nos manter harmonia e serenidade em nós mesmos, porque de outra maneira poderíamos interromper a corrente de força que sustentava os companheiros menos aptos ao serviço de volitação.


A PONTE ILUMINADA
Irmão Jacob

Não nos movimentáramos, por muito tempo, e um facho de luz sublime varreu o céu, não longe, indicando uma ponte cuja extensão não pude, no momento, precisar.

Tão formosa e tocante foi a revelação no horizonte próximo, que muitos nos pusemos em pranto.

A emotividade não provinha apenas da claridade que nos tocara os olhos;
comovente mensagem de amor transparecia daqueles raios brilhantes, que percorreram o firmamento, copiando a beleza dum arco-íris móvel.

Enquanto muitos companheiros continham a custo as notas de assombro que nos dominavam, cerrei os olhos, por minha vez, naturalmente envergonhado.

Temor súbito vagueava-me n’ alma.
Teria cumprido com todos os meus deveres?
Se constrangido a comparecer ante um tribunal da vida superior, estaria habilitado e apresentar uma consciência limpa de culpa?

Como seriam meus actos examinados?
Bastaria a boa intenção para justificar as próprias faltas?
O sinal luminoso cortou vagarosamente o céu, de novo.

Minha alegria, ante a aproximação do plano mais elevado, era inexcedível, mas a noção de responsabilidade, quanto às dádivas recebidas no mundo que eu deixara, pesava agora muito mais intensamente sobre mim...

Mereceria o ingresso naquele domicílio celestial?
Corriam-me as lágrimas, copiosas, quando o grupo estacou.

No mesmo instante, ouvi um dos irmãos recém-desencarnados gritar em choro convulso:
-Não! Não! Não posso! Eu matei na Terra!
Não mereço a luz divina!
Sou um assassino, um assassino!

Aqueles brados ressoaram lúgubres, sombras adentro.
Outras vozes responderam, horríveis:
-Vigiemos a ponte! Assassinos não passam, não passam!

Pareceu-me que maltas de feras preparavam-se para atacar-nos.
Não distante, a projecção resplandecente do invisível holofote clareava o caminho, qual se fora movida em “câmara lenta”.

Entre nós, emoções e lágrimas, junto de um companheiro em crise.
Em torno, ameaças e lamentos estranhos.
Além, a luz convidativa.

Bezerra, sereno, mas fundamente preocupado, rompeu a expectação, cientificando-nos de que deveríamos olvidas os erros do pretérito e que um dos amigos, em vista de corresponder em demasia à lembrança do mal, impusera descontinuidade à nossa viagem.

Acentuou que as reminiscências de crimes transcorridos não deveriam perturbar-nos e que bastaria sintonizar-nos excessivamente com o pretérito para causarmos sérios prejuízos a outrem e a nós mesmos, em circunstância delicada quanto aquela.

Disse que o irmão em crise realmente fora homicida em outra época, mas trabalhara em favor da regeneração própria e a bem da Humanidade, com tamanho valor, nos últimos trinta anos da existência, que merecera carinhosa protecção dos orientadores de mais alto e que não devia levar a penitência tão longe, pelo menos naquele momento, a ponto de ameaçar o Êxito da expedição.

Necessitávamos reatar o “fio de ligação mental comum”, a fim de que a nossa capacidade volitante fosse mantida em alto padrão.
De outro modo, a concentração em massa de entidades inferiores, ao pé da ponte, que se alonga sobre o abismo, talvez nos dificultasse a passagem.
Finalizando a ligeira observação, Bezerra acenou para mim e recomendou-me orar em voz alta, para que a nossa corrente de energia espiritual se recompusesse.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 16, 2012 10:20 pm

EM ORAÇÃO
Irmão Jacob

Espantado com a designação superior, senti medo e vacilei.
Ia pronunciar uma frase a esmo, esquivando-me à incumbência, mas Marta dirigiu-me expressivo olhar.

Em silêncio, pedia-me obedecer à ordem recebida e prometia ajudar-me no cometimento.

Amparado por ela e pelo Irmão Andrade, dispus-me a executar a determinação.
Que prece pronunciaria? Mantinha-se-me o cérebro incapaz de criar uma peça verbal, compatível com as aflições da hora.

Escutando os rugidos que procediam das trevas, fixei a filhinha e lembrei que Marta repetira aos meus ouvidos o Salmo 23, nos inquietantes minutos de minha libertação da carne.

Copiar-lhe-ia o gesto.
E erguendo meu espírito para o Alto, sentindo de instante a instante que a emoção e o pranto me cortavam as palavras, repeti os versículos sagrados.

Ao redor, conspiravam, em nosso prejuízo, o barulho e a ameaça:
todavia, quando pronunciei as frases de confiança:
- “Ainda que andemos pelo vale da sombra e da morte, não temeremos mal algum, porque Ele, o Senhor, está connosco;
a sua vontade e a sua vigilância nos consolam” – nosso grupo, com Bezerra à frente, levitou sem dificuldade e ganhamos a ponte, atravessando-a a poucos pés de altura acima dos arcabouços em que é estruturada, conservando o espírito em prece expectante, como se pesada força de imantação nos atraísse fortemente para o abismo.

Que lápis do plano carnal conseguiria descrever a nossa sensação de contentamento e alívio?

Fundo silêncio da alma consegue traduzir a paz, o reconhecimento e a alegria.


A CHEGADA
Irmão Jacob

Que seria da existência humana se todos os homens guardassem consigo a certeza de que vivem rodeados pela “nuvem de testemunhas espirituais?”

Como agiria a criatura na vida doméstica e no círculo social se estivesse convencida de que amigos e afeiçoados a esperam em outro lar?

Inseguro viajante, preferindo roteiros incertos, o Espírito encarnado quase nunca se lembra de que é simples hóspede da esfera que o recebe.

Não fosse um desmemoriado das bênçãos divinas e a caminhada, através da carne, ser-lhe-ia muito mais proveitosa e mais feliz o regressar!

Esses pensamentos assaltavam-me o cérebro, ante os amigos que nos abraçavam acolhedores.

Aguardavam-nos, contentes, no “outro lado”, com o carinhoso amplexo de boas-vindas!
Nenhum de nós, os que fazíamos aquela travessia pela primeira vez, depois de permanência demorada na carne, ficou órfão das lágrimas de ventura!

As explosões de carinho com que éramos recebidos faziam-me acreditar no ingresso no paraíso.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 16, 2012 10:21 pm

NA PAISAGEM DIFERENTE
Irmão Jacob

Modificara-se a paisagem, depois de transposta a extensa ponte.

A escuridão quase absoluta ficara para trás, nos caminhos percorridos, e a atmosfera nocturna tornara-se mais leve, mais clara.

Impregnara-se o ar de perfumes subtis.
Movimentando-se ao nosso lado, os amigos que nos aguardavam, além do despenhadeiro, entoavam cânticos de júbilo.

Não havia qualquer nota de tristeza nesses hinos de regozijo.
Eram todos vazados em soberana alegria, quais se estivéssemos regressando à casa paterna, como o filho pródigo da parábola.

Alguns foram acompanhados por Marta, cuja voz cristalina me expulsava o cansaço e o abatimento.
Muitos dos companheiros sustentavam tochas acesas e, à claridade delas, via-se-lhes o semblante iluminado e feliz.

Fizera-se a volitação mais agradável, mais rápida.
A estrada que percorríamos marginava-se de flores, algumas delas como que talhadas em radiosa substância, o que convertia a paisagem numa cópia do
firmamento.

Árvores próximas pareciam cobertas de estrelas.
Ouvindo as melodias suaves que partiam para longe, levadas pelo vento fresco a soprar-nos de leve sobre o rosto, eu não expressaria, de modo algum, a emoção que me dominava.

A que país, afinal fora eu arrebatado pela morte?
Teria subido a Terra até ao Céu ou teria o Céu baixado para a Terra?
Em verdade, incoercível desejo de dormir, ampla e despreocupadamente, escravizava-me o sentido.

As aflições de natureza física haviam terminado;
todavia, certa fadiga sem dor me submetia inteiramente.

No entanto, aquelas vozes argentinas, a se evolarem para o alto, alegremente, como que me embalavam o ser, revigorando-me as energias.

Os versos comoventes dos cânticos e a música espiritualizante que vagava na atmosfera me arrancavam lágrimas inesquecíveis.

Que fizera n mundo para merecer o devotamento dos amigos e as ternuras de minha filha?
Por que não me lembrara, mais vezes, na Terra, de que retornaria ao Lar Espiritual?

Eu pensara na morte, aguardara-a sereno e providenciara quanto julguei justo para quando o corpo exausto baixasse ao túmulo;
todavia, não supunha que a vida, aqui fosse tão natural.

Se soubesse antes, ter-me-ia preocupado em semear o bem e a luz, mais intensamente, na causa que abraçamos.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 16, 2012 10:21 pm

REENCONTRO EMOCIONANTE
Irmão Jacob

Meditando nas festividades cristãs dos tempos primitivos do Evangelho, notei que celeste bando de aves luminosas surgia longe, voando ao nosso encontro.
Que pássaros seriam aqueles?

Lera, em vários ditados mediúnicos, informes sobre a existência de aves diferentes das nossas, nas esferas espirituais vizinhas do plano físico, mas eram tão lindos os seres alados que se me revelavam aos olhos, que não hesitei em perguntar ao Irmão Andrade quanto à procedência deles.

Interpelado por mim, não ocultou o riso afável, e esclareceu:
-Não são aves e, sim crianças.
Estou informado de que viriam buscar nossa irmã M...

E designou a professora cujo corpo espiritual se caracterizava por formosas irradiações de luz.

Atencioso, prosseguiu dizendo:
-Algumas lhe receberam no mundo o calor da maternidade sublime.

Quase no mesmo instante, a assembleia de meninos particularizava-se.
Sob a admiração de nós todos, que interrompêramos a marcha, comovidos, alcançaram-nos cantando maravilhoso hino de glorificação à tarefa santificadora da maternidade espiritual, que as educadoras humildes, muita vez abnegadas e anónimas, abraçam na Terra.

-Mamãe! Mamãe!...

Reparei que a venturosa mulher, como que tangida pela emotividade interior, tornara-se mais radiosa e mais bela, parecendo-me que trazia uma estrela incrustada no coração.

Tão profundos sentimentos lhe afloravam n’alma, que se prosternou de joelhos, soluçante.

Graciosa pequenina de olhos brilhantes e aureoladas de luz comunicou-lhe que outra escola, muito mais linda, a esperava num parque celestial.

Como não chorarmos todos, ante aquelas manifestações de ternura?
Despedindo-se, ditosa, ladeada pelas criancinhas que lhe eram amadas, orou com lágrimas copiosas, emocionando-nos o coração.

Em breves minutos, vimo-la tomar rumo diferente, amparada pelos amigos que a seguiam, desde o princípio, e pelos pequenos ternos e trêfegos num grupo iluminado e maravilhoso que remontou, célere, e ignota região da Pátria Infinita.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 16, 2012 10:21 pm

VELHOS AMIGOS
Irmão Jacob

Nosso agrupamento prosseguia, voltando...

A luz que, de vez em quando, varria o céu, vagarosa e sublime, em forma de leque, parecia mais próxima.

Começamos a divisar encantadoras e espaçosas moradias.
De distância em distância, compareciam pequenas comissões, aguardando amigos.

Abraços fraternos eram distribuídos de momento a momento.
Nenhuma nova despedida, porém, chegou a assemelhar-se à daquela professora devotada e desconhecida.

Prosseguíamos, já em pequeno número, quando, num grupo de quatro pessoas à margem, meu nome foi pronunciado em alta voz:
-Jacob! Jacob!

Sorridente Bezerra imprimiu nova pausa à jornada, voltou-se para mim, deu-me o braço e conduziu-me até elas.

A palavra não pinta a grande emoção.
Surpreendido, jubiloso, mal contendo o pranto de emotividade, desferi um grito de alegria.

Eram Guillon e Cirne, Inácio Bittencourt e Sayão. (1).
Abraçaram-me, efusivamente, e, pelo olhar afectuoso e grave que me dirigiram, demonstravam saber quanto se passava em minha alma.

Sentia-me na posição do viajante que volta de longe, com a bolsa cheia de novidades.
Embora a fraqueza a constranger-me, gastaria horas relacionando o noticiário dos companheiros que se demoravam na carne, como trabalhadores da retaguarda.

Não pareciam, contudo, muitos interessados em recolher-me às informações.

Falou Cirne, bondoso, dos obstáculos que nos incomodam ao desencarnar.
Acrescentou que meu caso, entretanto, era agradável e pacífica, pela expectativa mais ou menos longa em que eu vivera os derradeiros dias de octogenário, salientando que o mesmo não lhe ocorrera, em vista do repentino ataque de angina.

Guillon interrompeu-nos a ligeira palestra:
-Libertemos o Jacob – acentuou, alegre -; teremos tempo para conversar.

Doía separar-me deles, quando o ensejo se me afigurava dos melhores para a troca de impressões.

-Oh! – exclamei, consternado -, quando nos veremos de novo?
Riu-se Guillon, em me observando o gesto de angústia aduzindo:
-Ora, Jacob, esquece-se de que é eterno? – Vá repousar.

Afastaram-se contentes, alegando ocupações imediatas.
Não podiam acompanhar-me. Ver-me-iam na primeira oportunidade.
Bezerra, paternal, regozijava-se.

Menos preocupado com o nosso grupo a dispersar-se, tantos eram os componentes já encaminhados a diferentes destinos, o dedicado supervisor manteve comigo um entendimento esclarecedor, comentando a extensão e a diversidade das tarefas que nos aguardam, além-túmulo.

Explanava atenciosamente sobre a Espiritismo no Brasil, quando uma casa iluminada, de graciosa configuração, se nos deparou aos olhos.

Marta, radiante, indicou o jardim, povoado de flores, murmurando:
-Enfim!
Bezerra, então, designou a entrada, abraçou-me afectuosamente, e concluiu:
-Descanse.

Intentei segui-lo, instintivamente;
todavia, o estimado protector prometeu, firme:
-Ver-nos-emos depois.

(1) - Dr. Luiz Olímpio Guillon Ribeiro, – Presidente da FEB, em 1920 e 21 e de 1930 até à época de sua desencarnação, em 1943
–Leopoldo Cirne – Presidente da FEB, de 1900 a 1913 – Desencarnou em 1941
–Inácio Bittencourt – Vice-Presidente da FEB, em 1915 – médium receitista – Desencarnou em 1943.
– Dr. António Luís Sayão - Director do “Grupo Ismael”, escritor e evangelizador – Desencarnou em 1903.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 16, 2012 10:22 pm

EM REPOUSO
Irmão Jacob

O Irmão Andrade acompanhou-me, delicadamente.

Ingressei na casa acolhedora, sob forte impressão de paz e ventura.
Difícil determinar se me achava, realmente, distante dos círculos terrestres.

O ambiente doméstico era perfeito, não obstante mais acentuada beleza nos caracteres interiores.
Tapetes, móveis, adornos e iluminação, eram mais belos e mais leves e, apesar de revelarem autêntico bom gosto, não exibiam notas de luxo.

Retratos pendiam das paredes estruturadas em substância semi-luminosa.
Uma senhora simpática e respeitável recebeu-nos com inexcedíveis demonstrações de ternura.
Nomeou-a Marta, antes minha filha de memória. Recolhi-a nos braços, num transporte de indefinível felicidade.

Como não situa-la nos dias inolvidáveis da infância?
Era para minha filha, tanto quanto para mim, uma segunda mãe.
Chamemo-la “Mamãe Frida”, já que, por ordem superior, não estou autorizado a identifica-la.

Tentei a conversação longa, em perguntas compridas, mas reparei que, fora do grupo em que viajara e desligado da influência vivificante de Bezerra, meu cansaço se fez invencível.

Até ali, na jornada de prolongado curso – esclareceu Marta -, estivera sustentado, em grande parte, pela cooperação magnética do conjunto dos companheiros.

Busquei manter-me de pé, no entanto, a dispneia voltou, angustiante.

O Irmão Andrade conduziu-me a vasta câmara que a filhinha me reservara, abriu extensa janela, através da qual pude contemplar as estrelas pálidas da manhã que se anunciava, acomodou-me num leito macio e, após aplicar-me passes reconfortadores;
recomendou fraternalmente:
-Durma tranquilo.

E, sem saber como, entreguei-me ao repouso, encantado e feliz.

ESCLARECIMENTOS
Irmão Jacob

Acordando do estranho torpor em que me afundara, não conseguiria dizer quanto tempo repousei.

Não classificava por sono comum o estado diferente em que permanecera imobilizado.

Tratava-se de um repouso desconhecido.
Meu corpo espiritual jazia prostrado no leito acolhedor;
contudo, achava-me numa atmosfera reveladora e surpreendente.

As imagens não vagueavam imprecisas, à feição do que acontece no sono vulgar, em que a pessoa;
findo o sonho, é incapaz de qualquer consulta aos registos da memória.

Ali os quadros que se haviam sucedido, claros e firmes, demoravam-se amplamente marcados em minha recordação.

Vi-me em criança, na terra em que nasci e recapitulei a peregrinação do Velho Mundo para a América, com uma riqueza de particularidades que me espantava, como se fossem acontecimentos da véspera.

Revi naquela maravilhosa e inexplicável digressão da mente, afectos preciosos e abracei meus pais, viajando através de lugares desconhecidos...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:37 am

REANIMADO
Irmão Jacob

Ao despertar, reencontrei o Irmão Andrade junto de mim.

Creio ter-me-ia ele aplicado recursos fluídicos para que se me revigorassem as energias.
Não me achava refeito, de todo; entretanto, que alegre sensação de leveza eu experimentava agora!

Senti-me remoçado, optimista, contente.
Marta fez coro nos votos de felicidade com o estimado benfeitor que me prestava assistência.

Em poucos minutos, verifiquei, admirado, a necessidade de alimento.
Não experimentava a aflição dos estômagos famintos da esfera carnal.

Sentia, no entanto, determinado enfraquecimento que sabia, de antemão, sanável pela ingestão de algum recurso líquido.

Minha filha compreendeu o que se passava, porque, daí a instantes, me trazia pequeno recipiente com certo suco de plantas de minha nova moradia.

Sorvi-o com alguma dificuldade, nele encontrando delicioso sabor.
A anemia cedeu como por encanto.
Encontrei bom ânimo para efectuar indagações.

Não desconhecia que, em me reerguendo para contemplas o lindo dia a resplandecer lá fora, outra vida me aguardava, intensa e diferente.

Inevitáveis interrogações martelavam-me o cérebro e julguei oportuno valer-me dos préstimos do Irmão Andrade, de modo a formula-las sem delonga.

Consultei-o quanto às possibilidades dos esclarecimentos que me desejava e, de bom grado, colocou-se ao meu dispor, para as elucidações precisas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:37 am

O REPOUSO ALÉM DA MORTE
Irmão Jacob

Contei-lhe que, ao descansar, não tive a impressão de dormir, qual o fazia no corpo de carne.

Permanecera sob curiosa posição psíquica, em que jornadeara longe, contemplando pessoas e paisagens diversas.

Supunha, assim, não ter estado num sono propriamente dito.
Escutou-me atenciosamente, explicando-me, em seguida, que o repouso para os desencarnados varia ao infinito.

O Espírito demasiadamente ligado aos interesses humanos acusa a necessidade de amplo mergulho na inconsciência quase total, depois da morte.

A ausência de motivos nobres, nos impulsos da individualidade, estabelece profunda incompreensão na alma liberta das teias fisiológicas, que se porta, ante a grandeza da espiritualidade superior, à maneira do selvagem recém-vindo da floresta perante uma assembleia de inteligências consagradas às realizações artísticas;

quase nada entende do que vê e do que ouve, demonstrando a necessidade de compulsório regresso à tribo da qual se desligará vagarosamente para adaptar-se à civilização.

Também os criminosos e os viciados de toda sorte, com o espírito encarnado nas grades das próprias obras escravizantes, não encontram prazer nas indagações espirituais de natureza elevada, reclamando a imersão nos fluidos pesados e gravitantes da luta expiatória, em que a dor sistemática vai trabalhando a alma, qual buril milagroso aprimorando a pedra.

Para as entidades dessa expressão, impõe-se torpor quase absoluto, logo após o sepulcro,
em vista da falta provisória de apelos enobrecedores na consciência iniciante ou delinquente.

Finda a batalha terrena, entram em período de sono pacífico ou de pesadelo torturado, conforme a posição em que se situam;
período esse que varia de acordo com o quadro geral de probabilidades de reerguimento moral ou de mais aflitiva queda que os interessados apresentam.

Terminada essa etapa, que podemos nomear de hibernação da consciência, os desencarnados desse tipo são reconduzidos à carne ou recolhidos em educandários nos círculos inferiores, com aproveitamento de suas possibilidades em serviço nobre, não obstante de ordem primária.

Não ocorre o mesmo com o Espírito médio, portador de regular cultura filosófico-religioso e, sem compromissos escuros na experiência material;
quanto maior o esforço das almas dessa espécie por atenderam aos desígnios divinos, no campo físico, mais vasta é a lucidez de que se fizeram dotadas nas esferas de além-túmulo.

Enquanto a mente das primeiras é requisitada ao fundo abismo das impressões humanas, ao qual se agarram à semelhança de ostras à própria concha, a mente das segundas busca elevar-se, tanto quanto lhes permitem as próprias forças e conhecimentos.

O descanso, pois, além da morte, para as criaturas de condição mais elevada, deixa, assim, de ser imersão mental nas zonas obscuras do mundo para ser voo de acesso aos domínios superiores da vida.

Finalizando a resposta, o Irmão Andrade, asseverou que certas individualidades, não obstante exaustas no supremo instante do transe final, libertam-se da matéria grosseira e colocam-se a caminho de esferas divinizadas, com absoluta lucidez e sem necessidade de qualquer repouso tonificante, qual o compreendemos, em vista do nível de sublimação espiritual que já atingiram.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:38 am

RECEBENDO EXPLICAÇÕES
Irmão Jacob

Quando comentei a dolorosa surpresa que tivera ante a paisagem escura e perturbadora que atravessáramos, o Irmão Andrade ouviu-me sem protestos e afirmou que realmente eram contristadores os reflexos da mentalidade humana, em tono da Crosta Planetária, acentuando, todavia, que a verificação não fornecia razões de alarme, de vez que, se um homem respira cercado pelas irradiações dos próprios pensamentos, o mundo – casa dos homens – se reveste das emanações mentais da maioria dos seus habitantes.

A residência do servo operoso, revela-lhe as qualidades superiores, no trato e aprimoramento do lar, ao passo que o domicílio do trabalhador ocioso anuncia-lhe a ignorância e a preguiça no abandono ou no lixo com que se caracteriza.

Vivendo encarnados no Planeta quase dois biliões de individualidades humanas, esclareceu o benfeitor que mais de um bilhão é constituído por Espíritos semi-civilizados ou bárbaros e que as pessoas aptas à espiritualidade superior não passam de seiscentos milhões, divididas pelas várias famílias continentais.

Torna-se fácil, portanto, avaliar a extensão do serviço regenerativo além do túmulo, considerando-se que homem algum se transforma instantaneamente.

Compreensíveis, desse modo, se tornam as sombras que rodeiam a moradia da mente encarnada e as extensas organizações socorristas em que copioso número de missionários abnegado exercita o amor e a renúncia, a piedade e a tolerância, entre milhões de Espíritos de baixa condição, à espera dos benefícios da lei reencarnacionista ou em aprendizado de virtudes rudimentares.

De relance, entendi a enormidade dos serviços redentores que se operam a distância da matéria carnal e experimentei imenso alívio!

Sim, havia trabalho, trabalho, trabalho...
Meditando, reconhecia que perdera tempo na Terra, mas algum lugar da vida nova me reservaria serviço salvador.

Quanto reconforto em semelhante perspectiva!
Pedi, logo após, ao amigo me elucidava, esclarecimentos quanto a volitação.

Se o nosso grupo conseguira manter-se, acima da substância inferior, flutuando na direcção do alto, por que não pudéramos sobrevoas o abismo, sem utilizar a ponte iluminada?

Afável, o Irmão Andrade explicou que o feito seria perfeitamente cabível se o grupo estivesse integrado apenas por entidades adestradas na vida espiritual, com as faculdades da volitação plenamente desenvolvidas, acentuando, porém, que a maioria dos recém-desencarnados que nos acompanhavam, longe estavam de ampliar as próprias possibilidades nesse terreno, pela densidade das paixões, embora sublimáveis, de que eram portadores.

Em tais condições de desequilíbrio, seriam facilmente atraídos pelas forças temíveis das trevas, com náufragos que desconhecem a arte de natação.

Em vista disso, com Bezerra à frente e utilizando as energias da vários companheiros, estabelecera-se determinadas média de força volitante para todos os necessitados, que se amparavam aos irmãos mais aptos, fenómeno esse que se assemelha ao da distribuição das energias valiosas, mas limitadas de um dínamo eléctrico.

E na vida livre – concluiu o benfeitor paciente -, o magnetismo pessoal divino, humano ou perverso é uma fonte geratriz das mais importantes, nas expressões do bem ou do mal.


O PROBLEMA DO ESQUECIMENTO
Irmão Jacob

Quando o benfeitor terminou, indaguei então acerca do meu próprio estado íntimo.

Já que findara minha existência no veículo de carne, por que não reentrar na posse do passado?

Por que razão não lembrava o período anterior ao meu retorno à carne?
Por que me surpreendia, ante os espectáculos da vida livre, se da vida livre me ausentara, um dia, a fim de reencarnar-me?

Não seria a morte simples regresso da alma no pátrio lar?
Em que causas se me enraizaria o esquecimento?

O Irmão Andrade ouviu-me sereno e informou que a reencarnação e a desencarnação constituem vigorosos e renovadores choques para o ser e que se, em alguns casos, era possível o reajustamento imediato da memória, quando a criatura já atingiu significativo grau de elevação, na maior parte das vezes a reabsorção das reminiscências se verifica muito vagarosa e gradualmente, evitando-se perturbações destrutivas.

Podemos simbolizar a mente numa casa susceptível de povoar-se com valores legítimos ou transitórios, quando não esteja atulhada de inutilidades e viciações.

Alimentando-se na Crosta da Terra com muitas ideias e paixões não perduráveis, aproveitadas pelo Espírito apenas por material didáctico, a não ser em processo expiatório, para esvaziar-se do mal ou da ilusão, não lhe é possível o mergulho indiscriminado no pretérito, medida essa que lhe seria ruinosa, mormente na ocasião em que se desenfaixa do corpo denso, de carne.

Explicou que alguns companheiros usam excitações e processos magnéticos para adquirirem a lembrança avançada no tempo;
no entanto, de acordo com apropria experiência, aconselhava a submissão aos recursos da Natureza, de modo a retomarmos o pretérito com vagar, sem alterações de consequências deploráveis, até que, um dia, plenamente iluminados, possamos conquistas a memória integral nos círculos divinos.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:38 am

NOVA MORADIA ESPIRITUAL
Irmão Jacob

Decididamente, o paraíso de contemplação inalterável não era criação para mim.

As alegrias do retorno à espiritualidade enobrecida e o reconforto da palestra com o Irmão Andrade e Marta traziam-me, sem dúvida, infinito júbilo;
todavia, ali mesmo, estirado no repouso do leito, sentia falta do serviço.

Sondava o reajustamento de minhas forças, reconhecendo que o cérebro não demonstrava o cansaço dos derradeiros dias do corpo de carne e as fadigas do coração
jaziam extintas. Dentro de meu ser lavrava bendita renovação.

Pretendia rogar trabalho com aproveitamento de minhas possibilidades na acção útil, contudo, receava.
Ignorava se minha pobre tarefa no mundo fôra aprovada pelos poderes superiores.

E, no íntimo, eu não desconhecia os meus próprios erros.
Como solicitar admissão às obras elevadas se não basta a boa intenção para servir com eficiência?

Estimaria sair da câmara e ver o quadro, lá fora.
Respiraria, desse modo, o abençoado clima da actividade mental, observando, de antemão, quais seriam minhas probabilidades no futuro próximo.

Apesar dos impositivos de trabalho que me torturavam o pensamento; deliberei calar.

Eu era, agora, um homem distanciado do leme.
Asilara-me em outra embarcação e em outro mar, sob o patrocínio da generosidade alheia.


COMENTÁRIOS FRATERNOS
Irmão Jacob

O Irmão Andrade, que me assinalava as mais íntimas apreciações, comentou o desengano de todas as criaturas que procedem da Terra esperando um céu de contemplações baratas, salientando que muitos Espíritos ociosos, na falsa apreciação da divina justiça, imploram indevido descanso no paraíso, à última hora da experiência terrestre, depois de haverem sorvido todos os venenos da alma, na taça do corpo.

Precipita-se, então, nas trevas, revoltados no desespero e na indisciplina, além do sepulcro.
Logo que se capacitam da necessidade de continuação do esforço intensivo no auto-aperfeiçoamento.

Muitos irmãos, infelizes, nesses protestos inúteis contra as Leis Universais;
caem presas de temíveis organizações de malfeitores desencarnados, aprendendo aflitivamente a desfazer os grilhões pesados da ignorância e da má-fé, ao contacto de entidades cruéis que os dominam por tempo indeterminado, qual ocorre na esfera carnal aos homens rebeldes e ingratos que pagam alto preço pelo reajustamento espiritual de si mesmos, na estrada escura da desarmonia e da desilusão.

Considerou comigo os imperativos do serviço e, fazendo-me rir de contentamento, notificou que a minha colaboração seria examinada na primeira oportunidade, aconselhando-me, todavia, muita meditação e muita calma, a fim de não reentrar nas construções da espiritualidade com os prejuízos de luta humana.

Porque lhe perguntasse pelo julgamento de meus actos, respondeu que a morte não nos conduz a tribunais vulgares e, sim, à própria consciência, e que, dentro de mim mesmo, encontraria, de acordo com os conhecimentos evangélicos hauridos no mundo, os pontos vulneráveis do meu espírito, de maneira a corrigi-los.

Corei sinceramente, ao registar-lhe as observações.

Atenuando, no entanto, o choque com que me beneficiava, esclareceu que os desencarnados totalmente extraviados não conseguiam acesso até ali e que, não obstante entregue ao meu próprio julgamento, um amigo de mais alto viria ajudar-me a recompor o sentimento e o raciocínio.

Intrigado por não ouvir o nome do benfeitor anunciado e não desejando ser indiscreto, perguntei ao Irmão Andrade se ele mesmo não poderia auxiliar-me em semelhante juízo, ao que replicou, sorrindo:
-Como assim, Jacob?
Também eu estou lutando comigo mesmo, Não posso.

Ante essa revelação de humildade, calei-me resignado.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:38 am

NA INTIMIDADE DO LAR
Irmão Jacob

Daí a minutos, ausente Marte do quarto, ajudou-me ao abençoado amigo a preparar-me e reerguer-me.

Antes de sair, pedi-lhe me auxiliasse numa oração breve, na qual roguei ao Todo-Poderoso me amparasse, dentro da nova vida, e me abençoasse os propósitos de progredir na prática do bem e no conhecimento da verdade.

O prestimoso companheiro abraçou-me, aprovando-me a súplica.
Passados alguns instantes, achávamo-nos junto da filha, numa confortável sala de estar.

Com emoção, vi um retrato de família, adornado de flores.
Humedeceram-se-me os olhos ao identifica-lo.

Como não recordar semelhante peça afectiva?
Não registo a ocorrência pela sua feição pessoal.

Desejo apenas marca-la para consolo de quantos supõem na morte uma derribada completa das doces alegrias familiares.

A organização doméstica, na esfera elevada mais próxima do homem, é muito rica de encanto.
Formulei indagações variadas em torno de parentes que eu esperava rever, ao regressar.

Para todas as interrogações possuía Marta uma resposta clara e feliz.
Informou-me quanto ao destino de quase todos os laços do coração.

Alguns associados de minhas experiências jaziam de volta às regiões da carne, disputando novos troféus de redenção, enquanto outros operavam em círculos
distantes.

Muitos deles, encarnados ou não, poderiam ser visitados por mim e me visitariam a seu turno.
Reparando-me o interesse pelas novidades, mostrou-me a filha tudo o que representava o acervo da casa.

Quadros e decorações, objectos e enfeites desfilaram diante de meus olhos encantados.
Nem todas as peças eram semelhantes ao material caseiro que conhecemos na vida terrena, mas a afinidade de tudo o que eu via, de novo, com o ambiente humano, era flagrante no quadro geral.

Deteve-se, contente, ante um piano de cauda, harmonioso e belo, mais completo que os do plano físico, afirmando, radiante, que ali mesmo tivera a satisfação
de tocar para a mamãe; anos ates de minha vinda.

Graciosa e meiga, executou para meus ouvidos uma ária em que deixava transparecer sua extrema delicadeza filial e, talvez, porque me visse os olhos marejados de lágrimas, recapitulando as emoções da paternidade terrestre, abandonou o instrumento e conduziu-me ao salão de leitura.

Espantei-me ante o carinho com que eram conservadas as publicações.
A arte gráfica atinge aqui uma perfeição que não pode ser avaliada na Terra.
Os tipos são estruturados em material luminoso e as gravuras na cor natural parecem animadas e vivas.

Folheei um volume de vastas proporções.
Compunham-no recordações de Beethoven, destacando as lutas com que fôra surpreendido no mundo para difundir entre os encarnados a mensagem musical dos planos superiores.

Lendo as páginas iniciais, aprendi-lhe sublime conceitos quanto à mediunidade divina entre as criaturas humanas.

Perguntei à filha sobre o paradeiro do grande compositor, ao que Marta respondeu dizendo sabe-lo numa esfera superior, cujo clima ainda lhe não fôra alcançar.

O Irmão Andrade referiu-se aos festivais maravilhosos dos círculos sublimados, asseverando que os artistas enobrecidos continuam criando a beleza e o bem para o desenvolvimento da vida planetária e, depois de encantadora conversação, saímos em agradáveis momentos de férias.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:39 am

O PARQUE DE REPOUSO
Irmão Jacob

Muito difícil narrar a emoção que me dominou, ao afastar-me do interior doméstico.

Lembrando os dias rápidos em que tentava descansar na quietude de uma cidade serrana, quando ainda no corpo físico, vi desdobrar-se ante meus olhos enlevados a paisagem florida e brilhante de um burgo feliz.

As casas residenciais distanciavam-se largamente umas das outras, revelando o prévio programa de paz que as fez surgir.

Espécies variadas de plantas ostentavam flores garbosas e perfumadas.
Estávamos numa extensa planície e, não longe, divisava o casario que se adensava.

Respirávamos, certamente, nas cercanias de grande cidade do meu novo plano.
Informou-me Marta de que ela recebera permissão das autoridades para hospedar-me ali, no grande parque de educação e refazimento em que trabalhava.

Incumbia-se de educar crianças, recentemente desencarnadas, em notável organização que visitei em seguida.
Colaborava com diversos trabalhadores no auxílio aos pequeninos arrebatados à experiência carnal.

Alguns amigos dedicados pretendiam receber-me;
entretanto, a filha querida aguardava-me.

Dispunha-se me reconduzir à escola espiritual, tanto quanto eu tivera a felicidade de oferecer-lhe o coração na experiência física.

Satisfazendo-me à indagação, esclareceu que os edifícios do parque não representavam propriedade particular.

Eram patrimónios comuns;
orientado pela administração central da colectividade.

Demonstrando a estranheza que me assaltava, asseverou Marta que na Terra os fundamentos da propriedade são idênticos, variando somente os aspectos da retenção provisória das utilidades planetárias por parte do homem, usufrutuário dos bens da vida, porque, apesar das leis respeitáveis que regem o assunto, entre as criaturas, toda individualidade encarnada é compelida um dia, pela morte, a deixar as vantagens da esfera física.


REENCONTRANDO A MIM MESMO
Irmão Jacob

Atravessávamos extensas e formosas avenidas marginadas por vegetação caprichosa e linda, quando tive o contentamento de ver alguns pássaros marcados por peregrina beleza.

Cantavam extáticos, quais se fossem minúsculos seres conscientes, glorificando a Divindade.

A plumagem luminosa impunha-me assombro.
Trinavam junto de nós, sem temer-nos.

Disse-me, então, o amigo Andrade que os seres inferiores, onde quer que se encontrem, reflectem, de algum modo, as qualidades dos seres superiores que os cercam e afirmou que os irracionais da esfera carnal poderiam exibir outras condições de aprimoramento, na posição de consciências iniciantes, se os homens adoptassem atitude mental mais elevada, perante a vida.

A harmonia do ambiente lembrava uma pastoral divina.

Perguntei a Marta, de súbito, com a aspereza que me é própria, se me seria possível avistar as autoridades administrativas ali sediadas, mas a filha, amorosa e convincente, me pediu aguardasse mais tempo.

Reparei o halo de luz que a envolvia e os traços brilhantes que cercavam o Andrade, fixando-me, em seguida, num demorado auto-exame.

Meu corpo espiritual jazia tão obscuro, quanto o veículo denso de carne.
Compreendi o conselho e, por pouco, não me despenhei no desânimo lamentável.

Não trazia ainda comigo suficiente bagagem de luz para buscar, confiante, a aproximação dos espíritos superiores.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:39 am

A LUTA PROSSEGUE
Irmão Jacob

A velha ideia de os desencarnados dormem narcotizados de prazer barato, entre sonhos de incenso contemplativo, perde-se completamente para o Espírito de boa-vontade que atravessa as fronteiras do sepulcro.

Se há juízes e administradores na Terra que alvejam os cabelos e se cobrem de rugas, na actividade difícil em favor do bem e da paz dos semelhantes;
se há homens e mulheres que já experimentam no mundo a coragem serena de abandonar as flores do sangue, colocando-se ao encontro da Humanidade, através dos espinhos do sacrifício e da renúncia, como aceitar um céu, onde os escolhidos sorriem e gozam, ante o infortúnio alheio?

Como entender um éden delicioso em que ninguém cogite de melhorar o purgatório infernal, se um simples político se preocupa em drenar o pântano que lhe prejudica a cidade?


ORGANIZAÇÃO EDUCATIVA
Irmão Jacob

O que eu via, no parque ditoso, não era somente a expressão encantadora e pacífica da Natureza.

O interesse nos serviços do progresso geral mostrava-se inequívoco em todos os rostos.
A instituição a que minha filha presta concurso activo impressionou-me pela grandeza.

Trata-se de uma universidade que ultrapassa em programa e organização qualquer dos institutos europeus ou americanos destinados à formação e ao burilamento do carácter infanto-juvenil.

Os edifícios centrais congregam-se inteligentemente sob velhas árvores, rodeadas de fontes translúcidas.

As crianças não encontrariam paraíso mais doce.
Alguns irmãos e numerosas irmãs as orientam e educam com singular devotamento, preparando-as para a reencarnação na Crosta Planetária.

Penetrei o instituto, em companhia de Marta e do amigo Andrade, quando centenas de meninos brincavam felizes, em brando, nos extensos jardins.

Grande parte correu ao nosso encontro.
Abraçaram minha filha efusivamente e alguns me beijaram as mãos, chamando-me vovô.

Aquelas manifestações de alegria pura fizeram-me infinito bem.
Diversos pequeninos traziam consigo formosos halos brilhantes.

Marta explicou-me que a instituição asila irmãozinhos desencarnados, entre sete a doze anos de idade, e, porque eu indagasse pelas crianças tenras, esclareceu Andrade que, para essas, quando se não trata de entidades excepcionalmente evoluídas, inacessíveis ao choque biológico da reencarnação, há lugares adequados, onde o tempo e o repouso lhes favorecem o despertar, a fim de que lhes não sobrevenham abalos nocivos.

Informou-me a filha de que as criancinhas não obstante viveram ali, em comunidade, dividem-se, no esforço educativo, por turmas afins.

Caracterizam-se os grupos por variados graus de elevação espiritual e as classes se subdividem pelas aptidões e tendências, examinados os precedentes de cada uma.

Quando perguntei se na vida espiritual pode a criança, desenvolver-se e optar pelo mau caminho, replicou Andrade que isso é perfeitamente cabível, considerando-se que, como desenvolvimento na nova esfera, a alma recapitula as emoções do passado, com apelos íntimos de variadas espécies, acrescentando, todavia, que, de modo geral, as crianças estacionadas nos parques de reajustamento sempre se encaminham à reencarnação.

Se o Espírito de ordem sublimada se desenfaixa dos laços da carne, quite com a lei que nos governa o destino, em período infantil, readquire, de pronto, as mais altas expressões da própria individualidade e ergue-se aos mais elevados planos.

Marta me apresentou lindos grupos, inclusive algumas dezenas de pequenos indígenas libertos do corpo, em fase primária de cultura e inteligência.

Experimentei, porém, a maior surpresa quando me deu a conhecer a assembleia dos meninos-orientadores.
São meninos e meninas de passado mais respeitável e por isso mesmo mais acessíveis aos ensinamentos edificantes da instituição.

Demora-se no parque, às vezes muito tempo, aguardando circunstâncias favoráveis à execução dos projectos de ordem superior e, enquanto permanecem aí, desempenham valiosas missões, junto à criança e adultos, entre as duas esferas, além das tarefas usuais de que se incumbem na própria organização em que se mantêm estacionados.

Constituem, assim, vasta colectividade de escoteiros do heroísmo espiritual, junto dos quais encontramos inapreciável estímulo e santo exemplo.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:39 am

AMBIENTE NOVO
Irmão Jacob

Edificado com o que observara, seguimos na direcção do casario central da cidade que me hospedava.

Inútil tentar a descrição do carinho e da dedicação dos habitantes para com a paisagem.

Flores e arvoredo, evidentemente conduzidos para o trabalho de espiritualização, surgiam lindos e enternecedores, a cada passo.

Em certos jardins as flores luminosas chegavam a formar frases inteiras de glorificação à Divindade.

Os domicílios não se torturavam uns aos outros como nas grandes cidades terrestres;
ofereciam espaços regulares entre si, como a indicar que naquele abençoado reduto de fraternidade e auxílio cristão há lugar para todos.

Não vi estabelecimentos comerciais, mas, em compensação, identifiquei grande número de instituições consagradas ao bem colectivo.

Recordando a leitura das narrativas de André Luiz, e Vale Owen, perguntei ao Irmão Andrade quanto às características do novo ambiente, informando-me, então, que nos achávamos numa colónia espiritual de emergência, situada em planos menos elevados.

Diversas comissões de socorro em múltiplos trabalhos salvacionistas aí funcionam a benefício, não só de criaturas encarnadas, mas também de extensas multidões de desencarnados em sombra e desespero.

As vias públicas mostravam-se cheias de transeuntes.

Muitos se agrupavam, seguindo em conversação activa, enquanto outros passavam, isoladamente;
todavia, em nenhum rosto surpreendi expressões de rancor, aflição, ou desânimo.

A irritação parecia não ter acesso, ali, naquele domínio de tranquilidade construtiva.

Alguns me fixavam com simpatia e bondade, naturalmente percebendo a minha condição de neófito e, dando a conhecer ao Irmão Andrade e estranheza com que reparava a serenidade das pessoas, salientou o estimado amigo que os habitantes da colónia, ainda mesmo quando detenham motivos fortes de preocupação, fazem quanto lhes é possível para guardar a paz com sinceridade, atentos aos desígnios de ordem divina.


O MAGNÍFICO SANTUÁRIO
Irmão Jacob

Após atravessar graciosas avenidas, onde a Natureza educada oferece sublime espectáculo à vista, parei admirado diante de formoso e magnificente edifício, no qual adivinhei um templo importante.

Sete torres maravilhosas, de algum modo semelhante às da famosa Catedral de Colónia, invadem as alturas.
Em tudo o que meu olhar podia abranger, eu observava primorosas manifestações de ourivesaria, admirável pela finura e beleza.

Elucidou Marta que nos achávamos perante o grande santuário da cidade, onde se processam os mais elevados serviços espirituais da vida colectiva.

Até ali, somente chegam, vindas da esfera carnal, pessoas libertas do estreito dogmatismo religioso.

Discípulos de qualquer doutrina, aferrolhados na cadeia do fanatismo cruel, são obrigados a períodos mais ou menos longos de reparação da vida mental, em círculos mais baixos.

Naquele templo, portanto, explicou a filha, comungam no amor e na veneração a Deus todos os Espíritos liberais, com moradia nesse domicílio espiritual ou de passagem por ele;
ainda mesmo ligados às escolas de crença que os identificavam na Crosta do Planeta, aqui confraternizam, em torno do Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo, não encontrando motivos para dissensões e descontentamentos.

Há serviços diários na casa divina que me retinha extático e deslumbrado.
Alvas portas coroadas de luz ligavam-na à cidade, em todas as direcções, e, através delas, entravam e saíam longas fileiras de criaturas bem-aventuradas, de semblante plácido.

Ponderou Andrade que ali eram recebidas ordens e inspirações, programas de serviço e bênçãos de estímulo da vida mais alta.

Grandes servos do Altíssimo ali se materializam, procedentes de esferas sublimadas e distantes, distribuindo amor e sabedoria e, justamente das torres soberanas e veneráveis, é que parte, cada noite, o facho de luz, guiando viajores no mar das trevas, do qual havia tomado conhecimento na travessia da extensa ponte sobre os despenhadeiros.

Quanto intentei penetrar o santuário, por um dos ângulos próximos, ambos os companheiros de excursão me sustaram o gesto.

Não convinha, disseram.

Eu era ainda um simples recém-chegado, com características indiscutíveis do corpo terrestre, mas feliz e confortado;
registei-lhe a informação de que, na noite do trigésimo dia sobre a data de minha libertação, seria recebido por muitos amigos no templo consagrado ao serviço divino.

Até lá, cabia-me a necessária preparação, através das fontes do pensamento.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:40 am

FENÓMENOS DA SINTONIA ESPIRITUAL
Irmão Jacob

O dia correu, célere, multiplicando surpresas confortadoras, ao redor de meus passos, e, à noite, findo o culto doméstico das Palavras Divinas.

Marta me convidou ao recolhimento, afirmando que a cidade permanecia cheia de atractivos e estudos para a noite;
contudo, aconselhava-me o repouso, de modo a evitar excessos de impressões nas primeiras horas de meu contacto com a paisagem.

Surpreendendo-me, o amigo Andrade declarou que se demoraria junto de mim, naquela noite.

Salientou que minhas forças jaziam quase refeitas, que começava a viver a experiência normal na esfera nova e, por isso, provavelmente eu necessitaria de instruções fraternas.

Não obstante intrigado, aceitei, satisfeito, o oferecimento gentil.
Passamos a extensa câmara destinada ao descanso, mas bastou que me entregasse à quietação para que certo fenómeno auditivo e visual me perturbasse as fibras mais íntimas.

Vi perfeitamente, qual se estivesse dentro de mim, às filhas queridas, então na Terra, e alguns poucos amigos, que deixara no mundo, dirigindo-me palavras de saúde e carinho.

Pai querido! Diga-me se você ainda vive!
Desfaça minha dúvida, ensine-me o caminho, venha até mim!

Era a voz de uma delas a interpelar-me.
O amoroso chamamento ameaçava-me o equilíbrio.
Minha razão pericultou por segundos. Onde me encontrava?

Contemplava-a ao meu lado, queria beijar-lhe as mãos, expressando-lhe reconhecimento pela imensa ternura, mas debalde a buscava.

Ainda me não desembaraçara do involvidável momento de estranheza, quando um médium de minhas relações apareceu igualmente no quadro.

-Mau amigo! Fale-nos, conforte-nos!... – rogou, comovidamente.

Meu coração pulsou apressado. Como atender aos apelos?
Ia gritar, suplicando socorro.

Todavia, o Irmão Andrade, mais prestativo e prudente que eu poderia supor, abeirou-se de mim e cientificou-me de que aquele era o fenómeno da sintonia espiritual, comum a todos os recém-desencarnados que deixam laços do coração, na retaguarda.

Esclareceu que, através de semelhante processo, era mesmo possível comunicar-se com o círculo físico, quando o intermediário terreno possa conservar a mente na onda de ligação mental durante o tempo indispensável.

Informou que a entidade desencarnada é susceptível de manter intenso intercâmbio pelos recursos do pensamento e que, por intermédio dessa comunhão íntima, encarcera-se o criminoso nas sombras das próprias obras, tanto quanto o apóstolo de bem vive com os resultados felizes de sua sementeira sublime de renúncia e salvação.

Insuflou-me forças vigorosas, utilizando passes de longo curso e, recomendando-me calma, asseverou que, aos poucos, saberia controlar o fenómeno das solicitações terrestres, canalizando-lhe as possibilidades para o trabalho de elevação.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 18, 2012 10:40 am

ENTRE COMPANHEIROS
Irmão Jacob

É imenso consolo pensar que a morte não interrompe o trabalho sadio e edificante.

Os ideais nobres possuem suas verdadeiras raízes na vida espiritual e, além do túmulo, podemos continuar o serviço que se afina com as nossas tendências e
esperanças.

Se for verdade que os maus, por vezes, prosseguem caminho, algemados às realizações escuras, é certo, igualmente, que a tarefa do homem bem-intencionado não sofre pausa ruinosa em seu desdobramento.

Há mil ângulos diversos em cada missão de benemerência e a Providência Divina favorece, em toda parte, a determinação do homem, de cooperar nesse ou naquele sector do bem.

Meus primeiros contactos com os associados de serviço espirituais cristãos representaram para meu espírito incentivo inapreciável.

Que contentamento pensar na continuidade da colaboração digna! Que conforto verificar que os meus defeitos não me anularam, de todo, para a obra doutrinária que tanto amara no mundo!

Não obstante as graves imperfeições de meu trato pessoal seguiriam avante, lutando, servindo e aprendendo...

A certeza de que marcharia com a assistência fraternal de que era objecto, recebi na segunda noite dias visitas agradáveis e preciosas.

Guillon e Schutel vieram abraçar-me.
Prestei muita atenção à presença e à palestra de ambos, de modo a não ser impreciso em qualquer notícia que me fosse possível transmitir aos companheiros terrestres.

Estavam como que remoçados e profundamente felizes.
Auréolas de ténue luz irisada acentuavam-lhes a simpatia irradiante.

Indagaram, bem-humorados, de minhas impressões iniciais na experiência nova, e, quando comecei a relacionar as surpresas, notei que fazia o possível por arrebatar-me o pensamento aos negócios e assuntos de somenos importância.

Schutel mencionou o júbilo com que se entrega ao serviço de sua rica sementeira, em Matão, e falou das bênçãos que continua recolhendo na vida espiritual, com tanto entusiasmo que, francamente, lhe invejei a posição íntima.

Guillon, visivelmente satisfeito, referiu-se ao contentamento com que colabora na extensão dos trabalhos doutrinários, sob a orientação de Ismael e mostrou imensa alegria pela possibilidade de prosseguir, em espírito, junto à esposa e aos filhos queridos, perfeitamente integrados em seu idealismo superior.

Demonstrava enorme reconforto por haver readquirido plenamente a visão.
Seus olhos, com efeito, permaneciam mais penetrantes, mais lúcidos (*).

Prometeram-me ambos que em breve tempo, eu retomaria minhas actividades na doutrinação, explicando que, não longe dali, infinito trabalho nos aguardava a cooperação.

(*) Guillon Ribeiro tinha ambos os olhos cataratados e, praticamente, não enxergavam pela vista direita. (Nota da Editora).
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 9:57 am

OPINIÃO AUTORIZADA
Irmão Jacob

Perguntando a Guillon quanto ao motivo pelo qual não se comunica mais frequentemente em nosso meio, fez um gesto significativo, na calma que lhe é peculiar, e falou:
-Ora, Jacob, quase que diariamente visito as nossas organizações, partilhando do trabalho de abnegados servidores do Espiritismo no Brasil;
entretanto, você compreende os obstáculos do intercâmbio prematuro ou inoportuno.

Os companheiros de luta devem agir em campo livre;
qual aconteceu connosco, fazem a corrida ao estádio da fé.

Necessitam usar a própria razão e revelar as próprias forças na concretização das bênçãos que recebemos de Jesus.

E você reconhecerá comigo, hoje, que não será justo interferir, não somente com a supervisão que procede de cima, da influenciação indirecta e sábia de nossos orientadores, mas também, nos serviços de colaboração que se processam nos círculos que nos são familiares.

Sempre que possível, coopero com os amigos no desenvolvimento do ideal que abraçamos;
todavia, não é imperioso venham, a saber, de minha presença pessoal nas tarefas que lhes competem.

A liberação do corpo pesado não nos exonera da obrigação de servir nas fileiras do Espiritismo com Jesus;
entretanto, podemos actuar sem nos identificarmos.

Não faltam meios para a acção sem barulho, mais substancial e mais proveitosa, atentos, quanto devemos estar, à vitória da ideia cristã e não ao prevalecimento indébito e provisório de nossos pontos de vista.

O concurso do Brasil na obra de cristianização do mundo é muito mais importante que parece, e, nessa bendita contribuição, há lugar para todos os servos do Evangelho, embora as divergências naturais na interpretação dos textos sagrados.

Estamos diante de agigantado esforço de educação, cuja grandeza nem de leve podemos apreciar, por enquanto.

Assim, é conveniente utilizarmos os recursos ao nosso alcance, em benefício da fraternidade geral, com sadio e gradativo entendimento da verdade e do máximo bem, ausentes de qualquer problema intrincado e desagradável do personalismo menos digno, que somente orgulho, egoísmo e vaidade representa.

É imprescindível esquecermos os casos pessoais para fixar a mente no espírito colectivo da tarefa redentora.

E, com um sorriso que bem lhe expressava os altos atributos de psicólogo, terminou:
-É preciso evitar as complicações de “nossa morte”.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 9:58 am

INFORMAÇÕES DA LUTA ESPIRITUAL
Irmão Jacob

Quando indaguei se moravam ali, naquela mesma colónia de refazimento e educação a que eu fôra conduzido pela ternura da filha, responderam negativamente.

Declarou Guillon residir em plano diferente, em companhia da progenitora que o aguardara, além-túmulo, com extremado carinho, de onde prosseguia em ligação com os familiares inesquecíveis e com os irmãos de tarefa, ainda materializados no mundo, e Schutel fixara-se em extensa organização destinada a proteger os interesses do Espiritismo evangélico, no mesmo núcleo em que Guillon fôra compelido a sediar-se, atendendo ao coração.

Comentou ambos o serviço de espiritualidade, a desdobrar-se em todas as direcções.

Reportou-se Guillon às fundas impressões que lhe causavam as actividades de auxílio aos Espíritos das trevas, lembrando, com calor, as sessões do Grupo Ismael, em que muitos eclesiásticos, envenenados de ódio e cegos de ignorância, são conduzidos ao conhecimento cristão, e contou-nos que tantos sofrimentos e incompreensões existem nas zonas próximas à moradia dos homens, que Bezerra e Sayão, autorizados à sublime ascensão aos planos superiores, haviam decidido renunciar a semelhante glória, em companhia de outros missionários devotados ao sacrifício pessoal, a fim de se consagrarem, por mais dilatado tempo, à transformação gradual de longas fileiras de infelizes.

Assim é que muitas instituições de socorro e esclarecimento são mantidas nas regiões abismais onde a inteligência de Espíritos tirânicos e sagazes estabelece a escravidão organizada, embora temporária, de grande número de desencarnados invigilantes e desviados das Leis Divinas, mantendo-se em mentirosas exibições de poder, qual acontece a muitos homens destacados da Terra, que encarceram os semelhantes nas teias de suas criações mentais para o mal, em que se comprazem, até que o Domínio Supremo os revolva.

A acção contra o crime e contra a ignorância, nas esferas que rodeiam a experiência carnal, é vigorosa e incessante.

Destacou a necessidade maior aproveitamento das lições que o Espiritismo oferece às criaturas e explicou que a obra social que a nossa Doutrina Consoladora vem realizando no Brasil constitui valioso esforço de vanguarda, de vez que, em muitos centros de evolução planetária, a solidariedade humana, com entendimento e aplicação das bênçãos divinas, somente é susceptível de intensificação nos círculos de trabalho além da morte do corpo.

Encareceu que o Espiritismo evangélico é chamado a desempenhar imenso apostolado de libertação da mente humana, encadeada aos mais escuros e asfixiantes preconceitos que operam a prisão e a moléstia de almas.

Salientou que não vale morrer sem a regeneração íntima, porque ninguém avança um palmo no caminho da eternidade, sem luz própria.

Daí continuar acreditando que o maior serviço prestado à Doutrina é, ainda, o da própria conversão ao Infinito Bem.

Os fenómenos que costumam preceder a mudança das atitudes mentais, no terreno das convicções, outra finalidade não trazem senão a de sacudir a consciência, despertando-a para a responsabilidade, antes as leis universais.

Com a perda do instrumento de carne, não havíamos penetrado um sistema de acesso indiscriminado ao Reino Divino e, sim, no esforço de extensão desse Reino, na Terra mesmo.

Agora, que nos achávamos em “outra região vibratória do Planeta”, poderíamos aquilatar a extensão da luta.

Era tão comum renascer na matéria física, quanto morrer nela e, se a paisagem das esferas felizes era uma realidade atingível, não é menos imperiosa e verdadeira a obrigação de nos aprimorarmos, a fim de merece-las.

Quando o homem compreender a grandeza da vida e a rectidão da justiça, então o quadro terrestre se modificará, orientando-se invariavelmente para o Bem Supremo.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 9:58 am

NOITE DIVINA
Irmão Jacob

Finda a palestra instrutiva e longa, Guillon e Schutel convidaram-me a visitar o Rio, junto deles.

O Irmão Andrade, que me seguia de perto, consultado por meu olhar interrogativo, aquiesceu prontamente.

A excursão ser-me-ia proveitosa e não me perturbaria o refazimento.

Acompanhar-nos-ia com prazer.
Despedi-me de Marta pela primeira vez, após haver ingressado na experiência nova.

E, em me afastando do ambiente doméstico acolhedor, fui surpreendido pela paisagem encantadora.
Algumas centenas de crianças brincavam sob as veneradas árvores do parque amplamente tocado de luz.

Muitas delas traziam a fronte coroada de auréolas sublimes e brilhantes.
Cantavam com alegria, mas no fundo daquele júbilo com que davam as mãos umas às outras, em graciosos cordões quais coros de anjos, repontava manifesta saudade das afeições terrenas, porque os versos formosos e cristalinos falavam na ternura das mães distantes.

As melodias simples e doces casavam-se aos raios das estrelas que fulguravam em torno da Lua Crescente.

-Para as mães angustiadas dos círculos terrenos, existem aqui filhinhos inquietos e saudosos.
Carros fulgurantes, muito diversos dos que conhecemos no mundo, adornados de flores radiosas, passavam, não muito, além, celeremente, talvez em busca de esferas próximas.

As torres do santuário cintilavam sob o firmamento tranquilo.

Pusemo-nos a caminho e, confiado na generosidade dos que me assistiam, ousei formular uma interrogação que procurava calar, desde o princípio:
-Guillon – exclamei hesitante -, você sabe que sempre dediquei amor e veneração a Bittencourt Sampaio...

Onde estará ele? Poderei encontra-lo?

Informou-me o companheiro que o nosso respeitável amigo colabora na supervisão do Espiritismo evangélico, em plano superior, adiantando, porém, que provavelmente, seria Bittencourt o mensageiro de amizade que viria de mais alto trazer-me as boas-vindas, na noite de minha recepção no grande templo.

Reconfortado e feliz, decidi esperar.


REVENDO CÍRCULOS DE TRABALHO
Irmão Jacob

O retorno ao Rio emocionava-me.

Não ignorava que a maioria dos recém-libertos do plano física não se pode movimentar com a eficiência desejável.

Muitos Espíritos permanecem como que anestesiados e inconscientes outros se demoram na incapacidade de qualquer apreciação de si mesmos, imobilizados pelo choque ou pelo terror.

Comigo, porém, a situação diferia.
A sede de saber renovava-me as forças.
Relembrando os últimos instantes na experiência material, retomava mal-estar indefinível.

A dispneia parecia uma entidade imaginária, pronta a individualizar-se, dentro de mim, toda vez que a evocava em pensamento.

Bastava recordar certos sintomas do esgotamento que experimentara no corpo de carne, para registá-los imediatamente no organismo espiritual.

Compreendi, desse modo, que a mente possui incalculável poder sobre o nosso campo emotivo e, assim como poderia materializar ideias de doença, também deveria criar ideias de saúde e mantê-las.

Baseado nessa convicção; procurei decifrar o problema em meu próprio benefício e passei a mentalizar o equilíbrio e a esperança, a alegria e o serviço.

Estimulado pela protecção de valorosos amigos, cabia me honrar-lhes o carinho e a devoção.

Convidado, pois, a segui-los, competia-me apresentar o melhor padrão de energia, serenidade e entendimento.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 9:59 am

OBSERVAÇÃO NA CROSTA
Irmão Jacob

Na volta, não se verificaram as peripécias da ida.

Ao nos afastarmos mais extensamente do parque e achando-me amparado pelos companheiros que me ofereciam braços acolhedores, entregamo-nos a volitação plena.

Perdurava em mim a impressão de viagem na linha horizontal, mas lembro-me de haver contemplado, curiosamente, a grande ponte que o facho luminoso destacava, espaço a espaço, calculando que íamos, agora, não só rapidamente, mas em maior altura.

Guillon, robustecido e bem-humorado, aconselhou-me estabelecer paralelo entre o veículo que usávamos, ali, e o pesado corpo de carne que abandonáramos ao solo terrestre e, porque alcançássemos a estação de destino, em minutos breves, afirmou-me que, se há rotas aéreas para os pássaros metálicos da aviação planetária, há rotas espirituais definidas que favorecem a instantânea condução de entidades menos chumbadas às sensações da vida física.

Reparei que não atingimos a cidade, quais foguetes verticalmente derramados do céu e, sim, com a naturalidade de alguém que descesse uma escada de vastíssimos degraus, perfeitamente disfarçados uns dos outros.

Pousando no chão, senti estranha diferença.

O contacto com a terra;
semelhava-se ao de um magneto, o que me obrigou a concluir que a volitação só é possível, com facilidade, na Crosta do Mundo, aos Espíritos mais envolvidos e adestrados na movimentação de certas forças fluídicas.

Comentou Schutel as surpresas dos primeiros dias do homem desencarnado, na vida extra corpórea, alegando que os decénios transcorridos no corpo carnal imprimem hábitos que, efectivamente, passam a constituir uma “segunda natureza” para a individualidade.

Quando considerei a possibilidade de nos materializarmos, em plena avenida, para dar testemunho da sobrevivência, riu-se Guillon, discreto, e afiançou que, se tal cometimento fosse possível, a perturbação alcançaria muita gente, de vez que o próprio clarão revelador da crença, para demonstrar-se benefício, há de penetrar gradualmente o templo interno de cada um, acentuando que, por isso mesmo, concede o Senhor suficientes recursos à mente encarnada para aproveitar-lhes as bênçãos, na renovação e iluminação de si mesma.

O progresso espiritual será sempre gradativo, sem violência e sem alarme.


CORTANDO A VIA PÚBLICA
Irmão Jacob

Era, contudo, uma novidade para eu devorar a distância nas vias públicas, dentro da noite;
sem ser visto pelos semelhantes encarnados.

No dia imediato ao de minha libertação, em verdade fiz pequena caminhada em companhia dos amigos que me amparavam;
entretanto, a posição de abatimento não me havia proporcionado ensejo de experimentar toda a extensão da surpresa de que me via agora possuído.

O que mais me espantava era a expressão espiritual de cada pessoa que me cruzava o caminho.

Observei que muitas criaturas permaneciam acompanhadas por Espíritos benignos ou por sinais luminosos, que me deixavam perceber o grau de elevação que já haviam atingido, mas o número de entidades gozadoras das baixas sensações da vida física, a seguirem suas vítimas, de perto, era francamente incalculável.

Anunciou-me Guillon que bastaria breve exame para identificarmos a natureza do vício de cada uma.

Pouco a pouco, embora o tempo curto verificava por mim mesmo, através dos gestos com que se revelavam, os Espíritos ainda presos às paixões sexuais, aos tormentos do ódio e aos caprichos da vingança.

O Irmão Andrade, a cuja assistência recorrera, muitas vezes, nos últimos tempos de minha tarefa humilde para socorrer alcoólatras inveterados, em casos difíceis nos quais a obsessão se caracterizava perfeitamente, indicou-me alguns transeuntes torturados pelas dipsomania.

Estavam seguidos por verdadeiros vampiros de forma repugnante, alguns completamente embriagados de vapores, outros demonstrando aflitiva sede, pálidos e cadavéricos.

O quadro mais inquietante, porém, era constituído por um morfinómano e pelas entidades em desequilíbrio que se lhe jungiam.

Parecia um homem subjugado por tentáculos de polvos enormes.

Vendo-o aprisionado em cordões escuros, perguntei ao amigo Andrade como interpretar a visão que tínhamos sob os olhos, esclarecendo-me ele, então, que os hipnóticos, mormente ao mais violentos, afectam os delicados tecidos do perispírito, proporcionando doces venenos aos amantes da ociosidade;
os fios negros são fluidos de ligação entre as “lampreias” invisíveis e os plexos da vítima encarnada.

Compreendi, com mais exactidão, que o viciado de qualquer espécie é compelido a procurar material emotivo para si e para os que o obsidiam, caindo invariavelmente na insaciedade que o caracteriza.

Fitei Guillon, espantado, e indaguei:
-Que acontecerá a um infeliz destes se ele desencarnar?

-Se a morte encontra-lo em tal posição – respondeu, sereno -, vagueará por aí, à vontade dos verdugos que o exploram vorazes, até que, um dia, delibere modificar-se, intimamente, para o bem de si mesmo.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 9:59 am

AULA DE PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Irmão Jacob

Daí a minutos; penetrávamos respeitável instituição, onde cooperaríamos na transformação de entidades perigosas pela avançada cultura desviada para o mal.

Conduzido por Guillon a extensa sala, com surpresa forte aí encontrei Leopoldo Cirne rodeado de dezenas de entidades menos evolutivas, a lhe escutarem a palavra, atenciosas.

Era uma aula perfeita na qual o velho amigo preparava futuros companheiros para a contribuição espiritual de ordem elevada.

Notei-lhe a preocupação de sintetizar para ganhar tempo.
Dos tópicos registados por mi, assinalei, por mais expressivo, o ensinamento da cooperação.

Ainda depois da morte – enunciava ele -, a fraternidade é o caminho da salvação.

Para que um criminoso retome o património da paz, urge regenerar-se e socorrer os irmãos ignorantes que tiveram também o infortúnio de resvalar nos despenhadeiros do crime;
a fim de que o intemperante se reajuste, é imprescindível se cure, colocando-se no auxílio aos que ainda não puderam libertar-se dos maus hábitos;
se o ingrato deseja iluminar o próprio caminho, convém-lhe a reparação dos erros em que se mergulhou impensadamente, amparando o próximo de coração enrijecido, despertando-o para os benefícios da gratidão.

Inadiável, portanto, é a reforma íntima com o trabalho de auto-aperfeiçoamento, para que a dádiva da reencarnação produza frutos de paz e sabedoria.

Os Espíritos, revelando fundo interesse, ouviam-no com a mesma atenção com que na Terra se registam informe alusivo ao dinheiro fácil.

Sorridentes, Guillon comentou a posição diversa em que nos achamos, atravessado o sepulcro.

Enquanto no mundo vulgar, esmagadora maioria das criaturas menospreza a alma, atendendo às vantagens imediatas do corpo, sobrevindo a morte assinala-se a reviravolta – os indiferente de ontem, na maioria, buscam o olvido das impressões que lhes ficam da experiência física, procurando as vantagens da alma.

Ninguém se eleva do chão planetário, ostentando asas alheias e, daí, as organizações numerosas de assistência e socorro sobre a Terra mesmo.

Cirne é um dos pioneiros dessas escolas de preparação espiritual.
Terminada a aula, veio ter connosco, prestativo e amável.

-Então – disse-lhe, satisfeito -, orientando nossos irmãos para o céu?

Fitaram em mim aqueles mesmos olhos cintilantes que lhe conhecíamos noutro tempo e respondeu:
-Não, Jacob, não é nem isto.
Se na esfera carnal trabalhamos na condução do próximo para que aprenda a bem morrer, cooperamos agora a fim de que saiba renascer com proveito.


NOS SERVIÇOS DE DOUTRINAÇÃO
Irmão Jacob

Não tive tempo para reflectir-lhe a resposta sábia.

Schutel veio buscar-nos para o serviço de evangelização.
OS trabalhos de socorro aos desencarnados endurecidos estavam iniciados com a prece do orientador da reunião.

Naturalmente, poderiam ser instruídos em nossa esfera de luta – afirmou Guillon, compreensivo -, entretanto, os benefícios decorrentes da colaboração atingiriam particularmente os amigos encarnados, não somente lhes aumentando o conhecimento e a experiência, mas também lhes suprimindo lastimáveis impulsos para o mal.

Que os infortunados ali, diante de nós, eram perseguidores sombrios não padece dúvida.

Não viam os benfeitores que até ali acorriam para melhorar-lhes as condições, embora agissem constrangidos pelas forças magnéticas que deles emanavam, contudo, ouviam-lhes as instruções e advertências edificantes, através daqueles mesmos aprendizes das aulas do Cirne.

Reparei, então, com mágoa, a diferença que existia entre mim e os abençoados companheiros que me haviam trazido.

Ao passo que nenhum deles era visível aos irmãos ignorantes e perturbados, não obstante as irradiações brilhantes que lhes marcavam a individualidade, notavam-me a presença, aos cursos preparatórios de espiritualidade superior.

Certa entidade reconheceu-me e gritou:
-Aquele, ali não é o Jacob?
E mirando-me de alto a baixo, acentuou:
-Que é da luz dele?

Sentindo a opacidade de minha organização espiritual e envergonhado com o incidente, recolhi-me ao silêncio e à inacção, receando intervir nos serviços da noite, no desdobramento dos quais não sobrava tempo para qualquer indagação ociosa de minha parte.

Finda que foi a tarefa, expus ao Guillon o meu caso;
todavia, afagando-me os ombros, fraternalmente, exclamou sem humilhar-me:
-Não se atormente, meu caro.
Medite, ore e, no momento oportuno, receberá os necessários esclarecimentos.
Esteja certo de que a sua luz virá.

Semelhantes palavras de reconforto, porém, não conseguiram afastar a profunda tristeza que me tomou o coração.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 10:00 am

EXCURSÃO CONFORTADORA
Irmão Jacob

Quantas vezes invocamos a luz nos círculos da fé religiosa!

Despreocupados, aconselhamos amigos que a procurem e, em muitas ocasiões, inadvertidamente, receitamo-la para os irmãos que consideramos nas sombras.

Através de conversações ociosas, indicamos criaturas que não a possuem e, sempre que tomamos a palavra em público, suplicamo-la para o mundo em altos brados.

Em verdade, semelhante cooperação é oportuna e salutar, quando baseada na sinceridade e na recta intenção;
todavia, frequentemente olvidamos a palavra do Senhor que nos recomendou aproveitar as oportunidades da experiência humana, na iluminação de nós mesmos, através do devotamento ao próximo.

O problema avultava em minhas cogitações.
Os amigos nada me sugeriam, nada reclamavam.

Amparavam-me sorridentes e felizes; no entanto, as irradiações brilhantes de que as faziam acompanhar constituíam silenciosa advertência.

Eu não providenciara luz para mim mesmo.
Conduzira muitos desencarnados à fonte sublime das claridades evangélicas, mas esquecera as próprias necessidades.

Doutrinara muita gente ou pretendia haver doutrinado e, em todo o meu movimento verbal da pregação cristã, salientara o imperativo da luz para os corações humanos.

Contudo, agora, que participava de uma sociedade espiritual, reconhecia a opacidade de minha alma.
Mantinha-se-me o perispírito no mesmo aspecto em que se caracterizava na experiência física.

Oh! Senhor, por que não fazemos bastante silêncio, dentro de nós, para ouvir-te os ensinos, enquanto nos demoramos nos átrios do mundo?


AMPARO FILIAL
Irmão Jacob

A sós com Marta, de vez que o Irmão Andrade retomara as obrigações que lhe eram habituais a fim de reencontrar-me à noite, não dissimulei a tristeza que me asfixiava.

Encontrando-me em lágrimas, a filhinha esforçou-se para reconfortar-me.

Estava amargurado, vencido, expliquei-lhe.
Albergado num campo tranquilo, onde todas as bênçãos da amizade me sorriam, sentia-me indigno de tanto auxílio e ternura.

Não acendera a própria lâmpada à frente do futuro.
Ali, ninguém me acusa, ninguém me proclamavam as deficiências;
todavia, eu próprio não era estranho à minha posição...

Não lhe falava com a expressão caprichosa da zanga juvenil, mas com o profundo sentimento do homem que se vê desencantado, de momento para outro, enganado nas melhores intenções.

Marta, porém, pediu-me serenidade e reflexão.
Asseverou que inúmeras pessoas desencarnam em minhas condições e que, naquele núcleo de trabalhadores, ninguém se julgava maior.

Muitos companheiros traziam densa obscuridade consigo e nem por isso deixavam de operar, contentes e serviçais, na conquista de mais nobres expressões da personalidade.

Não era lícito entregar-me, daquele modo, ao desânimo.
Ainda que houvesse perdido o tempo, de todo, não me cabia supor que as lágrimas bastassem ao trabalho reparador.

Competia-me o trabalho de renovação incessante para o bem.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 10:00 am

VIAGEM FELIZ
Irmão Jacob

Reparando-me o sincero propósito de reajustamento, Marta, bondosa, naturalmente interessada em consolar-me, propôs uma excursão rápida.

Dispunha das horas para auxiliar-me.
Ela sabia de meu íntimo desejo de visitar a Califórnia, atendendo aos apelos do coração.

Por lá, alguns laços queridos me aguardavam o espírito.
Acariciei o projecto com alegria quase infantil.
A inquietação e a curiosidade que me marcaram os passos infantis.

A inquietação e a curiosidade que me marcaram os passos na jornada terrestre estavam inteiras, dentro de mim.

Além disso, a excursão teria maravilhoso carácter, sob o esplendor solar.
Abafei as preocupações que me torturavam e aprestei-me.
Em breve tempo achávamo-nos fora do abençoado pouso de serviço e refazimento.

À claridade do dia, as vizinhanças não apresentavam senão o aspecto de longa massa de matéria opaca.

Nas cercanias, não cheguei a vislumbrar nem mesmo a ponte que reconhecera na noite da véspera e, distanciando-nos do burgo venturoso, notei que atravessávamos outras colónias espirituais cheias de vegetação e casario, embora menos ricas de beleza.

Respondendo-me às interpelações, informou-me a filha do que sempre nos é dado visitar os planos inferiores e consulta-los, não se verificando o mesmo quanto às esferas superiores, relativamente às quais precisamos satisfazer à necessária preparação.

Penso que estacionaria longo tempo nas paisagens sob os meus olhos, se Marta, docemente, não me chamasse a atenção para os objectivos que nos conduziam.

-Nestes planos – disse-me a filha -, a ligação mental com a Terra ainda é enorme.

Muita gente que “matou o tempo” vive por aí com sede de reavê-lo.
São saudosistas da experiência na carne que estimam viver, por enquanto, quase que exclusivamente do passado.

Não praticam males graves, porém, não se aplicaram ao bem, tanto quanto deviam.
Queixa-se de mil infortúnios, mas recusam qualquer norma regenerativa.

Graciosamente, acentuou:
-É o “pessoal da omissão”.

Supunha-nos muito longe de atingir a estação de destino, quando a ternura filial me indicou a linda paisagem da Califórnia.

Julguei fosse descortinar, antes, os formosos panoramas da Serra Nevada, contrastando com as águas soberbas do Pacífico.

Entretanto, já pisávamos o chão norte-americano.
Com descrever a maravilhosa viagem para o leito faminto de informações?
Não guardo a presunção de fazê-lo.

Temos aqui, em jogo, forças e elementos inapreciáveis ao senso contemporâneo e seria tão difícil explicar minha rápida jornada ao oeste dos Estados Unidos, quanto seria impraticável qualquer narrativa, por parte de um homem comum, aos seus vizinhos, depois de haver viajado no espaço com velocidade mais ou menos semelhante à da luz ou à do som.

Se um europeu precisa cuidado ao comunicar-se com um esquimó, de modo a não lhe ferir a posição mental e a fim de não ser tomado por mentiroso, que dizer das medidas que um Espírito desencarnado deverá adoptar em face de um amigo ainda enclausurado num corpo terrestre?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 10:01 am

VISITA SIGNIFICANTE
Irmão Jacob

Após saciar a sede afectiva, junto de corações particularmente queridos à minha alma, surgiu-me certo propósito invencível.

Recordando minha passagem pelas terras abençoadas da América, lembrei alguém a cuja inteligência e bondade nunca dispensara suficiente admiração.
Fitou-me a filha, como me adivinhar os pensamentos.
Antes, porém, que me dirigisse à palavra, consultei, de improviso:
-Marta, não seria possível avistar-nos com Thomas Edison?

Ela sorriu, compreensiva, deu-me o braço generoso e tomamos a direcção Norte.
Decorridos alguns minutos, alcançávamos sublime paisagem, além...

Nós, que defrontávamos extensas comunidades, evidentemente ligadas à herança espanhola, aportávamos, agora, em vasto círculo de educação anglo-saxónica.

Passei a usar o inglês, para melhor entender-me.
Conduziu-me Marta ao nobre edifício, onde expôs o propósito que nos movia a um cavalheiro de respeitável figura, mas, surpreendido, ouvi o interpelado anunciar que o grande benfeitor já fora avisado quanto à nossa visita e aprestava-se para o encontro.

Ele Habitava – esclareceu o informante – esfera muita elevada, mas viria imediatamente receber-nos por quinze minutos.

Não dispunha de mais tempo.
Acostumado no Brasil às longas conversações, embora jamais desprezasse o valor das horas, tentei, acanhado, renunciar à satisfação que pedira.

Contudo, o prestimoso irmão que nos atendia esclareceu que, durante o ano de 1947, o grande inventor destacou maior percentagem de tempo para rever amigos de outra época.

Enquanto aguardávamos, indaguei de minha filha sobre a barreira das formas de expressão verbal.

Continuaríamos, além da morte, assim isolados uns dos outros pelas fronteiras linguísticas?
Os desencarnados no Brasil não poderiam penetrar os tesouros da civilização de outros povos, em razão do idioma, convertido, desse modo, num cárcere?

Marta explicou-me com paciência que o espírito dos lares nacionais domina nos círculos mais imediatos à mente encarnada e que, à medida de nossa elevação, encontraremos mais largas demonstrações de entendimento colectivo, até conseguirmos absolutamente libertados de qualquer inibição decorrente das dificuldades de intercâmbio.

Acentuou que, dos agrupamentos temporários em que estacionávamos, os Espíritos em maioria são obrigados ao retorno à carne, a fim de prosseguirem no aprendizado e que toda libertação e toda sublimação têm o seu preço correspondente em esforço próprio.

Se nos encontramos na realização A, por mais desejemos a realização B, não lhe atingiremos as vantagens sem preparo, serviço e aplicação.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 19, 2012 10:01 am

A PALAVRA DE UM GRANDE BENFEITOR
Irmão Jacob

Demorávamo-nos entretidos na palestra reconfortante, quando vi Edison em pessoa.

Tamanha luminosidade lhe coroava a cabeça venerada, que tive ímpetos de ajoelhar-me.

Avancei para ele, perturbado de júbilo, e quis beijar-lhe as mãos.
O inolvidável benfeitor abraçou-me, de encontro ao peito, e, esquivando-se às minhas homenagens, recordou os últimos anos do século passado, reportando-se ao fonógrafo, cuja vulgarização tive o prazer de acompanhar.

Rememorei o centenário de seu nascimento e o admirável cientista declarou que, não obstante desencarnado, continua trabalhando sem descanso, à frente dos
perigos que ameaçam a actualidade terrestre.

Mergulhado nos estudos e realizações da Física no plano espiritual, não é infenso ao serviço glorioso que o Espiritismo vem efectuando em benefício do mundo, aduzindo, porém, que não basta provarmos a sobrevivência individual depois da morte, nem colocar novos patrimónios da Natureza à disposição da inteligência do homem e, sim, promover imediatos recursos de dignificação da personalidade.

Alongando-se no assunto, comentou, categórico, a necessidade de ajustamento da razão aos fundamentos divinos da vida, a fim de que os processos educativos ao mundo observem o imprescindível respeito à Fonte da Criação Eterna.

Declarou que a desintegração atómica, praticada na América, é seguida com indivisíveis preocupações pelas Forças Tutelares do Planeta, afirmando que a Humanidade vive, no momento, aflitivo período de transição, sem a menor perspectiva de paz duradoura, em virtude dos sentimentos belicosos que orientam os coração.

Em tempo algum – asseverou sem afectação -, houve tão grande impositivo de entendimento e aplicação dos ensinos de Jesus, mas, até que os princípios do Cristianismo governem as criaturas, de maneira geral, reinarão entre elas fome e sede, guerra e enfermidade, injustiça e medo, destruição e ruína, periodicamente.

Sentindo que o tempo se esgotava, indaguei se não voltaria a reencarnar, ao que ele replicou afirmativamente.
Num sorriso, porém, acentuou que esperaria o instante oportuno.

Perguntei, ainda, pela continuidade dos seus inventos maravilhosos, com especial menção à luz eléctrica, ao que me respondeu, sorrindo:
-O Criador é Deus, Nosso Pai.
Somos simples instrumentos dos desígnios sábios e justos d’Ele.

As invenções continuam na esfera transposta e no círculo em que respiramos presentemente.
Agora, porém, meu caro Jacob, não será a ocasião de inventarmos uma lâmpada divina e eterna que funcione, para sempre, dentro de nós mesmos?

Com a observação delicada e construtiva, veio o abraço final, constrangendo-nos às despedidas.


NO TEMPLO
Irmão Jacob

Além da morte, situam-se as esferas da continuidade.

Se o homem comum conseguisse deter o curso dos pensamentos de segunda ordem, durante alguns minutos por dia, de modo a reflectir na grandeza da vida, sondando as realidades da morte;
certo evitaria as algemas do mal que o agrilhoam às recapitulações expiatórias.

Aqui, permanecemos articulados em nossas próprias criações, tanto quanto as peças de determinada máquina a ela se ajustam para o necessário funcionamento.

Quem se aflija na escassez de possibilidades materiais ou na angústia de tempo, faça o bem mesmo assim.
Quem se lamenta no cativeiro do crime, esforce-se por fugir-lhe às garras, dedicando-se ao socorro dos semelhantes.

Quem se demora no sono do vício, louve a mão áspera que o desperta e levante-se para a caridade regenerativa.

Cada dia que passa o homem encarnado parece gritar-lhe aos ouvidos:
- Ainda é tempo! Ainda é tempo!
Dirige-nos a morte para os objectivos que procuramos.

Os ditadores da crueldade têm sob o próprio mando não somente os servidores que se corporificam na Terra, mas também os assalariados invisíveis que lhes estimam os propósitos inferiores.

O homem que se transforma em instrumento da bondade e da salvação, ainda que o não saiba, recebe o concurso de muitos irmãos interessados nos serviços de elevação própria.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122461
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER - Página 2 Empty Re: VOLTEI - IRMÃO JACOB / FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 2 de 3 Anterior  1, 2, 3  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos