LUZ ESPÍRITA
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Tempo - Oportunidade de Evolução - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

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Tempo - Oportunidade de Evolução - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti - Página 3 Empty Re: Tempo - Oportunidade de Evolução - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:25 pm

Mais tarde, depois que colocar em ordem seus pensamentos — seu passado recente com seu passado longínquo, pelo que viu e pelas lembranças que lhe acudiram à mente — aí pode procurar-me que conversaremos bastante.
Neste momento, minha presença em nada lhe adiantaria.
— Minha mente está confusa; sinto-me, como duas que se sobrepõem, mas devo separá-las.
— Certamente, pelo que visualizou, assim deve se sentir; mas depois que meditar e conseguir ordenar as imagens e as lembranças, o entendimento será mais fácil.
E é justamente desse entendimento que dependerá a sua paz, o reconhecimento de seus erros, liberando de culpas aqueles que não a tinham e foram obrigados a uma vida de sofrimento por suas atitudes.
Veja como há muito em que pensar.
— Eu não conseguirei ordenar tudo isso sozinha!
— Pois é sozinha que terá de fazê-lo!
Os pensamentos são seus, as lembranças lhe pertencem, e as atitudes foram tomadas pela senhora.
Veja como não pode haver interferências, que em nada a ajudariam.
Após, sim, estarei à sua disposição como já me propus.
Entre, faça o que lhe recomendamos e lembre-se, também, antes de tudo, de orar, da grande eficácia de uma prece e confie, que mesmo lhe parecendo, não estará só!
Deus sempre está connosco em todos os lugares, em todas as situações.
Basta queiramos nos ligar a Ele.
Sem ter o que responder, Virgínia entrou e Irmã Jacobina seguiu rumo às suas outras tarefas que eram sempre muitas, porque muitos eram os necessitados.
Apesar das recomendações e do aconselhamento, Virgínia sentiu-se um tanto amedrontada, mas teria que enfrentar.
Sentou- se em uma cadeira a par de seu leito e elevou o seu pensamento confuso a Deus, pedindo-lhe a sua ajuda para tarefa tão importante que deveria realizar.
Que Ele não a abandonasse, apesar de que ela, conforme as explicações da bondosa irmã, O abandonara por tanto tempo, revoltada por tudo o que lhe aconteceu, tomando atitudes impensadas, desviando o “destino” dos que amava.
Ao final, um tanto mais confortada, foi ordenando seus pensamentos, e, pelo que visualizou, levou-os ao ponto mais longínquo de suas lembranças, e teve novamente aquele momento em que decidiam a sua volta à Terra, junto daquele que muito ofendera, apesar de amar, e de outro que, por amor, se dispusera a acompanhá-la para ajudá-la.
Entretanto, pensando melhor, esse era um ponto intermediário, pois se retomariam juntos pelo mal que ela lhe fizera, deveria levar seus pensamentos àquele tempo ainda mais longínquo, e vir, aos poucos, trazendo as lembranças, até chegar ao ponto em que elas se fundiam num encontro real e intenso, à sua realidade presente.
Assim ela permaneceu pondo em ordem as lembranças e teve, em sua memória espiritual, uma época bastante remota, num país distante, quando viu um belo e forte rapaz conversando com um senhor de aparência rígida e intransigente que lhe pareceu ser seu pai.
O motivo da conversa era ela mesma e um pedido de casamento.
Escondida de tal forma que eles não podiam vê-la, ela observava.
Sua ansiedade não lhe permitia não participar daquele momento.
Ela amava o jovem e desejava casar-se com ele, mas receava que o pai não a concedesse em casamento.
As famílias- não eram simpáticas uma a outra, e ela temia.
Os jovens pretendentes ao matrimónio encontravam-se durante passeios pelo campo, sem que o pai dela soubesse, mas a coragem e amor do rapaz queria uma união sólida, consistente e definitiva, através do casamento, e criara coragem e fora pedi-la ao pai.
Ele, porém, intransigente, negara e até o expulsara de sua casa, ao saber de quem se tratava e do motivo que o levara à sua presença.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:25 pm

A Virgínia daquela época, não suportando a inflexibilidade paterna, saindo do seu esconderijo, mostrou-se rebelde, exigindo que ele permitisse o casamento.
Disse que nada tinham a ver com desavenças entre família, pois amavam-se, e se o rapaz quisesse, ela partiria dali mesmo com ele, esquecendo o pai para sempre.
O jovem, tentando convencê-la a esperar mais um pouco, disse que a amava mas não era daquele modo que pretendia unir- se a ela, e não quis levá-la.
Prometia retomar outras vezes e voltar ao assunto, até que seu pai entendesse o amor que os unia e concordasse com o casamento.
Ouvindo o jovem dizer que retomaria, o pai dela, antecipando-se, advertiu-o:
— Não se atreva a voltar aqui, que será recebido à bala!
A complacência que tive hoje, em ouvi-lo, não a terei mais.
Filha minha não se une a ninguém da sua família.
Se algum ato menos digno ela praticar, fugindo para encontrar-se com o senhor, mandarei segui-la nem que seja no inferno e eliminar os dois!
Considere-a, pois, a partir deste momento, morta para a sua pretensão, se não quiser tê-la morta de verdade, juntamente com o senhor.
Já fui paciente demais dando-lhe todas estas explicações.
Agora pode retirar-se e não volte nunca mais!
Se se atrever a voltar, não retomará vivo para a sua casa!
Terminadas estas palavras, exigiu que a filha se retirasse da sala, e o jovem, lançando-lhe um último olhar de muito amor, retirou-se também, convicto de que não voltaria mais.
Por ele mesmo nada temia, mas o intransigente senhor havia sido bem claro.
Ameaçara a própria filha e, a ela, não desejava que nenhum mal acontecesse, pois a amava.
A filha trancou-se no quarto, deixou de se alimentar, adoeceu, mas os cuidados e carinhos da mãe fizeram-na voltar à vida, e, aos poucos, a normalidade foi sendo readquirida.
E ela, não mais aquela jovem esperançosa no amor, mas amarga e triste, nunca mais viu o seu amado, nem teve notícias dele.
O tempo foi passando, e o que conformava o seu coração era lembrar que ele a amava e que também deveria estar sofrendo muito, pela saudade, pela sua ausência, pela lembrança dos encontros que nunca mais se realizaram.
Decorridos alguns poucos anos em que a separação dos dois se dera, o pai foi relaxando a vigilância e ela, mesmo amargurada, saía às vezes a cavalgar pelas imediações da casa, sem se afastar muito.
Ainda era discretamente vigiada, apesar de ele estar convicto de que não só o romance, mas qualquer esperança que cada um deles pudesse abrigar no coração, estava totalmente desfeita.
A jovem sofria, mas pensando que ele também sentia a sua ausência, conformava-se e ia vivendo.
Um dia, porém, o intolerante pai, retomando de um negócio, entrou em casa trazendo um certo sorriso de vitória, e, mandando chamar a filha, que nunca mais aceitara nenhum pretendente, comunicou-lhe, com a finalidade de acabar de vez com aquela situação e devolver-lhe um pouco de alegria:
Hoje tive uma notícia que me deixou muito feliz!
Penso que a deixará também e mudará a sua vida.
Você verá que de nada adiantou recusar todos os pedidos de casamento que tive para você, nem ter essa fisionomia de tristeza.
Alegre-se, pois, e sorria comigo que estou feliz!
A partir de hoje, você estará completamente livre, poderá retomar aos seus longos passeios, às suas cavalgadas pelos campos, que nenhum perigo mais oferece.
A jovem, sem entender onde o pai queria chegar, ficou atenta às suas palavras, mas nada perguntou esperando-o concluir, e ele, sem piedade, mas bastante feliz, disse-lhe:
— Não desejo nem pronunciar o nome que me faz mal, mas quero dizer-lhe que aquele por quem tem sofrido, o culpado de você ter essa vida triste, não gostava tanto de você como dizia, e eu estava certo de não ter permitido o casamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:25 pm

Amanhã ele estará se casando com uma jovem que veio de fora.
Sem desejar ouvir mais nada, ela retirou-se da presença do pai e saiu correndo para o seu quarto, fechando-se, já abrigando uma tenebrosa ideia na mente:
— Ele não se casará, eu não deixarei!
Eu o impedirei, nem que tenha de matá-lo!
Papai permitiu que eu saia, pois vou fazê-lo agora mesmo, mas levarei uma arma.
Se verificar que a notícia é verdadeira, eu o matarei.
Ele não se casou comigo, não foi corajoso o suficiente para enfrentar papai, não se casará com mais ninguém!
Sei que ainda me ama, e talvez se case por insistência da família ou por algum entusiasmo passageiro, mas esse entusiasmo irá acabar hoje mesmo.
Eu não permitirei!
Imbuída desses pensamentos, deixou passar algum tempo, saiu do quarto, andou pela casa demonstrando naturalidade, mas procurando encontrar uma das armas que o pai mantinha em casa.
Quando a encontrou, escondeu-a em suas vestes e avisou à mãe que iria dar uma volta porque a notícia que o pai lhe trouxera a perturbara um pouco e ela queria distrair a mente.
Como o pai a libertara da vigilância, ela tomou um animal e galopou em direcção à propriedade onde o seu amor morava, para fazer averiguações.
Depois de algum tempo, divisou, ao longe, dois cavalos, e reconheceu, montado em um deles, aquele que amava tanto, e no outro, uma jovem, com certeza aquela com quem ele se casaria.
Então o pai não mentira, era verdade!
Ele a esquecera; e ela, que nunca mais se interessara por ninguém só pensando nele, com que então era esquecida daquela forma?
Escondendo o animal em meio a um arvoredo fechado, foi se aproximando do lugar onde vira que eles desmontaram e, de mãos dadas, caminhavam segurando a rédea dos animais.
Logo a seguir o viu prender os animais num tronco e afastou-se, pedindo à jovem que o esperasse, pois vira uma flor muito bonita e queria colhê-la para ela.
Aquela que na sua última existência fora Virgínia, não teve dúvidas.
A uma distância que lhe era favorável, ainda sem se deixar ver, mirou-o bem, disparou alguns tiros e, vendo-o tombar, saiu correndo.
Sua noiva, ouvindo os disparos, acorreu ao local, encontrando-o ao chão em meio a muito sangue, já inconsciente e quase sem vida.
Ninguém viu quem atirou!
Voltando ao seu animal, tomou a esconder a arma e, montando-o, afastou-se do local num galope ligeiro rumo à sua casa.
Quando a notícia chegou à sua família, o pai chamou-a, interrogando-a, mas ela, fingindo nada saber, negou tudo e retomou a seu quarto.
Como para o seu pai, o rapaz morto não significava nada, pelo contrário, dava-lhe mais tranquilidade, deixou a filha em paz, agradecido por ela mesma ter feito o que ele sempre quisera fazer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:25 pm

8 CONSIDERAÇÕES
Virgínia foi tendo todas essas lembranças em sequência rápida e ininterrupta, para que nada interferisse, nenhum pensamento cristalizado em si mesma pudesse se imiscuir, facilitando-lhe as desculpas e justificativas.
Jorravam como uma fonte abundante, e ela as ia incorporando ao Espírito e aceitando como verdades insofismáveis e indiscutíveis, porque se sentia penetrada em toda aquela situação, como se, momentaneamente, tivesse deixado de ser Virgínia para ser aquela da história.
Fora mais um recurso aplicado pelo Mundo Maior, para que não houvesse nenhuma contestação.
Ao final, identificando o seu antigo amor com aquele com quem aparecera na tela em reunião, nenhuma dúvida mais restou.
Geraldo, que também participara, se dispusera a ajudá-la, e ela, néscia e obstinada, cega e empedernida, o acusara e se negara a ouvi-lo, expulsando-o de casa.
Então o seu querido filhinho, aquele que perdera numa circunstância com a qual não se conformava, era o seu querido e único amor de outrora?
Por que vieram juntos daquela forma?
Por que não fora ele o seu marido, o que seu pai recusara e não pudera sê-lo naquela existência, ao invés de Geraldo?
E por que, mesmo como filho, amando-o exageradamente, lhe fora retirado dos braços tão cedo?
Se até então sua mente estivera cristalizada no acontecimento que envolveu o filho, a partir daquele momento, estaria plena de indagações.
Se sempre encontrara justificativas para seus actos, agora não encontrava respostas para suas perguntas.
Era preciso conversar com Irmã Jacobina.
Ela, com certeza, teria muitas explicações que satisfizessem seus anseios de mais saber.
Assim pensando, retomando totalmente a sua identidade de Virgínia, não mais apresentando renitência e obstinação, levantou-se e deixou o quarto à procura da bondosa irmã.
Não foi fácil encontrá-la, tantos afazeres assoberbavam suas horas, mas, ao final, passando por um corredor, deparou-se com ela deixando uma sala.
Demonstrando ansiedade, Virgínia foi ao seu encontro, surpreendendo a irmã sempre diligente e prestativa, mas também enérgica, quando a energia se fazia necessária.
— O que faz aqui?
Pelo que sei, seu quarto não fica nesta ala, e a senhora deveria estar repousando para a sua reflexão e para ter condições de enfrentar o que ainda lhe deve ser mostrado.
— Nada mais precisa me ser mostrado!
— Como não? Iniciamos um trabalho e devemos concluí-lo!
— Eu tive, em minhas reflexões, as lembranças mais precisas possíveis do que pretendem mostrar-me!
Revivi, como se fosse naquele momento, uma parte muito importante de uma outra existência vinculada àquelas imagens que me foram mostradas, e à minha última existência.
Sabedora do que se preparara, Irmã Jacobina ficou contente do sucesso da empreitada, mas dissimulando para fazê-la falar, assim se expressou:
— Estou surpresa! O que foi que viu?
— Aqui não, irmã! Gostaria de conversar com a senhora mais demoradamente e lhe contar tudo.
— Pelo que vejo, nossa conversa será longa.
— Não só pelo que tenho a lhe contar, mas pelas interrogações que estão em minha mente, para as quais eu preciso de respostas.
— Realmente, se assim é, agora não podemos!
Preciso visitar mais alguns necessitados que estão me esperando, mas, amanhã pela manhã, no horário em que me dedico à senhora, conversaremos.
— Só amanhã?!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:26 pm

— Sim, somente amanhã!
Saiba esperar, pensando em tudo o que viu, reflectindo, não só nas suas lembranças mas nas suas atitudes, para que elas lhe sejam realmente benéficas, e o nosso esforço seja coroado de êxito, não por nós mesmos mas pelos efeitos que possam ter em seu Espírito.
Somente depois de tudo isso a senhora terá uma recuperação normal e equilibrada, e poderá partir para uma outra fase da sua vida de Espírito imortal, disposta sempre a progredir mais e mais, aprendendo e ressarcindo erros.
Volte ao seu quarto, passeie, faça o que desejar, mas aguarde-me até amanhã.
Antes de toda a sua actividade daquele dia, Virgínia, nessas condições, estaria irritada e impaciente.
Mas, naquele momento, compreendendo que deveria submeter-se, que não era a única necessitada na Colónia, conformou-se, obedeceu e retirou-se da presença da bondosa irmã, pretendendo dar uma volta pelo jardim e aguardar até o dia seguinte, mais tranquila e em paz.
Ao se encontrar sob o amplo céu aberto que cobria o jardim, Virgínia só levava um pensamento — Geraldo.
Ah, como queria vê-lo, falar-lhe, abrir seu coração, pedindo-lhe perdão!
Entretanto sabia, pelas imediações onde estava autorizada a ficar, ele não estaria.
Caminhar onde presumivelmente poderia encontrá-lo, não deveria.
Seria como sair da sua jurisdição e penetrar onde lhe era proibido.
Mais compreensiva, menos rebelde e irritadiça, entendeu que não deveria transgredir ordens.
Saberia esperar pela manhã seguinte, quando teria a oportunidade de conversar com Irmã Jacobina e receber alguns esclarecimentos tão necessários às respostas que desejava.
Em referência a Geraldo, a paciente orientadora saberia aconselhá-la quanto ao que lhe seria melhor e como deveria fazê-lo.
Assim pensando, caminhou algum tempo, observando, entre os seus pensamentos e as indagações que persistiam em sua mente, seus companheiros de Colónia, cada um trazendo também, problemas, anseios e esperanças.
E ela o que esperava?
Problemas ela os tivera muitos, provocados, a maioria deles por ela mesma.
Anseios, o seu coração abrigava, mas, e a esperança de realizá-los, e o seu futuro, como seria?
Sempre fora aconselhada a reflectir, a meditar, mas nunca conseguira como era esperado, até que lhe promoveram aquelas visualizações que acabaram por provocar tantas lembranças.
E o seu querido e tão amado filhinho?
Aquele mesmo que amara tanto em uma existência pregressa, desejando unir-se a ele em matrimónio e fora proibida, impedindo-o, depois, da forma mais comprometedora possível, de se unir a outra?
Onde estaria ele? Onde estaria o seu filhinho?
Que aparência ele guardava? De que forma se apresentaria a ela, se um dia lhes fosse permitido um reencontro?
E ele, como a veria?
Como a mãe zelosa, carinhosa e cheia do mais puro amor maternal, ou como a mulher que amara e o assassinara?
Quanto mais passavam as horas, mais interrogações vinham povoar-lhe a mente.
E Geraldo que também a amara e fora amado por ela, a ponto de se oferecer para ajudá-la naquela sua última existência, como estaria nesse entrelaçamento das vidas sucessivas?
Em que ponto da sua vida de Espírito imortal eles haviam se encontrado?
O que haviam sido um para o outro?
Por que também não lhe fora mostrado?
Com certeza, na manhã seguinte, todas essas indagações teriam respostas.
Por mais algum tempo permaneceu no jardim e depois se recolheu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:26 pm

No leito, muitas delas retomaram insistindo em levar-lhe intranquilidade, mas após, vencida pelo cansaço e pelas revelações do dia, adormeceu.
Pela madrugada despertou mais serena, porque, em poucas horas, sua bondosa orientadora lhe dispensaria sua atenção e, quem sabe, um novo direccionamento poderia dar à sua vida.
Irmã Jacobina, por sua vez, depois que Virgínia a procurou, ficou pensando no seu caso, no que ela vira e no que recordara, e ansiava também por saber como a encontraria na manhã seguinte, o que desejaria saber, o que lhe explicaria. Teria que ser cuidadosa em suas palavras, sem se apegar a muitos detalhes das visualizações e lembranças, mas retirando, de cada uma, as condições de lhe transmitir aconselhamentos para a sua condução daí para a frente.
Deveria esclarecer apenas o necessário e após, estar atenta, para que todo o esforço realizado pudesse ter algum proveito ao seu Espírito, a fim de que ela rompesse o encasulamento em que sempre se mantivera, e estivesse ajustada dentro da nova realidade que, a partir de então, deveria fazer parte do seu Espírito.
A manhã ansiada por Virgínia, não com a pressa que desejava, chegou.
A bondosa irmã esperava que aquele dia, juntamente com o anterior, fosse um marco importante na vida de Virgínia, e que após as explicações que desejava, ela mudasse completamente o rumo de sua vida.
Não a mudança do que ali realizava, mas a mudança interior, para que conseguisse conviver com toda a realidade dos factos, não em desespero, mas com novos propósitos.
E que, numa próxima oportunidade terrena, pudesse viver mais ajustada à realidade, sabendo aceitar os revezes da vida, com serenidade e equilíbrio, retirando de cada um o ensinamento mais profundo para a sua vida de Espírito imortal.
Como o que tanto desejamos tem o tempo de se realizar, Irmã Jacobina, à hora costumeira reservada àquela irmã, chegava à sua presença.
— Aguardava-a tão ansiosamente, que me estava sendo difícil esperar.
— A ansiedade é inimiga da paz e deve ser evitada a todo o custo.
O que foi reservado para nós, permitido pelo Pai que está atento e conhece as nossas necessidades, à sua hora se realiza.
— Ainda quero voltar a conversar com a senhora sobre essa sua afirmativa, mas agora não é o momento, diante de tudo o que preciso saber, se me for permitido.
— Não seria melhor irmos ao jardim?
Se tem perguntas a fazer, o formular e o entender serão facilitados pelo agradável ambiente de paz e pureza.
— Como a senhora desejar.
— Pois então vamos.
Durante o curto percurso, o silêncio se fez, mas, ao chegarem ao lugar que Irmã Jacobina escolheu como o adequado, Virgínia logo se manifestou:
— Ontem pensei muito, lembrei de outros fatos anteriores à cena que me foi mostrada, e muitas indagações povoaram-me a mente.
Agora, entretanto, não sei por onde começar, não sei o que perguntar.
— Ordene suas lembranças, suas dúvidas, sua curiosidade e indague!
— Quando vi o que disseram fora meu filhinho, naquela configuração de adulto, não conseguia entender como havia sido possível tê-lo amado tanto, e não reconhecê-lo como o meu filhinho adorado.
— Pelo modo como fala parece-me que agora já compreendeu!
— Não totalmente, porém, no silêncio do meu quarto, uma história veio-me à mente e eu vi-me inserida nela como a sua protagonista principal, juntamente com aquele que lá esteve como adulto.
— O que lembrou? O que viu?
— A senhora sabe!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:26 pm

—Sim, eu sei, porque aquelas lembranças foram preparadas por nós, a fim de que as tivesse como reais por terem partido de si mesma, e não impostas como nas visualizações, que se nos apresentam como situações externas a nós mesmos.
— Tem razão, irmã!
Pelo que lembrei, compreendi o meu compromisso com aquele que amava tanto, mas pergunto-lhe:
— Por que não viemos juntos como marido e mulher, como desejávamos tanto, ao invés de ele ter vindo para os meus braços matemos e me ter sido arrancado tão cedo?
— Veja, irmã, como a Justiça Divina se processa!
A senhora impediu-o de viver, de construir a sua vida com outra pessoa, porque nutria por ele um amor egoísta, incapaz de vê-lo interessar- se por outro alguém, uma vez que em sua companhia fora impossível.
E ele fê-lo até para preservar-lhe a vida, que seu pai prometera matá-la também.
Enquanto quis preservar a sua vida, a senhora retirou a dele.
Justo era que o tivesse novamente nos braços e o perdesse, não mais por si mesma, mas que sofresse a dor da perda.
— E por que como meu filho?
— Para que aprendesse a sublimar aquele amor tão intenso e egoísta, transformando-o num sentimento puro que só as mães sabem sentir por seus filhos.
— Mas ele poderia ter vivido mais!
— Todos nós temos débitos a ressarcir, quando aportamos na Terra com a bênção de um corpo físico, e ele também os tinha.
Unindo as duas necessidades, os dois tiveram alguns débitos ressarcidos.
A senhora, porém, depois, pelo modo como conduziu a sua vida, adquiriu outros profundos, haja vista o que fez com Geraldo.
—Minhas vidas, pelo que vejo, são uma sucessão de erros!
O que representa Geraldo nessa minha caminhada de Espírito imortal?
Dele eu nada me lembrei!
— Lembramos o que nos é permitido, e, por enquanto, a senhora precisa ater-se a si mesma, ao seu filhinho, ao que realizou naquela outra existência da qual teve as lembranças, e ao que fez da vida de Geraldo e da de seus outros filhos, nesta última.
Só isso já lhe dará muitos elementos para a reflexão, que é o ponto de partida para a sua modificação.
Quanto a Geraldo, deixemo-lo para quando for permitido, lembrando apenas que ele também a ama muito e ainda está disposto a ajudá-la, mesmo depois de tudo o que passou.
— Eu preciso falar com ele; quero pedir-lhe perdão.
— Graças a Deus já tem esse entendimento!
Ele espera ansiosamente o momento de poder estar com a senhora para auxiliá-la na sua recomposição.
Soube sofrer com resignação, humildade e entendimento, e granjeou, do Mundo Espiritual, os louros da vitória, ressarcindo de uma só vez, muitos dos débitos que seu Espírito trazia, e hoje se encontra muito bem.
— Então, indirectamente eu o ajudei?
— De certo modo, sim, mas o mérito do que ele conseguiu é só dele, e para a senhora que o fez sofrer, os compromissos.
Todos, enquanto encarnados, passam por muitas dificuldades, pois renascem para os resgates.
Uma grande maioria, porém, não sabe aproveitar as oportunidades que Deus lhe oferece e deixa perder momentos preciosos que lhe seriam benéficos.
Não é pelo muito sofrer que ressarcimos compromissos, mas pelo modo como enfrentamos o sofrimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:26 pm

Se não somos resignados, se reclamamos, se não sabemos suportá-lo com entendimento, mas o fazemos com revolta e acusação; se temos o pensamento voltado para Jesus e para o Pai Eterno, imaginando que Eles nos esqueceram e nos escolheram para padecer injustamente, o sentimos ainda mais intensamente porque não temos o consolo da compreensão.
Se, ao contrário, formos resignados e agradecidos a Deus, aprenderemos que o sofrimento é apenas um momento passageiro na nossa vida de Espíritos imortais e que uma vida de felicidade nos espera.
Ninguém, na Terra, sofre dessa maneira, sem revoltas, sem achar que está sendo alvo de injustiça, ainda mais quando vê outros felizes. — replicou Virgínia.
Nunca podemos avaliar a vida dos outros pela nossa.
Cada um tem o seu momento.
O que é felicidade hoje, poderá, se for para o nosso bem, transformar-se em lágrimas amanhã.
Vivemos, na Terra, pela bondade de Deus, momentos que se alternam, porque de outro modo não suportaríamos.
Cada um sabe de si!
O sorriso que vemos nos lábios de muitas pessoas, nem sempre revela alegria, mas entendimento.
Explicou a Irmã Jacobina.
— Nós estamos nos desviando do ponto inicial da nossa conversa! — reclamou Virgínia.
— Não tem importância, porque nunca devemos deixar perder oportunidades.
Fale, o que deseja saber agora? — continuou a mentora.
— Suas explicações desordenaram minhas ideias e eu nem sei mais.
—Isto é bom!
Significa que absorveu meus esclarecimentos e eles estão entrando em choque com o que trazia no íntimo até agora.
Só espero que aí permaneçam e se sobrepujem a qualquer das convicções erróneas que teve até agora.
. — Pois bem, deixando tudo o que me falou, eu pergunto:
— Onde está o meu filhinho?
Já nem sei se é assim que devo amá-lo.
—Veja, irmã, a sua própria colocação!
Por ela deve entender que o Espírito é imortal, com constantes idas e vindas à Terra, nas mais variadas condições de parentesco.
Nesta última existência, a senhora teve um filho a quem dedicou um amor desmedido e o perdeu.
Mas esse mesmo filho já fora o seu amado, e antes devem ter tido outras experiências juntos.
Por vezes os Espíritos se afastam para uma convivência com outros com os quais também estão entrelaçados, ou por acção de um sincero amor ou por compromissos menos felizes.
Os laços do parentesco terreno são frágeis, modificam-se, desfazem-se, só o amor é que persiste e resiste a tudo.
Desse modo a senhora pode concluir que formamos, na Terra e no Mundo Espiritual, uma grande família, abrangendo um grande número de componentes, que não podem unir-se todos de uma vez numa encarnação.
Mas existe um revezamento que promove a evolução se cada um já tem o necessário entendimento de que está caminhando para Deus.
É das nossas boas acções, do nosso conhecimento, do nosso esforço, que vamos diminuindo esse caminho.
Todavia, se não praticamos acções pautadas nos ensinamentos de Jesus, se abrigamos ainda no Espírito todas as imperfeições geradoras dos vícios que nos degradam, ao invés de nos aproximarmos desse Pai bondoso, Dele nos afastamos cada vez mais.
Mesmo assim, o progresso é uma lei, e um dia, mais cedo ou mais tarde, chega.
Cabe a cada um de nós limitar o seu tempo, até para o seu próprio interesse.
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Tempo - Oportunidade de Evolução - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti - Página 3 Empty Re: Tempo - Oportunidade de Evolução - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:26 pm

Quanto mais nos afastamos de Deus, mais sofremos.
Quanto mais nos aproximamos Dele, mais felizes seremos.
— Pelo que me diz, tudo sempre depende de nós!
— De nós, somente! Somos senhores de nós mesmos e ninguém, por mais nos ame, evolui por nós.
Os amigos poderão nos ajudar, mas o nosso caminho em direcção ao Pai cabe unicamente a nós!
— São explicações muito importantes, eu as compreendo bem, mas a senhora não respondeu à minha pergunta.
Onde está o meu filhinho?
— Mais uma vez tomo ao mesmo assunto...
Veja que se refere a ele como o meu filhinho.
Sim, ele foi o seu filhinho nesta sua última existência, mas já foi o filhinho igualmente querido de outras mães, como continuará sendo.
Apenas o Pai, aquele que deu vida a todos nós, tem o direito de dizer — meu filhinho — pois, antes de sermos filhos das mães terrenas, somos filhos de Deus.
— Pois onde está ele?
Gostaria de abraçá-lo!
—Nem sempre os acontecimentos se dão conforme o nosso desejo!
As vezes, enquanto continuamos na Terra, muitos dos nossos queridos retomam e quando retomamos, muitos também já estão de volta para outra experiência terrena.
— Quer dizer que o meu filhinho já voltou à Terra?
—Eu não disse isso; quis apenas explicar como se processa esse fenómeno das nossas idas e vindas sucessivas em oportunidades terrenas e em experiências aqui no Mundo Espiritual.
— Vejo que não quer responder-me!
— Mesmo que o queiramos, muitas vezes não o podemos!
Não me é permitido, no momento, adiantar-lhe nada do que se prepara aqui.
Dependendo da sua reacção a tudo o que tem visto, da sua aplicação a alguma actividade, dos seus esforços de aprendizado, a senhora terá o que deseja.
Por enquanto, nada mais posso adiantar-lhe sobre ele ou sobre a senhora mesma.
— E sobre Geraldo, quando poderei vê-lo?
—Em breve, muito breve poderá vê-lo, pedir-lhe o perdão que deseja, se realmente esse sentimento faz parte do seu coração, e ele a ajudará nesse novo período que se avizinha.
Mas tenha cuidado, faça-o com convicção e amor, para não desferir nele mais um golpe da sua insensatez.
— A senhora ainda não está acreditando em mim!
—Tudo o que promovemos para a senhora teve a finalidade de ajudá-la a modificar seu íntimo, e acredito que tenhamos obtido êxito.
Mas é necessário, ainda, algum tempo para que nos conscientizemos de que nada a fará retomar ao estágio antigo de revolta e irritação.
Creia que estamos nos esforçando para o seu próprio bem, mas, como afirmei há pouco, por mais desejemos ajudar, cada um trilha a estrada da modificação e do progresso por si mesmo!
— Eu entendo, irmã!
Procurarei meditar bastante e corresponder a tudo o que tem feito por mim!
— Faça-o, não por nós, mas por si mesma!
Agora preciso recolher-me; tenho obrigações com outros companheiros seus, igualmente necessitados.
Se desejar, poderá continuar aqui, fazer alguma caminhada, respirar esse ar puro nessa atmosfera tão agradável; pense e esforce-se, que tudo o que promover em esforços, virá em seu próprio benefício.
Deus está atento a todos nós e sabe nos recompensar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 28, 2018 8:27 pm

9 PEDIDO
O que se preparara para a continuidade das visualizações, não foi necessário demonstrar, uma vez que, da forma como previram, as finalidades se cumpriram com mais eficácia, e ela conseguiu ter os factos como lembranças convincentes.
Desse dia em diante, Virgínia pareceu mudar.
Não permitiram que ela se encontrasse tão logo com aquele que fora seu marido, a fim de mais poder pensar, de mais reconhecer seus erros, de mais se modificar.
Assim, quando o encontrasse, o faria plenamente convicta das suas palavras, pois partiam de um coração que caminhava para a redenção.
Várias vezes mais ela voltou ao assunto com Irmã Jacobina, fez indagações, satisfez curiosidades e manifestou o desejo de encontrar-se com Geraldo, mas estava sabendo esperar.
Ele, por sua vez, sempre a par do que se realizava e de como a transformação dela se operava, estava satisfeito.
E, enquanto não pudesse vê-la frente a frente, tinha-a constantemente no pensamento através das preces que dirigia a Deus em seu favor.
Algum tempo mais passou.
A revelia de ambos, um plano muito importante se preparava, não só a eles, mas, à distância, também àquele que um dia fora o ser amado de Virgínia, em companhia do qual ela esperara viver uma existência de amor, e, mais recentemente, lhe fora o filho querido.
Nada ainda lhes devia ser comunicado, mas os planos eram organizados.
E como no Mundo Espiritual o entendimento a respeito do momento exacto em que os acontecimentos se devem dar, é regra, sem ansiedade mas também sem descuido, na hora certa eles seriam notificados e consultados.
Assim se daria a fim de que a empreitada fosse bem sucedida e resultasse, para cada um, em bastante proveito para o Espírito, pois que é sempre a ele que se visa.
Algum tempo mais até que Virgínia conseguisse a plena recomposição de si mesma, mas para isso ainda deveria encontrar-se com Geraldo, encontro esse também em preparação.
Se uma vez ela o avistara e lhe fora um tanto desastroso, o que se preparava e estava próximo de se concretizar, tinha de ser diferente.
A surpresa, desta vez, seria totalmente eliminada.
Ela deveria partir para ele consciente do que ocorreria, a fim de que nenhuma recaída pusesse a perder ocasião tão significativa.
Chegada a ocasião, Virgínia foi recomendada estar no jardim, mas, a certa distância, Irmã Jacobina estaria à espreita, pronta para intervir, se necessário fosse.
E, como já havia combinado com Geraldo, ele a chamaria mentalmente, com intensidade, como já estava capacitado a fazer.
Caminhando um tanto ansiosa, sem saber por onde ele viria, ela olhava por todos os lados.
Imaginando que nada ocorreria, pois talvez ainda não fosse merecedora ou não estivesse procedendo adequadamente, ela sentou-se num banco afastado e, sem olhar para lado nenhum, fechou os olhos rogando a Deus que não deixasse perder aquela oportunidade da qual estava tão necessitada.
Sem saber como, sem nada ouvir, sem nenhum ruído ter perturbado a sua concentração, ao abrir os olhos, ela deparou-se com ele, em pé à sua frente.
A surpresa foi grande.
Geraldo, conforme ela já o vira, readquirira a aparência mais juvenil, apresentava-se bem disposto e sorrindo.
Emudecida pela surpresa, ela nada disse, mas ele, sem se fazer esperar, sentando-se ao seu lado, tomou-lhe as mãos e falou:
— Há quanto tempo esperava por este momento!
Vejo que está mais bem disposta de quando a vi pela última vez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:19 pm

Sua fisionomia está tranquila e só pode demonstrar o que está em seu coração.
Estou muito feliz!
— Não me humilhe assim, Geraldo!
— Não foi para isso que ansiava por este encontro.
Jamais passou pela minha mente fazer qualquer coisa que pudesse humilhá-la.
Quero apenas ajudá-la, vê-la cada vez melhor!
— E justamente por isso que me sinto humilhada.
Depois de tudo o que lhe fiz, você ainda demonstra os bons sentimentos que traz no coração.
-Esqueçamos o que houve e façamos de conta que estamos nos encontrando hoje, pela primeira vez, sem que nenhum de nós tenha passado, mas apenas um futuro de esperanças, de alegrias e felicidade.
- Não podemos fazer de conta, quando a realidade cruel está dentro de nós, atormentando-nos a todo instante.
— De que fala?
Não quero que nada a atormente, mas que esteja feliz e esperançosa.
— Só quando lhe pedir perdão e sentir que o mal que lhe fiz já foi perdoado.
— Não posso perdoá-la!
— Eu entendo! Mas julguei que você, por esse carinho e compreensão que demonstra, pudesse fazê-lo, mas tem razão, o que lhe fiz não tem perdão!
— Não me lembro se você me fez algum mal!
Se estamos nos encontrando agora, pela primeira vez, nada tenho a lhe perdoar, porque você nada fez!
Compreende-me?
— Estou tentando compreender a sua bondade, a sua elevação de carácter, a sua nobreza de Espírito, mas não deve ter esquecido tudo o que sofreu por minha causa.
— Se algum dia eu sofri, o sofrimento foi a alavanca de que meu Espírito precisava para progredir.
Se hoje estou na situação em que me encontro, foi porque aceitei o sofrimento, mas nem sei quem o provocou.
Esqueçamos este assunto e vamos aproveitar este momento de felicidade!
— Eu não mereço você!
— Vamos dar um passeio pelo jardim, só nos dois, sem recordações, sem tristezas, mas alegres e esperançosos de que ainda possamos estar juntos no futuro.
Muitas outras vezes eles se encontraram.
Muitas demonstrações de arrependimento compunham as palavras dela, sempre com a compreensão de Geraldo tentando amenizar o seu sofrimento, que ele sabia, não era pequeno.
Quando praticamos acções inadequadas, quando conduzimos a nossa vida levados pelo orgulho, distanciando-nos dos ensinamentos de Jesus, ao retornarmo-nos à compreensão da realidade de nós mesmos, a dor do arrependimento é muito maior que qualquer outra anterior.
Virgínia passava por um período difícil.
Caíra na realidade da sua vida terrena, interligara as duas existências das quais tinha conhecimento — a que lhe mostraram e a última que vivenciara — e entendera o quanto errara, o quanto fizera a tantos sofrer, sobretudo ao próprio Geraldo que a tratava com carinho e se esforçava para que ela pudesse estar a cada dia um pouco melhor.
Certa ocasião, em conversa com Irmã Jacobina, agora mais raras pois ela contava com o apoio de Geraldo, Virgínia falou- lhe:
— Tenho sofrido muito, irmã!
— Todos nós sofremos!
Cada um de uma forma, mas o sofrimento ainda é nosso companheiro, até que nos liberemos de todos os débitos que trazemos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:19 pm

E mesmo liberados, temos as lembranças do que fizemos, mas as utilizamos de forma benéfica em favor de nós mesmos e de outros, auxiliando e amparando os mais infelizes.
— Até que eu chegue a esse ponto, muito, muito tempo terá passado!
— De que se queixa?
— Tenho tido a companhia quase constante de Geraldo...
Quando suas tarefas lhe permitem, ele tem me ajudado bastante, mas, justamente porque esse esforço vem dele é que sofro mais.
— Deveria agradecer a Deus ter a companhia de alguém que a ama!
— Sim, irmã, sobre isso agradeço, mas me é difícil estar com ele vendo tanta dedicação, sem me lembrar de tudo o que lhe fiz!
Cada vez mais as minhas atitudes na Terra crescem dentro de mim, e não estou mais suportando.
Ah, irmã, se eu pudesse refazer toda aquela minha vida, se tivesse uma outra oportunidade, tanto com Geraldo quanto com aquele que foi meu filhinho, a viveria de modo diferente!
Eu os compensaria de todo o sofrimento que lhes causei, a Geraldo desta última existência, e a meu filhinho, pelo mal que lhe fiz naquela que me foi permitido ver.
— A senhora estaria disposta a voltar à Terra junto com essas criaturas para tentar desfazer os males que lhes ocasionou?
— Tentar, não, irmã!
Tenho a certeza de que se tiver essa oportunidade, eu a viverei de forma diferente!
Tenho estudado, aprendido, e o que mais faço é pensar, como sempre me foi recomendado.
— Só agora a senhora compreendeu o significado da palavra pensar e acredito que o tenha feito adequadamente.
Quando reflectimos em nossas acções, sobretudo naquelas que atingem a outros, temos de fazê-lo com imparcialidade e justiça, não vendo somente o nosso lado, nem baseando-nos no que cristalizamos em nós como o correto.
Precisamos ter um pensamento duplo, aquele que analisa não só a nós mesmos, mas aqueles a quem fizemos sofrer.
Imagino que assim tem procedido agora.
— Penso muito mais neles que em mim mesma!
— Então a senhora já atingiu um ponto mais desejável — esquecer de si mesma para pensar nos outros.
— Não é bem assim, irmã!
Procuro não pensar muito em mim para não ter mais motivos de arrependimento.
Talvez aí ainda seja uma demonstração de egoísmo.
— De qualquer forma a senhora está no caminho certo!
— Voltando ao que já lhe falei, gostaria muito de ter outra oportunidade na Terra.
Onde está aquele que foi meu filhinho querido?
Seria possível nos reunirmos novamente, fosse na condição que fosse, para que eu pudesse demonstrar a minha dedicação abnegada a ambos?
. — A senhora sabe que aqui não é o nosso lugar definitivo.
Estagiamos quando retomamos da Terra, preparamo-nos para novas existências e voltamos.
Este lugar pode ser considerado um hospital, uma escola, onde os Espíritos, trazendo as enfermidades dos males que provocaram na Terra, curam-se, para depois aprenderem a se direccionar correctamente.
É lá que vão demonstrar se se prepararam adequadamente para enfrentar novas lutas.
E como o estudante que recebe o diploma depois de anos de dedicação, e mesmo que o tenha sido com grande mérito, ao começar o desempenho da sua profissão, ele não está isento das lutas.
— Sei de tudo isso, e gostaria de ter essa outra oportunidade para redimir-me diante dos que ofendi e diante de mim mesma.
Quando aqui regressar, depois de outra existência — a que pretendo, me permitam — quero chegar feliz da tarefa bem cumprida, ante as lutas vencidas com esforço e entendimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:19 pm

— Vejo que a senhora está bem intencionada!
Quando esse desejo parte justamente daquele que pretende retomar sem que nada lhe seja imposto, a probabilidade de sucesso é muito maior.
— Então, irmã, o que devo fazer para ter esse meu desejo satisfeito?
— Lembre-se de que cada retomo à Terra é precedido de uma intensa preparação; um plano é organizado, porque sempre levamos resgates para realizar.
A vida lá é difícil, mas precisamos da aprovação dos nossos maiores.
Geraldo faz parte desses seus anseios?
— Nunca lhe revelei nada.
Tenho vergonha.
— Mas não é com ele que deseja retomar?
— Se ele tem sido o meu apoio aqui, por que não o seria lá?
— Porque cada um levará, por sua vez, os resgates particulares.
Por mais nos amemos, temos as nossas faltas, independentemente do amor que nos dedicamos.
A união é para que cada um resgate seus débitos com o auxílio dos que ama, e resgate os outros que foram praticados juntos, em que um é devedor do outro.
Por isso, uma encarnação na Terra é muito importante.
Lá não é um lugar aonde se vai para divertimento ou para mudar de situação.
Cada um é responsável por si mesmo, conquanto todos tenham a protecção do Pai.
Quanto mais fizermos, a nosso benefício, maior será a nossa evolução, mais felizes seremos, e mais próximos do Pai estaremos.
— E o que lhe pedi, como ficará?
— Poderei fazer uma consulta aos nossos Maiores.
Eles é que decidirão quanto ao atendimento do seu pedido porque, retomar, todos nós ainda precisamos.
Essa conversa não foi mais além, porque não seria necessário.
Entretanto, sempre que o ensejo se apresentava, Virgínia perguntava a Irmã Jacobina se ela já fizera a sua solicitação.
— E um assunto muito importante, irmã, e não pode ser tratado entre uma pequena conversa e outra, quando interesses mais urgentes assoberbam as nossas horas.
Contudo, não me esqueci!
Assim que me for possível, levarei a sua proposta a nosso Mentor Maior.
Mas, enquanto esse momento não chegar, vá se esforçando e se preparando para fazer-se merecedora de um atendimento.
Diante desta explicação, Virgínia calou-se por mais algum tempo, mas nem com Geraldo fizera tais comentários.
No momento certo, quando tivesse o consentimento, falaria, assim pensava.
Todavia, uma experiência que envolve não só um Espírito mas diversos, não pode ser decidida assim, apenas porque um deles manifesta esse desejo.
O plano tem que ser conjunto e a consulta necessária para maior probabilidade de êxito, e não se perca uma existência, ou por não se estar preparado, ou por não se concordar com ela e realizá-la compulsoriamente.
Isto deve ser observado sobretudo para aqueles que se encontram em condições de auxiliar nas decisões e ajudar na planificação, conforme seu maior ou menor desejo de resgatar mais rapidamente seus débitos.
Virgínia era observada porque Irmã Jacobina, sem nada lhe ter comunicado, já levara sua solicitação, mas fora recomendada que estivesse atenta para que esse desejo não fosse apenas o resultado de um impulso momentâneo, e, enquanto isso, o tempo ia passando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:19 pm

Entendendo que ela estava se esforçando e fazia por merecer o atendimento do seu pedido, a diligente orientadora levou a informação ao Mentor, e ele próprio, manifestando-se, disse:
— Bem, chegou a hora de eu próprio ter uma entrevista com essa nossa irmã, e aquilatar, por mim mesmo, as suas condições e as suas expectativas.
Peça-lhe, pois, para vir falar comigo amanhã, logo pelas primeiras horas das nossas actividades de atendimento.
— Está bem, irmão!
Ela ficará feliz.
Essa observação, partindo do senhor, terá maior condição de ser bem realizada.
Irmã Jacobina levou a comunicação à Virgínia, que se sobressaltou.
— Por que o nosso Mentor quer falar comigo?
O que fiz eu?
-— Examine a sua consciência!
Ela a acusa de algum ato indevido?
— Tenho me esforçado, irmã, e nada me lembro de ter feito contra as boas normas que aqui vigem, nem mesmo em pensamento!
— Pois esteja tranquila!
A conversa que ele quer ter com a senhora é de outra natureza!
— Então a senhora sabe e não quer me dizer, deixando-me em aflição?
—É sempre bom fazermos um exame de nós mesmos, ainda que nada encontremos e de nada nos inculpe a consciência!
— A senhora tocou num ponto que eu já não posso mais me sentir isenta de culpas.
Sabe que a minha consciência tem me acusado e muito!
;0 importante, quando a consciência nos inculpa, é reconhecermos que ela está com a razão, que realmente somos devedores de tais culpas.
Bem, a senhora está avisada, não se esqueça de que é do seu interesse!
Na manhã seguinte, juntando-se a duas pessoas mais que aguardavam uma entrevista com o Mentor, Virgínia ficou esperando, aproveitando aquele momento de preocupação para recolher-se em prece.
A sua vez, ela entrou receosa, mas a bondade do Mentor logo a colocou à vontade:
— Então, irmã, como tem se sentido neste nosso abrigo de paz, de aprendizado e de trabalho?
Agora sinto-me bem, só não posso sentir-me melhor pelo que me acusa a consciência.
— E de que ela a acusa?
— De tudo o que fiz nessa minha última encarnação, e em uma outra que me foi mostrada!
— Compreendeu que não agiu correctamente e poderia ter feito melhor?
— De certa forma, sim!
Mas quando lá nos encontramos, não nos lembramos do compromisso que levamos para ressarcir e reincidimos nos mesmos erros, senão da mesma forma, de outra, mas atingindo as mesmas pessoas.
— Quando temos essa consciência já é indício de algum progresso.
Entretanto, no que se refere ao esquecimento que levamos à Terra, é a bondade de Deus agindo a nosso favor.
A senhora imaginou se, em lá estando, nos lembrássemos de tudo o que fizemos àqueles que connosco convivem ou do que sofremos com o que eles nos fizeram?
A Terra, sem essas lembranças, já é um campo de lutas.
Se para lá vamos em resgates, é porque ainda somos imperfeitos, e, mesmo não recordando de nada, o nosso Espírito guarda as lembranças, de modo intuitivo, de algum ressentimento, de alguma desavença.
Se não formos firmes e completamente convictos do que estamos lá fazendo, colocando as virtudes em acção, aquelas preconizadas por Jesus, certamente falharemos.
Cada ser encarnado tem que entender que os desafectos antigos colocados para conviver com ele, e que se apresentam muitas vezes como antipatias gratuitas e recíprocas, o são para que nós as transformemos em afectos, porque ali está alguém que nos deve ou de quem somos devedores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:19 pm

Mesmo sem as lembranças, se guardam esse conhecimento, o esforço será maior para deles se desfazerem!
— Eu compreendo, irmão, mas nem sempre é fácil!
— Deus, na sua bondade, não nos coloca apenas no meio de desafectos.
Ele leva a sua misericórdia e desejo de que vençamos, mais longe, e coloca, junto de nós, afectos que se dispõem a nos auxiliar nos momentos em que as provas são mais acerbas.
Nem sempre, porém, reconhecemos e acabamos por afastá-los de nós, comprometendo-nos ainda mais.
— Foi o que aconteceu comigo!
—Justamente, irmã!
Eu quis fazer essa advertência, porque chegou ao nosso conhecimento uma solicitação sua de retomo ao orbe terrestre, desejosa de reviver aquela situação que lhe foi causa de tantos erros, para ressarci-los.
O senhor já sabe do meu desejo?
— Por isso a chamei para esta conversa.
Em regressando à Terra, nós não precisamos reviver a mesma situação para nos vermos livres dos débitos.
Muitas circunstâncias se nos apresentam que podem ser vividas com aqueles a quem ofendemos, e nos liberarmos dos compromissos que temos para com eles.
Basta que saibamos nos conduzir diante das situações, porque não se perde uma oportunidade terrena apenas porque cada um tem os resgates particulares que leva para saldar, de forma independente daqueles que foram assumidos em conjunto.
Mas se souber viver de forma cristã, respeitando e auxiliando o outro, os débitos serão ressarcidos e, ao final, todos serão vencedores.
— Irmã Jacobina já me deu essas explicações!
— E mesmo assim, diante de todas as dificuldades que se apresentam em lá estando, a senhora confirma a sua solicitação?
Ela ainda persiste?
— Cada vez com maior intensidade!
— Espero que não esteja se deixando levar por nenhum impulso repentino, ou um entusiasmo passageiro decorrente do ambiente em que agora vive, e depois não consiga cumprir tudo quanto a que se propõe.
— Tenho vivido aqui, pensando lá e me esforçando para reter todas as minhas experiências e todo o conhecimento que tenho adquirido.
— Mesmo considerando todas as suas palavras, irmã, cabe-me adverti-la como o venho fazendo, por isso ainda acrescento: toda reencarnação é um risco!
A vida na Terra, pelos atractivos e ilusões que oferece, pelos problemas que cada um leva para ressarcir, por outros
que ele próprio cria, é muito difícil; e, sem nos referirmos às lembranças que cada Espírito deve reter em si do que preparou, do que prometeu, ele pode comprometer-se ainda mais.
— Não será o meu caso!
O meu Espírito guarda, com muita intensidade, todos os erros que pratiquei, e, a par deles, está acumulando, também, este grande desejo de retomar.
Não diga depois que não foi advertida, aconselhada, avisada!
Quando lá nos encontramos, tudo é diferente!
Muitos propósitos se perdem à primeira dificuldade, porque deixamos emergir do mais íntimo de nosso Espírito, antigas tendências que ainda se encontram mais fortes em nós que qualquer desejo de modificação.
— Pelas suas palavras, o meu pedido será negado!
— Não afirmei isso, apenas quis lhe mostrar todos os ângulos que uma encarnação às vezes esconde a nossos olhos, mas surgem bem agudos à primeira contrariedade, e acabam por nos ferir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:20 pm

— O que posso esperar, então?
— Precisamos estudar mais, fazer verificações, consultar aqueles com quem a senhora deseja conviver, e organizar um plano que satisfaça a todos, dentro dos resgates que têm a realizar, diante dos débitos que trazem.
— E tudo isso demora muito?
— Aqui, neste plano onde nos encontramos, não nos preocupamos muito com o tempo, mas nos esforçamos para fazer o melhor e conseguir os melhores resultados, demore quanto demorar.
A pressa é inimiga da perfeição, como sabiamente afirmam na Terra, e não faz parte dos nossos métodos.
Isto posto, não quero dizer que devamos ser negligentes e preguiçosos, mas diligentes e cuidadosos.
Compreendeu, irmã?
. — Terei de esperar muito tempo ainda?
— Todo o que for necessário, e agradeça a Deus o que puder ser feito em relação a esse desejo.
Durante o seu período de espera, continue se preparando, estudando, observando, agindo, reflectindo e se aperfeiçoando!
Nunca seja impaciente nem se desespere, porque se isso acontecer, estará demonstrando que não se encontra preparada para realizar o que pede.
- —Está bem, irmão, saberei esperar!
Agradeço sua bondade em atender-me e aconselhar-me, e procurarei seguir as suas recomendações.
Não quero que nada do que pretendo dê errado, pois desejo retomar bem sucedida.
—Não se esqueça de que, diante de tudo o que foi exposto, faremos o possível para atendê-la, mas tanto a senhora quanto os outros, levarão, além do seu desejo, outros débitos para ressarcir.
— Eu entendo! Só me resta agradecer! Posso retirar-me agora?
— Vá com a paz de Deus, reflectindo sempre em tudo o que lhe falei!
Virgínia retirou-se da presença do Mentor, não tão satisfeita como esperava.
Aquela sua antiga irritação diante dos desejos não satisfeitos imediatamente, quando só decidia a seu bel-prazer mesmo ferindo os outros, parece ter retomado, mas ela procurou conter-se.
Estava bem avisada, esforçava-se, e, se pretendia retornar para se redimir, tinha que ser dócil, obediente e compreensiva.
Dirigindo-se ao jardim, começou a pensar no que seria a sua vida na Terra, junto daqueles que tanto ofendera, e lembrou- se também dos outros filhos.
Tanto tempo havia passado — em anos não saberia dizer quantos — nunca mais ouvira nada a respeito deles, e esse desejo de ter alguma notícia começou a crescer dentro dela.
No mesmo instante lembrou-se de Geraldo.
Ele deveria saber.
No próximo encontro assim que ele se desobrigasse das suas tarefas do dia, ela lhe perguntaria.
Ao pensar no trabalho que ele executava, Virgínia viu que ela mesma nada realizava em favor de ninguém.
Ajudava em uma ou outra actividade, esporadicamente, mas não tinha um trabalho regular.
Se ainda deveria esperar a autorização plena de seu pedido, com a confecção do plano, tempo haveria para isso.
Por que não se lembrara antes?
Por que só naquele momento irrompeu do mais íntimo do seu Espírito essa vontade?
Conversaria com Irmã Jacobina a respeito e ela, com certeza, se aprestaria em atendê-la.
Ante todas essas expectativas, seu coração se apaziguou, e ela passou a esperar a realização do que pretendia.
Quando Virgínia se avistou com Geraldo, na tarde do mesmo dia, procurou saber se ele tinha notícias dos filhos que haviam permanecido na Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:20 pm

Lembrava-se deles, estava consciente de que, pela sua própria cegueira, não os tratara convenientemente.
Obrigara-os a viver sem o pai e, mesmo assim, não soubera compensá-los da falta que ele lhes fazia.
— Não se preocupe com eles!
Sempre que me é possível e permitido os visito, levo-lhes lembranças agradáveis de momentos felizes que tiveram em sua companhia, para que se esqueçam dos outros.
— Eles nunca tiveram momentos felizes comigo pois, sempre amargurada, nunca me doei a eles como as mães devem se doar aos filhos!
— Esqueça-se disso agora, já passou e eles guardam boas lembranças de você!
Qual o filho que não tem lembranças agradáveis de uma mãe?
Hoje a nossa menina também é mãe assim como Alberto tem sua família.
São pessoas de bem que trabalham, lutam e se dedicam com muito amor à família.
— Eu não poderei visitá-los com você?
— Penso que ainda não lhe seja permitido! Eles estão bem, apegue-se nisso apenas e prossiga preocupando-se com você mesma, com o seu aprendizado, com a sua evolução.
— Vou pedir à Irmã Jacobina que me dê uma actividade mais efectiva, para que eu tenha, como você e quase todos os outros aqui, uma obrigação diária. E também uma forma de aprendizado.
— Das mais eficazes, porque sai da prática, da nossa dedicação em favor de alguém!
—É o que desejo!
Será, talvez, uma forma de compensar a mim mesma o que neguei a nossos filhos, só pensando naquele que se fora.
—E como estão seus sentimentos em relação a ele, agora?
—Meu coração está apaziguado e o entendimento adentrou o meu Espírito.
Gostaria de vê-lo mas não sinto mais aquela ansiedade anterior.
Quando soube que já convivera com ele, unidos por um sentimento de amor muito grande que eu não soube sublimar, tenho-o mais na memória como aquele a quem muito ofendi, e sinto que ainda não estou preparada para reencontrá-lo.
— Em nossas vidas de Espírito imortal sempre trazemos ligações com outras existências e, quando nos é permitido ter esse conhecimento, confundimo-nos entre uma e outra, lembramo-nos dos actos infelizes que praticamos e esforçamo-nos para redimi-los.
É uma forma de promovermos o próprio progresso através do conhecimento dos nossos erros, esforçando-nos para nos modificar, agindo para substituir os actos infelizes por outros mais nobres.
As conversas que ela mantinha com Geraldo sempre fortaleciam seu Espírito, infundindo-lhe coragem e objectivos para o esforço de modificação.
Não obstante todos os assuntos que conversavam, Virgínia continuou mantendo sigilo sobre o seu desejo de retomo à Terra em sua companhia; ela só não sabia que ele já se colocara à disposição para ajudá-la da forma que fosse, pelo muito amor que lhe dedicava, e acataria qualquer plano que organizassem para eles, mesmo advertido de que, numa recaída, poderia sofrer muito mais que anteriormente.
Geraldo não se importava, dizendo que débitos, no estágio em que se encontravam, todos os tinham para ressarcir.
Se tivesse que sofrer novamente, pedia a Deus que lhe desse forças para suportar, como lhe dera na existência anterior, cujo sofrimento lhe proporcionara melhores condições na vida espiritual.
Diante de tudo isso, só restava a Virgínia aguardar o plano que organizariam para o seu retomo, do qual ela não sabia se teria conhecimento ou não, e, enquanto aguardava, conforme o pedido que fizera à irmã Jacobina, já desempenhava a sua actividade junto aos irmãos infelizes, mais necessitados que ela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:20 pm

10 O RETORNO
O tempo ia passando.
Tão envolvida Virgínia foi ficando no seu trabalho que já não esperava com ansiedade, mas sabendo aguardar, sentindo-se útil.
Por isso, quando a chamaram para outra conversa com o Mentor, ela estranhou.
Ao entrar em sua sala, deparou-se com Geraldo, surpreendendo-se.
— Veja, irmã, que não nos esquecemos do seu pedido!
Eu quis promover esta reunião, hoje, para apresentar-lhes, em suas linhas gerais, o plano que cuidadosamente realizamos.
— Nunca falei nada a Geraldo.
—Fez bem! Esse pedido a nós competia e ele, como sempre o fez, colocou-se à disposição para acompanhá-la mais uma vez.
—Eu o reconheço, irmão, que assim tem sido, mas só agora, que lá eu o magoei muito.
— Daí vêm todas as advertências que lhe fiz e que não adianta recordarmos.
Sigamos em frente esperando que sejam bem sucedidos e que a senhora não tenha uma nova recaída e coloque tudo a perder!
—E a outra pessoa que lhe pedi fosse incluída nesse plano?
— Dela falaremos depois!
Vamos à nossa exposição, primeiro!
Se concordarem, só nos resta tomarmos as providências para que ele se efective.
O Mentor, bondosa e pacientemente, expôs todo o plano nas suas linhas gerais, dentro do que lhes era necessário saber para obter a confirmação do pedido ou a sua recusa.
Geraldo ouvia sem nada dizer, satisfeito apenas de poder ter uma nova vida junto de Virgínia, que esperava, diante do seu arrependimento e do desejo de ressarcir compromissos, fosse uma convivência mais longa, mais eficaz e mais feliz. Virgínia, da mesma forma, ouvia atentamente, considerando o que haviam preparado, muito simples e fácil de ser vencido.
Ao final, quando todos os itens que deviam e podiam ser do seu conhecimento, foram expostos, ela manifestou-se:
— Concordo plenamente, irmão, mas considero simples diante dos débitos que adquiri lá, por minha própria insensatez!
— As vezes assim pensamos, enquanto aqui, afastados das situações que devemos viver, mas lá, queixamo-nos de que fomos esquecidos por Deus.
— Jamais faria esse julgamento.
— Mas com certeza já o fez!
— Agora estou diferente!
— Julgamos que é muito mais profícua uma experiência terrena onde podemos ressarcir alguns débitos, realizar algum aprendizado, adquirir algumas virtudes, que levarmos um plano repleto de realizações ou adversidades para encurtarmos o tempo das nossas provas, pois que as mais das vezes sucumbimos e nada realizamos.
Mesmo provas mais fáceis e menos penosas nem sempre são cumpridas a contento!
A primeira contrariedade, à primeira decepção, nós nos revoltamos e deixamos perder aquele pequeno ponto que seria tão importante à nossa redenção.
Devemos levar ainda em consideração que, nem sempre, seja pelos atractivos que a Terra oferece despertando ilusões inadequadas, pelo desespero ou pela negligência, cumprimos aquilo a que nos propomos.
O aprendizado é aqui que se realiza mas a prova desse aprendizado é lá que deve ser efectuada.
Muitos retomam vitoriosos, pois, como o aluno que não se satisfaz apenas com o conhecimento que os professores lhe transmitem, vão além, enquanto outros, diante da mesma situação, se retraem, não cumprem metade das suas obrigações e acabam por ser reprovados.
Sejam, vocês, aqueles que cumprem suas obrigações se não podem ir além, mas nunca sejam negligentes e relapsos para não terem que ser reprovados e retomarem trazendo mais compromissos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:20 pm

Geraldo e Virgínia, atentos, nada diziam e ele prosseguia:
— Por esta exposição, devem ter compreendido que é do mais profundo interesse de cada um cumprir suas tarefas com dedicação e esforço, porque do bom desempenho de cada uma delas, é que advém a evolução.
Sejam pois, diligentes, cuidadosos, pacientes, estudiosos, humildes, caridosos, como nosso Irmão Maior, Jesus Cristo, nos ensinou, pelo próprio interesse de cada um de vocês.
Seja a situação que for, saibam aceitar com entendimento e resignação, procurando retirar de cada experiência a melhor lição para seus Espíritos, porque tudo o que fizermos de bom o atinge e nele fica perene para futuras encarnações.
Dessa forma vamos contabilizando créditos para o Espírito, que, ao final, se vê liberto de todas as imperfeições, evoluído e feliz, que deve ser a meta de todos - a felicidade junto do Pai.
— Suas palavras foram de grande sabedoria, irmão, e muito importantes para nós. - manifestou-se Geraldo a uma pausa do Mentor.
— E nossa obrigação mostrarmos todos os ângulos que podem surgir, ou para elevá-los ou para fazê-los perderem-se.
—Pelo exposto vi que renascerei junto daqueles meus filhos que lá deixei.
Ando pensando muito neles pela conscientização do quanto os fiz sofrer. - deduziu Virgínia.
—Pois foi pensando justamente nisso que lhe daremos essa nova oportunidade.
A convivência que terá com eles não será longa, pois daqui a alguns anos eles deverão retomar, mas será um tempo suficiente para lhes levar alegria, dedicação e amor.
Aquele mesmo amor que as crianças dedicam aos avós.
A senhora renascerá como neta de sua filha e estará mais junto dela, que mais sentiu a falta do seu carinho.
— Eu a compensarei, irmão!
Esforçar-me-ei para estar sempre junto dela, levando-lhe carinho e a minha companhia, justamente a que lhe neguei.
E assim terei a oportunidade de estar também com Alberto a quem me afeiçoarei como meu tio-avô.
— Que suas boas intenções se cristalizem em seu Espírito com a mesma obstinação que deixou cristalizar nele convicções erróneas, para que não erre mais.
— Tudo farei para isso!
De tudo o que me expôs, porém, um detalhe não me foi mostrado.
Onde entra, nesse plano, aquele meu filhinho e que já havia sido meu noivo?
Não vi nenhuma referência a ele.
— Desta vez ele não será seu filho, pois lá já se encontra!
Já renasceu há alguns poucos anos, cerca de quatro ou cinco, e vocês se encontrarão.
Será a prova maior que levará para resolver, e que não adianta entrar em detalhes neste momento.
E suficiente dizer que a senhora precisará de uma força muito grande em seu Espírito para vencê-la!
— Como diz, assusta-me!
O que ele será para mim?
— Nada e tudo!
Dependerá da senhora!
Nada mais posso adiantar-lhe, mas se se encontra preparada, se deseja ressarcir débitos, da forma como elaboramos o plano, será o melhor meio para isso.
Ore bastante, medite, estude, reflicta em tudo o que já fez e proponha-se, de maneira intensa, a não cometer os mesmos desatinos.
Não quero dizer com isso que se deparará lá, com situações idênticas, não, que isso seria difícil e não necessário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 29, 2018 8:20 pm

Porém, dentro de novas situações, convivendo com as mesmas pessoas em amizade ou parentescos diferentes, a oportunidade de resgates e aprendizado sempre se faz.
Quanto a você, Geraldo, leve novamente os bons propósitos de ajudá-la, pois ela irá necessitar, e leve também bastante entendimento e paciência, caso o que esperamos não aconteça, venha a acontecer.
— Dispus-me a ajudá-la e o farei com muito amor, irmão!
Algumas outras considerações ainda foram aventadas, algumas indagações, respostas explicativas, e os dois foram dispensados.
No momento em que a preparação mais circunscrita ao cumprimento do plano devesse se iniciar, eles seriam notificados.
Não demoraria muito, por isso, recomendado lhes foi que aplicassem a mente e o coração não só nos projectos em si, mas nas intenções mais profundas que eles traziam, de acordo com a solicitação de Virgínia e a concordância de Geraldo.
Os encontros entre eles tomavam outro rumo.
As conversas convergiam para o que se passaria, e Geraldo, confiante até certo ponto, pois conhecia bem a esposa que tivera, fortalecia-a com palavras de estímulo e de apoio incondicional, para que se sentisse mais encorajada do que o demonstrava.
Apesar do desejo de retomar, apesar das promessas feitas a si mesma, Geraldo receava novo fracasso, não por ele, que tudo suportaria se fosse pelo bem dela, mas por ela mesma que perderia uma excelente oportunidade de ressarcimento.
As conversas com Irmã Jacobina foram prosseguindo na medida das disponibilidades e até do sacrifício de outras horas que a bondosa irmã passou a dedicar à Virgínia, compreendendo a necessidade pelo retomo que se daria, e o dia em que ela deveria recolher-se para a preparação mais intensa, objectiva e direccionada aos seus planos, chegou.
Irmã Jacobina levando-lhe a comunicação, estimulou-a bastante com palavras de encorajamento, fortalecimento e esperanças, mas tão convicta ela se mostrava que parecia não necessitar de nenhuma delas.
O último encontro entre ela e Geraldo, que também partiria quase na mesma época, foi de promessas, sobretudo da parte dela que demonstrou desejo ardente de compensá-lo pelos danos que lhe havia provocado, mostrando-se, também, amorosa e reconhecida pela aquiescência em acompanhá-la naquela nova incursão terrena.
Sempre pronto a ajudar, sempre bondoso, agradecia-lhe a oportunidade de mais ajudá-la, amparando-a na Terra, dizendo que ela lhe fizera um grande bem, pois que resgates ainda os possuía e era uma nova oportunidade de efectuá-los.
Ambos lamentavam o tempo em que se veriam separados.
Só se reencontrariam na juventude, quando o amor que teriam despertado no coração, seria o móvel que os impeliria ao casamento, quando os resgates e o auxílio maior seriam efectuados.
Conforme deve se realizar, a preparação foi efectuada dentro do prazo a que se propuseram, um pouco mais longo para Virgínia, de forma que quando partisse, Geraldo lá já estaria há cerca de alguns meses.
Talvez, quando fosse levada para acompanhar a formação do corpo que utilizaria, ele já estaria vendo a luz com os próprios olhos.
Diante de Deus e sob a supervisão Dele esses fenómenos são muito naturais pois que a nossa vida de Espíritos imortais se compõe de uma sequência de idas à Terra e retornos ao Mundo Espiritual, até que todos os compromissos sejam saldados e o Espírito se veja liberto para outras jornadas em mundos mais elevados.
Entretanto, enquanto isso não acontece, somos submetidos a essa lei e a ela temos que cumprir, como Virgínia e Geraldo estavam cumprindo.
Há dez anos os dois já se encontravam na Terra, cada um por si, junto dos seus familiares, sem nunca se terem visto, que esse era o programado, não obstante ambos tivessem renascido na mesma cidade, a mesma onde tiveram uma existência comum há anos atrás.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 30, 2018 7:55 pm

Virgínia estava junto daquela que lhe fora filha, como sua neta.
A menina, desde a mais tenra idade, mostrava-se, às vezes, dócil, mas, à primeira contrariedade - as mais simples relativas a folguedos infantis ou a normas de educação que os pais desejavam lhe transmitir — demonstrava rebeldia, e fechava-se em seu quarto sem desejar falar com ninguém.
A avó que vivera experiência semelhante há anos quando a mãe procedia da mesma forma, às vezes dizia ao filho, pai de Amarílis:
—Não sei a quem puxou essa menina.
Se tivesse convivido com mamãe, a sua avó, diria que teria saído a ela ou aprendido com ela.
Porém, não se encontraram, nunca se viram, mas tenho a impressão de que as tendências permanecem no sangue e se revelaram nela.
E por que não se revelaram na senhora que conviveu com ela e sofreu com suas atitudes, como sempre me contou?
— Eu não sei, filho! Nem sempre compreendemos os desígnios de Deus.
Apesar de gostar muito da minha pequena, apesar de ela mostrar-se dócil e meiga, às vezes o seu comportamento me assusta, fazendo-me recordar de mamãe.
- Esqueça-se disso, e ajude-me a educá-la, para que a nossa pequena flor seja feliz.
Ela é dócil com a senhora.
Quando está em sua companhia, parece outra pessoa.
— E, filho, isso acontece porque a amo e tolero suas impertinências, mas se a contrariar, tenho a certeza de que agirá do mesmo modo.
— Pois converse com ela num momento de tranquilidade e carinho, para fazê-la entender como deve portar-se pelo seu próprio bem.
Nós a suportamos porque a amamos muito, mas a vida lá fora é uma disputa constante e as contrariedades sempre surgem.
Ela não poderá se portar lá fora como aqui dentro, connosco.
— Eu tentarei, filho, mas já tenho feito isso, e ela obriga- me a mudar de assunto, dizendo-me:
— Não estrague este momento, vovó, com recriminações!
Continue a história que me contava, senão vou para o meu quarto.
Diligente com os estudos, Amarílis ia aprendendo e preparando-se para o futuro.
O que faria, ninguém o sabia, nem ela mesma.
Muitos cursos estavam em sua mente, outros iam se achegando à medida que estudava e que tomava conhecimento das possibilidades que teria para seguir uma profissão.
Os anos transcorriam e muito pouco ou quase nada conseguiram modificar em seu carácter, quando se rebelava.
A avozinha, como a chamava nos momentos em que a ternura do seu coração sobrepujava as outras tendências, já não estava mais em sua companhia.
Uma enfermidade não muito longa mas pertinaz, levara-a, e a netinha sentiu muito a sua falta.
A companhia da avó, fazendo as suas vontades, era a ternura para a sua vida.
Agora via-se só mas, conforme o tempo passava, quando interesses novos começavam a despertar a vida dos adolescentes, ela ia esquecendo, ou pelo menos não falava mais tanto nela.
E quando o fazia, não deixava mais a tristeza tomar seu coração.
Era filha única.
Os pais tratavam-na com carinho, e primos, ela possuía alguns, filhos dos filhos de Alberto que, por ter em seu lar apenas homens, tanto nos dois filhos que Deus lhe mandara, como nos netos que chegaram, nunca tivera uma menina para enternecer-lhe o coração com mais delicadeza e meiguice.
Por isso sempre gostara da sobrinha-neta e se comprazia com ela, a quem a menina se voltou mais depois da partida da avó.
Todavia, não era sempre que podiam estar juntos porque moravam distante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 30, 2018 7:55 pm

A casa que Geraldo e Virgínia construíram num momento de felicidade, fora transformada toda numa próspera firma de engenharia, pois os dois filhos de Alberto também seguiram a carreira do pai.
Para moradia, construíram uma bela casa um pouco mais longe, na paz que as grandes cidades nem sempre permitiam.
Os seus netos, já rapazes com grande futuro, eram estudiosos e correctos.
O mais velho deles completava o seu curso e uma grande festa se preparava para comemorar sua formatura, não só aquela em que a própria escola promove em conjunto com todos os alunos, as suas famílias, os professores, mas outra, de carácter particular, na qual reuniriam os amigos para partilharem da felicidade que sentiam e das esperanças que abrigavam.
Amarílis já era uma bela jovem.
Os rapazes, sobretudo os companheiros da escola, como os frequentadores do clube onde a família a levava para juntos desfrutarem de agradáveis momentos de lazer, olhavam-na com insistência, mas ela, entre todos, passeava sua beleza e elegância, feliz por chamar a atenção, mas nunca se fixara em nenhum.
A festa estava já programada para o fim de semana, o sábado à noite, e poderia estender-se porque as horas preguiçosas do domingo lhes proporcionaria o descanso necessário.
Os preparativos se faziam e os convidados estavam ansiosos.
Reuniriam não só as famílias amigas dos pais como alguns amigos particulares do jovem formando, e alguns mais chegados do curso que concluíra.
Amarílis pensava na roupa que iria usar.
Examinou tudo o que possuía e, como não se satisfizera com nada, pediu à mãe que lhe comprasse roupas novas.
— Devo aparecer bem vestida!
Já pensou, mamãe, sou a única mulher nesta nossa família, e os primos quererão apresentar- me a seus amigos.
— Qual a sua verdadeira intenção ao comparecer a essa festa? Confraternizar com seu primo pela formatura, ou exibir-se entre os rapazes que lá estarão?
—• Enquanto participo da alegria do primo, posso muito bem despertar o interesse dos rapazes!
—Por que isso agora?
Você sempre foi abordada por muitos jovens, desejando namorá-la e sempre recusou, o que achamos muito bom porque os estudos devem vir em primeiro lugar.
— Agora já conto dezoito anos, mamãe!
E depois... Não sei, mas tenho um pressentimento de que esta festa me será importante.
— O que está esperando fazer?
— Nada além do que se faz numa festa!
Divertir-me, dançar e comer alguma guloseima se me sentir despertada para isso!
Amarílis, de fato, nunca se interessara por ninguém.
Mostrava-se um tanto orgulhosa e arredia aos rapazes que se aproximavam dela, parecendo até sentir certo prazer em vê-los à sua volta e escapar assim que uma abordagem, desejando mais que uma simples amizade, lhe era feita.
Contudo, para aquela festa, pressentia que iria encontrar o seu príncipe encantado, aquele que sempre esperou e nunca encontrou em nenhum dos rapazes que lhe apresentavam.
Ela não estava de todo errada.
Se nos lembrarmos da sequência que deve ter esta narrativa, saberemos que aquele que fora Geraldo, um dia teria que se encontrar com ela.
Como a Providência tem seus recursos para que o programado se cumpra, não obstante os envolvidos julguem “obra do acaso”, Amarílis, a Virgínia de outrora, o encontraria, nessa festa.
Entre os amigos de seu primo estaria aquele que se dispusera a ajudá-la, nessa existência que mal começava a desenrolar as tramas desse longo fio, que poderia ser bastante linear ou apresentar-se bastante embaraçado, pelo rumo que cada um daria à sua vida.
A primeira ponta, no entanto, teria início ali.
Amarílis de nada se lembrava, mas uma sensação emergia de seu Espírito que sabia, um momento ou outro iria acontecer e, com a proximidade dele, quando os preparativos do Mundo Espiritual se intensificavam para que o planeado se cumprisse, seu Espírito captou e, por isso, tinha esperança, e até uma certa ponta de alegria inexplicável tomava-lhe o coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 30, 2018 7:56 pm

11 O ENCONTRO
Amarílis conseguiu a roupa conforme desejava, e, ao aprontar-se para a festa, estava linda.
Portadora de muito bom gosto, ela sabia fazer ressaltar o que possuía de mais belo.
Quando chegaram à casa do tio onde a reunião festiva se daria, muitos convidados já se faziam presentes.
Os tios receberam-nos com alegria, mas não se ocuparam deles por muito tempo.
Eram da família e ficariam à vontade, enquanto eles iam receber outros convidados.
O primo que se homenageava era o centro das atenções. Entre uma pequena roda de amigos, não deixava de dar atenção aos que chegavam, desejosos de cumprimentá-lo, augurando-lhe uma carreira promissora.
Ele apresentou a prima e os tios aos que o circundavam, os rapazes olhavam para Amarílis com olhos de admiração, e as jovens que compunham o grupo procuraram ser gentis com ela.
Os tios, vendo que nada tinham a fazer naquele círculo, pediram licença e retiraram-se, com a intenção de cumprimentar os demais parentes.
Mas Amarílis, que já havia entabulado conversa com uma das jovens, ali permaneceu.
Mais alguns convidados foram chegando, todos com o mesmo procedimento, mas nenhum interesse maior despertaram em Amarílis, conquanto não podemos dizer que tenha ocorrido o mesmo com os rapazes.
Em dado momento, quando a grande sala estava já quase repleta, eis que um rapaz aproximou-se, colocou a mão no ombro do amigo fazendo-o voltar-se, e a alegria do encontro, revelada por ambos, foi muito grande.
Depois do abraço efusivo, o homenageado da noite falou:
— Estava sentindo sua falta!
Pensei que fosse me fazer a desfeita de não comparecer.
— Você sabe que nunca faria isso!
Nossa amizade e camaradagem não me permitiriam.
— Bem, quero apresentá-lo aos meus amigos, os que você ainda não conhece, e à minha prima.
Ao vê-lo chegar, Amarílis já sentira seu coração pulsar mais agitado e uma certa ansiedade a envolveu.
Quando ele lhe dirigiu o olhar, pela indicação do amigo, seus olhos se fixaram nos dela, sem conseguir desviá-los.
Ambos ficaram como que estáticos, despertando a admiração dos outros.
Num dado momento, quebrando aquele encanto, o primo indagou:
Vocês já se conhecem?
Não, nunca nos vimos! — disse o jovem, como que retomando de algum lugar que nem ele sabia qual fosse.
Tive a impressão de que fossem velhos conhecidos!
— Se nunca se viram e se surpreenderam um com o outro, só pode ser coisas do outro mundo... — falou em tom galhofeiro um dos presentes.
— O que quer dizer com isso? — indagou o primo.
— Ouço dizer, lá em casa, pelos meus pais, que nascemos e renascemos muitas vezes, comumente entre as mesmas pessoas!
— Você acredita nisso? — perguntou o recém chegado à Amarílis.
— Não sei, mas tive a impressão de que já o conhecia.
— Quem sabe não se conhecem realmente desse outro mundo!
— Bem, a festa é aqui, alegremo-nos e deixemos esse outro mundo para outra hora!
O grupo foi se desfazendo e os dois, Amarílis e o jovem, permaneceram.
Ele, sem cerimónia, indagou:
— A senhorita está sozinha?
— Não, vim com meus pais e tenho aqui alguns tios e diversos primos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 30, 2018 7:56 pm

Meu tio-avô deve estar por aqui também mas ainda não o vi.
Meu nome é Amarílis, não use nenhum tratamento cerimonioso comigo, se já nos conhecemos, como foi falado.
— Amarílis? E o nome de uma flor!
— Sim, foi mamãe quem escolheu e eu gosto bastante.
Não é comum e sinto-me bem como Amarílis.
E o seu, como é?
— Chamo-me João!
— Amarílis e João, parece que combinam!
—Não vamos ficar aqui parados.
Vamos nos divertir, quem sabe dançar... — sugeriu a jovem.
Os dois passaram o resto da festa juntos.
Os pais da jovem, que não descuidavam dela, mesmo à distância observavam-na.
Depois, aproximando-se, foram apresentados ao rapaz.
A noite passou, os mais jovens divertiram-se, dançaram, e os mais idosos conversaram e distraíram-se com as guloseimas.
Com o transcorrer das horas, os convidados foram se retirando, restando apenas os familiares e alguns amigos do jovem formando, entre os quais, João.
Por ele, ficaria até o momento de Amarílis se retirar e ainda a acompanharia até sua casa.
Ao ver que não mais podia permanecer, assim se expressou:
—Não quero ir-me embora sem a certeza de que poderemos nos encontrar outras vezes.
Sinto que nascemos um para o outro e não quero perdê-la.
— Também desejo vê-lo outras vezes! Vá à minha casa!
Você já conhece meus pais e eu lhes pedirei para convidá-lo.
— Assim está bem, mas quero passear em sua companhia, ter alguns momentos só para nós.
Sinto que não conseguirei mais viver sem você.
— Tenhamos calma, tudo vem a seu tempo!
Gostei da sua companhia, mas não podemos colocar nessa amizade todas as nossas esperanças de vida.
Não sabemos o futuro.
— O futuro nós mesmos o fazemos, e eu quero construir o meu, contando com a sua presença, com o seu alento para animar- me, e o seu amor para fortificar-me.
— Não falemos em amor ainda!
— Mas é o que eu sinto!
Dá-me a impressão de que eu a esperava.
Minha vida, agora, está completa.
— Entusiasmos próprios de um primeiro encontro!
— O tempo lhe provará que não é só isso!
Já falamos sobre este assunto. Realmente, nascemos para nos unir!
— Não leve tão longe seus devaneios e não me coloque assim, no seu futuro, com tanta segurança!
Nunca se sabe o que pode acontecer!
—Somente amor e felicidade é o que acontecerá se ficarmos juntos para sempre.
— Quer dizer que nos encontramos hoje, e, pelo que estou entendendo, já estou sendo pedida em casamento? — falou Amarílis, em tom jocoso.
— E o que mais desejo!
Você parece não me entender e ainda está brincando comigo.
— É muito cedo para esses arroubos, precisamos nos conhecer melhor!
Você tem ainda uma etapa a vencer, pois nem formado está...
— Mas caminho para isso!
Logo terei meu diploma, trabalharei com papai que já está bem estabelecido na vida e não haverá dificuldade alguma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 30, 2018 7:56 pm

— E se eu não for quem está pensando?
Afinal, não me conhece e poderei decepcioná-lo!
— Nada que venha de você será decepção para mim!
Eu a amo, se é isso que deseja ouvir!
— Não se exceda na demonstração dos seus sentimentos para não se arrepender depois!
—Eu nunca me arrependerei de nada.
Tenho só a agradecer a Deus o tê-la encontrado hoje!
Daquele dia em diante, não podemos dizer que o coração de Amarílis nem o de João estivessem livres.
Ela trazia-o sempre no pensamento, e ele, por sua vez, passava as horas de separação ansiando pelo instante do encontro, e, por isso, insistia sempre e cada vez mais em vê-la.
Ela estava feliz.
Parecia ter encontrado alguém que lhe traria apoio, segurança moral e tranquilidade para o resto da vida, tal era a paz que sentia na companhia dele.
Contudo, como era mais ansiosa e irrequieta, nem sempre ficava tão atenta nos momentos da mais profunda expressão do amor que ele sentia por ela.
Talvez a própria segurança que ele lhe transmitia, demonstrava que não precisaria preocupar-se, pois ele estaria a seus pés, sempre, fosse em que situação fosse.
Ambas as famílias tinham conhecimento desse amor.
João a levara para conhecer seus pais e, em casa de Amarílis, ele era o hóspede constante, lamentando quando devia se retirar.
Sem poderem ainda assumir um compromisso mais sério como ele próprio desejava, que seria o casamento, pois cada um, por sua parte, deveria completar os estudos, eles iam se preparando.
Como o tempo nem se apressa nem se acomoda, mas segue seu curso rotineiro e normal, dentro das horas e dos dias que formam o ano, o tempo passou, e eles puderam, ambos, ter seus cursos concluídos e estar preparados para o desempenho da profissão.
O casamento já fora marcado.
Preparava-se uma grande cerimónia, exigência da própria Amarílis, que se preocupava mais com a festa que teria, com o enxoval que levaria e o seu traje nupcial, do que com a vida de casada e a direcção da casa, cuja responsabilidade estaria sobre seus ombros.
Ela, que não possuía nenhuma experiência nesse particular, sempre fora servida, mas João não se importava, pensando na companhia constante que ela lhe faria, pois que serviços, dizia ele, sempre tem quem os faz.
Quando a data marcada chegou, tudo estava preparado e a cerimónia foi a mais bela que todos haviam visto nos últimos tempos.
Amarílis e João iniciariam, a partir daquele dia, uma vida em comum, que esperavam, fosse plena de venturas e alegrias.
E fariam o possível, pelo menos ele assim pensava, para que perdurasse por todo o sempre.
Todo começo de vida, quando os sonhos povoam a mente dos casais, quando a realidade das responsabilidades ainda não se desprendeu do mundo dos sonhos, é muito feliz.
As gentilezas entre um e outro dominam todas as acções, e tem-se a impressão de que aquela vida será perene.
Mas as necessidades do dia-a-dia com todas as suas exigências, requerem muito do ser humano em resgates na Terra, porque aqui não se vem apenas para os momentos felizes.
Porém, se cada um dos dois se esforçar, vivendo um amparando o outro, encorajando, compreendendo e aceitando o que não pode ser desviado, numa união intensa pela cumplicidade de todos os momentos e situações, a felicidade não se verá tão abalada.
Diante de uma união, mesmo da que se realiza movida pelo mais profundo amor entre seus componentes, ainda que um se disponha a auxiliar o outro, cada um é um.
Ave sem Ninho
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