LUZ ESPÍRITA
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Debate Sobre Vida Após a Morte

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Debate Sobre Vida Após a Morte - Página 3 Empty Racismo

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:38 pm

É preciso ao tocar neste tema, contextualizá-lo de acordo com teorias de superioridade racial muito em voga na época.

A frenologia, por exemplo, advogava uma relação entre a inteligência e a força dos instintos em um indivíduo com suas proporções cranianas.

Uma espécie de da “desdobramento” pseudo-científico da fisiognomonia.

Num artigo na Revista Espírita de abril de 1862 “frenologia espiritualista e espírita - Perfectibilidade da raça negra ”, ele faz uma espécie de releitura dessa “ciência” com um enfoque espiritualista, onde o “atraso” dos negros não se deveria a causas biológicas, mas por seus espíritos encarnados ainda serem relativamente jovens:

Tomemos por exemplo o instinto da destruição;
este instinto é necessário, porque, na Natureza, é preciso que tudo se destrua para se renovar;
é por isso que todas as espécies vivas são, ao mesmo tempo, agentes destruidores e reprodutores.


Mas o instinto de destruição isolado é um instinto cego e brutal;
ele domina entre os povos primitivos, entre os selvagens, cuja alma não adquiriu ainda as qualidades reflexivas próprias para regularem a destruição numa justa medida.

O selvagem feroz pode, numa só existência, adquirir as qualidades que lhe faltam?

Que educação dar-lhe-íeis, desde o berço, para fazerdes deles um São Vicente de Paulo, um sábio, um orador, um artista?

Não; é materialmente impossível.

E, no entanto, esse selvagem tem uma alma;
qual é a sorte dessa alma depois da morte?

É punida por seus aptos bárbaros que nada reprimiu?
Está colocada em posição igual à do homem de bem?
Um não é mais racional que o outro?

Está, então, condenada a permanecer eternamente num estado misto, que não é nem a felicidade e nem a infelicidade?


Isso não seria justo;
porque, se não é mais perfeita, isso não dependeu dela.

Não podeis sair desse dilema senão admitindo a possibilidade de um progresso;
ora, como pode progredir, se não for tomando novas existências?

Poderá, direis, progredir como Espírito, sem retornar sobre a Terra.

Mas, então, por que nós, civilizados, esclarecidos, nascemos na Europa antes que na Oceânia?
Em corpos brancos antes que em corpos negros?
Porque um ponto de partida tão diferente, se não se progride senão como Espírito?

Porque Deus nos isentou do longo caminho que o selvagem deve percorrer?
Nossas almas seriam de uma outra natureza que a sua?
Porque, então, procurar fazê-lo cristão?


Continua...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 12, 2012 8:39 pm

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Se o fazeis cristão, é que o olhais como vosso igual diante de Deus;
se é vosso igual diante de Deus, porque Deus vos concede privilégios?

Agiríeis inutilmente, não chegaríeis a nenhuma solução senão admitindo, para nós um progresso anterior, para o selvagem um progresso ulterior;
se a alma do selvagem deve progredir ulteriormente, é que ela nos alcançará;
se progredimos anteriormente, é que fomos selvagens, porque, se o ponto de partida for diferente, não há mais justiça, e se Deus não é justo, não é Deus.[i]

Eis, pois, forçosamente, duas existências extremas:
[i]a do selvagem e a do homem mais civilizado;
mas, entre esses dois extremos, não encontrais nenhum intermediário?


Segui a escala dos povos, e vereis que é uma cadeia não interrompida, sem solução de continuidade.

Ainda uma vez, todos esses problemas são insolúveis sem a pluralidade das existências.

Dizei que os Zelandeses renascerão entre um povo um pouco menos bárbaro, e assim por diante até à civilização, e tudo se explica;
que se, em lugar de seguir os degraus da escala, vencer todos de repente e sem transição entre nós, e nos dará o odioso espectáculo de um Dumollard, que é um monstro para nós, e que nada apresentou de anormal entre as populações da África central, de onde talvez saiu.

Assim é que, fechando-se numa só existência, tudo é obscuridade, tudo é problema sem resultado;
ao passo que, com a reencarnação, tudo é claro, tudo é solução.

(...)

A Natureza, portanto, apropriou os corpos ao grau de adiantamento dos Espíritos que devem neles se encarnar;
eis porque os corpos das raças primitivas possuem menos cordas vibrantes que os das raças avançadas.

Há, pois, no homem, dois seres bem distintos:
o Espírito, ser pensante;
o corpo, instrumento das manifestações do pensamento, mais ou menos completo, mais ou menos rico em cordas, segundo as necessidades.


Chegamos agora à perfectibilidade das raças;
esta questão, por assim dizer, está resolvida pelo que precede:
não temos senão que deduzir-lhe algumas consequências.


Elas são perfectíveis pelo Espírito que se desenvolve através de suas diferentes migrações, em cada uma das quais adquire, pouco a pouco, as qualidades que lhes faltam;
mas, à medida que as suas faculdades se estendem, falta-lhe um instrumento apropriado, como a uma criança que cresce são necessárias roupas maiores;
ora, sendo insuficientes os corpos constituídos para seu estado primitivo, lhes é necessário encarnar em melhores condições, e assim por diante, à medida que progride.


As raças são também perfectíveis pelo corpo, mas isso não é senão pelo cruzamento com as raças mais aperfeiçoadas, que lhes trazem novos elementos que as enxertam, por assim dizer, os germes de novos órgãos.

Esse cruzamento se faz pelas emigrações, pelas guerras, e pelas conquistas.
Sob esse aspecto, há raças, como famílias, que se abastardam se não se misturam com sangues diversos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 14, 2012 8:34 pm

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Então, não se pode dizer que isso seja a raça primitiva pura, porque sem cruzamento essa raça será sempre a mesma, seu estado de inferioridade relacionado à sua natureza;
ela degenerará em lugar de progredir, e é o que a conduz ao desaparecimento num tempo dado.

A respeito dos negros escravos, diz-se:
'São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria trabalho perdido procurar instruí-los;
é uma raça inferior, incorrigível e profundamente incapaz'.


A teoria que acabamos de dar permite encará-los sob uma outra luz;
na questão do aperfeiçoamento das raças, é preciso ter em conta dois elementos constitutivos do homem:

o elemento espiritual e o elemento corpóreo. É preciso conhecê-los, um e o outro, e só o Espiritismo pode nos esclarecer sobre a natureza do elemento espiritual, o mais importante, uma vez que é este que pensa e que sobrevive, ao passo que o elemento corpóreo se destrói.


Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos;
como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva;
são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muito coisa;

mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições.


Trabalhando para o seu adiantamento, trabalha-se menos para o presente do que para o futuro, e, por pouco que se ganhe, é sempre para eles um tanto de aquisições;
cada progresso é um passo adiante, que facilita novos progressos.


Sob o mesmo envoltório, quer dizer, com os mesmos instrumentos de manifestação do pensamento, as raças não são perfectíveis senão em limites estreitos, pelas razões que desenvolvemos.

Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporeamente falando, jamais alcançará o nível das raças caucásicas;
mas, enquanto Espíritos, é outra coisa;
ela pode se tornar, e se tornará, o que somos;
somente ser-lhe-á preciso tempo e melhores instrumentos.


Eis porque as raças selvagens, mesmo em contacto com a civilização, permanecem sempre selvagens;
mas, à medida que as raças civilizadas se ampliam, as raças selvagens diminuem, até que desapareçam completamente, como desapareceram as raças das Caraíbas, dos Guanches, e outras.

Os corpos desapareceram, mas em que se tornaram os Espíritos?

Mais de um, talvez, esteja entre nós.

(...)”

Note que a possibilidade de aperfeiçoamento dos negros se daria de forma espiritual.
Seus corpos seriam ainda impróprios para níveis mais evoluídos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 14, 2012 8:35 pm

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Este mesmo artigo serviu de base para o item 32 de A Génese, cap XI:

"O progresso não foi, pois, uniforme em toda a espécie humana;
as raças mais inteligentes naturalmente progrediram mais que as outras, sem contar que os Espíritos, recentemente nascidos na vida espiritual, vindo a se encarnar sobre a Terra desde que chegaram em primeiro lugar, tornam mais sensíveis a diferença do progresso.

Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados."


"Esses Espíritos dos selvagens, entretanto pertencem à humanidade;
atingirão um dia o nível de seus irmãos mais velhos, mas certamente isso não se dará no corpo da mesma raça física, impróprio a certo desenvolvimento intelectual e moral.

Quando o instrumento não estiver mais em relação ao desenvolvimento, emigrarão de tal ambiente para se encarnar num grau superior, e assim por diante, até que hajam conquistado todos os graus terrestres, depois do que deixarão a Terra para passar a mundos mais e mais adiantados
(Revue Spirite, abril de 1862, pág. 97: Perfectibilidade da raça negra)"

Aqui fica patente uma ignorância antropológica e histórica.

Tribos aborígenes nada têm de animalesco, possuindo até cultura bem avançada, ainda que tecnologias primitivas.

Os chineses já possuíam esplêndida civilização enquanto a maioria dos europeus ainda vivia na idade do bronze.

Note-se, também, pelo texto de “Perfectibilidade da raça negra”, a tendência a explicar as disparidades entre as raças por meio da reencarnação, em vez de causas históricas e culturais.

Aliás, no LE, Kardec inclui esta disparidade como a última de uma série de seis questões intrigantes para época que só seriam bem respondidas pela reencarnação.

LE, cap V

"6º - Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança hotentote recém nascida e a educarmos nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton?(...)"

"(...)Em relação à sexta interrogação acima, dirão naturalmente que o Hotentote é de uma raça inferior;
então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não.

Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica?
Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?
A doutrina espírita tem mais amplitude do que tudo isto.

Segunda ela, não há muitas espécies de homens, há tão-somente cujos espíritos estão mais ou menos atrasado, porém, todos susceptíveis de progredir.
Não é este princípio mais conforme à justiça de Deus?"

Hotentotes são membros de uma tribo do sul da África.

Não seria mais justo a existência de uma única espécie humana, cujos elementos estão separados por culturas mais ou menos complexas?

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 14, 2012 8:35 pm

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Um hotentote (aliás, qualquer um) recém-nascido, se receber todas as condições materiais e morais adequadas, não terá nenhum empecilho para cursar uma faculdade.

Por outro lado, suponha que um avião caía em plena Amazónia e o único sobrevivente seja um bebé, que foi resgatado por membros de uma tribo indígena desconhecida.

Ainda que tal criança descenda da fina-flor da nobreza europeia, ela vai desenvolver habilidades em arco e flecha, em vez de falar latim.

O problema é que um raciocínio destes estava além do que Kardec podia, muito devido a própria lógica em que se trancou.

Ele não admitia a possibilidade de uma origem comum à toda a espécie humana, como visto em Gen, XI, 32 posto acima e LE 53-55
(aliás, em nenhuma espécie: Gen X,2).

Assim, parecia-lhe natural que houvesse alguma diferença intrínseca entre as raças e que elas não tivessem surgido todas ao mesmo tempo.

Era também lógico imaginar que os povos mais primitivos seriam novatos física e espiritualmente.

Apesar do tom interrogativo (“fareis dela um Laplace ou um Newton?”), a frase é análoga a do artigo de “Perfectibilidade ...”:
“O selvagem feroz pode, numa só existência, adquirir as qualidades que lhe faltam?

Que educação dar-lhe-íeis, desde o berço, para fazerdes deles um São Vicente de Paulo, um sábio, um orador, um artista?
Não; é materialmente impossível.

O progresso ocorreria de forma espiritual e, como isso, os reencarnes seriam em raças mais aperfeiçoadas.

Apesar do teor destes textos, o preconceito de Kardec ainda menor do que muitos de sua época, ele combatia a escravidão e defendia uma igualdade de direito entre os povos:

Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher.

De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao facto material da reencarnação.

Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade.

Gen, cap I, item 36

De facto, ele estipulava a possibilidade e reencarnação e indivíduos de raças “evoluídas” entre os “selvagens”:

“273. Será possível que um homem de raça civilizada reencarne, por exemplo, numa raça de selvagens?

Resp.:
É; mas depende do género da expiação.
Um senhor, que tenha sido de grande crueldade para os seus escravos, poderá, por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus tratos que infligiu a seus semelhantes.

Um, que em certa época exerceu o mando, pode, em nova existência, ter que obedecer aos que se curvaram ante a sua vontade.
Ser-lhe-á isso uma expiação, que Deus lhe imponha, se ele abusou do seu poder.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:47 pm

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Também um bom Espírito pode querer encarnar no seio daquelas raças, ocupando posição influente, para fazê-las progredir.
Em tal caso, desempenha uma missão.”[/i]

LE, cap VI

Mas isto não seria o usual:

“215. Que é o que dá origem ao carácter distintivo que se nota em cada povo?

Resp.:
Também os Espíritos se agrupam em famílias, formando-as pela analogia de seus pendores mais ou menos puros, conforme a elevação que tenham alcançado.

Pois bem! Um povo é uma grande família formada pela reunião de Espíritos simpáticos.

Na tendência que apresentam os membros dessas famílias, para se unirem, é que está a origem da semelhança que, existindo entre os indivíduos, constitui o carácter distintivo de cada povo.

Julgas que Espíritos bons e humanitários procurem, para nele encarnar, um povo rude e grosseiro?
Não. Os Espíritos simpatizam com as colectividades, como simpatizam com os indivíduos.

Naquelas em cujo seio se encontrem, eles se acham no meio que lhes é próprio.”

Parodiando uma famosa frase do livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, que diz:
“todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”, diria que Kardec considerava todos os seres humanos como irmãos de uma grande família, mas alguns seriam os mais velhos e os demais, os caçulinhas

Outro texto extremamente problemático.

Allan Kardec, Obras Póstumas, 1ª parte, capítulo da "Teoria da Beleza" (ou “do Belo”):

“Dessas observações judiciosas [feitas do Charles Richard, relacionando traços fisionómicos e qualidades morais], resulta que a forma dos corpos se modificam num sentido determinado, e segundo uma lei, à medida que o ser moral se desenvolve;

que a forma exterior está em relação constante com o instinto e os apetites do ser moral;
que quanto mais os seus instintos se aproximam da animalidade, mais a forma, igualmente, dela se aproxima;

enfim, que à medida que os instintos materiais se depuram e dão lugar aos sentimentos morais, o envoltório exterior, que não está mais destinado à satisfação das necessidades grosseiras, reveste formas cada vez menos pesadas, mais delicadas, em harmonia com a elevação e a delicadeza dos pensamentos.


A perfeição da forma é, assim, a consequência da perfeição do Espírito:
de onde se pode concluir que o ideal da forma deve ser aquela que reveste os Espíritos no estado de pureza, a que reveste os poetas e os verdadeiros artistas, porque eles penetram, pelo pensamento, nos mundos superiores.

Há muito tempo se diz que o rosto é o espelho da alma.

Esta verdade, tornada axiomática, explica esse facto vulgar, que certas fealdades desaparecem sob o reflexo das qualidades morais do Espírito, e que, muito frequentemente, prefere-se uma pessoa feia dotada de eminentes qualidades, àquela que não tem senão a beleza plástica.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:47 pm

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É que essa fealdade não consiste senão nas irregularidades da forma, mas não exclui a finura dos traços necessários à expressão dos sentimentos
delicados.

Do que precede se pode concluir que a beleza real consiste na forma que mais se distancia da animalidade, e reflecte melhor a superioridade intelectual e moral do Espírito, que é o ser principal.

O moral influindo sobre o físico, que apropria às suas necessidades físicas e morais, segue-se:
que o tipo da beleza consiste na forma mais própria à expressão das mais altas qualidades morais e intelectuais;

que, à medida que o homem se eleva moralmente, seu envoltório se aproxima do ideal da beleza, que é a beleza angélica.

O negro pode ser belo para o negro, como um gato é belo para um gato;
mas não é belo no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos;

podem bem exprimir as paixões violentas, mas não saberiam se prestar às nuances delicadas dos sentimentos e às modulações de um espírito fino.


Eis porque podemos, sem fatuidade, eu creio, nos dizer mais belos do que os negros e os Hotentotes;
mas talvez também seremos, para as gerações futuras, o que os Hotentotes são em relação a nós;
e quem sabe se, quando encontrarem os nossos fósseis, não os tomarão pelos de alguma variedade de animais.”


Sobre este trecho polémico, o autor espírita Eugénio Lara, na obra “Racismo e Espiritismo”, cap VIII; escreveu:

“(...)

Aproveitando a contribuição de [Charles] Richard, Kardec parte do princípio da influência do Espírito sobre o corpo, influência intelecto-moral, que se expressa no formato da matéria corporal.

Segundo ele, na medida em que o Espírito evolui, a matéria vai sofrendo as consequências dessa evolução, de modo que possa se adaptar e se adequar, conformando-se ao estágio evolutivo do Espírito encarnado.

Daí Kardec concluir que o ideal de beleza seria o dos Espíritos mais elevados, dos Espíritos puros.

Quanto à raça negra - e é esse o aspecto que nos chama mais a atenção - Kardec a considera primitiva, imperfeita, feia e anti-estética.
Muito aquém de um ideal absoluto de beleza.

Na opinião abalizada do fundador do Espiritismo, sob a óptica da beleza corporal, os brancos são mais belos e superiores ao negro, cujos “traços grosseiros, os lábios grossos, acusam a materialidade dos instintos.

(...)

Allan Kardec tinha posições bem reaccionárias em relação à mulher, ao socialismo e no caso em questão, ao negro, como se pode observar em seus escritos na Revista Espírita.

Todo homem é prisioneiro de sua época, e por mais larga a visão que possua, sempre pode-se notar elementos datados em suas acções e reflexões.

O fundador do Espiritismo não passou incólume a essa regra.

Antes dele, na França, já havia a Sociedade de Amigos do Negro, sendo o líder revolucionário Robespierre (1758-1794), seu conterrâneo, um dos expoentes na luta contra o racismo, a discriminação racial e o tráfico de escravos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 15, 2012 9:48 pm

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Esse aspecto da luta humanista dos iluministas, assim como determinadas reflexões sobre a questão do racismo - bem explícitas na obra de Jean Jacques Rousseau - infelizmente não foram incorporadas por Kardec, mesmo tendo sido ele muito influenciado pelas teses iluministas.

(...)

Há de se considerar ainda que, no século passado, o conhecimento dos europeus sobre a cultura africana era escasso.

Sociedades africanas de características totémicas coexistiam nessa época, com culturas alhures bem organizadas, com uma forma notável de organização estatal, com rei, ministros, militares e funcionários.

O negro não era tão primitivo assim como pensava Allan Kardec.
A visão kardequiana do negro tem de ser considerada segundo o contexto histórico em que foi formulada.

Seria incorrecto, insistimos, sob o ponto de vista espírita, rotular Allan Kardec de racista, pura e simplesmente.
Essa palavra possui uma carga semântica muito forte, inadequada para definir suas posições.

Seria o mesmo que taxá-lo de machista, devido a suas posições em relação à mulher ou de direitista e ultra-reaccionário, pelas posições contrárias ao socialismo e ao movimento proletário francês.

Todavia, não dá para “dourar a pílula” e ser condescendente com o fundador do Espiritismo.
Ele manifestou, explicitamente, um preconceito em relação ao negro.

Longe de ser racista, podemos afirmar que ele foi preconceituoso para com essa etnia.

Mas, por outro lado, não há nenhum indício de que ele tenha discriminado algum indivíduo ou grupo de origem negra, seja no movimento espírita ou fora dele.

Há, é claro, uma certa dificuldade teórica em separar racismo de preconceito racial e discriminação racial.

A princípio, o preconceito e a discriminação raciais seriam uma decorrência do racismo enquanto ideologia e sistema de pensamento.

No entanto, há de se considerar ainda a brutal diferença entre o comportamento de um membro da seita racista norte-americana Ku-Klux-Klan e o de um homem comum debochado que gosta de contar piadas de negro.

Um punk skinhead é capaz de espancar e matar um homem apenas por ser negro ou judeu, enquanto o outro, em função da cultura de tonalidade racista do qual é subproduto, não passaria da piadinha jocosa e cheia de preconceito.

Apesar da atitude preconceituosa de Kardec em relação ao negro, fruto do contexto em que viveu, sua obra sai ilesa de todas as críticas no sentido ético, de discriminação e preconceito a determinada etnia.

A kardequiana é muito maior do que qualquer triagem filosófica que possa ser feita, imperfeita como toda obra humana, mas coerente em seus fundamentos e tão actual a ponto de oferecer à sociedade elementos indispensáveis na luta contra o racismo.”

Não são todos que colocam o dedo nesta ferida da maneira sóbria que ele.
Mesmo assim, ainda há alguns pontos em que discordo.

Na frase que abre o capítulo (não posta acima), ele fala:
“Esta é uma questão que tem vindo à baila no movimento espírita, em função de alguns textos de Allan Kardec acerca da raça negra, contidos na Revista Espírita (RE) e em Obras Póstumas.”

Na verdade, dentro do próprio Pentateuco pode-se encontrar passagens de carácter preconceituoso, como Gen, cap XI, 32[/i] visto anteriormente.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:29 pm

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E, por incrível que pareça, a fisiognomonia de Charles Richard não foi totalmente sepultada no século XIX, havendo ainda ranços dela no meio espírita.

Um exemplo é o texto Retrato de Jesus, de Floriano Legado do Amaral:

“Cientistas com o auxílio da Antropologia e dos recursos da Informática, acabam de apresentar ao mundo um retrato científico de Jesus, o Cristo.

Esses cientistas seleccionaram uma cabeça de um homem que viveu no século I na Palestina, ou na região e com o computador criaram um rosto médium da população judaica daquele tempo.

Levantou-se a hipótese que Jesus só poderia ser semelhante a figura por eles concebida.
Um homem de traços fisionómicos grosseiros, cabelos pretos, levemente encaracolados e pele queimada pelo Sol.

Não gostei do Jesus científico.
Creio que essa figura apresentada pela ciência não condiz com a elevação espiritual do Mestre.

Pois, segundo a Doutrina Espírita, quanto mais elevado o Espírito, tanto mais perfeito será seu corpo carnal, física e esteticamente.

Prefiro ficar com as imagens de Jesus concebidas por artistas renascentistas e o famoso Retrato Falado de Jesus concebido pelo então Senador Romano Públio Lêntulo
(...)”

Deixando a fraudulenta “carta de Publius Lentulus” de lado, o texto remete directamente à ideia contida na “Teoria da Beleza”.

Não há algo aqui exactamente racista, de facto, mas a explícita noção de que existe um padrão de beleza absoluto e que este reflecte a natureza moral.

Preconceitos do passado batendo a porta do presente...

Ao fim de “Racismo e Espiritismo”, Eugénio Lara termina:

“(...)O racismo, talvez por ter sido considerado como uma questão menor pelo movimento espírita, é um tema pouco abordado.
A bibliografia é escassa.

Na década de 40, o filósofo espírita David Grossvater, da Venezuela, de ascendência judaica, em alguns momentos de sua obra, ainda desconhecida no Brasil, chegou a abordar o tema.

Os pensadores espíritas brasileiros Herculano Pires e Deolindo Amorim, de 'en passant', também se referiram ao racismo, mas sem se debruçar com maior profundidade.

A questão das minorias, a questão da mulher, dos homossexuais, das etnias discriminadas, dentre outras, não podem ser desprezadas.

Isso significa inserir o Espiritismo na modernidade e assim, enfrentar toda a problemática existencial de nosso tempo, sem o receio de reavaliar - segundo uma releitura crítica, contextualizada e qualitativa - determinadas posições de Allan Kardec e dos Espíritos que participaram da estruturação da filosofia espírita.

Se as novas gerações de espíritas não realizarem essa tarefa, o movimento espírita corre o risco de ficar como aquele sujeito da música 'A Banda', de Chico Buarque, que 'estava à toa na vida' e foi à janela 'para ver a banda passar'.”

Errar é humano... e insistir no erro, também.

Outro autor espírita, Carlos Imbassahy, quando confrontado com as passagens de conteúdo preconceituoso em seu “À margem do espiritismo”, reafirmou a desigualdade de raças.

“Entretanto, o que o estudo das raças nos diz é que nas camadas inferiores do género humano, o indivíduo é atrasado e como tal selvagem, animalizado, egoísta, bruto e mau.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:29 pm

Continua...

O filho herda os sentimentos paternos: é o que ensina a Ciência com o apoio das religiões dos nossos oponentes.

Sem educação, sem inteligência, criado e formado nas brenhas, o indígena faz o que vê os outros fazerem;
com uma insensibilidade inata, mata e come o inimigo;
às vezes usa de grande crueldade:

é como fazem os demais, porque o sentimento de todos é frio, há neles uma como anestesia moral;
nasceram assim, assim vivem.


Temos, portanto, que todos os aptos do selvático, do montesino, do rústico, do não civilizado, são consequências da imperfeições do berço, do meio de existência, da sociedade me que vivem, das luzes que lhes faltam.
São imperfeições nativas, atrasos raciais”.

Ao pé da página, alguns exemplos pesados extraídos do livro “Les Races Sauvages”, de Alphonse Bertillon:

“Com referência ao hotentote, refere Bertillon que ele é de uma preguiça proverbial;
nem a fome o torna diligente.

No mais tudo ali é à bruta.
Os filhos tomam ao pai o pátrio poder, lutando com ele e derrotando-o: é o direito do mais forte.

(...)

Uma raça prima-irmã dos hotentotes é a dos bochimans [bosquímamos, Bushmen].
Na tribo, quando os leões costumam rondar muito de perto as cabanas, os pais, com toda a calma, entregam-lhes os filhos para apaziguá-los.

E se morre uma lactante, os filhos da morta são enterrados juntamente com ela, porque nenhuma outra mãe se incumbiria, jamais, de sua nutrição.
A criança morreria fatalmente de fome.”

À margem do espiritismo, Carlos Imbassahy, FEB, 4ª ed., págs. 107-108.

Bertillon deu grandes contribuições à criminalística moderna e alguns fiascos.

Como antropólogo, porém, o preconceito pode tê-lo influenciado em “Les races sauvages”, assim pode tê-lo levado a se portar de forma desonesta no julgamento do capitão Dreyfus, de origem judaica.

Este julgamento mobilizou a França na virada dos séculos XIX-XX, sendo que Bertillon tomou parte na acusação como perito em grafoscopia - coisa que ele não tinha nenhuma experiência - e afirmou que manuscritos incriminadores foram redigidos por Dreyfus (fonte: Alphonse Bertillion).

Conjecturas, apenas; e não dá para refutá-lo só com sua biografia.
Mas que fede, fede.
Não sei dizer se o relato etnográfico dele é em primeira ou em vigésima mão e o quanto ele realmente correspondia à realidade.

Certo que o objectivo de Imbassahy não era defender a inferioridade dos “selvagens”, mas rebater as críticas de católicos e protestantes com a lógica espírita.

Só que este texto já constava na primeira edição (escrita na ortografia antiga) e que ainda persiste na quarta!

Mesmo após a morte do autor (1969), ao menos uma nota de rodapé correctora seria digna, já que hoje há muitas visões mais amenas sobre os povos da cultura Khoisan (hotentotes, bosquímamos, sans).

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Debate Sobre Vida Após a Morte - Página 3 Empty Re: Debate Sobre Vida Após a Morte

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 16, 2012 8:29 pm

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Uma pequena amostra do seu estilo de vida foi retratada na comédia "Os deuses devem estar loucos"http://www.movieguide.com.br/filme.view.php?id_filme=502 e está disponível no portal African adventures tours.

Porém, vale lembrar: não existe “bom selvagem”.

Durante guerras tribais, assassinatos e outras formas de violência afloram e, tal como na Europa de 1919-1938 ou na Jugoslávia de Tito, conflitos ficam latentes em tempos de paz, dando a ilusão que muitos aborígenes são pacíficos por natureza.

Não são monstros, apenas “gente como a gente”.

Mas não há povos mais avançados que outros?
Como ignorar a discrepância entre silvícolas e citadinos?
Se não é a evolução espiritual, o que os faz diferentes, então?


Para começo de conversa, os termos, mais adequados seriam culturas “complexas ou simples” no lugar de “avançado ou atrados”.

Depois, a história, a geografia e outros factores que estão além de simples indivíduos dão alguma luz sobre este assunto.

Deixo esta leitura http://geocities.yahoo.com.br/falhasespiritismo/cultura_e_progresso.html.

Uma manifestação preconceituosa do século XX muito chamativa é o do dissidente(?) Edgard Armod em sua obra “Exilados da Capela”, cap XVI“A Quinta Raça”:

“Como se vê, a Quinta Raça foi a última, no tempo, e a mais aperfeiçoada, que apareceu na Terra, como fruto natural de um longo processo evolutivo, superiormente orientado pelos Dirigentes Espirituais do planeta

Ao se estabelecerem no centro da Europa os hiperbóreos, logo a seguir e antes que pudessem definitivamente se fixar, foram defrontados pelos negros que subiam da África, sob a chefia de conquistadores violentos e aguerridos, que abrigavam sua hordas sob o estandarte do Touro, símbolo da força bruta e da violência.

Essas duas raças que assim se enfrentavam, representando civilizações diferentes e antagónicas, preparavam-se para uma guerra implacável, uma carnificina inglória e estúpida, quando os poderes espirituais do Alto, visando mais que tudo preservar aqueles valiosos espécimes brancos, portadores de uma civilização mais avançada e tão laboriosamente seleccionados, polarizaram suas forças em Rama, jovem sacerdote do seu culto – o primeiro dos grandes enviados históricos do Divino Mestre - dando-lhe poderes para que debelasse uma terrível epidemia que lavrara seu povo e adquirisse junto deste enorme prestígio e respeito.

Assim, sobrepondo-se, mesmo, às sacerdotisas que exerciam completo predomínio religioso, Rama assumiu a direcção efectiva do povo, levantou o estandarte do Cordeiro – símbolo da paz e da renúncia – e, no momento julgado oportuno, conduziu-o para os lados do Oriente, atravessando a Pérsia e invadindo a índia, desalojando os Rutas primitivos e aí estabelecendo, sob o nome de Árias, os homens da gloriosa Quinta Raça.

Esses mesmos homens que, tempos mais tarde, se espalharam dominadoramente em vária direcções, mas, notadamente, para o Ocidente, conquistando novamente a Europa até as bordas do Mediterrâneo, nessas regiões plantaram os fundamentos de uma civilização mais avançada que todas as precedentes.”

Armond fantasia quanto à origem dos povos indo-europeus, ou ários (indianos, iranianos e a maioria dos europeus).

Originários da Ásia central, se espalharam em uma área que vai da espanha à Índia, sem querer dizer que primeiro foram para Índia e depois para resto.

Os povos originais desta região, por sinal, não foram de todo expulsos: seus descendentes, hoje, formam a camada mais baixa da população – os párias.

Ô raça evoluída que trata os dominados assim!
Dá para notar que Armond faz uma gororoba de conceitos espíritas (raça adâmica, que para ele seria a Quinta Raça) com algum sistema esotérico-oriental.

Em parte disto, apesar de terem tido popularidade, suas obras não são unânimes no movimento.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:44 pm

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Há ainda uma questão da posição da “espiritualidade superior”.
Alguns desses espíritos deram uma espécie de conselhos muito estranha, quando o assunto relação entre povos e raças (existe isto?) humanas.

Em Revista Espírita, junho de 1859, numa psicografia com o suposto ex-escravo americano Pai César.

7. Que pensáveis dos Brancos, quando vivo?
- R.
Eram bons, mas orgulhosos de uma brancura da qual não eram a causa.

8. Consideráveis a brancura como uma superioridade?
- R.
Sim, uma vez que eu era desprezado como negro.

9. (A São Luís). A raça negra é verdadeiramente uma raça inferior?
- R.
A raça negra desaparecerá da Terra.
Ela foi feita para uma latitude diferente da vossa. [grifo meu]

10. (A Pai César). Dissestes que procuráveis o corpo pelo qual poderíeis avançar;
escolhereis um corpo branco ou um corpo negro?
- R.
Um branco, porque o desprezo me faria mal.

(...)

12.[/b] (A São Luís). Os Brancos se reencarnam, algumas vezes, em corpos negros?
- R.
Sim, quando, por exemplo, um senhor maltratou um escravo, ele pode pedir para si, por expiação, viver num corpo de negro para sofrer, a seu turno, todos os sofrimentos que fez sentir e, por esse meio, avançar e alcançar o perdão de Deus.

Outro facto muito duro de engolir é o “estudo” publicado na Revista Espírita de agosto de 1864 acerca da “Destruição dos aborígenes do México”.

O texto é relativamente grande e por isso deixo aqui em anexo http://geocities.yahoo.com.br/falhasespiritismo/mexico.html para leitura.

Há diversos erros históricos no texto.

A vida dos povos pré-colombianos não era de forma alguma idílica.
Tribos ainda no neolítico viviam em pé de guerra.
Os Incas e Astecas construíram impérios tributários que só foram o que foram porque exploravam diversos povos vizinhos.

Os Incas são apresentados como os principais aborígenes, quando, na verdade, viveram ao longo da cordilheira dos Andes, longe do México.

Os Astecas, a real civilização do lugar, aparecem apenas de relance.
A desfasagem destes povos em armas de fogos e imunidade biológica foi fatal para eles.

De resto, eles tinham muito com o que competir com os europeus em diversos aspectos.
A conquista da América foi um crime e um morticídio generalizado, bem diferente do que este “espírito” Erasto afirma.

Com um espírito superior escrevendo assim, não é de admirar que Kardec teça comentários para lá de duvidosos.

Como se fosse premente reafirmar a “teoria do mundo justo” de qualquer maneira:
Deus escreve certo por linhas tortas, estando sua bondade oculta pelo véu da maldade.

Isto é duro de engolir neste caso (só neste?) e não há resposta fácil para isto, a não ser à custa de grande omissão de factos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 17, 2012 8:45 pm

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Uma delas são “as consequências da última guerra na China”, que aparece no artigo anexado acima.

Provavelmente se trata da segunda Guerra do Ópio (1856-1860), um episódio vergonhoso para a refinada sociedade do século XIX.

Ao tecer esse comentário, Kardec não devia ter a menor ideia de que outro crime era perpetrado pela raça caucasiana e “ninguém” lhe disse nada...

O gigante de pés-de-barro chinês ainda apanharia bastante nas mãos dos ocidentais e dos japoneses até despertar no século XX, impulsionado por um novo nacionalismo e não por uma fusão de raças.

Talvez haja um limite, neste caso, à influência da época sobre o homem.
Aqui a postura do “mundo justo” falou mais alto até de muita análise crítica de pensadores bem anteriores ao século XIX.

Um exemplo:
É de lamentar que não tenham sido vencidos por César ou Alexandre!
Tão grandes transformações e mutações se houveram efectuado com doçura.

Progressivamente fora desbravado neles o que havia de inculto;
suas qualidades naturais teriam sido consolidadas e os conquistadores, introduzido seus conhecimentos acercar do cultivo das terras e das artes, lhes dariam também as virtudes gregas e romanas.

Que progresso teria alcançado sua civilização se com isso se houvesse estabelecido entre esses indígenas e nós um clima de fraternidade e simpatia!

Ao contrário, só tiveram diante deles exemplos de desregramento e abusos.

Aproveitamo-nos de sua ignorância e inexperiência e lhes ensinamos a prática da traição, da luxúria, da avareza;
e os impelimos aos aptos de crueldade e de inumanidade;
ter-se-á jamais perpetrado tanto crime em benefício do comércio?


Quantas cidades arrasadas, quantos povos exterminados!
Milhões de indivíduos trucidados, em tão bela e rica parte do mundo, e tudo por causa de um comércio de pérolas e pimenta!

Miseráveis vitórias! Nunca a ambição incitou a tal ponto os homens a tão horríveis e revoltantes acções!

Michel de Montaigne (1533-1592), Ensaios, Livro III, cap VI.

Estaria a “falange da Verdade” no mesmo “grau evolutivo” que Kardec, mesmo estando livre dos entraves da matéria?
Ou seja, seriam os espíritos também “de época”?


Ainda há a possibilidade de acções do inconsciente da hora da comunicação:
médiuns teriam dados opiniões suas, mas atribuíndo-as a seres do além, tal como Flammarion cogitou sobre si mesmo sobre a “Uranografia Geral” da Génese, em que ele era o médium.

Para ler:

Eugénio Lara - Racismo e Espiritismo http://www.viasantos.com/pense/down/Eugenio_Racismo.PDF

F.Clark Howell, O homem pré-histórico, cap VIII "O selvagem hoje em dia", Livraria José, Olympio Editora

§.§.§- O-canto-da-ave
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