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Casos de Possessão

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 30, 2012 9:53 am

O CASO DE IRIS FARCZÁDY UMA VIDA ROUBADA
Mary Rose Barrington, Peter Mulacz e Titus Rivas

Traduzido por Marcelo Steimbruch

SUMÁRIO

Em 1933, uma garota húngara de 16[1] anos, de boa criação, que sempre havia se interessado extensivamente pela mediunidade, subitamente passou por uma mudança drástica de personalidade, alegando que ela era Lúcia renascida, uma trabalhadora espanhola de 41 anos que havia morrido no início daquele ano.

Transformada em “Lúcia”, Íris falou a partir de então em Espanhol fluente, uma língua que aparentemente ela nunca tinha estudado e nem tivera a oportunidade de aprender, e não podia entender nenhuma outra língua.

Lúcia tem estado no controle desde então, e agora com a idade de 86 anos, considera que Íris foi uma pessoa diferente, a qual cessou sua existência em 1933.

Os três autores deste artigo encontraram Lúcia em 1998, e uma fita cassete gravada com entrevistas suas está arquivada na SPR.

Tentativas foram feitas para localizar a alegada família espanhola de Lúcia, mas estas não tiveram sucesso.

Apesar de o aspecto reencarnatório do caso não ser apoiado por provas, ainda resta o mistério de como Iris adquiriu o seu conhecimento da linguagem espanhola, dos costumes e da cultura popular, e porque Iris deveria ter querido ou se submetido a uma “substituição” por Lucía.

INTRODUÇÃO

Em um artigo de 1989, o Dr. Hubert Larcher, antigo Diretor do Instituto Internacional de Metapsíquica (IMI) em Paris, relatou um caso há muito esquecido de uma aparente possessão, envolvendo uma garota Húngara chamada Iris Farczády, que em agosto de 1933, com a idade de 16 anos, passou por uma mudança dramática de personalidade (Larcher 1989).

A nova personalidade alegava ser uma trabalhadora espanhola de nome Lúcia Altarez de Salvio e que ela havia morrido três meses antes, em Madrid, tendo deixado para trás o viúvo e os sobreviventes de seus 14 filhos.

O aspecto mais espantoso do caso é que a garota que havia assumido falava espanhol fluentemente e não entendia mais húngaro nem alemão.

O caso, que até aqui ainda não encontrou seu caminho até a literatura da SPR, foi escrito em 1935 por Karl Röthy, um pesquisador húngaro-alemão, cujo relato cobre muitas páginas da revista, Das Reue Licth (Röthy 1935).

Ele concluiu, após várias investigações, que Iris nunca tinha estudado espanhol nem se associado com nenhuma pessoa que soubesse este idioma.

Este assunto chave será explorado com detalhes.

A referência de Larcher não foi para Röthy, mas para um sumário muito detalhado do caso, feito do relato de Röthy, por Rene Warcollier (Warcollier, 1946).

Warcollier concordou com o julgamento de Röthy que Iris não tinha aprendido espanhol de uma maneira normal, e concluiu que ela teria adquirido seu convincente domínio do idioma espanhol por telepatia.

Não seria esperado que um membro do IMI fosse simpático a uma interpretação que tivesse um sabor de reencarnação;
especialmente porque nenhuma mulher espanhola correspondente à Lúcia foi jamais identificada.

(Na França parece haver uma estrita separação entre cientistas, que tratam o paranormal algo como um ramo da biologia, e espiritualistas, que se preocupam com assuntos relacionados à sobrevivência).

Mas por mais duvidosa que seja a realidade da espanhola Lúcia, a aquisição de um idioma por telepatia soa muito improvável.

O caso de Iris Farczády pode ser visto como um membro extremo de uma grande classe de fenómenos que caem na classificação geral de ‘mudança de personalidade’.

No transe mediúnico, a troca da identidade do médium pela identidade do ‘comunicador’ que alega ter sobrevivido à morte, é muito familiar, mas a substituição total (aparente) da personalidade do anfitrião pela personalidade do ‘convidado’ pelo resto da vida do primeiro, que parece ser o que ocorreu no caso aqui apresentado, pode ser única.

Continua...


Última edição por O_Canto_da_Ave em Sáb Jun 30, 2012 8:30 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 30, 2012 9:54 am

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O tempo vai dizer porque o caso Sumitra/Shiva (Stevenson, Pasricha & McClean-Rice, 1989), discutido abaixo, pode ser outro exemplo.

Assumindo que outros casos de substituição da personalidade pelo resto da vida venham a ser conhecidos, ou que já são conhecidos (apesar de que não por nós), esta característica ainda assim será classificada com altamente incomum.

Intimamente relacionado com casos desse tipo são aqueles casos em que a personalidade original é substituída por um período limitado como é dito que aconteceu no caso Lurancy Vennum/Mary Roff, relatado como o caso de Watseka Wonder (Stevens, 1887).

As circunstancias no caso Watseka assemelham-se aquelas do caso Farczády no qual o ‘espírito’ de Mary Roff foi convidado numa sessão para tomar possessão de Lurancy Vennun, exactamente assim como Iris abria-se, para o que poderia ser chamado de invasão psíquica, pela prática da mediunidade mental.

Outra variante nesse tema é a longa duração das alternações entre a personalidade anfitriã e a invasora, essa é uma característica do caso Uttara Huddar/Sharada (Akolkar, 1992), onde um convite similar para invasão foi oferecido por Uttara, durante a prática de escrita automática.

O caso Sharada também tem uma característica notável crucial em comum com o caso Iris/Lucía, em que a nova personalidade fala uma linguagem descrita como uma forma arcaica de Bengali, aparentemente não conhecida (em nenhum grau útil) ou conhecível pela personalidade original.

A realidade da xenoglossia, junto com outros aspectos do caso Sharada, foi questionada (Braude, 2003), mas a aquisição da linguagem pode ainda ter mais crença que a maioria dos casos de alegada xenoglossia (vide Stevenson, 1974,1984).

Aonde a possessão se apresenta como explicação para o comportamento observado, deve-se também considerar os fenómenos de reencarnação e múltipla personalidade.

Reencarnação normalmente se manifesta como memórias de uma vida passada, o reivindicante continua completamente ciente de sua situação actual (veja, por exemplo, Stevenson, 2001, 2003).

As memórias da reencarnação parecem tipicamente surgir na mente do anfitrião, sem convite, no entanto, como mencionado acima no caso de possessão de Sumitra/Shiva, uma íntima relação com a morte pode parecer um convite para possessão psíquica.

Enquanto Sumitra parecia ter querido, ou pelo menos previsto uma iminente e prematura morte, Jasbir Lai, um garoto de 3 anos de idade, aparentemente morto por varíola inteiramente exógena, reviveu alegando ter sido Sobha Ram, dando detalhes suficientes sobre o ultimo para possibilitar a identificação, mas evidentemente estando ciente que ele estava descrevendo eventos de uma vida anterior (Stevenson, 1974).

Múltipla personalidade ou desordem de identidade dissociativa pode ser considerada a principal explicação, pois não requer que se assuma nenhuma hipótese de sobrevivência ou mesmo paranormal de qualquer tipo.

Os limites da personalidade múltipla são tão indeterminados quanto os limites da super-ESP, mas sua manifestação típica parece ser a expressão de personalidades distintas e pleiteando, cada uma, ser a verdadeira dona do corpo que elas habitam, como no caso Beauchamp (Prince, 1905).

Algumas das personalidades estão cientes das outras, enquanto não estão se manifestando.

Outras relatam somente períodos em branco (quando outra está se manifestando), como se o tempo tivesse passado sem que elas tivessem tido a consciência disso.

É argumentável, no caso presente, que Lúcia fosse tal tipo de personalidade, não ciente da proprietária anterior (Iris), e que ela, de maneira atípica, permaneceu no controle permanentemente, apesar de que ela não era, definitivamente, a encarregada original de Iris Farczády.

De qualquer forma improvável, a única característica que não poderia ser considerada nesses termos, seria a aquisição da Língua Espanhola e isto tem que ser observado como factor decisivo se o que temos aqui é um caso prodigioso de distúrbio/representação da personalidade ou um caso onde, após todas as outras explicações terem sido esgotadas, a explicação que resta aponta para a obsessão.

Algumas vezes é dito que existem coincidências demais para serem consideradas um mero acaso, especialmente num contexto envolvendo o paranormal, apesar de que este é um ponto de vista que provavelmente nunca vai ser apoiado por argumentos científicos sólidos.

Se uma distinção pode ser feita entre o acaso sem sentido e a sincronicidade significativa, nossa investigação nesse caso foi precedida por uma acumulação de incidentes que podem muito bem ser qualificados como propositais.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 30, 2012 9:54 am

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Mary Rose Barrington (MRB) estava fortemente motivada para descobrir mais sobre o caso e também para fazer algumas tentativas de última hora para rastrear as alegadas 14 crianças, enquanto ainda havia uma boa chance de que muitas delas, se reais, estivessem vivas.

O artigo de Röthy foi escrito somente dois anos após a transformação de Iris em Lúcia e MRB estava muito curiosa para saber se Iris havia alguma vez retornado para reclamar a posse de sua vida roubada.

O desejo de descobrir mais acabou sendo realizado por uma cadeia de coincidências.

A primeira dessas aconteceu na conferência conjunta da PA e da SPR em Brighton em 1977, quando MRB tentou despertar o interesse de Carlos Alvarado em ajudar no rastreamento dos hipotéticos filhos sobreviventes da hipotética Lúcia, que teriam agora entre 60 e 90 anos.

Enquanto eles estavam falando disso, um membro austríaco, Peter Mulacz (PM), se aproximou para falar de outro assunto.

MRB tinha em mãos o único relato em inglês do caso, que é um capítulo num livro de Cornelius Tabori (Tabori, 1951), que pessoalmente entrevistou membros da família Farczády em 1935. MRB perguntou se PM por acaso sabia do caso de Iris Farczády, e este respondeu que sim, pois tinha lido o livro de Tabori.

Deveria ser provavelmente a única pessoa no recinto que também tinha conhecimento do caso. MRB perguntou se ele teria a gentileza de procurar nos números antigos da Réue Freie Presse os relatos originais do caso e depois lhe mandar as fotocópias.

Algumas semanas após esta conversa, PM recebeu uma carta de Titus Rivas, um membro holandês da SPR, perguntando se ele estava ciente do caso de Iris Farczády, pois ele, TR, estava interessado em saber mais sobre esse caso.

E então iniciamos a nos corresponder.
Um item crucial nesta conexão com TR, é que seu pai era espanhol e TR sempre foi bilíngüe em espanhol e holandês, e um nativo na língua espanhola era essencial para o seguimento na investigação desse caso.

Mas isto não foi o fim da rede de sincronicidades.
O encontro casual principal ainda estava por vir.

Logo após PM foi à conferência Psi Tage em Bale, e descobriu que haviam alguns húngaros presentes.
Ele perguntou para um deles se por acaso havia ouvido falar sobre o caso de Iris Farczády.

Para sua surpresa o húngaro Zsolt Banhegyi disse que conhecia “Frau Lúcia” pessoalmente.
Ela estava viva e razoavelmente bem de saúde e perto dos 80 anos, morando numa vila perto de Budapeste e ainda era a espanhola Lúcia.

E então, através do encontro casual com ZB, nós três estávamos aptos a ir para Budapeste entrevistar Iris Farczády/Lúcia Krebsz em 3 e 4 de abril de 1977, sendo o segundo encontro no seu aniversário de 80 anos.

Existem vários aspectos nesse relatório e em cada caso o material cai em duas secções.
Primeiramente as informações obtidas no relato original de Röthy que foram ampliadas por Tabori e em segundo lugar as informações adicionais obtidas em 1977 de ZB e da própria Lúcia Krebsz pessoalmente.

Como é difícil e virtualmente impossível distinguir entre a personalidade “Lúcia”, que se manifestou primeiramente através da mediunidade de Iris, da velha senhora entrevistada por nós na Hungria, ela vai ser referida simplesmente como Lúcia, como ela escolheu ser chamada (apesar de que em seu passaporte seu nome está do modo húngaro, como Krebsz Iris).

Referindo-se a ela como Lúcia não significa que estejamos assumindo uma posição quanto ao seu status ontológico, como uma entidade separada da aparentemente extinguida Iris.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jun 30, 2012 9:55 am

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Os tópicos que este artigo vai abordar foram feitos da seguinte maneira:

1) A narrativa biográficaA transformação de Iris em Lúcia e o posterior desenvolvimento, como relatado por nós.
Vai ser um sumário com comentários limitados, ficando para o final do artigo as conclusões dos três autores, baseadas nos factos conhecidos e supostos.

2) As tentativas feitas para rastrear a família madrilenha.

3) A conexão espanhola:
a. O comportamento de Lúcia e seu conhecimento sobre a Espanha e seus costumes.
b. Seu grande conhecimento da Língua Espanhola.
c. De que maneira Iris poderia ter aprendido espanhol normalmente.

Nós deveremos finalizar com conclusões separadas.

(1) A NARRATIVA BIOGRÁFICA

Iris Farczády nasceu em 4 de abril de 1918, a segunda de quatro crianças cujo os pais se casaram em 1914.
Ela tinha um irmão, Zsolt, 2 anos mais velho, e uma irmã, Renee, 15 meses mais nova.

Também havia um irmão mais novo, Attila, aparentemente mentalmente retardado, e não se sabe mais nada sobre ele.
A família Farczády era classe média alta, o pai, Gero Farczády, era um engenheiro químico e director de uma grande fábrica.

De acordo com Tabori ele se tornou, de uma vez, o principal químico do governo. O Sr. Farczády é descrito como tendo uma ‘mãe adoptiva’ que era uma espiritualista que tinha uma colecção de desenhos de espíritos que Iris pode ou não ter visto.

A Sra. Farczády era um pouco mais velha que seu marido, o pai dela era um oficial do exército, ajudante do Arquiduque, e ela foi educada numa escola de alto nível em Paris.

Ela provavelmente possuía um status social mais alto que o de seu marido.
Tabori dá o endereço deles como 8 Lepke-Utca, Budapeste.

Apesar da classe social elevada e de presumidamente bastante dinheiro, no começo da década de 20, quando a Hungria sofria os efeitos de estar no lado perdedor da guerra de 1914, Zsolt, Iris e Renee foram mandados por 2 anos para uma vila holandesa, Zevenhuizen, sob um fundo de caridade criado pela Igreja Reformada Holandesa, que pegava crianças de países onde a comida era escassa e as recolocava por 1 ou 2 anos em países mais prósperos, em casas de famílias adoptivas.

Entre as idades de 5 e 7 anos, Iris junto com Renee, viveu na casa do Pastor de Zevenhuizen, enquanto Zsolt foi cuidado por outra família.
Durante seus dois anos na Holanda, Iris assumiu o holandês como seu idioma, esquecendo o Húngaro.

No seu retorno à Hungria parece que ela readquiriu seu idioma nativo sem dificuldades e o holandês foi esquecido.

Ela frequentou as escolas primária e secundária onde parece ter se destacado como aluna brilhante nas escolas em Sopron (Odenburg) e em Buda, com talento particular para matemática e, significativamente, para línguas;
os idiomas que ela estudou foram o alemão e o francês, mas não o espanhol.

Entretanto, a partir da idade de 16 anos, sua frequência escolar ficou errática em consequência de sua participação nos círculos espiritualistas familiares, numa atitude encorajada por sua mãe, e também, provavelmente, por causa de uma predição, feita um ano antes, de que ela iria passar por um “grande milagre psíquico”.

O quadro familiar fica mais claro se adicionarmos a informação dada pela própria Lúcia de que o pai de Iris havia, de facto, saído de casa para formar um novo lar com uma mulher mais jovem.

Não se sabe exactamente quando o pai de Iris abandonou a família e o relato de Röthy evita esse assunto.
Quando Tabori entrevistou o Sr. Farczády em 1936 ele tinha, aparentemente, perdido o emprego e pego um posto mais humilde relacionado à lacticínios.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 01, 2012 9:34 am

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Tabori estava particularmente embaraçado por ele não parecer estar totalmente integrado à família.
Presumivelmente a saída de casa de seu pai afectou Iris, mas de que maneira ela foi afectada somente podemos especular, pois Lúcia refere não ter a menor compreensão da mente de Iris.

As informações que temos a respeito das sessões foram dadas a Röthy por uma tal de Sra. Csipkai, a esposa (ou viúva?) de um juiz e amiga da mãe de Iris há 30 anos.

É impressionante.

De acordo com ela quando Iris estava em transe ela tinha um vasto repertório de comunicantes, sendo que, estrangeiros exóticos falando várias línguas, eram sua especialidade – ou parecia à Sra. Csipkai que assim era;
não há nada que sugira que ela era uma linguista com uma habilidade abrangente, no entanto Röthy a descreveu como uma mulher culta e sensível, em cuja palavra se podia confiar.

Ela contou a Röthy que alguns comunicantes alegavam ser de outros planetas e falavam em idiomas que a Sra. Csipkai certamente não poderia identificar.

Como a mãe adoptiva de seu pai, Iris fez vários desenhos automáticos, supostamente algumas centenas, os quais foram examinados por Röthy, mas nós não temos a descrição de seu conteúdo excepto nos casos de “habitantes” de outros planetas e estrelas que haviam dito terem desenhado mapas de seus lares e escrito em seus idiomas.

O que faz a mediunidade de Iris ser extraordinária e alarmante é que frequentemente os comunicantes permaneciam em possessão dela após a sessão ter terminado, e ela continuava a agir como possuída, ou fingia que tal, por horas ou mesmo dias.

Significativamente, uma personalidade que permaneceu residindo em seu corpo por uma semana, alegava ser uma garota espanhola, no entanto se chamava Letítia e não Lúcia.

Não se sabe se a entidade Letítia falava espanhol identificável, e, aparentemente, ela passou a semana chorando e reclamando que queria ser liberada.

Outra característica perturbante é que algumas entidades de Iris eram hostis a sua mãe, batendo e mordendo ela, e em uma ocasião uma tesoura foi jogada em direcção ao rosto da Sra. Csipkai, felizmente errando o alvo.

A Sra. Csipkai também relata que em uma ocasião Iris estava deitada em sua cama, possuída por uma entidade que alegava ser a mãe da Sra. Csipkai.

Pediu que esta se abaixasse e a beijasse, e então Iris a pegou pelo pescoço, gritando “Agora eu tenho você, sua cadela podre, esta é a única razão pela qual eu queria você perto de mim”.

Durante seus episódios de possessão pós sessão, Iris não podia ir à escola.
Fora o provável déficit de funcionamento intelectual, ela não teria reconhecido suas colegas e seus professores.

Suas ausências eram atribuídas a algum tipo de doença.
De acordo com Guido Kassal (Kassal, 1935, e veja abaixo), Iris também praticava mediunidade enquanto estava na escola em Sopron.

Mas como ele coloca esta escola na Holanda, um facto notoriamente errado, ele não pode ser considerado um informante preciso.
Ele foi, de facto, descrito por Röthy, como um sonhador e uma testemunha não confiável.

Que a mãe de Iris possa ter permitido que estes prolongamentos de transe ocorressem, e irresponsavelmente tivesse continuado com as sessões, passa o entendimento de que isto era pela sua crença na ‘alta missão’ de sua filha.

Quando, tarde demais, ela se deu conta de que podia ser responsabilizada pela ‘expulsão’ de Iris por Lúcia, resultou numa alteração dos factos para diminuir a responsabilidade dela na transformação de Iris.

Alteração dos factos que foram apresentados a Röthy, ou talvez alteração feita por Röthy, para proteger a mãe de Iris.

De acordo com o artigo original, Iris foi para a cama em uma noite de agosto de 1933 sofrendo os sintomas de uma gripe – o pai de Iris reclamou para Tabori que não havia sido avisado desse fato (uma situação estranha, a não ser que ele já tivesse saído de casa naquela época) – e sua mãe ficou ao seu lado até ir dormir.

De acordo com a mãe de Iris, ela pareceu parar de respirar por um momento e então voltou a respirar normalmente.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 01, 2012 9:35 am

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Ainda de acordo com o relato original, na manhã seguinte uma garota completamente diferente foi encontrada chorando e gritando, curiosamente perguntando “Who bin ich?”, sendo isto “Onde eu estou?” em alemão.

Responder a esta questão em alemão não funcionou.
No seu presente estado, Iris parecia não entender alemão ou húngaro e quando ela respondia a questões era em uma língua que a família não reconhecia.

Deve ter ficado claro que Iris estava tendo um de seus episódios de possessão e deve ter sido suposto que no seguir dos acontecimentos ela retornaria, como já havia feito antes, para tomar controle de sua mente.

Por outro lado, de ZB nós aprendemos que a transformação não ocorreu dessa maneira.

Lúcia tomou posse de Iris durante uma sessão; ele teve essa informação de um agora velho jornalista, Laszlo Ratoni, que, junto com outro colega, foi mandado em 1933 para fazer uma reportagem sobre o caso para o jornal As Est.

Pode-se ver porque a mãe de Iris não queria que o mundo – e o pai de Iris – soubessem sobre o verdadeiro papel que ela teve na substituição de sua filha por uma mulher sem cultura que só falava espanhol e se interessava somente em cozinhar, lavar roupa, lavar louça e dançar e cantar músicas espanholas.

Retornando à história como contada por Röthy, quando a intrusa habitando o corpo de Iris não deu sinais de que iria embora, a mãe de iris chamou várias pessoas para ouvirem a língua que estava sendo falada, e o espanhol foi identificado.

Lúcia ficou extática de encontrar alguém que podia entendê-la e foi então que ela escreveu seu nome como Lúcia Altares de Sálvio, alegou ser uma trabalhadora espanhola de Madrid, esposa de Pedro e mãe de 14 filhos.

Ela afirmava ter morrido três meses antes e depois disse que era comunista com ódio pelas classes superiores.

Quando ficou claro que Lúcia não iria embora como outros comunicantes persistentes haviam feito, a mãe de Iris fez tentativas para se livrar de Lúcia e resgatar Iris.

Com esse objectivo ela trouxe Guido Kassal, descrito com um Espiritualista e também como professor de Teologia, que colocou Lúcia em um transe hipnótico, tendo feito Iris sua única reaparição pós-transformação.

Ela reclamou amargamente dessa mulher que tinha tomado seu corpo, pela qual ela nutria grande desgosto, e disse que queria seu corpo restituído.

Mas então mudou de humor e pareceu ficar resignada, ponderou que os génios morriam cedo e que ninguém a tinha compreendido.

Kassal nos conta, exasperadamente, que depois disso eles tiveram um longo e iluminado discurso filosófico, e eles discutiram o estado lamentável do mundo, mas ele não nos diz nada mais sobre o que temos de considerar a respeito do adeus de Iris para o mundo.

Talvez isso seja tudo o que ela disse.
Soa como se Iris, o génio incompreendido, estivesse abrindo caminho para Lucía, a lavadeira espanhola sem nenhuma pretensão intelectual.

Como Lúcia continuava no controle, a ela teve de ser ensinado um idioma conhecido pela família.

O húngaro foi considerado muito difícil, principalmente para se ensinar a partir do espanhol.
Então Zsolt e Renee a ensinaram alemão, que foi a Língua oficial da Austria-Hungria até 1919, e as classes superiores, na maioria, continuaram bilíngues.

Lúcia falava um alemão passável na época em que sua história apareceu na imprensa e numa reunião pública em 1935.

Por esta época já tinha sido ensinado a ela maneiras de classe média, mas o gosto pela escola e o interesse pela matemática e outras actividades intelectuais tinha desaparecido.

Até onde a narrativa biográfica vai, este é o ponto onde o relato de 1935 nos deixa, com a mãe de Iris lamentando o que ela já aceitava como a morte de sua filha.

Ela também aceitava que a mulher espanhola que parecia sua filha deveria ser tratada como membro da família, mesmo que, tomando a reencarnação como facto da vida, ela se aconselhou com a Embaixada da Espanha se havia necessidade de registar a existência de uma pessoa de nacionalidade espanhola, e conjecturava se seria necessário registar a morte de Iris e conseguir um permissão de residente para a espanhola Lúcia!.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 01, 2012 9:36 am

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A história, agora, pode ser complementada com os subsequentes desenvolvimentos de 1998.
A resposta à questão crucial já é sabida – Iris nunca retornou e Lúcia continuou a viver como a filha da família.

Apesar de Renee ter dito a Röthy que Lúcia tinha feito algumas tentativas de ‘escapar’, assumindo-se que ela fazia isso baseado nas suas queixas de sentir-se deprimida por ter se separado de seus filhos, ela parecia ter se tornado resignada em viver sob os cuidados de ‘A Senora’, como ela chamava a Sra. Farczády, e os Farczádys também estavam resignados em aceitar Lúcia como membro da família.

Em resposta a nosso questionamento, Lúcia disse que (a parte de suas aventuras na guerra, as quais nós vamos chegar) não tinha sido hipnotizada novamente e parece que nenhum outro passo foi dado para resgatar Iris por este método.

Este é um ponto útil no qual podemos intercalar alguma informação adicional dada a ZB pelo jornalista Ratoni, o qual nós vimos em um filme húngaro feito para ZB pelo time de televisão que ele trouxe para a casa de Lúcia na sua segunda visita.

Ratoni disse que ele e seu colega jornalista decidiram testar a alegação de Lúcia de que ela não entendia mais o idioma húngaro.

Eles encontraram um pretexto para retirar a Sra. Farczády da sala e Lúcia ficou sozinha com eles, e eles então iniciaram um diálogo muito obsceno, usando uma linguagem que eles pensavam deveria fazer com que ela ficasse com as bochechas coradas e que não conseguisse ocultar seu embaraço. De acordo com Ratoni, Lúcia sobreviveu ao teste, aparentemente não demonstrando interesse em sua conversa.

A partir da época da transformação em diante, podemos saber da própria Lúcia como era a vida na casa dos Farczády.
O pai de Iris raramente era visto, e um dia, quando ele veio em casa, um empregado denunciou a presença de um ladrão em casa!

Ele admitiu para Tabori que ficou sabendo da transformação de Iris somente alguns meses após o evento.

Respondendo a Tabori ele disse que sentia saudades de sua filha inteligente, mas que após sua transformação ela estava muito menos ansiosa e era, agora, uma óptima cozinheira – então, presumivelmente, ele às vezes ficava para o jantar.

Nas entrelinhas alguém poderia ler que Iris, a génio, tinha sido uma garota difícil, e que sua substituta sem educação era muito mais dócil, apesar de seus gostos mais floridos.

Lúcia não parece ter gostado muito de sua vida como Srta. Farczády, visto ter continuado sua simpatia ao comunismo e antagonismo à classe a qual agora ela pertencia.

No curso de nossas entrevistas Lúcia não pode ser induzida a falar muito de sua vida como filha da família, e tendia a mudar de assunto de maneira a falar de suas crianças húngaras, como ela os preferia chamar, em vez de crianças Farczády.

Comentou como era maltratada pelo irmão mais velho Zsolt, e como ele batia nela, o que pode ser normal quando irmão e irmã tem 8 e 6 anos, mas não quando tem 18 e 16.

Ela deu a impressão que gostava mais de seu pai do que da ‘Senora’.
O Sr. Farczády confidenciou a Tabori que ele não estava completamente convencido, como estava a Sra. Farczády, de que Iris estava efectivamente morta e que a garota que se parecia com ela era a e
Lúcia nos falou muito sobre danças e disse que seu estilo espanhol foi muito admirado e que ela aprendeu balé.

No final de sua adolescência tomou parte em apresentações no palco, tanto no corpo de bailarinas como solista e actuou num clube nocturno bem conhecido chamado Arizona.

Além dessas actividades surpreendentes Lúcia, antes de seu casamento, ensinou espanhol a alunos particulares.
Com a idade de 21 anos ela se casou com um oficial húngaro-alemão, que tinha sido padre, de nome Krebsz.

O quanto ele sabia de sua história permanece um mistério para nós.
Ele deveria estar ciente da conexão espanhola, visto que com certeza ele havia casado com Iris Farczády e não com Lúcia Altarez de Sálvio.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 02, 2012 9:47 am

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Isto parece o casamento de duas pessoas atípicas.
É uma grande pena que o irmão e a irmã de Lúcia estejam ambos mortos (aparentemente não deixaram filhos de acordo com Lúcia);
de outra maneira estaríamos aptos a saber mais da vida de Lúcia no pré-guerra, mais do que podemos saber a partir dos seus relatos escassos.

A guerra estava para estourar em breve, e por esta época ela estava ocupada dando a luz a três filhos, dois meninos e uma menina.

Todos os três eram implacavelmente contrários a todo pesquisador psíquico, e no dia em que chegamos a Budapeste, seu segundo filho, um professor escolar, nos mentiu dizendo que ela estava hospitalizada e não poderia nos receber.

Nós não sabemos muito do período inicial de sua vida de casada, mas ela foi muito mais informativa sobre os dias em que a Hungria esteve sob ocupação russa.

A comunista Lúcia se tornou uma oficial entusiasta durante a ocupação.

Ela está, agora, desiludida com o comunismo e declara que Stalin foi ‘um homem mau’.
O facto de ter sido vítima de estupro por soldados russos aparentemente não abalou sua antiga devoção à causa russa, como nos conta ZB.

Foi durante a guerra que ela passou por sua segunda sessão de hipnose:
um elegante oficial russo a colocou em transe e pediu-lhe que visitasse um local em Londres e fizesse um relatório do conteúdo de uma gaveta.

Ele parece ter ficado satisfeito com o desfecho.
Não há surpresa no facto de não haver confirmação independente desse evento.

Tudo sobre Lúcia é surpreendente, incluindo sua determinação, após a guerra, de assumir as rédeas de sua educação, tendo como resultado sua qualificação em engenharia eléctrica.

Foi realmente muito difícil olhar para Lúcia, que cabia perfeitamente no modelo de bailarina espanhola, com suas maneiras ainda graciosas, e tentar imaginá-la como engenheira.

Quando dissemos a ela que Íris tinha sido muito talentosa em matemática, e que talvez ela tivesse se beneficiado dessa parte do cérebro de Íris, ela desdenhou da matemática de uma garota de colégio – de maneira alguma era algo que ela tinha que dominar como uma engenheira.

Ela também se referiu às suas habilidades profissionais para nos assegurar, em resposta a uma pergunta, que ela nunca havia ‘perdido tempo’, i.é. perdido a consciência de uma maneira que permitisse uma janela de oportunidade para que Íris a repossuísse por um curto período de tempo sem que ela tivesse percebido.

Ela se sentia segura quanto ao facto de Íris nunca ter voltado espontaneamente.

Nós perguntamos como ela se sentia tendo desalojado Íris de sua própria vida.
Lúcia achou difícil lidar com isso e derramou algumas lágrimas.

Ela argumentou que não pediu para tomar o lugar de Íris nem pediu para renascer, de maneira alguma.
Ela se lembrava de estar flutuando alegremente no espaço, como um pequeno barco n’água, num estado de contentamento.

De repente se viu no corpo desta jovem e atraente garota, virgem novamente, como ela colocou, após ter dado a luz a 14 filhos;
e quando olhou para baixo viu mãos graciosas e jovens e não mãos castigadas de uma lavadeira de 41 anos.

Ela estava satisfeita com seu novo corpo e sentia que a expulsão de Íris não era culpa sua.

Lúcia vive agora em no lugarejo de Gyal, distante 15 milhas de Budapeste, num anexo de uma casa, seus aposentos consistindo de um quarto, cozinha e banheiro, sendo acomodações bem básicas e de pouco conforto.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 02, 2012 9:47 am

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Sua neta mora duas casas ao lado. De modo geral ela não parece gostar de relações familiares felizes.

Seu filho mais velho, Rafael, é cirurgião dentista em Munique, o que sugere uma vida próspera, bem diferente da de sua mãe, mas seu outro filho, Roland, é um professor de matemática, mal pago, em Budapeste.

Sua esposa se refere à Lúcia como bruxa, mantendo sua neta, Renata, longe dela.
A filha de Lúcia não parece ser muito devotada a sua mãe.

Nossa visita coincidiu com o octagésimo aniversário de Lúcia, e não havia sinal de presentes ou cartões, nem nada foi dito a respeito de visitas familiares que estivessem sendo aguardadas.

E vendo a maneira amorosa como ela tratava TR, foi fácil imaginá-la como uma mãe afectiva.
Parece um final triste para uma vida impressionante.

Planeando nossos esforços, chegamos a conclusão de que somente existiam dois caminhos a seguir:
primeiramente, entrar em contacto com Rafael Krebsz, que poderia clarear mais o caso a partir de seu próprio conhecimento ou de informações que ele possa ter recebido de seus tios Zsolt e Renee, irmãos de Lúcia.

Em segundo lugar, poderíamos contratar os serviços de um hipnotizador que falasse alemão, que estaria preparado para, se fosse permitido, colocar Lúcia em transe hipnótico e chamar Íris para conversar.

O desfecho destas propostas poderia ter sido antecipado.
Rafael Krebsz não respondeu nenhuma das cartas, polidas e respeitosas, que recebeu de PM;
nós presumimos que ele as tenha recebido, mas isto pode, por alguma razão, não ter acontecido.

Lúcia está, agora, de alguma maneira intimidada por seus familiares mais próximos, dos quais ela se sente dependente, e PM não conseguiu falar com ela na segunda vez que visitou Budapeste.

Ela, inclusive, afastou ZB de sua casa.
TR tem-lhe escrito cartas amigáveis e ela, obviamente, tem ficado feliz em saber dele, mas não revelou, nas cartas de resposta, nada que pudesse clarear sua identidade.

Ela fará 87 anos no próximo aniversário e esperamos que algum membro da família se lembre da ocasião.

Isto conclui nosso sumário da narrativa biográfica descrevendo a transformação de húngara Íris na espanhola Lúcia, e nos 72 anos subsequentes, durante os quais Lúcia se tornou, ou retornou a ser, um membro da sociedade húngara.

Nós devemos, agora, voltar a 1935, para examinar as questões que se relacionam com a alegação de Lúcia ser uma entidade diferente de Íris, e adicionar qualquer material com que possamos contribuir para clarear um pouco mais a questão

(2) TENTATIVAS FEITAS PARA ACHAR A FAMÍLIA ESPANHOLA

Lúcia contou ao Professor Jumpter, o linguista que descobriu a língua que ela falava, que ela morava na 1 Calle Oscura, uma rua que não consta dos guias actuais de Madrid, e que parece ninguém encontrou até hoje.

Ela também deu um endereço, Calle de la Virgen, onde foi dito que morava sua irmã, casada com um cabeleireiro chamado Emilio Andro.

Deu também um endereço detalhado do local onde foi dito que seus filhos teriam ido à escola, viz. Escuela de las Primeras Lettras, Lixta estrada, perto da Rosbausos Plaza.

Pode ser que alguns desses erros sejam mais por culpa dos investigadores do que das afirmações de Lúcia, pois também existem estranhas inconsistências na escrita dos nomes como piazza em vez de plaza e Piedro em vez de Pedro.

Um Cónsul descrito como Zomborg escreveu para esses dois endereços e as duas cartas retornaram marcadas como ‘disconido’ (não conhecido).

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 02, 2012 9:48 am

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De novo, esta não é a palavra espanhola autêntica, a qual, neste caso, seria ‘desconocido’.

Isto parece ser tudo o que foi feito a época para encontrar a familia de Lúcia Altares de Salvio, sendo que nem Lúcia nem sua mãe fizeram qualquer outra tentativa.

Lúcia costumava recitar os nomes de seus 14 filhos, os quais incluem Otavio e Monica (mortos), Jose, Theresa e Emilio, ainda na escola.

Foram estes 14 filhos que pareceram ser a melhor pista, após 65 anos do facto, para encontrar sua família, e nós temos muita actividade para relatar sobre esses esforços que, entretanto, não levaram a nenhum desfecho proveitoso.

O valor da descrição dos passos realizados está no fato de que isto possibilita uma avaliação de quão provável é que a família exista a despeito de nossa falha em atrair a atenção de qualquer membro ainda vivo.

Nós determinamos três estratégias:
(1) colocar um anúncio num jornal popular de Madrid,
(2) escrever para qualquer um, em Madrid ou na periferia, e possivelmente em qualquer local na Espanha, que tivesse o nome Alteres ou Sálvio, e
(3) publicar o caso, por algum meio não aparente a nós, afim de atrair algum grau de atenção geral.

Para atingir qualquer um desses objectivos, seria necessário procurar a cooperação de alguém residente em Madrid, que tivesse interesse suficiente para nos ajudar.

Neste terceiro objectivo nós tivemos mais sorte de que jamais poderíamos antecipar.
MRB consultou a lista de membros da Rede Médica e Científica (Scientific and Medical Network) e se fixou no nome do Dr. Robert Goodmann, e escreveu para ele.

Resultou que ele era um jornalista americano que achou o caso fascinante e juntou-se à procura pela família de Lúcia, de mais modos do que poderíamos ter esperado.

Ele escreveu o caso, inclusive nossas experiências com Lúcia na Hungria, num artigo excelente, coloridamente ilustrado na Mas Alfa (Over There/Beyond), uma revista popular dedicada ao paranormal e ao ocultismo.

Este terminou com um pedido para que fossemos alertados sobre qualquer um relacionado com a família de Lúcia.

Se um artigo publicado em uma revista popular funcionou como atirar uma flecha ao ar, um anúncio de jornal era ainda menos provável de acertar o alvo;
se nós estivéssemos preparados para investir em um anúncio diário por um período de tempo prolongado, as chances teriam sido um pouco maiores, mas o custo teria sido considerável.

Dois anúncios mencionando os nomes de Lúcia, Pedro e algumas das crianças citadas, não trouxeram nenhum resultado.

Escrever cartas, entretanto, apesar de tedioso na hora de envolver e selar, pareceu ser mais provável de atingir um membro da família, se ele existisse.

Afortunadamente listas telefônicas estavam disponíveis na Internet e forneceram os nomes e endereços, tanto em Madrid quanto em outras áreas da Espanha, apesar de que uma busca devesse ser feita em todas as 51 províncias.

Lúcia foi solicitada a escrever seu nome, logo após a transformação, e ele aparece como Lúcia Alteres de Sálvio

TR opinou que Altarez, grafado com ‘z’, que é certamente como parece estar grafado na assinatura, tinha que estar errado, porque Altarez não era um nome apropriado em espanhol, deveria ser grafado com ‘s’ no final.

O ‘z’ era vagamente ambíguo, assim não podemos descartar a possibilidade de que tenho sido rabiscado um ‘s’.
Existem, de facto, vários espanhóis de nome Altares, 93 deles morando na área de Madrid.

Foram mandadas cartas para todos, inclusive para outros 15 nas diversas províncias e para 5 em diversas partes da Espanha, que na verdade se chamam Altarez.

Altarez (s) era o nome do pai de Lúcia, e não seria o sobrenome de nenhum dos filhos de Lúcia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 03, 2012 9:47 am

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Mas Lúcia alegava ter tido 5 irmãos, então poderíamos esperar que uma carta chegasse a um sobrinho, sobrinha ou primos que reconheceriam os nomes e a descrição de Lúcia, Pedro e seus filhos.

Infelizmente Salvio não é um nome espanhol, e isto se tornou um problema.

TR nunca encontrou ‘Salvio’ como sobrenome espanhol, e especulou que Lúcia poderia ter tido sua memória contaminada por ‘bits’ do conhecimento de Iris sobre outros idiomas como o italiano, e provavelmente quis dizer ‘Salvo’.

Levando em conta que Eusapia Palladino, outra mulher sem educação escolar, podia não lembrar se seu nome tinha um ou dois ‘l’s(mas veja Alvarado, 1984), ela pode ter soletrado mal seu nome;
mas havia uma grande diferença entre duplicar ou não uma consoante ou inserir um ‘i’ intruso, que mudaria a pronúncia.

Ao todo houve alarmantes 263 entradas para o nome Salvo e somente 5 para Salvio.

Os Salvios, obviamente, receberam rapidamente suas cartas, e logo após, os 10 Salvos de Madrid.
Haviam 93 Salvos listados em Barcelona e 24 deles receberam cartas.

Era tal a concentração de Salvos em Barcelona (apesar de que também em algum grau em Saragosa) que TR chegou a conclusão que Salvo era, provavelmente, um nome catalão, e portanto improvável que fosse o nome de uma trabalhadora madrilenha.

Então sobraram muitos espanhóis chamados Salvo que não receberam nenhuma carta.

Mas tendo em mente que não importa o quanto ela tenha escrito o ‘z’ de maneira indeterminada em ‘Altares”, Lúcia, indiscutivelmente, escreveu seu nome como ‘Salvio’, e se ela pode ter cometido um engano tão fundamental quanto inserir um ‘i’ em ‘Salvio’, ela pode ter cometido erros ainda mais fundamentais sobre seu nome.

Houve um desenvolvimento adicional quando o Dr. Goodmam foi a uma exibição dedicada a fotografias antigas da cidade em sua localidade, e viu uma fotografia de uma rua escura e dilapidada chamada de ‘La Calle Oscura’.

Este era o nome da rua onde Lúcia alegava ter vivido, apesar de que em uma conversa connosco ela disse que havia morado em um bairro muito pobre em ‘una calle oscura’, i.é. uma rua escura.

A ‘Calle Oscura’ mostrada na galeria havia sido re-nomeada, mas ficava em Pozuelo, um subúrbio salubre e não uma favela, ou que tivesse sido uma favela ali.

Em vista dessa descoberta achamos melhor que TR visitasse Madrid para descobrir se haviam outras ruas que tivessem trocado de nome.; ele descobriu que havia existido uma Calle Lista, a qual pode ter sido aquela descrita por Röthy como Calle Lixta, mas nada mais foi encontrado que pudesse ser identificado como locais onde a família de Lúcia ou sua irmã supostamente moraram.

(3) CONEXÃO ESPANHOLA

(a) O comportamento de Lúcia e seu conhecimento sobre a Espanha e seus costumes.

Opiniões conflitantes sobre o conhecimento de Lúcia de Madrid e dos costumes espanhóis, foram relatadas por Röthy.

O Prof. Jümpter, o especialista húngaro em Espanhol que entrevistou Lúcia no início de sua manifestação, disse que ela não era familiarizada com locais bem conhecidos de Madrid, mas ela descreveu correctamente algumas igrejas de Madrid.

Mais adiante, nesse assunto, Röthy relata que um padre Cisterciense, professor de teologia, que estava visitando parentes dos Farczádys, questionou Lúcia, na ausência de sua mãe, por três horas.

Ele obteve dela informações específicas sobre o interior de uma igreja que ela alegava ser ‘sua igreja’, incluindo detalhes das estátuas, altares e do bordado do pano de altar, todas coisas que o professor Cisterciense disse se lembrar exactamente.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 03, 2012 9:47 am

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Ele deveria estar familiarizado com várias igrejas, e detalhes sobre este interessante item, estão completamente ausentes, e, infelizmente, nós não temos meios de julgar se eles estavam realmente falando de uma e mesma específica igreja.

Outros informantes também falaram sobre o fracasso de Lúcia em reconhecer os edifícios públicos de Madrid.

Ela foi entrevistada pelo Embaixador espanhol na Hungria, que queria se certificar que ela não era uma das muitas garotas espanholas desaparecidas.
Ele não ficou impressionado com seu conhecimento da língua espanhola nem com seu conhecimento sobre Madrid.

Num teste similar de reconhecimento de edificações, Ido Ruttkai, que havia sido Cónsul Geral da Hungria em Barcelona, mostrou para ela 10 gravuras de Madrid;
ele disse que ela estava errada sobre tudo e que nunca havia estado em Madrid.

Apesar de ser comunista, Lúcia sempre alegou ser uma católica fervorosa, logo pode fazer sentido que ela estivesse mais familiarizada com igrejas do que com edificações turísticas.

Quando, entretanto, o céptico Cônsul Ruttkay aplicou-lhe dois testes práticos, ela surpreendeu-lhe, mostrando familiaridade com coisas que não se esperava de um não espanhol.

A ela foi mostrado um aparelho que constava de um pote de metal sobre um tripé.

Ela se aproximou dizendo ‘Bracero’ (sic-a pronuncia correcta é brasero) e colocou suas mãos em volta dele.

A ferramenta era de fato um braseiro e, quando o pote estava cheio de brasa era usado como um dispositivo de aquecimento pelos pobres espanhóis.

Outro teste consistiu no seguinte:
O Cónsul apresentou um vasilhame com um bico especial que somente quem fosse espanhol saberia como manejar, de forma que se usado por alguém que não soubesse como, o líquido seria mais derramado do que bebido.

Ela pegou o vasilhame, nomeou-o e mostrou como deveria ser manejado. (apesar de que foi dito de que ela tinha dado o nome correcto, Röthy se lembra do nome como durro, entretanto deveria ser descrito como porrón, e esta foi, de facto, a palavra usada por Lúcia em conversa connosco em 1977.)

Uma garota húngara que não estivesse familiarizada com estes objectos, provavelmente tomaria o braseiro por um artefacto para cozinhar, muito mais do que para aquecer as mãos, e a técnica de beber de maneira confiante daquele vasilhame atípico, cheira muito mais à Lúcia do que à Iris.

Röthy apresentou Lúcia a G. Gyarfas, um homem de negócios húngaro que passou 15 anos na Espanha, e ele concluiu que ela era, realmente, espanhola.

Num sarau em que ele e mais 40 pessoas estavam presentes, Lúcia foi convencida a falar depois do jantar, e foi pedido que ela descrevesse uma tourada.

Ela fez isto com grande entusiasmo, mas surpreendeu a todos quando descreveu que o toureiro provocava o touro com uma capa lilás e matava o touro com uma adaga.

Todos os ouvintes protestaram dizendo que a capa era vermelha e a arma era uma espada.
Lúcia, inabalada, insistiu que estava relatando correctamente o que ela tinha visto.

É um episódio muito curioso, pois qualquer um que tenha lido sobre o assunto, e, na verdade, qualquer um que tenha ouvido falar de touradas, sabe sobre a capa vermelha.

Ela foi igualmente insistente sobre a adaga.
Então, ela tinha realmente visto uma tourada na qual foi usada uma capa roxa e uma adaga – talvez numa arena local onde qualquer instrumento à mão seria usado?

Ou ela imaginou ter visto uma?
Então, com tantos factos relatados, não se sabe com certeza o que fazer com eles.

Trazendo a questão para os dias actuais, TR falou com Lúcia, minuciosamente, tentando arrancar alguma coisa sobre seu conhecimento de Madrid, mas deve ser dito que ela foi muito pouco cooperativa, e não revelou praticamente nada nas respostas.

TR entrava nos assuntos e Lúcia quase nunca os desenvolvia, sempre dizendo que não se lembrava de coisas que tinham acontecido há muito tempo.

Pressionada sobre os locais, ela disse que não tinha mais conhecimento das ruas e estátuas de Budapeste do que ela tinha, agora ou antes, de Madrid.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jul 03, 2012 9:47 am

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TR tentou que Lúcia falasse sobre religião, e descobriu que ela não conseguia recitar a Oração do Senhor em espanhol, a não ser por algumas frases.

Ela disse que quando rezava usava suas próprias palavras.
Na tentativa de levar sua mente de volta a sua alegada família espanhola, TR a questionou sobre as brincadeiras de criança, e ela confirmou que suas crianças jogavam ‘el parchis’, um jogo popular de crianças;
mas quando pediu que ela descrevesse como era jogado, ela descreveu, confusamente, um jogo tipo esconde-esconde, o qual foi mencionado antes.

TR perguntou quais filmes ela lembrava ter visto em Madrid;
isto era, principalmente, para ver se o que ela respondia era consistente com a vida no início dos anos 30, no caso dela estar enganada a respeito da época a qual ela lembrava ter vivido;
ela respondeu que não lembrava de nenhum filme em particular, mas finalmente ela disse, na segunda visita, que tinha visto tanto filmes sonoros quanto filmes mudos.

Quando perguntada sobre a política da época e o que ela pensava de Primo de Rivera, ela disse que Pedro o havia chamado de homem mau, pois ele era responsável pelo facto de trabalhadores como ele, terem perdidos seus empregos.

Estas lembranças colocam Lúcia nos anos 30, como ela afirmou, muito mais do que em qualquer outra época.

TR e Lucía conversaram extensamente sobre uma grande quantidade de temas – parques onde ela passeava com as crianças, músicas de Natal, comida espanhola e outros tópicos, mas Lúcia não mostrou iniciativa em nenhum assunto que tivesse ligação com sua alegação de ter vivido em Madrid.

Ela estava pronta para fornecer informações sobre sua vida actual, as visitas e as cartas ocasionais de seus filhos e sua gélida relação com sua neta.

Ela alternava o calor dos espanhóis com a frieza dos húngaros, e apesar dela ter respondido a TR com mínimo conteúdo informacional, ela mostrou um contentamento óbvio ao falar com alguém que ela considerava um jovem espanhol.

Em resposta a PM, que a questionava em alemão, o idioma que ela usava diariamente desde 1933, ela estava igualmente relutante em falar sobre Madrid.
Ela fez comentários confusos sobre Primo de Rivera, dizendo que ele subiu ao poder depois dela estar na Hungria, mas também dizendo que “nós (presumivelmente família e amigos) éramos todos comunistas e o odiávamos”

Ela disse a PM que não havia frequentado a escola e que não havia aprendido a ler e escrever (apesar de que na sua chegada como Lúcia, ela escreveu seu nome).

Ela disse que Pedro era pedreiro e ela era lavadeira, e que os dois trabalhavam e dançavam no pátio.
O ‘brasero’ não dava muito calor no inverno, mas eles todos eram alegres e felizes.

Ela disse que na época em que casou com Pedro, quando tinha entre 14 e 15 anos, o Rei era Alfonso XII e a Rainha era Isabella.

Mas ela não conseguia se lembrar do nome de seus filhos – eles eram, ela disse, nomes espanhois comuns, Maria, Juanita;
ela teria que forçar muito a memória para se lembrar dos outros.

Na verdade, Maria e Juanita não estavam na lista dos 14 nomes que ela deu em 1933.

No geral ela estava muito mais interessada em nos contar dos problemas de sua família actual, e estava difícil desviar sua atenção de suas preocupações na Hungria de volta para a sua vida na Espanha, antes da dominação de Iris.

Estava claro que ela não tentava nos impressionar com as memórias de sua alegada vida passada, e poderia se ter a impressão de que ela estava entediada com todo aquele negócio de Lucía Altarez de Sávio e a vida dela em Madrid.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 04, 2012 9:29 am

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(b) O domínio de Lúcia da língua espanhola

Foram expressas opiniões altamente discrepantes por pessoas trazidas pra avaliar a fluência e a familiaridade de Lúcia com a língua espanhola.

Uma alegação dramática foi feita por um tal Dr. Zoltan Vegh, que ensinava espanhol na universidade Madach (Madach College), ele afirmou ter reconhecido Iris através de uma fotografia, como uma aluna particular, tal alegação foi veementemente negada por Lúcia, e, apoiada por seu irmão mais velho Zsolt, confrontou o Dr. Vegh, este então falou que não a reconhecia e retirou a alegação.

Röthy perseguiu este assunto profundamente, requerendo que o Dr. Vegh assinasse uma declaração formal dizendo que nunca havia visto Lucía antes de ela ser levada para confrontá-lo, e essa declaração foi publicada no dia 24 de Maio em dois jornais, Visti Nayko e Uysag.

O Reggel, que havia publicado a declaração original do Dr. Vegh em 15 de abril (1935) se recusou, no entanto, a publicar a retratação, e na hora de publicar foi ameaçado através de instrumento legal pelo Sr. Farczády, agindo como chefe de família.

Dr. Vegh acrescentou que Lúcia falava espanhol perfeitamente, com os tons cantados de um nativo, e que ele não esperaria menos do que cinco anos morando na Espanha para alguém aprender a falar tão fluentemente como ela.

Deve-se suspeitar, no entanto, que o Dr. Vegh estava apreensivo com a possibilidade de ser processado por difamação, e poderia estar pronto a falar o que fosse necessário para apaziguar a discórdia dos Farczády para com ele;
logo sua opinião não deve ser levada em conta. Nem devemos nos esquecer de sua afirmação original de que foi ele quem ensinou as palavras “calle” e “oscuro” usando-as na mesma frase, esta tendo sido retirada de um jornal espanhol, a implicação é de que esta seria a fonte da “Calle Oscura” de Lúcia.

Se verdade, é uma curiosa, no entanto, não uma impressionante coincidência.
Por outro lado, Vegh disse que o todo da história do jornal havia sido fabricado.

Será lembrado que o representante da embaixada espanhola, Conde Carlos Arcos, não ficou impressionado com o conhecimento de Lucía sobre as edificações de Madrid, e ele estava igualmente desdenhoso do espanhol de Lúcia.

O encontro parece ter sido cheio de hostilidade por parte dele, pois os erros cometidos por Lúcia foram confrontados com afirmações do tipo “Você está mentindo!” ao invés de “Você está errada.”

O fraco desempenho de Lúcia pode ter sido causado pela aproximação intimidadora dele.

Entretanto, é difícil entender porque Lúcia deveria ter se sentido desmoralizada quando ela foi apresentada à esposa e filhas do Cônsul Ruttkay.

Sua esposa era espanhola de nascimento e suas três filhas, que falavam espanhol fluentemente, foram muito simpáticas com Lúcia.
Ela falou com elas em voz baixa e pareceu inibida.

Após este início ruim, uma delas disse a Röthy, em Húngaro, que ela não falava como uma espanhola de verdade, e nesta época, Lúcia já sabia o suficiente de Húngaro para entender o que havia sido dito.

A partir de então ela ficou retraída e quando questionada sobre qualquer coisa que fosse, como dizer o nome de seus filhos ou dar a receita do ‘cocido’, ela respondia “Não, não hoje.”

Tendo em vista os testes que já haviam sido feitos pelo Cónsul Ruttkay (os edifícios, o brasero e o porrón), pode-se dizer que ela se sentiu sendo novamente testada, e reagiu com contrariedade.

Com certeza, os julgamentos favoráveis sobre o seu espanhol aconteciam mais em ocasiões em que ela somente estava conversando do que quando estava sendo testada.

Num evento social que aconteceu no outono de 1934, na casa da Sra Wonaszac, 11 Horthy Miklos Nº 40, ela foi apresentada a uma tal Sra. Karl Jordan, esposa de um professor universitário, de 8 Maria Utca 46.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 04, 2012 9:31 am

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A Sra. Jordan era espanhola de Sevilha e falava um pouco de húngaro e nenhum alemão, e ela ficou muito satisfeita em falar com alguém que ela tinha assumido que fosse uma compatriota.

Elas conversaram toda a noite e combinaram se encontrar novamente – apesar de que quando a Sra. Jordan descobriu a razão deste encontro, ela decidiu que não queria mais encontros.

Ela disse a Röthy que Lúcia falava espanhol fluentemente e que havia cometido alguns enganos, mas que isso deveria ser próprio dos madrilenhos.

Röthy recebeu uma resposta parecida quando, em 1º de Maio de 1935, ele questionou um jornalista, Falk Miksagasa, a quem ele conheceu na casa dos Farczády.

Ele falou que desde o inicio ele assumiu estar conversando com uma mulher de Madrid, onde ele havia vivido por vários anos.
Cinco dias depois, 6 de Maio, Röthy estava novamente chez Farczády com o cônsul Stefan Zombary.

Lúcia estava bem e falando com grande animação. Zombary estava absolutamente convencido de que ela era de Madrid e que alguns erros na fala eram decisivos para apoiar esta crença.

Algumas semanas depois, quando Röthy estava novamente com Lúcia, Renee e Zsolt, Zombary repetiu que ele achava inconcebível que qualquer um tivesse a menor duvida sobre a nacionalidade espanhola de Lúcia.

Após o encontro com Zombary, Lúcia expressou um forte desejo de conversar com algum espanhol.

Röthy sabia que havia um circo na vizinhança, e que lá havia alguns espanhóis, incluindo um domador de elefantes de Barcelona;
Röthy falou que eles conversaram juntos com a alegria de compatriotas que tinham prazer em falar a sua língua mãe.

Eles falaram com uma velocidade espantosa, e em nenhum momento Lucía se perdeu nas palavras.
Depois eles passaram para um nativo de Cuba, e após uma hora e meia Röthy teve certa dificuldade em fazer o encontro acabar.

Quando ele finalmente conseguiu, ele perguntou ao cubano se Lúcia falava espanhol fluente.
Ele não entendeu a pergunta e replicou, “De Madrid!”.

Em 1º de maio, Lucía, junto com a sua mãe e sua irmã, participaram de uma reunião na casa de Röthy, onde haviam 40 convidados, entre eles um espanhol chamado F. Poffe, que era um professor de línguas.

Röthy comentou que qualquer um podia ver o quão facilmente Lúcia conversava com ele, conversando animadamente enquanto passeavam pelo jardim.

Röthy não citou nenhuma declaração do senhor Poffe sobre o assunto, mas parece justo colocá-lo junto com aqueles que deram testemunho favorável.

Como se deveria classificar Albin Korossy, um professor de universidade especializado em estudos espanhóis?

Ele falou, após examinar Lúcia, que se ela fosse sua aluna ele classificaria seu trabalho como “perfeito”.

Este parece ser o elogio final, excepto que ele continuou e disse que o espanhol dela havia sido aprendido, e recomendou que ela fosse apresentada a G. Gyarfas, que havia passado quinze anos na Espanha.

Gyarfas parece ter estado presente na mesma ocasião que o senhor Poffe, e ele deu a Röthy uma opinião detalhada do porque de ele estar convencido de que Lúcia era uma espanhola genuína.

Dentre suas razões estavam os erros que ela cometeu quando eles falavam húngaro, erros típicos na opinião dele, normalmente cometido por espanhóis que estavam aprendendo húngaro.

Uma semana depois Gaston Lanys, de Iranya 21, que viveu por muitos anos em Montevideo, também considerou que Lúcia falava espanhol como um nativo, apesar de que ele pensou, com perfeita astúcia, que alguns daqueles erros em húngaro foram cometidos deliberadamente por Lúcia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jul 04, 2012 9:32 am

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Dando algum desconto para os simpatizantes de Röthy que queriam agradá-lo, dizendo a ele o que ele queria ouvir, o balanço geral é fortemente a favor de que Lúcia falava espanhol fluente e na ocasião, oportunamente, poderia ter passado por uma nativa da Língua espanhola.

Chegamos agora às conversações que aconteceram entre Lúcia e TR em 1998.

TR fez anotações extensas e abrangentes sobre o vocabulário de Lúcia, identificando um grande corpo de palavras introduzidas por ela no diálogo, e examinando vários erros de gramática e incompreensão de questões.

Estas análises estão nos arquivos da SPR para qualquer um que queira estudar o assunto em profundidade.
O próximo parágrafo, todavia, apresenta sua visão geral sobre a competência dela na Língua espanhola.

O espanhol de Lúcia é bom e fluente o bastante para ser considerado um remanescente ou rudimento bem extenso da língua mãe.

Os erros que ela cometeu podem ser atribuídos ao facto dela ter vivido tanto tempo na Hungria, que seu espanhol ficou influenciado pelo húngaro e pelo alemão.

Por exemplo, o som espanhol ce ou zeta (mais áspero que o inglês th em truth), o qual é proeminente em qualquer pronúncia madrilenha, estava completamente ausente e substituído por um s agudo que não ocorre dessa forma no Espanhol de Madrid.

Se ela soava como uma mulher de Madrid nos anos 30, podemos supor que zeta estava, então, certamente presente.

Nós também devemos notar que ela usou certas palavras de maneira idiomática, como por exemplo, hijito (filhinho), quando dirigia-se a TR.

E por fim, ela usou palavras raras e incomuns, notadamente a palavra ‘chorrera’ (um buraco no porrón por onde o líquido deixa a caneca), correctamente.

Dois espanhóis, que foram confrontados com esta palavra por TR, não estavam familiarizados com seu significado correcto.

Do ponto de vista do espectador, MRB e PM estavam aptos a formar opinião sobre o que viram e ouviram pessoalmente e sobre o que puderam estudar mais tarde na fita de vídeo gravada por MRB.

Era evidente que Lúcia podia conversar em Espanhol sem a ansiedade e concentração que usualmente são demonstradas por alguém que está falando um idioma estrangeiro aprendido, principalmente se este idioma tiver sido raramente usado nos últimos 60 anos.

TR tem a fala muito baixa e a maioria das pessoas de 80 anos provavelmente olharia para ele na procura de alguma ajuda inconsciente da leitura de lábios e gestos, mesmo se os dois estivessem falando o mesmo idioma nativo.

Era observável que Lúcia não precisava de tal ajuda.

Geralmente ela estava olhando para baixo enquanto ele estava fazendo as perguntas, olhando para ele na hora de respondê-las.

É verdade que as vezes ela parecia não ter entendido a pergunta – talvez em alguns casos por não querer respondê-las – mas isto pode ter sido mais por falta de atenção na escuta do que por qualquer dificuldade em entender o espanhol falado.

Isto nos leva à questão principal – se Lúcia era somente uma personalidade alternativa de Iris, como ela poderia ter adquirido sua fluência em Espanhol?

(c) Se Iris pode ter aprendido espanhol normalmente

Muitos consideram a falha para encontrar a hipotética família de Lúcia algo virtualmente conclusivo, já que se trata de vida passada.

Mas devemos manter em mente que em muitos casos do tipo reencarnação, a pessoa não consegue identificar o nome e endereço exatos da personalidade anterior.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 05, 2012 9:22 am

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Jenny Cockell, um dos maiores casos de alegação de vida passada da atualidade (Barrington, 2002), podia dizer com certeza de que se chamava Mary e que era irlandesa, mas foi necessário pesquisar para verificar um sobrenome e endereço.

Então uma pessoa que exiba características consistentes com lembranças de uma vida passada não deve ser desacreditada por não conseguir fornecer estas particularidades, ou caso ela dê detalhes que não correspondam a nenhum fato averiguável.

Sua alegação pode ser enfraquecida, mas de maneira nenhuma destruída.

No caso de Lucía – que é um caso de possessão e não de reencarnação – ela apresentou familiaridade com uma língua e uma cultura estrangeira para a qual não há explicação, logo a pergunta crucial é, como Iris, se vitima de dissociação ao invés de possessão, poderia ter adquirido a língua espanhola, juntamente com uma boa quantia de características culturais.

Está claro que os pais de Iris não estavam cientes de quaisquer lições de espanhol, e é difícil de ver uma maneira de Iris ter tido tais lições sem seus pais ficarem sabendo ou pago por elas.

Se ela tinha essas lições sem seus pais saberem ou sem apoio financeiro, poderíamos nos perguntar porque Iris manteve o aprendizado da língua espanhola em segredo.

A alegação do Dr. Vegh, como vimos, caiu por terra, conquanto seu endosso entusiástico sobre o espanhol de Iris pode ter sido influenciado pelo seu medo de ter feito uma afirmação errada – apesar de que ele afirmou que esta declaração teria sido inventada pelos jornalistas – não parece provável que ele tivesse ficado intimidado a ponto de retirar a afirmação feita se ele soubesse com certeza que havia ensinado Iris;
e se sua alegação tivesse sido justificada, ele teria, quase certamente, sido apto a ajuntar evidências que a sustentassem.

Se tivesse havido qualquer outro tutor particular, é difícil imaginar que a imprensa não tivesse tomado conhecimento disso, e não tivesse grande prazer em ter denunciado a possessão de Iris como uma fraude.

Deixando de lado as aulas particulares, as áreas a serem investigadas seriam as escolas onde ela estudou e, principalmente, os anos de sua infância que passou na Holanda, longe de seus pais.

Dentro do possível, Röthy foi muito diligente em suas investigações e escreveu para as duas escolas que Iris freqüentou na Hungria.

Seu relato sobre escolas foi como segue: -

Em resposta ao meu pedido por informações eu recebi do Dr. Tibor Marisek, do Colégio de mulheres de Odenburg (Sopron em Húngaro), onde Iris e Renee passaram três anos até 1932, e também de Bela Meller, a garantia de que nem seus professores nem seus numerosos antigos colegas, nunca souberam que ela tivesse aprendido a falar espanhol, e isto não poderia ter passado desapercebido.

Ela mostrava uma grande aptidão para o francês.
Também recebi a mesma informação do DireCtor do Colégio de Mulheres em Szent Margit, onde Iris também foi aluna até 22 de Março de 1933, data em que ela teve que abandonar o colégio devido ao seu distúrbio.

Ele também teve o trabalho de escrever para o Pastor de Zevenhuizen para perguntar se havia a possibilidade de Iris ter tido contato com alguém de língua espanhola.

O Pastor estava absolutamente certo de que não havia possibilidade disto ter acontecido em Zevenhuizen.

Zevenhuizen quer dizer, em Holandês, sete casas, e apesar de certamente a vila ter mais de sete casas era uma vila e não uma cidade, e (como assegurou TR) recebeu crianças refugiadas somente da antiga Áustria-Hungria.

Seria altamente improvável que uma criança espanhola, assim como uma trabalhadora espanhola, estivessem na vila, sem que sua presença fosse do conhecimento do Pastor.

TR pediu para que seu amigo historiador Peter van Wezel procurasse nos arquivos municipais de Leek e descobriu que não havia espanhOis morando em Zevenhuizen naquele período.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 05, 2012 9:22 am

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Nós tivemos o testemunho posterior do irmão de Iris, Zsolt Farczády, dado a Röthy, que Iris não poderia ter aprendido espanhol em Zevenhuizen.
Zsolt estava, na época, na idade de 7 e 9 anos, e seria de esperar que ele tivesse uma boa memória dos anos passados na Holanda, e apesar de estar alojado numa casa diferente de Iris e Renee, é difícil imaginar que ele não soubesse que Iris, junto com o holandês, tivesse aprendido espanhol.

Renee estaria neste período com uma idade entre 3 e 6 anos;
sendo somente 15 meses mais nova que Iris, é provável que as duas garotas passassem a maior parte do tempo juntas, e se Iris tivesse aprendido espanhol suficientemente para falá-lo fluentemente 10 anos mais tarde, certamente Renee, numa idade em que o aprendizado de uma língua é ainda mais fácil, saberia e se lembraria o suficiente para não ficar confusa com o ‘recém chegado’ espanhol de Lúcia.

Certamente, a residência temporária na Holanda, longe da supervisão de seus pais (apesar de que sob supervisão atenta na casa do Pastor) pareceu ser o local mais provável onde uma língua estrangeira pudesse ter sido adquirida por uma criança em contacto com uma outra criança estrangeira.

Mas entre deixar a Holanda e ser mandada, junto com Renee, para o internato em Sopron, há uma lacuna que cobre os anos de escola primária, dos 7 aos 12 anos.

Tudo o que sabemos sobre este período vem de uma sentença de Renee em uma declaração dada a Röthy no primeiro dia de sua investigação, viz. que Iris completou sua educação elementar em Budapeste.

Renee, nesta ocasião, não disse nós, então não podemos ter certeza de que Renee frequentou a mesma escola.
É um faCto curioso que este período tenha passado completamente em branco para o Sr. Farczády, conversando com Cornelius Tabori;
Tabori relatou que ele teria dito que Iris, após retornar da Holanda, foi mandada para o internato em Sopron.

Mas nós sabemos, pelas investigações de Röthy e pelo testemunho de Renee, que os anos em Sopron foram de 1929 a 1932.
Existe, então, um buraco negro inexplorado, que Röthy parece ter ignorado em seu relato.

Felizmente, PM encontrou uma detalhada correspondência entre Röthy e a Condessa Zoe Wassilko-Serecki, uma pesquisadora austríaca de ponta, bem conhecida por sua investigação do caso do poltergeist de Zugun, e a força condutora por trás da fundação da então Sociedade Austríaca de Pesquisa Psíquica, em 1927.

Após contar para ele, em carta datada de 9 de Maio de 1935, como ele tinha escrito para a escola em Sopron, Röthy disse que ele queria investigar, pessoalmente, a escola de Iris em Budapeste, e que ele já havia telefonado para a Diretora e perguntado se Iris tinha estudado Espanhol naquela escola.

A Diretora disse que tinha que falar com os professores e que depois ligaria dando a resposta.
Röthy disse que não contaria com isso, e que tentaria uma entrevista pessoal e depois levaria ao conhecimento da Condessa o resultado de suas investigações.

Entretanto, em três cartas subsequentes, em junho e julho, o assunto não foi mencionado, nem, como vimos, foi referido no artigo.

Se Röthy descobriu que Iris realmente tinha estudado espanhol, teria sido altamente anti-ético em suprimir esta informação, e Röthy parece ter sido um pesquisador consciencioso.

Se ele recebeu respostas positivas, é de se esperar que estivessem relatadas em seu artigo.
O que parece provável é que uma resposta definitiva teve de esperar algo como o retorno dos professores das férias escolares, e o assunto não teve uma conclusão até a época da publicação.

Quão grande é esta brecha?
Tendo em vista a publicidade do caso, podemos, provavelmente, descartar a possibilidade de que Iris tenha aprendido espanhol na escola em Budapeste.

Se ela o tivesse feito, é de se esperar que algum professor, pai ou aluno, tivesse falado com algum jornalista, ávidos, como sempre, em dar uma notícia exclusiva, especialmente num caso que se propunha a demonstrar possessão ou reencarnação.

Podemos também, com certeza, descartar a ideia de que uma criança de escola primária pudesse ter conseguido aulas particulares e pago por elas sem que isso fosse do conhecimento de seus pais.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jul 05, 2012 9:23 am

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Talvez houvesse uma colega espanhola na escola e ela tivesse aprendido dela a falar espanhol fluentemente.

Se fosse assim, ela teria escondido isso da família?
Iris parece sempre ter tido em alta conta sua capacidade intelectual e é difícil imaginar que ela não tivesse se gabado duma tal realização.

Resta a possibilidade de que tenha havido uma faxineira espanhola, uma pessoa tal que seu status não tenha atraído atenção para sua existência, e que Iris tenha aprendido espanhol com ela.

É concebível que isso seria considerado um segredo travesso de criança.
Mas crianças dessa idade geralmente levam vidas bem disciplinadas sob a supervisão dos professores, e então são entregues às mães ou babás.

A ideia de que uma criança de classe média alta com inclinações acadêmicas tivesse uma amizade com uma trabalhadora espanhola, aprendendo com ela o espanhol com sotaque de Madrid, aprendendo com ela sobre as igrejas, a música, a dança e a cozinha espanholas e como segurar uma estranha caneca, não parece plausível.

Mas, conquanto improvável, isto tem que ser sopesado contra outra improbabilidade, a possessão de Iris por uma lavadeira espanhola morta.

CONCLUSÕES

Iremos terminar este resumo do caso dando nossas opiniões individuais.

Conclusões de MRB


Pode ser que, apesar dos esforços fracassados para encontrar a família de Pedro Salvio, as sobreviventes das 14 crianças ainda vivam, de facto, em algum lugar da Espanha, e que Lucía tenha vivido uma vida passada como mãe delas.

Como a maioria das pessoas, eu classificaria a possibilidade de isto ser verdade como perto do zero.

Além de nomes e endereços que não deram em nada, ainda tem o problema da atitude de Lucía para com seus alegados filhos.
Pode-se entender que, como uma menor sob a responsabilidade de seus pais, ela não estaria em posição de decidir viajar à Espanha para encontrá-los.

A eclosão da Guerra Civil Espanhola, seguida pela Guerra Mundial, na qual a Hungria estava de novo no lado perdedor, sucedida pela dominação russa, tudo conspirou contra a viagem para a Espanha.

Em adicção, todos os sinais apontam para suas crianças húngaras, e presumivelmente para o pai delas, considerando a história de Lúcia de reencarnação como uma manifestação de doença mental – certamente o veredicto dado por especialistas contemporâneos.

Uma visita à Espanha não teria sido encorajada.

Ela está, agora, muito empobrecida, com a saúde fraca, e provavelmente seus ganhos como engenheira não eram muito substanciais, e então, com a liberdade permitida com a retirada dos Russos e o início da viuvez, a viagem pode ainda não ter sido uma opção viável.

Ajuda de seu filho endinheirado, Rafael, para uma visita a Madrid, provavelmente não era esperada.
Neste contexto, podemos entender a passagem dos anos sem que Lúcia tenha feito nenhuma tentativa para encontrar seus filhos.

Mesmo assim, alguém pode argumentar, a despeito de todas as dificuldades e desencorajamentos, que ela fez esta tentativa, fossem os filhos espanhóis tão reais para ela quanto seus filhos húngaros.

Quando questionada por TR ela não mais conseguia nomear seus filhos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 06, 2012 9:20 am

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Aos 80 anos seu cérebro parecia estar em condições razoavelmente boas, e os nomes de seus filhos estavam sempre na ponta da língua quando ela falava sobre eles em seus primeiros anos com os Farczádys, mais ou menos há 65 anos;
mas enquanto nomes de escritores, pintores, pesquisadores e médiuns podem ficar escondidos nas profundezas da mente e se recusarem a subir à tona, existem coisas que as pessoas não esquecem.

Se alguém me pedisse para dizer o nome de algum dos 25 gatos que viveram em minha casa em vários períodos desde 1929, eu estaria apto a fazê-lo, sem hesitação.

Se Lúcia não quer saber o que aconteceu com as crianças pequenas que ela pensa ter deixado para trás, pode ser porque ela não está verdadeiramente convencida que eles sejam reais.

Isto descarta totalmente as hipóteses tipo reencarnação como explicação para o caso?

Parece, para mim que se não há maneira plausível de Lúcia ter adquirido seu espanhol normalmente, então estas possibilidades permanecem em aberto, e certamente são preferíveis à fantástica hipótese de Warcollier, de que ela teria aprendido espanhol por telepatia.

Enquanto não existem precedentes para aquisição telepática de linguagem, existem vários casos análogos à expulsão de Iris por Lúcia, o caso de Shiva/Sumitra (Stevenson, 1989) tendo alguma semelhança, e o caso de Sharada (Akolkar, 1972) tendo em comum a aquisição de um idioma sem uma pronta explicação em termos de aprendizado.

De um lado temos a possibilidade de (a) possessão de Iris por Lucía Altares de Salvio de Madrid e de outro temos (b) Iris, fluente em espanhol secretamente, em processo de dissociação permanente, substituindo sua identidade pela de Lúcia.

Existe, também, uma terceira possibilidade.

Que Iris, obcecada pela Espanha, tenha sido expulsa por uma entidade falecida esporádica espanhola, o qual tomou controle do corpo e da mente de Iris, e adoptou a personalidade criada por Iris em seu transe mediúnico, como sua personalidade verdadeira.

A única possibilidade que estou inclinada a excluir completamente é a de Iris, conscientemente, ter conivido para a substituição e que a Lucía de hoje em dia, cientemente, mantém uma vida inteira mascarada, o que não lhe traz nenhuma vantagem aparente.

Talvez haja uma variante desta possibilidade, que o que começou como uma ficção de Iris tenha sido adotada por ela como verdade, e que ela agora acredite na independência de Lucía; eu acho essa, igualmente, não convincente.

Se Iris de facto aprendeu a Língua e os costumes espanhóis normalmente, então a possessão por uma entidade externa é notoriamente menos provável que uma obsessão pela Espanha levando a dissociação e mudança de personalidade.

Mas se a mudança de personalidade de Iris não foi causada por intervenção de uma entidade externa, então foi, presumivelmente, auto-induzida, e isto levanta questões quanto a sua motivação.

A espantosa mediunidade de Iris, seu desenhar automático, sua representação pós-sessão, seus surtos agressivos, sua auto-avaliação como génio e a opinião de seu pai de que ela era nervosa (alguém poderia pensar que ele queria dizer difícil), tudo tomado em conjunto, sugere a possibilidade de algum grau de instabilidade e tendência à dissociação, mas não há nada que sugira que, fora suas aventuras na mediunidade, que ela sofrera de alternância de personalidade.

Mas depois da transformação não houve mais nenhuma alternância de personalidade, excepto em uma ocasião, bem no início, quando Iris respondeu a uma sugestão hipnótica feita para Lúcia.

Iris deveria ter tido alguma motivação profunda e poderosa para querer erradicar sua própria personalidade e assumir outra quase tão diferente de si quanto era possível ser.

Nós temos que perguntar porque uma estudante inteligente e bem sucedida quereria, mesmo subconscientemente, ser transformada em uma lavadeira espanhola ignorante de meia-idade.

Estaria ela cansada de sua mente?

Muitas pessoas sob constante tensão intelectual se sentem cansadas de suas mentes e fantasiam como seria prazerosa a vida se eles fossem jardineiros ou marceneiros, desenhassem modelos ou gerenciassem uma casa de chá.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 06, 2012 9:21 am

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Através da mediunidade, Iris pode ter encontrado um alívio sendo alguém que não ela própria, e seu transe oferecia uma abertura para personalidades contrárias a sua.

E apesar de que ela tinha uma alta opinião sobre si, temos que ter em mente que nos anos 30 as propostas para uma jovem mulher que era brilhante em matemática não eram tão convidativas como seriam se fossem para seu irmão;
actuando como uma bailarina espanhola, provavelmente levaria uma vida muito mais divertida do que sendo uma intelectual numa universidade, onde ela deveria encontrar mais hostilidade que admiração de seus colegas homens, a maioria dos quais a veria como uma intrusa competindo com eles.

Pela mesma razão eu acho duvidoso que ela estivesse sob pressão para brilhar academicamente.
Garotas de classe alta dos anos 30 provavelmente ouviam ‘seja uma boa garotinha e arrende quem será inteligente’

Nós vimos que sua mãe ficava muito feliz quando Iris não ia à escola (quando as personalidades do transe se prolongavam, ela tinha que apresentar um atestado que estava doente, por razões óbvias) e seu pai assinalou para Cornelius Tabori que, apesar de sentir saudade de sua filha inteligente, Lúcia era muito menos nervosa que Iris e também era boa cozinheira.

Isto não parece mostrar que eles pressionavam Iris para um estrelato intelectual mais do que ela própria desejasse.
Então, tensão intelectual exagerada não parece fornecer motivação suficiente para Iris querer apagar sua vida como Iris, e nós temos que seguir procurando.

De Lúcia, em 1988, soubemos o importante facto de que o pai de Iris formou lar com uma mulher mais jovem, apesar de que ninguém parece ter mencionado isto nem para Röthy nem para Tabori.

Isto explica, entretanto, alguns aspectos peculiares da narrativa, como a admissão por parte do sr. Farczády de que ele não soube da transformação de Iris por vários meses.

Nós não temos a informação de quando ele abandonou a familia, se houve algum período confuso de semi-separação;
mas Lúcia disse agora que ela lembrava de uma ocasião em que um empregado relatou a presença de um homem estranho na casa, que mostrou-se ser o Sr. Farczády.

O abandono da família, por parte de seu pai, seria incomum e escandaloso em 1930, e a perda do status profissional seria mais uma humilhação reflectindo na família.

Presumivelmente estas circunstâncias tiveram algum efeito em Iris e podem ter contribuído para a hostilidade mostrada por ela para com sua mãe, durante o transe mediúnico, a qual, talvez, ela estivesse culpando, pela perda de seu pai.

A transformação de sua filha de uma garota inteligente para uma pobre e trabalhadora estrangeira deve ter sido muito doloroso para a mãe de Iris.
O pacote inteiro de esfregar o chão, limpar, lavar, cozinhar, cantos e danças populares, uma história proletariada de casamento adolescente, 14 crianças, pobreza, e ódio das classes superiores, eram todas as características que a mãe dela não gostaria de ver associada a uma moradora de sua casa.

Iris estava motivada a punir sua mãe?
Não apenas se tornando Lúcia, mas assegurando-se que a transformação fosse manifestada como culpa de sua mãe.

Ainda assim a maior punição era infligida nela mesma.
Iris tinha um estilo de vida muito confortável, e aparentemente sentia prazer na sua vida intelectual.

Já que ela se distinguia, presume-se que ela gostava de línguas, literatura e matemática.

Para uma garota que não tinha empreendido, presumivelmente, até aqui nenhuma tarefa doméstica áspera em um regime imposto, lavagem de louça e limpar a casa teria sido avaliado como uma penitência severa.

Mas é isso o que a tranformação Iris/Lúcia infligiu nela.

Poderia, é claro, ser argumentado que ela teve algum benefício se transformando de uma garota intelectual pensativa, estudiosa, imaginativa, mal humorada e nervosa em uma trabalhadora doméstica sem educação, irreflectida, rude, prática e alegre, pois estas alterações provavelmente aumentaram seu nível geral de felicidade;
enquanto a inteligência e a sensibilidade geralmente levam à tristeza e ao sofrimento pela miséria do mundo, a estupidez e a falta de imaginação geralmente fazem uma boa base para uma serena satisfação.

Esfregar o chão era o tipo de actividade para distrair a mente tanto dos cuidados pessoais quanto dos problemas da sociedade.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jul 06, 2012 9:21 am

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Talvez mais do que estar cansada de sua mente refinada Iris tivesse alguma razão mais profunda para a auto-aversão, algo que tenha feito ela escolher trocar de papel com uma criatura de nível social inferior, para destruir e apagar mais eficientemente sua personalidade anterior.

Como razão hipotética alguém pode somente especular sem comprovação.

Mas quando Iris fez sua única comunicação pós-Lúcia, classificando a si própria como gênio pronto para morrer jovem, o teor de seu discurso não combinava com o tipo de cenário de auto-mortificação que se esperaria caso ela tivesse sido, pegando uma possibilidade extrema para a qual não há qualquer evidência, vítima de abuso sexual.

Outra coisa que não combina com a noção de uma Iris frágil que não conseguia aguentar a pressão de ser inteligente é a fotografia dela, publicada por Röthy, como uma garota robusta posando com uma bola de praia, e dando a impressão de que ela via a si própria como uma atleta alegre e extrovertida.

A garota que parece tímida e insegura é a transformada Lúcia, em uma fotografia junto com Röthy e Renee.

Antes de ver as fotografias de Iris eu tinha imaginado se ela era brilhante mas insossa, e teria preferido ser estúpida e linda.
Mas ela era muito atraente, e uma troca por uma mulher de 41 anos, mãe de 14 filhos, dificilmente seria considerado a realização de um sonho.

Nosso principal e quase único informante sobre o caso é Röthy, o qual não pensou em termos de desordem dissociativa, portanto informações sobre o passado de Iris que poderiam apoiar ou contestar esta hipótese não são prováveis de se encontrar em seu relato, logo não estamos em posição de formar um julgamento sobre o porquê de Iris ter sofrido esta aniquilação auto-imposta, se isto é o que realmente aconteceu.

O mais próximo que temos do que pode ser caracterizado como uma avaliação vem do Pastor Veltman, de Zevenhuizen, o qual a descreve como uma boa criança, inteligente, apreciadora de tudo feito para ela, e adorável.

Sua irmã Renee fala dela em termos afetivos, dizendo como eram próximas e como ela continuou amando a irmã substituta.
Se Iris queria extinguir-se, a razão para isso permanece obscura;
tão obscura que é justificável que se considere a alternativa da possessão.

Iris reclamou para Guido Kassal que a mulher invasora tinha tomado seu corpo. Ocorrências de aparente possessão, tal como no caso Mary Roff/Lurancy Vennum (Stevens, 1887) estão suficientemente documentadas, para fazer desta uma hipótese precedente.

No seu papel como médium Iris colocava-se num estado onde, como todos os médiuns de transe, ela convidava outras entidades à ocupação temporária de sua mente, incluindo, sem dúvida, segmentos isolados de seu próprio subconsciente.

De acordo com a Sra.Czipkay havia dúzias ou, até mesmo centenas, de possuidores, alegando virem de todas as direcções e falarem variadas línguas, reais ou imaginarias.

Deve-se assumir que estes personagens eram criação de Iris, que provavelmente tinha os ingredientes de uma fértil novelista e continuou com as histórias em sua própria pessoa.

Ela obviamente tinha uma forte paixão pela Espanha, talvez porque este fosse o mais remoto e, portanto o mais exótico país da Europa, partindo da Hungria.

Lúcia, com suas 14 crianças, é mais original que um cigano ou um toureiro, mas, ainda assim, uma forma de arquétipo.

Supondo que pessoas mortas permaneçam em algum estado, vamos imaginar que uma entidade espanhola, procurando um meio de comunicação entre ela e os humanos ainda vivos, é atraída para a vaga criada por Iris e possui seu corpo, sendo bem recebida pelo círculo e assumiu ser a personalidade esboçada por Iris.

A entidade, que tinha somente memórias instáveis de sua vida passada, aceitou o papel e acreditou ser a Lúcia de Iris.
Ela lembrava sua língua, lembrava como sua vida costumava ser, mas nomes, lugares e outras memórias ela pegou de Iris e, portanto, elas não eram reais.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:53 am

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A ideia de entidades falecidas oportunistas vagando por aí a procura de uma mente vaga, pode soar como ficção científica, mas há um possível precedente para isto no caso de Sumitra Singh e Shiva Tripathi, um dos casos relatados por Stevenson e colegas.
(Stevenson et al., 1989).

Neste caso temos a recíproca de Iris e Lúcia.
Sumitra era uma garota indiana claramente sem educação, a qual era tão somente capaz de ler e escrever, e a entidade que atendeu a sua oferta implícita de uma mente vaga foi Shiva, que tinha formação superior.

Sumitra, que provavelmente tinha todos os motivos para sentir-se cansada de sua vida, assim como teriam muitas garotas indianas, assim como que propagandeou a vaga ao dizer que em três dias ela iria morrer;
três dias depois ela entrou no que parecia ser um coma e o início da morte, mas é mais provável que fosse um estado de transe.

Ela acordou como Shiva, que efectivamente a substituiu e, incidentalmente, assumiu a tarefa de cuidar das crianças de Sumitra.

Após poucas semanas Sumitra fez um breve retorno e, aparentemente satisfeita com a performance de Shiva, partiu para sempre, entretanto, como este é um caso em andamento, o saldo pode mudar.

Será lembrado que quando Lúcia foi hipnotizada por Guido Kassal, Iris respondeu, e depois de um breve protesto pela invasão de Lúcia, ela pareceu aceitar sua expulsão, pois génios geralmente morrem jovens e ela era um génio incompreendido.

Após um longo discurso, descrito por Kassal como filosófico e de assuntos mundanos, Iris então partiu e nunca mais voltou.
(Será lembrado que Lúcia negou veementemente para nós que ela tivesse, alguma vez, tido ‘um branco’, quando Iris poderia ter assumido o controle).

Parece que, como Sumitra, ela estava desejando partir.

Embora Lúcia possa ter sido uma ficção criada por Iris e se infiltrado na mente da entidade possessora, a reclamente que substituiu Sumitra se identificou claramente como Shiva e deu informações verídicas sobre sua vida e sua morte;
ela deu também muitos detalhes que foram confirmados pelo pai de Shiva, que a aceitou como filha.

Sumitra/Shiva parece ser um caso real de possessão, e Lúcia poderia ser uma outra Shiva, mas com falsas memórias recuperadas.

Conclusão de PM

Antes de entrar na discussão em si, algumas considerações sobre duas das testemunhas podem ser apropriadas.

Guido Kassal:
de facto ele era um Espiritualista, mas definitivamente não era um Professor de Teologia (não tenho ideia de como esta informação errada entrou na história).

Na verdade, ele era um magnetizador ou magneto-terapeuta.
A descrição dele dada por Röthy, como um “sonhador”, parece ter acertado na mosca quando Kassal é criticado por suas publicações (somente na Alemanha) em vários tópicos relacionados ao tema:
ele parece ter estado inclinado a acreditar em quase tudo.

Na terminologia moderna, ele pertenceria mais ao esoterismo do que à parapsicologia.

Embora Karl Röthy (Röthy Karol) tivesse um interesse profundo e genuíno em parapsicologia, ele não era treinado como cientista e parece ter sido bastante não crítico.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:54 am

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Ele era simpatizante da persuasão espiritualista e buscava sempre fenómenos convincentes e resultados “positivos”.

Ele não é a pessoa que serviria de advogado do diabo, ativamente procurando por observações que iriam lançar dúvidas sobre o caso em questão ou buscando pontos de vista alternativos, de maneira a ter os “prós” e os “contras” equilibrados – por outro lado ele é descrito (pela Condessa Wassilko e outros) como absolutamente honesto, o que significa que ele não esconderia nenhuma evidencia “negativa” se acontecesse de ele cruzar com alguma.

Ele pode ter exagerado, mas no geral o testemunho dele é confiável.

Para interpretação, um ponto preliminar precisa ser enfatizado:
a diferença entre conhecimento (informação) e capacidade.

Um exemplo de conhecimento no contexto atual seria um ostensivo comunicador durante uma assembleia fazer observações como “na página tal de um certo volume que se encontra em tal prateleira na minha biblioteca, o texto diz o seguinte...”

Tal experiência com livros é encontrada na literatura espiritualista mais antiga.

Casos desse tipo podem ser facilmente explicados pela ESP – na verdade é disso que se trata a ESP, obtenção de conhecimento/informação através de meios paranormais.

Outra ocorrência de conhecimento, aproximando-se de nosso tópico, são os tipos de testes que um garoto candidato a ser o novo Dalai Lama tem que superar, como identificar um número de itens que estiveram em posse da forma falecida de Dalai Lama, ou, em outras palavras, “que ele mesmo” possuía durante sua “vida passada”.

No caso de Lúcia, o seu conhecimento detalhado do interior de várias igrejas Madrilenas (apesar de não ser muito convincente, pois os detalhes das estatuas dos santos e os tecidos dos altares poderiam ser baseados num estilo padrão), seu conhecimento de como usar um certo vasilhame, e sua habilidade de nomear todas as partes do mesmo, pertencem a essa categoria.

Tudo acima são peças de informação que podem – teoricamente ao menos – ser aprendidas e memorizadas facilmente, através de meios normais ou de percepção extra-sensorial(PES).

Habilidades são diferentes, habilidades têm que ser treinadas e exercitadas por longos períodos, em alguns casos por anos.

Para tocar piano não é de maneira nenhuma suficiente ser capaz de identificar as teclas e associá-las com diferentes tons numa letra de uma musica.

Para tocar o piano precisa-se de muito mais, o treino de diferentes grupos de músculos para acertar variadas teclas simultaneamente (as teclas correctas, obviamente), adquirindo uma sensação de onde essas teclas estão no teclando sem olhá-las enquanto os olhos seguem as notas na partitura, etc.

Ainda assim o piano é um instrumento comparativamente fácil;
tocar um instrumento de cordas como o violino – em deferência ao violoncelo de MRB – requer muito mais habilidade e treinamento;
falar uma língua estrangeira entra na mesma categoria.

Apenas aprender o vocabulário não serviria, é necessário a gramática em adição, idiomas e frases, etc.

A pronúncia, também, é um obstáculo a ser superado, onde a laringe deve ser treinada para produzir os sons particulares da nova linguagem (na verdade o ouvido deve se ajustar primeiro para perceber pequenas nuances).

Em primeiro vem as variantes regionais (o dialecto madrileno no caso de Lúcia).

PES não pode explicar tudo isso.
Se forçarmos a imaginação o conhecimento de até mesmo um grande número de palavras estrangeiras podem estar atribuídas ao PES (à telepatia, como Warcollier o tinha);
no entanto a especialização de uma linguagem no grau que Lúcia alcançou certamente não poderia.

Ao menos não há nenhum caso na história da parapsicologia de uma dominação de alguma habilidade como a pronuncia correcta de uma linguagem ou um dialecto através da PES.

O domínio da coreografia do Flamenco e outras danças espanholas (ou ciganas) se encaixa claramente na mesma categoria de “habilidade”.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 07, 2012 9:54 am

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Segundo, eu estou muito relutante de discutir hipóteses como ‘possessão’ e ‘obsessão’, pois essas hipóteses apenas fazem sentido se assumirmos a existência de entidades desencarnadas, espíritos, etc., da maneira como os seguidores da crença espiritualista o têm.

Têm uma grande quantidade de argumentos sólidos a favor de uma visão dualística do mundo (John Beloff é o melhor defensor dessa abordagem em nosso tempo – Beloff, 1976);
no entanto, deve-se admitir que empiricamente nós só encontramos actividade mental no contexto de uma base neural funcional.

Pesquisas futuras no fenómeno de OBE poderiam alargar esta visão;
no entanto, como agora ainda não há nenhuma evidencia para e existência independente da alma – uma “shin” como eu estou inclinado a chamá-la seguindo Thoules & Wiesner (1974) – e o problema mente-corpo ainda não está resolvido.

Já que a existência de uma entidade capaz de “possuir” ou “obsediar” um ser humano não está provada isso não pode ser aceito como “causa vera” para dar lugar a uma futura argumentação no caso.

Isso seria explicar algo inexplicável com outro algo inexplicável, que deve – de um ponto de vista meta teórico – ser arduamente rejeitado.

ALGUNS ASPECTOS MENORES

A Iris-Lúcia de oitenta anos tinha esquecido o nome de seus 14 filhos enquanto MRB está apta a memorizar 25 ou mais gatos?
Tenho encontrado pessoas idosas que não estão mais aptas a dizer o nome de seus netos.

No caso muito particular de Lúcia, o mesmo poderia ser verdade em relação a seus filhos espanhois.
Eu não acho que o esquecimento de nomes seja um argumento forte.

Por outro lado deve se ter em mente que, nos estágios iniciais, houve produções de pura fantasia, como comunicadores de outros planetas (como relatou a Sra. Csipkai).

Isto quer dizer que o papel da imaginação não deve, de maneira nenhuma, ser subestimado.

Resumindo, o ponto crucial do caso é o domínio de Lúcia da língua espanhola e do dialecto madrilenho local.

Todos os outros aspectos, por mais interessantes que sejam, empalidecem ao lado disso.
O seu domínio da língua espanhola vai muito além do que poderia ser explicado por meios normais e mesmo por meios paranormais padrão (telepatia).

Sua identidade espanhola pode muito bem ser fictícia, mas suas habilidades linguísticas foram determinadas como reais;
no entanto os dois aspectos estão conectados um com o outro.

Minha conclusão pessoal é que seu caso é realmente inexplicável e permanece um enigma.

Emmanuel Kant, uma vez observou que as palavras ‘nós não sabemos’ raramente são ouvidas na academia.
Ainda assim, eu prefiro esta declaração directa, ‘nós simplesmente não sabemos’, à hipóteses que são baseadas em suposições que por sua vez são altamente questionáveis e infundadas.

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