LUZ ESPÍRITA
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Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

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Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:46 am

Jaime esforçou-se, fez o melhor que pôde, mas a mensagem não foi compreendida e, o que é pior, não tendo sido compreendida como devia, foi considerada suspeita e colocada de lado.
Os nossos técnicos esmiuçaram a aparelhagem, tudo. Nada revelava a causa daquela estranha interferência. Assim, tomaram aos temas evangélicos e doutrinários e tudo voltou à normalidade; mas sempre que Jaime se decidia a inovar e dar andamento ao projecto, a estranha ocorrência se registava.
Por isso, Jaime, resolveu recorrer a um conhecedor, profundo da técnica da comunicação dos planos superiores, que uma noite compareceu à reunião para determinar as causas da anormalidade. É claro que eu estava lá! Conhecer um “papa” da comunicação dos altos planos era algo inusitado e muito especial.
Eu esperava um sábio de alvas barbas, por isso surpreendeu-me a figura de um jovem quase imberbe de rosto alegre e sereno, cabelos louros e revoltos.
Quem diria! Mas era. E, parece que no mundo onde ele vive, dão preferência à aparência, jovem; por isso, ele, que não mais reencarna na Terra, conserva-a há séculos e só vai mudá-la se quiser.
Não é incrível? Lá, o sonho da juventude eterna é uma realidade. Talvez seja por isso que o homem da Terra inverte tanto os valores. Tudo quanto lhe parece fantasia é que é realidade, e tudo quanto lhe parece sólido, material, está sujeito a transformação. Não é espectacular?
Nessa hora, tenho muita pena dos pesados e sisudos "cientistas” materialistas e louvo os maravilhosos contos de. fadas infantis, que conseguiram conservar um pouco de realidade nesse mundo caótico da Terra.
Mas ele chegou. Não sei como, não vi nenhum disco voador. Veio com tanta simplicidade e precisão que encantou a todos. Ouviu com paciência e bom humor todas. as alegações de Jaime. Passou os olhos percucientes por todo equipamento e esclareceu:
— Está tudo certo. Vocês fizeram tudo muito bem. Nada há de errado nem o que mudar.
Jaime fez um gesto largo:
— Então por que essas interferências? Por que eles não captam todas as mensagens com fidelidade absoluta?
— Porque não podem.
— Mas quando generalizamos e falamos dos ideais nobres da vida maior, quando falamos sobre os Evangelhos ou sobre filosofia Espírita, captam com absoluta fidelidade. Até com as mesmas palavras. Chegam a repetir meus gestos pessoais, o tom da minha voz. Mas sempre que quero accionar o mecanismo mais objectivo no âmbito individual, mencionar datas, nomes, factos, como faria através de um aparelho telefónico na Terra, isso não acontece. Por quê? Ainda há mais: sempre que acciono uma mudança e procuro objectivar nossos planos, eles o deturpam e ficam duvidosos, angustiados. Afinal, o que está errado?
O jovem sábio sorriu amavelmente e esclareceu:
— Ruídos da comunicação. Vocês estão perfeitos, dentro da mais requintada
técnica do seu plano consciencial, analisaram o plano consciencial terreno e, reduzindo sua frequência, entram em contacto com eles. Contudo, talvez não tenham observado que todos os estímulos que o homem terreno recebe na forma de ideias são rapidamente decodificados pela mente e reestruturados dentro de suas próprias dimensões. Tudo quanto for novo e não encontrar repercussão na decodificação sofre adaptação aproximada, prevalecendo aí as variantes da personalidade.
Não compreendi bem, mas Jaime parece que entendeu, porque tornou decepcionado:
— Quer dizer que essa variante sempre interfere na comunicação?
— Sempre. Se você mostrar um prisma do seu plano com suas maravilhosas cores a um homem, mesmo que ele as "veja" com a mente, mencionará apenas as sete cores que conhece na Terra. Estará decodificando as demais dentro do seu limite de registo.
— Quer dizer que não vou conseguir falar aos homens como num telefone?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:46 am

— É muito difícil. Venho estudando o assunto há séculos e tenho observado que, para que isso viesse a ocorrer, haveria necessidade do homem viver muito desprendido da vida terrena, antecipando a vida fora da matéria, o que não é fácil.
— Quer dizer que devemos desistir?
— Claro que não. Continuem, apesar de tudo, porque a ideia transmitida, embora decodificada à maneira de cada um, é preciosa semente para o futuro.
Depois, existe a experiência na Terra que conduz o homem às mudanças fundamentais, que vocês podem usar como meio para alcançar seus nobres ideais.
— Quer dizer que não há maneira de eu falar aos homens sem interferência na comunicação?
— Há — tornou ele, — e muitos têm se utilizado dela. É reencarnar na Terra e tentar falar com eles directamente. Mesmo, assim, o processo lá é tão lento que por vezes eles só vão entender o que você diz séculos depois, quando você já tiver regressado. Mas sempre valerá a pena tentar.
Saí pensativo. Será por isso que sempre que eu quero contar coisas pessoais através dos médiuns, com datas, fatos e provas, há ruído em nossa comunicação?
Ou será que esse ruído é um recurso que a vida usa para evitar o personalismo, o interesse particular, e nos convidar às grandes causas, ao bem colectivo e fundamental?
Não sei o que dizer, mas, se um dia souber, prometo que virei para contar.
Não há pela Terra nenhum cientista disposto a me ajudar e investigar?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:46 am

DÚVIDA
Vocês acreditara em espíritos? Claro, vão dizer que sim. Mas eu, quando estava no mundo, também dizia ora sim, ora não, conforme o momento, quem fazia as perguntas ou conforme os meus interesses.
Fácil, não? No fundo, no fundo, a dúvida, teimosa, sobrevindo por vezes, não obstante tudo quanto já se fez, falou ou aconteceu na tentativa de provar o contrário.
Por que será que o homem é tão descrente? Já pensaram nisso?
Há quem acredite que os fantasmas, como nós, já não tenham esse tipo de preocupação. Enganam-se porque, na realidade, os descrentes continuam por aqui fazendo sua guerrinha particular, seu desafio, quem sabe para que, num desses arroubos ocasionais, alguém consiga provar-lhes o contrário.
Se vivendo na Terra o homem justifica sua falta de fé através das dificuldades naturais do mundo material, há os que pensam que, uma vez mortos, se vierem a sobreviver, não mais terão motivos para. duvidar.
A hora do "vamos ver” soará insofismável, única, absoluta, e o homem descrente se transformará no redivivo cheio de certeza e de fé além da cortina que separa os dois mundos.
Bom se fosse assim. Nem sempre isso acontece. E sabem por quê? Não é por falta dos assistentes do lado de cá, que até fazem seu trabalho muito bem, mas porque muitos não possuem ainda discernimento para compreender e aceitar.
De mortos-vivos na Terra, passam a vivos-mortos aqui, para decepção daqueles que esperavam descerrar-lhes a visão para as coisas importantes da eternidade.
Vocês sabiam que por aqui existem até ateus? Pois é a pura verdade. Não acreditam em Deus e simplesmente vivem com tanta naturalidade que nos colocam na posição de espectadores admirados, vendo-os dissecar suas teorias com aparente lógica e poder de persuasão. Claro que os dúbios, os indecisos, os atemorizados, prestam-se a ouvi-los, e assim fazem escola, criando adeptos num proselitismo perigoso que os leva à dependência dessas criaturas de alguma inteligência e certo potencial mental, servindo-as quase como escravos.
Sim, as dúvidas anulam todas as nossas forças positivas e enfraquecem o espírito. Na verdade, nesses casos de nada valem as palavras, e o espírito precisa reencarnar, experienciar, viver para conseguir enxergar a verdade.
Mas eu não posso criticá-los, porquanto na escola da descrença creio já ter sido aluno, embora hoje a vida tenha me desvendado alguns dos seus segredos.
Hoje, já acredito ser um fantasma bem comportado, tão bem comportado que até já frequenta aulas de disciplina.
Todavia, o que mais me preocupa é ver o indivíduo aparentemente seguro de si, fazendo afirmativas habilidosas de que o nada existe e é tão forte que pode criar o mundo.
Vocês já pensaram o que ele terá que viver, as experiências que deverá passar até que consiga enxergar?
Nessa hora, dá muita alegria saber que já superei essa fase, porquanto posso afirmar que eu creio, que eu creio, que eu tenho fé!
Sou ousado? Sou. Mas a fé me dá essa ousadia. Eu tenho a certeza do que afirmo. Não por ser fantasma, mas por poder ver e viver neste mundo, por ter encontrado aqui amigos, parentes, pessoas que eu admirava, vivinhas, conservando a mesma individualidade, prosseguindo em suas vidas do mesmo ponto onde eles pararam na Terra.
Se isso para mim é importante, mais ainda o é o fato de verificar a sabedoria da vida, distribuindo seus acontecimentos, mexendo os cordões que movimentam os homens e as coisas por toda' parte sem errar nunca nem precisar revogar nenhuma de suas leis. Não é maravilhoso?
Apesar dos males que assolam o mundo, apesar dos homens inábeis e fracos, quem, depois de ver isso, poderá se preocupar?
O optimismo é uma conquista, uma conquista da fé. Não pensam como eu?
Vamos continuar a ser optimistas?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:46 am

A EPÍGRAFE
Vocês já pensaram como a epígrafe é importante no mundo? Pois é, considerando isso é que os escritores, tanto os vestidos de carne como os investidos — isto é, os redivivos ou fantasmas que se investem do propósito de continuar escrevendo para os homens mesmo depois de "mortos" — pensam e repensam, estudam e se preocupam com o título.
Sim, meus amigos. A epígrafe é, pois, de grande importância. Sabem por quê? Porque o homem é tão superficial que, se o título não for atraente e não despertar o seu interesse, não lê, não compra, não presta atenção.
Você concorda? Ou será que a culpa é da vida agitada onde tudo anda acelerado no mundo e o faz ter pressa e mais pressa, desejando tudo condensado, mastigado, rápido e objectivo?
Eis aí minha dúvida. Há vozes de gente importante dentro das letras, da filosofia, dizendo em alto e bom som que o rótulo não vale nada e que o importante mesmo é a essência. Até aí eu concordo, mas num jornal, por exemplo, se a manchete não atrair a atenção, o leitor passa ao largo e não se interessa. Por esse motivo é que os produtores de filmes colocam nomes muitas vezes disparatados em suas produções para atrair o público que sempre responde a esse tipo de atitude.
Sim, meus amigos, coisas da epígrafe, sempre tão importante.
Às vezes penso que o homem em si mesmo seja uma epígrafe. Só. Há que pegá-lo, desenvolvê-lo. Mas isso não é coisa para mim, claro; a vida que é esperta e bem conduzida já o vem fazendo há milénios. Quase sempre o homem, quando quer fazer isso com o semelhante, consegue apenas compor um epigrama pobre e mal formado. Isso também tem acontecido com os fantasmas que querem escrever para os homens da Terra. Não sei se por culpa deles ou da carência dos seus instrumentos, muitas vezes dissonantes e despreparados, desatentos e até desafinados, que eles não conseguem senão epigrafar pobres epigramas desnecessários.
Acho que estou sendo pernóstico, mas a inspiração hoje é essa. O que fazer?
De tão receosos com o título, nós raras vezes o sugerimos, deixando aos homens essa responsabilidade.
Sim, meus amigos, a epígrafe é muito importante no mundo. Mas, que tal ler o conteúdo dos livros que folheamos? A matéria do jornal abaixo da manchete? Que tal buscarmos a essência que transcende à forma e ao estilo?
A isso podemos epigrafar de sermos conscientes. De um mundo onde tanto se estuda a comunicação, suas formas, seus ruídos, suas distorções, etc., possa-se simplesmente entender o que se ouve, o que sé fala, o que se escreve e — o que se toma mais difícil — o que se faz.
Na colectânea de títulos e verbetes em que tem se transformado a enciclopédica cultura do homem actual, ele corre o risco de compreender cada vez menos a essência, perdido nas epígrafes, nas sínteses mal elaboradas, ineficientes, nos rótulos dourados ou negros, parciais ou inexpressivos, caprichosos e desvirtuados, da complicada e difícil estrutura do mundo actual.
Sim, meus amigos, a epígrafe é importante e, se bem situada, pode até ser genial; mas, manejada por mercenários hipócritas e incompetentes, pode transformar-se no coacção inconsciente, na sugestão capciosa, na motivação indigesta do consumo exagerado de valores incompletos e filosofias vãs.
Afinal, essas são apenas digressões de um fantasma preocupado em ser lido, entendido, simplesmente, limpamente, claramente, de forma normal.
Estarei pedindo demais?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:47 am

O PSICOTESTE
Vocês já ouviram falar em psicoteste? Talvez o termo na Terra não seja bem este, porquanto no mundo moderno, na era dos jatos, da energia solar, das forças nucleares, o desenvolvimento da Psicologia vai se processando a todo vapor.
Agora, os testes psicológicos são uma constante; os de QI, os de coordenação motora, os de classificação escolar que fazem o terror dos vestibulares, e existem até os computadores, verdadeiros robôs a testar tudo, a Natureza, os animais, dentre os quais o homem.
Nada mais se faz sem a ajuda do teste. Assim, os técnicos vão se especializando nas diversas e complexas áreas da ciência do mundo, para manejá-los. É a paixão pelo novo, pelas descobertas, pelos coeficientes de certeza.
Mas o psicoteste a que me refiro é outro. É o treinamento do fantasma para voltar à Terra e relacionar- se com os homens.
Não é o relacionamento emocional, o apaixonado, o obsessivo — esses, sempre tão comuns, já são característica de cada um —, mas é justamente o oposto: é o relacionamento ponderado, estudado, controlado, supervisionado por elevados espíritos que visam a mútuos benefícios.
Esse sim, não é fácil. Sabem por quê? Porque disciplinar emoções por aqui é sempre difícil.
Passamos muitos anos na Terra esquecidos do mundo espiritual, nos adaptando; estabelecemos laços afectivos, muitas vezes renovando afectos de outras vidas, e mergulhamos de tal forma nas preocupações terrenas que nossas emoções automatizadas giram em torno da nossa vida na carne. De repente, sem muitos avisos e, eu diria mesmo, até de surpresa, regressamos ao outro mundo, enfermos de corpo e de alma, presos aos afectos, ao lar, aos amigos, ao ambiente em que gravitávamos por livre escolha, por isso em acordo com nossa personalidade.
E agora, José? Parece até que eu já disse isso. Me perguntei muitas vezes.
Entretanto, há que compreender, há que melhorar, há que recuperar a antiga ou anterior personalidade. Há que recordar-se de algumas outras vidas, há que equilibrar emoções, há que reaprender a viver neste mundo novo e maravilhoso que é tão real para nós quanto a Terra para o homem, mas que é diferente, e de tão diferente tudo nos parece irreal, inseguro, insólito, principalmente quando compreendemos a necessidade urgente de adaptação e de mudança.
Eu acho até que não nos seria difícil se fôssemos mais disciplinados nas emoções, mais comedidos na autopiedade.
Mas não, não somos. E vai daí que por vezes teimosamente nos recusamos a deixar a casa terrena, os entes queridos, a vida em família e até o campo profissional.
Parece estranho isso, mas é muito comum. E há aqueles que pretendem interferir na vida familiar querendo “ajudar” e naturalmente conseguem apenas desequilibrar e envolver seus familiares em problemas nervosos, ocasionando mais desgaste.
É triste, mas é verdade. Quando não sofrem a desilusão de serem taxados por alguns “entendidos” de Espiritismo de “obsessores malvados”.
Mas por certo esse travo amargo faz parte do remédio. Remédio da verdade. Assim, o fantasma neófito, o recém-chegado ao mundo dos redivivos, sente-se profundamente incapacitado para dirigir sua vida. Eles que, quando na Terra, lideravam pessoas, conduziam a família, idealizavam, programavam, resolviam, realizavam, agora, frente à avalanche emotiva que não conseguem controlar, sentem-se fracos e perdidos.
E tudo por quê? Por querer viver no mundo espiritual da mesma forma que na Terra. Eles não sabem, por exemplo, que, livres da densidade terrestre, os pensamentos são muito mais activos, que a matéria do. nosso mundo é maleável pela força mental; assim, se não se disciplinarem estarão criando formas que os envolverão fisicamente de maneira total.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:47 am

Se pensarem em doenças as materializarão em si mesmos, se pensarem em dor, tristeza, angústia, desânimo, criarão tudo isso ao seu redor e ficarão mais tristes e mais angustiados; Parece fantástico isso? Mas é verdade. Aqui tudo é mais profundo, mais real.
E é isso que os fantasmas calouros não sabem. Acostumados a cultivar pensamentos na Terra onde seus companheiros não podem penetrar e onde a matéria delimita sua acção, chegam aqui viciados e custam a perceber a verdade.
O que fazer? É natural. Mas não pensem que nós podemos aqui ver tudo, saber tudo, não. Temos uma faixa de acção onde podemos penetrar com os nossos sentidos que vai desde as entranhas da Terra' até o máximo de percepção que cada um já conseguiu desenvolver, e isso é uma variável que representa a conquista do espírito.
Na Terra não é a mesma coisa? Não há pessoas subtis e perspicazes enquanto que outras não conseguem ver um palmo adiante do nariz?
Mas eu disse tudo isso para falar do psicoteste, Ele é muito conhecido por aqui. Sem ele não conseguimos a autorização para nos aproximar dos homens e trabalhar nos processos de ajuda, interferindo nos negócios da Terra.
E sabem qual é ele? É o retomo ao lar, é uma estadia nos lugares que deixamos e aos quais nos vinculamos pelos laços do amor e uma demonstração equilibrada de nosso controle emocional.
E notem que ele não é de aparência. Ele tem que ser efectivo. Aqui o pensamento é a linguagem comum. Podem imaginar como é duro?
Poder falar, escrever através de outra pessoa, mas não dizer nada pessoal, não extravasar emoções, não perturbar o decorrer da vida familiar, apenas ater-se ao fim determinado, ao assunto permitido, ao momento necessário?
E que dizer de alguém como eu, fantasma emotivo e apaixonado, que guarda no coração indeléveis momentos de saudade, sem poder extravasar?
Ah! Esse psicoteste! É duro. Mas acredito que necessário. Quem está na Terra deve viver a sua experiência até o fim. Não seria justo perturbá-la.
Mas vou contar um segredo que vem se repetindo amiúde: esse controle é na comunicação; porquanto, se nos comportarmos bem, se apreendermos as leis do nosso mundo e as respeitarmos, poderemos conseguir encontros com nossos entes queridos durante o sono. Podemos beijar seus cabelos nas horas de vigília sem sermos vistos, podemos até vibrar amor à vontade, porquanto, como devem saber, o amor é lei absoluta da vida, e não há nenhum fantasma que esteja proibido de amar.
Um dado curioso do psicoteste: ele decompõe nosso sentimento e analisa a fundo nossas emoções. Sabem que, apesar de tanto apego, raros são os que já aprenderam a amar?
Esqueci de contar que, durante o nosso teste, há um aparelho temido por todos, mas acatado por infalível, que acompanha o processo.
Ele seria dispensável, porquanto nossos maiores não necessitam dele para saber as coisas, mas que fantasma recém-vindo da Terra não iria duvidar?
Por isso estamos até treinando nos atrasados gravadores da Terra. Não acham isso singular?’
Mas fiz o meu psicoteste e passei. Será que, conhecendo o meu temperamento, alguém vai acreditar?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:47 am

OBSESSÃO
Era noite de gala e o teatro regurgitava. Mulheres com vestidos brilhantes e ricamente bordados, homens com sapatos polidos e temo escovado, cheios de elegância e gentilezas. No salão, ricamente adornado, as flores decoravam as frisas como que a lembrar o verão, aromatizando a noite com seus deliciosos perfumes.
A orquestra dera início à abertura e um prelúdio profundamente envolvente encheu o ar, e do peito das mulheres escapou um suspiro de ansiosa expectativa. O astro máximo ao vivo! O grande amante das telas, o mais amado, o inesquecível e sempre lembrado Valentino. O grande ídolo iria aparecer ao vivo, para dançar e representar. Como seria ele? A expectativa era geral.
As luzes se apagaram e a cortina abriu-se, deixando ver, no teatro às escuras, um foco de luz. Num passe de mágica ele apareceu, chapéu de abas largas, elegante, passos compassados. Dançou e, aos rodopios, foi buscar a companheira; ambos enlaçados, volteavam em cena ao compasso da música.
A plateia delirava. Ele, o grande, o herói, o adorado, o mais invejado, o mais temido pelos outros homens.
A um canto, uma mulher chorava baixinho. Há algum tempo já sonhava com ele todas as noites e delirava. Em seu delírio, era ela quem volteava no palco enlaçada por ele. Ela! E depois, seu devaneio ia mais longe, ele a beijava e dizia que a amava. Nada mais lhe importava na vida senão isso, nada mais. Trocaria tudo por essa aventura. Não fazia senão recortar nos jornais, nas revistas, as suas fotos e todas as notícias que lhe diziam respeito.
Ah! Se ela pudesse... Abandonaria tudo por ele. Bastaria uma palavra e ela o seguiria até o fim do mundo! Ah... se ele a dissesse... se ele se declarasse!
Ela deixaria seu lar, seus dois filhinhos, o marido, tudo.
A custo suportava a presença do companheiro. Ele lhe parecia grosseiro, banal, sem atractivos. Ela sabia que era bela. Muitos homens tinham perdido a cabeça por causa dela. Mas agora ela só tinha olhos para o seu ídolo, nada mais.
Olhou o marido, do seu lado, erecto, calado. Não se importava que ele lhe percebesse o entusiasmo. Pouco ligava. No delírio do espectáculo, ela chorou, sorriu, aplaudiu e esqueceu que não estava só. Quando terminou, levantou-se, pensando em dirigir-se aos camarins. Sentiu um braço de ferro segurando o seu. Olhou como que trazida à realidade.
— Onde vai? — perguntou ele com voz baixa.
— Deixe-me! Vou ao encontro dele. Preciso vê-lo.
— Rose, não vá. Há muita confusão. Acabou o espectáculo, vamos embora, Ela arrancou o braço com raiva:
— Não vou! Deixe-me. Se quiser, vá embora... não vê que me aborrece?
Aliás, é bom mesmo que você vá. Deixe-me em paz. Por favor!
— Não posso deixá-la aqui. Vamos?
Ela o olhou com olhos duros:
— Não adianta. Vou ficar. Se quer ir vá. Não me importo. Aliás é melhor que saiba que entre nós tudo acabou. Não suporto mais. Chega. Quero ficar sozinha. Deixe-me, por favor!
— Não sabe o que diz. Como pode? Não está falando a sério, por certo.
— Nunca falei com tanta sinceridade. Entre nós não é possível mais nada.
Não o amo mais. Não posso fingir. Chega de falar.
— Não acredito que pense em me deixar por causa de um artista. Veja bem... ele não vai fazer sua felicidade.
— Não importa. Eu o amo. Hei-de segui-lo por toda parte. Um dia ele terá que perceber o meu amor. Então, tudo será diferente. Deixe-me... Eu lhe peço...
O marido estava pálido. Seus lábios procuravam conter palavras de rancor.
— Espero que você pense melhor e volte a si desta loucura.
— Seja como for, sou dona de mim. Nada mais quero com você.
— Nem com nossos filhos?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:47 am

O rosto dela contraiu-se num ricto doloroso.
— Que seja... — murmurou determinada — se você os tira de mim, se esse é o preço, eu, embora com o coração despedaçado, não tenho outra alternativa.
Seja! Fique com eles e trate-os bem. Depois irei pegar minhas coisas. Agora deixe-me. Quero ficar só.
Ele ficou parado, enquanto ela se perdia na multidão rumo aos camarins. O rosto dele era uma máscara de ódio. Não acreditava que aquele miserável não tivesse seduzido sua mulher. Ela sempre fora pessoa responsável e equilibrada. Por certo que eles estavam mantendo um romance. Com certeza!
Como pudera ser tão cego? Há já algum tempo vinha notando a mudança dela.
A falta de interesse, a falta de carinho, tudo. Agora sabia. Ele era o culpado.
Sedutor desalmado! Mas havia de vingar-se. Isso não podia ficar assim.
Saiu do teatro e foi para a casa. Aguardou o dia clarear, e nada da mulher.
Foi com o coração apertado que ele viu os filhinhos perguntarem por ela. Foi aí que tomou uma resolução. Apanhou a arma e decidiu. Acabaria com ele.
Assim, não mais destruiria lares. Aliviaria a sociedade de um conquistador.
Colocou a arma no bolso e saiu.
Onde encontrá-lo? Resolveu esperar a noite, porquanto ele iria apresentar-se novamente. Na hora do espectáculo, esperou. Não conseguiu vê-lo, chegar porquanto despistara os fãs. Aguardou, ruminando seu ódio, que o espectáculo terminasse. Escondeu-se quando viu sua mulher chegar. Ela estava com olhos perdidos, como que sonhando. Por certo eram felizes e estavam juntos. Eles tinham resolvido suas vidas, mas ele não seria jogado fora como se fosse um objecto inútil.
Esperou com paciência que o espectáculo terminasse, e quando o viu sair, sempre acompanhado, foi atrás. Não viu sua mulher, mas isso não o preocupou, porque com certeza iriam encontrar-se mais tarde. Seguiu o carro e entrou no hotel, procurando descobrir o andar em que ele se hospedava.
Esgueirou-se pela escada de incêndio, subindo determinado os oito andares.
Saltou no terraço dos fundos do apartamento. Ouviu quando eles entraram, acenderam as luzes. Continuou esperando. Ouviu vozes, ele dizendo que estava cansado e que queria dormir. Tudo escuro de novo, silêncio.
O marido ofendido esgueirou-se pela porta e depois, sorrateiro, adentrou o outro aposento. Finalmente o quarto. Sob a luz fraca do ambiente, ele viu o rosto do rival semi-adormecido. Não teve dúvidas, apontou o revólver e atirou. O silenciador colocado na arma abafou o ruído.
— Morre, vil traidor! — bradou ele — Morre!
A vítima teve tempo de gritar, assustada, e o assassino já saía galgando as escadas, ganhando a rua. Correrias, susto, o medo do escândalo, tudo abafado.
No dia seguinte, o mundo abalado recebia a notícia de que, vítima de um apendicite agudo, o famoso astro dera entrada no hospital, onde veio a falecer.
No dia imediato, o assassino, assustado, recebeu a visita de um policial.
Pálido, trémulo, esperou que ele falasse, pronto a se defender.
— O Sr. é o dr. R. ... ? Quero avisá-lo de que sua esposa teve um ataque de loucura e se encontra recolhida a uma casa de saúde.
— Como?
— Sim, infelizmente. Eu mesmo a detive. Foi um custo contê-la. Precisei chamar reforço. Ela já teve algum ataque antes?
— Não... isto é, ela andava muito estranha ultimamente. Mas não pensei que estivesse tão ruim.
— Ela dizia que ia matar alguém. Que o faria de qualquer jeito. Depois, enquanto nós a levávamos ao sanatório, ela repetia: “Pronto. Agora já completei minha vingança. Agora ele já recebeu o troco. Eu venci! Eu consegui. Eu o destruí”. E ria tanto que só parou quando o médico deu-lhe uma injecção e conseguiu fazê-la adormecer.
Enquanto marido, entre apavorado e arrependido, procurava o médico para saber, o ídolo da tela, o galã do mundo, o temido pelos homens e amado pelas mulheres, baixava à sepultura. E até hoje ninguém soube como tudo aconteceu.
Vocês não acreditam? Pois eu digo que aconteceu assim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:48 am

LIBERDADE
Ontem estive parado, olhando a Estátua da Liberdade. Curioso, ela é de pedra e demarcada ao redor, cercada para assegurar sua postura firme nas profundezas do oceano.
Vocês já pensaram como ela é um perfeito símbolo do comportamento humano? A base fixa na terra, chumbada, para que a força hercúlea das vagas não a faça tombar. A mureta ao redor, para proteger e resguardar seu acesso. É o homem mesmo, chumbado à terra, mergulhado de corpo e alma nas preocupações mundanas e cercando sua intimidade com as muretas do orgulho para precaver-se dos golpes e das intromissões perigosas dos semelhantes.
Mas, já acima, o facho de ideal, na mão quase à altura da cabeça como a dizer que a liberdade existe apenas na mente, de onde sai do intelecto como se sua realidade, ao espalhar-se pelo mundo, fosse realmente uma conquista.
Estou sendo duro? Mas é o homem diferente da estátua que ele mesmo elegeu para seu representante? Acho que não.
Hoje se tem falado muito sobre liberdade, e seu conceito tem sido condicionado em todos os compêndios do mundo. Mas quem até agora pôde conhecer sua intimidade, delimitar suas fronteiras e, na prática, vivê-la na íntegra?
Andei pensando, pensando, e também não sei defini-la. Dizem por aqui nossos maiores que o dever bem cumprido dá acesso à verdadeira liberdade.
Mas para nós o dever nem sempre é agradável, e por isso nos cerceia a liberdade forçando-nos a aceitar disciplinas e rumos, diferentes da nossa inclinação natural.
Vocês já pensaram e verificaram quais são as nossas inclinações naturais?
O que gostamos mesmo de fazer? E se nos fosse dado o direito de sozinhos escrevermos as directrizes de nossa vida?
Ah! Que maravilha, fazermos tudo sem medo de nada. É claro que nos colocaríamos em morada agradável, com muito conforto. Seríamos lindos!
Quem se conforma em ser feio? E olha que tem gente feia nesse mundo. E o pior, que muitos continuam mais feios ainda quando se mudam para cá.
Eu, por exemplo, jamais me cercaria de gente feia. Quando muito faria excepção a gente simpática que, de tão agradável, por vezes parece bonita aos nossos olhos. Depois, para mim, só alegria, muita música, muito som. E, naturalmente, muita gente inteligente, claro. A burrice dói, e a verve afiada, a vivacidade, por certo encheria minha vida de momentos brilhantes e de satisfação íntima.
E até, porque não dizer, uma boa mesa, bem arrumada, com flores, muita comida, um bom vinho, delicado e saboroso, até que não iria destoar.
Sim, essa seria a vida que eu faria para mim, se pudesse escolher.
Olho a estátua e me sinto de todo com os pés pregados na Terra. É que ainda não consigo deixar de ser terreno. Contudo, se eu tivesse poder, se eu tivesse liberdade, faria um mundo sem guerras, sem doenças, sem lutas. Acho que vocês pensam como eu.
Cada vez mais eu acho a Estátua da Liberdade igualzinha a nós. Digna representante do homem. Pena que o tempo, a força da natureza a esteja aos poucos desgastando. Pena que, um dia, ela não mais poderá suster-se e será arrastada pela persistente força das águas que sem parar lavam seus alicerces.
Chego até a vê-la semidestruída, sem archote, sem pés e sem mãos, sendo levada pela correnteza. Que pena!
Com o homem por certo vai ser diferente. Outro destino melhor o aguarda no futuro. Mas aí, fiquei preocupado. Não com a estátua condenada pelo tempo à destruição, mas com a vida que eu sonhei para mim, se eu pudesse construí-la, e com o mundo que eu faria, se me fosse dado opinar.
Pensando nisso, levantei o assunto em roda de amigos. Foi tuna delícia.
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Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 3 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 11:48 am

Propus a cada um estabelecer seu mundo, seu roteiro particular, livre dos compromissos de vidas passadas e sem pensar nas consequências futuras.
Livres mesmo. Só a nossa vontade. Sem peias nem disciplinas, realmente com a verdadeira liberdade.
A ideia foi acatada com entusiasmo. Mas cada um tinha um conceito diferente, colocava seu objectivo de uma forma. Em poucos minutos passamos do entusiasmo à discussão e da discussão aos ânimos acirrados, e, logo mais, ninguém conseguia controlar a conversação.
Bruno assistia calado. Seu olhar vivo e lúcido me fixou, brejeiro. Olhei-o entre encabulado e divertido. Afinal, eu entornara o caldo.
Bruno era nosso amigo e assistente. Um pouco ressabiado, roguei silêncio e só a custo consegui estabelecer a calma. Meio sem jeito, conjecturei:
— Hoje fui visitar a Estátua da Liberdade e fiquei pensando, pensando. Até agora não consegui saber bem o que ela realmente é. Acho que exagerei.
Nosso mundo, se nós pudéssemos fazer um, seria tão particular, tão pessoal, que ficaríamos sozinhos, e, para ser franco, prefiro lutas em comum do que solidão.
Meus companheiros ouviam silenciosos, perdidos em seus pensamentos íntimos.
— Ê duro — continuei — condicionar a liberdade ao dever. A liberdade tem asas e o dever pesa como chumbo. É aguentar a feiura, a burrice, o fraco, o desagradável, a dor, a inveja, a desonestidade, a incompetência, a guerra, a desunião, o ódio, etc. Será que não poderia ele ser mais suave?
Bruno, longe de demonstrar preocupação com minha irreverência, sorriu e esclareceu:
— Sabe que tem razão? Hoje você fez um teste de maturidade com todos nós e os resultados foram bem positivos. Ninguém sabe ainda usar sua liberdade. Já pensaram quantas vezes Deus nos permitiu que na Terra fizéssemos nossos próprio mundo particular?
Pensei em minha vida terrena e acho que, de certa forma, vivi como desejei.
Fiz o que quis e criei o meu mundo particular. Tinha um, dentro de mim, que ninguém nunca viu, e nele eu fantasiava as coisas audaciosas e me deliciava.
Sim. Eu já tivera a chance de criar a minha vida e a liberdade de viver conforme desejara.
Bruno continuou:
— Uma vida na Terra é a chance de viver em liberdade. Todos somos livres para escolher o caminho, as pessoas com as quais queremos conviver, a profissão.
— E quando alguém não consegue por si mesmo fazer o que quer? A vida inteira sonhei com coisas que nunca consegui realizar. Queria ser escritor e trabalhava em um escritório, queria ter muitos amigos e sempre era isolado, amei uma mulher e fui preterido — tornou um dos companheiros, meio amargurado.
— Mas, meu amigo, até para ser livre e realizar o que se quer é preciso ter vontade forte e lutar para conseguir. Ninguém fará o seu mundo por você. Eu estava interessado. Afinal, saber era o meu secreto desejo.
Compreenderia por fim o que é liberdade?
Bruno prosseguiu:
— Todos somos livres. Fomos à Terra, usamos o livre arbítrio, mas nosso universo é um universo de forças vivas. A vida tem leis que a sustentam, preservando-lhe o equilíbrio. Fazemos parte integrante da Criação, e portanto somos sujeitos a essas leis. Não prescindimos delas, embora ainda não tenhamos condições de compreendê-las claramente. Elas são activas e os factos são irretorquíveis. Se um homem atirar-se de um prédio alto, nenhum conceito de filosofia e ninguém poderá evitar que seu corpo se esborrache no chão. Ele escolheu atirar-se pela janela. Usufruiu de completa liberdade. Mas, assim que se atirou, o resto ficou por conta das leis que disciplinam a vida. Conseguem entender?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 7:56 pm

Acho que consegui. Ele completou:
— Por certo, se não morrer, esse homem terá que suportar durante muito tempo, ou quem sabe pelo resto da vida, as lesões físicas e morais que ele mesmo procurou. Alguém mais aqui tem dúvidas sobre a liberdade?
Reparei que, em silêncio, conjecturando com seus botões, cada um foi saindo, e eu fiquei só com Bruno.
— Acho que, às vezes, meu gosto pelo raciocínio me leva longe demais.
Acho que hoje eu quis criar um mundo novo, como se eu fosse um Deus. Que loucura!
— Isto é bom — Colocou o braço amigo no meu ombro enquanto dizia: — Isto é muito bom. Porque quanto mais nós quisermos nos colocar no lugar de Deus, mais perceberemos o quanto estamos distantes dele.
— É — concordei ressabiado.
O mundo que eu idealizara seria cheio de confusão, injustiças e futilidades.
Pensei na Estátua da Liberdade. De uma coisa tenho certeza: ela é e será ainda, durante muito tempo, muito digna representante do homem. Não pensam como eu?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 7:56 pm

O CANASTRÃO
Não há no mundo, por certo, quem não conheça a figura incomodativa do canastrão. Ele está em toda parte. Seja qual seja a profissão ou a situação, ele sempre aparece, querendo fazer sem conseguir, ser quando não é, saber quando ignora, falar sem base, conquistar sem merecimento.
Eu mesmo, quando na Terra, fugia deles como o diabo da cruz para não ter o desgosto de recolocá-los em seus devidos lugares, coisa desagradável e que sempre me deixava de péssimo humor.
Mas lá estavam eles, na coxia do teatro, nos corredores das estações de rádio ou de televisão, nas ruas, nas lojas, no meu escritório, multiplicavam-se assustadoramente, obrigando-me a desviar e, quando a situação se tomava crítica, impedir-lhes a entrada no meu sector de trabalho.
E o pior é que alguns, levados pelo beneplácito dos meus próprios amigos, venciam a barreira, colocando-se diante dos meus olhos, sob as vistas húmidas e complacentes dos seus padrinhos entusiasmados, a mostrar seus dotes artísticos infelizmente pobres e inoperantes.
O que fazer? Tentar é direito que cada um tem e exerce como pode. E eu assistia aparentemente atencioso à demonstração, cada expressão do meu rosto esperada com ansiedade, no julgamento indesejado mas compulsório da “revelação” daquele talento.
O pior é que sempre aparecem muitos amigos fora do ambiente artístico.
como caçadores de talentos, querendo promover pessoas com as quais simpatizam e que possuem o desejo de se tomar astros, mais interessados em sobressair ou fazer parte de um grupo que, eles acreditam, deve viver em um mar de rosas, amados, aplaudidos, ricos, do que para extravasar sua arte, dar de si até a exaustão para levar aos homens seus ideais de beleza e de entretenimento.
Muitas vezes, empurrados pelos amigos, apoiados pela publicidade, e mais ainda pelo patrocinador, eles aparecem e, o que é pior, se iludem de que são sem ser, que têm talento, quando, sem apoio da “máquina”, não teriam conseguido nada. Passam inexpressivos da mesma forma como vieram e acabam desiludidos e vazios, mergulhados na depressão e no desequilíbrio.
É triste mas a vida não nos permite alimentar ilusões durante muito tempo, e a verdade sempre chega sacudindo a poeira das nossas ideias, empurrando-nos à mudança.
Mas o que pensariam vocês se soubessem que por aqui também existe o famoso canastrão?
Como? No mundo da verdade, onde os pensamentos são pressentidos e onde cada um se encontra com a sua realidade, existem canastrões?
Pois eu afirmo que existem. Existem e são aqui, tanto quanto na Terra, um problema difícil, porquanto eles se apegam ao desejo de ser e acreditam que são conforme gostariam. Deu para entender?
Pois é isso. Há os que se julgam de posse de altos conhecimentos médicos e passam a dar suas consultas a quantos aceitem suas ideias; há os que se acreditam conhecedores do futuro e vaticinam suas próprias divagações incoerentes e ilógicas; há os que se julgam grandes compositores e gastam o tempo compondo melodias dissonantes; há os que fazem versos de pé quebrado mas que asseguram tratar-se de grandiosos poemas.
Preocupado com esse estado de coisas, procurei analisar a causa dessa ilusão que retém tantas criaturas nas malhas da inércia, impedindo-as de realizar o que podem e colocando-as em situação ridícula e dolorosa.
Eu acho que o problema chegou a tal ponto, tanto na Terra quanto por aqui, que muitas vezes tem impedido ou dificultado os críticos ou os produtores, os artistas ou os profissionais, de ouvirem gente nova, de admitirem novos companheiros no seu campo de acção.
Lembro-me da ojeriza instintiva que me acometia sempre que alguém me falava de algum “prodígio", pedindo-me para dar-lhe uma “chance".
É que, ao ensejo de ver tanta coisa sem expressão, tanta gente enganada e sem talento, e de ser tão desagradável ter que dizer isso, já fazia com que uma barreira se colocasse diante dos meus olhos, impedindo-me de ver onde poderiam vir a ser bons.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 7:56 pm

Vai daí os testes e testes, as dificuldades, as lutas que, para conseguirem mostrar realmente suas aptidões, os verdadeiros talentos enfrentam. Mas, cá para nós, não é fácil, não é mesmo? A vida tem mostrado que ao talento deve juntar-se boa dose de perseverança e de confiança em si mesmo para vencer, e quantas vezes só muito tempo depois esse talento é reconhecido. Aliás, eu, que sempre pensara que de nada vale reconhecer a obra de alguém que já deixou o mundo, agora sei que estava enganado.
O reconhecimento de uma obra de arte, embora tardio, de um estadista, de um escritor, e até de um político, é muito importante, porquanto oferece ao próprio autor a oportunidade de avaliação de suas actividades na Terra. E, para ser sincero, quantas vezes a humanidade tem errado em seus julgamentos?
Mas eu não suporto canastrão, e por isso, quando os vi por aqui, imbuído do mais sincero propósito de ajudar, procurei esclarecê-los. Sempre que me encontrava com um nas actividades de socorro, nos grupos de estudo, na convivência comum e até nos momentos de lazer, procurava conversar, buscando fazer com que compreendessem a inutilidade da fantasia inoperante e sentissem a importância das pequenas coisas, aparentemente simples mas que nos conduzem com segurança a grandes conquistas na área do espírito.
E assim, ao contacto com suas ideias, devo confessar que simpatizei com alguns que me pareceram mais autênticos e com melhores possibilidades de conseguir o que queriam, ao passo que antipatizei com outros que julguei sem condições.
Havia um que sinceramente me entusiasmou. Finalmente eu descobrira um verdadeiro talento. Dizia-se grande poeta e na verdade declamava versos de grande sensibilidade e com segurança. Entretanto, havia um porém: de quando em quando tomava-se melancólico, alheio a tudo, mortificado e triste.
Interessei-me por ele. Conversamos muito. Sua inteligência arguta e brilhante me deleitava, seus versos bem achados faziam a minha delícia. Por que aquela tristeza? Por que a mágoa?
Picado pela curiosidade, formulei a pergunta que ele, balançando a cabeça, respondeu:
— Como não estar triste? Sinto em mim a chama do génio e contudo não me permitem derramá-la sobre os homens. Não me deixam reencarnar e não me permitem aqui a livre expressão da minha arte. Eu gostaria de voltar à Terra levando a mensagem. Contudo, nossos maiores negam a permissão e, sem ser poeta não quero renascer.
Fiquei intrigado. Afinal, a arte sempre é benéfica ao homem, e aquele talento não deveria ser impedido de dar à humanidade sua contribuição.
Resolvi falar com nossos maiores, advogar aquela causa que me parecia justa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 7:57 pm

Assim, com olhos brilhantes procurei o orientador espiritual, amigo e muito acatado no plano superior pelos seus méritos e dedicação, e expus minhas considerações.
— É um grande talento — afirmei convicto, — que deseja oferecer aos homens a beleza da sua arte. Creio, até que poderá ser um colaborador nosso na Terra, um elemento de ligação entre os dois mundos, falando das eternas verdades do espírito. O amigo ouviu-me atencioso e sério; depois perguntou:
— De quem se trata?
— Do José que se intitula “A Voz”. Tenho conversado com ele e fiquei encantado com sua verve realmente prodigiosa.
— Acho que conheço o caso.
— Gostaria que pudesse ouvi-lo.. . quem sabe... — argumentei ansioso.
— Não há necessidade. Venha comigo, desejo mostrar-lhe algo.
Acompanhei-o solícito. Felizmente estava sendo levado a sério. O ar gentil e atencioso do nosso orientador me fazia bem.
Entramos em uma pequena sala onde havia alguns painéis com muitas luzinhas coloridas, e ele, com gestos seguros, accionou um dispositivo; ao abrir-se uma pequena porta na parede, surgiu uma tela iluminada.
— Vejamos o caso dele.
Fixei os olhos, curioso. Sempre fui fascinado por esses sofisticados aparelhos mágicos que se ligam e desligam ao toque de um botão.
Imediatamente a tela iluminou-se e um rico salão apareceu. Um homem luxuosamente vestido, com papel na mão, decorava versos de grande beleza cota. alguma dificuldade. Sem esforço reconheci meu amigo poeta. Só que mais arrogante, com as mãos cheias de anéis, roupas do século XIX. Era visível sua falta de jeito, e causou-me desagradável impressão ouvi-lo. Foi quando um jovem de figura nobre e simples, de rosto imberbe e puro, acercou-se dele com delicadeza, dizendo:
— Isso não é assim, há que dar mais inflexão, veja: — repetiu os versos com maestria e delicadeza. Com paciência enorme ele foi ensinando o rico senhor a dizer os versos, enquanto o outro, frente ao espelho, copiava-lhe as inflexões e os gestos.
— Agora está melhor —, disse o jovem com humildade.
— Pois que esteja mesmo. Porque se na festa de hoje não me aplaudirem te arranco a língua.
O outro abaixou a cabeça com tristeza. A surpresa me emudeceu. Não sabia o que dizer. O orientador desligou a tela.
— O que acha?
— Era um canastrão! — comentei envergonhado, dando-me conta de que eu também fizera o papel do amigo caçador de talentos iludido e inexperiente.
— Não compreendo — continuei admirado. — Como pode hoje dizer aqueles versos tão bem?
— Aprendeu a dizê-los decorando cada um. Jamais conseguiu escrever uma linha sequer. O jovem servo, filho de uma escrava que trabalhava para pagar dívidas insolúveis da família, era o grande poeta. Espírito de um génio, temporariamente aprendendo a lição da humildade como servo, não se furtava ao prazer de criar com a beleza de sua arte. O José, contudo, descobrindo o talento do jovem, obrigou-o a ensiná-lo a declamar e apresentava-se por toda parte como autor, arrancando aplausos da corte, mais pela beleza dos versos do que pela sua criação. Acostumou-se à glória dos aplausos, ao amor das mulheres encantadas com a obra poética, às lisonjas e ao papel que indevidamente assumiu. Agora, recusa-se a reencarnar porquanto desejava continuar a exercer o mesmo papel, enganando a si mesmo e fugindo à realidade.
Fiquei sem jeito. Portara-me qual inquieto descobridor de talentos escondidos, sem ter condições de julgar ou resolver. Mais uma vez fui o homem terreno, habituado a colocar valores nos outros, segundo meus critérios tão pobres.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 7:57 pm

Arrependi-me, naquele instante, de ter tomado tempo precioso de um amigo tão ocupado e por certo imbuído de fazer coisas muito mais importantes do que esclarecer meu inquieto espírito curioso. Foi com sinceridade que aduzi:
— Acho que me precipitei. Já deveria saber que aqui há meios mais seguros de ajuizar os méritos e necessidades de cada um. Sou impulsivo. Fi-lo perder tempo em dar-me explicações que eu não tinha nenhum direito de pedir.
Meu amigo sorriu:
— O tempo só deve ser contado nesses momentos em que vivemos uma experiência. Em geral, os canastrões, como você os chama, existem por toda parte, e sem dúvida são todos aqueles que desejam mas não querem trabalhar para conseguir, contentam-se em parecer sem procurar ser, querem os louros sem os méritos do trabalho e do esforço próprio. O artista, seja qual campo for — e isso abrange o campo de todas as profissões e situações —, é aquele que luta sem esmorecimentos para melhorar suas potencialidades e, de posse de grande experiência em determinado sector, desenvolveu, quase sempre em vidas sucessivas de laborioso esforço, grande sensibilidade para assimilar uma parcela da vida maior. Expressa essa conquista de forma particular e própria, mostrando sua experiência ao resto da humanidade. Às vezes, ele caminha tanto que os homens somente anos mais tarde conseguem entendê-lo.
Fiquei extasiado. Será que um dia eu deixarei de ser a imitação da arte profunda dos grande génios e poderei tornar-me eu mesmo um médium dos artistas divinos? Sonhar é um direito meu, não acham?
E o meu amigo orientador encheu meu coração de esperança quando disse que poderemos tentar, com trabalho e perseverança para conseguir. Se deixarem, eu acho que vou tentar. Não só para conseguir ouvir de novo os aplausos nas ribaltas da Terra, mas desta vez, quem sabe, para penetrar,
circunspecto e sério, reverente e humilde, decidido e perseverante, na arte
divina das belezas de Deus, de suas perfeitas leis e na sabedoria de viver.
Não acham que um dia eu conseguirei?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 23, 2024 7:57 pm

A SURDEZ
A surdez é uma anomalia que se expressa de várias formas. Há os que não ouvem quando convém, há os que ouvem só o que lhes interessa, há os que ouvem como lhes agrada, interpretando a seu modo, há os que ouvem com a imaginação e chegam a jurar que ouviram mesmo.
Porém, de todas essas formas de ilusões, a mais perigosa e a mais comum é aquela em que os ouvidos registam os acontecimentos, a boca repete as palavras com grande realismo, mas fica nisso, como se o homem fosse um robô, a registar suas informações e não sentisse, ou não pudesse compreender.
É... a surdez de vez em quando é até providencial. De tanto se ligar a ruídos perigosos, alguns homens acabam ouvindo tanto e tão desequilibradamente que se tornam surdos à voz da Natureza que nos deve guiar e conduzir.
Mas a surdez é um mal. Vocês concordam? Ou será um bem? Afinal, pelas inúmeras versões do bem e do mal, muitas vezes o homem acaba entrando em tantas digressões que se perde no emaranhado de suas próprias conjecturas e, o que é pior, acaba criando teorias de tal sorte complicadas e inúteis que nem ele mesmo consegue entender.
Mas o "saber ouvir é realmente difícil. Calar a nossa voz não dar ouvidos aos nossos interesses pessoais e procurar registar o que se passa “ao nosso redor com realismo e atenção não é fácil..
Vocês já repararam que duas pessoas podem estar conversando, mantendo um diálogo, mas surdas ao que o outro quer dizer?
Será por isso que há tanto ruído na comunicação e os homens ainda não conseguiram se entender? Afinal, com um pouco de boa vontade, quem sabe, talvez se pudesse acabar com as guerras e com as lutas de violência.
E o mais curioso é que nem sempre o que fala mais alto é mais ouvido. Qual será o segredo? Na verdade, quem descobri-lo estará fadado a realização de grandes coisas.
No teatro, por exemplo, ser ouvido é por vezes muito difícil, principalmente se você falar de coisas sérias e chamar a atenção para os pontos importantes das necessidades humanas. Talvez seja por isso que eu tenha usado o humor para poder, num pequeno jogo matreiro, ser pelo menos escutado.
Na verdade, é raro aquele que não procura bajular a maioria vendendo-lhes douradas pílulas de ilusão e, por sua vez, narcotizando-se com os louros do aplauso caprichoso.
E o pior é que o escritor, o autor, no afã de agradar, acaba esquecendo sua própria verdade, nesse jogo fácil e tentador que é a aprovação dos outros.
Mas ouvir não é fácil.
A crítica, o elogio ao outro, ideias que não esposamos, coisas que não queremos ver. Surdez voluntária, indiferença.
Será que alguém vai me ouvir?

Abraços do amigo,
Silveira Sampaio, 10/5/1980

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