LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Página 2 de 3 Anterior  1, 2, 3  Seguinte

Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 21, 2024 8:21 pm

AMOR
O marca-passo do nosso coração é o amor. Vocês não acham?
É o amor que o faz bater mais forte e nos aquece o corpo, impulsionando-nos às mais difíceis conquistas, à renúncia ou à abnegação.
Neste mundo onde estou, tenho surpreendido casos verdadeiramente sublimes, de dedicação e amor.
Como é belo poder sentir, ou ver como as criaturas que amam de verdade se dedicam ao esforço de erguimento e auxílio aos seres amados que sofrem na Terra em luta por uma vida melhor.
Na verdade, trata-se de um trabalho anónimo onde o beneficiado, na maior parte das vezes, nem pressente o carinho e o interesse de que é objecto.
Se na Terra amamos alguém e nos dedicamos ao seu bem-estar, ou à sua regeneração, estamos protegidos pela carne e não sabemos nem podemos ver o "íntimo” do nosso ente querido. Aqui tudo é diferente. Não só sabemos tudo que ele faz como sentimos até o reflexo dos seus pensamentos.
Em se tratando de pessoas carentes de um bom comportamento, é de se prever os sofrimentos dos que . a elas se dediquem no desejo do auxílio abnegado.
Todos os seus erros são punhaladas nesses corações amorosos. Todas suas inclinações ruins são causa de sérias preocupações sem que possam intervir drasticamente. Ê sentir e calar, sofrer e compreender, ser traído e perdoar.
É preciso muito amor e muita fé em Deus para realizar esse trabalho de auxílio.
Ninguém na Terra pode sequer imaginar o que isso representa. Mas o amor nos impulsiona e tudo consegue: forças, paciência, coragem, perseverança, porque no fundo, no fundo, todos sabemos que o amor é a maior força de todas as. coisas e que no fim, se perseverarmos, sempre será o mais forte e nos ajudará a vencer.
Pode haver beleza maior?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 21, 2024 8:22 pm

NATAL
Na véspera de Natal, eu gosto de subir ao Corcovado e derramar lá de cima minha vontade de amor ou de progresso a toda humanidade.
Lírico, eu? Sempre fui. Nas máscaras que coloquei, no riso e no humor, havia sempre muito lirismo e muita vontade de que a humanidade fosse feliz.
Mas eu, que quando na Terra gostava de ir ao Corcovado nas vésperas natalinas, realizo agora esse passeio e, surpreendido, percebo a corte imensa de seres dos vários lugares da espiritualidade que ali contemplam a paisagem no alvorecer de um novo dia, augurando aos homens a almejada paz.
No rumo em que andam as coisas ela nos parece um pouco distante, mas encoraja-nos saber que já houve tempos piores, mais negros e mais duros, dos quais a comunidade terrena paga ainda o seu tributo.
Mas agora, como fantasma, olhar o Corcovado é emocionante. Ao nascer do sol, no raiar das primeiras horas da manhã, chega a ser comovente. Milhares de seres que muitos na Terra poderiam chamar de “anjos” do bem, mas que nós chamamos apenas de espíritos e irmãos, descem para as actividades múltiplas a que se filiam em benefício dos seres queridos que estão no mundo, ou em tarefas de auxílio de ordem geral, enquanto que outros alçam as alturas após as tarefas da noite que se finda.
Eu não sabia dessa movimentação naquele lugar, e a primeira coisa que me ocorreu foi saber a razão. Se vocês pudessem ver o que eu vi, naturalmente se surpreenderiam. Seres das mais diversas actividades, das mais variadas regiões, apesar de estarmos na zona brasileira.
Curioso, dirigi-me a um moço que, muito, ocupado, anotava toda movimentação nas idas e vindas do pessoal. Pareceu-me que ele podia esclarecer-me.
Aproximei-me:
— Precisa de ajuda?
Era um homem moço, aparentando uns 35 anos quando muito, fisionomia calma e inteligente.
— Seria orgulhoso se recusasse.
Fiquei meio sem jeito. Não sabia em que ajudar. Ele riu com a alegria.
— O que quer saber?
Sorri também.— Aqui não se pode nem contornar. Vocês sabem tudo. Sabe quem sou?
Seus olhos brilhantes me fixaram.
— Um amigo.
-— É. Acertou. Mas sou repórter, você sabe. Este movimento me surpreende muito. Quando na Terra, sempre que podia subia a estas paragens na véspera de Natal. Gostava de ficar só e pensar. Fazia-me bem. Mas agora tudo é diferente.
— No Natal tudo é diferente.
— Por quê?
— Porque os homens se tornam diferentes: Ao influxo do Mestre, só em pensarem em Jesus, desejam o bem. Já reparou como eles mudam nesta época?
Lembram-se de ajudar o próximo, de confraternizar-se-; Esquecem problemas, há muitos até que querem pagar todas suas dívidas para iniciarem o ano novo com alegria.
— Isto é verdade — concordei. — O homem se toma melhor no Natal.
— Pois é, e isto nos possibilita uma assistência, mais ampla.
— O que você está anotando?
— São os dados estatísticos.
— Interessante! Posso vê-los?
— Certamente. Veja isto, por exemplo, para atendermos um pedido da Terra, levamos às vezes semanas ou meses normalmente. Nesta época, dois ou três dias em muitos casos são suficientes.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 21, 2024 8:22 pm

Parecia-me algo inusitado.
— Como assim?
— Quando alguém na Terra ora e faz um pedido de auxílio, você sabe que, depois de examinado esse pedido pelos nossos maiores, somos enviados para auxiliar sua concretização, caso seja aprovado.
— Eu sei. O trabalho de socorro.
— Você conhece. Mas como podemos socorrer nos casos em que a ajuda requer providências no mundo material?
— É mesmo — objectei admirado.
— Não podemos violentar consciências. Assim, temos que sugerir as providências a quem pode tomá-las e aguardar.
— Então...
— É isso que você pensou. Nesta época, qualquer sugestão ao bem encontra eco nos corações humanos.
— E todos esses grupos que vão e vêm?
— Precisam aproveitar. Você não acha?
— É. Eu acho.
Continuo achando. Este ano, vou novamente ao Corcovado fazer minha prece. Não que ela não possa ser feita em qualquer parte, mas é que a estupenda vista me enternece.
O Natal é uma festa de amor. Que bom se pudéssemos ter sempre o Natal o ano inteiro. Pensamentos fraternos, boa vontade, companheirismo, perdão, auxílio aos pobres.
Pensando bem, esta deveria ser uma festa permanente. Vocês não acham que tenho razão?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 21, 2024 8:23 pm

A NOITE
Gosto muito das madrugadas. Será que sou boémio? Talvez, mas o boémio se pressupõe um amante das noitadas alegres, das bebidas saboreadas nos botequins ou nas boates, na música chorada das saudades e da dor de cotovelo.
Mas eu não sou assim. Que me perdoem os bebedores inveterados, eu não presto culto a Baco em troca das minhas inspirações. Sinto-me poeta, sentimental, quando as sombras da noite cercam de mistério o mundo que nos rodeia.
Claro, não dispenso a música, o violão chorado, o saxofone em surdina
vibrando em nossa intimidade emotiva, a flauta no chorinho singelo ou na imensidão da sinfonia, o violino cigano abrindo as portas à magia e ao amor.
Quem pode ficar insensível? Nós, a quem cada instrumento e cada acorde electrizam, através das cortinas descidas no palco onde se desenrolaram os dramas das nossas vidas já vividas?
Gosto da noite. Acham que sou sombrio? Não acreditem nas aparências. É bem verdade que a noite oferece aos vagabundos e criminosos oportunidade de concretizar suas intenções nefandas. Que fazer?
Por acaso os homens não deturpam todo bem que têm nas mãos? Não cometem atrocidades também à luz do dia?
Quero defender a noite. Ela não tem culpa, assim como o dinheiro, o amor, a fé, a religião e outros tantos instrumentos, do uso que os maus fazem deles.
Para que a música seja boa e nos emocionemos com ela, o músico deve ser bom e ter talento. Já ouviram os péssimos instrumentistas que teimam em tocar, ferindo nos a sensibilidade? Pois é. Enxameiam por aí e ninguém culpou a música por isso.
A noite nos permite ver o brilho das estrelas, as flores exalam os perfumes, o ar se enche de mistério e estabelece clima para as confidências. Apaga os contornos da agitação material do mundo, as máquinas em sua maioria descansam, os trabalhadores braçais deixam seus corpos cansados no leito em recuperação física.
Só os espíritos confabulam, só os intelectuais criam suas mentalizações. Os espíritos superiores descem em auxílio maciço à humanidade sofredora. Que beleza! Na Terra, eu já gostava da noite. Escrevia muito no silêncio cheio de vozes da madrugada, ao sopro do meu mundo de ideias.
Como a imaginação tem asas na calada da noite! Tudo parece sereno e silencioso, mas por um milagre maravilhoso, sob a serenidade aparente, toda vida microscópica e vegetativa, todas as moléculas e fibras, todos os astros e plantas, todas as coisas, tudo se movimenta inexoravelmente, estabelecendo o equilíbrio da vida.
Que beleza! A Terra vista do alto, os grupos iluminados de almas bondosas e abnegadas que em demonstração de amor e de renúncia vêm em bandos amorosamente abrandar os sofrimentos das almas da Terra!
Ah! Se vocês pudessem vê-los, à luz das estrelas, em silêncio e prece, acompanhados em surdina pelos hinos celestiais,' banhando de luz a Terra sofredora e adormecida! Certamente deixariam de lado os comentários maldosos, a mesquinhez dos sentimentos distorcidos, a falta de fé, e sentiriam como eu, humilde e impenitente pecador, ajoelhado diante de tanta magnificência, a alma lavada de arrependimento, qual criança desajuizada e fraca, e manifestariam uma vontade imensa de rezar, de agradecer, de amar, de trabalhar, de fazer tudo isso em silêncio, para não quebrar a harmonia e a magia da noite eterna, luminosa e bela que nos vem abraçar.
Em vista de tudo isso, você não se sente como eu?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 21, 2024 8:23 pm

CINEMA
Na semana passada fui ao cinema. Vocês acreditam nisso? é verdade, sim.
Fui ao cinema.
Muitos perguntarão: como será isso? Existe cinema no Plano Espiritual?
Outros, ainda mais descrentes, dirão, dando-se ares de entendedores:
— Qual nada. Isso é conversa fiada. Morto indo ao cinema? Fantasma não precisa disso!
Alguns, até aproveitarão para fazer blague:
— Fantasmas, se existissem, saberiam tudo, conheceriam tudo, poderiam até espiar outros planetas. Por que iriam querer ir a um cinema?
Não faltarão os maldizentes irónicos que arriscarão sua observaçãozinha:
— Logo eles, que podem atravessar as paredes e espiar todas as brigas, as fofocas, os segredos que desafiam a ficção mais arrojada dos dramaturgos de todas as épocas?
Contudo, eu fui ao cinema e por aqui, onde moro. Aos cinemas da Terra há muitos anos não tenho ido. Estão curiosos? Pois é verdade. Mas se levanto unia ponta do véu do nosso mundo espiritual, não deixarei também de tentar mostrar alguma coisa mais.
Têm sido mostrados já na Terra, através da literatura espírita, alguns planos de recuperação deste lado, bem como os caminhos difíceis do reajuste que a maioria classifica de purgatório. Já se tem falado sobre os hospitais, postos de socorro, e até dos locais onde se usam veículos para transporte das criaturas, tal qual nas cidades terrenas, mas ninguém ainda falou em nossos cinemas.
Haverá, naturalmente, várias classificações desse veículo tão importante para o conhecimento humano que é a projecção da imagem e dos acontecimentos, utilizáveis de várias formas e níveis, mas eu fui ao cinema para divertir-me. Duvidam?
Quando começamos a aprender a valorização do trabalho como uma de nossas grandes necessidades, a ele nos dedicamos com esforço e coragem, e até com alegria. Certamente consideramos uma honra poder trabalhar e servir.
Mas também é certo que o equilíbrio é a forma mais acertada de vida. Assim sendo, o lazer bem aproveitado e a diversão sadia fortalecem nosso espírito.
Por isso, há na cidade onde moro vários entretenimentos. Alguns tão diferentes dos da Terra que nem sequer me permito mencionar. Mas há um cinema, e isso eu posso falar.
Situa-se em larga praça arborizada, que nesta época do ano está coberta de flores. Mas há estações no plano espiritual? Não é da minha competência explicar cientificamente essa ocorrência, mas posso afirmar que as plantas têm seus ciclos e suas particularidades de transformação, o que certamente muitos estranharão, porquanto acreditam que este plano seja criado através das formas de pensamentos dos espíritos.
Como acontece não sei, mas que é assim posso garantir.
Pois bem, nosso cinema é um belo edifício térreo, um salão agradável e acolhedor, onde as poltronas estão dispostas um pouco diferentes dos cinemas terrenos, porquanto estão em círculo completo, como uma arena de touros. No centro, uma área livre.
Quando entramos, fiquei mais curioso do que o comum, e meu acompanhante, um amigo a quem tanto devo desde que cheguei aqui, atalhou, verificando minha surpresa:
— Esperava a tela ao fundo, como na Terra?
— É... acho que sim — ajuntei, meio sem jeito.
Quando nos acomodamos, atentei para o detalhe do tecto, onde havia graciosas pinturas e delicados arabescos. A sala estava lotada. Pude observar, tranquilo, que ninguém trazia sorrateiros saquinhos de balas, velho defeito meu. Nunca tolerei o ruído do papelzinho remexido, e amassado, etc., etc...
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:43 am

Ninguém falava também. Música suave nos repousava o espírito.
De repente as luzes se apagaram, ia começar a sessão. Confesso que senti uma emoção parecida com a que sentia na infância antes do seriado começar, nas saudosas matinés domingueiras. A música continuou, o tecto moveu-se e podíamos ver as estrelas rutilando no céu.. Uma brisa suave penetrou na sala.
Abri bem os olhos. Queria ver tudo. De repente, no centro da sala surgiu uma tela luminosa em forma de esfera semelhante a um vidro leitoso, fluorescente. E aí começou para mim o encantamento.
Assisti a alguns documentários, trazendo notícias da inauguração de novo posto de socorro para os recém-desencarnados da Terra, ainda no umbral, inclusive um belíssimo hospital cujo avanço técnico muito me interessou.
Depois, o filme principal, cujo título daria sem dúvida bom rendimento comercial na Terra: "As Aventuras e Desventuras de um Poeta”.
Parece muito terreno, não é? Mas foi isso mesmo. Um belíssimo filme com excelentes artistas, entre os quais reconheci Lionel Barrimore, Douglas Fairbanks. A actriz, belíssima, por sinal, era-me desconhecida, mas meu amigo informou-me tratar-se de grande estrela francesa desencarnada durante a Primeira Guerra Mundial.
A história mostrava um poeta, no caso o nosso Douglas Fairbanks, remoçado e elegante, caracterizado de acordo com a época do filme, que seria a de 100 anos depois do século actual. Tendo sido poeta romântico no século XIX, reencarnara na Terra dos anos 2070, desejoso de continuar sua carreira de cantador de musas.
O entrechocar das reminiscências dele e da era moderna, de progresso tecnológico, tão diversas do que ele conhecera em sua reencarnação anterior, narradas com graça e espírito de humor que achei geniais, fez-nos sofrer com o pobre romântico que sonhava versejar em noites de lua ao pé de balcões floridos e acabou compondo rimas auxiliado por um incrível computador.
Sacudiu-nos o espírito para nos fazer pensar nos rumos porque os homens se conduzirão frente a tantas conquistas da ciência. Já pensaram o que acontecerá se o homem, tão comodista como sempre foi, deixar de pensar porque isso requer esforço e entregar tudo aos computadores?
Vai amar, submetendo sua união com a mulher querida à apreciação do fabuloso robô. Se ele informar que a união não tem probabilidades de sucesso, então, oh! sofrimento, oh! dor, se separará da mulher amada.
Não pude deixar de me preocupar. Se antes o homem consultava os oráculos, as cartomantes, os adivinhos, agora recorre aos computadores.
E olhem que máquina não tem sentimentos. Dentro em pouco a humanidade estará apática e atrofiada, seguindo as informações dos cérebros mecânicos. E já pensaram se um espírito matreiro, desses que estão espalhados pela crosta da Terra, um diabinho gozador e desocupado, der uma alteraçãozinha na regulagem dessas preciosas geringonças? Deus nos livre. Nem quero pensar!
Mas o nosso poeta, versejando pelo computador, tendo trocado as estrelas pelo acanhado e bem montado estúdio electrónico, acabou tão sem inspiração que, quando terminou sua estadia na Terra, regressou ao plano espiritual Suplicando para ingressar em outras actividades onde pudesse utilizar as mãos no trabalho. Poesia? Nunca mais.
Eis aí nosso filme. Narrá-lo parece-me simples, mas vê-lo foi extraordinário!
A imagem, nessa tela esférica, projectava-se multi-dimensionada, de modo que nos parecia estar em um teatro ao vivo, onde podíamos ver tudo completamente. Será que podem imaginar? Acho que não.
Mas como posso mostrar? Não há meios de comparação na Terra. Fiquei maravilhado. Então, os artistas continuavam artistas. Como pode ser isso?
Meu amigo Jaime observava meu entusiasmo com discreta satisfação.
Quando o espectáculo acabou, ainda permaneci sentado, enlevado, sem querer que aquele encantamento acabasse. Saímos.
A praça regurgitava e as perguntas ferviam na minha cabeça. Jaime convidou, amável:
— Sentemo-nos naquele banco. Estou pronto. Pode perguntar.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:43 am

Sorri descontraído. Transmissão de pensamento é uma beleza! Simplifica tudo, quando não pensamos mal, é claro. Sentamo-nos e eu comecei:
— Os artistas continuam artistas, como pode ser isso?
-— O que esperava? Todos somos os mesmos. A morte do corpo não muda nossa personalidade. Você não está escrevendo para a Terra como sempre fez?
— É, isso é verdade. Mas cinemas, estúdios, ficção, carreira. Tudo me surpreende.
— Por quê? Não se deu conta de que a nossa civilização aqui, nossas cidades, com algumas diferenças ambientais, são igualzinhas às da Terra?
Acreditou que pudesse viver de forma muito diferente da de lá? Aliás, vamos pôr as coisas nos devidos lugares: não é aqui que se copia a Terra, mas os espíritos daqui que renascem lá é que fazem ou tentam fazer o que conhecem e tiveram aqui.
Eu estava mudo, pensando, pensando.
— Quer dizer que os grandes astros do cinema eram artistas daqui antes de renascer?
— Os grandes, sim. Você não notou neles uma determinação e uma autoconfiança que os fizeram lutar pelo que queriam? Passaram fome, dificuldades, mas acreditaram em seu próprio talento. De onde lhes veio essa força, senão de experiências anteriores?
— É. Tem lógica. Eu mesmo queria salvar a humanidade pela medicina, mas as letras me chamaram com força total e acabei encostando o papel de esculápio e dando vazão à verve literária.
— Pois é. Você já fazia isso antes, aqui e na Terra em outras encarnações.
Na França, por exemplo.
Fiquei um pouco embaraçado:
— Melhor esquecermos isso. Acho que não usei bem a pena.
Ele riu com suavidade:
— Não se preocupe. Às vezes é bom recordarmos os erros passados. É vacina eficiente para o futuro. Ri, meio sem graça.
— Gostaria de ver um estúdio de filmagem. Deve ser espectacular! Pensei que por aqui não existisse, ficção.
— A ficção é uma forma de mostrar e contar as histórias que ocorreram sem melindrar ou ferir os sentimentos dos que a estão vivendo na vida real. Jesus contava histórias de ficção baseado na realidade.
Cocei a cabeça, surpreendido. Era verdade. Jesus contara muitas histórias de ficção. Conversar com esses amigos mais evoluídos é uma glória! Para tudo têm resposta.
— Quer dizer que os artistas voltam da Terra e reassumem aqui suas actividades?
— Muitos deles quando estão em condições. Você sabe, na Terra essa profissão é muito perigosa. A arte deve levar aos homens sua contribuição espiritual, conduzindo sua sensibilidade para o belo, educando-lhes os sentimentos, reconduzindo-os ao criador que é o artista supremo. Mas eles, em grande maioria envaidecem-se tocados pelos bajuladores e acabam por mergulhar em processos obsessivos dolorosos e dos quais gastam muito tempo para sair. Mas, ainda assim, temos aqueles que logo começam a trabalhar. O caso de Carole Lombard é um deles.
Arregalei os olhos, curioso. Conhecera a linda Carole Lombard, esposa do famoso Clark Gable e que morrera tragicamente.
— Como você sabe — continuou ele — ela fazia shows para os soldados durante a Segunda Guerra Mundial e sofreu um desastre de avião justamente quando exercia essa tarefa. Passado o primeiro abalo, essa bela e valorosa mulher desejou continuar suas actividades e obteve permissão para voltar aos campos de batalha e trabalhar.
Fiquei abismado:
— Campo de batalha? Na Terra? Como assim?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:43 am

— E simples. Você não ignora que há, próximos aos locais de combate, postos de socorro onde se presta o atendimento aos que desencarnam na luta sangrenta. Essas criaturas, quando conseguem ser recolhidas, permanecem longo tempo em tratamento nesses postos em tristes condições perispirituais. É um hospital como os da Terra, com a diferença de que assiste espíritos desencarnados.
— Eu não sabia! E os artistas dão espectáculos lá?
— Naturalmente. A arte, bem conduzida é excelente terapia de recuperação.
— É verdade.— Pois bem. Lá estão Al Johnson, Clark Gable, Tyrone Power e tantos outros. Carole Lombard, assim que voltou da Terra, não interrompeu suas actividades; continuou atendendo e animando, com sua bela figura, seu sorriso, os pobres soldados.
Suspirei enlevado:
— Que beleza! Como Deus é bom! Mas você mencionou Tyrone Power, Clark Gable; estes desencarnaram muito depois da guerra ter acabado.
— Você pensa que o armistício na Terra liquida o assunto? Não é tão simples assim. Aliás, a paz na Terra tem sido mera aparência. As batalhas sangrentas continuam em várias partes do globo, Vietname, Biafra, Oriente Médio, Rússia, China; onde a paz? Diariamente desencarnam na Terra, pela violência, grande contingente de espíritos. Pode crer que nossos hospitais de socorro estão apinhados.
— Isso é triste! — ajuntei, pensativo.
— É. E depois, estraçalhar é mais fácil do que recompor. Num segundo uma bomba estraçalha um corpo. A recomposição perispiritual é trabalho de anos e anos.
— Mas o perispírito não sofre a acção da mente? Por que demora tanto sua recomposição?
— Porque o espírito ainda não aprendeu a utilizar-se da sua força mental.
Em verdade, pelo ódio, pela revolta, pelo desânimo, ele anula as possibilidades de recomposição rápida. Daí o valor da terapia musical, do espectáculo que eleve essas mentes, chamando-as a outros rumos,
sensibilizando-as, elevando-lhes o moral.
— Puxa! Nunca pensei que o artista fosse tão importante! Deus do céu, vocês já pensaram como seria bom se eles, quando encarnados na Terra, soubessem de tudo isso?
Será que vão acreditar em mim? Tudo isso ainda me parece um sonho espectacular. Como o mundo é maravilhoso. Como tudo é belo! Como Deus é bom!...
Hoje estou particularmente feliz. A vida é dádiva extraordinária. Poder estar aqui, saber tudo isso, contar a vocês.
Sentimo-nos tão pequenos e ao mesmo tempo tão importantes, observando o que podemos fazer de bom e de útil para melhorar o mundo.
Não acham que tenho razão?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:43 am

TEMPERATURA
Como é bom estar de volta! Visitar a Terra, meus amigos, minha gente. Apesar do frio que vocês sentem na pele, podem avaliar o calor que nos aquece a alma por estarmos aqui.
A noite fria e chuvosa não me incomoda. Vocês sabem, fantasma não sente frio nem calor, muito embora os homens ainda acreditem que existem almas a contorcerem-se no fogo do inferno.
Não vou dizer também que tudo seja ilusão, porque só quem viu ou sentiu os sofrimentos que podem “queimar” as almas na dor e na angústia sabe que eles talvez sejam muito piores do que o inferno imaginário transformado pelos homens em bicho-papão de toda a humanidade.
E são piores mesmo. Mas esqueçamos as coisas tristes, porque, se o fogo do inferno queima e inferniza nossos pesadelos, o frio também pode ser instrumento de dor.
Já pensaram num inferninho todo de gelo, sem um pouco de calor para nos aquecer? Sem sol nem lareiras, onde tiritássemos perambulando, sentando-nos em cadeiras de gelo, dormindo em camas geladas e nos alimentando de sorvete?
Fico arrepiado só em pensar. Ninguém ainda inventou esse tipo de castigo, e acho até que acabo de sugerir alguma coisa nova, se não fosse irreverência de minha parte, ao próprio Satanás do mundo.
Sim, porque eles andam soltos por aí. Por incrível que pareça, escondem-se reencarnados em corpos por vezes bonitos e bem vestidos, e em fisionomias de aparência tranquila e equilibradas.
Estão admirados? Pois é a pura verdade. Se esperavam encontrá-los apenas no mundo dos espíritos como companheiros dos homens, seduzindo-os nas tentações do mundo, armando boas ciladas aos anjos guardiões, estão muito enganados.
Embora muitos ainda se repitam nesses velhos papéis no mundo dos espíritos, outros estão como homens na Terra, levando vida normal, misturados com os demais.
Não acreditam? Posso provar.
Por que pensam que a moral anda tão decadente? Por que tantos crimes e tanto desrespeito à pessoa humana? Por que tantos lutando pela paz e tanto sangue derramado? Por que tanta viciação e tanto sexo degenerado? Por que tanta literatura a serviço do mal?
Vocês podem alegar que os homens o fazem inspirados pelos demónios impenitentes. Nós, contudo, podemos esclarecer que, quando o homem não.
quer, ninguém, nem mesmo um ser diabólico voltado ao mal, poderá induzi-lo.
Acham que estou sendo severo? Surpresas da vida neste plano. Quando estamos na Terra, apraz-nos dividir responsabilidades. É-nos muito mais fácil culpar os espíritos e sua influência infeliz pelos malefícios que grassam na Terra; no entanto, quando observamos aqui a luta dos benfeitores e assistentes espirituais para salvar os homens das próprias fraquezas, nos perguntamos atónitos onde, realmente, está a causa da obsessão?
É, falar da temperatura, do frio e do calor não é difícil, mas entrar nos emaranhados e complicados problemas da mente humana, só para os entendidos. Eu não tenho condições.
Só quero dizer que me aquece o coração estar aqui, nesta casa que aprendi a amar, e poder dizer que sou muito feliz por isso.
Alguém poderá me compreender?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:44 am

VIAGEM
O espaço é nosso. Já pensaram nisso? Toda a imensidão nos pertence. Não é mania de grandeza, não, tudo é nosso e precisamos vencer as barreiras que nos prendem a conceitos arcaicos.
Sabem lá o que é ter-se a certeza de que nós não estamos delimitados dentro do nosso amado e sofrido mundo terreno?
Às vezes fico pensando na singularidade da nossa maneira de ser. Gostamos tanto do nosso mundo material, estamos tão bem acomodados na “casca”, que almejamos sair para outros mundos com tudo isso. Com nosso corpo material, nossas espaço naves, nossos costumes, nossos hábitos, nossos alimentos, etc.
Mas acontece que sair assim, além de ser perigoso é ainda muito dispendioso. Poucos têm a possibilidade de fazer isso, por existirem certos requisitos de saúde, etc., etc., que dificultam ainda mais essas escapadas.
E, quando o conseguem, ainda não podem ir muito longe. Já pensaram como nós podemos viajar por esses espaços sem essas dificuldades?
Muitos pensarão que isso só poderá se dar depois de virarem fantasmas como nós, mas outros ainda acham que podem fazer isso na Terra mesmo, procurando sair em viagens astrais, tão perigosas quanto as primeiras, porque se a máquina pode falhar e destruir o corpo dos astronautas, o viajor espiritual improvisado pode enfrentar perigos que desconhece mas que nem por isso deixam de ser tão reais e funestos quanto os primeiros.
A estas alturas, vocês estarão pensando: como então vamos conquistar o espaço? Como astronautas é impossível, como fantasma o preço é muito caro, como encarnados pela mediunidade é ainda mais perigoso. Poderemos um dia conquistar o espaço?
Vocês já pensaram que o espaço não existe? Pois é. O espaço vazio como o imaginamos realmente não existe. Tudo é movimento, vida, actividade. Sabem o que descobri?
Actividade dirigida. Dinâmica dirigida. Tudo planejado. Tudo perfeito.
Vocês já pensaram nestes termos? Pois bem, nós também estamos nesse planeamento. E posso afirmar que tudo isso gira em nosso benefício.
Sabem que somos importantes na Criação? Somos seres pensantes. Parece pouco? Pois eu acho que é muito (apesar de termos muitas vezes pensado mal). Isso significa que tudo é nosso! Que o mundo e toda a Criação é nossa! Não pensem que estou sendo exagerado. Afinal, para quem Deus usou seu talento na obra da Criação? Em quem centralizou suas leis e suas maravilhas?
Para nós. Para os homens. Duvidam disso? Pois é a pura verdade.
Tudo é nosso. Por que estamos tão pobres, por que estamos tão sofridos, por que a vida nos parece fechar todas as portas? Porque não assumimos nosso papel de astronautas do bem no mundo feliz da harmonia universal.
Já pensaram? Nem foguetes, nem fantasmas, nem transes mediúnicos, mas esforço diário no trabalho da disciplina, exercendo o controlo da máquina das nossas acções para a viagem da Evolução.
Que beleza!
Conduzirmos nossos espíritos pela eternidade afora, tendo como veículo nessa viagem a caridade completa, tão completa que atinja a própria integração do ser com a Divindade! Puxa! Já pensaram como isso seria fascinante? Puderam imaginar como nos sentiríamos nessa viagem?
Pois bem, o espaço é nosso, o mundo é nosso, o universo é nosso. O preço da passagem é que nós não nos dispomos a pagar: a renúncia, a renovação.
Isso requer esforço, mas, pensando bem, não acham que sempre valerá a pena tentar?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:44 am

A LIÇÃO
Os estudantes são marotos. Alguém duvida? Acho que não. Espreitam sempre a hora de malhar as fraquezas dos outros. Por quê? Será por não terem ainda assumido “o lugar” adulto que os espera no campo profissional? Será um pouco por vingança, por se sentirem ainda como parte de um grupo considerado carente de conhecimentos?
Não sei. Mas é certo que são marotos. Divertem- se explorando as fraquezas dos colegas, dos professores e até dos familiares e amigos.
Por isso, sempre que envergamos a pele do estudante, cada um de nós tem procurado manter ocultos seus pontos fracos. Os apelidos bem-postos por vezes nos têm desmascarado. Isso nos acontece na Terra, quando, reencarnados, passamos pelo período da adolescência.
Assim pensava eu, mas por incrível que pareça, por aqui a coisa continua.
Vocês pensarão: como pode ser? Estudantes marotos no plano espiritual?
Há quem pense que em nosso mundo estejamos todos compenetrados das nossas responsabilidades e sejamos fantasmas circunspectos e respeitáveis, naturalmente exceptuando os infelizes irmãos do umbral.
Devo dizer que não é bem assim. Como poderia eu, irreverente e imaturo em muitas coisas, com uma verve de humor incontrolável, sentindo-me moleque e jovem, embora tenha vivido muitos anos na Terra, tornar-me de repente sóbrio e disciplinado?
Pois é. Assim como eu, existem muitos outros. Adolescentes em espírito, carregando a malícia e o gosto pelas brincadeiras, a tal ponto que por vezes esquecemos que deixamos a Terra e estamos nas dependências do mundo dos espíritos, que, pela gravidade da situação, imaginávamos sério e bem comportado.
Mas como poderia ser sério e bem comportado se nós estamos vivendo nele? Como poderia ser equilibrado se nós, criaturas humanas, nos transferimos para cá e ainda não conseguimos melhorar o suficiente?
Assim poderão compreender a nossa sala de aulas. Sim, porque frequentamos uma por aqui: Curso de Responsabilidade.
Não que eu não a tivesse tido na Terra. No que se refere a minha vida pessoal, sempre cumpri com meus deveres, saldando os compromissos com pontualidade. Mas o problema da responsabilidade vai além. Nosso modo de viver, nossas mensagens e imagens, tudo quanto fazemos é registrado pelos outros, e dessa forma nossa influência pode mudar seu comportamento e interferir no seu livre arbítrio. Portanto, precisamos saber como proceder.
Quantas coisas fizemos motivados pelos exemplos de outras pessoas? Vai daí que, quando erramos, podemos arrastar connosco várias pessoas, e embora elas sejam fracas e também responsáveis, não deixamos de ter concorrido para isso.
Mas o pior mesmo não é isso. Todos nos influenciamos pelo comportamento ainda falho e leviano, e somos enleados pelos fios incontáveis dos compromissos recíprocos, solicitando reajuste. O mais grave é o líder, o escritor, o homem que transmite uma mensagem e os outros aceitam. O que tem verve para ser ouvido, acatado. Suas palavras são repetidas, saboreadas, compreendidas. Ele por certo é aceito pelos que estão em sua faixa de gravitação mental, no mesmo nível em que se expressa; mas vejam bem, mesmo assim isso não o exime de responder pelo que disse ou fez, já que ele poderia melhorar e elevar essas criaturas que o aceitam e o admiram.
Sim, meus amigos, a responsabilidade do escritor, do contador de histórias, do literato, é muito grande.
Nesse curso estamos vários autores, muitos célebres no mundo, o que me deixa menos triste, porquanto eu, ao lado deles, represento nada. Conforta-me saber que se até eles erraram, eu então até que posso me considerar menos ruim. Mas que tal é o curso?
Filmes nos mostrando a trajectória com todas as consequências de uma obra escolhida como tema, Vocês sabem que eles têm um registro de todos os acontecimentos do mundo e, o que é mais interessante, abrangendo as várias dimensões da vida ao mesmo tempo? Terei sido claro?
Ver ao mesmo tempo o que aconteceu na Terra e na dimensão do nosso mundo. É tão emocionante que supera o filme mais bem urdido por Hitchcock.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:44 am

Ver o homem encarnado agindo, seus pensamentos, os pensamentos dos outros homens que com ele se relacionam e ainda os vários espíritos que os acompanham tentando influenciá-los, alguns para o bem, outros para o mal.
Ah!, que torcida! Vocês podem imaginar. Os bons são os “mocinhos” simpáticos, os “maus” são os bandidos. O pior é que os homens muitas vezes ouvem mais os “bandidos” do que os “mocinhos”. Mas, o que fazer?, - afinidade é lei da Natureza.
Somos mais de 50 estudantes nessa classe. A cada dia eles focalizam uma obra de um dos alunos, mostrando sua trajectória. Já pensaram como é emocionante para um escritor lançar uma edição e poder acompanhar cada livro, saber quem o manuseou, o que sentiu, como o recebeu, que sentimentos provocou neles, quais as implicações emocionais resultantes, sua opinião a nosso respeito?
Não acham formidável? É..., nenhum de nós podia imaginar uma coisa dessas. Cada dia é um na berlinda, e nós, apesar de edificados com a aula, não conseguíamos nos libertar do prazer maroto de dissecar intelectualmente nosso companheiro em foco.
Mas como a justiça é mãe de todos, veio lá o dia em que assistimos, num teatro de São Paulo, a representação de “No País dos Cadilaques”.
Pela primeira vez perdi o dom da palavra. Fiquei mudo. Apesar de não ser peça pornográfica, os enfoques eram maliciosos e pude ver como a imaginação ágil dos espectadores vestia e desvestia minhas ideias, conduzindo-as a extremos verdadeiramente lamentáveis.
A crítica aos costumes que eu me orgulhava de haver formulado assumia forma grosseira e sem expressão, pela maneira com que eu expressara minhas ideias.
Vi, estarrecido, espíritos perturbadores, em atitudes zombeteiras, colarem-se a alguns destes assistentes de forma tão repelente que me fez empalidecer.
Quis sumir dali. Não ter jamais escrito nada, ser analfabeto e burro. Mas não pude. Tive ainda que acompanhar vários deles depois do espectáculo, para ver onde e a que extremos minhas imagens os conduziriam.
Confesso que não tive a intenção de brincar, embora os colegas, por sua vez, tirassem sua desforra da minha cara sem graça.
Saí da aula sério, pensativo, sóbrio e circunspecto.
É..., que preciso mudar. Muitos na Terra não vão acreditar em mim, mas vocês, que são meus amigos e com quem eu tenho conversado tanto, acham que depois de tudo isso eu poderia ser o mesmo?
Não acham que todos temos o direito de melhorar?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:44 am

AS CORRIDAS
Vocês já foram assistir a uma corrida de cavalos à noite? Bonito, não é? A grama verde, bem tratada, o cenário regiamente iluminado, a multidão bem vestida que lota as dependências do prado. Como é agradável!
Ver a elegância das mulheres bem cuidadas, o porte bem escovado dos cavalheiros e bater um papo com os amigos.
Pode-se falar de tudo, sem preocupação, de teatro, de cinema, de política, e até de negócios. Pode-se fazer um “esquema infalível” para as apostas e saborear as emoções do turfe.
Durante o espectáculo, as emoções, os rostos contraídos, a dissimulação na derrota, a alegria orgulhosa da vitória.
É bonito, não é? Bonito e agradável. Eu, quando na Terra, por vezes gostava de ir até lá. Nunca fui expert no assunto e. confesso que o jogo não me atraía, mas observar as pessoas, os tipos, as emoções, sempre me agradou.
Quem gosta de escrever não tem melhor motivo para seus argumentos do que o ser humano, sempre imprevisível e original. Tão original que por muitas vezes a realidade acaba excedendo a ficção.
Mas escrever requer conhecimento da personalidade, e em nenhum lugar se pode observar as criaturas como nesse belo espectáculo, com os lindos e bem cuidados puro-sangues, seus jóqueis coloridos e franzinos, galopando com garbo e ligeireza.
Assim, desse contacto nascem por vezes nossos personagens e vivem na realidade do povo.
Visitando a Terra agora, para mim muito diferente de como a via quando vivia na carne, redescubro encantos novos. Vejo-a multidimensionada. Além do mundo mais denso de vocês, vejo o meu mundo, a dimensão de vida onde me encontro, e isso modifica tudo.
Como explicar? A densidade do mundo material limita a percepção dos homens, reduzindo-a quase aos cinco sentidos, que estão, por sua vez, dimensionados em faixas restritas e limitadas. Nenhum homem pode ver um micróbio a olho nu. Nós os vemos. Podem entender? Nós vemos a matéria densa da Terra mais intimamente, e além disso, a matéria mais rarefeita do mundo onde estamos agora, surpreendentemente sólido e objectivo para nós. Parece complicado? Parece apenas, porque é tudo muito natural, como se tivéssemos possibilidade de colocar uma nova lente em nossos olhos, mais potente, mais clara.
Pois é. Isso muda muito a paisagem para nós. Já dizem na Terra que nem tudo o que reluz é ouro, e posso afirmar que é verdade. Aprendi, nessas visitas que tenho feito ao nosso querido mundo terreno, como a beleza e a calma da Natureza atenuam a realidade do pensamento humano.
Podemos ver um infeliz alcoólatra estirado na sarjeta, mas a paisagem ao redor continua tranquila, o céu pode estar azul, as flores podem recender perfume e os pássaros continuam seus cantos alegres e festivos. Há calma e paz ao redor dele. Isto ocorre do nosso lado. Podemos ver o quadro completo, que a bondade divina vetou à curiosidade humana. Os vírus que corroem o organismo, a degeneração dos tecidos, a emanação de energia negra e viscosa de sua mente, sem falar dos companheiros infelizes que coabitam aquele corpo.
Por isso podem perceber como a nossa paisagem é outra, bem diversa da que conhecíamos.
Uma noite dessas fui às corridas aqui em São Paulo. Acham que um fantasma que está se evangelizando não deve ir a esses lugares? Mas eu fui.
Não para bisbilhotar, mas para saber como é. Sou curioso. Quem não é?
Afinal, ninguém aprende sem investigar. Fui lá para observar e talvez escrever. Curiosidade literária.
Confesso que me decepcionei. O ambiente terreno está bastante modificado.
A elegância de antes já não é uma constante e nota-se a popularização do espectáculo. Não que eu seja esnobe, mas dava gosto ver o povo bem vestido.
Entretanto, a beleza do local e do espectáculo ainda é a mesma. Só para mim ficou diferente. Surpreendeu-me a quantidade de trabalhadores do bem nesse local. Na realidade, cada uma das pessoas, em grande maioria não estava só.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:45 am

Já entravam no prado acompanhadas por alguns elementos infelizes do nosso plano, o que colocava de prontidão os espíritos amigos e guardiões dessas almas. Podem compreender? Cada um entrava com suas companhias habituais. Até aí, nada de novo; porém, o que me surpreendia é que havia um grupo de "fantasmas” que aguardavam suas "vítimas” lá dentro.
Segundo pude observar, era um grupo bastante numeroso que trabalhava em conjunto, sob a chefia de uma entidade de olhos brilhantes e magnéticos que, confesso, fez-me sentir um arrepio desagradável. Antes da chegada do público eles já se tinham agrupado. Eu, naturalmente, invisível a eles, o que sempre me delicia.
Reunidos, falavam animadamente, estabelecendo plano de acção.
Estarrecido, pude compreender que muitos deles, sofridos e revoltados, mostravam-se empenhados em um plano de vingança, na revanche de outros tempos. Esperavam as vítimas deliberadamente com o fim de arrastá-las ao vício e à miséria material e moral.
Acercando-me dos trabalhadores do bem que discretamente se reuniam em prece, quando se fez oportuno indaguei, assustado:
— Eles vão mesmo "atacar” suas vítimas?
Um simpático atendente respondeu, solícito:
— Não duvide. Estão muito bem preparados. Para isto lutam há muito tempo.
Fiquei preocupado.
— Não seria possível detê-los?
— De que forma?
— Falando com eles, esclarecendo, impedindo-os pela força se preciso.
O assistente sorriu com tranquilidade.
— Acha possível? Nunca esteve aqui antes, com certeza.
Abanei a cabeça, meio sem graça. Ele continuou:
— Eles já foram advertidos de todas as formas possíveis. Não aceitam conselhos, estão revoltados, cegos. Não podemos intervir pela força. Não temos esse direito nem permissão. Cada um é livre para semear.
— E a vítima? Como pode se defender?
— Eis o problema. De todas as formas nós procuramos esclarecer, emitindo pensamentos bons, mostrando-lhes os perigos a que se expõem alimentando paixões inferiores. Temos conseguido alguns resultados, mas quase sempre o indivíduo se atira ao vício prazerosamente, e, a partir daí, nada podemos fazer. Os irmãos infelizes assumem o comando, concretizando seus objectivos de vingança e destruindo anos e anos de esforço para a redenção daquela criatura com a reencarnação. Que fazer? É a escolha de cada um. Somos livres para experimentar.
Olhando as fisionomias sinistras e duras de alguns amigos que nos portões principais aguardavam suas vítimas, senti medo. Esqueci o espectáculo, o cenário da Natureza, os trajes, tudo.
— Não há nada que possamos fazer? —- indaguei aflito.
— Nossos recursos são poucos. O ambiente mental aqui é difícil. Muitas vezes conseguimos influenciar os iniciantes, fazendo-os perder grandes quantias. Assim, os afastamos temporariamente. Mas também nossos opositores lutam para que eles ganhem; então, se conseguem, o indivíduo se entusiasma e mergulha na ambição e no vício.
— Quer dizer que temos de os fazer perder? — indaguei admirado.
— Claro. Se você perdesse desde o início, continuaria a jogar?
Comecei a pensar que nunca tivera sorte no jogo. Sempre considerara isso um "azar", não é que fora um bem? Que sorte! Minha defesa deve ter funcionado, porque senão quem sabe a estas horas eu estivesse em piores condições. Afinal, quem poderia pensar?
Olhei o fantasma mal encarado que aguardava no portão.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 11:45 am

— Ele espera a vítima que seu companheiro foi buscar. Um jovem de 20 anos que já está envolvido completamente.
— Quer dizer que sua acção não se circunscreve a aqui?
— Certamente que não. O trabalho é mais completo. Elementos são destacados para acompanhar a vítima trazendo-a para aqui.
— Ele poderia evitar?
— Certamente, se o quisesse. Mas a esta altura, quando a simbiose já se processou, dificilmente terá forças para sair sozinho.
— Obsessão?
— Sem dúvida. Mas não podemos nos esquecer que a própria vítima, se é que podemos chamar assim, permitiu o envolvimento e até facilitou. Diante disso, o que podemos fazer?
— O trabalho de vocês é difícil e sacrificial — ajuntei admirado.
— Muitas vezes não saímos do que vocês médicos chamam de "profilaxia”, buscando evitar que façam novas vítimas, influenciando os iniciantes. Se conseguimos afastar alguns, nos consideramos satisfeitos.
Sorri ante a alusão a minha profissão na terra. Não há o que se oculte desses amigos percucientes.
Parei para observar. A noite estava linda, o céu cheio de estrelas. As luzes feéricas. Os rostos alegres e os trajes coloridos das mulheres, suas joias, seu perfume. Os cavalos, belíssimos, garbosos, já se preparando para a largada.
Tudo parecia alegria e tranquilidade.
Vislumbrei, entre todos os rostos, um, pálido e tenso. Um jovem. Ao lado, o fantasma do portão abraçando-o firme.
Não pude mais tirar o olhar do seu rosto. As emoções sucessivas, a tensão, o desgaste emocional, o “azar” repentino, o dinheiro que furtara da mãe para jogar. Senti náuseas. Onde a beleza da noite estrelada? Onde o espectáculo elegante? Onde o brilho do entretenimento social?
Fiquei melancólico. Que fazer? Quisera trazer a vocês sempre alegres realidades. Mas hoje, escolhi sem querer um triste local para visitar. Podem me perdoar?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:29 pm

VOLITAÇÃO
Vocês já ouviram falar em volitação? Certamente que sim. Mas vocês já experimentaram volitar? Aí é que eu acredito que vocês fiquem embaraçados.
Há quem se lembre de ter "voado” em sonhos, há quem em estado de
sonolência tenha se sentido cair, despencar, com desagradável sensação de susto ou de insegurança. Isto porque o corpo denso impossibilita o uso dessa faculdade há quase todos os espíritos reencarnados.
Quando estamos na Terra, poder volitar se nos. afigura um poder fantástico que nos transformaria em “super-homens” ou em algum outro personagem da história em quadrinhos.
Mas volitar é uma possibilidade tão real para o espírito que ele pode fazer isso naturalmente e com a velocidade do pensamento.
Vocês duvidam? Têm esse direito, mas isso não modifica a situação, apesar de tudo. É bem verdade que, por causa disso, há muitos espíritos fora da carne que caminham por aqui utilizando os próprios pés, à maneira terrena, condicionados por um automatismo que a mente alimenta. Eu também caminhei assim à
maneira da Terra, até descobrir que podia utilizar outros meios de locomoção além dos animais, dos ônibus ou dos aviões.
Vocês me acreditariam se eu lhes contasse que aqui ainda existe quem prefira o lombo de burro ou o carro de boi, tanto quanto os aviões ou os ônibus?
Em minhas andanças na Terra tenho visto, admirado, espíritos desencarnados entrarem na fila do ônibus, esperar pelo táxi, e há até alguns que, não tendo tido chance de fazer uma viagem ao redor do mundo quando vestiam a carne, realizam esse desejo divertindo-se em conhecer lugares históricos ficando em ricos hotéis ou iates de luxo — hoje, aliás, pouco numerosos. Eles se comprazem em fazer turismo e em participarem da vida social da elite.
Certa feita, quando eu acompanhava um amigo encarnado em uma dessas viagens, preocupado porque ele estava na iminência de ter um enfarte e eu me propusera a assisti-lo se necessário — naturalmente sem que ele me visse, porque, além de não crer em fantasmas, ele ficaria apavorado — presenciei um caso assim. Confesso que me deliciei nessa viagem revendo o cotidiano dos privilegiados sociais, com os entretenimentos habituais dos navios de luxo e a disposição dos viajantes de aproveitarem tudo, muitos dos quais realizando um sonho há muito tempo acariciado.
Eu pude observar um espírito que viajava como turista, divertindo-se a valer. Não me contive. A experiência era inusitada. Espírito turista, eu nunca tinha ouvido falar.
Sintonizei com ele para ser notado e me aproximei entabulando conversação:
— Como é lindo o dia, não? — iniciei, na falta de outro tema melhor.
Ele me olhou com naturalidade. Era alto, elegante, vestia-se com roupa desporto, e aparentava uns 40 anos.
— É — respondeu, bem humorado. — Está óptimo.
Tentei sentir-lhe o pensamento. Estava calmo.
— Não o tinha visto antes — tornou ele educadamente.
— Cheguei hoje — esclareci.
— Como veio? Algum avião especial?
— É — tornei embaraçado. Estávamos em alto mar.
— Você deve ser importante. Sabe, eu esperei toda minha vida por essa hora. A viagem era o meu sonho quando vivia na Terra.
— Ah! — fiz aliviado. Ele sabia! Como podia ser? Ele continuou alegre:
— Trabalhei como funcionário público toda minha vida. Jamais pude sair dos limites do meu Estado. Eu sou do Rio de Janeiro. Mas coleccionei todos os roteiros de viagens e sonhei ganhar no bicho para poder realizar esse desejo.
Nunca pude. Casei, tive dois filhos e aí, então, vivia enforcado.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:29 pm

Curioso, indaguei:
— E agora? Como conseguiu?
— Bem, a princípio não pensei que pudesse. Fui doente durante muito tempo e depois que deixei a Terra não sarei tão depressa quanto se diz. Sempre pensei que quando a gente morresse pudesse ver tudo, saber tudo, e que as doenças eram do corpo.
Bateu no meu ombro amigavelmente e continuou:
— Puro engano. Tive que ir para o hospital. Lá, fui muito bem tratado; afinal, acho que nunca fiz mal a ninguém. Mas eu não conhecia pessoa alguma.
Outro engano meu, eu pensava em rever meus parentes mortos. Ninguém me estava esperando. Então eu pensei: onde ir? Uma enfermeira gentil queria levar-me a uma colónia de recuperação, dizendo que eu precisava refazer-me, mas eu acho que ela tinha intenção de me abrigar, acreditando que eu não tivesse como me manter. Não gosto de ser pesado aos outros. Sei cuidar de mim.
Olhei-o e a custo consegui esconder a estupefacção. Estava falando tranquila e educadamente.
— Continue — pedi.
— Bem. Insistiram para que eu ficasse, mas resisti. Afinal, estava morto. A escravidão tinha se acabado. Não era mais o funcionário público, estava livre do casamento, dos filhos, do aluguel, do alfaiate, do mercado, do hospital, do horário, de tudo. Queriam aprisionar-me de novo. Acha que eu iria?
— Eles não queriam prendê-lo, queriam ajudar a sua recuperação — arrisquei, cauteloso.
— Sei que tinham boa intenção, mas eu tinha sede de viver, ver o mundo, ser livre. Saí do hospital deliciado, sentindo o gosto da liberdade! Pode imaginar o que seja?
— Posso — respondi convicto.
— Sem rumo, onde ir? Isso certamente me apavoraria quando na carne;
agora, me fascinava. O mundo era meu! Tudo quanto me fora proibido pela falta de dinheiro, agora eu poderia fazer. Tomei um ônibus e calmamente viajei, sem pensar no troco, no cobrador irritadiço, nos empurrões e no cheiro de suor. Isso não me afectava. Fui a uma agência de viagens e lá procurei saber do próximo cruzeiro. Queria viajar, ver outros povos, outros países; agora, aqui estou.
Parecia simples. Mas eu estava admirado.
— Está apreciando a viagem?
— Muito. A comida é de primeira, as bebidas são estrangeiras, e os divertimentos muito agradáveis.
— Você se alimenta bem? — indaguei curioso.
— Muito bem. Você sabe, a comida é muito bem feita e muito variada.
— Mas como você pode comer sem corpo?
Ele riu da minha ingenuidade.
— Você passa fome?
— Não. Tenho o suficiente.
— Pois eu posso escolher conforme O meu capricho. Há pessoas de gostos diferentes, e é só ligar-me a elas e apreciar. Elas ficam alegres, nem percebem que dividem comigo. Apesar de conhecer o assunto, fiquei um pouco chocado.— Não acha que poderia passar sem isso? — aventurei com naturalidade.
— De modo algum. Como poderia ficar sem comer? Agora preciso ir. Vou jogar um pouco de póquer. — Diante da minha estupefacção, ajuntou: — É divertido. Posso ver as cartas do adversário e escolho o meu parceiro, ajudo-o a jogar. Ganhamos sempre, é claro. Depois festejamos juntos, bebendo um pouco ou namorando belas mulheres. Agora preciso ir. Acho que já vi sua cara em algum lugar. Por acaso morou no Rio de Janeiro?
— Morei — respondi meio sem jeito.
— Onde será que já nos vimos antes?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:30 pm

Ele se foi, contrafeito; custou-me um pouco aceitar aquilo a que acabara de assistir. Durante vários dias que passei no navio, ou que a ele voltei para ver meu amigo, pude observá-lo, alegre, activo, sempre ao lado de algumas pessoas às quais envolvia com facilidade, participando de suas vidas.
Parece injusto isso? Não tenho capacidade para julgar. Mas até quando ele permanecerá assim? Só Deus sabe. O que eu notei é que ele, apesar de tudo, só passava por portas abertas, caminhava como os demais, e inclusive mudava de roupas conforme a hora e a actividade, o que me surpreendeu muito.
Como um espírito inteligente pode se prender assim? É difícil saber. Mas volitar é algo diferente e muito agradável. É pensar e ir, sem esforço nem dificuldade, até o local onde deseje. Mas não pensem que a gente não sente nada. Dá assim como um calor no peito, e se eu pudesse encontrar uma analogia para explicar em linguagem humana, diria que é como se houvesse uma hélice girando no peito, dilatando o coração, como que exteriorizando energia e simplesmente indo.
Será que compliquei muito? Espero que não. Afinal, sonhar que se está caindo ou voando, embora possa ser desdobramento do espírito, não é a volitação consciente, pela acção da vontade e em plena lucidez.
Estão com inveja de mim? Pode ser, mas na hora de comprar a passagem de volta ninguém acha que está na hora.
Sabem lá o que seja volitar, sem filas nem congestionamentos, sem dinheiro nem bagagem?
Em todo caso, preciso esclarecer que, apesar do que vi, nem sempre o espírito consegue se transformar em turista depois da morte. Não planeiem viagem desse porte, porque aquele pobre amigo, depois de algum tempo, foi recolhido a um sanatório de uma colónia extra-terrena em péssimo estado, viciado em álcool, em jogo e em dolorosas condições. Quando me interessei pelo seu caso, fiquei sabendo que ele, em encarnação anterior, tinha sido um estroina que botara fora a fortuna paterna e, depois de longo sofrimento, deliberara renascer, tendo solicitado como auxílio a falta de dinheiro, os encargos de família, o emprego contensivo.
Triste, não? Aguentou tudo na carne, mas, assim que pôde, realizou tudo de novo.
Por isso, amigos, turismo mesmo, só com finalidade do bem. Acham que estou sendo grave?
Se eu fosse vê-los à noite, vocês gostariam de aprender a volitar comigo? É um treinamento útil para mais tarde, mas, antes de concordar, procurem ter certeza de que sou eu mesmo. Combinado?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:30 pm

ASTROLOGIA
Vocês acreditam na influência dos astros?
Ninguém pode negar que eles influenciam os ciclos ecológicos e movimentam de certa forma as forças da natureza.
Será que eles têm influência em nossas vidas? Por eles se pode determinar aspectos do nosso comportamento ou do nosso futuro?
Essas perguntas têm sido formuladas em todos os tempos, e há quem acredite que a resposta seja sim. Quanto a mim, não tenho condições para ir além da curiosidade, embora ainda pense que aceitar muito essa influência seja anular nosso livre arbítrio.
Mas o curioso é que, mesmo assim, todos lemos nossos horóscopos nos jornais ou revistas, e, mesmo querendo negar-lhes a veracidade com ar superior, intimamente guardamos suas previsões, respeitando-as.
Se o dia não favorece viagens, encontramos a maneira indirecta de deixá-la para o dia seguinte. Podemos adiar o fechamento de um negócio ou de um contrato para depois, se os prognósticos foram desfavoráveis.
Isso, com o tempo, pode vir a tomar-se até uma dependência. Será que esses horóscopos são criteriosa- mente elaborados? Será que por vezes eles não são modificados como tudo o mais, conforme os interesses do astrólogo?
Se nós sorrimos dessas extravagâncias, nem sempre elaboradas dentro das regras dos estudiosos da ciência, dela nos restando apenas o reflexo supersticioso de nossas crendices passadas, pessoas há que os lêem como um oráculo, fascinadas pela magia cabalística de seus sinais esotéricos.
Esses escravos das forças dos astros conduzem suas vidas sob a vigência dessas elucubrações, e mesmo depois de mortos na carne ainda permanecem jungidos a esse estranho fascínio.
Vocês não acreditam? Mas é verdade. Por aqui existem astrólogos, futurólogos, cultuadores de seitas as mais diversas, trazidas da experiência terrestre e que por vezes vêm a constituir-se, pelas mudanças de estado ou de vida, em verdadeiro sincretismo religioso.
Estão admirados? Por acaso ao morrer o espírito não encontra a verdade, a revelação do além, o instrutor que o esclareça e o encaminhe?
Encontra sim. Mas ele não aceita e não quer enxergar as coisas como são. Vocês já experimentaram conversar com alguém que pertence a uma determinada seita e tentaram convencê-lo de que ela está errada?
Pois é, pura perda de tempo. Ele nem vai ouvir. As ideias são forças que o ser constrói e alimenta, e são muito difíceis de mudar. Às vezes só a dor, a doença, a provação, podem fazer enxergar certas coisas. Por isso, o nosso panorama por aqui não difere muito do da Terra quanto ao homem em si e seus anseios.
À cada passo somos surpreendidos por coisas diferentes, e, embora vocês tenham motivos para estranhar, posso dizer que os astrólogos aqui continuam suas actividades, reunindo-se em sociedades organizadas com muitos seguidores.
Na Terra, vocês sabem que eles não tem união de classe. A concorrência não lhes permite. Aqui, continuam fascinados pelas descobertas novas deste mundo multidimensionado onde nos situámos.
É difícil aceitar? Mas existem. Pude visitar um desses grupos, liderado por um desses estudiosos, que desenvolvem intensa actividade e apresentam estatísticas verdadeiramente surpreendentes, fazendo retrospecto astrológico de várias encarnações de seus frequenta- dores, onde eles tentam demonstrar a influência das forças astrais no ciclo que movimenta o ser em sua evolução.
Conversando com o líder, uma figura simpática cujo olhar percuciente e alegre de quando em vez se abstraía, parecendo perder-se no infinito, percorri o prédio cheio de gráficos e aparelhos que eu, em minha inexperiência, classifiquei como semelhantes aos computadores da Terra, cheios de luzes coloridas, botões e com um planetário imenso, que faria inveja ao mais bem aparelhado observatório terrestre.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:31 pm

Inclinado a perguntar, fui informado que a esse grupo, respeitado pelo seu trabalho sério dentro da astrologia, fora permitido construir esse observatório com seu próprio esforço e onde podiam prosseguir seus estudos e até colaborarem na programação evolutiva, com apresentação de programas correctivos dos desvios ecológicos provocados pelos abusos humanos.
Não contive a curiosidade, surpreendido por um trabalho sério e inesperado, e indaguei:
— Vocês aqui têm um verdadeiro laboratório das forças que movimentam as energias da Natureza. Eu pensei que a astrologia só cuidasse do comportamento humano e das influências dos astros em nossas vidas.
Meu cicerone olhou-me calmamente e esclareceu:
— Quando desconhecemos o assunto, geralmente usamos os conceitos empiricamente. A ignorância e o abuso têm desvirtuado muito essa ciência, como, aliás, tem acontecido com todas as outras.
— Então os astrólogos, os criadores de horóscopos da Terra estão certos?
Existe mesmo essa determinação dos astros disciplinando e conduzindo nossas vidas?
Ele parou, cofiou a barba grisalha que lhe emoldurava o queixo e respondeu:
— A Astrologia é uma ciência. Mas diríamos que os seus observadores na Terra, deixando de lado os curiosos e os aventureiros, referindo-nos aos estudiosos, não possuem ainda elementos de observação mais acurada, como os que nos felicitam aqui. Eu mesmo na Terra, há muitos decénios, dedicava-me ao estudo, acreditando que a destinação da Astrologia se - reduzisse às previsões do futuro ou a análise da personalidade humana. Contudo, chegando aqui, após longo período de esforço, mercê de Deus, pude descobrir que sua finalidade é muito maior e mais profunda do que eu pensava.
Fascinado pela figura calma e simpática do meu interlocutor, eu ansiava por descobrir e compartilhar daquele mundo para mim desconhecido.
— Isso me surpreende. Se não importuno, gostaria de saber mais.
— Você vai perguntar o que achamos da Astrologia e para que ela serve.
Sorri contrafeito. Nada como ser entendido logo. Ele continuou:
— Venha comigo.
Em frente a um painel redondo de mais ou menos um metro de circunferência, ele accionou um botão e pude ver sua superfície, como uma tela de TV da Terra, tomar a coloração alaranjada; depois tomou-se azulada e milhares de partículas alaranjadas apareciam, circulando como um cone.
Achei lindo ver e ele esclareceu:
— Isto é apenas um pouco de ar terrestre, para teste. Esses tubos saem da esfera, são ligados mais a cada astro do Sistema Solar, dissociados, individualizados.
— Quer dizer que a Lua está ligada a um desses tubos, Marte a outro, etc.?
— Isso mesmo. A emissão energética da Lua está neste aqui e, como pode ver, tudo em separado.
— Como conseguiram? Como sabe que a influência de outros corpos não interfere?
— Temos aparelhos especiais e controlamos isso. Mas com esses tubos podemos observar sua emissão energética e sua absorção, em todo seu ciclo posicionai e sua influência nos corpos da atmosfera terrestre.
— Mas isso é uma loucura! Como conseguem?— Trabalho de longos anos e de muitos companheiros dedicados. Então, isolando cada condensação de matéria, cada movimento, inclusive da Terra, podemos notar a coordenação das forças da vida movimentadas ordenadamente nesse universo maravilhoso de Deus.
— Estou encantado, e confesso que é difícil entender toda essa ciência, mas diga-me... E verdade que tem procurado ajudar a reequilibrar a ecologia terrestre com esses métodos?
— Venha ver. Aqui neste gráfico, -neste painel, há um mapa de uma região da Terra seriamente prejudicada pela detonação da bomba atómica.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:31 pm

No painel, accionado, surgiu uma paisagem terrena onde a terra estava ressecada e coberta de rachaduras. A desolação era assustadora colocada na multi-dimensão; a vida microscópica desorganizada provocara horrível ulceração, se é que podemos chamar assim, o que me causou grande mal-estar.
Não pude evitar o arrepio de terror.
— Aí não há vida de forma alguma — aventurei assustado.
— É... Mas, accionando as forças de determinados astros, poderemos movimentar elementos e, com a ajuda do tempo, isolar essas aberrações, talvez requeimando-as com as lavas vulcânicas ou desencadeando as faíscas eléctricas com tempestades que poderão conduzir novos germes de vida naqueles sítios, quando tudo estiver propício.
Eu estava mudo . Jamais pensara que os astros pudessem fazer tanto.
— E as pesquisas de reencarnação? Vocês fazem os horóscopos para quem vai reencarnar?
Apesar do meu tom de blague, ele percebeu que havia respeito em minha voz:
— Você está precisando de um?
Senti um arrepio de medo.
— Não por agora. Mas é possível?
— É fora de dúvida que a evolução e a vida se movimentam por ciclos onde certamente toda a Natureza participa. Assim, não podemos negar que os astros influenciam a vida e atuam na movimentação cíclica dos seres.
— Quer dizer que é verdade? Os astros determinam o carácter e a personalidade do homem?
Ele riu, bem-humorado:
— Essa é uma inversão de valores muito comum ao homem da Terra.
Dividir sua responsabilidade com os astros é tão Cómodo quanto acreditar no destino inexorável e fatal; proporciona-nos uma fuga à responsabilidade.— Não estou entendendo...
— É fácil. Não são os astros que determinam nossas qualidades ou nossos vícios. Isso é uma variante do nosso espírito e de nossa inteira responsabilidade. Contudo, há uma lei de afinidade que determina a associação de forças e que condiciona os ciclos de cada pessoa de acordo com sua emissão de energia, e que a toma influenciável por esta ou aquela situação astrológica.
— E isso?
— Isso determina seus ciclos evolutivos no tempo, accionando sob que influência ela irá reencarnar, as épocas em que tais e tais lutas sobrevirão e, ainda, seu desligamento do corpo de carne se dará.
— Isso é fantástico!
— É apenas a Natureza em movimento. E note que há o campo individual e o colectivo. É fascinante esse estudo.
Minha cabeça dava voltas. A grandiosidade da Criação e ao mesmo tempo sua integração e harmonia me deixavam mudo!
Quem diria! Os astros com força activa na Natureza. Que maravilha! Poderá haver felicidade maior do que conhecer a grandiosidade da Criação?
Olhei aquilo tudo com profundo respeito. Quem havia de dizer! Senti-me muito pequeno diante do que pude perceber, mas, ao mesmo tempo, tão grande diante do vir a ser. Tanto o grande quanto o pequeno estão juntos na matemática de Deus. Gozam do mesmo carinho, da mesma protecção.
Quanto tempo ainda gastaremos para aprender?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:31 pm

ONTEM E HOJE
Apesar do dia ser claro, quando chegamos ao local de socorro, densa neblina nos envolveu. A equipe silenciosa de trabalhadores, habituada às tarefas, acendeu poderosa lanterna a nos guiar até uma charneca, onde se ouviam gemidos e lamentações.
A dor se estendia naquele campo onde centenas de almas jaziam em tristes condições.
Eu não comparecia como médico, mas como repórter. Assim, apesar de tocado nos sentimentos, perguntei ao amigo que comandava o grupo:
— Por que estão aqui? Por que não são levados aos hospitais para melhor atendimento?
— Estão aqui porque esta atmosfera é óptima para absorção dos resíduos mais densos. Tal como na Terra os doentes buscam as estações climáticas para restaurar a saúde física, estes sítios absorvem os elementos nocivos, possibilitando recuperação ao perispírito combalido. Só depois de escoados esses elementos poderemos transportá-los para outros locais.
Eu estava admirado. Para mim era novidade. Que acontecimentos na Terra poderiam ter dado origem a tantos sofrimentos?
O assistente, lendo meus pensamentos, informou:
— A guerra é um deles. A violência e a intolerância representam tóxicos perigosos que imantam o corpo espiritual, acabando por lesionar a saúde física. Sofrendo o desencarne, o remédio é colocá-los por tempo indeterminado em locais como este, até que os resíduos destruidores sejam eliminados. Neste grupo estão também aqueles que se prenderam ao regime negro da escravidão. Esta multidão que você vê aqui compõe-se tanto de escravos rebeldes como de senhores cruéis. A violência é o factor preponderante
Impressionado, aproximei-me de um ser em que a custo consegui divisar a fisionomia transtornada. Homem branco, meia idade, rosto embrutecido, traços grosseiros, gemia murmurando palavras ininteligíveis.
— Procure ouvir o que diz — convidou meu amigo, — preste atenção.
Concentrei-me em sua mente e vi: ele moço, bonito, muito bem vestido, dando ordens, senhor de engenho. Duro, oferecendo lautos banquetes, vigiando os escravos, onde a comida era péssima e escassa. A doença grassava pela falta de asseio e de alimentos. Até que ele desencarnou, envenenado por um escravo que se acumpliciara com a cozinheira. O ódio tomou conta dele, que durante anos perseguiu os assassinos; agora, exausto e sofrido, preparava-se para futura encarnação. Estava ainda muito revoltado. Pude ouvir o que dizia:
— Me vingarei! Malditos, eu me, vingarei!
Meu amigo afagou-lhe a cabeça dizendo-lhe com bondade:
— Perdoa e busca esquecer! Se quer melhorar, não pense em vingança, perdoa!
Lágrimas copiosas começaram a rolar em suas faces pálidas.
— Ah! Se eu pudesse esquecer! Estou cansado... não suporto mais... farei qualquer coisa para isto.
— Perdoa! Perdoa agora. E nós poderemos recolhê-lo!
Pude observar que cenas do passado se misturavam aos sofrimentos do presente, onde ele lutava para vencer a raiva e a revolta. Por fim, cansando, caiu em prostração.
— E então? — indaguei penalizado.
— Este logo estará em condições de receber socorro.
— Mas se ele deve esgotar resíduos e continua a alimentá-los pelo ódio, pode demorar muito a sair daqui.
— Certo. Ê por isso que depende unicamente deles abreviar ou alongar seus sofrimentos. Mas há casos melhores. Não pense que todos sejam assim.
Muitos se conscientizam dos próprios erros e, arrependidos, pedem chance de recomeçar. São recolhidos em postos adequados, estudam, preparam-se e, com o carinho dos prepostos do bem, reiniciam vida sacrifical na Terra, onde, ao lado do resgate individual de seu passado, procuram trabalhar pelos que sofrem, condoídos e sensibilizados pelo que viram e sentiram neste vale de dor.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:31 pm

Respirei aliviado.
— Quer dizer que estão recuperados?
— Entre ser doente e ter a chance de ajudar vai grande distância. Nota-se esforço e progresso; entretanto, a recuperação só se dará quando conseguirem realizar o programa a que se comprometeram.
— Ah!... E agora, onde estão eles?
— Em vários lugares. Alguns, deste lado da vida, preparando-se e já exercendo tarefas de socorro, mas grande parte já está reencarnada na Terra, onde dispõem de grandes recursos, uma vez que é na vivência que conseguimos experimentar e aprender. — Serão privilegiados? Onde se escondem? Estarão no campo da medicina ou da educação?
— Todos estes factores são indispensáveis ao progresso, mas se você visitar a Terra, logo os poderá identificar. São pessoas sensíveis ainda portadoras de muitos problemas de ordem pessoal, mas que em toda parte se sentem felizes em ajudar. No campo espírita, eles têm se afinado melhor. Assim, grandes obras de amor cristão com o concurso deles estão se desenvolvendo na Terra, estabelecendo uma ponte luminosa de fraternidade entre os dois mundos e possibilitando importante tarefa de recuperação.
Eu estava admirado. Ele, notando minha curiosidade, continuou:
— Foi numa casa dessas que os dois assassinos, escravos de ontem, encontraram esclarecimento e socorro. Arrependidos, já voltaram a reencarnar na Terra,
onde pretendem receber esse amigo como filho. Animados pelo exemplo de fraternidade desses abnegados trabalhadores da Terra, fizeram curso de aprendizagem e socorro e pretendem, através do exercício da mediunidade com Jesus, ajudar estes espíritos sofridos e ainda também exercerem tarefas no campo social.
— Gostaria muito de conhecer tudo isso — tomei admirado.
Ele sorriu e disse:
— Você já conhece.
— Como assim?
— Observe e verá.
Fechei os olhos e logo a luz se fez em um letreiro aureolado de sublime claridade onde eu pude ler comovido: Lar dos Caminheiros.
Então compreendi. Tudo ficou claro. Os problemas, as lutas, tudo. Como é belo ser voluntário do bem. Como é belo ser servo de Jesus!
Será que ainda terei tempo de me candidatar?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:31 pm

COMUNICAÇÃO
Por toda parte se ouve falar em comunicação. Estamos na era da comunicação. Vocês concordam?
Pois é nisso que eu ando pensando quando tento vencer as barreiras variáveis e por vezes quase intransponíveis que nos separam.
Não é fácil. Se na Terra os homens são favorecidos pelos complicados e cada vez mais sofisticados aparelhos electrónicos que levam a imagem e o som através das distâncias com clareza e perfeição, nós, apesar de dispormos de alguns recursos que fariam inveja ao mais avançado cientista terreno, ainda não logramos tamanho êxito.
Estão. admirados? Mas é verdade. Se na transmissão dimensional do nosso mundo-fantasma logramos perfeitamente registrar, permutar, transmitir, enxergar até as ideias dos nossos companheiros com uma profundidade assustadora de penetração até de pensamentos íntimos, ainda não conseguimos vencer a sólida barreira interplanetária, isto é, manter diálogos e contactos claros e inequívocos com os homens.
Duvidam? Posso provar.
É comum vermos por aqui companheiros nossos, colegas desencarnados, imbuídos dos mais sérios e ardentes votos de dedicar-se à redenção da humanidade sofredora, passando pelos revezes dos ruídos e das interferências da comunicação.
Planejam com cuidado mensagens esclarecedoras, traçam planos ao aperfeiçoamento social e ao progresso ascensional do mundo terreno e, munidos da devida licença superior, após verem seus projectos esmiuçados- e censurados, estimulados e (como visam ao bem colectivo) aprovados em tempo recorde (aqui não temos a conhecida burocracia), exultam de alegria. Sempre conhecem na Terra pessoas capacitadas, desejosas de praticar o bem, aptas para desenvolver tal actividade com as quais pretendem dialogar para a execução de seus planos, secundados por grupos de colaboradores exaustivamente treinados para auxiliar.
Interessado em tudo quanto se faz na Terra, e principalmente na melhoria desse mundo que eu amo e onde pretendo voltar a renascer um dia, procurei entrar em contacto com um deles, o que não me foi difícil.
Levado a uma reunião onde se preparavam, fui apresentado ao coordenador, que convidou-me a participar.
Era homem de uns 35 anos, postura erecta, forte, rosto franco e enérgico, suavizado pelo brilho alegre de seus olhos vivos e límpidos.
Estavam estudando as causas que têm dificultado o progresso da humanidade terrena, analisando não só as determinantes do comportamento como os meios de, favorecer a mudança necessária à conquista efectiva das virtudes essenciais à felicidade.
Aprendi muito nesse grupo e percebi como esse conhecimento me ajudaria a conquistar nova posição mental de equilíbrio e bem-estar. Exultei! Estava diante da mais formidável descoberta do século!
Claro. Não tem sido exaustivamente provado em toda parte que a causa do nosso sofrimento reside unicamente no fato de sermos imperfeitos e praticarmos o mal? De sermos fracos e relapsos frente aos deveres que nos libertariam?
Já pensaram na importância de um método, tecnicamente eficiente para detectar primeiro nossas falhas, fazendo com que tomemos pleno conhecimento delas, e depois os meios de as colocarmos em escanteio e levá-las de vencida?
Não acham possível? Mas estou dizendo a verdade. Eles fizeram testes com o método que incluía um trabalho muito bem planejado, entre os dois mundos:
o nosso e o vosso. Não podia falhar. Eles estavam há certo tempo observando um grupo na Terra, bastante dedicado ao estudo do comportamento humano e do Espiritismo, e esperavam poder desenvolver ali suas actividades.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 22, 2024 8:32 pm

Nossos amigos encarnados guardavam cultura académica especializada, bom preparo moral para o desempenho da tarefa. Além disso, traziam compromisso firmado antes do reencarne para isso. Não podia falhar.
Acompanhei com entusiasmo todos os preparativos.
Vocês sabiam que os locais onde se processam nossas reuniões com os encarnados são cuidadosa mente planejados em nosso plano e que a execução desse projecto requer técnicos especializados com aparelhagem específica?
Parece que outros já falaram nisso a vocês, mas, apesar do nosso progresso científico ir muito além do da Terra, pareceu-me complicado demais.
A sala de reuniões pequena e simples, teve um piso acrescentado e as paredes ampliadas. Cercadas de alarmes e correntes magnéticas fornecidas por geradores especiais. Achei fascinante, poder acompanhar tudo isso e fiquei antegozando a surpresa do grupo de trabalhadores dedicados que iria usufruir de tudo aquilo. Havia delicado aparelho de sondagem mental, capaz não só de registrar individualmente os íntimos e profundos pensamentos dos presentes como de mostrar o grau médio e denso de todo o ambiente, apontando todas as nuances de cada um, as oscilações e até as interferências externas que porventura conseguissem passar a vigilância.
Fiquei maravilhado. As luzinhas e os números coloridos e luminosos se tornaram difíceis de descrever nessa máquina extraordinária. Tudo fora previsto. Se eu quisesse saber mais sobre um dos participantes cujo quadro se reflectiria no painel, bastaria accionar um botão e todo seu inconsciente se desenharia codificado à minha frente. Não é fascinante? Com tal aparelhagem manejada por espíritos bons e bem preparados, por certo conseguiríamos nossos objectivos.
Não pude deixar de me sentir participante activo, já que estava empolgado. A Era da Comunicação. Que maravilha! Por certo os homens agora conseguiriam enxergar a sua realidade e partir firmes para a emancipação espiritual. Há tanto tempo esse tem sido o sonho da maioria das criaturas humanas.
A aceitação e a apologia dos grandes vultos que viveram na Terra, a veneração às obras superiores e a vontade de melhorar demonstram que o sonho maior de cada um é ser perfeito, é ser sempre feliz, é fazer sempre o melhor!
Pena que isso tudo seja dificultado por um raciocínio conduzido por uma visão deturpada dos fatos, uma inversão dos valores reais e uma tremenda falta de confiança em si mesmo.
Dava para perceber tudo isso e nós tínhamos meios para ajudá-los. Era um grupo pequeno, mas era o começo. Estávamos confiantes.
Foi com alegria que assistimos a reuniões onde procuramos ajustar nossos aparelhos às necessidades dos encarnados. E assim que Jaime, o coordenador, julgou oportuno, começamos a transmitir mensagens telepáticas de incentivo, preparando a sementeira.
Acompanhei o desenvolvimento desse trabalho com vivo interesse. E, como era lento, eu comparecia lá sempre que possível para colher dados e saber novidades.
Tudo parecia bem, e por isso Jaime finalmente resolveu dar um passo mais na direcção do objectivo. O grupo dos encarnados aumentara e os conceitos evangélicos, filosóficos, eram captados fielmente por eles pelos canais mediúnicos. Finalmente!
Jaime aproximou-se de dedicado médium, transmitiu lenta e firmemente palavra por palavra de sua mensagem, falando claramente de seus objectivos, da necessidade de algumas providências técnicas e psicológicas.
Tudo ia bem e o arauto encarnado repetia as palavras com fidelidade, até que o inesperado aconteceu: inexplicavelmente Jaime dizia uma coisa e o nosso médium outra, um pouco modificada na forma mas muito diferente na essência.
Por um momento houve estranheza em nosso grupo. O que estaria ocorrendo? O médium era bem intencionado e sério, culto e preparado, tudo estava -sendo feito como de hábito, por que o equívoco?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122625
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto - Página 2 Empty Re: Bate-papo com o além - Silveira Sampaio/Zibia Gasparetto

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 2 de 3 Anterior  1, 2, 3  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos