LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 16 - Psicologia da Gratidão/Joanna de Angelis

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:10 am

Conflitos existenciais e fugas psicológicas
Cada pessoa experiência as emoções que dizem respeito ao nível de consciência em que estagia, não conseguindo de um para outro momento ultrapassá-lo. Diante desse acontecimento, os conflitos existenciais e as fugas psicológicas exercem um papel determinante no seu comportamento.
Os referidos conflitos são resultados de heranças ancestrais, quando foram cometidos actos que atentaram contra a ética e o bem proceder, dando lugar ao surgimento da culpa encarregada de transformar-se em aflição e desgaste do equilíbrio.
Noutras vezes, surgem como decorrência do processo de desenvolvimento ético-moral, quando ainda não havia a capacidade de discernimento responsável pela censura aos comprometimentos perturbadores, sendo aceitos como naturais e, portanto, frutos da sombra que permanecia ditando as atitudes mais compatíveis com a sua natureza arquetípica.
Nesse estágio, ocorrem os problemas emocionais que vergastam o ser, perturbando lhe a capacidade de orientação e de saúde, instalando-se por longo período gerador de distúrbios que se transferem de uma para outra existência.
Acostumando-se à impossibilidade de alcançar mais altos patamares de bem-estar e de harmonia, permite-se a aceitação do Self enfermiço dominado pelo ego, em estranha vitória no campeonato da evolução.
Torna-se urgente e indispensável a busca de ajuda psicoterapêutica, a fim de poder distinguir de maneira saudável o que é melhor para a conquista da alegria de viver e as directrizes que deve adoptar para conseguir vencer os obstáculos internos que se expressam ameaçadores.
As batalhas mais difíceis de ser vitoriosas são aquelas que se travam nos refolhos da psique, desde o momento em que o indivíduo se propõe alcançar as motivações para o prosseguimento da existência planetária dentro dos padrões da normalidade.
Seja qual for o conflito existencial que se manifeste, a criatura aturde-se e padece a incerteza de qual é o melhor caminho para o auto encontro, passo inicial para a auto iluminação.
Não pode haver um comportamento equilibrado se nos painéis da psique as informações emocionais não se encontram estabelecidas sob o comando e a inspiração dos anseios elevados e pacificadores.
Toda vez quando surge um conflito que se expressa em forma de aflição e de insegurança emocional, torna-se necessário o enfrentamento lógico e frontal com este, de modo que possa libertar-se mediante o uso da razão e do ajustamento psicológico que se fazem necessários. São distúrbios dessa natureza que empurram para o vício, para a dependência de drogas aditivas, para a dissimulação e as fugas da realidade com transferência de responsabilidade para os outros.
O paciente, nesse caso, assume a atitude infeliz e acredita que tudo quanto lhe ocorre é resultado da antipatia que os outros lhe demonstram, refugiando-se nos escuros porões da comodidade, não envidando esforços para a luta que deve ser travada, a princípio mentalmente, diluindo as desculpas e justificativas pelo estado mórbido que o possui, para logo iniciar o esforço de compartilhar das actividades no grupo social, ajustando-se e modificando a óptica de observação dos factos.
Apoiando-se, porém, no bastão da indiferença pela situação em que moureja, permanece em lamentável postura que pretende transformar em arma de acusação contra as demais pessoas.
Nesses pacientes, não surge o sentimento da gratidão que é sempre espontâneo, porquanto se acreditam vítimas indefesas da sociedade e, como efeito, agasalham ressentimento e amargura que mais os desajustam.
Os conflitos existenciais fazem parte do processo de evolução, porque, à medida que se vai abandonando uma faixa de experiência, conduz-se todo o material que foi armazenado, seja ele de qual conteúdo se revista.
Como a aprendizagem de novos hábitos é lenta e a superação dos atavismos perturbadores exige coragem, determinação e insistência, na fase inicial da luta apresenta-se como tentativas de acerto e de erro até que se definam as características que passam a alterar a conduta, dando lugar a novos cometimentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:11 am

Somente uma atitude racional e grande equilíbrio emocional para se ter a coragem de reconhecer as próprias deficiências que resultam do processo evolutivo, aliás perfeitamente normais durante o seu trânsito no rumo do desenvolvimento psíquico e psicológico.
Narra-se, e tornou-se muito conhecida com variações, embora com o mesmo conteúdo, a história de um monge budista que rumava na direcção do monastério acompanhado por alguns dos seus discípulos, quando, passando por uma ponte, viram um escorpião que estava sendo arrastado pela correnteza na qual se debatia, afogando-se.
O monge, apiedado, correu pela margem do rio, introduziu a mão na água e retirou-o da morte certa.
Alegre por havê-lo salvado da situação, quando o trazia para o solo, o escorpião picou-o, produzindo-lhe uma grande dor, que o fez derrubá-lo novamente nas águas...
Nesse momento, o monge correu e, tomando um pedaço de madeira, novamente se adentrou nas águas e retirou-o, salvando-o.
Retornou ao caminho em silêncio após o seu gesto nobre, quando um dos discípulos, surpreendido pela ocorrência, indagou-o:
— Mestre, penso que o senhor não se encontra bem. A sua tentativa de salvar esse aracnídeo nojento e perverso, que lhe agradeceu o gesto nobre com uma picada dolorosa, redundou inútil e perniciosa para o senhor. Não seria natural que o deixasse morrer, em vez de intentar por segunda vez salvá-lo, correndo novamente o mesmo risco?
O monge escutou com suave sorriso na face e respondeu com bondade:
— Ele agiu conforme a sua natureza, enquanto eu procedi conforme a minha. Ele reagiu por instinto, defendendo-se mediante a agressão, e eu agi de acordo com o meu sentimento de amor por tudo e por todos...
Encontramos nessa historieta a superação dos conflitos tormentosos sem nenhuma tentativa de fuga psicológica para transferir responsabilidade.
A emoção consciente da sua realidade é sempre lógica e nobre, contribuindo em favor da ordem e do dever.
Não se escusa, não se justifica, não transfere as actividades que lhe dizem respeito para os outros, contribuindo em favor do bem onde quer que se faça necessário. Tampouco se inquieta com a ingratidão, porque reconhece que cada ser se movimenta no nível de consciência e de discernimento que lhe é próprio.
Existem aqueles que, por um bom período da vida somente esperam receber, fruir, desfrutar dos favores de todos sem o mínimo compromisso com a retribuição ou com o bem-estar geral. Desde que se sintam atendidos e fisiologicamente satisfeitos, tudo se encontra bem.
Ainda permanecem no período egocêntrico da evolução psicológica, agindo conforme a sua natureza. A ingratidão é-lhes uma característica definidora do comportamento, fazendo que sempre exijam e projectando a imagem de que as demais pessoas estão equivocadas, quando não fogem para a postura do martírio, a fim de inspirarem compaixão, provocando conflitos de culpa nos demais.
A gratidão constitui bênção de amadurecimento psicológico que felicita o Espírito, facultando-lhe ampliar os sentimentos de amor e de compaixão, porque reconhece todos os bens de que desfruta, mesmo quando alguma circunstância menos feliz se apresenta.
Não se expressa apenas quando tudo transcorre bem e comodamente.
Mas especialmente quando o testemunho e a dor se apresentam convidando à reflexão.
A vida é, sem dúvida, um hino de gratidão a Deus em todas as suas expressões.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:11 am

Auto-realização e paz
A verdadeira paz é adquirida mediante o logro da autor realização, coroamento do processo de autoconhecimento e de conduta dentro dos padrões do dever, que resulta em verdadeiro prazer.
Somente o amadurecimento psicológico pode conduzir o indivíduo com segurança no esforço do auto aprimoramento.
As heranças de que se faz portador, em razão do período de inconsciência e, mais tarde, da predominância dos instintos sobre a razão, encarregam-se de retardar o discernimento, levando-o a mais reagir do que a agir, a mais atender ao egoísmo do que ao altruísmo, envilecendo-se antes que se sublimando, mediante as disciplinas naturais que promovem os ideais de beleza, de elevação e de paz.
Não faltam exemplos típicos de autor realização, que independe de posição social relevante, de posses expressivas, de conquista universitária, de grandes destaques.
E um estado interior de satisfação e de confiança nas possibilidades de que se dispõe e estão sempre sendo colocadas a serviço do melhor.
Certa senhora, narra-se, necessitava de uma faxineira e recebeu de uma amiga a recomendação de uma pessoa credora de confiança e portadora de excelentes qualidades.
Contratando-a, por telefone, assinalou o dia e a hora em que ela deveria vir ao seu lar para iniciar o serviço.
Quando a viu, ficou surpresa, notando que era bastante jovem, muito bem-vestida e viera no seu próprio automóvel.
Explicou-lhe os deveres que lhe cabiam e autorizou-a a realizá-los.
A jovem, com desenvoltura, tudo executou com esmero até a conclusão da limpeza.
Ao terminá-la, a auxiliar pediu-lhe licença para fazer uma ligação telefónica, no que foi atendida.
O diálogo foi rápido e claro.
A jovem perguntou:
— A senhora está necessitando de uma faxineira? E a outra pessoa respondeu:
— Não, eu já tenho uma.
— Eu, porém, sou muita boa, cuidadosa e posso fazer um preço muito acessível.
— Agradeço, porém, já tenho uma com esses requisitos.
— Insisto, porque não apenas cuido da limpeza, mas também aspiro, lavo, encero e tiro o lixo, deixando os banheiros brilhantes como ninguém o faz, assim como a louça muito bem-cuidada e arrumada...
— Infelizmente não necessito, porque a minha faxineira é excelente e faz tudo isso.
Assim que ela desligou, a nova patroa disse-lhe penalizada:
— Ouvi a conversa e lamento que você perdeu uma nova cliente...
— Não, senhora! - respondeu a faxineira. — Eu sou a faxineira dela e estava somente fazendo um teste de avaliação, de como é visto o meu trabalho, o qual me proporciona uma grande satisfação.
Na busca da autor realização, todo serviço é digno e relevante, de acordo com o devotamento com o qual é executado.
Enquanto vigerem no ser humano a presunção e a falsa consciência de superioridade por qualquer ocorrência que aparentemente o projecte na sociedade, o brilho da situação confortável dificilmente lhe concederá paz interior, porque a sombra estará predominando no seu comportamento.
Quando não se é capaz de reconhecer a transitoriedade das circunstâncias e a fragilidade orgânica na qual o Espírito viaja no processo evolutivo, os conflitos estabelecem-se, apresentando-se disfarçados de falsos triunfos e de preconceitos mórbidos.
Allan Kardec,3 num oportuno estudo sobre os vários períodos da evolução da sociedade, após examinar o poder responsável pelo controle do grupo social, considerou que a primeira etapa desse fenómeno foi de ordem patriarcal, pela natural força moral do chefe do clã, ainda numa fase de predominância dos instintos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:11 am

Logo depois, a força do grupo elegeu aquele portador de mais resistência e mesmo poder de luta, surgindo o controlo político e social mediante a autoridade da força bruta, assim se estabelecendo uma segunda aristocracia. Os poderosos, em razão dos recursos que possuíam naturalmente os passavam para os seus descendentes, incluindo a autoridade de que se encontravam revestidos. Normalmente, os débeis sempre se deixam conduzir por esses mais audaciosos, submetendo-se aos que sucedem aos transitórios governantes, dando surgimento a uma terceira classe, que foi denominada como aristocracia do nascimento. As ambições e desmandos disso decorrentes culminaram no direito divino dos reis, tornando-os respeitados e temidos.
Se nos recordarmos de Júlio César, por exemplo, o grande conquistador e extraordinário escritor latino, observamos que a sua obsessão pelo poder fez que se autoproclamasse como Augusto, portanto divino, apesar de sua fragilidade orgânica e dos seus conflitos de vária ordem, que transmitiria o título a outros títeres, não menos insanos, do fabuloso império romano...
A evolução cultural e ética da sociedade a pouco e pouco desmontou a arbitrária máquina do poder aristocrático do berço, demonstrando que em todas as classes o ser humano pode atingir culminâncias, tornando-se digno e poderoso mediante o esforço e o conhecimento, nascendo então a potência do dinheiro, porquanto através dele se podem conseguir servidores, áulicos, bajuladores, soldados, ao lado das coisas que satisfazem as necessidades emocionais e os tormentos psicológicos.
Logo se manifestaram os valores defluentes da inteligência, do idealismo que removeram tronos e retiraram os dominadores perversos, abrindo espaços para uma nova aristocracia, que se tornaria resultado da união da inteligência e da moralidade, surgindo aquela que ficou denominada pelo Codificador do espiritismo como a intelecto-moral.
Essa condição, na qual se reúnem os legítimos valores da evolução, naturalmente conduz à autor realização e, em consequência, à paz.
As grandiosas aquisições das leis que já fomentam o respeito pelos direitos do próximo atestam o desenvolvimento da sociedade que avança na direcção da plenificação dos seus membros.
Certamente, ainda predominam povos na actualidade que se encontram sob a governança infeliz de títeres violentos que estabelecem suas próprias leis e tornam legais o crime hediondo, o furto e o roubo por eles perpetrados, a perseguição infeliz aos inimigos, às raças e etnias que denominam como inferiores... Por mais, no entanto, que se detenham no poder, conforme a História tem demonstrado, passam, deixando a sua marca de selvageria, que fica apagada ante os novos condutores dos destinos daqueles mesmos povos antes submetidos à crueldade, então avançando no rumo das conquistas éticas da civilização que nunca para.
As guerras, que são decorrência da usura e da presunção desses infelizes pigmeus que se acreditam gigantes, logo cessam com o saldo terrível de sofrimentos que são impostos, e a consciência social que renasce abomina aqueles abutres humanos, ambicionando pela paz e pela solidariedade com todas as demais culturas e valores humanos respeitados.
Tal ocorrência assim tem lugar porque a marcha do progresso é ascendente, e ninguém, força alguma pode deter, embora ainda permaneçam alguns bolsões de ignorância e de atraso moral, que o amor e o conhecimento conseguirão iluminar no momento próprio que nunca tarda.

O processo de crescimento em relação à própria plenitude é impostergável e dele ninguém se evade. Serão sinais demonstrativos da sua presença, quando surgirem os primeiros vagidos de compaixão e de ternura, de amizade desinteressada e o desejo de retribuição.

3- Obras póstumas, Allan Kardec, 11. Ed. FEB. Repetimos o tema das aristocracias por considerarmos próprio de mais análise no subitem deste mesmo capítulo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:11 am

7 - A gratidão: meta essencial da existência humana
Ambições psicológicas e transtornos de conduta — Sonhos de felicidade e significado existencial — Sentimentos de mágoa e de desencanto

Visitado pelos transtornos emocionais de qualquer etiologia - ansiedade, anorexia, bulimia, distimia, medo, solidão, depressão, dentre outros -, o indivíduo debate-se em aflições íntimas sem a capacidade mental lúcida para discernir a melhor maneira de conduzir-se. A queixa e a reclamação constituem-lhe bengalas psicológicas em que busca apoio para a manutenção do estado mórbido, inconscientemente reagindo às possibilidades de refazimento e recuperação.
O sofrimento decorrente atira-o ao abismo do egotismo e da autocomiseração, tornando-se incapaz de adoptar a conduta afectiva indispensável para a vigência da gratidão, o que lhe caracteriza o primarismo emocional.
Havendo, no entanto, amadurecimento psicológico, apesar da injunção penosa, dá-se conta do empenho que lhe cumpre desenvolver, de modo que conquiste a harmonia, ora desorganizada.
O Self lúcido, sofrendo o impositivo da sombra, aturde-se, e o ego enfermo predomina, criando dificuldades para a recuperação da saúde emocional.
Graças ao desenvolvimento psicológico, o impositivo da disciplina moral e o cultivo dos hábitos saudáveis proporcionam a vitória sobre os transtornos emocionais, evitando que se instale a depressão com toda a carga de prejuízos que proporciona.
Os estímulos que defluem do hábito de pensar correctamente contribuem para a produção dos neurotransmissores do bem-estar e o Self termina superando as imposições malsãs, controlando o comportamento que restaura a saúde.
Nesse embate exitoso, o sentimento de gratidão exterioriza-se como significativas emoções de reconhecimento que facultam experiências psicológicas de plenitude.
Equivocadamente, se pensa em gratidão quando somente sucedem as ocorrências felizes, quando são recebidos benefícios de qualquer tipo, dando lugar à retribuição como maneira ética do bom proceder.
Não desmerecendo o seu valor significativo, defrontamos, no caso em tela, vestígios de egotismo, por significar reconhecimento pelo bem que ao ego foi oferecido, e não pelo prazer de ser-se agradecido.
A gratidão real e nobre vai além da retribuição gentil, afável e benéfica, manifestando-se também nas situações desagradáveis de dor, reafirmamos, de sombra, de enfrentamentos agressivos.
Diante das mais graves tragédias, sempre se encontram razões para as manifestações gratulatórias.
Situações funestas que surpreendem em clima de terror e de debilitação das forças morais podem ser encaradas com menos angústia se pensar-se que, estando-se vivo, sempre haverá como lhes diminuir as consequências perversas e cáusticas. Enquanto se pode lutar, embora as circunstâncias negativas dispõe-se de possibilidades de futuro encantamento e prazer, construindo-se novos factores de alegria e de paz, superando a noite tempestuosa e encontrando o amanhecer benfazejo. Situações que parecem insuportáveis, quais aquelas dos fenómenos sísmicos destrutivos, do terrorismo e de outros crimes hediondos, quem os sobrevive dispõe de recursos morais e emocionais para louvar e agradecer. Isso porque, permanecendo a existência orgânica, dispõem-se de meios para se diminuir os danos e reiniciar-se experiências evolutivas, tendo em vista que a vida verdadeira encontra-se além das dimensões somáticas...
Ademais, a filosofia das vidas sucessivas lecciona que tudo quanto acontece ao ser humano, especialmente no que diz respeito ao sofrimento, e não foi ele quem o provocou, procede-lhe do passado espiritual, sendo, portanto, para o seu próprio bem.
Quando Jesus enunciou que no mundo somente se teriam tribulações, não apresentou uma tese pessimista, mas realista, em razão do processo evolutivo em que estagiam os Espíritos no corpo físico domiciliados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:12 am

Complementando o ensinamento, ele aduziu: [...] mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (Jó 16:33), demonstrando que o êxito é natural e inevitável se houver o empenho e a dedicação para consegui-lo.
Desse modo, em vez do receio e da rebeldia ante tais insucessos, a bênção da gratidão, porque a dor somente se expressa como investimento da vida em favor da plenitude do ser.
Nenhuma conquista ocorre sem o contributo do esforço, da temperança, da constância, do sacrifício.
A inquietação de um momento, examinada com cuidado e bom direccionamento, resulta na paz de outro instante.
Nos denominados livros sagrados de todas as religiões, que sempre exerceram um papel psicológico significativo no desenvolvimento das criaturas, à gratidão são reservados textos e páginas de conteúdo enriquecedor, envolvendo as emoções em encantamento e saúde, como resultado desse comportamento.
A Bíblia, por exemplo, é portadora de momentos ricos de exaltação ao sentimento gratulatório tanto no Velho como no Novo testamento.
O Livro de Jó, por exemplo, oferece o testemunho do amadurecimento psicológico de alguém que ama a Deus e que, mesmo sob o açodar das vicissitudes, O exalta e agradece a miséria, a enfermidade e a perda dos filhos, dos rebanhos, dos escravos e dos servos... Essa conduta favorece-o com a restituição de tudo quanto se havia diluído durante o infausto período anterior...
Os Salmos cantam as glórias da vida e convocam ao júbilo perene, seja em qual condição esteja o ser humano.
... E o Evangelho de Jesus é uma sinfonia de gratidão entoada em todas as fases do seu ministério.
Quando Ele enunciou que nos trazia boas-novas de alegria, propôs-nos a felicidade, e esta, de imediato, adorna--se de gratidão.
O desenvolvimento emocional alarga os horizontes mentais do ser humano, contribuindo para a sua autor realização.
Nesse estágio, experienciam-se conquistas íntimas relevantes:
auto-consciência, tranquilidade, espírito de solidariedade, bem-estar e amor pleno.
Atingida essa faixa vibratória, pode-se viver no mundo sem as mesquinhezes do ego e suas deploráveis imposições: ciúme, insegurança, competição, medo e seus sequazes...
Nesse clima, o mal dos maus não faz nenhum mal, porque se lhe percebe o primarismo, a inferioridade, entendendo-o, desculpando-o e contribuindo para a sua erradicação.
A postura inevitável em circunstância desse porte não pode ser outra senão a da gratidão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:12 am

Ambições psicológicas e transtornos de conduta
Infelizmente, o ser humano actual renasce num contexto cultural imediatista, utilitarista, em que os valores reais são postos em plano secundário e é-lhe exigida a conquista daqueles que são de efémera duração, porque pertencentes ao carreiro material.
A formação cultural e educacional centra-se especialmente na meta em que se destacam os triunfos de fora, as conquistas dos recursos que exaltam o ego, que o alienam, que entorpecem os melhores sentimentos de beleza e de amor, substituídos pelo poder e pelo ter, através de cujos significados acredita-se em vitória e triunfo social, económico, político, religioso ou de outras denominações... Raramente se pensa na construção interior saudável do ser que (re) inicia a jornada carnal,
incutindo-lhe as propostas nobres da autor realização pelo bem, pelo recto cumprimento do dever, pelas aspirações da beleza, da harmonia e da imortalidade. Tidos como de significação modesta, que se os podem reservar para a velhice ou para quando se instalem as doenças, tal filosofia da comodidade suplanta a busca do equilíbrio emocional e moral, porquanto se mantém no patamar dos prazeres sensoriais.
Perante esse comportamento, o egoísmo assinala o percurso da preparação do ser jovem, insculpindo-lhe na mente a necessidade de destacar-se na comunidade a qualquer preço, o que o perturba nesse período de formação da personalidade e da própria identidade, tomando como modelo o que chama a atenção: os comportamentos exóticos, alienantes, as paixões de imediatos efeitos, sem que os sentimentos educados possam fixar-se nos painéis dos hábitos para a construção da conduta do futuro.
Ressumam as culpas que lhe dormem no inconsciente e ressurgem as qualidades negativas, que deveriam ser corrigidas, mas que encontram campo para se expressar através da irresponsabilidade moral e comportamental em uma sociedade leniente, que tudo aceita, desde que esteja nos padrões do exibicionismo, da fama, da fortuna, da transitória mocidade do corpo e da sua estética...
Paralelamente, apresentam-se os vícios sociais como forma de participação dos grupos em que se movimenta, iniciando-se pelo tabaco, a seguir pelo álcool, quando não se apresentam simultaneamente, abrindo espaço para as drogas alucinogénias e de poder destrutivo dos neurónios, do discernimento, da saúde orgânica, emocional e mental.
Nessa conceituação, o importante é o prazer, e tudo se aceita como natural, normal, alegre, mesmo que seja à custa de substâncias químicas devastadoras e de comprometimentos sexuais desgastantes.
A cultura jaz permissiva e cruel, na qual a ética e a moral são tidas como amolecimento do carácter, debilidade mental, conflito de inferioridade com disfarces de pureza, em lamentável ironia contra os tesouros espirituais, únicos a proporcionarem saúde real e equilíbrio.
Lentamente, o exibicionismo do crime que se torna legal estimula ao desrespeito às leis da vida, quando os multiplicadores de opinião e pessoas ditas famosas, mais pela exuberância do desequilíbrio do que pela construção edificante, apresentam-se na mídia para narrar as experiências dolorosas dos abortos praticados, das traições conjugais, das mudanças de parceiro em adultérios chocantes ou relacionamentos múltiplos e promíscuos, como os novos padrões de conduta.
Marchando para a decrepitude que não demora para se lhes instalar no organismo gasto nas futilidades e na corrupção, subitamente se dão conta de que se encontram no exílio, ao abandono, no esquecimento, graças ao surgimento de outros biótipos mais ousados e paranóicos, experimentando remorso e fazendo lamentáveis quadros de depressão tardiamente...
À medida que a velhice lhes devora a vitalidade orgânica, e a morte se lhes avizinha, quando os não surpreende nas bacanais, nas overdoses, na luxúria e no despautério, desesperam-se e buscam novos escândalos para serem notícias que desapareceram da mídia que os explorou e consumiu, logo se apagando no silêncio do anonimato ou sendo estigmatizados pelos novos deuses de ocasião...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:12 am

Nesse ínterim, manifestam-se os transtornos psicológicos, nas áreas da afectividade, da conduta, das emoções.
Sem as necessárias resistências morais para os enfrentamentos naturais que ocorrem com todos os seres vivos, apegam-se à negativa, posição cómoda para justificar a falta de valor íntimo, permitindo que a sombra lhes passe a governar os sentimentos angustiados.
Abre-se-lhes, então, a comporta emocional para a fuga psicológica e a transferência de responsabilidade para os outros, variando de algoz e sempre culminando no governo, em Cristo ou mesmo em Deus...
Essa conduta resulta da necessidade de realizar a compensação interna, libertando-se do auto-enfrentamento para se transformar em vítima da família, da sociedade, da vida...
O significado da existência encontra-se também no transcurso em que se viaja na direcção da meta colocada como determinante para o bem-estar.
Nesse sentido, é necessário manter-se em atitude receptiva em relação aos dons do existir, retirando os melhores resultados de cada momento, sem angústia nem projecção para o objectivo pelo qual se luta.
Qualquer indivíduo que aspira ao bem e ao amor trabalha-se interiormente e recorre aos relacionamentos afectivos ou não, experimentando satisfação a cada momento, porque a experiência de ambos os sentimentos transforma--se em alegria de viver pelos conteúdos de que se revestem.
Há muita coisa no mundo da ilusão de que não se tem necessidade.
Nada obstante, o apego egóico às quinquilharias, às quais se atribui valor, atormentam o ser que as não possui, levando-o a uma permanente inquietação para aumentar a posse, acumulando inutilidades em detrimento dos bens internos que enriquecem a vida.
A preocupação em consumir é contínua, sem valorizar realmente as bênçãos de que se encontra investido na saúde, na lucidez mental, nos movimentos harmónicos, na afectividade compensadora.
Seria ideal que cada um que desperta para os bens imateriais possa afirmar, sorrindo: Quanta coisa eu já não necessito! Agradeço, portanto, a Deus, a dádiva de haver superado essa fase da minha existência.
Vencendo o conflito e o transtorno psicológico, a emoção gratulatória assoma e a satisfação existencial toma sentido no constructo pessoal.
Quando surgem os pródromos da gratidão, mesmo diante do que se considera falta ou insucesso, percebe-se a conquista da normalidade emocional e mental do indivíduo.
Anteriormente, as cidades celebrizavam-se pela presença das suas catedrais, cada qual mais sumptuosa, demonstrando o poder e a grandeza da urbe. Na actualidade, aqueles santuários vêm sendo substituídos pelos shoppings centers e pelos motéis atraentes e perversos...
Houve, de alguma sorte, a superação da beleza, da arte, da fé religiosa, mesmo que arbitrária anteriormente, para o consumismo, o tormento das aquisições e o relaxamento no prazer sexual de origem duvidosa e de efeitos perturbadores.
Em razão disso, surgem as crises, cada uma delas mais vigorosa, até o momento em que o indivíduo desperta para a mudança interior, agradecendo aquilo que lhe constituiu desventura e o despertou para a realidade.
Pessoas que tiveram morte clínica e retornaram, que estiveram a um passo da desencarnação por acidentes, que foram vítimas de ocorrências danosas, de perdas significativas, logo superado o período de aflição, mudam de conceituação a respeito da vida e dos seus valores.
Tornam-se agradecidas ao que lhes aconteceu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:12 am

Sonhos de felicidade e significado existencial
Conquistas e projectos de felicidade têm início no campo mental. Razão por que a mente desempenha papel de alta relevância na construção dos valores humanos e do significado existencial.
É necessário sonhar, a fim de que as inspirações defluentes do amor possam transformar-se em realidade, enriquecendo a vida de actos dignificantes e saudáveis.
A conquista da felicidade depende de como se espera ser feliz, de quais os factores que a proporcionam, da mais eficiente maneira de alcançá-la.
Desde que não se trate de uma aspiração do que é efémero e logo se transforma, alterando completamente o seu sentido, é válido que o ser humano anele pela harmonia interior, pela aquisição do que lhe é necessário a uma existência honrada, desde o alimento que o nutre, às questões referentes à educação, à saúde, ao trabalho, ao repouso, mas também ao cultivo dos ideais de beleza que enriquecem o Espírito de estímulos para o prosseguimento das lutas edificantes.
Nessa busca de realização pessoal, base de sustentação para uma existência feliz, surge o desafio do significado existencial, no momento em que a sociedade experimenta a pandemia psicopatológica das vidas vazias.
Normalmente se acredita que a felicidade impõe como condição primordial o poder que facilita a aquisição de poder e de compra, bem como de todas as coisas que a complementam. Nada obstante, o número de vidas perdidas no vazio existencial, porque assinaladas pelo tédio, pelo desinteresse, é mais expressivo entre os poderosos que buscam realização através de fugas psicológicas lamentáveis. Em razão de lhes ser muito fácil conseguir tudo quanto lhes apraz, a pouco e pouco descobrem a perda do sentido existencial, porque o fixaram como efeito da posse.
Essa fuga psicológica, resultado do temor do auto-enfrentamento, transforma-se em transtornos de conduta como irritabilidade, insatisfação, melancolia, solidão, por supor que todos quantos se lhes acercam estão mais interessados naquilo que têm do que neles mesmos, nos seus problemas, preocupações e afectividade, o que, de certo modo, infelizmente é quase sempre real...
Faz-se imprescindível, nesse momento, uma introspecção, uma análise íntima de como se encontra o indivíduo, procurando descobrir a maneira pela qual possa fruir de realização e de paz, tendo a coragem de realizar uma revisão de conceitos e entregar-se à nova busca.
A felicidade deve constituir o significado existencial, essa busca incessante do amor no sentido mais expressivo da palavra, a entrega afectiva em todas as maneiras de manifestar-se, facultando o preenchimento interior de alegrias e de esperanças, de belezas, de realizações relevantes, de emoções plenificadoras.
A intencional crença de que o amor sempre se vincula à satisfação sexual deve ceder lugar ao sentimento correto da afectividade ampla e sem tormentos da libido, expressando--se como intercâmbio de ternura, de equilíbrio emocional, de gratidão.
A gratidão é fundamental no comportamento do amor dirigido a Deus, à natureza e a todas as suas criaturas, animadas e inanimadas, sem e com a bênção do pensamento.
De imediato surge o trabalho que dignifica essa terapia que acalma, que produz a autor realização e que promove a sociedade, facultando o progresso sob todas as formas possíveis.
Quando o ser humano se dá conta do significado do trabalho na sua existência, amadurece psicologicamente e ama o labor, seja ele qual for, entregando-se sem paixão, mas também sem revolta ao mister de edificar.
Aquele que trabalha e retira do seu esforço a remuneração usufrui a satisfação compensatória da sua dedicação, enquanto experimenta o bem-estar que resulta do estado consciente de que é útil, de que produz benefícios para a Humanidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 11:12 am

O trabalho apresenta-se-lhe também nesse caso como recurso psicoterapêutico para manter a harmonia interior, o prazer de contribuir positivamente pelo bem geral.
Oportunamente, dois homens dialogavam em uma via pavimentada de uma grande urbe. Um deles era modesto operário semianalfabeto, enquanto o outro era um pensador de renome internacional.
Porque muito estimasse a companhia honrosa que lhe estava ao lado, o diligente trabalhador que não dispunha de títulos académicos que impressionassem, mas que era amado pelos seus valores morais, num momento de entusiasmo durante o diálogo apontou para as lájeas do piso por onde seguiam e disse com incomum contentamento:
— Veja este piso. Fui eu quem o pôs nesta rua, há alguns anos, quando trabalhava numa empresa que servia à Prefeitura local.
Nele havia um júbilo incomum, uma gratidão sem palavras pela oportunidade de haver trabalhado em algo que lhe proporcionava felicidade.
E, de fato, as lajes estavam muito bem colocadas, demonstrando a habilidade do obreiro que as arrumara no solo...
Realizado psicologicamente, o homem simples não tinha conflito existencial, porque a sua era uma jornada de trabalho e de amor ao que fazia, como corolário do amor que nutria pela família e por todos.
A sombra nele diluía-se suavemente no self consciente da sua realidade e dos seus limites.
Por outro lado, é comum pensar-se que um enfermo, alguém que experimentou um desastre emocional, outrem que se encontra sob o açodar de dores quase insuportáveis, mais alguém que padece a angústia da saudade de algum ser querido que foi arrebatado pela morte prematuramente, algumas vítimas de tragédias e mesmo alguns que permanecem imobilizados já não dispõem de um sentido existencial para continuarem vivendo. Trata-se de um grande equívoco, porquanto o significado existencial paira acima de circunstâncias ditosas ou menos agradáveis, constituindo um desafio aos valores morais do indivíduo que, diante do denominado infortúnio, encontra uma razão pelo menos para suportar os sofrimentos e ultrapassá-los, considerando-os de grande utilidade para a sua realização interior e sublimação dos sentimentos.
Sentindo-se honrados pela situação de se tornarem modelos para outras pessoas menos resistentes ao sofrimento, transformam-se em expoentes da coragem, da permanência na situação em que se demoram, anelando o prosseguimento da vida física ou confiando nos resultados superiores decorrentes do comportamento depois do fenómeno morte, quando isso vier a dar-se.
Imortal, o ser psíquico transfere-se de uma para outra dimensão da vida, utilizando-se do corpo físico ou deixando-o, conduzindo as experiências valorosas ou degradantes da sua existência orgânica.
O significado, portanto, de uma existência madura psicologicamente amplia-se além da área fisiológica para prosseguir no rumo da imortalidade, na qual todos se encontram situados por condição da vida que deu origem.
Terminasse no corpo o significado existencial e todos os sacrifícios que engrandecem o ser humano perderiam completamente o seu sentido.
O sentimento predominante nessa como em outras circunstâncias logo se percebe: é o da gratidão, filha do amor, do trabalho e da resistência às situações penosas...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:24 pm

Sentimentos de mágoa e de desencanto
Existe, na criatura humana, um sentimento perverso e de autodestruição que a leva a guardar mágoas e desencantos, como se fossem importantes para o seu desenvolvimento existencial.
Certamente se trata de uma conduta masoquista, mediante a qual o indivíduo se transfere psicologicamente da alegria de ser para a satisfação de sofrer, assumindo uma atitude de vítima. Não conseguindo, por debilidade de valores morais, superar as situações menos ditosas, acomoda-se na postura de sofredor, buscando sempre compaixão, quando deveria lutar para despertar o nobre sentimento do amor.
Numa longa existência é fácil perceber-se que as mágoas e os desencantos, porque muito comentados, tornam--se aparentemente mais numerosos do que os momentos de risos, de felicidade, de harmonia, de aspirações belas e generosas...
Não raro se observa que as pessoas preferem a chancela de não amadas à condição de pessoas amorosas.
Lamenta-se uma criatura de nunca haver vivenciado a felicidade, nada obstante casou-se, tornou-se mãe... Se lhe disser que foi amada, talvez antes do casamento, e que também amou, mesmo depois, quando começaram as dificuldades, logo fugirá para a bengala psicológica, interrogando:
— Mas do que adiantou se logo mais vieram as decepções e chegaram as mágoas?
Afirmando-se-lhe que a felicidade de haver sido mãe, até mesmo sob o ponto de vista fisiológico, enriqueceu-a de momentos de júbilo e prazer, logo recorrerá ao falso mecanismo defensivo:
— Deus sabe quanto são ingratos e indiferentes esses ditos filhos...
Nessa conduta doentia, somente foram anotadas as angústias e frustrações, talvez proporcionadas por ela mesma. Assim, o sentido existencial foi transformado em contínuo sofrimento, por causa da predominância do ego em todos os fenómenos da jornada.
O sofrimento desempenha um papel fundamental em todas as vidas, porque ninguém está isento da sua presença, em razão da transitoriedade da organização fisiológica.
O sofrimento, porém, poderá ser examinado sob dois pontos de vista:
pelo ego assinalado por complexos inferiores e pelo self idealista. O primeiro somente anotará desencanto e dor, porque os valoriza, sem a consciência de que esse fenómeno é perfeitamente normal e presente na estrutura orgânica de todas as formas vivas. O segundo procurará extrair os melhores efeitos da reflexão durante a sua vigência, o significado moral, os recursos aplicados para superá-lo ou sofrê-lo sem a auréola do martírio, da projecção do ego renitente e doentio.
Não se faz necessária uma condição religiosa para esse comportamento, porque é também logo terapêutica, por proporcionar sentido existencial ao ser humano.
Muitas propostas filosóficas e psicológicas encontram-se enraizadas nos princípios religiosos mais antigos, que exerceram o papel dessas doutrinas antes que elas fossem formuladas. Com o crescimento intelectual e tecnológico foram-se desdobrando, qual ocorreu, por exemplo, com a Psiquiatria que se ampliou na Psicologia, e esta se multiplicou em diversas escolas de comportamento, de terapia, de estruturação da psique e da personalidade.
Por tal motivo, aqueles que denominam a Psicologia como uma doutrina nova, resultado de elaboração algo recente, equivocam-se, porque os seus postulados modernos repousam em remotas religiões da Antiguidade tanto quanto nos postulados da Filosofia e das crenças populares de todos os tempos.
O ser humano é o enigma de si mesmo e, para melhor entendê-lo, sempre houve interesse de conseguir-se a sua interpretação.
As primeiras tentativas foram realizadas pelos filósofos que se depararam com o fenómeno da morte e passaram a buscar compreendê-lo, para melhor decifrar os conflitos e os temores que se lhe instalavam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:24 pm

Por outro lado, os denominados mortos sempre tiveram a preocupação de desmistificar a ocorrência apavorante, demonstrando a continuidade da vida em outras condições vibratórias. Graças a esse interesse, surgiram as primeiras comunicações entre encarnados e desencarnados, que se não davam conta da magnitude dos eventos que lhes aconteciam na intimidade das furnas primitivas onde se refugiavam dos perigos...
O temor constituiu-lhes a primeira reacção emocional ante o inusitado.
Para expulsar esses inesperados visitantes, que os assustavam, imaginaram as práticas exorcistas, através de tudo quanto a sua imaginação e sensibilidade acreditavam possuir poder mágico de os libertar daqueles que haviam desaparecido pela morte e, apesar disso, retornavam. Nasceram, então, nessa fase, os cultos religiosos, alguns temíveis, consentâneos com o estágio antropológico em que se demoravam, subtilizando-se com o tempo até o momento em que foi possível a concepção dos recursos imateriais, de alto significado emocional, como a oração, a prática do bem, o sentimento de fraternidade aplicado em relação a todos, a acção nobre da caridade...
Apesar dessa formosa conquista psicológica, os atavismos perturbadores sempre ressumam no processo da evolução, sendo necessário que se os compreendam e os combatam, mediante o esforço da autoconfiança, da auto-responsabilidade, da auto iluminação.
A mágoa corrói os mecanismos electrónicos do cérebro que passa a sofrer-lhe as ondas sucessivas de energia destrutiva, dando lugar a conexões distónicas no conjunto das reflexões e do comportamento, influenciando os sistemas nervosos simpático e parassimpático, ao lado de outros distúrbios. O ressentimento, portanto, é ferrugem nas engrenagens da alma, que sempre necessitam do lubrificante da confiança e da alegria de viver, facultando bem-estar e harmonia pessoal.
Todo indivíduo lutador, que se mantém atento ao cumprimento dos deveres, com o tempo mental repleto de ideias edificantes e de preocupações positivas, dispõe de um arsenal de recursos para os enfrentamentos e as incompreensões que defronta pelo caminho.
Ninguém transita na Terra por caminhos sempre floridos e, mesmo quando existem muitas rosas, igualmente há inúmeros espinhos que possuem a finalidade especial de protegê-las.
Desejar-se uma existência física sempre risonha e fácil constitui imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, que foi transferida para a idade adulta, porquanto em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é como um contínuo parto que proporciona vida, mas que oferece também um quantum de dor.
Todos aqueles que atingiram as culminâncias do equilíbrio emocional e espiritual atravessaram regiões pantanosas de natureza moral entre amigos, correligionários e adversários, sem deixar-se permanecer nos redutos venenosos. Igualmente venceram muitos desertos e experimentaram solidão e quase ficaram desamparados. No entanto, porque se mantiveram com o pensamento colocado no êxito e não apenas no caminho que deveriam percorrer, alcançaram os patamares róseos do sentido existencial, da vida plena, sem nenhum tipo de ressentimento, porque se deram conta de que a alegria sempre esteve presente durante o período áspero de esforço e de sacrifício.
Compreenderam que a semente que pretende ser árvore deve arrebentar-se para lograr o destino que lhe está reservado. E, ao fazê-lo, veste-se de vitalidade e estua, crescendo e tornando-se bela, até o momento de explodir em flores e frutos, sementes e lenho a que se encontra destinada.
Assim também o ser humano, que necessita experimentar as transformações naturais que o arrancam do estágio de criança maltratada para a maturidade de adulto realizado.
Nesse processo está embutida a gratidão à vida e à oportunidade de ser pleno.

Terminasse no corpo o significado existencial e todos os sacrifícios que engrandecem o ser humano perderiam completamente o seu sentido.
O sentimento predominante nessa como em outras circunstâncias logo se percebe: é o da gratidão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:24 pm

8 - A gratidão como terapêutica eficaz
A neurose colectiva — A tradição e a perda do sentido existencial — A gratidão como sentido motivador da existência

Vive-se, na actualidade, a sofreguidão defluente das conquistas tecnológicas e científicas, que impele à rapidez em relação a tudo e a todos. O tempo, que se não pode dilatar, sempre é responsabilizado pela impossibilidade de atender-se a todas as necessidades que são impostas pelas circunstâncias.
A multiplicidade de equipamentos electrónicos que reduziram as distâncias e facilitaram a vida, igualmente se tornaram verdadeiros algozes daqueles que os utilizam.
Antes, uma correspondência convencional demorava por largo período entre o ir ao destino e retornar a resposta ao missivista. Um telefonema exigia que se aguardasse um certo período para poder tornar-se realidade. O rádio e a televisão, quando surgiram, eram de precária eficiência. Apesar disso, ao lado de outros recursos de que se dispunha, havia tempo para que se pudesse manter os contactos pessoais, as correspondências, acompanhar-se os acontecimentos...
Com inesperada rapidez, a electrónica e a cibernética encarregam-se de melhorar os recursos técnicos e aqueles instrumentos passaram a uma condição de maior eficiência, facultando comunicações imediatas, ao vivo em branco e preto, depois em cores, e a velocidade tomou conta do planeta, tornando tudo instantâneo.
O intercâmbio virtual mudou as paisagens terrestres, tornando o mundo mais belo e mais trágico, os contactos mais rápidos e perigosos, o excesso de informações e de possibilidades de conhecer-se e de amargurar-se também...
Apesar disso, no computador ou num dos equipamentos modernos de telefonia com outros recursos, tais como máquina fotográfica, atendimento de internet e e-mails, mapas orientadores do trânsito, jogos, armazenamento de dados e muitos outros instrumentos, quando, por acaso, a operação está sendo executada e prolonga-se por poucos segundos, logo o indivíduo se impacienta, irrita-se, e pensa em trocar de aparelho por encontrar-se sobrecarregado...
A volúpia do consumismo devora as suas vítimas que se lhes entregam inermes, acreditando em gozo, sem o sentido da felicidade, em poder, sem a presença da paz interior.
Aturde-se o ser humano nesse labirinto de grandezas e de misérias, perdendo o direccionamento pessoal e a auto identificação.
Fascinado pelas facilidades, escraviza-se a essa tecnologia de ponta, e perde a noção da realidade no dia a dia existencial.
Vive-se, de algum modo, uma neurose colectiva assustadora.
Desapareceram os limites impostos pelo organismo diante da exuberância de recursos para realizações e prazeres simultâneos, ensejando também o aumento da criminalidade, graças às mentes perversas e doentes, que se utilizam da sua invisibilidade para darem campo às suas perturbações e delírios mentais.
Sites de morbidez multiplicam-se atraindo os jovens desequipados emocionalmente, que se tornam presas fáceis da hediondez desses psicopatas, de algum modo por invigilância dos pais que lhes oferecem os equipamentos de comunicação virtual e não lhes dão as orientações devidas ou os deixam diante dos aparelhos de televisão banqueteando-se com as películas de sexo explícito e degenerado a qualquer hora do dia ou da noite...
Como efeito, dá-se antes do tempo um tipo de amadurecimento psicológico dos jovens, distorcido, mórbido, sem significado dignificante.
Tornando-se adultos antes do tempo, permitem-se integrar tribos e grupos criminosos por desafiarem o status quo, permitindo-lhes transformar os conflitos em sentimentos normais. A astúcia e a perversidade instalam-se-lhes no comportamento, levando-os a se tornarem hackers, que se comprazem em invadir a intimidade dos outros, contaminar os computadores com vírus, formando gangues ameaçadoras e perigosas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:24 pm

A loucura assume o papel de normalidade e o perigo ronda a vida.
Essa alucinação faz o indivíduo soberbo, exigente, ingrato, bloqueando-lhe os sentimentos de amor e de justiça e desenvolvendo-lhe os instintos agressivos que deveriam ser disciplinados, odiando a sociedade, porque interiormente detestam-se.
Desamados, desde muito cedo, pelo desinteresse dos pais, com as excepções compreensíveis, experimentam o abandono a que são relegados em mãos de funcionários remunerados, pouco interessados pela sua harmonia psicológica e educação moral, e perdem o calor da afectividade, que não receberam, vendo, nos genitores, apenas responsáveis pelo fornecimento dos recursos para a manutenção da vida, mas totalmente desligados dos seus problemas, das suas reais necessidades...
Antecipadamente iniciados nos prazeres do sexo sem compromisso, os vícios de imediato se lhes instalam, começando pelos medicamentos para dormir, para despertar, para se excitar e para se acalmar, transferindo-se logo depois para as drogas químicas e alucinogénias.
O desvario toma conta da sociedade que se equipa de recursos electrónicos para se defender, quando se deveria equilibrar com os sentimentos de amor e de compaixão para manter a saúde e a paz.
Apesar de todas essas inconsequências do comportamento humano, viceja no imo do ser a presença da paz e da saúde aguardando oportunidade de expressar-se.
Essencial, portanto, torna-se a busca do sentido existencial, o amadurecimento pessoal pela reflexão, mediante as acções de generosidade, a fim de que se modifiquem as paisagens humanas da sociedade aflita destes dias.
Esse transtorno neurótico avassalador é resultado do que Jung conceituou como o sofrimento da alma que não encontrou seu sentido.
Esse sentido não pode ser oferecido por ninguém, nem mesmo o psicoterapeuta dispõe de recursos para ofertá-lo, porquanto é de origem e significado pessoal, ensejando o nascimento do sentido existencial que vai sendo desdobra do pelos valores morais adquiridos durante a vilegiatura das experiências no trânsito carnal.
É necessário que cada ser descubra a responsabilidade de ser ele mesmo, como pessoa humana portadora de valores que devem ser multiplicados e vivenciados como paradigmas de significação iluminativa. Para que se alcance o estado numinoso, faz-se indispensável tornar-se luz desde cedo ou quando possível, permitindo que se faça ampliada com o combustível de estar consciente, responsável pelos actos, sem temores nem ansiedades afligentes.
Conseguindo-se compreender que se é responsável por tudo quanto lhe diz respeito, nele se instala o significado existencial que lhe faculta o dever para tomar posições avaliadoras. Tal dever representa saúde ética e moral, física e emocional, psíquica e espiritual, proporcionando-lhe, desde então, o vir a ser sem traumas nem culpas procedentes do passado.
A sombra que dominava o ego dilui-se no Self consciente da superação dos desafios.
Eis, pois, como se encontrar o sentido da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:25 pm

A neurose colectiva
Assevera-se com frequência que a nova geração está desequilibrada, como se os tormentos que a afligem fossem originados exclusivamente nela mesma. Não se dão conta aqueles que assim raciocinam que não existe efeito sem causa, que os transtornos que assomam na juventude hodierna, de certo modo, caracterizaram as gerações passadas que, a seu turno, implantaram novos ideais e comportamentos nos conceitos tradicionais do período em que viveram, causando choque na tradição vigente...
Ademais, as heranças transmitidas por leviandade e desamor dos mais velhos; a despreocupação com a família, que vem passando, desde há algumas décadas, a plano secundário no grupamento social; os comportamentos eminentemente egoístas dos cidadãos; o consumismo desenfreado; a busca incessante pelos prazeres insaciáveis; a indiferença pelo próximo contribuíram com vigor para o actual estado de alienação colectiva, que especialmente afecta os jovens destituídos de discernimento e de madureza emocional.
Os desportos, que deveriam representar conquistas psicológicas para catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de valores em relação aos melhores, transformaram-se em campo de batalha, quando as torcidas fanáticas e radicais agridem-se mutuamente, depredam, matam e se matam.
Ressuscitam-se com essa conduta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário e as vítimas sacrificadas inspiravam zombaria em total detrimento do significado de humanidade...
Nesse clima de desordem psíquica e emocional, essas chamadas torcidas organizadas marcam pela internet o lugar para os enfrentamentos, como ocorria nos campos de batalha do passado, e agridem-se de maneira asselvajada, ferindo, humilhando, assassinando, enquanto a sociedade estarrecida contempla as cenas hediondas e a elas vai-se acostumando.
O terror assume proporções jamais imaginadas.
É comum os jovens matarem pelo prazer de fazer algo diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde procuram anestesiar a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir novas quotas para a manutenção do vício e matando-se lentamente ou de uma vez, em desespero suicida.
O índice de suicídios nos países civilizados é espantoso, porque a cultura é materialista, vivendo no inconformismo, e o prazer é o único motivo do significado existencial. Em consequência, as taxas de delinquência juvenil em toda parte são volumosas e prosseguem em crescimento.
Encontra-se, desse modo, instalada, a neurose colectiva e destrutiva.
A divulgação infeliz dos dramas e tragédias do cotidiano, através dos veículos de comunicação, em vez de apresentar propostas salvadoras, terapias preventivas e curadoras, estimula indirectamente os comportamentos frágeis a se tornarem heróis, a se fazerem destacados pela mídia, a desafiarem a cultura e a ética, acreditando no falso martírio que se deriva da covardia moral e da desestruturação psicológica em que se debatem.
As almas dos jovens encontram-se ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de equilibrado roteiro para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal, nos institutos que se lhe dedicam, encontram-se também sem estrutura em razão de serem, aqueles que a propõem, estúrdios e desestruturados, ensinando teoria e vivenciando os desequilíbrios em que se tornam exemplos vivos, que logo se fazem copiados.
Dissemina-se com ufanismo a necessidade da autor realização e da auto identificação por meio de processos estapafúrdios e mórbidos que lhes chamam a atenção e os igualam nas tribos em que se homiziam.
Sem dúvida, a problemática é muito grave e está a exigir cuidados especiais de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos, psicólogos, pessoas sensatas que se devem unir, a fim de combaterem o inimigo comum: a falta de sentido existencial que se estabeleceu na sociedade.
Para se viver com dignidade necessita-se de um objectivo, de um sentido ético que se transforma em meta a ser conquistada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:25 pm

Se for a busca da felicidade nos padrões mentirosos do consumismo ou do prazer, fruto do imediatismo, logo advêm a decepção e a falta de motivação para novos empreendimentos.
É indispensável, isto sim, despertar em todos a necessidade da auto-transcendência, da superação das exigências do ego em sombra para o significado do self imperecível.
Essa auto-transcendência deverá ser sugerida habilmente, não imposta, despertada em todas as mentes como caminho seguro para a harmonia interior, para a existência adquirir sentido de gratidão, de correspondência com os demais, de significados libertadores.
É muito comum as pessoas interrogarem a respeito do significado das suas existências, tão acostumadas estiveram por múltiplas gerações a lhes serem imposto o mesmo.
No passado, as religiões dominantes estabeleciam que o primeiro filho deveria pertencer às armas, a fim de salvar o Estado, o segundo pertenceria a Deus, servindo à religião e entregando-se-lhe em totalidade, embora sem nenhuma vocação nem desejo. O mesmo ocorria em relação à filha que deveria servir a Deus, educar-se em serviços domésticos, sendo-lhe negado o direito ao conhecimento, à cultura, porque era tida como inferior, sem alma, sem discernimento...
O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia, mediante a qual havia a postura convencional, que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso muitas vezes, a que os indivíduos se entregavam, como forma de sobrevivência à asfixia imposta pela neurose religiosa.
As aberrações e extravagâncias eram praticadas, mas não constituíam crime nem censura desde que não fossem divulgadas...
E natural que esse perverso atavismo ressurja do inconsciente colectivo e pessoal e imponha ao indivíduo a necessidade de que alguém lhe diga qual é o sentido da sua existência. Mesmo quando recorrem a determinadas psicoterapias, inadvertidamente alguns profissionais transformam-se em gurus, respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, em tentativa de eliminar-lhes as preocupações, o que resulta sempre em mantê-los na ignorância, na dependência doentia, na aflição mascarada de bem-estar...
O valor psicoterapêutico logo se distingue quando começa a libertar o paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade e descobrindo-se, bem como as próprias possibilidades de realização pessoal e de objectivos essenciais para o bem-estar.
Desse modo, têm faltado honestidade e sinceridade intelectual nos formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas igualmente problematizados, reservando-se às excepções normais a conduta saudável.
Uma visão nova da vida deve ser instituída por meio de processos psicoterapêuticos sadios, libertadores da neurose colectiva, trabalhando o indivíduo e depois o grupo social, a fim de que seja possível a conquista do significado existencial.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:25 pm

A tradição e a perda do sentido existencial
Durante muito tempo, a tradição, essa transmissão oral da cultura, dos hábitos, passada de geração a geração, constituía um princípio ético que se deveria respeitar a qualquer preço, pelo fato de pertencer ao pretérito, havendo-se tornado um paradigma da evolução. No entanto, nem tudo que a tradição tem transmitido merece a consideração que lhe era atribuída, sem uma avaliação, empírica, pelo menos, do seu significado.
O valor dos conceitos morais não pode ser atribuído a uma tradição que se baseia na castração e na violência à liberdade de pensamento, de expressão, de idealismo, submetendo todas as questões ao crivo do aceito e tido como digno de respeito.
Na educação doméstica, por exemplo, o temor a Deus e aos pais tornou-se uma tradição que a experiência científica da psicopedagogia erradicou da sociedade, porquanto toda forma de submissão pelo medo é punitiva e destruidora, produzindo inimagináveis danos naqueles que a isso se submetem.
Sendo a educação o processo de criar hábitos saudáveis, não se pode permitir o direito de tornar-se virulenta na observação dos seus preceitos, castigando e impondo-se para ser considerada como legítima.
Pelo contrário, deve conquistar o educando por meio dos recursos poderosos de que se forma, especialmente pelo sentido de amor e de dignidade de que se reveste.
Por outro lado, no mesmo campo educacional, o respeito aos pais, aos mestres, aos mais velhos era estabelecido pela tradição como a obediência a todas e quaisquer imposições, por mais absurdas que fossem, sem direito à discussão, à análise, à observação racional.
O respeito é uma conquista que cada um consegue pela maneira como se comporta, pelos actos e palavras, pela convivência e forma de conquistar os demais. Toda vez que se estabelecem normas de imposição, violenta-se o livre--arbítrio, o direito de optar-se pela aceitação do outro com todas as maneiras absurdas que lhe são características. Certamente, não libera a rebeldia, nem a repulsa, nem a animosidade que resulte da presunção ou da prepotência daquele que se deseja impor. Mas impõe-se o direito de considerar os valores reais que formam o carácter de cada qual.
Desse modo, no imenso elenco de tradições morais, está embutida sempre a submissão irracional, a aceitação ilógica, violentando a personalidade do outro, daquele que deve ceder sempre.
Há, entretanto, tradições morais, sociais, religiosas, culturais louváveis, credoras da melhor simpatia, que merecem ser experienciadas pelos significados de que se revestem.
Exemplifiquemos aquela que diz respeito ao amor que deve existir entre os membros de uma mesma família. Essa propositura deseja estabelecer o clima de amizade e de consideração que se faz necessário no clã familiar, de modo que se preparem os indivíduos para a convivência geral com as demais pessoas pertencentes aos mais diferentes grupos e etnias. O treinamento no lar, mesmo com aqueles que são inamistosos por motivos diversos, inclusive pelas injunções de contingências pregressas, vividas em existências anteriores, auxilia o comportamento racional para as dificuldades que sempre surgem no grupo social e para a real compreensão dos problemas que afligem outras pessoas, tornando-as incapazes para uma convivência produtiva.
Sendo o lar um laboratório para a formação da personalidade, do carácter, dos sentimentos, a proposta da afeição recíproca entre os membros da família contribui para o equilíbrio emocional de todos, mesmo que se registando diferenças de conduta, de companheirismo, de fraternidade, o que não se pode transformar em campo de batalha, reduto de ódios recíprocos, desenvolvimento das emoções reactivas de uns contra os outros.
O exercício da tolerância que reveste a amizade, em predominando entre os familiares, supera as antipatias, por acaso existentes, terminando por gerar um clima de respeito entre todos, cada qual com a sua maneira de ser.
Em outros aspectos, igualmente há tradições de conduta que valem a pena analisar-se para lhes dar expansão, mas não generalizando-as somente porque são remanescentes do passado, quando os valores éticos possuíam outra significação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:25 pm

Desse modo, as tradições absurdas que violentam a personalidade e que ainda se mantêm nos redutos mais severos e engessados da sociedade, seja por motivos religiosos ou políticos, de moral suspeita ou de outra natureza, respondem pela perda do significado existencial de muitos indivíduos que desde a infância recalcam os sentimentos, as aspirações, e anelam pela liberdade, pelo momento de poderem viver conforme os seus padrões ou o daqueles que são observados fora do seu círculo familiar.
Cada vez se torna inadiável a conduta do indivíduo que deve ligar-se a si mesmo, demorando-se em análise dos seus recursos e aplicando-os, ampliando o círculo das suas aspirações e lutando, avançando sobre os impedimentos com a tenacidade de quem os vencerá ou os contornará, a fim de encontrar a sua missão, a sua vida, descobrindo a própria transcendência, o significado em relação a outra vida, a outras pessoas, ao mundo em que se encontra. A preocupação aparente consigo próprio tem o sentido de crescimento interior e de desenvolvimento das suas possibilidades para os colocar a serviço dos demais, não se detendo em si, mas avançando na direcção do grupo, no rumo da Humanidade. Deve ir além do ego, para ultrapassar os limites estreitos da sua realidade.
Assim procedendo, será fácil o encontro com a transcendência, com a realidade existencial, podendo lutar com denodo e sem descanso, mas emoldurado por fascinante alegria de viver.
Quem assim não procede enfurna-se na autocomiseração, buscando a falsa autor realização de sentido egoísta.
A vida vale pelo que se lhe pode acrescentar de bom, de belo, de útil, sem a valorização demasiada do empenho para consegui-lo.
O indivíduo necessita de um comportamento rico de religiosidade, isto é, de convicção interior, não de uma religião formal que muitas vezes o entorpece na ritualística ou na presunção de ser eleito em detrimento dos outros. Pelo contrário, é necessário estimulá-lo a desenvolver a consciência de que todo serviço dignificante e operoso é ato de religiosidade, de entrega emocional compensadora pela alegria de agir e de produzir.
Se lhe é possível vincular esse comportamento a uma religião que o impulsione ao crescimento ético e à liberdade de acção fraternal sem impedimento ou preconceito, mais fácil será a conquista dessa transcendência que responde pelo sentido existencial.
Enriquecido de emoções que se renovam em alegria e bem-estar, uma imensa gratidão por existir, por estar apto a servir, por poder contribuir em favor de todos, assoma do íntimo e o veste, iluminando-o, dando-lhe brilho ao olhar e entusiasmo para viver, rompendo-lhe todos os limites, embora anele pelo infinito.
Nesse esforço fascinante ocorre a perfeita integração do eixo egol Self o desaparecimento dos resíduos ancestrais, numa renovação que faz lembrar a transformação da lagarta lenta que se arrasta na borboleta leve e colorida que flutua no ar suave da natureza, após o sono que lhe proporciona a histólise e a histogénese...
No processo da transcendência, não poucas vezes ocorre esse letargo:
um desinteresse pelo convencional, pelos impositivos das tradições, uma insatisfação interior e incómoda em torno dos padrões vivenciais, para logo ter lugar um processo de histólise psicológica a fim de alcançar a histogénese emocional e libertar-se do mecanismo pesado que sempre retém o idealista na dificuldade para discernir e encontrar o sentido existencial da vida...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:26 pm

A gratidão como sentido motivador da existência
O ser humano é um conjunto electrónico maleável que a consciência administra. A sua harmonia ou desconserto resultam do agente accionador dos seus equipamentos, que é a psique, a exteriorização do Self, que armazena, através do psicossoma, as informações de todas as experiências evolutivas, desde as primárias manifestações de vida, insculpidas no inconsciente profundo, remanescendo espontaneamente ou quando provocadas pela hipnose.
Nada se perde no arquipélago das vivências que se iniciam pelos automatismos biológicos e culminam nas manifestações da transcendência espiritual.
Todo o seu funcionamento é comandado pelos mecanismos automáticos do processo da evolução até o momento quando o self lúcido passa a elaborar os conceitos do discernimento e da razão. Toda a harmonia dos equipamentos que funcionam de acordo com o estágio da evolução em que se encontram amplia-se mediante os actos responsáveis, assim como se desorganizam em razão das intemperanças e primitivismos que predominem na organização psíquica.
Todo esse desenvolvimento, que se perde no tempo em mais de dois bilhões e duzentos milhões de anos transcorridos, quando da sua origem em forma de primeiras moléculas atraídas umas às outras através da lei das afinidades, é uma sinfonia de bênçãos, que estimula a inteligência e a emoção ao sentimento da gratidão, a partir do momento em que se pode identificar-lhe a grandeza inimaginável.
É a maquinaria mais perfeita jamais contemplada pela razão humana que a vem copiando e tentando imitá-la por intermédio da robotização como de outros mecanismos tecnológicos, que sempre ficam aquém da sua complexidade infinita...
Assim considerando, o corpo, mesmo ultrajado por deficiências e disfunções, representa uma incomum oportunidade para o restabelecimento das peças estragadas pela invigilância daquele que o utiliza como recurso de autor reparação.
De igual maneira, os belos conjuntos corporais, caracterizados pela beleza defluente da harmonia das suas formas, constitui grave responsabilidade para aquele que o utiliza transitoriamente, sendo razão de mais graves reflexões do que nos limites em que se contorce nas provas e expiações depuradoras... Isso porque todo o futuro repousa nas circunstâncias de como será utilizado pelo Espírito que momentaneamente o comanda.
A gratidão pela glória de encontrar-se nele deve expressar-se pelo respeito com que é utilizado, pela maneira como é conduzido com o objectivo de preservá-lo saudável e forte para as injunções inevitáveis do processo de crescimento para Deus. Embora toda a sua harmonia, uma picada de alfinete infectado pode produzir-lhe danos irreparáveis, assim como uma emoção descontrolada é capaz de alterar-lhe o funcionamento, proporcionando desajustes e transtornos físicos, emocionais e psíquicos de dolorosa recuperação.
A ignorância em torno da imortalidade do ser, em revide aos sacrifícios que se impunham ao corpo no passado, na busca da sublimação dos instintos e desejos normais, os cilícios e abstinências perversas, em revide às sensações de que se fazia objecto, manifestam-se, na actualidade, no culto das formas, na busca da aquisição do que é tido como ideal, que são programadas por personalidades nem sempre equilibradas emocional e sexualmente, encarregadas de estabelecer os padrões de beleza que a mídia divulga e consome.
As cirurgias irresponsáveis, as lipoaspirações, os implantes e os transplantes de peças, os tratamentos levianos de preservação e de embelezamento, ao lado dos exercícios exagerados, das ginásticas de variadas significações, os cuidados alimentares que levam aos transtornos da anorexia e da bulimia tornaram-se fundamentais no campeonato da vaidade, sem nenhuma preocupação com a mente e o comportamento moral, fundamentais, estes sim, pela indumentária carnal...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jan 18, 2024 8:26 pm

Como o tempo é imbatível e não cessa de avançar no rumo da eternidade, calmamente impõe as suas marcas inexoráveis no funcionamento da máquina, que se altera e que imprime os hábitos viciosos, os conflitos interiores na argamassa celular, fazendo que os deuses de um momento despertem expulsos do Olimpo onde estiveram por um dia, perdidos nos porões do Hades do desencanto e da amargura, para onde foram atirados...
Graças à evolução genética das formas físicas, pode-se afirmar que os biótipos atuais, após haverem superado as experiências evolutivas, alcançaram um padrão de harmonia e beleza que bem indica a sua procedência, adquirindo mais equilíbrio estético em relação ao passado, com expectativas mais formosas para o futuro.
Nada obstante, Espíritos menos evoluídos podem utilizar-se dessa conquista e reencarnar-se com bela aparência, sem que os seus valores correspondam ao que se pode esperar daquilo que exteriorizam de maneira agradável e atraente.
Os impulsos interiores, porém, assim como os atavismos morais, conduzem-nos aos grupos primitivos de onde provêm, fazendo-os reviver as situações e hábitos que já deveriam estar superados.
Em razão dessa circunstância, grande responsabilidade cabe à educação, para que sejam dissolvidas as construções morais viciosas, auxiliando-os na aquisição de novos comportamentos que os ajudarão a libertar-se das marcas vigorosas que os caracterizam, facultando-lhes o treinamento de novos costumes, o anseio de aspirações mais elevadas, acima do imediato e fisiológico.
Nesse sentido, a dualidade amor e responsabilidade dão-se as mãos para a sua edificação interior, trabalhando os condicionamentos ancestrais e instalando novas condutas que se transformarão em a natureza ética e social, guiando--os no empreendimento fabuloso da reencarnação.
Esse programa salutar, constituído pela consciência do dever, estará sempre enriquecido de valores espirituais que despertam para a realidade de cada qual, apontando--lhe os rumos da iluminação, que perseguirá como sentido existencial, agradecendo a oportunidade e bendizendo-a.
O apóstolo Paulo, na sua epístola aos Colossenses, no capítulo 3, versículo 16, exorta os discípulos, convidando-os a louvar Deus com gratidão em seus corações. Oportunamente, referira-se, noutra epístola, aos Coríntios, à sua gratidão pelos padecimentos, por todas as aflições que lhe chegavam em razão da sua vinculação com Jesus.
Gratidão pelo sofrimento reparador, como gratidão pela alegria da fé iluminativa.
A gratidão nele habitava como sentido existencial, porquanto reconhecia que a dedicação ao ideal libertador do evangelho representava-lhe uma bênção, e que tudo no Universo sucede em intercâmbio de valores.
As dádivas fruídas são os frutos abundantes e opimos da sementeira produzida a suor e luta, mas com alegria feita de reconhecimento pela oportunidade de realizar algo dignificante, não apenas para si mesmo, mas que pode transcender o ego na direcção de outrem, da comunidade.
Sem essa compreensão, a vida humana não tem sentido, mantendo-se no automatismo vegetativo, sem a significação psicológica enobrecedora.
Os fenómenos automáticos da nutrição, do repouso e da reprodução também são encontrados nos vegetais e nos demais animais da escala zoológica.
O ser humano que pensa tem deveres para com a vida, iniciando-a nas responsabilidades em relação a si mesmo, ao ato de viver e de sentir, de compreender e de amar...
Dessa maneira, a gratidão é também transcendência existencial, enriquecimento emocional e saúde comportamental, pela visão optimista que ultrapassa as barreiras do ego para se tornar significado motivador de plenitude.
Aquele que assim se comporta não apenas encontra o sentido, o significado existencial, mas a própria vida em toda a sua exuberância, sem a presença mórbida que é a sombra com as suas diversas máscaras, as bengalas psicológicas de fuga da responsabilidade que mantêm o ser humano no estágio do primarismo do qual procede.
A evolução nele instala-se a partir do momento em que, discernindo entre o que aparenta e o que é realmente, permite-se insculpir a consciência harmónica da responsabilidade moral proporcionadora da saúde integral.

O ser humano que pensa tem deveres para com a vida, iniciando-a nas responsabilidades em relação a si mesmo, ao ato de viver e de sentir, de compreender e de amar...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 19, 2024 11:24 am

9 - A psicologia da dignidade
Aquisição da dignidade humana — Heranças perturbadoras — Dignidade e gratidão.

Algumas escolas psicológicas insistem que o indivíduo nasce plasmado pelos factores genéticos e torna-se fatalmente o resultado da programação hereditária. Ainda afirmam que o contributo da educação é suspeito de ser produtivo na sua transformação moral, quando as suas são tendências perturbadoras e responsáveis pelo comportamento alienado ou desastrado, dócil ou afectivo, pacífico ou violento...
Não se podendo negar o impositivo genético na construção da aparelhagem fisiológica, o indivíduo é, antes de tudo, o Self responsável pelos seus conteúdos psíquicos, o Espírito, que herda de si mesmo as experiências vivenciadas em existências pretéritas. Não sendo a concepção fetal o momento da criação da psique, nem a morte biológica o término das suas funções, o ser energético e pensante evolui lentamente, qual aconteceu com as formas biológicas desde os ensaios grotescos dos seres primários que se tornaram os protótipos iniciais da actual organização humana. .. Pode-se mesmo recuar esse período ao das primeiras expressões moleculares no fundo dos oceanos, quando fascículos de luz, que vieram de outra dimensão, mergulhando nas águas salgadas, passaram a estimular as referidas moléculas, formando os organismos unicelulares, ordenando-se em expressões pluricelulares e seguindo o processo evolutivo... Esses mesmos fascículos de luz desenvolveram-se no que viria a ser a energia vital, o psiquismo animal, o ser espiritual do período de humanidade...
Não são, desse modo, os caprichos dos genes que formam o ser, as suas características físicas, emocionais e psíquicas, embora a sua prevalência, mas, sim, o Espírito que neles imprime as necessidades de desenvolvimento intelecto-moral.
Assim sendo, a educação desempenha um papel de alta relevância no seu desenvolvimento cultural, emocional, comportamental, trabalhando-lhe os valores internos e impulsionando-o à conquista do Infinito.
A aquisição de hábitos saudáveis, aqueles que são considerados edificantes e produzem harmonia emocional no grupo social, a transformação das tendências agressivas e dos sentimentos de baixa estima para melhor, o esforço para qualquer realização dão-se por intermédio dos processos educativos, especialmente aqueles de natureza moral, que são os exemplos, ao mesmo tempo em que, mediante o estudo, ocorre o desenvolvimento cultural e intelectual, num somatório de valores que enobrecem o ser humano.
A educação, no seu sentido lato, está reservada, portanto, a grande tarefa de construir o homem e a mulher melhores e mais sociáveis, neles desenvolvendo os germes do amor e da dignidade, com os quais progride espiritualmente, tornando-se úteis à comunidade, após transcenderem os limites egóicos, quando lhes é possível adquirir a consciência de paz e dos valores éticos que constituem a vida pensante.
Houvesse o fatalismo genético sem chance de mudança, o significado do progresso desapareceria, permanecendo a brutalidade ancestral, o primitivismo arbitrário, sem as claridades do saber, do comportar-se, da auto iluminação. Em assim sendo, nenhuma das doutrinas científicas e filosóficas teria razão de existir, porque a psique estaria incapacitada para as assimilar, na sua condição de independente dos fenómenos fisiológicos automatistas.
É incontestável no Universo a presença da força do deotropismo como fonte convergente de tudo e de todos.
À semelhança da luz que atrai os vegetais, vitalizando-os e auxiliando-os nos milagres que se iniciam na germinação e prosseguem até a inflorescência e frutificação, a atracção de Deus como Criador torna-se a poderosa emulação para os fenómenos que ocorrem em toda parte.
Fonte inesgotável de energia, é a causalidade transcendente de tudo...
Lucigénito, o ser humano, através dos complexos processos e mecanismos da evolução, avança na busca do estado numinoso, da perfeição que lhe está destinada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 19, 2024 11:24 am

Uma ordem moral, em consequência, responsável pelo equilíbrio galáctico, vige no cosmo e manifesta-se em tudo como Lei de Progresso que comanda o desenvolvimento ético e espiritual, nada ficando indemne à sua acção de convergência.
Por tal razão, a evolução é inevitável, incessante.
Bastem alguns instantes de reflexão em torno da vida em todas as suas expressões e se perceberá essa fatalidade iniludível, que se manifesta no impulso inicial, facultando a complexidade das formas e das apresentações, fixando a sua historiografia caracterizada pelos fenómenos cada vez mais nobres e melhores, estruturados em incessante desdobramento. Jamais ocorre, nessa progressão, nenhum tipo de retrocesso, de retorno aos momentos caóticos do princípio, nos quais, de alguma forma, sempre houve ordem...
Essa ordem moral foi detectada no século XIX, dentre outros, pelo teólogo inglês, mestre em Oxford, CS. Lewis, que a denominou como lei moral, dessa maneira evitando a designação de Deus, que desagradava os cientistas de então...
Através desse conceito, o eminente pensador estabeleceu o conceito que se encontra na lei do comportamento correto, que oferece a melhor conduta para as situações mais diversas, pautadas dentro da ética do bem, filho nobre do dever. Logo propôs o conceito do certo e do errado, que é universal entre as criaturas humanas, embora as diferentes manifestações encontradas entre os povos primitivos e os civilizados, efeito natural da Lei de Progresso.
Allan Kardec, o preclaro estudioso dos fenómenos da vida e da imortalidade, por sua vez detectou a lei natural, que é a lei de amor, defluente de Deus, e apresentou um complexo e completo esquema sobre as dez leis morais que dela se derivam, abarcando tudo quanto se faz necessário para o estabelecimento da psicologia da dignidade humana, do comportamento correto.
O esquema kardequiano inicia-se com a análise Da lei divina ou natural e termina no capítulo Da lei de justiça, de amor e de caridade, para deter-se num estudo pleno a respeito Da perfeição moral, que antecede os valiosos esforços da Psicologia junguiana, estabelecendo como o instante pleno da vida aquele que diz respeito à individuação, ao estado numinoso.
O insight kardequiano encontrava-se em germe no Universo e todos quantos sintonizavam com as leis cósmicas igualmente o captaram, vestindo a ideia de acordo com as próprias características emocionais, culturais, religiosas.
Em todo esse colossal edifício filosófico de natureza moral ressaltam os valores que dignificam a existência da vida na Terra, o natural esforço de cada criatura humana para a superação dos vícios ancestrais e a aquisição das virtudes, que são as realizações edificantes do processo evolutivo.
Todas as proposituras da vida humana estabelecem a ética do comportamento correto, em razão de outra lei, a de causa e efeito, que demonstra a harmonia em tudo, concedendo ao ser pensante o livre-arbítrio, mas também a responsabilidade em torno dos seus pensamentos, palavras e actos, porquanto, sendo ele o semeador, também é o ceifador de tudo quanto ensemente.
Esse impositivo estabelece o princípio da consciência, da responsabilidade que abre campo para a instalação da culpa ou da tranquilidade, de acordo com o comportamento de cada indivíduo.
Todos são livres para as condutas mentais, emocionais e morais que lhes aprouver, assim como das suas consequências.
Indispensável, portanto, a manutenção da lei moral, que induz à conduta psicológica saudável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 19, 2024 11:24 am

Aquisição da dignidade humana
A essência do ser humano é o Self que procede do Divino Psiquismo.
Em toda a sua trajectória evolutiva, a busca da dignidade humana constitui lhe o grande desafio, culminando no sentido existencial até alcançar a própria transcendência.
A semelhança de um diamante bruto no início sofre os vários processos de lapidação para alcançar a transparência que o transforma numa estrela reluzente. Etapa a etapa, no processo de desenvolvimento, faculta-se o surgimento do ego, da sombra, das expressões da anima e do animus, que se encontram adormecidos, para os sintetizar em grandiosa harmonia, como no princípio, quando unidade... Ocorre, porém, que a unidade inicial era grotesca, sem discernimento, sendo um conjunto que se deveria expressar qual semente que necessita dos factores mesológicos para desabrochar a vida em latência. À medida que houve a sua fissão, que facultou o surgimento do ego, logo se apresentaram os demais arquétipos com a predominância da sombra responsável pela situação de ignorância que permaneceria ao longo do fenómeno do seu desenvolvimento.
Adquirida a consciência, mesmo quando no período da fase embrionária no reino animal, em forma de uma inteligência primária, o discernimento entre o certo (o que produz prazer e gera bem-estar emocional) e o errado (o que proporciona sofrimento e desgaste), o bem e o mal, dando lugar às necessidades de elevação, de mudança de patamares que deveriam ser vivenciados, até ser alcançada a harmonia entre os opostos: o yang e o yin.
Essa identificação entre as duas partes diferentes em unificação de identidade representa a bênção da sombra no Self, que, após colher os resultados positivos desse conhecimento, dilui-a, absorvendo-a em tranquilo processo de assimilação dos seus conteúdos, transformando aqueles que lhe constituíam obstáculo em valiosos impulsos para mais amplas conquistas.
Havendo sido descoberta a ética moral, nesse ampliar de percepções éticas, a necessidade de conduta digna logo se apresentou ao Self, que passou a vivenciá-la, superando a pouco e pouco as síndromes perturbadoras dos mecanismos inferiores que foram ficando na história do passado.
Tal dignidade, no entanto, supera algumas convenções sociais vigentes, nas quais há predomínio da sombra, em razão dos interesses mesquinhos que invariavelmente representam o comportamento das pessoas. Nessa conduta, o egoísmo prevalece, em razão dos conflitos que os assinalam, especialmente os medos disfarçados, as desconfianças inquietantes, as inseguranças e as culpas não absorvidas, as invejas perniciosas, constituindo um pano de fundo para os esconder, vivendo-se as manifestações da persona em detrimento do Si-mesmo...
Ditas convenções também respondem por alguns transtornos nas constituições emocionais débeis, que lamentam a falta de possibilidade de participação nos aglomerados exitosos, cheios de ruídos e de embriaguez dos sentidos, que os marginalizam e os isolam nos guetos onde se homiziam infelizes...
A dignidade humana é o degrau moralizado e emocional tranquilo que o Self alcança, após a superação da sombra, haurindo os seus elementos na psicologia de Jesus, que reverteu os padrões éticos dominantes no seu tempo, elaborando novas propostas de integração no pensamento cósmico.
Até ele enunciar os postulados da auto edificação moral, o vencedor sempre era aquele ser agressivo que anatematizava o outro que se lhe submetia pela força, pelas manobras cavilosas, que permanecia derrotado e submetido à humilhação, ao desdouro social.
Com ele, o verdadeiro vencedor é aquele que se auto vence, superando as paixões primárias e conflitivas do ser fisiológico, dos primórdios do ser psicológico, todo dúvidas e angústias, para se apresentar em equilíbrio, mesmo quando as circunstâncias não se apresentam como as melhores.
Com ele, a vitória máxima lograda por um ser humano é a conquista da faculdade de amar e de entrega aos ideais de enobrecimento que o promovem a uma situação psicológica mais feliz e resulta na constituição de um grupo social sem sombra e sem desarmonia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 19, 2024 11:25 am

Ele demonstrou que a finalidade existencial que deve atrair o ser humano está exarada no sentido da auto iluminação, da superação dos próprios limites, num continuum incessante que conduz à paz.
A dignidade, portanto, é esse valor conseguido pelo esforço pessoal que destaca o indivíduo do seu grupo pelos valores intrínsecos de que se investe, tornando-se líder e possuidor da honra e da posição especial que foram conseguidas através dos tempos. Isso, porém, não o torna jactancioso, que seria estar escravizado à sombra, nem tampouco o faz diferente na maneira como convive com as demais pessoas. É simples, porque íntegro, manso, mas não conivente com os comportamentos heterodoxos, pacífico, no entanto não leniente com o ultraje ou o crime, humilde, sem a preocupação do uso de andrajos e descuidos de higiene para com o corpo, que reconhece ser o sublime instrumento para a sua evolução.
Quem se poderia apresentar com a dignidade de Jesus, ultrajado, mas não ultrajante, vencido, mas não submetido, crucificado e com os braços abertos simbolizando um infinito afago dirigido a todas as criaturas?!...
(...) E quando tudo indicava que se encontrava destruído, ei-lo ressurgindo da sepultura em momentosa manhã de imortalidade.
O Self que se exorna de dignidade exterioriza todo o sentido profundo da lei da gratidão e da sua psicologia que exalta a vida, que a fomenta e a mantém em todas as fases e circunstâncias em que se apresente.
Nos conceitos sociais vigentes, a dignidade tem sido confundida com o poder político, económico, religioso, comunitário, legislativo, governamental... Razão pela qual se confunde destaque exterior com enriquecimento íntimo de valores transcendentais. E também motivo pelo qual esses que logram os lugares de relevo na sociedade tornam--se verdadeiros equívocos para as massas que deles esperam outros comportamentos além dos que são apresentados nos conciliábulos de corrupção, de desmandos, de acobertamentos dos crimes praticados pelos seus comparsas.
Pode-se, sem dúvida, encontrar dignidade em alguns indivíduos que alcançaram esse destaque, não sendo, porém, a posição que a define ou a apresenta, e especialmente naqueles que permanecem no desconhecimento das massas, os anónimos e nobres construtores da Humanidade melhor.
Mantendo a herança do passado como advertência inscrita no inconsciente profundo, o Self sempre cresce, graças à faculdade de compreensão do que constitui valor real em relação àqueles que são apenas aparentes.
Qualquer situação que se vincule a erros do passado dispara o gatilho da lembrança inconsciente e logo se recompõe, tomando comportamentos diversos mediante os quais não mais se permite a instalação da sombra já superada.
Explicite-se, pois, a necessidade da construção da dignidade humana em todos os passos da existência física, e a gratidão envolvendo cada sentimento que se exterioriza do ser, tornando-se doce e suave encantamento enriquecedor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jan 19, 2024 11:25 am

Heranças perturbadoras
A indiferença moral por tudo quanto se recebe da vida, dos missionários do passado que contribuíram para os valiosos tesouros que hoje são utilizados em forma de longevidade, conforto, saúde, ciência e tecnologia, repouso e convivências agradáveis, responde pela ingratidão.
O ser ingrato é responsável por dissabores e desencantos que afectam o núcleo familiar e o reduto social onde se encontra em acção.
Se a claridade é bênção que facilita as realizações, a treva é geradora de dificuldades para as mesmas actividades.
Assim é o ingrato, que respira prepotência e soberba, na sua tormentosa condição de explorador do esforço alheio.
Um motorista de táxi percebeu que, ao deixar um cliente no aeroporto, este esqueceu-se de carregar a pasta que ficou no banco traseiro.
Preocupado, o modesto servidor deteve-se no retorno à cidade, parou o carro, examinou a pasta e encontrou-a abarrotada de documentos e de valores amoedados. Receando o desastre para o desconhecido, fez a volta, acelerado, estacionou o veículo, correu ao terminal, e recordando-se vagamente da companhia que o cavalheiro indicara, à porta da qual deveria estacionar, correu na sua direcção.
Com rara felicidade, encontrou o proprietário do valioso objecto que acabara de fazer o chekin e parecia procurar a pasta entre as duas sacolas de compras que carregava nas mãos.
Sorridente, acercou-se-lhe e entregou-lhe a maleta com todos os seus bens.
E certo que não esperava nenhuma retribuição. Estava feliz pela oportunidade de fazer o bem. No entanto, o passageiro, agressivo e insensível, olhou-o com certo espanto, como se houvesse suspeitado que fora ele quem retivera o seu volume, e não lhe disse uma palavra sequer, saindo com velocidade na direcção da sala de embarque...
O motorista experimentou um frio percorrer-lhe a espinha e uma estranha sensação de angústia.
Meneou a cabeça, aturdiu-se, e tomou o carro em direcção à cidade.
No mesmo momento em que dava a partida, outro passageiro sinalizou-lhe que necessitava do veículo, ele se deteve, e o estranho adentrou-se.
Pediu o endereço e partiu.
Estava atordoado e, de quando em quando, como se estivesse num monólogo pesado, meneava a cabeça.
O passageiro perguntou-lhe o que se estava passando.
Necessitado de uma catarse, ele narrou a ocorrência, acrescentando:
— Nunca mais eu devolverei qualquer coisa que fique no meu carro por esquecimento de quem quer que seja. E porque sou honesto, não ficarei para mim, mas preferirei atirar no lixo a voltar para entregar.
E arrematou:
— Eu não desejava nada, nem sequer o reembolso da despesa que me custou para lhe fazer a devolução. Tudo seria para ele somente prejuízo, porque ele nunca saberia onde procurar o seu volume, desde que nem sequer anotou o número da placa do meu carro...
Fez uma pausa e concluiu:
— O pior foi o seu olhar severo de dignidade ferida, como a dizer que eu fora o responsável pelo seu esquecimento, ou que lhe furtara a maleta...
A gratidão é combustível para a claridade da vida, assim como a cera para o pavio da vela manter-se aceso.
A ingratidão é bafio pestilento que contamina os outros com os seus miasmas e pode torná-los semelhantes.
Por que alguém se atribui tanto mérito que nem sequer lhe ocorre algumas palavras de reconhecimento pelo que recebe? Onde está a sua superioridade que exige sejam os outros que se disponham sempre a servi-lo?
Ave sem Ninho
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