LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 16 - Psicologia da Gratidão/Joanna de Angelis

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 Série Psicológica Vol. 16 - Psicologia da Gratidão/Joanna de Angelis - Página 2 Empty Re: Série Psicológica Vol. 16 - Psicologia da Gratidão/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 16, 2024 8:31 pm

Gratidão na convivência social
O processo antropológico da evolução lentamente retirou o ser humano do individualismo egóico para a parceria sexual por impulso do instinto, a fim de que, depois, em razão dos pródromos da afectividade biológica, tivesse origem o sentimento do grupo familiar envolvendo a prole.
A partir daí surgiram os mecanismos gregários para a construção do grupo social, formando a tribo em convivência harmônica, para que, através dos milénios, o instinto pudesse deixar-se iluminar pela razão, ampliando as afinidades no conjunto que seria a sociedade.
Mesmo nesse período tribal, a animosidade contra os demais grupos assinalava-lhe o primitivismo agressivo--defensivo. Foi muito lentamente que os interesses comuns uniram aqueles que mantinham as mesmas afinidades, dando lugar às primeiras experiências sociais.
A beligerância, no entanto, que lhe permanecia inata, desencadeava as guerras cruéis, qual sucede até hoje, demonstrando a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual.
A elaboração da sociedade resultou da necessidade de preservação de cada grupo, dos recursos e valores diversos, em tentativas de auxílios recíprocos, de sustentação dos seus membros, de crescimento económico e cultural.
O Self em desenvolvimento foi superando a sombra colectiva, enquanto a individual começou a cristalizar-se, gerando a dualidade de comportamento: o eu opositor ao outro eu.
Animal gregário por excelência, a sua sobrevivência no planeta que o alberga depende do valioso contributo social, que o impulsiona ao desenvolvimento intelecto-moral, etapa a etapa através da esteira das reencarnações.
Alcançando o actual nível de cultura, de civilização e de tecnologia, o sentimento de gratidão pelas gerações passadas deve viger, ensejando a compreensão das conquistas do vir a ser.
A busca da sua plenitude propele-o à contínua luta pela superação dos vestígios do comportamento primitivo que ainda lhe remanescem no cerne, impedindo-lhe a auto-realização.
Os sentimentos, substituindo ou modificando os instintos agressivos, ampliam-lhe os horizontes em torno do sentido e do significado existencial, a fim de que possa crescer no rumo da plenitude.
Adquirindo a consciência individual, a razão indu-lo para a contribuição digna em favor da colectiva, ao tempo que trabalha pela incessante renovação e abandono das paisagens mentais em clichés viciosos que se lhe insculpirão, gerando os hábitos propiciadores à harmonia de conduta e à alegria de viver.
Teimosamente, a sombra mantém-no no egoísmo, encarcera-o nas paixões grosseiras, enquanto o Self se lhe opõe, dando lugar a uma batalha perturbadora que se transforma em conflito.
O despertar para a perfeita vitória sobre tais amarras não deve constituir meta afligente, a fim de que se consiga a pureza espiritual, a conduta irreprochável, a vivência destituída de problemas. É inevitável, conforme acentuam Kierkegaard, Paul Tillich, Rollo May e outros estudiosos da Psicologia Existencial assim como do socialismo religioso, que estejam presentes na psique e no comportamento do indivíduo a ansiedade, o medo, a culpa, a solidão... Heranças ancestrais da jornada evolutiva, esses transtornos permanecerão por longo período ainda até a libertação paulatina e a conquista da individuação.
Nesse sentido, merece especial atenção o corpo emocional do indivíduo, que se apresenta enfermo como decorrência da sombra que o leva a negar tudo quanto lhe pode modificar os hábitos para melhor, influenciando-o a permanecer na angústia devastadora ou na ansiedade, mantendo a culpa, consciente ou não, em atitude autopunitiva arbitrária.
Da mesma forma como se reservam espaços para os cuidados com o corpo, torna-se indispensável que se cuide de preservar a serenidade do Self com silêncios interiores que propiciem a reflexão e a meditação, com diálogos salutares com a consciência, numa atitude de prece sem palavras, mantendo a vinculação com as fontes da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 16, 2024 8:31 pm

Somente por meio desse hábito pessoal será possível superar as conjunturas negativas propiciadas pela sombra, sem entrar em luta renhida, assimilando as suas lições e diluindo aquelas que são perturbadoras para dar lugar ao bem-estar e à resistência para as actividades de auto iluminação e de convivência social nem sempre equilibrada.
Os interesses dos grupos humanos são muito variados, gerando constantes atritos e desgastes na área da emotividade, o que exige autocontrolo, disciplina da vontade e espírito de paz, a fim de não entorpecer os valores éticos, os significados morais e objectivos da existência, deixando-se arrastar pelo aluvião de conflitos...
A saúde emocional é propiciadora da harmonia do Self, motivando à compreensão de que o processo de inserção na sociedade gera dificuldades e propõe desafios que melhor fazem o indivíduo crescer na direcção da aspiração numinosa.
Mediante esse comportamento alteram-se as condições ambientais do planeta, tendo-se em vista que tudo quanto existe interage uma na outra expressão, formando a unidade.
O leve rociar da brisa num jardim liga-se a uma tormenta no lado oposto da Terra, assim como um pensamento de amor contribui para a sinfonia universal da harmonia cósmica.
Enquanto se estudam as melhores técnicas para deter e evitar-se os danos da devastação dos recursos planetários em extinção, a limitação da emissão de gases que contribuem para o lento aquecimento global, em razão também do envenenamento dos rios, das nascentes d'água, dos mares e dos oceanos, a morte e a ameaça de desaparecimento de vegetais e animais, que culminarão na do ser humano, merece reflexão a tenebrosa condição mental das criaturas humanas que se demoram nos descalabros morais e na crueldade.
As ambições desmedidas que têm conduzido a sociedade à conquista de contínuas tecnologias, sem pensar nos danos ocasionais que também causam à natureza, resultam nos milhares de fragmentos de satélites e de foguetes que se desintegram; e os que escapam do aniquilamento no contacto com a atmosfera, atraídos pela gravidade do planeta, constituem na actualidade o terrível lixo espacial decorrente dos grandes engenhos do pensamento desarvorado sem as reflexões indispensáveis...
As providências que actualmente vêm sendo tomadas não têm efeito retroactivo em relação ao que se encontra em volta da Terra e não é consumido na sua queda natural na superfície do planeta. Imaginou-se ingenuamente que tais fragmentos cairiam sempre nos mares e oceanos, assim mesmo poluindo-os, o que não se pôde confirmar, porque têm tombado em organizações urbanas, no campo e em toda parte..
Diante do quadro de sombra individual e colectiva que domina a sociedade moderna, a gratidão assume um papel relevante, porque iniciando na emoção superior no reduto doméstico, no próprio indivíduo e, por si mesmo, amplia--se na direcção dos grupos sociais, considerando sempre tudo quanto a vida tem proporcionado gratuitamente sem nada pedir em volta, excepto que se mantenha o equilíbrio necessário para o prosseguimento do processo de evolução.
Desfrutam-se de mil favores e conquistas enquanto na vilegiatura carnal, sem nenhum sacrifício e sem nenhuma gratulação em torno do seu significado e das respostas oferecidas.
A gratidão social é a resposta do coração feliz pelas excelentes oportunidades de que frui durante toda a existência terrena.
Através dessa conduta, atenuam-se as competições malsãs entre os indivíduos e os grupos, as intrigas e as malquerenças, os ódios e os ressentimentos morbosos...
Reflexionando-se em torno do grupo social no qual se moureja, a gratidão enriquece o Self que absorve a sombra sem a antagonizar, e a plenitude se instala no ser humano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 16, 2024 8:31 pm

Gratidão pela vida
A vida é um maravilhoso milagre do Universo.
ínsita em todas as expressões imagináveis, é Lei de Amor funcionando no seu mais profundo significado.
Não importando a designação que se dê à sua fonte geradora, constitui o maior desafio à inteligência, especialmente no que diz respeito à sua finalidade quando alcança o esplendor no ser humano.
Havendo adquirido discernimento e razão, a vida se lhe corporifica nos cem triliões de células do organismo, em incomparável mecanismo de harmonia e de interdependência, sob o controle da psique, em última análise, do Self original, do qual procedem todas as manifestações físicas.
Conseguindo, nessa fase, a capacidade de logicar, faculta-lhe penetrar nos antes insondáveis mistérios do Cosmo, no macro ou no micro, culminando na ideação, na percepção do abstracto, sobretudo nos sentimentos de amor, de ternura, de compaixão, de esperança e de alegria. As manifestações primárias lentamente são substituídas pela transcendência, e o Si mesmo participa da elaboração do próprio destino assim como das ocorrências que lhe facultarão a conquista do infinito, nunca lhe permitindo retroceder ou permanecer em postura parasitária, inadequada ao processo da evolução.
A busca da plenitude revela-se-lhe como a máxima aspiração que deve ser tornada realidade. Nada obstante, a fim de consegui-la, fazem-se indispensáveis os instrumentos da vontade consciente e das necessidades prementes, superando as injunções da sombra que segue ao lado da claridade mental.
A plenitude é a glória de ser-se o a que se está predestinado pela injunção da força criativa, independendo das coisas, e sim resultante da essência de que cada qual é único e deverá unir-se à inteligência cósmica, tornando-se realmente consciente da unidade universal.
A plenitude dilui e absorve a sombra, fazendo desaparecer todas as suas marcas ancestrais que dificultavam o processo de auto iluminação.
Ao lado disso, proporciona a cura real das mazelas antigas arquivadas no insondável do ser, no seu corpo perispiritual, encarregado de modelar as formas físicas e todos os equipamentos da sua fisiologia e da sua psicologia.
Recompondo o corpo emocional mediante a superação dos traumas, dos medos, da culpa, da ansiedade possível, traça novos mapas delineadores dos processos de desenvolvimento, expressando-se em harmonia e bem-estar, à medida que são alcançados os patamares elevados onde se encontra a sua destinação.
Dessa maneira, são vencidos os estresses, as desarmonias vibratórias, e facilitada a comunicação equilibrada de todas as células com as suas memórias activadas, facultando a harmônica homeostase.
Embora desempenhando funções totalmente diversas, essas células, no seu circuito perfeito no organismo, trabalham em conjunto em favor do todo, sem exaltação ou timidez, em razão do controle da mente sobre o corpo.
Há sempre tentativas humanas para a boa vida, o que equivale a dizer o acúmulo de bens e de conforto, exigências do ego, em detrimento da vida boa e serena conforme anela o Self.
A busca, portanto, da transformação para melhor a cada instante é o hino de louvor e de gratidão à vida que se experiência em consonância com a harmonia cósmica.
Nesse cometimento não ocorrem imediatas alterações significativas do ser, mas na maneira como vive, cada qual se mantendo na sua estrutura superior em contínua ascensão espiritual.
Afirma-se que o mundo é o resultado de contrastes, o que não deixa de ser verdade, pelo menos aparentemente. No entanto, são esses contrastes que promovem o raciocínio, impulsionam para as acções saudáveis, ajudam a desenvolver as faculdades sublimes do Self, pois que fosse ao contrário, tudo em ordem e igual, não haveria motivação nem razão para lutar pelo numinoso, alcançando-se um final degenerativo, sem significado, destituído de objectivo, por desconhecer-se o outro lado da ocorrência evolutiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 16, 2024 8:32 pm

A responsável pelos desafios e seus múltiplos aspectos é sempre a natureza, que arranca o indivíduo do estado de entorpecimento para o conduzir ao de lucidez. Em tudo estão presentes as duas faces: o claro e o escuro, o alto e o baixo, o yang e o yin, a tristeza e a alegria, o bem e o mal...
A oposição das forças no Universo responde pela existência dele mesmo, assim ocorrendo de maneira equivalente no cosmo humano.
A sombra, muitas vezes, disfarça-se e dá a ilusão de que se pode ser essencialmente bom, nobremente generoso, completamente afectuoso, sem máculas nem problema emocional. Essa façanha escraviza muitas pessoas desatentas, atraindo-as para o fanatismo religioso, racial, desportivo ou de qualquer outra natureza, gerando graves distúrbios de conduta e recalques de sentimentos. E normal e saudável deixar-se vivenciar por uma raiva momentânea, por uma tristeza justificada, por uma reacção ante a agressividade, não se permitindo, no entanto, transformar esses fenómenos emocionais em estado generalizado de comportamento. Esses transtornos procedem da obscuridade ainda existente no ser que se vai libertando das injunções penosas para fruir o bem-estar, não importando a situação em que se encontre.
A sombra, dessa forma, não constitui um adversário perverso, mas um auxiliar no processo da auto-realização anelada, pois que a vitória sobre as circunstâncias, às vezes denominadas aziagas, faz-se responsável pelo equilíbrio emocional.
Muito se teme cair em erro, quando se trata de pessoa que aprendeu a discernir a verdade da impostura, a realidade da fantasia, a conquista em relação à perda... Não houvesse essa dicotomia, essa possibilidade, e o sentido existencial perderia o seu significado, porque tudo estaria pronto, terminado, levando ao tédio, ao desinteresse pela vida.
É indispensável que o lado favorável de todas as ocorrências esteja à frente, após a sombra, em convite fascinante que será atendido no momento oportuno.
Quem não tropeça jamais avança, porque todo caminho apresenta dificuldade e somente isso acontece a quem se encontra de pé, prosseguindo adiante.
Nesse sentido, torna-se indispensável procurar a harmonia entre o que se é e o que se aspira a ser, evitando que a raiz dos acontecimentos se encontre demasiado profunda, distante da sua capacidade de arrancá-la quando necessário.
O organismo sabe que necessita estar vivo e, para tanto, os órgãos funcionam dentro dos vários segmentos que se interligam, demonstrando o que se deve fazer em relação ao existir e ao Universo, ao ter e ao ser...
Desse modo, a consciência experimenta um contínuo despertar, um natural estado de lucidez que capacita o indivíduo ao contínuo labor, ao enfrentamento das dificuldades, porque sabe da fatalidade evolutiva a que está vinculada. Essa é a tarefa soberana do Self, que se expressa em gratidão.
Buscar, portanto, a transcendência constitui o móvel básico do despertar para a realidade e para a superação da sombra. A sombra dificilmente será derrotada, como se estivesse num campo de batalha com o Self, mas conquistada por ele, formando um conjunto de apoio à individuação.
Embora se tenha conhecimento dessa necessária atitude de compaixão em relação à sombra, uma certa indiferença assalta muitos lutadores que temem o empreendimento por lhes parecer impossível conseguir o êxito.
Por outro lado, são acometidos por uma certa melancolia, em razão do hábito de viver o paradoxo do bem e do mal-estar, ao qual se está acostumado.
A dor, de certo modo, logra induzir o ser humano a essa atitude, com o objectivo de libertá-lo da sua pungente aflição, influenciando-o a lutar com destemor, sem pressa nem receio de perda. Nunca se perde a batalha pela plenitude, porque toda conquista representa um tesouro que se acumula a tudo quanto já se possui emocionalmente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 16, 2024 8:32 pm

Quando alguém percebe que necessita conscientizar a sombra em gratidão à vida, logo se esboroam os planos perversos de manutenção da ignorância de Si mesmo. Nesse cometimento, muitas vezes equivoca-se o pretendente à vitória, experimentando momentaneamente a predominância do oposto, ao tempo em que, conseguida a primeira etapa, as demais se lhe tornam mais fáceis e edificantes, pelo imenso prazer que experimenta em cada conquista.
Todo indivíduo normal possui alguns conflitos básicos, como segurança e insegurança, amor e ódio, medo e coragem, aceitação e rejeição, alegria e tristeza. Quando é vencido um deles, logo surgem as perspectivas para a conquista do outro em contínuo esforço de auto-aprimoramento.
Vivendo-se num caldo de cultura de violência, de sexo desajustado, de drogadição, de transtornos psicológicos de alta gravidade, as incertezas a respeito de tudo se fazem naturais, constituindo a trilha que deverá ser vencida para a integração no conjunto daqueles que adquiriram a plenitude.
Assim sendo, a gratidão pela vida em todas as formas como se apresenta, em cada indivíduo, é o sublime desiderato a alcançar, pleno e feliz por viver.

A tempestade vergasta a terra e despedaça tudo quanto encontra ao alcance, semeando pavor e destruição.
Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, restitui a beleza, num acto de gratidão a ocorrência agressiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:20 am

4 - A conquista da plenitude pela gratidão
Exercício da gratidão — Aplicativos gratulatórios — Rendendo-se à gratidão

A psicologia da gratidão, de maneira alguma, pode ou deve eximir-se do estudo da transcendência do ser humano.
A quase infinita multiplicidade de caracteres e de identidades das criaturas fez surgir, a partir do século XIX, as diferentes correntes de psicoterapia, todas valiosas, enquanto não generalizem os seus postulados, estabelecendo conceitos e métodos psicoterapêuticos rígidos para o atendimento aos seus pacientes. Afinal, o grande êxito de qualquer recurso curativo está sempre vinculado ao esforço pessoal do enfermo, ao seu interesse pela recuperação da saúde e do bem-estar, oferecendo a sua indispensável contribuição, sem a qual os mais eficientes processos de auxílio, se não resultam inócuos, são de efémera duração...
Toda generalização peca por produzir, quase sempre, fanatismo ou preconceito insano.
A Psicologia Clássica e as que surgiram em diferentes escolas de experimentação clínica têm o dever de considerar o ser humano além da dualidade corpo/mente, igualmente, a condição de Espírito imortal.
Mesmo não aceitando a possibilidade da sua sobrevivência à morte orgânica, é compromisso científico o estudo de todas as variantes sem preconceito quanto à sua legitimidade. Isso porque os pacientes procedem de todas as camadas culturais e sociais, religiosas e positivistas, crentes e não vinculadas a nenhum credo espiritualista. .. O resultado de tal procedimento será sempre positivo no auxílio à clientela de ansiosos e transtornados.
As pesquisas do magnetismo, por exemplo, assim como do hipnotismo, inicialmente combatidos com veemência, trouxeram, no último quartel do século XIX, em diferentes academias fixadas aos padrões do materialismo vigente, valiosa contribuição para a descoberta e o entendimento do subconsciente assim como, posteriormente, do inconsciente... Adstritos aos preconceitos vigentes, foram rotulados de imediato todos os fenómenos dessa procedência e, mais tarde, também os mediúnicos e anímicos, como psicopatologias: histeria, dissociação, epilepsia, alucinações, personalidades múltiplas e outras designações que não correspondem à realidade.
Em consequência, ante essa conclusão, médiuns e sensitivos de diferentes qualidades, por mais demonstrassem a interferência dos chamados mortos nas suas comunicações sob rigoroso controlo de notáveis cientistas, foram considerados portadores de estados de consciência alterada, portanto, psicopatas...
O Dr. Pierre Janet, por exemplo, com a sua tese do automatismo psicológico, reduziu todos os fenómenos a personificações parasitárias, sendo recebida com aplauso por muitos dos seus pares.
De igual maneira, o Dr. Flournoy, estudando Hélène Smith e constatando a sua mediunidade, também recorreu a explicações incapazes de enquadrar com segurança os múltiplos fenómenos observados.
Frederic Myers, por sua vez, constatando a realidade da fenomenologia mediúnica, especialmente por meio da Sra. Newham, teve a coragem de afirmar que as comunicações não afectavam o estado normal das pessoas.
William James, o grande psicólogo pragmatista americano, havendo observado séria e longamente as comunicações mediúnicas da Sra. Piper, convenceu-se da sua realidade e asseverou que, para se demonstrar que nem todos os corvos são negros, basta somente apresentar um corvo branco, desanimando os exigentes incrédulos...
Com o advento da Psicologia Transpessoal, com Maslow, Grof, Kübler-Ross, Pierrakos e toda uma elite de psicólogos, psiquiatras, neurologistas e outros especialistas nos memoráveis seminários em Big Sur, na Califórnia (EUA), apresentaram-se mais amplas possibilidades de êxito na aplicação de psicoterapêuticas em pacientes portadores de obsessões espirituais, de traumas e culpas de existências passadas, abrindo espaço para procedimentos compatíveis com a psico-génese de cada transtorno...
Cada ser humano é um cosmo específico, cuja origem perde-se nos penetrais do infinito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:21 am

Transcendente, reflecte as experiências vividas e acumuladas no inconsciente pessoal profundo, assim como registadas no inconsciente colectivo, produzindo os lamentáveis processos de alienação.
A sombra colectiva resultante do preconceito académico reinante domina a sociedade, e um sentimento ressentido gera culpa e animosidade, violência e frustração, medo e solidão, tornando ingrato o cidadão que se deveria transformar em um archote de deslumbrante luz alterando a paisagem social e moral da Humanidade.
A perspectiva da transcendência oferece ao ser humano um significado igualmente grandioso, porque não encerra o seu ciclo evolutivo quando lhe sucede a morte.
Transferem-se as suas metas do círculo estreito da injunção corporal para a amplitude cósmica, prolongando-se indefinidamente.
O ego transitório nessa nova percepção modifica o comportamento ante a fascinante compreensão da imortalidade, e libera o Self da sua constrição afugente.
Essa visão imortalista igualmente produz o amadurecimento psicológico, enriquecendo o indivíduo de segurança moral, de identificação com a vida, superando as crises existenciais que já não o perturbam.
A ignorância a respeito do ser integral responde por muitos conflitos, tais como o medo, a ansiedade, a incerteza e a falta de objectivo existencial, desde que, de um para outro momento, a morte, ceifando a vida, tudo reduziria ao nada...
A transcendência, por sua vez, faculta o sentido de gratidão em todas as circunstâncias, proporcionando comportamento saudável, relacionamentos edificantes e inefável alegria de viver com os olhos postos no futuro promissor.
O homem e a mulher que se identificam imortais têm perspectivas de alcançar a plenitude, em razão da possibilidade inevitável de ressarcir erros, de reabilitar-se dos gravames praticados, de recomeçar e conseguir êxito nos empreendimentos que foram assinalados pelos fracassos.
Agradecer emocionalmente ser-se transcendente é auto-psicoterapia de optimismo que liberta o Narciso interno da sua imagem irreal, diluindo a síndrome enganosa de Peter Pan, e responsabiliza para a conquista da individuação, em defluência do amadurecimento psicológico que resultará no estado numinoso.
Não mais doenças nem estados doentes no indivíduo que se encontrou a si mesmo, que se descobriu imortal e avança no rumo da sua plenitude.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:21 am

Exercício da gratidão
Todas as conquistas do conhecimento e da experiência de vida resultam do treinamento, do exercício.
Quando o Self se encontra em desenvolvimento, as emoções ainda se fazem caracterizar pelas heranças do instinto, que se vão modificando lentamente, até alcançar os nobres patamares do amor e da gratidão.
Não seja de estranhar que as condutas humanas durante esse processo apresentem-se afectadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não possui, e tudo quanto recebe considera como em consequência do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e mesmo perversas. Esse trânsito de curso demorado vai se modificando à medida que as experiências edificantes vão se acumulando como resultado do treinamento, proporcionando lucidez para a compreensão da felicidade após a descoberta do significado existencial.
O único sentido, portanto, de ser humano propõe como foco primordial a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, logo, em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.
Há necessidade imediata e inadiável de reservar-se espaço e tempo para o treinamento do perdão, tanto quanto das outras expressões do amor, a fim de se descobrir a alegria que, resultante de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.
Para que se possa alcançar esse desiderato, torna-se urgente o dever de mergulhar no Separa o encontro com a consciência, a princípio num monólogo e, depois, num diálogo edificante e iluminativo.
Jung estabeleceu cinco etapas no que diz respeito à aquisição da consciência, seu desenvolvimento no rumo da vitória plena.
A primeira etapa, que ele denomina como participation mystique, diz respeito à conquista da identificação entre a consciência do ser e tudo quanto se lhe refere, no entorno da sua existência. Acontece que se torna difícil existir no mundo sem que ocorra esse fenómeno de interdependência entre ele e o que se encontra à sua volta.
Nesse sentido, a identificação é muito variada, considerando-se aqueles que, ainda vitimados pelas sensações, permanecem vinculados aos objectos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa em que mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e passa a experimentar os sentimentos do Si-mesmo em relação a cada objecto.
Outros se vinculam às suas famílias de igual maneira e experimentam sentimentos de introjecção e projecção, além da própria identificação.
Na segunda etapa, já se expressa a consciência que distingue o Eu e o outro. Ao alcançar esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objecto, o Self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada qual se constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projecção no outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade.
Na terceira etapa, as projecções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, facultando a compreensão do abstracto, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projecção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mesmo mitológico.
Na quarta etapa, tem lugar a superação das projecções, mesmo que assinaladas pela transcendência do abstracto e das ideias. Surge, então, o centro vazio, que poderíamos denominar como o homem moderno em busca da sua alma.
O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como substitutos das anteriores projecções. Nesse comenos, há predominância do prazer e os desejos de fácil controlo, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações emoções, a queda em transtornos depressivos.
Nesse mundo novo não existem conteúdos psíquicos, fazendo que cada qual se sinta realista. Esse é o momento em que o ego se sente como o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira pessoal a respeito de tudo quanto lhe concerne, seleccionando o que é verdadeiro ou não, aquilo que merece consideração ou desprezo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:21 am

Com tal comportamento egóico, não é difícil cometer equívocos lamentáveis, derivados da auto presunção, dos julgamentos precipitados a respeito dos demais, podendo tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controlo das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem todas as pessoas, no entanto, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, permanecendo somente nas iniciais.
Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os próprios limites - do ego -, alcançando o que poderíamos denominar como uma fase de actualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador. Livre dos arquétipos em imagens que caracterizam o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. Nessa fase de modernidade ou de actualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projecções, não mais compostas dos substratos materiais ou mesmo deles formadas, e sim a realidade de si mesma. O insigne mestre, no entanto, não se detém aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos deter nessas, mais compatíveis com os objectivos do nosso trabalho.
Nessa fase em que a consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do belo, do ideal, do uno, da individuação.
A fim de que seja lograda essa plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e contribuem para que o mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto-moral, transforma-se num impulso para o estado numinoso, em que já não há sombra. Nada obstante, para culminar nesse desiderato, faz-se indispensável o treinamento constante, o exercício da gratidão.
A princípio, pode mesmo apresentar-se como um ato de dever, o de retribuição por tudo quanto se desfruta, sem que haja a presença do sentimento por falta de maturidade psicológica interior. O hábito, porém, que se formará irá estimular ao prosseguimento da valorização de todos os acontecimentos assim como das pessoas com as quais se convive, alargando a percepção de que esse sentido de fraternidade gentil e retributiva proporciona inefável alegria de viver.
Criado o estímulo gratulatório, tudo assume significado relevante, ensejando melhor entendimento a respeito dos acontecimentos existenciais, mesmo aqueles que se apresentam em forma de sofrimento, isto é, que têm momentâneo carácter afligente ou desagradável, que pode ser superado pelo empenho de ser-se útil, de compreender o esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e os insistentes sacrifícios para corrigir-se...
Habitualmente, o julgamento a respeito da conduta dos outros, em especial análise quando se trata de questões perturbadoras contra alguém, logo se conclui de maneira equivocada, por certo, a manifestação da conduta do outro, de quem se lhe fez inamistoso, realizando uma projecção inconsciente dos seus próprios conflitos...
Todos os indivíduos têm dificuldades de vencer as questões perturbadoras, especialmente quando procedem dos atavismos que se organizaram no passado por onde jornadearam. A tolerância, que é uma expressão de amizade inicial, facultará entender-se que não sendo fácil para si mesmo a mudança para melhor, não deve ser de maneira diferente quando se trata de outrem.
Tentando-se, embora com erros e acertos, o exercício da gratidão, momento chega em que o ser se enriquece do júbilo de ser gentil e agradecido, não apenas por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a existência agradável e, dessa maneira, ampliando o círculo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais desorganizadas.
A gratidão possui esse maravilhoso mister de transformar o mundo e tornar as pessoas mais belas e mais queridas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:21 am

Aplicativos gratulatórios
Quando se pensa nos aplicativos gratulatórios, o arquétipo correspondente organiza a história dos acontecimentos para proporcionar um novo passo na conquista da consciência. Não se trata de uma aquisição convencional, mas da possibilidade de melhor entender-se a realidade. É uma forma de se reconhecer a grandeza da vida, sua beleza e seu significado.
É natural que surja uma certa nostalgia conceptual em torno da gratidão conforme a herança ancestral, devendo ser superada pelo sentimento de ser útil e de participar activamente no processo de crescimento da sociedade como um todo assim como do indivíduo particularmente.
O ser humano é um co-criador dos reflexos da realidade na história da evolução moral e espiritual revelada num todo que, muitas vezes, apresenta-se nas paisagens do inconsciente como sonhos arquetípicos, que se transformam em desveladores das metas a serem alcançadas.
Todas as criaturas têm papéis de relevante importância a desempenhar no Universo, permitindo que a consciência reflicta as ocorrências do Cosmo e logre intrometa-las na consciência individual, por fim na colectiva.
Herdeiro das experiências pessoais, o ser humano é convidado a crescer em cada etapa do seu processo de desenvolvimento ético-moral, experienciando pequenos valores que se transformam em significados profundos. E natural que se deseje produzir realizações de grande porte, capazes de provocar admiração, num processo de exaltação do ego, nada obstante, são aquelas de aparente pequeno valor que aprimoram o carácter e contribuem para a saúde emocional, por estarem mais vivas no dia a dia existencial de cada um e de todos em geral.
A solidariedade, por exemplo, que fascina as massas, quando exaltada na comunicação mediática, raramente é exercitada como aplicativo gratulatório, devendo ensejar o hábito de ser-se útil, de estar-se vigilante e lúcido sempre para ajudar, contribuindo em favor da mudança do status quo vigente para um patamar histórico e moral mais elevado.
Redescobrir a solidariedade, participando activamente dos labores colectivos e auxiliando com os recursos da compreensão, da bondade e do entendimento fraternal em torno das deficiências dos outros e das dificuldades que são enfrentadas pela maioria, ainda na infância psicológica, é conduta relevante e de alta magnitude. Essa cooperação expressa-se mediante o interesse de tornar a existência na Terra mais feliz, diminuindo os nexos de atritos e de desconforto moral, social e económico, através das pontes da gentileza e do auxílio de qualquer natureza que se pode colocar à disposição daquele que o necessita.
Esse esforço faculta consciência ao ego sobre a sua responsabilidade de superar a sombra e vincular-se ao Self em acção dinâmica portadora de edificações significativas. Tal conduta favorece o indivíduo com a alegria de viver, auxilia-o na libertação do estresse, evitando que tombe na neurastenia ou na depressão.
Exercitando-se o sentimento gratulatório, automatiza-se o comportamento que se fixa no inconsciente, passando a exteriorizar-se noutras oportunidades sem nenhum esforço.
A consciência objectiva (a psique) está sempre relacionada com a subjectividade do ego, sendo portanto imprevisível, enquanto o inconsciente com os estereótipos arquivados responde com significação esperada e que se deseja.
Ampliando o elenco da gratidão, vale considerar-se a ternura que vem perdendo espaço no comportamento dos indivíduos armados contra as ocorrências perturbadoras, e praticamente só é expressa nos relacionamentos mais íntimos, nos momentos de emoção afectiva especial entre os familiares e amigos mais próximos. A ternura, no entanto, deveria ser uma conduta natural, irradiando gentileza e prazer na convivência com tudo quanto cerca o indivíduo: a natureza e suas expressões, os seres humanos, mesmo aqueles inamistosos, que são atormentados pelos conflitos em que se facultam permanecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:22 am

A ternura é resultado da cultura e da vivência das acções superiores do amor, que estabelece paradigmas de conduta enobrecedora, externando-se em curiosos fenómenos de simpatia e de generosidade.
Todos os seres necessitam do estímulo da ternura que mantém os relacionamentos nos momentos difíceis, as afeições quando se vão desgastando, interrompendo o fluxo da animosidade quando se apresenta.
Nas uniões sexuais, por exemplo, um dos factores de futuros desentendimentos é a falta de ternura com que se relacionam os parceiros. Mais atraídos pelo prazer sexual, as pessoas quase não valorizam a convivência, porque são carentes afectivos interiores que esperam ser preenchidas pela outra, que também padece da mesma ausência de afectividade pessoal. Passadas as sensações do prazer valorizado, surgem os atritos dos solitários a dois, que se olvidam de ser solidários reciprocamente.
Não havendo a ternura que estreita os vínculos do amor entre aqueles que constituem a parceria, o gozo desfrutado é muito fugaz e dá lugar a aspirações diferentes, abrindo a mente a sonhos e ambições por outrem que lhe proporcione mais do que a febre do desejo e da realização rápida. Em consequência, nasce a insatisfação, a procura de alguém que seria o ideal mitológico da perfeição, sem a preocupação pessoal do que esse buscado com ansiedade também deseja.
Seria o caso comum de muitas pessoas que dizem estar aguardando o ser ideal para se lhes vincular, tendo em vista que essa é uma ambição generalizada. E como todos estão aguardando que seja o outro o preenchedor do seu vazio existencial, aumenta o número dos solitários e insatisfeitos em todo lugar, mesmo na multidão, na família, nas vinculações da afectividade apressada...
A ternura propõe a preocupação portadora de bem--estar, quando se pensa no outro, buscando a melhor maneira de fazê-lo feliz, mantendo a comunicação jovial, os toques afectuosos demonstrativos da necessidade da presença e da reciprocidade afectiva...
O tempo sem tempo de que todos se queixam na actualidade parece responsável pelas carências de toda ordem, quando em verdade é exactamente a ausência da afectividade que gera as fugas psicológicas, as transferências para as coisas e os lugares, aplicando a oportunidade útil em buscas e em actividades secundárias frustradoras.
E indispensável encarar-se a própria deficiência afectiva e procurar-se remontar às causas próximas e também remotas, reservando-se momentos para o auto-exame da consciência, para a transcendência, para o encontro com o Si profundo.
Toda vez que a sombra mascara os sentimentos do indivíduo impedindo que a realidade assome, a fuga mantém-no encarcerado no conveniente, naquilo que gostaria de ser, empurrando-o para o medo de ser desvelado, gerando conflito totalmente desnecessário e de fácil eliminação, usando a coragem do discernimento para se assumir como se é, embora com limites e dificuldades, ou com as bênçãos e as realizações já conquistadas.
A sombra sempre vigilante está armada contra as aquisições novas, em mecanismo de autodefesa para a sobrevivência, ocultando-se no ego.
Nunca será demais o cuidado para a identificar e trabalhá-la, diluindo a sua influência e libertando-se para assumir a própria realidade.
A gratidão contribui para essa batalha silenciosa que se trava na psique, porque oferece uma visão ampla do mundo, e profunda de todos aqueles que fazem parte do círculo das amizades humanas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:22 am

Rendendo-se à gratidão
Enquanto o sentimento da gratidão não consegue tornar-se natural, espraiando-se generoso, a maturidade psicológica do indivíduo apresenta-se aquém da meta que deve ser alcançada.
Considerando-se o impositivo de consegui-lo mediante o esforço moral bem-direccionado, o indivíduo aflige-se no tormento dos conflitos existenciais, valorizando as reacções e comportamentos negativos da convivência social.
A sua ausência na agenda emocional traduz primarismo evolutivo, nada obstante a ingratidão significar inferioridade moral que requer terapêutica especializada e cuidadosa, qual ocorre com as enfermidades que sutilmente devoram as entranhas do ser humano.
O ingrato, por efeito, padece de ansiedade, de baixo nível de auto-estima, de medo em relação aos enfrentamentos, sendo portador de complexo de inferioridade.
Quando é homenageado ou distinguido por afeições sinceras, ou mesmo mimoseado com algo, atormenta-se e, interiormente soberbo, silencia o sentimento gratulatório, demonstrando o transtorno distímico de que é vítima... Noutras vezes, experimenta mágoa ou desconforto emocional, acreditando-se credor de mais deferência, enquanto inconscientemente inveja o outro, o ser generoso e amigo que o busca dignificar.
Suspeita da lealdade de qualquer afeição, buscando motivos falsos para justificar-se, em razão da ausência de mérito que reconhece conscientemente, em verdadeiro paradoxo de conduta emocional.
Refugia-se numa aparência que disfarça os sentimentos, bloqueando as vias do relacionamento, mantendo atitudes agressivas e temerosas com que afasta as demais pessoas do seu círculo de amizade, aliás, muito reduzido. Desse modo, compraz-se na solidão até o momento em que, super-valorizando-se, faz-se loquaz, importante, chamando a atenção para os seus títulos de destaque, após cuja catarse glamourosa, retorna ao mutismo, à conduta desagradável.
Noutras circunstâncias é gentil com os estranhos tendo por meta conquistá-los através de uma imagem bem-projectada, sendo rude, logo depois de conseguido o objectivo.
Esses pacientes são encantadores fora do lar e verdadeiros verdugos domésticos de difícil convivência.
A sombra neles predomina e asfixia as manifestações do Self, de forma que se mantenham na postura de vítimas da sociedade, de indivíduos incompreendidos.
A gratidão é sentimento nobre que procede das profundas nascentes da psique.
Todas as decisões superiores que dignificam o ser humano e a vida exteriorizam-se do psiquismo — o Self — e são captadas pelo córtex poster medial que transmite a mensagem por diversas redes neuronais, encarregadas de atender o impulso original, transformando-as em emoções de prazer, de felicidade.
Com uma lentidão de poucos segundos, atingem o ápice em relação às outras emoções que se expressam com maior celeridade na organização fisiológica.
Por essa razão, as emoções defluentes da gratidão constituem-se de bem-estar, de alegria, compensando as despesas energéticas decorrentes das neuro-transmissões com ondas mentais harmoniosas e benéficas.
O hábito de ser grato, pela sua repetição, equilibra as descargas de adrenalina e de noradrenalina, ao tempo em que o cortisol mantém o controlo dessas substâncias químicas, neutralizando os excessos que poderiam ocorrer, produzindo em consequência alterações glicémicas, do ritmo cardíaco... como sucede com as emoções inferiores como a ira, o medo, a ansiedade, a mágoa...
Mediante reflexões sinceras pode o indivíduo render--se completamente à gratidão, evitando condutas agressivas e atitudes mentais pessimistas.
Nessa análise, descobre-se quanto se possui digno de reconhecimento e quão pouco se necessita para uma vida plena. O essencial encontra-se sempre ao alcance do ser em evolução, sendo o secundário resultado de desmedida ambição egóica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:22 am

Por meio desse enfoque podem-se identificar determinadas faltas e carências que são valorizadas, produzindo sofrimento, somente por falta de entendimento da sua finalidade. É o caso das enfermidades, das ocorrências mal sucedidas, dos fenómenos ditos aziagos que fazem parte do processo de crescimento moral e espiritual, como consequências das acções transactas que lhes deram origem em existências pregressas.
Muitas vezes, uma decepção com alguém que é afeiçoado, ao invés de ser um mal converte-se em um bem, porque o outro desvela-se, facultando melhor possibilidade de o entender além da sombra em que se oculta.
Insucessos de um momento, se bem-administrados, transformam-se em lições de profunda sabedoria, libertando o ego da sua injunção afugente.
Tudo, em verdade, que acontece, mesmo produzindo sensações desagradáveis ou emoções desconcertantes, faz parte das experiências que promovem o ser humano, desde que se lhes compreenda a finalidade, expressando gratidão pela sua ocorrência. Não somente aquilo que proporciona prazer e sucesso que merece gratulação, mesmo porque o seu é um trânsito de breve curso como aqueles que respondem pela insatisfação e pelo momentâneo mal-estar...
A compreensão lúcida de que tudo tem um sentido moral e um significado psicológico relevante proporciona harmonia íntima, trabalhando pela superação de como se encontra, a fim de se alcançar a plenitude.
Por outro lado, muitas existências aquinhoadas por admiráveis tesouros, como equilíbrio orgânico e saúde, beleza, prestígio social e recursos económicos, atormentam-se em razão do excesso, tombando no tédio, nas fugas psicológicas que levam a naufrágios morais esses privilegiados.
Deparam-se, em consequência, duas posturas: aquela que se caracteriza pela carência, pelo sofrimento, pela falta de triunfos materiais, que proporcionam alegria quando bem-administrados, e a outra, referta de valores preciosos, mas vazia de significado...
Indispensável, sem dúvida, a entrega irrestrita à gratidão, à vivência da alegria de aprender, à aquisição da saúde integral em marcha para a individuação, a perfeita integração do eixo egol Self.
A psicologia da gratidão abre-se, então, num elenco de excelentes recursos propiciatórios para a felicidade do ser humano.

Momento chega em que o ser se enriquece do júbilo de ser gentil e agradecido, não apenas por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a existência agradável.
A gratidão torna o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:22 am

5 - A gratidão como roteiro de vida
O ser humano perante a sua consciência — A busca do Self colectivo mediante a gratidão — A gratidão e a plenitude

Transitando por níveis diferentes de discernimento e de lucidez, a conquista da consciência constitui o grande desafio existencial. Pode-se afirmar, sem dúvida, que essa conquista pode ser transformada no sentido, no significado que se deve buscar, proposto por Jung, substituindo a ilusão da felicidade transitória, fugidia, qual se fosse uma delicada miragem que a realidade dilui ao contacto directo quando se encontra praticamente ao alcance...
Em razão dos diferentes estágios de consciência fisiológica (comer, dormir, reproduzir-se) ou psicológica (comer, dormir, reproduzir-se e também pensar e agir com discernimento e segurança ético-moral), o sentimento de gratidão apresenta-se também sob a injunção da capacidade de compreender e de sentir o valor da existência terrena.
Em algumas culturas modernas, ainda existe o conceito machista e primário de que a gratidão é um sentimento feminino, não passando de uma emoção específica da mulher, que não deve ser cultivada pelo homem.
Nesse contexto, quando um homem expressa gratidão, dizem, ei-lo em conflito de sexualidade com predominância da anima no comportamento.
O homem, dentro dessa teoria ultrapassada, deve caracterizar-se pela força, entenda-se brutalidade, vigor de sentimentos e quase total ausência das emoções superiores da ternura, da bondade, da abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estóico e másculo do que a superior entrega ao ideal, ao sentido de viver.
Em consequência, essa natural manifestação da emotividade rica de amor é recalcada e desprezada, gerando culpa inconsciente pela instalação do seu oposto, que é a ingratidão.
Numa linguagem poética, a flor e o fruto, o lenho e a sombra são a gratidão da planta à bênção da vida.
A linfa generosa e refrescante é a gratidão da nascente reconhecida ao existir.
O grão que se permite triturar é a gratidão que nele se encontra para se transformar em pão e em dádiva de manutenção da vida.
Tudo em a natureza quanto é belo, nobre, fecundo e estético constitui a sua gratidão por fazer parte do espectáculo da vida.
Porque pensa e sente, o ser humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são agressivo-defensivas e, à medida que logra evoluir, transformam-se em reconhecimento e retribuição. Não se trata de uma devolução equivalente ao que foi recebido, como um pagamento pelo que se lhe ofereceu, mas uma emanação de alegria, de reconforto, pelo fruído e conseguido.
Todo crescimento pessoal de natureza cultural, moral e espiritual deságua inevitavelmente no sentimento da gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se o indivíduo igualmente útil e valioso.
A gratidão individual é uma nota harmônica a contribuir para a sinfonia universal, ampliando-se e tornando--se um sentimento colectivo que proporciona o equilíbrio social e espiritual da Humanidade.
Pensa-se muito em gratidão como instrumento de afeição, o que é correto, no entanto é muito maior o seu significado que deve transformar-se numa forma de viver--se, de entregar-se ao processo de crescimento interior, de realização do progresso. Não basta, porém, desejar-se a gratidão como flor espontânea que medra em determinados momentos e logo emurchece.
Ela deve ser treinada, conforme já consideramos anteriormente, exercida como forma de comportamento, externando-se em todas as situações geradoras de alegria e de satisfação.
Normalmente, os portadores de transtornos de conduta, os psicóticos e todos aqueles que padecem de psicopatologias fazem-se ingratos, perdem o contacto com a realidade dos sentimentos, e volvem ao primarismo egoísta e soberbo das atitudes negativas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 10:23 am

É claro que as enfermidades desse porte, como resultado de problemas no arquipélago das neuro comunicações, apresentam carência de serotonina, de noradrenalina, de dopamina, amortecendo-lhes as emoções superiores e castrando as comunicações da afectividade. Tal ocorrência, no entanto, está atrelada ao estágio evolutivo do paciente, às suas construções mentais quando esteve saudável, aos mecanismos de ansiedade e de desconfiança, de fácil irritabilidade e enfado.
O exercício, portanto, da afeição que se gratula e se expressa de maneira gentil, enriquece a emotividade superior, empobrece o egoísmo e desenvolve o Self que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a comunicação no eixo entre ambos...
Nem sempre, porém, o indivíduo sente a gratidão, por motivos variados: infância infeliz, família turbulenta e difícil, relacionamentos malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de superioridade que embrutecem os sentimentos, desenvolvendo as ferramentas de autodefesa.
Isso não deve constituir motivo de preocupação. A simples constatação de que não se sente gratidão já é um forma de compreendê-la, de percebê-la em manifestação inicial. A medida que as emoções se expandem e o inter-relacionamento pessoal faculta a ampliação do convívio com outras pessoas, aparecem os pródromos do bem viver, da comunhão fraternal, do desinteresse imediatista em oposição às condutas doentias, surgindo espontaneamente o reconhecimento de amor e de ternura à vida e a tudo quanto existe.
Não havendo pessoa alguma que se possa apresentar como auto-suficiente, portanto desvinculada de outrem, que não necessite do contributo das demais pessoas individualmente assim como da sociedade em geral, é inevitável que a busca de companhia, o descobrimento dos valores que existem nos outros, a grandeza moral de que muitos dão mostras excelentes despertem o sentimento de gratidão como retribuição mínima ao contexto social no qual se vive.
A psicoterapia da gratidão, preventiva aos males e curadora de conflitos, está presente em todas as obras relevantes da Humanidade, seja naquelas de natureza filosófica ou religiosa, seja nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade, mártires ou santos, pensadores ou místicos, legisladores ou profetas... Isso porque ninguém consegue vincular-se a um ideal de engrandecimento pessoal e humanitário sem arrastar outros pela emoção do seu exemplo e da sua bondade para as fileiras da sua trajectória.
O sentimento da gratidão tem natureza psicológica e de imediato acciona o gatilho, sendo transformada em emoção e sensação orgânica.
Quando se experimenta o sabor da gratidão, aumenta-se o desejo de mais servir e melhor contribuir em favor do grupo social em que cada qual se encontra e da Humanidade em geral.
E inevitável, portanto, a presença da gratidão no cerne das vidas humanas.

O ser humano perante a sua consciência
Desde o momento quando ocorreu a fissão da psique dando lugar ao surgimento dos arquétipos ego e Self, os pródromos da consciência começaram a ensaiar o despertamento das emoções de variado teor e significado psicológico.
As manifestações iniciais do medo e da ira abriram as possibilidades para as demais expressões dos sentimentos adormecidos, propondo a continuação dos instintos de conservação e de reprodução da vida orgânica, facultando a superação daqueles outros agressivo-defensivos, ou pelo menos o seu eficaz direccionamento, elegendo preferencialmente aqueles que proporcionam prazer e harmonia em detrimento daqueloutros que geram sofrimento e desequilíbrio...
A dor brutal do princípio começou a ceder às manifestações menos grosseiras, culminando na presença dos fenómenos morais afligentes que o conhecimento tem o dever de lenir, à medida que a consciência adquire os níveis superiores a que está destinada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:54 pm

No Oriente, o discernimento que proporcionou o surgimento da consciência é encontrado na tradição do Bhagavad Gita, parte do Mahabharata, quando o mestre Krishna, dialogando com o discípulo Ardjuna, ajudou-o a penetrar na vida mística, especialmente na luta que deveria ser travada com destemor entre as virtudes (de pequeno número) e os vícios (muito mais numerosos), mediante a aplicação das forças nobres da consciência.
No judaísmo, surgiram os formosos vislumbres do bem e do mal, nos livros mais antigos dos profetas, especialmente em alguns daqueles que foram considerados heréticos a partir do Concilio de Niceia, no ano 325 D.C., convocado pelo imperador Constantino. Dentre esses destacamos o Livro de Enoque, em cujas lições Jesus teria encontrado apoio para o seu ministério, e os apóstolos João, Tiago, Lucas, nos Atos, e Paulo se inspirariam para a elaboração de preciosas páginas que aplicaram nas suas propostas evangélicas e epistolares...
A dualidade arquetípica da sombra e da luz apresenta-se então como Satã e Cristo, o Ungido, que vêm das veneradas tradições orais, detestado o primeiro pela sua perversão e maldade — o outro lado da psique, o lado que se procura ignorar e o Cristo - a luz da verdade, do bem, da plenitude...
No Ocidente, o pensamento socrático-platónico expressou-se de maneira equivalente, apresentando a virtude como consequência dos valores morais ante os vícios de todo porte que degradam, impedindo o desenvolvimento do logos interno inerente a todos os seres humanos...
Na esteira das sucessivas reencarnações, o Espírito aprimora os valores ético-morais e intelectuais, propiciando o desenvolvimento das faculdades da beleza, da estética, da arte em diversificadas manifestações que facultam a superação dos impulsos do primarismo pela espontânea eleição dos sentimentos morais elevados.
Vivenciando, em cada reencarnação, uma ou várias faculdades éticas, as suas variantes enriquecidas do bem sobrepõem-se às anteriores tendências, fixando os valores espirituais que culminarão na plenitude do ser.
Esses períodos, alguns assinalados por grandes turbulências emocionais, despertam a consciência do ego para o conhecimento do Si-mesmo, proporcionando-lhe compreender a finalidade da existência carnal.
À medida que supera os episódios vivenciados no pavor, dando lugar às manifestações da afectividade, a princípio em forma de posse e domínio, para depois em atitudes de renúncia pelo bem-estar do outro, a ampliação da consciência objectiva impulsiona o Espírito para as conquistas de natureza cósmica.
Nesse comenos, surge o nobre sentimento da gratidão com as suas mais simples expressões de júbilo pelo que se recebe da vida, e posteriormente pela necessidade de retribuir, libertando-se da posse enfermiça e da paixão desequilibrante, antes orquestradas pelo ego e pelo arquétipo sombra.
Sentindo essa doce emoção de agradecer, de imediato se é propelido para a cooperação edificante no grupo social para melhor e mais feliz, no qual a saúde real independe dos processos de desgastes pelas enfermidades ou pela senectude.
A consciência grata é risonha e saudável, predominando em qualquer idade somática do ser humano.
Comummente se encontram crianças e jovens com exuberância de saúde física, portadores, no entanto, de frieza dos sentimentos relevantes do afecto, ingratos, mudando de atitude somente quando estão em jogo os seus interesses imediatos de significado egotista. Simultaneamente se detectam os valores de enriquecimento gratulatório em anciãos e enfermos que, não obstante as circunstâncias e ocorrências orgânicas tornam-se exemplos vivos de alegria, de luminosidade, de bem-viver... Nem mesmo a aproximação da morte biológica aflige-os ou atemoriza-os, antes, pelo contrário, alegra-os em agradável anúncio de libertação que lhes enseja a individuação antes ou após o decesso tumular...
O sentimento de gratidão, portanto, não se deve apresentar exclusivamente quando tudo transcorre bem, quando os fenómenos psicossociais, emocionais e orgânicos encontram-se em clima de júbilo, mas também por ocasião das ocorrências denominadas como adversidades. Reagir-se de maneira grata aos sucessos de qualquer porte é perfeitamente normal e natural, e se assim não se procede é porque se é arrogante, soberbo, vivendo em conflitos desgastantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:54 pm

O desafio à gratidão dá-se nos tempos difíceis, quando surgem as adversidades que são também parte do processo desafiador da evolução, porquanto nem sempre os céus humanos estarão adornados de astros, sendo todos convidados a atravessar a noite escura da alma com a luz do sentimento reconhecido a Deus pela oportunidade de experienciar novas maneiras de viver.
Normalmente, o sofrimento ceifa a gratidão e o indivíduo foge para a lamentação deplorável, para a auto-acusação ou auto justificação, comparando-se com as demais pessoas que lhe parecem felizes e destituídas de qualquer inquietação.
De certo modo, sem as experiências dolorosas, ninguém pode avaliar aquelas que são enriquecedoras e benignas por falta de parâmetros de avaliação. Necessário nesses momentos mais difíceis liberar-se da raiva, da mágoa, evitando a ingratidão pelos bens armazenados e pelas horas felizes anteriormente vividas, continuando a amar a vida mesmo nessas circunstâncias indispensáveis.
O mito bíblico de Jó deve constituir modelo de aprendizado, em razão da sua coragem e gratidão a Deus mesmo quando tudo lhe fora retirado:
rebanhos, servos e escravos, filhos e recursos financeiros, ficando em estado lamentável, porém sem revolta.
A lenda narra que aquilo fora resultado da interferência de Satanás, que lhe invejando a felicidade e o amor a Deus, propôs ao Criador que lhe retirasse tudo, e ele se revelaria como as demais criaturas, rebelde, ingrato e desnorteado.
Aceitando o repto proposto, o Senhor da Vida testou o afecto de Jó, cobrindo-o de chagas e de miséria, que reagiu de maneira oposta à sombra, mantendo-se fiel em todos os momentos e grato pelas provações, apesar da revolta da sua mulher...
Apenas perguntou:
— Por que eu?
E depois de muitas reflexões felizes concluiu que não existe o bem sem o mal, a felicidade sem o sofrimento, colocando Deus - o arquétipo primordial - acima de tudo e aceitando-Lhe as imposições sem revolta.
Em consequência, Deus demonstrou a Satanás que Jó lhe fora fiel no teste e devolveu-lhe tudo quanto lhe houvera tirado...
Dilatando-se a consciência enobrecida pela lucidez, os arquivos do Souberam os arquétipos celestes, que procedem do primordial, e a gratidão também se torna o estado numinoso que enseja a conquista cósmica recomendada por Jesus como a instalação do Reino dos céus nos arcanos do coração.
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 Série Psicológica Vol. 16 - Psicologia da Gratidão/Joanna de Angelis - Página 2 Empty Re: Série Psicológica Vol. 16 - Psicologia da Gratidão/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:54 pm

A busca do Self colectivo mediante a gratidão
A herança arquetípica da intolerância religiosa e alguma de origem científica a respeito das conquistas novas do pensamento deram lugar ao surgimento de muitos dos conflitos que afligem o ser humano, especialmente no que diz respeito ao seu comportamento neurótico.
Castradoras e inconsequentes, essas doutrinas foram e prosseguem responsáveis pela geração da culpa e da autopunição como instrumentos de depuração pessoal, facultando o surgimento do ego neurótico.
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De igual maneira, o materialismo científico exacerbou na valorização do corpo, atribuindo-lhe necessidades que, em verdade, são transformadas em exigências doentias de comportamento que perturbam o processo normal de desenvolvimento das suas funções orgânicas e psicológicas. Nem se viver para o corpo ou deixar-se de o valorizar... O meio-termo é sempre o mais saudável, em vez de qualquer postura extremista.
Todas as pessoas são portadoras de necessidades de vário tipo, caracterizando o estágio evolutivo de cada uma. E natural, portanto, que se deseje a posse de valores que proporcionem bem-estar, a convivência social saudável, a afectividade enriquecedora, ao mesmo tempo em que possam ocorrer alguns fenómenos de tristeza, de amargura, de solidão, resultando em fugas da realidade sem danos psicológicos na sua estrutura íntima.
Indivíduos portadores de conflitos severos, sem a coragem para o auto-enfrentamento, a fim de diluí-los nas experiências dos relacionamentos humanos, refugiaram-se no dogmatismo defluente da ignorância, para transferir suas inseguranças e angústias para os outros, proibindo a vivência da felicidade sob as justificativas de que a Terra é um vale de lágrimas ou um lugar de desterro, onde o sofrimento deve ser cultivado. Ao mesmo tempo, em razão das inquietações e frustrações sexuais, estabeleceram que o corpo é responsável pela perda do Espírito, firmando regras de autopunição, de flagelação, de masoquismo, submetendo-o, mediante mecanismos perversos, às exigências absurdas de condutas antinaturais, violentadoras do seu processo normal de desenvolvimento.
Conceitos infelizes e injustificáveis, portanto, transformaram-se em regras religiosas e algumas em imposições culturais, ditas científicas, punindo o indivíduo pelas suas necessidades biológicas e psicológicas, facultando graves transtornos na personalidade.
Porque é inviável a violência em relação às necessidades emocionais e orgânicas do ser humano, surgiram os mecanismos de fugas psicológicas e de hipocrisia, construindo enfermos do Self muito preocupados com o ego. Mais importante, por conseguinte, de ser autêntico, normal, em processo de crescimento, criou-se a máscara do parecer bem apesar das aflições internas e avassaladoras.
O que é grave nesse comportamento é o impositivo de odiar-se o corpo para salvar-se a alma, como se a dualidade não fosse resultado de uma interdependência na qual o Espírito é o responsável pelo pensamento, pelas aspirações, pelos sentimentos que a organização fisiológica expressa como necessidades que se transformam em prazeres.
Responsável pelo corpo em que se transita, o Espírito modela-o através do seu perispírito encarregado das experiências anteriores de outras existências, trabalhando-lhe as necessidades de acordo com a conduta e as acções felizes ou desditosas que naquela ocasião foram praticadas.
O sentimento de gratidão, em consequência, desaparece para dar lugar ao de desconforto pela vida física e de ressentimento pelos próprios fracassos, quando, em vez desse comportamento, a Terra é uma formidável escola de bênçãos, onde se vivenciam experiências em refazimento e outras em construção, avançando-se sempre no rumo da plenitude.
Toda pessoa normal sente desejo de amar e de ser amada, de ambicionar e de conquistar valores que lhe traduzam o estágio de evolução intelecto-moral, de sorrir e de chorar, como fenómenos comuns do dia a dia.
Não existem pessoas destituídas desses anelos, excepto quando transitam por dolorosos transtornos psicóticos que lhes invalidam o discernimento e a capacidade de compreender.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:55 pm

O importante é a maneira como se aspira e o nível de equilíbrio que deve ser tido em conta, evitando-se qualquer abuso ou excesso defluentes da insatisfação neurótica.
É fenómeno normal o desejo de ser aceito no grupo social e benquisto onde se encontre, sem nenhum prejuízo para a sua evolução moral, antes, pelo contrário, constituindo um estímulo para o desenvolvimento dos valores adormecidos.
Quando o ego se neurotiza, manifestam-se os transtornos que são frutos espúrios dos fenómenos castradores, como falar demais ou não dizer nada, viver sempre em luta pelo poder ou desinteressar-se totalmente de qualquer aspiração, aguardar a afectividade dos outros sem o empenho por se doar às demais pessoas, falsas condutas de auto-valorização em detrimento daqueles que constituem o núcleo familiar ou social.
O mais grave nessa conduta é a maneira como são exteriorizadas as manifestações do ego neurótico.
Algumas pessoas apresentam-se agressivas, desvelando-se com facilidade, impondo-se sobre os outros, não ocultando os conflitos em que se debatem, enquanto outras, mais hábeis e dissimuladoras, sabem como manipular o próximo e parecer vítimas das incompreensões, cultivando a auto-compaixão e dando lugar a desarmonias onde quer que se encontrem.
As variantes dessas manifestações neuróticas são várias formas de expressar-se, exigindo de todos cuidados especiais nos relacionamentos, a fim de se evitar conflitos mais graves, porquanto os pacientes dessa natureza encontram-se sempre armados contra, em mecanismo contínuo de defesa como se estivessem ameaçados exteriormente...
Apesar desses impositivos ancestrais e dessas heranças culturais perturbadoras, o Self pessoal intui o melhor caminho a percorrer e despreza os tormentos neuróticos do ego, abrindo espaço para a compreensão da finalidade da existência que deve ser cultivada com alegria, mesmo nos momentos de desafios e de dificuldades, ampliando a sua faixa de realização até se mesclar no painel colectivo em forma de gratidão pela vida.
À medida que o Self se resolve por desmascarar o ego neurótico e propõe-se à diluição dos seus conflitos, modifica-se a realidade no paciente, que passa a conviver melhor com as próprias dificuldades, compreendendo que lhe cabe realizar uma análise mais cuidadosa a respeito da conduta pessoal e social, que não podem ser corretas desde que se expressam em sentido contrário à correnteza, isto é, ao modus vivendi da sociedade.
Lentamente, o indivíduo, nesse comenos, percebe quantos valores positivos se lhe encontram presentes no imo, aprendendo a respeitar a vida e as suas conjunturas com alegria, modificando uma que outra circunstância ou realização, ao mesmo tempo descobrindo a bênção da gratidão por tudo quanto lhe acontece e frui, ampliando-se em direcção à sociedade.
O Self colectivo enseja-lhe adaptação dentro do seu contexto e, sem a perda da identidade e das conquistas, mantém-se feliz por compreender a utilidade da sua existência em relação a outras vidas e ao conjunto cósmico.
Ninguém que se possa eximir dessa fantástica percepção, que enriquece da saudável alegria de lutar e de perseverar nos ideais que promovem o bem-estar colectivo e a felicidade de todos.
Nesse imenso oceano de graças, o Espírito descobre quanto é importante a sua contribuição em favor do conjunto e como é necessário que processe a própria evolução.
Inevitavelmente, a pouco e pouco, os complexos de inferioridade, os transtornos de comportamento, os conflitos arquetípicos cedem lugar ao ego equilibrado sob saudável administração do Self estruturando a nova sociedade do porvir.
É nesse momento que a gratidão ilumina interiormente o ser humano e torna-o elemento valioso no conjunto espiritual da Humanidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:55 pm

A gratidão e a plenitude
É natural que se anele pela plenitude, que representa superação do sofrimento, da angústia, da ansiedade e da culpa, significando o encontro com a consciência ilibada, que sabe conduzir o carro orgânico no destino certo da iluminação. Nada obstante, ninguém se pode libertar totalmente dos atavismos, sem adquirir novos hábitos, especialmente das heranças mitológicas que o vinculam de alguma forma à condição de humanidade, portanto estando sempre sujeito a aflições e a todas as injunções do veículo carnal.
Pensar-se em plenitude como ausência de inquietações é ambição utópica, desde que a própria condição de transitoriedade do carro orgânico faz compreender-se o fenómeno do seu desgaste, da degeneração que lhe é própria, das alterações e mudanças de constituição, produzindo mal-estar, dores e psicologicamente ansiedade, melancolia, inquietação.
A plenitude é o estado de harmonia entre as manifestações psíquicas, emocionais e orgânicas resultantes do perfeito entrosamento da mente, do Self que também possui alguma forma de sombra, com o ego, integrando-se sem luta, a fim de ser readquirida a unidade.
Essa conquista numinosa, resultado da aquisição da autoconsciência, liberta o sentimento de gratidão que faz parte da individuação, produzindo uma aura de mirífica luz em torno do ser vitorioso sobre si mesmo.89
O ato de alcançar esse estado psicológico de auto integração faculta a perspectiva de uma expansão da consciência na direcção da Divindade, de onde procede e para onde retorna, sempre que encerra um dos inumeráveis ciclos da aprendizagem terrena.
É natural, portanto, que a jornada humana seja caracterizada pelos experimentos psíquicos de desenvolvimento do deus interno, a que já nos referimos, e da libertação das síndromes que se transformam em bengalas psicológicas para justificar o não crescimento interior, a permanência na queixa, no azedume, na paralisia emocional em que se compraz em mecanismo infeliz de masoquismo.
O Espírito está fadado à plenitude desde quando criado por Deus simples e ignorante. Simples, porque destituído das complexidades do conhecimento, da razão, do discernimento, da lógica, da evolução.
Ignorante, em razão do predomínio da sombra no Self da ausência dos recursos intelecto-morais que o engrandecem como efeito do esforço pessoal na conquista dos valores que lhe estão ao alcance.
Natural, desse modo, que ocorram conflitos constantes, caracterizados por momentos de coragem e de desencanto, por anseios de crescimento e temores das conquistas libertadoras, por dúvidas e melancolia...
A sombra acompanha inevitavelmente o ser humano enquanto ele se encontra no processo da auto iluminação, cedendo lugar à harmonia quando ocorre a libertação da matéria.
Segundo o historiador grego Heródoto de Halicarnasso, Sólon, o nobre filósofo, dialogando com o rei Creso, da Lídia, tido como o homem mais rico do mundo no seu tempo, que se considerando feliz pelos tesouros amealhados, após apresentá-los ao sábio, indagou-lhe, eufórico, qual seria na sua opinião o homem mais ditoso do planeta. E porque o génio ateniense tivesse informado que havia conhecido um jovem de nome Télus, que se notabilizou em Atenas pela nobreza de carácter e pela abnegação, a quem assim o considerava, o monarca soberbo voltou à carga com nova indagação:
— E, na sua opinião, qual é o segundo homem mais feliz do mundo? — acreditando que seria citado como exemplo, sofreu novo constrangimento ante a resposta do eminente convidado, que informou ter conhecido dois irmãos que cuidavam da própria genitora e, quando esta desencarnou, dedicaram a preciosa existência a servir à cidade-Estado. Creso não pôde mais sopitar o desencanto e tornou-se inamistoso com o convidado, realmente mais sábio daquela época.
Sólon manteve-se tranquilo e, no momento da despedida, disse-lhe:
— Rei, ninguém pode afirmar-vos se sois feliz, senão depois da vossa morte, porque são muitos os incidentes e ocorrências que modificam os transitórios estados emocionais e económicos de todas as criaturas...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:55 pm

De facto, mais tarde, após a morte do filho Actis, em circunstâncias trágicas, e a destruição do seu país que sucumbiu às tropas de Ciro, o Grande, da Pérsia, vendo Sardes, a capital da Lídia, ardendo, e todos os tesouros nas mãos dos invasores, ele concordou com Sólon, e proclamou no poste em que seria queimado vivo:
— Oh! Sólon! Oh! Sólon, como tinhas razão!
Ouvido por Ciro, o conquistador, que também amava Sólon, o filósofo, perguntou-lhe a razão pela qual se referia ao nobre sábio, e, após narrar a experiência, teve a vida poupada, tornando-se seu auxiliar no controle dos bens e educador de Cambises, seu filho...
A transitoriedade dos valores materiais, inclusive da argamassa celular, torna o Espírito reencarnado vulnerável às injunções normais da existência física.
Creso, pioneiro da fundição de moedas de ouro, possuidor de imensa fortuna em ouro trazida pelas águas do rio Pactolo, que dividia a capital da Lídia, não se deu conta de ser grato à vida, pensando somente em acumular, embora vitimado pelas circunstâncias, em haver sido pai de um surdo-mudo e o seu herdeiro haver experimentado uma desencarnação trágica, varado pela lança atirada pelo seu amigo Adasto, filho do rei Midas, da Frígia...
O que se tem é adorno, sendo indispensável considerar-se psicologicamente o que se faz, o que se é, e tudo aquilo que se trabalha interiormente transformar em gratidão pela existência, pela oportunidade de auto iluminação.
Embora a fortuna colossal, Creso não era realmente feliz, pois que não pôde evitar o nascimento do filho limitado nem a morte do herdeiro amado e, muito menos, a invasão e destruição do seu reino. No entanto, quando se permitiu a humildade de reconhecer que Sólon tinha razão, pôde ter a sua e a vida dos familiares poupadas da morte hedionda que sempre é reservada aos vencidos.
Ainda merece consideração a frase de Ciro, ao libertar o rei e família vencidos:
— Desejo que se anote a minha generosidade, pois que, se algum dia eu vier a cair vitimado em alguma batalha, espero que se use da mesma misericórdia para comigo, conforme a uso para com ele [Creso].
São os valores morais, as conquistas espirituais que respondem pela gratidão que resulta de todas as oportunidades de crescimento e de valorização da existência, enriquecendo o ser humano de generosidade, a filha dilecta da sabedoria de viver.
Aquele que é grato, que sabe reconhecer a própria pequenez ante a grandeza da vida, faz-se pleno e feliz.

Os valores morais, as conquistas espirituais respondem pela gratidão que resulta de todas as oportunidades de crescimento e de valorização da existência, enriquecendo o ser humano de generosidade, a filha dilecta da sabedoria de viver.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:56 pm

6 - A gratidão como recurso para a aquisição da paz
Heranças afligentes — Conflitos existenciais e fugas psicológicas — Auto-realização e paz

Uma existência sem a presença de um significado psicológico é vazia e destituída de motivação para ser experienciada, e nenhum ser humano a suporta, e, quando nela se movimenta, normalmente naufraga na busca de soluções que não possuem conteúdos libertadores.
O Espírito foi criado para alcançar o infinito e possuir a sabedoria superior que o transforma em arcanjo...
A caminhada, às vezes dolorosa, pela escola terrestre faz lembrar o diamante bruto que é submetido à remoção da ganga, a fim de poder brilhar como uma estrela em que se transforma.
Nas vidas vazias, aquelas que não têm objectivos psicológicos, há muito espaço para a inquietação e a desconfiança, o autodesprezo e o ressentimento, o acolhimento dos transtornos da emoção e dos desequilíbrios da mente, pela ausência de significado existencial.
Essa ocorrência é facilmente identificada nos indivíduos solitários ou não, sempre caracterizados por imensa necessidade de conquistar coisas externas e de projectar a imagem, porque o ser real encontra-se incompleto, inseguro, sem estímulo para continuar a jornada.
Premidos pelas circunstâncias amargas a prosseguirem no veículo físico, buscam os jogos dos prazeres exaustivos ou partem para as experiências perigosas a que submetem o Self, em desafios que quase sempre resultam em fracassos, quando não em mortes destituídas de dignidade. Entre eles encontram-se alguns dos desportistas radicais, que pretendem chamar a atenção para a coragem, que bem pode significar desamor à existência e zombaria ao bom senso e à precaução; ou, sob a acção exasperada da adrenalina, esquecem-se de si mesmos, transferindo-se para o aplauso em que se irão destacar, demonstrando aos demais a sua superioridade.
Igualmente se entregam a competições nas quais pretendem sempre ultrapassar os limites anteriores, como novos deuses, dominados pelos mitos das personagens de quadrinhos, que se transformam em heróis do absurdo, revivendo aqueloutros adormecidos no recesso do inconsciente colectivo...
O ser humano saudável é cauto, vivendo dentro dos padrões éticos que conferem o bem-estar e a alegria existencial. A sua coragem não é medida pelo destemor e pela busca do perigo, mas pela resistência que oferece às circunstâncias perturbadoras, permanecendo sempre digno e lutando tranquilo.
Sente-se afortunado pela harmonia de que desfruta no eixo emoção/psique e no apoio aos equipamentos físicos de que se utiliza para o crescimento interior e para a vitória sobre as heranças prejudiciais que lhe permanecem no comportamento.
Em razão da harmonia que vibra na sua existência, é rico de alegria e de objectivos edificantes, proporcionando-se satisfação pela oportunidade que desfruta, igualmente contribuindo em favor da comunidade onde se encontra, a fim de torná-la sempre melhor.
O sentimento de gratidão é-lhe uma condição natural, pois que sabe valorizar tudo quanto lhe chega, sendo abençoado pelas facilidades ou mediante os sofrimentos que, eventualmente, o alcançam. Isso porque o bem-estar não se restringe apenas às questões agradáveis e proporcionadoras de júbilo, mas também àquelas de preocupação e de análise das variadas conjunturas do processo humano em desenvolvimento.
O apóstolo Paulo, por exemplo, afirmava que se comportava da mesma forma, quer estivesse coroado de alegrias, quer experimentasse o cárcere e a provação... Isso porque o sentido psicológico da sua vida era servir a Jesus, e onde se encontrasse, conforme estivesse nada lhe constituía impedimento para prosseguir na vivência do seu significado emocional. Na alegria, demonstrava gratidão pelas bênçãos, e na dor, ainda agradecia por poder confirmar a grandeza da sua fé e da sua entrega.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:56 pm

Quem somente espera frutos saudáveis da árvore da vida ainda não aprendeu a viver, desconhecendo que as ocorrências variadas, todas elas, fazem parte do esquema existencial.
Pessoas existem que nem sequer agradecem as dádivas que lhes são oferecidas, permanecendo sempre queixosas, insatisfeitas, insaciáveis, porque é baixa a sua capacidade de auto-estima, dessa maneira fugindo para a situação egotista. Outras sempre agradecem todas as alegrias que fruem, mas se olvidam de expressar a gratidão ante os embaraços que não sucederam, os insucessos que não aconteceram... E outras ainda existem que sabem agradecer a alegria que vivenciam, as dificuldades que não se tornaram impedimento às realizações edificantes e as dores que as alcançam, elucidando que tal acontecimento encontra-se incurso na lei de causa e efeito, porquanto somente lhes acontece o que é de melhor para o seu processo de evolução. Assim procedem porque sabem da justiça que se encontra embutida em todos os mecanismos do desenvolvimento espiritual e moral de cada um.
Quando se aprender a agradecer e a louvar, certamente a saúde integral se constituirá o resultado feliz do fenómeno agradável do júbilo presente em todas as situações existenciais trabalhando a elevação do ser.
Nessa compreensão, lentamente o eixo egol Self faculta, a unidade sem choque, a harmonia que deve existir no processo da recuperação decorrente da anterior fissão da psique...
Certamente se trata de uma batalha silenciosa, significativa, no entanto rica de aprendizagem e descobertas, porque se vai ao mais profundo dos sentimentos, a fim de avaliar o sentido e o significado psicológico da vida física.
Assim procedendo, encontra-se a maturidade emocional, aquela que auxilia o discernimento a respeito de tudo quanto se pode e se deve realizar, em detrimento do que se pode, mas não se deve fazer, ou se deve, mas não é lícito executar.
A expressiva maioria das criaturas vive de tal maneira automaticamente que nem sequer se apercebe dos mecanismos existenciais, das possibilidades de desenvolvimento da inteligência e dos sentimentos, tornando a jornada um encantamento no qual as experiências de auto iluminação multiplicam-se, toda vez que os acontecimentos são bem--administrados. Não existem pessoas privilegiadas, nem mesmo aquelas que parecem totalmente felizes, porquanto o trânsito carnal é recurso de que se utiliza a Divindade, a fim de permitir o desenvolvimento dos valores adormecidos no cerne do ser.
Em consequência, deve-se viver atentamente, observando-se tudo aquilo que acontece durante a jornada humana, amealhando simpatia e solidariedade, afeição e renúncia aos impositivos do ego, na incessante busca da plenitude.
Somente aquele que luta e se aprimora consegue a superação dos vícios, dos arquétipos inquietadores que procedem do passado.
Viver, portanto, na Terra, é uma excelente ocasião de avançar no rumo da imortalidade feliz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:56 pm

Heranças afugentes
Os atavismos defluentes do processo antropossociopsicológico remanescem no ser humano com a força dos velhos hábitos, com toda a predominância dos instintos agressivo-defensivos, mutilando algumas aspirações enobrecidas e dificultando a vivência das atitudes novas, caracterizadas pela razão, pelo sentimento, pelo ideal de servir e dignificar a sociedade. Dentre esses destaca-se muitas vezes o que diz respeito à ingratidão, num estado de primarismo do comportamento, mediante o qual, ainda se estagiando na fase do egocentrismo, não se valoriza a contribuição das demais pessoas, acreditando-se merecedor de todos os serviços, sem nenhuma obrigação retributiva ou, pelo menos, de respeito pelo outro.
A sombra é o arquétipo dominador da conduta nessa fase da evolução psicológica do ser humano.
O predomínio do instinto de conservação da vida modela o carácter humano com tal vigor que sempre coloca o indivíduo em atitude defensiva, armando-o invariavelmente contra tudo e contra todos, mesmo quando alguém se propõe a auxiliar.
Permanece a suposição falsa de que as demais criaturas são exploradoras, interesseiras, incapazes de vivenciar o afecto legítimo, mantendo sempre uma atitude, disfarçada ou não, de retirar proveito de todos os esforços empregados. Mesmo que os fatos demonstrem o contrário, há uma insegurança afectiva muito forte nesse indivíduo, que considera os demais conforme os seus próprios padrões de conduta, incapaz segundo se sente de ser útil, de auxiliar sem colher os imediatos frutos desse procedimento.
À medida que ocorre o desenvolvimento do Self e diminui a predominância do ego, que passa a compreender melhor a finalidade da existência terrestre, amplia-se a capacidade de sentir amizade, de corresponder às expectativas, de contribuir em favor do bem-estar alheio, que sempre redunda em satisfação pessoal, embora não seja esse o objectivo imediato.
Ocorre que toda atitude dignificante que abrange o grupo social inicialmente é benéfica àquele que a assume.
De igual maneira, toda vez que alguém opõe obstáculo ao processo de crescimento da sociedade, padece a sua constrição inevitável, encarcerando-se nas paredes sombrias da prepotência.
Em razão desses diferentes estágios evolutivos, surgiram os dominadores dos outros, os ditadores impiedosos, as classes poderosas em consequência do status económico, os presunçosos que se acreditam superiores, iludidos pelo conceito da raça ou etnia em que renasceram no corpo, da astúcia que é uma herança do instinto felino e não efeito da inteligência...
Allan Kardec, com clareza, faz uma bela análise desse comportamento no livro Obras póstumas, no capítulo intitulado "As aristocracias",2 analisando os diversos níveis ou alternativas da Humanidade, em relação ao Espiritismo, que oferece os recursos surpreendentes da iluminação, portanto da perfeita integração do eixo egol Self como indispensável para a harmonia pessoal, o reconhecimento amoroso à vida, por tudo quanto possui e frui, a infinita gratidão pela honra da existência terrena.
A verdadeira aristocracia refere-se o nobre Codificador, é aquela de natureza intelecto-moral, na qual a inteligência e o sentimento unem-se, dando lugar à sabedoria, à libertação das paixões primevas, à superação das heranças negativas e dos atavismos perturbadores.
O velho conceito de aristocrata, pelo sangue, pelos títulos nobiliárquicos adquiridos por meios nem sempre dignificantes, que caracterizaram o passado da sociedade, ensejando os privilégios dos descalabros assim como o hediondo direito divino dos reis, como se não fossem constituídos pela mesma argamassa em que transitam os camponeses e o poviléu, sempre detestados pelos iludidos terrestres, encontra-se em decadência total.
Encontramo-los em todas as épocas da História, desde as lamentáveis classes sociais da índia, no passado, e possivelmente no presente, embora não legais, mas sempre infelizmente morais, aos faraós egípcios... e mesmo os chefes tribais, nem sempre valorosos e dignos para exercerem o mandato de comando do grupo étnico ou do país sob a sua governança.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 17, 2024 8:56 pm

As religiões, por sua vez, aproveitaram-se das circunstâncias e criaram também as suas aristocracias privilegiadas pelo poder temporal em nome da fé que deve estar acima das questões da vaidade humana...
Na interpretação dos ensinamentos religiosos de todos os matizes, os indivíduos investidos das denominadas responsabilidades pelo rebanho adaptam a mensagem, dela retirando a essência superior e apresentando as próprias paixões que transferem para Deus. Através desse mecanismo de temor submetem os crédulos ao seu talante, dominando-os e mantendo aqueles que são menos evoluídos a permanecerem na revolta ou no egoísmo.
Apresentassem a grandeza do amor de que se revestem todas as doutrinas religiosas, e mais facilmente conseguiriam libertar os aprisionados no primarismo, conduzindo--os aos elevados patamares da iluminação.
Jesus a todos convocou com os mesmos direitos e com os mesmos deveres, oferecendo oportunidade de trabalho e de evolução aos mais diferentes segmentos sociais, sendo respeitoso aos poderosos do seu tempo, que o buscavam, assim como à denominada ralé, à qual preferia por motivos óbvios da sua missão iluminativa e libertadora.
O inevitável progresso moral vem diminuindo o perverso comportamento, anulando o poder das classes dominadoras por circunstâncias adversas e ancestrais, abrindo espaço para os direitos humanos, ampliando as possibilidades de igualdade entre todas as pessoas, pouco importando as posses, a hereditariedade, antes valorizando as suas qualidades de inteligência e de sentimento, as suas conquistas morais que os destacam no cenário humano.
Certamente, em razão do processo evolutivo, que é inevitável, essas heranças cederão lugar às outras, às nobres que as sucederam e que, no seu momento próprio, passarão a ressumar com a força ética da solidariedade e do amor entre todos os seres, incluindo a natureza.
Apesar desse fenómeno incoercível que é o progresso, muitos indivíduos tentam resistir aos seus impositivos, optando pela deplorável condição de infelizes, em razão da sombra que os submete aos caprichos da inferioridade.
A Divindade, porém, dispõe de mecanismos que se impõem favoravelmente ao desenvolvimento das faculdades morais do ser, através das expiações nas quais expurgam os miasmas que os asfixiam na inferioridade, sem que percam as conquistas preciosas das experiências vivenciadas.
Desse modo, o processo de crescimento em relação à própria plenitude é impostergável, e dele ninguém se evade, por fazer parte dos instrumentos universais do amor divino.
Serão sinais demonstrativos da sua presença, quando surgirem os primeiros vagidos de compaixão e de ternura, de amizade desinteressada e o desejo de retribuição, pelo menos de parte daquilo que amealha. A solidariedade é, desse modo, a maneira de expressar a alegria de viver e de desenvolver os relacionamentos que edificam os sentimentos ou os despertam quando se encontram adormecidos.
A gratidão é a impressão digital do desenvolvimento intelecto-moral do Espírito, que se liberta das heranças afligentes.

2 Obras póstumas, Allan Kardec, 11. Ed., FEB.98
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