LUZ ESPÍRITA
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Série Psicológica Vol. 10 - O despertar do Espírito/Joanna de Angelis

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Série Psicológica Vol. 10 - O despertar do Espírito/Joanna de Angelis - Página 4 Empty Re: Série Psicológica Vol. 10 - O despertar do Espírito/Joanna de Angelis

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 11:25 am

DESAFIOS AFLIGENTES
Luta pela vida. — Desespero. — Medo da velhice.

Existir é desafio psicológico de que ninguém se pode evadir.
Haver atingido a etapa da razão constitui a mais notável saga do processo da evolução no qual está engajada a vida.
Passo a passo, o psiquismo se desenvolve no ser embrionário, arrastando as experiências anteriores e tornando-as estímulos para o prosseguimento, mediante fenómenos automáticos que atingem a plenitude das suas funções a partir do momento em que conquista o patamar da consciência.
Alcançada essa etapa, cada realização se inscreve nos painéis profundos do ser como força para mais audaciosas conquistas ou permanência na retaguarda, na qual se demora o problema não solucionado.
As heranças dos instintos primários passam, nesse estágio, a ser substituídas pelo discernimento, que as vai monitorizando de claridade mental, evitando a conduta por impulsos, de modo que se estabeleçam as escalas de valores éticos para maiores desempenhos.
A personalidade se delineia então com os arcabouços que vêm sendo desenvolvidos nas experiências anteriores, podendo ser elaborada com contornos definidos e saudáveis ou estruturada mediante conflitos perturbadores.
O ser, na sua individualidade de textura, aprimora-se com os conhecimentos que adquire, desenvolvendo os sentimentos que lhe exornam o íntimo, de maneira a atingir a harmonia que busca.
Aspirações do bom e do belo, do ideal e do superior, são a tendência natural de cada Espírito em processo de elevação, a serem ampliadas pelo esforço de auto-iluminação.
Registros de medos, angústias, violências, traumatismos, decorrem de atavismos em permanência, não superados, como resultados do primarismo ainda vigente, que necessita ser trabalhado pela consciência.
Existir, é também sentir, envolver-se, amar, desenhar projectos, caminhar no rumo das necessidades para equacioná-las, logrando a perfeita identificação entre estar e ser.
O grupo social, por isso mesmo, é resultado dos indivíduos que o constituem, agindo de acordo com a qualidade ética de cada um e de todos em conjunto.
A conscientização da individualidade é imprescindível para a elaboração da sociedade harmônica, que passará a influenciar-lhe ainda mais o desenvolvimento. A sua falta de responsabilidade, de integridade - essa consciência de dever e de rectidão - resulta em um grupo infeliz, constituído de personalidades arbitrárias que agem equivocadamente, sem respeito pelas outras, nem consideração pelas notáveis conquistas da inteligência e da sabedoria.
O ser humano está mergulhado no rio da Vida e impelido a nadar na direcção do porto de segurança.
Tendo como exemplo aqueles que chegaram em vitória à meta, transforma-se em orientador de quem segue com dificuldade, oferecendo-lhe técnicas e auxílios indispensáveis à superação de corredeiras e de abismos que nem sempre são visíveis.
Graças ao seu contributo, o desempenho é mais seguro e saudável, ensejando vitória rápida e compensadora.
O esforço porém terá que ser daquele que deve vencer a distância entre a actual situação e como deverá estar mais adiante.
A existência humana é capítulo da vida real, que se expressa por meio de etapas sucessivas, em que o corpo é um envoltório que propicia o desenvolvimento das notáveis possibilidades de que se constitui o Espírito procedente da Causalidade Universal Primeira.
Essa força para o crescimento, haure-a ele na realidade de si mesmo, ínsita nos painéis profundos da sua essencialidade, que foi elaborada pela Perfeição, candidatando-o à conquista desse incomparável objectivo que lhe está destinado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 11:25 am

Existir, sem o contributo da luta, dos desafios contínuos, é permanecer em estágio automatista do processo da evolução, não alcançando o significado psicológico maduro que diferencia os indivíduos e os promove.
Existir, no entanto, vencendo dificuldades e prosseguindo jovialmente, torna-se a experiência máxima da realidade espiritual, qual aconteceu com os grandes exemplos de saúde moral e emocional da Humanidade.
Demóstenes, por exemplo, esforçando-se até ao sacrifício para superar deficiências de pronúncias que o levaram a ser ridicularizado mais de um vez, entregava-se a enunciar discursos e repetir poemas imensos com a boca cheia de seixos ou colocava-se ante a ponta de uma espada nua para manter boa postura física, trancando-se no quarto por vários dias, e mais tarde tornando-se o maior orador da antiguidade.
John Milton, o poeta inglês, que foi reduzido à miséria depois da morte de Cromwell, de quem fora secretário, ficando cego, ditou à esposa e às suas duas filhas o incomparável O Paraíso perdido.
Beethoven, atingindo o máximo da surdez, compôs em êxtase várias Sinfonias, destacando-se a Nona, que é considerada entre todas a mais bela e perfeita.
Thackaray, embora a esposa estivesse louca ao seu lado, sem a abandonar, escreveu coisas espirituosas em circunstâncias mais próprias para o suicídio, conforme declarou sem amargura.
A galeria de vultos que se entregaram à existência lutando contra o que se denomina adversidade é muito grande, porque compreenderam que a finalidade da vida é conquistar os patamares mais elevados, mesmo quando as circunstâncias aparentemente conspiram contra o êxito.
Ninguém, que se encontre no mundo em processo de crescimento e de saúde, que não experimente os camartelos definidores dos rumos para alcançar as cumeadas da felicidade.
Vencer os impedimentos reais ou imaginários é a que se devem dedicar todos aqueles que anelam pela harmonia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 11:25 am

Luta pela vida
A luta é o elemento indispensável para o crescimento
interior do ser humano, o desenvolver-lhe das aptidões adormecidas, o recurso precioso para o seu engrandecimento.
Através do empenho e dos desafios que proporciona, fende a concha do primarismo em que se encarceram os valores elevados e faculta-lhes o desabrochar e o atingir da plenitude.
Foi através da luta pela vida que os espécimes mais fortes venceram aqueles mais débeis que ficaram no passado...
E quando essa força não provinha do volume ou do peso do corpo, o desenvolvimento da inteligência engendrou os mecanismos de superação de dificuldades mediante astúcia e técnica que colocaram o ser humano na parte superior da escala animal.
Cessadas as pelejas entre os predadores poderosos e o homem, surgem-lhe as fixações e os conflitos do seu desenvolvimento intelecto-moral, que lhe cumpre vencer, empenhando-se na conquista da saúde emocional e física, de forma a facultar o contínuo crescer das suas potencialidades psíquicas.
Remanescendo os desejos imediatos, herança das experiências nas faixas mais primitivas do processo de desenvolvimento, esses verdadeiros algozes psicológicos propelem o ser para o atendimento de tais impositivos que o aturdem, deixando-o quase sempre insaciado, mesmo após fruídas as sensações decorrentes do seu gozo.
A luta que aguarda o ser humano é longa e sem quartel, facultando-lhe a realização dos objectivos existenciais mas também daqueloutros de natureza espiritual, que são fundamentais para o encontro da saúde integral, da plenitude.
Uma antiga tradição budista narra que Ananda era um jovem discípulo do Iluminado, que muito lhe dedicava afeição e devotamente interessado na conquista da paz do Nirvana.
Sua beleza e a elegância de seu porte haviam feito dele um homem atraente e agradável, que a todos conquistava onde quer que se apresentasse.
Viajando, oportunamente, em um dia de calor, acercou-se de uma fonte generosa à sombra de árvore grandiosa e solicitou a uma jovem mulher que ali se encontrava, lhe fosse oferecida uma concha com água refrescante.
Tomada de surpresa, respondeu-lhe a estranha: - Não percebes que somos de casta diferente?
Ele redarguiu: - Eu só conheço uma casta, que é a humanidade...
Sensibilizada, a impura tomou a água com as mãos em concha e aproximou-as dos lábios de Ananda. que sorveu o líquido com alegria e agradecimento, dirigindo-lhe palavras de amizade e ternura.
Tocada pela gentileza e pela irradiante beleza do rapaz, a moça correu na direcção do lar e pediu à genitora, que se entregava às artes mágicas, para que conseguisse que Ananda se apaixonasse e a pedisse em casamento.
A mulher experiente elucidou à filha que era muito difícil consegui-lo, considerando o devotamento do aprendiz ao mestre e a sua pureza de sentimentos.
Atormentada e insistente, a desditosa conseguiu sensibilizar a médium desvairada, que passou a dirigir o pensamento inferior no rumo do jovem, insistindo com Espíritos perturbadores para que lhe influíssem no comportamento.
Posteriormente, Ananda sonhou que se encontrava diante da jovem sensualmente despida, que o atraía, inquietando-lhe os sentimentos disciplinados. Por sua vez, a moça, tomada de desejos doentios, também sonhou com o seu eleito, entregando-se-lhe e impondo-lhe o matrimónio.
Buda, no entanto, meditando, captou a trama do mal e envolveu o jovem discípulo em ondas de paz, despertando-o para a realidade e atraindo-o de volta ao seu seio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 11:26 am

Não logrando o desejo inferior, a aturdida acercou-se do mestre e pediu-lhe que facultasse o seu casamento com o moço arrebatador, por quem estava apaixonada.
Sábio e justo, o antigo príncipe lhe disse:
- Tu o desejas porque ele é jovem e belo. No entanto, após os primeiros momentos de convivência contigo, após utilizar-se das tuas formas, ele seguirá adiante, deixando-te.
E se isso não acontecer de imediato, a velhice irá corroer-te a beleza, desaprumar-te o passo, fazendo que ele sinta horror por ti.
Após uma pausa, concluiu:
- Tu não o amas. Apenas desejas a forma, o prazer, esquecendo-te que aqueles olhos transparentes e brilhantes, que se humedecem com lágrimas também vertem pus; as suas fossas nasais igualmente expelem secreção apodrecida; o seu ventre guarda dejectos e todo o corpo se transforma com facilidade e rapidez em decomposição.
"O verdadeiro amor transcende a forma e alcança o ser real que nunca envelhece, nem degenera, permanecendo sempre belo e real."
Sensibilizada pelas palavras do sábio, ela pediu-lhe que a iniciasse na busca da iluminação, tornando-se-lhe discípula dedicada.
Anos mais tarde, quando já conhecia a Verdade, o mestre lhe disse: - Agora já podes consorciar-te com Ananda.
Ela porém redarguiu: - Já não tenho qualquer desejo de posse. Encontrei a paz interior, na qual estão Ananda e todos os seres aos quais amo, havendo-me encontrado também.
Essa busca do ser interior que se liberta das paixões constitui a grande luta da vida, erguendo-o das baixadas dos desejos mais perturbadores no rumo dos patamares elevados da consciência.
Todo um conjunto de observâncias surge convidando à sua sábia utilização, que vai alçando o pensamento e a emoção a mais elevados e nobres níveis de libertação dos desejos e das conquistas de um dia efémero.
Esse admirável processo se desenvolve através do amor, que é o sentimento mais profundo que se conhece, e que tem início no ser inteligente, no vínculo entre o filho e a mãe, do qual decorrem realizações ou conflitos conforme a vivência do mesmo.
Esse amor entre filho e mãe é a continuação do simbólico amor entre a criatura e o Criador ou a mesma criatura e a Natureza, que se transfere para quem conduz a gestação e atende por largo período o ser em formação.
Quando esse amor é correspondido, frui-se a mais perfeita felicidade, mas quando não se recebe resposta, experimenta-se uma dor profunda e dilaceradora.
Quando ocorre a ruptura desse vínculo entre o filho e a mãe, surge uma forma de ameaça à estrutura da vida e o comportamento experimenta alteração inevitável, exigindo um grande percurso de reabilitação. Ao invés, portanto, de uma brusca interrupção, deve dar-se uma amplitude de capacidade, na qual outras pessoas se tornam partícipes, aumentando a intensidade do sentimento.
O amor propicia mais amplas aberturas e expansão do Self, que se alarga alcançando a humanidade inteira.
Não havendo esse prosseguimento o ser é atirado ao retraimento, à apatia, à contracção, porque o amor proporciona alegria de viver e alegria de sentir.
Interrompido de forma rude, produz golpe no sentimento, e aquele que o perde passa a temer novas expressões de amor, não se abrindo nem se desvelando a outrem, o que induz a estados alienantes.
E tão marcante e profundo esse sentimento entre filho e mãe, por providência da Divindade, que ao desaparecer de chofre, o ser prosseguirá buscando-o, seja de forma consciente ou inconscientemente, e ao encontrá-lo na idade adulta, talvez tenha dificuldade de bem situá-lo no complexo da emotividade, não identificando o factor causal, se de natureza evocativa da mãe desaparecida ou se necessidade de ordem sexual ou fraternal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 11:26 am

Não é difícil, portanto, imaginar-se que o ser frustrado na infância, conduzindo a dor da separação afectiva com sua mãe, transfira para a esposa ou o marido, aquele sentimento dilacerado, procurando apoio infantil aos seus desejos não realizados, às suas paixões não superadas.
Quando porém, esse amor é saudável e continuado, o ser consegue esparzi-lo com todos quantos encontra, mantendo-se seguro nas suas funções afectivas e sexuais, no comportamento fraternal e na convivência social, um adulto sempre capaz de desenvolver novos valores e aceitar desafios que o tornam cada vez mais credenciado a vitórias nas actividades que empreende.
Essa vinculação com outrem não pode ser imposta, antes tem um carácter de espontaneidade e alegria, quando dois adultos se dão conta que vibram na mesma faixa das emoções e cultivam aspirações que se harmonizam, sincronizando-se entre si. Naturalmente, não significa que sejam iguais.
mas que saibam administrar as suas diferenças face à identificação de interesses e objectivos na vida, o que concede aos indivíduos a verdadeira maturidade psicológica, resultado de um desenvolvimento harmónico de suas funções físicas e psíquicas.
Nessa fase, o ser já se libertou da ligação amorosa com sua mãe e passou a identificá-la com outro sentimento de respeito e de gratidão, preservando os recursos hauridos naquele relacionamento infantil, que agora se estenderão no rumo de todas as pessoas e do mundo em geral.
A luta pela vida, nessa ocasião, se transforma na conquista da vida, porque substitui os desejos imediatos pela alegria inefável de viver e de amar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:15 pm

Desespero
Quando o amor filho-mãe foi frustrante e inquietador, o adulto transfere para outras pessoas a carência que se torna mórbida, apaixonada, insegura, aprisionadora. Permanece incapaz de realizar vinculações de respeito e de permuta afectiva, por projectar o conflito em outrem, para que o solucione, tombando em desespero.
A insegurança, que resulta do amor não vivenciado, conduz a comportamento de autodestruição, no qual se busca fugir da realidade por meio de mortificações e angústias, fobias e instabilidade emocional, que sempre desestruturam a personalidade.
Essa imaturidade psicológica aturde, produzindo estados de depressão ou de exaltação do ego, que se sente traído e não dispõe de apoio emocional para manter-se em equilíbrio.
Processos naturais de ressentimento assaltam o paciente e ele se desarticula interiormente, passando a experienciar os mais torpes conflitos.
Sem segurança interior, agride e fere desordenadamente, ao mesmo tempo em que, desinteressado da própria existência, tudo vê conforme o transtorno de que se sente vítima.
Uma terapia bem direccionada reestrutura-o, dando-lhe estabilidade interior de forma a compreender que os resultados da sua saúde emocional dependem exclusivamente da maneira pela qual sente a vida, contribuindo para torná-la melhor e mais rica de alegria.
O terapeuta dilui-lhe a imagem da mãe castradora, restabelecendo a sua identidade em consonância com a realidade, motivando-o a desprender-se da autocomiseração, descobrindo os valores que lhe jazem adormecidos, aguardando pelo momento de despertar e de produzir emocionalmente em favor da própria felicidade.
Somente quando compreende o valor que lhe constitui atributo natural, é que pode dispensar considerações às coisas e às pessoas que o cercam, à sociedade e às Leis, à fé religiosa que não mais se lhe apresentará como transferência de aspiração, mas como objectivo de auto-realização.
Uma antiga lenda hindu, narra que Shiva e Shakti, considerado o casal transcendente do panteão sagrado da sua religião, se encontravam observando a Terra e os homens com os seus comportamentos variados.
Sentiam as dores humanas e procuravam diminuí-las, na medida das possibilidades, sem que, com isso, eliminassem os factores causais dos sofrimentos.
Repentinamente, Shakti percebeu um homem pobre, coberto de andrajos, que jornadeava por longa estrada cujo fim parecia remoto.
Apresentava-se-lhe muito desgastado no corpo e na emoção. Suas vestes não passavam de um monte de remendos e trapos que mal lhe cobriam a nudez. As alpercatas gastas, pareciam não mais ser úteis para o caminhante, tão deploravelmente se encontravam...
A deusa, tomada de compaixão, interferiu junto ao esposo, suplicando-lhe que concedesse ao homem infeliz um pouco de ouro, de forma que tivesse diminuídas as suas penas.
Sensibilizado pela interferência magnânima, Shiva observou o viandante, e redarguiu, apiedado:
"- Não posso fazê-lo, porque ele não se encontra em condições de receber ajuda."
Surpresa, ante a negativa, Shakti insistiu:
"- Queres dizer-me que não podes auxiliá-lo, colocando-lhe no caminho um saco de ouro?"
"- Não é isso. - Respondeu o marido - Sucede que esse homem necessita aprender a receber, o que é muito diferente."
"- Mas eu te suplico"- prosseguiu a esposa.
Shiva, com muita sabedoria, deixou cair um saco de ouro alguns passos à frente do viajante.
Quando esse acercou-se, vendo aquele estranho volume no chão, passou de largo, reflexionando:
"- Terei hoje com que me alimentar ou voltarei a experimentar as agruras da fome?"
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:15 pm

Subitamente, dando-se conta do volume, exclamou:
"- Que felicidade poder haver percebido esse impedimento no caminho!... Se estivesse distraído, poderia haver tropeçado nele e tombado no solo."
E prosseguiu na sua marcha triste.
A imaturidade psicológica e o conflito tornam a vida menos saudável e cheia de suspeitas, que não é averiguada pelos transeuntes do processo da evolução. Mal equipados, tudo observam através das lentes escuras do seu desespero, sem a coragem de retirar os antolhos que impedem a visão clara da natureza e a compreensão dos desafios, que têm por meta conduzir o indivíduo a estágios mais avançados de crescimento interior.
Um saudável relacionamento entre mãe e filho produz efeitos benéficos no desenvolvimento do ser.
As matrizes do desespero encontram-se, portanto, fixadas no Eu profundo, que ressumam de experiências transactas, vividas em outras existências, que ora se reflectem no comportamento, em razão das atribulações domésticas no seio familiar, com dificuldade de entendimento e convivência com a genitora e os demais membros do clã.
O criminoso, que ronda e ataca a sociedade; o traidor, que infelicita vidas; o maledicente, que se compraz em afligir; o caluniador, que descobre mazelas nos outros e as divulga com sarcasmo e exagero; o ingrato, que nunca está satisfeito com o que recebe, têm um passado familiar comum - o relacionamento infeliz, castrador, exigente, perverso, com a sua mãe.
A maternidade humana é mais do que um fenómeno biológico, tratando-se de uma experiência iluminativa e libertadora para a consciência, que descobre a necessidade de superação do egoísmo, de desenvolvimento dos valores morais mais expressivos, para que o amor se encarregue de dirimir dificuldades e estabelecer parâmetros de comportamentos sadios, sem os exageros do apego, ou do ressentimento, ou da transferência de amarguras e frustrações para os filhos, que se lhe tornam vítimas sem defesa...
Concomitantemente, o grupo social instável e egoísta, agressivo e insatisfeito, embalado pela tragédia do cotidiano, conspira em favor do desespero das personalidades fragilizadas, que transitam em agonia interior, sem um norte que lhes sirva de referência.
Face aos relacionamentos sociais, por serem normalmente fúteis e sem profundidade, os indivíduos vivem exibindo máscaras com que disfarçam as suas dificuldades e apresentam ilusões no palco da convivência geral, desaparecendo o conforto moral da afeição legítima e desinteressada, do intercâmbio produtivo de ideias sem disputas ou invejas, do natural desejo de felicidade que deveria viger entre todos.
São atores, e não pessoas, mais ou menos bem sucedidos no palco dos relacionamentos.
O desespero, que se encontra no imo, agiganta-se até explodir em transtornos psicológicos que levam à agressividade e à violência, ao despautério e à desestruturação do grupo social, às vezes, de forma cruel, como é a toda hora exibido na mídia caçadora de sensacionalismo.
A maneira eficaz de enfrentar o desespero face a face é através do auto-reconhecimento das possibilidades infinitas que aguardam o interesse do paciente sob a orientação segura do seu terapeuta e da legítima disposição para realizar a parte que lhe diz respeito.
Em toda terapia enfrentamos o desafio do entendimento entre aquele que ajuda e aqueloutro que pretende ser ajudado.
O trabalho é feito em conjunto até o paciente encontrar-se limpo dos seus conflitos e oferecer-se segurança, para que avance com os próprios pés, igualmente libertando-se da dependência emocional do seu terapeuta.
Desperto para a realidade e disposto a enfrentá-la com tranquilidade, sem fugir dos fenómenos naturais do processo existencial, é possível desenvolver o amor e a alegria de viver, que se lhe transformam em objectivos fascinantes que brilham à frente, e que devem ser alcançados com intrepidez.
Ninguém consegue, caminhando, atingir o ápice da montanha sem haver atravessado as baixas e ásperas trilhas do sopé.
Assim também, a saúde psicológica e mental é sempre resultado da conquista das sombras das escarpas emocionais que sustentam o ser ainda em conflito...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:16 pm

Medo da velhice
A velhice é inevitável fenómeno biológico de desgaste que atinge todos os seres vivos.
Resulta do esforço mantido pelos equipamentos orgânicos, a fim de preservarem a sua funcionalidade.
A Terceira idade, conforme se convenciona chamar hodiernamente a velhice, deve representar sabedoria, riqueza decorrente das experiências, período próprio para o repouso.
Por outro lado, também se crê indevidamente que é a fase das enfermidades degenerativas, dos distúrbios emocionais, dos desajustes sociais e do enfraquecimento, quando já se perdeu a utilidade, face à impossibilidade de contribuir-se para o bem da comunidade.
Em razão do conceito desfasado em torno do envelhecimento, quando afirma que esse período é de sofrimento e amargura, muitos indivíduos passam a temer a velhice, porque também se aproximam da morte, como se essa não ocorresse em qualquer fase da existência.
O medo da velhice é muito cruel, tornando-se um verdadeiro tormento para quantos não consideram a existência física na condição de uma jornada de breve duração, por mais longa se apresente, passando por estágios bem delineados desde o berço até o túmulo.
Desequipados quanto à realidade - consumo de energias que propicia o envelhecimento celular e por decorrência os fenómenos biológicos que lhe são correspondentes - afadigam-se na busca de métodos rejuvenescedores, de grupos especiais, nos quais seja possível repetir-se a ilusão da mocidade, desarmonizando-se interiormente e tombando em evitáveis transtornos psicológicos que se transformam em depressões e angústias profundas.
Ninguém pode reverter o quadro das ocorrências existenciais; no entanto, é perfeitamente normal compreendê-las, adicionando-lhes os agradáveis condimentos do prazer e da alegria de viver.
A velhice deve ser considerada inevitável e ditosa pelo que encerra de gratificante, após as lutas cansativas das buscas e das realizações. E o resultado de como cada qual se comportou, de como foi construída pelos pensamentos e atitudes, ou enriquecida de luzes e painéis com recordações ditosas ou infelizes...
Atravessar a existência - qual ocorre com aquele que vence as estradas ou águas de um rio - sempre conduzindo com segurança o veículo de que se utiliza, é processo de realização existencial, que produz resultados compatíveis com a maneira de enfrentar o percurso na direcção do objectivo.
Marco Túlio Cícero, o eloquente orador e filósofo romano, que viveu entre 103-43 a. C. - há variantes de dados sobre o seu nascimento e morte - afirmava que havia quatro razões para que muitos achassem a velhice detestável: A) distanciamento da vida activa. B) enfraquecimento das forças orgânicas. C) privação dos provocantes prazeres. D) proximidade da morte.
Verdadeiramente não é a velhice que responde por esses acontecimentos, embora eles também tenham lugar nesse período da vida orgânica, porquanto, em qualquer fase, enfermidades, acidentes, conflitos, problemas económicos e sociais geram as mesmas consequências.
Em uma análise psicológica honesta, somente distância alguém da vida activa quando perde o encanto, a alegria de viver, e o deperecimento de forças não lhe permite pensar.
Eis que, preservando-se o pensamento activo, tem-se oportunidade de manter-se útil, contribuindo positivamente em favor dos grupos familial e social.
A ausência de vigor físico e mental não é problema somente da velhice, mas resulta de outros factores, especialmente naqueles indivíduos que têm uma existência atribulada, rebelde, derrapando no abuso de suas energias, nos problemas que decorrem da saúde abalada, e que é normal em qualquer idade. Não será pelo vigor dos bíceps que se pode medir a força de um indivíduo; porém, pela sua capacidade de administrar a existência, de enfrentar dificuldades, de resolver desafios, de lutar e vencer estâncias controvertidas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:16 pm

Há o vigor para ensinar, para ajudar com a experiência, para nutrir de sabedoria, para conduzir o pensamento e não apenas para carregar pesos e exibir musculatura, conseguida às vezes com a acção de exercícios físicos sob anabolizantes...
Homens e mulheres em provecta idade prosseguem trabalhando e realizando obras memoráveis, enquanto jovens e maduros são incapazes de produzir realizações que os beneficiem ou sejam úteis aos demais.
Não se trata, portanto, de uma resultante da idade, mas da disposição interior de viver e de participar dos desafios humanos.
Conta Cícero, que o rei da Numídia, de nome Massinissa, aos noventa anos, quando viajava a pé ou a cavalo, faziam, sem abandonar o recurso pelo qual optara para enfrentar a jornada, fosse sob sol ou chuva, sempre com a mesma decisão e energia.
A crença que afirma serem fracos os idosos, está fundamentada em observação ligeira, que não se fixou na estatística dos valores reais da criatura humana. Há muitos jovens fracos pela sua constituição orgânica, o que os não impede de crescerem e realizarem-se. O mesmo ocorre com os velhos, que podem ser fracos ou fortes, com estrutura muito bem equilibrada ou deficiente, sem que isso lhes afecte o comportamento social, espiritual e humano.
Naturalmente, a prática de exercícios de qualquer porte, correspondentes à faixa etária, alimentação bem orientada e saudável, pensamentos edificantes, leituras enobrecedoras, actividades gratificantes, constituem cardápio excelente para uma idade avançada tornar-se plena.
Políticos e administradores, escritores e poetas, cientistas e filósofos, religiosos e santos atingiram os seus momentos culminantes, quando outros haviam deixado de lutar e disputar oportunidade de crescimento, utilizando-se dos valores da velhice para se apresentarem mais vitoriosos e felizes, oferecendo contribuição duradoura e brilhante ao mundo.
Com o deperecimento das forças orgânicas, nem sempre ocorre o mesmo nas áreas do pensamento, da emoção, do desejo de servir e de amar.
O hábito de pensar e agir desenvolve a retentiva da memória, facultando maior número de aprendizado que não se apaga. Tudo quanto é de interesse permanece, em detrimento das questões secundárias, sem importância, que uma selecção natural faculta desaparecer da mente.
A medida que o indivíduo se mantém ágil, exercitando a capacidade de pensar, superando a pecha de que na velhice mais nada se aprende, maior se lhe torna o desempenho intelectual, facultando-lhe, não somente a preservação do património conquistado, como a aquisição de novos valores.
A responsabilidade desempenha papel preponderante nessa fase, em razão do respeito pelos direitos alheios e confiança que neles se deposita, tornando os idosos verdadeiros exemplos para as gerações novas.
O prazer não significa somente aquilo que agrada em determinado período da existência física, mas tudo quanto proporciona alegria, bem-estar, felicidade, emulação para o crescimento interior, conforto, paz... Por isso mesmo, a escala de valores a respeito do prazer varia de acordo com a idade que cada qual desfruta. Quanto significa de volúpia em um momento, noutro desaparece completamente, perdendo-lhe o atractivo.
Há prazeres que despertam os sentidos e os excitam, com imediatas compensações desgastantes, como os há que estimulam os sentimentos e proporcionam demorado bem-estar.
O prazer que consome por um momento não pode ser comparado com aquele que permanece agradável, mesmo após haver passado o seu clímax.
Provavelmente a busca do prazer, na adolescência e na madureza, pode ser o mais afugente da vida, sem que ofereça compensação compatível. Nessa fase, irrompem as paixões pelo ter, pelo desejar e querer sofregamente, por sorver a taça do gozo até ao cansaço, logo seguido de frustração, numa intérmina correria atrás das novidades que, conseguidas, perdem o encanto, e conforme o direccionamento da ansiedade para alcançá-las, deixa marcas pesadas de remorso, culpa, desar, aturdindo a consciência...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:16 pm

Há, na velhice bem conduzida, uma natural resistência contra as tentações, aquelas que deturpam o sentido existencial e encaminham para as celas escuras da amargura, o que não significa que deixem de existir prazeres e atracções que podem ser vivenciados conforme o padrão orgânico.
Generaliza-se a crença de que o prazer está sempre associado ao sexo e ao seu uso, tornando-se, dessa forma, a velhice, um período de decrepitude e de insatisfação.
Erram aqueles que assim pensam, porquanto há outras formas mais compensadoras de companheirismo, de convívio, de afectividade, sem a imposição do relacionamento sexual.
Narra Cícero, que alguém indagou a Sófocles, o filósofo trágico da Grécia, já idoso, se ele continuava praticando o sexo. Tranquilo, ele respondeu que os deuses o preservaram disso! E prosseguiu: "E com o maior prazer que me subtraí a essa tirania, como quem se livra de um mestre grosseiro e exaltado."
Provavelmente, a superação das paixões, dos apetites sensoriais, das rivalidades infantis, das ambições desordenadas, leve o indivíduo a buscar silêncio e oportunidade para viver consigo mesmo, já que não teve tempo antes para fazê-lo, assim experimentando um incomparável prazer estético e espiritual.
E comum associar-se à velhice a rabugice, como se essa fosse privilégio dos anciãos.
Quantos indivíduos rabugentos, antipáticos, agressivos e mal-humorados em todos os períodos da existência!
A informação se deriva da observação precipitada em torno de alguns velhos, cujas famílias já se sentem cansadas deles, estigmatizando-os com epítetos deprimentes e cáusticos.
Aí estão os jovens irritadiços, exigentes, dispondo de toda a existência pela frente, como se ela estivesse acabando se; e os velhos pacientes, confiantes, gentis... É certo que os há extravagantes, deficientes, nervosos, mas não constituem a maioria, e sim, um expressivo número que chama a atenção.
A ocorrência da rabugice encontra justificativa na atitude que os adultos têm para com os idosos: desprezam-nos, depreciam-nos, levam-nos ao ridículo, subestimam-nos, provocando essas reacções psicológicas. Somente aqueles que dispõem de resistências morais relevantes suportam com certa indiferença esse comportamento que alguns mantêm em relação à sua idade.
Naturalmente que a velhice aproxima da morte. Todavia, como é lamentável que uma pessoa, cuja existência tem sido larga, possa temer a morte, nunca se permitindo raciocinar que cada dia do currículo carnal é também um dia mais próximo da desencarnação!
O conceito materialista de que a morte arrebata a existência, sim, torna-se um suplício para o idoso, como para outra pessoa qualquer, por constituir-se condenação da vida ao aniquilamento. Em contrapartida, a certeza de que a alma, ao desvestir-se da matéria, retorna ao seu estado de Espírito, proporciona emulação para aproveitar-se todos os momentos terrestres, a fim de que o desprendimento se faça suave e profundamente confortador.
A velhice está próxima da morte, tanto quanto a juventude compartilha do mesmo fenómeno, e até mais, porquanto as enfermidades lhe são mais comuns, face à falta de resistência orgânica, aos acidentes e às imprudências que se permite.
Temer a velhice constitui um injustificável comportamento, que deve ser superado mediante reflexões em torno do dia-a-dia, considerando-se que, adormecer, é uma forma de morrer, que enfermidade não é património da idade, assim como o deperecimento de forças e a falta de prazeres exaustivos não constituem recursos interditados apenas aos idosos.
A vida física tem um significado extraordinário, que é o de enriquecimento interior, preparação para a imortalidade, conquista de patamares mais elevados para o pensamento e para o sentimento no rumo da plenitude.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:16 pm

Viver integralmente cada momento existencial, desenhando o próximo com actividades renovadoras e espírito de combate, experienciando alegria e paz em todos os instantes, sem consciência de culpa pelas acções infelizes, que podem ser reparadas, nem tormento de pecado, que se transforma em conquista emocional dignificadora após harmonizar-se e agir correctamente, é o delineamento sábio e saudável que todos devem empreender em favor de si mesmos e da sociedade.
O homem, que se auto-descobre, não mais permanece na indecisão, cultivando pensamentos perturbadores em atitude masoquista, mas empreende a marcha pela busca da sua auto-realização e da sua total harmonia íntima.
Envelhecer é uma arte e uma ciência, que devem ser tomadas a sério, exercitando-as a cada instante, pois que, todo momento que passa conduz à senectude, caso não advenha a morte, que é a cessação dos fenómenos biológicos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:17 pm

SEM CONFLITOS NEM FOBIAS
Vitória sobre a morte. — Encontro com a saúde. — Auto-realização e paz.

O medo da morte, que se encontra ínsito no ser, consciente ou inconscientemente, como mecanismo de preservação da existência física, à medida que lhe ocorre o amadurecimento psicológico cede lugar à confiança na vida.
Avançando de par com o progresso intelectual, o desenvolvimento emocional destrava os elos castradores e limitativos do comportamento, facultando o desabrochar dos legítimos sentimentos humanos, tais a amizade, a fraternidade, a esperança, a confiança, o amor, que facultam o entendimento dos mecanismos existenciais e do crescimento moral.
As amarras com os conflitos afrouxam os seus nós e o ser avança, a princípio timidamente, depois com decisão nos rumos da auto-afirmação, porque aos receios sucede a coragem para a luta, ao sofrimento sobrepõe-se a alegria de viver, à depressão toma lugar a esperança de conquistar tudo quanto aspira, harmonizando-se e alcançando o equilíbrio interior.
Sob o tratamento para a libertação, o antes paciente se transforma em seu próprio psicoterapeuta, que não se nega a ser orientado pelo especialista capaz de facultar-lhe maior e melhor entendimento dos fenómenos que lhe dizem respeito, trabalhando-se com afinco para encontrar a cura real.
O medo da morte pode ter origem na infância. Quando mal informada, a criança experimenta pavor ante o desaparecimento dos seres queridos e, por consequência da sua própria desintegração. Não absorvido esse temor, mais tarde se transforma em desequilíbrio que gera perturbação e transtorna o comportamento do indivíduo.
A falta de amor na infância é responsável por muitos males que afligem os adultos. A sobrevivência real de uma pessoa depende dos vínculos amorosos que foram mantidos com aqueles que a cercavam na fase infantil. Por outro lado, a falta de toque afectivo na criança, embora a assistência com cuidados e técnicas, pode responder por enfermidades graves e mesmo pela morte por anaclisia. Esse contacto é fundamental, porque vitaliza o bebê, faculta-lhe o estímulo para todas as funções orgânicas e psicológicas, dando-lhe segurança.
Quando falta esse acolhimento gratificante, a criança se faz submissa, ora pelo temor, ora se isola, dando curso a um processo de fixação neurótica, face às ameaças e às explosões dos pais inseguros e atormentados, que alternam esse comportamento com expressões de amor-compensação, que não são absorvidas positivamente.
Como resultado dos sofrimentos dessa natureza que são impostos à criança, tem origem o medo da morte ou a sua necessidade como fuga à situação afugente.
Somente rompendo-se em terapia esse medo, através do enfrentamento do problema, é que o paciente consegue compreender o fenómeno biológico sem o receio de extinção da sua realidade.
A vontade de lutar pela vida é o estímulo que conduz à ruptura do medo da morte, quando se encara com naturalidade o desgaste biológico que ocorrerá e a alegria de viver enquanto as possibilidades assim o permitem.
O despertar para objectivos mais elevados do que aqueles imediatistas, auxilia a compreender a funcionalidade existencial e o significado psicológico de se estar vivo, portanto, actuante e útil no contexto do grupo social no qual se movimenta.
A compreensão dos valores existenciais e as possibilidades de utilizá-los a benefício próprio ou de outrem, diminui o medo da morte, porque o tempo desaparece na sua convenção para significar alegria e luta, trabalho e compensação afectiva.
O importante não é viver muito, mas viver significativamente cada momento e a todos os instantes.
A morte, desse modo, não se afigura destruidora, mas uma interrupção momentânea no processo vital que decorre do organismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:17 pm

Xenofonte, o trágico grego, narra, que Ciro, o Grande, rei da Pérsia, antes de morrer, dirigiu-se aos seus, despertando-os para a realidade do ser:
- Meus queridos filhos, não creiais, depois que eu vos tiver deixado, que não mais serei alguma coisa e terei desaparecido. Durante o tempo que eu vivia entre vós todos, não distinguíeis minha alma, porém compreendíeis, através dos meus actos e dos meus gestos, que ela se encontrava em meu corpo. Ficai certos de sua existência, embora não mais se torne visível...
O verdadeiro sábio, aquele que realizou o sentido existencial em plenitude, morre serenamente, porque entende que a sua experiência teve um começo, um desenvolvimento e é normal que atinja a meta da transferência para outro campo vibratório. O imaturo, aquele que se deixou conduzir pela futilidade e da vida somente buscou o prazer, é tomado pelo pavor da morte, imaginando a perda dos encantamentos e gozos que mais o fustigaram do que o fizeram repousar.
A morte, assim considerada, conduz o viajante da hospedaria terrestre para o seu lar verdadeiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:17 pm

Vitória sobre a morte
Em todo o Universo, o repouso não existe, já que o movimento incessante é a mola central do seu equilíbrio.
Da mesma forma, todos os fenómenos biológicos se encontram em intérmina alteração, através de cujo curso se alternam as moléculas que compõem e desestruturam formas, sem que se extingam.
O aniquilamento é só aparente, porquanto a pobreza dos sentidos materiais impede a sua penetração na complexidade das micropartículas em constante movimentação.
É natural, desse modo, que a morte seja uma realidade no mundo das aparências através de cujo mecanismo a vida estua.
Durante a existência orgânica o Espírito avança a cada momento para o desenlace material, por cujo meio desenvolve todas as aptidões que lhe estão em latência.
E compreensível e necessário que o ser inteligente reserve tempo para a reflexão em torno desse fatalismo inexorável. Postergar a meditação a seu respeito, por medo ou ilusão materialista, oculta imaturidade psicológica que o tempo descaracterizará.
Não será pelo fato de ignorar-se essa realidade que ela deixará de existir. Quanto mais se a analise e a compreenda, melhor para a sua superação, tornando-a parte do comportamento de toda hora.
Conflitos de variada ordem conspiram no indivíduo para que evite pensar na morte, gerando indisfarçável fobia sobre a ocorrência de que ninguém se furtará.
Observando-se a Natureza, facilmente se constata a organização que vige "soberana, quando uma forma cede lugar a outra em contínua transformação, mantendo sempre a vida.
Os seres animais e particularmente o humano, vivem o processo transformador de maneira significativa, alterando o conjunto e modificando a aparência, experimentando as alternâncias da saúde e da doença, da infância, da juventude, da maturidade e da velhice, até o momento da cessação dos movimentos e a consequente desorganização celular...
A morte é um suave meio para se adormecer e logo se despertar, cada qual conforme as condições adquiridas na experiência fisiológica precedente a esse momento.
Em todos os tempos, a morte mereceu cuidados e observações, tornando-se razão importante para o pensamento filosófico que, desejando brindar propostas sobre a vida, buscou-a para melhor elucidar os enigmas existenciais.
As revelações espirituais em momentosas comunicações entre os dois mundos - o material e o transcendente - deixaram marcas indeléveis sobre a continuidade do ser espiritual, que arrebataram todos aqueles que privaram do intercâmbio pulsante.
Psicologicamente, a morte parece significar a destruição, o fim, que o ser humano teme como recurso nobre para preservar a jornada física.
Apesar disso, fragilizado e transtornado, não poucas vezes, foge pela falsa passagem do suicídio, em tentativa de apagar a consciência ou de repousar, defrontando-a exuberante, para logo tombar em excruciante alucinação de desespero e frustração...
Ademais, quando a morte passa por um lar, torna-se detestada, por arrebatar o ser loução ou o enfermo querido, ou arrebanhá-lo cruelmente mediante a tragédia de um acidente, de um crime, da hediondez...
Mesmo nesses casos, é a grande libertadora que propõe o descortinar de horizontes felizes ao viajor que, recuperado dos débitos antes contraídos, prepara-se para receber aqueles afectos que virão mais tarde.
A vitória sobre a morte é inevitável, tendo-se em vista o próprio fluxo da vida.
No corpo ou fora dele, o Eu superior continua desempenhando papel relevante na sua historiografia iluminativa.
Pensando-se na morte, ao invés de supô-la como devastação e sombra, deve-se considerá-la como harmonia e luz, que são as naturais consequências da luta evolutiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 25, 2023 9:20 pm

A vitória sobre a morte também se patenteia na alegria de superar-se sofrimento largo e insuportável, sem qualquer chance de recuperação, seja orgânica, mental ou emocional, quando a pessoa está devastada por enfermidades pertinazes e renitentes.
Outrossim, diante da velhice que já atendeu aos compromissos humanos e se deteriora, ante a inclemência dos fenómenos biológicos no seu desgaste ininterrupto, o cessar das turbulências da maquinaria física, abrindo novas portas de realizações e de crescimento espiritual, constitui a verdadeira dádiva da vida, a colheita de frutos sazonados, especialmente se o trânsito ocorreu em clima de dignidade e de elevação.
O desgosto, que toma posse daqueles que se viram defraudados pela perda dos seres queridos, embora traduza afectividade e carinho, também guarda uma alta parcela de egoísmo retentivo, que somente pensa em si, não se dando conta do que representa para o liberto a ruptura dos laços que o mantinham no carro celular em sofrimento prolongado.
Ante os seres limitados desde a infância em paralisias físicas e mentais angustiantes, a morte natural significa conquista de mérito que proporciona felicidade.
Passada a noite de aflição, rompe a madrugada de bênçãos, isso porque todos os conflitos e dores sem termo têm o seu nascedouro nos actos transactos, nos quais, se equivocando, o Espírito armazena o tributo que deve ressarcir em novas experiências evolutivas.
A vida é, dessa forma, um permanente canto de louvor, de amor, de gratidão ao Criador!
Não obstante, organizada sob o ponto de vista de atracção molecular, é somente aparência que se desestrutura, retornando à constituição inicial de energia que é, e no caso do ser humano, com a peculiaridade de pensar.
Tudo cessa na sua constituição organizada, para ressurgir em outra expressão igualmente harmônica, dando curso aos nobres objectivos da vida infinita.
O silêncio, portanto, aparentemente tétrico, da sepultura, constitui ausência de percepção para captar as vibrações da fonte causal de onde todos os seres procedem.
Para que a vitória sobre a morte se faça plena, convém pensar-se, expressar-se e agir-se com amor, deixando-se na retaguarda, pelos caminhos percorridos, sinais luminíferos que apontarão a meta gloriosa que espera ser alcançada.
Ante a constatação do fenómeno mortis, é justo que se pense na realidade da vida, avançando com júbilo e sem temor na sua inevitável conquista.
A harmonia psicológica, resultante de amadurecimento espiritual, proporciona a visão optimista da vida sob qualquer aspecto que se apresente, porquanto a sua realidade independe de alguém encontrar-se no corpo ou fora dele, mas essencialmente do seu comportamento e atitude perante si mesmo e a Consciência Cósmica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 26, 2023 11:10 am

Encontro com a saúde
O processo psicoterapêutico que faculta o equilíbrio, auxiliando o paciente a eliminar as enfermidades reais, psicossomáticas, imaginárias ou traumas que se apresentavam perturbadoras leva, inevitavelmente, a comportamento desafiador, qual seja o da identificação das elevadas potencialidades de que dispõe para o enfrentamento com a própria consciência.
Rompendo as algemas que o prendiam aos estados fóbicos e de sofrimentos variados, começa a sentir a claridade abençoada do sol primaveril do auto-encontro e as possibilidades, antes inimaginadas, que lhe estavam ao alcance, enquanto recalcitrava e se atormentava na masmorra do encarceramento pessoal.
A liberdade de pensamento e de acção é conquista lenta, que deve ser demarcada com vitórias sobre as pressões e condicionamentos psicológicos, morais e sociais.
A pouco e pouco, enquanto a consciência desperta para os valores éticos relevantes e a necessidade da plenitude, alteram-se as paisagens antes afugentes, porque há mudança no ângulo de observação dos quadros da vida, que é sempre generosa e rica de dádivas, cabendo a cada ser humano retirar a parte que melhor o atende e o felicita.
A saúde legítima não é algo que se busca fora da própria realidade, qual o medicamento que se encontra numa farmácia aguardando para ser utilizado... Trata-se de um esforço que o paciente tem o dever de empreender, a fim de alterar o quadro de considerações em torno de si mesmo e dos outros, da Natureza e das suas Leis, de modo a identificar-se com o Eu profundo e avançar no rumo das conquistas íntimas, imponderáveis e valiosas para a sua harmonia.
A ruptura das condições inquietadoras exige decisão e terá que ser feita pelo próprio indivíduo. O seu psicoterapeuta é alguém que lhe ensina o método, que demitiza os impedimentos, que o conduz ao encontro de todos os recursos que possui e permanecem esquecidos. O trabalho, porém, é pessoal e intransferível, exigindo interesse consciente e pleno pela conquista da harmonia, antegozando, passo a passo, a alegria de cada degrau conquistado e daqueles que deverão ser vencidos.
Irrompe no íntimo, nesse cómenos, a alegria de viver, descobrindo-se quanto se é útil ao contexto social, e como é importante a contribuição que se pode oferecer à sociedade, a fim de que outros igualmente encontrem o caminho da auto-realização.
Não raro, enfermos com doenças degenerativas como o câncer, a AIDS e outras, desfrutam de imensa alegria por estarem vivos e lutando contra a conjuntura existencial, sem arrefecerem o ânimo, antes confiantes nos resultados saudáveis das terapias médicas especializadas, fruindo em cada momento o máximo das experiências, sem preocupação com o tempo que lhes resta. Para muitos, tais problemas orgânicos constituíram verdadeiras bênçãos, porque os despertaram para outras realidades mais vigorosas e caras ao sentimento, e que antes ignoravam.
Sem lamentações, enfrentam as injunções penosas com tranquilidade estimulante, desfrutando de estado saudável, enquanto diversas pessoas, catalogadas como sadias, escondem a sua situação em conflitos tormentosos, somatizando distúrbios que as levam a enfermidades injustificáveis, ou cultivam perdas, ausências, necessidades que podem ser facilmente superadas, desde que se resolvam por enfrentar as condições desafiadoras do momento, que sempre cedem lugar a outras de carácter diverso.
A doença somente é impedimento para quem se recusa a alegria de existir e receia enfrentar a conjuntura, que considera limitadora para a sua felicidade.
Pode-se viver com equilíbrio, mesmo que sob algumas limitações, perfeitamente superáveis.
Quando se crê que a enfermidade é uma desgraça, que a tudo impede, ei-la que assim se manifesta, gerando embaraços e até imobilizando o paciente. Se, no entanto, a visão é optimista e rica de resignação dinâmica, que não se submete ao seu impositivo, mas luta por superá-lo, transforma-se em experiência positiva para que os objectivos existenciais sejam alcançados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 26, 2023 11:11 am

A existência humana é uma sucessão de quadros comportamentais que se alternam incessantemente, proporcionando enriquecimento de experiências a todos quantos se encontrem interessados na construção da sua realidade.
A auto-compaixão e a autocomiseração têm que ceder o passo à auto-estima, à auto-valorização, de forma que todos os investimentos da vida sejam convidados a realizar os papéis para os quais existem nos diversos painéis da vida. E esse desempenho resulta da contribuição do ser humano, que está sempre convidado a mudanças, crescendo com as conquistas realizadas e encontrando novos campos a joeirar, o que o torna mais digno de viver.
Uma antiga lenda hindu narra que um homem tinha o hábito de conduzir água do poço à casa do amo, carregando dois potes, que atava a uma vara carregada transversalmente sobre os ombros.
Um dos potes, porém, era rachado, o que causava prejuízo, face à água que se perdia no transporte entre a fonte e o domicílio.
Não obstante, o aguadeiro continuava o seu mister sem apresentar qualquer mal-estar.
Sempre quando chegava e ia derramar a água no depósito, percebia que somente conseguira trazer um pote e meio do precioso líquido.
Consternado com a situação, o pote rachado, oportunamente, à borda do poço, falou ao carregador:
- Lamento o prejuízo que te proporciono. Infelizmente, face à minha rachadura, deixo que se perca metade da água que conduzes pelo caminho. Sinto-me confundido e infeliz.
O modesto carregador, no entanto, respondeu-lhe:
- Não te preocupes com isso. Eu reconheço esse prejuízo; porém, resolvi transformá-lo em lucro. Vem ver comigo.
Observa que o lado por onde derramas a água está bonito, face às plantas, flores e cores que esplendem. Muito bem, como eu me dei conta de que irrigavas esse lado da estrada, resolvi semear-lhe flores, e eis o resultado...
O pote rachado, entretanto, redarguiu-lhe:
- Apesar disso, somente conduzes um pote e meio com água ao invés de dois, e isso traz-te dano.
- Enganas-te - ripostou-lhe o aguadeiro -. Graças à sementeira que fiz e à tua irrigação natural, diariamente ali colho algumas flores e adorno a casa do meu amo, o que muito o alegra e felicita. E isso devo a ti...
E sempre possível transformar limite em harmonia, falta em completude e ausência em esperança.
Dependendo de cada um, aquilo que é escassez, de alguma forma poderá converter-se em lição de vida, proporcionando equilíbrio e prazer.
A ausência de determinados padrões do que se convencionou chamar saúde total, com habilidade e criatividade se transmuda para utilidade e riqueza emocional.
O encontro com a saúde é fácil, a sua preservação torna-se, porém, um grande esforço que necessita ser mantido com espírito jovial e criativo, a fim de que os pequenos acidentes de percurso não se transformem em desequilíbrio e rebeldia.
Um coração jovial e um espírito amável resolvem quais quer problemas proporcionando saúde e paz, já que o trânsito orgânico se caracterizará sempre por pequenos convites à reflexão e à manutenção dos objectivos abraçados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 26, 2023 11:11 am

Auto-realização e paz
Procurar entender o reservatório do inconsciente humano, em paralelismo com o consciente, que é conforme a capacidade de entendimento de cada um, tem sido a labuta afanosa dos pensadores e estudiosos do ser através dos tempos.
A partir de Leibnitz, com a teoria das mónadas - cuja diferença entre si estava na forma lúcida como cada qual entendia o mundo, desde o estágio mais inconsciente da alma - que constituem a matéria, até a suprema mónada, que é a consciência superior e absoluta ou Deus, tem início uma nova formulação do ser.
Essa teoria sofreu alterações nas interpretações do inconsciente conforme cada filósofo, tais Hegel com a sua dialéctica, Schopenhauer com a sua conceituação de vontade apresentada na teoria do inconsciente absoluto, que se expressa continuamente nos diversos planos da vida, quais o físico, o psíquico e o metafísico, significando a base, a lógica do mundo, a directriz de segurança, rumo único para desenvolver-se e alcançar a plenitude da consciência ou da salvação e redenção de tudo quanto existe.
Freud, como psiquiatra, melhor do que ninguém se adentrou no profundo do ser, mediante o seu inconsciente, já percebido por Carus e Nietzsche. Freud, porém, através da psicanálise, conseguiu elaborar um sistema através do qual a consciência se revela somente em uma parte, que se manifesta como deformada da vida psíquica, que somente será desvelada, quando seja possível reunir em um mesmo estudo o inconsciente, o consciente e o subconsciente do ser humano.
Praticamente todos os fenómenos da vida humana se iniciam e passam pelo inconsciente, onde se encontram as tendências libidinosas, que permanecem esmagadas pelo critério decorrente da censura elaborada e mantida pela consciência.
Prosseguindo nas pesquisas do mestre, Carl G. Jung concluiu pela realidade do inconsciente colectivo, que reúne todas as realizações e vivências das gerações passadas, incluindo as animais, por onde teria passado o ser humano, apresentando as suas consequências na expressão actual.
Aprofundando-se, porém, a sonda da investigação no abismo do inconsciente humano, as heranças colectivas constituem as experiências individuais das reencarnações anteriores, proporcionando o armazenar das conquistas e prejuízos que permanecem na memória extra-cerebral - no perispírito -, não poucas vezes ressumando em paz, quando saudáveis ou em conflitos, se procedentes de erros e defecções morais.
São esses comportamentos infelizes que geram, na conduta psicológica, os tormentos de difícil compreensão psicanalítica, por transcenderem à actual existência corporal.
Absorvidos pela personalidade, que se apresenta conflitiva, instalam-se e reflectem-se na libido - a vigorosa herança dos instintos primários - responsável por inumeráveis distonias, ansiedades e transtornos fóbicos.
Buscar a terapia da autoconsciência constitui o recurso valioso para a aquisição da saúde e da harmonia, que se interdependem.
O Espírito é o arquitecto seguro do próprio destino, por meio das condutas que se impõe.
Reflectem-se em cada existência as aquisições saudáveis ou mórbidas, que dão curso ao equilíbrio ou à insanidade.
Castradoras algumas das injunções pretéritas, que o inconsciente exige do indivíduo, aguardam cuidados especiais para serem superadas e diluídas.
Não poucas vezes manifestam-se como rigidez corporal, tensões musculares, como se anéis vigorosos imobilizassem o paciente, que se angustia em processos respiratórios deficientes, entrecortados, inibidos, como resultado de ocorrências perinatais, tormentos experimentados na infância, mas cujas matrizes remontam às existências passadas, desencadeadoras dos mecanismos aflitivos da actualidade...
Em casos dessa natureza, a terapia bioenergética de Reich propicia a libertação dos movimentos, a aceitação do corpo, rompendo os elos retentores e facultando a integração harmônica do ego com o Self, sem prejuízos psicológicos para o ser consciente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 26, 2023 11:11 am

Em outros conflitos mais complexos, nos quais as heranças do inconsciente colectivo são mais constritoras, as propostas freudianas, junguianas, behavioristas oferecem mananciais terapêuticos de resultados eficientes e libertadores.
A realidade, no entanto, é que nesse empreendimento - a busca da auto-realização e da paz -, todos necessitam da experiência e das terapias especializadas, de que se fazem instrumentos os verdadeiros missionários das ciências psíquicas e psicológicas para a saúde e o bem-estar, a paz e a alegria perfeita.
Em qualquer processo, todavia, o ser desempenhará sempre um papel fundamental para a própria recuperação, qual o da autoconsciência, da conquista do Si, para que a saúde real e a paz legítima se lhe instalem nos painéis existenciais, facultando-lhe a alegria plena de viver.
Nem sempre a paz será a placidez das águas tranquilas que, às vezes, repousam sobre decomposição orgânica e morte, qual sucede nas regiões pantanosas...
A paz resulta da consciência sem choque com o inconsciente, que a irriga de ideais superiores e a estimula às realizações enobrecidas. Não impede que surjam novas refregas, consistindo em equilíbrio perante os desafios e confiança no desempenho das tarefas.
Superando a fase dos conflitos, o indivíduo constata a excelência dos resultados dos esforços envidados, ora manifestando-se como bem-estar.
A marcha da evolução, no entanto, não cessa na auto-realização e na paz, que são de momento um clímax, facultando abrirem-se novos painéis de progresso, porque é inestancável a marcha para o infinito.
Nesse processo vitorioso, o Espírito se despe das escamas pesadas do ego, resultantes das reencarnações e consolida o Self, que o alçará às cumeadas dos altiplanos, para levantar voos mais audaciosos na direcção de Deus, que o aguarda através dos milénios de evos.
Vencer as sombras densas para alcançar a luz imarcescível; libertar-se das doenças e dos transtornos psicológicos; alargar a percepção da realidade, saindo da estreiteza dos limites em que se encarcera; diluir barreiras do pensamento pessimista em favor do idealismo altruísta - eis a saga esplendorosa que deve ser encetada por todos os seres humanos que nascem como princípio inteligente e atingem a glória solar em êxtase de auto-realização e paz.

§.§.§- Ave sem Ninho
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