LUZ ESPÍRITA
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Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira

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Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:19 pm

— Dona Modesta, aconteça o que acontecer, ela tem um destino divino.
Esta é Miriã, um coração querido de doutor Bezerra.
Temos tentado auxiliá-la há muito tempo.
Foi uma mulher que se embrenhou pelos desfiladeiros sombrios da posse e da vaidade.
Como religiosa influente da Espanha, no século XIV, assolou diversos povoados causando dor e morticínio.
Por suas decisões políticas, muitos tombaram nos braços da morte por fome e doenças.
— O que se pode fazer, por alguém assim?
Quanto tempo ela ficará inconsciente?
— Há muito por fazer minha irmã querida.
Miriã será mantida nesse sono da inconsciência até que seu campo mental apresente melhora.
Observe que mesmo sem noção de si mesma, seu campo mento-magnético pulsa como um coração cheio de vida.
— Onde será alojada?
— Na mesma ala de Matias, com fins de tratamento prolongado.
Imediatamente após o diálogo educativo, nos deslocamos para a enfermaria acompanhando a internação de Miriã.
Os casos graves do Hospital Esperança se encontravam nesta ala de casos agudos.
Passamos na frente do leito de Matias.
Ainda estava desacordado e totalmente dependente de aparelhagens que lhe mantinham a vitalidade.
Tive ímpeto de parar, mas Clarisse solicitou-me acompanhá-la.
A enfermaria colectiva não separava os pacientes por sexo.
Eram doentes sem a menor lucidez.
Passamos por todo o extenso corredor até chegar ao bloco cirúrgico.
Miriã seria operada imediatamente.
Duas ante-salas com material asséptico e roupas adequadas antecediam o templo de cirurgias.
Médicos e especialistas previamente avisados esperavam pela paciente.
Anestésicos, suturas e aplicação de assepsia com instrumentos avançados de nosso plano eram destinados à sofredora.
Muitas doses de vacinas e alguns inibidores microbiológicos em forma de supositórios foram introduzidos em Miriã.
Ela passava por uma verdadeira desinfecção.
Algumas partes de seu corpo estavam apodrecidas.
Os médicos apertavam as nádegas e farta dose de substâncias de péssimo odor escorria pelo ânus.
Posteriormente procederam a lavagens intestinais e estomacais.
A paciente estava completamente dependente de aparelhagens para manter seu campo de conexão com o corpo espiritual.
Notava-se uma disparidade entre o corpo mental e o perispírito.
Como se não se encontrassem e estivessem desconectados.
Médiuns experientes participavam da cirurgia para ajuste do campo mental.
Recebiam a "fôrma" de Miriã em seus próprios campos mentais para se efectivar a reorganização da "genética essencial" dos seres vivos no reino hominal.
Um trabalho complexo acompanhado por especialistas na medicina da alma.
Com a permissão de Clarisse, assisti a tudo em oração e com interesse através de uma vidraça.
Apesar de estar fora do ambiente, senti-me desgastada, como se também doasse algo de mim ao trabalho.
Passaram-se não mais de sessenta minutos.
Quando terminou, ela foi levada para a ante-sala onde permaneceria em observação permanente por mais três dias, quando então seria submetida a novas operações delicadas.
Fui ao encontro de Clarisse após tomar uma medicação revitalizante, por sugestão do médico que operou Miriã.
Clarisse estava no posto ao lado consultando a ficha de Matias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:20 pm

E eu indaguei:
— Clarisse, como está Matias?
— Com melhoras lentas.
O tempo que pode durar essa inconsciência ninguém pode prever.
Meses ou anos, talvez!
— A incorporação na sessão mediúnica não seria suficiente para trazê-lo de volta?
— Algumas vezes sim, outras não.
Nesse caso, conforta-nos saber que as células do corpo espiritual estão reagindo favoravelmente e retomando suas funções.
Começa novamente a absorver o fluido vital da natureza ambiente com independência.
Seu perispírito está em plena actividade de resgate do equilíbrio por meio da osmose
natural nos intricados processos da vida mental.
— Que boa notícia!
Tenho um sentimento maternal por Matias.
— É bem verdade!
A senhora já foi sua mãe!
— Sinto-me nessa condição.
— Não se recorda?
— Não!
— Venha comigo, dona Modesta.
Este é seu instante de revelação!
Clarisse levou-me até o leito de Matias.
— Olhe para Matias e diga-me o que sente.
— Sinto piedade, dor, desalento.
— Chegue mais perto do rosto dele e olhe fixamente no centro frontal.
— Sinto um calor...
Uma força me atrai, como se quisesse encostar minha testa na dele.
— Faça isso, dona Modesta, enquanto vou orar.
Não consegui conter o ímpeto.
Ao tocar no corpo de Matias, fui sugada para dentro de um túnel que tinha cores diversas.
Saltei como em um mergulho e podia ver uma tela branca no fim daquele lugar.
Nela estampavam-se cenas de um tempo.
Uma mulher imponente vestida como rainha.
Olhos esbugalhados, uma testa larga e cabelos negros bem penteados.
Roupas sumptuosas e um palácio encantador.
Tudo tinha vida e sentimento para mim.
Repentinamente, senti-me no lugar daquela mulher.
Já não via o filme, eu o vivia.
Ao seu colo estava um jovem com aproximadamente vinte anos.
Os dois conversavam, enquanto ela afagava sua cabeleira recheada.
Falavam de planos para o futuro.
Passei tão intensamente a viver a cena, que tinha noções de tempo.
Era uma tarde. Os dois tomavam um chá amargoso próprio daquela região.
Era Paris, cinco da tarde do dia 18 de outubro de 1571.
O jovem é Carlos IX, rei de França, no colo de sua mãe, a cruel rainha Catarina de Médicis, descendente dos Valois.
Quando dei por mim, tinha detalhes da cena que me impressionaram.
Sentia-me como sendo aquela mulher, todavia, quando olhei para Carlos em meu colo, ao observar seu rosto, percebi que era o rosto de Matias.
O choque foi tão grande que saí do transe e coloquei-me novamente de pé diante de Clarisse, muito zonza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:20 pm

Com dificuldade de entender o que me acontecia, só consegui ver Clarisse assentar-me em uma cadeira próxima e tive um desmaio.
Assim permaneci por alguns minutos.
Não me lembrei de nada quando recobrei os sentidos.
— Como se sente, dona Modesta?
— Clarisse de Deus!
O que me aconteceu?
— Uma regressão induzida.
— Tive um sonho do qual não me recordo!
Só sei que me causou más sensações.
— Não foi bem um sonho.
Foi uma recordação viva em seu campo mental.
— Por que não me recordo?
— Protecção.
Estamos a preparando mentalmente.
Pelos efeitos do contacto com esse passado, poderemos aquilatar em que nível lhe permitir esse acesso.
— Acesso?
— A senhora poderá consultar seus arquivos reencarnatórios aqui no Hospital Esperança.
Descobrir quem tutela suas reencarnações nos últimos milénios, quem são seus laços no corpo físico, estudar seu vínculo com Matias e, sobretudo, descortinar os compromissos futuros que a aguardam.
Todas as cenas agora percebidas em suas recordações poderão ser reactivadas a qualquer instante, por meio de aparelhagem especial, e gravadas para seu posterior conhecimento.
— Meu Deus!
E quando isso me será permitido?
— Assim que a senhora participar mais activamente dos serviços socorristas, como o desta noite.
— Estaremos passando por algum momento especial, Clarisse?
Algo ocorrerá na Terra?
Por que esse chamado a mim dirigido?
— Dona Modesta, lamentavelmente os prognósticos são de dor e ruína para essa década de 40.
Carecemos reunir todas as forças do bem em favor do amparo e do resgate.
A humanidade se avizinha de um período crítico.
A guerra, como instrumento lapidador da lei de destruição, haverá de singrar os continentes com a lâmina impiedosa do ódio e do poder.
Estamos conclamando, em todas as latitudes, os seareiros do amor e da paz, para as realizações desta hora.
Precisaremos intensamente das reuniões mediúnicas para o socorro activo.
Os médiuns dispostos, neste tempo de sangue e morticínio, nos serão muitos úteis.
A senhora presenciou os feridos e estropiados que aqui chegaram esta noite.
A guerra já começou em nosso plano.
O objectivo das falanges organizadas da maldade é tomar a Terra em definitivo, por meio do colapso geral do planeta.
Dominar a economia e o estado pela imposição de ideologias racistas e sectárias, como se tivessem nas mãos a missão de escolher, na condição de deuses que se supõem ser, quais os destinos do mundo.
Haverá prantos e ranger de dentes.
As falanges organizadas da maldade defendem uma cartada final:
ou consolidam a vitória, ou se atolam nas furnas para sempre.
O próprio planeta, em seu psiquismo, passa por mudanças sem precedentes.
Regiões habitadas pelas mais estranhas raças de hominídeos, que ainda não se humanizaram, locais criados pelo processo natural de adaptação de seres que optaram pelo sono da inconsciência, e mesmo as regiões urbanizadas pelos cultos engenheiros que prestam serviço às organizações da maldade estão submetidos aos princípios divinos de transformação e ascensão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:20 pm

O elemento plásmico usado para abastecer a economia de tais localidades está se esgotando devido aos fundamentos naturais da química e da física que reorganizam a matéria de conformidade com a natureza.
Esses ambientes carregam por demais energias intoxicadas para se reciclar por mais tempo.
O átomo que constitui a matéria condensada obedece ao pulso natural do átomo vital do fluido cósmico que a sustenta.
O plasma é uma fonte geratriz de gases que sofrem alterações muito similares ao oxigénio na esfera terrena.
Reservas vitais são desrespeitadas para que surjam as megalópoles que administram os vales da sombra.
O ecossistema psíquico da Terra está tão ou mais abalado que a ecologia na vida física dos continentes.
Algumas cidades nas regiões sub-crostais tornaram-se ambientes inviáveis para a raça humana, obrigando muitos dirigentes da maldade a ter suas moradas mais próximas ao umbral.
A África foi o local preferido da maioria para a construção dos plantéis directores.
Nos últimos cem anos, reencarnaram diversos enviados dessas falanges, que se organizaram no psiquismo africano no intuito de disseminar ideologias de violência e domínio pela força.
Uma corrida desenfreada por domínio territorial se acende nas esferas mais próximas da humanidade terrena, cujo cerne é ter guarida em ambas as faixas de vida para a consumação de seus planos odientos.
Os próprios dominadores estão abrindo mão de parcelas consideráveis de antros de perversidade, que ficam à mercê de nossa acção salvacionista.
Eis o motivo de visitarmos o campo sangrento de Nuremberga, onde a maioria dos líderes que se apossaram da região extrafísica adjacente à Alemanha já se encontra no corpo e sem noções mais nítidas sobre as ocorrências na erraticidade.
Tentam continuar o domínio fora do corpo, conquanto o foco de seus mais doentios desejos de posse é voltado para o mundo físico, já não se importando com a colonização da vida espiritual.
Se ainda mandam tanto naquele lugar em que estivemos, é somente em razão das notícias escandalosas do avanço inevitável de suas conquistas passageiras no poder do mundo.
O nazismo tornou-se senha de garantia e certidão de posse.
Usar a ideologia significa mandar.
Aqueles soldados infelizes acreditam que serão promovidos a proprietários daqueles antros de dor.
Foram hipnotizados para tal fim.
— Diante de tantas verdades, Clarisse, tenho novamente a sensação de que minha cabeça vai explodir.
Sinto-me como alguém que algo pode fazer, contudo, ao mesmo tempo, confusa e impotente.
— Tudo obedece ao progresso, minha irmã.
Tenha paciência.
A vida lhe destina avisos sinceros nos contactos com nossas esferas porque reconhece o novelo de esperanças a ser desfiado em seu coração.
Sob a tutela de Eurípedes Barsanulfo, sua reencarnação e as actividades do Sanatório Espírita de Uberaba são cartas de crédito para os trâmites dessa hora decisiva.
— Oriente-me, Clarisse.
Não me deixe ao desvalimento.
Sinto-me tão pequena diante da grandeza do trabalho.
— Nunca nos faltará amparo, dona Modesta.
Venha cá, abrace-me.
Clarisse me envolveu com uma ternura inenarrável.
E, por inúmeras vezes, a partir daquele episódio, recebi o carinho e a atenção desse coração bondoso e afável, doce e maternal.
Tão jovial e tão madura em suas posturas, Clarisse tornou-se meu anjo guardião e amiga de todas as horas.
Após aquele acolhimento fraterno, não contive o ímpeto de saber um pouco mais sobre o meu próprio passado e, novamente, como uma educadora do Cristo, ela alargou meus panoramas mentais trazendo-me farto esclarecimento sobre os compromissos do presente que, segundo ela, mais importavam que as lembranças de outrora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:20 pm

Assim manifestou:
— No transporte da árvore evangélica conseguimos efectuar o garimpo moral no tronco judaico-cristão. Retiramos nesse solo árido do Velho Mundo as sementes promissoras que serão plantadas aqui no Brasil.
As consciências arrependidas e amantes do Cristo.
Outro grupo, porém, avançará pelas vivências que serão golpes certeiros contra as profundas raízes da indiferença ao bem colectivo.
São almas candidatas ao exílio.
O Brasil é o ambiente regenerador para essas almas, e Minas Gerais, assim como cada estado, tem sua missão especial.
Se no Brasil reencarnaram as almas mais comprometidas com a mensagem do Evangelho ao longo da história, neste solo bendito das alterosas retornaram os mentores intelectuais das principais tragédias em nome do Cristo nesses últimos 2.000 anos.
Os articuladores, cérebros pensantes da religião e da política interesseira, com marcante traço de arrogância em suas atitudes.
Minas Gerais, em seus limites geográficos, não tem o formato anatómico de uma cabeça sem motivos bem definidos.
É o centro irradiador, o espaço para o culto das ideias promissoras.
Esse é o compromisso da abençoada terra de Tiradentes, o tutor espiritual do estado.
Para essa gleba de esperança retornaram os mais comprometidos idealistas que desviaram os destinos da mensagem cristã por meio de atitudes insanas e desapiedadas.
São almas profundamente arrependidas e esfaceladas afectivamente devido à natureza de suas vivências caprichosas e presunçosas.
Uma classe de consciências tombadas pelo fracasso moral, cujas doenças básicas são a rebeldia e o orgulho com manifestações subtis e complexas, que demonstram quão enraizadas se encontram as velhas atitudes de apropriação da verdade.
A expressão enfermiça da arrogância lhes consome os hábitos e pensamentos em vertigens de importância pessoal.
Amam o nome de Jesus Cristo e o procuram com verdadeiro sentimento de melhora, todavia, com raras excepções, atolam-se na crónica alucinação da disputa que carregam como impulso quase incontrolável e imperceptível.
Tal impulso responde pelos rompantes de egolatria, patrocinando a discórdia e o personalismo desenfreado.
Na condição de médiuns, com severas obrigações colectivas ou anónimas, trabalham para renovar os cenários da filosofia cristã, destinando a forma de pensar rumo à essência da Verdade e do amor pelo qual, também eles, anseiam aflitivamente.
Sobretudo, recebem o empréstimo da mediunidade para desenvolver a sensibilidade que inibiram deliberadamente, a fim de não sentirem os tormentos do remorso.
A mediunidade é a sensibilidade-empréstimo que servirá de recurso educativo, moldando-lhes o carácter e o sentimento.
Sem esse avanço nos roteiros da elevação afectiva poderão tombar novamente na secura emocional e patrocinar o sectarismo e a intolerância envernizados, que são os alicerces da elitização perigosa rumo aos desvios na proposta do Espiritismo cristão.
A grande luta educativa de todos nós, nos roteiros do Evangelho é vencer essa tendência cristalizada em nossa mente.
A arrogância é uma doença muito complexa em nosso psiquismo.
Minas Gerais e seu povo carregam um compromisso espiritual severo.
O psiquismo do estado será alvo das mais caras atenções de nosso plano, considerando a natureza das missões que o Mais Alto planeia para o futuro.
O solo árido é o que mais carece de cuidados para a sementeira.
Onde mais existe atraso, Deus vê perspectiva.
Onde mais se sedimenta a doença, o Pai endereça medicação adequada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:20 pm

O codificador, em O Livro dos Médiuns, item 226, capítulo XX, segunda questão, recebeu a inspirada resposta:
"Todas as faculdades são favores pelos quais deve a criatura render graças a Deus, pois que homens há privados delas.
Poderias igualmente perguntar por que concede Deus vista magnífica a malfeitores, destreza a gatunos, eloquência aos que dela se servem para dizer coisas nocivas.
O mesmo se dá com a mediunidade.
Se há pessoas indignas que a possuem, é que disso precisam mais do que as outras, para se melhorarem.
Pensas que Deus recusa meios de salvação aos culpados?
Ao contrário, multiplica-os no caminho que eles percorrem; põe-nos nas mãos deles.
Cabe-lhes aproveitá-los.
Judas, o traidor, não fez milagres e não curou doentes, como apóstolo?
Deus permitiu que ele tivesse esse dom para mais odiosa tornar aos seus próprios olhos a traição que praticou."
Porém, onde há compromisso há também promessa.
Este estado também será o berço acolhedor de uma das mais gloriosas missões junto ao Consolador Prometido.
A sabedoria dos planos maiores outorgou a esse celeiro de médiuns e almas em remição a tarefa de receber a sentinela do Evangelho redivivo na pessoa do missionário Francisco Cândido Xavier, que será um rastro de luz e exemplo moral para toda a comunidade espírita.
A ele compete a missão de nos fazer sentir Jesus no coração por intermédio de uma vida impoluta e devotada ao amor.
Sem essa referência de grandeza espiritual, certamente padeceríamos da saudade doentia do Cristo, que cada vez mais vem desaproximando corações da mensagem cristã.
Nele encontraremos um referencial para avaliarmos a extensão de nossas profundas necessidades de aperfeiçoamento.
O exemplo de atitudes de amor dessa alma será a seiva cristã para o movimento espírita ter motivação na qual possa mirar sua intimidade.
Sua tarefa será a do missionário consciente que adentra uma enfermaria com doentes gravíssimos para amenizar-lhes as tormentas da alma.
Trará por suas mãos o óbolo bendito do esclarecimento e, por suas acções, o bálsamo do consolo acolhedor e incentivador de novas atitudes.
A missão de Chico é consolidar a conduta de desprendimento, o esquecimento de si mesmo, uma missão social perante o grupo judaico-cristão.
Chico Xavier é o missionário do amor enviado pelo Mais Alto para garantia dos rumos superiores dos ensinos espíritas na Terra.
Sem nenhum menosprezo a valorosos expoentes que se devotaram a seguir-lhe o exemplo e também a nós outros, que estamos dando os primeiros passos no desenvolvimento das potencialidades mediúnicas, somos, via de regra, almas em busca de reerguimento consciencial pelo exercício cristão da mediunidade.
A ideia de missão em assuntos da mediunidade, pode ser vista de dois prismas:
existem os que têm missões cujo cerne é a própria redenção.
Além desses, raríssimas vezes, encontramos os que estão aptos a trabalhar pela redenção de multidões.
Podemos ter, portanto, uma missão individual e outra colectiva, sendo que na maioria dos casos, em se tratando de movimento espírita, nossa missão como médiuns, antes de tudo, objectiva nossa melhoria psicológica por meio da harmonia no reino da consciência.
— Clarisse, quanta novidade para minha ignorância!
Quanta beleza em suas palavras!
— Deus é Pai, dona Modesta!
Deus é Pai de misericórdia!
— Estando reencarnada em Minas, especialmente em minha querida Uberaba, terra natal, também trago comigo tais severos compromissos de outros tempos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:21 pm

Estarei certa ou iludida sobre o que se passa em minha mente?
— Para isso a preparamos, minha irmã.
Sem conhecer claramente a extensão de seu projecto reencarnatório, já se integrou ao mesmo por meio da obra social bendita no Ponto Bezerra de Menezes e nas tarefas de caridade cristã a órfãos, crianças e presidiários, culminando com o sanatório.
Considerando seu devotamente sincero, Eurípedes Barsanulfo julgou oportuno conceder-lhe noções lúcidas de seu passado.
Nosso intuito é o de ampliar a obra do bem em favor dos que padecem na erraticidade sob os efeitos de decisões infelizes em pretérito não muito distante.
— Afinal de contas, Clarisse, quem fui eu?
O que fiz?
Sinto que fui a artífice de uma tragédia, na qual envolvi o nome de Cristo.
Quem sou eu, Clarisse?
Por que tive esse desmaio perto de Matias?
Temos laços fortes, pelo que sinto!
— O futuro nos aguarda repleto de oportunidades, minha irmã.
Trabalho não nos faltará. Esse segundo período de setenta anos no planeamento das verdades espíritas será um tempo de muitos desafios e definições.
Os corações que agora regressam às fileiras do Espiritismo cristão serão testados em seu desprendimento, em seu carácter e em suas intenções.
Cansados do mal, não acreditamos em perversidade declarada na seara, todavia, os reflexos inevitáveis do personalismo certamente criarão castas e prerrogativas pessoais.
A sombra do interesse apaixonado ainda será, por muito tempo, um palco de atracções para almas infantis que carregam sonhos de grandeza.
O irmão H., que ontem foi alvo das nossas mais sinceras iniciativas de amparo e orientação, nascido em berço mineiro igualmente, assumirá responsabilidades que, se não forem desincumbidas com muita visão de futuro e noção de bem colectivo, poderão constituir um curso perigoso em direcção a muitas ilusões de poder transitório.
Joio e trigo poderão se misturar, deixando as gerações futuras do Espiritismo divididas entre linhas antagónicas que jamais deveriam se alojar nos costumes dos cristãos modernos.
Esse cenário é propício para o cultivo da inimizade, da indiferença e até mesmo do ódio.
Dessa forma, a comunidade espírita, esta abençoada enfermaria de recuperação, poderá ser contaminada causando infecções graves no organismo colectivo.
Conscientes dessas possibilidades, trabalhamos incansavelmente para que esse segundo ciclo do Espiritismo sejam setenta anos de muita acção e construção sólida no bem.
Com as mãos muito ocupadas, temos menos tempo para o conflito.
Com pena de o homem esquecer um pouco seu mundo interior, incentivaremos a caridade como núcleo das acções espíritas, até que tenhamos melhores condições para incursões de profundidade na alma.
Tarefa essa que será o cerne do novo ciclo de setenta anos, após a virada do milénio, quando esse tronco de almas aflitas pela paz perceberá, em definitivo, o caminho das conquistas íntimas e se lançará ao processo da desilusão das imagens fantasiosas do ego, em direcção à realidade e à educação de seus potenciais.
Por agora bastam o serviço de solidariedade e o erguimento do amparo ao bem colectivo, que resgatará em tais almas aflitas o sentimento de amor do qual se encontram distantes há milénios.
Depois, mais adiante, inaugurando o terceiro ciclo de setenta anos, lhes será reservado um novo desafio no terreno de suas próprias emoções.
Abençoadas sejam as terras brasileiras!
Iluminadas sejam as terras mineiras!
Que das minas de ouro espiritual surjam talentos que orientem o bem e a liberdade.
Ainda que tardia, que de lá e de todo o Brasil possam as benesses do Evangelho confortar e acender no sentimento o ideal da fraternidade, da igualdade e liberdade!

32 Nota da editora: mãe de Francisco Cândido Xavier, desencarnada a 29 de setembro de 1915.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:21 pm

Capítulo 11 - Os Descuidos do Movimento Espírita na Década de 40
'Acostumado aos aplausos onde quer que aparecesse, fora vítima da própria ilusão, acreditando que, para falar com êxito sobre Jesus bastavam os louros efémeros já conquistados ao mundo.
Enganara-se. Seus compares punham-no à margem, como inútil."
"Era a luta entre a vaidade de outros tempos e a renúncia de si mesmo que começava.
Para conforto da alma opressa, recordou a narrativa de Ananias, no capítulo em que Jesus dissera ao velho discípulo que lhe mostraria quanto importava sofrer por amor ao seu nome."

-Paulo e Estêvão -segunda parte, capítulo I, Rumo ao Deserto, página 224,14° edição.

A década de 30 avançava para seu desfecho.
As notícias de prenúncio de guerra eram ouvidas no rádio com temor, em Uberaba, pelas classes que dispunham desse recurso à época.
Passei a perceber com mais clareza o alcance dos prognósticos exarados, diversas vezes, pelos amigos espirituais.
Nossas reuniões de intercâmbio passaram a ser continuamente destinadas a socorrer almas tombadas pela guerra.
Por várias vezes regressei aos campos de loucura do nazismo e vi de perto aquilo que os programas radiofónicos não podiam e nem sabiam.
Chocada com a índole humana, agoniada com as previsões dos radialistas, passei um longo período de depressão que, na verdade, assolou todo o povo brasileiro, especialmente nas classes mais cultas.
Eurípedes Barsanulfo, nesse tempo, mantinha um contacto mais frequente, oferecendo-me suporte e orientação.
Foram dez anos de tormenta mental para a humanidade e de muito trabalho nas sessões socorristas.
Antes mesmo que a guerra terminasse, tomei contacto com a extraordinária obra mediúnica Nosso Lar, vindo a compreender claramente as razões dos apelos que recebi do Hospital Esperança em razão dos assassinatos em massa nos campos de concentração que se organizavam no iniciar da década de 40.
André Luiz, entre muitos ensinos, deixava uma visão sobre a guerra à luz dos fundamentos da verdade.
Encantou-me no livro a personagem ministra Veneranda, que mais tarde vim a saber tratar-se da mesma Isabel de Aragão, a rainha santa de Portugal, que orientava, nesse tempo, os serviços de intercessão do Hospital Esperança e dispunha de uma missão gloriosa junto nas terras sofridas do continente africano, em colónias portuguesas e adjacentes.
Nesse período, Cornélius também intensificou sua actividade no Sanatório Espírita de Uberaba.
Sempre trazia esclarecimentos muito profundos sobre o que acontecia durante aqueles dias de ódio sombrio.
Foram momentos de muita angústia os anos de 1939 a 1945.
Passada a tormenta da guerra, em uma noite nos fins de 1946, uma dor incomensurável tomou meu coração.
Doutor Bezerra me apareceu pedindo oração e, recordo-me bem, dormi sob influxo da prece em meu lar.
Desdobrada, volitamos novamente para Nuremberga.
Eram somente ruínas e uma psicosfera de tristeza sem fim.
A madrugada avançava e fui levada a uma cela na qual se encontrava Hermann Gõring, lugar-tenente de Hitler e assassino confesso.
Equipes de defesa acompanharam nossa tarefa.
Havia se formado a esse tempo uma força-tarefa que, desde de 1940, fora organizada nas regiões imediatamente mais próximas da humanidade terrena, cuja finalidade era servir nos campos de batalha da Segunda Guerra.
Uma autêntica Cruz Vermelha na erraticidade.
Os mais experientes e treinados grupos de defesa e socorro das organizações
do bem juntaram-se para o mister.
Um dos objectivos cristãos da missão era proteger os enlouquecidos e hipnotizados nazistas para que conseguissem sair do corpo sem se tornar novamente recrutados ao front das fileiras da maldade organizada dos dragões, que os tinham como líderes credores de condecorações e reverência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:21 pm

Infelizmente, Gõring se entregou aos destinos tenebrosos do suicídio horas antes da sentença de enforcamento decretada no julgamento de Nuremberga.
Nada pudemos fazer na ocasião.
Depois de muito conflito e tumulto em redor da prisão, com a presença organizada de grupos draconianos com vasta experiência em desencarnação, ele foi levado directamente às furnas.
Somente mais tarde, na década de 50, equipes especiais que compunham grupos de imigrantes ao planeta, coordenadas por Maria de Nazaré, mãe dos espíritos degredados na Terra, penetraram nos vales da maldade para buscar os reféns da loucura colectiva do nazismo.
Por meio de iniciativas endossadas directamente por Jesus, um continente os aguardava para a última incursão na matéria, antes que fossem deportados.
O mundo espiritual, em decorrência da guerra, recebeu uma superpopulação nas adjacências espirituais da crosta.
Em menos de dez anos, milhões de almas regressaram pela morte antecipada, gerando para muitas casas de amparo, em nosso plano, um contingente excessivo, o que determinou um destino novo para multidões de líderes e corações comprometidos com a Segunda Guerra.
Necessário seria que parte deles pudesse estar de volta ao planeta em reencarnação segredo apenas para se ocultar das perseguições odientas.
A África foi a solução.
O subdesenvolvimento e as condições de continente deserdado pelas sociedades humanas constituíam um esconderijo adequado às necessidades de protecção.
Eu mesma, a princípio, não entendi a razão de tal decisão.
A África era praticamente uma colónia do mundo europeu, completamente vandalizada pela "civilização".
A pobreza e as condições socioeconómicas eram de dar piedade.
Entretanto, era a opção disponível e viável.
Percebi que o plano espiritual não era um local com todas as soluções para todos os problemas humanos, mas era, na verdade, uma fatia desconhecida do planeta que agia e reagia às mesmas leis e contingências nele operadas.
O livro Nosso Lar descortinou-me esse horizonte e deu bases intelectuais para que meu cérebro pudesse absorver tais noções.
Para equilibrar o processo e destinar o povo africano a rumos melhores, diversos voluntários com vivência política e cultural, prontos a provocar o desenvolvimento, mas ainda portadores de larga soma de compromissos conscienciais, foram recambiados aos países africanos para trabalhar a independência e o progresso.
Muitos deles eram europeus que, desde o século XIX, destilaram a selvageria contra o continente colonizado.
Portanto, antecipando uma década, aproximadamente, os Condutores Sociológicos do planeta planearam diversas reencarnações 1prevendo o destino desse continente nas décadas vindouras.
Devido às iniciativas dos espíritos de Maria de Nazaré, com larga vivência em transmigração de almas, foram erguidas colónias transitórias, estrategicamente organizadas em planos relativamente próximos à psicosfera terrena, mas fora da interferência do anel magnético vibracional dos vales da maldade.
Serviriam de bases seguras para as incursões que acelerariam a deportação no planeta a partir dos incidentes do pós-guerra.
A guerra foi o vómito de ódio que regurgitou no orbe desde a passagem do Cristo, que trouxera o remédio para as doenças de nossa raça.
O transporte da árvore continuava célere.
O pós-guerra permitiu um afrouxamento nas prisões infectas do Vale do Poder.
As atenções das organizações inferiores se mobilizavam integralmente para remendar os efeitos da catástrofe, que se fizeram evidentes na sub-crosta astral a partir da derrocada de Hitler.
Um clima de alvoroço e desespero por lá se instalou quando perceberam as medidas dos Mentores Planetários.
Correram notícias de que Jesus estaria novamente na matéria, o que lhes consumiu ainda mais os dias em perseguições infrutíferas e sem sentido.
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Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 27, 2018 8:21 pm

O caos também se instalou nas furnas da maldade. Uma reacção em cadeia atingiu os vales da sombra e da morte.
O fogo etérico que seria narrado em 1946 na colossal obra literária de André Luiz, Obreiros de Vida Eterna, assustava as mais altas patentes da maldade organizada por sua força devastadora.
Essa tecnologia de defesa teve variantes incomparáveis na primeira metade do século XX, sendo aperfeiçoada pela física quântica que, nas esferas espirituais, já tinha largo desenvolvimento nesse tempo.
A deportação em nossa casa planetária já havia começado no tempo de Jesus Cristo.
Uma das razões mais evidentes da consolidação do Vale do Poder33, 1500 anos antes da chegada do Messias, foi exactamente a notícia que se alastrou de sua vinda, criando uma cadeia de factos históricos em torno dessa vinda prometida.
Diz o evangelista Marcos, capítulo 1, versículo 13:
"E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás.
E vivia entre as feras, e os anjos o serviam".
Esse foi o ponto culminante dessa saga de lutas e horrores que desfiou as raízes para uma história que não terminaria naquelas quarenta noites de testemunhos, gerando 2.000 anos de atrocidades que, quando estudados pela antropologia de nosso plano, deixam claras quais foram as decisões de Lúcifer quando frente a frente com Jesus.
Acrescenta Lucas, capítulo 4, versículo 2:
"E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome".
Não há local vibratório na Terra em que os espíritos de Maria não possam entrar.
A limpeza dos mandantes da guerra foi efectivada até meados da década de 70.
Um trabalho cuidadoso foi feito para não chamar a atenção dos dragões, que supunham que seus comparsas já estavam sendo deportados, embora estivessem sendo recambiados à matéria.
Essa medida evitou, por alguns anos, maiores obstáculos ao processo, até que descobrissem o destino dos nazistas.
Algo que ocorreu nos fins da década de 50, vindo a tomarem um enorme interesse pela África.
Um novo ciclo se iniciou.
Não havia com quem dividir semelhantes informações, a não ser com Inácio.
Ele tornou-se, assim, o confidente dos meus registros mediúnicos.
Já que o povo de Uberaba, em particular a Igreja, julgava-me uma perturbada que cuidava de loucos, cuidava de conter minha língua.
Meu pai, João Modesto dos Santos, e minha tia, sua irmã, Evarista Modesto dos Santos apoiavam-me incondicionalmente.
Meu pai, aliás, foi um autêntico neutralizador de críticas a mim dirigidas pelas autoridades eclesiásticas locais.
Como gozava de influência entre as camadas abastadas de Uberaba, pelo menos evitavam escândalos públicos, limitando-se a falar apenas aos cantos em boca pequena.
A década de 40 foi marcada por enormes lições para minha vida.
Os apelos do mundo espiritual ampliavam um leque de necessidades incomensuráveis.
Tinha a sensação contínua de que não daria conta.
Nossos pacientes no sanatório obtinham excelentes resultados com as técnicas de desobsessão. Inácio, aproveitando sua veia científica, iniciou a escrita de seus livros nesse tempo34.
Suas pesquisas sobre a vida mental e a influência da obsessão e da reencarnação, durante décadas, constituíram uma contribuição que acentuava a idoneidade do sanatório.
A essa época, tivemos por diversas vezes a presença do espírito doutor Oswaldo Cruz35 juntamente com benfeitores da Cruz Vermelha, que nos prestaram orientações preciosas sobre a saúde.
Na década de 50, passamos a ter constantes intercâmbios com Pierre-Marie-Félix Janet36, médico francês dedicado às ciências psíquicas que muito se interessou pelos registos de Inácio, passando a assessorá-lo assiduamente, mantendo estreitos laços com o sanatório uberabense.
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Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:16 pm

Foi também nesse tempo, no alvorecer da década de 50 que, de modo mais incisivo, doutor Bezerra ampliou seus apelos de solidariedade ao movimento espírita.
Tão logo declinaram os serviços assistenciais mediúnicos no pós-guerra, por volta de 1946, recebemos inúmeras mensagens escritas de diversos espíritos solicitando orações pela seara.
Bittencourt Sampaio, em uma delas, deixava claro que a primeira leva de espíritos do tronco judaico-cristão reencarnados nas primeiras três décadas do século iniciava seus passos mais ostensivos por meio de manifestações de seus velhos impulsos de formalismo, junto às responsabilidades novas no seio das agremiações doutrinárias.
O benfeitor nos deixou uma severa advertência sobre o assunto, afirmando que o clima de anti fraternidade já havia tomado conta de inúmeros tarefeiros.
Como sempre, talvez por minha necessidade de manter o coração puro, depois de séculos na maldade calculada, continuava com muita resistência em acreditar nas notícias desse porte.
Entretanto, certa feita, os bons espíritos, conscientes de minha ingenuidade para com as questões dessa natureza, e preparando-me para o futuro, providenciaram dois episódios marcantes para minha melhor avaliação das lutas da seara.
O primeiro deles foi a visita de um amigo querido, Odilon Fernandes, com o qual travamos um edificante diálogo sobre o assunto nos primeiros dias do ano bom de 1950.
Em uma tarde, em minha residência, reunimos Inácio, Odilon, Manoel Roberto e eu.
O assunto corria livre quando Odilon desabafou:
— Devo confessar mesmo sem desejar, dona Modesta, a minha surpresa e, porque não dizer, a minha decepção com certas questões que vêm acontecendo no movimento espírita!
Meu caro doutor Odilon, convenhamos...
É um movimento feito de homens e mulheres falíveis.
Não poderia ser diferente.
— Compreendo essa realidade.
Apesar disso, a menos que seja alguma dificuldade minha, não consigo entender tais posturas ante uma doutrina tão viril na sua proposta de fraternidade.
Continuo nutrindo gosto com todos; respeito e carinho não me faltaram, mas...
— De minha parte, como me encontro completamente absorvida pelas tarefas, reconheço não estar muito bem informada sobre esses assuntos, pelo menos no âmbito prático das ocorrências.
Aliás, costumo dizer a Inácio que prefiro brigar com meus loucos no sanatório a ter rixa com os espíritas.
Meus loucos são sinceros e verdadeiros...
— Essa é a questão, dona Modesta!
Tenho me decepcionado talvez mais com minha ingenuidade em acreditar honestamente em muitos amigos e, quando vejo, estou sendo difamado ou vítima de futricas.
— O senhor é um homem bom, doutor.
E, de mais a mais, embora eu mesma tenha ainda certa dificuldade em acreditar, parece-me que nós, espíritas, não somos tão bons quanto quer nossa ilusão!
Eu diria que não temos nada de diferente em relação a qualquer pessoa, apenas desistimos de fazer o mal.
— Não desejamos o mal, porém ainda o sentimos, concorda? - indagou, Odilon.
— Nossas intenções nobres são sinceras.
Nossas atitudes é que não as reflectem com fidelidade.
Largamos o mal. Nada mais!
Já não queremos prejudicar ninguém, entretanto, ainda não somos capazes de agir no bem do semelhante tanto quanto gostaríamos ou deveríamos.
— E esse pouco bem que já fazemos nos traz a sensação de realização profunda.
Tão profunda que somos enganados por nosso orgulho.
Ao mesmo tempo que nos realiza, expomo-nos ao teste do assalto de velhas ilusões do orgulho.
— É verdade, doutor Odilon!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:16 pm

Digo isso de mim mesma que, até certo ponto de minha caminhada, nas actividades no sanatório, me senti meio angelizada.
Para minha segurança, os bons espíritos me mostraram uma realidade diferente sobre a verdadeira situação de quantos renascem sob a luz meridiana da doutrina.
E, graças a isso, tenho educado meus ímpetos de grandeza pessoal.
O senhor Eurípedes Barsanulfo nos disse recentemente que faz tanto tempo que não experimentamos as blandícias do amor que, agora, ao procurarmos rectificar o caminho pelos serviços de caridade, uma intensa sensação de plenitude toma conta de nossa intimidade, constituindo alívio, mas também impulso a ser educado.
— Tenho notícias muito tristes sobre o movimento de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro.
Desde 1947, uma onda de poder sacode as relações nas instituições em razão de meros pontos de vista da doutrina.
— Tenho sido orientada a respeito pelos benfeitores.
A luta é árdua, meu irmão -falei mantendo a completa discrição em relação aos informes já recebidos.
Conduta essa que adoptava até mesmo com os mais próximos.
Algumas vezes abordava o tema superficialmente.
— No fim do ano que passou chegou-se a assinar um acordo de unificação que, em minha insignificante visão, nada mais foi que uma medida cautelar nesse jogo infeliz de hegemonia.
Como os espíritos amigos analisam tais pactos?
A senhora tem alguma informação em suas reuniões sobre esses acontecimentos?
— Temos sido agraciados com muita orientação sobre o transporte de espíritos para o seio da seara espírita.
— Carolas de outros tempos Odilon! - gracejou, Inácio, que sempre teve uma diferença com a Igreja e os padres.
Renascem no movimento os párocos e bispos.
A personalidade é a mesma, só mudou o rótulo.
Ficaram fascinados com a beleza do Espiritismo quando "mortos" e agora querem ser donos dela como "vivos".
— Eu sei disso, doutor Inácio, mas ainda assim fico a me perguntar se os bondosos amigos espirituais apoiam e porque apoiam.
Apoiam, doutor Odilon, porque já estamos fazendo algo de melhor em relação aos roteiros das antigas reencarnações.
— Mas isso não será ruim para o futuro da doutrina?
— Poderá, no máximo, segundo nos esclareceram os amigos espirituais, consolidar um perímetro cultural em torno das ideias espíritas, criando conceitos muito rígidos no entendimento da proposta educativa do Espiritismo.
O tempo, porém, renovará essa concepção dogmática que reflecte o Catolicismo ancestral em nosso psiquismo.
As gerações futuras, que vão regressar ao corpo, levarão os fundamentos da doutrina para concepções mais abrangentes e universais, rompendo, assim, com essa visão purista que tem levado muitos ao exagero.
— Então apoiam por solidariedade?
— Este é o papel dos verdadeiros mentores: amar incondicionalmente.
O facto de apoiarem não exclui nossa necessidade de avaliar tais factos como medidas melindrosas para o futuro.
Os espíritos superiores sabem muito bem a diferença entre devoção e amor.
Somos esforçados e nutrimos intenções legítimas no bem, todavia somos deveras imaturos para realizar expressões mais consistentes de amor fraternal.
Sem noções mais claras sobre a realidade espiritual que trazemos no íntimo, jamais compreenderemos esses reflexos nocivos de hegemonia e dogmatismo.
— Quem somos nós, dona Modesta?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:16 pm

De onde viemos nós, os espíritas?
Às vezes me sinto tão enfermo e infeliz que me pergunto qual terá sido minha trajectória em vidas passadas.
— Odilon -interveio Inácio -, esteja certo que não somos flor que se cheira!
Temos recebido informes graves sobre nossa situação nas sessões mediúnicas.
— Poderia saber de algo?
— Modesta, posso? -indagou-me Inácio por ser fiel ao nosso trato de comentar nossas actividades somente em casos muito raros.
— Fique à vontade, Inácio.
Doutor Odilon precisa saber de algumas coisas, porém não exagere.
— O senhor conhece o irmão H.?
— Conheço e trocamos cartas.
— O que acha de sua tarefa?
— Um missionário.
Graças a ele, os livros do nosso querido Chico Xavier iluminam vidas.
Entretanto, foi o avalista do referido acordo que se deu no Rio de Janeiro.
Isso me deixa confuso!
— Em nossas reuniões, há mais de dez anos, antes mesmo de ele assumir essas graves responsabilidades, irmão H. esteve sendo sempre muito amparado.
Isso não indica que os amigos espirituais abonem suas decisões por completo.
Ele está sendo alvo de uma severa obsessão.
O foco do auxílio a irmão H., além de amparo merecido, é também para evitar que outros, ainda mais imaturos, possam assumir o seu cargo.
Infelizmente, os irmãos da unificação no movimento espírita desconhecem o que seja o transporte da árvore evangélica.
Em síntese, é imperioso registrar que o joio do poder já se misturou ao trigo vicejante da causa do Cristo na seara bendita.
Além do que, como já podemos constatar, é o arrimo bendito do livro mediúnico que vai iluminar os roteiros do Espiritismo nos próximos séculos.
— Irmão H. estaria tomado por uma obsessão?
— Sim.
— Mas, doutor Inácio, como pode?
A meu ver, mesmo estranhando as atitudes desse homem no recente episódio do pacto, jamais imaginei que chegaria a tanto!
— Doutor Odilon -regressei à conversa após saborear uma xícara de chá -, qual de nós não tem uma obsessão?
Por que essa estranheza?
A obsessão não retira o mérito de irmão H., não o diminui em nada.
Obsessão, para quem se encontra em processo de remição consciencial, é uma bênção, uma contingência inevitável.
Aquele que mais tem é convidado a dar algo àquele que menos tem.
Nada mais!
— Talvez eu esteja sendo inconveniente ao tratar desses assuntos!
Creio que minha língua está obsidiada.
— Não doutor!
Não se martirize por fazer uma análise franca e educativa.
— Quer dizer que esse fenómeno de reencarnação em massa se chama transporte da árvore evangélica7.
— Sim. É o renascimento do tronco judaico-cristão, que se encontrava aprisionado por hostes da maldade.
— Podemos nos considerar como parte desse grupo?
— Pelo menos falando de mim, doutor Odilon, não me resta a menor dúvida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:16 pm

— Meu Deus!
Fico pensando, algumas vezes, se os espíritos não deveriam dar uma mensagem bem clara por intermédio de Chico Xavier sobre o que está acontecendo.
Talvez assim as coisas mudem um pouco.
— Doutor! Doutor! Já deram!
— Deram mesmo?
— O senhor já leu a magnífica obra Paulo e Estêvão7
— Linda!
— Linda e oportuna!
Será que o senhor acha que Emmanuel escreveu esse livro sem motivos?
— Meu Deus!
Nunca havia pensado por esse prisma.
— A obra tem alguns anos37.
Foi escrita, certamente, prevendo os acontecimentos recentes do movimento.
— Novamente estamos falhando no processo de formalizar em excesso a mensagem do Cristo, contra que Paulo de Tarso tanto lutou.
As influências agora não vêm de fora, conquanto Inácio não concorde muito comigo nesse ponto, ao valorizar os ataques da Igreja.
— Ainda acho, doutor Odilon -participou Inácio -, que a Igreja é uma adversária.
— E eu concordo -manifestou-se pela primeira vez Manoel Roberto que era muito tímido e profundamente dedicado ao seu director.
Doutor Inácio tem razão de sobra ao afirmar que os padres são muito hostis.
— A hostilidade mais grave parece que agora tem vindo também de dentro, Manoel! -respondeu doutor Odilon.
Se assim continuar, não sei como vai ficar.
Tenho, por vezes, a impressão de que as pessoas imbuídas de intenções nobres, ou que verdadeiramente muito realizam pela causa, são alvo de inveja e perseguições da língua maledicente.
A intriga parece estar sendo institucionalizada!
— Isso sempre existiu, doutor Odilon.
— Eu sei, dona Modesta, eu sei!
É que esperava que fosse diferente entre nós.
-Deveria ser, caro irmão, mas não é!
-Como disse a senhora: apenas largamos o mal.
— Uma organização com intuitos inquisitoriais!
Estarei sendo injusto na análise, dona Modesta?
— Doutor, se não houver uma mudança de curso, caminharemos para algo assim novamente.
Veja o que aconteceu com Jesus.
Nada de mau Ele fez.
Ao contrário, foi a bondade lúcida em todos os instantes de Sua inimitável trajectória.
E o que Lhe foi feito?
— Nós o crucificamos.
— Continuamos a fazer isso com Jesus, meu irmão.
Não mais à Sua pessoa, mas à Sua mensagem gloriosa.
Quando alguém reflecte em si mesmo a luz excelsa do bom exemplo e da virtude, incomoda-nos essa luminosidade, porque diante da grandeza e do valor alheio tomamos contacto com nossa própria inferioridade, e dói-nos percebê-la.
Jesus incomodou e incomoda até hoje.
Sua beleza espiritual é um espelho continuamente voltado para quem se interessa por Sua proposta de redenção.
O maior teste para nosso orgulho consiste em estar diante da superioridade alheia.
A luz dos outros revela-nos a sombra interior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:16 pm

Os alegres assustam os mal-humorados.
Os bons perturbam os mal intencionados.
Os destemidos são lembretes vivos para os acomodados nas teias do medo.
Os empreendedores atiçam a impotência dos despreparados.
Os inteligentes insultam os ignorantes.
O virtuoso, sem desejar, desnuda as mazelas de quem pretendia mantê-las ocultas de si mesmo.
As conquistas espirituais manifestadas na boa vontade e na capacidade de servir são um estorvo para almas como nós, ainda inseguras e vacilantes na caminhada de melhoria moral.
Por essa razão diz um velho ditado do tempo de meus avós, "mourão junto não faz cerca".
Dois mourões juntos entram em tamanha disputa para saber quem é o maior, que terminam esquecendo sua função essencial, que é arrimar uma cerca.
Assim, atazanados pelos êxitos alheios, perdemos a autenticidade procurando parecer o que não somos para diminuir a luz que nos ofusca; sentindo-nos impotentes diante da agilidade e destreza de outrem, não conseguimos conter os ímpetos da maledicência, com a qual procuramos empanar o brilho do próximo.
E, em muitas ocasiões, não sabendo como reduzir a superioridade de outrem, adoptamos a indiferença como único recurso de protecção contra nossa própria fragilidade.
— Que recomendação a senhora e nossos benfeitores teriam para semelhante tragédia das nossas relações, dona Modesta?
— Doutor, a recomendação é do Cristo que diante da disputa dos apóstolos para saber quem era o maior, enunciou a desafiante proposta educativa narrada em Mateus, capítulo 18, versículo 4:
"Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus!'
Jesus utilizou-se da criança para criar um modelo de exemplo cristão.
— Com que palavra a senhora resumiria esse ensino?
— Simplicidade.
— Ah, dona Modesta!
Essa é a palavra sagrada que não sai da minha mente!
Que bom ouvi-la da senhora.
Até então acreditei que estava sendo ingénuo por acreditar nela.
Acompanho essas situações lamentáveis que citei aqui em Uberaba, em algumas casas espíritas.
Começa a surgir um rigor dispensável nas directorias.
Estamos perdendo a simplicidade da boa conversa e da amizade, que são substituídas por aparelhos organizacionais distantes do acolhimento afectivo.
Teorias e iniciativas novas surgem para uma maior propagação da doutrina.
Muito estudo, muita norma, pompa e escassa convivência cristã.
— Meu caro doutor Odilon, o conhecimento foi e continua sendo uma referência de aferição da importância pessoal em assuntos da alma.
Em todos os tempos da história humana, ele foi o fundamento que definiu quem poderia ou não opinar nas questões espirituais.
Sacerdotes e religiosos nas diversas ordens religiosas encontraram na cultura e na inteligência a insígnia pela qual se julgavam aptos ao serviço da redenção humana.
Esse hábito arraigado ainda está presente em nossa estrutura mental.
Mesmo entre os adeptos da revelação espírita, fica evidente a influência de tal costume que, a meu ver, pouco a pouco vem consolidando uma cultura por demais perigosa à nossa causa, que poderá redundar, no futuro próximo, em uma nova elitização do Evangelho do Cristo.
O Espiritismo, com apenas noventa anos de existência, já apresenta sinais de hierarquização.
Muitos companheiros, sem dúvida, têm estimulado ideias que poderão constituir efectivas soluções pelo bem da doutrina e sua propagação.
Entretanto, guardo dúvidas sinceras sobre a possibilidade de união e fraternidade, caso as coisas continuem nesse rumo.
Cuida-se da doutrina e descuida-se de uma convivência cristã.
Que será do futuro?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:17 pm

— Parece-me, dona Modesta, que a simplicidade está sendo abandonada mesmo.
Em meio ao trigo do trabalho e da tolerância surge o joio do separatismo fantasiado de formalidades e iniciativas inspiradas na unidade de propósitos.
Ainda não consigo compreender essa tendência de acumular conhecimento em detrimento da vivência do amor.
Por que motivo agimos assim?
Aqui já não falo dos organismos institucionais, mas de mim mesmo, que adoro a cultura.
— Há um factor natural nessa questão.
O pensamento é o campo de conquista sobre o qual mais temos domínio.
Todas as operações que dizem respeito ao ato de mover a energia mental para criar, seja pelo raciocínio, seja pela reflexão, são realizadas com desenvoltura por todos nós.
Todavia, os benfeitores espirituais nos sinalizam uma nova ordem de crescimento e ascensão.
Dizem eles que o estágio de aprendizado na Terra apresenta urgentes lições ao homem na educação dos potenciais do sentimento.
Chega o instante de desenvolver a sensibilidade, que será um avanço decisivo na edificação do homem renovado.
Somente quando iniciarmos o serviço redentor de investigar o reino subjectivo das operações do sentimento reuniremos condições efectivas de renovação das nossas atitudes.
E somente a poder de atitudes conseguiremos aplainar os caminhos para o amor legítimo.
Os milénios de experiências nos roteiros da inteligência fomentaram a secura emocional.
— De alguma forma, então, estaríamos apenas experimentando as vicissitudes do nosso estágio?
— Creio que sim, doutor Odilon, conquanto a vida esteja nos chamando para novas lições.
Compete-nos agora o desenvolvimento moral.
E moral significa costume, isto é, mudar comportamentos.
É assim que têm me orientado os bondosos guias espirituais.
— Daremos conta disso, dona Modesta?
— Quem sabe, doutor?
Quem sabe!
— Terminei a leitura de um excelente livro de Chico Xavier chamado Voltei.
A senhora já o leu?
— Ainda não conhecemos, não é, Inácio? -dirigia-me sempre ao médico, que tinha uma memória ímpar.
— Não, não conhecemos!
— O livro narra a história de um excelente espírita, o irmão Frederico Figner, que assume o pseudónimo de irmão Jacob na obra.
Ele foi presidente da nobre Federação Espírita Brasileira.
Em resumo, com um linguajar ético e cristão, o irmão Figner deixa claro suas enormes dificuldades no mundo espiritual.
Quem pensaria nisso, se ele não escrevesse sobre o assunto?
Creio que está se formando uma ilusão severamente perigosa entre nós sobre uma importância que não possuímos.
Uma super-valorização dos cargos além do conhecimento.
— Vamos ler o livro assim que pudermos.
No entanto, não fica dúvida sobre nossa real condição espiritual, doutor Odilon.
O espírito André Luiz escreveu também um livro oportuníssimo sobre o assunto, Os Mensageiros, no qual deixa clara a situação desditosa de vários palestrantes, doutrinadores, médiuns e presidentes de centro na vida espiritual.
Creio que o momento é de alerta e cuidados com nossa condição.
Mais uma vez, acredito que, ao se afastar da simplicidade, valoriza-se mais o que impressiona do que o que genuinamente edifica.
— Irmãos queridos que conheci na simplicidade do Centro Espírita, ao assumirem cargos no organograma da unificação na seara, passaram, incontinenti, a adoptar condutas presunçosas em relação às ideias doutrinárias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:17 pm

Mudaram seu modo de ser.
— A doutrina é importante, e nós nem tanto! falei inspirada naquele instante.
— O que leva a nos afastar da simplicidade, dona Modesta?
— O que faz com que uma criança, doutor, ao entrar na fase juvenil, perca sua espontaneidade e ingenuidade?
— Sinceramente não saberia responder a essa questão.
— O jovem começa a ter uma percepção mais estruturada de si mesmo.
A criança não se ocupa disso, ela não pensa muito sobre si mesma.
Ela vive, não julga.
O jovem inicia uma mudança psicológica significativa.
Faz juízos contínuos, analisa, perquire.
A partir desse movimento psíquico, desenvolve uma auto-percepção.
Esse conceito de si mesmo estará sujeito a três factores: aptidões e tendências inatas de outras vidas, influência da socialização e nível de maturidade mental adquirida na evolução.
Esse juízo pessoal será mais ou menos próximo da realidade conforme a trajectória do Espírito nesses três quesitos.
É nessa fase que surgem as "deformações psicológicas."38
Essas deformações têm como efeito as ilusões ou auto-ilusões, aquilo que pensamos que somos.
— Normalmente tais miragens da vida psicológica nos induzem a assumir uma condição de importância pessoal ou superioridade.
São as acções do orgulho que sustentam a loucura humana de se acreditar mais valoroso do que se é.
É a partir dessa percepção equivocada de nossa condição pessoal que surgem todas as acções complexas, seja em que campo for das actividades humanas, com o objectivo de atender aos interesses pessoais que estiverem presentes na vida de cada pessoa.
É assim que perdemos a simplicidade, isto é, ao nos movermos para atender aos interesses ilusórios perdemos o foco essencial da vida e lutamos por aquilo que não é prioritário.
Seguimos uma carreira de buscas intermináveis por conquistas que não correspondem à nossa intimidade profunda.
Em outras palavras, perdemos a simplicidade toda vez que nos distanciamos da própria consciência, na qual estão escritas as Leis de Deus para nossa paz e equilíbrio.
A ausência da simplicidade é como se fosse um distanciamento do que é essencial, daquilo que clama a alma para ser feliz.
Ao nos apegarmos aos mecanismos exteriores que nos dão a sensação de segurança e progresso, abandonamos o contacto com o real e nos agregamos ao imaginário.
Quando em grupo, essa atitude de tornar as coisas complexas se fortalece ainda mais.
Forma-se, por assim dizer, uma cadeia de propósitos nos quais seus criadores se alimentam em permanente permuta de forças.
É assim que facilmente os valores institucionais se tornam mais importantes que os valores humanos.
É assim que o transitório chega a ser mais valorizado que o imperecível.
Em resumo, abandonamos a simplicidade quando pensamos demais e amamos de menos.
— Tenho convivido com irmãos que fundaram obras de caridade ou Centros Espíritas que me passam, deliberadamente, a impressão de grandes missionários, com todos os seus problemas resolvidos com a consciência.
Lá vai minha língua falar do que não deve!
— Doutor, o senhor fala da sua língua porque pouco sabe o que faz a minha -gracejou Inácio.
— É que me sinto desconfortável com esse assunto.
E só tive coragem de conversar por se tratar de vocês, pessoas de minha confiança.
Preciso do desabafo.
— Não podemos fugir desse tema.
— Eu sei, dona Modesta.
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Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:17 pm

Acho que ando meio solitário de amigos espíritas sinceros que estejam dispostos a compartilhar essas questões com fins educativos distantes da calúnia.
— Apenas para minha informação, doutor Odilon:
qual o ponto básico dos desentendimentos entre os irmãos do movimento? -perguntei curiosa.
— Nunca chegam à conclusão se o Espiritismo é religião ou ciência.
Criaram até um termo: pureza doutrinária.
Com isso, nossos companheiros da unificação pretendem dirimir quaisquer dúvidas a esse respeito.
— Um novo cânone.
Isso é o que querem os novos pensadores da doutrina -atalhou Inácio.
Já não chega o que a história mostrou a esse respeito, e lá vamos nós, outra vez, criar limites à mensagem do Evangelho.
Não se lembra das orientações passadas por Cornélius?
Ele disse que chegaria o dia em que teríamos mais amor pela doutrina que pelo próximo.
— Sou obrigado a concordar, doutor Inácio.
Alguns amigos, aqui mesmo em Uberaba, já me procuraram dizendo coisas que, a princípio, não acreditei.
Foram excluídos de suas tarefas por pensarem diversamente.
O senhor acredita nisso?
— Doutor Odilon, isso é apenas o início de uma nova onda de acontecimentos que, infelizmente, ainda deverão causar muito furor nas décadas vindouras no seio da comunidade espírita -arrematou Inácio.
— Por que o senhor diz isso, doutor Inácio?
— Porque ainda vão renascer muitos espíritos no movimento com a mente totalmente moldada para o processo institucional.
Assim como nós, mais pensam que amam.
Colocam os valores institucionais acima dos valores humanos.
A tal ponto isso acontece que doutor Bezerra nos deu notícias na sessão mediúnica sobre um avançado processo de preparação de alguns corações para contrabalançar as expressões de rigidez que deverão se aportar na seara nas próximas décadas.
— E isso se deve ao pacto7
— Não. Ao contrário, o pacto é apenas um efeito daquilo que está no íntimo dessas almas e que, na verdade, é a raiz das nossas lutas sectárias: o orgulho.
— Que faremos nós, dona Modesta, para não percorrermos o mesmo caminho?
Nós também pertencemos a este grupo de almas necessitadas?
Pelo menos eu me sinto assim. Doutor Inácio me tocou profundamente com esta colocação:
colocar os valores humanos abaixo dos valores institucionais.
Como vencer esta batalha íntima?
— Largar os tronos, doutor Odilon, e servir, servir e servir.
Para nós, que estamos aqui no sanatório, distantes emocionalmente desse tipo de insensatez, o trabalho não tem faltado.
Talvez seja isso que falte a muitos de nossos companheiros que se enlouquecem com esse tipo de assunto.
Somos, sim, integrantes desse grupo de enfermos e devemos agradecer a Deus por nos oferecer o serviço edificante do amparo social.
— Isso me apavora até certo ponto!
O trabalho é uma bênção defensiva contra a loucura que ainda avassala nossa mente, mas e os ímpetos que assaltam nossas atitudes?
Sinto que somente o trabalho, por si só, não renova a alma.
Como largar esse passado sombrio e carregado de ímpetos tão insolentes em nossa intimidade, dona Modesta?
— Para largar esse trono de superioridade que teima em dominar nossos impulsos e inclinações, somente tomando contacto e educando a raiz básica de nossos males morais, a arrogância.
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Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira - Página 5 Empty Re: Os Dragões - Maria Modesto Cravo / Wanderley Oliveira

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:17 pm

Conhecer-lhe as nuanças, radiografar suas expressões em nosso carácter.
Após o que, resta-nos o exercício da atitude renovadora diante dos dados que iremos reunir acerca de suas formas de manifestação.
— E o movimento, como ficará?
— Ficará como tem de ficar!
Uma enfermaria repleta de doentes que acreditam ser médicos, com todas as soluções para o bem do Evangelho de Jesus!
É a luta de sempre!
Até Pedro invejou a grandeza de Jesus.
— Dona Modesta!
— E o senhor não acredita nisso?
— Vindo da senhora, como posso duvidar?
— Diz o evangelista Mateus, no capítulo 16, versículo 22:
"E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo:
Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso."
O apóstolo não queria que Jesus fosse a Jerusalém padecer as dores e os escândalos, e o Mestre, que um minuto atrás, na mesma passagem, o havia enaltecido, dizendo que ele era pedra e sobre ele edificaria sua igreja, repreende-o severamente dizendo no versículo 23:
"Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro:
Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens."
Pedro recebe com orgulho a missão de ser a base da igreja do Cristo, mas assusta-se ao saber que o Mestre daria o exemplo de padecimentos a tal mister.
Pedro sabia que Jesus conseguiria cumprir Sua missão e o invejava por isso, porque, no fundo, sentia receio de não dar conta da mesma tarefa, caso a ela fosse convocado.
Jesus pronunciou Sua fala com muita serenidade.
Demonstrava confiança, fé.
Pedro queria ser igual a Jesus.
Era um coração tocado pela grandeza espiritual do Mestre.
— Por que esse grupo espiritual de almas falidas tem de renascer como espíritas?
Não seria mais interessante que o Espiritismo...
— Não, doutor! Perdoe-me a interferência.
Lembra da promessa do Cristo acerca do Consolador?
João, 14:16:
"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre."
E também Mateus, 15:24:
E ele, respondendo, disse:
"Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel."
A beleza do Espiritismo será comprovada através da remição de almas adoecidas como nós.
Para doenças graves, o remédio justo.
— Perdoe-me a réplica, dona Modesta: para quem será comprovada essa beleza e eficácia da doutrina?
— Para aqueles que querem assumir o lugar de Jesus na Terra.
Se os prisioneiros falidos que seguiram a Jesus foram libertados das infectas prisões dos vales sombrios da maldade, com chances renovadas de recomeço e, mais ainda, com possibilidades de conquistar sua alforria interior, que prova mais eloquente poderá existir da vitória pacífica do amor sobre a face da humanidade? - nessa altura, desejei falar da história dos dragões, mas evitei.
— Perdoe-me perguntar novamente: conseguiremos?
— Vamos trabalhar doutor, e contar com muita misericórdia para que nas próximas décadas esse joio indesejável do personalismo possa ser, paulatinamente, erradicado até as raízes.
Creio que se não nos afastarmos da dor humana manteremos a simplicidade, e com ela o resto virá nas expressões da Bondade Celeste.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 28, 2018 8:18 pm

Que ambiente poderia ser melhor para espíritos com instintos tão primários no transporte da árvore?
Coloque-os em outros locais onde a motivação seja outra e a piora seria inevitável.
Regressaríamos à maldade confessa e ao orgulho sem freios.
A grande qualidade que nos assinala como integrantes desse grupo de doentes é o arrependimento.
Estamos entediados do mal e asilamos um irrefreável desejo de amar e ser amados.
Nisso residirá a grande luta de todos nós que padecemos nos domínios da consciência falida.
Queremos novos rumos. Entretanto, contra nossas aspirações legítimas no bem temos uma farta plantação de espinhos a colher.
Contra os anseios nobres, ainda tenros nos refolhos do ser, existe uma extensa força de atracção para a queda.
A mais triste decepção que poderá ser experimentada por quantos se entregarem aos braços sórdidos dessa loucura pelo poder será perceber diante das revelações lúcidas do Espiritismo, que já não podem mais dominar sem reacções imediatas, decidir sem ser questionado e agir sem a crítica livre e muitas vezes ferina.
Sentirão que a liberdade, antes exercida para fazer o que queriam nos tempos medievais, agora deverá ser usada para fazer o que deve ser feito.
Caso contrário, as sábias leis cósmicas infringirão a dor imediata como resposta aos descaminhos de outrora.
Enfim, somos almas que não conseguem mais iludir a própria consciência.
Vencemos o prazo divino, para consumar em nós mesmos o telefinalismo a que todos somos convocados: filhos do Pai Altíssimo, co-criadores na obra divina.
Doutor Odilon ficou impressionado com as revelações daquela conversa, conquanto tenhamos suprimido a maioria das informações mediúnicas que possuíamos.
Assim que terminei essa resposta ao amigo visitante, comecei a ter uma percepção mediúnica que desaguaria no segundo acontecimento inesquecível, envolvendo as questões do movimento espírita neste iniciar da década de 50.

33 Nota do médium -O Vale do Poder não estava estruturado quando foi organizada a Cidade do Poder há 10.000 anos.
34 Alguns livros de autoria do dr. Inácio Ferreira, quando encarnado, são:
Psiquiatria em Face da Reencarnação, Novos Rumos à Medicina, volumes I e II
35 Oswaldo Gonçalves Cruz (São Luiz do Paraitinga, 5 de agosto de 1872 -Petrópolis, 11 de fevereiro de 1917) foi um cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro.
Foi o pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil.
Fundou, em 1900, o Instituto Soroterápico Nacional no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, transformado em Instituto Oswaldo Cruz, respeitado internacionalmente.
36 Pierre-Marie-Félix Janet conhecido simplesmente como Pierre Janet (Paris, 30 de maio de 1859 -Paris, 24 de fevereiro de 1947) foi um psicólogo e neurologista francês que deu importantes contribuições ao estudo moderno das desordens mentais e emocionais envolvendo ansiedade, fobias e outros comportamentos anormais.
37 Paulo e Estêvão foi editado pela Federação Espírita Brasileira, em 1943.
38 NOTA DA AUTORA ESPIRITUAL - Mesmo já havendo terminologia técnica nesse tempo, com frequência usávamos esta expressão, que popularmente nos remete à ideia de neurose.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 29, 2018 8:32 pm

Capítulo 12 - O Exemplo de Misericórdia de João Castardelli
"E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus."
-Gamaliel -Actos, 5: 38e 39.

— Um novo necessitado está chegando, dona Modesta, para ser auxiliado no sanatório -falou um amigo espiritual que percebi por minha audiência mediúnica.
— Ah, meu Deus!
É ele! -exclamei naturalmente em meio à conversa com doutor Odilon e Inácio.
— O que foi dona Modesta?
De quem fala?
Temos visitas espirituais?
— Sim, doutor Odilon, uma grata visita que recebemos com muito carinho neste instante.
— De quem se trata?
— Matias e Eurípedes.
— Louvado seja Cristo! -expressou com alegria Manoel Roberto.
— Algum recado para nós? -indagou Inácio, que nunca perdeu a oportunidade de aguardar um recado ou fazer uma pergunta aos amigos espirituais.
— Sim, Inácio!
Vejo Matias bem mais fortalecido.
Ele me diz que a partir de agora estará mais presente em nossas actividades do sanatório e brinca, dizendo:
"Fique tranquilo, doutor, desta vez venho para ajudar.
Não haverá mais fogo nem perseguição."
Diz também que receberemos alguém ligado ao movimento espírita no sanatório.
Alguém que precisa muito de nosso apoio.
— Podemos saber quem é? -indagou Inácio.
— Ele pede que aguardemos, pois será breve.
É um homem, e ainda hoje foi socorrido pela equipe do Hospital Esperança.
Agora Eurípedes o saúda, doutor Odilon.
— É minha a alegria da ocasião.
Que Deus nos proteja! -expressou visivelmente emocionado.
Outro episódio marcante me deixaria novas e profundas lições sobre como a nossa seara estava sendo alvo de depredações infelizes, levadas a efeito pelos dragões, em razão de nosso orgulho contumaz.
No dia seguinte à visita do doutor Odilon, recebi, logo cedo, um telefonema no sanatório.
Uma velha amiga de Uberaba, que se mudara para São Paulo, dirigiu-me um pedido:
— Dona Modesta, como vai a senhora?
Aqui é Candinha, de São Paulo, lembra-se de mim?
— Dona Candinha!
Estou óptima, e como vai a senhora?
E o Atílio, como vai?
— Nada bem!
É sobre isso que quero lhe falar.
— Vossa mercê sinta-se à vontade.
— Dona Modesta, estou ligando para pedir-lhe uma caridade imensa.
O Atílio entrou em uma situação lamentável.
A senhora acredita que o retiraram do cargo na federação, sumariamente, por ele se declarar contra alguns pensamentos em voga!
Candinha não suportou e caiu em pranto incontrolável ao telefone.
— Perdoe-me, dona Modesta!
Perdoe-me! É que estou muito ofendida e sofrida com tudo o que está acontecendo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 29, 2018 8:32 pm

— Fique à vontade, minha irmã.
E como está Atílio? -perguntei, já sabendo alguma coisa que o senhor Eurípedes falou-me aos ouvidos.
— A senhora acredita que ele, um homem bom e sensato, bom pai e trabalhador, entrou em uma crise de nervos!
Hoje quebrou dois aparelhos em nossa residência -e recomeçou o descontrole emocional de Candinha ao telefone.
— Fique calma, minha irmã!
Respire fundo, tenha forças!
— E para piorar, dona Modesta consultamos o médico da família e ele acha que Atílio está louco -ela mal conseguia falar ao telefone -, e ainda recomendou uma internação no Hospital Américo Bairral39.
A senhora já imaginou como ficará nossa situação diante do movimento com uma internação dessa ordem?
— Candinha, venha com Atílio para cá ainda hoje -segui a recomendação do senhor Eurípedes, que naquele momento me orientava intuitivamente sobre as reais necessidades do irmão.
— Ainda hoje, dona Modesta?
— Aqui o colocaremos em um quarto especial e ninguém saberá de nada.
— Será mesmo preciso?
— Candinha, não tenha dúvidas.
— A senhora não acha que seria melhor, primeiramente, pegar uma orientação com os guias?
— já peguei, ou melhor, já me deram!
— Compreendo -falou Candinha, como se esperasse outra solução que não a internação.
Já era bem tarde da noite naquele mesmo dia quando fui chamada às pressas em casa, pois havia chegado um paciente em péssimo estado e queria me ver.
Logo na entrada do sanatório estava uma balbúrdia.
Gritos se misturavam a orações.
E no chão, com camisa de força, rolava de um lado para o outro o nosso estimado Atílio, renomado advogado e espírita actuante dos quadros da federação espírita de seu estado.
O medo tomou conta dos enfermeiros, que já estavam prestes a medicá-lo, quando cheguei e pedi licença a todos no saguão de entrada.
Um quadro de obsessão completa se instalou, e a entidade disse com o médium de bruços e sem olhar para mim:
-Olha só quem chegou!
A tal Modesta dos loucos!
Eu te farejo de longe, mulher!
— Sou eu mesma. Com quem falo?
— Eu sou filho de Lúcifer, seu inimigo confesso e dessa casa maldita.
— Como devo chamá-lo?
— Chame-me de capeta.
— Seu nome, meu irmão -falei com firmeza.
— Sou Anaz, filho de Lúcifer!
— Qual o motivo de sua vinda, Anaz?
— Vai me dizer que não sabe, Modesta!
— Desconfio.
— Digamos que vim me internar em sua casa de loucos! -disse com toda a ironia e gargalhou estridentemente.
— Será um prazer recebê-lo aqui.
A casa de loucos é também a casa do Cristo para o bem e a recuperação da saúde.
É isso que deseja?
— Nem de longe!
O que eu mais quero é te humilhar, sua orgulhosa sem limites.
Se eu estivesse solto dessas amarras, eu furaria seus olhos para que você nunca mais visse a luz.
Não foi isso que você fez, sua rainha amaldiçoada?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 29, 2018 8:32 pm

Percebendo a presença de doutor Bezerra, Eurípedes, Cornélius, Clarisse, Matias e outros amigos, solicitei que retirassem as vestes de contenção.
Candinha, que a tudo assistia, apavorou-se.
Os enfermeiros desaconselharam, e eu insisti.
Logo que retiraram a camisa de força tomei um soco, dado sem piedade, na altura da testa, criando um hematoma.
Fiquei meio zonza, mas, quando dei por mim, já era Cornélius quem falava pela minha boca:
— As sombras dos vales da morte estão sendo varridas.
E você, Anaz, não tem para onde ir.
— Quem está falando? -indagou de pé e cambaleando com o médium, Atílio.
— Sou Cornélius, servidor das hostes do Hospital Esperança e condutor dos dragões empedernidos.
— Você! -falou surpreso o enfermo.
— Sim, Anaz.
— Quer dizer que mudou de lado!
Largou seu alto posto no vale por isso aqui?
Ser capataz dessa louca?
— Apenas mudei a estratégia.
O Vale do Poder continua sendo meu lar por opção.
— E por que não me visitou?
— Eu o visito sempre, meu caro amigo.
Entretanto, você não me percebe.
— Cresceu de posto, seu ambicioso?! -expressou às gargalhadas, mostrando cansaço e perda energética intensa.
— Cresci por dentro, Anaz.
— Você deve saber o que vim fazer aqui.
— Claro que sei.
Você está mendigando ajuda de quem não pode te ajudar, isto é, das hostes que querem enlouquecer os espíritas em São Paulo.
— É, você sabe mesmo! -disse como um bêbado prestes a cair de tanto se embebedar.
Anaz e Atílio estavam exaustos.
— E o que você não percebe é que, ao perseguir, também se tornou um infeliz escravo do objecto de sua perseguição.
— Faz parte da missão, não é mesmo?!
— Faz parte da loucura. Olhe bem!
Não é só Atílio que está louco. Você também!
Será que não percebeu que seus chefes te querem cada vez mais louco?
Você está exausto e onde está a ajuda?
Por que não te conferem apoio?
— É mesmo?
Você acha isso?
— Não tenha dúvida.
A filosofia desse vale é cada um por si, no mais tudo é exploração, comércio, interesse pessoal e traição.
Se realmente preocupam-se com você, então, por que não mandaram outro para te acompanhar ao sanatório?
— Tem razão, vou lá reclamar isso!
— Lamento dizer, mas não poderá.
— E por que não? Acaso vai me impedir?
— Eu não! Você está preso ao seu perseguidor e aos limites desta casa de Eurípedes Barsanulfo, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Veja por você mesmo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 29, 2018 8:32 pm

Anaz tentou com todas suas forças desenvencilhar-se de Atílio e, não conseguindo, entrou em uma pane mental gritando impropérios e palavrões.
Exauridos, desfaleceram obsessor e obsedado.
Atílio ficou quase sem pulso.
A pressão caiu.
Providências urgentes foram tomadas.
Fui, então, com Candinha para a enfermaria cuidar de meu hematoma.
A agitação à porta do sanatório despertou a atenção dos internos e vizinhos.
Ao terminar a agitação, abanei a mão para quem olhava pelas janelas e entrei sem pestanejar.
Já havia me acostumado com a condição de louca varrida!
— Dona Modesta -falou Candinha envergonhada e chocada com tudo -, perdoe-me mais uma vez.
Venho pedir ajuda e veja só o que acontece!
Espero que a senhora, como espírita, tenha piedade de Atílio e desse perseguidor invisível.
— Candinha, sossegue a alma e descanse o corpo.
Amanhã pela manhã avaliaremos o caso com tranquilidade.
Atílio recebeu uma boa dose de sedativo.
Você já tem onde ficar em Uberaba?
— Não, dona Modesta.
Nem me atinei com essa preocupação.
— Pois bem!
Ficará, então, em minha casa.
Há espaço de sobra.
Matias ficou de guarda permanente com Atílio e Anaz durante aquela noite.
O sanatório foi sondado por diversos soldados das trevas.
A guarda espiritual foi redobrada.
Na medida em que as horas passavam, Anaz desligava-se, lenta e automaticamente, do corpo de Atílio, sem consciência do fenómeno.
Somente pela manhã ocorreu o total desligamento magnético, restringindo-se agora a laços de natureza mental e emocional.
O dia raiou e despertei com uma nítida sensação de estar sendo vigiada de fora do meu lar.
Candinha acordou cedo.
Dormiu muito mal.
Durante o café matutino, ela esclareceu:
— Atílio tem um coração muito ingénuo, dona Modesta.
Eu sempre o adverti que cargos e compromissos com instituições que crescem demasiadamente incham em quantidade e perdem em qualidade.
Ele, porém, mais por bondade e pureza de alma que por teimosia, preferiu optar pelo ideal e aceitou responsabilidades para as quais, creio, não estava pronto.
O ambiente da federação vem passando por conflitos que se arrastam desde 1947.
São mais de dois anos de intermináveis disputas e descaminhos.
Atílio sempre acreditou na solução.
Apesar disso, a cada dia que passa observa-se mais confusão e frieza no trato uns com os outros.
Ofensas de todo lado.
Atílio foi, então, obrigado a tomar partido, posição.
Foi quando ocorreu o pior.
Ele descobriu, da forma mais dolorosa, que o que foi criado para servir e orientar tornou-se um palco de vaidades e interesses particularistas.
Procurei o senhor Jaime Monteiro de Barros40, homem sério e bem-intencionado, nosso amigo.
Ele me pediu calma, mas deixou claro que também enfrentava obstáculos quase intransponíveis.
Aconselhou-me a dizer para Atílio que o tempo colocaria tudo em seu lugar.
Quando fui levar o recado ao meu marido, dona Modesta, ele teve a primeira crise.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 29, 2018 8:33 pm

Parecia odiar o irmão Jaime.
Falou coisas horríveis a respeito dele.
Não tive forças e me apavorei.
No dia seguinte, pelo horário do almoço, cuidava das arrumações na cozinha quando ouvi um estrondo em meu lar.
Atílio atirava contra a parede da sala o seu rádio predilecto.
Daí para cá foram só perturbações.
Passaram-se duas semanas nesse clima de fechamento e mutismo.
Já há alguns dias não ouvia a sua voz como ontem à noite, na porta do sanatório.
— Atílio nunca teve nenhum episódio dessa natureza?
— Nunca. A senhora conhece o temperamento sereno dele.
— É verdade.
— Posso saber agora quem lhe deu aquela orientação pelo telefone, dona Modesta, de trazê-lo para cá?
— Foi o senhor Eurípedes Barsanulfo.
— Ai, meu Deus! Que bênção!
— Será que ele já estava a par do ocorrido?
— Mais do que imagina, Candinha.
Não só ele, mas toda a equipe do Hospital Esperança, sob orientação do doutor Bezerra de Menezes, está desvelando com amor incondicional pelas lutas do movimento espírita.
Nos últimos tempos, nossas sessões mediúnicas são muito voltadas a esse mister.
— Poderei ver Atílio hoje?
— Primeiramente vou me assegurar melhor da situação mental e espiritual dele.
Fique aqui em casa, vá fazer algumas visitas.
— Essa é minha preocupação, dona Modesta.
Como chegar aos parentes e explicar o que está acontecendo?
Vão dizer que Atílio ficou louco por ser espírita.
— Candinha, para línguas ferinas ouvidos de cera.
— Quando cheguei ao sanatório, Inácio já havia visitado Atílio.
— Como está o quadro, Inácio?
— Atílio está lúcido, mas muito sedado.
Pedi que retirassem a camisa de força imediatamente e o observassem.
Será levado ao pátio para tomar sol.
Podíamos fazer uma avaliação, Modesta.
— Vamos lá!
O pátio estava repleto de pacientes.
O dia claro tinha um sol convidativo. Localizamos Atílio e nos aproximamos.
— Bom dia, Atílio -cumprimentei com alegria.
— Dona Modesta?
— Sim, sou eu.
— Que faço aqui nessa casa de loucos?
Enlouqueci também?
— Não, Atílio. Foi uma crise.
Vai passar logo.
Como se sente agora?
— Estou estranho. Confuso.
E o senhor, quem é?
— Sou Inácio Ferreira, não se lembra de mim?
— Ah, sim, agora me lembro.
Candinha falava muito do senhor.
O paciente fazia as perguntas olhando para nós e baixava a cabeça para escutar a resposta, como um ritual.
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