LUZ ESPÍRITA
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti - Página 5 Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:58 pm

Capítulo 40 - PROMESSA
Aquilino foi, em primeiro lugar, em busca do príncipe, mas ele já havia se retirado do quarto.
Logo o encontrou com o criado, confabulando, libertos e sem cuidados.
Mas, à sua aproximação, o diálogo encerrou- se e ficaram olhando para ele.
— Com que então, ainda continua desejoso de executar o plano que trouxe, príncipe?
— Nada lhe devemos a esse respeito, num trabalho que só a nós pertence.
— Conversamos sobre isso e sabe que o vigio em todos os seus passos e em todas as suas atitudes.
Já percebeu e se sentiu vigiado!
A estas palavras, o criado dirigiu-se ao príncipe, perguntando-lhe:
— Quem é esse que assim nos fala, Alteza?
Não estamos sós na realização deste trabalho?
Estamos sendo vigiados?
Todavia, o próprio Aquilino adiantou-se e respondeu:
— Sim, vigio-os a ambos e você me sentiu hoje!
— Como, eu o senti?
— Sim, nas suas reflexões!
Acompanhei os pensamentos que o levaram junto dos seus, sobretudo de seu pai que ama.
Lembra-se quando o colocou em lugar do rei, e do quanto se revoltou se situação semelhante o envolvesse?
— Quem é você que assim me fala e é sabedor até de meus pensamentos?
— Não só sabedor, mas até posso conduzi-los como quiser, e lhe afirmo — estou empenhado em impedir que realize o que pretende e tudo farei para conseguir!
O príncipe ouvia-os sem nada dizer, e Aquilino, prosseguindo, perguntou-lhe:
— Lembra-se de quando hoje perguntou ao príncipe porque fraquejava?
Pois bem, eu estava presente e os faço fraquejar.
Eu quero tirá-los desta empreitada tão maléfica, com a qual irão amealhar para seus Espíritos, sérios compromissos diante de Deus!
— Mas quem é você? — insistia o criado.
— Sou alguém que veio a esta casa em trabalho, e o realizo em nome de Deus, nosso Pai Criador, ajudando aqueles que pretendem se emaranhar em teias demolidoras da sua própria paz!
Estamos sempre atentos e sabemos do que se trama, porque me foi pedido por uma companheira e irmã, que aqui viesse em socorro ao pai que corria perigo.
Quando o príncipe ouviu estas últimas palavras, sobressaltou-se, perguntando a Aquilino:
— De quem fala?
— Só poderia falar da única pessoa que aqui tem seu pai e não faz mais parte do mundo dos encarnados!
— Como soube do que planeamos?
— Isto não importa!
O importante é que pediu ajuda para o pai, a quem muito ama, e aqui estou para impedir tal atrocidade contra ele!
O príncipe abaixou a cabeça e nada disse, mas o criado ainda tinha perguntas a fazer:
— Se assim é, Alteza, em que ficamos?
Antes que o príncipe respondesse, Aquilino adiantou-se:
— Lembrem-se de Deus, que está atento a todos os nossos actos e quer nos ajudar sempre!
Sintam-se felizes que aqui estou para impedi-los de praticar tal empreitada, pois, se realizada, lhes trará muito sofrimento, porque seus Espíritos estarão marcados pelo crime.
Aquele que mancha o seu Espírito pelo sangue de um irmão, filho do mesmo Pai, que é Deus, nunca poderá ser feliz!
Dirigindo-se, após, somente ao príncipe, inquiriu-o:
— O que significa um reino, príncipe, diante da eternidade do Espírito?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:58 pm

Veja, ele é muito passageiro!
A morte do corpo fá-lo-á deixar tudo aqui, que passará às mãos de outro, mas o seu Espírito continua porque é eterno.
E as marcas que levará consigo, por actos tão insanos, perdurará por muito, muito tempo, até que consiga redimir-se dos compromissos que
assumiu! Se ama a seu pai, deve ajudá-lo também a que não deixe esta Terra levando compromissos tão intensos!
Do momento em que executar as suas ordens, os encargos de sua acção não ficarão só para Vossa Alteza, mas muito mais ainda para ele que foi o articulador de crime tão perverso e desumano, apenas para aumentar os seus domínios.
E eu lhe pergunto:
— Que domínios serão esses tão efémeros?
Os verdadeiros domínios são aqueles conquistados para o Espírito, são os que levamos em acções no bem, em auxílio aos que necessitam e vivendo uma vida ilibada!
Esses, ninguém nos toma, só a nós pertencem para toda a eternidade do nosso Espírito, porque soubemos como conquistá-los sem prejudicar nem usurpar nada de ninguém.
Aquilo que usurpamos a outros será a nós mesmos que estaremos usurpando!
O príncipe nada mais perguntou, mas ouviu tudo atentamente.
Vendo a sua atitude, Aquilino indagou:
— Compreende agora o quanto significa esse trabalho que estamos realizando?
Se o rei partir, será muito triste, fará falta aos seus familiares, aos reinóis, mas estará bem!
Levará no Espírito o que tem conseguido aqui, porque é um homem bom e justo!
Mas, o que acontecerá a tantos que arquitectaram a sua morte?
O que acontecerá a Vossa Alteza?
A você, executor da tarefa? — perguntou ao criado.
E a seu pai, príncipe, que terá muito mais responsabilidade?
Desejo ajudar o rei, em nome de Deus e a pedido de sua filha, no entanto, mais desejo ajudar a vocês mesmos, para que se livrem de levar ao Plano Maior, um Espírito marcado por tantos desatinos.
Muito já realizou, Alteza, em atendimento ao plano que detém, até o seu casamento com a princesa Mafalda!
Não prossiga, pois, para não aumentar os seus débitos, e viva, de agora em diante, junto da esposa que escolheu, o melhor que puder, fazendo-a feliz, que ela não tem culpa de sua ambição.
Viva junto da pequena que ama, que agora é sua filha e precisa muito do pai!
Nada faça para que um dia, mesmo no Mundo Espiritual, mesmo que muito tempo passe, ela — a sua pequena Margarida — não venha a se envergonhar do pai que teve e lamentá-lo!
O criado nada mais perguntava, mas Aquilino não podia deixar perder oportunidade tão valiosa, e indagou-lhe:
— Por que não volta para junto dos seus?
O seu serviço aqui é perfeitamente dispensável, que não foi para trabalhar que veio.
Deixe tudo e volte aos seus!
Procure uma vida de paz, um pouco mais voltada para Deus, e será feliz!
Não se demore a decidir!
Lembre-se de seu pai e de sua mãe, e vá antes de se comprometer!
Se serve ao príncipe e a seu pai, com amor e fidelidade, ajude-os também a não se comprometerem.
Veja que tudo está em suas mãos!
Nem o príncipe nem o criado poderiam jamais imaginar, terem que se deparar com situação semelhante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:58 pm

O príncipe já tivera conhecimento desse ser que dissera, o observaria atentamente, e ele sentira, durante o seu dia, o desconforto que sabia agora de onde vinha.
Naquele instante, até o criado fora interpelado em seus sentimentos, de forma tão intensa, que seria difícil executar a recomendação do rei Contini.
Mas e ele mesmo, o príncipe, após todos os argumentos que ouvira, estaria ajudando ou prejudicando o próprio pai?
Não sabia mais o que pensar nem o que fazer.
Sentia- se confuso.
Antes de Aquilino despedi-los, ainda uma vez advertiu-os:
— Poderão se retirar em seguida, e até se refugiar em seus corpos, se se sentirem melhor!
Poderão conversar, que tenho a certeza, o assunto agora será outro!
Mas façam o que fizerem, quero que fique bem patente que continuarei a vigiá-los em todas as horas do dia, como os sigo à noite!
Vocês têm a comprovação disso porque agora me vêem, e sabem que faço o que prometo.
No corpo, não se lembrarão da minha presença nem da nossa conversa, mas levarão em seus Espíritos o que ouviram e, sem saber por quê, pensarão muito.
Sentir-se-ão vigiados e, no momento em que desistirem, elevarei hosanas ao Pai, porque lhes concedeu o raciocínio lúcido, e os sentimentos bons em seus corações venceram.
Elevarei hosanas ao Pai, porque se salvaram, salvando também seu pai, Alteza, deixando de assumir compromissos.
Elevarei hosanas ao Pai, porque deixaram que Sua Majestade, soberano destes domínios, continuasse a sua caminhada, tendo a sua vida no curso determinado por Deus, cumprindo as suas tarefas, resgatando seus débitos, até o dia em que esse Pai bendito o chamar, e não porque vocês assim o quiseram.
Compreenderam a importância de trabalho tão intenso que realizo?
O príncipe, tendo ouvido todas estas palavras, falou:
— Nunca pensei que alguém pudesse tocar o meu coração como você o fez!
Prometo-lhe pensar e afirmo que nada faremos por enquanto, até que tenhamos nossas convicções — essas que tenta colocar em nós — bem firmes em nossos corações.
Não lhe asseguro ainda que não o farei, porque sabe que aqui vim para isso, mas prometo-lhe suspender o plano até que possamos, quem sabe, sustá-lo de vez.
Porém, até que eu esteja completamente convicto, quero fazer-lhe uma pergunta.
— Fico feliz que se disponha a pensar, e responder-lhe-ei com a mesma boa vontade e disposição com que me empenho neste trabalho!
Faça a sua pergunta.
— Num momento da sua conversa, disse-me que atendia ao pedido de uma filha do rei, que só pode ser Margarida!
Onde ela está? Por que não a vejo?
— Onde Margarida está, ainda não me é permitido dizer, mas posso fazer-lhe uma promessa.
Quando tiver firmes as convicções em seu íntimo, quando se decidir tirar de vez de sua mente, plano tão demolidor, preservando a vida do soberano deste palácio, até o dia em que ele for chamado por Deus, promoverei um encontro seu com ela!
— Fará isso?
— Farei, nas condições que lhe impus!
Será muito salutar que a veja e conheça a verdadeira Margarida que ela é hoje!
— Terei a lembrança dessa promessa que me faz?
— Da forma como deseja, não!
Mas uma alegria interior, uma esperança tema de algo que não saberá precisar, envolverá o seu coração, mas saberá que essas sensações estarão ligadas à desistência da sua empreitada maléfica.
— Agradeço-lhe muito!
Como devo chamá-lo?
— Meu nome não é importante!
Chame-me apenas de irmão, que o somos todos diante do Pai!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:59 pm

Capítulo 41 - ENCONTRO SALUTAR
Aquilino deu-se por satisfeito e, pedindo que cada Hum tomasse seu rumo, retirou-se.
O príncipe retomou ao corpo rapidamente, e o criado ainda perambulou pelo palácio, pensativo e surpreso.
Terminada essa conversa muito profícua, no conceito de Aquilino, ele foi ao encontro de Margarida.
Ela havia já realizado o seu trabalho com Mafalda e estava em companhia da mãe, num abraço muito intenso de saudade.
Aquilino pôde presenciar a emoção da rainha, naquele instante, e ouvi-la dizer:
— Filha, como é bom vê-la!
Tenho sentido tanto a sua falta, mas não reclamo para que seu pai não se abata!
— Aqui estou, mamãe!
Continuo viva como vê, e feliz!
Quando parti, era triste e desventurada, hoje volto feliz.
Não pense em mim com tristeza, não deve!
Cada vez que se lembrar de mim, faça-o com alegria, tendo a certeza de que estou bem!
Não me vê assim?
— Sim, vejo-a assim!
A estas palavras, Aquilino aproximou-se e Margarida chamou-o:
— Quero que veja, mamãe, o anjo bom que me acompanha e me auxilia!
Este é Aquilino, meu irmão em Deus e amigo!
— Então não está só?
— Nunca o estive!
Encontrei no convento a tranquilidade que esperava, e pude colocar meus sentimentos em ordem, mas enfermidade levou-me, e aqui estou mais feliz ainda.
— Então, você nunca sofreu fora do lar?
— Nunca, mamãe!
Encontrei o que esperava em paz e repouso para o meu Espírito e pude me recompor.
Lembre-se de mim, sempre, como alguém que está feliz, e não chore nem lamente minha partida.
Agora devo ir que Aquilino, meu amigo, me espera!
— Para onde vai?
— Não sei, mamãe, ele me conduzirá!
Margarida abraçou ternamente a mãe e, juntamente com Aquilino, saíram da sua presença.
Quando mais afastados, ele perguntou-lhe:
— Por que mentiu?
— Tenho aprendido alguma coisa com a sua companhia e as suas lições.
Se tivesse lhe falado a verdade, ela despertaria com a sensação de tristeza, e seria muito mais difícil conformar-se.
— Vejo que é muito boa aprendiz, mas sabe que não devemos usar da mentira!
— Eu apenas lhe escondi a verdade, para que ela não sofresse mais!
— Está bem! A causa é nobre, não obstante os meios condenáveis.
— Para evitarmos o sofrimento de nossa mãe, usamos, às vezes, de recursos condenáveis, mas suponho que minha falta não tenha sido tão grave assim!
— Conversou com Mafalda?
— Durante um bom tempo, e a encontrei com o Espírito bastante modificado.
Abraçou-me, agradecendo o trabalho que tenho realizado em favor da sua felicidade.
E você, Aquilino, conseguiu realizar a sua parte?
— Melhor do que esperava!
Encontrei os dois ao mesmo tempo e tivemos uma longa conversa!
— Viu nela algum resultado?
— Muitos, mas a comprovação só teremos quando eles estiverem agindo com o corpo desperto!
Mas devo contar-lhe uma promessa que fiz, envolvendo-a!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:59 pm

— Como? O que fez?
Sabe que quanto mais eu estiver afastada do príncipe, em pensamento, em Espírito, será melhor!
— Compreendo, mas fiz exactamente o contrário!
Prometi-lhe um encontro com você, dentro de certas condições!
— Por quê, Aquilino?
Não gostaria de ter que lhe falar!
— Mas é necessário e será bom para ambos!
— Não entendo!
— O encontro só se realizará no dia em que ele desistir de vez da empreitada que pretende realizar contra Sua Majestade, o rei.
— Eu aceito, desde que contribua para salvar a vida de meu pai.
— Esse encontro tem outro lado muito importante aos dois!
— Em que poderia nos ser importante?
— Você o amou e ele ainda a ama!
Nesse encontro, você se mostrará tal qual é agora, diferente, abrigando outros propósitos, e ele a verá assim, distanciada dos sentimentos que lhe envolveram o coração.
Falará com ele, usando o que tem aprendido e realizado com Mafalda.
Acredito que será definitivo!
Do modo como o fizer, de tudo o que lhe disser e de como se portar, será muito bom para ele que compreenderá e tirá-la-á da mente e do coração para sempre, passando a ter olhos somente para Mafalda.
Não se esqueça de que
esse encontro está sob uma única condição!
Se tudo ocorrer conforme esperamos, você se utilizará também da decisão dele para agradecer-lhe!
Você saberá como fazê-lo quando chegar a ocasião, e queira Deus ela chegue logo, porque, para seu pai, significa a liberdade de viver!
— Entendo, Aquilino!
Como contestar argumentos tão sábios?
Estarei à disposição, mas tenho receio!
— Pense apenas que será benéfico e nada mais!
Eu ajudá-la-ei, se o momento chegar! Nada receie!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:59 pm

Capítulo 42 - A NOITE BENDITA
Margarida compreendeu a importância daquele encontro.
Preparar-se-ia de tal forma que ele seria benéfico ao príncipe e a ela também, pois partiria convicta de que ele nada mais lhe representava.
Todavia, ficava na dependência da decisão do príncipe.
Se ele a tomasse em acordo com os seus desejos, iria com muita satisfação, agradecer-lhe-ia, e faria, daquela oportunidade, o encerramento de tarefa tão salutar que lhe fora permitido realizar, com a orientação e auxílio de Aquilino.
Nada mais a preocuparia em relação aos seus, e iria feliz, procurar a sua própria vida, conforme o que lhe fosse determinado.
Após as explicações, Aquilino convidou Margarida para o passeio que realizavam ao alvorecer, em busca de novas energias para seus Espíritos, pelo contacto mais directo com a pureza da criação de Deus.
— Aquilino, conquanto aquele lugar seja de muita paz para nossos Espíritos, se me permitir, gostaria hoje de visitar algum outro recanto.
Deve saber onde encontrá-lo, tão ou até mais belo que aquele já nosso conhecido.
— Far-lhe-ei a vontade e iremos à procura de um novo local, onde a disposição dos elementos que o compõem, colocados por Deus, seja diferente.
Todos eles nos são benéficos da mesma forma, apenas aos nossos olhos apresentar-se-ão de modo diverso.
Vamos em busca de algum nascedouro, onde as águas límpidas brotam do chão, formando os rios que fornecem a essa Natureza extraordinária, o seu frescor, em água para os animais e a própria vida aos homens.
— Nós encontraremos um para que você se encante mais!
Vamos, não percamos tempo!
Aquilino, como sempre, auxiliando Margarida, partiram.
Após encontrarem o que desejavam, desfrutaram algumas horas de lugar tão aprazível, retomando quando o sol já brilhava no céu azul, despertando todos os que haviam estado no repouso da noite.
É nessas horas que os corpos cansados das lides diárias, refazem as energias para suportar a continuidade da vida aqui, neste plano.
E nas sombras que a noite proporciona, que esse refazer se faz de forma mais propícia.
Ah, mas para o Espírito, o quanto a noite é a oportunidade maior de trabalho!
E quando eles, momentaneamente libertos do corpo para permitir-lhe o repouso, vão à procura da satisfação de suas tendências.
Encontram-se, arquitectam, tanto para o bem quanto para actividades maléficas.
A noite é bendita para que trabalhos tão salutares sejam realizados em favor dos próprios encarnados, haja vista o quanto Aquilino e Margarida estavam realizando em favor daqueles seus entes queridos, residentes no palácio, ajudando-os de muitas formas.
O relacionamento entre Mafalda e o príncipe Fernando já estava bastante modificado.
As convicções para a realização do plano que o príncipe trouxera, estavam também abaladas, e eles continuariam o trabalho de tal forma para que ruíssem de vez, sem nenhuma possibilidade de nova construção.
Aí, sim, partiriam tranquilos para outras empreitadas, deixando-os mais felizes:
O rei livre para viver; o príncipe e o criado sem terem assumido compromissos tão sérios para seus Espíritos.
Aquilino e Margarida logo chegaram.
Antes de entrar, encontraram o criado do lado de fora do palácio, reflectindo:
— Não sei o que aconteceu comigo!
Eu que esperava tão ansiosamente a execução da minha tarefa, para partir, não estou mais suportando ficar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 8:59 pm

Gostaria de ir embora imediatamente, sem nada fazer!...
Tenho uma saudade muito grande de meus pais e não desejo esperar mais nada.
Eles devem estar precisando de mim! Quero partir.
Sou-lhes necessário, como mais velho!
Aquilino sorria.
— Por que sorri? — perguntou-lhe Margarida.
— Não pensei que minhas palavras pudessem ter uma acção tão imediata!
— E o resultado do seu trabalho?
— Sim, trabalhei nele, esta noite, a possibilidade de ir embora de vez!
— Por que não continua, agora?
Actue-lhe na mente, intensificando o que já lhe disse!
— Tem razão! Farei isso!
Aquilino continuou a intensificar os seus pensamentos, mas, ao mesmo tempo, fazia-lhe ponderar que deveria conversar com o príncipe, estimulando-o a desistir da tarefa, para que ele partisse logo em seguida e feliz.
Se ele se fosse tão repentinamente, sem a alteração dos objectivos do príncipe, outro poderia ser enviado, e o trabalho, realizado.
Ao partir, ele deveria levar ao rei, da parte do príncipe, uma mensagem explicando- lhe algumas razões e dando-lhe a notícia da desistência definitiva.
Qualquer decisão que assim não fosse, poderia trazer perigo, ainda mais que os pós estavam em poder do príncipe.
Diante disso, o trabalho tomaria rumos novos, e nele Aquilino se aplicaria intensamente.
Reflectindo, ele afastou- se do criado, dizendo a Margarida:
— A ocasião nos é muito oportuna!
Vou recolher-me para orar, e pedir a Deus inspiração para não me deixar perder oportunidade tão valiosa.
Encontro-a logo mais, aí trabalharemos intensamente para a conclusão feliz da nossa tarefa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 9:00 pm

Capítulo 43 - REFORÇO DE AUXÍLIO
Aquilino, em seu recolhimento, pediu a Deus, com todo o amor que trazia no coração, em favor daquela causa.
Vencida, ela significaria tantos benefícios, tantos compromissos não assumidos, e a alegria de Margarida por deixar o pai completar a sua existência neste orbe.
Fortalecido e esperançoso, foi novamente ao encontro de Margarida, e percebeu que as preces haviam atraído para junto de si, uma entidade que também se dispusera a ajudá-los.
Era uma bela jovem em aparência, com condições de realizar qualquer trabalho no bem:
— Ouvimos suas preces e me foi permitido vir ajudá-lo!
— De onde veio, irmã e amiga?
— Estamos sempre neste orbe em tarefas de auxílio, e vim pelas suas preces.
— Como se chama, anjo bom? — perguntou-lhe Aquilino.
— Chamo-me Eufrásia, e pode dispor do auxílio que lhes trago.
Estarei com vocês para que o seu trabalho se complete mais rapidamente e com sucesso.
Margarida observava aquela presença que sentiu ser amiga, mas limitava-se a ouvir o seu diálogo com Aquilino que, logo a seguir, acrescentou:
— Esta é Margarida, que viveu neste palácio e preocupa-se com seus familiares, sobretudo com o pai que se encontra em perigo de vida.
— Podem contar comigo!
— Agimos mais intensamente durante o repouso da noite, e temos conseguido bastante.
Estamos num ponto muito favorável a que cheguemos ao final com sucesso!
Sua ajuda ser-nos-á importante para mais rapidamente conseguirmos os fins almejados.
Em poucas palavras, Aquilino e Margarida contaram o que pretendiam, o que já haviam conseguido, e o que ainda faltava para a concretização final dos seus desejos.
Ela dispôs-se com muito boa vontade, e colocou-se às ordens de Aquilino.
Era só determinar.
— Diante do trabalho que estamos realizando, agora seremos um para cada irmão necessitado do nosso auxílio!
Determinar-lhe-ei estar junto do criado, enquanto eu trabalho o príncipe.
Margarida continua com Mafalda e a desfrutar da companhia querida de seus pais.
— Serei toda dedicação e amor no que fizer!
— Continue, pois, o que já iniciei, estimulando-o a voltar para o reino dos Continis, mas insistindo para que convença o príncipe a escrever uma carta ao pai, dando-lhe ciência de que já desistiu de tudo, com as razões que o próprio pai possa aceitar.
— Conte comigo! Embora ainda não seja a hora propícia, vou colocar-me junto dele, e, à noite, antes de nos mostrarmos a eles, quando seus Espíritos estiverem mais libertos, volto para contar o que consegui descobrir e também realizar.
— Que Deus a inspire, irmã Eufrásia!
Assim que ela se retirou, Margarida, ingenuamente, falou a Aquilino:
— Só nos dois não éramos suficientes para concluir essa tarefa?
— Toda colaboração, numa actividade de auxílio, é sempre benéfica e muito bem-vinda!
Não se preocupe, ela realizará muito bem o seu trabalho e nos auxiliará a que o completemos mais rapidamente!
— Se ela não for bem sucedida, porá a perder o que já conseguimos!
— Quando nos dispomos com amor, a auxiliar, Deus nos inspira!
Devemos confiar no que os outros também realizam, sem achar que só nós sabemos desenvolver bem as tarefas.
Se aceitarmos o auxílio que nos é dado com amor, o nosso trabalho será menos árduo e mais profícuo.
— Compreendo, e peço-lhe que me perdoe!
Preocupei-me com a intromissão de outrem num empenho que considerava só nosso!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 9:00 pm

Sinto-me bem com você, e receei que ela pudesse nos perturbar.
— Pense em Deus, Margarida, e agradeça-Lhe por estar atento ao que realizamos, enviando-nos até quem possa nos auxiliar mais.
— Perdoe-me! Devo ter demonstrado o que ainda trago de imperfeição no meu Espírito!
— Esqueçamo-nos disso e vamos também ao nosso trabalho!
Não podemos deixar perder nem um minuto de oportunidade tão valiosa.
— O que faremos, agora?
— Enquanto Eufrásia está junto do criado, vamos nós à procura de Mafalda e do príncipe.
Nada demorou e os avistaram junto da pequena Margarida, desperta, no colo do príncipe.
Ele a observava com muito amor, percorria, com seus olhos, todos os seus traços...
Era uma menina forte e bela.
Será uma linda jovem, pensava.
Quero para ela um futuro promissor, quero fazer dela uma criatura feliz.
Mafalda observava-o sem nada dizer.
Não tinha mais o ciúme que sentia antes, nessas horas, quando fantasiava em sua mente que ele poderia estar abraçando-a ternamente, como gostaria de tê-lo feito com aquela de quem copiara o nome.
Aceitava aquela situação como natural a qualquer pai que ama a filha.
Margarida e o companheiro, observando-os, compreenderam que muito já haviam conseguido.
— Veja, Mafalda, como nossa filha é bonita!
Será uma jovem tão ou mais bela ainda que a mãe!
— Ainda considera a mãe dela bonita?
— Cada vez que a olho, sinto que sua beleza aumentou mais!
Os seus traços, já tão belos, tornaram-se muito mais ainda quando se tomou mãe.
As mães são todas belas por si sós, mas, quando já o eram, essa beleza se amplia.
— Estou muito feliz, Fernando!
Sinto que me vê com outros olhos — aqueles que sempre quis, me vissem.
— Você também mudou muito!
Se me vê assim, deve ser o reflexo da sua própria modificação.
Sinto-me feliz junto de você e da nossa pequena.
— Pode dizer — da nossa pequena Margarida!
Não me importo mais, e alegro-me até que nossa filha traga o nome daquela irmã que me foi sempre tão querida!
Ela nunca mais estará entre nós, mas é como se a nossa filha a substituísse.
Margarida deixou cair dos olhos, lágrimas de alegria, por vê-los assim tão temos.
— Agora, Fernando, é hora de a colocarmos de volta no berço.
Veja, ela dorme outra vez!
Dormiu embalada por você!
Mafalda tomou-a dos braços do marido, aconchegou-a no berço, e, deixando-a aos cuidados de uma criada que velaria seu sono, retiraram-se.
— Vamo-nos também, Margarida!
O nosso trabalho não permite emoções, para não prejudicá-lo!
— Como não me emocionar com tudo o que ouvi!
Quando partir, deixo-os felizes e assim também eu irei.
Falta-nos apenas a conclusão do que desejamos.
— Também a conseguiremos!
Confie em Deus!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 14, 2018 9:00 pm

Capítulo 44 - EM VISITA AO SOBERANO CONTINI
Aquela noite trazia-lhes muitas expectativas.
Quando todos se recolheram para o repouso, principalmente aqueles que eram o motivo principal do trabalho que realizavam, os três estavam a postos, aguardando, comentando os sucessos do dia e orando a Deus, pedindo-Lhe inspiração para cada palavra que pudessem dizer em favor da causa que abraçaram.
Eufrásia falou-lhes do contacto com o criado, dos seus pensamentos, que, pelo narrado, continuavam como os que Aquilino havia presenciado, contando-lhes também o seu esforço em fazê-lo convencer o príncipe, quanto à carta.
Disse que nenhuma oportunidade houvera de encontro entre ambos, por isso não sabia da receptividade daquela ideia.
Todos a postos, perceberam o príncipe Espírito deixar o quarto.
— Fernando já deixou o corpo! — falou Margarida.
— Eu o seguirei, meio a distância, para ver o que fará, sem que me veja e fique à vontade. - manifestou-se Aquilino.
Após, dependendo do que fizer, apresentar-me-ei.
Vocês aguardem a sua vez!
Aquilino seguiu-o, vendo-o ir ao local onde havia escondido os pós que ficaram sob sua guarda.
Ele apenas os olhou, mas nada fez.
Quando se voltava, deu com Aquilino que lhe perguntou:
— Então, príncipe, ainda não é hora de consumir de vez com aquela substância tão comprometedora de seu Espírito?
— Novamente me segue?
— Eu lhe disse, estaria sempre atento!
Deixá-lo-ei em completa liberdade, quando fizer o que pretendo.
Aí, irei embora e proporcionar-lhe-ei, como recompensa, a alegria para seu Espírito, que já sabe qual é!
Por agora faço-lhe um convite e espero que o aceite!
— Convite para quê?
— Antes, lhe farei uma pergunta:
— O que ainda o impede da desistência completa da realização do plano é o receio que tem de seu pai, não é isso?
— Como o sabe?
— Sabemos de tudo, não se esqueça!
Tenho estado em sua companhia, presenciado cenas, lido seu pensamento, e sei que está bastante diferente, mesmo em relação à Mafalda que vê com outros olhos.
O que o impede, porém, de desistir completamente da sua empreitada é o receio de seu pai!
— Tem razão, não posso negá-lo!
Todo um plano foi bem arquitectado há anos, e só conseguimos começar a realizá-lo com o meu casamento.
— Em sacrifício de seus próprios sentimentos!
— Sofri muito quando ela partiu, muito mais que quando morreu!
Para mim, a ida de Margarida para o convento, já significou a sua morte, porque sabia, nunca mais a veria.
— Mas não tinha esse direito, e deve saber por que ela partiu!
— Sim, concluí depois!
Não conseguia resistir à sua presença e fui estouvado, afastando-a de vez daqui!
Ah, o quanto Margarida era pura e digna, e sacrificou-se para não perturbar a felicidade da irmã!
— Isto tudo já passou e sua vida agora é outra!
De nada adianta trazer essas lembranças, que só comprometerão o seu relacionamento com Mafalda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:07 pm

— Eu também gosto dela, e talvez ainda venha a amá-la!
Ela é boa e me quer muito, deu-me uma filhinha para aumentar a minha alegria, e estou feliz!
— É necessário, então, que não estrague novamente essa felicidade que sente, e já abriga em seu coração!
Se um dia Mafalda ou a filha souberem o que fez, terá o repúdio de ambas e sua infelicidade será muito grande, afora todos os motivos que já lhe expus de sobejo!
— Falou-me em convite!
— Sim, quero ajudá-lo a desligar-se desse receio que tem de seu pai, para que se liberte de vez.
— E como o fará?
— Levá-lo-ei em visita a ele, neste momento!
Promoverei um encontro entre ambos, e você tentará convencê-lo de que não mais está disposto a realizar o que ele pretende.
Dará as suas razões, eu o ajudarei, e tudo será mais fácil quando ele receber a notícia de que irá desistir!
— Coloco-me à sua disposição, mas temo, não posso negá-lo!
— Deixemo-nos conduzir pela força do nosso pensamento, e imediatamente esteiremos junto dele!
Em instantes eles adentraram no palácio do reino dos Continis, insatisfeitos com seus domínios e desejosos de ampliá-los.
No entanto, desejavam-no a um preço muito alto para seus Espíritos, cuja dívida teriam que saldar num futuro, com muitas dores e sofrimentos, apenas por causa da ambição.
Ao entrarem no aposento real, puderam observar que a rainha dormia profundamente, mas o Soberano mexia-se muito no leito, sem ter conseguido conciliar o sono.
— Aproveitemos da oportunidade, mesmo ele estando desperto!
Falarei à sua mente, depois de captar os seus pensamentos, mas, após, farei com que seu Espírito se desprenda pelo sono, para que possa dirigir-me a ele directamente!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:10 pm

Capítulo 45 - PROVIDÊNCIA DECISIVA
Aquilino ficou atento e percebeu que o rei revivia problemas e tarefas do dia transcorrido.
Notou, num momento, que ele estava aborrecido por dissensões havidas entre os seus dois filhos, cada um querendo tomar atitudes de modo diverso, tendo chegado a uma intensa altercação.
Após essas rememorações, percebeu que ele colocava a solução do problema na efectivação do que desejava:
— " Quando Fernando realizar o que tanto aguardo, meus problemas estarão solucionados!
Uniremos os dois reinos, e logo os dividirei em principados, cada um sendo o senhor absoluto do que lhe couber, dando-me menos preocupações.
Estou cansado de presenciar tantas discussões por causa de divergências entre eles.
Acontece, porém, que Fernando se demora, está se enfraquecendo!...
Depois do nascimento da pequena Margarida, só tem olhos para ela e nada realiza!
Nessa hora, Aquilino resolveu interferir intensamente nos seus pensamentos, fazendo-os mudar seu curso.
— " Mas terei eu direito de resolver os problemas da minha família, com o sacrifício daquele soberano?
Estaria sendo honesto comigo mesmo e diante de Deus, no que ordenei a meu filho realizar?
Como ficariam seus familiares e até a pequena, quando, um dia, soubessem o que foi feito?
Há também a guarda do palácio!
Se descobrirem, perderei meu filho!
Isto valerá a pena?
Como resolver situação tão conflituante?
O que desejo não é direito, pois estarei usurpando, através do crime, o que não me pertence!
Mais dia, menos dia, Fernando herdará aquele reino que fatalmente se unirá ao nosso pelo nome Contini!"
Passados mais alguns instantes, Aquilino, ao mesmo tempo que lhe influenciava a mente, transmitia-lhe passe repousante.
Logo o sono o envolveu, e ele desprendeu-se do corpo.
— É a sua vez, príncipe!
Deve ter ouvido tudo o que lhe transmiti.
Aproveite-se do que já preparei e continue o seu trabalho!
Eu estarei com você, e mostrar-me-ei a ambos, se necessário for.
Vá, cumpra a missão para a qual o trouxe aqui!
O rei, tendo deixado o corpo, dirigiu-se para o salão do trono e Fernando foi encontrá-lo!
— Está aqui, filho?
— Sim, papai! Vim vê-lo e falar-lhe!
— Falar-me o quê? Tem problemas?
— Sim, um problema muito grande envolve a minha consciência e tenho me preocupado!
Vim pedir-lhe que me libere dele!
— Que problema é esse que depende de mim tomá-lo mais feliz?
— Sabe, papai, que sempre fui um filho obediente às suas ordens, e até o que realizei em cumprimento ao plano que tramou!...
— Não me diga que está fraquejando?!
— Não se trata de ser fraco, que sabe, não o sou!
Mas me está sendo difícil realizar o que me recomendou!
Naquele palácio, sou muito bem tratado.
O rei, meu sogro, quer-me bem, confia em mim e deposita, na minha pessoa, muitas esperanças.
Afeiçoei-me a ele e somos felizes, todos reunidos, sobretudo depois do nascimento da minha pequena!
Por ela e pelo avô que a ama tanto, eu lhe digo:
não poderei realizar mais o que pretende!
— É um fraco e se comove por nada!
Você fez uma promessa e tem que cumpri-la!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:10 pm

Os meus problemas, aqui, têm aumentado e só vejo solução quando realizar a sua parte!
Que faz lá o criado que enviei para ajudá-lo?
— Ele também está ansioso para retomar e diz-me que cada vez que olha para o rei, vê o próprio pai e teme!
— Estão loucos, ambos!
Se ele não está em condições de realizar o trabalho, enviarei outro em quem confio!
— Não se trata de confiança, mas não conseguiremos fazê-lo!
Não é justo o que deseja! Estarei me incriminando apenas para satisfazer os seus desejos!
Sabe o quanto me foi difícil o casamento com Mafalda, quando amei a outra!
Cumpri a minha parte, mesmo em sacrifício dos meus sentimentos...
— Sentimentos não contam em negócios de interesses!
— Mas eu amei Margarida que deixou o palácio para o convento, e, há poucos dias, tivemos notícia de que morreu lá.
Sinto-me responsável pela sua partida e até pela sua morte, pois ela também me amou.
Não quero ser responsável por mais nada e não realizarei o que pretende!
Hoje vim para fazer-lhe essa comunicação!
Sem que o rei tivesse possibilidade de resposta, Aquilino colocou-se entre ambos.
Tendo percebido que Fernando já o conhecia, perguntou-lhe:
— Quem é esse com quem veio?
— Um amigo que muito tem me ajudado!
— Ajudado em quê, a que fraquejasse?
— Não, papai, ele tem me mostrado o que nos acontecerá, se concretizarmos o plano!
— O que poderá nos acontecer?
— Poderei explicar-lhe Majestade! — disse Aquilino, interferindo.
— Não desejo ouvir as suas palavras!
Não sabe o que diz, e ainda modificou o meu filho.
Não é digno de que o ouça!
— No entanto falar-lhe-ei assim mesmo, e quero explicar o que acontecerá a todos - ao senhor, Majestade, ao príncipe, seu filho, e ao criado, o executor da tarefa!
— Não estou interessado em saber nada disso!
— Mas me ouvirá! Será, Majestade, que se resolve um problema momentâneo e passageiro, assumindo compromissos que lhes serão eternos?
— O que quer dizer?
— Estive em sua companhia há pouco, quando ainda no corpo, e o senhor pensava!
Eu sei dos seus problemas!
Que pai é esse que, para resolver a situação de dois filhos, sacrifica o terceiro, colocando-o em grande sofrimento?
— Não estou colocando ninguém em sofrimento!
— Certamente que estará!
O que deseja que seu filho realize, ficará marcado em seu Espírito por uma eternidade, até que ele consiga ressarcir mal tão grande que irá cometer, compromissos tão intensos que irá assumir.
O importante e pior ainda, nisto tudo, Majestade, é que o senhor, sendo o articulador de plano tão sinistro, terá em muito maior cota a responsabilidade do crime.
Será responsável por si mesmo, pelo seu filho e pelo seu criado.
Pense no Espírito que é eterno, e não no resultado da ambição que é passageiro!
Quando deixar esta Terra de vez, pela morte do corpo, o seu Espírito sobreviverá e estará em estado de grande penúria e sofrimento.
Nada do que aqui conseguiu, levará consigo!
Levará somente o que fizer em boas acções para seus familiares e para seu povo.
Pense nisso, Majestade, e queira ser feliz depois de partir, e não desventurado!
O rei Contini ouvia as razões de Aquilino, sem, contudo, comover-se muito, mas ele, que fora em missão tão importante, continuava:
— Majestade, desejo apenas que pense em tudo o que já lhe disse e, quando retomar ao corpo, leve consigo a sensação do sofrimento que irá causar ao seu filho e a si mesmo, por uma cobiça tão fugaz, sem falar nas responsabilidades que adquirirá quanto ao seu criado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:11 pm

Não troque momentos fugazes de alegria, conseguidos à custa do sacrifício de uma vida humana, pela alegria conquistada através do que será perene ao Espírito.
Logo, daqui a alguns dias, receberá de seu filho uma carta, na qual ele lhe explicará as razões pelas quais estará desistindo de realizar o trabalho que lhe impôs.
O senhor as compreenderá, e será mais feliz.
Que os problemas de sua família não sejam resolvidos com a destruição de outra família!
Nada se constrói sobre aquilo que nós mesmos destruímos.
Se algo tem a dizer, faça-o, que vamos nos retirar.
Preciso levar seu filho de volta àqueles que agora fazem parte de sua própria família.
— Nada tenho a dizer!
É-me difícil compreender o que me expôs e não sei se devo acreditar!
— Não precisa acreditar em minhas palavras, o importante é que acredite em Deus, na Sua justiça, e que pense na própria consciência, que, a partir deste instante, senão completamente, estará um tanto modificada.
Vendo que a partida se avizinhava, o príncipe voltou a falar ao pai:
— Papai, peço que me perdoe por desobedecer-lhe, mas os motivos apresentados são bastante convincentes para que os aceite, e não venha a sofrer.
Quando o tempo passar, ainda agradecerá este momento que o livrará de penas tão sofridas. Dê-me o abraço da sua compreensão, pois precisamos partir!
Tome-me como exemplo, se lhe for difícil compreender por si próprio!
As mesmas convicções que abriga no coração, já fizeram parte dos meus propósitos, mas mudei-as e desejo também que mude as suas.
Só assim seremos felizes.
Aguardemos os desígnios de Deus, para que, o que desejamos, nos caia às mãos, se o merecermos!
Agora preciso ir.
Que Deus fique em seus pensamentos e em seu coração, como está adentrando o meu! Adeus!
Estas últimas palavras deixaram o rei sem resposta e, quando percebeu, nem o filho nem o seu companheiro estavam mais lá.
Retomou rapidamente ao corpo, tendo despertado abrigando sensações e pensamentos estranhos, nos quais teria muito que reflectir.
Quando Aquilino se viu só com o príncipe, em caminho ao palácio de onde vieram, convidou-o para parar um pouco num recanto, onde a Natureza aberta deixava ver o luar e os pontos luminosos das estrelas enfeitando o céu, diminuindo a negritude da noite.
— Estou muito feliz!
Vossa Alteza cumpriu bem a sua parte!
Mais feliz fiquei, não pelo que disse, mas pelo que abriga no coração.
As nossas palavras, sejamos nós encarnados ou não, são sempre o reflexo do que trazemos em nós, e as suas, fizeram-me entender que se transformou.
Estou feliz, irmão, muito feliz, por tudo o que significa esta decisão que tomou.
Ela terá um alcance tão grande ao seu Espírito, que ainda não tem condições de avaliar, mas, no dia em que tiver, agradecerá a Deus, tê-la tomado.
— Nem mesmo sei como pude falar tudo aquilo a papai!
— E porque já compreendeu o verdadeiro significado da vida!
Todos nós temos as oportunidades que nos são dadas por Deus, através da encarnação, quando chegamos à Terra pela bênção de um novo corpo.
Aqui não estamos por acaso.
Trazemos tarefas para cumprir, que servirão para ressarcir débitos outrora contraídos, e para que trabalhemos e lutemos de tal forma a fim de não adquirirmos outros.
Por isso, não temos o direito de dispor daquilo que só a Deus pertence, a vida humana, com todas as oportunidades que oferece!
Deve saber que o Espírito é uno e eterno, mas corpos, esse mesmo Espírito tem o ensejo de estagiar em muitos, todos trazendo-lhe oportunidades redentoras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:11 pm

A verdadeira vida e felicidade que almejamos, é a do Espírito e não a do corpo, que é tão passageiro...
Tudo o que adquirimos em matéria, para o gozo da matéria, fica na Terra quando partimos, mas as aquisições para o Espírito, essas levamos connosco para a eternidade.
— Nunca havia ouvido ninguém falar como você fala!
Tenho compreendido muitas coisas nas quais nunca havia pensado antes.
— Sempre é tempo!
Que tudo o que tem ouvido e aprendido, possa ficar armazenado em seu Espírito, para ser utilizado ainda nesta existência que Deus lhe concedeu.
Assim, quando terminar as suas tarefas, partirá mais livre dos compromissos já assumidos, e não levando o seu Espírito marcado por outros que adquiriu.
— Compreendo, irmão, se posso chamá-lo assim!
— E assim mesmo que deve fazê-lo!
Somos todos irmãos diante do mesmo Pai, e todos com as mesmas oportunidades que Ele nos oferece.
Partamos, agora, para o palácio, levando connosco a alegria de momentos tão importantes que Deus, nosso Pai, nos permitiu nesta noite.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:11 pm

Capítulo 46 - EM VIAS DE CONCLUSÃO
Aquilino dava-se por satisfeito pela transformação demonstrada pelo príncipe, mas uma outra fase importante teria que ser aguardada — as atitudes que ele tomaria, quando no corpo, em plena actividade de suas funções físicas, à luz do dia.
Teria que aguardar!
Ao chegarem ao palácio, ele agradeceu ao príncipe a receptividade de suas palavras, dizendo-lhe, ainda uma vez, que todas as boas atitudes que adoptasse, seriam apenas em favor de si próprio.
Comunicou-lhe que o deixaria em liberdade, naquele momento, pois teria outras medidas a tomar.
O príncipe nada fez.
Seguiu rumo a seus aposentos e retomou ao corpo.
Mafalda dormia e Margarida aproveitou para mais um encontro, falando-lhe da sua satisfação ao ver que seus aconselhamentos estavam encontrando eco em seu coração, e da alegria que levaria consigo, quando partisse, num futuro bem próximo.
Nunca, nada lhe foi revelado a respeito das pretensões do príncipe, para que nenhum sentimento menor se interpusesse no trabalho que realizava.
Mafalda de nada precisava saber.
Aquilino, confiante na dedicação de Margarida, não a procurou, mas estava interessado em saber como Eufrásia havia se saído em relação à sua tarefa.
Dirigindo-se aos aposentos do criado, verificou que ele não mais dormia, e ela não estava.
Perscrutou-lhe a mente e constatou que já estava bastante trabalhada, porque, desperto, seus pensamentos giravam todos em tomo daquela ideia do seu regresso e da carta que deveria entregar ao rei Contini.
Muito satisfeito e mais esperançoso, acreditou que o trabalho, ali no palácio, estava em vias de ser concluído.
Após a atitude do príncipe, fechando aquele período de esperanças infelizes, antes de partirem, só faltaria promover o seu encontro com Margarida, conforme o prometido.
Deixando aquele aposento, logo avistou Eufrásia e Margarida, livres de suas tarefas.
Quando Eufrásia se aproximou para lhe contar o que realizara, Aquilino impediu-a:
— Nada precisa me dizer, irmã!
Ao término do meu trabalho, estive nos aposentos do criado, e, perscrutando-lhe os pensamentos, concluí que deve ter realizado muito bem a sua parte.
A nossa actividade está por encerrar-se!
Hoje demos — eu e o príncipe — um passo muito importante!...
— Você e o príncipe trabalharam juntos? Não entendo!
— indagou admirada, Margarida.
— Está surpresa?
— Muito! Explique-se!
— Nesta noite, ao invés de ter que convencer o príncipe, tive o seu auxílio para as explicações que eram necessárias ao rei, seu pai!
— Estiveram com o rei Contini?
— Sim, levei-o até ele, e, pelo que observei, não teremos mais problemas com o príncipe — assim o espero!
Só nos falta verificar, amanhã, quando desperto, à luz do dia, o que fará.
— Eu trabalhei muito o criado insistindo na carta! — interferiu Eufrásia.
— Pois ele nos ajudará, e tenho a certeza, em dois ou três dias irá embora de vez, levando ao rei, seu soberano, a decisão do príncipe Fernando.
— E estará completa a nossa missão! — aduziu Margarida.
— Nossa missão, sim, mas não a minha promessa!
Lembra-se do que tem a fazer?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:11 pm

— Lembro-me e receio pôr a perder tudo o que consegui com ele e Mafalda.
— Dependerá apenas de você! Por tudo o que tem realizado, desde ainda encarnada até agora, e por já conhecê-la bem, sei que será bem sucedida.
Tenha confiança!
Quando o momento chegar, nós a ajudaremos!
Margarida estava feliz.
Com a ajuda de Aquilino e agora também com a de Eufrásia, conseguira ajustar a família dentro dos padrões que desejava.
Tudo transcorrera num pequeno espaço de tempo, de modo muito eficiente, e agora quase chegavam ao fim.
Ela lembrava-se de Deus e disse a Aquilino:
— Meu grande e querido irmão e amigo, lembro-me, neste instante, de nosso Pai Criador, por nos ter permitido dirimir problemas tão sérios e ameaçadores, neste palácio.
Ele, que muito nos tem ajudado, inspirando-nos cada palavra a fim de que chegássemos ao final para o qual caminhamos, merece ter a nossa gratidão, mas, para isso, peço-lhe que se dirija a Ele em meu nome, em nome de todos deste palácio, agradecendo o que nos concedeu.
— Sempre o faço, Margarida!
Ao término de cada pequena empreitada bem sucedida, — e todas o têm sido — elevo meu pensamento a Ele em reconhecimento.
— Eu também o faço, mas agora queria um agradecimento conjunto, de todos nós, em voz alta, para que cheguemos ao final como temos caminhado até aqui, sempre inspirados por Ele, e bem sucedidos.
— Nós o faremos, querida Margarida!
Como ainda nos resta algum tempo até que o dia amanheça e continuemos a nossa tarefa, poderemos ir a passeio, em contacto com a Natureza, e lá, o nosso agradecimento chegar-Lhe-á mais rapidamente, pois que estaremos em contacto mais directo com Ele, através da Sua criação.
Eufrásia precisa também conhecer aquele recanto tão encantador.
— Pois então vamos, porque, talvez, não tenhamos mais tantas oportunidades de visitá-lo!
Em breve tempo, nossa tarefa estará concluída.
— Quando partirmos, seja o que for que lhe estiver reservado, conhecerá lugares mais aprazíveis ainda do que aquele para onde vamos.
— Acredito nisso, mas aquele me é muito importante pelas circunstâncias em que foi encontrado, pela companhia que você me fez, pelas instruções que me transmitiu!
Vá eu para onde for, aquele lugar está já retratado em minha mente e nunca o esquecerei.
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Capítulo 47 - A ORAÇÃO
Margarida, pelo seu estado de Espírito liberto tão recentemente, não tinha ainda todas as condições que lhe possibilitavam a locomoção com a mesma facilidade dos companheiros, mas, pelo auxílio de que sempre fora alvo, em instantes se encontravam no lugar pretendido.
Eufrásia e Aquilino, já conhecedores de tantos lugares sublimes no Mundo Espiritual, admiravam a beleza e a tranquilidade daquele recanto, no entanto, para Margarida, ele tinha um significado muito mais profundo.
Fazia parte dos domínios de Sua Majestade, o rei, seu pai; encontrara-o num momento de tanta aflição pelos problemas com que se defrontara em seu lar, e recebera, ali também, tantas palavras de estímulo, de conforto e de orientação.
Agora que a partida era iminente, não poderia deixar de admirá-lo mais ainda e, por isso, a sugestão de Aquilino para que a prece de agradecimento a Deus fosse ali proferida, trouxe-lhe muita alegria.
— Pois bem, amigos, aqui estamos! — exclamou Margarida.
Não poderia haver lugar mais adequado para entrarmos em comunhão com Deus e agradecer.
Ah, quanto tenho a agradecer!
Quanto sou devedora ao Pai por todas as oportunidades que me concedeu, durante esse período que permaneci junto aos meus, e devo-Lhe até a permissão para essa permanência!
Deus permitiu- me ficar, porque sabia de todo o perigo que papai corria e confiou em mim, enviando-me vocês e dando-me também a oportunidade de ajudar o príncipe e Mafalda.
Logo deveremos partir e, não me será fácil, mas parto feliz, deixando-os bem!
— Se temos tanto a agradecer, por que não começamos agora mesmo? — indagou Aquilino.
— Conto com você para isso!
Lembra-se de que lhe pedi que o fizesse por mim?
— E para isso que viemos!
Os três permaneceram unidos num só pensamento elevado ao Pai, em prece:
Aquilino pronunciando as palavras mais doces e temas que saíam do seu coração, Margarida e Eufrásia repetindo-as mentalmente, numa ligação muito profunda.
Quem pudesse vê-los, descobriria também, saindo de seus Espíritos, fios muito ténues, em grande quantidade, elevando-se e perdendo-se no infinito do espaço, ocasionando, naquele local que ainda não recebera a luz do sol nem as primeiras claridades do amanhecer, uma iluminação muito profusa e brilhante, de tons indescritíveis.
Mais Aquilino pronunciava as palavras, mais aquelas luzes se faziam numa espécie de permutação — fios luminosos partiam em direcção aos céus, e outros de tonalidades diferentes, chegavam até eles.
A visão era indescritível, mas os sentimentos eram intensos e profundos em direcção àquele Pai magnânimo que tanto lhes havia proporcionado em oportunidades.
A elevação de seus Espíritos, naquele momento, só era comparável à dos anjos que entram em contacto com Deus.
Aos poucos Aquilino foi terminando as palavras, mas a luz que os envolveu permaneceu com eles ainda durante muito tempo, transmitindo-lhes grande bem-estar, intensa alegria interior e muito amor direccionado a todos aqueles para os quais se empenhavam naquela tarefa que se impuseram.
O silêncio perdurou entre eles durante ainda algum tempo, mas logo a seguir Margarida, trazendo lágrimas nos olhos, disse-lhes:
— Como agradecer a Deus tantas dádivas, se quanto mais agradecemos mais as recebemos!
Nunca havia me sentido como neste momento, em que essa ligação tão intensa entre nós e Deus foi efectuada!
— Toda vez que nos ligamos a Ele em oração, d'Ele recebemos muitas dádivas. — explicou Aquilino.
— Sempre entendi assim e sempre orei com amor, a não ser durante aquele período que conhece, mas nunca me senti como agora!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:11 pm

— A oração, a comunhão com Deus, é um exercício que devemos praticar constantemente!
Quanto mais nos exercitarmos, mais próximos d'Ele estaremos e muito mais receberemos!
— Isto ocorre somente com os Espíritos libertos como nós?
Como encarnada, nunca me senti assim!
— Já lhe disse, Margarida, a comunhão com Deus não é privilégio de uns poucos, mas está à disposição de todos, quer encarnados ou libertos como nós.
O importante é orarmos com o mais profundo respeito e submissão, elevando o pensamento o mais que pudermos, desprendendo-nos do ambiente que nos circunda e esquecendo-nos dos problemas, que chegaremos a Ele!
Quando lá estivermos, é a hora certa de Lhe falarmos, expondo as nossas necessidades com humildade e submissão, pedindo a Sua ajuda.
Deus, que nada nega a nenhum de Seus filhos, devolverá em bênçãos de paz, de alívio, de conforto, todas as rogativas que lhe foram feitas com amor.
— Nem todos sabem orar! — acrescentou Eufrásia.
— Tem razão, minha irmã!
Mas orar não é difícil, desde que as palavras partam do coração, num todo abrangente e não apenas de lábios.
Quanto mais nos exercitarmos nesse desprendimento de nós mesmos, para chegarmos ao Pai, maiores as bênçãos que receberemos.
— Se isso exigir algum esforço de início, com o passar do tempo tomar-se-á muito fácil!
Basta querer e se esforçar! Deus está atento, vê o nosso esforço e mais nos devolverá em ajuda. — esclareceu Eufrásia.
— Sempre estou aprendendo, mas este lugar nos ajudou muito na prece que fizemos! — exclamou Margarida.
— Todos os lugares são bons, basta que saibamos como fazê-lo!
Entretanto, não resta dúvida de que o silêncio deste recanto, a Natureza aberta e tão pura ainda da mão do homem, nos auxiliou bastante! — explicou Aquilino, completando:
— Penso que já fizemos aquilo para o qual viemos!
O dia começa a mostrar seus primeiros raios de luz, e deveremos retomar para darmos continuidade ao nosso trabalho, e constatar se, o que conseguimos durante a noite, perdurou em seus Espíritos para as atitudes do dia.
— Aquilino, vejo que a nossa tarefa está por terminar e lhe pergunto se teremos outras oportunidades de aqui retomar antes de partirmos.
— Prometo-lhe que sim!
Para a sua alegria, antes da nossa partida, ainda aqui viremos!
— Então voltemos para junto dos meus queridos, que não terei muito tempo mais para estar com eles!
— Partamos!
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti - Página 5 Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 15, 2018 9:12 pm

Capítulo 48 - DECISÃO DEFINITIVA
Com a mesma rapidez com que foram, retomaram, e, ao chegarem ao palácio, os que tinham suas obrigações, estavam se levantando.
O príncipe logo surgiu, não pelas obrigações que teria para executar, mas pelas próprias circunstâncias dos acontecimentos que o envolviam.
Quando retomou ao corpo, após a chegada da visita ao pai, não mais conseguiu dormir.
Pensara muito e deixara o leito com a firme decisão que já estava instalada em seu Espírito.
Antes que os outros despertassem, foi bater à porta do quarto do criado, que, também acordado de há muito, abriu-a logo.
— O que deseja, Alteza?
Perdoe-me ainda aqui permanecer, mas ordene-me que executarei logo em seguida, a sua ordem!
— Não se trata de nenhuma ordem em particular!
Venho falar-lhe a respeito do assunto que tem sido a causa das nossas preocupações, nestes últimos dias, e dizer-lhe que a sua tarefa, a que trouxe para realizar por ordem de Sua Majestade, o rei Contini, meu pai, está definitivamente suspensa.
— Sei que essa decisão tem estado na mente de Vossa Alteza, como em mim também o receio de executá-la, mas pergunto-lhe: o que o levou a tomá-la em definitivo?
— São as convicções que me têm penetrado o coração e, nesta noite, até sonhei com meu pai; no sonho, lembro-me de que lhe disse que não mais executaríamos o trabalho.
— E, mesmo no sonho, que não traduz a realidade, qual foi a atitude de Sua Majestade?
— Lembro-me de que ficou enfurecido e chamou-me de fraco, mas não importa.
A decisão está tomada e, por minha própria vontade, venho liberá-lo da tarefa.
— Poderei partir, então?
— Sim, partirá hoje mesmo se assim o quiser!
— Apesar dessa tarefa estar me incomodando muito ultimamente, tenho receio de enfrentá-lo!
O melhor seria se Vossa Alteza me fizesse portador de uma carta, explicando essa sua atitude, e eu estaria a salvo da sua ira.
— E o que farei hoje mesmo!
Assumirei toda a responsabilidade da iniciativa, e ele entenderá!
Assim não mandará mais ninguém para substituí-lo, e você estará a salvo.
— Obrigado, Alteza!
Essa decisão faz me sentir muito feliz!
Se seu pai o chamou de fraco, eu não concordo, porque é mais difícil tomarmos uma atitude que não vai ao encontro do que nossos superiores esperam, mas que nos deixará em paz!
Vossa Alteza não é fraco, mas muito cresceu no meu conceito; talvez, quem tenha fraquejado tenha sido eu, mas sinto-me feliz como o sou agora.
— Poderá ir preparando a sua partida, que logo mais lhe darei a carta!
— O que dirá a Sua Majestade, o seu sogro?
Como justificará a minha partida?
— Você é responsabilidade minha, não se esqueça!
Direi que recebeu uma mensagem chamando-o e eu o liberei, sem saber se voltará ou não.
Nesse aguardo, será esquecido e ninguém retomará, pelo menos com as intenções que aqui o trouxeram.
Você poderá retomar, sim, porém, para outras empreitadas mais felizes, ou mesmo como mensageiro de meu pai, para alguma comunicação, uma vez que conhece bem os caminhos e tudo aqui; mas, para permanecer, nunca mais!
— Agradeço-lhe muito, Alteza!
O príncipe retirou-se do aposento do criado, sem perceber que essa conversa tinha uma pequena assistência, invisível a seus olhos, e que exultava de alegria por ver o sucesso da tarefa que se impuseram.
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Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti - Página 5 Empty Re: Amor e Sacrifício - Eça de Queiroz/Wanda A. Canutti

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2018 8:55 pm

— Nada mais há a temer! — exclamou Aquilino, abraçando Margarida. — Fomos bem sucedidos, e seu pai terá sua vida livre para cumprir as determinações de Deus, e tomar as próprias atitudes que lhe possibilitarão progresso.
— Papai é muito bom, Aquilino!
Todas as suas acções foram sempre praticadas com ponderação e equilíbrio, visando ao bem-estar dos seus familiares e do seu povo.
— Talvez por isso tenha sido merecedor do que está recebendo do Pai, mesmo sem saber do perigo que corria e do que se realizava para protegê-lo! — acrescentou Eufrásia.
— É sempre assim que deve ser! — explicou Aquilino.
Os que são merecedores das dádivas de Deus, são alvo de suas benesses.
— E agora, Aquilino, o que faremos?
A nossa tarefa, aqui, está terminada!
— Aguardaremos a escrita da carta, a partida do criado, e induzirei o príncipe a destruir
os pós que retém em sua guarda.
Depois prepararemos o seu encontro com ele e teremos a nossa missão, nesta casa, cumprida!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2018 8:55 pm

Capítulo 49 - APREENSÕES
Esperanças novas envolviam Margarida.
Sua tarefa estava praticamente pronta e logo partiria.
Não sabia ainda para onde seria levada — se junto de Aquilino, ou se a tarefa terminada significava a despedida.
Gostaria muito de permanecer com ele, pela companhia fraterna que lhe proporcionou, além do auxílio intenso e segurança do sucesso.
Logo aquele ser angelical que a trouxera ali e permitira que permanecesse, voltaria e a levaria.
Deveria confiar! Estaria em mãos de um ser tão bom e sublime, que só poderia levá-la a um bom lugar.
Aquilino, vendo-a silenciosa e pensativa, compreendeu os seus receios.
— Margarida, ainda temos algumas realizações aqui, principalmente você, querida amiga!
Deixe essa preocupação para depois!
— Como não me preocupar, se o momento se aproxima!
Já conversamos sobre isso e gostaria muito de permanecer em sua companhia!
— Entreguemos a Deus essa decisão, e nós, tomemos as nossas aqui, que ainda temos trabalho! Tudo chega no momento certo, e Deus, nosso Pai, não deixa nenhum de Seus filhos ao desamparo, sobretudo aqueles que são submissos e se sacrificam pelo bem-estar dos que amam.
— Tem razão, Aquilino, mas não posso evitar de me preocupar!
Se não pudermos ficar juntos, sentirei muito a sua falta!
— Se não nos for permitido, pedirei a Deus a permissão para visitá-la, e estaremos juntos da mesma forma!
— Fará isso por mim?
— Não só por você, mas por mim mesmo, que também me acostumei à docilidade da sua companhia!
Todavia, devemos nos submeter à vontade do Pai e aceitar o que Ele nos tem reservado.
— Saberei esperar e aceitar!
— Sempre sou chamado a tarefas semelhantes a esta que estamos por terminar e, mesmo que seja levada para onde estou, ficaremos, às vezes, longo tempo separados!
— Entendo e me submeterei à vontade de Deus, com compreensão e, quem sabe, um dia também poderei ajudá-lo nesse trabalho tão sublime.
— Não nos preocupemos com o futuro, mas apenas com o presente!
Precisamos, agora, acompanhar os nossos queridos deste palácio, para a concretização final do que esperamos.
— O que fazer, então? — perguntou Eufrásia, que se mantivera à parte desse diálogo, entendendo que não deveria interferir.
— Faremos como temos feito até aqui!
Você ficará com o criado, eu estarei junto do príncipe, intuindo-o quanto ao conteúdo da carta, para que ela seja definitiva em relação aos propósitos de seu pai.
Você, minha querida Margarida, estará liberada hoje, para permanecer com os seus, desfrutando de sua companhia amorável, sem se preocupar com nada, que o mais importante já conseguimos.
— Agradeço-lhe muito!
Quero estar mais junto de papai e mamãe, com quem não tenho podido ficar nos últimos dias pela empreitada que tínhamos a realizar.
Quero abraçar papai, e vê-lo, agora, como um homem liberto de cilada tão aterradora que se lhe preparavam.
— Vá, então! Vá, enquanto cuidaremos das nossas actividades.
Não se esqueça, porém, de que tem ainda uma parte muito importante a realizar!
— Quando será?
— Dependendo do desenrolar dos acontecimentos do dia, poderá ser nesta noite mesma.
Mas não se preocupe, voltaremos a falar sobre isso, à entrada da noite, e eu lhe passarei as instruções, caso seja hoje!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2018 8:56 pm

— Terei que orar muito e me preparar!
— Confie em si mesma que não falhará, como não tem falhado em nenhuma de suas tarefas!
Cada um tomou o rumo determinado, e Margarida seguiu feliz à procura dos pais.
Eles ainda permaneciam em seus aposentos, embora despertos.
Ela achegou-se, depositou um beijo na face de cada um deles e ficou ali ao lado, observando-os ternamente e emitindo-lhes pensamentos de tranquilidade e amor.
Nada demorou e a rainha manifestou-se:
— Estou me lembrando da nossa querida Margarida.
Quanta saudade sinto dela!
— Interessante que também me recordava de nossa filha, da sua alegria, do seu sorriso meigo quase infantil...
Quem diria que a sua paixão pelo príncipe Fernando fosse tão grande, a ponto de tudo sacrificar, até a própria vida, para não interferir no relacionamento dele com Mafalda?
— Você reparou, querido, que depois da notícia da morte dela, eles estão vivendo muito melhor?
— É verdade! Vejo Mafalda cordial e mais amorosa com ele.
Nunca mais a ouvi recriminá-lo!
— Deve ser justamente pela partida definitiva de Margarida!
Não se deve ter ciúme dos mortos!...
— Imagina que seja por isso?
— Não sei se é, mas tudo mudou entre eles!
Margarida ficou satisfeita que a boa convivência de
ambos era sentida pelos seus pais.
Não importavam os motivos alegados!
O importante era que eles estavam vivendo bem, e, daí para um grande amor, sobretudo do príncipe para com Mafalda, não demoraria muito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2018 8:56 pm

Capítulo 50 - ARREMATANDO PONTOS
Aquilino foi à procura do príncipe, encontrando-o lãs voltas com a pequena Margarida que trazia nos braços.
Mafalda ainda permanecia no leito, e como ele se adiantara em levantar para falar ao criado, procurou a filha depois.
Não resistiu ao desejo de tomá-la nos braços, mesmo ainda dormindo.
Certamente ele providenciaria a carta, após a reunião para a primeira refeição em família.
Mas, como nunca se devem perder oportunidades, Aquilino, mesmo vendo-o com a pequena nos braços, começou a emitir-lhe pensamentos em relação à mensagem, e, a intervalos, observava a sua reacção.
Pôde perceber que ele, captando as suas intenções, pensava:
— Hoje mesmo, na parte da manhã, escreverei a carta a papai!
É-me difícil, mas terei de fazê-lo.
Nem sei como começar, contudo, no momento certo, as palavras virão!
Aquilino continuava o seu trabalho e, aos poucos, foi lhe colocando na mente o que deveria dizer.
O príncipe ia absorvendo as suas ideias, como quem estivesse descobrindo a melhor forma de realizar aquela tarefa, e pensava satisfeito: — É isso mesmo!...
As ideias fluem-me com facilidade e vou aproveitá-las todas!
Papai entenderá e não me guardará rancor.
Falarei até em nome de Deus e em nome do amor e respeito que aprendi a ter pelo rei, e ele entenderá!
Pedirei que ele se coloque no lugar de Sua Majestade, meu sogro, para que sinta o que é ser traído pelas costas, podendo, a qualquer momento, perder a vida por causa de algum ambicioso que se aproxime.
Ah, tenho- a toda na mente!
Agora não me será difícil! — e, olhando ternamente para a pequena Margarida, ao mesmo tempo em que a colocava de volta no berço, pronunciou em voz alta:
— Minha querida, você terá a companhia do seu avô, por muito tempo ainda, para fazê-la feliz e para fazê-lo feliz, até quando Deus permitir!
Quando puder andar por si própria, e até correr pelo palácio, ele brincará com você, e a alegria desta casa será muito grande!
Ajeitou-a no berço e retirou-se do quarto, para se reunir aos outros que já se encaminhavam para a mesa da refeição.
Aquilino, feliz, acompanhou o príncipe, e viu também Margarida chegar com os pais.
No transcorrer da pequena reunião, puderam ouvir o príncipe dizer ao rei:
— Quero comunicar-lhe, Majestade, que o criado que comigo veio para servir-me, não mais permanecerá neste palácio!
Recebi de meu pai, uma ordem para mandá-lo de volta, pois necessita de seus préstimos lá, em seu reino.
Ele já estava bastante habituado aqui e sente ter que partir, mas precisa obedecer.
Faz-me portador da gratidão que ele mesmo gostaria de lhe transmitir, mas, por compreender as suas obrigações, incumbiu-me de fazê-lo em seu lugar, reconhecido também, e a todos deste palácio, pela boa acolhida que sempre recebeu.
— Outro virá para substituí-lo? — perguntou o rei.
— Vou liberar meu pai de tal obrigação, Majestade!
Não será necessário!
Depois deste ano de convivência aqui, sei que não preciso ter nenhum criado particular vindo do meu próprio reino.
— Compreendo os seus receios quando aqui chegou!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 16, 2018 8:56 pm

Precisava ter a seu lado alguém em quem confiasse e que já conhecesse os seus desejos e modo de vida.
Mas agora, tão bem aclimatado, e conhecedor de todos os que nos servem, poderá escolher aquele que desejar para substituí-lo.
— Comove-me o seu oferecimento e prometo pensar!
Mas, de início, quero tentar conviver, tendo o serviço de todos que também os servem, sem que nenhum precise me atender particularmente.
Tenho observado que todos aqui são muito solícitos e prestativos.
Talvez não precise de mais ninguém nos moldes em que tinha esse que ora parte.
— Faça como desejar!
Mais uma vitória concretizada!
A felicidade de Margarida não tinha limites.
— Aquilino, estou conhecendo um outro príncipe!
É esse o mesmo que nunca se mostrou porque não o desejava, ou é aquele que criou com sua ajuda? Que me diz?
— Nós nunca criamos nada, quem cria é Deus!
Apenas fizemos sobressair nele as qualidades que estavam adormecidas, e que ele próprio fazia questão de ignorar, pois que estava a serviço e ordens do pai e precisava cumpri-las!
— Foi bom conhecer esse seu lado!
— Não se deixe influenciar por nada!
Sabe que tem um encontro com ele, e que deverá consolidar mais as convicções que já penetraram no seu Espírito e não modificá-las.
— Tenho receio desse encontro, sim, mas não pelo que pensa!
Meus sentimentos, hoje, são outros, e vejo-o de modo diferente.
Receio apenas por ele mesmo, ao ver-me, e que percamos o trabalho realizado junto dele e Mafalda.
— Não haverá perigo!
Confiamos em você e devemos cumprir a promessa.
Será bem sucedida e partirá tranquila e feliz da tarefa bem realizada.
— Que devemos à sua ajuda!
— Deus nos inspira e somos Seu instrumento para o bem que Ele mesmo permite, realizemos!
— Sou-lhe muito agradecida, Aquilino!
— Não precisa me agradecer!
Sinto-me feliz em realizar trabalhos como esse, que sempre os tenho!
— Que faremos durante o nosso dia de hoje?
— Você continuará a desfrutar da companhia dos seus, e eu cuidarei do que resta realizar!
No fim da tarde veremos se pode se encontrar com o príncipe, nesta noite mesma!
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