LUZ ESPÍRITA
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Encontro com a Vida - Ângelo Inácio / Robson Pinheiro

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:54 pm

ENCONTRO COM A VIDA
Robson Pinheiro

Pelo espírito Ângelo Inácio

ENCONTRO COM A VIDA é mais do que um romance.
É a saga de várias almas em direcção à descoberta de sua felicidade.
Em meio a erros e acertos, quedas e vitórias, descobrem-se filhas da vida, muito embora, às vezes, em outros planos da vida.
Desde a fuga através das drogas, do sexo e do descompromisso até a descoberta dos valores internos, da família, da força da fé, que se expressa na paixão religiosa e no amor singelo de alguém que se aprende a amar.
Joana Gomides, o personagem principal dessa saga, dessa novela da vida, aproxima-se muitíssimo de nós ao se abrir e se mostrar humana a ponto de errar, cair e chorar pela própria derrota.
Porém, eleva-se qual pássaro de luz ao se descobrir capaz de superar-se e de ser auxiliada pelo amor da mãe e por amigos que a amparam.
Daí em diante, a trama se desenvolve cheia de paixão pela vida, numa história entremeada de espiritualidade e descoberta da religiosidade interior.
* * *
"O SANGUE DE JESUS TEM PODER! ", "Tá amarrado, em nome de Jesus! Tá queimado!" são expressões típicas de alguns fiéis evangélicos.
Em Encontro com a vida você verá além e presenciará acontecimentos extraordinários ocorrendo dentro e fora das igrejas.
Milagres ou não — que importa?
São os espíritos ou anjos de Deus que incorporam em pastores, inspiram médiuns e profetas e descortinam os caminhos da espiritualidade numa linguagem diferente.
Nem queimados, nem amarrados, mas com o poder do Evangelho de Jesus, os emissários do Alto permanecem trabalhando onde é necessário e onde quer que a fé humana os conclame.
Em meio às drogas e ao fantasma do HIV, uma mãe cheia de fé e um espírita sincero unem-se em prol de uma jovem que busca encontrar-se com a vida.
Em seu despertar, ela conduzirá você por um caminho que deixa claro que as barreiras e preconceitos não resistem à força soberana do amor.

LIVRO ORIGINALMENTE PUBLICADO SOB O NOME "O TRANSE".

MINEIRO, filho de Everilda Baptista, Robson Pinheiro convive com sua mediunidade desde a infância.
Durante a juventude, ingressou na igreja evangélica.
Anos mais tarde, após conhecer o espiritismo, em 1979, receberia uma comunicação mediúnica de sua mãe, através das mãos de Chico Xavier.
Ela expressava seu desejo de dar prosseguimento ao trabalho de auxílio que realizara quando encarnada.
Nasceria assim, em 1992, a Sociedade Espírita Everilda Batista, instituição onde Robson Pinheiro se dedica a actividades sociais e mediúnicas.
Fundador também da Casa dos Espíritos Editora, tem diversos títulos mediúnicos publicados, todos com os direitos autorais doados aos projectos de acção social e de divulgação espírita.


Última edição por Ave sem Ninho em Dom Fev 05, 2023 11:04 am, editado 2 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:54 pm

Sumário
APRESENTAÇÃO
O encontro
por Robson Pinheiro

PREFACIO
O livro da vida
por Alex Zorthú, o Indiano

PRÓLOGO
Peregrino do tempo
por Joana Gomides

CAPÍTULO 1 - Novas observações
CAPÍTULO 2 - A caravana
CAPITULO 3 - A morte e o morrer
CAPITULO 4 - Na Casa de Oração
CAPITULO 5 - A noite da alma
CAPITULO 6 - Vampirismo
CAPÍTULO 7 - Pesadelo
CAPITULO 8 - Terapia espiritual
CAPÍTULO 9 - Recordações do passado
CAPITULO 10 - A visita de Paulo
CAPÍTULO 11 - Converso íntima
CAPÍTULO 12 - Lágrimas
CAPÍTULO 13 - Novo nascimento
CAPÍTULO 14 - Slalom
CAPÍTULO 15 - Dores e paixões
CAPÍTULO 16 - Comunidade gospel
CAPÍTULO 17 - A teoria da incerteza
CAPÍTULO 18 - Preliminares
CAPÍTULO 19 - Reencarnação e vida
CAPÍTULO 20 - O passado ressurge
CAPÍTULO 21 - Entre o aqui e o Além
CAPÍTULO 22 - Nasce uma estrela
CAPÍTULO 23 - Um final diferente

EPÍLOGO
Retrato de uma vida por Joana Gomides
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:55 pm

Apresentação

O encontro por Robson Pinheiro

“O Sangue de Jesus tem poder”
Sinto-me confortável em publicar um livro que traga em sua temática a realidade das igrejas evangélicas.
Lembro com clareza meus dias de protestante, em Governador Valadares, região leste de Minas Gerais.
Era jovem, sonhava com meu primeiro traje, via-me pastor da igreja à qual me dedicava de corpo e alma.
O projecto dos espíritos, contudo, era outro.
O "demónio" manifestava-se à minha vidência desde a infância, e eu convivia com a mediunidade sem saber ao certo o que se passava.
Numa dessas tardes, na igreja, seria avaliado por um colegiado, que aprovaria minha solicitação de ingressar na escola de formação de pastores, no estado do Espírito Santo.
Mas o Divino Espírito Santo não estava comigo, pensava eu; e os demónios a me atormentar...
— Em nome de Jesus, você não fala! — eu, para o espírito que me acompanhava, após todos os esforços do pastor e do coral em expulsar o "diabo".
— Em nome de Jesus, eu já estou falando — insistia o espírito.
Vire para trás.
Quando ouço a instrução — daquele que, vim a saber mais tarde, era o mentor Alex Zarthú, o Indiano —, fico chocado com o que presencio.
Pela primeira vez, vejo o espírito falando através de minha mediunidade, e eu, impotente.
Tomado de estranheza, não me recordo do que se passou durante o transe, mas lembro-me perfeitamente da minha imediata expulsão daquela comunidade e da proposta espírita apresentada por esses mesmos "demónios".
Após longos anos de trabalho — esse episódio ocorreu em 1979 —, o espírito Ângelo Inácio, que já escreveu Tambores de Angola, entre outros, traz o romance Encontro com a vida, anteriormente editado com o título O transe.
Ângelo é, no mundo extrafísico, um dos coordenadores do jornal Spiritus (edição Casa dos Espíritos, fundado em 1997).
Nele apresentamos com constância textos psicografados por Ângelo, que se auto-intitula repórter do Além.
Dono de um estilo eloquente e vivaz, é fã de temas polémicos e palpitantes — como todo bom jornalista.
Em Tambores de Angola, preconceito, umbanda e espiritismo são o assunto em pauta.
Agora, numa narrativa ainda mais ousada e moderna — que deixa transparecer seu viés literário —, drogas, juventude e prostituição marcam a vida da protagonista, Joana Gomides.
Juntamente com Altina, sua mãe, mulher evangélica e cheia de fé, Joana vive nas páginas a seguir uma história de amor-acção, de superação de barreiras e limites em busca de uma vida mais plena.
Mesmo tendo chegado ao fundo do poço, não lhe faltaram amparo nem a mão amiga.
Há momentos em que Ângelo narra a história.
Em outros, ele empresta a voz narrativa à protagonista, Joana Gomides, a fim de transmitir a intensidade do enredo com mais propriedade.
Essa transição nem sempre está objectivamente demarcada, como no prólogo e no epílogo, porém fica patente à leitura mais atenta.
É que, ao sair do convencional, Ângelo preferiu contar com um leitor mais participativo, disposto a perceber subtilezas às quais nem todos estão habituados.
Encontro com a vida marcou minha vida profundamente, assim como a dos companheiros de trabalho da Casa dos Espíritos Editora e da Sociedade Espírita Everilda Batista, casa espírita à qual nos vinculamos.
Eles conheceram a obra ainda no prelo, antes mesmo de nascer completamente.
As chamadas "bonecas", rascunhos do livro, são como a ultra-sonografia — nós nos esforçando por ver a vida, o feto por detrás da imagem difusa.
Quero partilhar Encontro com a vida com vocês, no momento de dar à luz.
Cuidei do pré-natal, em parceria com a equipe Casa dos Espíritos, para que mais este filho possa estar hoje repousando sobre suas mãos, aguardando por você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:55 pm

Prefácio

Eis-me aqui novamente.
Depois da repercussão e da percussão dos tambores de Angola1, retorno ao convívio de vocês.
Sinto-me mais leve agora.
É que o instrumento mediúnico parece-me mais afinado depois de tantos barulhos, depois do ritmo e da cadência de sons dos tambores.
Creio que jamais me esquecerão entre os ortodoxos e os preconceituosos.
É que os tambores de Angola incomodaram as pretensões descabidas de muitos donos da verdade.
Retorno agora bem no início de um novo século, inaugurando uma literatura que fale de espiritismo, de espíritos, mas também de outros filhos de Deus que não são exactamente os espíritas.
O centro das atenções agora se transfere para as igrejas, para aqueles que se julgam salvos.
Encontro com a vida é a reportagem sobre uma vida, várias vidas.
Um relato que mostra o transe ao qual nos entregamos quando nos distanciamos de Deus ou quando adormecemos a nossa consciência.
Retorno à activa para falar de fé, de perseverança.
Aliás, não sou tão ortodoxo quanto a maioria dos autores desencarnados ou encarnados que disputam um lugar no ibope espiritualista.
Há muito que aprendi a não me envolver nessas disputas por um lugar especial nas prateleiras empoeiradas das bibliotecas de centros ou fraternidades.
Não faço pregação.
Prefiro fazer literatura, o que naturalmente não agrada àqueles que são apegados aos discursos doutrinários.
Por isso, Encontro com a vida não é um livro doutrinário.
É um relato de vida, de experiências e de valores.
Espero, meu amigo, que você possa apreciar esse tipo de literatura.
Talvez, nas entrelinhas, possa verificar quanto Deus age, quanto Deus fala, quanto Deus caminha nas próprias pegadas humanas.
Ou, mais ainda, não descobrirá — quem sabe? — que todos trazemos um átomo divino pulsando em nossos corações.
Não trabalhei com o óbvio.
É preciso sensibilidade e muita procura para transcender as aparências e encontrar-se com a vida de Joana Gomides, entrando em conexão com o espírito que se esconde atrás das letras.
O primeiro livro escrito pelo autor espiritual é Tambores de Angola, romance mediúnico que fala das origens da umbanda e do espiritismo.
Casa dos Espíritos Editora, 1998; 2a edição revista e ampliada em 2006. [Nota do editor.]
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:56 pm

O livro da vida por Alex Zarthú, o Indiano

O tempo escoa veloz sobre os acontecimentos das vidas humanas.
Um minuto na eternidade, e foi-se toda uma existência física.
Para os humanos o período que se mede entre o berço e o túmulo é enriquecido com o passar silencioso dos segundos e a impressão da sucessão interminável dos eventos.
Assim se passa a história da humanidade, e é dessa mesma forma que ocorrem as experiências individuais.
A vida humana é um livro de história em que cada página é escrita com as emoções da dor, do sofrimento, da alegria e do prazer.
Cada novo dia e todas as experiências vividas marcam indelevelmente as páginas de um novo capítulo nos dramas de todos nós.
Mudam-se as páginas, os dramas existenciais transformam-se ao sabor da vontade humana.
Novos capítulos são escritos diariamente mediante acertos e desacertos que o homem imprime nas páginas vivas que o tempo lhe proporciona escrever.
As ondas de luz, da luz imperecível, incumbem-se de tornar eternas as diversas histórias criadas, plasmadas e vividas pela humanidade.
Regista-se cada letra, cada símbolo do alfabeto vivo de nossas existências.
Nada se perde: nem um único detalhe, nem um único pensamento.
Às vezes os próprios seres que pisam o solo do planeta e interagem com o mundo onde vivem acabam se esquecendo dos detalhes que, somados, formam suas histórias.
Mas a luz, a luz imaterial, astral, eterna e imutável, regista os factos.
Absolutamente nada se passa sem que impressione eternamente os registos sensíveis do mundo oculto.
Tudo é luz. O homem é luz que se manifesta no mundo de forma consciente; e a consciência é a própria luz acrescida de sensibilidade, de inteligência emotiva, de emoção inteligente ou de luminosidade mental-emotiva.
Todo ser é luz.
Por isso, a história de uma vida sempre é possível de ser revivida, reavaliada e reprogramada.
Ocorre que cada um traz em si mesmo o registo de suas experiências transactas.
O tempo passa, abre-se o livro da vida, e as ondas de luz jorram de suas páginas à semelhança de uma cascata viva, que nos obriga a nos enfrentar, a realizar uma avaliação sincera de nossa conduta, de nossos valores.
Somos luz; somos luzes que orbitam em torno da luz maior, eterna, imperecível, imortal.
Nestas páginas, Ângelo Inácio apresenta-nos de forma brilhante a história de uma vida, ao levantar o véu da ilusão e mostrar-nos a sensibilidade de uma estrela.
A história é verdadeira, porém pode ser a história de qualquer um de nós.
É a história de uma estrela cadente que deixou seu trono de luzes e nublou-se por um momento em contacto com o pântano, para, logo após, voltar ao constelatório e descobrir-se pura luz, diamantífera, imperecível, filha de Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:57 pm

Prólogo

Peregrino, do tempo por Joana Gomides

Fui pedra, Fui areia, talvez até fui uma pedra bruta que tentava ser gente.
Eis que o meu espírito ouviu uma voz.
Não sei por quanto tempo durou a impressão.
Não sei mesmo se foi um som ou uma projecção dessa luz que tudo devassa, esquadrinha, aprofunda.
Não sei dizer ao certo. Não guardo a impressão do tempo.
Ouvi, eis apenas o que posso dizer.
Alguma coisa despertou dentro de mim, e vi-me na condição de uma criança que se deixa surpreender numa de suas brincadeiras ou estipulas.
Assim foi como o meu espírito despertou com uma voz que simplesmente me acordava, me trazia à vida, às minhas lembranças.
Alguma força irresistível me arrastava dos meus sonhos ou pesadelos para encarar a realidade.
Não tenho palavras para descrever a imensidão daquela força moral que eu sentia-me esmagar, me arrastar, talvez até me coagir a viver, reviver e tornar públicos os relatos de minha vida; despir-me de minha privacidade quanto às desgraças que um dia causei a mim e, com certeza, também a outros.
Senti-me viva novamente; desperta de um sono a que me entregara por vontade própria, numa fuga desenfreada que eu pensava ser a fuga da própria vida.
Eu tinha vergonha da vida.
E aquela voz suave, porém firme, arrancava-me dos meus loucos pesadelos e trazia-me de volta à realidade.
— Joana! Joana! — falava-me a voz nas profundezas de mim mesma.
Acorda, Joana; vem novamente reviver suas lutas, suas emoções.
É preciso enfrentar-se, é preciso coragem para viver.
De onde vinha aquela voz?
De quem era aquela força irresistível que me arrastava através dos porões do tempo e fazia-me rever cada passo de minha vida, que eu teimava em sepultar nas trevas de minha memória?
Não havia trevas, apenas luz.
Uma luz que teimava em arder e clarear por dentro de mim mesma.
E aquela voz da qual eu não podia fugir.
Eu não tinha como me esconder, tamanha a força moral de que ela se revestia.
Não adiantava lutar.
Era uma força inconcebível, que eu jamais pensara existir.
Talvez, essa era a força do amor, que só agora eu estava preparada para enfrentar.
Era a força moral de quem ama.
— Eu evoco o espírito de Joana Gomides, para que retorne das profundezas do tempo e restaure as experiências que tentou sepultar dentro de si mesma.
Eu sou a força que a arrasta das trevas do sepulcro e lhe traz a luz da consciência.
"Eu evoco o espírito de Joana Gomides, a ovelha desgarrada, a filha pródiga, o espírito imortal.
"Ressurja, Joana, e venha novamente à luz trazer ao mundo uma parcela de sua vida, um capítulo de sua história.
Sou eu, a luz que dilui as trevas da inconsciência e torno minhas as suas experiências, pois que eu as vivo juntamente com você.
Eu sou a força viva que a sustenta para que você enfrente a própria história e reviva cada acto do drama de sua vida.
Eu sou aquele de quem você não pode se esconder.
Sua mente é minha mente; seus pensamentos são meus pensamentos.
Eu albergo seu espírito na irradiação de minha alma e o conduzo para a verdadeira ressurreição da vida..."
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:57 pm

Eu ouvia tudo como alguém que era arrancado das sombras da inconsciência, ou dos tormentos de um pesadelo.
Eu era obrigada a ouvir e ceder.
Eu me deixava embriagar naquela luz; afinal, eu era também uma luz.
— Volte, Joana, retorne a si mesma.
Eu a evoco como se evoca a maior força do universo, a força do amor.
Eu a evoco, mas evoco também as suas experiências, a sua memória, o rastro de eternidade que se deixou nublar na poeira do tempo.
Eu a tomo pelas mãos e a trago em meus braços para a luz da consciência...
Eu acordei, despertei de um sono que não se mede pela duração, mas pela profundidade.
Em minha volta, apenas luzes.
Uma, duas, três, muitas, mas muitas luzes.
Não conseguia ver direito diante de tanta força que irradiava daqueles focos de luz. Era uma constelação.
E eu me diluía em pranto, deixava-me inebriar nas ondas de amor, às quais não podia resistir.
Senti vergonha, a princípio.
Mas, depois, até mesmo a vergonha se diluiu, como eu diluía a minha alma.
O tempo parecia não existir para mim.
O tempo era apenas um átomo que se perdia no vasto campo da eternidade.
Minha mente era plenamente aceita e despertada pelas outras mentes que me recebiam, que me chamavam.
Eu já não me sentia culpada, e o remorso pelo que fui, pelo que fiz, se transformava em um sentimento que mesmo agora eu não saberia definir.
Sei apenas que eu pairava, opaca, fraca e bruxuleante, mas eu também era uma luz, uma chama entre os sóis.
Eu era uma filha de Deus.
As imagens de minha vida foram se passando diante de mim.
Sozinha não teria como descrevê-las.
Não poderia, tamanha a emoção que dominava o meu ser.
Por isso sou ajudada, sou envolvida, sou impulsionada por uma força externa, ou será interna?
Só sei que algo me induz a rever o passado, e a minha memória parece deslocar-se no tempo.
Sinto-me diluir entre os mundos e minha alma vagar entre as estrelas; sinto que cada mundo é uma lembrança, que cada estrela é uma vida, que cada constelação representa a experiência que vivi num mundo chamado Terra.
Fui poeira entre os caminhos.
Vivi a pedra, vivi a vida.
Sonhei, aquecida no interior da Terra.
Mineral entre os minerais.
Minha força interna, bruta e rudimentar, movimentou os átomos e atraiu os cristais.
Eu vivia. Eu vibrava, mas não sabia.
Fui algo indefinível, talvez apenas uma célula, um átomo de vida, e me vi entre os vegetais.
Uma planta, uma folha, talvez de trepadeira.
Ou, quem sabe, eu tenha vibrado à sombra de um penhasco, de uma ribanceira, como uma grama, uma plantinha que se arrastou durante a sua vida inteira, sonhando, sem saber, em um dia se transformar numa linda estrela tremeluzindo na amplidão.
Apenas talvez...
Fui fera entre os animais.
Perdi-me entre as pradarias, nos campos, nas montanhas, nas florestas.
Senti a vida vibrar, o sangue ferver, os olhos saltarem diante das experiências de ser, mesmo sem saber.
Eu era a força indomável dos animais.
Eu me transformei em mil formas e mil vidas, mas também voei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:58 pm

Sim! Isso mesmo, eu voei nas asas do beija-flor, nas asas da gaivota e aprendi a cantar, a bailar, aprendi a viver na forma de uma mulher.
Eu precisava de colo, de aconchego e de carinho; por isso eu me deixei atrair para um recanto de amor e aos poucos eu me vi aquecida num corpo bem quentinho, que também oferecia algo que antes eu não conhecia.
Eu fui aquecida na presença do amor.
Mas também conheci a dor, o pranto, o sofrer.
Vivi assim, mil dramas, mil formas, mil vidas.
Enfim, eu sou a soma de mim mesma, sou uma luz pequenina.
Se a algo posso me comparar, sou simplesmente um sapo que sonha, em seu pântano particular, com o brilho das estrelas.
Eu revia a minha vida, conhecia cada detalhe de minhas experiências.
A força irresistível que me trazia da escuridão de mim mesma é a mesma que me fazia rever, relembrar, contar novamente e chorar de saudades.
Vi a Galileia, ouvi os salmos de Davi, cantei entre os bárbaros, sonhei entre os párias.
Eu fui a semente de mim mesma. Semeei e fui semente.
Revia a minha vida, e o que vi me assustou.
Vi inúmeras realidades, reavaliei imensas possibilidades de caminhos diferentes e ousei sonhar também. Ah! Como sonhei.
Sonhei ser uma sacerdotisa do sol, num tempo recuado e esquecido em que o mundo tinha uma outra face e as estrelas não eram as mesmas de agora.
Vivi entre os filhos de Atlântida.
E antes disso eu vivi; e depois de tudo eu vivi; e mais ainda eu viverei.
Vi os exércitos dos selêucidas, vi as armas do infame Sigismundo; fui selvagem nas Américas e agora sou eu, Joana, que retorno para reviver, para relatar, para descrever a história de minha vida arrolada nas páginas do tempo.
Sou uma luz entre as luzes, sou uma filha de Deus, peregrina da eternidade.
Sou eu, Joana Gomides.
Ah! Como eu morro, aliás, como eu vivo e sobrevivo de saudades; de saudades de mim mesma, de quem fui, de quem serei.
Talvez, saudades das estrelas..
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:58 pm

1 - Novas observações

A vida me ensinou o ser mais sensível.
As lições que aprendemos na vida são bênçãos do Alto para o nosso crescimento espiritual.
Desde que comecei a pesquisar a respeito da religiosidade do homem, deste lado da vida, cresci muito.
Sempre deparo com situações ou pessoas que têm muito a me oferecer em conhecimento.
Quando fiz meus apontamentos a respeito da umbanda, aprendi lições de humildade e fraternidade que até hoje repercutem em minha alma de maneira intensa.
A simplicidade e a sabedoria dos trabalhadores da umbanda me comovem ainda hoje.
Agora, no entanto, fui convidado a observar outros campos de actividades.
Numa reunião na Casa da Verdade, conheci o instrutor Ernesto.
Os estudos se realizavam em torno da espiritualidade do povo brasileiro e suas expressões de religiosidade.
A Casa da Verdade era uma universidade, onde estudávamos todo o conhecimento religioso que até então o Alto enviara à Terra.
Estudávamos desde as primeiras manifestações do conhecimento, nos primórdios da humanidade, até as dos dias atuais, quando as luzes do Consolador iluminavam as vidas humanas na revelação eterna do espiritismo.
Ernesto convidou-me a fazer algumas anotações a fim de, mais tarde, poder ser útil a alguém.
Afinal, através das observações anteriores, algumas pessoas foram esclarecidas.
Não poderia perder tamanha oportunidade de trabalho e aprendizado.
Assim, eu ouvia as observações do instrutor espiritual, para aquela assembleia de espíritos:
— Meus amigos — falava Ernesto — muitos de nossos irmãos na Terra, quando encarnados, não têm a mínima noção da vida espiritual.
Ignoram completamente a realidade do espírito e permanecem presos a velhas concepções terrenas.
Limitam-se, muitas vezes, a lições elementares de religião nos moldes ortodoxos, fechando as portas da compreensão para outras expressões da verdade.
"Assim, encontramos companheiros que estagiam nas chamadas religiões cristãs engalfinhando-se, tentando provar que a sua visão da vida é a mais correta.
Outros, que se dizem apologistas da fé cristã, se arvoram em carrascos da fé alheia, julgando que possuem um lugar especial no paraíso, em detrimento dos outros que não pensam como eles.
Nos meios considerados mais espiritualizados presenciamos a lamentável ignorância a respeito da essência dos ensinamentos dos mestres e mentores da espiritualidade.
Muitos dos que se dizem espiritualizados ainda teimam em manter as acanhadas posturas que geraram o pensamento religioso ortodoxo, criando seitas de seguidores fanáticos ou extremistas.
Ainda impera a intolerância em toda parte.
"Somos convidados a contribuir para a nova etapa de conhecimento a que está destinada a humanidade, com a implantação de uma mentalidade mais ecléctica, universal ou holística.
A religião do futuro é a do amor.
E só podemos entender o amor através das expressões de fraternidade.
"Com o conhecimento espiritual, é impossível permanecermos ligados ao atavismo milenar das religiões humanas.
É preciso renovar a face do planeta com o conhecimento integral.
Necessitamos de espíritos para servir, cuja mentalidade esteja acima dos limites estreitos e separatistas das religiões criadas pelo homem.
A urgência da hora que se avizinha exige de cada um de nós uma postura diferente daquela a que nos acostumamos ao longo dos séculos.
'A própria mensagem do Consolador nos traz uma proposta diferente, embora alguns de seus representantes ou seguidores encarnados ainda permaneçam atados a antigos dogmas, disfarçados de roupagens novas.
É hora de renovar. E para renovar é necessário conhecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 10, 2016 12:58 pm

Para conhecer é preciso pesquisar, dedicar seu precioso tempo aos labores do conhecimento, iluminados pela luz do sentimento e do bom senso.
"A Terra corre o risco de se ver levada pelo fanatismo religioso, base de muitos abusos e crimes perpetrados no passado como no presente.
Nossos estudos visam ao esclarecimento das consciências para o despertamento da necessidade do autoconhecimento."
Ernesto falava-nos na assembleia, enquanto acima e em volta da multidão de espíritos eram mostradas imagens que ilustravam sua exposição.
Às vezes mantínhamos os olhos fechados, mas percebíamos as irradiações mentais do nosso instrutor, que se faziam perceptíveis através da ideoplastia.
Os fluidos reflectiam perfeitamente os pensamentos do iluminado mentor.
— As imagens que vocês vêem não são meras criações de nossa mente para ilustração do tema de hoje.
São reflexos de cada um de vocês, do sentimento religioso que cada um experimentou ao longo dos séculos e dos anseios de espiritualização de cada um — falou Ernesto.
Sua palavra esclarecedora continuou por algum tempo a nos iluminar interiormente, despertando em nós um sentimento como eu não experimentava há muito tempo e, é claro, a minha natural curiosidade a respeito do assunto.
Terminada a exposição do instrutor, procurei-o para alguns esclarecimentos a respeito do tema e fui amorosamente recebido.
Após algumas respostas às minhas dúvidas, aventurei-me a perguntar:
— Não seria interessante alguma excursão à Crosta para observações e aprendizado?
— Certamente, meu amigo, e asseguro-lhe que em breve estarei, eu mesmo, participando de uma caravana em direcção à Terra.
Quem sabe você não gostaria de participar? — falou o instrutor.
Teremos a oportunidade de estudar alguns casos que nos requerem imediato concurso, num dos segmentos religiosos dos nossos irmãos encarnados.
— Com certeza será de imenso valor, para mim, a participação em tarefa semelhante — falei.
— Fiquei sabendo de suas últimas observações junto aos companheiros umbandistas.
Fiquei feliz, Ângelo, pois seus apontamentos se mostraram valiosos para muitos companheiros.
Espero que a sua participação em nossa caravana seja também proveitosa.
Acredito que terá inúmeras oportunidades e poderá, no futuro, transmitir algo para nossos irmãos na Crosta.
Portanto — acrescentou — seja bem-vindo à nossa turma.
Para um espírito acostumado a pesquisas e ao estudo, essa era uma oportunidade imperdível.
Minha curiosidade era imensa, e meu espírito de jornalista despertava.
Eram mil e uma ideias a serem estruturadas.
Não tinha mais tempo a perder.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:46 am

2 - A caravana

€u o procurava. Mesmo não o encontrando à minha volta, mais o mais eu errava, por ruas, caminhos e atalhos.
Nossos preparativos terminaram.
Exercícios de mentalização e alguns estudos em relação à tarefa que teríamos pela frente eram, na verdade, o que precisávamos.
Uma preparação íntima.
Não poderíamos de forma alguma deixar que nossos posicionamentos interferissem no trabalho.
Eu, particularmente, era apenas um estudante, e não seria permitido que minhas observações, se fossem impróprias, interferissem.
Deveria estar preparado intimamente.
Era intensa a movimentação de nosso lado.
Muitos espíritos queriam participar da caravana, mas outras actividades que desempenhavam os impediam no momento.
Entre as cintilações das estrelas, partimos para o plano dos encarnados, vencendo, aos poucos, os limites vibratórios.
Muitos companheiros julgam que, pelo facto de sermos espíritos, é fácil ir e vir entre os dois planos da vida.
Enganam-se. Enfrentamos dificuldades que eles estão longe de imaginar.
As criações mentais dos encarnados e dos desencarnados que ainda se encontram intimamente apegados às questões grosseiras interferem de tal maneira em nossas actividades que muitas vezes temos que realizar esforços imensos para anular os resultados de seus pensamentos, antes de realizarmos alguma acção espiritual.
Muitos esperam que seus mortos venham ao seu encontro imediatamente após o desenlace físico, ignorando as dificuldades enfrentadas por eles.
Não se preparam mentalmente, e, às vezes, suas criações mentais, seus sentimentos e emoções descontroladas causam barreiras difíceis de serem vencidas, pois, em nosso plano de vida, a mente é a base de toda criação, e o sentimento dá vida e movimento às formas fluídicas que porventura venham a ser criadas.
A mente invigilante imprime nos fluidos uma espécie de aura pesada, com intensificação de determinada carga tóxica, causando dificuldades para os desencarnados em suas actividades.
Nesses casos, faz-se necessária a limpeza fluídica do ambiente extrafísico, o que nem sempre é fácil para nós.
A imensa maioria da humanidade, desapercebida das questões espirituais e não se importando com o controle das fontes do pensamento, plasma constantemente formas mentais negativas.
A atmosfera psíquica da Terra é ainda muito pesada e pode dificultar muitas de nossas actividades.
Como lidamos com os fluidos, a matéria mental e a energia, vocês podem imaginar como às vezes é difícil vencermos as barreiras vibratórias que separam os dois planos da vida.
É preciso, de acordo com a tarefa a ser desempenhada, realizar uma espécie de varredura, com a projecção de fluidos em alta intensidade.
Para vencermos o peso vibratório da matéria mental criada em torno do ambiente terreno, é necessário às vezes recorrermos a outras equipes de espíritos.
Nem sempre se consegue vencer totalmente as dificuldades.
Nossa caravana foi aos poucos se aproximando da Crosta, acima da capital paulista.
Baixamos nossa vibração perispiritual, vencendo momentaneamente a barreira dimensional e tornando nossa aparência mais opaca, a fim de podermos trabalhar nos fluidos pesados da atmosfera terrena.
Sob o influxo do pensamento de Ernesto, volitamos em direcção ao centro da capital.
A impressão que tínhamos é a de estar caindo, embora mais lentamente, rumo ao solo do planeta.
Pairávamos como uma pluma, mas sentindo a força da gravidade influenciar, até certo ponto, em nossa volitação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:47 am

Os fluidos da atmosfera pareciam carregados de uma fuligem, de tal maneira que pareciam pesar em nossos corpos espirituais.
Quando percebi o que acontecia, o instrutor Ernesto convidou-me:
— Observe mais detidamente, Ângelo; veja o espaço abaixo de nós.
Agucei as minhas percepções espirituais e, quando fixei mais detidamente o olhar, vi algo que dificilmente conseguirei descrever com perfeição de detalhes, devido mesmo ao vocabulário pobre de que disponho.
Abaixo de nós, sobre a cidade, além das luzes que avistávamos, parecia que uma teia, semelhante às de aranha, se espalhava por regiões imensas, nos bairros e em determinados pontos no centro da capital.
Era como uma malha finíssima de uma negritude aterradora, que se entrelaçava sobre diversos lugares onde se aglomeravam os homens.
— Observe mais — falou o amigo espiritual.
Notei que, em alguns lugares, essa coisa semelhante a malha estava mais intensamente envolvendo certos prédios, ou até mesmo bairros inteiros da metrópole.
Em outros lugares, parecia desprender cargas eléctricas em variada intensidade.
Outras vezes desprendia algo parecendo algum gás, que era absorvido por desencarnados e mesmo pelos encarnados.
Relâmpagos ou cintilações de energia se faziam perceber, transmitindo-se através dos fios tenuíssimos da rede fluídica.
Em alguns lugares, parecia que a malha se entrelaçava em construções também fluídicas, naturalmente imperceptíveis para os encarnados.
Essas construções fluídicas se justapunham às construções do plano físico.
Boquiaberto, ouvi a explicação do nosso mentor:
— Essa rede de fluidos ou de energia é o resultado da criação mental de entidades trevosas, que a alimentam com as criações infelizes de encarnados e desencarnados em desequilíbrio.
Forma-se uma espécie de cúpula energética sobre as construções dos nossos irmãos encarnados, a qual envolve, como vê, bairros inteiros.
Conhecemos casos em que toda a cidade se encontra envolvida com tais criações.
"Homens invigilantes muitas vezes contribuem com as mentes desequilibradas de entidades das trevas, que se utilizam dos fluidos densos criados pelos encarnados.
A malha fluídica, invisível aos olhos físicos, funciona como uma espécie de campo psíquico.
Sugando as reservas de energias das pessoas, essa rede faz com que sejam envolvidas nas próprias criações mentais, como se vivessem numa estufa, em que os clichés criados pelos pensamentos desequilibrados ganham vida própria.
Sua localização corresponde às regiões onde os espíritos comprometidos com o mal se reúnem com mais frequência; onde o vício e a violência dominam; onde seus habitantes se sintonizam mais intensamente com propósitos menos elevados."
— Mas os desencarnados mais esclarecidos não podem retirar a tal rede de energia mental, livrando os homens de sua influência destrutiva? — aventurei-me a perguntar.
— Como podemos interferir no livre-arbítrio dos homens? — respondeu Ernesto.
Depende da postura mental de cada um a espécie de ajuda que obterão.
Com certeza detemos possibilidades de retirar essa energia pesada, mas de nada adiantará, pois ela será novamente criada e mantida pelas mentes invigilantes e infelizes.
Quase todas as metrópoles da Terra são envolvidas em malhas como esta, pois muitas falanges de espíritos do mal, obsessores, cientistas ou magos das trevas se utilizam de recursos semelhantes.
Aproveitam o alimento mental dos homens para nutrirem suas criações diabólicas, tentando impedir o progresso ou mesmo executando seus planos de vingança.
Somente uma acção mais drástica ou intensa das forças soberanas da vida poderá libertar o homem da carga tóxica e negativa que o envolve.
Naturalmente que esses recursos são atraídos pelo próprio homem, pois os habitantes da Terra se recusam, em sua maioria, a ouvir os apelos santificantes do Alto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:47 am

Fazem jus a processos mais intensos de aprendizado.
Até que despertem de sua letargia espiritual, continuarão vítimas de suas próprias criações mentais inferiores.
Silenciei qualquer comentário a respeito, uma vez que precisava meditar mais sobre o assunto.
Dirigimo-nos para determinado bairro da capital, em direcção a uma igreja protestante.
Nosso objectivo era auxiliar uma companheira a que Ernesto havia se afeiçoado em sua última existência física.
Agora, reencarnada, rogava por socorro.
Participava de uma igreja evangélica e, em suas orações sinceras, buscava o auxílio de Deus para suas dificuldades.
O companheiro espiritual que a orientava encaminhou suas rogativas até nossa colónia, pedindo resposta imediata.
O instrutor Ernesto procurou imediatamente servir e organizou uma caravana de auxílio.
É claro que a oportunidade que se apresentava oferecia campo para observações e estudos.
Eis a razão de minha participação nesta tarefa.
Em nossa jornada avistamos espíritos que ainda se encontravam apegados às vibrações físicas.
Permaneciam como quando encarnados.
Acreditavam que ainda pertenciam ao mundo dos chamados vivos.
Eram bandos de entidades que irradiavam, em suas auras, cores escuras; na aparência, em tudo se assemelhavam aos nossos irmãos encarnados.
Entravam nos veículos e promoviam uma verdadeira confusão no trânsito.
Motoristas ficavam nervosos por qualquer coisa; irritavam-se à menor contrariedade.
Eram incitados por tais espíritos, que se apegavam a eles, muitas vezes influenciando-os mentalmente, sem saberem ao certo da sua própria condição de desencarnados.
Outras vezes, encontramos um bando de entidades que não se preocupavam com sua situação de ociosidade.
Iam e vinham, de um lado para outro, aproximando-se de alguns homens, sugando-lhes as energias ou absorvendo-lhes a fumaça dos cigarros, como também os fluidos das bebidas.
Eram espíritos que se aproveitavam das circunstâncias para saciarem seus vícios; talvez até conscientes, permaneciam apegados aos habitantes da esfera física.
Quem observasse como nós veria duas populações:
uma de homens e outra de espíritos.
Conviviam no mesmo espaço, embora em dimensões diferentes.
Era realmente estranho observar como os encarnados não percebiam que eram literalmente atravessados ou que atravessavam os desencarnados.
Duas faces de uma mesma vida.
Curioso, eu observava o fenómeno, quando nosso instrutor me chamou a atenção, pois estávamos nos aproximando do templo para o qual nos dirigíamos.
— Preste atenção, Ângelo; você não pode perder esta oportunidade de observação.
Veja o que se passa em sua volta e anote suas impressões.
Estávamos nos aproximando da igreja evangélica.
Vi que uma quantidade imensa de espíritos ia e vinha em direcção ao templo.
Fixei bem a visão e pude notar que, da construção física, partiam fios prateados em direcção à atmosfera.
Em determinado momento esses fios se cruzavam, formando um maravilhoso espectáculo de luzes e cores, e irradiações cristalinas desprendiam-se da cúpula do templo, caindo sobre os espíritos que se dirigiam para aquele local de culto.
— Essas irradiações — falou Ernesto — são o reflexo das orações dos fiéis, que sobem até certo ponto.
Quando se entrelaçam com as cintilações coloridas, é o momento em que os mentores ou responsáveis por nossos irmãos que frequentam o culto irradiam seus pensamentos elevados, aumentando a sintonia e elevando o padrão vibratório das preces.
É um espectáculo de rara beleza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:47 am

— Mas como os espíritos atuam nesses agrupamentos evangélicos, se estes consideram o espiritismo obra do demónio?
Naturalmente, para eles, os espíritos são o próprio diabo.
Como trabalhar no meio deles, sem despertar sentimentos contrários?
— Cada um tem o direito de pensar o que quiser — falou o instrutor.
— Mas convém observar que espiritismo é uma coisa e os espíritos são outra. O primeiro é uma doutrina, nós somos individualidades.
Caso os companheiros protestantes nos tenham na conta de demónios, isso é apenas por desconhecerem a nossa realidade.
Não o fazem por mal. Têm as suas convicções religiosas, que merecem respeito de nossa parte; mas isso não nos impede de trabalhar pela causa do Mestre, embora em ambiente diverso.
Mas isso tudo é apenas uma expressão da realidade com a qual convivem os evangélicos.
Entre eles, existem muitos médiuns; porém, os nomes são outros.
Denominam-se profetas e, ao fenómeno mediúnico, chamam de dons do espírito, pois, dizem, estão baptizados com o Espírito Santo.
Quando se encontram mais sensíveis e podem vislumbrar o plano extrafísico, dizem que têm visões.
Observam a acção de algum desencarnado em vibração elevada e acreditam ver anjos, que na verdade são mensageiros da vida.
Quando presenciam a acção nefasta de algum companheiro menos esclarecido do nosso plano, imediatamente identificam nele o demónio.
É apenas uma questão de nome, de vocabulário.
Para nós, o que importa é a tarefa a desempenhar em nome do eterno bem.
Como nos chamam ou o que pensam a nosso respeito não nos interessa, devido ao trabalho que temos de realizar.
São irmãos nossos que, apesar de não pensarem como nós, estão a caminho do Alto, em fase de aprendizado que merece respeito de nossa parte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:47 am

3 - A morte e o morrer

Vivi, errei e amei. Morri e renasci.
Quem está gritando?
— É a Joana, Dr. Roberto.
A moça que veio do interior e parece ter entrado em estado terminal.
Os gritos aumentaram, parecendo associados a outros gritos que vinham lá de fora.
A enfermeira olhou para o médico e acrescentou:
— Desta vez é a mãe da Joana.
Não se conforma que a filha esteja no fim.
Afinal, ela tem apenas 28 anos de idade.
Tinha uma vida toda pela frente.
— Não me parece que tivesse um futuro promissor — respondeu o médico.
— Neste estado em que se encontra não podemos imaginar muita coisa boa, mas ela nem sempre foi assim, não concorda?
Posso falar com a mãe dela?
— Bem, você se sinta à vontade.
De minha parte, eu apenas cuido da paciente.
A mulher estava aflita, tresloucada.
A vida da filha parecia fugir a todo vapor, e ela não sabia o que fazer.
Arlinda, a enfermeira, dirigiu-se à porta à sua frente e saiu numa ante-sala, onde a pobre mulher estava ao lado da filha semimorta.
Sobre uma maca estava o que restava do corpo da moça, coberto com um lençol azul-claro.
A mãe, desesperada, postara-se ao lado do corpo raquítico, alisando os cabelos da filha, que, ao que parecia, estava nos últimos momentos de sua vida.
Mesmo com o socorro de Arlinda, a pobre mulher continuava chorando, quando o Dr. Roberto apareceu no umbral da porta.
— Não adianta chorar, minha senhora.
Daqui a pouco a senhora estará passando mal, e, aí, serão duas pessoas a reclamarem cuidados.
— Por favor, doutor! — falou a mãe desesperada.
É a minha única filha, ajude-a!
Não tenho ninguém mais por mim neste mundo!
Ajude-a, por favor!
— O caso dela é difícil, minha senhora.
Veja o seu estado. Está com dificuldades de respirar.
Na verdade, ela só respira devido ao aparelho.
É questão de horas, o seu fim.
É melhor a senhora se acalmar.
O estado da moça era caótico.
Parecia estar no estágio final.
A pobre mãe orava desesperadamente, pedindo forças ao Alto.
Conforme sua crença, rogava pelo poder do "sangue de Jesus".
— Espere — falou o médico. — Ela parece estar lutando para sair deste estado.
Vou chamar outros médicos para ajudar.
Dr. Roberto parecia animado, de repente, por uma força estranha, desconhecida.
A mãe parou imediatamente sua oração improvisada e, ajoelhando-se a um canto do apartamento, pôs-se a orar com mais calma, pedindo ajuda aos céus.
Parecia que estranha força se derramava sobre o ambiente.
Caso pudessem ver, perceberiam entidades luminosas que acorriam em favor da moça.
Mãos invisíveis traziam o bálsamo celeste, em resposta às rogativas da mãe aflita.
Médicos e enfermeiros corriam de um lado para outro, tentando, a todo custo, dar socorro à paciente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:48 am

Algo acontecera com a moça, que animava as expectativas dos médicos.
— Fique tranquila, minha senhora — falou um dos médicos.
Nos esforçaremos para devolver-lhe sua filha.
Se acredita em Deus, peça-lhe para usar nossas mãos.
Tentaremos o que for possível.
A cena que se passava no ambiente era um verdadeiro espectáculo de fraternidade e cooperação espiritual.
As mãos invisíveis dos mensageiros celestes se justapunham às mãos dos médicos terrenos.
Outros espíritos utilizavam-se de recursos fluídicos, inspirando enfermeiros e médicos a indicarem medicamentos eficazes para o socorro imediato de Joana.
A mãe, mais esperançosa, orava sem cessar.
Os anjos, como acreditava, trariam o socorro celestial e salvariam sua filhinha das garras da morte e do inferno.
Quando foi socorrida no hospital e sua vida fora salva, já se haviam passado 12 horas desde o momento em que ela havia injectado uma dose mais intensa de droga.
Joana havia chegado ao fundo do poço e não podia culpar ninguém por isso, a não ser a si mesma.
Não poderia lançar a culpa em outra pessoa.
Mesmo que houvesse dividido suas experiências com a turma da pesada, não poderia dizer que a culpa não fosse dela.
António, que considerava seu companheiro, lhe iniciara nas drogas, quando era mais jovem.
Certa vez ele até tentara recuperar Joana, mas, não encontrando forças, sucumbiu ele próprio.
Outra companheira de drogas, Verónica, estava ao lado de Joana quando ela tomou a droga.
Mas parece que fugira, escondendo-se em algum lugar distante.
Era difícil para ela, e para qualquer um, ser encontrada perto de uma pessoa que morrera de overdose.
Como explicar para a polícia?
Naturalmente, Verónica achou que Joana havia morrido e então abandonara o seu corpo naquele lugar nojento e imundo.
Joana teve algumas sensações enquanto esteve no hospital.
Sonhos, visões e vozes pareciam atormentar-lhe o tempo todo.
Parecia que ela mergulhara num pesadelo de algum louco e se debatia em meio a sombras grotescas.
Só não sabia que a louca era ela própria.
Parecia estar presa em um mundo totalmente diferente.
Tentara várias vezes abrir os olhos; não conseguia.
Mas ela via; via os médicos, enfermeiros, sua mãe.
Ah! A pobre mãe! Como sofria por Joana.
Mas o seu raciocínio perdia-se em meio às imagens e aos sons estranhos, vítima que era de sua própria insanidade.
Em determinado momento o pesadelo passava, e, em lugar dele, mergulhava num sonho diferente.
Via lugares, cenas e paisagens que passavam diante dela.
Ou será que estavam dentro dela?
O certo é que Joana percebia que algo diferente acontecia.
Via uma luz, a princípio pequena e fraca; depois mais intensa.
Resolveu, em seu sonho, seguir aquela luz, e isso parecia ser a sua única esperança, sua âncora de salvação.
Esforçou-se por seguir o estranho foco de luminosidade.
Novas forças pareciam animar seu ser.
Firmou aos poucos sua vontade e seguiu a luz.
Encontrou sua mãe. Abriu os olhos e a viu.
Estava ajoelhada num canto, parecia rezar.
Joana tentou erguer-se do leito, mas estava muito fraca, não conseguia.
Via apenas, com muito esforço, a figura de sua mãe; parecia chorar baixinho e orar, ao mesmo tempo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:48 am

A luz que vira irradiava-se dela.
Fechou os olhos novamente, naquele momento, pois lhe faltavam forças para mantê-los abertos.
Quando os abriu novamente, viu as luzes no tecto; virando-se aos poucos, percebeu em que ambiente se encontrava.
Ao lado da cama, ou da maca, um pedestal mantinha uma espécie de tubo que se ligava ao seu braço direito.
Na ponta do tubo Joana viu o recipiente cristalino, com um líquido dentro.
Ela estava num hospital e estava sendo medicada.
Era o soro que agora entrava pelas suas veias, tentando a recuperação de suas forças.
Sabia que algo grave havia acontecido com ela. Estava internada.
— Que coisa ridícula! — falou com voz rouca e fraca.
Esforçou-se para recordar os últimos acontecimentos de sua vida.
Estava difícil.
Parecia que a droga tinha um efeito prolongado sobre a sua mente.
Era difícil até raciocinar.
Joana sentiu falta da droga.
Parecia que algo a corroía por dentro lentamente. Desejava drogar-se.
Pensou que com a última experiência morreria.
Na verdade, desejara morrer.
Mas estava viva.
Não sabia como, mas estava viva.
Tentou se libertar do leito, mas não conseguiu.
Não tinha muita força para tentar.
Desejava ardentemente uma dose de droga.
Todo o seu corpo necessitava dela.
Mas não era a hora, e nem o lugar.
Ali tinha agulhas, mas de nada serviriam.
Eram apenas para canalizar o soro até suas veias.
Joana mais uma vez tentou se mexer, mas o que conseguiu foi apenas tirar a agulha, causando um pouco de estrago em seu braço.
O sangue gotejava da veia, molhando o lençol.
Joana balbuciou um palavrão.
Naquele momento sua velha mãe se levantou e olhou para ela extasiada.
— Você está bem, minha filha? Você está bem?
Ah! É você mesma, minha querida.
Minhas orações foram ouvidas.
Obrigada, meu Deus, muito obrigada.
Sua mãe a tocava, orando e agradecendo aos médicos, aos anjos e a Deus, pelo retorno de Joana à vida.
Joana não tinha certeza se era realmente a vida, mas retornara para prosseguir suas novas experiências.
O tempo passou na lentidão das horas difíceis, e transcorria tudo conforme as escolhas de cada um.
O tempo diluía-se nas horas.
Alguns meses depois, já com a saúde relativamente recuperada, Joana dirigiu-se a um barzinho.
Parece que o ambiente pesado daquele lugar a atraía.
O vício chamava-a para os seus braços.
E, junto com o vício, a prostituição.
Sim, a sintonia com aquele local a fazia chegar lentamente à mesma vida de antes.
Somente uma força maior poderia tirá-la daquele pesadelo.
— Tem que ser algo muito forte, que supere a experiência dolorosa pela qual eu passei — pensava Joana.
Parece que desci ao mais profundo do abismo.
A morte me rejeitou, e eu retornei para novo aprendizado.
Tornei-me tão abjecta, tão mesquinha comigo mesma que não consegui nem morrer.
Deus? Não passava pela mente de Joana nem a leve possibilidade de sua presença ou existência.
Deus não existia para Joana.
Ela queria mesmo era retornar para as ruas, para a vida, para os "amigos" de antes.
Desejava, ansiava, enlouquecia de vontade.
Ela não mudara nem um pouco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:48 am

4 - Na Casa de Oração

Fui também à igreja, mos, com uma pedra no lugar do coração, não me sensibilizei com as orações, os cânticos, as pregações.
O templo estava repleto de gente naquela noite.
Era uma casa simples, mas a construção espiritual que se justapunha à do plano físico era realmente soberba, pela paz que irradiava.
Para quem olhasse, dir-se-ia que urna moderna construção se erguia em nosso plano sobre a casa singela que era a Casa de Oração.
Os fiéis se dirigiam todos ao seu lugar e, depois de breve cumprimento aos irmãos de fé, ajoelhavam-se para orar.
Um silêncio comovedor dominava a nave da igreja.
Um certo brilho parecia reflectir de móveis e objectos, formando uma aura magnética, irisando o ambiente de luzes com nuances indescritíveis.
Olhei para o nosso instrutor, e ele me socorreu:
— Não, Ângelo! Você não está numa casa espírita.
Veja como o clima de oração produz um ambiente calmo e de energias balsamizantes.
Este templo religioso é um dos departamentos da grande escola de libertação das almas.
Como em todas as religiões, estes irmãos que aqui se reúnem trazem a sua contribuição para o aperfeiçoamento da obras do bem, na implantação do reino do amor na face da Terra.
Apontando em direcção ao púlpito, local onde o pastor realizaria sua pregação, Ernesto indicou certa senhora, de aparência simples, que naquele momento se ajoelhava para orar.
Aproximamo-nos dela, e Ernesto deixou-se trair por uma discreta lágrima que descia de seus olhos.
— Esta é Altina Gomides, companheira muito dilecta do meu coração.
Estivemos juntos em várias encarnações, mas foi em nossa penúltima existência que estreitamos ainda mais os laços de afecto que unem nossas almas.
"Altina foi minha mãe na existência a que me refiro.
Na época, tínhamos sob nossa tutela um espírito, disfarçado sob o manto familiar como irmã nossa, bem-amada.
"Nós a adoptamos junto ao coração, mas ela conservava-se arredia, não se integrando aos costumes familiares.
Preferia permanecer nas ruas, à cata de emoções mais fortes e experiências menos dignas.
Veio a desencarnar a pobrezinha, colocando-se em situação difícil.
Altina, que na época chamava-se Henriqueta, desencarnou mais tarde, vítima de doença desconhecida.
Eu segui anos depois, e nos reencontramos deste lado de cá da vida.
"Henriqueta assumiu novo corpo físico e, no tempo devido, recebeu nossa querida Efigénia, a alma que adoptáramos como irmã, naquela existência.
Agora, como Joana, escolheu caminhos difíceis, e Henriqueta, reencarnada como Altina, faz todos os esforços para sua recuperação.
De minha parte, tento quanto posso auxiliar essas almas queridas, com os recursos espirituais de que disponho."
Ernesto passou as mãos nos cabelos de Altina, e esta pareceu arrebatada a estranho êxtase, colocando-se em prece:
— Pai amado, em nome de seu filho Jesus, da sua vida e do seu sangue derramado, venho lhe agradecer, Senhor, por ter libertado a minha Joana das garras da morte.
Mas se posso lhe pedir algo, meu Pai, é que o Senhor tenha misericórdia de minha filha, pois, como sabe, eu só tenho ela por mim.
Salve minha Joana, meu Deus, salve-a das mãos do demónio que se utiliza das drogas e do sexo para prendê-la em suas garras.
Socorro, meu Deus!
Luz safirina envolvia Altina naquele momento sublime, enquanto ela recebia as vibrações de Ernesto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:48 am

Era comovedora a acção da prece sentida.
Ela parecia refazer suas energias; sentia-se mais confortada.
Levantou-se da posição em que se encontrava e, assentando-se, tomou a Bíblia nas mãos, enquanto Ernesto, através de intenso magnetismo, a conduziu na leitura do salmo 23, de Davi:
[O] Senhor é o meu pastor; nada me faltam.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas, refrigera a minha alma.
Guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos.
Unges a minha cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e o amor me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para sempre.2
Com a leitura que fizera, auxiliada por Ernesto, Altina alcançou maiores expressões de tranquilidade.
Colocara-se na posição de receber os recursos que a espiritualidade enviaria naquela noite.
Olhei para a Bíblia que Altina conservava nas mãos e vi que o livro sagrado parecia diluir-se em meio a estranha névoa de luz.
Parecia haver descido do céu e se materializado nas mãos da nobre senhora.
Mais uma vez Ernesto me esclareceu:
— A Bíblia, para nossos irmãos evangélicos ou protestantes, representa a única regra de fé e prática.
Para eles, a Bíblia é o livro sagrado, a própria palavra de Deus, considerada infalível.
Deixando de lado as interpretações de nossos irmãos, eles impregnam sua Bíblia com tanto amor e carinho que criam essa luz que você vê envolvendo o livro.
Ela é o resultado das criações mentais superiores que nossos irmãos realizam constantemente, ao estudarem os textos sagrados.
Mas a Bíblia tem esse significado para os espíritos também? — ousei perguntar.
Cada um tem suas próprias ideias e merece nosso carinho e respeito.
No entanto, considerando a pergunta em relação ao crescimento do ser espiritual e à evolução do pensamento, a Bíblia é vista pelos espíritos superiores apenas como um livro de carácter mediúnico, histórico e de grande importância para a educação de milhares de seres humanos.
Mas não podemos dizer que seja a palavra de Deus.
— Então, de onde vêm essa expressão "palavra de Deus" e a crença na infalibilidade da Bíblia?.
— Quando os irmãos chamados protestantes tiveram que lutar, no passado, contra os abusos da Igreja, sentiram necessidade de se apoiar em algo que lhes desse força moral para realizarem a tarefa da Reforma.
A Igreja romana, para estabelecer sua doutrina, se baseava na revelação e na tradição dos pais da igreja.
Os protestantes passaram, então, a considerar unicamente a Bíblia como regra de fé e de sua conduta, em oposição à Igreja.
Como a consideravam a palavra divina, daí nasceu a crença em sua infalibilidade.
Fiquei pensando um pouco a respeito do que Ernesto me falou, enquanto a Casa de Oração foi enchendo cada vez mais.
Três homens de terno se colocaram à frente da igreja.
Um deles, de nome Augusto, convidou os fiéis a cantar hinos de louvor e gratidão a Deus.
— Observe agora, Ângelo! — falou Ernesto.
Coloquei todos os meus sentidos em alerta.
Um velho piano começou a tocar, dedilhado por um companheiro encarnado, enquanto o povo acompanhava com um cântico arrebatador.
Notei que, à medida que cantavam, muita gente era socorrida por mensageiros do nosso plano.
A música fazia vibrar os fluidos ambientes, e as energias mais densas que porventura estivessem impregnadas nos companheiros encarnados eram dispersas na atmosfera.
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Encontro com a Vida - Ângelo Inácio / Robson Pinheiro Empty Re: Encontro com a Vida - Ângelo Inácio / Robson Pinheiro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 11, 2016 9:49 am

A música boa e elevada funcionava como uma espécie de passe magnético, dispersando os fluidos densos.
Uma outra coisa acontecia.
Enquanto os crentes cantavam louvores, espíritos luminosos aproveitavam a elevação dos sentimentos e pensamentos e desligavam as entidades infelizes do campo áurico de várias pessoas que ofereciam condições para o socorro espiritual.
Ao que me parecia, aquela era a oportunidade de realizar uma espécie de limpeza magnética de grande intensidade.
Dependendo da música que cantavam, do hino que elevavam em agradecimento a Deus, as vibrações da melodia desfaziam a rede de fluidos nocivos que ligavam as entidades perturbadas a algumas de suas vítimas.
Era uma varredura espiritual.
— Os nossos irmãos não estão desamparados dos recursos espirituais — falou Ernesto.
Todos eles recebem o auxílio de acordo com o merecimento e a necessidade.
Como vê, meu amigo, aqui também operam as forças do bem, e não só nos centros espíritas.
A música parou.
Vinha agora o período de orações, quando um dos presentes levantou-se e orou com o fervor característico de nossos irmãos evangélicos:
— Glória ao nome soberano do Senhor!
Oh! Glórias! A tua bondade, Pai, nos permitiu aqui nos reunirmos em nome do teu filho Jesus, a fim de adorar-te e reverenciar o teu nome...
A oração continuava, enquanto eu observava os presentes.
Descia do Alto uma chuva prateada de pétalas, parecendo estruturada em pura luz.
Entidades luminosas penetravam no ambiente trazendo fluidos balsâmicos e refazendo as energias.
Eu presenciava uma reunião espírita, do lado de cá da vida, embora num templo evangélico.
Comovia-me diante da demonstração de espiritualidade.
Nunca imaginaria que os espíritos actuassem tão directamente dentro das igrejas.
Era uma grata surpresa poder presenciar o que se passava à volta.
Ernesto se dirigiu ao púlpito quando o pastor Eduardo começaria sua pregação.
O nosso instrutor parou alguns segundos junto ao missionário evangélico e, colocando as mãos sobre sua cabeça, inspirou-lhe na pregação.
A cabeça do pastor parecia iluminar-se.
A glândula pineal emitia luzes de tonalidades variadas e mais parecia uma chama que iluminava todo o cosmo orgânico.
O córtex cerebral parecia uma rede ténue de fios luminosos.
Do bulbo raquidiano, partia um fio dourado, ligando-o ao instrutor espiritual.
Para os nossos irmãos evangélicos o pastor recebia os dons do Espírito Santo.
Para os nossos irmãos espíritas ele estava incorporado, utilizando-nos da expressão mais comum.
O missionário falava ligado directamente à mente de Ernesto.
Fiquei admirado.
Presenciava o intercâmbio mediúnico dentro de uma igreja evangélica.
Um pastor que falava mediunizado.
Ele era um médium de Jesus que recebia as intuições do plano maior da vida.
Naturalmente, a sua pregação, embora intuída, não contrariava os ensinamentos de sua religião.
Doutrinariamente, pareciam suas ideias as mesmas de antes, mas, no conteúdo moral do que falava, percebia-se a intensidade do pensamento do espírito que o auxiliava.
A mediunidade não encontra barreiras.
Qualquer que seja a religião, a mediunidade está aí, presente nas vidas dos homens, objectivando elevar e fazer progredir, embora muitos a utilizem com fins diferentes daqueles para os quais foi programada.
Mediunidade funciona como uma espécie de parceria entre os encarnados e desencarnados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 12, 2016 11:36 am

O espírito comunicante transmite a ideia, o pensamento, e o médium, na medida de sua capacidade, reveste a ideia de seus próprios recursos, de seu vocabulário.
O cérebro perispiritual ou espiritual é repleto de conhecimentos arquivados durante as vidas pretéritas.
No intercâmbio, o espírito toma das expressões próprias do médium, de seus conhecimentos arquivados na memória espiritual e reveste o seu pensamento com tais recursos, estabelecendo a comunicação.
Para que o fenómeno aconteça, não importa qual seja a religião do medianeiro.
A actuação espiritual se faz presente.
Muitas e muitas vezes os espíritos se utilizam dos homens sem que eles ao menos o suspeitem.
Escritores, médicos, pastores, padres e oradores são invariavelmente médiuns, inconscientes da actividade que os espíritos exercem sobre eles.
Muitos conceitos morais e orientações de ordem superior vêm através de oradores, das pregações de pastores e padres, sem que eles saibam que estão trabalhando como médiuns.
Da mesma forma, muitos espíritos irresponsáveis, sem nenhum compromisso com a verdade, se utilizam dos seres humanos, em qualquer lugar em que se encontrem, como médiuns seus.
Desse intercâmbio infeliz nascem as intuições negativas, as ideias erróneas, os conluios tenebrosos que dão lugar às obsessões de toda espécie.
Tudo é questão de sintonia.
O auditório estava cheio.
Havia ali algumas dezenas de pessoas.
Foi quando senti que era difícil não me comover pelo entusiasmo daqueles companheiros.
O coral do templo cantou belíssimos hinos, e os testemunhos que as pessoas deram falavam de uma única coisa:
do seu encontro com Deus através de Jesus.
O pastor Eduardo falava de Deus, de Jesus e do compromisso espiritual dos seguidores do Mestre.
Coloquei atenção no que o pastor falava, intuído por Ernesto, o companheiro espiritual.
Eram conceitos muito elevados.
Nunca imaginei que pudesse ouvir de um pastor tanta coisa bonita e de elevado padrão vibracional.
Ernesto o envolvia completamente.
As emoções afloravam em todos nós, desencarnados e encarnados.
O missionário evangélico transmitia, sem que o suspeitasse, os pensamentos de Ernesto, um espírito.

2 As citações bíblicas foram extraídas da Bíblia de referência Thompson.
Tradução de João Ferreira de Almeida, ed. contemporânea. São Paulo: Vida, 1998, 8ª impressão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 12, 2016 11:36 am

5 - A noite da alma

Droguei-me, abusei do sexo na ânsia de encontrar a plenitude.
Em voo. Não encontrei o Deus que eu procurava.
Após o culto dirigimo-nos, Ernesto e eu, à residência de Altina Gomides, acompanhando-a.
Ela morava num bairro próximo e não precisava tomar ônibus para chegar até em casa.
Antes, porém, Altina resolvera passar na padaria para fazer algumas compras.
Assim que entrou, encontrou Anastácio, dono da pequena padaria, que foi logo puxando conversa:
— A senhora vem do culto, D. Altina?
— Venho sim, Seu Anastácio.
Hoje foi uma noite de muitas bênçãos.
Qualquer dia o senhor tem que nos visitar...
— Ah! Sei! Qualquer dia, D. Altina; qualquer dia.
Por acaso a senhora tem notícias da Joana?
Altina Gomides, diante da pergunta, pareceu alertar a mente, como se algo tivesse acontecido.
— Eu a deixei em casa e parecia-me que estava repousando...
— É que eu a vi logo ali, na esquina, junto com aquela amiga dela, a senhora sabem quem é...
— Ai, meu Deus!
Será que eu não terei sossego com esta menina?
Altina Gomides saiu feito louca, esquecendo-se das compras, à procura da filha Joana.
Acompanhamo-la rumo à rua próxima, onde ela julgava encontrar a filha.
O caso aparentava gravidade.
Joana acabara de sair de uma situação difícil e já voltava às companhias de antes.
Sensível como era às influências externas, Joana acabaria por se entregar às mesmas experiências difíceis de outrora.
A família era pobre, e Altina sobrevivia de uma pensão que lhe deixara o marido, morto havia alguns anos.
Além do pouco dinheiro que recebia, fazia bicos para ganhar alguns trocados e manter o lar, bem como pagar o aluguel da pequena casa onde morava com Joana.
Para piorar a situação, vivia no médico, com problemas graves do coração, tendo sintomas de angina.
Apesar de tudo era uma mulher de fibra.
Não desistia da vida e nem de lutar por sua Joana.
Encontramos Joana junto à amiga, já drogada e sem forças para movimentar-se.
Junto dela, quatro entidades pareciam sugar-lhe as reservas vitais, imantadas ao seu corpo.
Altina, num misto de desespero e dor, envolveu Joana nos braços, chorando muito.
— Ah! Senhor da Glória!
Socorre minha filha; não a deixe nas garras do inimigo; liberte-a do demónio.
A pobre mulher chorava convulsivamente tendo a filha nos braços, enquanto a companheira de Joana jazia deitada num canto, com uma seringa na veia.
A um gesto de Ernesto, saí rápido em direcção à padaria onde estivemos antes.
Encontrando Anastácio, logo me coloquei ao seu lado, envolvendo-o em meus pensamentos.
Anastácio pareceu captar imediatamente meu apelo e foi saindo para a rua.
Algo que ele não sabia o que era o impulsionava a ir na mesma direcção em que vira antes Joana e a amiga.
Encontrou Altina com a filha nos braços, ambas sentadas naquele lugar escuro e pouco frequentado.
— Deixe-me ajudá-la, D. Altina — falou Anastácio, já se achegando e procurando tirar Joana dos braços da mãe.
Ergueu-a com naturalidade e saiu depressa em direcção à casa de Altina, que, aflita, abriu a porta, ainda chorando.
Preparou a cama simples para que Anastácio depositasse o corpo de Joana, que parecia desfalecida.
— É difícil, Seu Anastácio, mas tenho fé em Deus e no sangue de Jesus que ele vai libertar a minha Joana.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 12, 2016 11:37 am

— Eu acho que a única coisa que temos a fazer é rezar por ela.
Bem — falou Anastácio — vou deixá-las aqui e voltarei para socorrer a amiga de Joana.
Nem sei ainda como proceder.
— Traga-a para minha casa também, Seu Anastácio.
Eu cuidarei de ambas.
Anastácio saiu, deixando Altina com Joana, quase morta, após o uso das drogas.
As companhias espirituais de Joana estavam tão intimamente ligadas a ela que não podíamos, de imediato, separá-las, sem que Joana sofresse abalos maiores.
Precisávamos de tempo.
Enquanto Altina preparava um café forte para tentar reanimar a filha, eu e Ernesto observávamos a moça, que parecia desmaiada.
Notei a solicitude de Ernesto para com a pequena família e as lágrimas pouco disfarçadas que desciam de seus olhos.
Olhei e vi que do corpo espiritual das quatro entidades partiam fios semelhantes a teias de aranha, de uma negritude sinistra, envolvendo o córtex cerebral da moça.
Uma das entidades parecia absorver mais os fluidos das drogas consumidas por Joana, que parecia, à nossa visão espiritual, mais alienada.
Não encontro palavras no vocabulário do médium para descrever a cena trágica que eu presenciava.
O espírito, demente, parecia gemer ao lado do corpo estendido.
O corpo espiritual da entidade parecia pulsar, gotejando de suor, num processo de simbiose psíquica com a vítima encarnada.
— Estamos diante de um processo de obsessão intenso — falou Ernesto.
Espero que consigamos realizar algo em favor de Joana.
Antes que o instrutor espiritual pudesse continuar, Anastácio entrou com um amigo, trazendo, desfalecido, o corpo da companheira de drogas de Joana.
A rua tinha uma linguagem toda especial, particular.
— Ei, lindona! Onde vai a esta hora?
— Na ruela. Vou ficar adoidada hoje! Numa boa!
íamos ficar as duas com a cabeça feita.
Era assim que nos referíamos à situação de drogadas.
Tínhamos que conhecer a língua do povo, das gangues, dos traficantes.
Gostávamos de nos reunir e fazer barulho.
Quando dava, utilizávamos a casa da família; no meu caso, só minha mãe, eu e meu irmão formávamos a família.
Dançávamos ao som de um rock pesado ou fazíamos outras coisas menos confessáveis.
Quando chegava a hora dos pais chegarem em casa, limpávamos tudo, e todo mundo ia embora para suas casas.
A gente se sentia outro na hora da festa.
E depois também, quando tudo acabava, toda aquela bagunça.
Eu tinha pouco mais de 18 anos quando fui aceite num desses grupos de fumantes e picados, como a gente dizia na época.
Nosso grupo, quando se reunia, tinha a fama de ser o grupo mais unido e também o mais doidão.
Com o tempo eu ganhei muita fama entre os integrantes do grupo de viciados.
Ganhei tanta fama que eles mesmos ficaram com medo de mim.
Aí, bem, aí me expulsaram da turma, e eu fiquei vagando sozinha até encontrar a Joana.
Ela sim, era amiga. Dividia todos os babados comigo.
Juntas, formávamos a dupla do terror. Ninguém podia connosco.
Tentei mais de uma vez convencer meu irmão a cheirar e picar, ou talvez apenas fumar um baseado, mas ele se recusava terminantemente.
Ele era careta demais.
Um amorzinho. Só que ultrapassado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 12, 2016 11:37 am

Não dava para conviver com ele.
Caretas! Nem de longe.
Sempre que não estávamos numa festa ou numa bagunça, estávamos brigando ou "fazendo".
Éramos viciados, embora nos julgássemos donos da situação.
A Joana então, coitada!
Parecia que depois que fora internada estava um pouco tonta. Queria desistir.
Eu não deixaria que ela se entregasse a essa caretisse.
Desistir das drogas? Jamais!
Eu acho que a mãe de Joana é a responsável por ela estar desse jeito.
Com aquela mania de rezar, ir à igreja...
Joana já não é mais a mesma de antes.
Eu não sei bem o que se passa, mas alguma coisa mudou nela. Bem, deixa pra lá.
Comecei a sentir desprezo pela minha vida.
Mas também pelas vidas de minha mãe e meu irmão. Caretões que eram.
Sempre me considerei uma solitária, mais ainda do que os outros da nossa turma.
Nunca quis me envolver com alguém.
Embora eu não sonhasse mais com o vestido branco e o casamento, considerava-me suficientemente esperta para não me deixar envolver por alguém.
Esse negócio de amor era caretisse. Nunca amaria.
Mas o que eu não admitia era o fato de que eu também não era amada.
Ruas calçadas de ouro e dinheiro fácil:
era o que diziam as cartas que eu recebia quando estava em Bauru.
Meus familiares que moravam na capital paulista sempre enfeitavam as narrativas a respeito da facilidade de ganhar a vida em São Paulo.
E para lá nos mudamos, a velha, o mano e eu.
Papai já havia abandonado a família há três anos.
Quando chegamos lá procurando os familiares, a situação era outra.
Foi muito difícil a adaptação nos primeiros tempos.
Tivemos de ir morar com uma tia, em um apartamento com dois quartos e, imaginem, cinco filhos do barulho, no verdadeiro sentido da palavra.
Um dos primos tinha de dormir em cima da mesa.
Era o lugar mais confortável.
Mas, mesmo assim, tivemos que nos acostumar, até que pudéssemos alugar nosso barraco.
Eram três cómodos, e não havia muito lugar de sobra.
Nos estudos eu sempre fui um fracasso.
Não queria nada de sério na vida.
Sonhava em ser famosa, sem estudo e sem trabalho.
A única fama que consegui na vida toda foi ter o meu nome estampado em manchetes de jornais.
Na parte dos crimes.
"Mulher é presa roubando joalharia."
Foi só. Uma fama muito louca.
Com o tempo conheci uma turma pesada.
Vieram as drogas, a maconha e a cocaína.
A heroína veio mais tarde e, com ela, a prostituição, o prazer fácil, vulgar.
Passei a roubar para sustentar o vício.
Desci! Desci muito e me atolei na lama moral.
Conheci Joana e entramos por outros babados. Não deu certo.
Hoje estou aqui, com o resultado de meus desvarios.
Estou drogada, tonta, sem fé, sem Deus.
Estou simplesmente morta.
A droga foi fatal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 12, 2016 11:37 am

Não voltei daquele sono, que, para mim, foi enganador.
Dormi. Apenas dormi.
Com direito a intensos pesadelos e tudo o mais.
Eu morri e não sabia o que era a vida, nem mesmo após a vida.
Minutos depois a amiga de Joana estertorava, convulsionava.
Anastácio tentou correr em busca de ajuda.
Mas de nada adiantou.
A moça estava nos últimos minutos de sua existência.
Do nosso lado, duas entidades de aparência grotesca, animalizante, sugavam-lhe as energias e pareciam tentar beber-lhe o sangue das veias, sem conseguir alcançar seu intento.
Ensaiavam rasgar as roupas da moça ou arrancar-lhe os cabelos, num gesto tresloucado.
— Esperam o momento do desligamento definitivo de sua vítima — falou Ernesto.
Ela lhes deu o alimento durante a vida física; agora, esperam-na para continuarem se alimentando de suas energias vitais.
— Procuremos libertá-la, Ernesto — falei apressado.
— Por ora não podemos realizar nada, Ângelo.
Se alcançássemos alguma melhora no quadro da moça, em breve ela retornaria à presença de seus comparsas.
Olhando para a moça, vi que se esforçava para permanecer ligada ao corpo físico, em cujas veias havia injectado violenta dose de droga.
O corpo, porém, parecia querer expulsar o espírito hospedeiro, pois demonstrava imenso desequilíbrio.
As entidades vampirizadoras pareciam se agarrar ao espírito da infeliz mulher, puxando-a do corpo físico.
Queriam arrancar o espírito do corpo combalido, com muita violência.
— Venha, miserável! Venha, sua megera!
Necessitamos de seu corpo ou do que resta nele.
Temos sede de vitalidade — falavam, aos berros, os espíritos infelizes.
— Não podemos fazer nada para auxiliar? — perguntei ao instrutor.
— Observe, meu amigo — falou Ernesto.
Aproximando-se de Altina Gomides, o instrutor espiritual colocou-lhe as mãos na fronte e no bulbo raquidiano, concentrando-se um pouco.
A nobre senhora, percebendo a inspiração momentânea, falou com Anastácio.
— Seu Anastácio, sei que o senhor tem me auxiliado muito neste caso, mas gostaria de lhe pedir mais uma coisa, se posso me atrever a tanto.
— Fale, D. Altina! Fale!
— É que eu gostaria de fazer uma oração, antes que alguma coisa mais aconteça.
O senhor me acompanha?
Hesitando um pouco, Anastácio cedeu ao pedido.
Abrindo sua Bíblia, Altina deparou com um salmo de Davi, o qual dizia:
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Omnipotente descansará.
Direi do Senhor:
Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio.
Certamente ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro; a sua fidelidade será teu escudo e broquel.
Não temerás o terror nocturno, nem a seta que voa de dia, nem peste que anda na escuridão, nem a praga que destrói ao meio-dia [SI 91:1-6].
O salmo tocou muito fundo no coração de Anastácio, e Altina começou então a orar:
— Pai de infinita graça, em vosso nome sagrado e eterno e no nome poderoso de Jesus, venho humildemente rogar a vossa interferência, Senhor!
Não peço por mim, que não mereço as vossas bênçãos.
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