LUZ ESPÍRITA
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Flores de Maria - Rosângela / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:03 pm

Flores de Maria

Psicografado pela médium Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Romance do Espírito Rosângela

1

Meu cãozinho, um labrador amarelo, olhava-me com expressão triste, como se quisesse, se possível, sofrer em meu lugar.
- Bob! - balbuciei.

Ele levantou-se e aproximou-se mais de minha cama.
Com esforço, passei meus dedos em sua cabeça, fazendo-lhe um carinho.

- Queria contar-lhe meu sonho - falei com dificuldade.
Bob me olhava atentamente.
Talvez sentíssemos o mesmo desejo:
sair correndo dali e irmos juntos a uma pracinha que ficava a dois quarteirões de casa.

Éramos companheiros inseparáveis.
E como eu não conseguia mais me levantar do leito, ele ficava em meu quarto, olhando-me, quietinho.
Às vezes, latia baixinho, convidando-me a sair.
Eu compreendia isso pelo seu olhar.
Eu estava doente havia algum tempo.
Para mim, pareciam séculos.

A doença faz muitos estragos na vida da gente, não só no corpo, mas em tudo e em todos à nossa volta.
Sentia falta de muitas coisas de que antes desfrutava e das minhas amigas...
Eram tantas... Agora, raramente vinham me visitar e, quando o faziam, ficavam com uma expressão de "coitada da Rô".

Minha família era unida e tornou-se mais ainda com as dificuldades pelas quais estávamos passando.
Por causa de minha doença, os problemas aumentaram; meus pais se endividaram, meus irmãos trabalhavam mais e todos estavam tristes e cansados.

Lembrei-me do sonho que tive.
Não contei ao Bob, embora sempre que falava com ele, este prestava atenção, porém sabia que meu cãozinho não me entendia.

Sonhei com minha tia Ana Elisa.
Ela era tia de minha mãe, irmã de minha avó.
Desencarnou jovem.
Não sabia direito o porquê ou de quê, pois sempre tem um motivo.

Acho que foi de tuberculose.
Era muito bonita, como dizia vovó, que raras vezes comentava sobre o assunto.
Nunca havia me interessado por essa tia, até que sonhei com ela, e foi um sonho agradável.
Lembrei-me direitinho dela.
Eu sentia dores. Quando ficaram mais fracas, adormeci.

Vi uma moça se aproximando sorrindo;
ela passou carinhosamente as mãos em meus cabelos e falou:
"Rosângela, minha sobrinha, sou sua tia Ana Elisa e vim para levai-a para passear."
- Não posso sair do leito, estou muito doente - respondi.
"Logo você estará bem e virá morar comigo. Venha!"
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:03 pm

Ela pegou na minha mão e levantou-me.
Olhei para minha cama e lá estava meu corpo dormindo.
Não dei Importância e saí com ela.
Pena que, após acordar, não conseguia recordar de tudo, apenas sentia-me descansada e mm a sensação de ter saído para passear.

Contei meu sonho a todos os meus familiares.

Mamãe comentou:
- Estranho você sonhar com alguém que não conheceu; nem eu a conheci.
Mas se gostou do sonho, tudo bem!

Quando falei que titia Ana Elisa me disse que logo iria morar com ela, mamãe mudou de opinião. .
Esse sonho foi um bálsamo para mim.
É tão ruim ficar doente, sentia muitas dores, fraqueza, estava sempre enjoada e a medicação era dolorosa.

No começo, quando me senti doente, acreditei que ia melhorar.
Papai me afirmou isso e eu acreditei nele, pois nunca mentira.
Depois compreendi que meu pai acreditava na minha recuperação, queria tanto que isso acontecesse, que tinha por certo minha cura.

Mas, com o passar do tempo, as esperanças foram diminuindo.
Mamãe entrou no meu quarto sorrindo.
Tentei sorrir, mas acho que ultimamente meus sorrisos eram apenas caretas.

Falei:
- Mãe, sonhei de novo com a tia Ana Elisa!
- O que ela queria desta vez?
O que lhe disse? - perguntou mamãe.
- Nada! Só me abraçou e me beijou.
- Não entendo porque você sonha com ela.

- A senhora não gosta que eu sonhe com a titia? - perguntei.
- Nem gosto nem desgosto.
Só acho que mortos devem ficar no lugar deles.
Depois, parece que ela quer leva-la - falou mamãe suspirando.

- Mamãe - expressei-me com dificuldade -, ninguém tem culpa se estou doente.
Sei que todos, até a tia Ana Elisa, tentam me ajudar e sou grata por isso.
Eu não tenho medo dela! A senhora acha que se eu morrer, devo ficar no meu lugar?

- Quando você morrer sim, mas não será logo, morrerá velhinha.
- Muitos morrem jovens! - exclamei.
- Não você! - afirmou minha mãe com convicção.
- Mamãe, não pense na morte dessa forma!
Se morrer fosse tão ruim, Deus que é bom, não o iria permitir - conclui.
- Vamos falar de outra coisa?
Não gosto de conversar sobre esse assunto.

Cansei e fiquei quieta.
Não compreendia bem o porquê de meus pais não gostarem de falar na morte, já que todos nós morremos.
Lembrei-me do rosto de minha tia Ana Elisa: era lindo, e seu sorriso suave.
Pedi à vovó para ver de novo seu retrato, e ela o trouxe no dia seguinte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:04 pm

- É com ela mesmo que sonho, vovó! - afirmei.
Passei a orar por ela, imaginava que, às vezes, titia estava perto de mim.

Comentei com mamãe, que me disse:
- Você está sugestionada!
Deve ter escutado tanto sua avó falar dessa irmã, que sonhou com ela.
Sonhos são ficções, coisas da nossa imaginação!
Não me recordava bem dos meus sonhos, mas tinha certeza de que sonhara muitas vezes com titia e que ela me levava a lugares bonitos.

Lembrei-me de um sonho no qual vi muitas crianças alegres e cantando.
Numa manhã, acordei com muitas dores, enjoos, e passei horas tentando não reclamar para não deixar mamãe mais triste.
Quando consegui dormir, sonhei com titia novamente.

Assim que a vi, perguntei a ela:
- Tia, vou melhorar?
“Não", respondeu ela com delicadeza.
"Vai piorar e só depois melhorará."
- Vou morrer?

Titia sorriu e confirmou com a cabeça.
Acordei com a certeza de que haveria uma mudança em minha vida.
Queria que meus pais compreendessem e não sofressem tanto.

A situação financeira em casa era muito ruim.
Estavam tendo muitos gastos comigo.
Meus avós, os quatro, ajudavam como podiam, acho que até no que não podiam.
Meus tios também auxiliavam.

Mamãe insistia para que me alimentasse.
Fazia o que eu gostava, dentro da minha dieta alimentar.
Acho que eles, os cinco em casa, meus pais e meus três irmãos, não se alimentavam para que não me faltasse nada.

Entristecia-me, queria que fosse só eu a sofrer.
Compreendia que eles se sacrificavam, mas faziam com carinho e não sentiam isso como um sacrifício.
Solange chegou do trabalho e veio me ver.

- Como está se sentindo hoje minha irmãzinha linda?
- Bem - respondi desanimada.
- Parece preocupada. O que aconteceu?

Solange tinha dezoito anos, era muito bonita, estudava à noite e trabalhava durante o dia, estava sempre atarefada.
Era a única em casa que não tinha medo de falar na morte.
Isso porque, segundo mamãe, ela conversava muito com uma amiga espírita.
Gostava muito da companhia de minha irmã, mas não queria retê-la, pois tinha de ir à escola.
Não respondi, só a olhei.

Solange insistiu:
- Querida, você está com receio de alguma coisa?
Está com medo da doença?
- Não sei... - respondi.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:04 pm

- Rosângela, a gente tem medo do desconhecido.
Lembra quando foi pela primeira vez à escola?
Você não sabia como era, o que acontecia lá, então não queria ir, teve receio.
Mas bastou ir e em poucos dias se adaptou, gostou, fez amigos e compreendeu que a escola era um lugar agradável e de muita importância, pois lá ia aprender muitas coisas.

- Será que a morte é assim? - perguntei.
- Não estou me referindo à morte - disse Solange.
- Mas deve ser assim - falei.
Temos medo porque não sabemos o que nos irá acontecer quando os órgãos do corpo cessarem suas funções.
Deve ser como ir à escola.
Você tem razão, não precisamos ter medo.
Se Deus é Pai amoroso me levará para uma bonita escola, você não acha, Solange?

- Acredito que sim! - afirmou minha irmã com convicção.
Tenho certeza! Você é tão boazinha e está sofrendo tanto, que só poderá ir, após esta vida, para um lugar muito bonito.
Não tema o desconhecido. Lembre-se de que basta conhecer!

- Solange, quando eu me for, console nossos pais! Promete? - pedi.
- Prometo, irmãzinha!
- Agora vá, quero dormir - falei carinhosamente.

Não estava com sono, porém não queria deter Solange para que ela não se atrasasse. Ela saiu do quarto.
Fiquei pensando e conclui que minha irmã tinha razão: tememos o desconhecido.
Consolei-me, compreendendo que tudo fica mais fácil quando o conhecemos.

Tia Ana Elisa tinha razão, piorei muito, e, como não gostava de hospitais, pedi aos meus pais:
- Papai, mamãe, por favor, deixem-me aqui, não quero ir para o hospital e ficar longe de vocês.

Os dois se olharam, saíram do quarto para conversar e voltaram com a notícia:
- Rosângela, você não irá para o hospital - falou papai determinado.
O pior da sua doença já passou e você convalescerá aqui connosco.

- Obrigada, prometo não lhes dar muito trabalho.
Aproveito que os dois estão comigo para dizer que os amo.
Onde eu estiver os amarei. Sou muito grata a vocês.
São os melhores pais do mundo! Não, do Universo!

Meus pais me abraçaram e me beijaram.
Falei tudo isso devagar, às vezes, dando um intervalo.
Estava muito fraca. Como a fraqueza dói!

Sentia muitas dores, o câncer consumia meu corpinho, já tão fraco.
Queria falar mais coisas sobre os meus sentimentos, mas estava muito cansada.
Imaginava sempre como seria bom, ficar alguns minutos sem aquela dor e sensação ruim.

Desejava ficar como era antes de adoecer.
Eu achava que era impossível piorar, mas piorei.
Quando, numa manhã, mamãe me trocou e vi que fizera, sem perceber, minhas necessidades fisiológicas na cama, sujando os lençóis, chorei baixinho.

- Não chore, Rosângela, eu a limpo num instante! - mamãe falou com carinho, consolando-me.
Minha mãezinha me limpou devagar e enxugou minhas lágrimas com beijos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:04 pm

Ao ficar sozinha, orei e pedi a Deus pela primeira vez:
"Deus, meu Pai do Céu!
Não sei por que sofro e sou motivo de tantos sofrimentos a todos aqui em casa.
Só posso ter feito algo de errado que o Senhor não gostou.
Desculpe-me! Perdoe-me! Será que não dá para o Senhor levar-me?
Sei que não devo querer a morte nem pedir para morrer.
O Senhor sabe que nunca iria querer isso se estivesse sadia.
Se me levar, ficarei agradecida."

Aí veio em minha mente a passagem do Evangelho em que Jesus orou no Horto das Oliveiras e pediu:
Pai afasta de mim este sofrimento, porém faça Sua vontade e não a minha.

Completei minha prece:
"Deus, faça Sua vontade, mas, se for possível, atenda meu pedido!
Ou seja, que a Sua vontade seja igualzinha à minha.
Lembro ao Senhor que estou sofrendo muito, assim como todos aqui em casa.
Acho que não vou melhorar, então me leve para me curar no Céu. Por favor!"

Senti paz e dormi. Não vou mais falar do meu sofrimento.
Foram dias difíceis, até que adormeci com um sono tranquilo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:04 pm

2

Em meu sono não tive dores, e, às vezes, parecia escutar:
- Rosângela era tão bonita!
Antes de adoecer era gordinha e corada!
- Ia completar quatorze anos, mas parecia ter dez.
Que pena! Não viveu a vida!

- Os pais de Rosângela estão tão endividados com os gastos que tiveram com a filha, que terão de vender a casa, o único bem que eles têm e que, para o adquirirem, trabalharam tanto!
- Sofreu tanto a pobrezinha, que só pode estar no paraíso!
- Eu a amo filhinha! Sempre a amarei!
Não quero ser egoísta querendo você connosco doente como estava.
Mas está sendo dolorido vê-la afastar-se de nós – dizia meu pai.

- Vá com Deus, meu anjinho!
Com você irá um pedaço do meu coração! - mamãe falava, parecendo cochichar ao meu ouvido.
- Ro! - ordenou Solange, minha irmã.
Não tema o desconhecido!
Aceite com gratidão o que receberá e lembre-se de que queremos que esteja bem, assim como você quer que fiquemos.

"Ora, deixem-me dormir, porque há tempos que não tenho um sono tão gostoso!", exclamei recusando-me a ouvir mais comentários.
Determinei a mim mesma que não ouviria mais nada.
Virei-me na cama sozinha, passei a mão pelo meu corpo e percebi que não estava de fralda, mas sim sequinha e cheirosa.

"Que sono mais agradável!
Ninguém me acordou para me dar uma injecção!
Vou aproveitar para dormir mais!
Estou com muita sede e fome.
Fome? Há tanto tempo não sinto vontade de comer!", falei baixinho.

Levantei o lençol, sentei-me na cama com facilidade, virei a cabeça, ri e continuei a falar:
"Estou sonhando! Fantástico!
Tem um copo de suco e uma tigela de sopa na mesinha de cabeceira.
Vou comer! Nem que seja no sonho, vou alimentar-me com prazer."

Tomei o suco, que estava delicioso, e a sopa de legumes, saborosíssima.
Limpei a boca com o guardanapo e espreguicei-me.

"Vou dormir!", pensei.
"Engraçado, nunca antes sonhei que dormia.
Está tão gostoso aqui!
Queria tanto ficar por instantes sem aquela sensação da doença.
Agora que estou bem, mesmo que em sonho, irei aproveitar."

Virei-me várias vezes na cama, deliciando-me por fazer isso, acomodei-me e dormi.
Acordei achando que dormira por horas.
Abri os olhos devagarzinho temendo sentir dores e aqueles horríveis mal-estares.

Continuei sentindo-me bem. Sorri, ou melhor, ri mesmo.
Tive vontade de gargalhar, coisa que há tempos não fazia, pois se fizesse sentiria muitas dores.
Ri alto por minutos, sem me importar com as outras duas meninas que estavam nos leitos ao lado do meu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:05 pm

Quando parei, uma delas, que sorria ao me ver rir, exclamou:
- Que alegria! Você está feliz! Por que ri?
- É bom rir e não sentir dores!
Vou aproveitar este sonho.
Vou levantar e pular! - respondi.

Levantei-me com facilidade, subi na cama, pulei cantando uma marchinha, uma música de sucesso da época.
Minha voz era forte como antes de adoecer.
Alegre em me ouvir, cantei mais alto.

A menina que me dirigiu a palavra cantou comigo, e a outra ficou só me olhando, e acabou sorrindo.

Uma moça muito bonita entrou no quarto, olhou-nos, aprovando.
Quando cansei, sentei-me na cama com as pernas cruzadas.
Estava com um pijama azul-clarinho, limpinho e cheiroso.

- Bom dia, queridas meninas! - cumprimentou a moça.
- Bom dia! - respondemos as três.
- Por que você está tão alegre?
Por que pula, ri e canta? - indagou a menina que ficou só olhando.

- Ora, é maravilhoso para quem não faz isso há tempos - respondi.
Pedi a Deus para que pudesse me sentir sadia por alguns minutos.
Estou doente, nem vinha dormindo ultimamente, mas agora sinto-me bem.
Então, estou aproveitando este sonho agradável!

- E se você não estiver sonhando? - perguntou a menina que me observava.
- Não estou sonhando? - indaguei espantada, olhando para a menina que cantou comigo.

Ela negou com a cabeça.
Fiquei quieta por alguns instantes e comecei a observar o lugar onde estava.
Era um quarto grande, arejado e com uma janela enorme.
As camas eram cor-de-rosa, com desenhos de coração na cabeceira.

Havia mais três leitos vazios.
Tudo arrumado, limpo e cheiroso.
Sempre gostei de tudo limpinho e com cheiro agradável.

Ultimamente, por mais que mamãe e minhas avós me limpassem, não ficava limpa por muito tempo e o odor do meu quarto não era agradável.
Acho que foi por isso que este local agradou-me tanto. As três me olhavam.

Repeti a pergunta:
- Não estou sonhando?
- Não, não está - respondeu a moça.
- Curei-me, então? De repente?
Por que estou tão bem assim?
Milagre? Só se for por Deus! - disse rindo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:05 pm

- Você não pensa em morrer? - perguntou a menina que me observava.
Não respondi à indagação e falei apresentando-me:
- Meu nome é Rosângela, e vocês quem são?
- Sou Lourdes, muito prazer!
Espero que continue aqui connosco - respondeu a menina que cantou comigo.

- Sou Valda! Alegro-me por vê-la bem!
Se precisar de mim, por favor, chame-me - apresentou-se a moça.

Olhei para a outra menina.

E ela falou:
- Sou Fátima! Prazer!
Ri de novo e desculpei-me:
- Por favor, desculpem-me!
Está sendo tão prazeroso não sentir dores que não consigo parar.

As três riram comigo.

Parei e indaguei:
- Se não estou sonhando e se me curei, o que me aconteceu?
- Você não respondeu o que Fátima lhe perguntou.
Você não pensa na sua morte? - indagou Lourdes.

- Penso sim, até pedi a Deus perdão por querê-la – respondi.
- Então, Deus a perdoou e atendeu. Você morreu! – exclamou Fátima.
- Querida, não fale assim! - pediu Valda com olhar reprovador.

Parei de rir, olhei como de costume para minhas mãos e comecei a estalar um dedo de cada vez.
Tinha o costume de fazer isso todas as vezes em que me encontrava em situações difíceis.
Observei meus dedos, estavam gordinhos, as unhas rosadas.

Fátima começou a chorar se lamentando:
- Mas é verdade.
Você, Lourdes e eu estamos mortas! Ai de mim!
- É ruim morrer? - perguntei.
- Querida, é só o nosso corpo físico que finda seu tempo.
Nosso espírito continua a viver!
Você está viva num lugar lindo, entre amigos e, melhor, sadia!

Beijou-me nas bochechas.
Senti meu rosto e passei as mãos nele, estava gordinha.
Senti vontade de rir de novo.

- Ora, estou bem e quero rir!
Estou no Céu? Vou ver Deus?
- Deus, Rosângela, está em todos os lugares – explicou Valda.
- Até dentro de nós - interrompeu Lourdes.
Só que não O vimos e não temos entrevista com Ele.
Aqui é um ajudando o outro, como deveria ser lá na Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:05 pm

- Já que morri, o que vou fazer agora? - quis saber.
- Pode rir, Rosângela - respondeu Valda.
A alegria alimenta nossos bons sentimentos e irradia contentamento à nossa volta.
Fátima que estava triste até sorriu ao vê-la contente.
Aqui não há ociosidade, terá muitas coisas interessantes para fazer e outros tantos motivos para sorrir.

- Você disse que estava doente.
Sofreu muito? - perguntou Lourdes.
- Não tenho vontade de recordar ou de falar disso.
Estou tão aliviada por me sentir bem! - respondi.

Achando que deveria dar uma resposta melhor para minha nova amiga, disse:
- Fiquei anos doente e sofri muito.
- Eu não! - falou Lourdes.
Desencarnei por um acidente.
Um segundo de vacilação e pronto, vim para o lado de cá.

- Como sabe que aqui é o lado de cá e não o de lá? - indagou Fátima.
- Vim para o plano espiritual - respondeu Lourdes.
- Como foi? - curiosa quis saber.

Lourdes pensou um pouquinho e falou:
- Fui passear de moto com um primo, escondido dos meus pais, que sempre acharam esse veículo perigoso.
Imprudentemente, pedi-lhe para correr e ele me atendeu.
Um buraco na pista me fez cair. Eu desencarnei na hora.
Ele ainda está no hospital lá na Terra, muito ferido e sentindo muita culpa.

-Você acha que ele é culpado? - perguntou Fátima.
É que se fosse comigo, eu o culparia.
Ele era mais velho, poderia ter sido mais prudente.

- Não quero culpá-lo, ele foi imprudente, mas não quis que acontecesse o acidente.
Coitado! É tão ruim sentir culpa, remorso... Tenho orado por ele.
- Você está agindo correctamente, Lourdes.
Ore por ele que receberá e sentirá em seu íntimo o seu carinho – falou Valda fazendo uma pausa e convidando-nos:
- Vou levá-las para passear no jardim! Vamos, levantem-se!

Pulei da cama contente por poder passear.

Sempre me ajeitava para sair. Indecisa perguntei:
- Vou de pijama?
- Pode ir se quiser, só vamos passear um pouquinho.
O jardim é logo ali e lá só encontraremos outros convalescentes como vocês - respondeu Valda.
- Gostaria de colocar outra roupa - pedi.

Valda apontou para um cabide que estava ao lado da cama que eu ocupava, mostrando-me roupas penduradas.
Alegre, peguei uma calça comprida igual a uma que tinha, só que esta aparentava ser nova, e uma blusa bege parecida com u ma que minha avó me dera de presente de aniversário.

- Tive uma roupa assim! - exclamei.
- Temos aqui algumas roupas parecidas com as que tivemos quando encarnadas.
Valda nos falou que fazem isso para nos sentirmos bem - explicou Lourdes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:05 pm

Fui atrás do biombo e troquei de roupa.
Senti-me muito bem;
havia tempos que não vestia roupas comuns, só usava pijama.

''A felicidade está nas pequenas coisas, e só quando somos privados delas é que damos valor", pensei.
Calcei os chinelos que estavam no chão, perto do leito.
Quis ajeitar os cabelos. Por instantes receei não tê-los.
Devagar levantei as mãos e passei-as na cabeça.

Ao senti-los, exclamei contente:
- Viva! Tenho cabelos! Meus lindos cabelos!
- Você está bem, muito bonita!
Venha aqui e se olhe no espelho - convidou Valda.

Fiquei novamente indecisa e receosa, fui andando devagarzinho.
Entrei num banheiro.
Era todo branco, muito limpo, tinha peças que os encarnados conhecem, e, acima de uma pia grande, havia um espelho.

Quando me olhei nele, vi um rosto sadio.
Lágrimas de gratidão escorreram pelo meu rosto.
Ri de novo, enxugando as lágrimas com as mãos.

- Deus, meu Pai, muito obrigada por ter-me atendido! Eu melhorei! - exclamei alto.
Valda pegou na minha mão e na de Fátima, saímos do quarto com Lourdes.
Atravessamos um corredor e defrontamo-nos com um pequeno jardim.

- Que beleza! - disse maravilhada.
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3

O jardim era muito gracioso!
Tinha algumas árvores, vá\rios canteiros com flores e alguns bancos.
Estavam lá, meninos e meninas andando ou sentados, todos conversando.

- Estão todos mortos? - perguntei baixinho para Valda.
- São desencarnados.
Esse é o termo que usamos, porque vivos, Rosângela, estamos sempre.

- Hei, você não é a Rosângela?

Senti me cutucarem no ombro.
Virei-me e vi Leonardo, o Leo, um conhecido que desencarnara havia alguns meses, atropelado por um carro, quando passeava de bicicleta.
Ao vê-lo sorrindo para mim, não tive mais dúvidas.
Eu não estava sonhando e morrera mesmo, ou melhor, de desencarnada, como explicara Valda.

- Leo! Você por aqui! - exclamei.
- Pois é! Como você sabe, desencarnei por acidente.
E você, quando voltou?
- Voltou?! - indaguei sem entender o que ele queria saber.

- Veio para cá, para a nossa pátria.
- Acho que foi ontem - respondi confusa.
- Não precisa se encabular, logo você estará a par de tudo.
Sinta-se à vontade, Rosângela.
Aqui é muito bom, basta acostumar-se - aconselhou Leonardo.

- Vou tentar seguir seu conselho.
Leo, estou um pouco confusa com tantas novidades.
Estive doente, dormi e acordei aqui, sadia!
- Sei que você estava com câncer.
Ficamos, meus amigos e eu, com pena de você.
E eu, que estava sadio, desencarnei primeiro.
Foi um prazer revê-la.
Desejo-lhe boa recuperação - falou Leo.

- Você gosta mesmo daqui? - quis saber.
- Sim, gosto muito! Agora, Rosângela, tenho de ir; voltaremos a nos ver. Tchau.

Leonardo foi embora e curiosa fui observar o jardim, olhando com atenção cada detalhe.
As flores eram lindas, perfumadas... eu conhecia a maioria delas.
Muitos passarinhos voavam baixinho, pulando nos galhos das árvores.

Bati as mãos de contentamento.
Sentei-me num banco ao lado de Valda e Fátima.
Lourdes foi brincar com as outras meninas. Senti sono.

Valda me levou de volta ao quarto, ajudou a acomodar-me no leito.
Adormeci. Quando acordei, vi só Fátima no quarto.
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Flores de Maria - Rosângela / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Empty Re: Flores de Maria - Rosângela / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:06 pm

- Oi! - cumprimentei-a.
- Oi! - respondeu. - Como você está se sentindo?
- Muito bem, obrigada. Onde está Valda e Lourdes?

- Valda é uma das encarregadas de cuidar de nós.
Acho que ela é uma enfermeira ou algo parecido.
Trabalha aqui. Não é estranho trabalhar depois que se morre?
Aqui se trabalha muito! Lourdes foi ouvir o coral cantar, voltará logo.

- Lourdes foi ouvir música?
Quero ir também! – exclamei.
- Calma! Você terá oportunidade de ver e ouvir o coral, eles ensaiam quase todos os dias e estão sempre se apresentando.
Como você estava dormindo, Valda não quis acordá-la.

- Por que você não foi? - quis saber.
- Estou triste, com saudade da minha casa e dos meus pais.
Fátima respondeu, enxugando algumas lágrimas.
- Deve ser ruim não saber deles, o que acontece lá, com os encarnados - comentei séria.

- Eu pensava que era assim, porém nós sabemos deles.
Trouxeram mamãe para me ver enquanto ela dormia.
Abraçamo-nos apertado. Foi tão gostoso!

Pena que minha mãe não recordou muito bem do que aconteceu quando acordou.
Ela chora tanto por mim!
Eu a amo tanto, queria ficar para sempre ao seu lado.

- Do que você morreu? - quis saber curiosa.
- Desencarnei de meningite - respondeu Fátima me corrigindo e, suspirando, continuou a falar:
Adoeci, parecia gripe, mas como a febre não cedia, mamãe levou-me ao médico, que pediu para me internar no hospital.

Tomei muitos remédios, injecções e fui piorando.
Não me recordo direito, acho que tive muita febre.
Dois dias depois, desencarnei.

- Você não parece gostar daqui - conclui e indaguei em seguida:
Não se sente bem?
- Não sinto nada de ruim e até gosto daqui, só que preferia estar em minha casa.
Se pudesse escolher, estaria encarnada - respondeu Fátima.

Ficamos quietas por instantes.

Senti pena dela e pensei:
"Devo ou não ter dó de nós?
Afinal estamos desencarnadas".

Valda entrou no quarto sorrindo carinhosamente;
beijou-nos, indagando atenciosa:
- Você está bem?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:06 pm

- Sinto-me muito bem, obrigada - respondi.
Valda, tenho uma tia, irmã de minha avó, que está desencarnada.
Será que posso vê-la?
Sonhei com ela algumas vezes quando estava doente.
Queria, se possível, saber dela.
- Ana Elisa ficará contente por lembrar-se dela. Logo poderá vê-la.

- Você a conhece? - perguntei.
- Sim, sua tia já veio vê-la e tem perguntado muito por você.
Ana Elisa trabalha na colónia - respondeu Valda.
- Trabalhar? Alimentar-se?
Aqui eu falo e dou risadas!
Estou achando isso tudo muito engraçado, ou melhor, estranho.

- Por favor, Rosângela, fique sempre alegre – pediu Valda.
- Será que estou me comportando bem?
Afinal pulei em cima da cama, cantei alto.
É que pensei estar sonhando.
Como os desencarnados devem agir? - perguntei preocupada.

- Aqui temos ordem, disciplina e muita alegria.
Você aprenderá aos poucos a viver entre nós.
Tem uma voz bonita. Gostaria de fazer parte do coral? - indagou Valda carinhosamente.
- Sim, quero - respondi contente.
- Amanhã vou levai-a para ver um ensaio e, logo que possível, fará parte dele - falou Valda, incentivando-me.

Quando Valda saiu, Fátima foi ler, e eu fiquei quieta.

Senti uma das minhas avós chorando e reclamando:
- Rosângela era tão jovem!
Por que não fui eu a morrer em vez dela?

Ia concordar com ela, quando escutei minha irmã Solange respondendo à vovó:
- Vovozinha, Deus quer os jovens também.
Cada um tem seu tempo de ficar aqui.
Não chore assim! A senhora acha que Deus é mau?
Não! Nem eu! Acredito que Deus é bondade infinita.

Se Deus é misericordioso, não agiu errado nem com maldade com a nossa Rosângela.
Ela não está infeliz nem sofrendo!
E onde estiver não irá querer nos ver nos lastimando.

Lourdes chegou eufórica.
- Rosângela, você precisa ver e ouvir o coral.
É o máximo! O que você tem? Parece preocupada!
- Por que será que às vezes escuto vozes dos meus familiares?
Parece que conversam lá e os ouço aqui.

Olhei para Lourdes, esperando uma resposta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:06 pm

Ela pensou por instantes e falou:
- Não sei o que ocorre, Rosângela.
Eu também os escuto e, se os sinto chorar, fico triste.

Valda entrou no quarto e escutando a resposta de Lourdes, sorriu para nós, explicando:
- O amor é um sentimento que une.
Sentimos sempre o que se passa com nossos afectos.
Aqui somos mais sensíveis, e se eles falam de nós ou sofrem com nossa ausência, acabamos sentindo e ouvindo-os em nosso íntimo.
Aconselho-as a não dar atenção.
Quando isso ocorrer, tentem se distrair ou orem, desejando que sejam consolados.

- Espero que eles atendam minha irmã Solange, ela é muito coerente.
Queria que não chorassem por mim, que ficassem alegres e me transmitissem segurança - falei.
- Você quer que eles não chorem por você?
Que não sintam seu desencarne? - perguntou Fátima indignada.

- Amo-os muito para querer que sofram.
Quero sim, que eles sejam felizes!
Todos morrem! Ou seja: desencarnam.

Estamos condicionados a sofrer quando alguém que amamos muda-se para cá.
Isso não é bom! Morri, porém não acabei!
Seria bom se todos compreendessem que a vida continua! - falei respondendo para Fátima.

Estranhei minha resposta, parecia que explicava a mim.

Bateram na porta do nosso quarto, Valda abriu e convidou:
- Entre, Ana Elisa!
Rosângela já perguntou por você e deseja vê-la!

Uma moça muito bonita entrou no quarto.
Valda despediu-se com um aceno de mão e saiu.
Reconheci minha tia:
era encantadora, mais linda do que no retrato que vovó mostrara-me e do que eu recordava dos meus sonhos.

Tinha o cabelo longo, castanho-escuro assim como os olhos, seus lábios eram delicados e tinha um sorriso cativante.
Titia deixou que eu a observasse, depois abriu os braços e corri até ela.
Abraçamo-nos demoradamente.

- Como você está se sentindo, Rosângela? - perguntou tia Ana Elisa.
- Eu? Bem! É mais bonita pessoalmente do que em meus sonhos - falei encabulada.
- Fico contente por você ter gostado de sonhar comigo. - falou sorrindo.
- A senhora me ajudou, preparando-me para os acontecimentos, não foi?
- Sim.

- Agradeço-lhe! - exclamei, beijando-a.
- De nada! Rosângela, você quer passear comigo?
- Quero! Aonde vamos?
- Vou levai-a a um local lindo. Venha trocar de roupa.

Ela abriu o armário, pegou uma roupa e me deu.
Fui ao banheiro, troquei-me e me admirei no espelho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 07, 2014 12:06 pm

- Fabuloso! Como estou bem!
- Você é linda, minha sobrinha! - exclamou titia.
- Fiquei tão magrinha e feia com a doença! – falei suspirando.
- Esqueça aqueles dias difíceis - aconselhou.
O que Importa agora é que está bem.
Não quer passear connosco Lourdes?
E você, Fátima, vamos sair um pouquinho?

Fátima negou com a cabeça e Lourdes agradeceu educadamente:
- Prefiro não ir, obrigada pelo convite.
Acho que vocês duas têm muito o que conversar e não quero atrapalhar.
Façam um bom passeio!

Gostei de vestir um conjunto de saia e blusa verde-clarinho.
Penteei o cabelo, usava-o e ainda o uso, curto e repartido de lado.
Olhei-me novamente no espelho e alegrei-me com meu aspecto.
Saímos, titia e eu, de mãos dadas.

Atravessamos corredores, e minha cicerone foi explicando:
- Minha sobrinha, você irá gostar daqui!
Achará muitas coisas parecidas com as quais estava acostumada na Terra, quando encarnada, outras nem tanto.

- Aqui é uma grande comunidade?
Todos têm o mesmo objectivo, o bem comum? - perguntei lembrando dos meus estudos na escola.
Titia sorriu e respondeu:
- Só que aqui nos agrupamos de acordo com os sentimentos que temos.
Aqui é um local que abriga crianças e jovens, e do outro lado estão os que desencarnam já adultos.
Podemos dizer que aqui, nesta colónia, estão espíritos afins, para se melhorar e progredir.

- E os que não estão aqui?
Os maus? O que acontece com eles?
- Agrupam-se em outras partes.

Passamos por outro corredor.
Curiosa, fui olhando tudo.

Minha tia esclareceu:
- Nesta parte estão os dormitórios, os quartos dos recém-desencarnados; deste lado é a ala infantil e deste, a dos adolescentes.

Passamos por um corredor mais largo e logo defrontamos com a porta principal do prédio.
Esse corredor era muito bonito, enfeitado com plantas e quadros.
Ao ultrapassarmos a porta, parei para admirar a beleza da praça.
De forma oitavada, os prédios cercavam-na.
As construções não eram iguais, embora suas frentes fossem do mesmo tamanho.

Algumas tinham um andar; outras, dois e uma delas, cinco andares.
As construções eram modernas, arrojadas, com muito vidro, ou pelo menos algo parecido com o vidro que usamos na Terra.
Dei alguns passos, olhei para o chão:
estava numa calçada larga, de pedrinhas coloridas claras, que rodeava os prédios.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:00 am

Titia me puxou pela mão.
- Que beleza! - exclamei admirada.
A Praça da Fonte era maravilhosa, possuía muitos canteiros com flores variadas, que perfumavam o ambiente, algumas árvores pequenas, muitos bancos e diversas fontes.

Conforme andava, via chafarizes em formato de flores,
ouvia por toda a. praça uma música suave, em tom baixo.
No centro, havia um chafariz maior, formado por muitas esculturas, e um arco-íris.
Eram rosas, orquídeas, lírios, violetas, amores-perfeitos e outras.
Acho que todas as flores estavam ali representadas.

Passei a mão em uma escultura.
Era lisinha, a água que escorria era fria, e tudo, muito limpo.
O colorido era suave, tudo se harmonizava.
Fiquei extasiada, não conseguia nem falar.
Fui andando porque titia me puxava.
A praça era grande, demos uma volta por ela.

- Sentemos aqui um pouco, Rosângela.
- Que lugar mais lindo!
A senhora tem certeza de que aqui não é o Céu?
- Aqui, Rosângela, é o Educandário Flores de Maria.
Comparamos crianças e jovens com flores que devem ser tratadas com delicadeza, atenção e muito amor.
E, Maria, referimo-nos à mãe de Jesus, que nos adoptou e é nossa protectora espiritual.
Este lar de crianças e jovens faz parte de uma colónia espiritual, isto é, uma cidade de desencarnados.
Aqui temos escolas, locais de diversão, trabalho e hospital.

- Parece que a vida continua mesmo!
- Sim, Rosângela, continua sem grandes diferenças.
Isso é óptimo, e mais uma das demonstrações da bondade de Deus.

Muitas pessoas passeavam pela praça, a maioria crianças e jovens que como eu estava maravilhada com tanta beleza.
Por mim, ficaria horas ali.
Titia me chamou para irmos embora;
levantei-me e a segui, demonstrando que gostaria de ficar mais.

Tia Ana Elisa me consolou:
- Você poderá vir aqui outras vezes.
Agora devemos voltar para seu quarto, você tem de descansar.
- Vou gostar muito do Educandário Flores de Maria! Já gosto!

Beijei titia e recebi outros beijos.
Tive a certeza de que ia gostar muito do Educandário Flores de Maria.
À noite estávamos conversando no quarto, Lourdes, Fátima e eu.

Lourdes aproximou-se da janela e comentou:
- Como são lindas as estrelas!
- É noite de lua cheia!
Venha ver Rosângela - convidou Fátima.

Fui à janela e vi a Lua no céu, cheia e linda. Lembranças vieram...
Já estava doente quando mamãe me fez caminhar um pouquinho pelo quarto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:01 am

"Venha, Rosângela, aqui na janela, está uma noite linda de lua cheia."
"De fato, está maravilhosa, a Lua parece um prato!"
"Todas as vezes que vejo a Lua assim, cheia, recordo me de você pequena!" - falou mamãe.
"Por quê? Eu era gordinha?
Tinha o rosto cheio?" - indaguei.

“ - Claro que não!" - respondeu minha mãe.
"Você não tinha e não tem o rosto redondo.
É porque, quando era criança, acho que tinha dois anos, você chorou querendo o queijo do céu.
Seu pai comprou um queijo redondo.
Você até comeu um pedaço, depois foi correndo para o quintal, olhou para o firmamento e choramingou dizendo:
‘Este não é daquele!'.
Rimos, e seu irmão disse:
'Aquilo não é queijo, é lua cheia'."

Abracei mamãe e ela completou:
"Rosângela, onde quer que estiver, ao olhar a lua cheia, lembre-se de que eu vou vê-la também e estarei pensando em você, mandando-lhe um beijo."

Duas lágrimas escorreram dos meus olhos e senti uma brisa suave como se recebesse um beijo de mamãe.
Tive a certeza de que minha mãezinha olhava o céu e me dava um beijinho.

Enxuguei rapidamente o rosto e exclamei, sorrindo para minhas companheiras de quarto:
- Desencarnei numa noite de lua cheia!

Elas sorriram correspondendo e fomos dormir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:01 am

4

No outro dia acordei me sentindo estranha.
Pensando muito em missas.
Parecia que todos os meus familiares estavam orando por mim na igreja.
Fiquei quieta na cama.
Depois senti-os no cemitério.

- Flores para você, querida!
Que Jesus a faça feliz!
- Estou com saudade!
Senti mamãe e papai chorando.
Lágrimas escorreram pela minha face.
Queria papai comigo.

Lembrei-me de quando ele chegava em casa após o trabalho, falando alto:
"Rosângela, venha ver o que eu trouxe para você!"
Corria para abraçá-lo;
meu pai sempre nos trazia algo, balas, pipocas, sorvetes etc.

Quis ter mamãe a me fazer um carinho, quis seu colo, ir para casa, ficar com todos os que amava.

Estava envolvida em meus pensamentos quando fui surpreendida por uma voz amiga:
- Rosângela, feliz aniversário!
Titia entrou no quarto com um ramalhete de flores coloridas.
Fez de conta que não me viu chorando, abraçou-me, beijou-me e cantou "parabéns pra você!"

- Vamos, coloque as flores neste vaso! - sugeriu titia.
- Hoje é meu aniversário? - perguntei estranhando.
- Sim, é.
- É mesmo! Ia fazer quatorze anos!
Será que foi por que senti meus familiares falando de mim?

- Minha sobrinha - explicou tia Ana Elisa - não nos desligamos facilmente dos afectos, por isso sentimos aqui o que se passa com eles.
Hoje, sua família foi à missa e depois ao cemitério, oraram e infelizmente lamentaram sua falta, sentem saudade.
- Titia, se hoje é meu aniversário, faz então três meses que estou aqui e parece dias.

- É que você dormiu bastante - esclareceu.
Quando as funções vitais do seu corpo físico findaram, você o deixou como uma roupa velha, gasta pela doença, e esses restos mortais foram enterrados.
Você, Rosângela, é um espírito que antes vestia um corpo carnal e agora está revestida de um outro mais subtil, que é o perispírito1, para manifestar-se aqui connosco.

- Titia, já percebi que aqui tem dia e noite e horários a serem seguidos.
O tempo passa como na Terra?
- Meu bem - respondeu titia me elucidando com carinho -, estamos perto da crosta terrestre e ainda muito ligados ao tempo dela.
A colónia segue o mesmo movimento da Terra, ou seja, giramos com ela.

Assim, temos o dia e a noite.
Seguimos o mesmo horário. Você já pensou não tê-la?
Como saber a hora em que o coral vai ensaiar, quando assistir às palestras?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:01 am

A que horas ir aos encontros?
Nosso dia aqui é de vinte e quatro horas, seguimos os meses e anos, como os encarnados.
Hoje é dia vinte e seis aqui e lá.

- Aqui faz frio ou calor?
Para mim a temperatura é agradável!
- Nas colónias, nos educandários, nos locais em que os espíritos que querem ser bons vivem, a temperatura é sempre amena, independente se na Terra é inverno ou verão.

- Titia, a senhora sabe do Bob, o meu cachorro?
Gosto dele, sinto falta de sua companhia.
Ele era para mim um cãozinho especial.

- Sempre que gostamos de alguém, animal ou planta, esse afecto para nós é algo especial, porque é alvo do nosso carinho.
Bob sentiu sua falta, ficou triste, seus irmãos e pais lhe deram mais atenção.
Foi bom porque distraiu sua mãe, que faz caminhada todos os dias com ele.
Seu cãozinho está bem.

- Bob me esqueceu?
- Os animais também nos querem bem;
uma vez amigo, sempre amigo - respondeu titia.
- Para mim, o que importa é que Bob esteja bem.

Tia Ana Elisa aprovou com um sorriso e voltei a indagar:
- Meus sonhos com a senhora eram encontros?
- Sim. Você se afastava do seu corpo adormecido com o perispírito e conversava comigo.

Quando isso acontece com os encarnados, o perispírito fica unido ao corpo físico a um cordão, e quando esse cordão é rompido, há o desligamento, a morte do corpo carnal.
Quando isso aconteceu com você, uma equipe de socorristas e eu a trouxemos para cá, onde ficou dormindo para se recuperar e também para que não sentisse seus familiares e amigos chorando por você.
Quando estava para acordar, nós a transferimos de quarto.

- O que a senhora faz aqui, titia?
É verdade que há trabalho na espiritualidade?
- Muitos entendem de modo erróneo o conceito de trabalho, vendo e sentindo-o como uma obrigação.
Aqui o trabalho é prazeroso, uma bênção.

É como fazer algo para si mesmo.
Seria tão ruim tudo isso sem trabalho!
Você foi socorrida, trazida para cá, cuidada com carinho, está agora num quarto limpo, tem roupas e alimentos.
De onde saiu tudo isso?

- Do trabalho dedicado de alguém.
- Sábia conclusão.
Servir faz parte de minha vida e chegará o dia em que todos nós serviremos com amor.
- Mas o que a senhora faz exactamente?

- Quando encarnada, fui enfermeira.
Trabalhei num hospital; porém, não estudei para exercer essa função.
Aqui estudei bastante e ainda tenho a bênção de continuar tendo instruções.
Sou enfermeira, trabalho num grande hospital, cuido de adultos desencarnados imprudentes que viveram encarnados de tal forma que se desequilibraram e, agora, precisam se harmonizar com as Leis Divinas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:01 am

- A senhora trabalha muitas horas por dia?
- Aprendi a viver sem os reflexos do corpo físico 2, não durmo e tenho à disposição as vinte e quatro horas do dia, as quais dedico ao trabalho e ao estudo.
Uso-as pouco para o lazer; às vezes leio livros, vou ao teatro e a alguns passeios.

Agora disponho de algumas horas para passar com você, que logo estará participando das actividades deste local de bênçãos.
Irá para outro alojamento, ou seja, para outro
quarto, e frequentará a escola.

- Posso mesmo fazer parte do coral?
Gosto tanto de cantar!
- Claro que pode. Hoje à tarde vou levai-a para assistir a um ensaio.
Quer dar um passeio?

- Vamos de novo até a Praça da Fonte! - pedi entusiasmada.
Novamente, encantei-me com o passeio.
Desta vez prestei mais atenção nas pessoas que estavam lá.
A maioria admirava encantada a beleza da praça;
outras, talvez por ter estado mais vezes ali, andavam tranquilamente, desfrutando da calma presente naquele local.
Vi um rapaz que caminhava apoiado num senhor.

Escutei-os quando passaram por mim:
- Vovô, este lugar é lindo mesmo!
Então vou morar aqui?

- Vai sim, Eduardo! Logo estará aqui comigo.
Tenha paciência, em breve se sentirá sadio!

Vi também uma menina que se apoiava numa moça.
Tanto o rapaz quanto a menina me pareceram diferentes.

Olhei para titia, ela sorriu e, não esperando que eu indagasse, explicou:
- Esses dois ainda revestem um corpo carnal.
Eles ainda estão sendo preparados para a mudança que irão fazer.
O rapaz foi trazido pelo avô, e a menina por uma socorrista, ou seja, uma trabalhadora daqui.

- Eles estão dormindo?
- O corpo físico deles está adormecido.
Embora agora estejamos em horário diurno, eles descansam.
Ambos têm doenças graves e sabemos que está por findar o período que eles têm para ficar encarnados, embora nenhum de nós saiba determinar o dia e a hora em que isso irá acontecer.

- A senhora fez isso comigo, não me lembrava de tudo quando acordava, mas esses passeios e encontros eram como um bálsamo.
Essa preparação acontece com todas as crianças ou jovens que estão para desencarnar?

- Não com todas.
A maioria das que vem aqui tem doenças incuráveis, e esses encontros acontecem também para que recebam ânimo, consolo e, como você disse, bálsamo.
Repare, Rosângela, que eles têm um cordão prateado que os liga ao corpo físico.
Isso os diferencia de nós.

Observei-os bem e vi o cordão.
Orei por eles, desejando uma mudança de plano tranquila.
À tarde, titia nos levou - Fátima, Lourdes e eu - para assistir a um ensaio do coral.
Chegamos minutos antes do início a um local enorme e sentamos bem na frente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:02 am

Maestro Carlos nos recebeu sorrindo, cumprimentou-nos e esclareceu:
- Nosso coral é famoso em toda a nossa cidade.
Quase todas as crianças e jovens do nosso cantinho fazem parte dele e convido-as a unirem-se a nós.
Todos os participantes recebem aulas de canto antes de se tornarem um dos nossos membros.

Ensaiamos duas vezes por semana.
Agora estamos mais empenhados, porque domingo nos apresentaremos na praça de eventos da colónia em comemoração ao aniversário de sua fundação.
Na semana que vem, iremos a outro local.

Maestro Carlos pediu licença e foi cumprimentar outras pessoas, e Lourdes, curiosa, indagou tia Ana Elisa:
- O coral sai muito do Flores de Maria?
Existem muitas colónias?
Que eventos são esses?

Prestamos atenção na explicação de titia:
- Vocês já pensaram em quantas pessoas desencarnam por dia?
Muitas, milhares. A Terra é imensa!
Muitos reencarnam também. É um vaivém constante.

Como existem na Terra muitos lugares para viver, aqui no plano espiritual também é assim.
E por toda a espiritualidade há locais destinados aos jovens e às crianças.
Normalmente, nos educandários, há corais, porque quase todos os seres gostam de música.

Cantar é uma grande terapia e um modo de agradecer ao Pai tantas dádivas.
O coral infanto-juvenil apresenta-se em quase todos os acontecimentos importantes de nossa colónia, que é a nossa casa, o nosso lar.

Aqui temos o hábito, como na Terra, de visitar uns aos outros.
Nós, desta localidade, vamos até outras e vice-versa.
Os eventos são comemorações de datas especiais, e temos muitas.
Os corais da espiritualidade visitam também a Terra, vão a locais onde há encarnados que fazem o bem.

O Maestro Carlos, quando encarnado, participava de um coral e, aqui, estudou música e tornou-se maestro.
Ensina canto para nossas crianças e jovens, com muita dedicação.

Com todos a postos, Maestro Carlos começou o ensaio.
Foi então que prestei atenção em tudo.
Estávamos no Pátio das Convenções, local, no educandário, ao ar livre, onde se realizavam as palestras e o teatro e o coral se apresentavam.

Havia muitas pessoas assistindo:
alguns adultos e jovens que, como nós, olhavam tudo com curiosidade.
Algumas crianças alegres observavam atentas e, às vezes, cantavam baixinho e dançavam.

Voltei a prestar atenção no coral.
Seus componentes tocavam de pé:
os jovens nas fileiras de trás; à frente, as crianças e, nas primeiras filas, os pequeninos de dois a três anos.
Todos obedeciam atentamente e felizes às ordens do maestro.

Gostei demais de ouvi-los.
Cantei baixinho alguns trechos de certas músicas que conhecia e cheguei a balançar o corpo acompanhando o ritmo delas.
Quando terminou o ensaio, o grupo se dispersou.
Saíram em ordem, porém, falando com alegria.
Parecia que a música continuava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:02 am

- Gostaram, meninas? - perguntou tia Ana Elisa.
- Gostei muito. Vou ficar muito feliz quando puder fazer parte desse coral.
Achei-o sensacional! - respondi.
- Vamos matriculá-la nas aulas de canto.
Sentirei muita alegria em vê-la participando do coral - falou minha tia sorrindo.

Titia nos convidou para voltar ao nosso alojamento.

Regressamos pela praça, e ela nos explicou:
- O ensaio foi no sector oito, e vocês estão alojadas no prédio número quatro.

O canto deixou-nos alegres, e Fátima, embora quieta, ficou mais calma.
Lourdes e eu caminhávamos cantando e, às vezes, titia nos ajudava em certos trechos.
Senti-me muito bem!
De volta ao nosso quarto, Lourdes e eu estávamos tão eufóricas que Valda nos incumbiu de aguar as plantas do corredor - o que fizemos com alegria.

- Oi, plantinha linda!
Que tal um pouquinho de água fresca? - falava enquanto as aguava.
Lourdes riu achando graça.
- Vovó falava com as plantas do seu jardim.
Ela me dizia que todo ser vivo gosta de atenção e carinho - expliquei.

Fizemos a tarefa e, cansadas, fomos dormir.
Estava muito feliz.

1. Perispírito: substância vaporosa semi-material, que serve de envoltório ao espírito e liga a alma ao corpo.
Nos encarnados é o intermediário entre o espírito e a matéria.
Nos espíritos libertos do corpo físico, constitui o seu corpo fluídico
(Nota do Editor).

2. Sobre esta questão, leia: Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, capítulo 3, "Retorno da vida corporal à vida espiritual".
São Paulo: Petit Editora. E André Luiz, Evolução em dois mundos, capítulo 16, "Mecanismos da mente". Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira
(N.E.).
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:02 am

5

No dia seguinte, acordei triste.
Lourdes e Fátima já estavam acordadas.
Sentia-me bem e ser novamente sadia na uma bênção que eu não cansava de agradecer.

Poder pular, andar, ter disposição, não sentir dores era uma dádiva que tinha para mim um valor incalculável.
Achei o educandário lindo, as pessoas ali, desencarnadas como eu, agradáveis e prestativas.
Tudo perfeito, maravilhoso, mas eu estava tristonha.

Queria o afago dos meus pais, beijos das minhas avós e dos meus avôs, o carinho das tias e das amigas.
Ansiava por escutar os risos de meus irmãos.
Amava-os e sentia falta deles.
A saudade doía no meu peito.

Como sempre acordava falando e rindo, e continuei quieta, Lourdes indagou preocupada:
- O que está acontecendo hoje com você, Rosângela?

Olhei-as. As duas estavam na mesma situação que eu, adaptando-se e esforçando-se para aprender a viver longe de seus afectos.
Fátima, porém, estava com mais dificuldades, dando a impressão de não querer se adaptar.

Pensei:
"Se me queixar, certamente levarei Fátima a chorar e não tenho esse direito".
Lembrei-me do que ti tia Ana Elisa me falara:
"Rosângela, minha sobrinha, você sentirá falta dos que ama, poderá ficar triste, mas se alimentar a tristeza, ela só crescerá.
Combatemos esse sentimento com outro: alegria.
Alegre tornamo-nos optimistas e aí resolvemos nossas dificuldades facilmente."

Esforcei-me e sorri.
As duas, que me olhavam, sorriram também.

- Estava tentando adivinhar o que tem dentro dessas gavetas do armário, da mesinha de cabeceira e da pia do lavatório.
Estou curiosa, mas não sei se posso mexer - respondi.
- Já vi Valda guardar roupas de cama e as que usamos no armário.
Acho que não tem nada de mais você abrir e ver - opinou Lourdes.

- Não se faz isso na casa dos outros, acho que é melhor pedir permissão.
Devemos ser educadas - alertou Fátima.
- Acho que vou começar a melhorar educando-me para não ser tão curiosa.
Quando Valda vier, pedirei a ela para abrir as gavetas - falei.

Arrumei minha cama, tive vontade de chorar, gritar:
"Mamãe, papaizinho, venham me buscar!"
Valda entrou no quarto, Lourdes respondeu o cumprimento e foi falando:
- Valda, Rosângela quer ver o que há guardado nas gavetas, está curiosa.
Mas não mexemos, queremos que você nos dê permissão.
- Claro, meninas, podem ver o que quiserem - expressou-se Valda.

Lourdes correu e abriu a gaveta do armário, Fátima foi para perto dela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:02 am

Eu ia também, mas Valda abraçou-me e falou carinhosamente:
- Querida, a saudade pode incomodar;
se permitirmos que ela nos domine, poderá nos privar de desfrutar outros momentos, o de amizade, por exemplo.
Estou contente por você não ter incomodado suas companheiras, chorando e se lamentando.

Entendeu que Fátima está muito frágil.
Já sente .amizade por elas.
Tente se distrair quando sentir tristeza.

Nesse período de adaptação podem ocorrer momentos alegres, que se intercalam com outros tristes.
O importante é dar valor a tudo o que se recebe, querer ser alegre e se esforçar para estar sempre bem.
Vá ver o que tem nas gavetas!

- Roupas! Nunca pensei que no plano espiritual houvesse roupas! - exclamou Lourdes rindo.
- Pior se ficássemos nuas aqui - comentei.

Rimos e Valda nos explicou:
- Queridas, vocês são recém-chegadas do plano físico.
Gostavam de lá e isso é óptimo.
Temos mesmo de amar o lugar em que vivemos.

Lá, encarnadas, estavam condicionadas a muitas coisas: tomar banho, escovar os dentes, vestir-se, alimentar-se etc.
Esses hábitos vão mudando com o tempo.
Eu não tenho mais o reflexo do corpo carnal, não durmo nem me alimento, não troco de roupa, embora use uma.

Rimos.
- Vocês aos poucos vão aprender a viver assim, mas enquanto isso não acontece, podem trocar de roupa, alimentar-se e tomar banho.
E, falando em alimento, trouxe o desjejum de vocês.
Para você, Fátima, a bolacha que me pediu.

- Pelo jeito aqui tudo é mais fácil - observei.
- Nem tanto, estou longe das pessoas que amo! - exclamou Fátima fazendo beicinho para chorar.
- Meninas, vim aqui lhes dar uma notícia agradável. Uma surpresa!

Nós três a olhamos curiosas e Fátima se recompôs para prestar atenção.
Compreendi que Valda queria nos alegrar.

Continuou a falar:
- Vocês vão ser transferidas!
Amanhã logo cedo, as levarei para o outro lado da nossa casa.
Vocês vão amar! Irão para a escola, participarão de actividades esportivas, aulas de música e canto e...

- Oba! - interrompeu Lourdes.
Vou gostar de sair daqui e ir para o outro lado.
- Eu não quero ir! - exclamou Fátima com lágrimas nos olhos.
Não quero sair daqui.
Tenho medo de ir para o outro lado.
E se não me acostumar?
Lá não terei você, Valda, para me ajudar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 08, 2014 10:03 am

Valda a abraçou.
Fez cócegas na barriga dela, provocando seu riso.
- Fátima, você não precisará ficar lá se não quiser.
Mas venha amanhã connosco para conhecer os alojamentos.
Poderá fazer muitas amizades e não sentirá minha falta - aconselhou.

Valda despediu-se de nós e foi embora.
Tomamos nosso desjejum, que estava delicioso.
Lourdes e eu fomos ver o que tinha nas outras gavetas.
Achamos livros, folheámos-Ios.

- Valda já me deu alguns para ler - disse Fátima.
Que são muito interessantes.
Este aqui descreve as colónias.
Como já tivemos permissão, podemos lê-los.

Estávamos ansiosas com a transferência.
Não conseguia me concentrar para ler, não parava quieta e, quando Valda nos convidou para ir ao jardim, Lourdes e eu a acompanhamos ligeiras.

- Vocês duas podem ajudar o senhor António a cuidar das plantas - disse Valda.
O senhor António deu-nos a incumbência de aguar um canteiro.
Como era bom cuidar das plantas, a ansiedade passou, ficamos mais tranquilas.

- Senhor António, podemos agora ajudá-lo em outro canteiro? - perguntou Lourdes.
- Aquele já foi aguado e este outro está reservado para outras crianças - respondeu ele com calma.

Fomos, então nos enturmar com outros jovens e encontramos Lenice, que fazia todos rirem.
Contava uma aventura sua, em que se perdeu dos pais num passeio à praia. a grupo se dispersou e ficamos nós três, Lourdes, Lenice e eu, conversando.

Lenice nos indagou:
- Será que aqui poderei vestir uma roupa de festa?
Queria meu vestido azul.
Mamãe o comprou para irmos a uma festividade, mas nem cheguei a vesti-lo.
Será que aqui há festas como na Terra?

Não soubemos responder.

Indagamos ao senhor António, que pacientemente esclareceu:
- Aqui temos tudo o que necessitamos;
entretanto, somos educados para não exagerarmos.
Temos festas lindas, em que o principal objectivo é nos confraternizarmos.
Nunca vi ninguém vestido a rigor ou com muito luxo.
A beleza está na simplicidade.

Gostei da resposta, e Lenice exclamou rindo:
- Adeus meu vestido azul!
Espero que mamãe não o guarde, que o dê para outra menina, que se sentirá contente em usá-lo!
- Como desencarnou, Lenice? - Lourdes quis saber.
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