LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:09 pm

Sem declinar-lhe o nome, a entidade se referia a Cássio, com quem tinha maior ligação vibratória.
- Entendemos seu interesse por nosso irmão.
Por acaso tem algum sentimento por ele? – com a pergunta, Jurandir pretendia conhecer melhor a questão à qual se referia a entidade desconhecida.
- O maior sentimento que tenho é o de prazer.
Somos sócios no desfrute, somos os que compartilhamos a euforia.
Não pensem que estou perturbando o equilíbrio do pobre... não!
Estou correspondendo aos seus desejos mais secretos, aos seus chamamentos mais íntimos.
Quem vocês acham que é o maior responsável?
Aquela que está quieta em seu canto, mas que é convocada pelos pensamentos lascivos do homem provocador ou “o homem que parece mansinho, mas que, no fundo, é um lobo devorador?”
Esse é o meu caso.
Nada mais faço do que corresponder aos convites sedutores para aventuras e excessos prazerosos, nascidos no pensamento e no sentimento “dele”!
Todos escutavam a conversa reveladora que, apesar de não comprometer a nenhum dos presentes, era importante lição para todos eles, servindo a carapuça a quem desejasse vesti-la.
Cássio e Moreira ouviam o diálogo trazendo a mente afogueada pelos pensamentos de luxúria que costumavam alimentar, recordando-se das inúmeras condutas impróprias a que se entregaram sigilosamente.
O arrepio que lhes percorrera as fibras nervosas desde a base da coluna até o córtex cerebral indicavam, certamente, que as vibrações da entidade tinham endereço certo, compartilhadas em grau de afinidade com o espírito comunicante.
No entanto, permaneceram calados, como se nada lhes dissesse respeito.
Os dois, com culpa no cartório, se fazendo de santos imaculados, mas, certamente, supondo serem eles o tal “predilecto” a quem a infeliz comunicante se referia.
No entanto, na plateia, eis que Alceu estava à beira do desespero.
Isso porque, entre seus segredos íntimos, a conversa do espírito poderia também estar se referindo a ele próprio.
Apesar de ter-se achegado a Peixoto com a história esposa que queria a separação para ficar rica com o seu dinheiro, a realidade, que só Alceu conhecia, era a de uma vida de leviandades, arduamente suportada pela esposa traída, na qual ele, como marido insatisfeito pela monotonia do casamento, se permitia todo tipo de envolvimentos físicos e aventuras com mulheres variadas, enquanto negligenciava o carinho com que deveria abastecer o coração de companheira.
Todas as semanas, as necessidades sexuais, transformadas em vícios cruéis, exigiam mais de Alceu.
Mulheres exuberantes, pagas pela facilidade de seus recursos financeiros, transitavam em sua rotina masculina.
Festas lúbricas, se sucediam na escuridão de apartamentos luxuosos da chamada “Classe Alta”, disfarçadas de reuniões de trabalho, encontro com clientes ou viagens a negócios.
A esposa infeliz ia suportando as indiferenças do marido, suspeitando que a licenciosidade estivesse, realmente, embasando todas essas condutas.
Tudo caminhava normalmente, no entanto, até que uma daquelas beldades contratadas pelo rico empresário, imaginando as imensas vantagens de um relacionamento mais próximo e sabendo-o infeliz ao lado da mulher que não mais o atraía, resolver informar a esposa das loucuras do marido, deixando recados em secretárias com o relato das aventuras de Alceu, com os endereços e horários que ela mesma poderia confirmar.
A ideia era plantar a discórdia no caminho do casal, facilitando a separação e, então, aproveitar o caminho livre para atacar de maneira mais directa o “partidão solitário e carente”.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:09 pm

Tudo isso fundamentou na esposa o desejo de separação definitiva.
Sem aceitar a divisão dos bens, Alceu qualificara a conduta de sua mulher como motivada pela ambição, ainda que ela alegasse o seu comportamento de homem irresponsável.
Em virtude de seus procedimentos ilícitos, as palavras daquela entidade novamente pareciam dirigir-se ao visitante que, a esta altura, começava a suar frio, com a queda de pressão produzida pelo nervosismo e pelo medo.
Arrependia-se por ter aceitado o convite de Peixoto para uma reunião que, mais do que um encontro de consolação para suas dores, mais parecia um tribunal de acusação.
- Reunião especial para mim... – pensava Alceu, enquanto secava o suor abundante que lhe escorria pela face e ganhava o interior da roupa.
Quem esse Peixoto pensa que é para me fazer passar por um apuro como este?
Isto aqui é um massacre.
Como podem saber de minhas fugidas?
Certamente minha esposa falou com Peixoto sobre isto e o bandido, sem me revelar nada, veio com essa história de me trazer aqui pra tentar me impressionar com essas acusações.
Que coisa mais baixa...!
Esses espíritas sempre me pareceram charlatães mesmo, mas este Peixoto está passando dos limites comigo.
A comunicação prosseguiu por mais algum tempo, demonstrando que o espírito comunicante não desistiria da exploração de sua vítima.
Referia-se a Cássio, não a Alceu.
Mas, na falta de nomes, seu relato servia para todos os que tivessem alguma “culpa no cartório”.
Terminada a manifestação de Meire, chegara a vez de Peixoto receber a próxima entidade. Na mente do médium não havia a menor suspeita do que estava se passando no interior de seu “amigo” na assistência.
Com o desejo de ser o canal de maiores revelações no caso de Alceu, Peixoto se entregou ao transe mediúnico com a ideia fixa no caso.
Isso fez com que os mentores espirituais aproveitassem a sintonia do médium e aproximassem, realmente, o espírito que se ligava ao próprio visitante.
Peixoto nada sabia do perfil psicológico de Alceu, mas interessado em ser o “salvador da pátria”, queria porque queria ser o canal através do qual a tão prometida “comunicação especial” fosse obtida.
- Vamos lá, Peixoto – falou Jurandir, segundo a praxe da reunião.
Envolvido pelas vibrações estranhas da entidade que era orientada pelos mentores luminosos da reunião, o médium sentiu um frémito a percorrer-lhe, caindo em transe profundo, afastando-se do corpo pela acção enérgica do Espírito que tentava ajudá-lo nas questões da mediunidade, a fim de que observasse os frutos amargos de sua conduta leviana, com os próprios olhos.
Sob a direcção do mundo espiritual que dirigia a reunião, foi aproximada do médium a entidade que acompanhava Alceu.
- Que bom que chegou a minha vez! – falou alto, pela boca de Peixoto que, em espírito, afastado do próprio corpo, observava a cena sem entender direito o que estava se passando.
De onde estava sua alma, distinguia o corpo carnal acomodado à cadeira e a entidade disforme e escura que se justapunha à estrutura física parcialmente abandonada.
- Em que podemos ajudá-lo? – foi a pergunta de Jurandir.
- Na verdade, quero cumprimentar o meu amigo, o visitante desta noite.
Quando escutou estas palavras, Alceu respirou fundo porque algo lhe dizia que a comunicação era dirigida a ele próprio, tanto quanto pensava isso a respeito das outras, também.
- Ah! Que bom... você o conhece? – perguntou Jurandir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:09 pm

- Ora, claro que conheço.
Sou eu quem o inspiro todos os dias!
Sou quem velo pela defesa do património que me pertenceu e que, há quase trinta anos, precisamente, ele pensou que poderia tirar de mim.
Olá, Alceu... lembra-se de mim?
Sou Gonçalves, o antigo e verdadeiro proprietário dos negócios que hoje você pensa que comanda.
Aquele nome produziu um verdadeiro furor na mente do pobre assistente da reunião.
Gonçalves havia sido o antigo proprietário que, por muito confiar em Alceu, a quem ajudara desde moço, deixara-lhe procuração com amplos poderes administrativos por ocasião de longa viagem de passeio ao exterior.
Viagem de descanso sugerida pelo próprio protegido, que se manteria à frente dos negócios zelando de todos os detalhes para que ninguém notasse a ausência do efectivo dono.
Aproveitando-se da confiança irrestrita que o velho lhe depositara e dos amplos poderes de que se vira investido, Alceu adoptou medidas administrativas e legais que alteravam a organização dos negócios, modificando as estruturas directivas da empresa, alegando estar cumprindo a vontade do proprietário, que se ausentara exactamente para que tudo fosse providenciado da forma menos difícil, já que pretendia, a partir de então, afastar-se dos maçantes compromissos negociais. Gonçalves fora, então, transferido para inútil galeria de honra, assumindo um posto decorativo e distanciado de todo poder decisório.
As modificações foram rápidas, contando Alceu com toda a influência do dinheiro para acelerar as tramitações indispensáveis, empossado na direcção geral do empreendimento.
Decorridos os primeiros três meses do afastamento do antigo dono, home casado, mas sem filhos, Alceu alterara bruscamente as rotinas da empresa, modificando o campo de actividades, diversificando investimentos, modificando o perfil dos empregados, favorecendo a aposentadoria dos mais velhos, aqueles que ainda se ligavam a Gonçalves pelos laços do afecto e da gratidão graças aos longos anos de serviço.
Os relatórios que Alceu enviava a Gonçalves através dos meios disponíveis eram cada vez mais genéricos e evasivos.
À distância, o velho, que de nada sabia, passou a perceber a existência de problemas procurando, então, antecipar o regresso ao Brasil.
Quando chegou, no entanto, a tragédia já se havia consumado.
Nada mais lhe garantia a liderança do grande empreendimento.
Nas altercações que se seguiram entre ambos, as acusações e ameaças se fizeram cruéis.
Gonçalves pretendia retomar na Justiça o controle de seus bens e, para isso, usaria de toda a sua influência sobre os conhecidos juízes que lhe frequentavam a roda social.
Alceu, no entanto, bem calçado no aconselhamento de astutos advogados, não pretendia ceder nos passos dados.
Acossado pelas pressões de todas as partes, aconselhado por seus representantes legais, tramou a morte do casal através dos serviços criminosos de alguns capangas que, desconhecendo quem os assalariava, receberiam significativo valor para eliminarem Gonçalves e a esposa em um suposto assalto seguido de sequestro, pondo fim a qualquer ameaça à liderança do jovem e arrojado sucessor.
Tudo isso saltou à memória do ouvinte, que tudo fizera para se esquecer de tão tristes momentos em sua vida.
A eliminação de Gonçalves lhe garantiu o sucesso pretendido contando com o decorrer dos anos para que o tempo apagasse as lembranças.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:09 pm

Mas agora, como que saindo do túmulo, lá estava o seu antigo patrão a falar-lhe pessoalmente:
- Vamos, responda!
Parece que viu uma alma penada? – disse o espírito, dando sonora gargalhada.
Observando-lhe o silêncio, continuou falando com desenvoltura:
- Pensava que nossos crimes ficam apagados pela passagem dos anos, não é?
Pois aqui está o velho Gonçalves, meu amigo.
Aquele que você mandou matar depois de ter roubado seus bens, valendo-se da longa viagem de descanso.
Reunindo todas as forças que ainda lhe restavam, premido pelas acusações directas que contra si mesmo eram lançadas, Alceu respondeu, titubeante:
- Eu não sei quem você é!
Não sei do que está falando!
Como ousa me acusar de delitos graves como esses?
Vendo o desequilíbrio a se acercar da mente de Alceu, Gonçalves deu curso aos seus argumentos:
- Não sou eu quem o acuso.
É você mesmo que sabe o que fez e que, por mais que negue os factos com a boca, o suor frio de seu corpo o acusa sem que eu mesmo precise fazê-lo.
Imaginava que a morte matava tudo, não é?
Agora está vendo que não é assim, mesmo que diga que não acredita.
O certo é que sou eu quem dirijo as coisas até hoje, lá na empresa.
Você fez um belo trabalho na tentativa de me afastar dos negócios.
No entanto, suas fraquezas me permitem comandar tudo.
Aprecio o seu gosto por belas mulheres e observe o tempo que você dedica a aliciar essas moças para suas festas.
Só lamento, é verdade, o tanto do meu dinheiro que você gasta com elas.
No entanto, acho que esse é o salário que lhe pago para que Eu continue no comando de meus interesses.
Você continua a ser o meu empregadinho de sempre.
Suas ideias são as que eu fomento, seus projectos são os que eu desejo e seu fracasso material será, por fim, a minha vingança.
Por isso, estou tratando de transferir à sua pobre esposa, boa parte de meus recursos, porque a outra metade, certamente servirá como túmulo para as suas últimas ilusões.
E depois que você chegar do lado de cá, meu jovem, poderemos nos encarar de frente e, então, teremos toda a eternidade para nos entendermos.
Alceu não suportou mais a conversa.
Perdendo o controle, levantou-se irado e, aos gritos, passou a ofender a entidade, o médium, os presentes, criando um verdadeiro fluídico que, por pouco, produz um grave dano à estrutura vibratória do próprio Peixoto que, fora do corpo, recebia todos os choques magnéticos nascidos no desajustado Alceu.
Os mentores espirituais, que a tudo observavam e já haviam se preparado para tal desfecho, reconduziram Peixoto ao corpo físico para que voltasse à consciência, enquanto que Alberto, Horácio e Plínio continham o alvoroçado Alceu, pronto para agredir fisicamente o próprio médium que, acordando do transe profundo, não guardava nenhuma lembrança do que se passara.
Sem entender nada, notava que era o centro do furacão, o alvo da ira do amigo a quem queria prestar convenientes serviços mediúnicos, com os fins já revelados.
- Seu mentiroso, embusteiro, feiticeiro de quinta categoria!
Maldita a hora em que aceitei seu convite para vir aqui neste “trabalho especial” que resolveria meus problemas, como você mesmo me prometeu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:10 pm

Alceu não cessava de agredir Peixoto, enquanto os fortes braços dos trabalhadores o continham, tentando reconduzi-lo ao equilíbrio.
- Seus bandidos, corja de enganadores, deixem-me sair daqui!
Não fico aqui nem mais um minuto.
Estão me prendendo?
Sabem com quem estão se metendo?
Tirem as mãos de cima de mim.
Vou mostrar a vocês quem eu sou, realmente.
Vou falar com gente importante e fechar este antro de mentiras e feitiçarias.
Abram as portas e me deixem sair.
Para evitar maiores problemas encerrando aquele distúrbio inoportuno, mas, ao mesmo tempo, extremamente educativo, Jurandir autorizou que levassem o visitante até a porta onde o assustado Alfredo estava a postos, facilitando sua saída do ambiente.
Toda conveniência de Peixoto desaguara na inconveniente verdade que, por todos os lados, ferira a alma de Alceu fazendo-o imaginar que o que se produzira naquela noite fora destinado a desmascarar suas condutas ilícitas em todas as áreas de seu carácter tíbio.
Ao mesmo tempo, Peixoto colhia a experiência dolorosa decorrente da leviandade mediúnica, imaginando que, se inicialmente poderia se valer do suposto amigo para resolver seus problemas financeiros, a partir daquele instante perdera todas as esperanças em conseguir sequer realizar-lhe um simples telefonema.
Além de ser o principal responsável ou causador daquele constrangimento, expondo todo o grupo aos choques desagradáveis e à conduta desajustada de uma pessoa despreparada para participar de uma reunião como aquelas.
Com a saída do perturbado indivíduo, todos voltaram aos seus assentos enquanto que Jurandir, envolvido pelos fluidos balsamizantes de Ribeiro, recolhia energias para colocar ordem nos pensamentos e sentimentos gerais, dando por encerrada a recepção de mensagens de entidades aflitas, aguardando a manifestação do mentor do grupo para a palavra final, muito esperada por todos.
Dona Dalva, a médium mais experiente dentre todos, se apassivou em concentração profunda permitindo a palavra do amigo de todos:
- Certamente que estão chocados com tais ocorrências, meu filho.
No entanto, isso não nos surpreende em nada, sobretudo quando temos alertado cada um de vocês sobre as condutas inconvenientes que misturam necessidades espirituais com interesses pessoais.
Nossas disciplinas têm sua razão de ser, ao não permitirmos o acesso de pessoas despreparadas para assistir à reunião mediúnica, uma vez que elas não dispõem de entendimento para avaliar cada revelação ouvida.
Certamente que Jurandir não pode ser culpado por tal circunstância.
Submeteu-nos intuitivamente a autorização solicitada por Peixoto, momentos antes do início da reunião e, conhecendo a verdadeira intenção do querido irmão, permitimos que isso se desse.
No entanto, desejávamos que aprendessem com esta triste experiência que não devemos facilitar o acesso de amigos que queiramos ajudar, de pessoas importantes para nosso afecto, de parentes e companheiros a quem queiramos agradar, num ambiente tão especial e delicado como o de um trabalho mediúnico como este.
Não estamos em um balcão de negócios nem em uma passarela para exibições do mundo invisível.
Sempre que os interesses rasteiros nortearam pensamentos e intenções de cada irmão, podemos informá-los que os resultados serão muito trágicos.
Não me refiro apenas aos que se observaram aqui dentro.
Falo de consequências muito severas para o dia-a-dia de cada um.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:10 pm

Isso porque, com excepção desta última entidade comunicante que, directamente, tinha vinculação com o infeliz visitante, cuja culpa íntima lateja há anos em sua consciência, os dois espíritos anteriores tinham ligação directa com vocês mesmos.
Observem as advertências e saibam que, se espíritos tão inferiorizados no ódio e nos vícios conhecem suas condutas mais ocultas, imaginem nós que os amamos e estamos sempre procurando ajudá-los.
Parem de se iludir imaginando que são médiuns somente quando chegam aqui para os trabalhos semanais.
Disciplinem suas condutas fora daqui pelos padrões da Verdade e do Bem, porque esta será a única forma de que não se sejam vitimados pelos próprios comparsas de aventuras, gozos e negociatas.
A noite foi longa e, certamente, garantiu todos nós vasto material para meditações profundas e, esperamos sinceramente, que também para MODIFICAÇÕES PROFUNDAS.
Caso não se capacitem para os futuros trabalhos com as alterações esperadas, estejam certos de que circunstâncias fortuitas os afastarão desta casa sem que nós possamos fazer nada para impedi-los.
Então, estejam preparados para viver entregues à própria sorte.
Entenderam nossos alertas?
Depois de alguns minutos de silêncio, os presentes balbuciaram a afirmativa resposta, compreendendo claramente tudo o que Ribeiro lhes havia explicado e advertido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:10 pm

22 - CONSELHO E ADVERTÊNCIAS
Terminada a reunião, surgiram os comentários sobre a ocorrência desagradável, tanto quanto sobre os desdobramentos que dela poderiam decorrer em face das ameaças proferidas pelo visitante em desequilíbrio.
Peixoto, ainda confuso com tudo o que a sua insistência havia causado, estava arrasado.
Parecia o menino que acendeu o fósforo sem saber que estava cercado de pólvora por todos os lados.
Tinha vergonha e, assim que as condições de silêncio se apresentaram, pediu publicamente desculpas ao grupo de irmãos por ter conduzido até lá uma pessoa tão despreparada.
Jamais imaginara que Alceu iria reagir daquela forma.
Também não sabia dizer como é que sua faculdade mediúnica havia sido utilizada daquela maneira tão clara, através da qual Gonçalves viera a atirar na face do visitante toda sorte de revelações.
- Certamente, Peixoto – respondeu o dirigente da Instituição – os nossos coordenadores espirituais viram na ocorrência a oportunidade de despertar o pobre e infeliz empresário para que acordasse antes que fosse tarde.
Naturalmente que ninguém gosta de escutar certas coisas e, assim, a fuga, a revolta, a falta de equilíbrio bem demonstram quão profundamente ele foi atingido.
- Bem... isso também é verdade, seu Jurandir.
Mas o que eu não entendo é como a manifestação aconteceu justamente por meu intermédio.
Eu me via fora do corpo, cercado por entidades amigas aqui mesmo, nesta sala, mas não conseguia impedir que as palavras do Espírito fossem ditas.
- Sim, Peixoto.
À medida que você fora o ele de ligação entre Alceu e a nossa reunião, estava mais vinculado aos problemas do seu amigo.
Assim, havia uma maior sintonia entre ambos e, por isso, nossos dirigentes invisíveis julgaram adequado se valer do laço energético entre vocês para permitir que o infeliz Gonçalves, vitimado na confiança profunda que devotara ao seu amigo funcionário, viesse chamá-lo à razão, fazendo entender que o mal não está esquecido, que todos teremos de prestar contas de nossos actos, e que nossas vítimas continuam vítimas, mesmo depois que seus corpos desapareceram.
Quem sabe se o acusado da noite, o mesmo que deveria trazer a consciência endurecida ou amortecida, não comece a meditar no que escutou aqui.
- Mas eu não me recordo de nada do que o espírito disse a Alceu, como é isso?
- Ora, Peixoto, faz mais de trinta que você é médium! Como não se esclareceu sobre os diversos tipos de percepção mediúnica descritos em o Livro dos Médiuns?
Porventura você é dos típicos espíritas práticos?
Aqueles que dizem que o negócio deles é “praticar”?
Sem estudo constante e metódico, meu amigo, o médium estará sempre surpreendido por fenómenos que acontecem através dele sem que seja capaz de entender o seu conteúdo.
Enrubescido pelos comentários em tom de brincadeira, comentários que, no entanto, correspondiam à verdadeira indiferença com que ele se dedicava ao estudo da mediunidade, não se encorajou a se defender porque aquela noite já lhe havia rendido suficientes decepções.
Engoliu, então, o orgulho ferido e deu uma risadinha amarela, limitando-se a exclamar:
- É mesmo, né, seu Jurandir... a gente nunca perde por estudar!
Encerram-se as despedidas e cada um levou consigo para o lar as experiências surpreendentes da noite.
Peixoto, no entanto, assim que deixou o centro espírita, dava sinais de desespero íntimo.
Acompanhado pelos espíritos que o estudavam, Jerónimo e Adelino, seguia pelas ruas no volante de seu veículo coordenando ideias que ainda não tinha tido tempo de organizar a contento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:10 pm

Recordara-se dos motivos que haviam embasados o seu desejo de ajudar Alceu, levando-o inadvertidamente à reunião espírita.
Iniciara aquela aventura contando com o apoio financeiro de um amigo agradecido e saía da reunião carregado de prejuízos em maiores dificuldades.
Alceu jamais se aproximaria novamente de Peixoto, e este não conseguiria mais qualquer benefício da amizade que julgava ter com o empresário.
As acusações directas, os xingamentos, o destempero emocional daquele homem aparentemente equilibrado, bem indicavam que não haveriam mais, entre os dois, ambiente para qualquer tipo de intimidade fraterna ou conversa equilibrada.
À medida que o seu pensamento ia alinhavando estas ideias, tais considerações iam gerando mais contrariedades no sentimento de Peixoto.
- Trinta anos de serviço neste centro – falava ele, crendo-se sozinho no carro – e os Espíritos Dirigentes me colocam numa situação dessas.
Sabendo que estou desesperado, em problemas de difícil solução e que Alceu era a porta de saída, a taboa de salvação, como é que foram deixar que tudo isso acontecesse?
E, o que é pior, JUSTAMENTE COMIGO?
Poderiam ter usado a Dalva como médium, ou então a Lorena ou o Cássio.
Lá estavam também a Cornélia e a Meire.
Mas não... resolveram usar este palhaço aqui para que o showzinho acontecesse.
E enquanto ia pensando nos factos, somando a própria vergonha ao orgulho ferido, aos prejuízos materiais, aquela aparente humildade expressada no pedido de desculpas ao final da reunião ia se transformando em melindre explosivo, alterando o ânimo de Peixoto que, imaturo no espírito, sintonizara-se, uma vez mais, com os níveis inferiores do próprio EU, considerando-se injustiçado e infeliz.
Abria-se, nele, mais uma vez, a porta da insatisfação, sempre movimentada pela maçaneta do interesse pessoal.
- Acho que não custava nada aos espíritos que me conhecem e sabem há quanto tempo lhes sirvo com dedicação, que me facilitassem as coisas.
Afinal de contas, estaríamos ajudando um sofredor.
Não seria difícil trazer algum espírito que estivesse atormentando-lhe a esposa e, com isso, deixar claro que o problema seria conduzido da melhor maneira junto da infeliz causadora.
A mulher de Alceu não sofreria nenhum prejuízo e o marido se sentiria bem atendido, saindo do centro espírita com esperanças renovadas.
Mas não! Parece que fizeram as coisas para estragar meus negócios.
Além de não ajudarem em nada na solução do problema da separação, ainda fizeram o infeliz ter um surto de raiva, justamente contra mim.
E por falar nisso – continuava pensando o desajustado médium -, que mágica foi aquela em que me puseram fora do corpo de modo que eu não conseguia controlar o que era dito pelo espírito?
Via tudo o que acontecia, mas não tinha como interferir.
Claro que se eu pudesse receber um espírito que estivesse vinculado a Alceu, não deixaria que o mesmo se dirigisse ao novato naqueles termos que as pessoas me contaram depois.
Acusá-lo de crime – sim, porque o que a Entidade disse para ele é um delito horroroso – é uma coisa muito dura.
Não sei se os espíritos amigos permitiriam que isso se desse.
Se eu, como médium consciente, não deixaria esse diálogo chegar a este ponto, atendendo às disciplinas de contenção e controle que os médiuns aprendem a adoptar, como é que os Espíritos que dirigem a reunião foram permitir que uma coisa dessas acontecesse?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:10 pm

Apesar de já ter perguntado tais coisas ao final da reunião, Peixoto não assimilara as explicações de Jurandir.
Preferia, agora, ao invés de considerar as necessidades espirituais de Alceu e os problemas pessoais que estava enfrentando, problemas estes que ele próprio, como amigo e médium só conhecia na superfície, levar seus raciocínios em outra direcção:
- Acho que está havendo algum tipo de interferência negativa na direcção dos trabalhos espirituais.
Se tudo isso aconteceu desse jeito, é por falta de protecção espiritual efectiva no ambiente.
Só pode ser isso.
Será que não estaremos sendo conduzidos por uma equipe espiritual de enganadores?
Não seria mais lógico que a gente ponderasse essa hipótese, porque se os espíritos sabem que um indivíduo está tão desequilibrado, como é que permitem que ele permaneça em uma reunião dessa natureza?
É verdade que eu levei o “cara” até lá, mas, primeiro, fiz isso porque ele sempre me pareceu equilibrado, coisa que os espíritos amigos certamente poderiam saber não ser verdade, já que nos conhecem profundamente, usando seus meios espirituais.
Mas, além disso tudo, eu pedi ao seu Jurandir que autorizasse ou não a permanência de Alceu na reunião.
Ele nos fez esperar e voltou nos dizendo que havia obtido a autorização do mundo espiritual – continuava ele, em seu monólogo.
Ora, se o mundo espiritual deixou, como é que não impediu que tudo acontecesse?
Não estará havendo aí um sério indicativo de falha na segurança ou na vigilância dentro da própria casa espírita?
E lá ia o raciocínio de Peixoto sendo envenenado pela companhia espiritual negativa que o manipulava fora do centro espírita, na avaliação de seus negócios, na construção de seus golpes financeiros, na edificação de suas estratégias.
Tudo estava sendo alinhavado por tais espíritos para afastar o médium do trabalho e, depois, usá-lo para que se perdesse, através da própria invigilância e da ausência de um estudo aprofundado de suas reacções e tendências, vícios e defeitos de carácter.
Jerónimo e Adelino acompanhavam a estranha simbiose que se mantinha bem enraizada entre o médium em desequilíbrio e as entidades que se atrelavam ao seu psiquismo, produzindo-lhe todo tipo de questionamento e dúvida para, sem maiores problemas, afastá-lo do grupo.
- Talvez – continuava Peixoto pensando alto -, o problema maior seja o próprio Jurandir.
Ele que deveria ter sido o filtro adequado para impedir a permanência de Alceu, foi quem autorizou a coisa.
Talvez o tivesse feito por imaginar as possibilidades financeiras do atendimento de um homem tão importante quanto rico.
Ah! Isso mesmo!
Sempre o interesse por baixo das coisas.
Certamente Jurandir foi tocado pela cobiça ao saber que Alceu era detentor de vasto património e, por isso, admitiu sua presença para garantir alguma polpuda doação para a instituição ou, até mesmo, o início de um relacionamento de amizade que lhe poderia render lucros pessoais.
É... não tinha pensado nisso.
Bem que pode ser essa a verdadeira causa dos fatos desta noite.
E eu aqui, me penitenciando como o único culpado.
Que nada, lá está o próprio dirigente do grupo cogitando das lucrativas consequências do atendimento ao empresário.
É... isso me parece claro como a água cristalina.
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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 14, 2018 9:11 pm

E se as coisas são assim mesmo, preciso falar com outros sobre estes factos para alertá-los a respeito de tudo isso.
Eles não estão cientes do que estou sabendo e, por isso, precisam ser informados.
Agora, os tentáculos negativos das entidades que tramavam não apenas afastar o próprio médium do grupo, mas, igualmente, comprometer o trabalho espiritual que lá se realizava, usavam Peixoto como um agente da discórdia, projectando em sua mente despreparada as imagens, para que seu raciocínio pudesse ser conduzido na direcção do atentado à harmonia e à confiança que modelavam os relacionamentos no interior daquele colégio fraterno de almas devotadas ao trabalho do Bem.
- Sim... amanhã mesmo vou telefonar para o Cássio a fim de comentar sobre o comportamento de Jurandir.
É melhor sondar primeiro o que alguns companheiros pensam de tudo isso, antes de levantar o problema aos demais.
Nestes casos, os aliados são muito importantes.
Depois do Cássio, vou procurar o Moreira e a Geralda.
Sempre achei que eles não se simpatizam muito com Jurandir.
Se conseguir fazer com que pensem melhor, já seremos quatro e teremos mais força do que se fosse eu, apenas.
Os tentáculos escuros das entidades obsessoras encontravam campo fácil para influenciar aquele pobre homem, despreparado para o entendimento dos deveres morais de qualquer médium sério.
Seria instrumento de discórdia, imaginando estar prestando um excelente serviço de despertamento aos trabalhadores do grupo.
O objectivo principal das entidades perseguidoras era produzir um desentendimento interno através do qual gerassem um distúrbio de confiança no âmago da instituição, ferindo a atmosfera de paz e respeito, fraternidade e sinceridade que existia entre seus membros, única força capaz de solidificar a tarefa do Bem no combate ao mal.
Usando a ocorrência daquela noite como estopim que viria a detonar o explosivo arquivado na mente dos mais despreparados, os agentes da treva estavam seguros de que conseguiriam comprometer o trabalho que lá se realizava.
E Peixoto seria o palito de fósforo a lançar a primeira fagulha.
Adelino e Jurandir que acompanhavam, incógnitos aquele colóquio, se entreolharam espantados com a perspicácia e astúcia das entidades inferiores.
Assim que Peixoto chegou em sua casa, já transformado de culpado em vítima das circunstâncias, deixaram o invigilante na companhia da monstruosa entidade espiritual que a ele se acoplara na saída do centro espírita, regressando à instituição com as informações obtidas.
Assim que chegaram ao local, vazio de encarnados, mas repleto de espíritos, perceberam que Bezerra de Menezes e Ribeiro dialogavam em uma área do salão de tarefas.
Tão logo identificados pelas duas entidades directoras das tarefas, foram acolhidos com o carinho costumeiro, apesar de notarem a atmosfera de preocupações que envolvia o diálogo dos dois devotados espíritos.
- Que bom que vocês chegaram, meus filhos.
Estava agora mesmo comentando com Ribeiro as ocorrências de hoje.
- Sim, doutor, foram eventos fora de nossas rotinas – falou Jerónimo, desejando suavizar os comentários.
- Mais ou menos, meu filho. Certamente vocês já estão informados do plano trevoso de produzir um desajuste nas tarefas da casa, usando Peixoto como instrumento.
A esta altura, o nosso infeliz irmãozinho já assumiu a sua posição de vítima e, manipulado pelos pensamentos inferiores a que não aprendeu a resistir, trama espalhar dúvida no coração de alguns outros médiuns invigilantes e trabalhadores da nossa intimidade que, certamente, morderão a isca e, ao invés de obstarem a proliferação do bacilo da calúnia ou da desconfiança, serão oxigénio fresco alimentando a fagulha acesa pela palavra leviana do irmão invigilante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:55 pm

Certamente que Peixoto usará para parecer coberto de motivos, as inúmeras décadas de trabalho mediúnico “prático” que prestou nesta casa, fantasiando-se de homem bem intencionado.
Correrá os olhos nos livros de Kardec para encontrar frases que lhe sirvam à desculpa maliciosa de “levantar a discussão”, dizendo estar preservando o interesse doutrinário através da liberdade de questionar e do dever de duvidar, questionando tudo.
Como sempre acontece com todos os levianos bem disfarçados, tentará criar o ambiente de seriedade e gravidade do assunto para melhor iludir os incautos.
Questionará a lisura e a honradez do dirigente amigo que, ao longo de tantos anos sempre lhe prestou a solidariedade fraterna nos momentos mais difíceis de seu crescimento espiritual.
Esquecerá as inúmeras visitas que Jurandir empreendera junto ao leito de parentes enfermos, em casas e hospitais, os favores da instituição para criaturas em dificuldades materiais que foram atendidas graças à compreensão e sensibilidade da liderança de nosso irmão Peixoto se esquecerá dos conselhos generosos e das horas consumidas por eles nos diálogos visando a solução dos problemas familiares mais intrincados, sempre recebendo de Jurandir o conselho lúcido e fraterno, coerente e amigo.
Esquecido de toda a sorte de benefícios directos e pessoais para só se lembrar deste pequeno incidente, estará cavando a própria cova, se assim poderíamos nos expressar.
Jerónimo e Adelino se entreolharam surpresos, ao constatarem que Bezerra já estava ciente de tudo o que eles haviam acabado de escutar no interior do veículo, onde Peixoto era emocionalmente manipulado e o plano ia se delineando em sua mente.
- Puxa, doutor, e nós aqui estávamos imaginando que iríamos contar alguma novidade a vocês...!
O senhor já sabe de tudo?
- É que estamos em sintonia constante com todos os queridos irmãos encarnados que aqui trabalham.
Se as entidades inferiores precisam segui-los para saber quem são, os seus verdadeiros amigos – que somos nós – estamos sintonizados com eles mesmo à distância, sabendo o que pensam, o que fazem, o que pretendem.
Quando os espíritas encarnados estiverem mais conscientes de todos estes fatos, diminuirão sensivelmente as leviandades de conduta que se permitem, agora, somente porque, não enxergando seus tutores espirituais, imaginam que não saberemos o que estão fazendo.
Entendendo que o momento permitiria maiores esclarecimentos, Ribeiro comentou, sereno, mas firme:
- Nossos irmãos são crianças em crescimento.
Acompanhamos seus passos com a antecedência dos próprios pais vigilantes que sabem o que pretendem seus filhos imaturos.
Por isso, estamos avisando a todos sobre a necessidade das transformações. Reconhecemos que os eventos desta noite não são agradáveis para ninguém.
No entanto, permitimos a sua ocorrência por vários efeitos apreciáveis e construtivos.
O primeiro em função das necessidades do próprio visitante.
Iludido na descrença por imaginar que Deus é uma grande lorota, recebeu hoje a injecção de Verdades que demonstram exactamente o contrário de suas ideias.
Como está enterrado em problemas até o pescoço, tudo o que escutou aqui lhe serviu como uma injecção de vida na consciência culpada que tenta matar diariamente.
Depois de trabalhado pela horripilante hipótese de que os espíritos sabem de nossas mais secretas quedas, não lhe restará dúvida alguma diante da comunicação de Gonçalves, pobre alma surripiada em suas esperanças e em sua própria vida.
O segundo efeito benéfico foi o decorrente da decepção que o próprio Peixoto sentiu depois de todo o acontecido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:56 pm

Nosso invigilante irmão ainda não entendeu que a mediunidade é coisa séria e não um balcão de negócios onde o interesse pessoal comanda tudo.
Afastamos Peixoto de seu corpo e permitimos a ligação directa de Gonçalves para que o médium aprendesse importantes lições e que, compreendendo que não é ele quem dirige o intercâmbio, colhesse os frutos amargos de seu comportamento interesseiro.
O terceiro efeito esperado por nós, tem ligação directa com o que aconselhamos ao final da reunião através de nossa Dalva.
Que os médiuns e trabalhadores estivessem atentos, porque os que não guardarem vigilância e seriedade com os objectivos do trabalho espiritual serão, por causas naturais, separados dos outros, afastando-se do grupo.
Aproveitando a pausa que se fizera natural nas afirmativas de Ribeiro, Adelino completou:
- É o que estamos vendo agora começar a acontecer, então?
- Isso mesmo, meu filho – respondeu Bezerra, sincero e grave.
Infelizmente, o mal prolifera naquele que ofereça ambiente interior fecundo para a maldade.
Em todas as pessoas que ainda não aprenderam a ser transparentes, sinceras e limpas de coração, o lodo da malícia, da inveja, do ciúme adubam a terra íntima para a semente da discórdia nascer e crescer.
Daí, os que se afinizarem nos mesmos processos inferiores, por se sentirem reunidos debaixo do mesmo patrocinador – a dúvida -, se deixarão contaminar e, por suas próprias pernas partirão em grupo para as experiências de evolução de que necessitam. Vão apoiar-se uns nos outros parecendo estar cobertos de razão, alimentando-se reciprocamente sem que entendam os meandros das entidades negativas que os manipulam, sempre baseadas no interesse material do qual estes irmãos ainda não se desvincularam.
Em alguns, é o interesse de realce pela vaidade, em outros, o interesse de progresso material motivado pela ambição.
Outros têm o interesse de descanso, motivados pela preguiça, outros o de permanecerem no cultivo dos prazeres fáceis, pela luxúria, outros mais de conquistarem afectos a qualquer preço, estimulados por suas carências afectivas.
Nós os conhecemos tão bem que, sem nos colocarmos como profetas da desgraça, saberíamos dizer, nome por nome, quais deles comporão o rol dos que deixarão esta casa, usando as mais inconsistentes desculpas.
No fundo, entretanto, isto será uma benéfica purificação, representando a selecção natural que visa a harmonia do conjunto, harmonia esta dificilmente conquistada com a presença de elementos tão heterogéneos.
Depois da natural turbulência, um ambiente de maior equilíbrio e de melhoria do trabalho beneficiará a todos nós.
Estão sendo avisados sobre a necessidade de se transformarem realmente.
No entanto, imaginam que isso é apenas aconselhamento rotineiro, destituído de profundidade.
Perceberão, tarde demais para eles mesmos, que foram alertados com muita antecedência e, ainda assim, caíram na armadilha das trevas.
A maioria se perderá no cipoal das próprias imperfeições porquanto, assim que deixarem o ambiente de trabalho sério, não encontrarão alimento espiritual adequado aos seus anseios.
Da mesma forma, não estão imbuídos de suficiente espírito de abnegação para lutarem contra as adversidades e se apoiarem no combate ao germe do personalismo, do exclusivismo, da ideia de superioridade que nutrem um em relação ao outro, não conseguirão formar um grupo que se entenda.
Serão, apenas, companheiros de motim embasados em reclamações diversas.
Nenhum deles dispõe, ainda, das qualidades essenciais para ser um bom capitão do barco, nem destreza ou competência para entender as leis da navegação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:56 pm

Servem muito bem para esticar as amarras, baixar as velas, para servir comida ou levantar âncoras.
Mas nenhum deles detém experiência ou a competência espiritual para assumir o comando do navio.
Então, o que se vai ver é o grupo dos amotinados abandonar o navio e, no barquinho do individualismo onde transportam o seu grande cabedal de orgulho, moverem os remos cada um por sua conta, desejando chegar ao paraíso, mas não sabendo como fazê-lo.
Vão navegar dessa forma até que se cansem e que padeçam sob o sol escaldante e a sede inclemente, não conseguindo chegar a lugar algum, restando, por fim, o arrependimento por terem sido tão tolos a ponto de abandonarem a nau que os protegia e transportava.
Quando isso ocorrer em suas vidas, o peso do desencanto e do orgulho que carregam no barco da personalidade será o obstáculo maior para que aceitem voltar ao navio que abandonaram.
Tudo isto, meus filhos, é benefício para a instituição séria que, confiando em Deus, conta com a protecção superior que sustentará nos corações sinceros que aqui permanecerem na convicção da amizade real e da fé no Divino Amigo, o Cristo, que é o verdadeiro proprietário e Dirigente desta instituição.
Passaremos por um breve período de agitação que, em algumas semanas estará superado pela perseverança no Bem dos que aqui permanecerem.
Certamente que alguns sofrerão com o peso da calúnia, da desconfiança, do questionamento vulgar e injusto e, até mesmo, da ingratidão. No entanto, os verdadeiros trabalhadores do Senhor não estão aqui à cata de lisonjas, homenagens, compreensão ou apoio.
Servem, mesmo em plena solidão, procurando fazer o melhor.
Entregam toda a sua defesa ao Pai que tudo sabe, continuando a trabalhar mesmo sob a saraivada de acusações e mentiras.
Esse é o pedaço amargo dos que estão na responsabilidade.
Pela forma como se conduzirem aos ataques, demonstrarão se estão ou não preparados para enfrentar os desafios da liderança.
Só serão dignos da confiança superior se não se abaterem ou desanimarem à frente das tarefas do comando, nem desertarem das responsabilidades ante o Bem a ser feito.
E observando a atenção dos que o escutavam, arrematou Bezerra:
- Todos estão sendo testados neste momento de crescimento.
Peixoto, os médiuns, trabalhadores e o próprio Jurandir passam pela prova.
Os que perseverarem no ideal sincero, no entanto, estarão protegidos.
Como nosso objectivo é o de observarmos os mecanismos de separação do Joio e do Trigo neste momento de transição da humanidade, creio que seria de todo interessante que vocês acompanhassem Alceu em sua rotina pessoal no dia que amanhece, da mesma forma que os parentes directos de Alberto, bem como os seus antigos patrões, Moacir, Rafael e, em particular a jovem Lia, amante deste último.
Das atitudes que adoptarem entenderemos a lógica superior que sabe avaliar em cada filho qual a sua efectiva condição espiritual estampada nas próprias reacções ante aos desafios que se lhes apresentem.
Quanto a nós, seguiremos monitorando todos os eventos, sendo certo que seremos mais produtivos com menos trabalhadores devotados e sinceros do que com muitos, indiferentes e dissimulados, presos às coisas do mundo.
Encaminhados nas rotinas de estudo a que se dedicavam, Adelino e Jerónimo despediram-se seguindo rumo às tarefas que se multiplicariam nos dias seguintes, avaliando os efeitos em cada pessoa, espírita e não espírita, das tentações, desafios, fracassos e quedas, todos como mecanismos de aferição do Bem Verdadeiro já pulsante no coração de cada encarnado que, nestas horas, está sob o teste selectivo para a grande transição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:56 pm

23 – ALCEU
Depois que saiu do centro espírita, extremamente abalado, Alceu não podia voltar para casa naquele estado.
Sua esposa logo perceberia a brusca alteração emocional.
Apesar de estar acostumado às pressões do mundo dos negócios, jamais estivera diante de tão complexas questões simultaneamente.
Precisava de tempo para pensar.
Então, resolveu procurar conhecido restaurante onde, em ambiente tranquilo e ao influxo de alguma bebida relaxante, recobraria um pouco do equilíbrio, entre baforadas de seu cigarro favorito.
Ao lado dele, entidades inferiores enxameavam seus pensamentos.
- Não falamos que você não deveria ir, seu burro? – intuía a principal delas, espírito de parca evolução e interesses idênticos aos de Alceu.
Bem feito, tomou na cabeça porque, além de um idiota, é teimoso.
Num mecanismo automático muito comum nos processos obsessivos já instalados, Alceu repetia mentalmente as mesmas ideias, falando de si para consigo mesmo:
- É, eu sou mesmo um burro, um idiota.
Nunca deveria ter me metido nestes negócios de Espiritismo.
Fui procurar e acabei encontrando.
Sempre pensei que fosse uma questão de a gente pagar para conseguir o que queria e pronto.
Que eles fossem pedir umas velas, umas comidas quaisquer, algum dinheiro e só.
- Você pensa que esses lugares não são perigosos, que representarão a solução fácil para seus problemas?
Pois fique sabendo, seu imbecil, que há “certos lugares” muito perigosos para todos.
Tão perigosos que não entramos com você.
Tá pensando que a gente é doido?
Se você quer se meter com os luminosos, vai acabar queimado por tanta luz.
E o singular diálogo prosseguia enquanto a bebida ia fazendo efeito.
O que mais incomodava o pobre Alceu, espírito mesquinho e acostumado aos jogos de interesses, era o facto de que sempre conseguira a absolvição dos ilícitos crimes praticados no passado à custa de oferendas feitas nos templos religiosos nos quais comparecera.
Ele que, além de ter sido um ingrato funcionário, de ter fraudado a confiança do antigo patrão e, em consequência, ter contratado a morte dos dois inocentes, julgara que de tão graves atitudes conseguiria safar-se ofertando alguma fagulha de sua fortuna às igrejas tradicionais, sendo por elas considerado um benfeitor, digno dos maiores elogios.
- Mas que malditos sortilégios esses espíritas utilizam para fazer levantamento do túmulo as almas penadas?
Não sei se Peixoto poderia saber de minhas relações sexuais, de meus problemas administrativos e minha “forma de tratar” meus funcionários.
Talvez alguém pudesse ter-lhe contado.
Quem sabe minha própria esposa, aquela cobra.
Mas estou seguro de que ninguém sabe de factos tão graves quanto os que envolvem Gonçalves e sua mulher.
Por que diatribes de Satanás se apresentou o maldito velho a me cobrar da consciência as coisas de um passado tão distante?
Já se passaram três décadas.
Eu nem mesmo era casado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:56 pm

Nunca revelei tais factos a ninguém, nem mesmo aos diversos padres que já passaram pela catedral, sempre desejosos de que nos confessássemos para a obtenção da salvação através das penitências.
E olha que já deixei uma pequena fortuna nas doações que fiz para as inúmeras reformas.
Sou tido como o maior benfeitor da comunidade religiosa, apesar de sempre solicitar o anonimato.
Se gostam de alardear o meu nome aos quatro ventos, o fazem contra a minha vontade, porquanto sempre peço o contrário.
E, mesmo assim, como pode me aparecer o Gonçalves e me “tacar na cara” essas coisas?
Imagine se houvesse algum juiz, algum promotor ou qualquer autoridade policial naquela sala, escutando aquelas revelações tão secretas?
Puxa vida, será que não havia?
Eu não conhecia ninguém lá dentro além do idiota do Peixoto.
Aliás, esse interesseiro cujo maior interesse em mim era sobre meu dinheiro, certamente que me prestou um grande favor.
Com a sua conduta tão baixa, deu-me a excelente desculpa para me afastar de sua labiosa armadilha, através da qual, certamente, pretendia me ajudar para, depois, me arrancar algum dinheiro pelos favores prestados com essas rezas.
Eu conheço bem esse “tipo” de gente.
Sempre dando com uma mão para esperar receber algo na outra.
Só o pensar nas coisas criminosas que fizera há tanto tempo já deixava Alceu nervoso.
Quanto mais imaginar que tais pessoas mortas pudessem ainda continuar por aí, denunciando seu crime, comandando seus negócios – como afirmara o próprio Gonçalves.
Isso era algo inimaginável.
Morto era morto e vivo era vivo.
Mas as provas que tivera naquela noite eram incontestáveis.
Só ele sabia daquelas verdades.
Nem mesmo seu advogado fora informado de que a morte dos velhos fora “encomendada e paga” por ele próprio.
Mesmo os bandidos que a haviam cometido, poucos meses depois haviam sido mortos também, em um enfrentamento com a polícia, segundo noticiaram todos os jornais da época.
Não restavam testemunhas.
- O que devo fazer? Disse que iria denunciar aquele antro de enganadores, mas acho que se mexer “nesse negócio” as coisas vão piorar ainda mais para o meu lado – meditava, temeroso, o empresário.
Eu nunca acreditei nessas “coisas” de Espiritismo, mas, por via das dúvidas, a gente nunca pode ter certeza...
- Isso mesmo – murmurava o obsessor ao seu ouvido – deixe essa corja de intrometidos sossegada.
Mais dia ou menos dia, acabam encontrando o que merecem.
Além do mais, “ocê tá” com um medão danado, hein?!
Corajoso... Há! Há! Há! – explodia a gargalhada da turma ao redor do empresário, que se imaginava sozinho naquela mesa de restaurante quase vazio.
Mais de trinta entidades o assediavam, entre elas, Gonçalves, a esposa assassinada, os dois ladrões contratados para matá-los, entre os outros diversos prejudicados ao longo de sua vida de “homem bem sucedido”, como se orgulhava de dizer aos seus mais próximos.
- Bem, vou deixar esse povo macumbeiro, feiticeiro ou sei lá que raio de coisa quieto em seu lugar, desde que eles também não me venham provocar.
Mas e quanto ao Gonçalves?
Como faço para livrar dessa perseguição?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:57 pm

Será que ela é real?
Acho que vou precisar me aconselhar com Dom Barcelos.
Afinal, ele é versado em teologia e, certamente, entende disso mais do que eu.
As goladas do bom uísque e a nicotina tinham produzido o efeito narcotizante já conhecido, graças ao qual Alceu recuperara a calma para tomar o rumo de casa.
Precisava dormir um pouco antes dos embates do novo dia.
Todavia, ainda assim, aquela seria uma noite agitada.
Seus pensamentos giravam em sua cabeça e, as poucas vezes em que seu espírito se desprendia do corpo, via diante de si o velho Gonçalves, irónico e ameaçador, obrigando-o a voltar rápido para a organização física onde despertava, agitado.
Como dormia sozinho em um quarto isolado, a esposa não testemunhava seu sono turbulento.
No entanto, tudo aquilo era mais do que simples fruto de sua imaginação.
No fundo sabia que tais imagens bizarras tinham muito a revelar aos seus sentidos lúcidos.
Era a volta da consciência amortecida aos estados de lucidez onde, primeiro a culpa, depois o arrependimento e, por fim, o trabalho de recuperação através da prática do bem cooperariam com Alceu para a transformação real, depois de tantos anos envolvido pelos prazeres e desfrutos, farras e passeios, carros e bebidas.
Agora que se vira frente afrente com sua pior vítima, saber que ela o esperava para o ajuste de contas fazia seu sossego desaparecer.
E o sono se tornara um tormento porque, cada vez que desejava descansar, repetia-se a cena da perseguição de Gonçalves, esperando para a sua vingança.
A duras penas estava descobrindo que o crime é a armadilha que prende o criminoso.
Foi nesse estado de desajuste que Jerónimo e Adelino foram encontrá-lo, na luta para tentar descansar um pouco.
No fundo no fundo, Alceu e todos os outros eram sócios no mal ou no crime.
Ele havia feito o que fez para ficar rico, mas Gonçalves, mesmo do lado de lá da vida, o usava como seu empregado.
A vingança que o espírito ia construindo para seu algoz era lenta e cruel, uma vez que envolvia a perda de tudo, da família, do sossego, da saúde mental e, por fim, da própria vida.
Depois de se impor pelos laços vibratórios da sintonia no mal, Gonçalves estimulava as fraquezas de Alceu a fim de que infringisse os comportamentos correctos com os excessos de seus desejos.
Perderia o respeito por si próprio, atrairia pessoas inescrupulosas para o seu ambiente pessoal, destruiria a harmonia do lar arrasando o próprio casamento para que, depois de tudo perdido, sugerisse ao ex-empregado que tirasse a própria vida, a fim de terminar seus dias no abismo do suicídio, continuando a pagar por suas maldades.
Ao perceberem que Alceu permanecia agitado mesmo depois de ter-se contaminado com o álcool e as toxinas maléficas do cigarro, Jerónimo se acercou do infeliz e, aplicando-lhe passes magnéticos, conseguiu diminuir sua agitação, mantendo seu espírito justaposto ao corpo carnal, de forma que os seus perseguidores espirituais pensassem que não havia conseguido “pregar o olho”.
Considerando que seus intentos haviam sido atingidos, tais entidades se dariam por satisfeitas.
Então, ávidas para aproveitar os restante da madrugada, muitas delas partiram em busca dos antros de prazer ou emoção onde iriam desfrutar o tempo de escuridão que lhes restava, junto aos outros encarnados emancipados pelo sono, permitindo que Alceu ficasse sem tantas companhias.
Quando a maioria delas partiu, restando apenas Gonçalves e o obsessor principal, Jerónimo se fez visível para ambos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:57 pm

Assustados com a intensa luminosidade, afastaram-se para um canto do quarto, levantando imprecações e xingamentos enquanto comentavam, um com o outro:
- Deve ser algum dos enviados de lá, do antro da luz, onde o nosso idiota boneco se meteu esta noite... – falou o comandante da perseguição.
- Acho que deve ser, mesmo – respondeu Gonçalves.
Eu não tive muito tempo de ver nada naquele lugar.
Só sei que alguém me levou até aquela mulher “alto-falante” dizendo que poderia falar tudo o que desejasse, que ela repetiria.
- Saia daqui, alma penada, esse lugar é nosso – gritou o outro na direcção da luminosa entidade.
Observando o medo dos dois remanescentes, Jerónimo os acalmou, dizendo:
- Estamos aqui em missão de paz, meus irmãos.
- A paz de vocês é guerra para nós – respondeu o mais arrogante dos dois.
- Pois os vemos como nossos inimigos.
Estamos desejando compreender os motivos que levam vocês e Alceu ao tormentoso patamar da loucura.
- Não somos loucos.
Somos vingadores, isso sim.
Fomos vítimas de um louco e enlouquecemos no ódio que nos faz estar aqui para o devido acerto de contas.
E não vamos deixar que os “anjos” venham a se meter em nossos negócios porque, certamente, devem estar muito mal informados a respeito desse traste, se estão procurando defendê-lo.
- Conhecemos todos os problemas pelos quais vocês passaram, tanto quanto sabemos das responsabilidades de Alceu na dor de vocês.
No entanto, as dores existem para que, um dia, passem.
Nos parece que os dois irmãos gostam de cultivá-la, ainda que reclamem de sua causa, utilizando-a como desculpa para a sede de vingança.
Continuam infelizes e doentes, mesmo depois de décadas de perseguição.
- É que o infeliz ainda não sofreu tanto quanto precisa.
Estava na fase do desfrute e, somente agora, começa a fase da derrocada.
Começará a perder a família e, com isso, grande parte dos próprios bens.
Depois perderá todo o negócio, perderá os amigos, perderá a consideração dos outros, perderá a saúde e, por fim, perderá a vontade de viver.
Observando a dureza das entidades, Jerónimo não se animou em discutir, limitando-se a informar:
- Estamos aqui para ajudar a todos.
Caso queiram me acompanhar, estão convidados.
Caso não o desejem, fiquem por aqui que, dentro de algumas horas, traremos Alceu de regresso.
Olhando a luminosa entidade cuja beleza impressionava, desestimulando qualquer oposição, o obsessor principal respondeu:
- Vixe, tá pensando que a gente é burro mesmo?
Pois saiba de uma coisa:
Esse “cara” aí é nosso.
Trate de trazê-lo de volta porque a gente sabe que os “anjos” não obrigam ninguém a fazer o que não deseja.
Ele está connosco porque nos chama.
Mas tenha certeza de que, quando voltar, vamos piorar muito o tratamento sobre ele.
A escolha é sua.
- Que assim seja.
Não digam depois que não foram convidados para modificar seus caminhos –respondeu Jerónimo, sereno e piedoso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:57 pm

Tomou, então, o perispírito de Alceu em seus braços e, acompanhado por Adelino, que não era visto pelas duas entidades assustadas, deixou o recinto em direcção ao Centro Espírita.
A noite ia alta e os trabalhos da casa, como de costume, se multiplicavam no atendimento dos necessitados.
A chegada de Jerónimo conduzindo o pobre e desajustado Alceu não causou surpresa aos dirigentes da instituição.
Já esperando por sua chegada, estavam também Peixoto, Cássio, Moreira e Geralda, trabalhadores comprometidos com as entidades inferiores que, agora fora do corpo, ali estavam para serem informados das derradeiras orientações.
Cada um possuía um tipo de lucidez maior ou menor sobre o encontro naquele ambiente.
O menos preparado para isso era Alceu, que era mantido sob a protecção directa de Jerónimo para que, por ele sustentado, tivesse clareza de pensamento e entendimento no aproveitamento naquela hora importante.
À frente de todos, Ribeiro, Bezerra e Adelino seguidos, logo depois, um pouco mais afastados, por Jurandir, Dalva, Alberto, Lorena, Meire, Cornélia, Horácio, Plínio e Alfredo, que se posicionavam em semicírculo, para os entendimentos daquela hora.
Ribeiro tomou logo a palavra para aproveitar aqueles breves momentos:
- Filhos queridos, você são trazidos aqui nesta hora importante de suas vidas para decisões muito sérias, que modificarão para melhor ou para pior o destino de seus espíritos.
Por isso, abram bem os ouvidos e escutem com a mente e o coração aquilo que nosso amorável paizinho irá lhes comunicar.
Dito isso, cedeu o espaço para a palavra do generoso Bezerra.
- Meus queridos filhos, a hora da vida é cheia de alegrias e oportunidades.
Na sua infinita bondade, Deus nos concedeu a inteligência e o sentimento para desenvolvê-los a fim de que nos garantissem a capacidade de escolher com conhecimento de causa.
Seus destinos estão em suas próprias mãos.
Tocados pelos interesses imediatos, suas almas estão se distanciando do caminho do Bem ao elegerem o negócio com os sentidos no lugar das responsabilidades morais com o próprio burilamento interior.
Então, deliberamos reuni-los neste momento para este último encontro.
Dirigindo-se, agora, especificamente, a cada um deles, Bezerra procurou ser claro e directo, facilitando a fixação dos ensinamentos:
- Alceu, bendita a hora em que os fantasmas do passado podem ser exumados da consciência que pensamos ser, apenas, o velho caixão de ossos acabados.
Aproveite, meu filho, a notícia da responsabilidade antes que o caminho se torne mais áspero.
Seus adversários o espreitam e, por mais que tentemos fazer o Bem em seu favor, todos estamos na hora das próprias decisões.
Se parar de se iludir ou de procurar justificativas fáceis para fugir da responsabilidade, demonstrará o desejo de se melhorar e estará à altura do auxílio que Deus lhe oferece todos os dias.
No entanto, se desejar seguir outro caminho, prepare-se para as dores e as transformações indispensáveis que a hora da Terra comporta para todos.
Informe-se sobre a doutrina amorosa que dá voz aos mortos e entenda que nossos desafectos se transferem de dimensão, mas nossas dívidas seguem connosco para onde formos.
Não é mais a hora das aparências de bondade.
Agora é o momento da Bondade Divina pulsar em seu íntimo.
Nenhum crime é grande demais para o coração de Deus, desde que o arrependimento do filho seja verdadeiro, e seu desejo de reparação, igualmente sincero.
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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:57 pm

Voltando-se para os outros quatro, considerou, paternal:
- Filhos de minha alma, temos estado juntos nesta jornada de construção do novo homem, durante todos estes anos.
Depois de muitos trabalhos e aprendizados variados estamos sendo chamados à aferição de nosso aproveitamento efectivo.
As portas da Casa do Pai nunca se fecharão para nenhum de seus filhos.
No entanto, existem escolas adequadas para tipo de estudante, bem como salas de aula com metodologias distintas de acordo com as necessidades de despertamento.
Até agora, vocês têm sido admitidos aqui como trabalhadores de boa vontade, através dos quais, outros infelizes encontram o caminho.
No entanto, vocês têm desperdiçado as oportunidades de caminhar pela estrada que têm aconselhado os outros a percorrerem.
Anos e mais anos têm sido testemunhas do descaso com que têm tratado a Divina Mensagem.
Contaminados pelos interesses materiais nas diversas áreas da personalidade, suas condutas têm demonstrado a falta de dedicação à obra divina, como seria de se esperar.
Diante de tal circunstância e, uma vez que não existe violência na Casa de Deus, foram trazidos até aqui hoje para que sejam informados de que, a partir de hoje, para nós, não possuem mais vínculos de trabalho espiritual com esta instituição.
Poderão aqui permanecer e, se modificarem suas inclinações, se vencerem a insinceridade, se se tornarem irmãos mais verdadeiros de seus companheiros, se pararem de viver vidas duplas, triplas ou múltiplas aqui dentro e fora daqui, se as suas transformações morais forem de tal monta que acessem o grau de sinceridade de seu arrependimento, poderemos recebê-los novamente no círculo dos trabalhadores devotados da causa.
No entanto, mantê-los sob este compromisso tão grave sem que se conduzam como deveriam, seria agravar os efeitos dos desatinos que têm praticados por livre e espontânea vontade.
Diante da lei, até agora vocês têm sido classificados como servos de Deus tramando contra a obra de Deus.
Tentamos estender-lhes todo tipo de auxílio para que modificassem essa situação.
Como nada mudou seus comportamentos, a última ajuda possível que nos resta é liberá-los dos compromissos para que suas atitudes equivocadas pesem menos sobre seus ombros, nas horas da apuração das responsabilidades.
Quem sabe, com isso, obtenham uma consequência menos desagradável quando lhes tocar caminharem rumo aos próprios destinos.
Estamos, pois, desligando-os desta Casa a benefício de vocês próprios e não por causas outras, como a mágoa ou o ressentimento enraizados nas atitudes do passado ou naquelas que estão pretendendo tomar contra a instituição.
Sabemos compreendê-los como irmãos envolvidos pelas coisas do mundo das quais não quiseram se divorciar adequadamente, como aqueles que, servindo a Deus e a Mamon, tentaram conciliar as coisas celestes com as coisas mundanas, sem o conseguirem.
Não se esqueçam de que, abrandados por nosso amparo nem nossos conselhos poderão ser ouvidos em seus pensamentos, uma vez já ter ficado claro não apreciarem esse tipo de aconselhamento.
Daqui para a frente, seus actos atestarão plenamente o que são, seja no Bem seja no Mal.
Que Jesus os ilumine sempre, filhos queridos.
Quem sabe um dia nos encontremos novamente no mesmo lado da luta.
A palavra singela e fraterna de Bezerra escavava aquelas almas que, diante daquele luminoso espírito, pareciam apequenar-se nas misérias que guardavam dentro de si mesmas, iludidas sobre a manutenção de tais segredos diante dos olhares superiores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 15, 2018 8:57 pm

Peixoto, impressionado, tentava resistir ao choro, sem impedir que lágrimas escorressem de seus olhos.
Cássio não levantava a cabeça, recordando-se das leviandades praticadas às escondidas.
Moreira, como Cássio, estava extremamente incomodado com o peso da consciência enquanto Geralda parecia fazer de conta que não era com ela.
A pobre moça, perdida em seus sentimentos, não possuía a maturidade espiritual para observar tudo aquilo com seriedade, aprofundando as advertências de fora a meditar sobre si mesma, sobre a legitimidade de suas escolhas, na certeza de que Deus e seus prepostos tudo sabem a nosso respeito.
Como a maioria dos Espíritas e dos Cristãos de todas as denominações, pensavam que eles poderiam parecer bons de dia e maus durante a noite, parecer honestos nas manifestações sociais ou colectivas, mas, na esfera pessoal, continuarem tão degenerados quanto a maioria do mundo.
Terminada a comunicação, cada qual foi levado de regresso ao seu destino, acordando no leito com as emoções daquela hora.
Apesar de não terem registrado a exactidão dos conceitos daquele instante, todos sentiriam que haviam estado em momento muito grave e decisivo para seus destinos.
Quem sabe se, com tudo isso pesando em seu inconsciente, adoptassem outros caminhos que não os da calúnia, do amotinamento, da atitude mentirosa e esquiva, decidindo-se a não praticar os actos que tinham em seus planos, atendendo às sugestões inferiores das entidades que os manipulavam.
Em geral, o ser humano não valoriza adequadamente as vantagens de que desfruta nem as concessões com que se vê beneficiado, até o momento em que as perde.
Então, soa um alerta íntimo e, daí para a frente, com a consciência despertada pela supressão dos benefícios naquilo que interpreta como um “rebaixamento”, começa a lutar para a reconquista da antiga consideração.
O dia que se aproximava, então, seria a nova oportunidade para que cada um demonstrasse o que verdadeiramente desejava, no tocante aos próprios anseios.
Alceu, acordando no corpo depois de ter descansado, trazia o entendimento alargado pelos alertas daquele amoroso espírito e, ainda que não soubesse de quem se tratava, levantou-se da cama tocado por uma vontade, ainda que ténue, de procurar uma saída mais adequada para os infelizes compromissos do passado, uma explicação para aquele fenómeno tão intrigante de que se fizera observador directo sem conseguir controlar a própria reacção.
Geralda despertou em sua casa, sem qualquer lembrança imediata ou remota daquele encontro espiritual.
Sentia, contudo, o coração descontente, turbulento, apertado sem saber o motivo.
Atribuíra este estado pessoal ao susto da noite anterior, quando o desconhecido Alceu quase pusera tudo a perder no ambiente físico.
- Sim – pensava ela -, essas ocorrências perturbam nosso espírito e, sinceramente, não sei onde estava seu Jurandir quando permitiu que um estranho permanecesse em nossa reunião.
Acho que estas coisas não deveriam acontecer porque, depois, a gente é que “paga o pato”, ficando com as sobras das vibrações densas.
Não eram os seus desejos amorosos reunidos para destruir o relacionamento de um casal comprometido que lhe surgiam como motivo para o mal-estar.
Não! A causa de sua angústia íntima era o erro de Jurandir, que possibilitou a permanência daquele desequilibrado senhor na reunião da noite anterior.
Em outra casa despertava Cássio, o infeliz irmão desajustado na vivência das farras descompromissadas.
Surpreendentemente, levantara-se do leito irritado, como que indignado com um sonho revelador no qual se sentira desmascarado.
Das ideias que arquivara em sua mente de espírito naquela noite, ficara-lhe a noção de haver sido descredenciado pelos espíritos como uma represália por suas escolhas de vida, o que considerava uma ofensa à sua liberdade pessoal e o melindrara profundamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 16, 2018 7:45 pm

Teria ou não o livre-arbítrio?
Poderia, fora do centro espírita, levar a vida que melhor lhe aprouvesse ou precisaria ser um bonequinho dos Espíritos e dos conceitos do Evangelho?
Por que os espíritos se metiam com sua vida pessoal se, dentro do centro continuava agindo dentro dos padrões e das rotinas seguidas?
Não era má pessoa.
Cumpria seus deveres, comparecia às reuniões, procurava ser assíduo, ajudava com alguns recursos financeiros, mas nunca lhe parecia estranho a discrepância entre o que doava para ajudar os aflitos, em qualquer parte, e as volumosas quantias consumidas em suas aventuras etílicas, nas festas de embalo ou na realização de seus caprichos.
Na verdade, Cássio era um trabalhador rotineiro, de superfície, imaginando que sua vida pessoal poderia continuar sendo a mesma pocilga desde que se oferecesse ao trabalho mediúnico em alguns horários da Casa Espírita.
Além disso, supunha ainda que os seus protectores teriam de protegê-lo de todos os males e baixas vibrações, mesmo nos lugares inferiores que frequentava e onde desfrutava dos gozos mundanos.
“É dando que se recebe” – costumava dizer, achando-se coberto de razão.
Continuando a pensar sobre o “sonho” da noite, que lhe parecia mais real do que de costume, dizia consigo mesmo:
- Se os Espíritos não mais me ajudarem, pois bem!
Eu sei me virar sozinho.
Quem disse que preciso deles?
Afinal, aquele não é o único Centro Espírita da cidade.
Recebendo as sugestões mentais dos perseguidores invisíveis, começou a conjecturar:
- O caso Alceu é um bom exemplo de falta de protecção dentro do próprio Centro.
Afinal, como é que os Espíritos Dirigentes de um trabalho que se diz tão sério e compenetrado deixam que um maluco se descontrole daquela maneira?
Certamente que as entidades espirituais superiores, se estivessem tomando conta dos trabalhos, teriam impedido que aquele indivíduo fizesse aquele carnaval.
Se eles sabem tudo, como deixaram que as coisas se tornassem insustentáveis?
Eram as mesmas sementes de discórdia que as entidades manipuladoras estavam semeando no interior dos outros três trabalhadores invigilantes.
Era importante que Cássio apoiasse Peixoto para, assim, terem mais força e causarem maiores prejuízos ao trabalho espiritual daquela instituição.
Além do mais, essas entidades estavam aliadas às outras que queriam garantir para si as energias do médium, companheiro de noitadas e aventuras nos ambientes pouco apropriados, onde se associavam nas trocas vibratórias.
Também desejavam afastá-lo da rotina de trabalho no Bem, nos dois dias da semana, quando vários de seus comparsas eram atraídos para o esclarecimento mediúnico, enfraquecendo a invisível “turma da bagunça”.
Já Moreira, o outro irmão envolvido por espíritos do mesmo jaez, apresentava idênticos questionamentos aos de Cássio, valendo-se do incidente com Alceu para duvidar da integridade da Casa Espírita e da Direcção Espiritual que nela se mantinha vigilante.
Igualmente retido em seu orgulho em virtude dos cancelamentos de seus compromissos de trabalho, ao invés de aceitar o convite à regeneração moral, preferiria vestir a fantasia de vítima e partir para o contra-ataque, criticando aquilo que não concordava, a condução dos atendimentos, as discípulas consideradas por ele como exageradas, alicerçando suas acusações no exemplo do destempero de Alceu, impróprio para uma instituição que se supunha escudada na força dos Bons Espíritos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 16, 2018 7:45 pm

Peixoto, por fim, despertara carregando o coração oprimido, com um peso muito grande em sua consciência, tocado pelas palavras de Bezerra sobre a supressão do compromisso.
No entanto, a pressão das entidades inferiores que se ocupavam de sua sensibilidade logo se fez sentir, a fim de transformar seus pensamentos de arrependimento em sentimentos infantis de desestima, de indiferença para com suas necessidades pessoais, tão graves quanto precárias.
- Está vendo, Peixoto, o que dá ficar trinta anos servindo como burro de carga para os que alegam fazer o Bem?
Quando você mais precisava deles, o jogaram na lata do lixo.
Que cristianismo fajuto é esse?
Estão querendo se desfazer de você, tirando o que seus méritos construíram ao longo de tantos anos de serviço.
Como é possível uma coisa dessas?
E lá se foi Peixoto, imaturo, pelo mesmo caminho da autocomiseração.
Infelizmente, nenhum dos quatro trabalhadores da mediunidade havia se preparado para a vida seguindo os conselhos do Divino Mestre:
- ORAI E VIGIAI PARA NÃO CAIRDES EM TENTAÇÃO!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 16, 2018 7:45 pm

24 - MOACIR E SUA FAMÍLIA POUCO EXEMPLAR
Se as realidades não eram fáceis para os trabalhadores da instituição que, bem ou mal, já possuíam algum entendimento das leis espirituais, é fácil de se entender como deveria estar a vida de cada um dos sócios da empresa falida.
Moacir, o sócio casado com Valda, trazia a mente fervilhante de preocupações.
Certamente que não poderia fingir por muito tempo, mas, egoísta e sem visão de empresário responsável, tratou de procurar meios de se livrar do máximo de coisas de seu património a fim de salvar do confisco tudo o que conseguisse.
Não que estivesse preocupado com Valda e seus filhos, todos já crescidos e capazes de sobreviver, segundo ele pensava.
- Preciso mesmo é salvar alguma coisa para dar seguimento à minha vida – falava consigo, enquanto ia revirando papéis.
Consultou um outro advogado especialista em golpes financeiros, entregando-lhe documentos pessoais e traçando uma estratégia para surripiar dos credores o máximo que pudesse.
Não estava nem um pouco preocupado com o futuro dos muitos funcionários.
Depois de ter demitido Alberto, facto que, por se só, levantou uma série de rumores internos, determinou que se suspendessem os pagamentos extras, sacrificando alguns para que todos recebessem, naquele mês, ao menos o salário básico.
Alegaria um insucesso financeiro, um imprevisto qualquer gerado por um cliente que não pagou o que devia, causando o rombo nas contas daquele mês, e pronto.
A estratégia era ganhar tempo antes que a acção dos poderes constituídos, através de seus representantes legais, caísse sobre a empresa com todo o seu peso.
Então, além de agir dessa forma, o plano também envolvia o desvio de materiais e maquinários, aproveitando o final de semana sem funcionários.
Para isso, arrumou caminhão, agenciou carregadores e, sem avisar ninguém, comandou a retirada de várias máquinas da linha de produção, informando os vigilantes do local que se tratava de máquinas que seriam enviadas à manutenção porque se encontravam defeituosas, retirando-as do galpão para dar-lhes destino incerto, ocultando-as em depósito desconhecido para futura venda.
Moacir sabia, no entanto, que mais cedo ou mais tarde, precisaria revelar a real situação à Valda, antes que a sua irmã Alice, esposa de seu sócio Rafael, o fizesse.
Para tanto, reuniu a família a fim de contar sobre o novo panorama.
- Juliano – disse ao dirigir ao filho mais velho -, você precisará devolver o carro e desfazer o negócio ou, então, terá de pagar o financiamento com seus próprios recursos.
Ouvindo a notícia à queima-roupa, o filho protestou, meio a sério meio ma brincadeira:
- “Qual é”, velho, “tá” me punindo por alguma coisa errada que pensa que fiz?
Tudo bem, se o “babado” é esse, eu pago com meu salário... não “tá” pensando que vou perder a “máquina”, justo agora que estamos nos conhecendo um ao outro.
Vendo que o filho não estava chegando ao âmago da questão, Moacir continuou:
- Então é bom você também procurar um outro salário, porque desde sexta-feira você não é mais empregado da empresa.
Juliano caiu das pernas.
- Pôxa, “cara”, como é que você quer que eu sobreviva sem meu salarinho?
Aliás, do que é que estão me acusando para uma punição tão radical?
Tenho certeza de que não fui eu... afinal, eu nunca apareço por lá, oras!
- Não, Juliano.
Dentre as muitas burradas nas quais você é doutor, desta vez você é inocente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 16, 2018 7:46 pm

- Quanto a você, Sabrina, pode esquecer as férias nos Estados Unidos.
Não teremos como pagar a passagem e a estadia.
Mais rebelde e altiva, Sabrina retrucou, agressiva:
- Mas o que é isso?
Um complô contra a nossa felicidade?
O que deu em você, pai?
Quer destruir nossa família?
- Não, minha filha.
Não é nada pessoal.
Além disso, creio que seria bom você também começar a procurar um emprego.
Afinal, com seus vinte e seis anos, já está mais do que na hora de ganhar a vida por sua conta, caso queira continuar a ter dinheiro para comprar suas coisinhas.
- Mas eu nunca precisei trabalhar na vida!
O que vão dizer as minhas amigas com tamanha humilhação?
Você, pelo menos, vai continuar a pagar o combustível do meu carro, não vai?
- Não, minha filha.
O emprego também tem essa finalidade.
Se quiser andar de carro, precisará encher o tanque.
Aquilo parecia um pesadelo para a jovem e impetuosa Sabrina.
Sem resistir a tais notícias, a filha virou-se para Valda, que se encontrava na sala, e disse:
- Você está por trás disso, não é?
Nunca gostou de mim.
Sempre preferiu o Juliano e convenceu o pai a estragar minha vida.
A mãe, que nada sabia do assunto, assustou-se com a reacção de sua filha, respondendo:
- Não, Sabrina, não estou sabendo de nada.
- Pois então é bom saber, Valda, que nós teremos que deixar esta casa.
Vamos sair, porque ontem mesmo mandei avaliá-la, pois precisamos vender nosso património livre.
- O quê? Ficou maluco, marido?
O que é que minha irmã vai pensar de mim? Enquanto ela fica lá no bem bom, a gente se muda daqui para onde?
Sempre confiei na sua capacidade administrativa e sei que o que você está planeando é para o nosso bem.
No entanto, não quero deixar esta casa que, para mim, é o marco de nossa posição social.
A própria Alice nos inveja por causa dela, sempre dizendo eu gostaria de ter uma moradia como a nossa.
Não vou deixar que isso aconteça.
Pode esquecer.
Eu não assino nenhum documento para vender.
Vendo que todos estavam sem entender a profundidade do problema, Moacir foi mais claro:
- Valda, se você demorar muito, perdermos tudo e não precisaremos assinar coisa nenhuma.
Usando de ironia diante de tais informações, a esposa sorriu e respondeu:
- A sua solução é a saída dos eu estão quebrados, Moacir.
Ora essa, não podemos dar aos outros a impressão de que estamos mal de vida.
Esse negócio do Juliano devolver o carro, da Sabrina não viajar nas férias, isso vai fazer os outros pensarem que nós regredimos socialmente.
- É isso mesmo, Valda. Estamos falidos.
Não temos recursos nem para fazer compras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 16, 2018 7:46 pm

É só questão de algumas semanas ou poucos meses.
Enquanto isso, quanto mais coisas conseguirmos vender, mais poderemos garantir algum recurso para depois da tempestade.
- Falido? – falaram os três quase ao mesmo tempo, atónitos.
- Isso mesmo... é fe, a, él, i, d, ó!
FALIDO – respondeu Moacir, soletrando a palavra para deixar tudo bem claro.
Por isso é que Juliano não tem mais emprego, carro ou salário, Sabrina não poderá passear como planejou nas férias e nós teremos que deixar esta casa antes que a Justiça venha confiscar nosso património pessoal.
- Mas isso não pode estar acontecendo, marido.
O que ocorreu com a empresa? Sempre pareceu tão sólida...
Alberto sempre soube administrá-la tão bem!
A referência ao antigo funcionário fez a mente de Moacir encontrar o “culpado” pela bancarrota, tirando de suas costas a responsabilidade e livrando-se da vergonha familiar ao assumir a responsabilidade pelo insucesso financeiro.
- Sim... foi ele o principal culpado.
A gente vai confiando nas pessoas e, um dia, quando se dá conta, tudo foi perdido.
Tenho culpa por ter sido bom, por ter entregue a Alberto a tarefa principal na condução financeira da empresa, mas, negócios malfeitos, tributos não pagos, acabaram por explodir sobre nossas cabeças e, assim, vamos perder tudo, caso não ajamos rápidos.
- Mas que salafrário – afirmou Juliano.
Sempre pareceu tão sério, tão correto, tão austero.
Ficava me olhando quando lhe apresentava as contas de meus gastos, como se me censurasse sem palavras.
Agora entendo o porquê desse comportamento.
Já estava roubando a gente...!
Certamente queria que sobrasse mais dinheiro para ser desviado.
E a Justiça? Onde está a Justiça?
Como é que a gente, uma família inteira, vai ficar nesta situação enquanto esse “cara” sai por cima?
- Ele também será atingido por tudo.
Nós já o demitimos e está enfrentando as mesmas dificuldades junto aos seus familiares, suponho.
Nunca mais tive notícias, mas, como Gerente Financeiro, também será chamado a prestar contas na solução das dívidas.
Trazendo a conversa para a direcção que desejava, Moacir continuou, informando:
- Então, Valda, temos que fazer tudo o que for possível para não afundarmos junto com a empresa.
Você tem muitas jóias.
A gente vai vender tudo e guardar o dinheiro bem escondido, porque essa gentalha vai investigar até nas nossas meias para descobrir onde é que pusemos o dinheiro.
A esposa estava chocada com tamanho furacão que se abatera sobre eles.
Então, espírito medíocre que era, passou a raciocinar em níveis comparativos tendo sua irmã Alice como referência principal, como sempre fizera nas inúmeras disputas sociais, nas coisas fúteis ou nas extravagâncias.
- Mas e o Rafael com a Alice?
Por acaso vão ter de vender a casa deles?
Entendendo que Valda precisava ser acalmada em sua vaidade, Moacir exagerou no que pôde:
- Bem, querida, se isso é tão importante para você, Rafael está mais desesperado do que nós.
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