LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 06, 2018 9:06 pm

Então, não se preocupe imaginando que sua privacidade está devassada pelas vistas dos seus amigos espirituais.
Nós respeitamos cada escolha que façam, por pior que seja ela.
O mesmo, no entanto, não se pode dizer das entidades inferiores que convivem com os encarnados de maneira directa e incisiva, aceitos como hóspedes, como convidados ou como comparsas e cúmplices.
Estes espíritos inferiores não só se colocam como apoiadores e estimuladores das mais vis fraquezas dos encarnados, como se justapõem a eles em todos os momentos de fruição e gozo que aceitam ter, nas diversas experiências físicas.
Dizia Paulo de Tarso que éramos acompanhados por uma “nuvem de testemunhas”.
E no caso dos invigilantes, além de testemunhas, essas entidades invisíveis são, igualmente, co-participes, sócias na aventura, penetrando os mais íntimos departamentos da vida dos encarnados.
Se os espíritos que os protegem sabem, por exemplo, respeitar o momento do banho físico de seus protegidos, das actividades afectivas que compartilham com os eleitos de seu coração, inclusive estabelecendo a protecção fluídica do ambiente onde se relacionam, as entidades inferiores com as quais o encarnado se imanta por identidade de prazeres ou de defeitos são as primeiras a invadir o espaço mental e emocional de seus hospedeiros, como fazem os parasitas que estendem seus tentáculos no corpo de suas vítimas, sugando-lhes os princípios mais ricos e se alimentando de tais forças, ao mesmo tempo em que os estimulam para que não parem, para que mais se aprofundem nas práticas euforizantes.
As elucidações eram muito ricas para o esclarecimento de todos, no entanto, as tarefas não podiam esperar mais tempo.
A multidão dos infelizes não poderia ser relegada a segundo plano.
- Bem, meus queridos, não importa realçarmos a falta dos outros trinta e oito trabalhadores.
A presença dos oito aqui e dos dezasseis nas outras actividades da instituição nos enche de alegria e fortalece nosso ideal de servir mais e melhor.
E se há um consolo para todos é o de que, faltando muitas outras mãos, há muito mais trabalho para cada um, correspondendo, assim, na distribuição das Dádivas Celestes, a benefícios maiores para o servo fiel.
Lembram-se da parábola dos talentos?
Quando o senhor regressa de viagem e percebe que os dois primeiros multiplicaram, mas que o último enterrou o que havia recebido, retira a moeda deste preguiçoso e a entrega ao que mais talentos possuía.
Esse é o sentido da expressão:
Ser bom e fiel.
“Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei.
Entra na alegria do teu Senhor”.
Depois disso, passou a encaminhar cada um deles para os trabalhos específicos na vasta seara de lutas que caracterizava a instituição amorosa.
Durante quase oito horas de descanso físico, exercitaram todos eles as tarefas respectivas, inclusive o humilde servidor que comparecia ali quase que como um peixe fora da água, já que Alfredo não era detentor de nenhuma sensibilidade especial nem pertencia a qualquer equipe de atendimentos doutrinários ou energéticos da casa espírita.
Era apenas o singelo funcionário da limpeza geral e zelador da segurança da Casa de Deus.
Mesmo assim, apesar de se pensar despossuído de maiores recursos ou possibilidades, Alfredo era, na realidade, disciplinado servidor da instituição, plenamente capacitado para exercer a enfermagem amorosa da recepção de irmãos invisíveis, com os quais conversava de maneira fraterna e natural, encaminhando uma imensidão de entidades confusas à retomada da própria lucidez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 06, 2018 9:06 pm

Isso porque, apresentando-se com a humildade de sempre, com a simplicidade do porteiro, era mais fácil conseguir estabelecer contacto com espíritos que, sofredores ou esfarrapados, infelizes ou em desespero, aceitavam-lhe a ajuda singela sem imaginarem que, por baixo de sua aparência desimportante, jazia o diamante de valor inestimável.
Alfredo, do mesmo que na Terra, recebia os que chegavam com o sorriso franco e, para cada alma que tinha que atender, dedicava o melhor de sua bondade espontânea, servindo-a sem qualquer desejo de intimidar, de converter, de julgar ou censurar.
Tão simples se mantinha em suas atitudes de espírito emancipado pelo sono do corpo, que ele próprio não divisava a admiração com que era observado por todos os trabalhadores do mundo invisível.
Provavelmente, era ele um dos poucos que, tendo recebido cinco moedas, estava conseguindo multiplicá-las em outras cinco.
No entanto, as horas passavam céleres e a chegada dos primeiros raios da alvorada determinou o encerramento de ciclo de trabalhos nocturnos para os corajosos servidores que, submetidos a operações magnéticas de reposição energética a cargo de outros servidores espirituais, viram retemperados suas forças e abastecidas suas almas com uma satisfação indizível, uma alegria profunda e uma sensação de leveza especial, como se privassem da alegria que Jesus poderia estar sentindo pelo pouco que cada um havia feito em favor da dor alheia.
O despertar no corpo, assistido por entidades especialmente destacadas para acompanhar cada um ao regresso, foi sereno e envolto nessa atmosfera de êxtase indefinível que cada qual guardaria no coração à sua maneira, seja como um sonho muito bom, um encontro bastante estimulante, uma viagem à dimensão espiritual superior, um colóquio com um emissário sublime, a alegria de participar de uma grande festa espiritual ou de serem enfermeiros em um grande e movimentado hospital.
Apesar de nenhum deles carregar ao acordar a plena e exacta convicção do que lhes havia ocorrido durante a noite, todas as interpretações que dariam ao evento não deixava de corresponder, de alguma sorte, ao que, efectivamente, haviam experimentado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 06, 2018 9:06 pm

7 - PROBLEMAS NO TRABALHO
Logo pela manhã, Alberto dirigiu-se para as actividades profissionais no escritório da grande empresa cujas finanças tentava controlar com o melhor de sua inteligência.
A rotina era a de um dia normal, onde os problemas superavam com muita vantagem as soluções, sobretudo quando se considerava a pouca cooperação dos donos e seus filhos, que se aboletavam na estrutura como pesos inúteis, engordados pelos ganhos dos momentos de bonança e amolentados para as responsabilidades que lhes colocavam sob a dependência uma colectividade de funcionários e famílias.
Moacir e Rafael eram os dois sócios principais, os iniciadores da empresa que, casados com Valda e Alice, duas irmãs, pareciam compor o ideal de sociedade, mesclando a confiança da família com os interesses de ganho material próprios do negócio, combinação da qual se deveria esperar a prosperidade de todos.
Moacir tinha sob sua responsabilidade a área administrativa, enquanto que Rafael cuidava dos negócios técnicos, da produção e das questões ligadas à qualidade dos produtos.
Aproveitando-se das facilidades económicas nos períodos favoráveis, a prosperidade lhes sorriu logo nos primeiros anos, trazendo-lhes a ilusão da riqueza para contaminar-lhes os cuidados e disciplinas.
Com o passar do tempo, as adversidades naturais do mercado começaram a cobrar o devido preço do descuido que ambos demonstravam.
Concorrência que aumentava, disputas comerciais que obrigavam a maiores descontos, diminuição da qualidade dos produtos para o barateamento dos bens e manutenção dos lucros, impostos sobre impostos, gastos com pessoal, exigências trabalhistas, tudo isso foi acumulando na estrutura de funcionamento do empreendimento.
Ao mesmo tempo, embalados pelo sucesso e pela facilidade dos primeiros tempos, Moacir e Rafael inseriram na esfera de trabalho comum os seus respectivos filhos e filhas, com a justificativa aparentemente plausível de que seria bom que estivessem a par da estrutura organizacional e das rotinas para que começassem, desde cedo, a ganhar a vida através do trabalho.
Se a justificativa parecia plausível, na verdade, o que menos os filhos dos donos queriam era compromisso com o trabalho.
Cada um deles via na empresa a fonte de uma polpuda mesada (quantia que se paga ou se dá em cada mês; mensalidade; quantia que os pais dão periodicamente aos filhos.
(Dicionário Aurélio), a que chamavam impropriamente de salário.
Como eram os filhos dos proprietários, não se sentiam obrigados a produzir qualquer coisa nem se consideravam submetidos a quaisquer disciplinas de horários ou deveres, encontrando sempre na placidez de seus genitores o sorriso de tolerância com o qual tratavam os seus excessos.
Os próprios funcionários categorizados da empresa se sentiam intimidados diante das privilegiadas posições que os filhos dos donos exibiam, não se animando a corrigir-lhes as posturas frouxas e inadequadas.
Alberto sabia como todos eram muito susceptíveis a quaisquer críticas porque, inúmeras vezes, precisou demitir funcionários que, revestidos de razão, pretenderam defender os interesses da empresa contrariando os caprichos dos “meninos”, como eram conhecidos lá dentro.
E, como responsável pelas contas da empresa, Alberto bem conhecia o valor exorbitante dos luxos de cada um deles, sempre trazendo para o seio do negócio a conta dos prazeres e gastos, confundindo o esforço empresarial com a imensa e irresponsável avidez por gozos diversos.
Não lhes bastava o salário mensal que recebiam sem nada fazer.
Da empresa saíam, ainda, pagamentos de carros novos, de viagens de aventura e diversão, de festas de aniversário, de indemnização por despesas e condenações judiciais decorrentes de seus excessos, sempre com a complacente concordância de Moacir e Rafael que, para manterem uma relação familiar amistosa, não se opunham a que filhos e sobrinhos fossem aquinhoados, garantindo para todos os mesmos direitos e a expectativa das mesmas facilidades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 06, 2018 9:06 pm

Isso sem falar dos excessos de Valda e Alice, as duas irmãs e sócias da empresa.
Acostumadas à facilidade, não diferiam muito de Leda esposa de Alberto.
Na companhia dos maridos, aprenderam a desfrutar dos benefícios de uma vida sem deveres, exercitando os caprichos como se estivessem obedecendo às determinações da própria natureza.
Pensavam que a vida lhes devia tudo em facilidades e benesses, que usufruíam como se fossem as princesas que, afogando-se em manjares e ponches, veludos e jóias, jamais pensam na fome dos súbditos, a quem tratam como trastes miseráveis ou como predestinados à miséria por uma Força Superior.
De nada adiantava que Alberto, detentor de certa liberdade com os proprietários, lançasse alertas diversos visando retirar-lhes a venda da ilusão.
- Que nada, meu velho, tudo está indo muito bem.
Confiamos em sua diligência e sabemos que você saberá equilibrar as coisas.
Faremos novos empréstimos, pediremos dinheiro ao governo.
Falaremos com aquele nosso amigo, o deputado que financiamos a campanha e que, certamente, nos ajudará.
Afinal, o que ganhou com as propinas que recebe justifica que nos ajude, por sua vez.
Estas frases eram comuns na boca dos dois donos, quando o funcionário diligente se preocupava em lhes colocar a gravidade das coisas.
Isso porque, depois das primeiras e prósperas fases, Moacir foi deixando a parte administrativa nas mãos de uma equipe de funcionários que julgava capacitada para fazer contactos comerciais, vender os produtos, ajustar descontos e fazer promoções, enquanto que, acompanhando a postura do cunhado, Rafael entregou a área da produção ao trabalho de outros técnicos, deixando a seu cargo apenas a fiscalização eventual.
Naquela manhã, entretanto, as dificuldades atingiriam um clímax antes nunca visto.
Intrincado problema jurídico envolvendo questões de tributos, cuja cobrança se questionava, acabou final e irrecorrivelmente resolvido em detrimento dos interesses da empresa que, notificada regularmente da decisão, teria o prazo de poucas semanas para realizar o pagamento do montante total.
Uma verdadeira fortuna lhe era cobrada, sob pena de ser executada legalmente, com a penhora de todos os seus bens, dos bens dos seus proprietários e responsáveis directos.
Naturalmente que nada disso teria acontecido se os dois cunhados houvessem escutado os conselhos de Alberto, no sentido de irem fazendo os depósitos acautelatórios para qualquer surpresa adversa.
No entanto, tão seguros estavam nos apoios políticos que possuíam junto às autoridades governamentais e legislativas, que preferiram aproveitar tais valores para continuarem suas aventuras, confiando no fato de que todo o processo redundaria em uma decisão favorável e não se veriam obrigados a pagar nada dos atrasados.
O documento que tinha sob seus olhos era inequívoco.
Alberto sabia que aquele correspondia ao fim da aventura tresloucada daqueles que, tendo possuído todas as oportunidades da sorte, perderam a grande chance de seguirem adiante.
Ele próprio estaria em péssimas condições porque lhe faltariam os recursos indispensáveis para a manutenção do próprio padrão de vida.
No entanto, não podia deixar de comunicar tal circunstância aos verdadeiros responsáveis.
Obedecendo à rotina dos proprietários, esperou que chegassem à empresa para que lhes submetesse o problema.
Reunidos algumas horas depois, apresentou o documento respectivo e esperou pelas reacções de ambos.
- Ora, Alberto, o que é isso?
Mais um papelzinho com más notícias?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 06, 2018 9:07 pm

Vamos lá, meu velho, dê um jeito nisso, você que é o mago das finanças – falou Rafael tentando fazer-se de engraçado.
Admirando o tamanho da irresponsabilidade, Alberto meneou a cabeça e respondeu, taciturno:
- Infelizmente, senhor Rafael, esta mágica está acima de meu talento.
- Observando a reacção do chefe da contabilidade, Moacir exclamou, indagando:
- Como assim, meu amigo?
Tudo tem solução nesta vida.
- Concordo com o senhor, mas, então, neste caso, será necessário que os senhores arrumem, em trinta dias, um valor correspondente a vinte empresas como esta, porque, pelos cálculos realizados, acrescidos de multas, juros legais, custas processuais, correcções monetárias, entre outras verbas, esse será o montante que precisaremos pagar aos cofres públicos.
A previsão sinistra de Alberto era grave demais para que ambos se animassem a fazer graça.
- Ma... Mama...
Mas – balbuciava Moacir – como você foi deixar que as coisas chegassem a esse ponto, Alberto?
Colhido pela primeira punhalada, o funcionário não perdeu o controle e respondeu:
- Certamente que há muito tempo venho avisando os dois de que as coisas não andam bem e de que se fazia necessário prover recursos para os imprevistos.
- Sim, respondeu Rafael, demonstrando irritação nas palavras.
Mas era você quem deveria organizar tudo isso e ir guardando para tal circunstância.
Onde está a sua competência como contador?
Alberto, então, abriu uma pasta que trazia consigo exactamente para esse momento difícil, na qual estavam as cópias de documentos internos de suas reuniões administrativas e dos memorandos que a contadoria enviava aos dois proprietários, ao longo dos diversos anos anteriores.
Endereçando uma cópia de cada documento para cada um deles, afirmou:
- Como podem observar desses ofícios devidamente rubricados por ambos, tais advertências foram, efectivamente, realizadas por escrito, isso sem contar as inúmeras conversas que mantivemos durante as quais minhas preocupações eram, sistematicamente, vistas como exageros ou medo.
E se tiverem o cuidado de ler até o final, realço o risco de falência que já vínhamos correndo há mais de dez anos.
E, apesar disso tudo, ao longo deste mesmo prazo, a empresa lhes transmitiu, a título de retiradas e outras receitas, um montante maior do que as dívidas originárias, montante este suficiente para, à época, termos quitado os tributos questionados.
Quando o processo judicial surgiu como uma oportunidade de não recolhimento, alertei-os para a necessidade de depositarmos judicialmente os valores em um fundo que, abastecido mensalmente com o valor do tributo que questionávamos, nos protegeria da incidência abrupta em caso de perda da demanda, medida esta que ambos consideraram inadequada porque iria ferir profundamente a retirada mensal, tanto de cada um quanto dos próprios filhos.
Assim, acho que tais documentos falam por si mesmos acerca das responsabilidades mediatas e imediatas que pesam sobre alguns ombros e que desaguaram nestes tristes eventos.
- Esses papéis não dizem nada – disse Moacir, jogando tudo para o lado, num ataque de ira.
E Rafael, igualmente imaturo para o insucesso, olhou para Alberto como a vítima que odeia o algoz, como se o velho funcionário fosse, realmente, o culpado pela desgraça de ambos.
Sabendo, no entanto, que Alberto era o mais categorizado funcionário da empresa e que não deveriam transformá-lo de imediato no culpado principal uma vez que, em suas mãos, todos os documentos estavam guardados, Moacir procurou controlar-se e, desculpando-se fingidamente, acrescentou:
- Desculpe meu destempero, Alberto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:27 pm

Fiquei muito desnorteado com a tal situação que, pelo que suponho, nos levará a todos para o buraco.
Vendo um pouco de lucidez nas palavras do sócio, Alberto corrigiu:
- Não, senhor Moacir.
Com todo o respeito, esse problema só vai tampar o buraco financeiro, onde já nos encontrávamos havia muito tempo tentando respirar um pouco antes de sermos enterrados.
- Você sabe nos dizer se temos recursos no curto prazo?
- Ora, senhor, temos poucos, que estão reservados para a folha de pagamento dos funcionários.
Avaliando o património físico, poderemos considerar que há recursos para honrar apenas insignificante parcela da dívida principal, remanescendo seu restante e todos os demais acréscimos.
No entanto, sempre há a possibilidade de recorrerem aos amigos importantes que possuam, solicitando empréstimos.
Além do mais, fiz um levantamento do património de ambos e, pelo que apurei, mesmo vendendo tudo o que possuem, ainda assim não se atingirá nem a terça parte da dívida global.
Diante das peculiaridades da dívida, relembro que seus bens pessoais serão chamados a cobrir o montante dos débitos para a quitação dos compromissos da empresa.
Ah! Estava me esquecendo que também pesam as dívidas previdenciárias que correspondem ao recolhimento das verbas dos funcionários, devidas por lei e que serão igualmente incorporadas ao valor principal a ser honrado preferencialmente.
- Tudo bem, Alberto.
Pode sair que eu e Rafael temos muito que conversar.
Qualquer coisa nós o chamaremos.
Mas, antes de qualquer decisão, por favor, não mencione nada aos funcionários sobre nosso estado para que isso não se transforme numa bola de neve.
Quem sabe a gente consiga fazer o milagre que você não se diz capaz de fazer.
- Que Deus os ajude.
Quanto à minha discrição, podem contar com ela.
Dizendo isso, Alberto deixou a sala, carregando o peito oprimido pela carga vibratória inferior que partira dos sócios irresponsáveis.
Ao seu lado, entretanto, estavam Jerónimo e Adelino, reafirmando a presença amiga na hora difícil do destino.
Ambos os sócios não sabiam como começar.
Olhavam-se como se um grande reservatório de coisas malcheirosas estivesse prestes a explodir à menor agitação.
Isso porque, tanto Moacir quanto Rafael discordavam da maneira como cada um levava sua vida, confundindo as necessidades e prazeres, luxos e excessos com a própria empresa.
Quando um se excedia e debitava o custo das aventuras no património da empresa, o outro se sentia autorizado a fazer a mesma coisa para que não ficasse no prejuízo.
As irmãs, dentro de suas casas, eram as primeiras a pressionarem os maridos a não se permitirem ficar atrás dos excessos do outro.
Quando uma se ausentava em viagens de lazer, a esposa do outro fazia crescer as preocupações do marido com os ganhos e facilidades que estavam patrocinando tal excursão exigindo um passeio tão ou mais custoso.
Quando um dos sobrinhos surgia de carro novo, todos os outros também se sentiam no direito de trocar os seus veículos, debitando tais luxos aos cofres da empresa.
Com o passar dos anos, todos eram fiscais de todos e ninguém saberia dizer de quem fora a responsabilidade pela vida nababesca e fútil que se instalara no cotidiano das duas famílias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:27 pm

Então, cada um dos sócios tinha seus motivos para levantar a tempestade que faltava para a derrocada da ilha da fantasia em que viviam.
- Você acha que o Doutor Gustavo não consegue enrolar esse negócio por mais tempo? –
perguntou Rafael ao cunhado arrasado, recordando-se da velha raposa jurídica que, abastecida pelos cofres da empresa, era responsável pelo sector de processos e demandas.
- Mas já se perdeu este processo, acha que tem competência para conseguir adiar o nosso enforcamento?
- Eu me recordo – falou Rafael novamente – de que ele nos alertara dizendo que dificilmente ganharíamos este processo e que tudo seria feito para protelar os pagamentos.
Ora, já temos doze anos de tramitação.
Nisso ele demonstrou ser muito competente.
Quem sabe, diante de tudo isso, ele não tenha algum coelho na cartola e a gente ganhe tempo pra se safar dessa roubalheira do governo.
- É, pode ser – foi a resposta de Moacir.
- Você acha que vai dar pra eu manter a viagem que prometi a Alice como presente de aniversário? – perguntou Rafael.
- Ela já foi paga, meu amigo?
- Não, tudo já está reservado com a agência e iria entrar na contabilidade do mês que vem.
Aliás, foi por isso que vim à empresa hoje, no intuito de relembrar a Alberto do compromisso que já havia acertado com você.
- Então, cancele a viagem, porque não poderemos pagar.
- Mas o Juliano, seu filho, acabou de comprar um carro e está na terceira parcela do financiamento – respondeu Rafael contrariado.
Colocando a pólvora no fogo, Moacir explodiu:
- Quem você pensa que é para ficar pretendendo me jogar na cara os gastos de meu filho?
Tanto quanto ele, os seus filhos também têm sido duas sanguessugas aqui dentro.
Juliano vai devolver o carro ou terá de pagar o financiamento com seus próprios recursos, coisas que seus filhos também terão de fazer, porque não haverá mais nem salário nem cobertura para suas despesas até que a gente resolva isso aqui.
- Calma, meu amigo – falou Rafael, irónico -, se alguma coisa aqui pode estar lhe acusando, é a própria consciência porque, afinal de contas, você era e é o director administrativo.
Era você quem deveria estar tomando conta de tudo enquanto que, desde sempre, minhas funções sempre foram junto à produção.
- Isso mesmo, junto à produção que vem caindo sucessivamente, com decréscimos da qualidade dos produtos...
- Claro, meu amigo, tudo isso para atender às exigências administrativas de lucros e mais lucros, em decorrência da sua incompetência de conseguir novos mercados e penetrar em outros segmentos.
Precisamos nos adequar a matérias primas inferiores, baratear a produção diminuindo a qualidade, para que os ganhos se mantivessem.
- Tudo isso porque você e sua mulher – falou Moacir, a ponto de agredir fisicamente o sócio – são buracos sem fundo, além de precisar abastecer a família de sua amante na praia, aquela sem-vergonha que está registada na nossa empresa como funcionária, mas que nunca apareceu aqui nem para receber o salário...
Percebendo que iam perder as estribeiras pelo elevado tom de voz, Alberto, que se achava nas proximidades do escritório, interveio, abrindo a porta da sala e interrompendo o acalorado debate, quase a se transformar em vias de fato no esbofeteamento recíproco.
- Senhor, calma, por favor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:27 pm

Estou mantendo em sigilo todos os problemas que nos afligem, mas, desse jeito, toda a fábrica vai saber não apenas das dificuldades financeiras por que passamos, mas, igualmente, de todos os podres que têm sido escondidos na folha de pagamento da empresa.
Ao dizer isso, ambos se recordaram de que possuíam muitos deslizes e culpas ocultados graças ao respeito com que Alberto os tratava e à sua habilidade em contornar adversidades, tentando ajustar as coisas da melhor forma e preservar a família de seus patrões das tragédias decorrentes de comportamentos levianos.
Relacionamentos ilícitos, aventuras sexuais extravagantes, entre outras fraquezas de carácter dos dois sócios os igualavam nas tendências viciosas, fazendo com que se tolerassem mutuamente por se identificarem no mesmo baixo proceder.
Incontáveis vezes, mulheres de vida duvidosa migravam das mãos de um deles para as de outro, sem precisarem sair do mesmo quarto de motel, agendadas que estavam as aventuras com cada um para horários sucessivos.
E a conta sempre terminava no sector financeiro, administrado por Alberto.
Repentinamente, a intervenção deste último teve o condão de inibir quaisquer exaltações musculares, como se houvesse sido o banho gelado salvador.
- Obrigado, Alberto – exclamou, ríspido Moacir.
Se você não aparece, não sei o que faríamos.
Rafael estava agitado por dentro, mas se mantinha aparentemente equilibrado, apesar das referências do cunhado acerca de sua vida leviana e da família paralela que mantinha ao longe.
Um temporal de terríveis consequências tinha começado a varrer a planície das facilidades na qual as duas famílias haviam construído o castelo de areia de suas vidas.
- Alberto, telefone para o doutor Gustavo e marque com ele uma reunião para amanhã, logo pela manhã – ordenou Moacir.
- Sim, senhor.
Para as dez horas, está bom?
- Bom nada – respondeu agitado – e, tem que ser logo para as oito.
- Está bem. Marcarei para este horário, se o senhor estiver disponível.
- Pois lhe diga do que se trata e comunique-lhe que o convocamos para essa reunião de emergência, pois o caso é grave.
Acenando afirmativamente com a cabeça, Alberto foi providenciar o agendamento com o advogado da empresa, enquanto pensava consigo quantos anos fazia que nem Moacir nem Rafael chegavam à empresa tão cedo como estavam programando fazer para o dia seguinte.
Acalmados pela palavra de Alberto, os dois esfriaram um pouco os ânimos e passaram a pensar em outras saídas.
- Vamos nos comunicar com o deputado e pedir a sua ajuda.
Além disso, podemos ver com Gustavo, como fazer para burlar a lei, como conquistar novos empréstimos e darmos um sumiço no que for possível.
Precisaremos de uma consultoria especial de alguns nossos conhecidos para que possamos limpar os registos legais, retirando informações dos computadores para que não rastreiem nossos bens ou os de nossos filhos.
Precisaremos dar um jeito de retirar de nosso património tudo o que esteja disponível, sem fazer alarde, sem levantar suspeitas.
Tenho um amigo num cartório, que me deve vários favores, inclusive me deve dinheiro grosso. Vou cobrar o pagamento seja em moeda seja em “serviços”.
Os planos de Rafael eram acolhidos por Moacir como verdadeira e oportuna estratégia de guerra que, derrubado das nuvens da ilusão da riqueza, imaginava-se, agora, na difícil tarefa de administrar a esposa doidivanas e os filhos gananciosos e despreparados.
Disso também não fugiria o próprio Rafael.
Valda, a esposa do primeiro e Alice mulher do segundo, seriam o espinho doloroso que ambos carregariam na garganta, fruto de suas vivências vazias e sem sentido, estimuladas pelos maridos vaidosos e arrogantes.
Era o fruto amargo da sementeira perigosa que lhes competiria colher, doravante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:28 pm

8 - PLANOS INFERIORES
Depois de uma longa série de abusos e infracções morais, Moacir, Rafael e suas respectivas famílias encontravam-se perfeitamente envolvidos por uma teia escura de compromissos dolorosos com entidades espirituais muito necessitadas, haviam transferido seu centro de influências para a residência de ambos, de onde coordenavam a rede de interferências nocivas, visando a derrocada de seus membros.
O sucesso material abrindo as portas largas das facilidades havia sido a estrada por onde tais espíritos puderam imiscuir-se nas defesas das famílias.
Repetia-se a velha e conhecida história dos pobres que melhoram de vida e, depois de enriquecidos, pioram de vida porque trocam as coisas do espírito pelas coisas do mundo.
Isso não significava dizer que os seus membros não tinham religião definida, porque não era difícil encontrar Moacir e Valda, Rafael e Alice dirigindo-se ao centro espírita para receber passes magnéticos.
Não que se
houvessem integrado à filosofia reencarnatória com a adopção de seus princípios na rotina de seus hábitos.
No entanto, cultivadores da boa vida, sabiam que havia muita gente de “olho gordo”, enviando-lhes maus fluidos.
Por isso, nas conversas corriqueiras com amigos ou mesmo assistindo novelas ou programas de televisão com temáticas similares, acabavam tomando contacto com certos conceitos espirituais, que usavam somente quando convenientes.
Não queriam compromissos outros que não fossem com a vida folgada.
Nada de escutar palestra, de ler bons livros, de conhecer mais profundamente os conceitos superiores do mundo espiritual.
Mas era sempre bom poder contar com um “passezinho” de vez em quando, como forma de se descarregar das coisas ruins.
Queriam a fluidoterapia rápida, gratuita e sem nenhuma cobrança.
E da mesma maneira que iam ao centro espírita, os membros das duas famílias não desdenhavam visitar outros caminhos religiosos, sempre que isso lhes garantisse alguma vantagem nos negócios materiais.
Bênçãos de padres tidos como poderosos na fé, visita a terreiros de umbanda em busca de favores espirituais para as conquistas imediatas, se misturavam aos excessos nas baladas, nos embalos da leviandade irresponsável onde iam embriagando os sentidos da alma.
Não tardou para que Rafael se visse envolvido pelas teias fluídicas de uma jovem e esfuziante funcionária da empresa que, cultivadora de certas práticas religiosas menos dignas e valendo-se de seus contactos com médiuns a serviço das forças inferiores, conseguiu fisgar o homem rico e importante em suas redes ardilosas.
Mistura de ingenuidade e sedução, Lia procurava encontrar um bom partido desde muito tempo.
Sem a cultura e a inteligência preparadas, sabia que suas chances de sucesso na vida seriam reduzidas, o que a lançava na exploração de outro sector no horizonte da existência:
as possíveis vantagens de um corpo bem talhado.
Certamente que não iria se entregar pelo prazer físico.
Isso só seria concedido ao homem que pudesse pagar pela vantagem de possuí-la.
Mas não um pagamento por serviços prestados, não.
Não tinha inclinação para a prostituição.
Seus planos eram mais altos.
Acreditava-se no direito de ter um estilo de vida que lhe garantisse bens e confortos de que jamais pudera desfrutar, desde o berço pobre que abandonara, tão logo conquistara a capacidade de sobrevivência sozinha.
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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:28 pm

Afastou-se dos familiares ainda muito jovem, indo morar na residência de uma família que lhe prometera cuidados e manutenção em troca de seus serviços domésticos.
No começo, tudo parecia ir muito bem, até que, com o passar do tempo e o amadurecimento do corpo, começou a receber o assédio indiscreto do chefe da casa, homem austero e aparentemente probo que, aproveitando-se dos horários de trabalho da esposa, tratava de insinuar-se para a jovem recém-saída da adolescência, a quem havia prometido auxiliar.
No início das investidas, Lia pensou em fugir, mas a dificuldade de encontrar um refúgio fê-la desistir da ideia.
Depois cogitou de contar para a dona da casa, mas, por fim, concluiu que isso seria mais perigoso ainda, porque seria a sua palavra contra a do marido aparentemente correto.
Então, já que a fragilidade de sua condição não lhe deixava outra opção e, aquecida pelas descobertas sexuais estimulantes, aceitou o jogo de gato e rato e, em poucos meses, tornara-se a amante do patrão, dentro da própria casa da família, que de nada desconfiava.
Naturalmente passar a exercer um domínio sobre o homem a tal ponto que, fazendo-o apaixonar-se, começou a ter poderes sobre ele, descobrindo assim a fragilidade da alma humana quando exposta aos poderosos excitantes das emoções.
O patrão, agora amante, se tornara quase escravo de seus desejos.
Presentes, dinheiro, facilidades para os seus caprichos de jovem iam sendo conseguidos ao troco de corresponder às carências daquele menino travestido de chefe de família.
O relacionamento do casal legítimo foi sendo atingido de tal maneira que, depois de mais alguns meses, marido e mulher quase não se falavam.
A paixão dele havia se transformado em tão doentia dependência das carícias de Lia que, vendo as coisas ficarem cada vez mais sérias e reunindo já as polpudas economias hauridas do relacionamento espúrio, julgou ela oportuno deixar o serviço da casa e procurar outro rumo antes que tivesse de enfrentar as desgraças de uma ruptura dolorosa e cruel.
Esperou, então, a saída dos patrões e dos filhos e, reunindo suas coisas, deixou lacónico bilhete de despedidas e partiu dali para nunca mais regressar.
Havia aprendido a duras penas que a afectividade era vantajoso tabuleiro no qual se poderia ganhar sempre, se o jogador tivesse a sabedoria de deixar o jogo na hora em que estava ganhando.
E, além disso, sabendo onde trabalhava aquele que se fizera escravo das paixões, nada lhe impediria de ir buscá-lo, longe do lar, para retomar os encontros clandestinos e, com isso, conseguir os favores da fortuna, longe das vistas da esposa.
No entanto, em seus pensamentos mais secretos, Lia desejava coisa mais sólida, homem mais bem postado, relacionamento mais seguro, mesmo que fosse na imprópria condição de amante.
Foi quando a “sorte” a conduziu a uma oferta de emprego na empresa dos dois cunhados.
Trabalharia na área de produção, área essa coordenada e fiscalizada por Rafael, o então jovem, atraente e rico proprietário.
Ali viu Lia a sua grande chance.
Conhecendo as inclinações da maioria dos homens pelas curvas provocantes do corpo feminino e sabendo de seus atributos estéticos a lhe beneficiarem as investidas, determinou-se a usá-los para conquistar o tão sonhado equilíbrio financeiro.
Buscou, então, as reuniões de intercâmbio mediúnico realizadas por um grupo de pessoas sem escrúpulos que, com a desculpa de desejarem subir na vida, pensavam poder comprar o apoio de entidades espirituais para que, com sua ajuda, atingissem seus objectivos de forma mais fácil, afastando seus competidores profissionais ou afectivos à força, satisfazendo suas carências afectivas através da destruição de matrimónios sólidos, logrando a vitória nas disputas sociais por meio da promoção de doenças naqueles que se opusessem.
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Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - HERDEIROS DO NOVO MUNDO / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:28 pm

Assim, como já conhecia os mecanismos de tais trabalhos desde quando residia com a família no litoral de seu Estado, Lia retomou as antigas práticas, nas quais depositava toda a sua força e empenhava o melhor de seus desejos.
Queria Rafael para ela e iria conseguir, mesmo que isso lhe custasse tempo e recursos.
As primeiras visitas e contactos com entidades que lhe pediam bens materiais, bebidas, cigarros e velas foram suficientes para que se estabelecesse uma sociedade perfeita para a prática do mal.
Da mesma forma que ela servia aos interesses desses espíritos de baixíssimo padrão evolutivo, eles se comprometiam em facilitar a aproximação, despertando o interesse do homem pela jovem funcionária.
Espírito astuto e inteligente fora destacado pelos líderes daquele grupo invigilante para acompanhar o rapaz.
Percebera que o mesmo não tinha freios morais e que, em sua casa, nenhuma protecção se erguia a dificultar o caminho.
Aproveitando-se da falta de vigilância e oração, foi muito fácil a tal entidade acercar-se de Rafael e iniciar os processos de influenciação hipnótica, implantando em sua rede neuronal os terminais que reforçariam as necessidades primitivas do seu subconsciente, aflorando como desejos e emoções a não mais se reprimirem.
Além disso, em seu centro cerebral desajustado foi implantado pequeno transmissor magnético que reproduzia imagens mentais da jovem ambiciosa, fazendo ressaltar suas formas exuberantes e seus meneios de fêmea provocadora.
Rafael não via nada disso, mas, dentro dele, sua mente recebia toda a carga de imagens provocantes, que não eram combatidas por qualquer actividade de oposição, nascida de virtudes e nobreza de alma, que facilmente as poderiam repudiar.
E o efeito disso foi que, em poucas semanas, o sócio responsável pela área da produção começou a perceber a nova funcionária da linha de montagem.
Parecia já conhecê-la de algum lugar porque suas formas lhe eram muito familiares.
Assim, contrariando as suas rotinas, o sócio passou a visitar os sectores da fábrica pessoalmente, sempre procurando deter-se naqueles que lhe permitiam um maior contacto visual com Lia.
Astuta e matreira, a jovem começara a notar que seus esforços de aliciamento espiritual estavam dando o resultado esperado.
Aproveitou-se, então, para pegar uma carona na facilidade, solicitando autorização para realizar horas extras no trabalho nocturno.
O pedido, que à primeira vista nada tinha de estranho, era, na verdade, a senha que indicava a sua presença na empresa no horário da noite, facilitando o contacto com o seu chefe, caso isso fosse também de seu desejo.
Além do mais, Lia passou a caprichar em seu visual, melhorando a aparência o suficiente para atrair os olhares masculinos, alimentando-lhes a cupidez, mas mantendo-se firme ante qualquer propósito de aproximação.
Não demorou muito para que passasse a ser vista como a funcionária bonitona e difícil.
Rafael, que já se interessava pela moça e, por isso, fiscalizava todos os detalhes de sua ficha cadastral e sua capacidade na empresa, ficou a par de sua solicitação para a jornada nocturna extraordinária.
A acção espiritual inferior sobre a sua mente sobre-existida abastecia-o com imagens novas.
Parecia que a sorte lhe sorria, com a possibilidade de estar mais próximo da já desejada fêmea.
Era uma empregadinha – pensava Rafael.
Mas que mulher desejável era aquela!
Nessa altura, as entidades coligadas a Lia passaram a exercer importante papel de provocação sexual na mente do rapaz, fazendo produzir hormônios específicos como resultado da estimulação subliminar dos centros mentais correspondentes, fustigando as células genésicas para a produção dos elementos – força masculinos com os quais conseguiriam obter o tão desejado elo entre os dois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:28 pm

A presença obsessiva ao redor de Rafael foi intensificada.
Espíritos de mulheres pervertidas o envolviam no hálito venenoso do prazer proibido, e seu corpo respondia favoravelmente ao relembrar as antigas emoções que já não conseguia mais experimentar no relacionamento estável de seu casamento.
Alice lhe servia de companheira, de arrumadeira, de mãe para seus filhos, mas, depois do nascimento dos mesmos, algo do encanto excitante da relação física entre eles perdera o brilho.
Então, Rafael já se acostumara a ir buscar as velhas emoções nos contactos fugidios e rápidos com mulheres remuneradas para prestarem tais serviços.
No entanto, tudo sem emoção, sem paixão, sem carinho.
Com Lia, no entanto, sentia algo mágico, diferente, como se houvesse retornado aos primeiros tempos da juventude adulta.
E, então, resumindo a história, não foi difícil que os dois acabassem trocando intimidades acaloradas, estabelecendo-se um vínculo afectivo e entregando-se o rapaz aos encantos afectivos daquela mulher experiente nas artes da sedução.
Meses depois, Lia estava grávida, conforme havia planejado.
Então, o plano começava a funcionar:
Rafael se surpreende com a ocorrência.
Não deseja um escândalo em família.
Sabe que não pode, no entanto, descartar a moça que, em verdade, é com quem se abastece de afecto físico.
Então, combina com ela a sua volta à antiga cidade praiana.
Lá, adquire apartamento discreto, mas confortável, onde constrói doce aconchego para que, sob a protecção daquele tecto, Lia possa trazer à vida aquele filho que ela insiste em não abortar.
O filho era a arma de Lia contra Rafael.
A garantia de seu bem-estar futuro nesta vida.
Desde que tivesse o conforto seguro e o patrocínio de Rafael, a moça se sentiria muito feliz em poder estar longe por alguns da semana, garantindo igualmente a sua liberdade e a possibilidade de desenvolver sua vida de acordo com seus próprios desejos.
Poderia namorar outros homens, poderia agir como quisesse, desde que estivesse disponível a Rafael nos dias em que este prometera ir vê-la.
Estabelecida uma quantia fixa para as despesas, Lia continuou a ser assalariada da empresa, com a conivência de Moacir que, inteirado das dificuldades de Rafael, auxiliou o co-cunhado para que todo o problema fosse resolvido sem causar qualquer abalo ao matrimónio oficial.
Com o passar dos meses e anos, Rafael preferiu ir se afastando fisicamente de Lia para que seu relacionamento adulterino não prejudicasse os seus interesses financeiros na empresa e, também, porque encontrara aventuras mais saborosas ao contacto com outras mulheres.
Afinal, pensava Moacir ao meditar sobre os azares de Rafael, os dois eram sócios nos prazeres havia já muito tempo.
Nada mais justo do que se apoiarem nas horas complicadas como essa.
Rafael estava nas mãos das entidades inferiores que o dominavam por meio de tais sensações, arruinando lentamente suas forças, ao mesmo tempo em que iam se aproveitando de todas as energias que produzisse na vivência leviana que cultivava.
A sua casa era um reflexo de tal pressão magnética e, desde então, Alice também se deixou entregar às frustrações da mulher menos importante na preocupação e cuidados do marido.
Usando a empresa como desculpa bem como a necessidade de viajar várias vezes ao mês para fiscalizar o “escritório” da mesma empresa que fora aberto no litoral, Rafael afastou-se mais de Alice, a quem não buscava como mulher por não possuir maior interesse em suas carícias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:29 pm

Valendo-se disso, as mesmas astutas entidades, agora vinculadas à família de Rafael, passaram a ampliar as carência da esposa e fustigar-lhe o desejo de aventurar-se.
Encontrar candidatos, então, foi um passo.
As emoções renovadas, os prazeres novamente revividos e o sabor da vida retornando às suas emoções pareciam, todos, justificativas adequadas para a manutenção dessas aventuras passageiras, com as quais se sentia emocionalmente recuperada.
Apesar de sempre estarem em competição acirrada no que se referia às demonstrações de luxo, Alice compartilhava com sua irmã Valda as revelações íntimas, naturais entre mulheres que se confiam, falando das novas emoções e aventuras sexuais, além de justificá-las graças às suspeitas de que o próprio marido não mais a desejava, supostamente por ter-se envolvido com outras.
Tal suspeita já não se fundamentava somente na indiferença do companheiro, mas, também, nas intuições que obtinha do assédio das entidades perversas, que lhe falavam que Rafael não mais lhe pertencia, fazendo-a presenciar, durante o sonho, as relações íntimas entre o próprio marido e a jovem funcionária.
Valda se interessara pelas experiências de Alice e sugerira a separação.
No entanto, a irmã se recusava a seguir-lhe os conselhos porque não pretendia abrir mão do conforto e das facilidades materiais, tendo escolhido o caminho de se valer do dinheiro do próprio marido para ser-lhe infiel, pagando pelas aventuras com outros homens com os recursos que o esposo lhe fornecia.
Sem perder a posição, reconquistando a auto-estima e se vingando do marido indiferente, tudo isso ao mesmo tempo, Alice julgava ser essa a melhor solução.
Percebendo a astúcia da irmã, Valda deixou de defender a separação do casal, interessando-se pelos casos e aventuras por ela relatados.
A emoção de Alice, as picantes histórias que vinha vivenciando na companhia masculina de jovens musculosos e agradáveis cai na mente da irmã como luz na escuridão.
As carências de Valda também estavam fustigando sua alma e as facilidades do dinheiro só lhe tornaram mais vazio o vaso do coração.
Seu marido Moacir também se tornara distante e indiferente, sempre alegando os problemas da empresa, as dificuldades do serviço, as exigências do dever como motivadores para não mais se empolgar com sua companhia.
- Ora, se Alice está vivendo isso e se sente bem, que mal pode haver se eu também aproveitar e experimentar?
Ninguém haverá de saber mesmo...!
Com esse pensamento na cabeça, Valda passou a cultivar as ideias mentais que a predispunham às mesmas aventuras arrojadas da irmã e, com isso, também em sua casa, as mesmas entidades que actuavam sobre Rafael, que se ligavam a Moacir pelos interesses comuns dos dois homens, que fustigaram Alice a enveredar pelo despenhadeiro moral, chegavam a Valda, pela sugestão aceita e aconchegada, na forma da curiosidade estimulada pela tentação do “proibido”.
Com esse mecanismo subtil e imperceptível, passo por passo, a equipe de entidades gozadoras e vampirizadoras assenhoreou-se dos dois lares, sem precisar de nenhuma violência, usando não somente a riqueza material e os prazeres e carências de seus membros como o caminho fácil.
Contavam, as inferiores entidades, sobretudo, com a invigilância e a ausência de uma fé verdadeira entre seus membros, favorecendo a sua influenciação e a neutralização de todo o esforço dos bons espíritos no sentido de ajudar cada um dos partícipes a não aceitarem esse entrelaçamento negativo.
Infelizmente, tanto quanto seus pais, os filhos de Moacir e Rafael caminhavam pelas mesmas perigosas estradas.
Usavam drogas, andavam com amigos iguais ou piores do que eles mesmos e nada faziam de bom que pudesse ser útil ou servir de base para que o Bem os amparasse nas horas difíceis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:29 pm

9 - NOVAS OBSERVAÇÕES
Depois de terem deixado o caso Alberto, Jerónimo e Adelino regressaram ao núcleo de trabalhos espirituais para prosseguirem nas observações instrutivas, notadamente no que se referia às advertências de Bezerra de Menezes.
Recebidos pelo gentil abraço de Ribeiro, Jerónimo tocou o tema da continuidade de suas observações, dizendo:
- Muito instrutivo nos tem sido o acompanhamento do caso Alberto.
Apesar disso, como as coisas com o médium amigo estão se desenrolando com desfecho previsto para o futuro, gostaríamos de submeter à sua aprovação de dirigente nosso desejo de acompanharmos alguns outros companheiros que não têm-se mostrado fiéis às disciplinas do trabalho.
- Estão se referindo a alguns dos que não têm assistido à tarefa nocturna da instituição?
- Perfeitamente.
Estivemos observando Alberto que, dentre os voluntários, está engajado com responsabilidade e disciplina nas obrigações fraternais do núcleo espírita.
No entanto, gostaríamos de observar alguns dos que não têm-se conduzido com as mesmas atitudes, a despeito de contarem como trabalhadores espíritas.
- Bem, neste caso, creio muito interessante a avaliação de Peixoto e Geralda, o que ensejará significativos aprendizados na área das ligações materiais desajustadas e da afectividade em descontrole.
Assim, não vejo obstáculo no acompanhamento de seus passos e, naquilo que lhes for possível, cooperem com o amparo às suas necessidades, dentro dos limites naturais que nos impedem de fazer por eles o que lhes incumbe realizar por si mesmos.
Ambos serão excelente companhia para estes dois irmãozinhos invigilantes aos quais nossos avisos têm sido pouco úteis.
- Agradecemos seu carinho e esteja certo.
Ribeiro, que não interferiremos em nada que venha a comprometer as necessárias lições que lhes cabem enfrentar sozinhos.
Somente em alguma emergência interferiremos.
A conversa continuou por mais alguns minutos e, como outras obrigações requeriam a presença do dirigente espiritual da casa, despediram-se os dois trabalhadores que, envolvendo-se nas rotinas dos encarnados, recolhiam informações importantes para as posteriores análises e entendimento de suas consequências.
Em verdade, Jerónimo e Adelino continuavam atrelados ao trabalho de Bezerra de Menezes, cooperando com o médico generoso nas tarefas indispensáveis que visavam à elucidação dos encarnados acerca dos delicados momentos evolutivos que envolvem a humanidade nos períodos de transição por que ela vem passando.
- Socorro, socorro... – soavam os gritos atrozes, aos quais se uniam os gemidos de verdadeira multidão tresloucada.
Vamos fugir.
Satanás está chegando com seus raios comburentes para nos queimar. Corramos rápido!
- Que nada, não temos o que fazer, aguentemos por mais tempo, que ele passa.
Não adianta fugir... como estava escrito no Livro Sagrado, o inferno é um eterno queimar sem se consumir...
- Onde está o pastor que nos havia garantido que dormiríamos até o dia do Juízo?
- Acabei de vê-lo correndo com um grupo em busca de abrigo em alguma caverna, fugindo do calor insuportável.
Todos estes diálogos aconteciam entre os inumeráveis hóspedes daqueles sítios dantescos, transformados em área de reunião de entidades inferiores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 07, 2018 9:29 pm

Gritarias desesperantes, deslocamentos em massa, fugas em busca de sombra, sofrimentos multiplicados, seres desfigurados e sem comparativo na linguagem humana lá estavam, agoniados, clamando contra os elementos que os fustigavam, agitando-se contra as dores colectivas.
Entre seus membros, se encontravam aqueles que, na Terra, haviam sido responsáveis pelas quedas morais de muitos, os que haviam se locupletado com a dor e o sofrimento de seus semelhantes, as pessoas desonestas e interesseiras, indiferentes e cínicas, que nunca se deixaram tocar pelas noções espiritualizantes que melhorasse suas vidas através da prática do Bem.
Seres que ridicularizavam todos os conselhos sobre a modificação de comportamentos, a melhoria moral, o esquecimento dos males e o cultivo do perdão.
Os gastadores inveterados, cultivadores do luxo e dos modismos sem fim, dos esbanjadores das riquezas com os caprichos do mundo moderno, sem terem dado nenhum sentido de utilidade à própria vida lá estagiavam.
Também estavam cercados dos faladores da vida alheia, dos caluniadores, dos mentirosos, das almas belicosas e agressivas, dos malfeitores não arrependidos, dos governantes e autoridades corruptos, dos religiosos fanáticos e venais, dos infelizes viciados em todo o tipo de prazeres, fossem os químicos fossem os da conduta depravada.
Dos ricos debochados e dos pobres rebeldes, dos saudáveis gozadores e dos enfermos irreverentes e revoltados.
Os diversos comboios espirituais continuavam a trazer entidades recolhidas, as mais difíceis, endurecidas, sintonizadas com as malhas da ignorância, para as quais nunca fizera sentido a mais simples advertência a respeito de suas transformações morais.
Espíritos que carregavam neles as marcas dos próprios equívocos, e as características fluídicas daqueles que já não poderiam mais permanecer junto dos encarnados, nos processos de renovação da humanidade.
Por todas as maneiras e formas, caminhos e mídias, a palavra esclarecedora que convocava ao trabalho da última hora fora entoada e continuava sê-lo.
No entanto, mais do que entendê-la como algo sério, a maioria a ridicularizava, descrente das coisas elevadas do Espírito pelo entorpecimento de suas almas, acostumadas ao intenso gozo das coisas da matéria.
Escutando as palavras de sacerdotes, pastores, monges, religiosos de todos os tipos, boa parte deles mais interessada nos bens materiais de seus fiéis, os diversos seguidores de religiões se deixavam afastar da essência dos conteúdos profundos encontrados nas palavras de Jesus, reduzindo a religião ao formalismo social e à prática interessada na solução de problemas materiais.
Sem maior profundidade de análise, a maioria descrita simplesmente ou a praticavam de maneira superficial ou mística, buscando solução para problemas que eles próprios haviam engendrado.
As portas da Arca já estavam em adiantado estágio de fechamento, de maneira que muitos estariam impedidos de nela penetrar.
E diferentemente do que falavam as antigas escrituras, já não se tratava mais de um navio de madeira.
Agora, a verdadeira Arca era o próprio Planeta, e os que se candidatassem a nela permanecer, deveriam demonstrar a disposição através da mudança de suas vibrações pela alteração dos interesses imediatos e pela renovação de condutas.
Dores e dificuldades em avalanche aterradora surpreenderiam os gozadores e preguiçosos que, então, correriam a todas as igrejas com promessas de última hora e orações desesperadas, todas elas insinceras e motivadas, apenas, pelo temor.
Perceberiam, no entanto, que as portas da grande Arca Terrena já não mais estariam abertas para esse arrependimento improvisado, sem base na modificação sincera e na adesão do espírito a novos valores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:01 pm

Tragadas pelas circunstâncias, têm sido milhões de almas retiradas das zonas umbralinas e do seio dos próprios encarnados, aquelas sobre cuja fronte se encontra a marca da indiferença, do atraso, da inadequação para a nova ordem.
E era triste de se ver o oceano humano deslocando-se em massa de um lado para o outro, ora fugindo do calor ora do congelamento, suplicando um pouco de água ou se agarrando com o propósito de se aquecerem.
Nada disso, no entanto, alterava o estado mental de cada um, já que suas vibrações, hipnotizadas pela constante indiferença para com a elevação e a melhoria de sentimentos, fazia deles algozes uns dos outros.
Verdadeiras feras que se mordiam, se violentavam, estabeleciam domínios pela agressividade com que defendiam seus limites, demonstrando que, não importava onde estivessem, seriam sempre os mesmos.
Nada de arrependimento, nenhum impulso de humilhação diante das próprias culpas.
Somente revolta, blasfémia e maldades espalhadas por todos os lados.
Jerónimo e Adelino, enviados de Bezerra de Menezes, continuariam no aprendizado e na avaliação de alguns casos, para que tais ensinamentos pudessem alertar os vivos a respeito do que os aguarda nos testemunhos da existência, preparando-os para o processo selectivo que já está em andamento há muitas décadas e que se acelera ainda mais nos momentos presentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:02 pm

10 - PEIXOTO, O MATERIALISTA
Lucas, 16, 1-13
E dizia também aos seus discípulos:
Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens.
2 E ele, chamando-o, disse-lhe:
Que é isto que ouço de ti?
Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo.
3 E o mordomo disse consigo:
Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia?
Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha.
4 Eu sei o que hei-de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.
5 E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro:
Quanto deves ao meu senhor?
6 E ele respondeu: Cem medidas de azeite.
E disse-lhe:
Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinquenta.
7 Disse depois a outro:
E tu, quanto deves?
E ele respondeu: Cem alqueires de trigo.
E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta.
8 E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente,
porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz
9 E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
10 Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.
11 Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?
12 E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
13 Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque, ou há-de odiar um e amar o outro, ou se há-de chegar a um e desprezar o outro.
Não podeis servir a Deus e a Mamom.

Quem visse aquele homem de aparência respeitável, abeirando-se dos sessenta anos, o tomaria como a expressão do bom senso e do equilíbrio espiritual.
Conhecedor da doutrina espírita há mais de três décadas, trabalhava no núcleo religioso conduzido por Ribeiro, como médium, quase pelo mesmo tempo.
A postura segura, o falar pausado e o semblante austero impressionavam os circundantes que, mais do que a qualquer outro, prestavam-lhe especial atenção às palavras e opiniões.
Peixoto, entretanto, não correspondia no íntimo ao que a superfície das aparências indicavam.
Jamais estivera completamente integrado aos planos espirituais superiores na execução da Vontade Divina através do veículo mediúnico.
Era das pessoas, como milhares há por aí, que julgava que a vida era um conjunto de compartimentos isolados uns dos outros, de cuja reunião se compunha o conjunto, como um joguinho de peças de montar.
Por isso, não via o trabalho de elevação espiritual como algo a ser exercitado em todas as horas de seu dia, nos lugares onde estivessem e com todas as pessoas com quem convivesse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:02 pm

Interessado nos ganhos materiais e viciado pela satisfação do conforto que buscara, inicialmente para si e mais tarde para a prole. Peixoto acreditava que a hora de ser médium era aquela especificada nas previsões do trabalho espiritual da instituição dirigida por Ribeiro e Jurandir.
Fora do Centro, pautava seu comportamento segundo os interesses imediatos, atrelados aos ganhos e conquistas que tanto o envaideciam como homem bem sucedido.
Apresentava-se com esmero e apuro, cuidando da aparência porque sabia que o mundo valorizava o exterior acima de tudo e, com uma boa figura, conseguiria bons relacionamentos.
Nas actividades comerciais e negociais onde se desenvolvia.
Peixoto primava pela astuciosa inteligência, sabendo calcular as perdas e os ganhos da transacção com rapidez de uma máquina moderna, conseguindo tirar de seus negócios lauta fatia de lucros que não corresponderiam, tão somente, ao justo quinhão que lhe caberia.
Peixoto, no entanto, não trazia nenhuma preocupação de consciência, uma vez que, apesar do cristianismo espírita em cujo barco se metera há tantos anos, partilhava da convicção de que o centro espírita era o centro e o mundo era o mundo.
- A gente não nasceu no centro espírita.
A gente vai lá para ajudar os espíritos, para recebê-los como médiuns, para fazer a nossa parte de caridade, cumprindo nossa obrigação.
No entanto, depois, a gente tem de voltar para casa, onde nos esperam as tarefas do abastecimento, as necessidades do vestuário, a conta de água, de luz, de telefone, os vazamentos do encanamento, o gás, a gasolina do automóvel, os bancos que cobram, tudo isso precisa ser enfrentado e não serão os espíritos que vão pagar nossas contas – argumentava ele consigo mesmo, repetindo esses conceitos à boca pequena, sempre que algum interessado em esclarecimentos se acercava dele trazendo a discussão religiosa para o terreno da sobrevivência, no eterno conflito entre os ensinamentos do Evangelho e as ambições na vida pessoal.
O mentor espiritual da instituição, Ribeiro, bem conhecia os modos estranhos de Peixoto, mas, sem desejar pressionar o velho cooperador, observava o pouco desenvolvimento de suas faculdades mediúnicas, sempre predispostas apenas a um tipo de uso, aquele que favorecia a comunicação de entidades infelizes, espíritos agressivos, entidades desencarnadas ainda muito presas à matéria e aos bens do mundo.
Parecia que os dirigentes invisíveis tentavam auxiliar Peixoto a despertar para as responsabilidades mais profundas do viver, colocando ao seu redor entidades sintonizadas a interesses iguais aos dele ou, como acontecia muitas vezes, permitindo que os Espíritos que se imantavam ao médium durante seus trabalhos diários trouxessem sua palavra através daquele mesmo indivíduo que obsediavam.
Nada, no entanto, parecia fazer Peixoto modificar seu carácter infantil para as coisas do espírito.
Às reuniões mediúnicas, comparecia com sincero desejo de entregar-se ao trabalho do bem, orando, pedindo a Deus e aos seus mentores espirituais que se valessem dele para o amparo aos irmãos invisíveis mais necessitados.
Ele, porém, não conseguia aumentar o teor de vibrações por estar mental e emocionalmente viciado nos compromissos inferiores dos ganhos e dos interesses pessoais.
Inúmeras vezes, suas orações mais secretas eram súplicas aos Espíritos para que seus negócios fossem bem sucedidos ou para que os planos de investimentos que fazia conseguissem o sucesso almejado.
Assim, logo que se acercaram de Peixoto para o início da avaliação, Jerónimo e Adelino o encontraram em seu gabinete de trabalhos diários, em meio a contractos e títulos, queimando os neurónios para solucionar a difícil situação financeira na qual se encontrava comprometido.
Precisava fazer frente a um problema financeiro decorrente de um mal-sucedido investimento.
Como Peixoto não se mantinha vigilante o tempo todo, as protecções espirituais dos mentores amigos não lhe podiam ser eficientes fora dos estreitos limites do horário de trabalho espiritual na instituição espírita que frequentava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:02 pm

Fora do centro, o esperavam as entidades inferiores em sintonia com suas volúpias lucrativas, tanto quanto os seus adversários que, conhecendo-lhe o carácter tíbio e interesseiro, conspiravam para levá-lo à miséria, recolhendo o efeito doloroso dos inúmeros ganhos ilícitos conseguidos sobre a ingenuidade ou a menor astúcia de outros homens, prejudicados em seus interesses económicos e empobrecidos pelas perdas que sofreram.
Espíritos que se indignavam com a conduta de Peixoto ao ferir ou tomar o património e as esperanças de outros se irmanavam para fazerem-no perder tudo o que conseguira amealhar valendo-se dessa perigosa estratégia negocial.
E como Peixoto era fácil de ser estimulado aos voos ambiciosos, haviam se unido tais entidades para criar em seus pensamentos as ilusões vantajosas de lucros exorbitantes em negócio aparentemente sem riscos, mas que, em verdade, corresponderiam a um profundo em suas finanças, aproximando-o da definitiva ruína.
As alterações do cenário económico, as modificações do panorama favorável, a supressão de facilidades financeiras com o fim de incentivos oficiais combinaram repentinamente para que o empresário se visse, da noite para a manhã, transformado em um devedor com dificuldades para saldar o montante dos prejuízos.
Peixoto conhecia todo aquele cenário trevoso e, por isso, estava envolto em papéis, buscando organizar uma nova estratégia para sair do apuro.
- Não posso parecer desesperado – pensava ele consigo mesmo.
Nada pode transparecer que estou nesta situação porque, se isso for descoberto, ninguém será capaz de me emprestar.
Preciso captar recursos urgentemente, sem os quais a falência será inexorável.
Acompanhando seus pensamentos, Jerónimo e Adelino observavam, como aprendizes da escola da vida, o mecanismo de comportamento que os homens utilizam para, com a desculpa da necessidade, mais e mais se afundarem no pântano dos compromissos morais.
- Vou falar com Vieira.
Ele é muito bem relacionado e me deve alguns favores.
Afinal, eu o levei ao centro espírita quando estava com problemas.
Depois que melhorou, o safado nunca mais apareceu, mas, como sempre me diz, tem uma dívida comigo.
Quem sabe não está na hora de me honrar, pagando-me o favor que lhe fiz.
Isso mesmo... vou visitá-lo.
Certamente saberá me encaminhar às fontes de dinheiro que tanto necessito, isso se ele próprio não estiver disposto a me ajudar, devolvendo-me a gentileza.
Ah! Tenho também o Alceu.
Sei que ele está passando por problemas familiares com a iminente separação da esposa.
Cheio de dinheiro a não ter mais onde guardar, está numa disputa financeira com a mulher que o deseja ver infelicitado com a perda da metade do seu património num processo de separação judicial.
Ele me havia pedido um conselho e, nessa circunstância, será muito interessante que eu o leve pessoalmente aos trabalhos no centro espírita.
Desse jeito, receberá o apoio dos amigos invisíveis que o atenderão em suas necessidades, vai ficar me devendo um favor e, grato por lhe ter prestado solidariedade, certamente se inclinará a me auxiliar neste transe difícil.
Em nenhum momento se observava nele a percepção da consciência que lhe falava da impropriedade de negociar com as coisas de Deus.
Nem o que aprendera no Cristianismo Espírita era suficiente para frear-lhe os impulsos mercantilistas de mesclar Jesus com as vantagens do mundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:03 pm

Vendo o seu estado de desequilíbrio, Jerónimo, apoiado pelo amigo Adelino, aproximou-se do médium invigilante e, impondo-lhe as mãos sobre a fronte, transmitiu-lhe uma carga de energias calmantes ao mesmo tempo em que Adelino lhe falava, suavemente, ao ouvido espiritual aguçado:
- Peixoto, por que você não ora, meu filho?
A energia de Jerónimo somada à intuição de Adelino recaíram sobre o pobre homem como luz que se projecta no abismo.
Envolvido por tais eflúvios, Peixoto recostou-se na cadeira, como que tocado por uma ideia diferente, que lhe surgisse de dentro de si mesmo.
Parecia que ele próprio estava pensando.
- Orar... Orar... – repetindo para si mesmo a intuição recebida, sem imaginar que se tratava, em verdade, da sugestão nascida de amigos invisíveis, que tentavam alertá-lo amorosamente para que procurasse outras maneiras de agir.
Ao mesmo tempo, entidades inferiores que se colavam ao seu psiquismo, envolvendo-o, e que não percebiam a intercessão superior, notando o pensamento diferente a brotar de seu cérebro, alvoroçaram-se no intuito de desacreditar a sugestão do Bem.
- Que oração que nada.
Se oração resolvesse, você não estaria nessa situação.
Afinal, não é você que vai ao tal centro espírita duas vezes por semana orar?
E onde estavam os seus anjos que não o alertaram sobre os perigos do negócio nem impediram que você concretizasse tão estapafúrdios investimentos?
Deixe de besteiras, homem.
Você mesmo fala que reza é no centro espírita e negócio é no mundo.
Deus não vai fazer chover dinheiro na sua conta como fez cair o Manah do céu para os hebreus no deserto...
Eram pedradas vibratórias que repercutiam na acústica de Peixoto, combatendo em sua mente invigilante as sugestões amorosas do Bem.
- Deus é o mais rico de todos os banqueiros, Peixoto – continuava falando Adelino.
Por que não recorrer à sua ajuda, ao seu conselho sábio?
Não que o dinheiro que você necessita venha a surgir à sua frente.
No entanto, a ajuda divina chegará por outros caminhos.
Dando-lhe forças para não errar mais, amparando seus esforços para diminuir os prejuízos, ajudando-o a sanar suas finanças sem causar maiores danos aos outros...
As advertências espirituais traziam-lhe a noção da responsabilidade de quem administra um património divino e que, por isso, precisa despertar para o mundo da Verdade.
Chega sempre o dia em que as ilusões acabam, os sonhos quebram os espelhos da mentira e cada um deve aprender a crescer por si próprio.
E essa era a intenção dos dois amigos espirituais, notadamente por ser ele conhecedor das leis espirituais e sabedor dos compromissos negativos que a malversação de bens e recursos produz na vida de quem assim se permite viver.
Nada do que Adelino sugeria, entretanto, era o que Peixoto estava buscando encontrar.
- Você precisa mesmo é de um amigão que o ajude com dinheiro.
E se essa tal mediunidade serve pra alguma coisa mesmo, meu amigo, é para você aproveitar a maré favorável e ajudar quem poderá lhe ajudar.
Essa é a lei da vida.
Afinal, não foi um santo que disse que era DANDO QUE SE RECEBIA?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:03 pm

A acção das entidades inferiores reforçava em Peixoto os hábitos de negociante, que carregava no espírito o constante interesse de obter alguma vantagem de tudo o que fazia.
Mesmo suas amizades espíritas e suas conversas sobre a doutrina com certas pessoas era movida pelos possíveis ganhos e ligações favoráveis que construiria para si mesmo.
- Afinal, ninguém conhece o dia de amanhã, não é?
E tem sempre algum amigo rico que poderá ficar impressionado com minha capacidade mediúnica e, assim, me facilitar com uma aproximação positiva.
Aliás, já consegui vender muita casa pra gente que levei ao centro espírita e que, desde então, passou a acreditar nos bons fluídos que me envolvem e na protecção que, certamente, possuo – era esta a resposta mental que Peixoto dava a esse conflito de ideias que, entre o Bem e o Mal, procuravam salvá-lo de maiores desgraças ou, ao contrário, tentavam acelerar a sua queda e a sua perdição definitivas.
Jerónimo e Adelino se afastaram, conformados com a ausência de afinidade entre o médium e os bons conselhos e, assim, retomaram a observação de um Peixoto que, dando espaço aos seus velhos métodos, incorpora a mediunidade aos seus planos estratégicos usando-a para se fazer importante a outros ricos, em busca de vantagens na ciranda dos interesses materiais.
O médium faria tudo de maneira muito subtil, delicada e sem a aparência de negócios.
Ganharia a confiança de Alceu, demonstrando-lhe solidariedade e preocupação para, logo mais, poder contar com a solidariedade do amigo rico.
Ninguém poderia acusá-lo de nada.
Tudo seria uma troca interessante para ambos.
Não percebia, o pobre homem, que a responsabilidade mediúnica estava na dependência de outros homens conhecerem ou não suas verdadeiras intenções.
Espíritos de todos os tipos estavam a par de seus planos e, tanto para piorar-lhe a situação quanto para tentar ajudá-lo a não cair nesses patamares inferiores, desdobravam-se para influenciá-lo.
Por fim, colocando uma pedra sobre os pruridos virtuosos que se levantavam para tentar acordá-lo, disse para si mesmo:
- É isso aí, sim.
Não são os espíritos que pagam as minhas contas.
Sou eu próprio.
Ademais, que mal há em se fazerem amigos?
E que esses amigos sejam ricos?
Estarei, isso sim, fazendo a caridade de encaminhar Alceu ao centro espírita, para que receba uns passes, uma palavra de esclarecimento e se fortaleça moralmente.
Não é isso que a gente aprende no Evangelho?
E quanto a Vieira, este já está cevado.
Certamente haverá de me ajudar com algum polpudo cheque.
Depois de resolver o meu problema depositando em minha conta, pagarei o amigo em algum “agosto”... a gosto de Deus...
Afinal, o safado foi ajudado pelos espíritos e nunca devolveu a ajuda que recebeu.
Agora chegou o momento apropriado de restituir algo do muito que já se beneficiou... Há! Há! Há!
Pobre Peixoto, que não sabia a quem servir...
Se a Deus ou se a Mamon, nem se recordava de que precisaria prestar contas ao Senhor quando de sua volta.
Nem se via como um mordomo a quem as contas seriam pedidas.
Esquecia-se de que o Dono da Casa voltaria e o surpreenderia naquele comprometedor estado de alma.
Deixando o médium entregue a si mesmo, envolto pela chusma de entidades vingadoras, Jerónimo e Adelino demandaram visitar a outra irmã que lhes competia encontrar para os estudos que vinham realizando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:03 pm

11 - GERALDA
Depois de terem-se surpreendido com as vibrações de Peixoto, que lhes forneceu amplo material para estudos e meditações, foi a vez de os dois visitadores espirituais acercarem-se de Geralda, trabalhadora da casa espírita que, em verdade, possuía pouca noção dos deveres espirituais e afectivos diante das coisas de Deus.
Não era trabalhadora da mediunidade ostensiva, mas servia em diversas áreas da instituição como voluntária para os trabalhos gerais e para algumas reuniões mediúnicas como doadora de energias.
Jovem e bem disposta, carregava bem escondidos diversas emocionais.
Diferentemente de Peixoto, Geralda não tinha preocupações com dinheiro, investimentos e influências materiais sobre seus amigos.
Iludida com o mundo, acreditava que poderia conciliar os dois estilos de vida, vivendo com os pés em duas canoas.
Dentro do Centro Espírita, sua conduta parecia a de uma pessoa normal, realizando as tarefas que lhe cabiam.
No entanto, numa singela análise de seu padrão mental e vibratório, os trabalhadores do mundo invisível identificavam com muita facilidade suas preocupações reais, totalmente vinculadas às aparências do mundo.
Seus pensamentos demonstravam seu apego à beleza física, às roupas e berloques que lhe serviam de ornamentos provocadores, estando sempre voltados para a “sua figura”, como ela mesma gostava de se qualificar, imaginando que o mundo era um palco no qual todas as pessoas se apresentavam ostentando a melhor aparência com a qual conseguiria se fazer notar e ser admirada pelos outros, o que a fazia escolher roupas e posturas adequadas a ressaltarem as suas qualidades físicas de maneira mais chamativa.
Geralda se esmerava em combinações de roupas, em trejeitos estudados, em observar as outras pessoas e estabelecer julgamentos fulminantes sobre suas potenciais concorrentes, já que olhava para as outras mulheres como suas opositoras.
Disciplinada nas aparência, jamais comentava essas ideias pessoais no interior da instituição, apesar de trazer a alma contaminada, como a de Peixoto, por sua ligação com as coisas de Mamon, preferindo-as em lugar de se vincular aos modos simples ensinados pelo Evangelho de Jesus.
Visitando sua casa, Jerónimo e Adelino puderam acompanhar suas rotinas e visualizar seus pensamentos mais secretos.
- Hoje é dia de reunião.
Será que o Aloísio estará lá?
Ah! Que pedaço de rapaz.
Disseram que é noivo – seguia pensando Geralda, consigo própria, sem imaginar que estava sendo estudada por amigos espirituais.
– Que me importa isso?
Quanta gente não mudou de ideia na última hora, não é mesmo, Geralda?
Não posso perder a oportunidade de me mostrar um pouquinho para o olhar curioso do pretendido.
Homem é sempre homem...
Jerónimo e Adelino se entreolhavam, compreendendo num relance quais eram as intenções mais profundas da “trabalhadora de Jesus”.
Procurando ajudá-la na modificação de seus pensamentos, Adelino acercou-se e cochichou em seus ouvidos espirituais:
- Geralda, é preciso elevar o pensamento e purificar nossas intenções.
Aloísio é um trabalhador dedicado que está lutando contra suas próprias fraquezas e emoções desajustadas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:03 pm

Não é adequado que você se torne pedra de tropeço no caminho de nosso irmão.
Recebendo o impacto daquelas palavras de alerta, ao invés de assimilá-las como deveria ou seria adequado supor, Geralda logo emendou:
- É, só tenho que tomar cuidado é com o Sr. Jurandir.
O homem vive me observando e já me chamou a atenção duas vezes, apontando minhas roupas como inadequadas para o trabalho.
Está me marcando e, por isso, não posso dar moleza.
O homem é velho, mas tem um olho que só ele.
Fiscaliza tudo. Tenho que continuar tecendo minha teiazinha para atrair o “pedação”.
Sei que Aloísio gosta de pernas... já o vi observando, com seus olhares compridos, várias moças que chegam para a reunião... hoje, darei um jeito de conferir o interesse dele pelas minhas.
Vou usar um vestido comprido, mas vou dar um jeito de subi-lo um pouco para ver até onde ele se controla.
Só tenho que tomar cuidado com o Sr. Jurandir.
De nada adiantaram as advertências dos amigos invisíveis que desejavam renovar-lhe os pensamentos, soprando um pouco de respeito e responsabilidade em sua consciência doidivanas.
Geralda não assimilava nada que contrariasse a sua intenção de encontrar um companheiro, já que sua dor mais aguda era a de todas as suas amigas terem conseguido constituir família junto de companheiros enquanto que ela, solteira, amargava o título de “encalhada”, estando na última posição na fila do altar, o que feria seu orgulho de mulher, além de aumentar a inveja da felicidade afectiva dos outros.
Não imaginava que sua situação era acompanhada de perto, não apenas por Jerónimo e Adelino, mas, igualmente, por diversos espíritos que, em outra existência, haviam sido afectivamente ludibriados pela conduta traiçoeira e falsa da moça.
Astuta cultivadora do prazer, a hoje trabalhadora espírita havia sido perversa comerciante das emoções a serviço de antiga corte espanhola do século XVIII, arrebatando os homens para obter de informações importantes ou, simplesmente, para esbanjar sua beleza sobre a das outras mulheres, o que lhe garantiria a vitória na competição pelos melhores partidos de seu tempo, da melhor forma que o ódio das mulheres de seu ambiente social.
Semeando sua trajectória com espinhos e lágrimas, ódios e destruições, granjeou incalculável número de perseguidores e, premida pelo avantajado volume de débitos, solicitara uma nova chance de regressar ao mundo através do renascimento em condições de resgatar seus antigos equívocos.
Requereu a nova experiência para que fosse fustigada pela beleza física e resistisse às tentações de mergulhar nas mesmas condutas perigosas do passado.
Agora seria chamada à disciplina afectiva através da renúncia à vida familiar, a mesma que não soube respeitar e proteger em decorrência dos inúmeros casamentos que arruinou no passado.
Renascera com o compromisso do isolamento afectivo, mas, sem recordar-se dos verdadeiros motivos, se revoltava por não conseguir companheiro sincero, precisando defender-se contra os muitos que desejavam usá-la sexualmente, aproveitando-se de seu corpo bem torneado.
Sua solidão tinha raízes no passado, mas também sofria o assédio psíquico das almas que haviam sido prejudicadas por ela, que se empenhavam no afastamento dos possíveis candidatos ao matrimónio.
Pelo mesmo motivo, tais entidades procuravam estimular os interesses masculinos, tocando-lhes a tecla do prazer e do desejo, insinuando em seus pensamentos a ideia de se aproveitarem da beleza física da jovem, frustrando-lhe o sonho da união.
Candidatos a amantes havia por todo o lado.
Mas voluntários para o casamento, nenhum.
Ao saber que Aloísio era noivo, seu interesse se acendeu, porque isso indicava que se tratava de um rapaz disposto a assumir o relacionamento com o desejo de casamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:03 pm

Mas o que era pior em Geralda, na visão dos amigos espirituais, era o facto de que ela não estava aproveitando as lições espirituais que escutava, para melhorar-se nem para aperfeiçoar a qualidade de sua doação no trabalho do Bem, através dos quais auxiliaria os perseguidores com seus bons exemplos e os evangelizaria para que abdicassem do desejo de vingança.
Tanto ela se transformaria quanto ajudaria seus inimigos a modificarem seus intentos vingadores.
Não obstante tais condições favoráveis, a jovem malbaratava sucessivas oportunidades, perdida em pensamentos inadequados que faziam ainda mais fortes o antagonismo e o desejo de revide de seus perseguidores.
Geralda não se alterava pelos padrões do Evangelho.
Andava com amigas levianas a quem criticava pelas costas logo depois de vê-las distantes, no intuito de denegrir toda e qualquer mulher a quem continuava vendo como adversárias.
Odiava a concorrência e via em cada uma um perigo em potencial.
Sua alma, infelizmente, era um poço de podridão em pensamentos e sentimentos, totalmente distanciada das realidades sinceras do trabalho do Bem.
Apesar disso, imaginava-se muito bem escondida e camuflada na conduta aparentemente séria que mantinha nas horas dedicadas ao trabalho do Cristo no interior da instituição religiosa.
Fora dela, seguia espancando seus irmãos de humanidade, acreditando que o patrão jamais chegaria e nunca lhe pediria contas.
Jerónimo e Adelino permaneceram com ela durante todas as horas que antecediam a sua chegada ao centro espírita.
Geralda pensava, como fazem muitos trabalhadores despreparados, que estaria realmente a serviço do Bem somente quando chegasse ao Centro Espírita para a reunião da noite.
Por isso, nenhuma oração, nenhum preparo prévio para as tarefas que a esperavam, nenhum esforço de se sintonizar com os amigos espirituais que, certamente, se acercariam dela, como doadora de fluídos, bem antes do início da tarefa.
Por sua invigilância, não foi possível aos amigos espirituais protegê-la do assédio volumoso de entidades inferiores que a envolviam, manipulando suas ilusões e infundindo-lhe ainda mais fogo na excitação da conquista do rapaz comprometido.
Seu pensamento vagava ao léu, sempre ao sabor das imagens mentais que as entidades perseguidoras projectavam, fustigando a sua carência afectiva com as promessas da ventura conjugal.
Geralda viajava na esperança de felicidade ao lado de um príncipe, sem atentar para as responsabilidades de equilíbrio e perseverança no Bem.
Chegava ao centro espírita como uma obsidiada comum, inconsciente de que era tão ou mais necessitada do que as pessoas que recorriam às orações da instituição, ou do que as próprias entidades que a acompanhavam e, lá mesmo, seriam ajudadas.
Ribeiro conhecia seus problemas pessoais em decorrência de sua história de vida, e das características de sua personalidade esvoaçante e sonhadora e de novo, como Dirigente Espiritual, compreendia seus motivos e tentava ajudá-la.
No entanto, não possuía maneira mais eficaz de despertá-la do que permitir que ela escutasse esses mesmos espíritos que a perseguiam, que, usando da boca de outros médiuns, poderiam dar testemunhos vivos para o seu aprendizado pessoal.
Sentir as sensações desagradáveis que a acompanhavam bem como escutar as acusações directas e saber que tais espíritos se afinizavam com suas condutas poderia ser a vacina que promoveria a sua melhora.
Ribeiro também sabia que, no seu grau de desequilíbrio, Geralda caminhava perigosamente no rumo do desajuste e da fuga do dever, o que redundaria no seu natural afastamento dos trabalhos espirituais, a não ser que aceitasse permanecer como doente em tratamento, afastada das tarefas directas da instituição até que se reencontrasse, modificando o padrão de seus pensamentos e intenções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 08, 2018 9:04 pm

Ribeiro jogava as últimas cartadas no “caso Geralda”, procurando trazer a pobre moça à realidade para favorecer-lhe a recuperação do discernimento.
Quem sabe, mais tarde, com o amparo do mundo espiritual e depois de afastadas as entidades perseguidoras, empregando renúncia e resignação humildes, conseguisse angariar mérito adequado à constituição de uma família ao lado de um amor de verdade.
Por enquanto, esse direito ainda não havia sido conquistado, porque a Geralda de hoje era muito pouco diferente da Isabel que havia sido na Espanha do século XVIII.
Geralda chegou ao centro espírita sem imaginar que todos os espíritos amigos sabiam de seus planos ardilosos visando os objectivos destruidores da felicidade alheia, tendo tentado disfarçar suas intenções sob roupas discretas.
Estava pronta para o jogo, esperando a hora de começar a dar as cartas.
Não tardou para que o horário se fizesse adequado ao início dos avisos, enquanto a pobre moça se inquietava com a ausência do bom partido que ainda não havia chegado.
Os avisos prosseguiam e nada de Aloísio aparecer.
Desculpando-se com a necessidade de ir ao toalete, Geralda saiu de seu lugar para conferir melhor os que estavam sentados no salão público da instituição.
Depois da palestra da noite, os trabalhadores se encaminhariam às tarefas diversas dispersando-se o público, cada qual em direcção às classes de estudo ou ao serviço do passe magnético.
- Onde será que está o meu querido? – pensava, agoniada.
Não pode fazer isso comigo.
Eu me arrumei toda para ele.
Não poderei ficar sem encontrá-lo hoje.
Ai, meu Deus, me ajude...
Traga o Aloísio até mim...
O tempo, no entanto, passava e o rapaz não aparecia.
Geralda se irritava por dentro, mas sem perder a boa postura do lado de fora.
Regressou a lugar costumeiro e tentou acalmar-se, apesar de estar sempre de olho na porta de entrada do salão, fiscalizando cada um que chegava.
Poucos instantes antes de fecharem a porta de entrada, como costumava acontecer nas noites de trabalhos públicos, a aflição de Geralda se dissipou e um brilho estelar brotou de seus olhos.
À porta do salão, finalmente, chegara o objecto de seu ardente desejo.
Aloísio se posicionara na entrada para a alegria da emocionada pretendente.
Geralda teve um sobressalto que, a custo, conseguiu conter.
Seu coração disparou, suas mãos começaram a suar, sua respiração se tornou mais ofegante, e todo o seu organismo reagia como uma máquina pronta para entrar em acção.
Os espíritos amigos que a tudo acompanhavam, mantinham-se a postos para ajudar em seu equilíbrio emocional e vibratório, já que estas emoções descontroladas poderiam ser muito prejudiciais ao andamento do tratamento fluídico que lhe era dispensado.
Adelino e Jerónimo se somaram à equipe de trabalhadores espirituais naquela noite, acomodando o grande contingente de espíritos infelizes e revoltados que acompanhavam a jovem.
Geralda, no entanto, nem de longe sonhava com o trabalho que estava dando aos seus protectores e aos servidores da casa.
Só pensava em seu desejo de conquista, habilmente ocultado dos olhares dos vivos, mas cinematograficamente estampado aos olhares dos “mortos”.
Ribeiro se aproximou dos outros servidores invisíveis da casa que estavam se ocupando dela e avisou:
- Irmãos, estejam atentos, porque o choque maior vai acontecer daqui a alguns instantes.
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