LUZ ESPÍRITA
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Psi x Sobrevivência

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 30, 2012 8:51 pm

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(iii) Temos de dar-nos conta de que ainda que o conceito 'consciência' fora inato, a realidade à que se refere - a consciência - só se poderia constactar por meio da introspecção, isto é:
mediante a constactação de que há experiências conscientes.

O epifenomenalismo parte da realidade da consciência e se baseia para isso na evidência (introspectiva) da existência de experiências conscientes.

Exista um conceito inato de 'consciência' ou não, em todo caso o epifenomenalismo utiliza experiências subjectivas como pedra de toque de tal conceito.

Depois de tudo, é absurdo opinar que a realidade de uma coisa se possa constactar baseando-se no facto de que temos um conceito dela (por exemplo no caso do unicórnio).

A única razão válida para supor a existência de experiências conscientes é pois a constactação introspectiva de que tenha tais experiências.

Se ninguém constactasse nada nesse sentido, não teria nenhuma razão para supor que realmente existe a consciência.

O epifenomenalismo pois se vê forçado a basear sua aceitação incondicional da existência da consciência sobre um contacto introspectivo com essa mesma consciência.

Tal contacto se iguala no entanto a uma influência causal da consciência na conceitualização daquele que a percebe por meio da introspecção.

Além do mais não é necessário conceber a introspecção como um 'acto'.

É suficiente concebê-la como um 'factor', comparável ao status causal de um objecto percebido durante o processo de percepção *45.

Neste respeito, poderíamos utilizar uma nova divisa como 'percipi est movere' (perceber-se é mover).

(iv) Assim o epifenomenalismo é internamente contraditório.

Sustenta que há uma razão válida para postular experiências mentais, mas proclama ao mesmo tempo que essas experiências são completamente incogniscíveis, negando-lhes toda influência causal *46.

A conclusão é pois que o epifenomenalismo deveria ser desqualificado definitivamente *47.

Uma possível defesa dos epifenomenalistas à primeira vista seria que neste argumento analítico se acharia presente um tipo duvidoso de "justificacionismo", já que nem todas as entidades teóricas têm de ser justificadas diretamente por observações.

Não é talvez suficiente que as entidades suponham uma diferença para as predições que se seguem da hipótese?

Talvez esta defesa pareça liberar ao epifenomenalismo da necessidade de fundar sua certeza de que existe uma consciência subjectiva.

No entanto, o contrário é verdadeiro.

Inclusive se se tomasse a sério a mencionada defesa, isto leva a afirmar que a consciência precisa ter influência, ainda que seja só indirectamente, sobre as predições sobre a realidade.

E tal influência também não se pode reconciliar com o epifenomenalismo *48.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 30, 2012 8:52 pm

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O epifenomenalismo resulta de facto numa forma de obscurantismo, de representação errónea (uma parte) da realidade em favor de concepções que se consideram como invioláveis, isto é, do fisicalismo *49, e da irredutibilidade da mente consciente.

Poderia-se dizer que é um 'refúgio' para os fisicalistas que não são cegos a sua própria subjectividade *50.
Com o argumento acima mencionado se demonstrou que o fisicalismo já não pode crer-se seguro.

Envolvimentos da desqualificação do epifenomenalismo

A desqualificação do epifenomenalismo é, como vimos no anterior, inevitável.

Agora queremos prestar atenção às consequências da desqualificação do epifenomenalismo.

Ray Jackendoff afirmou em 1989, confrontado com nosso argumento da justificativa do conceito de consciência, que poderia ser sensato reconsiderar a realidade das experiências subjectivas.

Dennett toma uma posição ainda mais extrema.

Partindo de sua própria formulação de nosso argumento analítico, conclui que 'ninguém é consciente', em todo caso não no sentido corrente, 'misterioso' e qualitativo do termo *51.

Ambos autores concluem pois da irreconciliabilidade do 'fisicalismo' e 'dualismo' que a evidente consciência tem de ser eliminada, sacrificada à manutenção do fisicalismo 'indubitável' *52.

De facto a isto poderíamos qualificar uma forma moderna de dogmatismo cego e infundado.

Por outro lado, é interessante que ambos pensadores já não optam pela teoria de identidade materialista, senão directamente pelo materialismo reducionista, o qual nega a existência da mente subjectiva.

Isto é assim porque a teoria da identidade também sustenta que só a variante 'objectiva' da mente subjectiva, a qual estaria representada pelo cérebro (ou parte deste) pode ter influência objectiva.

Isto é, não obstante, como já vimos, impossível já que para a legitimação da postulação de uma mente subjectiva é necessário que essa mente subjectiva seja eficaz como mente subjectiva, e não só num chamado sentido "objectivo", fisiológico, seja eficaz.

Por isso, já que não queremos copiar a negação oportunista da consciência, teremos que procurar outra variante com respeito à causalidade psicogénica dentro de um dualismo, a não ser que optemos pelo idealismo, uma concepção que não vamos considerar neste artigo.

A desqualificação do paralelismo

Vários autores *53 sublinham que o paralelismo e o epifenomenalismo se parecem bastante.
Ambas posições partem de que para toda experiência subjectiva existe um correlato fisiológica.

A diferença é, não obstante, que este correlacto segundo o epifenomenalismo é o substracto de dita experiência, enquanto segundo o paralelismo só se trataria de um correlacto paralelo.

Agora, o paralelismo deve desqualificar-se por uma razão semelhante à dada para o epifenomenalismo, mesmo sendo o reflexo de nosso argumento analítico.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 30, 2012 8:52 pm

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O epifenomenalismo não pode reconciliar sua certeza de que existe uma mente consciente com a impossibilidade implicada de conhecer a existência da consciência.

O paralelismo, por outro lado, não pode reconciliar sua certeza de que existe um mundo material com a incapacidade desse mundo de influir na psique.

Em outras palavras, por um lado não caberia dúvida segundo o paralelismo de que há um mundo físico, mas por outro lado resulta da causalidade paralela e estritamente separada que o mundo físico não pode ter influência sobre a psique.

De maneira que outra vez há que falar de uma contradição:
Conhecemos com certeza a existência de um mundo físico, enquanto ao mesmo tempo com certeza não podemos conhecer esse mundo físico.

Por conseguinte só nos fica o interacionismo como possibilidade *54.

Isto implica então que a aceitação da existência de experiências conscientes irredutíveis (aparte da existência de um mundo material), isto é a existência de um dualismo, logicamente leva ao interacionismo.

Interacionismo

Ao que parece, a intuição tinha razão.

Nós como seres subjectivos certamente importamos algo, sem dúvida exercemos uma influência sobre nós mesmos, sobre nossas vidas e sobre nosso meio ambiente social e físico.

Também a axiologia e ética não se podem reduzir mais a epifenómenos biogénicos.

Na psicologia (humana) e na etologia e a psicologia dos animais *55, deveria estar claro em geral a partir de agora que a consciência é importante para a experiência e o comportamento.

Segundo parece, é no mínimo uma fonte de conceitualização.

Qualquer corrente ou teoria dentro destas ciências que seja fundamentalmente irreconciliável com a existência da causalidade psicogénica, deve dar-se conta da posição insustentável do epifenomenalismo e do paralelismo.

Não somos, para corrigir a Huxley, 'autómatas conscientes'.
Também na neuropsicologia e psiquiatria se deveria partir das influências da consciência sobre processos no cérebro.

Os processos cerebrais não são a única causa do comportamento e a experiência.

Uma psiquiatria que fosse benéfica não pode pois limitar-se a um tratamento puramente fisiológico.

Por último, o status científico teórico da parapsicologia já não é nenhum problema dentro do interacionismo.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 31, 2012 8:28 pm

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Lista de referências

- Ontem, A.J. (1986), Filosofie in de twintigste eeuw (tradução holandesa). Kampen.
- Beloff, J. (1987), "Parapsychology and the mind-body problem" Inquiry, 30: 215.
- Beloff, J. (1988), The importance of psychical research. Londres: SPR.

- Bergson, H. (1944), L'énergie spirituelle: Essais et conferences. Paris: Presses Universitaires.
- Bierman, D.J., Dongen, H. van, & Gerding, J.L.F. (1991), Parapsychologie em fysica. Utrecht: SPR holandesa.
- Bolzano, B. (1970), Athanasia oder Gründe für die Unsterblichkeit der Seele, edição moderna da obra publicada em 1838. Minerva, Frankfurt am Main.

- Churchland, P. (1990), A contemporary philosophy of mind. Cambridge: MIT Press.
- Crane, T., & Mellor, D.H. (1990), 'There is no question of physicalism'. Mind. 99: 185-206.
- Dennett, D.C. (1991), Consciousness explained. Londres: Penguin Books.

- Eccles, J.C. (1980), The human psyche. Nova York: Springer.
- Elitzur, A.C. (1989), 'Consciousness and the incompleteness of the physical explanation of behavior', The Journal of Mind and Behavior. 10: 9-10.

- Heymans, G. (1925),"Over de verklaring der telepathische verschijnselen", Mededelingen der Studievereniging voor Psychical Research.
- Heymans, G. (1933), Inleiding in de metaphysica op grondslag der ervaring (tradução holandesa). Amsterdam: Wereldbibliotheek.

- Hodges, M., & Lachs, J. (1979), "Meaning and the impotence hypothesis", Review of Metaphysics. 32: 515-529.
- Huxley, Th. (1898), Methods and results: Collected Essays,Volume I. Londres: Macmillan.
- Jackendoff, R. (1987) Consciousness and the computational mind. Cambridge, Mss.: MIT Press.

- Jackson, F. (1982), "Epiphenomenal qualia", Philosophical Quarterly. 32: 134.
- James, W. (1891), The principles of psychology, Volume 1, Capítulo 5. "The automaton theory.". Nova York: H. Holt.
- James, W. (1986), Essays in psychical research. Cambridge, Mss.: Harvard University Press.

- Marres, R. (1985), Filosofie van de geest: Een inleiding. Muiderberg: Coutinho.
- Nietzsche, F. (1950), Die fröhliche Wissenschaft (nova edição). Stuttgart: Kröner.
- Platón. Phaedo, XXXVI parte.

- Popper, K.R. em Eccles, J.C. (1977), The self and its brain. Londres: Routledge & Kegan Paul.
- Penrose, R. (1987), "Quantum physics and conscious thoughts", em B. J. Hiley e F. D. Peat, edit., Quantum implications: Essays in honour of David Bohm. Nova York: Methuen.

- Penrose, R. (1989), The emperor's new mind: Concerning computers, minds, and the laws of physics. Nova York: Oxford University Press.
- Price, H.H. (1940), "Some philosophical questions about telepathy and clairvoyance". Philosophy. 15: 363-385.

- Radin, D., & Nelson, R. (1989), "Evidence for consciousness-related anomalies in random physical systems". Foundations of Physics: 1499-1541.
- Radin, D., & Nelson, R. (1989), "Onverklaarbare relaties tussen het bewustzijn em toevalsprocessen". Tijdschrift voor Parapsychologie.

- Ritter, J. (1972), Historisches Wörterbuch der Philosophie. Basel: Schwabe & Co.
- Rivas, E., & Rivas, T. (1991), "Bewustzijn bij derem". Antropologische Verkenningen. 10: 2, 32-40.
- Rivas, E., & Rivas, T. (1993), Afstudeeronderzoek Bewustzijn bij derem. Utrecht: Psychonomie, Theoretische Psychologie.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 31, 2012 8:28 pm

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- Rivas, T. (1990), "Intrasomatische Parergie: Een overzicht van de directe invloed van geestelijke voorstellingen op de fysiologie van het eigen lichaam". Tijdschrift voor Parapsychologie. 58: 10-11.

- Rivas, T. (1992), "Bewustzijn: Een overzicht van vraagstukken". Berichten uit Psychopolis. 7: 2, 27-33.
- Rivas, T. (1999), "Analytical argumentation and the theoretical foundation of psychical research I: arguments for the causal efficacy of mind". The Paranormal Review. 10: 33-35.

- Rooijen, J. van (1985), "The philosophical position of apllied ethology: A reply" (Letter to the Editor). Applied Animal Behaviour Science. 14: 379-383.

- Shaffer, J. (1965), "Recent work on the mind-body problem". American Philosophical Quarterly, 81-104.
- Shoemaker, S. (1975), "Functionalism and qualia". Philosophical Studies. 27: 291-315.
- Skinner, B.F. (1971), Beyond freedom and dignity. Nova York: Knopf.

- Stevenson, I. (1987), Children who remember previous lives: A question of reincarnation. Charlottesville: University Press of Virginia, Charlottesville.

- Stokes, D.M. (1991), "'The case for dualism', edit. by J. Smythies & J. Beloff (crítica)". The Journal of the American Society for Psychical Research. 85: 388-393.

- Stokes, D.M. (1993). "Mind, matter, and death: Cognitive neuroscience and the problem of survival'. ".The Journal of the American Society for Psychical Research. 87: 41-84.

- Vries, R. de (1991), "Van wetenschapstheorie tot dierenleed: Wetenschapstheoretische opmerkingen over de plaats van het subjectieve in de natuur". Antropologische Verkenningen. 10: 2, 75-76.
- Watkins, M. (1989), "The knowledge argument against the knowledge argument". Analysis. 49: 158-160.

English Abstract

This article examines the background, implications and merit of epiphenonalism.
The authors systematically present an analytical argument against epiphenomenalism, the argument of the justification of the assertion of the existence of consciousness.

It is shown that whereas epiphenomenalists claim to know that consciousness exists, they implicitly deny the possibility of knowing consciousness, since (according to their position) consciousness cannot have any influence on our knowledge.

Similarly, the authors examine and reject the position of parallellism.
Parallellism implicitly states it knows of the existence of an unknowable physical world.
Consequences are mentioned for philosophy and empirical science.

Dados dos autores de 'Exit Epifenomenalismo: A demolição de um refúgio'

Titus Rivas (1964), pertencente à fundação Athanasia, é bacharel em filosofia sistemática e psicologia teórica.
Seus principais terrenos de interesse teórico são: a psicologia geral, a axiologia, a psicologia de animais, a metafísica, e a parapsicologia.
Publicou numerosos artigos sobre diversos temas e um livro sobre a reencarnação, Parapsychologisch onderzoek naar reïncarnatie en leven na de dood.

Dr. Hein van Dongen (1957) é bacharel em filologia neerlandesa e filosofia na Universidade de Amsterdã.
Uma de suas funções é a de editor da revista Prana.
Publicou faz pouco o livro escrito junto com Hans Gerding Het voertuig van de ziel, sobre o pluralismo hilético do filósofo holandês J.J.Poortman.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 31, 2012 8:29 pm

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Direcção de correspondência: Titus Rivas, Darrenhof 9, 6533 RT Nijmegen, Holanda, trivas@dds.nl

Notas

1.
Nosso agradecimento a Rob de Vries, John Beloff, Ray Jackendoff e Michael Watkins por seus conselhos e correspondência.

Ademais, agradecemos sobretudo a René van Delft, Dick Bierman, Bob van Dorp, Eric de Maeyer e Esteban Rivas por seus comentários.

Finalmente, nosso reconhecimento a Peter N.J. Diederen Jr, por ter posto a nossa disposição sua volumosa biblioteca.
E não esquecemos a Pablo Campo Carreira quem corrigiu o castelhano do manuscrito.

2. Eccles, 1977, pp. 17-18.

3. Huxley, 1898, pp. 31-38; James, 1891, p. 129.
James também menciona como outras imagens: espuma, aura, ou melodia.

Um símbolo contemporâneo é a pequena luz ou o zumbido dos computadores, o qual indica que estão em funcionamento, mas sem exercer influência sobre seu funcionamento.

Por fim, também se utiliza a sombra como símbolo.

4. Beloff, 1987, p. 215; Bergson, 1944, p. 40; Hodges e Lachs, 1979, p. 515.

5. Veja-se por exemplo: Van Rooijen, 1985, pp. 379-383.

6. Referimo-nos aqui à parapsicologia como estudo empírico de anomalias, no que a possível existência destas anomalias ao menos não se nega a priori e na que a investigação se dirige ao estudo da realidade daquelas.

Não nos referimos pois ao estudo sociológico ou psicológico que parte da hipótese de que os fenómenos não são (ou não podem ser) reais.

7. Bierman, Van Dongen e Gerding, 1991.

8. Beloff, 1988, p. 217.

9. Ademais, fique claro que aparte do eliminacionismo, também descartamos as diferentes formas da teoria da identidade, o funcionalismo e o materialismo emergentista.

Estas posições desde um ponto de vista ontológico são todas elas, de facto, formas de materialismo, porque sustentam que o mental não forma um domínio aparte da realidade, senão que se pode ver como - e nesse sentido se pode reduzir pois a - um "interior", "estruturação" ou "nível" da matéria.

A "matéria" não obstante nunca é por definição subjectiva, tampouco numa manifestação especial ou numa espécie de nível misterioso desta.

A negação deste facto conduz, como Karl Popper (p. 81, etc.) demonstrou, a um pseudo-materialismo que é em realidade uma classe de idealismo, ou a uma confusão definitiva (uma forma de obscurantismo) em que o termo de "matéria" significa algo assim como "realidade" não podendo cumprir desta forma uma função distintiva no debate.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 01, 2012 9:08 pm

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10. Por exemplo segundo Leibniz, veja-se Stokes, 1993, p. 45.
11. Jackendoff, 1988, comunicação pessoal.
Compare por exemplo: Heymans, 1933, pp. 85, etc.
12. Jackendoff, 1987, pp. 311-317.

13. James, 1891, pp. 136-137;
Compare: Crane e Mellor, 1990, p. 192.
Uns dos melhores passagens sobre este ponto se pode encontrar em Bolzano, 1970, pp. 86-87:
Não obstante temos que supor influências imediatas [na natureza]

[...] Porque se não negamos absolutamente todas as influências mútuas, se não queremos contra o sentido comum, sustentar que na criação inteira não teria em nenhum lugar uma coerência necessária entre as entidades, se pelo menos não queremos isto, então devemos admitir que também existe toda classe de influência imediata.

Já que se tal coisa não existisse, como poderia existir uma influência imediata?

As influências imediatas não obstante, tanto se ocorrem entre substâncias, que sejam individuais, ou entre objectos complexos ou entre, por uma parte entidades individuais simples e por outra entidades complexas, pressupõem em todas estas coisas algo incompreensível."

[b]14.
Sua fonte para isto é o "Shorter Oxford English Dictionary".
15. Compare isto com Roger Penrose, 1989, 527.
16. J. Shaffer, 1965, 100-101.

17. William James, 1891, 138-144.
18. Karl Popper (com Eccles), 1977.
19. Karl Popper, 72, etc.
20. Compare isto também com Roger Penrose, 1989, 528.

21. René Marres, 1985, 161-162.
Também nos referimos à tradução inglesa, mais actual, do livro de Marres de 1989, In defense of mentalism: A critical review of the philosophy of mind.

22. Ray Jackendoff, 280-283.
23. John Beloff, 1987, 218-225.
24. Comunicação pessoal.

25. Beloff, 1987, 220.
Inclusive se tivessem "emergido" princípios físicos completamente novos e pelo momento desconhecidos da organização do cérebro, ainda então não deveríamos esperar que ditos princípios hipotéticos fossem ir alguma vez na contra-mão das limitações físicas do mesmo cérebro como sistema orgânico.

26. Ontem, 1986, 221.

27. Compare isto com Ian Stevenson, 1987, 228.
Teoricamente ainda se poderia imaginar que só se dão correlações espontâneas entre eventos físicos e estados mentais, o qual ainda poderia reconciliar-se com o epifenomenalismo.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 01, 2012 9:08 pm

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28. William James, 1986.
29. G. Heymans, G., 1925.
30. Henri Bergson, 1944.
31. H.H. Price, 1940, 363-385.

32. D. Radin, & R. Nelson , 1989, 1499-1541 e também 'Onverklaarbare relaties tussen het bewustzijn em toevalsprocessen'.
Tijdschrift voor Parapsychologie (1989).
Veja-se também novamente Bierman, Gerding e Van Dongen.

33. Bierman, Van Dongen e Gerding, 1992; este livro contém contribuições entre outros de Brian Josephson e Olivier Costa de Beauregard.

34. Karl Popper, 81.
35. Rob de Vries, 1991, 10, 2, 75-76.
36. Veja-se para uma refutação mais extensa desta versão:
M. Hodges e J. Lachs, 1979, 32, 515-529.

37. S. Shoemaker, 1975, 27, 29, etc.
38. A.C. Elitzur, 1989, 10, 9-10.
39. A.C. Elitzur, 9; Compare Roger Penrose , 1987, 16; Penrose, 1989, 528.

40. Daniel C. Dennett em seu mencionado Consciousness Explained de 1991.
41. F. Jackson, 1982.
42. Michael Watkins, 1989.

43. Veja-se o parágrafo 'Filosofische kritiek op het fysicalisme' no artigo de Titus Rivas
(1990, pp. 10-11) ou seu artigo mais recente (1999).

44. D.C. Dennett, 402-405.
45. A introspecção mesma sim é pelo demais necessariamente um acto de um sujeito consciente.

46. Ainda existe outra maneira para demonstrar a estrutura lógica da inconsistência interna do epifenomenalismo.

Suponhamo-nos que temos uma proposição A que diz: Conhecemos a existência de experiências subjectivas (isto é consciência).

Outra proposição B diz: Não podemos conhecer a existência de experiências subjectivas.
A proposição B implica pois uma proposição C, que diz: Não conhecemos a existência de experiências subjectivas.

Se substituímos pois "conhecemos a existência de experiências subjectivas" por um símbolo D, o epifenomenalismo se nos mostra da forma seguinte:
sustenta ao mesmo tempo D e não-D, o qual constitui claramente uma contradição.

47. Aparte de Michael Watkins, Daniel Dennett e nós mesmos, parece haver ao menos um proponente independente a mais deste argumento.

Stokes, 1991, 388-391 menciona que John Foster numa discussão do epifenomenalismo afirma que se esta posição é válida, as expressões linguísticas que os epifenomenalistas utilizam perderiam todo seu sentido, pois essas expressões não poderiam realmente referir-se a eventos mentais, porque isso significaria que ditos eventos mentais teriam exercido uma influência causal sobre os escritos dos epifenomenalistas, enquanto tal eficácia causal é precisamente o que os epifenomenalistas desejam negar.

De tal maneira, resulta que o epifenomenalismo se refuta a si mesmo, se se o interpreta como uma teoria sobre eventos mentais.

Em realidade, o filósofo holandês René Marres menciona de passagem o argumento da justificativa do conceito 'consciência'.

O único é que ele fala sem razão de um paradoxo e não de uma contradição, quando afirma na página 183 de seu livro mencionado:
"O epifenomenalista pois não pode sustentar que supõe a existência de processos mentais, baseando-se nessa mesma existência".

Desafortunadamente, Marres subestimou pois o valor do argumento.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 01, 2012 9:09 pm

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48. Compare isto com Dennett, 1991, 402:
"Como seria possível que tivesse razão empírica alguma para sustentar que a [consciência] está presente?"

49. A enorme influência que o fisicalismo tem nas chamadas ciências naturais "hards", mostra-se por exemplo na seguinte expressão do famosíssimo cosmólogo Stephen Hawking:
'Já conhecemos as leis naturais que dominam a totalidade do que experimentamos em nossa vida quotidiana."

50. Compare isto com Churchland, 1990, 12:
"É um compromisso entre o desejo de fazer justiça a uma aproximação estritamente científica da explicação do comportamento, e o desejo de fazer justiça ao depoimento da introspecção."

51. Dennett em seu 'Brainstorms' de 1979 fala já de "míticos" quando menciona os qualia.

52. Em realidade, a consciência pessoal, nossa vida subjectiva, interior, é a única de que alguém nunca pode duvidar em seu são juízo.

Compare-se: de um ponto de vista lógico, é possível duvidar que tenha um mundo material (idealismo) ou bem que tenha outros (solipsismo), mas é irracional duvidar que meu próprio mundo (irredutível) de experiência subjectiva e qualitativa existe.

53. Por exemplo: Karl Popper, 72.
54. Não nos detemos aqui a considerar exactamente que (sub)teorias interacionistas são superiores.
55. A presença da consciência entre animais é provável a base do chamado postulado de analogia.
Veja-se: Esteban e Titus Rivas, 1991.

Este artigo foi publicado no Journal of Non-Locality and Remote Mental Interactions, 2003 e na Revista de Filosofia, vol. 57 (2001).
[Revista de Filosofia da Universidade de Santiago, Chile, vol. LVII, 111-129]

Artigo disponível em http://www.emergentmind.org/rivas-vandongen.htm

§.§.§- O-canto-da-ave
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Psi x Sobrevivência - Página 2 Empty Espiritismo e Parapsicologia: Fronteiras e Limites

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Set 02, 2012 9:52 pm

Jáder dos Reis Sampaio

O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente;
a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenómenos só pelas leis da matéria;
ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação.

Allan Kardec.[1]

1. Introdução

O que é a Parapsicologia?
Quais são as suas relações com o Espiritismo?
O que afirma a Parapsicologia hoje sobre os fenómenos espíritas?


Estas são algumas das questões tratadas neste despretensioso trabalho, escrito originalmente para uma apresentação na II Confraternização de Jovens Espíritas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em fevereiro de 2002.

O leitor irá encontrar quatro partes neste trabalho.

Em uma primeira, discute-se o conceito de ciência e apresentamos algumas das visões que se encontram em discussão no meio científico contemporâneo.

Posteriormente, construímos uma trajectória histórica onde se apresentam alguns dos eventos que mostram a ligação entre o surgimento do Espiritismo, do Espiritualismo Moderno, da Metapsíquica, da Pesquisa Psíquica e, finalmente da Parapsicologia.

A terceira parte focaliza-se na Parapsicologia, seu conceito, linhas de pesquisa, conceitos e instituições universitárias que se acham dedicadas ao seu desenvolvimento nos dias de hoje.

A última parte é uma discussão rápida sobre as especificidades do Espiritismo e da Parapsicologia hoje, bem como de suas fronteiras comuns, assim como do interesse que o conhecimento produzido pela Parapsicologia poderia despertar nos espíritas brasileiros contemporâneos.

Apesar de ser voltado para o público espírita, procuramos adoptar uma posição terceira, especialmente no estudo histórico, procurando entender e mostrar as diferentes visões que os espíritas possuímos dos cépticos e vice-versa.

Da forma que entendemos ciência, sabemos que é humanamente impossível adoptar uma posição totalmente neutra, mas esperamos que o leitor aprecie o nosso esforço para entender a construção do pensamento e as razões das duas partes.

2. Sobre a noção de Ciência

Antes de iniciarmos uma discussão sobre as relações entre o Espiritismo e a Parapsicologia, é necessário que tenhamos alguma clareza sobre os principais significados empregados para a palavra Ciência nos dias de hoje.

Possivelmente o sentido mais difundido nos meios académicos, seja o da ciência como uma forma de conhecimento desenvolvido a partir dos métodos empregados pelas ciências naturais (especialmente a Física) e debatidos pelas diferentes escolas do Empirismo.

Trata-se de um tipo de conhecimento oriundo da observação de fenómenos, cujas relações estáveis são estabelecidas, constatadas e, se possível, estudadas experimentalmente e replicadas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Set 02, 2012 9:53 pm

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Objectiva-se o estabelecimento de leis ou regularidades destes fenómenos e deseja-se obter relações matemáticas que quantifiquem as relações estudadas, sempre que possível.

As teorias têm por objectivo a explicação dos fenómenos observados, sendo passíveis de crítica a partir de novos estudos cujos resultados venham a questionar os esquemas explicativos.

Os depositários desta visão de ciência costumam criticar os que adoptam outros modelos, chamando-os de metafísicos, geralmente porque sustentam suas teorias em premissas (dogmáticos) ou porque as desenvolvem a partir do raciocínio deductivo não-matemático.

Há críticos desta posição, como o conhecido físico Karl Popper, que entende que todas as teorias repousam, originalmente, em hipóteses que são especulativas, inexistindo a indução como origem dos princípios do conhecimento.

Estas teorias são científicas por serem “falsificáveis”, ou seja, porque ao serem formuladas apontam em que termos observacionais elas podem ser abandonadas.

Nesta perspectiva não há teoria universalmente verdadeira, mas apenas teorias que tem resistido às tentativas de serem falsificadas, e por esta razão, tem sido aceitas pela comunidade científica.

Uma outra perspectiva foi desenvolvida por Thomas Kuhn, que analisou a noção de ciência enriquecendo-a através de uma perspectiva da sociologia do conhecimento.

Ele entende que um grupo de conhecimentos articulado e que vem sendo aceito por um conjunto significativo de cientistas de uma área do conhecimento se chama paradigma, e que este conjunto, teórico-metodológico, é constantemente questionado por conjuntos concorrentes.

Os diálogos entre cientistas defensores de paradigmas concorrentes nem sempre é fácil, podendo estabelecer-se o que Assis (1993) denominou como um “diálogo de surdos”.

Esta idia, que Kuhn teria desenvolvido a partir do debate entre os químicos do século XVIII é muito ilustrativa da discussão que se tem estabelecido dentro dos autores que se propuseram a estudar os fenômenos parapsicológicos.

Estes ilustres pensadores de filosofia da ciência representam todo um movimento no meio científico que vem debatendo a ideia empirista que entende que a ciência é construída a partir da observação de factos, mesmo em disciplinas onde isto é tradicionalmente aceito, como é o caso das ciências naturais.

Esta questão se amplia junto às ciências humanas e sociais, que tem por objecto de estudo o ser humano.

Para que se explique totalmente o ser humano dentro da premissa empírico-formal de ciência, seria necessário que ele fosse um ser totalmente determinado, sem livre-arbítrio, possuidor apenas da ilusão de fazer escolhas em sua vida.

Se for verdade que podemos explicar certos comportamentos e sentimentos humanos em função das influências que as pessoas sofrem do seu organismo biológico ou do seu meio sócio-cultural, também é igualmente aceitável que pessoas oriundas de um mesmo grupo social ou de uma mesma família agem de forma singular.

É também observável a capacidade das pessoas darem sentidos diferentes para o mesmo fenómeno que observam, ou seja, dizer-se que as pessoas são capazes de criar e recriar significados com que decodificam o mundo ao seu redor.

Por estas razões, fica mais difícil obterem-se regularidades válidas para a pesquisa que possui o homem como objecto de estudos.

Em decorrência desta peculiaridade do homem, uma corrente de cientistas passou a valorizar métodos de pesquisa calcados na compreensão dos seus interlocutores e no estudo da singularidade, seja de pessoas, organizações ou grupos sociais.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Set 02, 2012 9:53 pm

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Esta visão de ciência se filia à tradição da hermenêutica e da fenomenologia, que originalmente são escolas filosóficas.

Apesar deste esforço em se distinguir a aplicabilidade dos métodos científicos a partir das características dos objectos de estudo, existem cientistas que só aceitam a sua visão de ciência, seja empírico-formal, seja hermenêutico-fenomenológica, rejeitando as demais.

Por esta razão, há grupos de pesquisa sobre um mesmo objecto com orientações totalmente diferentes, e ao redor destas tradições se formam organizações científicas diversas.

Quando se avalia o estado de uma ciência nos nossos dias, não basta que se observe, portanto, se a teoria foi construída exclusivamente a partir de conhecimento não-dogmático.

É necessário verificar sua aceitação pela comunidade científica (em sua heterogeneidade), sua inserção no meio académico, sua veiculação em revistas de cunho científico, seu trânsito em grupos de diferentes localidades, sua trajectória histórica, além da sua consistência interna e da sua fundamentação.

É a partir destas referências que pretendemos fazer uma pequena incursão na questão das relações entre a Parapsicologia e o Espiritismo.

3. A Trajectória do Conhecimento

Há inúmeros precursores do Espiritismo e da Parapsicologia. Em uma tentativa de tecer uma linha histórica, esboçamos a figura 1:

https://2img.net/h/i57.photobucket.com/albums/g201/vitormoura/Espiritos/linha.jpg
Figura 01

Como não temos a pretensão de fazer um estudo exaustivo, mas apenas um ensaio geral, seleccionamos alguns dos principais movimentos que se acham articulados à história da Parapsicologia e do Espiritismo.

O Mesmerismo e seus desdobramentos imediatos

O mesmerismo[2] é um movimento que se desenvolveu a partir dos experimentos de Franz Anton Mesmer, no último quarto do século XVIII.

Mesmer estudava o magnetismo dos ímãs como possível agente terapêutico para diversas enfermidades, e após alguns experimentos, chegou à conclusão que a melhora observada por alguns de seus pacientes não se devia aos magnetos, mas a uma força irradiada de seu próprio organismo que ele denominou como “magnetismo animal”.

A partir deste momento, Mesmer montou uma clínica que tinha como base o tratamento magnético e ganhou notoriedade em muitos países da Europa e no Novo Mundo.

Puysegùr, discípulo de Mesmer, observou que durante a magnetização um de seus pacientes entrava em um estado sonambúlico e era capaz de ter percepções sem o uso dos sentidos.

Este evento deu notoriedade à faculdade que ficou conhecida na França como clarividência sonambúlica, e que não se constituiu em uma organização ou em um corpo de doutrina, mas apenas destacou indivíduos que possuíam esta faculdade.

Wallace relata em seu livro “The Scientific Aspect of Supernatural” alguns casos de clarividentes que passaram a viver de demonstrações públicas, outros que recebiam os amigos em sessões domiciliares e alguns raros que auxiliavam autoridades policiais na localização de fugitivos e no desvendamento de crimes.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 03, 2012 9:00 pm

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Houve muita resistência por parte da academia na aceitação das teses de Mesmer, entretanto, os mesmos cientistas que recusavam-se a aceitar a teoria do magnetismo animal, observaram os diferentes efeitos que o tratamento de Mesmer tinha sobre as pessoas que o procuravam.

Em meados de 1840, James Braid, médico inglês, cunhou uma teoria fisiológica para explicar os fenómenos mesméricos, e denominou-os hipnotismo, empregando suas técnicas em processos cirúrgicos.

Sob o novo nome e despido da teoria fluídica, o mesmerismo foi empregado por diversas disciplinas da área de saúde, entre elas a medicina, a odontologia e a Psicologia, tornando-se mais aceito pelo meio académico.

O Espiritualismo Moderno

O Espiritualismo Moderno é o “nome de baptismo” do movimento que se originou com a mediunidade de Andrew Jackson Davis e os desdobramentos dos fenómenos de Hydesville.

Este movimento congregou diversos interessados em terras norte-americanas, que resolveram difundir o fenómeno e os estudos que dele se fizeram enviando médiuns para a Europa em 1852.

A esta época, além dos livros de Davis, outras personalidades se destacaram como o Juiz Edmonds[3] e o professor universitário Robert Hare[4].

Edmonds foi um dos fundadores da primeira espiritualista regular nos Estados Unidos em 1851[5], e posteriormente da chamada “Sociedade para a Difusão do Conhecimento Espiritualista”, em 10 de junho de 1854.

Em 1848, Robert Owen já se havia convertido ao Espiritualismo na Inglaterra, após ter assistido a quatorze sessões com a médium chamada Mrs. Hayden, e médiuns como Daniel D. Home já mostravam suas faculdades a grupos de interessados.

Formaram-se diversas instituições de espiritualistas na Inglaterra, e posteriormente periódicos de divulgação que se tornaram famosos como a revista Light, fundada pelo médium William Stainton Moses (1872) e a revista Two Worlds, fundada por Emma Hardinge Britten.

Este movimento assumiu um cunho religioso possui diversas sociedades nos países de língua inglesa nos dias de hoje.

A enciclopédia Encarta (1995) relata a existência de mais de 180.000 adeptos nos Estados Unidos da América distribuídos por mais de 400 sociedades no início dos anos 80.

O Espiritualismo Moderno foi apresentado ao Prof. Rivail, antes da publicação de sua obra espírita.

Uma das evidências a favor desta ideia é a própria discussão que Kardec faz na introdução de “O Livro dos Espíritos”, propondo o termo Espiritismo para substituir a Espiritualismo.

O movimento espiritualista atraiu o interesse de diversos cientistas ingleses e norte-americanos, uma vez que se pedia deles uma explicação para os fenómenos produzidos pelos médiuns que pareciam desafiar as leis da natureza.

Neste momento temos cientistas que se identificavam com o movimento espiritualista e que realizaram pesquisas (como é o caso de Alfred Russel Wallace) e, cientistas que a princípio acreditavam tratar-se de algum tipo de fraude (como é o caso de William Crookes).

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 03, 2012 9:01 pm

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A Pesquisa Psíquica

A defesa da existência de fenómenos feita por Crookes em seu conhecido relatório “Investigações Experimentais de uma Nova Força”, publicado em 1871 após mais de dois anos de pesquisa em laboratório polarizou as opiniões dos principais cientistas ingleses.

Um grupo de cientistas de renome[6], em uma conferência organizada por William Barret, decidiu fundar a Society for Psychical Research (Sociedade para a Pesquisa Psíquica) em 1882, e que continua activa até os dias de hoje.

Passados três anos e já se havia formado uma American Society for Psychical Research em Boston, nos Estados Unidos, com membros igualmente distintos e linhas de pesquisa activas.

A Pesquisa Psíquica iniciou seus trabalhos com a missão de “investigar o grande grupo de fenómenos discutíveis designados por termos tais como mesméricos, psíquicos e espíritas”, fazendo-o “sem preconceito ou imposição de qualquer tipo, e no mesmo espírito da pesquisa exacta e desapaixonada que permitiu à ciência resolver tantos problemas, outrora não menos obscuros nem menos acaloradamente debatidos”.
(GAULD, 1995. p. 14)

Basicamente se preocupavam com a pesquisa de fenómenos ligados ao Mesmerismo e Espiritismo, curas paranormais, clarividência, transmissão de pensamento e precognição, mediunidade mental e física, aparições e assombrações.

Alguns dos trabalhos dos membros destas Sociedades ficaram muito conhecidos.

O Dr. Hodgson (ASPR), após fazer um estudo onde denunciou as fraudes da Madame Blavatsky, pesquisou a Sra. Piper e apresentou inúmeras evidências de suas faculdades. Carrington (SPR) estudou “poltergeists”.

Gurney, Myers e Podmore publicaram “Os fantasmas dos vivos” Stevenson (ASPR) (1966) fez um estudo amplo sobre reencarnação verificando memórias espontâneas em crianças.

Foram publicados mais de 50 trabalhos sobre os fenómenos de correspondência cruzada, obtidos através das faculdades de Leonore Piper, da Sra. Verrall, Helen Salter da Sra. Willet e da Sra. Holland.

Nestes fenómenos, os já falecidos Myers, Sidgwick e Gurney transmitiam mensagens obscuras e disfarçadas onde aparecem frases semelhantes ou interconectadas se complementavam umas com as outras (correspondência cruzada simples), ou onde os tópicos desenvolvidos “não são mencionados directamente, mas mencionados de maneira indirecta e alusiva” (correspondência cruzada complexa) ou ainda onde dois médiuns independentes escrevem “mensagem aparentemente sem sentido” que viessem a ser entendidos a partir de uma “chave” obtida por um terceiro médium (correspondência cruzada ideal)[7].

Encontra-se actualmente publicado pela editora Pensamento, em língua portuguesa, três livros[8] de pesquisadores contemporâneos desta instituição.

A SPR tem sido bastante produtiva, desde então. Publica revistas, livros e atas dos trabalhos de pesquisa, oferece cursos, promove congressos e articula a produção de conhecimento nesta área com outros grupos de reputação e com os núcleos de pesquisa baseados em universidades.

A ASPR, que funciona actualmente em Nova York, realiza quase todas as actividades de sua irmã inglesa.

Dentro da SPR parece ter havido um embate entre a ala dos “espiritualistas” e a dos “cépticos”, o qual é referido nas entrelinhas de alguns dos livros que estudei.

Actualmente alguns escritores acusam os membros da sociedade de serem cépticos, entretanto, há uma nítida diferença de grau entre o cepticismo deles e o de autores como Robert Amadou (1966), que foi muito debatido pelos intelectuais espíritas brasileiros que se interessaram pelo estudo da metapsíquica e da parapsicologia no meio do século XX.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 03, 2012 9:01 pm

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O termo “Pesquisa Psíquica”, embora sobrevivente, tem sido aos poucos substituído pelo termo Parapsicologia, e os pesquisadores destas sociedades parecem trabalhar em rede com os pesquisadores do movimento que adotou esta última designação, não se importando com a defesa de um ou de outro termo.

Espiritismo e Metapsíquica

Como já se foi dito, Espiritismo é um termo criado por Allan Kardec na publicação de “O Livro dos Espíritos” em 1857 que gerou um movimento de trajetória própria.

O trabalho e a obra kardequianas são bem conhecidos pelo público leitor deste artigo, e dispensam um comentário maior.

Além dos livros publicados e da Revista Espírita, que Kardec publicou mensalmente, sem interrupções até o seu falecimento (1869), desenvolveu um trabalho de comunicação entre os grupos espíritas franceses que consolidou o movimento espírita deste país.

Não encontramos estatísticas seguras sobre o número de franceses espíritas à época de Kardec, mas o próprio codificador fez uma estimativa do perfil do movimento a partir de uma base de dez mil dados, como se pode ler no exemplar de janeiro de 1869 da Revue.

Os que se referem ao movimento espírita nas décadas da codificação chegam a advogar a existência de milhões de espíritas em todo o mundo.

O trabalho científico do codificador, no seu sentido indutivo, restringe-se à constactação de que havia inteligências incorpóreas por detrás dos fenómenos que ele observou, como as mesas girantes e as psicografias, além de uma descrição minuciosa do fenómeno mediúnico, como se pode ver com clareza em “O Livro dos Médiuns”.

Grande parte do trabalho de Kardec com os espíritos, diz respeito à interlocução que ele estabeleceu com eles, avaliando o conteúdo das comunicações com o emprego da lógica e verificando a consistência entre comunicações diferentes oriundas de médiuns e espíritos diferentes.

Neste ponto, o trabalho kardequiano é ao mesmo tempo o de um filósofo, que leva questões diversas para serem discutidas e que analisa criticamente diversas informações que lhe são dadas.

Nestas discussões Kardec desenvolve considerações metafísicas e éticas, tratando de forma racional questões como Deus, o mundo espiritual, a origem e o destino do homem.

Uma das conclusões a que chega o codificador em diálogo com os espíritos é sobre a importância do pensamento cristão para a reflexão ética sobre o homem.

O desenvolvimento destes temas, mesmo considerando o emprego dos instrumentos da filosofia, transcende o campo da chamada filosofia moral, e constituem uma metafísica teológica, ou uma religião.

Por esta razão, faz sentido referir-se ao Espiritismo codificado por Kardec como sendo ao uma ciência, uma filosofia e uma religião, ou melhor dizendo, uma doutrina com conhecimentos fundamentados na observação de fenómenos objectivos, com outros conhecimentos desenvolvidos a partir da razão, e com conhecimentos originalmente baseados em informações dadas pelos espíritos e sustentadas posteriormente com o auxílio dos recursos da Filosofia, além de uma proposta ética calcada no pensamento cristão e na leitura analítica dos Evangelhos.

Os principais continuadores do trabalho de Kardec ressentiram-se da necessidade de se realizarem pesquisas com o objectivo de verificarem algumas das ideias propostas por Kardec e que se sustentavam no diálogo com o invisível.

Flammarion e Delanne dedicaram parte de seu trabalho a este tipo de pesquisa.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 04, 2012 8:27 pm

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O primeiro desenvolveu um projeto onde o conhecimento proposto seria exclusivamente baseado em fatos observados, e seguindo esta linha publicou diversos trabalhos, seja sob a forma de livros, seja em artigos que mantinha em periódicos voltados ao grande público, seja a partir de debates que empreendeu com os contraditores do pensamento espírita.

Obras como “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”, “As Casas Mal Assombradas” e “A Morte e o seu Mistério” perseguem a tentativa de estudo dos fenómenos espirituais a partir dos cânones do pensamento científico.

Delanne publicou “O Espiritismo Perante a Ciência”, “Pesquisas sobre a Mediunidade”[9] e “As Aparições Materializadas dos Vivos e dos Mortos”[10] perseguindo a proposta científica, e apresentou uma extensa casuística na defesa da tese reencarnatória em “A Reencarnação”.

Estes dois autores e Léon Denis, ampliaram a comunicação com o meio académico e seus trabalhos levaram pesquisadores como o Prémio Nobel Charles Richet a realizarem pesquisas neste campo.

Assim como na Inglaterra, os interessados neste campo divergiam quanto às conclusões que tiravam sobre os fenómenos estudados, e o método experimental foi impotente para evitar uma certa polarização dos pesquisadores entre cépticos e espiritualistas, com graus variados.

O movimento espírita continuou a sua trajectória, e como bem sabemos, seus adeptos nos dias de hoje se contam às dezenas de milhões, tendo se desenvolvido bastante no Brasil, existindo núcleos espíritas em Portugal, Espanha, França, Estados Unidos, Japão e diversos países da América Latina.

Ainda na França, próximo à mudança de século, surgiu a Metapsíquica.
Ela é uma tentativa de se realizar uma pesquisa em bases exclusivamente científicas[11] sobre os fenómenos espirituais.
Embora seu primeiro grande expoente seja Charles Richet, prémio Nobel de Medicina, ela contou com os espíritas em sua criação e desenvolvimento.

Richet propôs que se adoptasse o nome Metapsíquica para a “ciência que tem por objecto os fenómenos, mecânicos ou psicológicos, devidos a forças que parecem ser inteligentes ou a potências desconhecidas, latentes na inteligência humana.”[12].

Sua primeira tentativa de congregar e divulgar os trabalhos que diferentes pesquisadores vinham realizando se deu com o lançamento da revista “Annales des Sciences Psichiques”.

Richet realizou alguns esforços, como o de apresentar a Metapsíquica de forma compreensiva, o que fez com seus livros “Tratado de Metapsíquica” (1922) e “O Sexto Sentido” (1928).

Ele desenvolveu uma nomenclatura própria, e alguns de seus conceitos continuam sendo empregados nos dias de hoje.

Um segundo momento importante na trajectória da Metapsíquica ocorreu em 1919, quando um industrial espírita, Jean Meyer, após ter fundado a Maison des Spirites” na França, com o intuito de divulgar o pensamento espírita e a obra de Kardec, forneceu os recursos para a criação de um laboratório de ciências psíquicas.

Sua primeira equipe contava com Rocco Santoliquido e Gustave Geley.

Ele convidou a Eugène Osty para ser um dos directores da instituição, que aceitou, sob a salvaguarda da possibilidade de os fenómenos espíritas não serem confirmados pelas pesquisas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 04, 2012 8:28 pm

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Meyer disse que estava disposto a correr o risco e que a ele lhe bastava que Osty fosse sincero em seu trabalho.

O instituto contou com a participação de pesquisadores conhecidos, como Camille Flammarion, Charles Richet e o filósofo Gabriel Marcel.

O instituto tem publicado a Revista Metapsíquica desde outubro de 1920.

Entre os trabalhos do Instituto, destacam-se os experimentos de materialização realizados por Geley com o médium Franek Kluski, os trabalhos de Osty com o médium Rudi Schneider e suas publicações sobre a metagnomia[13], as pesquisas de René Warcollier sobre telepatia

Após a morte de Warcollier em 1962, o Instituto ganhou nova orientação.

Ele deixou de ser um instituto de pesquisas para tornar-se um órgão de “coordenação para os experimentos e trabalhos efectuados seja em sua sede, seja em outros lugares”.

Foram criadas treze comissões de pesquisa.
Suas publicações na década de 70 já mostram uma influência clara dos trabalhos e terminologia da Parapsicologia, apesar de frentes de pesquisa autónomas, como as pesquisas experimentais sobre a visão dermo-óptica.

Apesar de estar funcionando até os dias de hoje, o Instituto enfrentou dificuldades financeiras e chegou a interromper a publicação da revista nos anos 80.

A manutenção do termo metapsíquica é apenas uma homenagem aos fundadores do Instituto.

O termo Parapsicologia se impôs ao campo de pesquisas, assim como a sua terminologia, como veremos a seguir.

O Surgimento da Parapsicologia

Neste ponto desta rápida visão histórica, já constatamos como a pesquisa originada no seio do movimento espírita na Europa Latina influenciou o nascimento e a constituição da Metapsíquica, ao mesmo tempo em que os trabalhos de pesquisadores espiritualistas participam do nascimento das Ciências Psíquicas nos países anglo-saxões.

Não se deve, entretanto, diminuir o papel dos cépticos e dos materialistas no nascimento deste campo de pesquisas, aparentemente dividido por estas duas novas designações[14].

Na verdade, os métodos científicos foram utilizados como uma espécie de “regras do jogo” para um embate que acontecia entre cépticos e espiritualistas de uma forma geral.

Diante dos fenómenos mediúnicos, os espiritualistas se apoiam para defender a sobrevivência da alma, enquanto os cépticos denunciam fraudes e multiplicam hipóteses de trabalho mentalistas e biologicistas para dar explicações alternativas aos fenómenos apresentados pelos espiritualistas.

Nenhuma das duas facções parece disposta a ceder em seus “pressupostos não-enunciados”.[15]

Por detrás da pesquisa encontram-se também interesses institucionais.
Curiosamente encontramos muitos pesquisadores cépticos oriundos da Igreja Católica, como Robert Amadou.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 04, 2012 8:29 pm

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Ao reafirmar na neutralidade da ciência e os cânones do positivismo, Amadou fez um trabalho de crítica negativa, voltando seu foco para as fraudes, os equívocos de pesquisadores, os descuidos realizados na verificação da realidade dos fenómenos e na produção de truques que simulariam os fenómenos observados para justificar o abandono de importantes pesquisadores e de suas contribuições, quase que se circunscrevendo à telepatia e à hiperestesia[16] como capazes de explicar aos fenómenos que ele não descartou.

Por detrás de uma aura de rigor, este e outros pesquisadores na verdade não se aperceberam das injustiças que cometeram ao abandonar trabalhos como os de Crookes e Wallace, sem ao menos lhes conceder o “benefício da dúvida”, apenas baseando-se em questões duvidosas dirigidas ao seu trabalho para afirmar a inexistência dos fenómenos.[17]

Do outro lado, alguns pesquisadores simpatizantes do Espiritualismo têm abusado na confiança em seus pressupostos, identificando, por exemplo, a existência influência espiritual nas fotografias eléctricas de Semion Kirlian e colaboradores, e muitas vezes se negando a ouvir as críticas dirigidas por pesquisadores menos envolvidos neste debate “subterrâneo”.

Neste clima de dúvida gerado pela pesquisa qualitativa de pessoas supostamente bem dotadas das faculdades em questão surgiu a Parapsicologia.

O termo Parapsicologia foi adotado a partir da palavra alemã “parapsychologie”, mas o entendimento dele foi muito influenciado pelos trabalhos do Dr. Joseph Banks Rhine e colaboradores, da Universidade de Duke.

Rhine era um jovem cientista dirigido pelo psicólogo norte-americano William McDougall, quando iniciou suas pesquisas, procurando desenvolver trabalhos que satisfizessem a um público propriamente céptico.

Rhine partiu do impasse que existia entre a existência ou não dos diferentes fenómenos psíquicos pesquisados até então, e decidiu fazer duas escolhas teórico-metodológicas.

A primeira foi realizar pesquisas com as pessoas comuns, procurando identificar se existiam pelo menos alguns traços ou rudimentos dos fenômenos alegados.

A segunda foi restringir a pesquisa a apenas alguns dos fenómenos que se afirmava existirem, abrindo mão da pesquisa em campos claramente polémicos, como foi o caso da sobrevivência da alma.

A terceira foi a tentativa de adoptar uma terminologia “neutra” sem implicações com as teorias que se encontravam em impasse.

Estas escolhas “restringiram” o campo de acção da recém-recriada Parapsicologia, mas tiveram por mérito atrair a atenção de um número maior de cientistas e pensadores para o fenómeno recém denominado como Y (PSI).

Como boa parte dos leitores já deve saber, Rhine trabalhou com cartas Zenner para empregar o método experimental na identificação de faculdades como a clarividência e a telepatia.

O baralho Zenner é composto de vinte cinco cartas, agrupadas em cinco diferentes símbolos simples (círculo, quadrado, estrela, ondas e o sinal de “mais” na adição)

O arranjo básico (que seria posteriormente modificado de diversas formas, em resposta às dúvidas e críticas que surgiam) consistia em um pesquisador embaralhar as cartas e ir virando, com um anteparo existente entre ele e o sujeito que impedia este último de vê-las.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 05, 2012 10:02 pm

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O pesquisador aguardava que o sujeito lhe dissesse que carta havia virado e anotava em um gabarito, verificando depois qual o percentual de respostas certas e aplicava-lhe um teste estatístico para verificar qual a probabilidade deste número de acertos ter-se dado ao acaso.

Estas séries se repetiam diversas vezes para os sujeitos, identificando-se sujeitos cujas possibilidades de acerto ao acaso fossem sistematicamente baixas.

Este tipo de fenómeno foi denominado como Percepção Extra-Sensorial (PES ou ESP[18]).

A telepatia se distingue da clarividência porque a primeira teria por base o acesso a uma informação disponível na mente do pesquisador ou de outra pessoa, enquanto que a clarividência envolveria o acesso a algum objecto não percebido pelo pesquisador ou outra mente sem o emprego dos cinco sentidos ou de algum truque (no caso das cartas Zener, refere-se a cartas que irão ser abertas pelo pesquisador, mas que ele ainda não viu).

Posteriormente se observou que em alguns dos experimentos é difícil distinguir claramente uma categoria da outra (o sujeito está percebendo a “mente” do pesquisador ou a carta que acabou de ser virada?).

Neste caso passou-se a adotar o termo percepção extra-sensorial generalizada (PESG ou GESP[19]) (RUSH, 1996)

Além da PES, Rhine desenvolveu estudos sobre a precognição (possibilidade de previsão de eventos futuros) e sobre a psicocinese (a capacidade de influenciar movimentos físicos de objectos sem qualquer emprego de força conhecida).

Estes estudos igualmente empregaram metodologia experimental e probabilística, sendo que a segunda faculdade foi estudada através do lançamento sucessivo de dados.

Rhine escreveu três livros que sintetizam os seus trabalhos:
Extra Sensorial Perception (1934), The Reach of the Mind (1947) e Parapsychology, Frontier Science of the Mind (1957).

Em 1965 Rhine aposentou-se, afastando-se do Laboratório da Universidade de Duke e criou a Fundação para a Pesquisa da Natureza Humana, hoje denominada Rhine Research Center.

Conceito e Linhas de Pesquisa

Um dos temas ainda polémicos diz respeito à delimitação das linhas de pesquisa em Parapsicologia e de uma certa clareza sobre que assuntos pertencem e que assuntos não pertencem ao campo.

Rush (1986) considera a Parapsicologia como uma espécie de incursão às fronteiras inexploradas da Psicologia, incluindo aí a Física e a Biologia.

Ele soma fileiras com os que acreditam que a questão da sobrevivência teria perdido a importância devido às “dificuldades lógicas, metodológicas e à mudança de atitudes culturais”.

Entretanto, ele parece não falar por alguns de seus colegas, que continuam propondo esta como uma das linhas de pesquisa existentes e produzindo livros e artigos[20].

Ele entende que processos divinatórios, com regras descritas, não fariam parte do campo da Parapsicologia e que as fotografias Kirlean não justificaram sua inclusão neste, apesar da sua utilidade em diagnóstico médico.

Este é um dos problemas que se origina na própria definição de Parapsicologia.
Esta disciplina foi definida empregando-se uma referência (a Psicologia) e uma “aproximação negativa” (o prefixo para).

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 05, 2012 10:02 pm

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O termo, em sua acepção etimológica, significa “aquilo que está ao lado da Psicologia”, referindo-se a fenómenos que não são estudados, ou não são reconhecidos como psicológicos, mas que se melhor entendidos podem vir a fazer parte desta.

De uma certa forma, a Parapsicologia tem sido definida como “aquilo que não é” ou “aquilo que ainda não é”, quando deveria ter sido definida como o estudo de alguma coisa.

Wiesner e Thouless propuseram o emprego do termo Y (PSI) para designar o objecto de estudo da Parapsicologia, entretanto, mesmo sendo um termo neutro, sem vínculo apriorístico com uma teoria explicativa, continua sendo do arbítrio dos parapsicólogos definir o que é considerado PSI e o que não é.

De uma forma geral aceita-se a divisão de Y em ESP (ou PSI receptivo, como se vê nos escritos do IMI) e PK (ou PSI projectivo).

Os fenómenos de telepatia, clarividência e psicocinese têm sido aceitos pela quase totalidade dos pesquisadores desta área como objectos legítimos de estudo da Parapsicologia, embora alguns cépticos ainda considerem que as evidências a favor da sua existência sejam questionáveis.

A inclusão de outros temas, como a transcomunicação instrumental, a sobrevivência após a morte e outros assuntos é aceita por alguns e considerada inaceitável por outros.

Isto tem ampliado o papel dos Parapsicólogos, enquanto grupo de pesquisadores, na escolha de determinados temas e fenómenos ao seu campo de estudo, deslocando o debate de uma arena teórico-metodológica para uma arena cujas regras são ditadas pela sociologia do conhecimento.

A agenda da Parapsicologia permanece, portanto, muito influenciada pelo arbítrio dos agentes que são reconhecidos como parapsicólogos por seus pares.

A polémica sobre o objecto de estudo se multiplica no campo teórico, havendo uma multiplicidade de teorias concorrentes disputando o reconhecimento da comunidade de pesquisadores na explicação dos fenómenos descritos.

O que fizemos, portanto, foi buscar informações em alguns sites de instituições prestigiadas no meio parapsicológico, e em obras introdutórias apontando os temas que seus autores reconhecem como pertencendo ao seu campo de estudos.

Temas\Organizações[21]

Para verem a tabela, acedam à Pág. http://br.geocities.com/existem_espiritos/espiritismo_e_parapsicologia_por_jader

A Pesquisa Parapsicológica em Universidades

Afirmamos que um dos critérios importantes para o reconhecimento de uma linha de pesquisas como um ramo da ciência repousa na sua inserção no mundo académico e em suas instituições.

É correcto pensar que apenas este quesito não assegura o reconhecimento de uma certa linha de estudos como científica, e um bom conhecedor de História da Ciência vai recordar-se e citar inúmeras situações de disciplinas, cientistas, fenómenos e teses que foram recusados em uma determinada época e passaram a ser aceites em épocas posteriores e vice-versa.

Os trabalhos de Kuhn e Bachelard ficaram extremamente conhecidos no meio dos filósofos da ciência por discutirem as “mudanças de paradigmas” e as “rupturas epistemológicas”.

Mas seria ingénuo crer que a ciência humana é um conjunto de conhecimentos demarcados apenas pela lógica ou pela metodologia, imune às crenças dos homens que a concebem.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 05, 2012 10:05 pm

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Por esta razão, cada vez mais cientistas têm apresentado suas crenças de base ou fundamentação teórica ao comunicarem suas descobertas.

Ao considerarmos a sociologia do conhecimento como um dos quesitos para se avaliar uma ciência, estamos, entre outras coisas, observando o prestígio que um determinado conjunto de conhecimentos possui diante do meio científico.

E neste meio, arriscaria a dizer que a Parapsicologia ainda é uma disciplina em busca de aprovação.
Os parapsicólogos reconhecidos no meio académico aceitam esta realidade.

No final dos anos 60 a Parapsychological Association foi aceita como membro da American Society for Advancement of Science, mas as principais linhas de pesquisa são financiadas por fundos doados por particulares interessados nesta área e não existe ainda um curso de graduação na área ou equivalente reconhecido como tal.

Existem cursos de pós graduação (equivalentes ao mestrado e doutorado) que qualificam pesquisadores em Parapsicologia, geralmente ligados a programas de pós-graduação em Psicologia.

É apresentada uma lista de algumas universidades que abrigam linhas de pesquisa sobre o tema, e nos furtamos de apresentar as sociedades extra-académicas que se voltam à pesquisa e à divulgação da Parapsicologia neste trabalho, posto que, em meio a associações sérias encontram-se muitas sociedades que a primeira vista parecem mais interessadas em vender produtos e serviços que em divulgar os resultados de suas pesquisas e trabalhos.

Esta listagem não é exaustiva, mas uma espécie de rede de contactos qualificados de pesquisadores em Parapsicologia.

Universidade de Amsterdã (Holanda) – Oferece um curso de Parapsicologia na Faculdade de Psicologia com linhas específicas de pesquisa (Fontse: IMI, SPR, KPU)

Universidade Católica de Lyon (França) – “Ciências, Sociedade e os Fenómenos Considerados Paranormais” (Fonte: IMI)

Universidade de Edimburgo (Escócia) – Mantém a “Unidade de Parapsicologia Koestler” (KPU), e oferece uma disciplina de Parapsicologia em seu Departamento de Psicologia.
Mantém um laboratório de pesquisas activo com 12 pesquisadores e publica o “European Journal of Parapsychology”.
(Fontes: IMI, SPR, KPU)

Universidade de Freiburg (Alemanha) – Possui o Institut für Grenzgebiete der Psychologie und Psychohygiene, mantido pela Fundação Fanny-Moser-Stiftung, com quarenta pesquisadores e uma biblioteca com 30.000 livros.
Mantém as disciplinas (Chaire)“Zonas Fronteiriças da Psicologia” e a de “Parapsicologia”.
(Fontes: IMI, SPR, KPU)

Universidade de Herefordshire (Inglaterra) – Possui a Unidade de Pesquisa Perrot-Warrick, no Departamento de Psicologia. (Fontes: IMI, SPR, KPU)

Universidade de Nevada (Estados Unidos) – Possui o Laboratório de Pesquisas sobre a Consciência, para o estudo de PSI e das relações espírito-matéria.
Esta universidade oferece desde 1997 um curso de Parapsicologia que ainda não está oficialmente reconhecido.
(Fonte: IMI, PA)

Universidade de Viena (Aústria) – Possui a Sociedade Austríaca de Parapsicologia que funciona no Instituto de Etnologia, Cultura e Antropologia Social.
A Sociedade foi fundada em 27 para o estudo das faculdades de um médium de efeitos físicos, e segundo o IMI tornou-se, em 1946, membro da Federação Austríaca de Sociedades Científicas.
(Fonte: IMI)

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 06, 2012 7:18 pm

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Universidade de Cambridge (Reino Unido) – O Laboratório Cavendish encontra-se realizando o Projecto de Unificação Mente-Matéria. (Fonte: SPR)

Universidade de Conventry (Reino Unido) – A Escola de Ciências Sociais e da Saúde mantém um Grupo de Estudos de Parapsicologia. (Fonte: SPR)

Universidade de Kent (Reino Unido) – A Escola de Estudos Clássicos, Filosóficos e Religiosos mantém o Projeto Retro-Psicocinese. (Fonte: SPR)

Universidade John Moores Liverpool (Reino Unido) – O Centro de Psicologia Aplicada mantém a Unidade de Pesquisa Psicológica e da Consciência, com estudos sobre paranormalidade, Ganzfeld e ESP. (Fonte: SPR)

Universidade de Londres (Inglaterra) – Mantém em seu Departamento de Psicologia pesquisas sobre relações entre crença paranormal e personalidade;
experiências paranormais e crença no paranormal e Tarot.
(Fonte: SPR)

Universidade de Middlesex (Inglaterra) – Mantém em seu Departamento de Psicologia pesquisas sobre aquisição paranormal de informação durante experiências fora do corpo. (Fonte: SPR)

Nene University College (Inglaterra) – Mantém em seu Departamento de Estudos Comportamentais uma linha de pesquisas sobre PK, Clarividência em Ganzfeld, experiências anómalas em estados hipnagógicos e hipnopômpicos e a Psicologia da crença no paranormal. (Fonte: SPR)

Universidade de West England (Inglaterra) – Mantém em seu Departamento de Psicologia estudos sobre PSI, ESP, OBE e NDE.(Fonte: SPR)

A criação de disciplinas parapsicológicas e centros de pesquisa em Universidades não se acha condicionada apenas pelo “status” de ciência desta disciplina, mas envolve questões práticas, como a aplicabilidade do conhecimento desenvolvido pela Parapsicologia.

Por mais que alguns estudiosos advoguem aplicações para algumas destas faculdades, como aplicações militares, médicas e psicológicas, é difícil pensar-se em um “mercado de trabalho” para um parapsicólogo formado, com os conhecimentos atualmente desenvolvidos, dada à raridade e incerteza dos fenómenos.

O desdobramento de certas questões em estudo pelos parapsicólogos é extremamente importante para o conhecimento que se tem sobre o homem, mas devemos admitir que as sociedades que construímos valorizam pouco o conhecimento que não é capaz de mobilizar dinheiro, mesmo em outras áreas onde o objecto de conhecimento é menos polémico.

4. Espiritismo e Parapsicologia: Fronteiras e Limites

O debate entre o movimento espírita (entendendo este termo de forma mais ampla, englobando o Espiritismo e o Espiritualismo Moderno) e os materialistas do século XIX gerou a Metapsíquica e a Pesquisa Psíquica e, por consequência, da Parapsicologia.

A agenda de pesquisas dos parapsicólogos é ampla e controvertida, envolvendo alguns temas diretamente ligados ao pensamento espírita.

Como a Parapsicologia ainda possui problemas relativos ao seu objecto de estudo e há muita divergência teórica sobre a existência de PSI e as teorias explicativas de PSI, é muito difícil se falar em posições claras neste ramo do conhecimento.

Acompanhar os trabalhos da Parapsicologia demanda um domínio de diferentes escolas teóricas.

Como se pode ver neste pequeno trabalho, enquanto alguns parapsicólogos admitem a existência de PSI e estão preocupados em verificar sua origem, relações com o organismo humano e em formular teorias explicativas, outros ainda questionam a sua existência.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 06, 2012 7:18 pm

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Postas as divergências, há que se considerar extremada a posição dos que se acham advogando a “morte da parapsicologia” ou o abandono dos temas espíritas da agenda dos parapsicólogos, como a sobrevivência do espírito.

Parecem existir poucos recursos para os que se enveredam neste ramo do conhecimento e uma insipiência institucional no Brasil, especialmente no meio académico.

Há um limite claro entre o Espiritismo e a Parapsicologia.

Enquanto esta última se encontra analisando evidências sobre a realidade de faculdades humanas que transcendem aos cinco sentidos e aos processos psicológicos básicos, o Espiritismo foi construído a partir da aceitação da existência de seres inteligentes incorpóreos, da capacidade de dialogar com eles e, especialmente do diálogo que se estabelece com os espíritos.

Trata-se realmente de uma doutrina dos espíritos, construída a partir do trabalho de médiuns e pesquisadores que vêm empregando alguns métodos próprios das ciências hermenêutico-fenomenológicas em busca da identificação do sentido do que dizem os seus interlocutores.

Esta aceitação pode ser considerada apressada por alguns parapsicólogos, mas não foi de forma alguma apriorística, como nos mostra o estudo da História do Espiritismo e muito menos individual, mesmo admitindo-se a centralidade da obra de Allan Kardec para o movimento espírita brasileiro.

Em síntese, a parapsicologia é o estudo de fenómenos, enquanto que o Espiritismo é também o estudo do mundo dos espíritos, de suas relações e de suas consequências, como o dizia Kardec.

Uma vez vistas as especificidades destes dois movimentos, temos os pontos comuns, as fronteiras.

E nestas, o diálogo entre o Espiritismo e a Parapsicologia poderia ser bastante frutuoso para ambos.

Se as observações realizadas pelos espíritas do século XIX estão correctas, os parapsicólogos honestos, por mais cépticos que sejam, irão observar e relatar.

A crítica parapsicológica serve ao espírita como uma fonte de interlocução, e se for correcta, desenvolve nele uma visão compreensiva dos fenómenos mediúnicos e anímicos.

A pesquisa parapsicológica pode aumentar o conhecimento sobre os mecanismos biológicos dos fenômenos mediúnicos e auxiliar a distingui-los melhor dos fenômenos psicológicos ou anímicos, por exemplo.

É a partir da pesquisa que o movimento espírita pode empregar os novos recursos desenvolvidos pelas ciências físicas, médicas e biológicas no entendimento das faculdades que exercita.

É a pesquisa quem nos permite uma melhor compreensão de fenómenos como os das operações espirituais, dos quais somos quase que meros expectadores e, como tais, sujeitos a todo tipo de riscos, como os que têm sido relatados pelas associações de médicos espíritas.

E deve-se aceitar que para realizar este tipo de pesquisa não basta ter mente aberta e boa vontade, mas é indispensável a formação científico-filosófica própria, seja em pesquisa, seja nas áreas limítrofes, seja no conhecimento já acumulado pela Parapsicologia nestes mais de cem anos de actividades.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 06, 2012 7:19 pm

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O movimento espírita brasileiro, institucionalmente falando, tem realizado poucos esforços organizados para acompanhar os desenvolvimentos da Parapsicologia, desde os anos 60, quando havia instituições espíritas de pesquisa em funcionamento activo no país, seminários, tradução e publicação de livros por editoras espíritas e simpatizantes do Espiritismo.

Actualmente se encontram pessoas interessadas no assunto e alguns pesquisadores isolados, que publicam o resultado de seus trabalhos.

Seria frutuoso que a imprensa espírita, as editoras de livros espíritas e as instituições se preocupassem com a divulgação da pesquisa parapsicológica, informando, ao menos, os membros do movimento espírita brasileiro dos trabalhos que se encontram em curso, as linhas de pesquisa e os pesquisadores, mesmo os que não aceitam as hipóteses espíritas em suas actividades.

Certamente teríamos um movimento mais crítico, capaz de debater mais e melhor o pensamento espírita e, com isto, menos sujeito ao fascínio do misticismo acrítico, como um dia o desejou o próprio codificador.

5. Anexo 1: Pequeno Vocabulário de Termos Parapsicológicos

Aparição: A linha de estudos sobre aparições pesquisa relatos de figuras corpóreas associadas a actividades anômalas relacionadas com algum lugar específico (cf. EDGE, 1986. p. 344)

BioPsicocinese (Bio PK): Influência de organismos biológicos pela faculdade de psicocinese.

Cirurgia Psíquica: Realização de tratamentos semelhantes aos cirúrgicos em pessoas sem o uso de procedimentos médicos convencionais.

Clarividência: Envolve fenómenos de obtenção de informação do tipo visual sem o concurso do sentido da visão.
É um dos tipos admitidos de percepção extra-sensorial.

Cognição Anómala: Um termo que vem sendo utilizado actualmente para designar a transmissão de informações sem o concurso dos órgãos dos sentidos.
É usado como sinônimo de clarividência ou visão remota, e algumas vezes é empregado com o sentido mais geral, como sinónimo de percepção extra-sensorial. (KPU)

Cura Psíquica: Realização de tratamento de problemas de saúde física ou mental em pessoas onde a pessoa que o realiza o atribui a alguma faculdade ou agente especial desconhecido.

Estados Alterados de Consciência: Termo usado para descrever o funcionamento da mente em situações de consciência, mas esta se encontra modificada em decorrência do efeito de algum agente externo, como a hipnose, a meditação, o uso de drogas, etc.
Este termo é um conceito central nos estudos de Psicologia Transpessoal.

Experiências de Quase-Morte (NDE): Estudo de relatos de pessoas em situação próxima à morte ou em iminente perigo de morte.

Experiências Fora do Corpo (OBE): “Experiência onde uma pessoa tem a impressão de perceber o mundo de um ponto de fora ao corpo físico”. (Blackmore, 1995. p. 24)

GANZFELD: “Um estado de privação sensorial, onde se apresentam campos sensoriais homogéneos”.
Geralmente o sujeito é colocado em uma sala com iluminação reduzida e os olhos são cobertos com hemisférios brancos, são colocados fones de ouvido com ruído branco e ele é assentado em uma poltrona semi-reclinada confortável.

Interacção Mental Directa com Sistemas Vivos (DMILS): Termo empregado para definir processos onde uma pessoa tenta influenciar, principalmente fisiologicamente, um sistema biológico qualquer.
Quando o pesquisador opta por DMILS em lugar de Bio-PK ele está possibilitando interpretações alternativas ao fenómeno, como ESP da parte do suposto influenciador.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 07, 2012 9:08 pm

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Percepção Extra Sensorial (ESP): Qualquer manifestação de PSI que parece análoga a um dos cinco sentidos.
Alguns pesquisadores entendem que esta categoria envolve apenas fenômenos de telepatia e clarividência, mas é usual encontrarem-se pesquisadores que incluem a precognição, a retrocognição e outros fenómenos sob esta designação.

Psicocinese (PK): Fenómeno onde uma pessoa parece influenciar o movimento de um objecto.
Actualmente tem sido classificado em micro-PK (quando a influência só é percebida estatisticamente) e macro-PK (onde ocorrem movimentos perceptíveis a olho nu).

Poltergeist: Termo oriundo do alemão, que significa espírito barulhento. Este termo tem sido empregado para o estudo das chamadas “casas assombradas” e similares.

Precognição: Informação adquirida sobre eventos futuros sem o emprego de dedução ou qualquer fenómeno cognitivo conhecido pela Psicologia.

[b]Transcomunicação Instrumental
(TCI):

Visão à Distância (RV): Tipo de fenômeno que geralmente é pesquisado em laboratório, onde uma pessoa tenta descrever algo que está acontecendo em outro lugar, fora do alcance dos seus sentidos. Este termo é quase sinônimo de clarividência.

6 Fontes Bibliográficas

ALVARADO, Carlos. Panoramic views of the history of Parapsychology: a review of three recent books. Journal of Parapsychology, v. 58, p. 201-211, jun. 1994.

AMADOU, Robert. Parapsicologia: ensaio histórico e crítico. São Paulo: Mestre Jou, 1966.
ASSIS, Jesus de Paula. Kuhn e as ciências sociais, Estudos Avançados, São Paulo, v. 7, n. 19, p. 133-164, 1993.

BLACKMORE, Susan. Experiências fora do corpo. São Paulo: Pensamento, 1995.
DOORE, Gary. Explorações contemporâneas da vida depois da morte. São Paulo: Cultrix, 1997.
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento, s.d..

DUMAS, André. História do Espiritismo. In: ROUDÈNE, Alex et al. História do Ocultismo. Porto, Portugal: Nova Crítica, 1980.
GAULD, Alan. Mediunidade e sobrevivência: um século de investigações. São Paulo: Pensamento, 1995.

IMBASSAHY, Carlos. Hipóteses em Parapsicologia. Rio de Janeiro: ECO, 1967.
KARDEC, Allan. A Gênese. (36 ed.) Rio de Janeiro: FEB, 1995.
RHINE, J. B., BRIER, Robert. Parapsicologia atual. São Paulo: Cultrix, 1968.

RICHET, Charles. O sexto sentido. São Paulo: Sociedade Metapsíquica de São Paulo, 1940.
RUSH. Parapsychology: an introdution. In: EDGE, Hoyt, MORRIS, Robert, RUSH, Joseph, PALMER, John. Foundations of Parapsychology. Boston – USA: Routledge & Kegan Paul, 1986.

SAMPAIO, Jáder R. Mesmerismo e Espiritismo. In: Doutrina Espírita, Cristianismo e História. Belo Horizonte: Associação Espírita Célia Xavier, 1996.
_______ Delanne: Pesquisador de Espiritismo. In: Coletânea de Estudos Espíritas. Belo Horizonte: AECX, 1997.
_______ Flammarion: Um Astrônomo Diante do Mundo dos Espíritos. In: O Transe Mediúnico e Outros Estudos. Belo Horizonte: AECX, 1999.

STEVENSON, Ian. Twenty cases suggestive of reincarnation. New York: American Society for Psychical Research, 1966.
WALLACE, Alfred R. Miracles and modern spiritualism. New York: Arno Press, 1975.

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